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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
MULTICULTURALISMO E MÍDIA IMPRESSA: PARA UMA “ANATOMIA” DOS 500 ANOS DE DESCOBRIMENTO DO
BRASIL
Denise Cogo
Fabrício Silveira
Resumo: A partir das inter-relações entre multiculturalismo e campo midiático, apresentamos e discutimos o desenvolvimento de um dispositivo metodológico orientado à análise de uma amostra de textos midiáticos sobre o V Centenário de Descobrimento do Brasil veiculados pela mídia impressa brasileira entre dezembro de 1997 e abril de 2000. Categorias como origem da mídia, estruturas identificatórias, procedência temática, modos de cobertura, auto-referência midiática, dimensão identitária, universo étnico-cultural, constituem alguns dos eixos constitutivos do dispositivo metodológico em questão, visando à compreensão dos processos enunciativos sobre as identidades culturais desencadeados pelas mídias no âmbito da cobertura dos 500 anos de Descobrimento do Brasil.
Introdução
Neste artigo, apresentamos e discutimos o desenvolvimento de um dispositivo
metodológico orientado à análise dos textos sobre o V Centenário de Descobrimento do Brasil
veiculados pela mídia impressa brasileira entre dezembro de 1997 e abril de 2000. Tal análise
constitui uma das etapas do Projeto de Pesquisa “Multiculturalismo e esfera midiática: a (re)
descoberta dos 500 anos de Descobrimento do Brasil,” que abrange ainda uma pesquisa com
uma amostra de produtores (jornalistas e intelectuais) e de receptores dos discursos dos 500
anos.
Corporate Multiculturalism: a mídia como campo privilegiado de disputa simbólica
Somos talvez a maior nação multirracial e multicultural do mundo ocidental, senão em número de habitantes, na capacidade integradora da civilização que fundamos. Essa diversidade e sua mestiçagem constituem a marca do nosso povo, o orgulho de nosso país, o emblema que sustentamos no pórtico do nosso século. E essa
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identidade dá-nos a base para a entrada do novo milênio, o da civilização global, nos distingue pelos valores da tolerância, permite que reflitamos, a partir dela, o
quanto conseguimos caminhar nesses 500 anos.931
O discurso proferido pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso na abertura oficial das
comemorações do Quinto Centenário de Descobrimento do Brasil932
, sugere que categorias
como harmonia, integração e tolerância, emergem “contrabandeadas” de nossa ambivalente
experiência de construção identitária, para tomarem corpo no campo midiático através de um
conjunto de estratégias discursivas que reatualizam nosso sentimento ou imaginário de nação
ao mesmo tempo em que reafirmam nossa imensa habilidade para a coexistência multicultural,
quase como espécie de mono revestido de multiculturalismo.933
A exemplo da publicidade da empresa Benetton produzida pelo fotográfo Oliviero
Toscani, o processo de mediatização de eventos socioculturais como o dos 500 anos de
Descobrimento do Brasil desencadeado pela mídia brasileira, situa-se no marco do que, no
âmbito do debate multicultural contemporâneo, tem sido designado, de forma ampla, por
Corporate Multiculturalism934
. Modelo ou “condição multicultural”, como prefere o
pesquisador David Goldberg935
, o Corporate Multiculturalism busca enfatizar o quanto o
horizonte da diferença vai sendo reduzido ou confinado a um espaço comum econômico e
mercadológico como resultado de uma habilidosa exploração de fatores simbólicos que
concorrem na construção das identidades e da diferença. Trata-se de um modelo que envolve
essencialmente a gestão das diferenças com base em um deslocamento da resolução de
conflitos e de igualdades para o universo da representação e dos símbolos, sobretudo no
campo midiático. 936
No âmbito do debate multicultural, pesquisadores como Henry Giroux e Peter
McLaren937
têm se empenhado em denunciar o caráter ideológico de um modelo que se
propõe a “fazer da diferença argumento de venda”. A constituição do que definem como
exitosos cenários de “gestão da diferença” conduzem esses autores a compararem o Corporate
Multiculturalism à retórica norte-americana do melting pot 938
, chamando a atenção para o fato
das noções de diferença e de coexistência acabarem "injetadas no espaço sociocultural pelo
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alto e não reivindicadas por baixo pelas próprias minorias"939
.
Da perspectiva desse modelo de multiculturalismo, uma monocultura dominante
permaneceria como a definidora das condições de uma nova sociedade multicultural. "O
cosmopolitismo, a diferença dos grupos étnicos, tornam-se assim mercados, formas
compatíveis com a economia capitalista em seu processo de coabitação atual."940
, resume
Andrea Semprini, outro pesquisador dedicado ao tema, para lembrar como certos elementos
esportivos, fortemente mediatizados, como os jogos olímpicos, se transformam, assim, em
"ícones de uma feliz coabitação multicultural."941
O próprio Semprini, não deixa, em contrapartida, de alertar, para a visão simplista
daqueles que insistem em não ver além de manipulação e ideologia nessa mise-en-scène de
coexistência das diferenças no espaço midiático. O papel central que assume a mídia ou o
paradigma comunicacional nas sociedades contemporâneas faz com que se tornem cada vez
mais tênues e complexas as distinções entre condições reais e condições representacionais no
campo discursivo. Longe de serem um espelho, os meios de comunicação se tornaram os
lugares onde se elaboram, se negociam e se difundem os discursos, os valores e as
identidades. "Ao oferecerem uma mise-en-scène multicultural da sociedade, os mídia
contribuem para talhá-la"942
.
Além disso, as principais causas do atual aprofundamento dos conflitos culturais residem
principalmente em uma maior liberdade de circulação social e, sobretudo, em um crescimento
da comunicação entre grupos, indivíduos e sistemas de valores. Ou seja, um aprofundamento
da interdependência na circulação dos sentidos implica reconhecer que a comunicação não
significa mais necessariamente uma “melhor” comunicação e muito menos a busca da
resolução de conflitos, mas, ao contrário, que a comunicação se converte em geradora da
emergência de uma conflitualidade latente ou do próprio conflito. Sobretudo nas sociedades
dominadas pelo paradigma comunicacional, a questão do sentido perde uma dimensão
estritamente teórica para se tornar um problema político.
O conflito para a posse das riquezas ou dos meios de produção - as duas alavancas tradicionais do poder no espaço social - é progressivamente substituído por um conflito e um controle dos símbolos e dos mecanismo que asseguram a diferença. Conquistar o poder do discurso tornou-se o principal jogo nas sociedades em que o individualismo e a interioridade ocupam um lugar crescente e em que, tanto o espaço social quanto a identidade dos grupos que o compõem, são definidos em termos
socioculturais.943
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À centralidade do paradigma comunicacional agrega-se a compreensão de que, em um
espaço social compreendido cada vez mais como sociocultural, a partir da intensificação das
experiências identitárias944
, não há um único espaço, mas tantos espaços sociais quanto as
percepções derivadas de diferentes grupos que o ocupam. As atitudes e os comportamentos
dos indivíduos estão amplamente ligadas às suas múltiplas e particulares interpretações do
espaço social. Assim, a importância assumida pelo sentido e pela subjetividade impossibilita
qualquer modelagem desse espaço que não seja elaborada ou leve em conta a perspectiva dos
atores sociais envolvidos. "Um espaço sociocultural não poderia ser "decretado" por decisões
políticas ou circulares administrativas. A mutação individualista e sociocultural do espaço
público torna essa solução "dirigista" impraticável. Um espaço multicultural nasce e se
desenvolve in vivo nesse amplo laboratório natural que é a sociedade.”945
.
500 Anos: das especificidades de um evento sociocultural na mídia impressa
A pluralização das demandas socioculturais e de seu deslocamento para o espaço
midiático, inspira a construção do projeto de pesquisa “Multiculturalismo e esfera midiática: a
(re) descoberta dos 500 anos na mídia brasileira”946
, do qual resulta a exigência de construção
de um dispositivo metodológico para o estudo dos textos sobre os 500 anos veiculados na
mídia impressa brasileira. A proposta emerge da observação empírica do intenso processo de
produção de sentido desencadeado pelos meios de comunicação, entre 1997 e 2000, em torno
das celebrações do V Centenário de Descobrimento do Brasil.
A exigência, e ao mesmo tempo complexidade que envolve a construção de um
dispositivo metodológico para análise da mídia impressa deriva da própria especificidade de
um produto midiático que, etiquetado como 500 anos, se constrói não apenas disseminado por
distintas mídias (impressa, eletrônica e digital), como excessivamente fragmentado no interior
de cada uma dessas mídias. Ou seja, um produto veiculado em diferentes editorias na mídia
impressa, distribuído pela grade de programação em emissoras de distintos perfis tanto da TV
aberta como da TV por assinatura ou, ainda, estruturado, no campo televisivo, a partir de
múltiplos formatos como a ficção, o documentário e os anúncios publicitários, além de
debatido em sites e listas de discussão na Internet. Trabalhado por um “pacote de mídias e
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discursos”, o conjunto de matérias coletadas até o momento nos permite afirmar que os 500
anos estão “despedaçados” no corpo das mídias, fragmentados pelos diferentes meios de
comunicação. Um primeiro esforço de ordenamento da cobertura dos 500 anos no corpo das
mídias impressas, através da construção de um dispositivo metodológico a ser discutido nesse
trabalho, ancora-se se no resgate do que denominamos de “gênese” do evento no campo
midiático, reafirmando que a mídia não apenas atribui visibilidade às realidades de outros
campos sociais como propõe e assegura modos próprios de existência e estruturação de
determinadas realidades. Tal síntese encontramos no trabalho de Antonio Fausto Neto quando
aponta para a importância das mídias como um dos dispositivos instituidores do espaço
público, na medida em que, “pela sua ação ritualística e cotidiana, as mídias vão, não só
anunciando a noção de realidade, mas convertendo-se, elas mesmos, como lugar pelo qual a
realidade não só passa por elas, mas também se faz nelas.”947
Assim, embora sustentada pelo reforço do sentido de pertencimento à nação entendida
como “comunidade imaginária”948
e na reafirmação da identidade nacional, a celebração dos
500 anos não é proposta, inicialmente, pelo campo governamental949
, mas pelo campo
midiático, entendido desde a perspectiva institucional empresarial no âmbito das
comunicações.
No marco do projeto intitulado Brasil 500, a Fundação Roberto Marinho e a Rede Globo
inauguram, em 1997, uma programação especial constituída de um amplo calendário de
eventos, propondo que a Celebração dos Quinto Centenário seja “experienciada” a partir de
três eixos ou esferas – a festa, a história e a ação educacional950
–. culminando na data
comemorativa dos 500 anos, no dia 22 de abril de 2000.951
Posteriormente, outras empresas de
comunicação, como o Grupo Folha e o Sistema Brasileiro de Televisão, mídias regionais
como os jornais gaúchos Zero Hora e Correio do Povo e os baianos Tribuna da Bahia,
fundações culturais, universidades, entidades governamentais, sindicatos e ONGs se valem
igualmente de espaços mídiáticos como a televisão, os meios impressos e a Internet para
proporem abordagens em torno da história, da nação e das identidades culturais no contexto
brasileiro.
Ao ter sua estrutura cognitiva proposta pelo campo midiático, os 500 anos são gestados e
passam a ser geridos com data decretada “de nascimento e morte”952
estando, portanto,
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marcados por uma temporalidade transitória, porém previamente determinada pela própria
mídia. A tematização sobre o Quinto Centenário passa a ocupar a espacialidade dos diferentes
meios de comunicação, pautando os próprios vínculos a serem construídos com os receptores.
Do ponto de vista metodológico, é preciso lembrar que esse caráter temporal do evento 500
anos acabou se convertendo em um facilitador do planejamento e do mapeamento do conjunto
de textos midiáticos no âmbito do projeto de pesquisa.
Na busca por construir um aparato metodológico que nos possibilitasse cartografar as
especificidades assumidas por um evento sociocultural na geografia da mídia impressa,
algumas perguntas nos moveram a partir de uma aproximação empírica com um primeiro
conjunto de textos sobre os 500 anos veiculados pelos jornais impressos. Em que modos os
500 anos (com seus temas, seus eventos e seus protagonistas) foram “enquadrados”,
“conceitualizados” ou mesmo “rotulados” pelos jornais impressos? Quais “grades temáticas”
(na forma de editorias, cadernos, suplementos ou sub-editorias, etc.) acolheram mais freqüente
e amplamente, em cada jornal, os assuntos relativos às identidades culturais e à cultura
nacional potencializadas pela tematização do Descobrimento e do Quinto Centenário? De que
modos se processaram certos “movimentos migratórios”, permitindo que um mesmo fato se
deslocasse de uma editoria para outra ou fosse “objeto de cobertura” de diversos veículos
impressos, sob rubricas e catalogações também diversas? Os 500 anos acabaram “confinados”,
sobretudo, aos tradicionais espaços de cultura, como os chamados suplementos ou cadernos
culturais? Ou foram tematizados acima de tudo como um espetáculo midiático, numa espécie
de auto-referência midiática própria dos cadernos de tv, por exemplo? Ou, ainda, foram
acomodados preponderantemente nas editorias de política ou nos espaços opinativos através
da cessão de espaço aos intelectuais e a determinados atores institucionais?
Em uma perspectiva comparativa desses primeiros jornais impressos analisados, nos
indagamos, ainda, quais mídias se apropriaram dos discursos sobre os 500 anos com mais
intensidade, “delegando“ poderes e maiores espaços de fala a atores sociais “escolhidos” e,
dentre esses atores, quais acabaram mais ou menos privilegiados? Que mídias cederam mais
intensamente espaços a atores sociais “proeminentes” em campos específicos, como, por
exemplo, a determinados tipos de intelectuais, ou aos movimentos sociais e a suas
contraestratégias discursivas? Que mídias, enfim, impuseram mais dinamismo ao processo
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enunciativo, ou seja, colocaram e trabalharam o tema como mais intensidade e freqüência?
Aliada a esse primeiro conjunto de indagações sobre a localização e a estruturação
cognitiva dos 500 anos na geografia dos jornais impressos, o que designamos como “modos
de narrar” as identidades culturais potencializados pela cobertura dos 500 anos no espaço
midiático é outra perspectiva que nos possibilitou a construção do aparato metodológico que
nos auxiliasse na “dissecação” de um evento sociocultural centrado no debate sobre as
identidades culturais. Ou seja, que nos permitisse percorrer o corporeidade da mídia com
vistas a uma “anatomia dos 500 anos”, construída a partir da análise de uma amostra de mídias
impressas que, no cenário nacional, estiveram mobilizadas em torno cobertura do Quinto
Centenário.953
Mais do que um modelo rígido ou um conjunto formal e acabado de explicações, as
identidades culturais são compreendidas, na perspectiva dos 500 anos, como “uma construção
que se relata”, segundo as palavras do pesquisador Néstor García Canclini954
, ou, ainda, como
representação social que, na visão da historiadora gaúcha Sandra Pesavento, “formula uma
maneira de ser que é inventada ou importada, mas é assumida e consentida, o que implica
sempre sedução e convencimento. É uma forma imaginária de conceber-se a si próprio que
conforta, que dá segurança, marca presença no espaço e no tempo.” 955
Articulados em distintos textos midiáticos, pelo menos seis “modos de narrar” as
identidades culturais e o “nacional” foram localizados através do mapeamento e da análise
preliminares de uma primeira amostra de matérias midiáticas.
As (re)leituras históricas das relações com o Outro colonizador; O Brasil pluriétnico,
como resultado dos processos de colonização e de migração, que culminaram com a
configuração de uma nação mestiça ou morena e de lugar privilegiado para a convivência
multicultural;
A identidade nacional como paradigma exportável: o lúdico, o estético e o exótico na
correspondência entre identidade construída e alteridade atribuída ao Brasil pelo estrangeiro;
500 anos depois: o Brasil contemporâneo e as releituras das tensões entre as distintas
realidades e temporalidades nacionais; Os Outros internos: as ambigüidades nas
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combinações/exclusões do regional na conformação identitária brasileira; O Brasil “global” e
seu (re)posicionamento no marco das redefinições dos vínculo entre “nações” ou territórios,
em que a educação desponta como a principal via de acesso ao status primeiro mundista,
mesmo que sua conquista seja jogada para um futuro distante; 956
Outras narrativas, muitas
delas derivadas dessas seis primeiras, outras, fruto da própria conformação que vão assumindo
os episódios dos 500 anos a partir da entrada em cena de outros atores sociais, vão sendo
mapeadas, posteriormente, como resultado da própria aplicação do dispositivo metodológico.
Destaca-se, por exemplo, a violência como um componente central de nossa conformação
identitária a partir do caráter “policialesco” que assume a cobertura midiática durante as
comemorações oficiais dos 500 anos em abril de 2000, em Porto Seguro.
“Dissecando” os 500 anos: da construção do dispositivo metodológico
Como um desdobramento desses próprios “modos de narrar” as identidades enunciadas
pelo campo midiático, o que categorizamos como origem da mídia é a perspectiva que
assumimos como ponto de partida para selecionar a amostra de jornais em que concentramos
o mapeamento e análise discursiva sobre os 500 anos no período entre 1997 e 2000, uma vez
que basicamente todas mídias de circulação nacional e regional estiveram envolvidas na
cobertura do evento. É essa origem que vai nortear a construção do dispositivo metodológico
de análise dos textos sobre os 500 anos discutido a seguir.
O que orienta prioritariamente essa seleção de mídias é a idéia de que as especificidades
de discursos regionais nos meios de comunicação refletem e reatualizam tensões e conflitos
que marcam a trajetória de constituição das identidades regionais nas suas relações com a
experiência da nacionalidade. Tensões e conflitos que, conforme já foi referido, despontam
como uma das dimensões enunciativas fundamentais dos 500 anos nos espaços da mídia
impressa. O apelo a um imaginário de (re) afirmação das diferenças regionais frente ao
nacional tem sido, vale lembrar, um dos ingredientes das estratégias de construção de
credibilidade e de vínculos com os leitores por parte da mídia impressa em distintos contextos
regionais.957
As tensões identitárias que atravessam a construção de nosso “sentimento de nação” ora
através da histórica imposição de modelos culturais que privilegiam determinada identidade
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regional em prol do ideal de integração nacional, ora através dos embates e disputas por
afirmações regionais frente ao nacional geradas por essa imposição, é a perspectiva que,
aliado ao próprio caráter temático do evento, nos ajudam a entender o protagonismo a
determinadas regiões do Brasil na cobertura midiática sobre os 500 anos. É o que nos conduz,
por conseguinte, a contemplar, em nossa amostra, mídias impressas de cinco estados
brasileiros: Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande Sul e Distrito Federal958
.
“Bahia, o Brasil nasceu aqui”, o slogan do governo baiano, um dos patrocinadores do
programa “Momento 500 anos” da Rede Globo, parece sintetizar, em grande medida, o
protagonismo assumido pelo estado nas estratégias de cobertura midiática dos 500 anos,
repercutindo, no campo dos meios, as especificidades históricas que assume a região na
configuração identitária nacional. Em perspectiva similar, a ênfase em padrões culturais
regionais de modernização ofertados como modelos para a integração nacional, sobretudo no
período militar, impõem a presença, em nosso corpus, de uma amostra de mídias de Rio de
Janeiro e São Paulo.959
Por sua vez, a inclusão, na amostra, de um jornal impresso do Distrito
Federal ancora-se no fato de ter sido gestado em Brasília, no âmbito do governo federal, um
conjunto de estratégias em torno das comemorações do Quinto Centenário, cuja visibilidade
passa a ser assegurada pelo campo midiático.
Por fim, o Rio Grande do Sul aparece contemplado na amostra, não apenas por ser o
locus de desenvolvimento institucional da pesquisa, mas por ter abrigado, toda uma
contraestratégia discursiva que, nomeada como “Outros 500”, desponta do âmbito
governamental, a partir de uma parceria com movimentos sociais e ONGs , para se definir
como oposição ao que enunciam o governo federal e a Rede Globo sobre os 500 anos.
Identitariamente, podemos afirmar que tal contraestratégia guarda relação estreita com a
controvertida posição histórica que vem ocupando o estado no processo de integração
nacional, conforme aparece sintetizado na reflexão proposta pelo antropólogo gaúcho Ruben
Oliven.
Historicamente, um tema recorrente na relação do Rio Grande do Sul com o Brasil é justamente a tensão entre autonomia e integração. A ênfase nas peculiaridades do estado e a simultânea afirmação do pertencimento dele ao Brasil se constitui num dos principais suportes de construção social da identidade gaúcha, que é constantemente atualizada, reposta e invocada. O discurso da crise e da marginalidade, que é constantemente reatualizado na história do Rio Grande do Sul,
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aparece hoje em dia, por exemplo, no nível político com a queixa de que, com o fim do ciclo militar, o RS foi aquinhoado com poucos ministérios, quando em governos
anteriores, costumava ter vários.960
Ao lado da origem da mídia, uma das principais categorias constitutivas de nosso
dispositivo metodológico de análise dos textos midiáticos sobre os 500 anos, recebe a
denominação de estruturas identificatórias, podendo ser traduzidas, ainda, como grandes
operadores estruturais de localização que passam a nos auxiliar na identificação e na análise
dos textos midiáticos coletados. Opinião, Local, Nacional,
Internacional e Cultura constituem essas cinco estruturas identificatórias que resultam
da imersão no universo empírico dos jornais selecionados na perspectiva de verificar e
compreender as geografias, espacialidades, lógicas dispositivas e distributivas de um evento
de cunho sociocultural no campo midiático. Enquanto modos de codificação do material
coletado, tais estruturas sugerem, a princípio, uma certa dificuldade de operacionalização
analítica dos textos midiáticos à medida em que sua viabilização implica em assumirmos a
diluição dos hábitos classificatórios tradicionalmente afirmados pelas “editorias” clássicas da
mídia impressa. Embora três dessas estruturas – Opinião, Internacional e Cultura - pareçam
recuperar (ou manter) analogias sustentáveis com as editorias usualmente empregadas pelos
jornais impressos. Isso fica mais evidente quando buscamos classificar como Opinião todo o
material acomodado nos espaços óbvios de opinião (editoriais, colunas assinadas, artigos, etc)
da mesma forma que em Cultura, nos empenhamos em enquadrar todo o material jornalístico
reservado aos chamados cadernos e suplementos culturais. Lógica similar assumimos para a
categorização do Internacional.
Toda a diversidade restante do material, contudo, passa a ser codificada sob as rubricas
de Local ou Nacional. Ao englobarmos sob a rubrica Local o que é nomeado editorialmente
como Cotidiano, Geral e Cidade nas diferentes mídias analisadas, estamos pressupondo a
conjunção de duas dimensões para o entendimento dos textos midiáticos enquadrados sobre
essa rubrica: uma mais espacial e outra mais temporal e cotidiana. Os conceitos de topografia
e temporalidade articulam-se para orientar o enquadramento dos textos em nessa unidade
específica denominada de Local.
Para estabelecer essas “grandes estruturas identificatórias”, fixar “categorias estáveis” de
análise comuns às segmentações editoriais de todos os jornais, realizamos um trabalho de
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análise semanal de uma edição diária de seis dos nove jornais integrantes de nossa amostra961
.
Assim, podemos dizer que a construção do dispositivo forjou-se na “contaminação”, na
“absorção” e na descrição (compreensiva e, logo, em alguma medida, qualitativa) dessas
lógicas dispositivas, dessas saliências de demarcações topográficas para culminar em um
instrumento metodológico de análise onde convergissem os modos como os diferentes jornais
da amostra se apresentam topograficamente. Vale destacar que, embora o dispositivo
metodológico guarde, em sua estruturação, uma intenção declaradamente quantitativa 962
, a
busca de generalizações e de regularidades quantificáveis ou “matematizáveis” converte-se
em um movimento estratégico para a posterior abordagem qualitativa dos 500 anos pelo
campo midiático.
No âmbito das estruturas identificatórias de Local e Nacional, nos interessa localizar,
ainda, via a operacionalização do dispositivo metodológico, o que denominamos de
“procedências temáticas” a partir das quais são enunciados os 500 anos, independente do
espaço editorial que ocupam nos jornais. Com base igualmente em uma observação empírica
preliminar, relacionamos, até o momento, pelo menos 15 dessas procedências em que, da
perspectiva do Local e do Nacional, as Comemorações do Quinto Centenário vão ocupando a
espacialidade dos jornais : educação/ensino; cultura; polícia/violência; utilidade
pública/serviços; movimentos sociais/associativos/cidadania; política governamental
institucional federal; política governamental institucional estadual; política governamental
institucional municipal; política institucional privada; política institucional partidária; ciência;
esporte; economia; eleitoral.
No que se refere tanto ao Nacional como ao Local, a ênfase geográfica em torno da qual
se construíram majoritariamente as narrativas do Quinto Centenário é outro desdobramento de
nosso dispositivo metodológico. No caso do Local, interessa-nos verificar em que medida
foram privilegiadas pela cobertura midiática os 500 anos da capital, das regiões
metropolitanas ou do interior. Em relação ao Nacional, nosso esforço consiste em localizar os
cenários priorizados pela meios de comunicação na enunciação sobre o Quinto Centenário nas
suas conexões com as questões identitárias. Em perspectiva similar ao da origem da mídia,
aparecem contempladas Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia ou Brasília
como opções de procedência geográfica dos eventos midiáticos sobre o Quinto Centenário.
No âmbito da estrutura identificatória Internacional, alinham-se, como opções
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
geográficas, Mercosul963
, Portugal, Espanha, Itália, França, Inglaterra, Alemanha e Estados
Unidos, selecionadas com base na observação sobre as repercussões na mídia nacional
de “olhares” que a mídia estrangeira lançou sobre o Brasil e suas dinâmicas culturais,
especialmente na semana das comemorações oficiais dos 500 anos .964
Suplementos especiais produzidos sobre os 500 anos ou notícias veiculadas a partir das
repercussões dos episódios de Porto Seguro em veículos das mídias impressas européia 965
,
norte-americana e latino-americana somam-se à produção de documentários por equipes
estrangeiras exibidos na televisão a cabo966
, assegurando uma ampla presença do Brasil no
contexto midiático internacional, especialmente na semana de 22 de abril de 2000. Esse
“Brasil visto de fora” pelo campo midiático nos permite refletir sobre a atualidade, em tempos
de globalização, de uma “identidade nacional como paradigma exportável”, enquanto um dos
seis “modos de narrar” as identidades culturais que, segundo nossas hipóteses iniciais,
aparecem enfatizadas nos textos midiáticos sobre os 500 anos.
Uma primeira aproximação com essa cobertura nos possibilita propor que, nos casos em
que o texto midiático é enquadrado como Internacional, este pode assumir uma das seis
seguintes dimensões: violência/conflitos sociais; anedotismo/folclorismo; política; economia;
cultura; corrupção/denúncia. Tais dimensões aparecem relacionadas como opções de nosso
dispositivo metodológico.
É, contudo, na estrutura identificatória nomeada como Cultura que, em nossa hipótese,
os 500 anos aparecem enunciados com maior ênfase na espacialidade dos jornais,
contemplando dez tipos de procedências temáticas: programação/roteiro
cultural/eventos/dicas/lazer (cinema, dança, teatro, literatura, etc.); televisão; crítica/resenha;
quadrinhos e palavras cruzadas; colunismo social; culinária; curiosidades de artistas/notas;
retrospectiva; reportagens culturais; entrevistas com personagens no campo cultural. No caso
da tematização dos 500 anos via suplementos especiais, buscamos levantar, ainda, se há uma
maior incidência estrutural ou episódica na circulação de um conjunto de suplementos que
enfocaram ou se inspiraram na tematização do Quinto Centenário. Por fim, adotamos para a
Cultura também as mesmas opções de procedência geográfica utilizadas para a análise das
matérias identificadas como Nacional, buscando identificar Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito
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Federal, Bahia ou Rio Grande do Sul como cenários de cobertura dos 500 anos.
São, sobretudo, nos espaços consagrados à Cultura que a dimensão de auto-
referencialidade midiática assume maior ênfase na trajetória de enunciação dos 500 anos nos
jornais impressos, configurando-se em um elogio à própria performance midiática, como uma
espécie de “cobertura que enaltece a cobertura”. Telenovelas967
, minisséries968
,
documentários, colecionáveis, enfim, lançamentos de produtos midiáticos inspirados na
“grife” 500 Anos, asseguram uma dimensão mercadológica para o Quinto Centenário ao
mesmo tempo em que ativam, nos receptores, a necessária memória sobre o papel
desempenhado pelo campo institucional empresarial dos meios de comunicação na proposição
e gerenciamento de um evento de caráter nacional 969
Em ótica similar, buscamos capturar,
ainda, com a aplicação do dispositivo metodológico, o que se configurou como diálogo entre
meios, a partir de referências que fizeram determinadas mídias à programação e aos produtos
sobre os 500 anos oriundos e propostos por outras mídias.
A estrutura identificatória de Opinião comporta textos midiáticos sobre os 500 anos
classificáveis como editorial, crônica, coluna assinada, artigo assinado, leitor “livre”, leitor
“temático” e charge. Na categorização dos produtores que ocuparam os espaços de Opinião
diosponibilizados pelas mídias, a autoria de textos sobre o Quinto Centenário é identificada,
em nosso dispositivo metodológico, a partir de três categorias: profissional da mídia com
vínculo na própria mídia analisada, profissional sem vínculo com a mídia analisada e não
profissional da mídia.
Comum às outras quatro estruturas identificatórias – Nacional, Internacional, Local e
Cultura, são, ainda as opções aglutinadas em torno da rubrica Modos de cobertura
desdobradas em agências internacionais, correspondentes, releases, colaboradores,
profissionais da redação e enviados especiais.
O instrumento metodológico em questão abrange, igualmente, um mapeamento de atores
enfocados e enfatizados nos textos midiáticos, independente de quem os produz: intelectuais
(historiadores, cientistas sociais, etc.), artistas, governo, mídia, instituições, empresas,
políticos, igreja, polícia, atores educacionais (professores e estudantes de ensino médio, etc) e
atores sociais.
A decoração do Natal 99 inspirada nos 500 Anos de Descobrimento e criada pelo
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
carnavalesco Joãosinho Trinta para os shoppings centers Iguatemi em todo o Brasil, traduz
uma das múltiplas construções discursivas sobre o 5º Centenário propostas pelo campo
empresarial e amplamente visibilizadas pela cobertura da mídia impressa. Os presépios e a
oficina do Papai Noel tomam como referência um padrão de constituição de nacionalidade
“imaginada” em torno da chamada fábula das três raças – branco, índio e negro -, deixando de
fazer alusão ao processo de mudança no sentimento de nacionalidade experimentada a partir
da emergência de uma nova geração de brasileiros descendentes de imigrantes italianos,
espanhóis, alemães e japoneses na vida econômica e social dos estados brasileiros do sudeste e
sul, como Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, conforme alerta o pesquisador
Antonio Guimarães 970
Partindo do pressuposto de que a mídia radicaliza a disponibilidade de vozes sobre os
500 Anos, visibilizando uma profusão de discursos e abordagens, o dispositivo metodológico
presta-se, ainda, a identificar as especificidades dos Produtores dos discursos sobre os 500
anos nas suas filiações com os campos acadêmico (intelectuais, historiadores, etc);
governamental, artístico, educacional, empresarial, religioso, político, jurídico, esportivo,
associativo (movimentos sociais e cidadania) e o próprio campo midiático.
No debate sobre a nacionalidade instaurado pelo Quinto Centenário, são as vozes dos
intelectuais (historiadores, cientistas políticos, escritores, etc)971
, sobretudo nos espaços de
opinião da mídia brasileira, que tratam de enfatizar a renúncia a um projeto nacional em suas
reflexões sobre os 500 Anos de descobrimento do Brasil, seja salientando as distintas
temporalidades ou as lógicas da inclusão/exclusão que configuram nossa comunidade
nacional, seja denunciando a opção por um projeto de nação pautado no consentimento de
uma inserção desordenada no mercado global e da manutenção das desigualdades sociais. Tais
reflexões emergem como uma espécie de memória residual do fracasso de um imaginário
desenvolvimentista que se encarregou de manter o Primeiro Mundo como alteridade.
Segundo a historiadora Sandra Pesavento, desde a Independência do país, em 1822,
são os intelectuais brasileiros que têm se incumbido de dar respostas à ambivalência e
ambigüidade das questões identitárias básicas como imperativo para a construção da
nacionalidade ou de um projeto de nação. A principal delas faz referência à recomposição do
mito das origens, cuja mestiçagem é a metáfora definidora por excelência de um Brasil que
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“já nasce como mestiço e cuja alma já vem marcada pela cor”972
Tomando como mote os 500 Anos, sucedem-se pensadores, cujas vozes, no cenário da
mídia, assumem a tarefa de desmistificar uma mestiçagem celebrada sistematicamente
sobretudo pela retórica governamental em âmbito federal, cuja síntese é o discurso intitulado
Nossos 500 Anos proferido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, referido no início
desse trabalho.
Como fruto da exigência de formatação do discurso científico como uma imposição do
campo jornalístico apontada por Pierre Bourdieu973
, reemerge ainda, no campo enunciativo
dos 500 Anos, um tipo de produtor que denominamos de jornalistahistoriador974
, uma
espécie de híbrido ao qual é atribuído, de forma privilegiada, no espaço midiático, a tarefa de
revitalização da historiografia dos descobrimentos, tarefa assumida tradicionalmente por
historiadores do campo acadêmico.975
“Não é a história chata das escolas”, parece sintetizar,
durante lançamento do terceiro volume de sua obra sobre o Descobrimento na Feira do Livro
de Porto Alegre, o alerta do do jornalista gaúcho Eduardo Bueno976
(o Peninha) que
desponta, como campeão de vendas, ao lado de outros dois bem sucedidos revitalizadores de
releituras históricas sobre os 500 Anos: Jorge Caldeira977
, ex-editor da Folha de São Paulo e
da Revista Isto é, e, de outro gaúcho, Walter Galvani 978
, jornalista do Correio do Povo.
À celebração de uma miscigenação racial ou da mestiçagem como recomposição de
uma gênese nacional e, agora passaporte para a sociedade global, que pautam os discursos
governamentais sobre os 500 Anos, se opõem os discursos de denúncia de intelectuais
engajados em movimentos sociais como o da filósofa Sueli Carneiro, coordenadora-
executiva do Programa de Direitos Humanos/SOS Racismo Geledés Instituto da Mulher
Negra. “Um projeto de hegemonia branca e exclusão e admissão minoritária e subordinada
dos negros, indígenas e não-brancos em geral” é o projeto de nação que, segundo Sueli
Carneiro, o imaginário televisivo busca consolidar para o próximo milênio a
partir da telenovela Terra Nostra 979
.
Carneiro alerta para o impacto positivo que a telenovela tem tido sobre a auto-estima da
comunidade ítalo-brasileira em contraponto aos efeitos negativos sobre a população afro-
brasileira. “[...] os negros, ao contrário, permanecem se defrontando nessa novela com as
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questões básicas que envolvem as suas contradições com a mídia em geral: a invisibilidade ou
a visibilidade perversa, recheada de estereótipos.”980
, denuncia a filósofa, para enfatizar o
quanto a metáfora conciliatória da identidade nacional aparece revigorada como dissimuladora
da conflitiva diversidade cultural conformadora da nação brasileira.
Na mesma perspectiva, despontam, do campo governamental, contradiscursos,
nomeados Outros 500, como aquele em construção no âmbito do projeto lançado em 15 de
novembro de 1999, dia Nacional na Consciência Negra, pelo Governo do Estado do Rio
Grande do Sul em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, sob a denominação de Aqui são
outros 500. 981
Com ênfase em uma perspectiva pós-colonial, em tais discursos aparecem
subjacentes críticas à vigência de diferentes formas de colonialismos nos discursos
celebrativos dos 500 Anos. Em “contraposição ao discurso oficial”, intitula-se também o
projeto Brasil Outros 500, uma iniciativa de entidades ligadas aos movimentos sindicais e
sociais982
e desenvolvida a partir de um site sobre história do Brasil criado na Internet.
Os 500 Anos são enunciados pelo conjunto de entidades como busca da “verdade”
histórica em polarização ao que é proposto discursivamente pela Rede Globo e pelo governo
federal em torno dos 500 anos. Segundo enfatiza um dos textos do site, o governo “através
de recursos das áreas de educação, cultura e comunidade solidária se une aos detentores das
grandes mídias de comunicação para capitanear um pool de iniciativas públicas e
privadas.”983
A exemplo do que se constata em relação a Chiapas, não é a mídia impressa, mas a
Internet que se constitui o espaço privilegiado de circulação dos discursos nomeados como
Outros 500, seja através de sites concebidos especialmente para abordagem do tema, em geral
a partir de um pool de organizações vinculadas aos movimentos sociais, seja através de listas
de discussões, como aquela batizada de relatosoutrso500, criada em 26 de abril de 2000. As
discussões, no âmbito da lista, são desencadeadas pelos conflitos protagonizados pelos
indígenas e outros manifestantes e a polícia militar, em Porto Seguro, durante os festejos
oficiais dos 500 anos promovidos pelo governo federal no dia 22 de abril de 2000,
deslocando-se posteriormente para outras questões, sobretudo de cunho social, como aquelas
envolvendo a cobertura dada pela mídia às ações do movimento dos sem terra.984
Dessas distintas posições discursivas que se confrontam no cenário da mídia impressa
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em torno de um suposto ideário nacional, a noção de mestiçagem aparece ora para recompor o
mito de origem ora para revelar a ambigüidade identitária derivada do empreendimento
inacabado de hibridização cultural do continente latino-americano. Para Peter McLaren.985
, a
mestiçagem chegou, em alguns casos, na América
Latina, a um nível de contradiscurso verdadeiramente crítico com aspirações à práxis
revolucionária ao passo que, em outros momentos, ela foi apropriada pelos discursos e
pelas práticas do Estado. A análise dos textos midiáticos, através do dispositivo
metodológico aqui apresentado, nos possibilita entender a existência dos 500 anos
subordinada, ainda, à criação e disseminação de uma série de outros eventos ou
subeventos de cunho cultural, acadêmico, político, etc. Incluídos no episódio geral da
Comemoração do Quinto Centenário, subeventos como a Missa dos 500 Anos, o episódio
da Nau, a inauguração e a posterior “destruição” do relógios concebido pelo designer
global Hans Donner, o hino dos 500 anos encomendado pelo ministro Greca aos cantores
Chitãozinho e Chororó , a Mostra do Redescobrimento, as comemorações oficiais,
desdobradas em conflitos na cidade Porto Seguro. Em que medida o acontecimento se
confunde com a enunciação que deles é feita midiaticamente, segundo rituais e
competências jornalísticas? é a indagação que desponta de constatações em torno da
estruturação cognitiva dos 500 anos em subeventos. Que “rituais” jornalísticos movem e
suportam essas celebrações – espectacularizantes, banais ou híbridos? O processo de
espetacularização sustentado no contraponto entre dois desses subeventos – o êxito da
mostra dos 500 anos o fracasso da réplica da Nau do Descobrimento - se impõem como a
metáfora da experiência identitária nacional. Ao lado de um Brasil que “tem tudo para dar
certo, ou para ser “o país do Futuro” convive, de forma ambivalente, o Brasil do fracasso,
da improbidade administrativa e da corrupção. Na condição de metáforas identitárias, cada
um desses incidentes presta-se a uma análise particular e pontual da cobertura dos 500
anos dada pela mídia impressa na sua conexão com as identidades culturais. Os incidentes
envolvendo a “depredação” dos relógios dos 500 anos idealizados por Hans Donner e
espalhados pelas capitais brasileiras configuram discursos que assumem um caráter
eminentemente policialesco. Além disso, os relógios marcam e impõem uma
“temporalidade genérica”, macrotemporal, administrada e vinculada aos interesses dos
meios. À temporalidade cruzada das mídias, cruzada e sobreposta também ás diversas
temporalidades cotidianas, se sobrepõe uma outra contagem de tempo supostamente
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unificadora, instauradora de uma tensão, da expectativa de uma celebração. O fim da
contagem regressiva explode, entretanto, em violência e rechaço, numa espécie de
atualização de nossa experiência identitária contemporânea. Ao evocar o mito das origens,
a busca de nosso passado se acresce de um quem somos (presente) e um para onde vamos
(futuro), fazendo com que o campo midiático se coloque como cúmplice de uma busca por
respostas para alguns de nossos emblemas identitários. Essa são outras três perspectivas da
cobertura midiática dos 500 anos que também buscamos verificar através da aplicação do
dispositivo metodológico na análise dos textos midiáticos.
A possibilidade de que a análise dos textos midiáticos possa apontar para ênfase em um
resgate de nossa ancestralidade, faz com que o campo midiático, aficcionado pelo presente e
pela atualidade, se volte ao tratamento do passado e das anterioridades, especialmente a partir
da concessão de espaços aos intelectuais nas editorias de opinião dos jornais ou, ainda, através
da visibilização de historiografias produzidas pelos jornalistas-historiadores.
Ainda de uma perspectiva identitária, nos interessa compreender como o universo
étnico-cultural aparece representado pelas diferentes mídias via as múltiplas nomeações que
vão despontando e incidindo, com mais ou menos, força na trajetória enunciativa do Quinto
Centenário nos meios de comunicação impressos. Negros, índios, brancos, amarelos,
portugueses, espanhóis, europeus, brasileiros, italianos, mestiços, imigração, afro-brasileiros,
ameríndios, africanos, desfilam pelas mídias para comporem núcleos semânticos que, ao
fazerem referência ao campo das etnias e/ou das nacionalidades, vão reafirmando noções
historicamente controversas na nossa trajetória de construção identitária. O imigrante,
esvaziado de suas espeficidades histórico-culturais para ser entendido como categoria
universal, as oposições preto-branco, a priorização do termo negro em detrimento da
terminologia afro-brasileiro. sugerem determinadas “construções interpretativas” e apontam
para modos de julgar ou atribuir valores ao universo identitário no corpo dos jornais impressos
analisados.
As referências étnicas são privilegiadas, ainda, na nomeação dos atores sociais
enfocados pela mídia como protagonistas dos 500 anos. Negros e índios despontam como
categorias homogêneas e universais para alinhar-se com os Sem Terra em um conjunto de
textos impressos que fazem referência, por exemplo, aos conflitos de Porto Seguro. A mesma
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perspectiva de universalidade assume a categoria “povo” em oposição a “governo”, seja em
reportagens ou em colunas assinadas cuja ênfase recai na perspectiva identitária das distintas
realidades e temporalidades nacionais e na denúncia das exclusões em nosso processo de
conformação identitária.
Outros núcleos semânticos, como colonização, colonizador, indígena, festa, futebol,
carnaval, descobrimento, conquista, evangelização, igreja, violência, miscigenação,
mestiçagem, Brasil, nação, globalização, exclusão, cultura brasileira também nos informam
sobre modos propostos pelas mídias para lermos o Brasil, a nossa história e a nossa atualidade
identitária.
Uma última perspectiva de análise dos textos midiático possibilitada pelo dispositivo
metodológico apresentado nesse trabalho consiste em identificar as repercussões, nas demais
mídias e, especialmente no campo das mídias impressas, das esferas norteadoras da cobertura
dos 500 anos propostas inicialmente pela Fundação Roberto Marinho e Rede Globo – a
história, a festa e a ação educacional.
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NOTAS 929 Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS –RS
930 Professor do Curso de Comunicação Social e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação na UNISINOS –RS
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
931 ABERTA a festa dos 500 Anos do Brasil. Zero Hora. Porto Alegre, 02/01/2000, p.6
932 O discurso foi proferido na virada do ano 2000.
933 O termo multiculturalismo é assumido conceitualmente não com base na crença da mera convivência de distintas culturas em um mesmo espaço social, mas, ao contrário, supõe necessariamente que essa convivência implica em uma interação conflitiva e tensa ao mesmo tempo que rica e complexa, para além de uma dimensão harmônica e conciliatória. Nessa perspectiva, a compreensão do debate multicultural inclui o ponto
de vista histórico que envolve desde as lutas identitárias dos negros norte-americanos, nos anos 60, que resultaram nas chamadas Ações Afirmativas até os atuais conflitos culturais resultantes de processos
migratórios e de outras dinâmicas culturais envolvendo as sociedades contemporâneas.
934 Também denominado de Managed e Difference Multiculturalism.
935 GOLDBERG, David Theo. Introduction: Multicultural conditions. In: GOLDBERG, David Theo.
Multiculturalism - a critical reader. Oxford: Blacwell,1997. p. 406-428.
936 Ibid.
937 GIROUX, Henry. Um cambio social arrollador: los colores unidos de Benetton. In: ______. Placeres
inquietantes – aprendiendo la cultura popular. Barcelona: Paidós, 1996. p. 17-47. e McLAREN, Peter.
Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez, 1997.
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938 O melting pot preconiza a integração das minorias às normas culturais dominantes.
939 SEMPRINI, Andrea. Le multiculturalisme. Paris: Presses Universitaires de France, 1997. p. 102.
940 Ibid., p.102.
941 Ibid., p.102.
942 Ibid., p. 89.
943 SEMPRINI, Andrea., p. 91.
944 Vale destacar aqui a questão das identidades culturais e seus desdobramentos nos chamados “comunitarismos” intensificados no cenário atual da sociedade da globalização, conforme têm destacado, no campo do debate multicultural, autores como Alain Touraine, Michel Wieviorka e Andrea Semprini.
945 SEMPRINI, Andrea. p. 106.
946 O projeto está sendo desenvolvido, desde agosto de 99, junto à linha de pesquisa Mídia e Processos Socioculturais do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos , em São Leopoldo, RS, Brasil, com a participação de um grupo de quatro pesquisadores e seis bolsistas de iniciação científica.
947 FAUSTO NETO, Antonio. Comunicação e mídia impressa. Estudo sobre a AIDS. São Paulo: Hacker Editores, 1999. p. 16.
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948 Ver ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas – reflexiones sobre el origen y la difusión del nacionalismo. Mexico: Fondo de Cultura Económica, 1997.
949 Embora o campo institucional governamental, em âmbito federal, estadual e municipal, converta-se, posteriormente, em ator privilegiado desse processo.
950 Para maiores detalhes, ver http://www.brasil500.com.br
951 Embora, com menor ênfase, os 500 anos seguem tendo espaço na mídia brasileira após o 22 de abril de 2000.
952 O “nascimento” é anunciado no Programa Fantástico em dezembro de 1997 com “morte” decretada para o 22 de abril de 2000, data oficial das celebrações do Quinto Centenário.
953 Compõem esse corpus um total de 3745 matérias veiculadas na mídia impressa nacional.
954 GARCIA CANCLINI, Néstor. Cultura y comunicación: entre lo global y lo local. La Plata, Faculdadede Periodismo y Comunicación Social – Universidad Nacional de la Plata, 1997 (Ediciones de Periodismo y Comunicación nº 9).
955 PESAVENTO, Sandra Jatahy. A cor da alma: ambivalências e ambigüidades da identidade nacional. Ensaios FEE. Porto Alegre, v. 20, nº 1, p. 125.
956 Do corpus de matérias midiáticas mapeadas até o momento, já constam elencados e analisados vários exemplos representativos de cada uma dessas “formas de narrar” que não serão, contudo, detalhados nesse paper. Vale lembrar, contudo, que, em muitos casos, distintas dimensões narrativas sobre as identidades aparecem articuladas em diferentes textos midiáticos
957 No caso do Rio Grande do Sul, isso fica claro na trajetória do Jornal Correio do Povo e suas repercussões na própria disputa mercadológica com o jornal Zero Hora.
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958 Nesses estados, foram incluídos os jornais Correio da Bahia, A Tarde (BA); Estado de São Paulo e Folha de São Paulo (SP); Jornal do Brasil e O Globo (Rio de Janeiro); Zero Hora e Correio do Povo (RS) e Correio Brasiliense (DF).
959 O próprio papel desempenhado pela televisão no Brasil, especialmente da Rede Globo, como veículo de integração nacional, serviu como suporte de construção da idéia de modernidade via a constituição de uma identidade nacional e de uma unificação dos mercados locais.
960 OLIVEN, Ruben George. Velhos e novos regionalismos. O Rio Grande do Sul e o Brasil Lugar Comum. Rio de Janeiro, n. 4. p. 5-6. http://www.cfch.ufrj.br/lugarcomum/no4.htm
961 São eles Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Estado de São Paulo, Zero Hora e Correio do
Povo. A análise limitou-se a esses jornais pelo acesso a suas edições impressas. Os demais veículos – Tribuna da Bahia, A Tarde, Jornal do Brasil e Correio Brasiliense – tiveram suas edições mapeadas e analisadas via Internet.
962 A partir da análise individual de cada uma das 3745 matérias midiáticas coletadas, o conjunto de matérias será quantificado no programa denominado SPSS (Statistical Package for Social Sciences), software estatístico desenvolvido especialmente para ser empregado por profissionais e pesquisadores no campo das ciências humanas. O SPSS possibilita criar, definir e modificar variáveis; conhecer o número de casos e calcular percentuais para cada uma das variáveis existentes em um banco de dados; calcular medidas simples e múltiplas, além de permitir realizar cruzamentos de variáveis, verificar a existência de associações e/ou correlações entre essas variáveis e gerar diferentes tipos de gráficos para a apresentação dos resultados. 963 Na opção Mercosul está prevista, no instrumento metodológico, um espaço para identificação do país ao qual faz referência o texto midiático analisado.
964 Aqui, além das repercussões na mídia nacional da cobertura dada aos 500 anos pela mídia estrangeira,
também contemplaremos uma análise de uma amostra de matérias veiculadas na semana do dia 22 de abril de 2000 pela mídia impressa estrangeira. Nessa amostra, estão incluídos, dentre
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outros, jornais da Espanha, Portugal, França, Argentina, Uruguai, totalizando 32 textos midiáticos. 965 Exemplo é o suplemento especial produzido pelo jornal francês Le Libération.
966 Como um documentário exibido no Discovery Channel.
967 O lançamento da telenovela Terra Nostra teve como mote os 500 anos.
968 Exemplos são A Muralha, A Invenção do Brasil, veiculadas pela Rede Globo e Casa Grande e Senzala,
veiculados pelo canal a cabo GNT.
969 Vide o exemplo do relógio dos 500 Anos.
970 GUIMARÃES, Antonio Sergio Alfredo. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. São Paulo, Editora 34, 1999.
971 Exemplos são os gaúchos Décio Freitas, Mario Maestri e Voltaire Schilling, cujas reflexões sobre os 500 anos foram recorrentes nos espaços de opinião do jornal Zero Hora.
972 PESAVENTO, Sandra. p. 125.
973 BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro, Zahar, 1997.
974 Jornalista-historiador é uma categoria referida pelo brasilianista Tomas Skidmore na obra O Brasil visto de fora.
975 Os historiadores de formação acadêmica seguem, contudo, presentes na mídia, sobretudo nos espaços de opinião para proporem (re)leituras históricas sobre as relações com o Outro colonizador, embora não
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alcancem o sucesso dos jornalistas-historiadores.
976 De BUENO, Eduardo, as obras Náufragos, traficantes e degredados - as primeiras expedições ao Brasil : 1500- 1531; A viagem do descobrimento – a verdadeira história da expedição de Cabral e Capitães do Brasil, as três publicadas pela editora Objetiva, do Rio de Janeiro, e, mais recentemente, a obra Brasil – Terra à Vista.
977 CALDEIRA,. Jorge. A nação mercantilista. São Paulo, Editora 34, 1999 e CALDEIRA, Jorge et al. Viagem pela história do Brasil. (2ª edição). São Paulo, Cia. das Letras, 1997. 978 GALVANI, Walter. Nau Capitânia – Pedro Álvares Cabral, como e com quem começamos. Rio de Janeiro, Record, 1998.
979 A estratégia de marketing do lançamento da telenovela Terra Nostra esteve orientado a vincular o novo
produto cultural à comemoração dos 500 Anos de Descobrimento do Brasil. Em seu artigo, Sueli Carneiro
faz referência a várias cenas da telenovela em que é exaltada uma cultura branca e européia e reafirmados
estereótipos relacionados ao negro brasileiro.
980 CARNEIRO, Sueli. “Terra Nostra” só para os italianos. Folha de São Paulo. 27 dez. 1999, p. 1-3.
981 Vale destacar que, embora esse seja também um discurso governamental, tem como especificidade ser
produzido no contexto de um governo com perfil de esquerda, como é o caso do Partido dos trabalhadores que ocupa a Prefeitura de Porto Alegre e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que tem se configurado como oposição política ao governo federal.
982 Ver http://www.brasil-outros500.com.br
983 Ver http://www.brasil-outros500.com.br
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984 Curiosamente, embora a mídia, especialmente a Rede Globo e a Revista Veja, tenham sido o alvo
constante de denúncia e crítica no espaço da lista, é ela que assegura o agendamento de temas a serem
discutidos pelos participantes.
985 McLAREN, Peter. Pluralidade cultural: a diversidade na educação democrática. Pátio – RevistaPedagógica, nº 6, ago./out. 1998, p. 2.