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Instituto Politcnico de Lisboa
Escola Superior de Msica de Lisboa
MSICA TRADICIONAL NA INICIAO MUSICALUma Proposta de Ordem de Aprendizagem
Projecto de Aplicao do Mtodo Hngaro no Ensino Especializado da Msica
Ana Sofia Alves Amorim Lopes
Mestrado em MsicaDezembro de 2014
Professora orientadora: Cristina Brito da Cruz
Instituto Politcnico de Lisboa
Escola Superior de Msica de Lisboa
MSICA TRADICIONAL NA INICIAO MUSICALUma Proposta de Ordem de Aprendizagem
Projecto de Aplicao do Mtodo Hngaro no Ensino Especializado da Msica
Ana Sofia Alves Amorim Lopes
Mestrado em MsicaDezembro de 2014
Professora orientadora: Cristina Brito da Cruz
Agradecimentos
A realizao deste projecto de Mestrado no teria sido possvel sem o contributo de algumas
pessoas, a quem deixo o meu profundo e sincero agradecimento.
professora Cristina Brito da Cruz, pela orientao do trabalho, sugestes dadas e
correco do mesmo.
Aos professores do Kodly Institute, com especial agradecimento ao Dr Lszl Norbert
Nemes e ao Professor Sergio de la Ossa por tudo o que me ensinaram sobre o Mtodo
Hngaro e sobre a msica tradicional.
Direco Pedaggica do Conservatrio Regional de Setbal, por ter autorizado a
implementao do projecto nesta instituio.
s educadoras de infncia e directora, Belmira Gaspar, do Jardim de Infncia n 1 de
Benfica por se terem prontamente disponibilizado para o projecto exploratrio com os seus
alunos.
s colegas professoras que fizeram parte do projecto exploratrio no Jardim de Infncia n 1
de Benfica, Marta Cepda, Patrcia Coelho, Sandra Coutinho e Sofia Vieira, pela sua
participao nesse projecto experimental.
colega professora do Conservatrio Regional de Setbal, Jelena Bogatirjova, por aceitar
to prontamente pr em prtica o projecto na sua turma de 1 ano.
Aos pais dos alunos de Iniciao, que autorizaram as gravaes.
Aos meus alunos de Iniciao, pois este projecto para eles.
Aos meus pais e irm pelo apoio financeiro e emocional, mas sobretudo pelo amor pela
msica tradicional que me inspiraram.
Ao meu marido Antnio, pelo encorajamento, incentivo, compreenso, apoio incondicional e
amor.
ResumoEste projecto de aplicao do Mtodo Hngaro no Ensino Especializado da Msica Msica
tradicional na Iniciao Musical: Uma proposta de ordem de aprendizagem foi previsto
para funcionamento na turma de 1 ano de Iniciao Musical no Conservatrio Regional de
Setbal.
O Mtodo Hngaro foi desenvolvido na dcada de 40 a partir do Conceito de Educao
Musical de Kodly e foi j adaptado a muitos pases, independentemente das caractersticas
da sua msica tradicional e dos sistemas de leitura utilizados por norma. Este projecto
formulou uma proposta de ordem de aprendizagem dos nomes das notas atravs de repertrio
tradicional portugus. Esta ordem de aprendizagem apenas numa fase inicial igual
sequncia utilizada na Hungria, progredindo posteriormente para um contexto tonal.
Foram realizados registos em formato vdeo da performance da turma do repertrio
tradicional recolhido para o 1 ano. Este um projecto em continuidade, que ter aplicao
prtica nas prximas turmas de Iniciao Musical.
Palavras-chave
Conceito de Educao Musical de Kodly, Mtodo Hngaro.
Ensino Especializado da Msica, Iniciao Musical, Msica Tradicional.
Abstract
This project of application of the Hungarian Method to the Specialized Music Education
Folk music in Early Childhood Music Education: Proposing a learning sequence was
designed to function in a 1st grade class of Early Childhood Music Education in Conservatrio
Regional de Setbal.
The Hungarian Method was developed in the 1940s from the Kodly Concept of Music
Education and has since been adapted in many countries, regardless of the characteristics of
their folk music and the pitch labeling systems used. This project framed a proposal of a
learning sequence of relative pitch names through Portuguese folk repertoire. The sequence of
tone-sets is equal to the Hungarian one merely at the beginning, moving on to a tonal context.
The class' performance of the folk repertoire for the 1st grade was recorded in video format.
This project is a work in progress, which will be applied in the next years to the classes of
Early Childhood Music Education.
Key-words
Kodly Concept of Music Education, Hungarian Method.
Specialized Music Education, Early Childhood Music Education, Folk Music.
Abreviaturas
CEMK Conceito de Educao Musical de Kodly
CRS Conservatrio Regional de Setbal
EEM Ensino Especializado da Msica
IM Iniciao Musical
Kodly Institute Zoltn Kodly Pedagogical Institute of Music
MTP Msica Tradicional Portuguesa
ndice
Introduo 1
1. Um Projecto de Aplicao do Mtodo Hngaro 3
1.1. Descrio do Projecto 3
1.2. O objectivo a atingir e as questes de investigao 3
1.3. Caracterizao do contexto de implantao do projecto 4
1.4. Fase preparatria do projecto 6
1.5. Implementao do projecto 7
1.6. Actividades e estratgias utilizadas nas aulas 8
1.7. Formas previstas para a avaliao do projecto 9
2. Reviso da Literatura 11
2.1. O Mtodo Hngaro e o Conceito de Educao Musical de Kodly 11
2.1.1. Nota histrica 11
2.1.2. Os currculos em diversos nveis do ensino da msica na Hungria 12
2.1.3. Os princpios do CEMK 14
2.1.4. A importncia do canto no CEMK 15
2.1.5. As principais tcnicas do Mtodo Hngaro 16
2.1.6. O repertrio utilizado na sala de aula 18
2.1.7. Ordem de aprendizagem do nome das notas utilizada na Hungria 20
2.1.8. Fases da aprendizagem 21
2.1.9. O movimento nas aulas de IM 22
2.2. Adaptaes internacionais do mtodo 22
2.2.1. Divulgao do Mtodo Hngaro 22
2.2.2. Adaptaes que seguiram a ordem de aprendizagem utilizada na Hungria 23
2.2.3. Adaptaes que no seguiram a ordem de aprendizagem utilizada na Hungria 24
3. O Resultado do Projecto: uma ordem de aprendizagem de MTP 27
3.1. Canes para o 1 ano de IM 28
3.2. Canes para os anos seguintes de IM 30
3.2.1. Canes para o 2 ano de IM 30
3.2.2. Canes para o 3 ano de IM 31
3.2.3. Canes para o 4 ano de IM 32
4. Reflexo Crtica e Concluso 35
4.1. Reflexes sobre o desenvolvimento do projecto 35
4.2. Perspectivas para o futuro 37
Bibliografia 39
Anexos 45
Anexo 1 Canes para o 1 ano de IM 45
s-m 45
ls-m 50
s-m-d 55
mrd 60
s-mrd 65
mrd-l, 70
Anexo 2 Canes para o 2 ano de IM 75
fmrd 75
sfmrd 79
lsfmrd 88
Anexo 3 Canes para o 3 ano de IM 103
dt,l,s, 103
rdt,l,s, 106
fmrdt, 109
fmrdt,l, 114
Anexo 4 Canes para o 4 ano de IM 119
sfmrdt, 119
mrdt,l,s, 135
dtls,f,m, 139
Anexo 5 DVD 141
ndice de Tabelas
Tabela 1 Anlise interna do CRS 3
Tabela 2 Anlise externa do CRS 4
Tabela 3 Turma de 1 ano de Iniciao Musical no ano lectivo 2012/13 5
Tabela 4 Turma de 1 ano de Iniciao Musical no ano lectivo 2013/14 5
ndice de Figuras
Figura 1 Fonommica utilizada no Mtodo Hngaro 12
Figura 2 Ordem de aprendizagem do nome das notas utilizada na Hungria 15
Figura 3 Ordem de aprendizagem do nome das notas utilizada em Frana 20
Figura 4 Proposta de ordem de aprendizagem do nome das notas em Portugal 21
ndice de Canes por ordem de aprendizagem
Era uma vez um gato malts 45
Rei capito 46
To badalo 47
Dlim-dlim-dlo 48
Lagarto pintado 49
Jogo da Ursa 50
Pedro e Paulo 51
Era uma vez um conde e um bispo 52
Sola sapato 53
Um per 54
Pelo mar abaixo 55
pai velho 56
Era uma vez um rei e uma rainha 57
O lencinho 58
Tenho um cozinho 59
Esconder, esconder 60
Ferreiro 61
O rato 62
Bicho flor 63
Pia a pinta 64
A barca virou 65
Eu j vi o sol nascer 66
Assim se amassa 67
Arco da velha 68
Chapu 69
Dorme, dorme meu menino 70
Uma meia 71
Sape gato lambareiro 72
Arre burro 73
Burrinho da Nazar 74
Nana, nana meu menino 75
da casa cavalheira 76
Senhora vizinha 77
Dedos da mo 78
Eu fui ao jardim celeste 79
Mira-me Miguel 80
Mata a tira-lira-lira 81
Pur beilar el pingacho 82
Mineta (Romance) 84
laranja 85
Aqui neste terreirinho 86
Ai larila! 87
Senhora Anica 88
Menina do meio 89
Qua, qua, passar 90
So Guin 91
Senhora Dona Sancha 92
Vs chamais-me moreninha 93
No quero que vs monda 94
Corre, corre lindo anel 95
Sete varas tem 97
A Amlia 99
Ol papagaio 100
Papagaio louro 101
terr t t 102
Pantaleo 103
Arre burrinho 104
Era uma vez uma vaca Vitria 105
A gata parda 106
Quem vai ao vento 107
Varre, varre 108
Vai-te embora papo 109
Os passarinhos 110
Matilde 111
Quero bem... 112
Os trs reis do Oriente 113
Cum r-r 114
Senhora do Almurto 115
Jos embala o Menino 116
Ao Menino Jesus 117
Laurindinha 119
Que linda falua 120
Regadinho 121
Minha me mandou-me fonte 122
Menina que est no meio 123
minha farrapeirinha 124
Bia, bia, binha 125
O verde gaio meu 126
A galinheira 127
Se tu fores erva 128
Ribeira vai cheia 129
Caf com leite 130
Era uma velha 131
Elvas, Elvas 133
Este pandeiro 134
Senhora Dona Anica 135
Lengalenga da velha 136
Alargai-vos raparigas 138
Na ponte da viola 139
ndice de Canes por ordem alfabtica
A Amlia 99
A barca virou 65
A galinheira 127
A gata parda 106
Ai larila! 87
Alargai-vos raparigas 138
Ao Menino Jesus 117
Aqui neste terreirinho 86
Arco da velha 68
Arre burrinho 104
Arre burro 73
Assim se amassa 67
Bicho flor 63
Bia, bia, binha 125
Burrinho da Nazar 74
Caf com leite 130
Chapu 69
Corre, corre lindo anel 95
Cum r-r 114
Dedos da mo 78
Dlim-dlim-dlo 48
Dorme, dorme meu menino 70
Era uma velha 131
Era uma vez um conde e um bispo 52
Era uma vez um gato malts 45
Era uma vez um rei e uma rainha 57
Era uma vez uma vaca Vitria 105
Esconder, esconder 60
Este pandeiro 134
Eu fui ao jardim celeste 79
Eu j vi o sol nascer 66
Ferreiro 61
Jogo da Ursa 50
Jos embala o Menino 116
Lagarto pintado 49
Laurindinha 119
Lengalenga da velha 136
Mata a tira-lira-lira 81
Menina do meio 89
Menina que est no meio 123
Mineta (Romance) 84
Minha me mandou-me fonte 122
Mira-me Miguel 80
Na ponte da viola 139
Nana, nana meu menino 75
No quero que vs monda 94
da casa cavalheira 76
Elvas, Elvas 133
laranja 85
O lencinho 58
Matilde 111
minha farrapeirinha 124
pai velho 56
O rato 62
terr t t 102
O verde gaio meu 126
Ol papagaio 100
Os passarinhos 110
Os trs reis do Oriente 113
Pantaleo 103
Papagaio louro 101
Pedro e Paulo 51
Pelo mar abaixo 55
Pia a pinta 64
Pur beilar el pingacho 82
Qua, qua, passar 90
Que linda falua 120
Quem vai ao vento 107
Quero bem... 112
Regadinho 121
Rei capito 46
Ribeira vai cheia 129
So Guin 91
Sape gato lambareiro 72
Se tu fores erva 128
Senhora Anica 88
Senhora do Almurto 115
Senhora Dona Anica 135
Senhora Dona Sancha 92
Senhora vizinha 77
Sete varas tem 97
Sola sapato 53
To badalo 47
Tenho um cozinho 59
Um per 54
Uma meia 71
Vai-te embora papo 109
Varre, varre 108
Vs chamais-me moreninha 93
Introduo
Enquanto estudante de msica tive oportunidade de estudar ao abrigo do Programa Erasmus
no Zoltn Kodly Pedagogical Institute of Music (Kodly Institute) na Hungria, onde pude
investigar melhor sobre o Mtodo Hngaro.
Dois dos factores que mais me impressionaram no Mtodo foram a organizao e estruturao
dos materiais e dos contedos na aprendizagem, e o respeito pela msica tradicional nacional.
Este ltimo porque, como filha de dois msicos amadores de grupos de msica tradicional
portuguesa (MTP), cresci a amar as tradies musicais portuguesas.
Comecei a leccionar h cerca de 5 anos, tendo j passado por diferentes instituies de ensino,
e sendo este o terceiro ano como docente efectiva no Conservatrio Regional de Setbal
(CRS). A observao do funcionamento das aulas nas escolas hngaras e a leitura de casos de
sucesso de adaptaes do Mtodo Hngaro motivaram-me para a elaborao de um projecto
de aplicao do Mtodo na classe de Iniciao Musical (IM) no CRS.
- 1 -
- 2 -
1. Um Projecto de Aplicao do Mtodo Hngaro
1.1. Descrio do Projecto
O projecto aqui descrito, de carcter musical, etnomusicolgico e pedaggico, foi desenhado
para implementao no CRS. Teve como objectivo a elaborao de uma proposta de ordem de
aprendizagem de nomes de notas atravs de repertrio tradicional portugus na disciplina de
IM, e seguiu os princpios definidos no Conceito de Educao Musical de Kodly (CEMK) e
a organizao didctica elaborada pelos seus discpulos, que viria a ser conhecida como o
Mtodo Hngaro. O projecto foi previsto como uma primeira fase da adaptao do Mtodo
Hngaro escola do Ensino Especializado da Msica (EEM) em que lecciono, antecedido por
um projecto exploratrio em Maio e Junho de 2012 no Jardim de Infncia n 1 de Benfica sob
a orientao da Professora Cristina Brito da Cruz e aplicado em 2012/13 numa turma do CRS
sob a minha orientao e em 2013/14 na turma de 1 ano de IM que leccionei. Abrangeu 27
alunos no Jardim de Infncia n 1 de Benfica, 6 alunos de 1 ano de IM do CRS em 2012/13 e
5 alunos de 1 ano de IM do CRS em 2013/14, totalizando 38 alunos nos trs contextos.
1.2. O objectivo a atingir e as questes de investigao
O presente projecto tem como objectivo adaptar o Mtodo Hngaro s classes de IM do CRS
e responder s seguintes questes de investigao:
Como adaptar o Mtodo Hngaro de modo a ser utilizado nas aulas de Iniciao
Musical do Conservatrio Regional de Setbal?
Que repertrio tradicional portugus deve ser utilizado, e por que ordem de
aprendizagem deve ser transmitido, para uma melhor aquisio de competncias de
discriminao auditiva das alturas dos sons?
As caractersticas meldicas do repertrio tradicional portugus obrigaro ao ensino
de nomes de notas por uma ordem diferente da utilizada no Mtodo Hngaro?
Como utilizar a solmizao relativa na aprendizagem da leitura num pas, como
Portugal, que utiliza o d fixo?
- 3 -
1.3. Caracterizao do contexto de implantao do projecto
O CRS surgiu da constatao da inexistncia de uma escola exclusivamente dedicada ao EEM
no distrito de Setbal. Sendo obtida uma autorizao provisria por parte do Ministrio da
Educao, em Novembro de 1988, d-se incio s actividades lectivas ainda no ano lectivo
1988/89, com cerca de 250 alunos. A autorizao definitiva foi obtida em Agosto de 1991,
passando o CRS a ministrar os cursos de Iniciao, Ensino Bsico e Ensino Secundrio. A
autonomia pedaggica foi concedida no ano lectivo 2011/12 pela DREL-VT e por um perodo
de 5 anos. Dos projectos desenvolvidos no CRS, destaca-se a Orquestra de Violinos
Paganinus, inspirada no Mtodo Suzuki.
Apresenta-se nas tabelas seguintes uma sntese das anlises internas e externas que constituem
a anlise SWOT da instituio1, de modo a caracterizar o contexto de implantao do
projecto.
Pontos Fortes Pontos Fracos
Anlise interna - Estabilidade financeira;
- Estabilidade e elevada qualificao do cor-
po docente;
- Participao cultural na comunidade esco-
lar;
- Boa imagem do CRS na comunidade e no
pas;
- 25 anos de experincia no Ensino Artstico
Especializado (EAE);
- Elevada taxa de sucesso dos alunos que se
candidatam ao ingresso no ensino superior de
msica e de outras reas afins;
- Elevado sucesso no nmero de alunos que
ingressam em bandas militares, orquestras
acadmicas, etc.;
- A concluso do Curso Secundrio de Msi-
ca confere habilitao prpria para o ensino
da msica nas Actividades de Enriquecimen-
to Curricular;
- Condies insuficientes e inadequadas das
instalaes (salas especficas, auditrios, ilu-
minao, sinaltica, etc.);
- Recursos materiais de idade avanada;
- Recursos humanos com nveis de formao
e dinmica diferenciados;
- Participao desigual de alguns docentes
como consequncia de horrios reduzidos;
- Incapacidade de atrair alunos para alguns
instrumentos e cursos para os quais a escola
est habilitada a leccionar;
- Inadequada qualidade do servio de atendi-
mento;
- Elevada expectativa de frequncia do ensi-
no articulado e falta de condies financeiras
dos EE para a frequncia de outros regimes
de financiamento;
- Fraca articulao entre aluno-escola-fam-
lia;
1 SWOT um acrnimo ingls para Pontos Fortes (Strengths), Pontos Fracos, (Weaknesses), Oportunidades(Opportunities) e Constrangimentos (Threats).
- 4 -
- Aumento do grau de fidelizao dos alunos;
- Grande procura, por parte da comunidade
escolar, de admisso de novos alunos;
- Estabelecimento de parcerias com diversas
entidades da regio: autrquicas, culturais e
empresariais;
- Boas relaes com as entidades eclesisti-
cas, com instituies culturais, de solidarie-
dade social e outras;
- Boas relaes com escolas congneres, bem
como com as diversas instituies de ensino
superior especializado.
- Falta de aces de formao para o pessoal
docente e no docente;
- Dificuldade de frequncia do ensino secun-
drio motivada pela elevada carga horria e
por constrangimentos geogrficos e financei-
ros.
Tabela 1 Anlise interna do CRS (Projecto Educativo de Escola 2014/17)
Oportunidades Constrangimentos
Anlise externa
- Localizao geogrfica:
- Proximidade com a Escola Bsica 2,3 de
Bocage e com a Escola Secundria de Boca-
ge, o que possibilita e facilita, por um lado, o
estabelecimento de protocolos com vista
abertura de turmas de ensino articulado, por
outro, a frequncia em ensino supletivo;
- Insero em zona residencial dotada de
boas infra-estruturas rodovirias e de trans-
portes pblicos.
- Possibilidade de financiamento estatal;
- Existncia de legislao que enquadra o En-
sino Artstico Especializado da Msica;
- Elevada procura do ensino da msica por
parte da comunidade educativa, traduzida no
elevado nmero de candidatos s Provas de
Acesso ao Curso Bsico.
- Constrangimentos Financeiros:
- Congelamento do financiamento estatal;
- Diminuio da capacidade econmica da
comunidade escolar.
- Dinmica demogrfica:
- Diminuio da taxa de natalidade;
- Aumento da taxa de retorno dos imigran-
tes para os seus pases de origem;
- Aumento da taxa de emigrao.
- Abertura de novas escolas do EAE na rea
de influncia regional do CRS;
- Alteraes constantes do enquadramento le-
gal;
- Falta de equipamentos culturais municipais
adequados s actividades do CRS.
Tabela 2 Anlise externa do CRS (Projecto Educativo de Escola 2014/17)
O contexto de implantao do projecto a classe de IM, normalmente constituda por alunos
entre os 5 e os 9 anos de idade, que pretendem candidatar-se ao Curso Bsico do EEM.
No CRS, os alunos do curso de Iniciao so colocados nas turmas tentando atender a
- 5 -
critrios de faixa etria/ano de escolaridade e nvel de conhecimento. Como a escola s abre
uma turma por grau/ano, a falta de disponibilidade de horrios por parte do aluno d origem a
turmas por vezes um pouco heterogneas. Em contrapartida, o nmero reduzido de alunos
um factor facilitador da aprendizagem, por permitir um ensino mais individualizado.
As tabelas seguintes caracterizam as turmas que fizeram parte deste projecto quanto idade,
ano de escolaridade, anos de estudo no CRS, instrumento e classe de conjunto dos alunos em
2012/13 e 2013/14, respectivamente. Estes so referidos pelas siglas A1 a A10.
Idade Ano deescolaridadeAno de admisso no
CRS InstrumentoClasses deConjunto
A1 6 1 2012/13 Piano Coro
A2 5 1 2010/11 Violino Paganinus,Coro
A3 6 1 2009/10 Violino Paganinus
A4 8 3 2012/13 Violino Paganinus
A5 6 1 2010/11 Violino Paganinus
Tabela 3 Turma de 1 ano de Iniciao Musical no ano lectivo 2012/13
Idade Ano deescolaridadeAno de admisso no
CRS InstrumentoClasses deConjunto
A6 6 1 2013/14 Violino Coro,Paganinus
A72 7 2 2013/14 Piano Coro
A83 8 3 2013/14 Violino Coro,Paganinus
A9 7 2 2012/13 Violino Coro,Paganinus
A10 7 1 2013/14 Percusso Coro
Tabela 4 Turma de 1 ano de Iniciao Musical no ano lectivo 2013/14
1.4. Fase preparatria do projecto
Na preparao deste projecto foram tidos em considerao os vrios aspectos de pesquisa
relacionados com o Mtodo Hngaro, que de seguida se enumeram:
2 A aluna foi muito pouco assdua.3 O aluno ingressou no CRS apenas em Janeiro de 2014.
- 6 -
Reviso de literatura sobre o Mtodo Hngaro e diversas adaptaes internacionais do
Mtodo, incluindo a consulta de manuais utilizados nas aulas de msica nos diferentes
tipos de escola na Hungria.
Observao de aulas na Hungria, inserido no plano de estudos do Kodly Institute: em
Kecskemt na Escola Kodly, em Szolnok na Escola Kodly, e em Budapeste na
Escola Primria Catlica Pannonia Sacra, na Universidade Etvs Lornd, no
Conservatrio de Msica Bla Bartk e na Escola Kodly.
Consulta de cancioneiros portugueses e livros de canes tradicionais infantis.
Seleco de msica gravada para audio com objectivo de marcao da pulsao e
realizao de movimentos diferentes para seces diferentes (com objectivo de
desenvolvimento da sensao de forma).
Seleco de msica gravada para audio: tratamento/arranjos de canes tradicionais
que j cantaram por msicos eruditos ou grupos de msica tradicional.
Elaborao de materiais semelhana dos encontrados nos manuais hngaros e nos
observados nas aulas hngaras: cartes com figuras a simbolizar clulas rtmicas (uma
figura maior para semnima, duas figuras mais pequenas para duas colcheias e espao
em branco para pausa de semnima), cartes com frases rtmicas diferentes (mesmas
clulas com notao simplificada), pauta de cinco linhas em feltro e notas recortadas
em carto.
1.5. Implementao do projecto
Tendo em ateno as caractersticas dos alunos, as competncias musicais relacionadas com a
altura sonora que se pretende que adquiram e as caractersticas da MTP, foi necessrio decidir
uma ordem de aprendizagem para o repertrio tradicional seleccionado. Uma vez que as
caractersticas meldicas da MTP no se assemelham s da msica tradicional hngara,
estudaram-se diferentes opes tomadas por pases na mesma situao e que ainda assim
fizeram uma adaptao do Mtodo Hngaro. Entre estes pases, existem as adaptaes que
seguiram a progresso meldica utilizada na Hungria e as que no a seguiram, como
explicado no Captulo 2.2, na pgina 22.
Nesta proposta de ordenao do repertrio, para o 1 ano de IM optou-se por: (1) seleccionar
- 7 -
motivos pentatnicos de 2, 3 e 4 notas que correspondam fase inicial da ordem de
aprendizagem do nome de notas utilizada na Hungria, para cantar textos de lengalengas e
rimas tradicionais infantis; (2) ensinar canes tradicionais com duas, trs e quatro notas e
ritmo simples, tambm seguindo a ordem utilizada na Hungria. A partir do 2 ano de IM a
ordem de aprendizagem do nome de notas, continuando a utilizar o repertrio tradicional,
progride num contexto tonal, mais aproximado das caractersticas da MTP.
1.6. Actividades e estratgias utilizadas nas aulas
A investigao levada a cabo na fase preparatria deste projecto (a reviso de bibliografia e a
observao de aulas) indicou vrias ideias de estratgias utilizadas no Mtodo Hngaro e que
foram utilizadas no decorrer do projecto, aqui listadas:
Ensino das canes de forma sensorial.
Entoao das canes aprendidas com actividades de movimento, gestos, marcao de
pulsao, percusso de ostinatos rtmicos e do ritmo da melodia, contrastes de
dinmica e de andamento, transposio sensorial, jogo (quando existente) e
dramatizao (com carcter diferente e imaginao de personagens).
Associao, a partir das canes, da slaba rtmica "ta" pulsao, das slabas rtmicas
"ti-ti" diviso binria e do poisar silencioso das mos nos ombros pausa de um
tempo.
Reprodues rtmicas e ditados rtmicos de resposta imediata em actividades de grupo
e individuais.
Aprendizagem gradual dos nomes de notas:
entoao das canes mostrando diferentes alturas com gestos no ar
(fonommica utilizada no Mtodo Willems4);
aprendizagem do padro sol-mi associado s canes, associando de imediato o
gesto de fonommica a cada novo nome de nota;
reconhecimento do padro sol-mi nas canes que j tinham sido aprendidas.
Mesmo procedimento para cada um dos padres meldicos seguintes.
4 Edgar Willems (1890-1978)
- 8 -
Aprendizagem de algumas canes novas, ou partes de canes novas, a partir de
leitura do ritmo ou de leitura da fonommica mostrada pela professora quando tm
padres rtmicos ou meldicos j familiares aos alunos.
1.7. Formas previstas para a avaliao do projecto
A avaliao do projecto, que assume ser subjectiva, foi feita unicamente pela observao
directa participante durante as aulas de IM, a motivao dos alunos para cantar o repertrio de
MTP seleccionado, o nvel de acuidade na afinao e o desenvolvimento das suas
competncias musicais relacionadas com a altura sonora, ao longo do ano lectivo.
- 9 -
- 10 -
2. Reviso da Literatura
2.1. O Mtodo Hngaro e o Conceito de Educao Musical de Kodly
2.1.1. Nota histrica
O Mtodo Hngaro comeou a ser desenvolvido apenas nos finais de 1940 (Chosky et al,
2001), apesar das recolhas etnomusicolgicas de Kodly e Bartk terem comeado em 1905 e
de Kodly ter escrito textos e materiais didcticos a partir dos anos 20 (Cruz, 1998).
Diferentes factores conduziram o pedagogo hngaro e seus colaboradores a elaborar este novo
sistema pblico de ensino da msica, sendo central a necessidade de reforar a identidade
cultural nacional.
Durante sculos a Hungria foi ocupada por diferentes povos, tendo perdido a sua
independncia para o Imprio Otomano, para a ustria, a Alemanha Nazi e a URSS. Os
hngaros viram o seu territrio reduzido para um quarto, em 1920, pelo Tratado de Trianon
(Oliveira, 1988, p. 126). Sob o domnio austraco, a populao, sobretudo a citadina, passou a
falar maioritariamente o alemo e no o hngaro. No incio do sculo XX, Kodly viu na
msica um meio que possibilitava a unificao do povo hngaro, atravs de uma cultura
comum que inclua a lngua e as tradies musicais. A voz o instrumento musical acessvel a
todos (Campbell, 2008; Mizener, 1987) seria essencial em todo este processo.
Foi neste contexto que Bla Bartk e Zoltn Kodly fizeram recolhas sistemticas de msica
tradicional da Hungria e pases vizinhos e comearam a harmonizar melodias tradicionais e a
compor a partir dos materiais recolhidos. Conscientes de que a esttica da sua msica no
seria compreendida pelo pblico hngaro, sentiam a necessidade de o educar culturalmente,
dando-lhe acesso a uma educao musical baseada na msica tradicional e na msica erudita,
para formar msicos e ouvintes esclarecidos (Ribire-Raverlat, 1967; Sznyi, 2012).
Apesar de ser conhecido como Mtodo Kodly, o Mtodo Hngaro resultou de um trabalho
etnomusicolgico feito inicialmente com Bartk e depois com discpulos de ambos, e de uma
organizao pedaggica orientada por Kodly e feita com a colaborao de professores, entre
os quais se destacam Jen dm, Katalin Forrai e Erzsbet Sznyi5. Os princpios e os
objectivos deste mtodo de educao musical foram enunciados por Kodly. Seleccionou
5 Chosky et al, 2001, p. 81; Campbell, 2008, p. 72; Mizener, 1987, p. 7; Lund, 1981, p. 32.
- 11 -
tcnicas utilizadas noutros pases da Europa6, como as desenvolvidas por Guido d'Arezzo
(991/2-depois de 1033) e Angelo M. Bertalotti (1666-1747) em Itlia, Sarah Glover (1786-
1867) e John Curwen (1816-1880) no Reino Unido, mile Chev (1804-1864) em Frana e
Fritz Jde (1887-1970)7 na Alemanha. Mais tarde, seguiu os princpios pedaggicos de mile
Jacques-Dalcroze (1865-1950), no que respeita ao movimento, que enformam o mtodo
conhecido como A Rtmica de Dalcroze (Dalcroze's Eurhythmics).
2.1.2. Os currculos em diversos nveis do ensino da msica na Hungria
Na Hungria o tempo de aulas semanal e o nmero de alunos por turma na aula de msica
depende do tipo de escola, tanto a nvel pr-escolar, como a nvel primrio. Isto significa que
algumas escolas conseguem abordar contedos do programa em maior profundidade (Sznyi,
2012, p. 31). No entanto, independentemente do tipo de escola, todos os professores aplicam a
mesma metodologia e todos partem do mesmo material musical. O ensino decidido a nvel
nacional e est uniformizado em todo o pas (Sznyi, 2012, 34-35, 39).
Actualmente, a frequncia do jardim de infncia na Hungria obrigatria a partir dos 3 anos
de idade (Paszkosz, 2012, p. 18), mas no incio da implementao do Mtodo de Kodly no
existiam instituies suficientes para todas as crianas, cenrio que mudou em 10 anos
(Kodly, 1941,1957, p. 149; Ribire-Raverlat, 1967, p. 77). Foi elaborado um currculo
bastante abrangente, por se acreditar na imensa importncia que tm os estmulos em idades
to jovens (Chosky, 1974, p. 37). O currculo da educao musical foi desenhado por Katalin
Forrai, com orientao de Zoltn Kodly (Forrai, 1974, p. 8).
A partir dos anos 50, dois tipos de jardim de infncia co-existiam:
Jardins de Infncia Gerais: as crianas so separadas por idades. A prpria educadora
de infncia desenvolve as competncias musicais das crianas, atravs do ensino de
canes cerca de 50 ou 60 ao longo dos trs anos de pr-escola (Campbell, 2008, p.
73) num ambiente informal, em jogo, e com perodos musicais ao longo de todo o
dia (Campbell, 2008, p. 73; Ribire-Raverlat, 1967, p. 76-77). Nesta fase, os
objectivos so desenvolver o nvel de afinao e o nvel de preciso rtmica da criana,
e tambm promover e formar o gosto pela msica (Chosky, 1974, p. 37; Forrai, 1974,
6 Lund, 1981, p. 32; Feierabend, 1987, p. 13; Chosky et al, 2001, p. 81.7 Chosky et al, 2001, p. 81, 85, 88; Campbell, 1991, p. 223, 225; Chosky, 1974, p. 20; Sznyi, 2012, p. 18;
Campbell, 2008, p. 133; Sznyi, 2012, p. 21, 22; Young, 1992, p. 190-191.
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p. 12).
Jardins de Infncia de Msica: este tipo de escolas dedica mais tempo educao
musical 30 minutos dirios com um professor especializado (Ribire-Raverlat,
1967, p. 76). Pode haver algum trabalho de fonommica e solmizao relativa com
canes j familiares (Chosky, 1974, p. 38).
De igual modo, tambm existiam dois tipos de escolas primrias:
Escolas Primrias Gerais: as aulas de msica so dadas pela professora da turma at ao
terceiro ano e por um professor especializado (na presena da professora da turma) a
partir do quarto ano (Ribire-Raverlat, 1967, p. 80; Sznyi, 2012, p. 39). No 1 ano as
crianas tm duas aulas semanais de 30 minutos, e do 2 ao 4 ano tm duas aulas
semanais de 45/50 minutos (Campbell, 2008, p. 73; Ribire-Raverlat, 1967, p. 76;
Sznyi, 2012, p. 39). O trabalho feito nestas escolas no consegue atingir tanta
mestria, uma vez que as turmas tm entre 30 e 40 alunos, que podem ou no ter
frequentado o jardim de infncia, e portanto com experincia musical contrastante
(Sznyi, 2012, p. 39).
Escolas Kodly (Kodly Iskola): este gnero de escola foi estabelecido no incio dos
anos 50, correspondendo ao ideal de Kodly (Ribire-Raverlat, 1967, p. 81; Sznyi,
2012, p. 35). As aulas de msica desta escola so dadas por um professor
especializado desde o 1 ano (Ribire-Raverlat, 1967, p. 81), com quatro aulas de 45
minutos por semana . Entre o 2 e o 4 ano as crianas tm seis aulas de 45 minutos
por semana, em que tambm aprendem flauta de bisel (Chosky, 1974, p. 39-40;
Chosky et al, 2001, p. 81; Ribire-Raverlat, 1967, p. 76). A aprendizagem de outro
instrumento facultativa e comearia no 3 ano (Ribire-Raverlat, 1967, p. 76, 82). O
foco do ensino nas Escolas Primrias de Msica o canto, o solfege8 e a prtica coral
(Campbell, 2008, p.73; Ribire-Raverlat, 1967, p. 81). As turmas tm entre 25 e 30
alunos e conseguem uma educao musical bastante minuciosa (Sznyi, 2012, p. 39).
Porm, o objectivo desta escola formar pblico culto para as salas de concerto
(Sznyi, 2012, p. 35).
Existe ainda o Conservatrio, onde apenas so leccionadas aulas de msica por professores
especializados. As crianas em idade pr-escolar deslocam-se escola duas vezes por semana,
8 Solfege uma disciplina que une os contedos de Formao Musical, Histria da Msica e Anlise eTcnicas de Composio.
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onde tm uma aula de 30 minutos com um professor especializado (Ribire-Raverlat, 1967,
p.76-77). Este o caminho que escolhem os alunos que querem aprender um instrumento,
independentemente da escola primria que frequentem durante a manh (Campbell, 2008, p.
73; Chosky, 1974, p. 30; Ribire-Raverlat, 1967, p. 84). Os alunos frequentam um ano
preparatrio (quando esto no 2 ano da escola primria), e a partir do 3 ano comeam a
aprendizagem do instrumento, com aulas individuais de 30 minutos duas vezes por semana
(Campbell, 2008, p. 73; Ribire-Raverlat, 1967, p. 76, 84; Sznyi, 2012, p. 39). As aulas de
solfege duram 45 minutos, em duas vezes semanais. Estas turmas tm entre 10 e 15 alunos,
que so admitidos por mrito e demonstrao de capacidade de trabalho. O objectivo mximo
desta escola a formao de msicos profissionais (Ribire-Raverlat, p. 84).
2.1.3. Os princpios do CEMK
Os princpios do CEMK so citados por diversos autores. Salientam-se os seguintes
princpios:
Se quisssemos tentar expressar a essncia desta educao numa s palavra, ela s
poderia ser cantar. (Kodly, 1966, p. 206).
O canto a cappella a melhor actividade para desenvolver as competncias musicais9.
A aprendizagem deve comear com a msica tradicional do prprio pas para formar a
lngua-materna musical (Kodly cit. em Chosky et al, 2001, p. 82), e para
posteriormente estabelecer paralelos com a msica erudita10.
A msica utilizada na aula deve ser de grande qualidade e de elevado valor artstico11.
Quanto mais jovem for a criana, mais eficiente a educao musical12.
O currculo de educao musical deve ter em conta as fases de desenvolvimento da
criana, acompanhando o desenvolvimento das suas capacidades fsicas, mentais e
emocionais13.
A msica contribui para o bem-estar geral, para o desenvolvimento intelectual, fsico,
9 Chosky et al, 2001, p. 82; Sinor cit. em Feierabend, 1987, p. 13.10 Forrai, 1974, p. 13; Sinor cit. em Feierabend, 1987, p. 13; Forrai & Breuer, 1985, p. 37.11 Chosky et al, 2001, p. 82; Forrai & Breuer, 1985, p. 37.12 Chosky et al, 2001, p. 82; Sinor cit. em Feierabend, 1987, p. 13.13 Campbell, 1991, p. 226; Chosky, 1974, p. 15-16; Chosky et al, 2001, p. 83, 88-89; Ribire-Raverlat, 1967, p.
9.
- 14 -
esttico e social da criana, bem como para a sua felicidade14.
A msica um bem de todos e no apenas de uma elite15.
Os objectivos do Mtodo Hngaro tambm so referidos por vrios autores16. Destacam-se os
seguintes objectivos:
Encorajar a performance musical dos estudantes, sobretudo vocal e coral.
Promover a literacia musical.
Dar a conhecer criana a msica tradicional hngara e a msica erudita ocidental.
Alargar os horizontes esttico-musicais da criana.
Promover um desenvolvimento social e artstico equilibrado.
Formar msicos profissionais e ouvintes esclarecidos.
2.1.4. A importncia do canto no CEMK
Laszl Vikr (n. 1929), etnomusiclogo e educador hngaro, afirmou que cantar um meio
de expresso natural e fundamental para todos os seres humanos (Pineau e Laurent, 1980).
Tambm Cecil Sharp (1859-1924), etnomusiclogo ingls, caracteriza o canto como a forma
de arte mais natural e adequada iniciao musical das crianas (Lund, 1981). Vrios autores
escreveram sobre a importncia da existncia de estmulos dirios, tanto em casa, como
depois na escola, que conduzem vocalizao/canto antes da fala, e ao desenvolvimento da
afinao desde uma fase precoce17.
A aprendizagem de canes da maior importncia para a aquisio de padres meldicos e
rtmicos (Campbell e Scott-Kassner, 1995, p. 129) e para o desenvolvimento da memria
auditiva e tonal (Ibidem, p. 139; Torres, 1998, p. 23). Alm disso, as canes permitem
desenvolver a afinao e uma forma de cantar mais cuidada e consciente18. A aprendizagem de
canes estimula a criatividade das crianas (Ibidem). Torres (1998, p. 23) avana ainda que
cantar promove a literacia musical. Sznyi (2012, p. 38) reala o papel do canto no
14 Campbell, 2008, p. 133; Chosky et al, 2001, p. 82; Forrai & Breuer, 1985, p. 37.15 Campbell, 2008, p. 133; Sinor cit. em Feierabend, 1987, p. 13.16 Chosky, 1974, p. 15; Chosky et al, 2001, p. 83, 139, 338; Kodly, 1947, p. 160; Kodly, 1966, p. 206;
Ribire-Raverlat, 1967, p. 15, 35; Sznyi, 2012, p. 11, 68.17 Campbell e Scott-Kassner, p. 141; Vikr cit. em Ribire-Raverlat, 1974; Ruismki e Tereska, 2006, p. 115.18 Campbell e Scott-Kassner, 1995, p. 141; Torres, 1998, p. 23.
- 15 -
desenvolvimento do sentido de comunidade e de responsabilidade quando as crianas fazem
msica em conjunto.
Kodly19 afirmou que a voz o instrumento mais disponvel e acessvel a todos de imediato,
considerando-a o melhor meio de introduo msica e conducente ao conhecimento da
prpria herana cultural. Como ele prprio disse, A voz humana, gratuita e no entanto o
instrumento mais belo, disponvel para todos, pode ser o frtil solo da cultura musical para as
massas (Dobszay, 1992). As aulas de formao musical seriam pois extremamente
importantes, sendo o melhor meio de treinar a audio interior e a imaginao auditiva.
Dobszay (1992) concorda que fazer msica de forma activa a melhor forma de ser
musicalmente culto, de perceber a linguagem da msica e, portanto, atravs do canto todos
podem ter acesso a este conhecimento. Segundo Kodly, uma educao auditiva com base no
canto deve ser o ponto de partida para a aprendizagem de um instrumento20.
Para alm dos benefcios mencionados, cantar contribui para o desenvolvimento pessoal das
crianas em reas extra-musicais. So vrios os autores21 que afirmam que a aprendizagem de
canes contribui para o aumento de vocabulrio e facilitam a iniciao leitura. A
aprendizagem de canes desenvolve a memria e coordenao motora das crianas e
aumenta a cultura geral (Torres, 1998). Cantar tambm desenvolve a expressividade musical
da criana, ajudando-a a expressar as suas emoes e a partilhar as suas experincias
(Campbell e Scott-Kassner, 1995, p. 126, 131, 148) e a adquirir, de forma sensorial, regras de
sintaxe e valores culturais de diferentes perodos histricos e pases (Ibidem, p. 156).
2.1.5. As principais tcnicas do Mtodo Hngaro
As principais tcnicas do Mtodo Hngaro so: (1) solmizao relativa ou d mvel; (2)
fonommica; e (3) slabas rtmicas.
(1) A origem da solmizao deve-se ao monge italiano Guido d'Arezzo, que no sculo XI
escolheu o nome de seis das sete notas musicais, usando a primeira slaba de cada verso do
Hino a S. Joo Baptista (Chosky, 1974, p. 18; Sznyi, 2012, p. 16). A solmizao relativa foi
desenvolvida por Sarah Glover e posteriormente por John Curwen (Almeida, 2014, p. 49-50).
19 cit. em Campbell, 2008, p. 73, e em Sznyi, 2012, p. 29.20 Kodly cit. em Forrai, 1974, p. 13; Forrai e Breuer, 1985, p. 37; Hargreaves, 1986, pp. 221-222.21 Por exemplo: Nurmilaakso, e Edwards e Willis (cit. em Ruismki e Tereska, 2006, p. 115), bem como
Campbell e Scott-Kassner (1995, p. 156), Hallam (2001, p. 8) e Torres (1998, p. 23, 91).
- 16 -
Com esta tcnica de leitura, so associados nomes de notas d, r, mi, f, sol, l, ti aos
sons, de acordo com a sua funo num contexto pentatnico, modal ou tonal22. Na Hungria a
tnica de um modo Maior chama-se d, a tnica de um modo menor se chama l23 e, por
exemplo, a finalis do modo drico chama-se r. As principais vantagens so o estabelecimento
na memria da criana de relaes intervalares e sensao de funo dentro de uma
organizao sonora24, bem como a aprendizagem da leitura por relatividade, por exemplo,
conseguir ler o mesmo padro intervalar em vrias localizaes na pauta (Chosky, 1974, p.
18; Sznyi, 2012, p. 20).
(2) Nos finais do sculo XIX John Curwen introduziu a fonommica em Inglaterra. Estes
gestos foram adaptados por Kodly (Campbell, 1991, p. 223; Chosky, 1974, p. 20).
Realizados entre a cintura e o topo da cabea, h um gesto diferente associado a cada nome de
nota da solmizao relativa25. Uma das vantagens que advm da utilizao destes gestos o
reforo cinesttico, visual e espacial das relaes intervalares aprendidas26.
22 Chosky et al, 2001, p. 84-85; Dobszay, 1969, p. 95; Torres, 1998, p. 48.23 Campbell, 2008, p. 133; Chosky et al, 2001, p. 84-85; Torres, 1998, p. 48.24 Chosky, 1974, p. 63; Chosky et al, 2001, p. 84-85; Dobszay, 1969, p. 95; Dobszay, 1970.25 Campbell, 1991, p. 223; Chosky et al, 2001, p. 85; Ribire-Raverlat, 1967, p. 44.26 Campbell, 1991, p. 223; Chosky, 1974, p. 20; Chosky et al, 2001, p. 85; Ribire-Raverlat, 1967, p. 44.
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Figura 1 Fonommica utilizada no Mtodo Hngaro (Chosky, 1974, p. 20-21)
(3) Na primeira metade do sculo XIX, mile Chev desenvolveu um sistema de slabas
associadas a padres rtmicos27. Estas slabas so usadas para estabelecer relaes rtmicas na
memria do aluno atravs do produto sonoro, e nem sempre esto relacionadas com o valor e
durao matemtica das figuras rtmicas28. A sua utilizao foi pensada apenas para uma fase
inicial do processo de aprendizagem (Campbell, 1991, p. 226; Sznyi, 2012, p. 21).
2.1.6. O repertrio utilizado na sala de aula
Se as tcnicas do Mtodo Hngaro foram desenvolvidas por pedagogos de outros pases, o
repertrio a aprender nas aulas foi cuidadosamente seleccionado ou composto por Kodly,
sendo uma das caractersticas do mtodo (Chosky, 1974, p. 22; Hargreaves, 1986, p. 221-
222). A seleco de repertrio inclui rimas, canes e jogos infantis tradicionais e msica
erudita, incluindo obras compostas por Bartk, Kodly e discpulos de ambos, para serem
cantadas em situao de sala de aula e simultaneamente em concertos corais.
Kodly defendeu que o piano no era inicialmente necessrio na aula de IM nem ensaios de
Coro e que poderia at ser prejudicial por duas razes: por um lado, criaria dependncia e por
outro lado, a afinao temperada do piano no promoveria a afinao vocal29. Aprendendo por
imitao vocal, a criana est mais livre para reparar noutros elementos auditivos da msica: a
afinao, o fraseado, a articulao e a respirao (Ibidem, p. 225).
As canes tradicionais so o material predominante nos primeiros anos de IM (Dobszay,
27 Campbell, 1991, p. 225; Chosky, 1974, p. 18-19; Chosky et al, 2001, p. 88; Sznyi, 2012, p. 21.28 Campbell, 1991, p. 223-225; Chosky, 1974, p. 18-19; Chosky et al, 2001, p. 88; Sznyi, 2012, p. 21.29 Chosky et al, 2001, p. 137-138; Forrai, 1974, p. 45; Sznyi, 2012, p. 59.
- 18 -
1969). Esta experincia musical ser muito importante na transio para a msica erudita,
conforme so introduzidos e consciencializados alguns conceitos como forma, ritmo,
organizaes sonoras, melodia e harmonia30. Nesta transio, o professor pode tambm usar
canes tradicionais de outros pases31, para que possam ser encontradas semelhanas entre a
msica erudita e a msica tradicional Europeia (Dobszay, 1969, 1970; Kodly, 1985).
Em 1891, na Hungria, ron Kiss publicou Coleco De Jogos Infantis Hngaros, em cuja
introduo se pode ler "Jogos infantis e as suas melodias devem ser recolhidos em todas as
regies do pas" (Kodly 1941, 1957, p. 133). Em 1905, Kodly foi um dos compositores
envolvidos na recolha de repertrio tradicional e na sua compilao e estudo de um ponto de
vista cientfico (Hargreaves, 1986, p. 221-222), de que resultou a publicao de dez volumes
do Corpus Musicae Popularis Hungaricae, o primeiro dos quais inteiramente dedicado
msica infantil, contendo mais de 1000 canes (Chosky, 1974, p. 22).
Kodly considerava a msica tradicional hngara como uma linguagem musical materna
musical, como uma memria da infncia, e feliz a nao que no esqueceu a sua infncia
(1985, p. 15). Vzquez-Mario (1997) discorda dessa justificao para o ensino de msica
tradicional, por estarmos j to distanciados mental e fisicamente do meio rural em que
proliferava a vivncia tradicional para a podermos considerar prxima ou familiar. Outros
autores afirmam que a cano tradicional fala sobre o povo, trabalhos agrcolas, relaes,
sentimentos, religio e natureza32, um imaginrio colectivo que se reporta a acontecimentos
de um passado prximo ou distante (passado, mas no necessariamente ultrapassado)
(Rodrigues, 2008, p. 14). H ainda o objectivo de transmitir valores morais e culturais s
crianas, que melhor realizado na sua lngua me e que pode ser alcanado atravs da
cano tradicional (Dobszay, 1969; Torres, 1998, p. 13). Uma vez que a tradio popular, seja
msica, dana ou poesia, pode quase exclusivamente ser observada nas aldeias (Kodly, 1985;
Lopes-Graa, 1953, p. 11), deveria ser misso do professor manter a msica tradicional viva e
tornar esta a lngua materna musical do aluno (Dobszay, 1970; Kodly, 1985).
Segundo Lund, as canes tradicionais geralmente tm melodias simples e curtas, so muitas
vezes monofnicas, e frequentemente tm forma estrfica ou outra forma simples (1981, p.
10). So transmitidas oralmente, sofrendo alteraes ao longo do tempo, existindo
normalmente vrias variantes da mesma melodia ou texto.
30 Dobszay, 1969; Kodly, 1985; Torres, 1998, p. 30, 35.31 Dobszay, 1970; Kodly, 1985; Torres, 1998, p. 74.32 Giacometti, 1981; Lopes-Graa, 1953; Torres, 1998, p. 14, 22.
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Nas aulas, o professor pode apresentar obras de compositores que utilizaram elementos da
msica tradicional dos seus pases para ajudar os alunos a identificar caractersticas da msica
tradicional que j conhecem (Kodly, 1985; Torres, 1998, p. 74). Seria de igual modo
interessante e motivador dar oportunidade s crianas de ouvir e interpretar harmonizaes
eruditas, para canto e piano ou corais, de canes tradicionais que j tivessem cantado e
tambm arranjos feitos por grupos de msica tradicional (Torres, 1998, p. 74).
2.1.7. Ordem de aprendizagem do nome das notas utilizada na Hungria
As crianas tm dificuldade em cantar meios-tons e tm normalmente uma extenso vocal de
uma 5 Perfeita a 6 Maior (Chosky, 1974, p. 16). Uma vez que a abordagem pedaggica de
Kodly atende s fases do processo de desenvolvimento da criana, o intervalo de 3 menor
descendente, sol-mi, presente em tantas canes e cantilenas infantis apontado como o mais
fcil de cantar, de sentir e por isso de reconhecer (Ibidem, p. 16, 18; Sznyi, 2012, p. 31).
Comeando com mbitos de 3 menor, a progresso de sons aprendidos deve continuar como
exemplificado na figura seguinte.
s m
l s m
s m d
m r d
s m r d
l s m r d
m r d l,
m r d l, s,
m r d l, s,
m r d l, s,
Figura 2 Ordem de aprendizagem do nome das notas utilizada na Hungria (Forrai, 1974, p. 29)
As organizaes sonoras cantadas vo desde a 3 menor at s escalas pentatnicas de d e de
l, presentes em grande parte do repertrio tradicional hngaro. S posteriormente conhecero
a escala diatnica. Por cada novo nome de nota aprendido, so praticados os intervalos
formados com as outras notas anteriormente aprendidas (Chosky, 1974, p. 18). Os nomes das
notas so aprendidos a partir do repertrio cantado, e a partir do qual aprendero a ler e a
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escrever msica. As cantilenas, as canes pentatnicas e depois diatnicas so aprendidas
sensorialmente, por imitao, preparando a posterior consciencializao de diferentes padres
meldicos (Chosky et al, 2001, p. 95).
Kodly defendia que esta seria a sequncia adequada para a aprendizagem da leitura e da
escrita musical, mas, na procura de um corpo de repertrio tradicional adequado constatou
que apenas 45 das mais de mil canes no volume de canes infantis do Corpus Musicae
Popularis Hungaricae correspondiam aos critrios de seleco enumerada, a saber: serem
pentatnicas e terem mbito reduzido. Complementou ento o repertrio com obras
compostas para duas ou mais vozes (Forrai, 1974, p. 26-27).
2.1.8. Fases da aprendizagem
A organizao de forma sequenciada dos contedos um dos aspectos mais importantes do
Mtodo Hngaro, com uma progresso lenta e de forma estruturada de elementos fceis para
elementos cada vez mais complexos (Chosky et al, 2001, p. 101; Ribire-Raverlat, 1967, p.
3). A metodologia presume uma aprendizagem sensorial, o que facilita a aquisio de padres
rtmicos e meldicos (Campbell, 1991, p. 224). Tal como na aprendizagem lingustica,
normal a criana ter mais conhecimentos sensoriais do que conhecimentos de notao
(Ibidem). Gradualmente se adquire a memria de padres que sero mais tarde
consciencializados (Chosky et al, 2001, p. 140; Forrai e Breuer, 1985, p. 37) do conhecido
para o desconhecido, do som para o smbolo (Chosky et al, 2001, p. 140). Este processo de
aprendizagem divide-se em quatro etapas que funcionam ao mesmo tempo para contedos
diferentes (Ibidem).
Preparao: so ensinadas sensorialmente muitas canes que contm um contedo a
ser aprendido.
Consciencializao: a aprendizagem desse contedo deve ser consolidada cantando
diversas canes e associando-lhe um nome e a sua forma de notao.
Sistematizao: descobrir o contedo aprendido em canes conhecidas, consolidando
a sua aprendizagem.
Avaliao: novas canes so apresentadas atravs de leitura primeira vista para
melhor avaliar o conhecimento do contedo. Outra forma de avaliao atravs da
improvisao utilizando o elemento musical aprendido.
- 21 -
2.1.9. O movimento nas aulas de IM
Como referido, um dos pedagogos que influenciou o Mtodo Hngaro foi Jacques-Dalcroze
(Sznyi, 2012, p. 22). Na Rtmica, Dalcroze inspirou-se no movimento inato das crianas,
tendo em conta a escolha dos andamentos de acordo com pulsaes naturalmente mais rpidas
e adequadas sua estatura e locomoo (Young, 1992, p. 190-191).
Fazer movimento nas aulas de msica vai tornando a aprendizagem mais consciente, pelas
associaes visuais, auditivas e cinestticas que so criadas (Campbell, 1991, p. 223; Young,
1992, p. 189). Conceitos abstractos como 'pulsao', 'ritmo' e 'forma' so entendidos atravs
do movimento com ou sem locomoo33.
Quando uma melodia tem um jogo associado, a satisfao e alegria que as crianas sentem
quando brincam, far com que a repitam muitas vezes e com prazer. Essas repeties so
necessrias essenciais para a aquisio de competncias musicais34. Posteriormente, tambm
podero ser includas nas aulas algumas danas tradicionais simples (Chosky et al, 2001, p.
336).
"O jogo a cultura mais antiga" (Huizinga cit. em Mangione, 1981), e alm do seu aspecto
ldico, muitas vantagens foram j notadas, como o desenvolvimento mental, fsico, emocional
e social da criana (Lund, 1981, p. 40-41). Destaca-se a importncia de saber seguir as regras,
saber estar e formar laos dentro do grupo, de ter um papel principal sem medo de falhar, de
escolher um colega e poder ser escolhido35.
2.2. Adaptaes internacionais do mtodo
2.2.1. Divulgao do Mtodo Hngaro
Em 1958, na Conferncia da International Society for Music Education (ISME) Jen dm
apresentou o Mtodo Hngaro (Mizener, 1987, p. 7). Desde essa altura muitos professores se
deslocaram Hungria para observar as aulas e estudar o sistema de educao (Campbell,
1991, p. 223; Sznyi, 2012, p. 66-67), com inteno de adaptar o Mtodo Hngaro para o seu
prprio pas. O prprio Kodly tinha dado indicaes nesse sentido. Sugeriu que em cada pas
se adaptasse a ordem de aprendizagem de canes de acordo com as caractersticas da sua
33 Frego e Nawrocki, 1998; Rodrigues, 2008, p. 17; Young, 1992, p. 191.34 Chosky, 1974, p. 62; Forrai, 1974, p. 43; Sznyi, 2012, p. 14.35 Forrai, 1974, p. 15-16, 27; Lund, 1981, p. 40; Young, 1992, p. 188.
- 22 -
msica tradicional, adaptando-a a cada turma, e respeitando o processo de desenvolvimento
de cada criana36.
"Um professor que se esfora por ser um professor Kodly no deve ser
atormentado pela culpa por estar a fazer isto ou aquilo diferente da forma
como lhes foi ensinada a abordagem de Kodly. A abordagem de Kodly na
verdade um convite a descobrir uma abordagem que universal na filosofia,
mas pessoal no desenvolvimento" (Feierabend, 1987, p. 16).
Em termos de progresso dos sons aprendidos, as crianas comeam normalmente a vocalizar
e a cantar um intervalo de 3 menor descendente, sol-mi, e, em seguida, a 2 Maior acima, l,
(Chosky, 1974, p. 17; Sznyi, 2012, p. 67). A nvel de ritmo, clulas simples em diviso
binria so tambm familiares universalmente, mas a progresso prende-se significativamente
com a acentuao das palavras de cada idioma (Ibidem).
2.2.2. Adaptaes que seguiram a ordem de aprendizagem utilizada na Hungria
No Pas Basco, Katalin Hajnczy e Alberto Ros comearam a desenvolver a adaptao do
Mtodo Hngaro na dcada de 90 (Cortz, 2001, p. 9). O repertrio presente nos trs manuais
publicados por estes pedagogos em 1994 integralmente de origem hngara ( excepo de
uma cano tradicional russa), traduzido para basco.
Ainda em Espanha, foi dado adaptao catal do Mtodo Hngaro o nome do pedagogo que
a organizou, Ireneu Segarra, padre da Abadia de Montserrat (Crtez, 2001, p. 8). Segarra fez
algumas modificaes na solmizao relativa, substituindo fi por fad, si por sold e
ta por sib. Segarra tambm publicou vrios manuais.
O livro do 1 ano de IM, contm canes infantis com msica composta por Segarra e textos
de Francesc Bofill, Antoni Puig e Francesc Serrat (retiradas do livro Juguem Cantant 1) e 6
canes com msica de Segarra sobre textos tradicionais, todas construdas sobre motivos
pentatnicos. O repertrio do livro do 2 ano de IM inclui 29 canes tradicionais catals, de
um total de 55 canes, pentatnicas e diatnicas. As restantes canes, segundo Segarra (...)
foram retiradas dos livros Juguem Cantant 1 e 2 e do Livro Vermelho de Montserrat. O livro
36 Chosky et al, 2001, p. 89; Forrai, 1974, p. 9; Forrai e Breuer, 1985, p. 38; Ribire-Raverlat, 1974, p. 2;Sznyi, 2012, p. 67.
- 23 -
do 3 ano contm maioritariamente canes tradicionais catals, e inclui cinco melodias
gregorianas (Segarra, 1981, 1983).
Em Itlia, a deciso de seguir a progresso meldica utilizada no Mtodo Hngaro foi
acompanhada da deciso de utilizar uma grande quantidade de repertrio estrangeiro que se
adequasse a essa mesma progresso. Assim, das vrias recolhas de material publicadas:
Horvth (2002, p. 307-309) tem no seu repertrio 10 excertos de msica erudita, 3
canes infantis e 75 canes tradicionais (Itlia, Hungria, Alemanha, Frana e
Polnia), das quais 48 so italianas.
Mangione (1981, p. 139-141) tem no seu repertrio 41 exemplos de msica erudita,
incluindo uma melodia gregoriana, e 31 canes tradicionais (EUA, Hungria, Itlia,
Frana, Rssia, Esccia, Blgica e Sucia). Apenas seis canes so italianas.
Jzsef e Szmrecsnyi (1993, p. 16) apenas incluram canes estrangeiras, com texto
traduzido para italiano.
A soluo encontrada no Brasil, para ir de encontro ordem de aprendizagem dos nomes de
notas do Mtodo Hngaro, foi a composio de canes pela pedagoga Marli Batista vila
sobre textos tradicionais brasileiros. O repertrio do livro Aprendendo A Ler Msica Com
Base No Mtodo Kodly (1995), de um total de 22 canes, inclui, para alm das canes
referidas, 3 canes com msica e texto originais e 7 canes tradicionais brasileiras.
2.2.3. Adaptaes que no seguiram a ordem de aprendizagem utilizada na Hungria
Jacquotte Ribire-Raverlat (n. 1936) foi a grande responsvel pelo desenvolvimento da
adaptao francesa do CEMK (Pineau, 2010, p. 10-11).
Na dcada de 60 a pedagoga francesa teve a oportunidade de observar e estudar o sistema de
educao musical hngaro, que a inspirou a adaptar o mtodo para o seu pas (Pineau, 2010,
p. 9).
Iniciou um estudo do repertrio tradicional francs e concluiu que as caractersticas meldicas
desse repertrio obrigariam ao ensino de nomes de notas por uma ordem diferente da utilizada
no Mtodo Hngaro (Lacroix, 1992, p. 73; Pineau, 2010, p. 11).
- 24 -
A nova progresso foi desenvolvida sob o aconselhamento de Kodly e comeou a ser testada
nos 4 anos que Ribire-Raverlat esteve em Montreal, no Canad, como docente numa escola
primria. Enquanto esteve no Canad, Ribire-Raverlat alargou a sua pesquisa de material
musical a repertrio tradicional francfono.
A ordem por que so aprendidas os nomes de notas progride atravs dos seguintes padres
meldicos:
m r d l, s,
m r d
m r d l, s,
m r d
m r d l, s,
s m r d
s m r d
s m r d l, s,
s m d
l s m r d
d' s m r d
m r d l, s,
m r d l, s,
m r d t, l, s,
m r d t l
d' l s m r d
l' s m r d l
m r d t l m,
m r d t l m,
l s f m r d
m r d t, l, s,
d' t l s f m r d
s f m r d t, l, s,
l' s f m r d t l
Figura 3 Ordem de aprendizagem do nome das notas utilizada em Frana
(Ribire-Raverlat, 1974, 1975, 1976, 1977, 1978, 1980)
- 25 -
- 26 -
3. O Resultado do Projecto: uma ordem de aprendizagem de MTP
Aps a deciso de ordenar o repertrio comeando com a sequncia utilizada na Hungria e
progredindo para uma sequncia mais tonal, sem passar pelas escalas pentatnicas, tal como
j explicado na pgina 8, chegou-se ordem de aprendizagem apresentada neste captulo.
O repertrio do 1 ano baseia-se em lengalengas e canes at quatro sons, com estrutura
pentatnica (tendo a maioria sido criada propositadamente sobre textos tradicionais), ou seja,
no integrando meios-tons.
O repertrio do 2 ano consiste em canes maioritariamente tradicionais com quatro, cinco e
seis sons em tonalidades Maiores. introduzido o novo nome de nota f. No 3 ano
introduzido o novo nome de nota ti e o repertrio composto por canes tradicionais de
quatro, cinco e seis sons em tonalidades Maiores e menores. No 4 ano de IM o repertrio
consiste em canes tradicionais com seis sons, em tonalidades Maiores e menores.
A ordem de aprendizagem dos nomes de notas apresentada na seguinte estrutura gradativa:
s m
l s m
s m d
m r d
s m r d
m r d l,
f m r d
s f m r d
l s f m r d
m r d t, l, s,
m r d t, l, s,
f m r d t,
f m r d t l
s f m r d t,
m r d t, l, s,
m r d t l s, f, m,
Figura 4 Proposta de ordem de aprendizagem do nome das notas em Portugal
Nos Anexos 1 a 4 so apresentadas as canes do 1 ao 4 ano de IM, respectivamente, com
- 27 -
uma breve anlise de acordo com os parmetros: ttulo, texto completo quando existe mais de
uma estrofe, funo ou gnero da cano ou ocasio em que cantada, fonte de onde foi
recolhida e notas ou comentrios sobre a execuo da cano. Este ltimo parmetro inclui os
jogos j existentes na tradio portuguesa ou algumas sugestes de jogos e outras actividades
de movimento a realizar em simultneo com a cano. A tonalidade em que cada cano foi
transcrita no , na maioria dos casos, a tonalidade em que a mesma deve ser cantada. O som
inicial em que cada melodia deve ser cantada sugerido em letras nas Notas/comentrios,
respeitando a tessitura vocal natural da criana.
As canes foram todas transcritas de forma a acabar na nota absoluta sol, independentemente
da tonalidade em que estivessem, de acordo com o sistema utilizado por Bartk e Kodly nas
suas publicaes de recolha de msica tradicional. Bartk desenvolveu esse sistema de
organizao de melodias tradicionais tendo por base o trabalho do musiclogo finlands
Ilmari Krohn (1867-1960), que poucos anos antes tinha criado um sistema de classificao e
catalogao de melodias tradicionais finlandesas (Bartk e Lord, 1951, p. 13; Lee, 2006, p. 3-
4). Este sistema de organizao tem como objectivo principal uma anlise comparada entre
melodias, nomeadamente no que diz respeito ao contorno meldico e cadncias, mas tal
anlise no foi levada a cabo neste trabalho, uma vez que esse no era o foco principal.
3.1. Canes para o 1 ano de IM
Tendo optado por iniciar a aprendizagem do nome de notas por motivos pentatnicos,
seleccionou-se canes tradicionais que se enquadrassem nesses parmetros. A aprendizagem
inicia com o intervalo de 3 menor descendente, solmi, e acrescenta, de seguida, a 2 Maior
acima, l, j referido na pgina 23 como uma progresso mais ou menos universal. No padro
meldico seguinte introduz-se o arpejo de Tnica solmid. A sequncia progride para o
tricorde a partir da Tnica, em modo Maior, ou seja, mi r d. Nos dois padres seguintes,
solmi r d e mi r dl, trabalhada a ligao Dominante Tnica em ambos os modos,
sem ainda integrar o 4 grau dos pentacordes.
Quatro das canes canes foram recolhidas em livros de msica tradicional e cancioneiros e
cinco foram aprendidas por transmisso oral (transmitidas pela famlia e por colegas). As
restantes 21 canes foram compostas sobre textos tradicionais como lengalengas, rimas e
adivinhas infantis, totalizando 30 canes para o 1 ano.
- 28 -
As canes para o 1 ano de IM so elencadas da seguinte forma:
s-m
Era uma vez um gato malts
Rei capito
To badalo
Dlim-dlim-dlo
Lagarto pintado
ls-m
Jogo da Ursa
Pedro e Paulo
Era uma vez um conde e um bispo
Sola sapato
Um per
s-m-d
Pelo mar abaixo
pai velho
Era uma vez um rei e uma rainha
O lencinho
Tenho um cozinho
mrd
Esconder, esconder
Ferreiro
O rato
Bicho flor
Pia a pinta
s-mrd
A barca virou
Eu j vi o sol nascer
Assim se amassa
Arco da velha
Chapu
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mrd-l,
Dorme, dorme meu menino
Uma meia
Sape gato lambareiro
Arre burro
Burrinho da Nazar
3.2. Canes para os anos seguintes de IM
No decorrer deste projecto foram apenas testadas e gravadas as canes do 1 ano de IM. Com
vista ao prosseguimento do trabalho nos anos seguintes de IM indica-se aqui a proposta de
ordem de aprendizagem dos nomes de notas e respectivas canes.
3.2.1. Canes para o 2 ano de IM
No 2 ano de IM consolida-se a aprendizagem dos vrios padres meldicos resultantes dos
intervalos entre os nomes de notas aprendidos. Um novo nome de nota acrescentado
aprendizagem: f. De um total de 25 canes, 23 foram recolhidas em livros de msica
tradicional e cancioneiros. O repertrio foi complementado com duas canes compostas
sobre poesia tradicional, utilizando o tetracorde em modo Maior da Tnica Subdominante.
Alm deste padro, utilizou-se na sequncia o pentacorde em modo Maior da Tnica
Dominante e o hexacorde em modo Maior da Tnica ao 6 grau.
As canes para o 2 ano de IM so expostas na seguinte lista:
fmrd
Nana, nana meu menino
da casa cavalheira
Senhora vizinha
Dedos da mo
sfmrd
Eu fui ao jardim celeste
Mira-me Miguel
Mata a tira-lira-lira
- 30 -
Pur beilar el pingacho
Mineta (Romance)
laranja
Aqui neste terreirinho
Ai larila!
lsfmrd
Senhora Anica
Menina do meio
Qua, qua, passar
So Guin
Senhora Dona Sancha
Vs chamais-me moreninha
No quero que vs monda
Corre, corre lindo anel
Sete varas tem
A Amlia
Ol papagaio
Papagaio louro
terr t t
3.2.2. Canes para o 3 ano de IM
No 3 ano cantam-se padres meldicos formados pelos nomes de notas aprendidos nos dois
anos anteriores. Um novo nome de nota acrescentado aprendizagem: ti. A sequenciao
dos padres meldicos para o 3 ano inicia-se com um tetracorde e um pentacorde, ambos em
modo Maior, da Dominante abaixo da Tnica Tnica e ao 2 grau, respectivamente.
Progride para o pentacorde em modo Maior da Sensvel abaixo da Tnica Subdominante e
posteriormente para o hexacorde em modo menor da Tnica ao 6 grau. Onze canes
recolhidas em livros de msica tradicional e cancioneiros so complementadas com 4 canes
compostas sobre poesia tradicional, perfazendo um total de 15 canes.
As canes para o 3 ano de IM so elencadas da seguinte forma:
dt,l,s,
Pantaleo
- 31 -
Arre burrinho
Era uma vez uma vaca Vitria
rdt,l,s,
A gata parda
Quem vai ao vento
Varre, varre
fmrdt,
Vai-te embora papo
Os passarinhos
Matilde
Quero bem...
Os trs reis do Oriente
fmrdt,l,
Cum r-r
Senhora do Almurto
Jos embala o Menino
Ao Menino Jesus
3.2.3. Canes para o 4 ano de IM
Durante o 4 ano consolidam-se os conhecimentos, pois todos os nomes de notas foram
aprendidos nos anos anteriores. Os padres meldicos previstos para este ano incluem trs
tipos de hexacordes: da Sensvel abaixo da Tnica Dominante em modo Maior e da
Dominante abaixo da Tnica ao 3 grau em modo Maior e em modo menor. O repertrio do 4
ano exclusivamente composto por msica tradicional portuguesa recolhida em livros de
msica tradicional e cancioneiros, num total de 19 canes.
As canes para o 4 ano de IM so expostas na seguinte lista:
sfmrdt,
Laurindinha
Que linda falua
Regadinho
Minha me mandou-me fonte
- 32 -
Menina que est no meio
minha farrapeirinha
Bia, bia, binha
O verde gaio meu
A galinheira
Se tu fores erva
Ribeira vai cheia
Caf com leite
Era uma velha
Elvas, Elvas
Este pandeiro
mrdt,l,s,
Senhora Dona Anica
Lengalenga da velha
Alargai-vos raparigas
dtls,f,m,
Na ponte da viola
- 33 -
- 34 -
4. Reflexo Crtica e Concluso
4.1. Reflexes sobre o desenvolvimento do projecto
Mesmo no sculo XXI subsiste ainda o peso histrico da influncia francesa no ensino da
Formao Musical em Portugal. Portugal um pas que utiliza o sistema de solmizao
absoluta dito d fixo, o que deve ser tido em conta quando se tenta adoptar um mtodo que
utiliza o sistema de solmizao relativa com slabas iguais, na sua quase totalidade, s do d
fixo.
No CRS, a maioria dos alunos que frequenta a disciplina de 1 ano de IM inicia
simultaneamente a aprendizagem de um instrumento. Alguns alunos, principalmente de
violino, mas tambm de flauta transversal e piano, iniciam a aprendizagem do instrumento
ainda antes de entrar na escola primria e por isso frequenta apenas a disciplina de
Instrumento. Na disciplina de Instrumento, os professores utilizam a leitura por pauta desde o
incio da aprendizagem, chamando s notas o seu nome absoluto.
Nas aulas de IM, na utilizao da pauta a escrita foi feita sempre por relatividade, sem
referncia altura absoluta, apenas indicando o posicionamento de um nome de nota relativo
como referncia. No foram dadas grandes explicaes sobre claves ou sobre o
funcionamento do d mvel. Os alunos estranharam um pouco no incio, mas, apesar da
utilizao exclusiva das claves de sol ou f nas aulas de instrumento, responderam com
naturalidade aos nomes de notas relativos em diferentes linhas ou espaos na pauta.
Reflectindo sobre o ano lectivo anterior, deparo-me com um aspecto menos positivo: deveria
ter sido feita uma melhor gesto inicial da distribuio das canes pelo ano lectivo e do
tempo aplicado na sua aprendizagem. Desta m gesto resultou que ao ltimo grupo de
canes (m r d l,) foi dado menos tempo para aperfeioamento das mesmas e para prtica
dos padres meldicos resultantes.
Ainda outros aspectos se salientam dessa reflexo:
Em termos de nmero de canes, este bastante dspar de ano para ano, pois vai
diminuindo de ano para ano, mas este facto prende-se com o tamanho e nvel de
dificuldade das mesmas, que vai aumentando.
- 35 -
Relativamente ao movimento/jogo associado a canes, seria interessante que, de
futuro, fossem criados jogos ou outro tipo de movimento (danas de roda, em linha,
etc) para as canes que ainda no os tm, sobretudo as do 1 ano de IM.
Em relao s dificuldades lingusticas de algumas canes (palavras arcaicas cadas
em desuso e canes parcial ou totalmente em lngua mirandesa), alguns professores
de ensino primrio abordam a existncia de uma segunda lngua no pas, e penso que
muito interessante que as crianas possam ter, pela msica, acesso a essa parte da
cultura lingustica portuguesa.
No obstante as dificuldades notadas, que so de fcil correco em abordagens futuras, o
balano do desenvolvimento do projecto francamente positivo.
No que concerne s gravaes foi minha inteno gravar uma amostragem das canes num
formato puro de sala de aula, com algumas das actividades realizadas em simultneo com as
canes nas aulas.
Com crianas desta idade o perodo de concentrao e de ateno muito prprio. As cmaras
e presenas amigas ou o afastamento da ateno da professora para se colocar atrs da
cmara so elementos perturbadores e podem sempre transmitir uma imagem errada do
produto final.
Como muito positivo da recolha em vdeo, para alm do aspecto de registo e de acoplagem ao
projecto, encontra-se tambm a motivao dos alunos para a gravao, a vontade de interagir
de uma forma mais cuidada e at a criao de alguns jogos e/ou coreografias especiais para o
evento. Talvez haja interesse em manter este processo de registo em vdeo, ainda que sem
enquadramento de investigao, com vista a futura avaliao da evoluo da aplicao do
Mtodo Hngaro no CRS.
Da anlise das gravaes observamos que o nvel geral da turma de acuidade na afinao
bom, com excepo do aluno A10, quase sempre monocrdico, com uma voz muito
enrouquecida e ainda com dificuldade em distinguir a voz falada da voz cantada. Observa-se
tambm que a aluna A7 no esteve presente em nenhuma das aulas em que foram realizadas
gravaes. De notar que o aluno A8, apesar de ter ingressado no CRS apenas no final de
Janeiro de 2014, teve uma evoluo muito positiva e conseguiu aprender quase todas as
canes que tinham sido ensinadas no perodo escolar anterior. Em relao aluna A9,
- 36 -
observvel que tem um bom nvel de autonomia quando canta as canes e quando utiliza
fonommica. A aluna A6 muito activa, o que se conjuga bem com uma aula que tem muitas
actividades em que se utiliza movimento e jogos. Esta aluna conhecia o Jogo da Ursa, ainda
que com uma letra semelhante (Bruxa, bruxinha em vez de Ursa) e algumas lengalengas
(mais do que os seus colegas conheciam).
Nos vdeos da aulas podemos encontrar todos os aspectos normais de uma aula de IM, como
as falhas de memria e as trocas de letra. Mas tambm identificamos a naturalidade com que
os alunos repetiam, no mesmo tom, e muitas vezes sem qualquer erro as diversas canes.
Nas aulas manifestaram tambm as suas preferncias, pedindo normalmente para repetir vezes
sem conta a cano ou jogo de que mais gostavam. Identificaram-se diferentes gostos sem
qualquer preconceito associado entre rapazes e meninas. Por exemplo, o aluno A10 pediu
muitas vezes para jogar o jogo da Gata parda (uma cano do 3 ano de IM). Tanto os
rapazes como as meninas participam nas actividades nas canes com empenho, donde se
pode concluir que o jogo/movimento uma tarefa de sala de aula que as crianas apreciam e
que contribui para a sua motivao e muito positivamente para o processo ensino-
aprendizagem.
Os alunos estiveram muito motivados para a aula de IM recorde-se que a motivao para o
Conservatrio costuma ser exclusivamente o instrumento e a escola fomenta de certa forma
essa postura. A memria, afinao, dinmica de aprendizagem e consolidao de
conhecimentos so muito reforadas pela abordagem da aula de Iniciao de acordo com este
projecto. O facto de a aprendizagem funcionar em sequncia, o que conduz o aluno a uma
aprendizagem consistente e sistematizada, essencial ao sucesso do processo ensino-
aprendizagem. Outros benefcios prendem-se com aspectos sociais, sobretudo no que diz
respeito interaco e respeito entre pares, numa era em que as crianas comeam a deixar de
saber brincar umas com as outras, sem ser atravs de um dispositivo electrnico.
4.2. Perspectivas para o futuro
O grupo de alunos com que comecei o projecto no ano lectivo 2013/14 transitou em 2014/15
para o 2 ano de IM. A turma incorporou ainda 4 alunos que no tinham frequentado o CRS
no ano anterior. Os diferentes nveis de conhecimento revelaram-se difceis de gerir, influindo
- 37 -
na progresso e motivao dos alunos com que tinha comeado o projecto no ano anterior.
Mesmo assim, foi possvel manter a ordem de aprendizagem de nomes de notas prevista, e o
repertrio seleccionado para o 2 ano de IM.
Alm da turma de 2 ano, foi repetido o processo na nova turma de 1 ano de IM, dando
novamente a oportunidade de testar a sequncia de repertrio, j com a experincia do ano
anterior, com claros benefcios para o processo de ensino-aprendizagem.
Neste momento, alguns professores do CRS j utilizam o sistema de solmizao relativa, dito
d mvel, nas aulas de Formao Musical do Curso Bsico, ou seja, do 1 ao 5 grau,
reportando bons resultados ao nvel da afinao, da compreenso meldica e harmnica e de
reconhecimento auditivo e escrita meldica e polifnica. Esta utilizao do d mvel foi
prevista no programa curricular da disciplina, revisto no incio deste ano lectivo.
Este projecto parece vir a permitir a elaborao de um programa curricular para a disciplina
de IM no CRS, com o objectivo de preparar os alunos do Curso de Iniciao para admisso ao
Curso Bsico, tendo um percurso pedaggico bem organizado e estruturado, que lhe d a
experincia musical e os conhecimentos necessrios para ser bem sucedido nos seus estudos
especializados da msica.
- 38 -
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