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Myer Pearlman - Ensinando com Êxito na Escola Dominical

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A Editora Vida é uma mis são internacional, cujo propósito é prover literatura adequada para evangelizar com as boas novas de Jesus Cristo, fazer discípulos e preparar para o ministério, o maior número de pessoas no menor tempo possível.

ISBN 0-8297-2108-8

Categoria: Escola Dominical

Este livro foi publicado em espanhol com o título: Ensenando con Êxito en la Escuela Dominical, por Editorial Vida

© 1994 Gospel Publishing House

© 1995 Editora Vida

Tradução de Rejane Caldas

Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, Av. da Liberdade, 902 — São Paulo, SP 01502-001 Telefone: (011) 278-5388 Fax: (011) 278-1798

As citações bíblicas foram extraídas da Edição Contemporânea da Tradução de João Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida.

Capa: Gustavo Camacho

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ÍNDICE

1. O Trabalho do Professor................ 7

2. Que é Ensinar?............................. 11

3. Métodos de Ensino........................ 23

4. Dominando a Lição....................... 31

5. O Objetivo da Lição....................... 43

6. O Plano da Lição........................... 49

7. Mantendo a Classe Atenta............ 69

8. Mantendo o Professor Atento ........ 83

9. Esclarecendo a Lição..................... 91

10. Usando os Olhos........................... 103

11. Narração de Histórias................... 113

12. Impressões e Expressões............... 129

13. Ensinando Através de Perguntas.... 133

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APRESENTAÇÃO

O propósito deste livro é expor os princípios mais importantes que regem o ensino — especialmente o ensino na Escola Dominical.

Tanto o professor iniciante como o veterano encontrarão nesta obra material abundante e apropriado, que os capacitarão a desempenhar com mais eficiência a importantíssima tarefa de ensinar.

O autor focaliza o tema de forma geral, adaptando-o, o máximo possível, a todos os professores dos diferentes departamentos da Escola Dominical.

Que Deus abençoe o seu trabalho, professor, na formação do caráter de crianças e adolescentes, e na renovação espiritual dos adultos, que devem crescer em Cristo.

Editora Vida

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Capítulo 1

O Trabalho do Professor

Se você atendeu ao chamado de ensinar em uma classe de Escola Dominical, na verdade você aceitou um grande trabalho, porque este chamado traz consigo o privilégio e a responsabilidade de cooperar com Deus na formação do caráter cristão, e no compartilhamento do conhecimento espiritual. De modo real essa pessoa foi chamada ao ministério. Reconhecendo a importância e a dignidade de seu chamamento, você deve propor-se, com a ajuda de Deus, a conseguir maior e melhor rendimento possível em seu trabalho, fazendo dele uma verdadeira vocação.

Em primeiro lugar, você deve procurar o que não se adquire por mero estudo: os dons espirituais especialmente apropriados ao professor (1 Coríntios 12:7-10, 28). A partir daí, lembrando-se de que Deus sempre opera em colaboração com nossa inteligência, você, como professor, começa seu próprio treinamento, fazendo a si mesmo as seguintes perguntas:

1. Por que ensino? Qual é meu propósito e que objetivo quero alcançar?

Você, professor, precisa ter percepção clara e bem definida do propósito de seu ensino. Só assim poderá ter êxito em seu trabalho. Se não houver um propósito firme e uma preparação prévia, se tudo for deixado ao acaso, assim também serão os resultados de seu ensino. Depois de considerar bem o assunto, o verdadeiro professor espiritual chega à conclusão de que seu trabalho principal e o fim primordial de seu esforço, serão a aplicação das verdades bíblicas para guiar seus alunos a um conhecimento experimental de Cristo; que cada lição seja um instrumento para o crescimento do caráter cristão. Em resumo, seu objetivo principal tem largo âmbito moral e espiritual.

2. A quem ensinarei? Que tipo de alunos receberá meu ensino?

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Seu talento e suas condições pessoais, como professor, revelarão se lhe convém mais ensinar aos adultos, aos jovens, aos adolescentes, aos intermediários, aos primários ou às criancinhas.

3. Que ensinarei? Que conhecimento do assunto possuo?

O objetivo principal de seu ensino será, é claro, a Bíblia; por isso deve fazer o máximo que puder para dominar as histórias, as doutrinas, a geografia e os costumes mencionados na Bíblia. "Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?" (Romanos 2:21).

O professor não pode compartilhar o que não sabe, não pode explicar o que não compreende, nem pode falar com autoridade se não tiver um conhecimento completo da matéria que ensinará. Se você tem intenção de entregar-se à dura tarefa de ensinar, estude "sem cessar", leia diligentemente acerca de tudo o que a Bíblia ensina em diversos níveis, e faça um estudo sistemático da Palavra de Deus. Certamente este programa significa trabalho duro, mas não se alcança um ensino eficaz e eficiente sem esforço. O verdadeiro professor tem que alcançar os frutos de seu ensino com o suor de seu rosto. No entanto, todo esforço árduo é rico em recompensas.

4. Como ensinarei?

Responder a esta pergunta é de grande importância. Não importa quanto conhecimento o professor possua, falhará se não possuir também a arte de ensinar, isto é, se não souber transmitir esses conhecimentos a seus alunos. E esta pergunta nos leva ao tema do livro: A arte de ensinar lições bíblicas na Escola Dominical.

Será que alguém pode, na verdade, aprender a ensinar? Podemos imaginar você, leitor, dizendo: "Eu pensei que ensinar fosse um dom que algumas pessoas têm por natureza!" É verdade que certos indivíduos possuem capacidade especial para ensinar, mas é também acertado dizer-se que esta arte pode ser adquirida.

Algumas pessoas parecem "gênios"; mas na maioria dos casos, o gênio é o resultado de dois por cento de inspiração e noventa e oito por cento de transpiração, como disse Thomas Édison.

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O ensino é uma arte que pode ser adquirida porque é governada por leis definidas. Estude e domine estas leis, aplique-as com paciência, e você descobrirá que está ensinando bem. O bom êxito depende de "saber como fazê-lo".

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Capítulo 2

Que é Ensinar?

Ensinar não é apenas narrar fatos, porque o aluno não compreende tudo que ouve, e neste caso seria difícil mantê-lo atento; não é a repetição de frases decoradas e recitadas como uma "ladainha". Ensinar pode ser definido assim: é despertar a mente do aluno para captar e reter a verdade. É mais que partilhar com outros as verdades que possuímos; é motivá-los a pensar por si mesmos, de tal modo que cheguem aos fatos. Para conseguir o propósito exposto nesta definição, é necessário seguir quatro princípios que são o verdadeiro fundamento do ensino, e que abarcam todas as regras relativas ao ensino. Teremos neste estudo a explicação destas regras de uma maneira simples e clara. Em outras palavras, aquele que deseja ensinar corretamente, com eficácia, não só deve fixar-se nestes quatro princípios, mas deve também colocá-los em prática.

l. O professor tem que fazer com que o aluno pense por si mesmo

É necessário que o aluno use suas ideias e palavras, chegando a conclusões próprias; que aprenda a lição por si mesmo, descobrindo por si as verdades que você quer ensinar.

Que quer dizer a palavra "educar"? Literalmente quer dizer "tirar sutilmente" por meio de perguntas ou sugestões o que está na mente do aluno, e conduzi-lo às atividades de que ele é capaz. Em outras palavras, a educação não fabrica a máquina; apenas a faz funcionar. O professor mais competente é o que capta a atenção do aluno, desperta sua inteligência, engendra o interesse e o desejo de aprender; e então, coloca diante dele o material com o qual possa formar conclusões próprias.

Ensinar não é encher a mente de conhecimento, como se enchia antigamente um fogão a carvão, mas aproveitar as matérias-primas através de perguntas, sugestões e ideias oportunas; em outras palavras, tenta-se fazer funcionar a máquina da inteligência para que dê o produto ou resultado final; o pensamento bem racionalizado.

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"Aprender é ensinar-se a si mesmo." Um professor experimentado escreve: "Devemos permitir que este instinto trabalhe livremente nos alunos." Não descubra você a verdade; é melhor ocultá-la um pouco e guiá-los por meio de perguntas hábeis, motivando-os bastante para que a descubram por si mesmos, tenham o prazer de levantar o véu e encontrar por seu próprio esforço a verdade que você tenta ensinar. Não importa que pensem que descobriram a verdade sem sua ajuda. Isto não deve incomodá-lo, pois o importante é fazê-los pensar e raciocinar; não se concentre no muito que você sabe, mas em quão maravilhosa é a verdade.

Seu triunfo ocorrerá no momento em que um de seus alunos vier contar-lhe da grande descoberta que ele fez, e ao mesmo tempo você constatar que é exatamente o que você queria que ele aprendesse. A glória suprema de ensinar é fazer com que o aluno creia não que você ensina a ele, mas que ele é que ensina a você. Que você estimule a atividade intelectual de seu aluno, fazendo-o descobrir as verdades por si mesmo.

É possível que você se lembre de um grande professor de sua juventude que ficou de pé lá fora, humildemente, enquanto você entrava no novo castelo da verdade através de uma porta que ele abrira—em silêncio—para você.

2. O professor tem que explicar as novas verdades baseado em verdades que o aluno já compreendeu

Ensinar é explicar o novo baseando-se no antigo, isto é, o desconhecido em relação ao conhecido; o difícil em relação ao fácil; o obscuro em relação ao claro. Este é o único meio de chegar-se ao conhecimento verdadeiro das coisas, e o melhor método para sua compreensão; porque cada nova ideia tem de ser relacionada com o material que o aluno já possui na mente.

Por exemplo, pergunto à minha classe: "Quantos já ouviram falar dos Chasidim?" Não recebo nenhuma resposta, apenas olhares vazios, pois meus alunos não sabem se os Chasidim são um partido político, uma doença ou uma nova marca de margarina. Este nome é algo muito novo para eles, e não desperta nenhuma imagem em sua mente. Mas suponhamos que explico então que Chasidim é o nome de uma seita judia, na Europa Central, que acredita na manifestação visível do Espírito Santo e ensina que

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a religião deve ser mais vital e emocional que a que é praticada por outros judeus. Visto que professa um ideal mais elevado, poderíamos descrevê-la como um movimento de santidade na sinagoga judia.

Será que agora os alunos compreendem quem são "os Chasidim"? Sim. Por quê? Porque usei ideias e termos que conhecem. Eles usaram suas próprias faculdades mentais para explicar a palavra. A palavra estranha já não é "tão" estranha; foi apresentada pelo professor por meio de dados conhecidos dos alunos. Neste caso passamos do desconhecido ao conhecido.

Suponhamos que queremos dar a uma criança de cinco anos uma ideia da forma da terra. Você acredita que a criança nos compreenderia se disséssemos: "A terra tem forma esférica"? Claro que não, porque essa seria uma explicação muito abstrata para uma criança. Ela não compreenderia nada. Ao contrário, se você lhe disser que a terra em que vivemos é uma bola muito grande, redonda como uma laranja, é quase certo que ela vai captar a ideia, porque você lhe ensinou algo novo, baseando-se em um conceito que ela já conhece.

Resumindo, o professor eficiente realizará sua tarefa baseando-se sempre em verdades e imagens que seus alunos já conhecem, e as associará para ajudá-los a descobrir novas verdades.

3. O professor deve levar em conta o desenvolvimento mental de quem receberá a lição

Isto é importante, para que você adapte o tema à capacidade do aluno, à sua idade e experiência. Por exemplo, ao ensinar em uma classe de pequeninos, você jamais deve falar de "regeneração", ou de "arrebatamento antes da tribulação", porque estes são termos abstratos que as criancinhas não compreenderão. Você deve compartilhar as verdades, subentendidas nas palavras teológicas, de uma forma que possam ser assimiladas pelas mentes tenras das crianças, e que lhes atraia a atenção e o interesse.

Paulo, o apóstolo, usou este princípio. Ele tinha apenas um evangelho para judeus e gentios; mas estude seus sermões no livro de Atos, e você poderá notai" que ele servia alimento divino de um modo aos judeus e de outro aos gentios. Certa vez ele relacionou o evangelho com as

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doutrinas do Antigo Testamento, e os judeus entenderam perfeitamente; e em outra ocasião relacionou o evangelho com o "livro da natureza" e os gentios compreenderam também.

O verdadeiro professor conhece e compreende as peculiaridades, os interesses e as atividades que pertencem a cada período do crescimento e desenvolvimento de seus alunos, e adapta seu ensino conforme o caso que se apresente, e de acordo com o desenvolvimento moral e espiritual deles. É preciso ajustar o microfone segundo a altura do orador. Se o orador anterior media 1,80 m e o próximo mede 1,60 m, o microfone é ajustado de acordo. Grande parte da habilidade do professor consiste em saber adaptar os ensinos espirituais à altura espiritual de seus alunos.

4. O professor fará o possível para relacionar a nova lição à anterior

Para associar ideias e conhecimentos na mente do aluno e promover um entrosamento uniforme e perfeito dos ensinos e doutrinas da Bíblia, é de suma importância que você relacione uma verdade com outra verdade, uma doutrina com outra doutrina e um acontecimento com outro acontecimento.

Sua tarefa de professor não é sobrecarregar o aluno de informações; ao contrário, você, a cada domingo, terá de dirigir amorosamente a construção de um edifício simétrico, o do caráter cristão, cujas bases descansam em verdades bíblicas. E para fazer isto, é necessário que você possua as "radiografias" para que possa trabalhar inteligente e eficazmente, obtendo os melhores resultados segundo o objetivo que você está perseguindo.

Falando em sentido figurado, se você, professor, quer conseguir pleno êxito no ensino, é preciso que escale a montanha da oração e do estudo. No topo da montanha você recebe o modelo divino para a edificação do tabernáculo do caráter e conhecimento de cada aluno. Então, como Moisés, você ouve a voz de Deus admoestando-o: "Vê que os faças conforme o modelo que te foi mostrado no monte." Êxodo 25:40.

Permita-me ilustrar este princípio supondo que a série de lições para o trimestre trate da vida de Cristo. Você está pronto para começar sua lição. Em certo ponto da introdução você dirá: "Hoje vamos estudar o Sermão do

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Monte, o qual nos ensina as leis do reino. Olhemos por uns momentos para trás e vejamos o quanto estamos adiantados na história do Rei. Em nossa primeira lição, consideramos a descida à terra e a natureza celestial do Rei; na lição seguinte vimos como o Rei foi recebido pelas diversas classes sociais; depois nos foi descrito o grande profeta que era o anunciador do Rei; e mais tarde, na lição do batismo e tentação de Jesus, fomos testemunhas da apresentação pública e da preparação particular do Rei Jesus, antes de seu ativo ministério.

"Na lição seguinte estudamos acerca do primeiro exercício de sua autoridade como Rei, quando chamou seus primeiros seguidores, futuros embaixadores de seu reino. Na lição de hoje veremos a proclamação das leis de seu reino, e no próximo domingo consideraremos o poder do Rei, que se destaca nos sinais e milagres que executa."

Que programa excelente esse! Parabéns! Em vez de apresentar o Sermão do Monte como uma porção separada das Escrituras, você o expôs como uma parte vital da vida e ministério de Cristo. Em outras palavras, você usou as lições anteriores do trimestre, sobre a vida de Cristo, como um meio de criar, ou formar um esboço na mente do aluno concernente à vida de Cristo.

Veja outro exemplo. A classe estava estudando o capítulo dois do Evangelho de Mateus. O professor disse: "Vejamos como o grande Herodes, o rei mau, foi incitado por Satanás a matar a todos os meninos de Belém, tentando destruir o Rei dos reis, nosso Salvador. Mas Deus pôs seus planos a perder. Agora, relembre por um momento a história do Antigo Testamento que nos relata como outro menino, que iria ser o libertador de Israel, escapou do poder do governante mau que havia ordenado que se matassem todos os bebês do sexo masculino, entre os israelitas."

Muitos da classe se lembravam da infância de Moisés e notaram a semelhança entre as experiências do mediador da Antiga Aliança e o da Nova Aliança. O professor continuou: "Neste mesmo capítulo Mateus nos diz que o Messias, quando era criança, refugiou-se no Egito para ser protegido, em vez de ficar na Palestina, onde serviria a Deus e a seu povo. Será que existe algo aqui que faz vocês se recordarem de algum fato semelhante no Antigo Testamento?"

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É fácil que alguém na classe se recorde de que quando Israel era apenas uma família, a semente de uma nação, Deus a mandou ao Egito para preservá-la, e depois trouxe a nação ã Terra Santa, para servi-lo ali. Compare Êxodo 4:22 com Mateus 2:15.

Note o que fez aquele professor; ele relacionou uma história do Antigo Testamento a outra do Novo Testamento, de tal maneira que o aluno compreendeu que existe uma correlação entre elas; que são parte de um plano divino; e que muitos fatos do Antigo Testamento são tipos proféticos da vida, obra e ministério de Cristo.

Permita-me aplicar este princípio mais uma vez. A nova lição baseia-se na passagem em que Cristo alimentou a multidão. O professor diz: "Cristo alimentou a multidão no deserto. Que fato do Antigo Testamento lhes recorda este?" Alguém dirá: "Moisés, alimentando os israelitas com o maná, no deserto." O professor faz uma observação: "Este fato levaria muitos judeus a verem Cristo como o segundo Moisés, o Deus Enviado, o Libertador de Israel. Não é mesmo?"

O professor fez uma associação de ideias, e despertou conhecimentos anteriores relacionando-os com a nova lição. Ele continuou: "Deus, por meio de Moisés, alimentou os israelitas com alimento sobrenatural no deserto; Cristo também alimentou os famintos no deserto. Não é verdade, então, que ainda necessitamos do pão que vem do céu, porque o mundo em que vivemos é um deserto para a vida espiritual?" Ele prosseguiu: "Você pode lembrar-se de uma cerimônia sagrada que nos traga à memória que temos necessidade contínua do Pão espiritual, para nos manter espiritualmente sadios neste mundo, e que somente Jesus nos pode sustentar?" E natural que a resposta seja: "A Santa Ceia."

Aqui o professor fez uma associação de fatos históricos e doutrinários. E continuou: "Se ficarmos sem alimento, se não comermos, sentiremos fome. Se a privação continuar, ou o alimento for escasso, ficaremos subnutridos e doentes. De maneira semelhante, se nós nos descuidarmos do alimento espiritual, se deixarmos de orar e ler a Palavra de Deus, sofreremos de subnutrição espiritual; ficaremos fracos." Aqui o professor aplicou a lição à classe. E prosseguiu: "O mundo está cheio de pessoas que têm fome espiritual, sobrecarregadas de pecados, enfermidades e tristezas.

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Cristo pode alimentá-las e satisfazê-las. Saiba que temos uma responsabilidade nisto, pois ele nos diz, como disse a seus discípulos: 'Dai-Ihes vós de comer.'" O professor deu uma explicação prática do texto, ao relacionar a lição com a responsabilidade missionária do cristão.

Em resumo: Você, professor, tem de relacionar constantemente as partes das Escrituras — comparando as histórias com as doutrinas, as profecias com seu cumprimento, os livros com os livros, o Antigo Testamento como Novo, os tipos com os arquétipos, para que o aluno aprenda que a Bíblia não é uma coleção de textos e de fatos separados, estanques, mas uma unidade viva, cujas partes estão relacionadas vitalmente umas com as outras, como os membros do corpo humano. Vimos depois que o professor precisa aplicar continuamente a lição ávida individual, e à coletiva, para que o aluno fique sabendo que todo ensino bíblico está relacionado com os fatos de sua vida. Nenhum ensino bíblico é teórico, sem aplicação prática.

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Capítulo 3

Métodos de Ensino

Um famoso escritor escreveu certa vez: "Antes que um orador enfrente seu auditório, deve escrever a um amigo e dizer-lhe: 'Vou fazer um discurso sobre este tema, e quero enfocar os seguintes pontos.' Deve, então, enumerar a ordem dos pontos sobre os quais vai falar, e resumi-los. Se esse orador descobrir que não tem nada de que tratar no discurso, é melhor que diga depressa a quem o convidou que a iminente morte de sua avó o impede de aceitar o convite."

Esse é um modo bem-humorado de dizer que não devemos nos atrever a falar a um auditório sem preparar-nos de modo suficiente. É conselho aplicável ao ensino na Escola Dominical. Uma lição bem preparada inclui não somente o conhecimento da matéria que o professor vai ensinar, mas também o "como", a maneira de ensinar. Supondo que você esteja bem preparado, bem provido de dados e informações, terá sempre de perguntar-se: "Como vou transmitir estas verdades à classe? Só eu falarei? Farei perguntas para motivá-los? Pedirei que façam alguma pesquisa, ou trabalho?" Em outras palavras: "Que método usarei?"

Existem muitas formas de ensinar uma lição, assim como há muitas maneiras de entregar mercadorias aos fregueses. Por exemplo, alguém pode entregar pessoalmente a mercadoria; ou pode chamar o cliente por telefone e pedir-lhe que venha buscá-la. O método mais eficiente depende do tema, das condições dos alunos, da habilidade do professor e de outras circunstâncias.

Classificaremos os métodos de ensino da seguinte forma: (1) métodos que jogam a carga de trabalho sobre o professor; (2) métodos que põem grande parte da carga sobre a classe; (3) métodos pelos quais o professor e a classe interagem em cooperação.

O PROFESSOR TRABALHANDO

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Nos métodos seguintes a carga do trabalho recai sobre o professor.

l. O professor faz dissertações

Neste método o professor apresenta a lição quase da mesma maneira que o pregador pronuncia seu sermão: ele fala e a classe ouve. Este método tem vantagens e desvantagens. Dá ao professor o tempo necessário para ensinar a lição toda, de modo definido e sistemático, a pessoas muito ocupadas que não têm ou não procuram tempo para estudar a lição. Este método é bem adequado quando a classe é tão grande que as perguntas e discussões impediriam uma apresentação completa da lição.

E claro que quem usa este método de dissertação deve ser orador apto e eloquente, capaz de reter a atenção e o interesse da classe; de outra maneira alguns se distrairão e outros dormirão. É método deficiente, pois não estimula o aluno a agir. Trata-se de uma classe passiva cujos alunos se limitam a ouvir.

2. O professor narra

Para os alunos das classes infantis a lição inteira consiste em histórias narradas pela professora. Narração é a forma em que as verdades espirituais podem ser assimiladas melhor pelas mentes das crianças. Nos departamentos de jovens e de adultos, este método deve ser usado quando a lição focaliza acontecimentos bíblicos, pois uma história bem narrada é um método seguro de despertar e reter a atenção.

Todo professor deve cultivar a arte de narrar histórias. Deve ser capaz de imaginar a vida nos tempos bíblicos, rever as cenas, caminhar entre as pessoas, ouvir suas conversas, compreender seus costumes, e depois descrever vividamente o que viu. Desta maneira a história bíblica chega a ser uma realidade para seus ouvintes.

Quanto aos elementos doutrinários, que dificilmente poderiam ser ensinados de forma narrativa, o professor deve esclarecer as doutrinas mediante ilustrações coerentes e histórias bem narradas. Se você perceber que está conduzindo sua classe a um deserto árido, por causa da secura de sua exposição, procure salvar-se e recuperar o interesse dos alunos mediante uma ilustração interessante relacionada à lição.

O ALUNO TRABALHANDO

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Uma das suas tarefas fundamentais, como professor, é conseguir que o aluno pense por si mesmo. Faça que o aluno use suas faculdades, desperte-lhe a capacidade de apreciar o que vê e ouve. Por isso, o professor não deve dizer ao aluno o que este pode descobrir por si. Um dos melhores métodos para pôr em prática o princípio das atividades feitas pelos próprios alunos pode-se definir como o método da atribuição de tarefas. Terminada a lição de hoje, o professor dedica algum tempo à próxima lição. É quando ele dá algumas tarefas a cada aluno. Um vai responder a certas perguntas. Outro desenvolverá um tema. Outro desenhará um mapa. Este método exerce um efeito psicológico salutar sobre o aluno: Faz que ele compreenda que o professor conhece seu trabalho e que se interessa por fazê-lo; além disso, dá a todos a satisfação do êxito do empreendimento.

"Mas como posso conseguir que o aluno colabore e estude?" Esta é uma pergunta que surge ao considerarmos este método. Apresentamos as seguintes sugestões:

1. Ensine ao aluno como estudar

É muito provável que ele não saiba como estudar e pesquisar. Uma das lições mais úteis para o aluno é saber como estudar por si mesmo.

Não basta dizer-lhes como estudar e deixá-los — adverte o autor Suter em seu livro Creative Teaching (Ensino Criativo). — Demonstre o processo. No princípio do ano escolar valeria a pena tomar pelo menos a metade do tempo das aulas para fazer exercícios demonstrativos. Reúna os alunos ao seu redor e (liga: 'Vou fazer de conta que sou um de vocês e que vou estudar e preparar a lição.' Passe então pelo processo de estudo, passo a passo, sem omitir nada.

Use cada livro, caderno, papel ou apostila, exatamente como o aluno faria. Quando chegar o momento de ler as passagens assinaladas, leia-as em voz alta (temos aqui a única diferença entre o que você faz como demonstração e o que o aluno faz em casa). Onde se pede que se escreva, faça o exercício escrito. Em outras palavras, faça uma demonstração completa e explique, enquanto a faz, as razões por que se deve fazer cada atividade, e a melhor maneira de executá-las todas."

Um destacado escritor e professor de Escola Dominical com ampla experiência, Amos R. Wells, referindo-se a seu trabalho didático, disse que

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se pudesse começar tudo de novo faria o seguinte: "Pensaria menos no que estava dando aos alunos e mais no que eles estavam recebendo. Fiz quase nada a princípio, para motivar meus alunos a estudarem. Não lhes dei trabalho para fazer em casa. Todo meu ensino era por dissertação, muito embora algumas vezes tenha usado perguntas e respostas de maneira mais ou menos disfarçada. Por isso o vento levou todo o meu ensino. Se os alunos estudassem em casa, ainda que de forma inadequada, neles se despertaria uma atenção sólida que lhes permitiria reter um ensino que eu transmitisse em classe."

2. Desperte o interesse do aluno e dê-lhe um motivo para estudar

Se desejamos persuadir um aluno a fazer uma tarefa, temos que fazê-lo sentir que vale a pena, que saber bem a lição é realmente muito importante — para ele. O professor, como bom vendedor, tem que criar necessidades que seu produto satisfaça.

Em vez de dar tarefas de uma maneira geral à classe inteira, dê uma tarefa definida a cada aluno e faça-o responsável pelo trabalho.

3. Peça ao aluno que apresente a lição oralmente

Faça o possível para que seu aluno apresente o trabalho a ele designado; de outra maneira chegará a ser negligente e dirá: "Para que fazer lição de casa e estudar se o professor não exige que se apresente a lição? e nem mesmo vê?"

"Mas a aula não ficará monótona se consistir somente de dissertações da parte dos alunos?" Esta é uma pergunta que surgirá em relação a este método. É conveniente que o professor faça dissertações entre as respostas, e desenvolva a lição de maneira interessante. Se comparamos uma aula com a construção de uma casa, podemos perceber que a tarefa do professor, bem como as tarefas dos alunos, é como a edificação de uma casa, passo a passo, setor por setor. O aluno dá sua resposta, apresenta seu trabalho; o professor complementa o que o aluno fez, comentando e, se necessário, corrigindo, desenvolvendo a lição preparada pelos alunos.

O PROFESSOR E O ALUNO TRABALHANDO JUNTOS

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l. O método de perguntas, ou interrogativo

Neste método o professor estimula os pensamentos dos alunos usando perguntas inteligentes que os façam pensar. Na realidade ele "educa" a classe tirando da mente dos alunos os fatos principais da lição. Este é um dos métodos mais interessantes porque retém a atenção dos ouvintes e os mantém ativos. Este método também ajuda o professor, tirando de seus ombros o trabalho de dissertar; sua tarefa se parece com a de um capataz que dirige a construção de um edifício.

Embora este método seja considerado um dos melhores, pela pedagogia moderna, tem seus perigos. Os alunos podem sair do assunto da lição e, quando não estudaram bem a lição em casa, as respostas podem ser superficiais. Os alunos preguiçosos podem converter a aula em conversação inútil. Também existe o perigo de empregar-se demasiado tempo na discussão de alguns detalhes menores, ou de alguma questão que não pertence à lição, e assim distanciar-se do tema. Entra em cena a habilidade do professor, que deve estar atento para que as perguntas sejam pertinentes e bem formuladas. O professor provoca o diálogo através de perguntas inteligentes, evitando que haja desvios do tema da lição.

2. O método de perguntas e dissertações

Este método é uma combinação dos métodos de apresentação de pequenos tópicos e o de perguntas. O professor assinala as tarefas definidas a cada aluno, e desenvolve a aula mediante uma discussão em que pede a cada aluno a tarefa de casa. Desde que a aula não seja muito extensa, e que os alunos tenham sido estimulados a estudar, este é o método mais eficaz. Para adultos, o método de perguntas é o mais interessante.

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Capítulo 4

Dominando a Lição

Temos diante de nós o texto bíblico da lição e a revista da Escola Dominical. Como desenvolveremos o tema da lição? Considere as seguintes sugestões:

1. Comece logo no início da semana e estude diariamente

Um plano excelente é você dedicar meia hora por dia, no mínimo, para o estudo da lição do próximo domingo. Será melhor ainda se você puder estudar sempre à mesma hora, todos os dias, a partir de segunda-feira. Por que começar tão cedo, na segunda-feira? Começar cedo dá tempo para um estudo consciencioso, com oração e meditação, para que a lição penetre na mente e no coração do professor, e chegue a fazer parte dele. Assim como uma criança pode dominar uma bicicleta e rodar nela com espantosa habilidade, podemos dominar em nossa mente as verdades da lição pelo estudo e meditação contínuos.

É o que acontece quando começamos a estudar a lição logo na segunda-feira. Passamos, digamos, meia hora examinando a lição. Na terça descobrimos que, não estando conscientes do fato, nossa mente esteve trabalhando na lição, e esta nos parece agora mais clara. Além disso, durante o dia, incidentes acontecerão enquanto fazemos nossas obrigações diárias, que servirão de ilustração, ou referências; serão talvez coisas que leremos em um livro, ou ideias interessantes. Quando nos sentarmos para estudar a lição, na terça-feira, o texto da lição não nos será estranho.

Imagine que hoje, enquanto você estuda, encontra alguns problemas e questões complexos, acerca dos quais você se esforça em vão, e acaba deixando-os de lado, talvez com desalento. Você não deve desanimar-se, porque é provável que na quarta-feira estas questões terão sido esclarecidas só pela oração e meditação. Você as verá sob nova luz.

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Além da vantagem conquistada pelo estudo diário, há a vantagem extra da lei conhecida como lei da "função cerebral subconsciente". O subconsciente nos ajuda muito. Sabe-se que por meio do subconsciente aprendemos muito. Depois de havermos feito um estudo árduo e consciente de um assunto, nossa mente continuará trabalhando na questão, enquanto dormimos ou cuidamos de outras coisas. O ditado muito conhecido que diz "consulte o travesseiro" acerca de uma decisão ou problema, está certo. É exemplo do que vimos dizendo sobre o subconsciente. Mas acima de tudo, lembre-se de que por meio da oração é possível estimular sobrenaturalmente as nossas faculdades mentais. "Ele os guiará em toda verdade", diz-nos Cristo. Note que a palavra "guiar" subentende que devemos estar procurando a verdade, ou em outras palavras: estudando.

O que um escritor famoso disse da preparação de um discurso aplica-se bem ao preparo da lição: "Comece a examinar a lição uma semana antes. Estude-a todos os dias. Arranje tempo para pensar nela todos os dias. Relembre a lição — a última coisa antes de orar e dormir. Pense na lição na manhã seguinte, enquanto se barbeia, toma banho, vai ao trabalho, espera o elevador ou almoça. Dialogue sobre a lição com seus amigos. Faça dela seu tema de conversa. Faça a si mesmo todas as perguntas prováveis, referentes à lição."

Em resumo: vamos nos lembrar do processo da "automatização no uso da bicicleta". Comecemos a estudar a lição logo no primeiro dia da semana, e estudemo-la todos os dias meia hora pelo menos.

2. Estude conscienciosamente

"O professor em uma metalúrgica", é o título de um dos capítulos de um livro de Marion Lawrence para obreiros da Escola Dominical. O livro descreve bem a atitude a ser assumida por alguém que quer ter grande êxito como professor da Escola Dominical. Diz o autor: "Quatro quilos de aço darão um machado, mas quatro quilos de aço não são um machado. Três coisas são exigidas: forma, fio e polimento. O estudo diário consciencioso faz isto para o professor da Escola Dominical. O professor é o eixo em torno do qual a Escola Dominical gira. Se o professor estiver bem preparado, então o eixo está bem lubrificado e o rolamento de esferas gira bem. O trabalho de ensinar será mais fácil."

Eis algumas sugestões quanto ao estudo do professor:

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Estude o texto bíblico da lição antes de ler a revista. Estude o texto bíblico como se você não tivesse a revista para ajudá-lo. Será que quando alguns estudantes ambiciosos foram visitar Agassiz, o grande naturalista, ele deu a cada um deles um manual sobre ciências naturais? Não! Ele entregou a cada um deles um peixe e lhes pediu que averiguassem tudo o que pudessem acerca dele. Os alunos puseram-se a trabalhar e depois de um ou dois dias estavam prontos para dar seus relatórios. Mas Agassiz não apareceu.

Para passar o tempo reiniciaram seus trabalhos; observaram, dissecaram, experimentaram, e no fim de duas semanas, quando finalmente Agassiz apareceu, eles achavam que seu conhecimento sobre o peixe era completo. Mas os comentários breves do professor foram que haviam feito apenas um princípio, e de novo os deixou. Eles continuaram suas pesquisas e depois de alguns meses de investigação declararam que o peixe era o mais fascinante dos estudos.

Embora para a maioria de nós falte tempo para dedicarmo-nos ao trabalho de investigação profunda de cada lição, devemos tirar a seguinte lição do método de Agassiz: os melhores pensamentos — os que nos impressionam com maior força — são os que foram forjados no fogo de nossa própria meditação, virados e revirados na forja de nossa experiência pessoal. Só depois de pesquisar, ler e estudar duramente a lição é que a revista chega a ter valor para nós, porque chegamos a ela preparados.

Para que serve então a revista de Escola Dominical? Ela nos ajuda a organizar sistematicamente a matéria que obtivemos de nosso estudo pessoal do texto. A revista explica alguns detalhes que talvez nos tenham parecido obscuros. A revista nos provê novos pensamentos e ilustrações.

Ajunte mais material do que você acha que vai precisar para sua aula. A primeira guerra mundial foi ganha não apenas pelos soldados nos campos de combate, mas também pelas pessoas na retaguarda e em casa. Para cada soldado nas fileiras, e nas trincheiras, em luta, havia pelo menos dez pessoas que o sustentavam, como reservas, administradores, médicos, enfermeiros, engenheiros, técnicos, mecânicos, espiões, cozinheiros etc. Em casa havia um exército de pessoas trabalhando no esforço de guerra.

Da mesma forma, todo o material reunido para uma aula de quarenta e cinco minutos deve ser abundante, maior do que o professor precisará

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para o bom desenvolvimento de seu tema na aula. É que "o capital credor", ou a reserva de conhecimentos dá força a cada palavra que o professor disser. A confiança do professor se transmite à classe toda.

O que escreveu Dale Carnegie acerca do preparo de um discurso aplica-se ao preparo da lição de Escola Dominical: "Colha mais material, mais informações do que tenha necessidade de usar. Exagere, para inspirar confiança à sua classe e despertar nela o amor ao estudo, pois só quem conhece a fundo a matéria pode inspirar esse amor e confiança. Se você amar o estudo, saberá o efeito que tal amor exercerá sobre sua mente e coração e sobre suas aulas."

"Preparei centenas de vendedores, promotores e demonstradoras — disse Artur Dunn— e a principal fraqueza que descobri na maioria deles foi esta: não percebiam a tremenda importância de conhecer a fundo seu produto, e que precisavam adquirir esse conhecimento antes de tentar vender."

Uso linguagem figurada agora: Os professores da Escola Dominical são vendedores das bênçãos espirituais do reino de Deus. Portanto, devem dominar "o produto" do reino — a Bíblia — onde estão registrados os deveres, os perigos, os enganos, as bênçãos — enfim, as mercadorias espirituais relacionadas à nossa vida aqui e na eternidade.

Estude afundo a lição. Se, por exemplo, a lição se encontra na epístola aos Gálatas, estude a epístola inteira; se vai começar uma série de aulas acerca de um dos Evangelhos, seria excelente ler primeiro o Evangelho inteiro. Se a lição trata de um dos acontecimentos da vida de Josias, estude todos os capítulos nos livros de Reis e de Crônicas que falam de seu reinado, e também as profecias em Jeremias e Sofonias, que foram pronunciadas durante este período. Para que todo esse trabalho? Por que quanto melhor conhecermos o todo, mais compreensível nos será a parte.

Uma pessoa quer ser especialista em coração, e ingressa em uma escola de medicina. Começa esse aluno de imediato a estudar o coração? Não. Primeiro ele recebe, durante anos, aulas e mais aulas sobre o corpo humano; sobre todas as partes e órgãos. É lógico que deve ser assim, porque o coração está conectado tão intimamente com todo o corpo, que as funções e disfunções cardíacas não podem ser bem compreendidos se o médico não conhecer os demais órgãos. O estudante de medicina tem que

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"generalizar-se" antes que possa "especializar-se". Então, aplicando este princípio ao nosso caso: quanto mais conhecimento o professor tiver da Bíblia, mais estará capacitado a expor uma de suas partes.

Neste ponto surge talvez a pergunta: Como posso adquirir este conhecimento profundo?

Isto nos leva a tratar do preparo do professor. O professor eficiente de Escola Dominical deve adquirir os seguintes conhecimentos bíblicos: as histórias e incidentes que a Bíblia narra desde o Gênesis até o Apocalipse; o propósito e conteúdo de cada livro da Bíblia; a vida de Cristo e a de Paulo; as doutrinas da Bíblia; a geografia e os costumes bíblicos.

Como se obtêm tais conhecimentos? (1) O melhor método é fazer um curso de preparação de professores, na igreja local, se esta o tiver em funcionamento, ou num Instituto Bíblico. (2) Pode-se fazer cursos por correspondência. (3) O professor pode adquirir livros excelentes acerca dos temas mencionados acima, e estudá-los por si.

3. Escreva de modo completo os resultados de seu estudo

Este método estimula a sua memória. Também faz que os temas fiquem mais claros em sua mente. Discutiremos mais este assunto em um capítulo posterior.

4. Prepare sua aula em oração

Seu primeiro objetivo, como professor da Escola Dominical, não é de ordem intelectual, mas espiritual: a edificação do caráter cristão em seus alunos. Mas tentar partilhar conhecimento espiritual com êxito, sem o poder espiritual que vem pela oração, seria como tentar locar um órgão de tubos sem que haja eletricidade. A necessidade da oração foi explicada por Suter. Embora o que ele disse fosse dirigido a uma classe de rapazes, o princípio é aplicável a todas as pessoas.

"Durante este curso você vai fazer 35 impressões nas mentes destes jovens. (Em nossas Escolas Dominicais, em que as classes se reúnem todos os domingos do ano, o número de impressões seria 52). Sendo você um guerreiro do Senhor, a Espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, foi posta em suas mãos e o Senhor lhe pede que desfira 35 golpes contra o inimigo do reino de Deus. Cada vez que você se reúne com sua classe

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trava-se uma batalha. São experiências especiais para os jovens, porque o curso é único no gênero. Tudo vai depender de como você se comportar ao dirigir sua classe. Se você o fizer nobremente, porá nas almas dos rapazes 35 ímpetos na direção da lealdade a Cristo. Você porá suas almas em contato com o poder divino que os salvará da calamidade no dia da provação.

"Ao contrário, se você dirigir mal sua classe, por falta de preparo, se você titubear, sem respostas adequadas durante os 45 minutos de cada aula, se o seu trabalho carecer de propósito e de lógica, se você não tiver habilidade, se você ficar nervoso ou distraído, com preguiça ou inseguro, você não somente perderá sua oportunidade, mas pior ainda, poderá causar um dano irreparável.

Estou dizendo que por causa da negligência do professor; ou por causa de sua moral indigna de confiança; ou por causa de seus atos, que falam mais alto do que suas palavras, dir-se-á que a comunidade conhecida como adeptos da religião cristã tem tão poucos méritos, que não injeta entusiasmo em seus alunos nem os motiva a exercer seus melhores esforços no aprendizado. O professor é um exemplo vivo, porque ele ensina muito mais pelo que ele é do que pelo que sabe.

"O professor não pode 'apagar-se', isto é, deixar de exercer sua influência em certo domingo, só porque não se sente bem preparado para sua tarefa, pois, cada vez que os alunos se reúnem, recebem as influências dele, as quais ele exerce ainda que não pronuncie uma palavra. Terá de influenciá-los no próximo domingo, queira ou não. O importante é que a influência que o professor exerça seja dirigida para Cristo. Por isso é preciso ter certeza de estar preparado. Mas você, professor, não poderá executar esse trabalho sem a ajuda de Deus."

5. Prepare a si mesmo

O que foi dito acerca da oração nos faz pensar no que é o ensino na Escola Dominical. O professor é mais importante que a própria aula, o trabalhador é mais importante que seu trabalho. Emerson disse: "Deixe-me escolher o professor e não importa quem escolha a matéria." A vida do professor é que dá força a seu ensino; o que ele é, influi com mais força sobre a classe do que o que ele diz. "Use a linguagem que quiser — disse o famoso escritor — ela nunca dirá mais nada além daquilo que você é."

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O professor deve perguntar a si mesmo: Sou um exemplo da verdade que tento inculcar em meus alunos? Procuro ensinar-lhes a ser pacientes? E eu, sou paciente? Esforço-me para ensinar-lhes a orar? Eu oro? Baseado neste princípio, um homem que havia sido convidado a falar a um grupo de professores acerca do tema "Conduta", falou da conduta dos professores e obreiros, em vez da conduta dos alunos. O que é o arco para a flecha, é o professor para o aluno.

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Capítulo 5

O Objetivo da Lição

Depois que o professor tiver uma compreensão clara do assunto da lição, deverá determinar o objetivo particular da aula. Isto quer dizer que ele deve perguntar a si mesmo: "Que resultado espiritual devo conseguir com esta lição na vida dos alunos?"

Se compararmos o processo de escolha do tema da lição com uma viagem, diremos que preparar a bagagem representa dominar a matéria da lição; escolher a rota e modo de transporte corresponde a escolher o método de ensino; e determinar o destino e as atividades depois de chegar, representa o objetivo, ou propósito da lição. Uma aula de Escola Dominical é uma viagem com um propósito definido, e tem que ser planejada cuidadosamente. O professor que não traça uma trajetória definida, em geral não chega a lugar nenhum.

É comum o professor falar muito a respeito da lição sem alcançar um objetivo. Estamos todos familiarizados com o ensino exemplificado pela ilustração de Clarence H. Benson:

O professor: João da Silva, leia o primeiro versículo.

João da Silva lê: E depois de todos morreu também a mulher. Na ressurreição pois, de qual dos sete será aquela mulher?

O professor: Há alguém de vocês que possa dizer o que significa isso?

José de Souza: Ser bom.

O professor: Isso mesmo. José, leia o próximo versículo.

Benson pergunta: Quanto tempo duraria uma escola secular se fosse dotada de professores deste tipo?

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O método usado nesse exemplo não produz um ensino verdadeiro; apenas vai esbarrando em tantos ensinamentos quantos versículos há no texto da lição. O resultado é que o aluno sai com a vaga lembrança de uma ou duas dezenas de fatos sem relação alguma entre si, em vez de levar incrustrada na mente — como um diamante num anel — uma lição proveitosa, estimulante, uma verdade evangélica.

Alguém perguntará: "A lição é tudo que devemos dar ao aluno durante os 45 minutos de duração da aula?" O fato é que tudo que alguém pode compartilhar, de modo eficaz, é uma lição.

Certo especialista crê que um professor pode dissertar somente acerca de um ponto, em uma aula de uma hora. Por exemplo, que aconteceria se um indivíduo tentasse ver toda a cidade de São Paulo em um dia? Veria tanta coisa que não veria a cidade, ao contrário do que parece. Seria melhor que ele se concentrasse em um assunto, e fizesse planos de passar o dia visitando, digamos, as igrejas ou universidades mais famosas.

Um perito em Escola Dominical disse: "É melhor ensinar uma verdade de 12 maneiras diferentes, ou vê-la de 12 pontos de vista, do que tentar ensinar 3 ou 4 verdades em uma lição."

É impraticável tentar ensinar muitas verdades em uma única lição. O carpinteiro ao fazer uma junção fixa-a com uns poucos pregos. Fará que os pregos atravessem as peças e lhes vergará as pontas. Ele sabe muito bem que muitos^ pregos racham a madeira e põem a perder ajunção. É claro que isto não quer dizer que se deva consumir os 45 minutos falando de um tema, sem variações, ou eliminando detalhes interessantes e incidentais. Quero dizer que o tema principal da lição será como o Sol, ao redor do qual se movem todos os pensamentos subalternos, como os planetas. Quando os invasores europeus se defendiam dos ataques dos índios, na época da colonização da América, os soldados recebiam ordem de prender ou matar o cacique ou chefe; sabiam que capturar o chefe era como capturar a tribo inteira. Da mesma forma a tarefa do professor e da aula é perseguir o objetivo da lição. Este é o seu trabalho, como professor. Naturalmente isto nos leva à seguinte pergunta:

COMO DETERMINAR O OBJETIVO DA LIÇÃO?

1. Estudando minuciosamente o texto da lição

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Por exemplo, se a lição encontra-se em João 15, o professor provavelmente decidirá: "Tenho que gravar nos corações e mentes de meus alunos a necessidade imperativa de estar em contato perfeito com Cristo através da oração e da leitura da Palavra."

Se a lição encontra-se em Mateus 6:5-15, talvez o professor dirá a si mesmo: "Minha tarefa principal durante estes 45 minutos será inspirar em meus alunos um desejo intenso de pegar suas Bíblias e procurar um lugar onde podem estar a sós com Deus."

Mas suponhamos que a lição não seja prática, mas de caráter descritivo, e se destina a servir de introdução à série de lições para o trimestre. Por exemplo: uma lição que descreve a infância e educação do apóstolo Paulo. O professor talvez diga a si mesmo: "Esta é a primeira lição da série acerca da vida de Paulo. Tenho de dar aos alunos uma idéia clara e vivida da vida, lar e educação de um rapaz judeu naqueles dias, e então mostrar-lhes que Deus preparava Paulo para seu trabalho futuro."

Assim vemos que o propósito principal do texto da lição é o de prover a maneira de imprimir uma verdade preeminente aos corações e mentes dos alunos. "A lição é um veículo para levar a mensagem — escreve Marion Lawrence. — A lição é um vasilhame; a mensagem é o azeite. A lição é o trem; a mensagem é a carga. O aluno deixará para trás a lição mas levará consigo a mensagem. Somente a mensagem é que pode transformar vidas. Quantas vezes ouvimos homens e mulheres na igreja dizerem que não se lembram de nenhum fato ensinado por seus professores na Escola Dominical; mas sem dúvida se recordam do efeito de seu ensino em suas vidas."

2. As necessidades dos alunos determinarão o objetivo da lição

É trabalho do professor conhecer os alunos de sua classe: suas fraquezas e tentações; o que os entusiasma; seus interesses; e as condições de seu lar e escola pública. Colocando este conhecimento prático e a matéria da lição lado a lado, o professor será capaz de traçar o objetivo da lição para o próximo domingo.

Philip Howard, em seu livro acerca das ferramentas do professor, faz umas sugestões valiosas neste particular: "Há várias maneiras pelas quais

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você pode estudar os alunos de sua classe para averiguar seus interesses, suas características, e o caminho direto para a alma e mente de cada um. Interesse-se pelo lar de onde vêm, como são seus pais, que tipo de quadros ou retratos há nas paredes, as revistas sobre as mesas, os livros que a família lê, a ordem ou desordem da casa. Fale com cada aluno de sua classe, individualmente, acerca dos livros e jogos de que ele mais gosta, seu trabalho, planos quanto à escola, seu lar, suas atividades e os planos para sua vida. Inteire-se de quem são os amigos íntimos do aluno. Retenha em sua memória ou anote alguma inclinação moral que se manifeste em conversas na classe ou fora dela. Talvez ouça alguém de sua classe dizer que a mentira às vezes é "um mal necessário". Pode ser que não seja possível dialogar neste momento, mas você já tem um reflexo de seu caráter e sabe de que deve tratar. Estude os rostos. Note sinais triviais de mau humor, de suspeita, de pensamentos frívolos e baixos e anote com igual cuidado os bons modos, o bom humor e o olhar franco e aberto."

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Capítulo 6

O Plano da Lição

Um escritor relata as seguintes impressões recebidas durante um discurso que ouviu certa vez: "Ele conhecia seu tema a fundo, e também muito mais do que pudesse usar; mas não havia preparado seu discurso. Não se havia aprofundado no assunto. Não o tinha organizado de maneira ordenada. No entanto, com a coragem da inexperiência, mergulhou descuidada e cegamente em seu discurso. Não sabia aonde ia, mas estava a caminho. Logo, sua mente embaralhou-se e o banquete mental que ele nos serviu também foi embaralhado. Serviu-nos o sorvete primeiro, e depois colocou a sopa diante de nós. O peixe e os vegetais vieram mais tarde. Por último, serviu algo que parecia uma mescla de sopa, sorvete e uma grande tainha."

Certamente nenhum professor dedicado gostaria que se dissesse isto de uma de suas aulas. Portanto, depois de familiarizar-se com o assunto da lição e de determinar seu objetivo, o professor deve preparar a matéria de maneira lógica e ordenada para que possa produzir efetivamente o resultado planejado. Este é o tema do presente capítulo.

Vamos observar um professor em seu trabalho e ouvi-lo enquanto ele prepara sua lição para o próximo domingo, a qual se baseia, digamos, em Mateus 6:5-15. Ele dobra duas folhas de papel em forma de folheto para que caibam dentro da revista. Havendo esclarecido o assunto em sua mente, e lido o texto com atenção, prepara-se para fazer anotações. É claro que não deve depender inteiramente de seus apontamentos enquanto ensina; ele apenas dará uma olhada de vez em quando no esboço. O propósito principal do esboço é fixar a lição na mente de modo lógico e ordenado. É conveniente escrever bem nítido, e vale a pena você guardar esse esboço bem preparado, se além de professor também é pregador.

A maneira mais simples e prática de organizar um esboço de lição é seguir os três passos seguintes:

1. Introdução (o princípio).

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2. Apresentação (o progresso ou desenvolvimento).

3. Conclusão (o fim ou recapitulação).

O professor escreve no papel com maiúsculas o título: O CRISTÃO EM ORAÇÃO, e sob esse título as referências bíblicas da lição, a data e o tema da série de lições. A seguir escreve com maiúsculas:

1. INTRODUÇÃO

Um professor que obteve grande êxito disse com razão: "O princípio e o fim: Estas são as partes mais difíceis de fazer-se com perfeição em quase todas as atividades." Por exemplo, em uma celebração social, os momentos mais embaraçantes não são os da chegada e os da saída, que precisam ser bem caprichados? Em uma entrevista sobre negócios, o mais difícil não é a apresentação, e o encerramento, que devem ser perfeitos? O mesmo acontece no ensino na Escola Dominical.

O propósito da introdução e apresentação do assunto é criar uma brecha na mente e coração dos ouvintes; o propósito da conclusão é regravar a lição depois que a receberam. E como a introdução consegue seu propósito? Captando a atenção e interesse dos alunos.

"Grande parte do êxito da aula depende de se começar apropriadamente — escreve Lawrence. — O professor não deve descarregar sua aula em cima dos alunos, como se despejam maçãs em uma cesta. O começo deve ser como um anzol com uma isca apetitosa, para que seja engolido logo no início; mas deve ser também como um arpão, que prenda o aluno e o mantenha fisgado." Estes são os minutos mais críticos para o professor, pois é quando conseguirá ou não despertar o interesse e fixar a atenção.

Nesta seção do esboço, o professor tem três lembretes sublinhados:

A. Faça o aluno pensar

B. Desperte seu interesse

C. Declare o tema da lição

Ampliaremos cada um destes pontos.

A. Faça o aluno pensar

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(Refere-se aos pontos um e dois do segundo capítulo.) Nesta parte da lição o professor começará com as idéias do aluno mesmo, porque ensinar é explicar verdades novas com a ajuda de verdades já compreendidas. Weigle, em seu grande livro sobre o aluno e o professor, escreve: "Não se deve introduzir material novo nesta parte. Pode-se refrescar a memória dos alunos invocando ideias muito claras, já adquiridas, e que têm relação com as novas, ou chamar a atenção deles para coisas que tenham lido, ou fazê-los recordar-se de experiências da vida real. Seja qual for o assunto, deve-se perguntar: Esta ideia ajudará os alunos a compreenderem a lição de modo correto?"

Ouçamos os pensamentos do professor: "Que é que eles já conhecem acerca deste tema? Sobre os fatos já conhecidos eu posso acrescentar material novo. Como despertar-lhes o desejo de ir mais longe, de aprender e saber mais? Quase todos estavam presentes no domingo passado, e ouviram o missionário descrever as rodas de oração do Tibete. Os tibetanos oram fazendo girar a roda em que estão coladas as suas petições. Cada giro representa uma série de orações. Eu lhes perguntarei o que pensam deste tipo de oração. Então lhes mostrarei quão importante é conhecer a verdadeira forma de orar, conforme o ensino da Palavra de Deus na lição de hoje.

"No caso de os alunos estarem desatentos, ou preocupados com outras Coisas, e que eu tenha dificuldade em captar e reter sua atenção, eu poderia contar-lhes a seguinte história: 'Durante uma de suas reuniões evangelísticas, D. L. Moody, o famoso pregador, pediu a um irmão que orasse. Ele começou a orar, mas aparentemente não sabia terminar. Cinco, dez, quinze minutos se passaram. As pessoas começaram a inquietar-se. Finalmente, Moody se levantou de hinário na mão e anunciou: "Cantaremos agora um hino enquanto o irmão termina sua oração." Foi ótimo o evangelista fazer isso, porque na congregação havia um jovem inteligente que estava cansado da oração e ia retirar-se. Mas como ele mesmo disse depois, ficou impressionado pelo bom senso de Moody, e por isso ficou, e foi ao altar quando houve o apelo. Depois tornou-se um missionário conhecido pelo mundo todo.'

"Tenho certeza—concluiu o professor—de que eles compreende- riam o ponto central dessa historieta e apreciariam o valor de se conhecer a verdadeira forma de orar. No entanto contarei este caso apenas se houver

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uma emergência, porque é possível que os alunos se fixem mais na parte humorística da história que na moral da lição."

B. Desperte o interesse do aluno

Até este momento fizemos um contato com o aluno. E como já apresentamos o tema, nossa próxima tarefa será manter o aluno tão interessado no assunto que sua atenção seja permanente. Como se pode fazer isto? O conhecimento de uma verdade importante a respeito da natureza humana será útil neste caso. Cada descendente de Adão no fundo é egoísta. Não que todos se rendam a esse egoísmo, mas esse instinto está sempre presente. Em que se interessa mais o ser humano, a maioria das pessoas? Em si mesmo, claro!

Por exemplo, se você soubesse que o jornal da tarde conteria um parágrafo que falasse de você, que parte do jornal você leria primeiro? A resposta é evidente. Um aluno, conhecedor da natureza humana, disse que a maioria das pessoas gostaria mais que você falasse algo bom delas, em vez de dissertar acerca dos dez homens mais famosos da história.

Não menciono isto para rirmos do fato de que todos estamos muito interessados em nós mesmos, mas para mostrar como este conhecimento pode servir a um bom propósito. Até o Senhor apelou para o interesse próprio quando quis ensinar o amor a nosso irmão, dizendo: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo." Vemo-lo também na regra áurea: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o vós também a eles."

Como podemos usar este princípio para interessar o aluno na lição? Mostrando-lhe o valor da lição, o que aquele conhecimento significa para ele mesmo.

Ouçamos ainda a ponderação do professor: "Se quero reter a atenção dos alunos sobre este tema por 35 ou 40 minutos, tenho que criar neles um desejo ardente de aprender a lição. Se consigo interessá-los na lição e motivá-los a aprendê-la, estarão prontos para aceitar a verdade. É natural que estejam interessados em adquirir poder. Então, eu lhes explico que a oração é a maior energia do universo, que a oração move a mão que rege o mundo. Talvez eu deva contar-lhes uma ilustração que mostra urá milagre

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real que a oração produziu. Tenho que fazê-los compreender com clareza o que a oração pode significar em suas vidas."

C. Declare seu tema com clareza

O professor apresentou o tema a seus alunos e conseguiu despertar o interesse deles; agora ele anuncia o título da lição que será ensinada.

"O tema deve ser breve e atraente — escreve Weigle. — Deve ser fácil de ser lembrado e servir como guia para uma recapitulação nas lições seguintes. Sempre que possível, deve-se anunciar o nome das personagens envolvidas, e o assunto da lição: A obediência de Abraão, disposto a sacrificar Isaque'; A bondade de José para com seus irmãos': A batalha de Josué contra cinco reis' são exemplos.

"A lição que estamos usando como modelo nós a poderíamos intitular: 'Cristo nos mostra a falsa e a verdadeira forma de orar' ou 'Jesus nos ensina a orar."'

O objetivo da lição, que é determinado pelo professor (veja o capítulo anterior), não deve ser declarado à classe. O professor lhes diz o que irão estudar, mas guarda para si o objetivo que se propôs atingir.

Antes de terminar esta parte do esboço, são necessárias duas sugestões: (1) Talvez pareça muito longo o tempo dedicado à introdução da lição. Mas a introdução deve ocupar somente uma pequena fração do tempo da lição. Se planejar cuidadosamente a lição, o professor será capaz de abranger muito material, e ao mesmo tempo ser breve e enfatizar o ponto principal. (2) Nesta parte da lição deve-se aproveitar a atividade dos alunos, e encaixá-la no objetivo proposto. É preciso fazer-lhes perguntas inteligentes, de modo que expressem seus pensamentos e conhecimentos.

Tendo preparado a introdução, o professor cuidará da parte principal da lição, conhecida como:

II. APRESENTAÇÃO

Nesta parte o professor:

A. Resume a lição

B. Desenvolve a lição

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C. Ilustra a lição

A. Faça um resumo da lição

Um guia que quer conduzir um grupo de turistas pela parte mais bela do campo leva-os primeiramente ao alto de um monte, para que possam contemplar a paisagem com a visão de um pássaro. Os turistas deverão ver um panorama geral, toda a beleza da área que irão atravessar com vagar. De maneira semelhante o professor apresenta os pontos mais importantes da lição, para que o aluno tenha uma visão geral clara e abrangente do assunto.

Talvez você fique perplexo, não sabendo o que fazer com essa coisa misteriosa conhecida pelo nome de "esboço". Pois bem, o esboço tem um propósito: ajuda o professor a apresentar os fatos essenciais da lição de um modo ordenado.

Portanto, o professor prepara o seguinte esboço, que supomos esteja na revista ou em algum guia do professor:

I. Maneiras erradas de orar (Mateus 6:5, 7)

A. O erro dos judeus: Vangloriar-se.

B. O erro dos gentios: Repetições tolas.

II. Maneira correta de orar (Mateus 6:6, 8)

A. Objetivo: Orar para ser visto e ouvido por Deus.

B. Estratégia: Comunhão com a Infinita Inteligência.

III. Um modelo: O Pai Nosso (Mateus 6:9-15)

A. Invocação

B. Deus Seu nome Seu reino Sua vontade

C. O homem Necessidades materiais Perdão

Libertação

D. Doxologia

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O professor não deve ler seu esboço perante a classe de maneira rígida, e ao pé da letra. O esboço é um esqueleto que deve ser revestido com a carne de comentários oportunos. Por exemplo: "Consideremos primeiro algumas formas incorretas de orar, mencionadas por Cristo: Orar com o propósito errado de fazer alarde diante das pessoas, ou orar de maneira tola, repetitiva, como um disco que repete sempre a mesma coisa.

"Veremos que há duas correções para estes erros: Primeira, a oração secreta na presença de Deus. Segunda, a certeza de que ao nos dirigir a Deus, estamos falando à Pessoa Inteligente. Depois disto, estudaremos um modelo de oração inteligente, comumente conhecida como o Pai Nosso, a qual nos ensina a maneira correta de nos aproximarmos de Deus."

B. Desenvolva a lição

Chegamos à parte principal da lição na qual o professor, como hábil artesão, começa a trabalhar com os fatos ajustando-os de modo adequado, esclarecendo pontos difíceis, e desenvolvendo a aula para que produza o resultado desejado.

Como é que o professor realiza uma tarefa tão complicada? Depende do método que usar. Se a professora dirige uma classe de crianças, a base da aula é a narração. A professora terá de dominar a arte da narração. Se for usado o método de dissertação é necessário um esboço detalhado.

Imaginemos que o professor tenha uma classe de adolescentes ou adultos. É provável que use o método de perguntas. Nesse caso, o melhor esboço será o que se apresenta em forma de perguntas preparadas de antemão, que provoquem novas perguntas da parte do aluno. Cada uma dessas perguntas constitui o foco principal para a discussão de algum tema importante. Você já atirou alguma vez uma pedra nas águas de um lago plácido, e observou como se produzem ondas em círculos que se dispersam na direção das margens? Isto ilustra o efeito destas perguntas na fase do desenvolvimento da lição. São perguntas que estimulam a classe a aprofundar-se no tema e desenvolvê-lo. Novas perguntas podem ser feitas para obter-se respostas mais categóricas.

Para ilustrar: o professor prepara sua lista de perguntas (estão em negrito).

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(1) Que é um hipócrita? (Note o versículo 5.) Temos aqui o princípio da lição sobre a hipocrisia. Esta pergunta também ativará a mente dos alunos e os fará lembrar-se de qualquer informação ou dados referentes ao tema. O professor hábil primeiramente utiliza as ideias que os alunos já tenham na cabeça. Depois que a classe tiver tido um momento para pensar na pergunta e algumas respostas tenham sido dadas, o professor pode "tirar sutilmente" da classe (recorde-se da definição de "educar") respostas corretas baseadas em perguntas como as seguintes: Podemos aplicar o termo "hipócrita" a um seguidor de Cristo que num momento de fraqueza caiu em pecado? Aplicaríamos a um membro da igreja que nunca foi verdadeiramente convertido? Chamaríamos assim a alguém que um dia se converteu, mas agora está vivendo em pecado? Olhe o versículo 5, e dê a descrição que Jesus faz de um hipócrita.

A classe já está pronta para outra pergunta.

(2) Você acredita que o Senhor está proibindo a oração pública? (Veja o versículo 6). Esta pergunta é o princípio do novo tema; os alunos receberam algumas ideias que agora podem ser expostas e desenvolvidas mediante perguntas como as seguintes: Vocês poderiam me dar uma evidência que prove que Jesus cria na oração pública? (Como veremos a seguir, respostas como "sim" e "não" de modo algum são suficientes, pois não dão evidências de que os alunos estão raciocinando.) Se ao dizer "visto pelos homens", o Senhor não estava proibindo a oração pública, então o que estava proibindo?

Isto basta para ilustrar a natureza e o uso do esboço feito de perguntas. Ao deixar este tema, no entanto, deixe-me sugerir os seguintes tópicos intitulados "não se esqueça":

1. Não se esqueça do limite de tempo. Escolha perguntas que toquem os pontos básicos da lição.

2. Não se esqueça de seu objetivo. Faça com que as respostas contribuam para o cumprimento total de seu propósito. Se comparamos as atividades da aula a uma roda, o eixo representa o objetivo principal, os raios correspondem aos diferentes pontos da lição e a borda, à vida dos alunos.

C. Ilustre a lição

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Como meio de recapitulação voltemos à ilustração da edificação de uma casa:

1. Dominar a matéria e determinar o objetivo correspondem, digamos, a fazer um desenho da casa pronta, e elaborar a descrição detalhada da planta. Pode incluir a decisão quanto ao material que se há de usar.

2. A introdução da lição representa a abertura dos alicerces.

3. Resumir a lição é levantar as estruturas de concreto.

4. As perguntas correspondem às divisões revisadas. Pediu-se aos alunos que respondessem a algumas perguntas acerca do assunto.

5. Por meio de trabalhos práticos, por escrito, ou por meio de diálogo, o professor dará o acabamento à obra .

As ilustrações correspondem às janelas e às lâmpadas elétricas que iluminam as dependências da casa. As ilustrações esclarecem o tema, ajudam o aluno a compreendê-lo, e assim mantêm seu interesse. Por isso, é melhor o professor preparar uma lista de ilustrações. Não se consegue exagerar o valor das ilustrações na apresentação da lição. O tema da lição é tão importante que mais adiante dedicaremos um capítulo inteiro a ele.

Agora estamos prontos para o acabamento da casa, os retoques finais. Então chegamos à:

3. CONCLUSÃO

Na introdução colocamos os parafusos; na apresentação os apertamos, na conclusão os atarraxamos. Como o propósito da conclusão é garantir que a lição fique profundamente gravada na mente e no coração dos alunos, o professor chamará a atenção em dois sentidos:

Quanto à mente. Os pontos básicos da lição têm de "ser" resumidos para facilitar a tarefa de memorização.

Para averiguar se os alunos memorizaram as verdades compartilhadas, o professor lhes permitirá falar. Ele anuncia por exemplo: "Temos tempo para uma recapitulação breve antes que toque o sinal. Alguém pode dar-me o título da lição que escolhemos no princípio? Qual

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foi a primeira forma incorreta de orar que Cristo denunciou? E que solução prescreveu?

Qual foi o segundo método incorreto de orar que Cristo expôs? E qual a segunda solução? Diga qual foi a oração modelo que ele ensinou a seus discípulos. Alguém, por favor, mencione os pedidos quanto às coisas de Deus, e depois os pedidos quanto às coisas dos homens."

Quanto ao coração. Primeiro o professor criou na mente do aluno um desejo ardente de "saber". Agora, o professor se propõe uma tarefa mais importante ainda, que é criar no aluno o ideal firme de desenvolver esse conhecimento.

Um cientista muito conhecido disse certa vez: "A finalidade maior da vida não é conhecer, mas atuar." O conhecimento deve converter-se em ação. O que se disse a respeito da classe de homens tem utilidade para todos em geral: "Com muita frequência somos obrigados a deter-nos na teoria e nos conselhos, em nosso ensino. Nossas lições podem ter um sabor de algo fantasioso. Teorias e conselhos não é o que o jovem quer. Tal ensino falha quando colocado em contato com as verdadeiras responsabilidades e desafios da vida. Nenhum jovem quer meros conselhos nem meras teorias. O que ele mais almeja é a realidade. O que mais lhe interessa é a genuína atividade produtiva."

Apliquemos esta verdade à lição que estávamos usando como exemplo. O professor diz à classe: "A melhor maneira de aprender a nadar é nadando; a melhor maneira de aprender a patinar é patinando. Aprendemos executando. Pois a melhor maneira de aprender a orar é orando. Estou certo de que as lições que temos estudado chegarão a ser bênçãos constantes para nós, à medida que nos determinarmos a dedicar algum tempo diariamente à oração, meditação e leitura da Bíblia."

É impossível estabelecer regras seguras quanto ao método de aplicar a lição; tudo depende das circunstâncias e da direção do Espírito de Deus. Há vezes em que, se o professor ensinou bem, não é necessário fazer-se uma aplicação formal da lição; a Palavra mesma fará a obra. Outras vezes umas sugestões indiretas serão mais eficazes do que uma exortação direta.

Note como o Senhor aplicou a parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-27). Depois de narrar a história, o Senhor poderia ter feito uma

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aplicação direta, dizendo ao doutor da Lei: "O mero fato de você fazer tal pergunta: 'Quem é meu próximo?' já indica sua falta de amor ao próximo. Se você fosse uma pessoa verdadeiramente amorosa saberia por instinto que qualquer ser humano que necessita de sua ajuda ê seu próximo. Você manifestaria o mesmo espírito daquele samaritano, e você 'seria' a melhor resposta à sua pergunta."

Mas o Senhor usou uma aplicação indireta. Ele fez com que o interrogado se expressasse ao dirigir-lhe a pergunta: "Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos assaltantes?" Ele respondeu: "O que usou de misericórdia para com ele." Havendo interrogado o doutor da lei, Jesus reforçou a lição com o mandamento: "Vai, e faze da mesma maneira." Há uma admoestação nestas palavras — indireta. E o homem ficou com algo em que pensar por muitos dias.

Vemos que o Senhor fez com que o seu interlocutor respondesse à pergunta dele próprio. De modo semelhante o professor induz os alunos a expressar-se, como sugerimos em seguida: "Temos agora o conhecimento da forma de orar. Mas é suficiente saber orar? O conhecimento acerca da oração trará um avivamento? Então, o que é necessário para completar o conhecimento?" E a lição poderia terminar com a resposta: "Praticar o que se aprendeu: Orando"

O RESUMO

Deve-se calcular o tempo disponível ao preparar-se a aula, e ao colocar-se em ordem a matéria da lição. A aula pode ser comparada a uma viagem de navio, no fim da qual esperamos que o professor faça descer a escada e os passageiros desembarquem dentro do horário. A prática e a experiência ajudarão o professor a saber em que partes da lição deve colocar maior ênfase, e em que partes menor destaque, para que a aula se ajuste ao tempo que lhe foi determinado.

O esboço escrito pelo professor deve ser breve: um mero esqueleto da lição, que serve apenas para refrescar-lhe a memória. Fique bem claro que segundo o plano da aula, explicado neste capítulo, não se tenta restringir a liberdade do professor, obrigando-o a expor a lição de maneira inflexível e rígida. Trata-se antes de dar-lhe uma pauta, um guia para a organização de sua aula, uma apresentação ordenada da matéria que ele coligiu.

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"Embora o professor tenha preparado o melhor esboço possível — escreve Suter — pode ocorrer uma situação inesperada que o obrigue a desviar-se no rumo estabelecido. É certo que isto lhe acontecerá uma ou outra vez. Não desanime. Existem razões legítimas para você desviar-se. Talvez um aluno provoque uma discussão por causa de alguma pergunta importante que ele fez, e que exige uma resposta instantânea. Pode estar aí uma oportunidade de ouro. Lembre-se de que o propósito fundamental do ensino bíblico é influir na vida das pessoas.

Talvez seja necessário e prudente "sair dos trilhos" por um momento; mas é muito importante que tenhamos um trilho do qual possamos sair quando conveniente.

Percorremos uma longa distância neste capítulo. Olhemos para trás para ver, de relance, o plano da lição:

I. Introdução

Propósito: preparar a mente e o coração do aluno

A. Fazendo-o pensar

B. Despertando seu interesse

C. Declarando-lhe o tema

II. Apresentação

Propósito: Compartilhar os fatos principais da lição:

A. Resumindo a lição

B. Desenvolvendo a lição com perguntas, discussões e explicações

C. Ilustrações

III. Conclusão

Propósito: Resumir a lição e aplicá-la à vida com duas petições:

A. Uma petição dirigida à mente

B. Outra dirigida ao coração

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Capítulo 7

Mantendo a Classe Atenta

Neste capítulo, vamos considerar a importância e o significado de despertar e reter o interesse e a atenção da classe. O problema do professor e sua solução podemos resumir de maneira breve e simples:

1. Qual é sua tarefa? Gravar a lição na mente e no coração dos alunos.

2. Como se consegue isso? Primeiramente, despertando sua atenção.

3. Como o professor pode despertar a atenção? Apelando para o interesse.

4. Como conseguirá o interesse do aluno? Comparando a lição com coisas relacionadas ao aluno e que ele compreenda; em outras palavras, usando as ideias deles próprios.

Invertamos a ordem: Se o professor usar as ideias dos alunos, ganhará o interesse deles; se ele ganhar o interesse deles, reterá a atenção deles; e se ele conseguir reter a atenção deles, poderá compartilhar eficazmente a lição.

A ATENÇÃO

Que é atenção? Foi definida como "o direcionamento da atividade mental para um fato, uma emoção, ou um objetivo determinado". Um aluno atento é aquele que concentra e focaliza sua atenção de corpo e alma sobre o que diz ou faz o professor com referência à lição. Dizemos "lição" porque é possível que o aluno fixe o olhar no professor, numa atitude de aparente interesse, enquanto sua mente pode estar a mil quilômetros de distância. Diz-se que "um aluno pode olhar sem ver, escutar sem ouvir, e falar sem ter compreendido. Ele senta e sonha. A mente tem entradas interiores e exteriores. As entradas exteriores vão até 'o pátio' da mente. Um grande número de alunos mantém fechadas as portas interiores da mente a muitos dos ensinos ministrados pelo professor."

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Durante um culto evangélico em uma tribo africana, uma mulher quase não tirava os olhos do rosto da missionária. Parecia que ela ouvia com atenção, extasiada. "Essa mulher está comovida com a mensagem", pensava a missionária. Depois do culto ela aproximou-se da mulher para analisar mais a fundo essa demonstração de interesse. Enganara-se, todavia, a missionária, porque a mulher pagã lhe disse: "Estava olhando esse seu dente de ouro. Diga-me, por favor, onde o conseguiu?" Havia manifestado um grande interesse, não, porém, pelo tema.

Há dois tipos de atenção: a voluntária e a espontânea. A atenção voluntária produz-se quando o ouvinte se obriga, mediante um ato de vontade, a prestar atenção à matéria. Não é uma atitude permanente; porque ocorrerá uma de duas coisas: o aluno passará a ter interesse espontâneo ou perderá totalmente o interesse. É mais provável que perca o interesse forçado.

A atenção é espontânea quando não necessita de esforço. Todo e qualquer assunto, que não seja o do presente momento, está como que morto, nesse instante, e o interesse do aluno se mantém sem esforço consciente de sua parte. A atenção espontânea é a melhor, e é inspirada pelo interesse verdadeiro.

Se o professor não consegue que sua lição seja interessante, o aluno provavelmente deixará que sua mente vagueie para longe do tema. A razão disto é que a mente não pode se concentrar por muito tempo na monotonia, em um objeto inalterável. A variedade e a mudança são essenciais ao interesse. Portanto, o professor tem que percorrer a lição com graça, mostrando seus diferentes aspectos. Falando figuradamente, ele usa o telescópio, para que os alunos vejam a lição com a visão panorâmica de um pássaro; e passa a usar o microscópio para mostrar a beleza escondida em uma pequenina parte do texto; chegando a uma esquina escura da historieta, acende a lanterna da ilustração ou talvez use o pincel e tintas para pintar numa tela um quadro rápido de uma cena bíblica. Todos estes recursos, e outros de natureza similar, unem-se na mente do professor para que a lição seja interessante.

Alguém com muita sabedoria disse que dar uma aula é transformar o ouvido do aluno em olho. Creio que é mais ainda: o professor competente faz que o aluno ouça, e veja, e sinta odores, e deguste e apalpe os

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elementos dramáticos de sua aula. É absolutamente necessário que o professor desperte e retenha a atenção da classe, porque a atenção é o único caminho por meio do qual o professor pode transmitir suas ideias. Dizer que a classe não está prestando atenção, é o mesmo que dizer que a classe não está aprendendo nada, e que o professor está falando em vão.

Além disso, é muito prejudicial ensinar quando os alunos não prestam atenção. "Cada vez que você permite desordem, ou frivolidades, estará ajudando a rebaixar o nível mental e corromper o caráter de seus alunos — escreve o professor Fitch. — Você os estimula a adquirir um mau hábito. Na verdade você está fazendo algo que os impede de chegarem a ser leitores pensantes, observadores diligentes e ouvintes interessados."

O INTERESSE

Obter o interesse do aluno é de suma importância na educação; um pedagogo afirma que o interesse não é um meio, mas o objetivo da educação. O aluno talvez se esqueça de inúmeros fatos que lhe foram ensinados, mas se o professor lhe ensinou de um modo tal que fez o aluno entender que a Bíblia é o livro mais maravilhoso do mundo, e que a vida cristã é a vida mais elevada para o ser humano, atingiu seu propósito.

Suponhamos que alguém dê um curso de seis meses sobre o Antigo Testamento, um curso de preparação de professores. Podemos estar certos de duas coisas: primeira, que nem todos os fatos do Antigo Testamento serão expostos neste curto período; segunda, que os alunos esquecerão muitos dos detalhes. Mas se no término do curso os alunos estiverem entusiasmados com o plano divino, com o poder e a beleza da Palavra; se estiverem conscientes de sua própria falta de conhecimento e desejosos de saber mais, esse curso terá atingido sua finalidade mais nobre.

O aluno está cheio de ideias, desejos e impulsos, que se podem classificar como interesses. Estes podem estar voltados para Deus e para as coisas espirituais, ou ao contrário, seus interesses podem estar voltados para o maligno, para o mundo e para as coisas da carne. A tarefa do professor da Escola Dominical é provocar no aluno forte interesse pelas coisas de Deus.

Considere o seguinte: Durante cinco dias da semana o aluno assiste a aulas de matemática, história, geografia, ciências e outras matérias.

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As aulas são ministradas por professores que lhes dão vida e interesse. No domingo o aluno vai à igreja e escuta uma falação seca, inanimada e formal do evangelho. Qual é o resultado? É provável que chegue à conclusão de que a matemática, a história geral, a geografia e outras matérias são de maior importância e interesse, e que o cristianismo é algo insípido e desprezível.

Por isso, percebe-se que o professor tem de fazer mais do que interessar os alunos; tem que interessá-los no que é verdadeiro. Mais do que fazer com que a aula seja interessante, o professor terá de interessar a classe na lição. Se o professor conta uma história engraçada que não tem relação com a lição, o aluno se recordará da história e se esquecerá da lição. Há casos especiais, porém, em que poderá ser necessário que o professor conte uma história engraçada.

Escreve Weigle: "O professor que começa a dar aulas a um grupo de rapazes zombeteiros, e a professora que vai lecionar a um bando de garotas egoístas, que riem sem motivo, primeiro terão que conquistar seus alunos. Conquistá-los da melhor maneira possível. Terão que estabelecer boa comunicação pessoal com os alunos, fazer-se simpáticos, antes de poder comunicar a lição. No processo de cativar os alunos, o professor poderá precisar usar de energia, dosada com muito amor. Que ele não precise utilizar o martelo, a serra e o machado, que usualmente o motorista de caminhão carrega em viagem. São ferramentas de emergência, a que recorre somente para ajudar alguém em caso de colisão, ou algum incidente desastroso."

VENDO AS COISAS DO PONTO DE VISTA DO ALUNO

De que maneira um assunto ou atividade se torna interessante para alguém? Quando se dá a essa pessoa a oportunidade de expressar suas ideias a respeito desse assunto. Por isso o ensino que interessa é o que apela às próprias ideias do aluno. (Referência ao capítulo dois.) O propósito é:

1. Fazê-lo compreender a verdade.

2. Fazê-lo aceitar a verdade.

1. Faça com que os alunos comecem a entender a verdade apresentando a introdução da lição em termos e ideias que reflitam as experiências deles mesmos.

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Para interessar o aluno temos que compreender seu ponto de vista e ver a verdade através de seus olhos. O que disse John Adams com respeito ao pregador é aplicável também ao professor: "Mostre-me um pregador de êxito, e eu lhe mostrarei um homem que é capaz, metaforicamente, de estar de pé no púlpito e ao mesmo tempo estar sentado entre suas ovelhas. Ele se põe no lugar de seus ouvintes e prega levando em consideração o modo de as pessoas verem e sentirem as coisas." Da mesma maneira o professor tem que ver as coisas através dos olhos de seus alunos, e ficar no lugar deles.

Imagine uma classe de rapazes. O professor é um homem de olhar um tanto austero. Está sentado de olhos fixos na revista do professor. Um dos jovens consulta o relógio; dois outros estão engajados numa conversa animada. Um terceiro, de semblante aborrecido, está murmurando: "Esse velho está fora da realidade, não sabe o que interessa aos jovens." Pode ser que esse professor tenha algum interesse na lição, mas fica muito evidente que os alunos não têm.

Isso não acontece ao professor que prepara sua lição tendo em mente a pergunta: "Que conhecimento tem o aluno acerca do que explicarei hoje que o ajude a compreender seu significado?" Estudemos alguns exemplos relacionados a este princípio.

O Mestre Divino explicava a verdade do ponto de vista de seus ouvintes. Ele veio com uma mensagem que encerrava as verdades mais profundas a respeito de Deus, do homem e da vida humana. Como esclareceu estas verdades aos indoutos galileus? Dizendo-lhes que o reino de Deus era semelhante a algumas coisas que eles já conheciam:

* O reino dos céus é semelhante a uma semente de mostarda.

* O reino dos céus é semelhante ao casamento de um rei.

* O reino dos céus é semelhante ao homem que semeou a boa semente.

* O reino dos céus é semelhante a uma rede.

Estude a maneira como ele chamou André, Pedro, Tiago e João para o serviço ativo (Mateus 4:18-20). Poderia ter dito: "Deixem seu emprego, e tornem-se meus discípulos. Vou ensinar-lhes o trabalho de persuadir os homens a abandonar o egoísmo e o pecado e viver a vida reta para o

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serviço de Deus." Isto teria expressado o que ele queria dizer, mas nosso Senhor Jesus tinha um modo de apelar mais direto, com mais motivação. Sabendo que estes homens eram pescadores dedicados a seu trabalho, ele disse: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens."

Que melhor maneira poderíamos imaginar para chamar pescadores à obra missionária! O Senhor conhecia "o ponto de contato" com estes homens, e relacionou seu trabalho, que para eles era novo, com uma ocupação na qual eles haviam estado quase a vida toda.

"Pescadores de homens!" Pedro deve ter raciocinado logo: "Eu sei o que ele quer dizer. Temos trazido os peixes da vida para a morte; agora vamos tirar os homens do mar da maldade, tantas vezes descrito por nossos profetas (Isaías 57:20), e trazê-los da morte para a vida."

O fato de que "imediatamente eles deixaram as redes, e o seguiram", indica que o chamado do Senhor tocou suas mentes e corações.

A seguinte lista de perguntas (citada por Schmauk) demonstra como um tema difícil pode tornar-se compreensível a uma classe de crianças. O professor está comentando a oração de arrependimento de Davi, registrada no Salmo 51.

— Davi era mau porque cometeu muitos pecados. Tinha o coração manchado. No entanto ele era bom porque estava orando a Deus. Um homem pode ser bom e mau?

— Não.

— Vamos ver. Quando o ferreiro chega em casa, vindo do trabalho, está limpo ou sujo?

— Sujo.

— Mas depois que toma banho e se senta para comer, e depois ler seu jornal, ainda está sujo?

— Não.

— Agora está limpo?

— Sim.

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— Então, o homem pode ser limpo e sujo. Mas, pode estar limpo e sujo ao mesmo tempo?

— Não.

— Pode estar sujo em uma ocasião e limpo em outra?

— Sim.

— Então, o que é que transforma um homem sujo em limpo?

— O lavar-se.

— O que foi que Davi quis que Deus fizesse com seu coração?

— Lavá-lo, limpá-lo.

— O salmo não nos diz se Deus o lavou?

— Sim e não.

— Bem, Deus pode fazer qualquer coisa que deseja?

— Sim.

— Vocês acham que Deus quer que os homens tenham corações sujos?

— Não.

— Então, será que Deus tinha vontade de limpar o coração de Davi?

— Sim.

— E ele podia fazer qualquer coisa que quisesse?

— Sim.

— Davi quis que Deus lavasse seu coração imediatamente; Deus fez isto de imediato?

— Sim.

— Quanto tempo Deus precisou para lavar o coração de Davi?

— Num instante, logo, imediatamente.

— Quanto tempo necessita o ferreiro para lavar-se?

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— Talvez cinco minutos ou talvez dez.

— Será que Deus precisará de tanto tempo assim?

— Não.

— Deus não precisa de nenhum tempo para fazê-lo, não é?

— É.

— Davi ficou limpo tão rapidamente como orou, convertendo-se em homem bom, não é verdade?

— Sim.

— O que é que impulsiona um homem a pedir que Deus o lave?

(Não recebe resposta.)

— Bem, o que impulsionou o ferreiro para lavar-se?

— Porque se sentiu sujo.

— Se o ferreiro gostasse de ficar sujo, ele tomaria banho e se lavaria?

— Não.

— A água viria até ele para lavá-lo?

— Não.

— Então, ele se lava porque gosta de ficar limpo?

— Sim.

— E se quiser ficar limpo, pode lavar-se logo?

— Sim.

— Então, se o homem tem o coração manchado é porque gosta de tê-lo sujo, não é?

— Sim.

— E se quiser ter o coração limpo, pode tê-lo de imediato?

— Sim.

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Note como a pessoa que formula as perguntas vai esclarecendo às crianças o tema difícil da purificação espiritual, comparando-a ao lavar-se físico, com que todos estão familiarizados (esperamos que sim).

Vamos imaginar uma classe de jovens a quem o professor vai ensinar a lição baseada no primeiro capítulo de Daniel. Primeiro, o professor deve interessá-los na lição. Como vai começar? É claro que não fará um discurso teológico acerca da santificação do corpo; a teologia está além da compreensão dos alunos. Mas, sabendo que os jovens têm interesse em atletismo, começa mais ou menos assim:

"A lição que estudaremos hoje vale mais que ouro, pela sua aplicação prática. Nesta lição Deus nos mostra como podemos conservar nossos corpos fortes e sadios, para que possamos vencer na batalha da vida. Daniel descobriu isso por experiência própria quando decidiu que obedeceria a Deus, e faria o que ele lhe havia ordenado quanto ao seu corpo físico. Quem é Daniel? Eu me refiro a este Daniel de quem nossa lição fala. Vamos ver a história desse moço."

O ensino da lição bíblica há de fazer-se do ponto de vista do aluno, o que explica a necessidade imperativa de chegar a conhecer os alunos, se o professor deseja alcançar êxito completo. Assim escreve Cather: "A mente e o coração do aluno são o campo em que o semeador rega a semente plantada. O agricultor que não conhece a qualidade da terra de sua propriedade, terá uma colheita escassa."

2. Faça com que os alunos recebam a verdade, aplicando-a as necessidades deles.

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Capítulo 8

Mantendo o Professor Atento

Vamos continuar o assunto do capítulo anterior: Mantendo a classe atenta. O título deste capítulo tem o propósito de mostrar que a atitude do professor determina a atitude da classe. Ele encontra grande ajuda para manter a atenção da classe se seguir os seguintes pontos:

1. Demonstrar interesse entusiasta

2. Preparar-se muito bem

3. Vigilância constante

4. Amar como Cristo amou

O INTERESSE ENTUSIASTA

Uma vez um pregador perguntou a Hemy Ward Beecher: "Qual é a melhor maneira de conservar uma congregação desperta em uma noite quente de domingo?" Sua resposta foi:

"Arranje uma vara comprida, ponha um prego na ponta e espete o pregador de vez em quando!" Há muita sabedoria nessa resposta.

"Quando falamos a um auditório, determinamos a atitude de nossos ouvintes — diz Dale Carnegie—pois temo-los na palma da mão. Se somos apáticos, eles ficam apáticos. Se somos reservados, eles se mostram reservados. Se estamos calmos, eles também se sentem calmos. Se formos fervorosos acerca do que dizemos, e se falamos com sentimento, espontaneidade, animação e convicção, eles conservarão um pouco pelo menos de nosso espírito."

F.B. Myer tinha em mente esta verdade quando disse: "Quando vejo que as pessoas perdem o interesse, enfio-me em um rifle e me atiro contra a congregação."

Tudo isto quer dizer que o professor que obtém êxito é eloquente. Não a eloquência das palavras suaves, bajuladoras, mas a eloquência

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efusiva, sincera e vinda do coração. O que alguém disse a respeito de sermões pode ser dito de uma lição de Escola Dominical: "Você perceberá que os sermões que lhe darão mais satisfação, os que verdadeiramente atingem a vida das pessoas, são os sermões tirados do íntimo de seu ser. São ossos de seus ossos, carne de sua carne, o produto de seu trabalho mental, a potência nascida de sua própria energia criativa. São sermões que vivem, que se movem, que voam pelo templo, deleitando, convencendo, impressionando os homens e louvando a Deus. São sermões que penetram no coração dos homens fazendo-os subir como águias e trilhar os caminhos do dever sem fatigar-se. São sermões reais os que verdadeiramente nascem da energia vital do Espírito Santo dentro do homem que os prega."

Há um modo seguro pelo qual o professor pode conseguir esta preparação do coração. É o caminho da oração. Que o professor leve seu esboço da lição à presença de Deus. Que ele ore acerca de cada ponto e detalhe. Que ele faça a Deus perguntas sobre a lição, pedindo a ajuda de seu Espírito. Que ele ore para que o tema seja gravado em sua própria alma. Que ele fale a Deus acerca da lição como se falasse a um amigo. É certo, então, que o professor compreenderá o que o salmista quis dizer quando disse: "Acendeu-se dentro em mim o meu coração, e enquanto eu meditava ateou-se o fogo; então falei com a minha língua" (Salmo 39:3).

Para resumir: se o professor domina a lição e permite que a lição o comova, saberá comover seus ouvintes.

PREPARAR-SE MUITO BEM

Dwight L. Moody, certa vez, fazendo um estudo profundo do tema da graça, ficou tão comovido que se apressou a sair à rua, para perguntar à primeira pessoa que encontrou: "Você sabe o que é a graça de Deus?" Não foi um milagre que milhares de pessoas se tenham comovido pela pregação deste homem de Deus?

O professor pode ser tentado a confiar em seus conhecimentos intelectuais, confiar no fato de que tenha ensinado a mesma lição anteriormente; mas se for sábio não se renderá a essa tentação. Embora haja estudado idêntica lição uns poucos meses antes, não está preparado para confrontar a classe se não entender que a lição deve "renascer" mediante o estudo e a oração.

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O professor deve recolher mais material do que possa usar na lição. Embora seja difícil explicar o fato, é muito certo que uma reserva de material lhe dará inspiração e mais força a cada palavra.

l. Pelo bem da lição

Conta-se que alguém pediu a Ida M. Tarbell, conhecida historiadora, que escrevesse um artigo para uma revista sobre o Cabo Atlântico. Ela entrevistou o diretor europeu da empresa responsável pelo cabo principal, estudou todos os tipos de cabos em exibição no Museu Britânico; leu livros sobre a história do cabo e visitou uma fábrica onde se faziam cabos. Por que recolheu dez vezes mais material do que poderia usar? Ela sabia que o material que sobrasse daria força a cada palavra que escrevesse, como o grande volume de água de um tanque faz pressão sobre a água que flui pela torneira. A maior parte dos professores não pode, é claro, coligir tão grande quantidade de informações e dados em cada lição, mas todos hão de compreender esse princípio.

2. Pelo bem do próprio professor

Se tivéssemos convidado um grupo de pessoas para um jantar e não estivéssemos seguros de haver comida suficiente para todos, será que nós nos sentiríamos tranquilos se soubéssemos que todos os nossos convidados comem vorazmente? Claro que não. Só se tivéssemos certeza de que teríamos mais do que o suficiente é que nos sentiríamos tranquilos. A melhor maneira de um professor sentir-se cheio de confiança diante de uma classe de alunos dotados de grande apetite intelectual e espiritual, pessoas famintas da verdade, é apresentar-se diante deles com uma provisão abundante do Pão da Vida.

3. Pelo bem da classe

Ouça as palavras do professor Palmer: "Quando preparo uma aula, percebo que sempre tenho de trabalhar com maior afinco nas coisas que não vou dizer. As coisas que tenho certeza que vou dizer me parecem fáceis de preparar. São evidentes e estão ali, acessíveis; mas descubro que não são suficientes, não me satisfazem. Preciso buscar um maior conhecimento básico que não vai aparecer na aula. Tenho que repassar meu tema inteiro e ver como se encaixam as coisas que vou dizer, em suas

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diversas relações, descobrindo novas combinações que nem vou apresentar à minha classe.

Alguém talvez pergunte: 'Qual é o proveito de tudo isto? Por que preparar mais material do que se pode usar?' Todo professor que alcançou êxito sabe o porquê. Não posso ensinar até o estreito limite de meu conhecimento sem o temor do ridículo, de passar por ignorante. Meus alunos percebem meu temor e minhas palavras tomam-se ineficazes. Eles sentem a influência de tudo quanto sei, que silencio. Não posso explicá-lo com exatidão; mas quando me movimento livremente ao longo do tema como se não me importasse em absoluto em que ponto eu tenho que parar, eles se apercebem de meu sentimento de segurança, e isso me compele e os tranquiliza."

O bom preparo é proveitoso, porque o professor descobre que está obtendo uma compreensão da Palavra de Deus que não receberia mediante a leitura ou a frequência à igreja. O professor descobre por experiência própria algo que muitos professores têm declarado: "A melhor maneira de aprender é ensinando."

VIGILÂNCIA CONSTANTE

Um famoso evangelista pregava em uma grande tenda repleta de gente. Começou seu sermão exortando o povo à defesa da fé. De repente ele mudou o teor de sua mensagem. Passou a fazer uma narração comovedora que levou seu auditório às lágrimas. Por que mudou ele seu tema? Sendo orador experiente, observou que estava perdendo a atenção do auditório. O sermão especial que começara a pregar não comovia o povo. Percebendo a inutilidade de pregar sem contar com a atenção das pessoas, o pregador mudou depressa de tema, e recobrou o interesse dos ouvintes. Fez essa mudança porque tinha o coração posto em seu auditório. De maneira semelhante o professor deve observar bem a atitude de seus alunos. Se perceber declínio de interesse, mostrado em olhos contemplativos e semblantes aborrecidos, deve fazer algo, bem depressa, para recuperar a atenção. Por exemplo, poderia ir ao quadro-negro e escrever algo, poderia contar uma história, uma ilustração ou fazer uma pergunta que provocasse o pensamento dos alunos.

AMAR COMO CRISTO AMOU

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Acostumamo-nos demais com algumas verdades; são verdades sólidas, reais, em que cremos de modo total. Todavia, parece que adormeceram, digamos assim, em nossas mentes, e deixam de impressionar-nos. O dever do amar ao próximo é uma delas. Mas devemos estimular esse amor, levá-lo à ação, porque de todas as forças e influências que ligam o professor ao aluno, a maior de todas, a mais motivadora do ensino é o amor. Os alunos reconhecem e reagem bem diante do interesse amoroso do professor. Como disse alguém: "O ser humano é rápido para descobrir se uma palavra vem do cérebro ou do coração." Sem o amor que liga coração a coração, nosso ensino ê como o metal que soa, ou como o sino que tine. Oramos pelos alunos e pronunciamos seus nomes, um a um. Pedimos a Deus sabedoria para que ajudemos a todos, segundo suas necessidades individuais. E unimos nosso coração ao dos alunos pelo vínculo do amor.

Até agora vimos estudando os princípios e regras para estimular o interesse do aluno. Nos três capítulos seguintes estudaremos alguns métodos para colocar em prática tais princípios e regras. São os seguintes:

1. O uso de ilustrações.

2. O uso do quadro-negro e de recursos audio-visuais.

3. O uso de pequenas histórias.

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Capítulo 9

Esclarecendo a Lição

Não se pode duvidar da importância das ilustrações para esclarecer a lição. O que fazem as janelas e luminárias em uma casa, fazem as ilustrações à lição. "Uma ilustração vale dez mil palavras", dizem os chineses. O professor que quer ter êxito transforma os ouvidos de seus alunos em olhos, e faz que vejam o que ele está dizendo. Por exemplo, compare as seguintes declarações:

1. Se cairmos em pecado será tolice ficar em pecado. Devemos ir imediatamente a Deus e pedir perdão.

2. O que você pensaria de uma pessoa que, depois de escorregar e cair em um buraco lamacento, ficasse ali na lama, lamentando seu acidente e a sujeira em que mergulhou? Pensaríamos que tal pessoa tem algum problema mental. Uma pessoa normal se levantaria depressa, tiraria a lama da roupa, iria para casa, tomaria um banho e mudaria a roupa.

Uma diferença notável entre uma ovelha e um porco é que quando a ovelha cai na lama, reclama, mas o porco parece deleitar-se: ele se deita e se revira na lama.

As ovelhas de Cristo não devem ficar na lama do pecado se por acaso caírem em tentação.

Pela primeira declaração os alunos somente ouvem a verdade; na segunda, eles a veem. Eles se lembrarão da segunda declaração muito mais facilmente, porque as "cenas" se encaixam em sua mente como abelhas numa colmeia. É bom, pois, cultivar a arte de falar fotograficamente. Por exemplo, um escritor quis expressar a inutilidade de tentar melhorar o que é perfeito, e pronunciou uma série de imagens visuais: "Tentar dourar o ouro refinado, embranquecer o lírio, perfumar a violeta." Ele nos fez ver o que dizia.

A importância das ilustrações recebe muita ênfase por causa do destaque que Cristo lhes deu em seu ensino. O Senhor constantemente

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usava parábolas. Ele disse às pessoas a que se assemelhava o reino dos céus.

Tristeza e alegria, riso e choro, riqueza e pobreza, fome e sede e muito pão e água, saúde e enfermidade, brincadeiras de criança, recolhendo e espalhando, o filho pródigo deixando a casa, a vida no palácio, matrimônio e funeral, a casa esplêndida dos vivos e o sepulcro dos mortos, o semeador e o ceifeiro no campo, o fazendeiro entre suas vinhas, o operário no mercado, o pastor procurando a ovelha perdida, o comerciante de pérolas, a dona-de-casa trabalhando, preparando a massa fermentada de pão, procurando a moeda perdida, o mordomo ímpio, a comida terrena que perece. Eis alguns quadros que vivificam os ensinos do Senhor.

O BOM USO DE ILUSTRAÇÕES

Vamos estudar alguns princípios que regem o uso correto das ilustrações.

l. A ilustração deve ser mais clara que a verdade que se quer ilustrar

Um esclarecimento que exige esclarecimento... na verdade não esclarece nada. O propósito da ilustração é iluminar um tema que esteja obscuro aos ouvintes. A ilustração deve esclarecer um ponto de difícil entendimento. Mas se a ilustração é obscura para os ouvintes, só aumentará a escuridão.

Um pregador quis explicar algo a um grupo de crianças. Ele disse o seguinte: "Agora vou explicar o que é a esperança, para que vocês possam ir para casa e dizer a sua mãe o que é a esperança. Crianças, vocês sabem que a água do riacho que corre atrás do templo, compõe-se de dois elementos: oxigênio e hidrogênio. Assim também a esperança se compõe do desejo e da expectativa. Entenderam?" As crianças ficaram mais confusas. Em vez de lançar luz ao problema, o pregador submergiu as crianças em densa escuridão. Quais delas saberiam o significado das palavras: elementos, hidrogênio, oxigênio e expectativa?

2. A ilustração deve interessar o aluno, e estar relacionada à sua experiência

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O fato de uma ilustração ser do interesse do professor não garante que interessa aos alunos. Um pregador falou a um grupo de crianças sobre o seguinte tema: "As saúvas destroem as vinhas". O propósito do pregador era descrever o dano que causam os vícios e pequenas fraquezas do caráter. À primeira vista a ilustração-tema parece vivida e adequada. Mas vamos examiná-la com mais cuidado.

Quantas crianças haviam visto uma saúva ou sabiam algo sobre esses insetos? Quantas haviam visto uma vinha? Aquelas crianças nunca haviam ido ao campo onde há saúvas destruidoras de vinhas e nunca haviam ouvido falar disso. A ilustração falhou: Não estabeleceu contato com os alunos. O orador teria atingido seu alvo com perfeição se houvesse trazido uma maçã (ou qualquer fruta) com mancha escura de podridão, e uma faca. Teria então explicado às crianças que aquela mancha logo se estenderia por toda a fruta, se não fosse tirada imediatamente. E que a fruta estragada corromperia outras ao seu lado. Então o pregador lhes mostraria a fruta cortada, e a área apodrecida. Essa ilustração está ao alcance da experiência das crianças, porque é provável que todas conhecessem uma fruta semi-estragada.

Mais um exemplo: Alguns missionários estavam traduzindo a Bíblia para um dialeto de certa tribo africana. Chegaram ao versículo: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã." Se traduzissem este versículo literalmente, não teria significado para os africanos, que nunca haviam visto a neve. Na verdade, eles nem sequer tinham uma palavra para expressar neve. Mas haviam comido muitos cocos, e conheciam bem a brancura de seu miolo. Então os missionários traduziram o versículo como segue: "Ainda que os vossos pecados sejam vermelhos, eles se tornarão brancos como a polpa do coco." Esta tradução talvez soe um pouco estranha, mas trouxe a verdade ao alcance da experiência dos nativos.

3. As ilustrações devem ter uma relação real com a lição

Não devem ser encaixadas à força na lição apenas para adorná-la. A ilustração não é o fim principal, mas apenas uma ajuda para maior compreensão da lição, assim como os espelhos não são para serem vistos e sim para a pessoa ver-se neles. O professor deve perguntar a si mesmo:

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"Faz falta? Esclarece? É apropriada?" Da mesma forma uma lanterna não é usada como enfeite, mas para iluminar o caminho.

4. Evite o excesso de ilustrações

Uma casa que não tem janelas é uma casa escura, mas a que tiver janelas demais também não é boa. Se você usar várias ilustrações para explicar apenas um ponto, poderá provocar confusão na mente do aluno.

5. Evite o uso das ilustrações que causam má impressão

Referimo-nos àquelas ilustrações que por serem vulgares ou de mau gosto desagradam ou distraem a classe; na verdade elas mais obscurecem que esclarecem. Por exemplo, o poder de ação da presença do Espírito Santo numa comunidade foi uma vez comparado com o horroroso e contagioso sarampo. Esta ilustração é imprópria por duas razões: Primeira, a natureza e o poder do Espírito Santo não os explicamos comparando sua obra a uma enfermidade; segunda, não é muito provável que tal ilustração, por sua vulgaridade, inspire reverência. Antes levará ao medo, à chacota, em lugar da devoção.

Comentando o uso de ilustrações, Marion Lawrence escreve: "O orador deve abandonar de vez toda historieta ou ilustração que possa ofender ou constranger a alguém. Isto quer dizer que não devem ser feitas referências a pessoas gagás, a pessoas coxas, ou que tenham algum tipo de deformidade, como lábios leporinos, etc. Isso é falta de misericórdia; não é próprio do seguidor de Jesus fazer que alguma pessoa saia da igreja sentindo-se infeliz, porque você fez uns comentários que lhe recordaram sua enfermidade ou deficiência."

6. Evite ilustrações que possam sugerir uma ideia má

O exemplo seguinte é citado por Weigle. "Os alunos de uma classe de Escola Dominical ouviam uma palestra acerca da força dos hábitos adquiridos na juventude. Para ilustrar seu ponto o orador disse: 'Meninos, vocês já viram um piso de cimento?' Todos os olhos se fixaram no orador, e os alunos responderam: 'Sim!' E o orador continuou: 'Vocês sabiam que escrevendo com um prego seu nome no cimento, enquanto úmido e mole, ao endurecer-se fica ali o seu nome por toda a vida, enquanto durar o piso? Eu acho que nenhum garoto aqui é tão travesso que costume fazer isto',

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acrescentou o orador, muito depressa, ao perceber uma expressão significativa na face dos meninos. Tarde demais: a ilustração havia feito seu mau trabalho. O grande desejo de deixar autógrafos para a posteridade seria executado e satisfeito na primeira oportunidade."

COMO APLICAR AS ILUSTRAÇÕES

Há duas maneiras ou formas:

1. Cite a ilustração e aplique a verdade

Por exemplo:

A ilustração: Diz-se que quando um atleta sente que seu fôlego está se esgotando, que seus pulmões não aguentam mais, e está tão extenuado que pensa em desistir, algo estranho acontece. De repente ele sente as forças voltarem, a fadiga desaparece e o atleta continua a correr. Esta força renovada é conhecida como "novo alento".

A aplicação: Esta ilustração nos ajuda a compreender o que o profeta quis dizer quando declarou: "Os que esperam no Senhor receberão novas forças." Se em nossa corrida espiritual, chegar o momento em que nossas forças se esgotaram, e tivermos desejo de abandoná-la, confiemos em Deus e sigamos adiante. Pois, esperando no Senhor, receberemos novo alento espiritual.

2. Cite a verdade e aplique a ilustração

A declaração: Muitas pessoas estão de acordo em que a oração atua no área espiritual, inspirando nossas almas, fortalecendo nossa vontade e colocando-nos em contato com Deus.

Algumas pessoas não creem que a oração atua também na área material, mudando circunstâncias e acontecimentos.

A ilustração: Há muitos anos, Jorge Müller fundou um orfanato, na Inglaterra, onde mais de dez mil órfãos haveriam de ser socorridos. Milhões de dólares seriam enviados para as despesas da instituição. No entanto é surpreendente que jamais Jorge Müller precisasse solicitar fundos publicamente. Qual é a explicação? Apenas uma: a oração de fé de Jorge Müller.

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É boa tática anunciar a ilustração de tal maneira que retenha o ouvinte em "suspense" e estimule seu interesse. Assim ele estará alerta, mais receptivo à verdade. Disse o professor: "Eu ia pela rua Cristã, em Jerusalém, quando me encontrei com um homem vestido com trajes orientais suntuosos. Portava uma adaga de ouro curva, usada somente pelos descendentes do profeta Maomé. Mas este homem não tinha nenhum traço árabe. Seus olhos eram azuis, e os olhos dos árabes são negros ou castanhos."

Estes detalhes não despertam a curiosidade? Não nos fazem querer saber mais? Você não acha que os alunos que antes estavam perdendo o interesse agora aguçam seus ouvidos? É verdade que uma ilustração deve ser "desembrulhada" diante da classe como um presente de Natal em casa. Quanto mais bem acondicionado estiver o pacote, maior será a expectativa. E de modo especial: que não se possa adivinhar pela embalagem o que está lá dentro.

ONDE CONSEGUIR ILUSTRAÇÕES?

As melhores ilustrações são as tiradas da experiência e observação do professor mesmo. Por exemplo, que aluno cochilaria em classe se ouvisse o professor dizer: "Este versículo me lembra uma experiência de arrepiar, que me aconteceu no deserto?" Ou: "Quando ia para o trabalho ontem pela manhã vi o espetáculo mais estranho de minha vida?"

Nossas experiências ou as coisas das quais temos sido testemunhas podem ter uma força peculiar para despertar o interesse dos ouvintes.

A revista da Escola Dominical provê boas ilustrações, mas é bom você colecionar um punhado delas. Nada ajuda tanto a recuperar o interesse perdido do que uma boa história.

Há muito livros de ilustrações que podem ser de proveito. É verdade que algumas pessoas não têm conseguido muita ajuda em tais livros. Todavia, se lidos de forma proveitosa, podem ser de grande valor.

Talvez você deseje saber exatamente como usar o caderno de anotações na preparação da lição. No princípio de cada novo trimestre, seria excelente dedicar um pouco de tempo para "passar em revista" a série inteira, tendo assim uma ideia das lições que serão estudadas nesse período. Feito isso, o professor está preparado, e à espera de ilustrações apropriadas.

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Caminhando pela rua talvez note algo que ilustre muito bem a lição 5. Toma então seu caderno e anota o título: "Lição 5". Nesta página anota o fato que presenciou, como ilustração que vai usar.

Outro dia, enquanto lê o jornal, talvez uma notícia ou fato o impressione, provendo um bom início para a sexta lição; de novo toma a caderneta e registra em outra página o título: "Lição 6". Recorta o trecho do jornal e o cola à página. Ou, estando a caminho do trabalho, no ônibus, lembra-se de alguma experiência pessoal que certamente ajudará a atingir o propósito da lição 11. Anota-a brevemente. Quando chegar a casa faz uma anotação detalhada. Tudo isto é uma maneira de dizer que o professor alerta estará sempre na expectativa de encontrar algum material para sua lição, como o diligente jornalista está alerta para uma boa reportagem. E uma vez formado o hábito de "arquivar", este chegará a ser um meio de enriquecer seu ensino.

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Capítulo 10

Usando os Olhos

Diz-se que 85% de nossos conhecimentos são adquiridos mediante a visão. "Ver uma coisa vale cem vezes mais do que ouvir sobre ela", diz um provérbio japonês. Não há dúvida de que uma das formas mais impressionantes e eficazes de ensino é levar a verdade à mente e ao coração através dos olhos. Objetos, desenhos e fotografias proveem uma linguagem simples para adultos e crianças. Captam a atenção, retêm o interesse e esclarecem os problemas. Por isso, o ensino mediante os olhos é um meio importante de compartilhar verdades espirituais, especialmente às crianças. Há muitas maneiras de ensinar as verdades bíblicas mediante a visão. Vamos considerar as seguintes:

1. O quadro-negro

2. Os objetos

O USO DO QUADRO-NEGRO

A experiência seguinte talvez seja partilhada por muitos professores: "Eu tinha que suportar domingo após domingo um grupo de crianças sem nenhum interesse pelo que eu tentava ensinar-lhes. As crianças se aborreciam. Parecia que a única maneira de estarem despertas era incomodando sem cessar, rindo sem motivo ou passando bilhetes entre si. Um ano inteiro passei por este tormento. Os domingos chegaram a ser dias de terror imenso. Não importava o que eu tentasse usar, os jogos, recursos: eu não conseguia despertar nas crianças nenhum interesse pelas histórias da Bíblia. Foi quase sem querer que passei a fazer desenhos simples num quadro-negro. Desenhos péssimos, especialmente a princípio. Eu desenhava com pressa, enquanto falava à classe. Enchia o quadro-negro de riscos que eu chamava de montanhas, árvores ou pessoas, e apontava flechas, enquanto ministrava a lição. E as crianças passaram a interessar-se tremendamente pelas lições!"

Outro professor se queixava: "Eu não conseguia captar a atenção daqueles garotos. O superintendente da Escola Dominical me aconselhou a

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tentar o uso de um quadro-negro e giz na aula. "Após ter posto em prática o conselho, o professor manifestou seu entusiasmo: "Não tive mais a mínima dificuldade em obter a atenção deles e sei agora que devo usar esta técnica sempre".

Poderíamos citar mais algumas experiências, mas já dissemos o suficiente para provar que o quadro-negro é de grande valia para o professor.

Como usar o quadro-negro? Escreveremos uma série de esboços ou desenharemos algo bem bonito, antes que os alunos cheguem à classe? Não. Isto produz resultados exatamente opostos aos esperados, por duas razões:

Primeira, os alunos ficariam tão ocupados esquadrinhando a obra artística, ou lendo, que prestariam pouca atenção às palavras do professor.

Segunda, tal preparação elimina os elementos da novidade e surpresa, tão necessários para estimular a curiosidade.

O uso do quadro-negro deve ser livre e espontâneo, para ajudar o professor a ilustrar as verdades de que fala. Por exemplo, a lição é a história do encontro de Jesus com a samaritana. O professor lê: "Elhe era necessário passar por Samaria." Dirige-se ao quadro-negro e, falando devagar, diz: "Os judeus tinham tanto preconceito contra os samaritanos (ao mesmo tempo faz um desenho da Palestina, marcando a Judéia, Samaria e Galiléia) por causa de antigas contendas, que nenhum judeu passava por Samaria (mostra-a); mas passavam por fora (mostra). Porém, Jesus não tinha preconceito nenhum; tratava todas as pessoas da mesma forma. Portanto, saiu de Jerusalém (mostra-a), e passou pela terra (mostra-a) que os judeus consideravam imunda."

Note o valor disto para a compreensão da lição. O aluno esteve ouvindo e vendo e vivendo a verdade. O fato de o professor ilustrar para os olhos enquanto fala estimula a curiosidade do aluno. As novidades ficam pululando diante do nariz dele o tempo todo.

Suponhamos que o professor esteja pronto para fazer uma sinopse breve e atrativa. Ele diz à classe: "Rapazes, aquele fazendeiro rico de que Jesus falou (Lucas 12:13-22) cometeu três grandes erros que eu gostaria

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que vocês evitassem. Olhem! Vou escrevê-los no quadro-negro." E os alunos observam o professor que escreve no quadro-negro:

1. Confundiu-se a si mesmo com Deus.

2. Confundiu seu corpo com sua alma.

3. Confundiu o tempo com a eternidade.

É provável que a classe se lembre mais da lição, e a ela dedique maior interesse, por causa do quadro sinótico. Os frutos seriam escassos, se o professor somente houvesse narrado a história. Também é mais fácil para você reter a atenção dos alunos, enquanto vai ampliando os três ou quatro pontos de sua lição. Vá escrevendo as palavras-chaves no quadro-negro. Na verdade, desenhar num quadro-negro é tão eficaz para criar interesse, que um escritor de fama disse que uma pessoa conseguiria manter a atenção de um auditório se apenas se acercasse de um quadro-negro, e ficasse parado ali, com o giz na mão, enquanto fosse falando.

Ensinemos outra forma de usar o quadro-negro. O professor lê: "Achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e os cambistas assentados. Tendo feito um chicote de cordas, lançou a todos fora do templo, bem como os bois e as ovelhas; espalhou o dinheiro dos cambistas, derrubou as mesas."

"Jovens — diz o professor —, tomemos um avião, o Aerobus da Terra Santa e visitemos o templo de Jerusalém. Imaginem um edifício imenso, de cerca de 30 metros de altura, tendo uns 800 metros quadrados de área. É feito de pedras brancas, e dotado de portas de bronze polido com cerca de vinte metros de altura. Imagine algumas portas recobertas de ouro e pedras preciosas, e o sol brilhando sobre aquele edifício situado no pico de um monte. Que vista maravilhosa! Façamos uma planta do templo para que possamos conhecer o lugar onde Jesus encontrou os comerciantes que profanavam o templo santo.

"Aqui estão os limites do templo (Desenhe um quadrado grande). Vamos dividir os diferentes átrios. Esta linha que estou traçando indica o átrio dos gentios. Eles não podiam passar além destes limites. Neste espaço aqui (trace outra linha) fica o átrio das mulheres. Era-lhes proibido ir além. Aqui está o átrio de Israel para os homens; e aqui (desenhando ainda) fica o átrio dos sacerdotes. E aqui está o grande altar do sacrifício. Meninos, foi

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neste lugar (fazendo uma cruz), no átrio dos gentios, que cambistas e comerciantes negociavam. A profanação das coisas santas é pecado."

O quadro-negro pode ser útil para ensinar palavras novas ou difíceis à classe. Por exemplo: "Creio que todos nós sabemos o que quer dizer 'renascido'. Há uma palavra um tanto extensa, que se usa para descrever este milagre (o professor acerca-se do quadro-negro). Vocês vão ouvi-la da boca de algum pregador, ou a lerão em algum livro. Quero que se lembrem bem dessa palavra. Aqui está: Regeneração."

Demos apenas uns poucos exemplos do que se pode fazer; na realidade, não há limite para o que se pode conseguir com um quadro-negro.

Quantas vezes deve ser usado o quadro-negro? Com a maior frequência que for possível, porque quanto mais se permite aos alunos "ver" a lição, tanto maior será seu interesse e mais bem gravada ficará a lição em suas mentes.

Um testemunho interessante — "opinião de aluno" — a respeito do valor do quadro-negro chegou até nós, da parte de alguém bem familiarizado com o trabalho da Escola Dominical. Disse o jovem: "Esqueci-me do que o superintendente disse a respeito da lição. Mas nunca me esquecerei da oração que li no quadro-negro."

O USO DE OBJETOS

Os objetos têm um valor imenso no ensino:

Primeiro, apelam aos sentidos, estimulando o interesse.

Segundo, têm um grande valor educativo, pois tornam mais real o tema que a classe está estudando.

Há dois tipos de objetos: os que são usados por terem valor prático, e os que apenas simbolizam ou sugerem uma realidade espiritual.

Os seguintes são exemplos de objetos simbólicos:

1. O professor quer ensinar à classe a importância da união. Leva um pacote de ripas amarradas em feixe. Guarda o feixe cuidadosamente até o momento de usá-lo (uma precaução prudente, para não provocar atenção indevida). Declarando que a união faz a força, ele mostra o feixe de ripas e

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pede a um aluno que tente quebrá-lo ao meio. Um voluntário se apresenta. Tenta partir o feixe firmando-o nos joelhos, mas não consegue. Esforça-se duramente e nada. Então o professor lhe tira das mãos o feixe de ripas, corta a corda que as liga e pede ao aluno que as quebre uma a uma. O aluno cumpre a tarefa facilmente. Tal ilustração fala por si só.

2. Um lírio pode ser usado apropriadamente para ilustrar a pureza. A lagarta que se transforma em borboleta pode ilustrar a regeneração, ou a ressurreição.

3. Para prevenir os alunos contra más influências, o professor pode levar à classe um pedaço de carvão. Segura-o, esfrega-o nas mãos, e mostra aos alunos suas mãos enegrecidas. E pergunta: "Podemos segurar um pedaço de carvão sem sujar as mãos? Podemos andar com maus companheiros sem nos tornar maus?"

4. Ilustre a cicatriz deixada pelo pecado martelando pregos em uma tábua onde você desenhou um coração. Cada prego representa um pecado. Arranque agora os pregos: a remoção representa o arrependimento e o perdão. Chame a atenção para o fato de os pregos terem sido tirados, mas os buracos ficaram. Os pecados foram perdoados mas as "cicatrizes" ficaram.

O professor explica que as ofensas, embora perdoadas, podem deixar cicatrizes.

5. Para ilustrar a tremenda força do vício, o professor pode atar os pulsos de um aluno com um fio de linha. É claro que o aluno consegue rompê-lo com facilidade. Então o professor lhe passa pelo pulso o mesmo fio, várias vezes, e ainda assim o aluno pode rompê-lo — mas com algum esforço. E à medida que aumenta o número de fios, conforme o professor o demonstra, o aluno não consegue livrar-se. "Desta maneira — explica o professor — um hábito pecaminoso, ainda que aparentemente insignificante, transforma-se num vício escravizador."

Os seguintes objetos são meras representações simbólicas de realidades materiais do passado:

* um modelo do Tabernáculo no deserto ou do Templo de Salomão;

* um modelo de casa dos tempos de Cristo;

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* um modelo dos pergaminhos da lei usados na sinagoga;

* moedas romanas e gregas, etc.

Nesta mesma classe estariam as fotografias, que também têm grande valor para interessar os alunos. Uma palavra de advertência e precaução a respeito dos recursos audiovisuais, e objetos. Pode-se acostumar mal uma classe de crianças mediante o uso de "novidades": elas poderão pedir sempre um novo tipo de espetáculo. Um exemplo extremo: um professor ilustrou com fogos de artifício, a queda das estrelas que ocorrerá na época do retorno de Jesus. Aconteceu que as crianças, depois disto, ficaram pedindo "mais fogos de artifícios", mais novidades, mais espetáculos. Os recursos simples acabam sendo ofuscados pelos mais impressionantes. Os alunos passam a exigir emoções cada vez mais fortes...

Esta advertência e precaução não se aplica ao uso do quadro-negro, por duas razões:

Primeira, o quadro-negro é um modo natural de apresentar a lição para os alunos. Os objetos impróprios, ou mostrados de modo impróprio, podem dar à criança uma ideia errônea da verdade.

Segunda, se o professor domina a lição, não fica sem ideias quanto às ilustrações que porá no quadro-negro. E fácil e seguro usar o quadro-negro; todavia, fica difícil manter a classe interessada na lição, semana após semana, à custa de mostrar sempre novos objetos.

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Capítulo 11

Narração de Histórias

Diz-se muito bem que "de todas as coisas que o professor deve saber, a mais importante, sem sombra dúvida, é saber contar histórias". A razão disso é que a história é uma das formas mais vitais, interessantes e efetivas de apresentar as verdades espirituais. E a "verdade convincentemente apresentada mediante uma boa história é a maior força que o mundo conhece", declara um professor de grande experiência em narração de histórias. Trata-se de uma verdade concernente às crianças. As influências recebidas pela criança durante os cinco ou seis primeiros anos, mais do que no resto de sua vida, são as mais poderosas na formação do caráter. Por meio de histórias bem narradas, os interesses, inclinações e emoções da criança podem ser encaminhados para o bem, com repúdio do mal.

Comovidas e emocionadas pela história, a que dedicam todo interesse, as crianças tornam-se ouvintes reverentes e, à medida que sua compaixão ou aversão é despertada, pela representação das cenas e personagens, as crianças podem ser guiadas a amar a retidão e a odiar o pecado, com a mesma segurança e tranquilidade com que aprendem a tabuada. Em todos os lugares do mundo, e em todos os séculos, enorme tem sido o poder das histórias para formar o caráter das crianças, imprimir ideais, criar atitudes e ensinar princípios. Portanto, a habilidade do professor em narrar as histórias da Bíblia, e as dos grandes heróis e heroínas da fé, e outras histórias do mundo em que vivemos, relacionando-as ao testemunho cristão, é uma força miraculosa que atrai as crianças a Cristo.

Também se desperta a atenção dos adultos mediante uma boa história. As editoras editam romances aos milhares, a televisão exerce um fascínio escravizador, em resposta à constante demanda do público. Poucas dessas histórias têm algum valor. A grande maioria não vale nada, do ponto de vista literário, artístico e moral, e muitas são prejudiciais. A grande vendagem de romances e as elevadas audiências de novelas de televisão são uma prova de que os adultos também gostam de histórias. Por isso, o

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professor sábio utiliza histórias com os mais elevados propósitos: transmitir a verdade espiritual. As histórias têm valor inestimável para captar a atenção. Uma congregação se distrai e, sonolenta, em plena discussão doutrinária, perde todo o interesse pelo que o pregador diz. Mas se o pregador se puser a contar uma história, as pessoas semi-adormecidas despertam de imediato.

O QUE É HISTÓRIA?

História é definida como "o registro de fatos Importantes, relacionados entre si; a descrição de fatos relevantes do passado". Mas o tipo de história que temos em mente para a Escola Dominical abrange mais coisas do que diz esta definição. Por exemplo, enunciamos o fato de que na noite anterior um ladrão roubou uma bicicleta do pátio do templo; é uma história que não desperta o interesse das crianças que nos ouvem.

A história que tem valor no ensino deve despertar emoções, incitar o interesse e gravar uma verdade no coração. É uma "fotografia" que chama a atenção, desperta o interesse e mexe nos sentimentos. A melhor forma de indicar que certa história tem valor no ensino da Escola Dominical é a comprovação de seu êxito. Uma boa história:

1. Desperta o interesse.

2. Inspira amor.

3. Retrata a realidade.

4. Influi na conduta.

l. Uma boa história desperta o interesse porque o ser humano tem atração inata pelo que acontece a seus semelhantes

O valor maravilhoso de uma boa história está em seu poder de criar interesse e proporcionar prazer. O ouvinte comove-se diante de personagens e cenários, e o que acontece e o que se diz tocam em seus sentimentos. Tais personagens e cenários passam lições práticas a quem ouve, as quais ficam gravadas em sua mente. O valor da história é indireto.

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Enquanto o aluno está fascinado, cheio de interesse, e vai acompanhando o desenvolvimento da trama, aprovando ou desaprovando a atitude desta ou daquela personagem, mas sempre fascinado, a lição moral vai entrando pela porta que se lhe abriu na mente. O aluno nem percebe que está sendo influenciado.

Natã usou esse método para levar Davi a sentir na consciência a culpa de seu duplo crime (2Samuel 12:1-7). O profeta não começou "abrindo o jogo de vez", porque com toda probabilidade o rei se defenderia, criando uma barragem de argumentos e desculpas. Mas Natã empregou o método indireto para captar a atenção do rei e despertar seu interesse, contando-lhe uma história. A intenção aparente do profeta foi trazer perante Davi um caso judicial. Natã relatou-lhe a seguinte história:

"Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. O rico tinha ovelhas e gado em grande número, mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos. Do seu bocado comia, do seu copo bebia, e dormia em seu regaço. Ele a linha como filha. Chegando um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele. Em vez disso, tomou a cordeira do pobre, e a preparou para o homem que lhe havia chegado."

Note o que aconteceu. O interesse de Davi se despertou imediatamente e seu coração comoveu-se. Sentiu grande pena, que talvez tenha trazido lágrimas a seus olhos, daquele homem pobre de quem haviam roubado a única ovelha. Davi sentiu uma indignação violenta contra o cruel homem rico, e declarou-o digno de morte, e que devia pagar pela cordeirinha quatro vezes mais.

Até esse ponto o rei não percebera que a história descrevia seu próprio pecado. Ainda não havia entendido que sentia pena do homem a quem ele mesmo havia feito mal, quando na verdade estava pronunciando sua própria condenação. A história produzira o efeito que Natã desejava. Bastaram apenas quatro palavras para aplicar a lição à consciência de Davi e fazê-lo prostrar-se até o pó em arrependimento: "Tu és esse homem."

2. O inspirar amor

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As histórias influem na conduta humana porque sensibilizam o coração e fazem as pessoas sentirem as emoções que empolgam as personagens da história. O ouvinte é motivado a admirar a retidão, a ter empatia pelo misericordioso e a detestar o pecado. Por um momento o aluno se esquece de si mesmo, e começa a pensar, a sentir e a agir como as personagens da história. O coração é a sede das emoções. Mediante as histórias bíblicas as emoções podem levar a pessoa na direção de Deus, e da retidão, e incitá-las contra o diabo e todo o mal.

Um dia Jesus confrontou os líderes judeus, descendentes dos que apedrejaram os profetas, e cujos corações estavam cheios de ódio contra o Senhor. Para fazê-los sentir a situação em que estavam, e obrigá-los a pronunciar sua própria condenação, relatou-lhes a seguinte história registrada em Mateus 21: 33-40.

Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha. Circundou-a com um muro, construiu nela um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.

Chegado o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos.

Os lavradores, agarrando os servos, feriram a um, mataram a outro, e apedrejaram a outro.

Então enviou outros servos, em maior número do que os primeiros, e eles fizeram-lhes o mesmo.

Por último enviou-lhes seu filho, dizendo: Respeitarão a meu filho.

Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: "Este é o herdeiro. Vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança."

Assim, agarraram-no, arrastaram-no para fora da vinha, e o mataram.

Portanto, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles lavradores?

O interesse deles na história chegou a ser tão grande que por um momento esqueceram sua animosidade e ouviram com atenção; e fizeram mais ainda: eles se identificaram com as personagens da história. Podemos imaginar um desses fariseus, que fosse também proprietário, dizendo de si para si: "Lavradores perversos! Não só se recusam a pagar o arrendamento,

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como também maltratam e assassinam os cobradores. Eu nunca suportaria esse tipo de arrendatário, eu nunca teria a paciência desse proprietário. No primeiro ato de violência deles eu teria levado um destacamento de soldados romanos à fazenda. Umas boas chibatadas e um longo tempo na prisão teriam ensinado àqueles ladrões assassinos como deveriam comportar-se."

Podemos imaginar os pensamentos de um dos sacerdotes: "Não posso pensar num exemplo mais chocante de violação ímpia de obrigações solenes! Por certo a justiça divina pediria a pena de morte para esses vilões assassinos!"

A resposta deles à pergunta que Cristo lhes fez no versículo 41 indica que ficaram comovidos: "Responderam-lhe: Destruirá de maneira horrível a esses infames, e arrendará a vinha a outros lavradores, que no devido tempo lhe enviem os frutos." Na verdade, pronunciaram sua própria condenação. Bastariam umas poucas palavras de Cristo para que a conhecessem. "Portanto, eu vos digo que o reino de Deus (simbolizado pela vinha) vos será tirado (líderes religiosos), e será entregue a um povo (uma nova nação escolhida, a Igreja) que produza os seus frutos." Sem perceber, aqueles líderes falsos reconheceram que, como descendentes dos perseguidores dos profetas, seriam os assassinos conscientes do Messias, o Filho de Deus.

Se ao narrar uma história, Cristo pôde comover até mesmo seus inimigos, quanto mais o Espírito Santo despertará e influenciará as pessoas, especialmente as crianças, cujos corações são sensíveis ao desenrolar de uma história!

3. A história deve reproduzir a realidade

As histórias tornam real o ensino espiritual porque apresentam princípios morais e espirituais em ação. Certo dia, um doutor da lei perguntou a Jesus: "Quem é meu próximo?" Lendo nas entrelinhas, nos inclinamos a crer que este professor da Lei talvez fosse culpado de alguma conduta repreensível em relação a alguém, talvez um estrangeiro, talvez um pobre. Por trás de sua pergunta via-se o desejo de "justificar-se a si mesmo".

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Por certo, Jesus poderia ter respondido em poucas palavras, dizendo ao homem que a pergunta dele, em si mesma, dava a entender que lhe faltava o espírito de amor ao próximo. Mas sendo Jesus o Mestre por excelência, usou a história do bom samaritano para demonstrar o espírito de amor em ação. No homem que foi brutalmente machucado pelos ladrões, o doutor da lei viu o símbolo e a imagem viva da humanidade necessitada. Na indiferença endurecida do sacerdote e do levita ele deve ter visto sua própria falta de compaixão. E no samaritano bondoso viu a representação do próximo.

Aquele samaritano, que representava o amor ao próximo em ação, foi a resposta à pergunta do doutor da lei. Ele a entendeu, porque quando Cristo perguntou: "Quem, pois destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?", ele respondeu: "O que usou de misericórdia." Ele havia recebido mais que um conhecimento intelectual do tema; ele havia visto e sentido o tipo de pessoa que deveria ser.

4. Inspirada na realidade, a história influi na conduta

Quando as verdades se encarnam e se tornam testemunhos reais, ao serem acentuadas nas personagens de uma história, o resultado é a sua influência positiva na conduta do aluno. Quando as emoções são despertadas, e o aluno é levado a sentir respeito pelo bem, e desprezo pelo mal, segundo as ações das personagens da história, aqueles exemplos influem poderosamente nele. Vendo que o doutor da lei ficara comovido pela história do bom samaritano, o Senhor Jesus lhe disse: "Vai e faze tu o mesmo."

COMO NARRAR UMA HISTÓRIA

Para narrar uma história eficazmente, você precisa:

Conhecê-la bem Vê-la em detalhes Vivenciá-la

l. O professor deve conhecer bem a história

Você não pode fazer uma descrição viva das cenas da história, do ponto de vista do aluno, sem dominar completamente todos os seus elementos. Para dominá-la, as seguintes sugestões são muito úteis:

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Memorize e ensaie a história. Isto envolve muito trabalho. A inspiração virá quando o professor confrontar a classe. Não é necessário que a história seja repetida de cor, palavra por palavra; essencial é que o narrador tenha uma clara visão mental de cada cena, de cada personagem, dos costumes, dos diálogos e da sequencia certa.

Simplifique a história. Elimine detalhes inúteis, incidentes e personagens insignificantes que talvez impeçam o suave e bem ordenado fluxo dos acontecimentos. Katherine Dunlop Cather, que narrou muitas histórias às crianças, nos deu o seguinte exemplo de uma história bíblica bem narrada.

Como Davi usou sua harpa?

Entre as colinas ensolaradas de Belém, Davi, o pastorzinho, cuidava de suas ovelhas. Era um bom pastor. Ele guiava o rebanho por pastos verdes e águas tranquilas, vigiando sempre, para que nenhum mal acontecesse às ovelhinhas. Algumas vezes cantava hinos seguindo as ovelhas pelo declive, e outras vezes cantava enquanto tocava harpa, que se ouvia até do outro lado da colina.

No mesmo país vivia um rei cujo nome era Saul. O rei Saul era muito infeliz. Estivera enfermo durante muito tempo, e nada do que os médicos e os homens sábios do país fizeram por ele, melhorou sua saúde. Ele tinha até esquecido como era sorrir, e devido aos pensamentos tristes e sombrios que sempre tinha, fundas rugas marcavam seu rosto. Um dia alguns homens sábios perguntaram uns aos outros se a música não ajudaria o rei a sarar. Disseram ao rei o que estavam pensando, e ele lhes respondeu:

— Procurem alguém que toque harpa e tragam-no aqui.

— Há um pastor de Belém que toca habilmente — disse um deles. — É forte, amável e de boa aparência. É filho de Jessé e se chama Davi.

Mandaram um mensageiro buscá-lo. Enquanto Davi ia para lá e para cá com seu rebanho, acariciando as ovelhas mansas, e vigiando para que não se desviassem por lugares perigosos, chegou-lhe o recado do rei. Seu pai lhe deu pão e outras coisas boas como um presente para o rei Saul. Então Davi empreendeu sua viagem.

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Quando chegou à presença do rei começou a tocar sua harpa. Tocou uma música que ele havia composto para as ovelhas ao anoitecer, quando as sombras escureciam as colinas e ele levava as ovelhas para o curral. Depois tocou uma música que até os grilos, as codornas e as lebres paravam para ouvir. E também tocou os cânticos que os camponeses entoavam em suas reuniões e festas. O rei gostou tanto da música que começou a sorrir. Esqueceu-se de seus pensamentos tristes e sentiu-se muito melhor. Logo ele se restabeleceu. Era agora um rei muito feliz. E Davi era feliz também. Estava contente pensando que ele havia ajudado a curar o rei com sua harpa e seus cânticos.

Depois disto, cada vez que Saul adoecia ou estava em dificuldade, Davi tocava e cantava para ele, e o alegrava. Dali a pouco, o próprio Davi chegou a ser rei de Israel, e escreveu para nós muito salmos lindos.

Ao relatar uma história, deve-se observar uma ordem lógica nos acontecimentos. Nada põe a perder uma boa história mais depressa do que a falta de memória do narrador, quando este para e exclama: "Oh! Esqueci-me de um detalhe, eu me esqueci de dizer-lhes que..."

Um resumo ajuda a lembrar a ordem dos acontecimentos. Por exemplo, notemos cuidadosamente a seguinte sinopse da história do dilúvio, contada segundo Cather:

* Uma raça de homens poderosos; todos se tornavam maus enquanto cresciam em força; só Noé permaneceu bom.

* A maldade deles aborreceu a Deus, que resolveu destruí-los; e mandou Noé edificar uma arca.

* Noé edificou a arca; ele, sua família e os animais entraram nela.

* Veio o dilúvio.

* A tempestade passa; Noé deixou sair o corvo e a pomba; a pomba volta.

* Solta-a pela segunda vez; volta com uma folha de oliveira.

* Noé sai da arca com sua família e todos os animais.

* Edifica um altar ao Senhor.

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Retenha na mente quanto possível as conversas e as palavras exatas das diferentes personagens. É mais eficaz usar a primeira pessoa do singular do que a terceira. Leia a história de Jesus transformando a água em vinho, e note como lhe pareceria insípida se toda a conversa direta fosse eliminada, passando à indireta. Por exemplo, compare a seguinte declaração: "Sua mãe disse aos servos que fizessem qualquer coisa que ele lhes mandasse", com esta: "Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser."

2. O professor precisa "ver" a história toda

Não somente a história deve estar na sua memória, mas também em sua imaginação. Só assim você conseguirá despertar a imaginação dos alunos. Digamos que o tema da lição é a história de Zaqueu. Enquanto o professor fala, os alunos se esquecem de que estão no Brasil. Acham que estão em uma estrada quente e poeirenta da Palestina. Caminham com a multidão sob um sol abrasador. De súbito a multidão é atraída. Os alunos veem vários tipos de pessoas: os arrogantes saduceus, vestidos de branco, olhando os outros com desprezo; os santarrões fariseus, com seu livros de orações, procurando erros que possam criticar; o coxo andrajoso que arrasta os pés pedindo esmolas; o publicano de olhar astuto e suspeito; um soldado romano revestido de armadura resplandecente. No centro da multidão, Cristo fala aos discípulos. Está rodeado por um grupo de discípulos entusiastas que creem que ele vai a Jerusalém para estabelecer o Reino.

Então, prossegue a história e a atenção dos alunos é atraída para um homenzinho chamado Zaqueu, equilibrando-se nas pontas dos pés, depois correndo de um lado para outro em vão, tentando ver o grande Rabi. Empurrado e abominado pela multidão, que não gosta da audácia daquele "apóstata publicano", Zaqueu de repente corre adiante e agilmente trepa em uma árvore. Daquele posto privilegiado ele observa, com olhos inquietos, a multidão ali embaixo. Por fim vê Jesus! Mas será que Jesus o vê?

E continua a história.

É assim que você deve proceder para fazer com que seus alunos ouçam e "vejam" as diferentes cenas e personagens da história. Todavia, em primeiro lugar, você mesmo tem de vê-las.

3. O professor precisa vivenciar — "sentir" a história

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É inútil você contar uma história de que você mesmo não goste. É necessário que você próprio esteja comovido e profundamente empolgado pelo que vê. Isto, para que "o transbordamento do coração regue os lugares secos de outros corações". Sua própria imaginação e emoções têm que estar despertas se você quiser despertar emoções nos alunos, de modo que vejam e sintam as cenas e as emoções por si mesmos. Quando você se comove diante das cenas e personagens da história que está contando, você não terá que preocupar-se com os atos apropriados, as expressões mais corretas, nem com a eloquência, porque "a boca fala do que está cheio o coração".

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Capítulo 12

Impressões e Expressões

No capítulo dois você aprendeu que um dos princípios fundamentais do ensino é a atividade do próprio aluno, isto é, o aluno deve expressar-se de alguma maneira, deve ser levado a pensar e atuar. Na verdade, dez minutos de trabalho realizado pelo aluno valem muito mais do que uma hora de trabalho feito pelo professor — no que concerne ao ensino eficaz.

Amos R. Wells ilustra esta verdade da seguinte forma: "Há certo tipo de professor que se coloca diante da classe de fuzil na mão e dispara-o para todos os lados. Outro tipo de professor é o que usa o aluno como fuzil; o professor apenas aperta o gatilho. Com toda certeza, os alunos já estão sobrecarregados de tentações, tribulações, necessidades e curiosidades, mais as informações porventura tiradas do estudo da lição. Despertando o interesse dos alunos, o professor supre a pólvora; mediante perguntas hábeis, ele aperta o gatilho."

Este é um modo simples de dizer que o melhor professor é o que ensina o aluno a ensinar a si mesmo. É evidente, portanto, que não há aprendizagem sem atividade mental da parte dos alunos. E para assegurar a atividade mental, o aluno deve ser guiado de alguma maneira para que expresse seu pensamento.

Há dois passos principais no processo de aprendizagem: primeiro, a impressão feita na mente do aluno pela leitura, estudo da lição e as observações do professor; segundo, a expressão do aluno, ao emitir os resultados de seus estudos ou trabalho intelectual. É a expressão que completa o processo de aprendizagem e dá ao aluno a posse da verdade, porque somente o que expressamos é verdadeiramente nosso. Ao ensinar, a impressão deve ser seguida da expressão. Consideremos três ilustrações que explicam esta verdade.

Esse princípio abarca a verdade no reino espiritual. Os líderes espirituais sábios devem pedir aos novos convertidos que expressem sua recente experiência espiritual em alguma forma de serviço: testemunho,

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trabalho pessoal, etc. Por quê? Porque a vida que não se manifesta , morre. Perdemos o que não praticamos. "Se sabeis estas coisas (declarou Jesus), bem-aventurados sereis se as praticardes."

Os professores mesmos têm experimentado esta grande verdade: é certo que aprendemos fazendo. Você, professor da Escola Dominical, esforça-se por preparar bem seu material, e chegar à classe com o coração e mente cheios da verdade? Ótimo. Mas você não aprende a lição de fato enquanto não a tiver ensinado ou expressado. Porque pelo ato de ensinar as verdades, que talvez estivessem incertas e sem forma, em sua mente, você as aprendeu com maior exatidão. Tomaram forma ao passar de sua mente para a de seu aluno; os fatos que pareciam um tanto áridos acenderam-se ao contato do fogo divino, ao passar de coração para coração. E muitas vezes você sai emocionado da classe, por causa do poder da verdade que aprendeu enquanto a ensinava.

Digamos que dois garotos começassem a escutar os planos e a descrição detalhada do Tabernáculo, como estão em Êxodo 25 a 40. Um garoto lê os capítulos e os entende inteiramente. O outro estuda os mesmos capítulos e a seguir constrói um modelo do Tabernáculo. Qual dos dois conhece mais o Tabernáculo? O que construiu o modelo, por certo, porque somente aquilo que podemos recriar por nossa própria atividade é que verdadeiramente possuímos. Todas as vezes que um aluno expressar-se por si mesmo, quanto a algo relacionado à lição, ele estará ocupado em uma atividade criativa.

De que maneira os alunos podem expressar-se a si mesmos? Cada departamento da Escola Dominical tem sua forma de expressão. Para os pequeninos, assume a forma de brincadeiras ou atividades físicas; para as crianças do curso primário, a auto-expressão assume a forma de desenhos com lápis de cera ou tinta, recorte de figuras de revistas, representando as personagens da história; os alunos intermediários acharão sua forma de expressão no trabalho manual, na página escrita, no artesanato, e nas tarefas de memorização; nos departamentos de jovens e adultos, as respostas escritas e os trabalhos de pesquisa proverão a maneira de auto-expressão.

Em nosso próximo capítulo falaremos de um dos meios mais eficazes para você obter a expressão de seus alunos: fazendo perguntas.

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Capítulo 13

Ensinando Através de Perguntas

Há centenas de anos um sábio disse: "Uma pergunta sagaz é a metade do conhecimento." Esta declaração é verdadeira ainda hoje; boas perguntas proporcionam bom ensino, e quem sabe fazer boas perguntas geralmente é um bom professor. Na verdade, a pergunta é o instrumento mais útil e eficaz. As perguntas que você faz são valiosas porque obrigam os seus alunos a expressar-se, e assim completam o processo de aprendizagem. Talvez seu aluno tenha estudado a lição e ouvido sua explicação em classe. Isto causou uma impressão neles. Sua mente está cheia de pensamentos, sentimentos e problemas que se relacionam com essa impressão. Mas estas ideias não estão formadas de vez, na mente deles; são vagas e estão em desordem.

Mas, se você lhe fizer uma pergunta bem formulada, você estará pondo em movimento os rolamentos da mente do aluno. Leve-o a expressar-se e, em assim fazendo, o que ele estudou se aclara. Desaparecem a névoa e a confusão, e ele diz a si mesmo: "Ora, está tão claro; porque não pensei nisto antes?" Ele se alegra e surpreende-se com o que sai de sua própria mente.

Para produzir este efeito, as perguntas têm que ser hábeis e cuidadosamente preparadas. Para isto consideraremos os requisitos principais para formular as perguntas, e daremos algumas regras:

As perguntas são usadas para conseguir-se os seguintes resultados:

1. Desenvolver a lição.

2. Esclarecer a lição.

3. Fazer o estudante pensar.

4. Colocar ênfase nas verdades importantes.

5. Manter a classe ocupada.

1. Desenvolva a lição

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Como a lição deve ser ensinada de forma ordenada, as perguntas devem ser preparadas numa ordem lógica. As perguntas da revista são mais para uso do professor, que dos alunos. Comece com perguntas simples para animar a classe.

2. Esclareça a lição

Para que as perguntas esclareçam a lição, não devem ser feitas de maneira que confunda os alunos. As seguintes perguntas confundem:

Perguntas compostas. Por exemplo: "Quem disse o que, e por que o disse, quando quase se afogou no mar da Galiléia?" (Veja Mateus 14:28). Aqui há em realidade quatro ou cinco perguntas: (1) Que aconteceu? (2) Quem gritou? (3) Que palavra gritou? (4) Porque gritou? (5) Como escapou?

Perguntas que contenham palavras técnicas, difíceis. Um dos princípios fundamentais do ensino é que a verdade deve ser adaptada à inteligência e ao conhecimento do aluno. Portanto a um grupo de adolescentes você não deve dirigir uma pergunta como a seguinte: "Foi premeditada a apostasia de Judas?" A Bíblia foi escrita na linguagem do povo; o Senhor disse: "Apascenta minhas ovelhas"; não disse: Apascenta minhas lanígeras. Nem meu gado ovino.

Perguntas que tenham mais de um sentido. Um professor perguntou a uma criança: "O que é preciso fazer antes que nossos pecados sejam perdoados?" A criança respondeu: "Primeiro temos que pecar." A resposta foi correta segundo o sentido em que a pergunta foi compreendida. A pergunta teria sido formulada melhor assim: "Se pecarmos, o que temos que fazer para ser perdoados?" Outra pergunta que poderia receber várias respostas: "Quem foi Pilatos?" Um romano; um governador; o que condenou Jesus a ser crucificado; um juiz.

Esta pergunta poderia ser desdobrada e mais bem formulada assim: "Qual era a nacionalidade de Pilatos? Qual era sua posição oficial? Qual era sua atitude para com os líderes judeus? Qual foi sua atitude para com Jesus?"

Perguntas vagas, como a seguinte: "Que acontece quando pecamos?" Esta poderia ser feita de modo mais definido: "Qual é o efeito do pecado na consciência, quando a pessoa peca?"

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Perguntas que provocam discussões áridas, como a seguinte: "Por que Paulo estava fora da vontade de Deus quando foi a Jerusalém, depois de sua terceira viagem missionária?" Isto provocaria uma discussão inútil: "Mas estava mesmo fora da vontade de Deus?"

Perguntas longas. Por exemplo, a seguinte pergunta: "Vocês acham que nos dias do rei tirano e ciumento, que sempre suspeitava que alguém aspirava ao trono (o fato é que assassinou sua própria esposa e filho), seria prudente que alguém anunciasse o nascimento de outro rei (especialmente pelo fato de os magos o procurarem em segredo, sem divulgar notícias por toda a cidade) e se expusesse a si mesmo, e ao menino-Deus, à crueldade deste homem tão cruel, que sabendo que os judeus se alegrariam com a notícia de sua morte, mandou encarcerar alguns homens preeminentes em Jerico, para que fossem assassinados logo depois de sua morte, a fim de que a nação fosse obrigada a chorar pela sua morte?" Isto não é pergunta, é uma dissertação confusa.

Para resumir: as perguntas não devem confundir, mas devem ser claras e precisas. Não devem obscurecer o tema, mas jorrar luz sobre o terreno que será atravessado. As perguntas não devem revelar as respostas, porque isso impede o aluno de pensar. Que os alunos saibam muito bem o sentido das perguntas.

3. Faça o aluno pensar

"Nunca diga ao aluno o que ele pode dizer a você", eis um axioma antigo do ensino. Em outras palavras: "Dê ao aluno a menor quantidade de informações possível e exija dele o máximo de informações possível." O propósito do estudo e dos trabalhos práticos não é que o professor receba ajuda, nem que os alunos repitam as mesmas palavras que ouviram do professor, mas que aprendam e cresçam em Cristo.

Quando o camponês leva o grão para ser moído, não espera recebê-lo de volta da mesma forma que o levou; espera recebê-lo moído: a farinha, Você entrega o grão da verdade em sua aula, para que passe pelo moinho do estudo do aluno, de modo que se transforme no resultado almejado.

Se você quiser ter certeza de que seu aluno está verdadeiramente raciocinando, evite os seguintes tipos de perguntas:

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Perguntas que sugerem a resposta. Por exemplo: "O que as pessoas devem confessar?" esta pergunta já responde a si mesma.

Perguntas que podem ser respondidas com um "sim" ou um "não". Tais respostas são meras conjeturas. Não dão sinal algum de que o aluno estudou, aprendeu e está raciocinando. Marion Lawrence nos diz: "Os alunos são bastante rápidos para dar a resposta que o professor quer, e chegam ao ridículo. Por exemplo, em nossa Escola Dominical, certa ocasião, o pastor fez uma experiência. Perguntou à classe toda com rapidez o seguinte:

— Alunos, vocês acham que devemos frequentar as aulas regularmente?

— Sim, pastor.

— Acham que devemos ser pontuais nos domingos pela manhã?

— Sim, pastor.

— Acham que devemos estudar nossa lição em casa?

— Sim, pastor.

— Acham que devemos trazer nossas ofertas todos os domingos?

— Sim, pastor.

— Acham que devo calar a boca agora?

— Sim, pastor.

Perguntas feitas e respondidas com as mesmas palavras da lição. Deve-se exigir dos alunos que respondam com suas próprias palavras, porque talvez elas conheçam as palavras das respostas sem ter a menor ideia de seu significado.

Joshua Fitch, famoso educador, insiste em que o aluno não use a linguagem das Escrituras em suas respostas, mas que responda à pergunta com suas próprias palavras. Ele dá a seguinte ilustração tomada de Lucas 10:30.

Acerca de quem é esta parábola? Um homem.

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De onde ele descia? De Jerusalém.

Para onde ia? Para Jerico.

Nas mãos de quem caiu? Dos assaltantes.

Que fizeram com sua roupa? O despojaram.

Que fizeram com o homem? Espancaram-no.

Em que condições o deixaram? Meio morto.

Observe como o professor abarcou todo o tema da narração e fez uma pergunta sobre cada fato; até aí tudo bem.

Note porém que cada pergunta foi formulada com palavras muito semelhantes às da Bíblia, e requereu como resposta uma palavra apenas, fornecida também pela Bíblia. É muito fácil para um jovem, enquanto os ecos da narração bíblica estão em seus ouvidos, responder cada pergunta mecanicamente, sem nenhum esforço do raciocínio e nenhuma meditação.

Vamos recapitular o mesmo tema, apresentando-o de início com uma ou duas perguntas de introdução. Por exemplo:

Quem pronunciou estas palavras? A quem foram ditas? Por que foram ditas? Repita a pergunta feita pelo doutor da lei.

Do que trata a parábola? De um homem que saiu em viagem.

Que título se dá a quem viaja? Viajante.

Em que região viajava o homem? Pela Judéia.

Sigamos sua rota no mapa. Em que direção viajava? Para leste.

Através de que tipo de região ele viajava? (O professor ensina os fatos mais importantes relacionados aos aspectos geográficos.)

Quais seriam, na sua opinião, as condições daquela região naquele tempo? Ligeiramente povoado; o caminho solitário.

Como podem ter certeza disso? Naquela época os bandidos agiam no ermo. Hoje, assaltam em plena luz do dia, no centro da cidade, no meio do povo.

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Dê outra palavra para "assaltantes". Ladrões.

Como os ladrões trataram este viajante? Tiraram suas roupas.

Que mais lhe fizeram? Feriram-no. Maltrataram-no muito.

Como se sabe pelo texto que o maltrataram muito? Porque o deixaram meio morto. Quase o mataram.

Observe que o propósito foi duplo. Primeiro, não sugerir a resposta pela redação da pergunta. Por isso as crianças têm de interpretar a linguagem bíblica em termos da vida atual. Segundo, não se conformar com palavras não relacionadas às perguntas, especialmente com as palavras específicas do próprio texto bíblico. Os alunos deverão usar suas próprias palavras, as mais conhecidas e mais simples.

O princípio de obrigar os alunos a usar suas próprias palavras quando falam ou respondem, você vê bem ilustrado no caso seguinte, relatado por W.P. Spilman. Um menino conta a história da lição com suas próprias palavras.

Foi nas montanhas de Wyoming, alguns quilômetros ao norte de Laramie. Pediram a um visitante que desse uma aula às crianças cujas idades variavam de sete a dez anos. A lição do domingo anterior havia sido sobre o bom samaritano.

Disse o professor: "Qual de vocês, crianças, pode contar-me a lição de domingo passado?" Várias mãos se levantaram. "Conte-nos tudo de que você se recorda", pediu o professor a um menino.

"Bem professor — disse o menino — a lição de domingo passado foi acerca de um assalto num desfiladeiro. Havia um homem viajando e uma quadrilha de bandidos o pegou, e quase o matou. Roubaram seu dinheiro, suas roupas e fugiram. Então passou um médico. Ele disse:

— Desse aí eu não vou curar; ele nem vai poder me pagar!

E seguiu adiante. Depois passou por ali um pregador. Ele olhou o homem e disse:

— Este não é da minha igreja!

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E continuou seu caminho. Então chegou um caipira em seu cavalo. Apeou e disse:

— Esse coitado está muito ferido.

Então o colocou em seu cavalo, e o levou a uma pensão, e instruiu o dono:

— Olhe, bateram neste viajante no desfiladeiro e o feriram. Faça o favor de cuidar bem dele. É meu amigo. Aqui está o dinheiro. Se faltar algum, quando eu voltar da fazenda, lhe pagarei."

Vemos que a linguagem em que foi relatada esta parábola talvez não seja literária, mas quem pode duvidar de que aquele menino havia entendido a lição?

Atenção: o professor deve ter muito cuidado em não desanimar um aluno, ao recusar-lhe a resposta, que pode ser imperfeita ou incompleta. Deve o professor, com tato, dar-lhe crédito e corrigir sua resposta. Se o aluno comete alguns erros quando responde, é melhor deixá-lo que continue, sem interrupção, porque o propósito principal quando você lhe faz uma pergunta não ê apenas receber uma resposta exata, mas ensinar o aluno a expressar-se por si mesmo e a compreender a verdade. E ainda que a resposta esteja errada, ela exerce uma função importante: ela orienta o professor a corrigir algum conceito equivocado na mente do aluno.

4. Enfatize as verdades importantes

Não se deve perguntar ao aluno detalhes insignificantes, não essenciais. "Fazer uma pergunta é dar ênfase à coisa perguntada — escreve Weigle — porque se torna o centro do pensamento naquele instante. A questão fica impressa na mente do aluno e adquire certa dignidade e importância em sua visão. Por exemplo, se você lhe pergunta: Quando o Senhor Jesus disse que devemos entrar no aposento, referia-se ao dormitório ou a uma sala qualquer? e perdesse cinco minutos ou mais discutindo o assunto, estaria desperdiçando tempo em detalhes menores; porque o ponto importante da lição não é o lugar da oração, mas a maneira de orar."

A pergunta e a resposta devem formar as duas partes importantes da verdade de que valerá a pena lembrar-se. Por exemplo, você lhe pergunta:

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"Enquanto Pedro observava o jovem rico retirar-se, que pergunta fez?" (Mateus 19:27-29). O aluno raciocinará como segue: "O que tem a ver o jovem rico com a pergunta de Pedro? Já sei! Pedro estava comparando-se com este jovem rico que havia recusado abandonar tudo por Cristo, e por isto perguntou: 'Nós deixamos todas as coisas, e temos te seguido; o que receberemos?'"

Tomemos outro exemplo: "Que fez Jesus quando percebeu que os apóstolos não praticariam o dever hospitaleiro de lavar os pés uns aos outros?" O aluno dirá a si mesmo: "Bem, vejo uma nova luz neste tema. Cada um pensou que se rebaixaria muito lavando os pés de seus irmãos, então o próprio líder se humilhou e fez com que se envergonhassem."

Temos aqui uns exemplos de perguntas que ensinam, pois uma pergunta boa resulta em uma resposta boa.

5. Mantenha a classe ocupada

Ao fazer perguntas você deve envolver a classe inteira, e não apenas alguns alunos.

Seu propósito como professor é manter todos interessados e ocupados. No que se refere a este item as seguintes sugestões serão úteis.

Evite a predileção. Um professor experiente nos diz: "Sempre há um 'sabe-tudo' com muita vontade de fazer alarde e sobressair, respondendo a todas as perguntas que o professor faz. Isto você não deve permitir. Existem aqueles alunos que só podem responder as perguntas mais simples. Faça a eles as perguntas simples, especialmente no princípio, e faça as perguntas mais difíceis aos alunos mais adiantados. É péssimo demonstrar favoritismo na avaliação das respostas; péssimo para os que respondem e para os que não se sentem à vontade ao responder."

Evite repetir a pergunta em benefício de um aluno desatento. Não convém que o tempo de aula seja perdido por causa de um aluno negligente. Se o professor dirigir-se de imediato a outro aluno, terá ministrado um ligeiro castigo ao desatento, a quem desse modo chamou à atenção.

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Pergunte ao mesmo aluno mais de uma vez. Isto evita que o aluno pense que depois de responder a uma pergunta sua tarefa na classe esteja concluída.

Volte a perguntar ao aluno que não responde. Se o motivo de não responder foi causado pela negligência no estudo, ele se lembrará de sua responsabilidade; se a causa é a falta de capacidade, então sua paciência como professor será um estímulo para ele.

Dirija a pergunta a toda a classe. Se você diz: "João Silva, quero que responda a esta pergunta", os demais alunos dirão a si mesmos: "Bem, essa pergunta é do João", e deixarão para ele todo o trabalho. Para obter a atenção de toda a classe, antes de fazer-se uma pergunta, você poderá dizer: "Ouçam atentamente, porque tenho uma pergunta importante para vocês." Havendo despertado o interesse e feito a pergunta, o professor pode escolher um aluno e dizer: "Bem, José, pode responder à pergunta."

Por que escolher José? Porque ele é o rapaz que menos presta atenção à lição. Se ele entender que sua falta de atenção o impede de responder à pergunta, é muito provável que passe a prestar atenção para evitar o "desprestígio" diante de toda a classe.

Que Deus abençoe o seu trabalho, professor, na formação do caráter de crianças e adolescentes, e na renovação dos adultos que se converteram, e devem crescer em Cristo.

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