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POLÍTICAS DE INCORPORAÇÃO MUSEU NACIONAL SOARES DOS REIS COLECÇÃO DE PINTURA PRAXIS E GESTÃO MUSEOLÓGICA LILIANA CORREIA LINO

Museu Nacional Soares dos Reis

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Trabalho Académico. Políticas de Incorporação da Colecção de Pintura, do Museu Nacional Soares dos Reis.

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Page 1: Museu Nacional Soares dos Reis

POLÍTICAS DE INCORPORAÇÃO

MUSEU NACIONAL SOARES DOS REIS

COLECÇÃO DE PINTURA

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MESTRADO EMMUSEOLOGIA EMUSEOGRAFIA

POLÍTICAS DE INCORPORAÇÃO

MUSEU NACIONAL SOARES DOS REIS

COLECÇÃO DE PINTURA

PRAXIS E GESTÃO MUSEOLÓGICAELSA GARRETT PINHO

DISCENTE:

LILIANA CORREIA LINO

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

CMP - Câmara Municipal do Porto

MNSR - Museu Nacional Soares dos Reis

ABREVIATURAS

Page 4: Museu Nacional Soares dos Reis

ÍNDICE

Introdução 1

O Museu Nacional Soares dos Reis 2

Missão e Vocação 6

Colecção de Pintura 8

Lacunas 12

Principais Modalidades de Incorporação 14

Conclusão 16

Bibliografia 18

Anexo I - Cronologia 19

Anexo II - Cópia do Ofício de 9 Abril 1833 20

Anexo III - Decreto de 12 Dezembro 1836 21

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

No âmbito da disciplina de Praxis e Gestão Museológica, foi pedido aos

discentes que elaborassem um trabalho escrito que representasse as

realidades de um Museu à sua escolha. O tema, por mim, escolhido foram as

Políticas de Incorporação do Museu Nacional Soares dos Reis, na colecção de

pintura.

Esta escolha recai no facto de o Museu em questão ter quase duzentos anos de

uma história singular e na colecção de pintura por ser um acervo de estrema im-

portância na representação da evolução artística portuense.

A primeira necessidade debruça-se sobre a história do Museu e da Colecção, po-

dendo assim entender o que nesta é representado e de que formas foram incorpo-

radas as diversas obras e quais as principais lacunas. Para isso, achei pertinente

a elaboração de uma cronologia que permitisse entender de forma mais clara a

evolução histórica e artística.(Anexo I)

Depois de várias deslocações a Bibliotecas da Cidade do Porto e à do próprio

Museu, onde contei com a preciosa ajudar da Dra. Vera Calém, visitas ao Museu,

e conversas informais com alguns funcionários foi possível perceber a grandi-

osidade e importância da colecção e todo o Museu, incluído do próprio edifício.

Por fim, a conversa com a Directora, Dra. Maria João Vasconcelos, que de forma

atenciosa me esclareceu dúvidas que ainda persistiam após a pesquisa, percebi

quais os objectivos actuais do Museu e como estes vão ao encontro de corrigir as

falhas que impedem uma leitura clara do discurso expositivo.

INTRODUÇÃO

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

O Museu Nacional Soares dos Reis, o primeiro museu público do país, foi fun-

dado em plena guerra civil, durante o cerco ao Porto (1832/33), que opunha

os defensores do Liberalismo e os Miguelistas. Dois foram os motivos que levaram

o regente D. Pedro, Duque de Bragança, a 11 de Abril de 1833, a estabelecer no

Porto, o Museu Portuense de Estampas e Pinturas (Anexo II):

“A conservação das Obras de arte, que se tornara precária com o desaparecimen-

to dos seus antigos protectores, os conventos abandonados e casas sequestra-

das em plena guerra civil. E a utilização, com fins pedagógicos, do grande fundo

artístico da Academia Real de Marinha e Comércio da cidade, a que se deveria

acrescentar o material reunido a partir dos bens eclesiásticos e sequestros.” [1]

O Museu acolhia assim, as pinturas e estampas oriundas dos conventos abando-

nado do Porto (Igreja de S. Lourenço, Brevia dos Bernardos, Congregação do Ora-

tório de S. Filipe Neri, Loios, S. Francisco, Santo António da Cidade, S. Bento da

Vitória e Hospício de Santo António da Cordoaria) e dos extintos de fora do Porto

(Mosteiro de S. Martinho de Tibães e de Santa Cruz de Coimbra). E também, os

bens dos sequestros da casas particulares (obras estas, que foram posteriormen-

te devolvidas às respectivas família.

O edifício escolhido para acolher o museu foi o abandonado Convento de Santo

António da Cidade, situado em S. Lázaro.

A recolha e inventariação foram da autoria de João Baptista Ribeiro, Pintor e adep-

to do liberalismo, que tinha sido nomeado Director do Museu, acto confirmado

pela Rainha D. Maria II, em 1836 (Anexo II). O inventário do Museu Portuense,

finalizado em 1839, está agora no Arquivo do Governo Civil do Porto. Neste in-

ventário constam trezentos e um objectos de pintura e sete pinturas oriundas do

convento de S. Francisco de Lisboa, entre outras peças.

A partir de 1839 a tutela do Museu foi entregue à direcção da Academia de Belas

O Museu Nacional Soares dos Reis

2

[1] SANTOS, Paula

Mesquita, “Museu

Nacional Soares dos

Reis, Um contributo para

a História da Museologia

Portuguesa”, Separata

da revista Museu. Local.

Série IV, 1995 p.24

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Liliana Correia Lino

Artes do Porto, que havia sido fundada em 1836 [2]. A justificação para tal mudan-

ça devia-se à sua utilização pelos professores e alunos de Belas Artes, para que

tivessem um acesso mais rápido e eficiente às obras ali expostas, continuando a

manter o estatuto de Museu Público.

No mesmo ano da fundação da Academia de Belas Artes e da confirmação

do Museu Portuense pela Rainha, abria ao público o Museu Allen, na Rua da

Restauração.O seu fundador foi João Allen (1781-1848)[3], de descendência irlan-

desa, negociante de Vinho do Porto e grande coleccionador, “o maior coleccio-

nador nacional da época” [4], que decidira expor ao público portuense as suas

colecções de diversas temáticas.

Após a sua morte, e devido a dificuldades financeiras, a família resolveu vender

o recheio do Museu. Como este fazia parte do entretenimento da sociedade por-

tuense, gerou-se um grande movimento de opinião que levou a Câmara Municipal

do Porto a adquirir o espólio. Mantendo-o no mesmo edifício, adjacente à casa da

Família Allen, na Rua da Restauração, a Câmara reabre o Museu em 1952 com a

designação de Museu Municipal do Porto. O seu Director, foi um dos filhos de João

Allen, Eduardo Augusto Allen (1824-1899), até ao ano da sua morte.

Em 1905, atendendo à insuficiência das instalações, o Museu foi transferido para

o antigo convento de São Lázaro, onde já se encontravam a Biblioteca Pública, o

Museu Portuense e a Academia de Belas Artes. Só abrindo ao público em 1913.

Ao longo dos anos este Museu foi recebendo legados e doações de ilustres perso-

nagens de Invicta, que juntamente com a colecção do seu fundador, foi formando

o grande espólio artístico até ao ano da sua extinção em 1940/41.

Em 1932, sob a direcção de Vasco Valente, e após um longo período, quase sécu-

lo, o Museu Soares dos Reis [5] torna-se independente face à tutela da Academia

de Belas Artes do Porto, pois o caracter académico que o Museu era entendido

[2] – Decreto de 22 de

Novembro de 1836.

Criação da Academia de

Belas Artes e aprovação

dos respectivos estatutos.

[3] – SANTOS, Paula

M.M. Leite, “Um

coleccionador do Porto

Romântico: João Allen

(1781-1848)”; Universida-

de Nova de Lisboa, 1997,

Tese de Mestrado.

[4] – FRANÇA, José-Au-

gusto, “A arte em Portugal

no Século XIX”, 1 Volume,

3ª ed. Venda Nova,

Bertrand, 1990, p 236

[5] Desde 1911 que se

denominava Museu So-

ares dos Reis, em honra

do primeiro pensionista

no estrangeiro, do Estado,

em Escultura – António

Soares dos Reis

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

levou à desvalorização do espólio devido à sua mistura com o material produzido

pela Academia. Nesse mesmo ano sai o Decreto nº 21:504 [6] que atribui o estatuto

de Museu Nacional ao Soares dos Reis, dando a possibilidade das colecções de

arte da Câmara Municipal do Porto serem lá depositadas.

Com a compra do Palácio dos Carrancas [7] à Santa Casa da Misericórdia, em

1937, e a instalação das colecções no mesmo assinada definitivamente a sepa-

ração do Museu da Escola de Belas Artes. Tal edifício era mais do que suficiente

para albergar o espólio do Museu Portuense e do Museu Municipal do Porto. Este

último viria a ser extinto nesse mesmo ano e o seu espólio passaria a estar depo-

sitado no Museu Nacional Soares dos Reis, segundo o Decreto-lei nº 27.878.

O Depósito deste importante acervo permitiu ao Museu Nacional Soares dos Reis

aumentar o período cronológico da sua exposição de pintura e reforçar os Séc.

XIX e XX. “As colecções dos Museus passariam a ser expostas em articulação,

completando-se e complementando-se, o que acontece pela primeira vez na aber-

tura do Museu Soares dos Reis, no Palácio dos Carrancas, em 1942.” [8]

O Eng. Francisco de Sá foi o responsável pelo projecto de adaptação do Palácio

a Museu, seguindo normas impostas pela museologia da época. Pondo em evi-

dência os objectos expostos, integrando-os simultaneamente em harmonia com

o espaço e agrupando-os segundo princípios que não sobrecarregassem o olhar,

evitando excessos de peças expostas, como era comum no Século XIX. Após a

finalização das obras, o Museu abre ao público em 1942.

A procura de uma certa modernidade, manifestada pela aquisição das obras de

autores contemporâneos, à época, começa a manifestar-se na década de 50, do

Séc. XX e deve-se ao Director e Escultor Salvador Barata Feyo, mas é na divulga-

ção cultural que o Director sobressai, com a realização de exposições temporárias.

[6] DECRETO-LEI nº

21:504 de 25 de Julho de

1932. Ministério da Ins-

trução Pública. Direcção

Geral do Ensino Superior

e das Belas-Artes.

(...) o Museu de Soares

dos Reis, do Porto, que

passará a denominar-

-se Museu Nacional de

Soares dos Reis.

[7] - Construído a partir

do ano 1795 para habita-

ção e fábrica dos Morais

e Castro, família com

alcunha de

Carrancas. Em 1861, o

palácio foi adquirido por

D. Pedro V para servir de

alojamento à família real

quando estivessem de

visita à Invicta. Após a

implantação da república

o palácio não tinha hos-

pedes, e no testamento

de D. Manuel II, o palácio

é entregue à Misericórdia

do Porto, que depois em

1937 é adquirido pelo

Estado para nele instalar

o Museu Nacional de

Soares dos Reis.

[8] – AAVV, Roteiro da

Colecção: Museu Na-

cional Soares dos Reis,

IMC, p. - 55

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5

Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

Quanto à vertente educativa, esta ressalta na década de 60, sob a direcção de

Manuel de Figueiredo, quando surge, no Museu, o Serviço de Extensão Escolar,

com actividade dirigida a crianças, que participavam nas visitas orientadas e num

atelier infantil.

O estímulo actualizador do MNSR, na década de 70 (sobretudo depois da revolu-

ção de 1974), mas iniciado com Barata Feyo na década de 50, levou ao projecto

de criação de um Museu Nacional de Arte Moderna – actual Museu de Arte Con-

temporânea, da Fundação Serralves. Este deriva da colaboração do Museu com o

Centro de Arte Contemporânea (C.A.C.).

“Começava para nós, Museu, uma cadeia de experiências aliciantes”, disse Maria

Emília Amaral Teixeira[9] ao referir-se à época em que o Museu respondia a iniciati-

vas culturais promovidas por museus locais, Casas da Cultura, grupos recreativos,

Juntas de Freguesia, entre outros, ajudando-os a promover a sua cultura. Diversas

exposições temáticas foram realizadas nesse contexto, como por exemplo: “O Li-

nho” (1977), “A Feira” (1978), “O pão e o Vinho” (1981), entre outras. Estas exposi-

ções foram realizadas a nível local.

A entrada na última década do Séc. XX marcou-se pelo projecto de remodelação

do edifício, adequando-o às novas necessidades de um espaço público, mas prin-

cipalmente museológico. Projecto esse, elaborado por Bernardo e Fernando Távo-

ra, que permitiu restaurar, remodelar e ampliar o edifício, dotando-o de auditório,

áreas para exposição temporária, reservas, oficinas educativas e serviços. Após

ter estado encerrado dois anos seguidos, o museu reabre ao público em 2001, no

mesmo ano em que a cidade do Porto foi Capital Europeia da Cultura.

Ao contrário do que seria de esperar, o início do Séc. XIX não foi calmo. Em 2006

é finalizado, pela Câmara Municipal do Porto, o Túnel de Ceuta que infringe a área

de protecção do edifício do Museu, classificado como Imóvel de Interesse Público

(IIP).

[9] – Maria Emília Amaral

Teixeira foi Directora do

MNSR entre 1968-86

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

“Os objectivos do MNSR são:

a ) Guardar, conservar e estudar o acervo que lhe está confiado e divulgá-lo a

nível nacional e internacional

b) Promover acções no âmbito da salvaguarda, preservação, conservação, inves-

tigação, desenvolvimento e divulgação do património cultural.

c) Procurar diversificar a oferta cultural para servir um público cada vez mais vari-

ado e numeroso e desenvolver esforços para melhorar a acessibilidade intelec-

tual e física de pessoas com necessidades especiais.

d) Procurar estabelecer parcerias com outras instituições e entidades com ob-

jectivos afins.

e) Dar apoio técnico a entidades e pessoas que o solicitarem, nas áreas de Mu-

seologia e de investigação e acção do Museu.

f) Colaborar e promover iniciativas internacionais no âmbito do intercâmbio cul-

tural.

g) Preservar e valorizar o interesse histórico-artístico do edifício onde está insta-

lado e respectiva zona de protecção.”

“A vocação do MNSR foi sendo construída ao longo da sua existência, um pouco

mercê de circunstâncias várias que foram condicionando e dando sentido ao

Museu e ao rumo da sua actividade.

O Museu foi inicialmente constituído para responder à necessidade de preser-

var o património proveniente dos conventos abandonados em 1832, ao qual se

juntava também património artístico da Academia Real da Marinha e Comércio.

A esta vocação acrescentou-se, com a ligação seguinte à Academia de Belas

Artes do Porto, a partir de 1839, a utilização do Museu por professores e alunos

Missão e Vocação

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7

Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

da Academia, acrescentando as suas colecções com peças decorrentes do en-

sino e dos trabalhos escolares.

A transformação do Museu Soares dos Reis em Museu Nacional em 1932 co-

incidiu com o alargamento das colecções às Artes Decorativas e o depósito do

Museu Municipal do Porto, que veio trazer um novo âmbito de acção, acres-

centando às Belas Artes e Artes Decorativas as vertentes histórica, arqueológica

e de “documento dos artistas regionais”.

No final do séc. XX, a política de coordenação dos Museus portugueses depend-

entes do Instituto dos Museus e da Conservação contribuiu para orientar a vo-

cação do MNSR, no sentido de valorizar o acervo de Artes Plásticas do séc. XIX

e XX, ligadas essencialmente à Escola do Porto.

A remodelação do Museu e a sua reabertura em 2001 privilegiaram ainda a val-

orização do edifício, com a memória do palácio, complementada com o acervo

de Artes Decorativas. Tendo em conta estas especificidades, que caracterizam

e definem o contexto do MNSR, a vocação actual do Museu traduz estas várias

vertentes: de conservação do património à sua guarda; de divulgação e interpre-

tação das colecções, com destaque para as áreas privilegiadas pela política mu-

seológica do final do séc. XX e pela reabertura do Museu, através da exposição

permanente e procurando abarcar as outras áreas em actividades e exposições

temporárias; de instrumento de estudo; de memória da história e arqueologia

locais e nacionais e valorização dos artistas de todas as épocas relacionados

com o Porto. Como complemento desta vocação, deve apoiar e ajudar, dentro

das suas competências, outras entidades com colecções e investigações afins.

Constitui também vocação do Museu colaborar com outras entidades públicas e

privadas na salvaguarda, estudo e divulgação do património cultural, particular-

mente no que se refere à zona em que se insere.”

Page 12: Museu Nacional Soares dos Reis

Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

O acervo da Colecção de Pintura do Museu Nacional Soares dos Reis é

constituído por cerca de duas mil e quinhentas peças, entendidas entre o

Séc. XVI e XX.

A constituição desta colecção é crescente com a história do Museu que a alberga

e remonta aos anos de 1833/34, anos do fim do cerco à cidade do Porto e da

extinção das Ordens Religiosas.

As primeiras peças a dar entrada no Museu são oriundas dos conventos aban-

donados, anteriormente referidos, do Porto e de fora da cidade. Deste primei-

ro conjunto, onde a temática religiosa prevalece sobre a mitologia e a história,

é possível verificar que a maioria é de autores desconhecidos, havendo ainda

assim obras de pintores activos no final do Séc. XVIII e princípios do XIX, como

Francisco Vieira Portuense, João Glama Stroberle, Joaquim Rafael e José Teixeira

Barreto.

Nomes como Domingos António de Sequeira, Pedro Alexandrino de Carvalho e

Mestre da Lourinhã são alguns dos autores das obras incorporadas no Museu,

em 1937, vindas do depósito do Convento de S. Francisco de Lisboa, solicitadas

por João Baptista Ribeiro.

Em 1836, são criadas as Academias de Belas Artes de Lisboa e Porto. A da

Cidade Invicta é localizada no mesmo edifício do “Museu de Pinturas e Estampas

e outros objectos de Bellas Artes”, intensificando o caracter didáctico do Museu

(uma das intenções da sua criação). Esta é mais evidente quando a direcção

do Museu recai sob a responsabilidade da Academia de Belas Artes, em 1839,

mantendo-se parte integrante da mesma.

Colecção de Pintura

8

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

O baixo orçamento da Academia não permitia uma boa conservação e restauro

das obras, nem novas aquisições, o que levou a que o Museu tivesse um em-

pobrecimento das colecções, em vez do normal e suposto enriquecimento. Para

contradizer esta realidade foram, desde então, incorporadas, no Museu, as obras

escolares beneméritas, as remessas dos pensionistas e as doações fortuitas de

professores e particulares.

Esta coligação com a Academia Portuense de Belas Artes, de quase um século,

ditou um caracter académico às colecções “que o distingue de qualquer outra

colecção do país, pública ou privada, e que explica o facto de a pintura portuense

da segunda metade do Séc. XIX ser o núcleo mais consistente da colecção do

Museu.” [10]

Naturalmente que, neste núcleo, podemos encontrar os grandes nomes da

Academia Portuense, como Silva Porto, Marques de Oliveira, Artur Loureiro,

Henrique Pousão, Aurélia de Sousa, António Carneiro, entre outros.

Nesta fase destaca-se o Romantismo e o Naturalismo como expressões artísticas.

No Romantismo dá-se ênfase a Augusto Roquemont e aos retractos que pintou da

sociedade nortenha portuguesa, que mesmo não tendo sido aluno da Academia

Portuense de Belas Artes, teve dois discípulos que o foram e que grande im-

portância tiveram na “criação” da nova geração de artistas portugueses, Francisco

José Resende e João António Correia. Já o Naturalismo é o verdadeiro grande

núcleo da colecção, sendo introduzido em Portugal por Silva Porto e Marques

de Oliveira, os dois primeiros alunos da Academia a beneficiar de pensões para

Paris, trazendo de lá esta nova estética. Ambos tiveram grande influência na so-

ciedade artística do país. Ao contrário de Marques de Oliveira que leccionou na

Academia Portuense, Silva Porto vai leccionar para a Academia de Belas Artes

[10] – AAVV, Roteiro da

Colecção: Museu Nacional

Soares dos Reis, IMC, p.

- 54

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Liliana Correia Lino

lisboeta. Ainda neste contexto é de salientar Henrique Pousão, em que toda a sua

produção artística é feita durante o seu percurso académico, pois morreu jovem.

As suas obras pertencem hoje ao fundo antigo do Museu.

“A representação de alguns pintores lisboetas na colecção do Museu, nome-

adamente José Malhoa, Columbano, António Ramalho e João Vaz é constituída

por um reduzido número de peças, em parte devidas a ofertas e legados, e de-

sempenha, no âmbito do programa de apresentação da colecção, a moldura de

contexto à obra de Silva Porto.” [11]

Numa segunda fase do Naturalismo, já no terminal do Séc. XIX destacaram-se Au-

rélia de Sousa e António Carneiro que fazem a transição, apresentando rupturas

com o habitual naturalismo, marcando o início da renovação influenciados pelo

simbolismo.

O início do Séc. XX é, então, marcado pelo tardo-naturalismo, pois os alunos da

Academia “fizeram perdurar os valores defendidos pelos seus mestres e anteces-

sores e a sua produção artística, apoiada pela crítica e acarinhada pela socie-

dade, (…) deixando ao modernismo pouco espaço de afirmação.” [12] Embora fos-

sem assomando pequenas rupturas daqueles que foram conhecer as realidades

artísticas no estrangeiro. O que leva a que, ao contrário do que acontece com

o Naturalismo, no Modernismo não se possa traçar um percurso expositivo tão

completo e que ilustre a evolução estética em Portugal no início do século, pois

o conjunto de obras coleccionadas é pequeno e fragmentado. Há, unicamente,

algumas peças dispersas de artistas que se enquadram em diversas fases do

modernismo. Quase todos os artistas que pertenceram ao movimento modernista

estão representados no MNSR, embora seja de forma diminuta e em alguns casos

pouco importante no percurso criativo do autor, em alguns casos há apenas uma

[11] – Ibidem - p. 69

[12] – Ibidem - p. 77

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

única peça do pintor. Nomes como: José Tagarro, Dordio Gomes e Armando de

Basto são representação das duas primeiras décadas do Séc. XX.

Com as aquisições realizadas por Salvador Barata Feyo nos anos 50, de Eduardo

Viana, João Hoga, Augusto Gomes, Júlio Resende, fecha-se o núcleo do modern-

ismo e abrem-se as portas à arte contemporânea, adquirindo-se obras de artistas

activos e empenhados, na década de 70. Peças essas que estão hoje no Museu

de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves.

Page 16: Museu Nacional Soares dos Reis

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

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Como já referido anteriormente, o MNSR, tem uma grande e valiosa colecção

de pintura a seu cargo, mas tal não indica que não haja lacunas nas rep-

resentações dos vários pintores ao longo dos séculos, até pelo contrário, fica

mais susceptível a que tal aconteça. A colecção não é uniforme, havendo épocas

melhor representadas que outras, artistas mais bem representado que outros, etc.

A principal lacuna desta colecção encontra-se no início do Séc. XX, no modern-

ismo, tendo representações vagas de grande parte dos pintores da época, mas

sem grande mostra do que foram os percursos dos mesmos.

Há também falhas, em relação à obra de António Carneiro, uma vez que foi uma

referência nacional na pintura de paisagem, e o Museu possui poucas dessas

obras. Sendo que nenhuma delas é referente ao grande auge do Simbolismo da

colecção do pintor.

Não havendo maneiras de colmatar esta falha através de aquisições, por diver-

sos motivos, o MNSR tenta corrigi-la, no percurso expositivo, com comodatos de

outras entidades que possuam obras de interesse ao Museu. Permitindo assim ao

visitante interpretar todo a exposição de forma coerente.

Há, actualmente, no percurso de pintura duzentas e vinte pinturas expostas, das

quais cento e quarenta e sete pertencem ao MNSR, as outras, grande parte pert-

encente ao depósito da CMP, são de instituições ou privados que entregaram

peças ao MNSR em comodato. [13] Instituições como: Casa Museu Abel Salazar;

Museu do Chiado; Casa Museu Fernando Castro (depende administrativamente

do MNSR); Museu Nacional de Arte Antiga e Museu da Faculdade de Belas Artes,

da Universidade do Porto.

É com esta última que o MNSR está a tentar rectificar as divisão do espólio, feita

Lacunas

[13] Utilizo a palavra como-

dato, por ser o temo cor-

recto, embora não saiba qual

o termo utilizado em

contracto. Podendo as peças

terem sido entregues em

forma de depósito e estarem a

ser indevidamente, utilizadas

em exposição.

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

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em 1932, pelos directores do Museu e da Academia de Belas Artes, com possíveis

trocas, não de propriedade, mas em depósito/comodato.

Vai-se realizar, de 15 de Março a 20 de Maio, uma exposição, em parceria com o

Museu da Faculdade de Belas Artes, da Universidade do Porto, expondo as novas

incorporações do Museu da Faculdade, de doações de artistas e antigos e actuais

professores da mesma.

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

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O Museu Nacional Soares dos Reis tem quase duzentos anos de história e

naturalmente de incorporações. Compras, Doações e Legados que foram

acontecendo ao longo do tempo, mas com grande ênfase nos meados do Séc.

XX. Os sucessivos directores do Museu foram delineando diferentes políticas de

aquisição, ou prioridades à continuação do crescimento das colecções do Museu.

Durante o período em que o MNSR foi parte integrante da Academia de Belas

Artes do Porto foram incorporadas as obras de mérito dos seus alunos e oca-

sionalmente ofertas de professores ou particulares, pois o baixo orçamento da

Academia não permitia o aumento das colecções de outra forma. Este facto per-

mitiu ao MNSR ter um grande núcleo de obras da pintura portuense da segunda

metade do Séc. XIX.

É com a independência do MNSR face à Academia de Belas Artes do Porto e

com a instalação no Palácio dos Carrancas que o Museu adquire “estabilidade

institucional”.

O então director do Museu, Vasco Valente, não privilegiou a colecção de pintura

nas suas incorporações, mas é durante o seu mandato que, em 1943, é legado

ao Museu a colecção Maria Rizzo Terra com cinquenta e cinco pinturas de au-

tores portugueses dos Séc. XIX e XX. Já Salvador Barata Feyo, nos anos 50, e ao

contrário do seu antecessor, favorece a colecção de pintura, adquirindo obras de

pintores do Séc. XX, não representados no Museu até então, tais como: Eduardo

Viana, Dordio Gomes, Carlos Carneiro, José Tagarro, Júlio Resende, entre outros.

Estas aquisições significam uma mudança rumo á contemporaneidade e expan-

são da colecção.

Quanto a Manuel de Figueiredo, director do MNSR desde 1961 a 1968, “as

aquisições para a colecção de pintura não tiveram particular significado”, embora

seja de salientar o legado de Berta Pinto dos Santos Vilares, com oitenta e oito

As Principais Modalidades de Incorporação

Page 19: Museu Nacional Soares dos Reis

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pinturas dispersas, onde voltam a prevalecer os pintores portugueses do Séc. XIX.

A partir da década de 70, e com a actividade do Centro de Arte Contemporânea,

privilegia-se a aquisição de obras contemporâneas de artistas portugueses. Obras

essas, perto de cem, que actualmente se encontram, em regime de depósito, no

Museu de Arte Contemporânea, da Fundação Serralves.

Destaque-se que a maioria das aquisições feitas, desde os anos 40, devem-se à

presença do Fundo João Chagas, doação feita ao Museu, em 1941, que consiste

no rendimento líquido de um prédio no Estoril, “destinado à aquisição de obras e

a melhoramentos em benefício do Museu.”

Há cada vez menos doações ou legados e as poucas aquisições feitas recente-

mente têm o objectivo de colmatar as lacunas dos núcleos.

Encontra-se, actualmente, em fase de aprovação o documento que define a Políti-

ca de Incorporação do Museu Nacional Soares dos Reis.

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Liliana Correia Lino

Após o término da pesquisa e redacção deste trabalho conclui-se que o

Museu Nacional Soares dos Reis, o mais antigo museu de arte do país,

confronta-se com situações controversas.

Este Museu que data de 1833, criado em clima de guerra, foi pensado para alber-

gar e proteger as pinturas e estampas dos conventos abandonados, adquire um

caracter didáctico durante o longo período a que pertenceu à Academia Portuense

de Belas Artes e de onde “herda” grande parte do seu actual espólio na colecção

de pintura de artistas portuenses da segunda metade do Séc. XIX.

Está instalado num edifício com mais de duzentos anos, de importante relevân-

cia na cidade do Porto e do país em geral (Imóvel de Interesse Público), e que

foi sofrendo, ao longo dos anos alterações e adaptações para que cumpra a sua

funcionalidade, desde 1937, de Museu.

Há mais de setenta anos que tem a seu cargo o espólio do extinto Museu Munici-

pal do Porto, pertencente à CMP e em cumprimento do decreto-lei nº 27.878 de 21

de Julho de 1937, que refere no artigo 2º: “As colecções que constituem o Museu

Municipal do Pôrto serão instaladas, precedidas de inventário e identificação, no

Museu Nacional Soares dos Reis. É expressamente reconhecido o direito de pro-

priedade da Câmara Municipal, sôbre as ditas colecções e é indispensável a sua

anuência, também expressa, para saírem do Museu, mesmo temporariamente”

O Museu foi recebendo ao longo da sua história legados e doações de pessoas il-

ustres da cidade do Porto, que em muito ajudaram a completar a colecção oriunda

da Academia de Belas Artes. Uma doação de importante destaque, foi o fundo

João Chagas, pois permitiu a aquisição de bastantes obras, principalmente, nos

anos 50 do Séc.XX. Obras essas que permitem ao Museu ter, mesmo que com

Conclusão

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relevantes falhas, um percurso expositivo relativo ao início do Séc.XX.

Relativo ao acervo de pintura, o Museu pode ser intitulado como o Museu dos

depósitos, que para além do da CMP, o Museu acolhe, obras de outras institu-

ições e particulares, pois estas permitem o enriquecimento do percurso expositivo

e a possibilidade de proporcionar ao visitante do museu uma leitura mais clara

e precisa, da colecção exposta, do Séc. XIX aos anos 60 do Séc. XX. Já que é

impossível concretizar a curto prazo um plano de aquisições de obras da primeira

metade do Séc.XIX, para colmatar essas lacunas.

Actualmente, está em curso uma parceria com a Universidade do Porto, para di-

namizar o espaço da exposição e ainda, conversações com o Museu da Facul-

dade de Belas Artes, do Porto, para que em regime de depósito possam ser feitas

algumas correcções à divisão feita pelos directores das mesmas, em 1932.

As exposições temporárias são fonte de grande relevância, pois permitem fazer

rotatividade às colecções que se encontram nas reservas.

Em suma, o MNSR é de grande relevância na comunicação da evolução artística

portuense, permitindo ao visitante uma interessante viagem. Mesmo que com fal-

has ou lacunas que cada vez mais passam despercebidas ao mero visitante.

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Museu Nacional Soares dos Reis Políticas de IncorporaçãoColecção de Pintura

Liliana Correia Lino

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Referências Electrónicas:

Museu Nacional Soares dos Reis

Online: www.mnsr.imc-ip.pt

Instituto dos Museus e da Conservação

Online: www.imc.pt

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

Online: www.sigarra.up.pt

Biblioteca Digital da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Online: www.ler.letras.up.pt

Bibliografia