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Documento informativo 2010 O investimento estrangeiro direto na América Latina e Caribe

na América Latina e Caribe - mba.americaeconomia.com · Requadro I.2 O impacto das variações da taxa de câmbio no ... com o maior crescimento de ... Comissão Econômica para

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Documento informativo2010

O investimento estrangeiro diretona América Latina e Caribe

Alicia Bárcena Secretária-Executiva

Antonio Prado Secretário-Executivo Adjunto

Mario Cimoli Diretor da Divisão de Desenvolvimento Produtivo e Empresarial

Ricardo Pérez Diretor da Divisão de Documentos e Publicações

O informe correspondente a 2010 de La inversión extranjera directa en América Latina y el Caribe é a edição mais recente da série anual que publica a Unidade de Investimentos e Estratégias Empresariais da Divisão de Desenvolvimento Produtivo e Empresarial da CEPAL. Em sua elaboração participaram Álvaro Calderón, Mario Castillo, René A. Hernández, Jorge Mario Martínez Piva, Wilson Peres, Miguel Pérez Ludeña e Sebastián Vergara, com o apoio de Martha Cordero, Lucía Masip Naranjo, Juan Pérez, Álex Rodríguez, Indira Romero e Kelvin Sergeant e as contribuições dos consultores Eduardo Alonso e Enrique Dussel Peters.

Foram recebidos comentários e sugestões de funcionários da sede sub-regional da CEPAL no México, em particular de seu Diretor, Hugo Beteta, e de Juan Carlos Moreno-Brid, Juan Alberto Fuentes, Claudia Schatan, Willy Zapata, Rodolfo Minzer e Ramón Padilla.

Agradecemos a contribuição dos executivos das empresas e responsáveis de outras instituições consultados para a elaboração do documento.

Os capítulos IV e V foram elaborados no âmbito do projeto Diálogo político inclusivo e intercambio de experiências da CEPAL e a Aliança para a Sociedade da Informação (@lis 2), financiado pela União Europeia. As opiniões neles expressadas não refletem necessariamente a opinião oficial da União Europeia.

A informação utilizada neste informe provém de diversos organismos internacionais, dentre outros, do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), numerosas instituições nacionais, sobretudo bancos centrais e organismos para a promoção dos investimentos na América Latina e Caribe, e a imprensa especializada.

As observações e sugestões sobre o conteúdo deste documento podem ser dirigidas a Álvaro Calderón ([email protected]) ou Miguel Pérez Ludeña ([email protected]). Notas explicativas

Neste informe de La inversión extranjera directa en América Latina y el Caribe foram empregados os seguintes sinais: • Três pontos (...) indicam que faltam os dados, não constam por separado ou não estão disponíveis. • Dois traços e um ponto (-.-) indicam que o tamanho da amostra não é suficiente para estimar a categoria respectiva com confiabilidade e

precisão adequadas. • O traço (-) indica que a quantidade é nula ou desprezível. • Um espaço em branco em um quadro indica que o conceito do qual se trata não é aplicável ou não é comparável. • Um sinal menos (-) indica déficit ou diminuição, salvo que se especifique outra coisa. • O hífen (-) colocado entre cifras que expressem anos, por exemplo 1990-1998, indica que se trata de todo o período considerado,

ambos anos inclusive. • A barra (/) entre cifras que expressem anos (por exemplo, 2003/2005) indica que a informação corresponde a algum desses

anos. • A palavra “dólares” se refere a dólares dos Estados Unidos, salvo indicação contrária. • Devido a que às vezes se arredondam as cifras, os dados parciais e as porcentagens apresentadas nos quadros nem sempre

somam o total correspondente.

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ÍNDICE

Página Síntese e conclusões .......................................................................................................................... 7 Capítulo I Panorama regional do investimento estrangeiro direto ............................................................... 31 A. Introdução ................................................................................................................................ 31 B. Panorama mundial do investimento estrangeiro direto ............................................................ 35 C. Entrada de investimento estrangeiro direto e empresas transnacionais na América Latina e Caribe ...................................................................................................... 39 1. Evolução e características das correntes de investimento estrangeiro direto em direção à América Latina e Caribe em 2010................................................................. 39 2. Padrões de destino e origem do investimento estrangeiro direto e estratégias de empresas transnacionais na América Latina e Caribe .................................................... 53 3. Intensidade tecnológica e atividades de pesquisa e desenvolvimento das empresas transnacionais ............................................................................................... 57 D. Investimento direto no exterior e empresas translatinas .......................................................... 66 1. Empresas transnacionais de países em desenvolvimento ................................................... 66 2. Correntes de investimento no exterior: América Latina e Caribe se unem ao dinamismo de países em desenvolvimento ......................................................................... 67 E. Conclusões ............................................................................................................................... 78 Bibliografia ........................................................................................................................................ 80 Anexo ................................................................................................................................................. 83 Quadros Quadro I.1 Correntes, taxas de variação e participação das entradas líquidas de investimento estrangeiro direto no mundo, por regiões, 2007-2010 ........................ 36 Quadro I.2 América Latina e Caribe: entradas de investimento estrangeiro direto, por países e territórios receptores, 2000-2010 ......................................................... 41 Quadro I.3 América Latina e Caribe: aquisições transfronteiriças de empresas ou ativos por mais de 100 milhões de dólares, 2010 ............................................... 44 Quadro I.4 América Latina e Caribe: saídas líquidas de investimento direto no exterior, 2000-2010 ............................................................................................. 71 Quadro I.5 Principais aquisições transfronteiriças realizadas por empresas latino-americanas, 2010 ........................................................................................... 72 Quadro I.6 Anúncios de novos investimentos transfronteiriços realizados por empresas translatinas por mais de 100 milhões de dólares, 2010 ............................ 73 Quadro I.7 América Latina e Caribe: maiores empresas e grupos com vendas, investimentos e empregos no exterior, 2010 ............................................................ 73 Quadro I.A-1 Classificação das indústrias de manufaturas, por intensidade tecnológica .............. 83 Quadro I.A-2 América Latina e Caribe: entradas líquidas de investimento estrangeiro direto por países, 2000-2010 .................................................................................... 84 Quadro I.A-3 América Latina e Caribe: entradas líquidas de investimento estrangeiro direto, por setor de destino, 2000-2010 ............................................................................... 85

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Quadro I.A-4 América Latina e Caribe: entradas líquidas de investimento estrangeiro direto, por país de origem, 2000-2010 ..................................................................... 88 Quadro I.A-5 América Latina e Caribe: correntes líquidas de investimento direto no exterior, por países, cifras oficiais, 1999-2010 ................................................... 91 Gráficos Gráfico I.1 América Latina e Caribe: correntes de investimento estrangeiro direto e de investimento direto no exterior, 1992-2010 ..................................................... 32 Gráfico I.2 Correntes de investimento estrangeiro direto mundial e por grupos de economias, 1990-2010 ........................................................................................ 35 Gráfico I.3 Regiões em desenvolvimento: entradas de investimento estrangeiro direto como proporção do PIB, 1990-2010 .............................................................. 37 Gráfico I.4 Evolução do valor das fusões e aquisições mundiais, 1987-2010 ........................... 38 Gráfico I.5 Países em desenvolvimento: participação nas correntes de saída de investimento direto, 2000-2010 .......................................................................... 39 Gráfico I.6 América Latina e Caribe: entradas de investimento estrangeiro direto por sub-região, 1990-2010 ............................................................................. 40 Gráfico I.7 América Latina e Caribe: investimento estrangeiro direto como proporção do PIB, 2010 ........................................................................................... 43 Gráfico I.8 Istmo Centro-Americano e Caribe: distribuição das correntes de investimento estrangeiro direto por país, 2010 ........................................................ 50 Gráfico I.9 América Latina e Caribe: setores de destino do investimento estrangeiro direto por sub-região, 2005-2009 e 2010 .............................................. 54 Gráfico I.10 América Latina e Caribe: principais setores de investimento estrangeiro direto por fusões ou aquisições e investimentos em nova planta, 2010 ................... 56 Gráfico I.11 América Latina e Caribe: origem do investimento estrangeiro direto, 2006-2009 e 2010 ......................................................................................... 57 Gráfico I.12 Distribuição dos montantes dos novos projetos de investimento estrangeiro direto, segundo a intensidade tecnológica, 2003-2005 e 2008-2010 ....................... 59 Gráfico I.13 Distribuição dos montantes dos novos projetos de investimento estrangeiro direto, associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento, 2003-2005 e 2008-2010 ............................................................................................................. 60 Gráfico I.14 Distribuição dos empregos associados aos novos projetos de investimento estrangeiro direto em pesquisa e desenvolvimento, segundo regiões, 2008-2010 ................................................................................................................ 60 Gráfico I.15 América Latina e Caribe: distribuição dos montantes dos novos projetos de investimento estrangeiro direto anunciados, segundo intensidade tecnológica, 2010 ..................................................................................................... 61 Gráfico I.16 América Latina: principais países receptores dos novos projetos de investimento estrangeiro direto, segundo intensidade tecnológica e montantes, 2010 .................................................................................................... 62 Gráfico I.17 Distribuição dos montantes de novos projetos de investimento estrangeiro direto, segundo intensidade tecnológica, 2010 ...................................... 63 Gráfico I.18 Distribuição dos montantes dos novos projetos de investimento estrangeiro direto associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento, 2010 ...................... 65 Gráfico I.19 Distribuição dos empregos associados aos novos projetos de investimento estrangeiro direto em atividades de pesquisa e desenvolvimento, 2008-2010 .............. 65 Gráfico I.20 América Latina e Caribe: saídas líquidas de investimento direto no exterior, 1992-2010 .................................................................................................. 68

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Gráfico I.21 América Latina e Caribe (países selecionados): investimento direto no exterior, 2009 e 2010 .......................................................................................... 69 Gráfico I.22 América Latina (países selecionados): saídas líquidas de investimento direto no exterior em relação ao PIB, 2010 ............................................................. 69 Gráfico I.23 Brasil, Chile e Colômbia: distribuição das saídas de investimento estrangeiro direto, segundo setores de destino, 2010 ............................................... 76 Requadros Requadro I.1 Um marco analítico para estudar os efeitos do investimento estrangeiro direto ...... 33 Requadro I.2 O impacto das variações da taxa de câmbio no investimento estrangeiro direto ..... 42 Requadro I.3 A consolidação chega ao espaço aéreo .................................................................... 47 Requadro I.4 Evolução recente do investimento estrangeiro direto em Cuba ............................... 53 Requadro I.5 Internacionalização das empresas mexicanas .......................................................... 74

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SÍNTESE E CONCLUSÕES Em 2010, a América Latina e Caribe mostrou grande resiliência frente à crise financeira internacional e se converteu na região com maior crescimento, tanto no recebimento, quanto na emissão de fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) em nível mundial. A chegada de IED aumentou 40% em relação ao ano anterior e totalizou 113 bilhões de dólares, enquanto as saídas quase se quadruplicaram e alcançaram a cifra recorde de 43 bilhões de dólares, dando mostras do grande dinamismo das empresas translatinas. A recuperação do IED na região se enquadra num contexto no qual os países em desenvolvimento têm aumentado sua participação nos fluxos de IED, tanto na qualidade de receptores, quanto de emissores. O presente relatório consta de 5 capítulos. No primeiro, apresenta-se o panorama regional do IED durante 2010. O segundo capítulo analisa as tendências do IED para a exportação na América Central, Panamá e República Dominicana. No terceiro, descrevem-se as características da incipiente presença da China como investidor na região. Finalmente, os capítulos quatro e cinco analisam os principais investimentos estrangeiros e as estratégias empresariais nos setores das telecomunicações e de software, respectivamente.

A. PANORAMA DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

1. As entradas do investimento estrangeiro direto e as atividades das empresas transnacionais

Em 2010, o IED em nível mundial apresentou uma leve recuperação e acusou ainda os efeitos da crise econômica e financeira internacional com epicentro nos países desenvolvidos. Os fluxos globais de IED aumentaram somente 1% em 2010 e os ritmos da recuperação foram heterogêneos segundo as regiões de destino. Os fluxos de IED em direção às economias desenvolvidas se contraíram ainda mais em 2010 (-7% com relação a 2009), enquanto os fluxos em direção aos países em desenvolvimento aumentaram 10%. Por este motivo, as correntes de IED em países em desenvolvimento e em economias em transição representaram pela primeira vez mais de 50% dos fluxos globais. Por sua vez, as saídas de IED a partir dos países em desenvolvimento e economias em transição seguiram uma tendência crescente e, segundo cifras preliminares, representaram 22% dos fluxos globais de investimento direto no exterior em 2010. Neste contexto de maior relevância dos países em desenvolvimento, a América Latina e Caribe foi a região mais dinâmica em 2010, com o maior crescimento de entradas e saídas de IED. Os fluxos de IED em direção à América Latina começaram a se recuperar a partir do último trimestre de 2009 e durante 2010 mantiveram uma tendência crescente. Excluídos os principais centros financeiros, a região recebeu 112.634 milhões de dólares em IED, cifra 40% superior aos 80.376 milhões alcançados em 2009 (veja o gráfico 1). Os montantes de IED recebidos em 2010 se mantêm acima da média anual da década e mostram uma tendência de aumento que reflete o posicionamento da região como local de destino das empresas transnacionais.

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Gráfico 1 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ENTRADAS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO

POR SUB-REGIÃO, 1990-2010 (Em bilhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais. A recuperação do IED ocorreu por vários fatores: a recuperação das economias desenvolvidas; o dinamismo de certas economias emergentes que impulsionaram alguns setores por aumentos na demanda —e isto se mostra evidente na área de recursos naturais, como a mineração metálica, os hidrocarbonetos e os alimentos, assim como na de manufaturas, como o setor automobilístico e a produção de circuitos integrados, ou na dos serviços, como o desenvolvimento de software e os serviços de telecomunicações— o crescimento da demanda interna em países como o Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, que impulsionou a busca de mercados internos por empresas transnacionais e translatinas, e finalmente, a maior terceirização das empresas estrangeiras como resposta à crise, tal como se reflete em alguns serviços empresariais. A recuperação dos fluxos de IED tem sido mais intensa na América do Sul, onde cresceram 56% com relação a 2009, chegando a 85.143 milhões de dólares. Quatro países mostram um aumento muito importante: o Brasil (87%), a Argentina (54%), o Peru (31%), e o Chile (17%). A Colômbia, mesmo tendo reduzido o recebimento de IED em 5%, alcançou os 6.760 milhões de dólares. Por sua vez, as correntes de IED em direção à República Bolivariana da Venezuela continuaram sendo negativas, produto das nacionalizações de empresas estrangeiras. No México e nos países da América Central o IED busca, além de mercados internos, estabelecer plataformas de exportação para aproveitar as vantagens salariais e de localização. A lenta recuperação dos Estados Unidos levou os fluxos de IED a crescerem em ritmos inferiores aos da América do Sul e não alcançarem os níveis recordes de 2008. As entradas de IED no México foram 17% mais elevadas que em

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América do Sul México, Istmo Centro-Americano e o Caribe Total

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2009, enquanto as do Istmo Centro-Americano tiveram um crescimento de 16%. Em termos absolutos, o Panamá e a Costa Rica são os principais receptores da sub-região e em 2010 receberam 2.363 e 1.412 milhões de dólares, respectivamente. Por sua parte, Honduras, Guatemala e Nicarágua aumentaram os fluxos de IED em 52%, em 18% e em 17%, respectivamente. A sub-região do Caribe continua acusando os efeitos da crise econômica, sobretudo nas economias mais dependentes do turismo. As correntes de IED em direção a esta sub-região apresentaram uma queda de 18% e alcançaram 3.917 milhões de dólares. Este desempenho foi muito influenciado pela queda de 25% nas correntes de IED em direção à República Dominicana, principal receptor da sub-região. Por outro lado, o Haiti mostrou a recuperação mais importante na sub-região, dado que após o terremoto de janeiro de 2010, o IED se quadruplicou com relação ao de 2009, impulsionado por fortes investimentos em telecomunicações. Em resumo, distintos fatores têm ajudado a consolidação da região como receptora de IED. As estratégias das empresas transnacionais que buscam matérias-primas foram impulsionadas por seus altos preços, o que se traduziu em importantes investimentos em toda a região, sobretudo na América do Sul. Para as empresas que buscam mercados locais e regionais, o papel fundamental correspondeu ao crescimento da demanda interna, particularmente em países grandes como o Brasil e o México. No primeiro, a forte expansão econômica em 2010, que obedeceu a bem-sucedidas politicas contracíclicas que atenuaram a crise de 2009, refletiu-se em cifras recorde de IED. Fenômenos similares ocorreram no Chile, Colômbia, Peru e Uruguai. Os destinos setoriais do IED variam segundo a sub-região receptora. Na América do Sul, os setores com maior recebimento em 2010 foram os de recursos naturais e os de serviços, com 43% e 30% de participação, respectivamente (veja o gráfico 2). Nesta sub-região mantém-se a elevada importância dos recursos naturais e, em comparação com 2005-2009, observa-se inclusive um aumento do peso dos setores primários nos investimentos. Por outro lado, no México, Istmo Centro-Americano e Caribe os investimentos continuam chegando principalmente às manufaturas (54%) e aos serviços (41%), ao passo que o setor primário recebeu apenas 5% do total. Em termos de origem dos investimentos, os Estados Unidos continuam sendo o principal investidor na região, com 17% do IED recebido em 2010, seguidos pelos Países Baixos (13%), China (9%), Canadá, Espanha e Reino Unido (4% cada um). Destaca-se ainda que nos últimos anos existe uma crescente participação da própria América Latina e Caribe como origem do IED, o que mostra a maior importância das empresas translatinas. Enquanto no período 2006-2009 o IED proveniente da América Latina e do Caribe representava 8%, em 2010 ascendeu a 10%. A maior relevância da própria América Latina e Caribe como origem do IED na região se observa também na informação com respeito às fusões e aquisições e aos investimentos em novas instalações (greenfield). Por sua vez, a informação sobre os novos projetos anunciados de IED segundo os setores de destino mostra o seguinte padrão de conteúdo tecnológico destes investimentos na América Latina e no Caribe: a região apresenta uma preponderância de projetos de IED em setores de tecnologia baixa e média-baixa; nos últimos anos, observa-se um incremento dos projetos em setores de tecnologia média-alta e de projetos associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento; e a participação da região em projetos com alto conteúdo tecnológico é ainda reduzida em comparação com outras regiões, estando estes projetos concentrados sobretudo no Brasil e no México.

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Gráfico 2 AMÉRICA LATINA E CARIBE: SETORES DE DESTINO DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO POR SUB-REGIÃO, 2005-2009 E 2010 a (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais. a El Salvador e a República Dominicana incluem a maquila no setor “outros”, enquanto a República Dominicana inclui o

comércio no setor “manufaturas”.

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B. México, Istmo Centro-Americano e o Caribe a

Recursos naturais Manufaturas Serviços

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2. O investimento direto no exterior e as empresas translatinas Em 2010, o IED com origem nos países da América Latina e no Caribe quase se quadruplicou em relação a 2009, alcançando um novo recorde histórico de 43.108 milhões de dólares (veja o gráfico 3). Isto permitiu que a região tivesse uma crescente relevância como emissora de investimentos e que os investimentos latino-americanos e caribenhos diretos no exterior incrementassem sua participação nos fluxos de IED originados nos países em desenvolvimento, de 6% em 2000 a 17% em 2010. O crescimento das saídas de IED em 2010 se explica pelos maiores investimentos de empresas do México, Brasil, Chile e Colômbia, que representam mais de 90% dos fluxos em 2010. No México, Chile e Colômbia, os montantes de investimento direto no exterior alcançaram máximos históricos.

Gráfico 3 AMÉRICA LATINA E CARIBE: SAÍDAS LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO DIRETO

NO EXTERIOR, 1992-2010 (Em milhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais. Assim, o crescimento dos investimentos de empresas translatinas ocorreu de forma tal que as economias emergentes estão modificando notavelmente o panorama da economia mundial. No âmbito do IED, observa-se um aumento contínuo da relevância de empresas transnacionais de países em desenvolvimento nos fluxos mundiais. Ademais, a expansão das empresas transnacionais de países em desenvolvimento se materializa num contexto de crescente concorrência e consolidação em nível global. Este processo não vem se concretizando apenas em indústrias orientadas ao consumo final de diversas características tecnológicas; também pode ser encontrado em algumas indústrias provedoras de insumos e equipamentos. Na última década, as empresas que mais se internacionalizaram foram as do Brasil, Chile e México, e mais recentemente, as da Colômbia. Esse processo ocorreu especialmente em indústrias básicas (hidrocarbonetos, mineração, cimento, papel e celulose, siderurgia), manufaturas de consumo de massa

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(alimentos e bebidas) e em alguns serviços (energia, telecomunicações, transporte aéreo, comércio varejista). Uma característica dos investimentos diretos no exterior cuja origem está na América Latina é que muitos deles se dirigem aos países vizinhos: 47% das fusões e aquisições realizadas por empresas latino-americanas em 2010 tiveram como destino a própria região. Os investimentos das translatinas em novas instalações também se dirigem de maneira importante à região: 59% do total em 2010. Estes dados enfatizam a importância dessas empresas como agentes da integração regional e como meio para compartilhar práticas e conhecimentos vinculados aos seus processos produtivos. O México foi o país cujas empresas realizaram maiores investimentos no exterior em 2010, aumentando 81% com relação ao ano anterior e alcançando um montante recorde de 12.694 milhões de dólares (veja o gráfico 4). Embora em anos anteriores os principais investimentos mexicanos no exterior estivessem concentrados em manufaturas, recentemente o setor de serviços somou-se como destino importante. Em 2010 em particular, os investimentos no exterior foram liderados por grandes aquisições em setores como meios de comunicação, telecomunicações e alimentos. Os investimentos do Brasil no exterior alcançaram 11.500 milhões de dólares, recuperando-se ostensivamente da contração de 2009. Durante 2010, os novos investimentos se concentraram em diversos setores. Na área dos recursos naturais, a atividade mais relevante foi a extração de minerais metálicos; na de manufaturas destacam-se os investimentos em alimentos e metalurgia, e na de serviços destacam-se os de tipo financeiro. É importante considerar o grande apoio público que as empresas brasileiras têm recebido em seu processo de internacionalização. O forte incentivo da política pública à expansão de suas empresas líderes é de longa data, contudo acentuou-se recentemente com a Política de Desenvolvimento Produtivo iniciada em 2008.

Gráfico 4 AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): INVESTIMENTO DIRETO

NO EXTERIOR, 2009 E 2010 (Em milhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais. a Costa Rica, El Salvador, Guatemala e Honduras.

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O Chile, em 2010, aumentou seus investimentos no exterior em 8% e alcançou a cifra recorde de 8.744 milhões de dólares. O principal destino foram os países da própria região, aos quais foi dirigido 58% do total dos investimentos, que se concentraram em serviços financeiros e comércio varejista e, em menor grau, na indústria manufatureira. Para a Colômbia, os montantes de investimento no exterior totalizaram 6.504 milhões de dólares em 2010, duplicando o montante registrado em 2009. Esta dinâmica foi liderada por investimentos em minas e pedreiras, que alcançaram 4.500 milhões de dólares, 70% do total das saídas de investimento direto em direção ao exterior. Nos países da América Central, os investimentos no exterior aumentaram de maneira considerável em 2010 (119% com relação a 2009) e alcançaram os 119 milhões de dólares. As empresas de El Salvador foram as que realizaram maiores investimentos no exterior em 2010, seguidas pelas da Guatemala e Costa Rica. Embora não existam cifras oficiais de investimentos panamenhos, diversas fontes mostram também importantes investimentos em serviços financeiros e transporte. Além da dinâmica da internacionalização das empresas latino-americanas e das consequências sobre os países de origem dos investimentos, a discussão normativa associada é complexa e somente agora começa a fazer parte da agenda de pesquisa na região. Existem diversos argumentos que devem ser considerados na hora de avaliar a implementação de uma política proativa a este respeito. Deste modo, é importante distinguir os benefícios para a empresa dos benefícios para a economia emissora em seu conjunto. Os argumentos em favor de uma política proativa associam-se aos benefícios em matéria de padrões produtivos e de gestão, incrementos de produtividade, aquisição de novos conhecimentos e fortalecimento de capacidades tecnológicas na estrutura produtiva do país a partir do aproveitamento de externalidades, entre outros. Nesse sentido, o tipo de vinculação da empresa com o sistema local de inovação pode aumentar os efeitos positivos da maior internacionalização. Ao contrário, os argumentos contra um apoio público à internacionalização empresarial associam-se ao fato de que estas empresas, líderes em seus países, não serem os agentes produtivos com maiores desvantagens para competir nos mercados globais, sendo difícil garantir que os benefícios de sua internacionalização sejam tais para o resto da economia. As incertezas sobre a recuperação econômica dos países desenvolvidos dificultam a formulação de previsões a respeito dos fluxos de IED em 2011 na região. Contudo, dadas as perspectivas de crescimento econômico na região, as tendências de longo prazo dos fluxos e a informação preliminar, a CEPAL estima que as correntes de IED dirigidas à América Latina e ao Caribe poderiam aumentar entre 15% e 25%, e desta forma o IED poderia alcançar um novo recorde histórico em 2011. Definitivamente, a região vive um período de crescente internacionalização e o IED é um elemento central neste processo. É importante avançar em maior compreensão do impacto deste fenômeno e, em particular, na maneira como a política pública pode contribuir para promover seus benefícios.

B. AMÉRICA CENTRAL, PANAMÁ E REPÚBLICA DOMINICANA: O INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO E AS PLATAFORMAS DE EXPORTAÇÃO

O investimento estrangeiro direto tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento da América Central, Panamá e da República Dominicana (em diante “sub-região) e transitou por diversas fases ao longo de mais de um século. A partir da década de 1990, o IED na sub-região evidenciou um forte incremento, impulsionado por fatores de oferta e demanda, como a privatização de empresas estatais de energia e telecomunicações e mecanismos de acesso ao mercado dos Estados Unidos como a Iniciativa para la Cuenca del Caribe (ICC), o Sistema Generalizado de Preferencias (SGP) e a Ley de Asociación

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Comercial Estados Unidos-Cuenca del Caribe e, mais recentemente, a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio da República Dominicana, América Central e Estados Unidos (DR-CAFTA). Este auge foi estimulado pelo processo de integração da sub-região, que propiciou maiores investimentos inter-regionais e aumentou, em geral, a participação do IED no PIB, complementando assim a poupança doméstica.

1. Evolução do investimento estrangeiro direto na sub-região Nas décadas recentes e particularmente nos anos oitenta, os fluxos de IED em direção à sub-região foram especialmente baixos, em grande parte devido aos conflitos civis e políticos em El Salvador, Guatemala e Nicarágua. Os países que se mostraram mais atrativos para o IED foram Panamá, República Dominicana e Costa Rica, graças a um melhor ambiente para os negócios. Durante essa década, produziu-se uma involução nas atividades de manufaturas destinadas ao mercado interno e observou-se o início da entrada de investimentos estadunidenses e asiáticos na indústria da confecção e em zonas francas. Iniciou-se também um processo de diversificação de exportações como parte do esforço de inserção no mercado dos Estados Unidos. Os níveis baixos de IED dos anos oitenta começaram a reverter-se nos anos noventa em grande parte devido aos processos de pacificação na sub-região e, sobretudo, pelas oportunidades de negócios resultantes das privatizações de empresas públicas —principalmente em El Salvador, Guatemala e Nicarágua— pela melhoria no ambiente de negócios e pelas primeiras políticas proativas de promoção do IED. Por exemplo, com o estabelecimento de zonas francas e outros regimes especiais, surgiram novos esquemas de incentivos fiscais e financeiros e políticas de promoção do IED, além da criação de uma nova institucionalidade pública de organismos de promoção dos investimentos e de associações empresariais orientadas à promoção de exportações e à atração de investimentos. Isto ocorreu num contexto de crescente concorrência internacional, que provocou uma relocação mundial dos centros de produção com a finalidade de reduzir seus custos. Entre 1999 e 2010, o Panamá e a República Dominicana foram os países que mais IED atraíram em termos absolutos, (24% e 25% respectivamente), seguidos da Costa Rica (19%), Honduras (10%), El Salvador (9%), Guatemala (8%) e Nicarágua (6%) (veja o gráfico 5). O peso do IED como proporção do PIB cresceu fortemente a partir de meados dos anos noventa (veja o gráfico 6), situando-se em 3,6% em média para o período compreendido entre 1990 e 2010. Por país, os valores mais altos foram registrados pelo Panamá e Nicarágua —no primeiro, pela magnitude do IED que recebe, e no segundo por seu PIB relativamente baixo—, enquanto em El Salvador, Guatemala e na República Dominicana a participação do IED no PIB é menor. A partir de uma perspectiva de mais longo prazo, um aspecto que se destaca é a mudança estrutural e a lenta transformação da estrutura industrial, produto do retrocesso nas exportações de têxteis e vestuário, e do avanço das exportações de serviços, especialmente de centros de chamadas e business process outsourcing (BPO). O objetivo das estratégias das empresas transnacionais —gerar plataformas de exportação de baixo custo— não apresentou variação, mesmo que o tipo de setor ao qual se dirigem tenha variado, com os consequentes resultados quanto à diversificação, ao investimento e às exportações. A promoção das exportações baseou-se em incentivos fiscais, complementares à abertura econômica, que contribuíram para a reorientação de recursos em direção ao setor exportador.

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Gráfico 5 ISTMO CENTRO-AMERICANO E REPÚBLICA DOMINICANA: ENTRADAS LÍQUIDAS DE

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO, POR PAÍS, 1999-2010 (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), sobre a base de cifras oficiais.

Gráfico 6 ISTMO CENTRO-AMERICANO E REPÚBLICA DOMINICANA: PARTICIPAÇÃO DO

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NO PIB , 1990-2010 (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.

Costa Rica19

El Salvador9

Guatemala8

Honduras10

Nicarágua6

Panamá24

República Dominicana25

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Istmo Centro-Americano e República Dominicana Média do período

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Entre 1999 e 2010, produziu-se uma mudança notável no destino do IED, que passou das manufaturas aos serviços, em particular ao turismo, negócios imobiliários e serviços empresariais à distância. Em 1999, as manufaturas eram um destino de investimento importante em todos os países, exceto no Panamá. Uma década depois, observa-se sua contração na indústria têxtil e de confecção principalmente, exceto em Honduras e Nicarágua, e uma expansão dos investimentos dirigidos aos serviços em todos os países. A situação do Panamá não surpreende, porque os investimentos que recebe têm sido orientados historicamente aos serviços. Nos demais países, esse tipo de IED expandiu-se de maneira considerável, sobretudo nos serviços empresariais à distância. Na República Dominicana os serviços continuam sendo importantes, porém seu descenso de 80% do IED em 1999 a 56% em 2009 explica-se pelos grandes investimentos em mineração. Nos outros países, o crescimento do IED em serviços se viu impulsionado pelos incentivos —isenções fiscais e incentivos financeiros— que ainda se oferecem aos investimentos para exportações que operam sob regimes especiais e pela nova orientação exportadora que veio se moldando na última década. Na maioria dos países da sub-região, o IED em zonas francas representa uma porcentagem significativa do IED total. Com relação à origem do IED, entre 1990 e 2010, os Estados Unidos foram o investidor mais importante na sub-região (38%), seguido pela Espanha (8%), Canadá (6%) e México (4%). Os esforços de atração de IED e a promoção das exportações dos países da sub-região sob o amparo de regimes especiais e, posteriormente, do Tratado de Livre Comércio da República Dominicana, América Central e Estados Unidos, contribuíram para um incremento significativo das exportações e para a diversificação da oferta exportável. O sucesso na atração de IED foi determinante para conseguir este resultado. A composição do destino setorial do IED levou a mudanças na estrutura exportadora, particularmente pela dinâmica das exportações de empresas que operam em regimes de zonas francas, de aperfeiçoamento ativo ou similares. As exportações de bens sob a proteção de regimes especiais representam mais de 50% das exportações de bens da Costa Rica, El Salvador, Honduras e Nicarágua. Por sua vez, no Panamá, as exportações de bens amparadas por regimes especiais têm uma participação relativa muito baixa em relação ao total, devido ao fato das cifras de exportação não incluírem as reexportações da Zona Libre de Colón. Exceto no caso da Guatemala e do Panamá, as exportações sob o regime de zonas francas predominam no total de exportações amparadas por regimes especiais. Se fossem incluídas as exportações de serviços protegidas por esse regime, a relevância das exportações das zonas francas nas exportações totais de bens e serviços aumentaria ainda mais. Por outro lado, os investimentos em direção ao exterior a partir das economias centro-americanas também seguiram uma tendência de alta até 2008, ano em que foram afetadas pela recente crise financeira. Costa Rica, El Salvador e Guatemala são os principais investidores no exterior. Um caso especial é o do Panamá, cujos fluxos ao exterior estima-se que superem os 2 bilhões de dólares nos últimos quatro anos, montante que inclui operações de empresas estrangeiras que realizam investimentos em terceiros países através de suas filiais nesse país.

2. Incentivos vigentes e reformas para a atração dos investimentos e a promoção das exportações

Para promover o estabelecimento de empresas estrangeiras utilizaram-se incentivos fiscais, financeiros ou políticas de promoção e atração do IED. A liberalização comercial e as estratégias de inserção internacional desataram uma concorrência regional através da redução das exigências regulatórias ou fiscais aplicadas aos investidores (race to the bottom) para atrair IED. O custo fiscal que constituíam os

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incentivos às exportações foi bastante questionado nos países, sobretudo a outorga dos Certificados de Abono Tributário e a isenção de imposto de renda das empresas exportadoras. Com o fim de atrair investimentos, todos os países promulgaram leis de incentivos fiscais condicionados às exportações que devem ser modificadas, já que o condicionamento à exportação está proibido segundo o Acuerdo sobre Subvenciones y Medidas Compensatorias. Desta forma, Costa Rica, El Salvador, Panamá e a República Dominicana elaboraram propostas para reformar seus regimes de incentivos e alguns deles já promulgaram uma nova legislação. A Guatemala é o único país que tem a obrigação de modificar seus incentivos e que, até agora, não apresentou uma proposta de reforma. Honduras e Nicarágua, que têm menor renda per capita, não deverão modificar seus esquemas de incentivos, enquanto se mantenham nessa condição. Antes das reformas, os incentivos fiscais eram outorgados a todas as empresas que se instalassem sob o regime de zonas francas. Com as recentes reformas, Costa Rica e Panamá continuaram outorgando incentivos fiscais, porém somente a setores considerados estratégicos e às zonas de menor desenvolvimento relativo. Na República Dominicana, a proposta é continuar outorgando os incentivos a todo tipo de empresa, agregando novas categorias beneficiárias, como os parques científicos ou tecnológicos e as empresas de serviços. Nos demais países, ainda não existem propostas de reforma do regime de zonas francas. Nas reformas aprovadas ou sujeitas a discussão existem vários elementos em comum. O primeiro é a isenção, total ou parcial, do imposto de renda. O segundo, a inclusão das atividades de alta tecnologia e intensivas em pesquisa e desenvolvimento como setor estratégico beneficiário dos incentivos. Além disso, na Costa Rica e na República Dominicana estabelecem-se disposições para fomentar as cadeias produtivas das empresas que operam sob o regime de zonas francas com as das empresas nacionais. Em El Salvador e no Panamá, reformou-se a legislação sobre o regime de fomento das exportações que outorga subsídios condicionados. Com exceção da Guatemala, onde não se elaborou uma proposta, nos demais países esse regime de incentivos não deverá ser modificado. Em El Salvador e no Panamá as mudanças os levaram a entrar em novas áreas com elementos importantes de uma política de fomento ao desenvolvimento dos setores produtivos no âmbito de seus sistemas nacionais de inovação. As reformas empreendidas, embora importantes, estão sujeitas a debate, em especial as reformas das leis de zonas francas. Sua transformação poderia ser contemplada numa política mais ampla de desenvolvimento, acompanhada de medidas que estabeleçam as condições para aproveitar o potencial do IED para a transferência de tecnologia e conhecimentos. A proposta é que os incentivos fiscais que continuam sendo outorgados sejam valorizados também em função do seu impacto nas finanças públicas e que sejam contemplados como um instrumento dirigido à criação das condições para que o IED se assente e se vincule às economias locais, com vistas a transferir tecnologia e conhecimento e ao upgrading tecnológico na cadeia de valor. Os países têm aproveitado a oportunidade de ter que modificar os incentivos para desenhar incentivos de nova geração. Estes não se orientam somente para atrair IED e gerar emprego, como ocorreu no passado, também facilitam a passagem de um esquema de fomento às exportações a outro de apoio aos investimentos, com o objetivo de alcançar maiores níveis de produtividade e reduzir a heterogeneidade estrutural.

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Mesmo que o Acuerdo sobre Subvenciones y Medidas Compensatorias e as normas mais restritivas da Organização Mundial do Comércio (OMC) tenham reduzido os espaços para desenvolver uma política industrial, estes continuam existindo e devem ser aproveitados de forma proativa pelos países para melhorar sua especialização produtiva e criar novas vantagens competitivas. Uma maneira de alcançar esse objetivo seria mediante o fomento de cadeias produtivas, como foco estratégico para ampliar e aprofundar os ativos baseados em conhecimento. Para isso, deve-se considerar o tipo de IED que se está estabelecendo em cada país e tratar de atrair novos investimentos capazes de gerar externalidades tecnológicas. Desta forma, o esforço de atração IED deve vir acompanhado de desenvolvimento da capacidade de absorção de novos conhecimentos e paradigmas tecnoeconômicos, o que implica o desenvolvimento de novas capacidades produtivas. Os países da sub-região estão avançando na reforma de suas leis de incentivos às exportações para adequá-las às normas da OMC. As reformas aprovadas e as propostas de reforma em discussão estão direcionadas no sentido de eliminar os requisitos de desempenho questionados e tendem a transformar o esquema de fomento às exportações num de fomento aos investimentos. Contudo, os avanços em direção ao estabelecimento de uma política integral de desenvolvimento produtivo são ainda insuficientes para delinear uma estratégia integral de diversificação. Nessa estratégia, o IED poderia contribuir para obter avanços nas cadeias de valor, incorporar conhecimentos e diferenciar produtos, com o objetivo de conseguir melhor inserção internacional. Desta maneira, reforçar-se-ia o papel que o IED tem desempenhado como dinamizador e modernizador da estrutura produtiva e de serviços da região.

C. OS INVESTIMENTOS DIRETOS DA CHINA NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

Atualmente, a China é a segunda economia e o maior exportador de bens do mundo. Mesmo que seu peso no comércio internacional há mais de uma década seja indiscutível, os investimentos de suas empresas no exterior somente começaram a ser significativos nos últimos anos. Cabe destacar que a decolagem do IED da China coincidiu com os anos em que os fluxos globais se reduziram como consequência da crise financeira: em 2008 os investimentos da China no exterior ultrapassaram pela primeira vez os 50 bilhões de dólares e em 2009 o país ocupou o quinto lugar entre os maiores países investidores do mundo. As tendências recentes do IED chinês respondem a fatores internos e externos, entre os quais se destaca a política do governo da China favorável à expansão internacional de suas empresas. Esta política está em vigor desde o ano 2000 e tem como principal instrumento o financiamento que os bancos estatais prestam às empresas para seus projetos de investimento no exterior. Deve-se destacar também que as maiores empresas transnacionais chinesas são, com muito poucas exceções, de propriedade estatal. Contudo, mesmo no caso das empresas estatais, o investimento direto da China no exterior não pode ser explicado somente como uma resposta às diretrizes do governo. Enquanto o Estado impulsionava a expansão internacional, as empresas chinesas viram como o seu próprio crescimento, suas estratégias de diversificação e o seu desenvolvimento tecnológico as levavam a investir no exterior. O forte crescimento da economia chinesa, com uma altíssima taxa de poupança, o grande desempenho exportador e os avanços em ciência, tecnologia e inovação geraram capacidades em muitas empresas que têm sido exploradas mediante o investimento externo. Em muitos casos, as empresas chinesas adquiriram companhias no exterior com o objetivo de munirem-se de ativos estratégicos, como tecnologia ou marcas em economias avançadas e terem acesso a recursos naturais em países em desenvolvimento.

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O investimento direto da China na América Latina destacou-se somente em 2010, quando suas empresas transnacionais investiram mais de 15 bilhões de dólares na região, em sua grande maioria na extração de recursos naturais. A China converteu-se assim no terceiro país investidor na região, depois dos Estados Unidos e dos Países Baixos. Em médio prazo, espera-se que as empresas chinesas continuem chegando à região e que diversifiquem sua presença em direção ao desenvolvimento de infraestruturas e manufaturas. Esta recente onda de investimentos foi precedida de uma intensa relação comercial durante a última década. Atualmente, a China é o terceiro sócio comercial da região, atrás dos Estados Unidos e da União Europeia, e pronto estará adiante desta última. A influência que a China exerce na América Latina mediante o comércio estende-se a três âmbitos: como exportador de manufaturas a quase todos os países da região, como demandante de matérias-primas, sobretudo dos países da América do Sul, e como forte competidor nos mercados de exportação, em particular do México e da América Central. Os dois primeiros aspectos são os que marcaram as relações de investimento entre a China e a América Latina. A maioria dos investimentos da China na América Latina foi motivado pela necessidade de muitas empresas de reduzir sua exposição às altas de preços das matérias-primas. Esta lógica comercial combinou-se com a pressão do próprio governo chinês no sentido de assegurar a provisão de energia e de matérias-primas, o que se traduziu em importantes apoios da banca pública a estas operações. Assim, mais de 90% dos investimentos de empresas chinesas confirmados na América Latina dirigiram-se à extração de recursos naturais. A quadro 1 mostra uma estimativa das aquisições e investimentos em novas instalações efetuados na América Latina e no Caribe até 2010 e os que se esperam realizar a partir de 2011.

Quadro 1 CHINA: INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO EM ECONOMIAS

SELECIONADAS DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE (Em milhões de dólares)

País Investimentos confirmados Investimentos anunciados

1990-2009 2010 2011 em diante

Argentina 143 5 550 3 530

Brasil 255 9 563 9 870

Colômbia 1 677 3 ...

Costa Rica 13 5 700

Equador 1 619 41 ...

Guiana 1 000 ... ...

México 127 5 ...

Peru 2 262 84 8 640

Venezuela (República Bolivariana da) 240 ... ...

Total 7 336 15 251 22 740

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), sobre a base de informação de Thomsom Reuters, FDI Markets e entrevistas com empresas.

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O investimento direto chinês tem chegado principalmente ao Brasil, à Argentina e ao Peru, países que têm uma estreita relação comercial com a China. Para algumas economias pequenas, esse país pode ser uma fonte importante de investimentos, como o tem sido recentemente no Equador e na Guiana. No México e na América Central o investimento chinês é quase irrelevante, com a única exceção da Costa Rica. O setor no qual se concentraram os maiores investimentos foi o de hidrocarbonetos, onde o investimento chinês passou por duas fases: a primeira, centrada em concessões para explorações individuais ligadas a acordos entre Estados (no Equador, Peru, e República Bolivariana da Venezuela), e na segunda, mais recente, na qual as empresas chinesas se abriram para alianças com empresas privadas internacionais e que se concentraram no Brasil e na Argentina. Na mineração, o país que mais recebeu investimentos foi o Peru, principalmente na extração de cobre, seguido pelo Brasil, em menor grau, na mineração de ferro. Os investimentos em agricultura, que também respondem à estratégia de assegurar o fornecimento de matérias-primas, são muito menos importantes em valores, ainda que possam ter importantes efeitos locais. A entrada de empresas chinesas neste setor desencadeou a preocupação de vários governos da região pelo fato do controle da terra ficar nas mãos de investidores estrangeiros e pelas possíveis consequências para a segurança alimentar e o estilo de vida no meio rural afetado. As empresas especializadas em recursos naturais continuarão provavelmente dominando o IED da China na região, considerando os ambiciosos planos de expansão anunciados. De qualquer maneira, o ritmo do investimento nesta indústria dependerá do comportamento dos preços das matérias-primas, ao passo que outros fatores contribuirão para a diversificação em direção a outros setores. Com o crescimento da economia chinesa e o conseguinte desenvolvimento de suas empresas mais importantes, irão aumentando pouco a pouco o número e a variedade de empresas com recursos e motivação suficientes para investir no exterior, incluindo a América Latina e o Caribe. Ademais, o paulatino aumento dos custos de produção local, a tendência a diversificar a distribuição geográfica da produção para eludir barreiras comerciais e a política ativa do governo chinês são fatores que deverão impulsionar o investimento direto no exterior. A construção de infraestruturas será um dos setores onde as empresas chinesas ampliarão sua presença na região. O forte ritmo da construção na China tem gerado importantes capacidades no setor. As empresas construtoras chinesas se caracterizam pelos baixos custos e pela capacidade de financiamento que oferecem a seus clientes (permanentemente dentro da ajuda oficial do governo). Em muitos casos, como o das empresas que instalam redes de telecomunicações ou das construtoras de material ferroviário, também é notável o avanço tecnológico nos últimos anos. Em manufaturas, os principais investimentos estão orientados no sentido de evitar barreiras comerciais em alguns mercados locais. Enquanto as empresas que aspiram ser líderes mundiais em sua indústria querem diversificar sua base produtiva para evitar barreiras comerciais reais ou potenciais, o governo chinês vê de forma positiva ações que permitam reduzir seus excedentes de divisas. Os principais projetos em manufaturas chegaram ao Brasil, ainda que também estejam realizando investimentos incipientes no México, com vistas a estabelecer uma plataforma exportadora neste país. Até agora, não se registram investimentos importantes nas plataformas exportadoras da América Central ou do Caribe.

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A chegada, pela primeira vez, de fortes investimentos chineses num curto espaço de tempo foi recebida com críticas por parte de alguns governos, empresários e da sociedade civil na região. Em particular, ressaltaram que, ao concentrarem-se na extração de recursos naturais, estes investimentos impedem o desenvolvimento industrial e tecnológico internos. Em outras ocasiões, criticou-se o fato de que a grande maioria das empresas transnacionais chinesas seja de capital estatal, e que com isso os ativos adquiridos em transações comerciais sejam controlados por um governo estrangeiro. Finalmente, algumas empresas chinesas do setor de recursos naturais foram acusadas de manter em suas operações padrões sociais e ambientais inferiores aos de outras empresas transnacionais. O aparecimento de uma nova fonte de investimentos na região abre oportunidades para empresas que necessitam de capital e tecnologia para continuar crescendo. Este foi o caso da mineração de cobre no Peru ou do setor de hidrocarbonetos na Argentina e no Brasil, onde se concentraram os maiores investimentos até o momento. O mesmo pode ocorrer em futuro próximo na construção de infraestruturas e em algumas manufaturas. Os governos da América Latina e do Caribe podem aproveitar este impulso nos investimentos para abrir novas vias de desenvolvimento, por exemplo, vinculando a exploração de matérias-primas à construção de infraestruturas de utilidade pública ou incentivando a criação de indústrias locais de processamento destes recursos. Para aproveitar estas oportunidades é necessário formular e implementar políticas orientadas no sentido de modificar o padrão de industrialização dos países da América Latina, impulsionando uma mudança estrutural em favor de setores mais intensivos em conhecimento e tecnologia. Entretanto, este esforço deve começar reconhecendo a grande diferença entre a visão estratégica que tem guiado a China em seu desenvolvimento econômico e industrial e a visão predominante na região sobre como avançar no processo de desenvolvimento econômico.

D. A TRANSIÇÃO DAS OPERADORAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM DIREÇÃO À CONVERGÊNCIA E À BANDA LARGA

Na última década, os serviços de telecomunicações experimentaram uma profunda reorganização e transformação em nível mundial, regional e nacional. Essa dinâmica tem sido o resultado da progressiva desaparição das fronteiras entre os segmentos tradicionais (telefonia fixa, telefonia móvel, acesso à banda larga, Internet, televisão paga e radiodifusão) e a gradual transferência do foco da indústria da voz à banda larga. Neste cenário, as pessoas estão mudando seus hábitos de consumo, as empresas revisam seus modelos de negócio, e as autoridades nacionais enfrentam a urgência de adaptar as atuais normas regulatórias setoriais à convergência tecnológica e de redesenhar o papel do acesso à banda larga na sociedade e as estratégias nacionais de desenvolvimento No âmbito empresarial, a rápida diminuição das fontes tradicionais de renda vinculadas à voz pressiona as operadoras de comunicações a buscarem novos segmentos de negócio associados ao tráfico de dados. Atualmente, as antigas redes estão cada vez mais sobrecarregadas com as novas aplicações que necessitam banda larga, fundamentalmente para vídeo, o que pode levar à sua saturação (veja o gráfico 7). Esta situação impulsiona as operadoras a migrar em direção a redes de nova geração baseadas totalmente no Protocolo de Internet (NGN). Assim, a indústria se depara com dois desafios: fazer os investimentos em infraestrutura necessários para cumprir os requerimentos técnicos dos novos serviços e, simultaneamente, consolidar e aumentar sua demanda para reverter a queda das receitas e dar sustentabilidade aos novos modelos de negócio.

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Gráfico 7 TRÁFEGO MUNDIAL DE INTERNET DE CONSUMIDORES (RESIDÊNCIAS, POPULAÇÃO

UNIVERSITÁRIA E CIBERCAFÉS), 2009-2014 (Em milhares de exabits por mês)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em informação da CISCO,

Hyperconnectivity and the Approaching Zettabyte Era, 2 de junho de 2010. Atualmente, os enormes custos e a alto grau de incerteza associados a esta inevitável transição obrigaram as operadoras a buscar fórmulas híbridas (baseadas no cabo de par trançado e no cable modem) para prolongar a vida útil de seus negócios tradicionais. Entre elas destacam-se as ofertas comerciais em “pacotes” (os denominados triple play), que têm permitido continuar obtendo renda dos serviços de voz e contribuído para estender o uso da banda larga, o desenvolvimento da televisão paga e têm diminuído a migração da base de clientes. Por outro lado, nas comunicações móveis concretizou-se uma rápida melhoria da infraestrutura, o que tem permitido uma migração em massa em direção à tecnologia de terceira geração (3G) e os primeiros passos no início de novas redes de quarta geração (4G), e com isso desenvolver e estender velozmente o tráfico de dados sem fio. Com efeito, o desenvolvimento do acesso à banda larga tem sido liderado pelas tecnologias fixas que possuem maior capacidade que as disponíveis no segmento móvel, o que evidencia que estas ainda não são um substituto perfeito para as tecnologias fixas, porém um bom complemento. Não obstante, a convergência entre ambas tecnologias permite prever que num futuro próximo a diferença entre suas prestações se reduzirá de maneira importante. Por outro lado, num entorno marcado pela volatilidade e pelas restrições ao endividamento, as empresas de maior tamanho e poder financeiro foram as mais bem preparadas para aproveitar as oportunidades que oferece uma indústria em rápida transformação. Assim, as grandes empresas buscaram ativos que lhes permitissem completar as ofertas comerciais convergentes; ganhar escala incrementando a participação em mercados competitivos, e assegurar o acesso a países emergentes com grande potencial de

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2009 2010 2011 2012 2013 2014

Vídeo por Internet

Vídeo por Internet para televisão

Uso compartilhado de arquivos

Rede, email e dados

Voz por Protocolo de Internet

Videoconferências Videogames on-line

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crescimento (Brasil, China e Índia). Esta dinâmica significou um intenso processo de consolidação empresarial, centrado nos mercados internos das economias avançadas e na aceleração da internacionalização das principais operadoras. Particularmente no segmento sem fio, nos mercados mais adiantados a consolidação deu lugar a não mais de três operadoras, número que parece ser o adequado para dar rentabilidade ás operações no mercado interno. Sem sombra de dúvida, o processo continuará e a próxima fronteira serão os mercados emergentes ainda muito fragmentados. Apesar de este processo ter tido seu epicentro nos países industrializados, a América Latina e Caribe não esteve alheia a isso, seguindo-o com certo atraso e maior segmentação entre distintos segmentos da população. Registraram-se transformações notáveis: a telefonia móvel alcançou uma penetração próxima a 100%; a telefonia fixa estancou-se; o acesso à banda larga avança, porém mais lentamente que nas economias adiantadas; as mudanças regulatórias que favorecem a convergência estimularam as ofertas comerciais “em pacotes”, bastante populares em muitos países, mesmo que não nos de maior tamanho, e observa-se uma destacada opção estratégica das operadoras pelo segmento móvel, em termos de cobertura, desenvolvimento de infraestrutura, ofertas de preços e políticas de fidelização. Neste contexto, produziu-se uma rápida consolidação em torno das operadoras transnacionais (a espanhola Telefónica e a mexicana América Móvil). Atualmente, estas operadoras dominam mais de 60% do mercado latino-americano de comunicações. Contudo, em alguns países enfrentam uma forte concorrência de operadoras alternativas, onde se destacam as empresas de televisão paga, muitas vezes parte de grandes grupos de meios audiovisuais (Cablevisión do grupo Clarín na Argentina, Megacable e Cablevisión da Televisa no México, e VTR no Chile) e de telefonia móvel, em alguns casos com uma proporção importante de capital nacional (Entel no Chile, Oi! e TIM no Brasil, Nextel no México, Millicom e Digicel na América Central e no Caribe). A grande maioria dos países da América Latina e do Caribe ainda mostra rigidez regulatória e carência de políticas proativas explícitas de desenvolvimento da indústria. Neste sentido, torna-se fundamental ajustar a regulamentação a uma realidade de mudanças como consequência do acelerado e contínuo avanço tecnológico, dinâmica que estimula a convergência em direção a uma única infraestrutura multifacetada baseada no Protocolo de Internet. Além disso, é importante progredir em mecanismos para superar o dilema entre os preços baixos dos serviços que permitem sua massificação e a rentabilidade para os grandes investimentos que as operadoras devem fazer para modernizar sua infraestrutura de redes fixas e móveis. Contudo, salvo na telefonia móvel, as desigualdades com relação às economias avançadas continuam se ampliando, particularmente nas novas tecnologias de banda larga. Com efeito, as conexões fixas de banda larga estão dominadas pela tecnologia ADSL (Asymetric Digital Suscriber Line, sistema de dados que se implanta sobre as linhas telefônicas convencionais de cobre) e a grande maioria dos usuários de comunicações móveis são de pré-pago de segunda geração (2G), apesar de que dispõem de ampla cobertura 3G. Estas características do mercado latino-americano fazem com que a faturamento médio por usuário (Average Revenue Per User, ARPU) seja baixo, e por esse motivo as companhias têm centrado suas estratégias no aproveitamento de economias de escala e em maximizar o rendimento da antiga infraestrutura articulando ofertas comerciais “em pacotes”, e assim depurar o mercado. Entretanto, o mercado para serviços de dados convergentes mostra-se ainda limitado, estando circunscrito aos segmentos de maior poder econômico. Neste cenário, as principais operadoras regionais escalaram posições entre as maiores empresas da indústria e mais importante ainda, transformaram-se nas companhias mais rentáveis do mundo, somente superadas pela China Mobile (veja o gráfico 8).

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Gráfico 8 MAIORES EMPRESAS DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES DO MUNDO: RENTABILIDADE

MÉDIA (LUCROS COMO PORCENTAGENS DAS VENDAS), 2005-2009 (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em informação da Fortune Global 500,

vários números. Uma vez alcançada uma firme e extensa posição regional, as principais operadoras, pressionadas pela rápida obsolescência da infraestrutura, iniciaram um processo de reorganização e integração de seus ativos, e o desenvolvimento de novos modelos de negócio para aproveitar a futura massificação da banda larga e assegurar a sustentabilidade de suas operações. Os primeiros passos centraram-se no segmento mais dinâmico e rentável da indústria: as comunicações sem fio. Com o propósito de reter seus clientes, as operadoras têm tentado implementar diversas medidas destinadas a melhorar a qualidade dos serviços. As empresas dispensam esforços no sentido de facilitar e estimular a migração de seus clientes de pré-pago para produtos híbridos e para a assinatura de contratos de serviços pós-pago. Além disso, estão reorientando progressivamente sua gestão desde a captura de novos clientes até a retenção dos mesmos, aumentando a ênfase em eficiência. Nesta direção, buscam fórmulas para o uso mais eficiente da infraestrutura de rede. Assim, com uma ampla cobertura de tecnologia de 3G e planos embrionários para iniciar infraestrutura de 4G, as operadoras buscam aumentar a capacidade e cobertura de acesso à Internet, para aproveitar o crescimento e o surgimento de novos serviços e aplicações destinados à banda larga móvel e reverter a tendência descendente do faturamento médio por usuário (ARPU). Na mesma direção, as operadoras regionais buscam simplificar a oferta de produtos e serviços, reforçar as alianças com os fornecedores e outras empresas da indústria, e sobretudo continuar apostando nos serviços “em pacotes” e na melhora contínua da infraestrutura de modo a renovar a oferta e

-18 -15 -12 -9 -6 -3 0 3 6 9 12 15 18

SprintNextel

Vodafone

Deutsche Telekom

NTT

China Telecom

KDDI

Verizon

BT

Comcast

Telecom Italia

France Télécom

AT&T

Vivendi

Telefónica

América Móvil

China Mobile

25

incrementar a velocidade de acesso, priorizando no momento a tecnologia ADSL para maximizar o valor das redes de cobre. Atualmente, avançam na integração de sua infraestrutura para oferecer múltiplos serviços. Contudo, continuam defasados no desenvolvimento de redes de nova geração de fibra ótica, mesmo que esta tecnologia já seja utilizada para a instalação de troncos de rede e de retorno para as estações de base nas principais zonas urbanas da região. Os investimentos necessários em infraestrutura de redes de nova geração são muito dispendiosos e os conflitos que as empresas enfrentam nas economias desenvolvidas se amplificam nos países da região. Por este motivo, as principais operadoras dependem dos debates sobre o futuro modelo de Internet, em especial sobre a tarifa plana ilimitada e a neutralidade da rede. Neste sentido, sugere-se que os provedores de conteúdo deveriam contribuir para a manutenção das redes e que sería necessário diferenciar as tarifas de Internet, de modo a tornar sustentáveis os atuais modelos de negócio. Além dos esforços realizados na área das comunicações fixas e móveis, as empresas procuram aumentar a integração entre estes segmentos e a regionalização de suas operações. Assim, as operadoras integradas buscam fórmulas para reduzir os custos operacionais e otimizar os investimentos, para depois concentrarem-se na nova oferta de serviços integrados fixo-móvel. Finalmente, duas áreas de política estão presentes no debate mundial e regional. Por um lado, as modificações na regulamentação para ajustá-la a realidades que mudam rapidamente, devido à revolução tecnológica em curso que se concretiza na convergência. Por outro, as dificuldades para superar o dilema entre preços baixos dos serviços que permitam sua massificação e rentabilidade dos investimentos que as operadoras devem realizar para modernizar suas redes. Neste contexto, a CEPAL tem recomendado duas linhas de ação: o fortalecimento da capacidade técnica e a independência dos reguladores do setor, por uma parte, e a implementação de um diálogo consistente entre governos e operadoras para chegar a definições específicas, por outra parte. Mesmo que se verifiquem avanços, o ritmo dista muito de ser o adequado e o custo é o atraso da região na massificação do acesso à banda larga e sua apropriação pelos usuários e nos investimentos em redes avançadas. É crucial implementar rapidamente medidas para concretizar essas linhas de ação, mais ainda levando em consideração a importância das decisões que se debatem, que afetarão não somente a magnitude dos investimentos, senão sua composição qualitativa em termos de desenvolvimento de redes móveis avançadas ou de instalação de redes fixas baseadas em fibra ótica. Fortalecer mecanismos eficazes de diálogo técnico orientado para decisões de política entre as autoridades e as grandes operadoras parece ser o melhor caminho.

E. INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NA INDÚSTRIA DE SOFTWARE NA AMÉRICA LATINA

A relevância da indústria de software está em sua contribuição à mudança estrutural dos países no processo de desenvolvimento mediante a transferência e difusão de novas tecnologias, a geração de empregos qualificados e a exportação de serviços. A experiência internacional mostra que a indústria de software, da mesma forma que a indústria de manufaturas, tem efeitos sobre todos os setores da economia, induz aumentos de produtividade e contribui para a diversificação da oferta exportadora, constituindo-se num motor para o crescimento econômico. Em consequência, essa indústria gera oportunidades de emprego e novos negócios em todo o mundo, sobretudo, nos países em desenvolvimento, ao operar com rendimentos crescentes em escala e enfrentar uma elevada elasticidade da rentabilidade das exportações. A América Latina já é reconhecida não apenas por seu potencial como destino de relocação de operações de software, mas também como um agente emergente na indústria.

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A região tem uma participação crescente no mercado de software e recebe um fluxo crescente do investimento estrangeiro direto em software. Desde o início da década de 2000, a América Latina tornou-se atraente para a localização de centros de software como resultado da combinação de custos competitivos em nível internacional, boa disponibilidade de recursos humanos qualificados e fusos horários aproximados aos dos Estados Unidos e Europa. Na presente fase de desenvolvimento do IED em software, os principais projetos das empresas transnacionais foram localizados na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México e Uruguai; a maioria com alto nível de especialização e padrões similares aos melhores centros internacionais. Contudo, a situação entre os países difere, identificando-se três padrões de especialização: i) os países com grande mercado interno, porém de baixa orientação exportadora no setor (Brasil e México); ii) os países com mercado interno pequeno e alta especialização exportadora (Costa Rica e Uruguai), e iii) os países com mercado interno de tamanho intermediário que combinam ambas estratégias (Argentina, Chile e Colômbia). As empresas transnacionais de software podem ser um veículo eficaz para a transferência de novos conhecimentos e tecnologias, gerando impactos na produtividade e no conhecimento. As estratégias empresariais destas empresas têm evoluído a partir da arbitragem de custos em direção a um modelo de produção global geograficamente diversificado ((offshoring global). Neste sentido, a globalização da indústria de software ocorreu mediante sucessivas etapas de relocação e expansão internacional partindo dos países desenvolvidos em direção aos mercados emergentes. Atualmente, inicia-se um novo ciclo de crescimento para a indústria de software, que estará condicionado a mudanças associadas às novas tecnologias, aos modelos de negócio e às estratégias empresariais. Considera-se que existem, ao menos, quatro tendências associadas a esta nova fase: i) a integração de operações globais; ii) a migração da indústria de hardware em direção a segmentos de serviços de maior valor agregado; iii) a operação de novos modelos de negócios, e iv) mudanças nos processos de inovação. A América Latina pode chegar a se consolidar como uma localização global de software, tal como ocorrido com a Índia, China e Leste Europeu, em consequência das novas estratégias seguidas pelas empresas transnacionais de software. Estas estratégias consistem em combinar operações globais em distintos fusos horários, níveis de custos e riscos operacionais. Desta maneira, as principais empresas transnacionais de software podem combinar operações em países de alto custo como os Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental, com operações em países de menor custo relativo, porém de maior risco operacional, em regiões como a Ásia-Pacífico, Leste Europeu e América Latina. Este modelo de operação global permite às empresas equilibrar de melhor forma as preferências entre localizações próximas e distantes de seus clientes, possibilitando um acesso privilegiado a recursos humanos qualificados, administrando os riscos operacionais e aproveitando as diferenças de zonas horárias para acelerar o desenvolvimento do ciclo dos projetos e serviços. A indústria de software mostrou alguma estabilidade no número de novos projetos desenvolvidos em localizações internacionais no período compreendido entre 2004 e 2008, e uma redução significativa a partir de 2009 em consequência da crise internacional. Entre janeiro de 2003 e novembro de 2010 registraram-se 2.749 projetos de investimento estrangeiro na indústria de software, os quais se localizaram principalmente na Índia (24%), China (10%) e Estados Unidos (10%). Por sua vez, a América Latina participou com 6% do total, em comparação com 48% da Ásia-Pacífico, 21% da Europa Ocidental e quase 10% do Leste Europeu. As dez principais companhias que desenvolveram projetos de software em nível mundial foram IBM, Microsoft, HP e Oracle, SAP, Google, Sun Microsystems (propriedade da Oracle), Fujitsu, Siemens e Capgemini, que realizaram 22% dos projetos.

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Ao comparar a tendência observada no estabelecimento de novos projetos na América Latina e Caribe com a tendência mundial, ressaltam-se três diferenças: o crescimento experimentado no número de projetos depois da crise; a maior participação de empresas da Índia e Espanha, e a participação de empresas translatinas de software. Das 102 empresas que investiram na América Latina, a IBM é a mais ativa com 17 novos projetos anunciados, seguida pela Microsoft, Tata, Accenture, Oracle e HP, que representam em conjunto 26% dos projetos. Dez projetos correspondem a empresas translatinas, destacando-se a Sonda do Chile. Entre as principais localizações cabe mencionar o Brasil com 36% dos projetos, México com 23%, Argentina com 16% e Chile com 14% (veja o gráfico 9).

Gráfico 9 AMÉRICA LATINA E CARIBE: DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE PROJETOS DE SOFTWARE

POR PAÍS E ENTRE AS 10 PRINCIPAIS EMPRESAS (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em FDI Markets, até novembro 2010. O desenvolvimento da indústria de software no Brasil e no México, e de certo modo na Argentina, explica-se a partir de suas estratégias anteriores de industrialização, mediante as quais desenvolveram uma base produtiva de manufaturas e certa especialização nas áreas de informática e eletrônica. Ademais, este processo de industrialização possibilitou ainda a instalação das principais empresas produtoras de hardware da época, a transferência de novas tecnologias associadas às tecnologias da informação e às comunicações, e o desenvolvimento de recursos humanos especializados. A principal diferença entre o Brasil e o México radica no fato de que o primeiro se destaca pelo atraente mercado interno, enquanto o segundo, por sua proximidade geográfica com o mercado dos Estados Unidos. A partir da década de noventa, coincidindo com os processos de abertura econômica, nasce o offshoring de software na América Latina, como consequência da relocação da indústria de hardware e eletrônica em direção à China e a outros países da Ásia. As principais empresas de hardware com presença no Brasil e México começaram a transformar suas plantas de manufaturas em centros de serviços, aproveitando a infraestrutura disponível e os recursos humanos qualificados, destacando IBM,

Brasil36

México23

Argentina16

Chile14

Colômbia4

Costa Rica2

Uruguai2

Outros países3

IBM33

Microsoft16

Tata16

Accenture6

Oracle6

HP6

TESTCO6

SunGard4

Intel4

SAP4

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HP e Unisys. Por este motivo, atualmente, os principais centros de desenvolvimento de software na América Latina se encontram em localidades que tiveram uma forte especialização em eletrônica, como São Paulo, Guadalajara e Monterrey. Com exceção do Brasil, a relocação de software na América do Sul se iniciou a partir da década de 2000 e com distintos matizes e intensidade. Dos 159 novos projetos de software registrados como IED na América Latina durante os últimos oito anos, 25 instalaram-se na Argentina, 23 no Chile e 7 na Colômbia. Este desenvolvimento deve-se ao fato de que estes países também capitalizaram sua proximidade relativa com o mercado estadounidense e colocaram seus recursos humanos qualificados a custos competitivos no mercado internacional. A Argentina liderou a indústria de relocação de software na América do Sul por contar com uma extensa rede de instituições de educação superior capazes de prover um fluxo permanente de graduados em cidades como Buenos Aires, Córdoba e Rosário a custos competitivos. Chile e Colômbia, diferentes da Argentina, podem ser qualificados como casos de desenvolvimento recentes, porém de alto dinamismo durante a segunda metade da década de 2000. Em ambos países, a indústria se desenvolveu em um lapso não maior que cinco anos. Na América Central existem diversas experiências de desenvolvimento da indústria de serviços empresariais, destacando-se entre elas o caso da Costa Rica que inicia na década de noventa uma estratégia de atração de centros de software de alta relevância internacional. O Uruguai é um caso particular, pois começou a desenvolver a exportação de software a partir da década de noventa e desde então experimentou o crescimento mais alto na região e com maior intensidade exportadora. A América Latina se converteu numa localização estratégica para a maioria das empresas transnacionais de software que implementaram bem-sucedidas estratégias de internacionalização e que se consolidaram como empresas líderes em nível regional e internacional. No quadro 2 apresentam-se as principais empresas que consolidaram suas operações na região e que estão assumindo um papel importante nos processos de transferência de novas tecnologias, formação de recursos humanos e desenvolvimento da oferta exportadora. Entre as empresas transnacionais de software de origem estadunidense distinguem-se dois grupos de acordo com suas estratégias corporativas: por um lado, as empresas com estratégias de consolidação de seus centros globais de serviços de tecnologia da informação (IBM e HP) e, por outro lado, as empresas com estratégias de consolidação de seus centros de engenharia de software (Dell, Intel e Motorola). No caso das empresas europeias com presença na América Latina destacam-se a alemã SAP, a francesa Capgemini e a espanhola Indra, que apresentam uma combinação de serviços de desenvolvimento de software com serviços em processos de negócios e consultoria em tecnologia da informação e comunicações. Por outro lado, a América Latina também se converteu em uma localização estratégica para as empresas da Índia que prestam serviços a clientes nos Estados Unidos por estar em zonas horárias similares e por apresentar custos competitivos. Estas empresas chegaram à América Latina na década de 2000, posteriormente às empresas americanas e europeias. Na América Latina surgiu também uma ampla variedade de empresas locais de serviços globais de tecnologia da informação, empresas translatinas de software, que implementaram estratégias de internacionalização para abordar os mercados regionais e internacionais. Entre essas experiências destacam-se o caso pioneiro da Softtek do México, a consolidação regional da Sonda do Chile, o posicionamento emergente da Globant da Argentina e a especialização regional da TOTVS do Brasil.

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Quadro 2 PRINCIPAIS EMPRESAS TRANSNACIONAIS DE SOFTWARE

QUE OPERAM NA AMÉRICA LATINA

Segmento

Empresas transnacionais de software globais

Empresas transnacionais de software latino-americanas

Estados Unidos Europa Índia Argentina Brasil Chile México

Aplicações de software

Microsoft Oracle IBM HP

SAP Indra

Globant TOTVS

Serviços de software

IBM HP/EDS Accenture Xerox

Capgemini Indra

TCS Infosys HCL WIPRO

G&L Assa

TOTVS CPM Stefanini Politec

Sonda Quintec Adexus Coasin

Softtek Neoris Hildebrando

Engenheira de software

HP Google Dell Yahoo Intel Motorola Synopsis McAfee

SAP

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com a base em entrevistas. Existe margem de crescimento para a inserção da América Latina nesta indústria que pode beneficiar a novas localizações na região. Este desenvolvimento não ocorrerá de maneira espontânea, uma vez que requer um conjunto de políticas públicas que promovam integralmente a atração de IED e o desenvolvimento da indústria local e que impulsionem maior participação das empresas transnacionais de software nos sistemas nacionais e locais de inovação. Entre as principais iniciativas políticas que devem ser fortalecidas destacam-se os programas de desenvolvimento de capital humano, o apoio às atividades de pesquisa e desenvolvimento, a promoção de alianças estratégicas entre empresas e instituições e melhoras no marco regulatório. Em todos estes aspectos é possível e eficiente melhorar os mecanismos para a colaboração entre países e localizações.

F. CONSIDERAÇÕES FINAIS A crescente participação dos países da América Latina nos fluxos de IED ressalta a importância de se trabalhar em maior profundidade com um marco analítico para estudar os efeitos do IED no desenvolvimento. Durante vários anos, o paradigma eclético ofereceu um marco para analisar o posicionamento e expansão das empresas transnacionais após as reformas econômicas de livre mercado no contexto da globalização, associando as estratégias empresariais com seus benefícios e custos e identificando mecanismos mediante os quais o IED podia apoiar o crescimento econômico. Contudo, é necessário aprofundar essa análise para incluir a capacidade de absorção das economias receptoras como determinantes dos impactos do IED, pois essa capacidade é fator essencial para ampliar as operações das empresas transnacionais e difundir seus benefícios nas economias receptoras.

30

Um novo marco analítico deve integrar duas dimensões: por um lado, o comportamento das empresas transnacionais, e por outro, a capacidade de absorção e o sistema nacional de inovação dos países receptores. Sob o ponto de vista das empresas transnacionais é importante estudar suas estratégias —que determinam os fatores complementares que buscam em suas operações— assim como as características de suas filiais (capacidade tecnológica, interconexão com a cadeia de valor global da matriz, o papel na estratégia corporativa e integração nas redes de conhecimento global, corporativas ou outras). A capacidade de absorção e o sistema nacional de inovação atuam, em primeiro lugar como um atrativo para o posicionamento dessas empresas e, posteriormente, determinam as possibilidades de que suas atividades locais progridam tecnologicamente. Assim, a interação entre as empresas transnacionais e o sistema nacional de inovação e a capacidade de absorção das economias determinam seus impactos em termos de transferências de tecnologia, de aumento da produtividade e de criação de novas capacidades. A análise sobre o conteúdo tecnológico dos novos projetos de IED e dos projetos de pesquisa e desenvolvimento associados ao IED na região apresentados no capítulo I deste relatório constituem um primeiro passo em direção ao estabelecimento de um novo marco conceitual.

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Capítulo I

PANORAMA REGIONAL DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO

A. INTRODUÇÃO A América Latina e Caribe foi a região com o maior crescimento em 2010 dos fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) em nível mundial, cerca de 40% em relação ao ano anterior. Em nível global, o IED cresceu apenas 1%, o que ainda reflete as consequências da crise financeira e econômica iniciada em 2008. No entanto, o comportamento foi heterogêneo entre regiões: enquanto o IED aumentou 10% nos países em desenvolvimento, nos países desenvolvidos diminuiu por três anos consecutivos e, em relação a 2009, reduziu-se 7%. Apesar da ainda débil recuperação dos fluxos globais de IED, em 2010 observou-se um crescimento importante destes a partir e em direção aos países em desenvolvimento e em transição. De fato, as correntes de investimento de IED em direção aos países em desenvolvimento e em transição representaram pela primeira vez mais de 50% dos fluxos globais. Por outro lado, também destacar cabe que as saídas de IED dos países em desenvolvimento e em transição mantiveram sua tendência a crescer e, segundo cifras preliminares, representaram 22% das saídas globais de IED em 2010. Neste contexto de maior relevância dos países em desenvolvimento, a região da América Latina e Caribe foi a mais dinâmica em 2010, com o maior crescimento de chegadas e saídas de IED. Os fluxos de IED na América Latina e Caribe alcançaram 113 bilhões de dólares em 2010, aproximando-se às cifras recordes de 2008 (veja o gráfico I.1). O IED na América do Sul aumentou 56% em 2010 e alcançou 85 bilhões de dólares; o Brasil foi o maior receptor, com um montante recorde de 48.462 milhões de dólares, equivalente a 43% do total da região, seguido por México, Chile, Peru e Colômbia. No México, o IED retomou o caminho do crescimento e alcançou os 17.725 milhões de dólares, o que significa um aumento de 17% em relação a 2009, no Peru, por sua vez, se alcançou uma cifra recorde de 7.328 milhões de dólares em 2010, enquanto Colômbia e Argentina receberam 6.760 e 6.193 milhões de dólares, também respectivamente. O IED em direção ao Istmo Centro-Americano, por sua vez, voltou a crescer em 2010, liderado por Panamá e Costa Rica, que juntos representam 64% dos fluxos totais de IED recebidos pela sub-região que, em conjunto, foi de 5.847 milhões de dólares, correspondendo a um aumento de 16% em relação a 2009. Unicamente El Salvador manteve a tendência decrescente iniciada em 2009. Segundo os dados preliminares, o Caribe teve uma contração de 18% em relação a 2009. A República Dominicana foi o principal receptor desta sub-região, já que recebeu 41% dos fluxos em 2010. Ainda que os países da América Central e do Caribe recebam montantes pequenos em termos absolutos, na região são alguns dos maiores receptores em relação ao seu PIB. As saídas de IED da América Latina e Caribe também tiveram um considerável crescimento em 2010. Os investimentos diretos com origem na região se quadruplicaram e alcançaram um novo recorde histórico, com um montante de 43 bilhões de dólares. Ainda, durante a última década ficou evidenciada uma importante tendência à alta das correntes de investimento direto latino-americano no exterior, que incrementaram a sua participação nos fluxos de IED provenientes de países em desenvolvimento de 6% em 2000 a 17% em 2010. México, Brasil, Chile e recentemente Colômbia foram os países com maiores investimentos no exterior e representam mais de 90% do total da região.

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Gráfico I.1 AMÉRICA LATINA E CARIBE: CORRENTES DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO E DE INVESTIMENTO DIRETO NO EXTERIOR, 1992-2010 a (Em bilhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em estimativas e cifras oficiais em 15 de

abril de 2011. a As cifras de IED correspondem a entradas de investimento estrangeiro direto, descontados os desinvestimentos (repatriações

de capital) realizados por investidores estrangeiros. As cifras de investimento direto no exterior correspondem a investimentos realizados no estrangeiro por residentes, descontados os desinvestimentos realizados no exterior por estes mesmos investidores. Nas cifras de IED não se consideram as correntes recebidas pelos principais centros financeiros do Caribe. Nas cifras de investimento estrangeiro direto no exterior não foram consideradas as correntes com origem nestes centros financeiros. Estes dados divergem dos do Estudio económico de América Latina y el Caribe e do Balance preliminar de las economías de América Latina y el Caribe publicados em 2010 uma vez que neles se apresenta o saldo líquido de investimento estrangeiro, isto é, o investimento direto na economia declarante menos o investimento direto no exterior.

Deste modo, os fluxos de IED de e para a América Latina e o Caribe em 2010 retomam a trajetória ascendente da última década; o montante de IED recebido foi o terceiro mais alto da historia e o montante de IED em direção ao exterior constituiu um novo recorde. Ante esta crescente globalização e internacionalização das economias, a região surge a necessidade de revisar o marco analítico que se aplica à estrutura e dinâmica do IED. Ainda que o esquema de análise baseado nas estratégias empresariais (conhecido como o paradigma eclético de Dunning, 1981) mantenha sua validez, é necessário ampliá-lo e incorporar elementos adicionais vinculados aos sistemas de inovação, em particular o desenvolvimento de capacidades locais de absorção e a política industrial como mecanismo para promover e fortalecer os benefícios do IED nas economias da região (veja o requadro I.1)1.

1 O conceito de sistema nacional de inovação foi desenvolvido nos anos oitenta para explicar as diferenças no

desempenho inovador de países industrializados. Nelson e Rosenberg (1993) se focalizam nas organizações que apoiam as atividades de pesquisa e desenvolvimento como principal fonte da inovação e da difusão de conhecimento, enquanto Lundvall (1992) enfatiza a estrutura produtiva e o contexto institucional. Uma definição ampla inclui todos os fatores econômicos, sociais, políticos, organizacionais e institucionais importantes que influem no desenvolvimento, difusão e no uso de inovações (Edquist, 2005).

0

20

40

60

80

100

120

140

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Entradas líquidas de investimento estrangeiro direto Saídas líquidas de investimento direto no exterior

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Requadro I.1 UM MARCO ANALÍTICO PARA ESTUDAR OS EFEITOS DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO

Os estudos que elaboram um marco analítico sobre o investimento estrangeiro direto (IED) têm-se centrado em fatores determinantes e efeitos nas economias receptoras. Adicionalmente, nas últimas décadas avançou-se especialmente no que se refere aos fatores determinantes (Caves, 1996; Blonigen e Piger, 2011). Quanto aos potenciais efeitos das operações de empresas transnacionais, passou-se de visões teóricas a enfoques empíricos cada vez mais holísticos. No entanto, ainda persiste um intenso debate sobre os efeitos das atividades das empresas transnacionais, sobretudo nos países em desenvolvimento devido à dificuldade de encontrar uma relação linear causal entre IED e crescimento econômico, produtividade e inovação (Gallagher, 2010; OCDE, 2002; Lipsey, 2002; Moran e outros, 2005; Markusen e Venables, 1999). Uma visão do comportamento e estratégica da expansão internacional das empresas transnacionais foi proposta por Dunning (1981), para explicar os fatores determinantes do IED. Este paradigma eclético organiza as empresas segundo suas estratégias predominantes: busca de matérias-primas, procura de mercado, busca de eficiência (baixo custo) e busca de ativos estratégicos. Na América Latina e Caribe, este enfoque outorgou um marco para analisar o posicionamento e a expansão das empresas transnacionais a partir da abertura ao âmbito internacional e, logo, no contexto da crescente globalização. Além disso, contribuiu para associar as estratégias empresariais com seus benefícios e dificuldades, estabelecendo-se mecanismos por meio dos quais o IED podia afetar o crescimento econômico (CEPAL, 2004). Contudo, a evidência empírica nos últimos anos destaca a importância da capacidade de absorção das economias receptoras como fator determinante essencial dos impactos da IED (Xu, 2000; Lall e Narula, 2006; Girma, 2005). A capacidade de absorção age como um filtro para o estabelecimento de empresas transnacionais de acordo com suas estratégias; além disso, uma vez estabelecidas, é um fator essencial para promover um maior alcance de suas operações e a difusão dos benefícios (Narula e Lall, 2006; Mortimore e Vergara, 2006; Fu e Li, 2010). Deste modo, um novo marco conceitual deve integrar duas dimensões: as empresas transnacionais e a capacidade de absorção dos países receptores, esta última determinada por seu sistema nacional de inovação. Do ponto de vista das empresas transnacionais, suas estratégias definem os fatores complementares que as empresas buscam em suas operações (capital humano, infraestrutura, fornecedores, entre outros), assim como os encadeamentos e as externalidades que podem desenvolver-se na economia receptora. Igualmente, são também fatores importantes as características da empresa subsidiária em termos de sua capacidade tecnológica, a interconexão com a cadeia global de valor da casa matriz, o peso na estratégia corporativa da empresa transnacional e a integração nas redes de conhecimento global, corporativas ou outras. De fato, a literatura empírica tem ressaltado a importância destes fatores para entender o impacto do IED nos países em desenvolvimento, especialmente em termos de transbordamentos (spillovers), que explicam a capacidade de avançar em direção a atividades tecnologicamente mais sofisticadas nos países receptores (Marín e Arza, 2009; Todo e Miyamoto, 2002). A evidência que surge da Argentina e das atividades de maquila no México confirma a importância da interconexão com as redes de conhecimento global e o grau de autonomia das subsidiárias como determinantes do upgrade na escala tecnológica de suas operações (Giuliani e Marin, 2007; Sargent e Matthews, 2006). Outro eixo do marco conceitual se refere à capacidade de absorção e ao sistema de inovação dos países receptores. Estes elementos funcionam não apenas como determinantes endógenos do país receptor das decisões de localização, mas ao mesmo tempo são afetados por estas operações. Assim, as decisões de localização das transnacionais, a capacidade de absorção e o sistema nacional de inovação nos países receptores coevoluem, determinando os efeitos do IED. No sistema nacional de inovação existem diversos fatores que são relevantes para entender tanto a interação com as empresas transnacionais como os efeitos destas na economia: capital humano, capacidade e base tecnológica, infraestrutura e desenvolvimento de fornecedores locais, estrutura e heterogeneidade produtiva e, em particular, da indústria, nível e qualidade de interações entre diferentes atores do sistema, sejam estes empresas, universidades, organismos do setor público e instituições de pesquisa, e contexto institucional e de apoio à inovação e à geração e adoção de conhecimento (Cimoli, Dosi e Stiglitz, 2009). Neste âmbito, a política industrial também é um aspecto relevante como fator determinante da localização da IED e como instrumento que promove seus benefícios. De fato, existe evidência a respeito dos benefícios de uma política industrial proativa sobre o IED (CEPAL, 2007; Narula e Lall, 2006).

34

Requadro I.1 (conclusão)

A partir destas dimensões do marco conceitual, é possível agrupar os efeitos do IED em impactos diretos e indiretos. Os primeiros não dependem especialmente da interação entre as empresas transnacionais e a capacidade de absorção e o sistema de inovação. Dentre estes se podem mencionar o maior acesso a divisas, o aumento da formação bruta de capital fixo, o incremento da oferta (maior produção e maior acesso a bens e serviços, aumento do emprego, criação de encadeamentos produtivos), a maior arrecadação de impostos e os associados a um aumento das exportações. Por meio destes mecanismos, o efeito do IED no crescimento econômico é similar ao que teriam os investimentos se fossem realizados por empresas nacionais. Os efeitos indiretos estão determinados pela capacidade de absorção e o sistema de inovação. A interação dinâmica e bidirecional entre as empresas transnacionais e o sistema de inovação determina que os impactos indiretos se materializem na economia receptora, se traduzam em um maior conteúdo tecnológico e que se desenvolvam capacidades na estrutura produtiva. Dentre estes podem ser mencionados transbordamentos em produtividade e salários, transferências de tecnologia e acumulação de capacidades, capacitação de capital humano, externalidades pecuniárias sobre o empresariado local e promoção da inovação e novas trajetórias de aprendizagem. Mediante estes mecanismos o IED pode aportar ao crescimento econômico em forma diferente de um investimento nacional, o que mostra os benefícios associados ao caráter estrangeiro do investimento. Em conclusão, as empresas subsidiárias aproveitam em primeiro lugar as capacidades pré-existentes na economia nacional. Em seguida, por meio de sua interação com o sistema de inovação e, no contexto de suas características e estratégias globais, podem realizar um processo de upgrading na escala tecnológica e incrementar o alcance de suas atividades ou, ao contrário, realizar um processo de redução tecnológica (downgrading). Com este processo as empresas transnacionais geram um impacto nas trajetórias de desenvolvimento dos países receptores e, em particular, quanto a capacidades tecnológicas. Uma análise em profundidade destes temas constitui naturalmente uma agenda de pesquisa de longo prazo. No capítulo I do informe correspondente a 2010 de La inversión extranjera en América Latina y el Caribe se analisa a intensidade tecnológica dos projetos de empresas transnacionais e dos projetos de pesquisa e desenvolvimento associados ao IED na região. A crescente inserção da região nos fluxos de IED durante a última década e os novos recordes que alguns países alcançaram em 2010, tanto em entradas quanto em saídas de IED, tornam urgente um esforço de pesquisa nesta área, que contribua a diminuir as brechas institucionais, e a formulação de programas e políticas específicas que promovam os benefícios das atividades de empresas transnacionais na região.

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Um novo marco conceitual deve necessariamente integrar duas dimensões, frequentemente separadas na literatura: a estratégia das empresas transnacionais e a capacidade de absorção dos países receptores, determinadas por seu sistema nacional de inovação. Sendo a primeira basicamente exógena para a maioria dos receptores, a segunda está dentro do seu espaço de ação e pode ser afetada por políticas industriais que buscam transformar a estrutura produtiva para melhorar a capacidade de absorção de tecnologia e dinamizar o crescimento de longo prazo. A partir dessas dimensões, é possível identificar os impactos diretos e indiretos do IED. Uma análise destes temas em profundidade constitui naturalmente uma agenda de pesquisa de longo prazo. No presente documento se avança na integração dessas duas dimensões, particularmente no que se refere à intensidade tecnológica dos projetos de empresas transnacionais e às atividades de pesquisa e desenvolvimento associadas ao IED que a região recebe. Este documento tem cinco seções. Após esta introdução, na seção B, se descreve o panorama mundial do IED. A seção C divide-se em 3 partes: na primeira examina-se o comportamento do IED na América Latina e Caribe com base em estatísticas oficiais do balanço de pagamentos; na segunda se examinam as estratégias das empresas transnacionais mediante uma análise de destino, origem e mecanismos do IED e na terceira se abordam os novos projetos anunciados de IED segundo o conteúdo tecnológico e os projetos associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento. Em seguida, na seção D mostram-se as características mais relevantes dos países da região como investidores no exterior e o crescente fenômeno das empresas translatinas. Na última seção se apresentam as principais conclusões.

35

B. PANORAMA MUNDIAL DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO Em 2010, depois de dois anos consecutivos de quedas do IED em nível global devido à crise econômica de 2008 e 2009, houve uma leve recuperação. As cifras preliminares indicam que em 2010 as correntes globais deste tipo de investimento chegaram a 1,12 bilhões de dólares, o que representa um incremento de 1% em relação ao ano anterior (veja o gráfico I.2). Devido à crise, as correntes de IED caíram em 2009 tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. No entanto, em 2010 o IED mostrou diferentes ritmos de recuperação segundo a região de destino, seus fluxos em direção às economias desenvolvidas se contraíram ainda mais esse ano (-7% em relação a 2009) enquanto os fluxos aos países em desenvolvimento aumentaram 10% (veja o quadro I.1).

Gráfico I.2 CORRENTES DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO MUNDIAL E

POR GRUPOS DE ECONOMIAS, 1990-2010 (Em bilhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais; Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), World Investment Report 2010. Investing in a low-carbon economy (UNCTAD/WIR/2010), Genebra, julho de 2010. Publicação das Nações Unidas, N° de venda: E.10.II.D; e Global Investment Trends Monitor, Nº 5, Genebra, 2011.

a Sudeste europeu e Comunidade de Estados Independentes (CEI).

-

500

1 000

1 500

2 000

2 500

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Economias desenvolvidas Economias em desenvolvimento Economias em transição a

36

Quadro I.1 CORRENTES, TAXAS DE VARIAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DAS ENTRADAS LÍQUIDAS DE

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NO MUNDO, POR REGIÕES, 2007-2010

Regiões Correntes de investimento Taxa de variação

(em porcentagens) Participação

(em porcentagens)

2007 2008 2009 2010 a 2008 2009 2010 a 2007 2008 2009 2010 a

Mundo 2 100 1 771 1 114 1 122 -16 -37 1 100 100 100 100

EconomIas desenvolvidas 1 444 1 018 566 527 -29 -44 -7 69 57 51 47

Sudeste europeu e Comunidade de Estados Independentes b 91 123 70 71 35 -43 2 4 7 6 6

Economias em desenvolvimento c 565 630 478 525 12 -24 10 27 36 43 47

América Latina e Caribe 114 134 80 113 18 -40 40 5 8 7 10

África 63 72 59 50 14 -19 -15 3 4 5 4

Ásia e Oceania 338 375 303 334 11 -19 10 16 21 27 30

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais; Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), World Investment Report 2010. Investing in a low-carbon economy (UNCTAD/WIR/2010), Genebra, julho de 2010. Publicação das Nações Unidas, N° de venda: E.10.II.D; e Global Investment Trends Monitor, Nº 5, Genebra, 2011.

a Cifras estimadas. b Inclui Federação Russa. c A soma dos montantes de IED da América Latina e Caribe, África e Ásia e Oceania não corresponde ao dado total de IED

para países em desenvolvimento. Isto se deve a que os montantes de IED utilizados para a América Latina e o Caribe correspondem aos dados da CEPAL com base em fontes oficiais e não aos estimados pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

Nos países em desenvolvimento o comportamento foi também heterogêneo entre regiões: enquanto na América Latina e Caribe o IED cresceu 40%, na África e em Ásia e Oceania os fluxos variaram -15% e 10%, respectivamente. A redução dos fluxos em países desenvolvidos e o aumento nos países em desenvolvimento significaram que a participação dos primeiros nas correntes globais de IED representasse menos da metade dos fluxos de IED globais em 2010, caindo de 57% em 2008 a 51% em 2009 e a 47% em 2010. Em contrapartida, a participação dos países em desenvolvimento e em transição aumentou de 43% em 2008 para 53% em 2010 (veja o quadro I.1). A região da América Latina e Caribe, por sua vez, em 2010, recebeu 10% do total do IED mundial. Em 2010, os principais receptores de IED entre os países desenvolvidos foram os Estados Unidos (onde o reinvestimento de lucros cresceu 43% em relação a 2009), França, Bélgica e Reino Unido. Dentre os países em desenvolvimento, por sua vez, destacaram-se os países denominados BRIC (Brasil, Federação Russa, Índia e China), Hong Kong (Região Administrativa Especial da China) e Cingapura. Os países em desenvolvimento e em transição registram o IED mais alto em relação ao PIB, o que mostra a maior importância relativa destes fluxos em suas economias. Dentre as regiões em desenvolvimento, a constituída pela América Latina e Caribe apresenta níveis de IED como proporção do PIB menores que os de outras regiões (veja o gráfico I.3). Em 2010, algumas regiões em desenvolvimento incrementaram sua relação entre IED e PIB graças ao crescimento dos fluxos de investimento, com exceção do caso da África, onde estes se contraíram (veja o gráfico I.3). A recente crise financeira e global deixou claro que, dentre os fluxos de capital recebidos pelos países em desenvolvimento e em transição, o IED tem mostrado ser o mais estável, inclusive durante os períodos de crise (CEPAL, 2009).

37

Gráfico I.3 REGIÕES EM DESENVOLVIMENTO: ENTRADAS DE INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO COMO PROPORÇÃO DO PIB, 1990-2010 a (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais; Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), World Investment Report 2010. Investing in a low-carbon economy (UNCTAD/WIR/2010), Genebra, julho de 2010. Publicação das Nações Unidas, N° de venda: E.10.II.D; e Global Investment Trends Monitor, Nº 5, Genebra, 2011; Fundo Monetário Internacional (FMI), World Economic Outlook. Recovery, Risk and Rebalancing, Washington, D.C., outubro de 2010; World Economic Outlook. Rebalancing Growth, Washington, D.C., abril de 2010.

a Os seguintes países, territórios, coletividades ou Estados associados não foram incluídos no cálculo por falta de dados: Anguilla, Antilhas Holandesas, Aruba, Cuba, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Caimã, Ilhas Cook, Ilhas Marshall, Macau (Região Administrativa Especial da China), Micronésia (Estados Federados da), Montserrat, Nauru, Niue, Nova Caledônia, Palestina, Polinésia Francesa, República Democrática do Congo, República Democrática Popular da Coreia, Santa Helena, Somália, Timor Leste, Turks e Caicos, Tuvalu, Ilhas Wallis e Futuna e Iêmen.

As fusões e aquisições transfronteiriças têm sido o mecanismo mais dinâmico de IED nos últimos anos e têm permitido às empresas transnacionais entrar em novos mercados aproveitando as capacidades e os conhecimentos das empresas locais. Os montantes deste tipo de operações em nível global incrementaram-se 37% em relação a 2009. Ainda que esta alta tenha sido insuficiente para reverter a contração de 2008 e 2009, parece indicar a existência de uma tendência positiva que seguramente será fortalecida nos próximos anos (veja o gráfico I.4). O gradual incremento das fusões e aquisições transfronteiriças contrasta com os investimentos em novas plantas (greenfield investments), que em 2010 continuaram com sua contração tanto em número quanto em valor em nível global. Mesmo que os projetos de investimento em novas instalações em países em desenvolvimento e em transição tenham aumentado, não puderam compensar a redução dos projetos em países desenvolvidos, segundo dados de “fDi Markets”, Financial Times.

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África América Latina e Caribe Ásia e Oceania Economias em transição

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Gráfico I.4 EVOLUÇÃO DO VALOR DAS FUSÕES E AQUISIÇÕES MUNDIAIS, 1987-2010 a

(Em bilhões de dólares) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais; Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), World Investment Report 2010. Investing in a low-carbon economy (UNCTAD/WIR/2010), Genebra, julho de 2010. Publicação das Nações Unidas, N° de venda: E.10.II.D; e Global Investment Trends Monitor, Nº 5, Genebra, 2011.

a Os dados de IED e de fusões e aquisições não são estritamente comparáveis pela natureza da informação. No entanto, os montantes de fusões e aquisições constituem um antecedente para interpretar sua relevância nos fluxos totais de IED.

A origem dos fluxos de IED continua concentrada nos países desenvolvidos, ainda que se destaque o aumento da participação dos países em desenvolvimento e em transição, em concordância com a crescente importância destes na economia global. Estes países duplicaram a sua participação durante a última década e alcançariam 22% do total em 2010 (veja o gráfico I.5). Este avanço gradual, mas contínuo, dos países em desenvolvimento será uma das características centrais dos fluxos de IED nos próximos anos.

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Fluxos líquidos de investimento estrangeiro direto Fusões e aquisições

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Gráfico I.5 PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO: PARTICIPAÇÃO NAS CORRENTES DE SAÍDA DE

INVESTIMENTO DIRETO, 2000-2010a (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais; Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), World Investment Report 2010. Investing in a low-carbon economy (UNCTAD/WIR/2010), Genebra, julho de 2010. Publicação das Nações Unidas, N° de venda: E.10.II.D; e “Global and regional FDI trends in 2010”, Global Investment Trends Monitor, Nº 5, Genebra, 2011.

a A classificação de países em desenvolvimento inclui os países em transição.

C. ENTRADA DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO E EMPRESAS TRANSNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

1. Evolução e características das correntes de investimento estrangeiro direto em direção à América Latina e Caribe em 2010

Os fluxos de IED começaram a recuperar-se dos efeitos da crise financeira internacional no último trimestre de 2009 e durante 2010 mantiveram uma tendência crescente. A América Latina e o Caribe, sem incluir os principais centros financeiros, receberam 112.634 milhões de dólares em termos de IED, cifra 40% superior aos 80.376 milhões alcançados em 2009 (veja o gráfico I.6). Ainda que os montantes de IED recebidos em 2010 não tenham superado a cifra recorde de 2008, mantêm-se acima da média anual da década e mostram tendência de alta, o que reflete o bom posicionamento da região como destino de investimentos e lugar de localização das atividades das empresas transnacionais.

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Gráfico I.6 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ENTRADAS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO POR SUB-REGIÃO, 1990-2010 (Em bilhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de

abril de 2011. As sub-regiões da América do Sul e do México, Istmo Centro-Americano e Caribe mostraram uma recuperação nos fluxos de IED durante 2010 apesar da diferente especialização produtiva de cada uma. Nesse ano, a recuperação foi mais forte na primeira, onde os fluxos de IED cresceram 56%, enquanto na segunda aumentaram 11%. Não obstante, o Caribe, em particular, segundo cifras preliminares, mostra uma redução de 18% do IED em relação a 2009 (veja o quadro I.2). A recuperação do IED foi devida a vários fatores. Em primeiro lugar, o crescimento das economias desenvolvidas, mesmo lento, evitou maiores restrições financeiras e permitiu às empresas transnacionais voltar a implementar estratégias mais ativas em nível global. Em segundo lugar, o dinamismo de algumas economias emergentes, sobretudo da Ásia, liderado pela China, mas também do Brasil e da Federação Russa, permitiu a alguns setores crescer em forma sólida, impulsionados por marcados aumentos da demanda. Isto é evidente na área dos recursos naturais, como a mineração de metais, os hidrocarbonetos e os alimentos, mas também na de manufaturados, como o setor automobilístico e a produção de circuitos integrados, ou em serviços, como desenvolvimento de software (veja o capítulo V) e serviços de telecomunicações (veja o capítulo IV). Em terceiro lugar, e vinculado com o ponto anterior, o crescimento de algumas economias, como as do Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru impulsionou o IED dirigido a aproveitar mercados locais. Neste âmbito, a implementação de políticas anticíclicas foi importante para a reativação da demanda interna, especialmente no Brasil e no Chile. Em quarto lugar, algumas atividades vinculadas às empresas estrangeiras aumentaram seu crescimento precisamente como resposta à crise, como ocorreu com a terceirização de alguns serviços empresariais à distância (CEPAL, 2009).

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América do Sul México, Istmo Centro-Americano e Caribe Total

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Quadro I.2 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ENTRADAS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO, POR PAÍSES E TERRITÓRIOS RECEPTORES, 2000-2010 (Em milhões de dólares e porcentagens)

País 2000-2005 a 2006 2007 2008 2009 2010 Diferença absoluta

2010-2009

Diferença relativa 2010-2009

(em porcentagens)

América do Sul 37 969 43 410 71 227 91 329 54 550 85 143 30 594 56 Brasil 19 197 18 822 34 585 45 058 25 949 48 462 22 513 87 Chile 5 012 7 298 12 534 15 150 12 874 15 095 2 221 17 Peru 1 604 3 467 5 491 6 924 5 576 7 328 1 752 31 Colômbia 3 683 6 656 9 049 10 596 7 137 6 760 -377 -5 Argentina 4 296 5 537 6 473 9 726 4 017 6 193 2 176 54 Uruguai 393 1 494 1 329 1 809 1 258 1 627 369 29 Bolívia (Estado Plurinacional da) 350 278 362 508 426 651 225 53 Paraguai 48 95 202 209 99 268 169 171 Equador 839 271 194 1 001 319 164 -155 -49 Venezuela (República Bolivariana da) 2 546 -508 1 008 349 -3 105 -1 404 1 701 55

México 22 722 19 779 29 714 25 864 15 206 17 726 2 520 17 Istmo Centro-Americano 2 549 5 756 7 235 7 593 5 057 5 847 790 16 Panamá 656 2 498 1 777 2 402 1 773 2 363 590 33 Costa Rica 597 1 469 1 896 2 021 1 323 1 412 89 7 Honduras 418 669 928 1 006 523 798 274 52 Guatemala b 334 592 745 754 574 678 105 18 Nicarágua 219 287 382 626 434 508 74 17 El Salvador c 325 241 1 508 784 431 89 -342 -79

Caribe d 3 557 6 043 6 187 9 735 5 563 3 917 -349 -18 República Dominicana 932 1 085 1 667 2 870 2 165 1 626 -540 -25 Trinidad e Tobago b 842 883 830 2 801 709 549 -160 -23 Bahamas e 383 1 159 746 839 664 499 -92 -16 Suriname 143 323 179 124 242 213 -29 -12 Guiana 50 102 110 179 222 198 -24 -11 Haiti 12 160 75 34 37 150 113 303 São Cristóvão e Névis b 84 115 141 184 136 128 -8 -6 Antígua e Barbuda b 127 361 341 176 121 108 -13 -11 Santa Lúcia b 76 238 277 166 152 105 -48 -31 Belize 56 109 143 180 112 100 -12 -11 São Vicente e Granadinas b 43 110 132 159 107 93 -14 -13 Granada b 65 96 167 148 104 90 -14 -13 Dominica b 26 29 48 57 42 31 -11 -25 Anguilla b 60 143 120 101 46 25 -22 -47 Montserrat b 2 4 7 13 3 2 -1 -19 Jamaica 595 882 867 1 437 541 … … … Barbados 63 245 338 267 160 … … …

Total 66 796 74 987 114 363 134 521 80 376 112 634 32 258 40

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em estimativas e cifras oficiais em 15 de abril de 2011.

a Média simples. b Estimativa oficial para o montante de IED de 2010. c A partir do quarto trimestre de 2009, El Salvador atualizou sua metodologia de medição do IED, pelo que nos dados de 2010

se deduzem os passivos das empresas, mostrando-se só dados líquidos de IED. d Para o cálculo da diferença absoluta e relativa do IED no Caribe de 2010 em relação a 2009 se excluíram os dados da

Jamaica, Bahamas e de Barbados em 2009 por não estarem disponíveis para 2010, visando a realizar uma comparação consistente do ponto de vista estatístico.

e O dado de 2010 corresponde ao acumulado até o terceiro trimestre. Por isso as variações absolutas e percentuais estão calculadas em relação ao terceiro trimestre de 2009.

42

Estes fatores que impulsionaram a chegada de IED contrastam com os efeitos intuitivamente esperados a priori da tendência generalizada à apreciação das moedas locais em grande parte dos países da América Latina. Em países nos quais o IED busca recursos naturais, o alto preço dos produtos básicos compensou o efeito negativo da valorização cambial, o que gerou incentivos para novos investimentos. Quanto a estratégias de busca de mercado interno, as empresas transnacionais aproveitaram o maior poder aquisitivo dos países, associado à apreciação de suas moedas. Assim, a relação entre a taxa de câmbio e o IED é complexa e exige maior análise para compreender seus mecanismos, como apresentado no requadro I.2.

Requadro I.2 O IMPACTO DAS VARIAÇÕES DA TAXA DE CÂMBIO NO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO

Nas últimas décadas ocorreu um importante avanço na análise dos fatores determinantes do investimento estrangeiro direto (IED) (Blonigen, 2005). Neste âmbito, foi também pesquisado o efeito da taxa de câmbio nos montantes e no destino setorial do IED (Goldberg e Kolstad, 1995; Sung e Lapan, 2000; Campa, 1993). Ainda que este tipo de investimento tenha um comportamento mais estável que outros fluxos de capital, não existe uma resposta concludente a respeito da relação entre a taxa de câmbio e o IED. Até meados dos anos noventa, a opinião mais aceita era que as variações na taxa de câmbio não alteravam as decisões de investimento das empresas transnacionais. Assim, uma depreciação da moeda local em países receptores de IED, ou seja, um aumento da taxa de câmbio reduziria o montante de investimento necessário para a aquisição de um ativo, mas também implicaria uma redução do retorno (nominal) em moeda estrangeira, deixando a taxa de retorno inalterada. Nos últimos anos tem ficado em evidência que existem vários mecanismos mediante os quais uma depreciação pode aumentar os fluxos de IED. O primeiro se refere ao efeito sobre os (menores) custos laborais em moeda estrangeira, o que gera uma vantagem de localização. Um segundo mecanismo está associado ao mercado de capitais e, em particular, às diferenças de custos no acesso ao financiamento das empresas. A melhor posição financeira da empresa transnacional devido à depreciação no país receptor, além do menor custo de seus recursos próprios quanto a financiamento externo, levaria a um aumento dos fluxos de IED (Froot e Stein, 1991). Outros pesquisadores propõem um resultado similar, mas mediante um terceiro mecanismo: se o IED está associado à aquisição de ativos específicos (tecnologia, habilidades gerenciais, patentes), uma depreciação reduz o preço do ativo, mas não necessariamente os retornos nominais. Isto devido a que os ativos específicos podem ser explorados em qualquer lugar onde a empresa tenha operações (Blonigen, 1997). Além disso, estes mecanismos podem ter um efeito heterogêneo dependendo das estratégias das empresas transnacionais. O efeito da taxa de câmbio é diferente para as empresas que implementam uma estratégia de busca de recursos naturais e de busca de menores custos para exportar a terceiros mercados, e para as empresas com uma estratégia de busca de mercado interno. No caso de empresas que buscam exportar a terceiros mercados, uma depreciação tenderá a afetar positivamente o IED. Na situação em que o IED busca o mercado interno, por sua vez, o efeito positivo da depreciação tenderá a ser parcialmente compensado pelo menor retorno do investimento (em moeda estrangeira), devido à taxa de câmbio mais desfavorável ao remeter lucros à casa matriz e ao menor poder de compra do mercado nacional. Ainda, no caso de empresas enfocadas em mercados locais, uma apreciação pode aumentar os fluxos de IED devido ao maior poder de compra do mercado interno. Também é importante considerar que os efeitos da taxa de câmbio podem operar mediante diferentes mecanismos dependendo da forma que o IED adquira (Dewenter, 1995). Instintivamente, espera-se que o impacto de uma depreciação via mercado de capitais (isto é, uma redução do preço dos ativos) seja relativamente mais forte no IED que se concretiza em fusões e aquisições e deveria ser relativamente maior pela redução dos custos laborais em investimentos associados a novas plantas. Por último, um aspecto que recém começa a ser explorado se refere à interdependência temporal do IED, o que poderia explicar que os investimentos não variem significativamente frente a movimentos cambiais (Alba, Park e Wang, 2009). Para finalizar, não existe uma resposta concludente sobre os efeitos de variações da taxa de câmbio nos fluxos de IED, que dependem tanto das estratégias das empresas transnacionais e das formas que adquire o IED como dos mecanismos associados a salários relativos, mercado de capitais e ativos específicos.

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

43

As diferenças de ritmo de crescimento do IED entre a América do Sul e o México, Istmo Centro-Americano e Caribe estão vinculadas aos seus distintos padrões de especialização. Na América do Sul há uma tendência ao aumento do peso dos setores primários nas exportações e no IED, enquanto no México e no Istmo Centro-Americano os manufaturados intensivos em ensamblagem e em serviços aprofundam a trajetória de especialização e vinculação com os Estados Unidos, pelo que foram mais afetados pela crise e a débil recuperação desta economia. O Caribe, por seu lado, tem suportado a lenta recuperação do turismo e, com isso, a postergação de muitos investimentos relacionados com a infraestrutura turística (CEPAL, 2009). Uma análise do IED como proporção do PIB mostra algumas peculiaridades. Para os países pequenos, o IED é uma importante fonte de financiamento, sendo isto particularmente certo em alguns países do Caribe nos que o IED representa mais de 10% do PIB como, por exemplo, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Granada e Santa Lúcia (veja o gráfico I.7). Os maiores receptores em termos absolutos, ao contrário, mostram um IED relativamente baixo como proporção do PIB em 2010: 2,4% no Brasil e 1,7% no México. Dentre estes países o Chile se destaca pela alta proporção do IED em relação ao PIB, em torno de 8% em 2010, seguido pelo Peru com 4,8%. No outro extremo, na Argentina, o IED representou somente 1,8% do PIB.

Gráfico I.7 AMÉRICA LATINA E CARIBE: INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO

COMO PROPORÇÃO DO PIB, 2010 a (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de

abril de 2011. a O indicador IED/PIB normaliza a dimensão do IED em relação ao tamanho da economia. Dado que o PIB é calculado a

preços correntes, a inflação interna ou a flutuação cambial podem afetar a comparação intertemporal ou entre países. b Os dados correspondem a 2009.

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44

a) América do Sul: dinamismo dos mercados internos e benefícios pelo alto preço das matérias-primas

A América do Sul foi a sub-região que recebeu a maior proporção de fluxos de IED na América Latina e Caribe em 2010, 85.143 milhões de dólares, o que representa 76% do total e um crescimento de 56% em relação a 2009 (veja o quadro I.2). Este montante é o segundo maior da história, superado apenas em 2008. O crescimento dos fluxos em 2010 explica-se, em grande medida, pelo acentuado aumento do IED, com novos recordes históricos no Brasil, Chile e Peru, além do alto montante recebido por Colômbia e a Argentina.

Quadro I.3 AMÉRICA LATINA E CARIBE: AQUISIÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS DE EMPRESAS

OU ATIVOS POR MAIS DE 100 MILHÕES DE DÓLARES, 2010 (Em milhões de dólares)

Empresa ou ativo adquirido País Setor Empresa compradora País comprador Valor

Vivo (Brasilcel NV) Brasil Telecomunicações Telefónica SA Espanha 9 742,79

FEMSA-Operación cervecera México Bebidas/Licores Heineken Países Baixos 7 325,02

Repsol YPF Brasil SA Brasil Petróleo/Gás Sinopec Group China 7 111,00

Campo de petróleo Carabobo Venezuela (República Bolivariana da)

Petróleo/Gás Indian Oil, Oil India, Petronas y Repsol-YPF

Índia 4 848,00

Bridas Corp Argentina Petróleo/Gás CNOOC Ltd China 3 100,00

Moema Group Mills e Usina Moema Açúcar e Álcool Ldta.

Brasil Agroindústria Bunge Ltd Estados Unidos 2 359,74

Mineração Usiminas Brasil Mineração Sumitomo Corp Japão 1 930,00

BAC Credomatic GECF Inc Panamá Serviços financeiros Grupo Aval Acciones y Valores

Colômbia 1 920,00

GVT Brasil Telecomunicações Vivendi SA França 1 777,43

Expansión Transmissão Itumbiar Brasil Serviços State Grid Brasil 1 701,55

Gas Natural-Combined Cycle Power

México Petróleo/Gás MT Falcon Hldg Co SAPI de CV

México 1 465,00

Wal-Mart Centroamérica Guatemala Comércio Wal-Mart de México SAB de CV

Estados Unidos 1 347,34

Compañía Minera del Pacifico SA Chile Mineração Mitsubishi Corp Japão 924,00

Bahia Minerals BV Brasil Mineração Eurasian Natural Resources

Reino Unido 735,00

Autopista Central SA Chile Infraestrutura Alberta Investment Mgmt Corp

Canadá 735,00

MMX Mineração e Metálicos Brasil Mineração SK Networks Co Ltd República da Coreia

698,28

Bayovar Phosphate Mine Project Peru Mineração Investor Group Estados Unidos 660,00

Autostrade per il Cile-APC Chile Infraestrutura Autostrade Sud America Srl

Itália 659,70

DECA II Guatemala Energia EPM Colômbia 605,00

Sky Brasil Brasil Telecomunicações DirecTV Latin America LLC

México 604,80

Farmacias Ahumada Chile Comércio Grupo Casa Saba SAB de CV

México 604,24

Cia Industrial de Vidros Brasil Manufaturados Owens-Illinois Inc Estados Unidos 603,00

Dufry South America Ltd Brasil Comércio Dufry AG Suíça 527,04

LQ Inversiones Financieras SA Chile Serviços financeiros Citigroup Inc Estados Unidos 519,70

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Quadro I.3 (conclusão)

Empresa ou ativo adquirido País Setor Empresa compradora País comprador Valor Goldcorp (San Dimas) México Mineração Mala Noche

Resources Corp Canadá 510,00

Goldcorp (Escobal) Guatemala Mineração Tahoe Resources Inc Estados Unidos 505,00

YPF SA Argentina Petróleo/Gás Investor Group Estados Unidos 499,99

Cintra Concesiones de Infraestructura de Transporte

Chile Infraestrutura Interconexión Eléctrica SA (ISA)

Colômbia 499,02

Sistema Educacional Brasileiro Brasil Serviços educacionais Pearson PLC Reino Unido 498,74

Tivit Terceirização de Processos, Serviços e Tecnologia

Brasil Serviços empresariais Apax Partners LP Estados Unidos 475,81

Kinross Gold Corp-Cerro Casale Chile Mineração Barrick Gold Corp Canadá 474,00 El Morro Copper-Gold Project Chile Mineração New Gold Inc Canadá 463,00 Tivit Terceirização de Processos, Serviços e Tecnologia

Brasil Servicçs empresariais Apax Partners LP Estados Unidos 422,56

Cia Minera Milpo SAA Peru Mineração Votorantim Metais Ltda

Brasil 418,90

CVC Brasil Operadora e Agência de Viagens

Brasil Turismo Carlyle Group LLC Estados Unidos 401,01

Odebrecht Óleo e Gás Brasil Construção/ engenharia

Temasek Holdings(Pte)Ltd

Cingapura 400,00

Sul Americana de Metais SA Brasil Mineração Honbridge Holdings Ltd Hong Kong (RAE da China)

390,00

Vale SA, Mitsui Co Ltd-Bayovar Peru Mineração The Mosaic Co Estados Unidos 385,00 Ecuador Bottling Co Corp Equador Bebidas Embotelladoras Arca

SAB de CV México 345,00

Equipav SA Açúcar e Álcool Brasil Agroindústria Shree Renuka Sugars Ltd

Índia 331,40

Mineração Minas Bahia Brasil Mineração Eurasian Natural Resources

Reino Unido 304,00

El Paso Corp-Mexican Pipeline México Energia Sempra Pipelines & Storage Inc

Estados Unidos 300,00

CPM Braxis SA Brasil Serviços empresariais Capgemini SA França 298,91 Laboratorios Phoenix SACyF Argentina Farmacêutica GlaxoSmithKline PLC Reino Unido 253,00 Yamana Gold Inc-Gold Mines(2) Brasil Mineração Aura Minerals Inc Canadá 240,00 Vale do Ivaí SA Brasil Agroindústria Shree Renuka

Sugars Ltd Índia 239,99

Laboratorio Teuto Brasileiro Brasil Farmacêutica Pfizer Inc Estados Unidos 238,71 Rumo Logistica SA Brasil Logística Investor Group Estados Unidos 225,38 Almacenes Éxito SA Colombia Comércio Citigroup Global

Markets Ltd Reino Unido 216,26

HydroChile SA Chile Energia Eton Park Capital Mgmt LP

Estados Unidos 200,00

Frontino Gold Mines Ltd Colombia Mineração Medoro Resources Ltd Canadá 198,36 Viñedos Errázuriz – Atacama Chile Mineração Investor Group República da

Coreia 190,00

MOP-Iquique Highway Access Chile Infraestrutura Sacyr Concesiones SL Espanha 188,60 IBI México México Serviços financeiros Banco Bradesco SA Brasil 163,74 Scalina Brasil Manufactura Carlyle Group LLC Estados Unidos 162,57 Red de Televisión Chilevisión Chile Telecomunicações Turner Intl

(Turner Bdcstg) Estados Unidos 150,99

MMX Mineração e Metálicos Brasil Mineração/ metalurgia

Wuhan Iron & Steel Co Ltd

China 120,00

Inmaculada Gold Silver Project Peru Mineração Hochschild Mining PLC

Reino Unido 115,00

Compañía Carbones del Cesar S.A. Colombia Mineração Goldman Sachs Group Inc

Estados Unidos 100,20

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em informação de Thomson Reuters.

46

No Brasil o IED alcançou em 2010 um novo recorde e superou 48 bilhões de dólares, um aumento de 87% em relação a 20092. O incremento no IED, fundamentalmente novos aportes de capital, tem sido potencializado pelo crescimento econômico, que alcançou 7% em 2010. Os fluxos de investimento se concentraram em recursos naturais e manufaturados, com 39% e 37% do total, respectivamente, enquanto os serviços receberam 24% do IED. Nos recursos naturais, se destacam os setores de petróleo e gás (22% do total de IED) e a extração de metais (14%). Em manufaturados, os setores mais dinâmicos foram o de alimentos (9%), metalurgia (9%), produtos químicos (7%) e derivados de petróleo (3%). Além disso, como adiante analisado, o Brasil consolidou-se como pólo de atração regional para os investimentos com maior conteúdo tecnológico e os projetos associados à pesquisa e desenvolvimento. Em termos de origem do IED, a China foi o principal investidor em 2010, com15% do total e um montante de 7.500 milhões de dólares3. A China é seguida por Suíça (13%) e Estados Unidos (11%). Por outro lado, a acentuada apreciação do real brasileiro (15% em 2010) e o incremento do consumo interno favoreceram a chegada de IED associado a uma estratégia de busca de mercados (veja o requadro I.2). É importante mencionar que os fluxos de IED têm ajudado a financiar de maneira significativa o crescente déficit na conta de transações correntes do país, que alcançou 45 bilhões de dólares em 20104. O IED no Chile mostrou uma subida de 17% em 2010 e alcançou 15.095 milhões de dólares, liderado por novos aportes de capital das empresas transnacionais. Em um contexto temporal mais amplo, o IED não foi particularmente afetado durante a crise global e os montantes mostram uma tendência de alta em comparação com o primeiro quinquênio da década. Deste modo a média de entrada de IED para 2000-2005 foi de 5 bilhões de dólares, enquanto a partir de 2007 tem superado 12 bilhões de dólares por ano. Historicamente os principais países investidores têm sido os Estados Unidos, Canadá e Espanha, aos que corresponde quase 60% do IED entre 2001 e 2010. Durante 2010 o maior investidor foram os Estados Unidos (19%), seguido pelo Reino Unido (12%), Canadá (11%) e Espanha (8%). As estatísticas de destino setorial, por sua vez, mostram que os mais importantes em 2010 foram os serviços, com 53%, e a mineração, com 41% do total, enquanto a indústria de manufaturados recebeu apenas 2%5. Esta distribuição confirma o posicionamento histórico dos fluxos de IED no país, concentrados em mineração e serviços. Dentre os anúncios importantes sobre fusões e aquisições destaca-se a anunciada por LAN Chile e TAM Airlines (do Brasil), que poderia gerar o maior grupo de transporte aéreo da região (veja o requadro I.3)6.

2 O Brasil não informa dados associados à reinvestimento de lucros, razão pela qual o montante oficial subestima

os verdadeiros montantes de IED. 3 As cifras oficiais do Banco Central do Brasil mostram que Luxemburgo é o maior investidor em 2010. No

entanto, isto se deve a que a compra de 40% da Repsol YPF Brasil pela empresa China Sinopec, por 7 bilhões de dólares, foi realizada via Luxemburgo (veja a informação oficial do Brasil no quadro I.A-4). No capítulo III deste documento podem ser vistos mais detalhes dos investimentos chineses na região.

4 Para o ano 2011 espera-se que o déficit seja da ordem de 70 bilhões de dólares, o que poderia ser arriscado do ponto de vista macroeconômico, particularmente em caso que os fluxos de IED se revertam.

5 Esta distribuição setorial abrange a totalidade do IED no país e não apenas a materializada mediante o decreto-lei 600. 6 Uma das mudanças legislativas importantes em 2010 no Chile foi a aprovação de uma nova regalia para o setor

de mineração, que implica a modificação do regime tributário no qual se amparam as empresas transnacionais. O novo regime eleva a taxa que as empresas mineradoras pagam para uma faixa variável entre 4% e 9% da renda operacional entre 2010 e 2012, que se calculará de acordo com a margem operacional do contribuinte. A partir de 2013 o regime pactuado no contrato original será aplicado pelo prazo restante até o seu vencimento e logo se agregarão seis anos de invariabilidade, com uma taxa que vai de 5% a 14%. A maioria das transnacionais na área de mineração adotou este novo regime tributário.

47

Requadro I.3 A CONSOLIDAÇÃO CHEGA AO ESPAÇO AÉREO

O setor de transporte aéreo foi sempre regulado e protegido, tanto por motivos de segurança quanto por tratar-se de um setor estratégico. Tem experimentado uma importante reconfiguração nas últimas décadas, devido à maior desregulação, ao aparecimento de empresas que oferecem passagens de baixo custo e o consequente aumento da competição, às privatizações de algumas empresas estatais e à consolidação de mercados regionais, como o europeu. De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), a indústria de transporte aéreo continua fragmentada; e se estima que existem cerca de 1.000 linhas aéreas no mundo. Isto mostra que existe uma grande margem para consolidação, sobretudo quando comparado com a experiência de outros setores, como o automobilístico e o farmacêutico (IATA, 2010). Nos últimos anos, a indústria tem começado uma paulatina consolidação, que veio concretizando-se mediante alianças entre grandes companhias, como One World, Sky Team e Star Alliance. Também, foram realizadas algumas fusões e aquisições, como Air France-KLM, Delta-Northwest, United-Continental, Southwest-AirTran, a absorção de Swiss Air e Austrian Airlines por Lufthansa, assim como a recente fusão de British Airways e Iberia. A região da América Latina e Caribe não está alheia a este processo e em 2010 houve importantes operações que a inseriram nesta tendência global. Neste aspecto, algumas linhas aéreas estão implementando estratégias de fusões, aquisições e alianças para ter acesso a mercados locais regulados, melhores práticas de administração e incrementar a escala de suas operações. Dentre as operações mais importantes destaca-se a criação de LATAM Airlines mediante a fusão da chilena LAN com a brasileira TAM, que deu origem ao maior grupo aéreo da região. Esta operação supõe uma troca de ações valorizada em 3.425 milhões de dólares mediante a qual os acionistas de LAN terão 71% da nova companhia fusionada e os de TAM os restantes 29% (Thomson-Reuters, 2011). No entanto, as regulações do setor e seus possíveis efeitos sobre a competição levaram a Fiscalía Nacional Económica do Chile a condicionar a fusão e acordar a implementação de determinadas melhorias para os passageiros mediante programas de passageiro frequente, redução de preços e entrada de novos operadores em determinadas rotas. Além disso, o Tribunal de Defesa da Livre Competição do Chile revisará os termos da fusão, o que retardaria sua concretização para 2011 ou 2012. Também é necessário respeitar a legislação brasileira que impede que grupos estrangeiros tenham a propriedade de mais de 20% de uma linha aérea nacional. Para cumprir com a lei brasileira, o acordo estabeleceu uma estrutura de propriedade especial para TAM. LATAM terá 100% dos direitos econômicos de TAM, mas os investidores brasileiros conservarão 80% dos direitos políticos, mantendo a sua condição de controladores da linha aérea. LAN também adquiriu em 2010 a linha aérea colombiana Aires por 112 milhões de dólares. Outra importante fusão na indústria aérea é a de Synergy Aerospace Corp. (SAC), acionista majoritária da companhia colombiana Avianca, e Kingsland Holding Limited, proprietária do Grupo Taca. Esta união estratégica concretizou-se mediante um contrato de aporte de ações em Avianca e em Taca respectivamente, constituindo uma nova companhia holding de ações Holdco. SAC (Avianca) controlaria 67% das ações da nova companhia e Kingsland Holding Limited (Taca) ficaria com os 33% restantes. A transação também contempla um aporte por parte de Avianca de 10% na sociedade Grupo Taca de até 40 milhões de dólares, pelo que os acionistas de Avianca terão 75% de participação na nova controladora e os de Taca terão 25%. O novo grupo se integrou à rede Star Alliance e confirmou também a compra de 100% das ações da equatoriana Aerolíneas Galápagos S.A (AeroGal). A Comissão para a Promoção da Competição na Costa Rica investiga os alcances e efeitos sobre a competição, do acordo de cooperação de Avianca-Taca com United-Continental e COPA, no âmbito da rede Star Alliance, pois estudos prévios já haviam alertado sobre os efeitos da concentração de mercado, especialmente em rotas regionais (Cuevas, 2009). A empresa panamenha Copa Airlines tem seguido um modelo de alianças específicas para sustentar o seu crescimento. Em 2010 concretizou a compra da colombiana Aero República, o que aumentou sua presença nesse país e nos voos regionais que essa empresa tinha. Em resumo, as estratégias das empresas aéreas para ter acesso a mercados nacionais regulados e adquirir maior escala de operações e conhecimentos de outras empresas, está consolidando a indústria aérea regional. O aparecimento de grandes empresas translatinas no setor aéreo poderia dar a esta indústria um impulso global e os efeitos sobre a competição e os potenciais benefícios para os passageiros deverão ser vistos no curto prazo.

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

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As correntes de IED no Peru cresceram 31% em 2010, totalizando um montante recorde de 7.328 milhões de dólares, cifra que corresponde a 9% do total da América do Sul. O crescimento do IED é explicado fundamentalmente pelos altos níveis de reinvestimento de lucros das empresas transnacionais, que alcançaram 5.731 milhões de dólares. Os aportes de capital foram de 1.533 milhões de dólares, enquanto os empréstimos líquidos com as casas matrizes foram de apenas 64 milhões de dólares. As cifras disponíveis sobre a distribuição setorial, que são parciais, mostram que o IED se dirige especialmente a serviços e recursos naturais. E também que o escasso investimento em manufaturados está dirigido a atividades estreitamente ligadas aos recursos naturais, como a agroindústria ou as refinarias de petróleo. A mineração, no entanto, tem uma ampla presença de grupos estrangeiros, dentre os que se destacam Grupo México, BHP Billiton (Austrália), Freeport Mcmoran Copper & Golds (Estados Unidos), Xstrata (Suíça), Newmont (Estados Unidos) e Barrick (Canadá). Nos últimos dois anos, grandes grupos chineses têm adquirido projetos em desenvolvimento, quase todos na área de mineração de cobre, pelo que se espera que uma parte importante do investimento em mineração na próxima década provenha da China (veja o capítulo III deste documento). Na Colômbia as correntes de IED se reduziram 5% em 2010, alcançando 6.760 milhões de dólares, o que colocou esse país como o quarto destino de IED na sub-região (34% do total corresponderam a reinvestimento de lucros). Os montantes de IED recebidos na segunda metade da década (maiores que 6,5 bilhões de dólares todos os anos) têm sido consideravelmente superiores aos recebidos na primeira metade, quando eram em média de 3,6 bilhões por ano. Os setores que lideraram a chegada de investimento em 2010 foram os recursos naturais, com cerca de 74% do total (42% na área de extração de petróleo, 30% na mineração e 2% em agricultura, caça, silvicultura e pesca), seguidos pelos serviços, com 18% e manufaturados, com 9%. No setor de mineração destaca-se a aquisição de Frontino Gold Mines pela empresa canadense Medoro Resources por 198 milhões de dólares. Na área de serviços, destacam-se o setor financeiro (14%) e o comércio (7%). Quanto à origem do IED, a informação sobre novos investimentos mostra que o principal investidor em 2010 foi o Panamá (51% do total), seguido pelo Reino Unido (16%) e Canadá (14%)7. Na Argentina, os fluxos de IED cresceram 54 % e totalizaram 6.193 milhões de dólares. Não obstante, estas cifras ainda se encontram distantes do máximo da década alcançado em 2008, quando os fluxos superaram 9 bilhões de dólares. Dentre as aquisições mais importantes, se destaca no setor de recursos naturais a compra de Bridas pela empresa China CNOOC por 3,1 bilhões de dólares e a compra de uma participação minoritária em YPF por um grupo estadunidense por 499 milhões de dólares8. Quanto a manufaturados destaca-se a compra do laboratório Phoenix pela empresa britânica GlaxoSmithKline por 253 milhões de dólares. O IED no Uruguai alcançou 1.627 milhões de dólares em 2010, o que representa 29% de incremento em comparação com 2009. Na segunda metade da década atual, o IED tem crescido acentuadamente: enquanto em 2000-2005 alcançou média próxima a 390 milhões de dólares, entre 2006-2010 a média superou 1,5 bilhões de dólares. Em termos de destino, alguns anúncios de novos investimentos e de fusões e aquisições indicam que a indústria de papel e celulose é um dos setores mais dinâmicos. No começo de 2011 concretizou-se o acordo para o que será o maior investimento estrangeiro no Uruguai, a construção de uma nova planta de papel no departamento costeiro de Colônia pela empresa

7 Devido a que grande parte do investimento na Colômbia provém de centros financeiros não é possível definir

com precisão a origem do IED. 8 O grupo Eton Park Capital Management adquiriu 1,63% de YPF por 250 milhões de dólares; o grupo Capital fez

o mesmo, por igual porcentagem e igual montante. Tudo isto responde ao programa de desinvestimento da filial argentina (YPF) de Repsol.

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sueco-finlandesa Stora Enso e a chilena Arauco, que implicaria um investimento da ordem de 1,9 bilhões de dólares. Também existem vários projetos no setor de mineração que poderiam materializar-se em um futuro próximo, especialmente em minério de ferro e granito. No Estado Plurinacional da Bolívia os fluxos de IED em 2010 alcançaram 651 milhões de dólares, 53% mais que em 2009. Desde 2006 o IED tem mostrado uma relativa estabilidade, ainda que, como nos demais países da região, houvesse uma redução devido à crise financeira global (queda de 16% em 2009). Em nível setorial, as cifras oficiais mostram que entre 2004 e 2008 o setor extrativo concentrou 56% do IED, particularmente na prospecção e exploração de minas e pedreiras, com 34%, e a prospecção e exploração de petróleo cru e gás natural, com 22%. O setor de serviços recebeu 33% do total, especialmente hotéis e restaurantes (18%), vendas por atacado e varejo (9%) e transporte e comunicações (6%). Em relação à origem dos investimentos, a informação do período 2000-2008 mostra que os Estados Unidos têm sido o maior investidor, com uma participação de 10%. As correntes de IED no Paraguai aumentaram 171% em 2010 e alcançou 268 milhões de dólares, o montante mais elevado da década. Este incremento do IED se concretizou fundamentalmente pelos maiores montantes de reinvestimento de lucros e de empréstimos entre filiais. A informação setorial até o terceiro trimestre de 2010 mostra que os setores mais relevantes na atração de investidores foram os manufaturados e os serviços, ambos com 49% do total de IED, enquanto os recursos naturais receberam apenas 2%. Os principais países investidores foram os Estados Unidos, Espanha, Brasil e Panamá. Dentre as aquisições mais importantes durante o ano destaca-se a realizada pela canadense Latin American Minerals, que adquiriu 70% da concessão Minera Guaira. No Equador o IED alcançou 164 milhões de dólares em 2010, 49% menos que em 2009. Os setores mais dinâmicos foram a exploração de minas e pedreiras, que recebeu 159 milhões de dólares, e a indústria de manufaturas, que recebeu 123 milhões de dólares9. Os principais países investidores foram o Panamá, Canadá e a China. Dentre as maiores operações, destaca-se a aquisição da engarrafadora Bottling por Embotelladoras Arca, a segunda maior do sistema Coca-Cola no México, por 345 milhões de dólares. O governo, por sua vez, durante 2010 culminou a reformulação dos contratos com as grandes companhias de petróleo que operam no país, um processo que ocasionou a saída da brasileira Petrobrás e de outras três empresas de menor tamanho: Canadá Grande (República da Coreia), EDC (Estados Unidos) e parte das atividades de CNPC (China). Dentre as empresas estrangeiras que permaneceriam no país estão Repsol-YPF (Espanha), Agip (Itália), Synopec e CNPC (China) e ENAP (Chile). Segundo o novo modelo de contratos, o governo é proprietário do petróleo bombeado e paga às empresas uma tarifa por barril extraído. Por outro lado, estão sendo discutidas algumas iniciativas para fomentar o IED no país e espera-se o anúncio de um pacote de incentivos e medidas tributárias para fomentá-lo no setor de turismo. As correntes de IED na República Bolivariana da Venezuela tiveram um saldo negativo de 1.404 milhões de dólares em 2010, que mostra uma estratégia em que o IED não é um eixo central do desenvolvimento e onde a nacionalização de ativos estrangeiros é um fenômeno relevante. Em 2010, por exemplo, o governo nacionalizou a filial local do fabricante de embalagens de vidro estadunidense Owens Illinois (O-I) e anunciou que prepara mais nacionalizações. Contudo, também se concretizaram alguns importantes projetos de investimento, especialmente mediante o reinvestimento de lucros, que alcançaram 668 milhões de dólares. Também se destaca dentre as maiores aquisições da região a compra do campo de petróleo estatal Carabobo por um consórcio composto pelas empresas indianas Indian Oil e Oil India, Petronas da Malásia e a espanhola Repsol-YPF, por 4.848 milhões de dólares. Além disso, foram anunciados novos projetos de investimento conjuntos em extração e refinação de

9 Em alguns setores, como nos de transporte e de telecomunicações, houve importantes desinvestimentos de capital.

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petróleo entre a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) e a empresa italiana Eni SpA (Eni). A empresa chinesa Great Wall Motors (automóveis e autopeças) também anunciou a construção de uma nova planta no país. b) México, Istmo Centro-Americano e Caribe Pela especial vinculação do México e dos países do Istmo Centro-Americano com os Estados Unidos, as estratégias das empresas transnacionais nestes países buscam, além de aproveitar mercados internos, estabelecer plataformas de exportação para beneficiar-se de vantagens salariais e da localização. A lenta recuperação econômica dos Estados Unidos tem motivado que os fluxos de IED nesta sub-região retomassem o crescimento em 2010, ainda que tenham chegado a montantes inferiores aos recordes alcançados em 2008. A chegada de IED no México foi de 17.726 milhões de dólares em 2010, sendo 17% mais alto que em 200910; o Istmo Centro-Americano, por sua vez, recebeu 5.847 milhões de dólares, o que implica um crescimento de 16% em relação ao ano anterior. O Panamá e a Costa Rica, continuam sendo os principais receptores da sub-região, com 40% e 24%, respectivamente (veja o gráfico I.8). Honduras, Guatemala e Nicarágua registraram crescimentos de 52%, 18% e 17% respectivamente, enquanto as entradas de IED em El Salvador caíram 79% (veja o capítulo II)11.

Gráfico I.8 ISTMO CENTRO-AMERICANO E CARIBE: DISTRIBUIÇÃO DAS CORRENTES DE INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO POR PAÍS, 2010 a (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de

abril de 2011. a Não inclui dados de Barbados e Jamaica por não estarem disponíveis para 2010.

10 O montante do México é suscetível de revisões posteriores para cima, devido à demora com que as empresas

transnacionais informam à Secretaria de Economia do México sobre os investimentos efetuados. 11 A partir do quarto trimestre de 2009, El Salvador atualizou sua metodologia de medição do IED, pelo que nos

dados de 2010 se deduzem os passivos das empresas, mostrando-se dados líquidos de IED.

Panamá40

Costa Rica24

Guatemala12

Honduras14

Nicarágua9

El Salvador2

A. Istmo Centro-Americano

República Dominicana42

Trinidad e Tobago14

Bahamas13

Suriname5

Guiana5

Haiti4

Resto17

B. Caribe a

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O México continua sendo o segundo maior receptor da região. No entanto, apesar da significativa recuperação do IED em 2010, os montantes ainda não alcançam a média da última década, 21 bilhões de dólares anuais. O IED no México está composto por novos investimentos (65% dos fluxos de IED em 2010), seguidos pelos empréstimos entre filiais (20%). O setor de manufaturados e de serviços foram os setores que mais captaram IED. Os primeiros receberam 60% do IED, em particular produtos alimentícios, bebidas e tabaco, que representaram 67%, e as indústrias de produtos metálicos e máquinas e equipamentos, que corresponderam a 24% das correntes dirigidas ao setor de manufaturados. Do total de IED recebido, 37% destinaram-se a serviços, destacando-se o comércio e os serviços financeiros (14% do total do IED no país, em ambos os casos). O setor extrativo, por sua vez, continua com uma débil participação nos fluxos de IED, já que representou 3% destes em 2010. Nesse ano a origem do IED apresentou uma mudança importante: a maior participação correspondeu aos Países Baixos (49%), seguidos pelos Estados Unidos (28%) e Espanha (7%)12. No Istmo Centro-Americano, o Panamá continua sendo o principal receptor, com uma cifra de 2.363 milhões de dólares em 2010, o que significa um crescimento de 33% em relação a 2009 (veja o capítulo II). Mesmo que não se disponha de dados oficiais acerca do destino setorial destes investimentos, com base em dados das fusões e aquisições e dos projetos de investimento anunciados em 2010, é possível inferir que grande parte do IED foi destinada a serviços, destacando-se os investimentos no setor imobiliário e de construção, assim como em telecomunicações e turismo. Dentre os anúncios de investimento em 2010 destacam-se os do grupo alemão TUI em turismo, de Deutsche Post em logística, da empresa estadunidense Crowley Maritime em serviços de armazenagem e da japonesa Furukawa, que instalará no Panamá os seus escritórios corporativos para a sub-região. No setor financeiro, destaca-se o investimento do Grupo Aval Acciones y Valores da Colômbia, que adquiriu BAC Credomatic por 1.920 milhões de dólares. A Costa Rica manteve-se como o segundo destino do IED na América Central. As estimativas oficiais assinalam que os montantes de IED alcançarão 1.412 de dólares, um incremento de 7% em comparação com 200913. O país mostrou dinamismo na atração de novos projetos destinados principalmente ao setor de serviços, que têm sido promovidos pela maior abertura do mercado de seguros e pela atividade dos serviços empresariais. Destaca-se a chegada de empresas seguradoras, como MAPFRE da Espanha (em aliança com a panamenha Mundial), Seguros Bolívar (empresa panamenha de capital colombiano), Quálitas do México, Assa do Panamá, Pan-American Life Insurance Company (Estados Unidos), American Life Insurance Company (ALICO) de MetLife (dos Estados Unidos) e a Aseguradora del Istmo Adisa (coinvestimento da costa-riquenha Cooperativa Nacional de Educadores (Coopenae) e da panamenha QBE). Em serviços empresariais, companhias como Sykes e Amway continuam investindo no país. Além disso, a Costa Rica continua buscando atrair investimentos em manufaturados de alta tecnologia, como dispositivos médicos; dentre as principais operações de 2010 se destacam a entrada de empresas estadunidenses como Ninitol Devices & Components (NDC), Moog Medical Devices, Sterigenics Internacional, Volcano Corporation e as ampliações de Hospira e MedTech, além de reinvestimentos de HP. O IED em 2010 mostrou uma importante recuperação em Honduras, após uma forte queda em 2009, causada tanto pela crise financeira global como pelas condições de instabilidade política, prevalecentes esse ano no país. O IED aumentou para 798 milhões de dólares em 2010, 52% superior ao

12 Como visto mais adiante, esta situação se explica pelo importante investimento de Heineken para adquirir uma

empresa mexicana da indústria de cerveja (FEMSA Cerveza). 13 O montante da Costa Rica é suscetível de revisões posteriores para cima devido à demora com que as empresas

transnacionais informam ao banco central da Costa Rica sobre seus investimentos.

52

de 2009. Os setores mais dinâmicos foram o de telecomunicações, impulsionado por investimentos de Digicel (empresa de capital irlandês com sede na Jamaica), o de alimentos (investimentos anunciados de Molinos Molsa de El Salvador) e o têxtil e confecções (investimentos da canadense Modtex International)14. A Guatemala recebeu 678 milhões de dólares em IED, o que significou uma recuperação de 18% em relação a 2009. É o terceiro país centro-americano receptor de fluxos de IED, com uma captação de 11% do total do investimento na sub-região. Dentre os maiores investimentos recebidos em 2010 encontram-se os de Empresas Públicas de Medellín na distribuição de energia, da mineração Tahoe e da produtora de energia AEI dos Estados Unidos, assim como os do grupo mexicano Bimbo na área da panificação. A Nicarágua recebeu 508 milhões de dólares em IED, 17% a mais que em 2009. Os setores mais importantes continuam sendo os de energia (investimentos anunciados por Ram Power dos Estados Unidos e pelo grupo Andrade-Gutiérrez do Brasil na hidroelétrica Brito, por cerca de 600 milhões de dólares), mineração (B2Gold do Canadá), agroalimentar (Ingemann da Dinamarca) e de têxtil e vestuário (grupo Denim do México). Segundo cifras preliminares, El Salvador recebeu em IED 89 milhões de dólares em 2010, representando uma redução de 79% em relação a 2009 e que corresponde a 2% dos investimentos realizados no Istmo Centro-Americano. Esta redução em relação aos máximos de 2007-2008, resultado de importantes investimentos na privatização do setor bancário, situa o país em montantes inferiores aos recebidos inclusive durante os primeiros anos da década de 2000, quando a média foi de 325 milhões de dólares por ano. Em 2010 o setor de manufaturados apresentou um desinvestimento de 58,8 milhões de dólares, o que afetou a indústria de maquila, que esse ano também sofreu uma contração. Os investimentos se dirigiram ao setor de serviços, principalmente comércio e serviços financeiros, que receberam 55 e 39 milhões de dólares, respectivamente. Destacam-se os investimentos da mexicana Liverpool (lojas de departamento) em Unicomer, de Infra de México em produção e distribuição de gás, e a participação colombiana, via Avianca, na linha aérea salvadorenha TACA, assim como o investimento da empresa suíça Holcim em Cementos de El Salvador (CESSA). As correntes de IED em direção à sub-região do Caribe mostram uma redução de 18%, alcançando, segundo dados preliminares, 3.917 milhões de dólares (veja o quadro I.2). Esta contração se deve à redução de entrada de IED na República Dominicana, principal receptor da sub-região. As correntes de IED para a República Dominicana caíram 25%, chegando a 1.626 milhões de dólares. Apesar desta diminuição, os fluxos de IED continuam superando a média recebida na última década. A avaliação dos montantes de IED em Cuba é especialmente difícil e deve basear-se em anúncios casuais de investimentos (veja o requadro I.4). Do mesmo modo, determinadas economias do Caribe com menor dependência do turismo e maior vinculação com setores exportadores de produtos primários, como a Guiana e Trinidad e Tobago mostraram redução nos fluxos de IED. A recuperação do IED foi importante no caso do Haiti que, após o terremoto de 2010, quadruplicou seus fluxos de IED em relação a 2009, o que foi impulsionado pelos investimentos em telecomunicações. Contudo, os montantes absolutos de IED no Haiti continuam sendo baixos (150 milhões de dólares em 2010).

14 Em março de 2011, América Móvil anunciou a compra de 100% das operações de Digicel em El Salvador e

Honduras (veja o capítulo IV deste informe).

53

Requadro I.4 EVOLUÇÃO RECENTE DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO EM CUBAa

Ainda que os dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indiquem que os fluxos de IED para Cuba tenham sido da ordem de 30 a 35 milhões de dólares anuais apenas, estes têm crescido rapidamente desde meados da década (54% entre 2004 e 2009). No entanto, em 2009 sofreram uma queda de 15% devido à crise mundial e chegaram a 31 milhões de dólares. Os principais investidores em Cuba provêm da Europa e do Canadá, assim como da América Latina e Ásia. Dentre os países europeus, destacam-se a Espanha em setores como tabaco, turismo, hidrocarbonetos, transportes e serviços financeiros; Itália em telecomunicações e França em produção e exportação de rum. O Canadá, por sua vez, possui investimentos na indústria de níquel e em exploração de petróleo. A República Bolivariana da Venezuela, principal sócio comercial de Cuba, e o Brasil se destacam entre os investidores latino-americanos. Informação recente indica que empresas estatais venezuelanas realizam importantes investimentos nos setores de petróleo e telecomunicações. Os governos de Cuba e da República Bolivariana da Venezuela colaboram em um projeto para instalar um cabo de fibra ótica que uniria a ilha com o continente. A instalação está a cargo da empresa franco-chinesa Alcatel Shanghai Bell e o cabo será operado técnica e comercialmente pela Empresa Grannacional de Telecomunicaciones del ALBA (ALBATEL). O investimento ascende a mais de 60 milhões de dólares e se prevê que entre em operações em 2011. Os investimentos do Brasil em Cuba também têm chegado de empresas e organismos públicos, como o banco nacional de desenvolvimento do Brasil (BNDES), que outorgou um crédito por 400 milhões de dólares para a ampliação e modernização do porto cubano de Mariel. Para este projeto, ambos países criaram uma empresa mista e a empresa brasileira de engenharia e construção Odebrecht estará encarregada das obras. Os investimentos asiáticos são liderados pela China, segundo sócio comercial de Cuba. Em 2010, ambos países informaram 13 projetos mistos (sete deles localizados em Cuba nos setores de indústria mecânica, comunicações, agricultura, turismo, biotecnologia e saúde). Além disso, a corporação China Haier e o Grupo de Eletrônica do Ministério de Informática e Comunicações criaram uma empresa mista para fabricar equipamentos eletrodomésticos e informáticos. Também em 2010 ambos países fizeram um acordo para construir um hotel de luxo em Havana, com um investimento de cerca de 117 milhões de dólares. Finalmente, China e Cuba anunciaram alguns investimentos conjuntos no setor de petróleo e derivados, como a ampliação da refinaria de Cienfuegos, a construção de uma planta de regasificação e uma termelétrica de ciclo combinado. O investimento de Cienfuegos, de 6 bilhões de dólares, começará no primeiro semestre de 2011 e estaria finalizado em 2013. O Banco de Exportação e Importação (EXIMBANK) da China financiará 85% do investimento com uma cobertura de China Export & Credit Insurance Corp., investimento que estará garantido totalmente pelo governo da República Bolivariana da Venezuela mediante entregas de petróleo bruto de PDVSA. No último ano, o governo cubano anunciou mudanças no setor imobiliário associado ao turismo, como a ampliação de 50 para 99 anos do direito de uso de terras estatais a empresas estrangeiras e licenças para a construção de mais campos de golfe. Além disso, se o terreno destina-se à construção de moradias ou apartamentos turísticos, poderia ser concedido um direito de superfície perpétuo. Também, de acordo com os delineamentos que se debatem atualmente, serão desenvolvidas zonas para a instalação de empresas estrangeiras que promovam a substituição de importações ou as exportações. Isto parece indicar que no médio prazo poderiam chegar novos investimentos estrangeiros em Cuba, com vistas a aproveitar estas oportunidades.

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). a Não se dispõe de informação oficial sobre os fluxos de IED e a informação da OCDE utilizada não inclui alguns dos

principais investidores em Cuba como Brasil, China e República Bolivariana da Venezuela.

2. Padrões de destino e origem do investimento estrangeiro direto e estratégias de empresas transnacionais na América Latina e Caribe

Na América Latina e Caribe encontram-se investimentos estrangeiros nos mais variados setores produtivos, que respondem a distintas estratégias empresariais. Em particular, em 2010 é possível identificar alguns fatores que ajudaram a consolidação ou expansão de uma ou outra estratégia na região.

54

A estratégia de busca de matérias-primas tem sido impulsionada pelos altos preços de diversos produtos básicos e foram realizados importantes investimentos em toda a região, especialmente na América do Sul. No âmbito da estratégia de procura de mercados locais e regionais destaca-se o crescimento da demanda interna em grandes países como Brasil e México, e a consolidação de mercados regionais na América Central e no Caribe. No âmbito de uma estratégia de busca de baixos custos, por sua vez, as plataformas de exportação no México, Istmo Centro-Americano e Caribe continuaram consolidando sua posição nos mercados internacionais e seu acesso privilegiado ao mercado da América do Norte (veja o capítulo II). Na América do Sul, a composição dos investimentos mostra que os setores que mais receberam IED foram os recursos naturais e os serviços, com 43% e 30% de participação, respectivamente (veja o gráfico I.9). Em comparação com o período 2005-2009, em 2010 há um maior peso dos recursos naturais, o que mostra uma tendência à “primarização” do IED. No México, Istmo Centro-Americano e no Caribe, por sua vez, os investimentos continuam chegando aos setores de manufaturados (54%) e de serviços (41%), enquanto o setor primário recebeu apenas 5% do total (veja o gráfico I.9). As fusões e aquisições continuaram sendo o principal mecanismo dos investimentos dirigidos à região. Deste modo, as empresas que investem aproveitam o conhecimento e as práticas das empresas adquiridas além de seu posicionamento no mercado, sendo comum também que a empresa compradora transfira conhecimentos, práticas e ativos intangíveis. Do total de IED, as fusões e aquisições representaram 65% do IED recebido na região em 2010. Isto mostra uma mudança importante em relação a 2009, ano em que as fusões e aquisições representaram somente 32% do total dos investimentos. Em termos absolutos, tanto os montantes das fusões e aquisições quanto os montantes dos investimentos em novas plantas, em comparação com 2009, aumentaram consideravelmente em 201015.

Gráfico I.9 AMÉRICA LATINA E CARIBE: SETORES DE DESTINO DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO POR SUB-REGIÃO, 2005-2009 E 2010 a (Em porcentagens)

15 Informação de bases de dados de Thomson Reuters e “fDi Markets”, Financial Times.

33

43

29

27

3830

0

20

40

60

80

100

2005-2009 2010

A. América do Sul

Recursos naturais Manufaturados Serviços

55

Gráfico I.9 (conclusão) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de

abril de 2011. a El Salvador e a República Dominicana incluem a maquila em “outros”, enquanto a República Dominicana inclui o comércio

em “manufaturados”. Os montantes das fusões e aquisições têm se concentrado nos setores de recursos naturais (42%) e serviços (41%) e os manufaturados participam com apenas 17% (veja o gráfico I.10). Mesmo que os projetos de investimentos em novas plantas tenham sido distribuídos mais equilibradamente, a maioria dirigiu-se ao setor de manufaturados, com 37% do total. Os serviços e os recursos naturais, por sua vez, participaram com 32% cada um. Dado que o número de projetos no setor de recursos naturais representa somente 7% do total, o tamanho médio dos projetos nesse setor é maior que nos setores de manufaturas e serviços. Dentre as fusões e aquisições em recursos naturais, destacam-se algumas grandes aquisições no subsetor de petróleo e gás por empresas chinesas, como a compra de 40% da filial brasileira de Repsol YPF efetuada por Sinopec por cerca de 7,1 bilhões de dólares e a aquisição de 50% de Bridas Corp. na Argentina por CNOOC por cerca de 4,8 bilhões de dólares (veja o quadro I.3 e o capítulo III). Também nas aquisições valorizadas em mais de 100 milhões de dólares há um grande número de operações no setor minerador, dentre estas a compra de Mineração Usiminas do Brasil por Sumitomo Corp., negócio avaliado em 1.930 milhões de dólares. Estas operações refletem o interesse das empresas transnacionais em fortalecer sua estratégia de busca de recursos naturais na região, especialmente na América do Sul.

95

35

54

56

41

0

20

40

60

80

100

2005-2009 2010

B. México, Istmo Centro-Americano e Caribe a

Recursos naturais Manufaturados Serviços

56

Gráfico I.10 AMÉRICA LATINA E CARIBE: PRINCIPAIS SETORES DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO POR FUSÕES OU AQUISIÇÕES E INVESTIMENTOS EM NOVA PLANTA, 2010 a (Em porcentagens de montantes e de número de operações)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em informação de Thomson Reuters e

“fDi Markets”, Financial Times. a A informação sobre investimentos em novas plantas corresponde a projetos de IED anunciados, sendo possível que alguns

deles não tenham sido efetivamente executados. Não obstante, a análise para anos anteriores mostra que a distribuição setorial dos projetos anunciados é um bom indicador da distribuição dos projetos efetivamente executados.

Quanto aos serviços, são observadas grandes aquisições na área de telecomunicações, especialmente no Brasil. Destacam-se a compra de 50% de Vivo (empresa conjunta de telefonia móvel de Portugal Telecom e Telefónica de España), que Telefónica ainda não possuía, por 9.700 milhões de dólares, a compra de GVT pelo grupo francês Vivendi por 1.777 milhões de dólares e a aquisição de SkyBrasil pela empresa DirectTV Latin America, uma unidade do grupo DirecTV dos Estados Unidos, por 604 milhões de dólares. As operações no setor de manufaturados, em contraste, tiveram uma participação relativa bem menor. Como se observa no quadro I.3, das 13 fusões ou aquisições que superaram 1 bilhão de dólares, só uma foi dirigida ao setor de manufaturas, a aquisição das operações da cervejaria mexicana FEMSA por Heineken por mais de 7,3 bilhões de dólares. Estas operações refletem uma estratégia de busca de mercados locais de manufaturas ou serviços e têm estado impulsionadas por diversos fatores, dentre os quais se destaca o crescimento econômico de grandes mercados da região, como os do México e do Brasil. Em termos de origem das correntes de IED na América Latina e Caribe, os Estados Unidos continuam sendo o principal investidor em 2010 com 17%, seguido pelos Países Baixos (13%), China (9%) (veja o capítulo III), Canadá, Espanha e o Reino Unido (4% cada um) (veja o gráfico I.11)16. Também há uma participação crescente da América Latina e Caribe como origem do IED, mostrando a maior importância que as saídas de IED e o fenômeno das translatinas adquiriram nos últimos anos, como se analisa na próxima seção. Enquanto no período 2006-2009, o IED proveniente da América Latina e Caribe representava 8%, em 2010 aumentou para 10%17.

16 A informação sobre IED segundo a origem para cada país encontra-se no anexo I-A-4. 17 Para o período 2000-2005, no entanto, se estima que a América Latina e o Caribe tenham contribuído com 4%

do IED. Em termos de fusões e aquisições, as empresas compradoras com origem na América Latina e Caribe

Recursos naturais42%

Manufaturados17%

Serviços41%

(15% das operações)

(42% das operações)

A. Fusões e aquisições segundo o setor

(42% das operações)

Recursos naturais31%

Manufaturados37%

Serviços32%

B. Investimento em nova planta segundo o setor

(52% dos projetos) (7% dos projetos)

(41% dos projetos)

57

Gráfico I.11 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ORIGEM DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO, 2006-2009 E 2010 a

(Em porcentagens) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de

abril de 2011. a A distribuição do IED segundo a origem deste gráfico explica 80% do total do IED na América Latina e Caribe.

3. Intensidade tecnológica e atividades de pesquisa e desenvolvimento das empresas transnacionais

Dado que o IED é uma forma importante de transferência de conhecimento a países em desenvolvimento e que as empresas transnacionais são agentes relevantes dos sistemas nacionais de inovação, é particularmente importante entender o papel destas empresas nesses sistemas e a maneira como eles influem nos efeitos do IED em uma economia receptora. As empresas transnacionais podem constituir uma fonte de acesso a capacidades tecnológicas originadas fora de um sistema nacional de inovação e oferecer à economia receptora a possibilidade de ser parte dos processos globais de criação e difusão de conhecimento (Marín e Arza, 2009)18. Um fator determinante da importância do impacto do IED nos países receptores se vincula às características das operações das próprias empresas transnacionais. Os efeitos indiretos do IED são heterogêneos, dependendo das características das empresas transnacionais, em particular quanto ao conteúdo tecnológico de suas atividades. As empresas transnacionais em setores de alta tecnologia e com atividades de pesquisa e desenvolvimento têm, por um lado, maior impacto na criação de capacidades, transbordamentos tecnológicos (spillovers) e em aumento da produtividade e, por outro lado, um efeito positivo sobre a capacidade de absorção do país receptor e o fortalecimento de seu sistema de inovação (Keller e Yeaple, 2009; Griffith, Redding y Van Reenen, 2004).

participaram com 11% do total das fusões e aquisições na região em 2007, que se incrementou a 14% em 2008 e 2009, e foi de 13% em 2010 (base de dados de Thomson Reuters).

18 Os padrões de cooperação entre as empresas transnacionais e as empresas locais em países em desenvolvimento ocasionaram uma crescente discussão sobre como e em que medida as empresas locais são integradas nos sistemas de inovação globais (Metcalfe e Ramlogan, 2008).

2517

5

4

10

4

2

3

4

4

9

513

10 7

8 10

0

20

40

60

80

100

2006-2009 2010

CanadáEstados UnidosEspanha JapãoReino Unido ChinaPaíses Baixos Centros financeiros do CaribeOutros América Latina

3028

58

Dando continuidade à análise iniciada pela CEPAL na versão de 2009 deste informe, nesta seção se descrevem as características dos novos projetos de investimento estrangeiro anunciados no setor industrial da América Latina e Caribe entre 2003 e 2010, primeiro em relação a outras regiões do mundo e logo na região19. Para isto, os projetos de IED foram classificados em diferentes categorias tecnológicas segundo os setores de atividade das empresas (veja o quadro I.A-1). Devido à sua importância na criação, absorção e difusão de conhecimento, faz-se também uma análise detalhada dos projetos associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento, independentemente do setor de atividade. A informação é analisada considerando os períodos 2003-2005 e 2008-2010 (médias anuais para cada período) ou também em forma específica para o ano 2010, conforme o caso. O objetivo é oferecer um panorama geral com tendências entre 2003 e 2010 e, simultaneamente, apresentar informação conjuntural sobre novos projetos de IED. a) América Latina e Caribe no contexto global No gráfico I.12 mostra-se a distribuição dos montantes dos novos projetos de IED anunciados para a América Latina e Caribe, os “tigres asiáticos” (Cingapura, província chinesa de Taiwan, Hong Kong (Região Administrativa Especial da China) e República da Coreia) e a China para os períodos 2003-2005 e 2008-2010. A América Latina e Caribe se destaca por ter uma intensa presença de projetos de IED em setores de baixa tecnologia e, especialmente, de média-baixa tecnologia. No período 2003-2005, 79% dos montantes de projetos de IED anunciados estavam associados a setores de baixa e média-baixa tecnologia, cifra que entre 2008-2010 alcançou 66%. De igual modo, a participação de setores de média-alta tecnologia aumentou de 15% a 26% entre 2003-2005 e 2008-2010. No entanto, a crescente participação de setores com maior potencial tecnológico na América Latina e Caribe ainda é bem menor em relação ao que sucede nos “tigres asiáticos” e na China. Por exemplo, os primeiros têm uma grande participação do IED em setores de alta ou média-alta tecnologia, alcançando 89% em 2003-2005 e 81% em 2008-2010. A China, por sua vez, em ambos períodos, apresenta uma participação de setores com conteúdo tecnológico médio-alto e alto em torno de 80%. A informação sobre os novos projetos de IED associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento de empresas transnacionais, por sua vez, mostra um débil posicionamento da América Latina e Caribe (veja o gráfico I.13). Enquanto em 2003-2005 a região concentrou 3,6% dos investimentos mundiais associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento, no período 2008-2010 a sua participação reduziu-se para 3,2%. Pelo contrário, os países da Ásia e do Pacífico mostram ser uma localização geográfica importante para essas atividades (cerca de 50% do total mundial em 2008-2010) superando a Europa Ocidental (24%) e a América do Norte, que reduz sua participação de 30% para 16% entre ambos períodos. Não obstante, a informação de 2010 mostra que a participação da América Latina e Caribe chegou ao seu máximo na década e alcançou 5,5% (veja o gráfico I.18). Haveria que esperar os próximos anos para ver se este fenômeno é conjuntural ou parte de uma tendência que reflete um melhor posicionamento da região. Quanto aos empregos gerados por este tipo de projetos, o gráfico I.14 mostra que a América Latina e Caribe participa em forma marginal: no período 2008-2010, somente 2,7% dos empregos associados a novos projetos de IED em pesquisa e desenvolvimento foram gerados na região, enquanto mais de 60% foram gerados em países da Ásia e do Pacífico.

19 A informação utilizada se refere a novos projetos de IED anunciados e é possível que alguns deles não tenham

sido efetivamente executados, ou ainda que sejam executados ao longo de vários anos. Não obstante, a análise do sucedido em anos anteriores mostra que a informação sobre projetos anunciados é um bom indicador dos projetos efetivamente executados.

59

Gráfico I.12 DISTRIBUIÇÃO DOS MONTANTES DOS NOVOS PROJETOS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO, SEGUNDO A INTENSIDADE TECNOLÓGICA, 2003-2005 E 2008-2010 (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimento de “fDi Markets”,

Financial Times. a A expressão “tigres asiáticos” faz referência a Hong Kong (Região Administrativa Especial da China), à província chinesa de

Taiwan, República de Coreia e Cingapura. Deste modo, a América Latina e Caribe, apesar de mostrar um relativo incremento de projetos de IED em setores de tecnologia média-alta nos últimos anos, registra uma escassa participação nos setores de maior tecnologia em comparação com outras regiões. Igualmente, embora durante a última década se tenha observado maior internacionalização de atividades de pesquisa e desenvolvimento por parte de empresas transnacionais (UNCTAD, 2005), a região da América Latina e Caribe ainda não se posiciona de maneira significativa como localização para essas atividades. Como analisado na seção seguinte, os incipientes sinais de maior atividade tecnológica das empresas transnacionais na região concentram-se fundamentalmente no Brasil e México.

915

70 51

15

26

7 8

0

20

40

60

80

100

2008-20102003-2005 2003-2005 2008-2010

A. América Latina e Caribe

711

49

20

29

69

52

0

20

40

60

80

100

B. Tigres asiáticos a

2003-2005 2008-20100

20

40

60

80

100

C. China

Baixa Média-Baixa Média-Alta Alta

10 9

129

5141

2741

60

Gráfico I.13 DISTRIBUIÇÃO DOS MONTANTES DOS NOVOS PROJETOS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO, ASSOCIADOS A ATIVIDADES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO, 2003-2005 E 2008-2010

(Em porcentagens) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimentos de “fDi Markets”,

Financial Times.

Gráfico I.14 DISTRIBUIÇÃO DOS EMPREGOS ASSOCIADOS AOS NOVOS PROJETOS

DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO EM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO, SEGUNDO REGIÕES, 2008-2010

(Em porcentagens) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimentos de “fDi Markets”,

Financial Times.

África1

Ásia e Pacífico43

OrienteMédio

2

América do Norte30

Resto da Europa5

Europa Ocidental17

Brasil1,2

México0,8

Colômbia0,3

Outros1,3

AméricaLatina

3,6

A. 2003-2005

África1

Ásia e Pacífico49

OrienteMédio

2

América do Norte16

Resto da Europa5

Europa Ocidental24

Brasil2,2

México0,4

Outros0,6

AméricaLatina

3,2

B. 2008-2010

África1

Ásia e Pacífico62

América Latina e Caribe2,7

Oriente Médio3

América do Norte11

Resto da Europa5

Europa Ocidental15

61

b) Projetos de IED segundo a tecnologia e a pesquisa e desenvolvimento na América Latina e Caribe

No gráfico I.15 mostra-se a distribuição do IED associado a novos projetos na região em 2010, segundo diferentes categorias tecnológicas. Como em 2009, os setores de média-baixa tecnologia são os que têm maior preponderância na América Latina e no Caribe, com 55% do total. Os setores de média-alta tecnologia, no entanto, alcançaram uma participação de 28%, ou seja, 12 pontos percentuais a mais que em 2009, enquanto os setores de baixa e alta tecnologia representaram 11% e 5%, respectivamente20.

Gráfico I.15 AMÉRICA LATINA E CARIBE: DISTRIBUIÇÃO DOS MONTANTES DOS NOVOS PROJETOS

DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO ANUNCIADOS, SEGUNDO INTENSIDADE TECNOLÓGICA, 2010

(Em porcentagens) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimentos de “fDi Markets”,

Financial Times. Quanto aos principais destinos na região, o Brasil se destaca como o maior receptor absoluto nas quatro categorias tecnológicas (veja o gráfico I.16). Nos setores de alta e média-alta tecnologia, esse país recebeu 55% e 49% do investimento, respectivamente. O México, que foi o maior receptor nos setores de alta tecnologia em 2009 (CEPAL, 2010), por sua vez, recebeu 31% dos investimentos tanto em alta quanto em média-alta tecnologia. Nos setores de alta tecnologia participam também Argentina (5%) e Costa Rica (3%) e nos setores de média-alta tecnologia encontram-se presentes Argentina (7%), Peru (4%), República Bolivariana da Venezuela (3%) e Colômbia (3%). Nos setores de baixa e média-baixa tecnologia a distribuição dos investimentos é mais fragmentada entre os países. Em média-baixa tecnologia o Brasil é o maior receptor (43%), porém outros países também têm participações importantes, como Peru (17%), Paraguai (16%) e Chile (12%). Nos setores de baixa tecnologia, o Brasil é líder (44%), seguido pelo México (19%), Argentina (12%), Peru (9%) e Colômbia (3%). 20 Veja o gráfico I.20 (CEPAL, 2010).

Baixa11

Média-Baixa55

Média-Alta28

Alta5

62

Gráfico I.16 AMÉRICA LATINA: PRINCIPAIS PAÍSES RECEPTORES DOS NOVOS PROJETOS

DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO, SEGUNDO INTENSIDADE TECNOLÓGICA E MONTANTES, 2010

(Em porcentagens) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimentos de “fDi Markets”,

Financial Times. Em forma complementar, é importante considerar também a composição dos projetos de IED de cada país. No gráfico I.17 mostra-se a distribuição de projetos na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru que, em conjunto, receberam 90% do total do IED em 2010. O Brasil mostra uma acentuada preponderância de setores de tecnologia média-baixa (52%). Os setores de tecnologia média-alta, por sua vez, representam 30%, enquanto os setores de baixa e alta tecnologia são os que têm menor participação, 11% e 6%, respectivamente. Deste modo, é interessante destacar que, apesar de que os investimentos em alta tecnologia só representem 6% do total no Brasil, ao mesmo tempo correspondem a 55% do total deste tipo de investimento na região.

Brasil55

México31

Argentina5

Costa Rica3

Outros6

A. Alta

Brasil49

México31

Argentina7

Peru4

Venezuela(Rep. Bol. da)

3

Colômbia3

Outros3

B. Média-Alta

Brasil43

Peru17

Paraguai16

Chile12

México6

Colômbia3

Argentina1 Outros

2

C. Média-Baixa D. Baixa

Brasil44

México19

Argentina12

Peru9

Colômbia3

Venezuela(Rep. Bol. da)

2

Guatemala2

Paraguai2

Outros6

63

Por um lado, no México há uma preponderância de projetos de IED em setores de tecnologia média-alta (56%), como a indústria automobilística, a maquinaria e os produtos químicos (veja o gráfico I.17). Com menor participação se encontram setores de tecnologia média-baixa (21%), baixa (14%) e alta (10%). No Chile, no entanto, é onde se encontra a maior concentração: os projetos de IED em setores de tecnologia média-baixa representaram 95% do total em 2010, associados às indústrias metálicas e produtos minerais não metálicos. A Colômbia apresenta uma distribuição dos novos investimentos similar à regional; no setor de tecnologia média-baixa recebeu 54%, enquanto os setores de média-alta e baixa receberam 30% e 13%, respectivamente. Os setores de alta tecnologia, especificamente, têm participação muito baixa, com apenas 2%. A Argentina mostra uma importante participação de tecnologia média-alta (45%), enquanto os setores de tecnologia baixa, como os de alimentos, de têxteis, madeira e papel, receberam 31%. Com menor participação se encontram setores de tecnologia média-baixa e alta, com 18% e 6%, respectivamente. Por último, os setores de tecnologia média-baixa concentram a grande maioria dos novos projetos de IED no Peru, com 81%.

Gráfico I.17 DISTRIBUIÇÃO DOS MONTANTES DE NOVOS PROJETOS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO, SEGUNDO INTENSIDADE TECNOLÓGICA, 2010 (Em porcentagens)

Alta6

Média-Alta30

Média-Baixa52

Baixa11

A. Brasil

Alta10

Média-Alta56

Média-Baixa21

Baixa14

B. México

Alta0

Média-Alta3

Baixa1

C. Chile

Alta2

Média-Alta30

Média-Baixa54

Baixa13

D. Colômbia

Média-Baixa95

64

Gráfico I.17 (conclusão) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimentos de “fDi Markets”,

Financial Times. Por outro lado, os projetos associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento de empresas transnacionais na região encontram-se muito concentrados no Brasil, padrão que se acentuou nos últimos anos. A região recebeu 3,6% do total de investimentos de pesquisa e desenvolvimento em 2003-2005, e 1,2% correspondeu a projetos no Brasil (veja o gráfico I.13). No período 2008-2010, a relevância do Brasil foi ainda maior, alcançando 2,2%, correspondente a 68% do total da região. México é outro dos principais destinos deste tipo de atividades na região, dado que concentrou 0,8% e 0,4% do total mundial nos períodos 2003-2005 e 2008-2010, respectivamente. Como antes mencionado, em 2010 a região aumentou a sua participação em novos projetos de IED em pesquisa e desenvolvimento e alcançou 5,5% do total mundial, mas este aumento deveu-se fundamentalmente ao sucedido no Brasil (veja o gráfico I.18). Desses 5,5% com que participa a região no total do mundo, 4,2% correspondem ao Brasil, ou seja, mais de 75%. Em termos dos empregos associados a novos projetos de IED em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil é o líder disparado na região, com 64% no período 2008-2010, seguido por México e Chile, com participações de 13% e 11%, respectivamente (veja o gráfico I.19). Em resumo, a evidência sobre novos projetos de IED mostra que a região tem uma preponderância de setores de tecnologia baixa e média-baixa. Também, se observa um relativo incremento de projetos em setores de tecnologia média-alta, assim como dos projetos associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento. Apesar disso, a participação da região em projetos com conteúdo tecnológico é ainda reduzida em comparação com a de outras regiões e esses projetos se concentram principalmente no Brasil e no México.

Alta6

Média-Alta45

Baixa31

E. Argentina

Média-Baixa18

Alta0

Média-Alta10

Baixa9

F. Peru

Média-Baixa81

65

Gráfico I.18 DISTRIBUIÇÃO DOS MONTANTES DOS NOVOS PROJETOS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO, ASSOCIADOS A ATIVIDADES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO, 2010 (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimentos de “fDi Markets”,

Financial Times.

Gráfico I.19 DISTRIBUIÇÃO DOS EMPREGOS ASSOCIADOS AOS NOVOS PROJETOS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO EM ATIVIDADES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO, 2008-2010

(Em porcentagens) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com base em anúncios de investimentos de “fDi Markets”,

Financial Times.

África1

Ásia e Pacífico42

Oriente Médio2

América do Norte29

Resto da Europa5

Europa Ocidental16

Brasil4,2

Chile0,3

Outros1,0

AméricaLatina5,5

Brasil64

México13

Chile11

Peru6

Argentina3

Panamá1

Outros2

66

D. INVESTIMENTO DIRETO NO EXTERIOR E EMPRESAS TRANSLATINAS

1. Empresas transnacionais de países em desenvolvimento Durante os últimos anos, as economias emergentes, e em particular os países denominados BRIC (Brasil, Federação Russa, Índia, China) e África do Sul, estão modificando notavelmente o panorama da economia mundial. O forte crescimento econômico, unido ao tamanho de suas economias, está conformando um novo cenário que abrange diferentes dimensões. No âmbito do IED, tem havido um incremento sustentado da relevância de empresas transnacionais de países em desenvolvimento nos fluxos mundiais de investimento estrangeiro direto (veja o gráfico I.5). O dinamismo de seus investimentos se vê refletido em diversos indicadores que mostram maior presença em diferentes rankings empresariais em nível mundial, especialmente das empresas de países em desenvolvimento da Ásia (UNCTAD, 2009). O processo de expansão das empresas transnacionais de países em desenvolvimento ocorreu em um contexto internacional com crescente competição e concentração corporativa. Este fenômeno, chamado “revolução dos negócios globais” (global business revolution), não está ocorrendo somente em indústrias de produtos finais e de diversas características tecnológicas (aeronáutica, automóveis, telecomunicações, bebidas), mas também pode ser apreciado nas próprias indústrias fornecedoras através de um efeito de cascata ao longo da cadeia de valor (Nolan, Zhan e Liu, 2007). Gerou-se um movimento de consolidação industrial a partir de fusões e aquisições de áreas de negócios principais por parte de líderes mundiais, assim como de processos de retirada de áreas de negócios secundários. Neste processo, as empresas líderes com grande capacidade selecionam os fornecedores mais competentes, com os quais trabalham em diferentes localizações produtivas, ampliando o movimento de consolidação. O resultado é que, em diferentes indústrias, se observa um processo de concentração ao longo de toda a cadeia de valor. Não obstante, a conjuntura internacional dos últimos anos também abriu oportunidades para uma participação mais ativa das empresas provenientes dos países em desenvolvimento, já que a crise afetou principalmente as empresas transnacionais de países desenvolvidos. A crise global gerou uma contração nos planos de investimento das empresas desses países devido a suas necessidades de capitalização e desfavoráveis condições para obter financiamento. As empresas transnacionais da América Latina e Caribe têm estado presentes no processo de crescente relevância das empresas transnacionais oriundas de países em desenvolvimento, e mesmo que sua presença internacional seja ainda reduzida em comparação com empresas de países em desenvolvimento da Ásia, têm mostrado um forte dinamismo e se posicionaram como uma relevante fonte de investimentos durante os últimos anos (CEPAL, 2006). As empresas que tiveram maior internacionalização são do Brasil, Chile e México e, recentemente, da Colômbia. A internacionalização tem ocorrido especialmente nas indústrias básicas (hidrocarbonetos, mineração, cimento, papel e celulose, siderurgia), nas atividades de manufaturados de consumo de massa (alimentos e bebidas) e em serviços (energia, telecomunicações, transporte aéreo, comércio varejista). Em muitos casos, o Estado e as políticas de desenvolvimento industrial em setores estratégicos desempenharam um papel fundamental em sua origem, sobretudo no Brasil. A expansão internacional das translatinas na última década se associa a diversos fatores. Em primeiro lugar, as empresas latino-americanas e caribenhas expandiram suas operações em nível regional ou global movidas pela abertura de suas economias à competição externa e pela necessidade de obter um tamanho de planta eficiente que lhes permita aproveitar economias de escala e reduzir custos. Isto é especialmente certo no caso de empresas provenientes de economias pequenas, como as centro-americanas e caribenhas. Em segundo lugar, algumas empresas aproveitaram as desregulamentações e

67

privatizações para entrar a novos mercados, sobretudo na área de serviços. Em terceiro lugar, para algumas empresas foi importante investir no exterior para superar a instabilidade macroeconômica em seus países de origem e diversificar riscos. Por último, também foram importantes os processos de integração regionais, que abriram mercados e facilitaram a expansão em direção aos países sócios nestes acordos. Além disso, o crescimento das empresas translatinas é em muitos casos um passo natural do processo de internacionalização das economias da região, sendo também um mecanismo para adquirir conhecimentos e novas práticas produtivas e organizacionais. Ainda que a maioria dos países da região tenha formulado estratégias e incentivos para a promoção das exportações e a atração de IED, não sucede o mesmo em relação ao apoio à internacionalização de suas empresas. O Brasil, como será visto mais adiante, foi um país que incluiu em sua política industrial a internacionalização de suas empresas, outorgando-lhes apoios públicos e financiamento. A discussão normativa em torno à promoção da internacionalização de empresas latino-americanas e caribenhas é complexa. Existem diversos argumentos que devem ser considerados ao avaliar a implementação de uma política a este respeito, por exemplo, como distinguir os benefícios para a empresa dos benefícios para a economia em seu conjunto. Além disso, o tema tem diferentes dimensões de financiamento e de economia política, entre outros. Os argumentos a favor de uma política proativa neste campo incluem a melhoria dos padrões produtivos e de gestão, o incremento da produtividade, a aquisição de novos conhecimentos e o fortalecimento de capacidades tecnológicas existentes na própria empresa e na estrutura produtiva do país mediante externalidades, incluída a dinamização dos mercados de capitais. A competição em nível global também motivaria estas empresas a realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento, convertendo-as em intermediárias entre os sistemas de conhecimento mundial e local. Nesse sentido, o tipo de vinculação da empresa com o sistema de inovação local pode aumentar os efeitos positivos da maior internacionalização. Em contra, argumenta-se que estas empresas, líderes em seus países, não deveriam ser objeto de apoios especiais, pois não têm desvantagens para competir nos mercados globais —por exemplo, em relação às pequenas e médias empresas— e tampouco problemas de financiamento. De igual forma, também é difícil garantir que os benefícios da internacionalização se transbordem para o resto da economia. Neste contexto, ao avaliar uma política pública deste tipo é importante não só realizar uma análise custo-benefício, mas também uma análise do custo de oportunidade dos recursos envolvidos e da institucionalidade requerida. Igualmente, é importante considerar que uma política pública que promova a internacionalização também sofrerá de falhas de informação e criará incentivos a atividades de captação de renda (rent-seeking) e corrupção. A complexidade das decisões sobre este tema e a crescente importância da internacionalização empresarial na região abrem uma agenda de pesquisa com importantes desafios para os próximos anos.

2. Correntes de investimento no exterior: América Latina e Caribe se unem ao dinamismo de países em desenvolvimento

Nos últimos anos, a região da América Latina e Caribe aumentou seus fluxos de investimento direto dirigido ao exterior em forma muito significativa. Apreciam-se três fases neste processo. A primeira se inicia nos anos noventa com a abertura comercial, as privatizações de empresas estatais e a desregulação das economias e dura até 1996. Neste período, os montantes de IED da região no exterior mesmo sendo crescentes foram baixos, com média de 3 bilhões de dólares (veja o gráfico I.20). Logo, uma segunda fase

68

cobre o período entre 1997 e 2003, no qual a região mostrou um nível de investimentos diretos no exterior mais alto, mas sem apresentar um crescimento contínuo. Neste lapso, o IED em direção ao exterior alcançou a média anual de 6,8 bilhões de dólares. Posteriormente, em um terceiro momento produz-se um forte incremento dos fluxos, que alcançaram 26,5 bilhões de dólares, em média, entre 2004 e 2010. Em 2010 em particular, o IED em direção ao exterior quase se quadruplicou, quando comparado com 2009, alcançando um novo recorde histórico de 43.108 milhões de dólares. Os investimentos latino-americanos e caribenhos no exterior incrementaram sua participação nos fluxos de IED originados em países em desenvolvimento de 6% em 2000 para 17% em 201021.

Gráfico I.20 AMÉRICA LATINA E CARIBE: SAÍDAS LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO DIRETO

NO EXTERIOR, 1992-2010 a (Em milhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), estimativas com base em cifras oficiais em 15 de

abril de 2011. O aumento das saídas de IED em 2010 se explica por maiores investimentos de empresas do México, Brasil, Chile e Colômbia (veja o gráfico I.21). Estes quatro países representaram mais de 90% dos fluxos de IED em direção ao exterior em 2010. Para o México, Chile e Colômbia os montantes de investimento no exterior alcançaram máximos históricos. Quanto à relação entre EID e PIB, o Chile apresenta o maior valor da região (4,6%), mostrando o alto grau de internacionalização de seu setor empresarial e a importância do fenômeno em sua economia. Logo, se situam Colômbia (2,3%), México (1,2%), República Bolivariana da Venezuela (0,7%), Brasil (0,6%) e Argentina (0,3%) (veja o gráfico I.22).

21 No período 1992-2000, a participação da América Latina e Caribe nos fluxos de saída de IED foi de 9% em média.

0

5 000

10 000

15 000

20 000

25 000

30 000

35 000

40 000

45 000

50 000

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fase II Fase IIIFase I

69

Gráfico I.21 AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): INVESTIMENTO DIRETO NO

EXTERIOR, 2009 E 2010 (Em milhões de dólares)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de

abril de 2011. a Costa Rica, El Salvador, Guatemala e Honduras.

Gráfico I.22 AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): SAÍDAS LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO

DIRETO NO EXTERIOR EM RELAÇÃO AO PIB, 2010 (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de abril de 2011.

-15 000

-10 000

-5 000

0

5 000

10 000

15 000

México Brasil Chile Colômbia Venezuela(Rep. Bol. da)

Argentina Peru América Central a

2009 2010

0

1

2

3

4

5

Chile Colômbia México Venezuela(Rep. Bol. da)

Brasil Argentina

70

Os investimentos diretos no exterior das empresas dos países da região em 2010 se associam à expansão internacional de empresas latino-americanas e caribenhas em diversos setores. Enquanto algumas empresas que haviam consolidado sua posição de liderança em seus países de origem a internacionalização era um passo natural em seu crescimento, outras implementaram agressivas estratégias de posicionamento nos mercados internacionais, tanto para aproveitar as oportunidades geradas a partir da crise financeira quanto para enfrentar a crescente competição em mercados cada vez mais globalizados. No entanto, também para as empresas translatinas existem alguns entraves à expansão na região, que se associam principalmente à escassa prioridade que alguns países receptores da região dão ao IED. Os quadros I.5 e I.6 mostram informação empresarial sobre as principais aquisições e os maiores projetos de investimentos em novas plantas anunciados por empresas da região em 2010, em ambos casos por montantes superiores a 100 milhões de dólares. Da mesma forma, o quadro I.7 mostra as maiores empresas e grupos da região com importante internacionalização de suas atividades de acordo com as vendas de 2010. Uma característica dos investimentos transnacionais latino-americanos e caribenhos é que muitos destes se dirigem aos países vizinhos. Das fusões e aquisições realizadas por empresas latino-americanas e caribenhas em 2010, 47% tiveram como destino um país da região. Os investimentos de translatinas em novas plantas também se dirigem de maneira importante à mesma região, 59% do total em 201022. Isto destaca a importância das translatinas como fonte de investimentos na América Latina e Caribe, como agentes ativos na integração regional e um meio para melhorar práticas e conhecimentos vinculados a seus processos produtivos. México foi o país cujas empresas realizaram maiores investimentos no exterior em 2010. Além disso, os investimentos no exterior cresceram 81% e alcançaram um montante recorde de 12.694 milhões de dólares. Estes investimentos foram liderados por grandes aquisições, como a do Grupo Televisa, que comprou uma participação importante no grupo Univisión nos Estados Unidos por 1.200 milhões de dólares; o acordo do Grupo Bimbo com Sara Lee Corporation para adquirir seu negócio de panificação nos Estados Unidos (North American Fresh Bakery) por 959 milhões de dólares; a operação de Casa Saba, que adquiriu a companhia chilena operadora de redes de farmácias FASA por um montante de 604 milhões de dólares; a compra por parte de Sigma Alimentos (Grupo Alfa) da empresa estadunidense Bar-S Foods, por 575 milhões de dólares; o investimento do Grupo R (Constructora y Arrendadora México, S. A. de C. V. (CAMSA)) em PetroRig III na Noruega por 540 milhões de dólares, dentre outras (veja o quadro I.5). Também, se destacam novos projetos de investimento, por exemplo, de América Móvil em telecomunicações no Brasil (compra de participação de Net), Colômbia e recentemente na América Central (veja o requadro I.4 e o quadro I.6). Além destas recentes aquisições, as empresas mexicanas têm também uma longa história em termos de internacionalização de atividades (veja o requadro I.5). Os investimentos do Brasil no exterior alcançaram 11.500 milhões de dólares, o que significa uma esplêndida recuperação da contração de suas correntes de investimento em 2009 (veja o gráfico I.21). Durante 2010, os novos aportes de capital se dirigiram a diversos setores. No setor dos recursos naturais, o mais relevante foi o de extração de minerais metálicos (6%); no de manufaturados destacam-se os investimentos em alimentos (15%) e metalurgia (7%), e no setor de serviços, os serviços financeiros (47%) (veja o gráfico I.23). Dentre as fusões e aquisições, destacam-se os investimentos da empresa Vale em mineração na Guiné (mediante a compra de ações de BSG Resources, em Guernsey), da Metalúrgica Gerdau no Canadá, a participação de Camargo Corrêa em Cimpor Cimentos de Portugal e a aquisição de Keystone Foods de Estados Unidos por Marfrig Alimentos; todos estes investimentos ultrapassam

22 Dados estimados, de acordo com Thomson Reuters e “fDi Markets”.

71

1 bilhão de dólares. Os países da região como Argentina, Chile, Colômbia e Peru, por sua vez, estão atraindo importantes investimentos brasileiros. A empresa Vale, por exemplo, recentemente iniciou atividades de mineração de cobre no Chile, fosfatos no Peru e carvão na Colômbia. A Natura, empresa de cosméticos, possui atividades na Argentina, Chile e Peru, planejando iniciar operações na Colômbia e no México durante 2011.

Quadro I.4 AMÉRICA LATINA E CARIBE: SAÍDAS LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO

DIRETO NO EXTERIOR, 2000-2010 (Em bilhões de dólares)

País 2000-2005 a 2006 2007 2008 2009 2010 Diferença absoluta

2010-2009

Diferença relativa

2010-2009 (em porcentagens)

América do Sul 6 934 35 440 12 254 34 153 4 004 30 292 26 288 87

Brasil 2 513 28 202 7 067 20 457 -10 084 11 500 21 584 188

Chile 1 882 2 171 2 573 8 040 8 061 8 744 683 8

Colômbia 1 156 1 098 913 2 254 3 088 6 504 3 416 111

Venezuela (República Bolivariana da) 809 1 524 30 1 273 1 834 2 390 556 30

Argentina 532 2 439 1 504 1 391 710 946 236 33

Peru 22 0 66 736 398 215 -183 -46

Uruguai 15 -1 89 -11 2 -6 -8 -627

Paraguai 5 4 8 8 … … … …

Bolívia (Estado Plurinacional da) 1 3 4 5 -4 … … …

México c 3 491 5 758 8 256 1 157 7 019 12 694 5 675 81

América Central 67 113 389 37 54 119 65 119

El Salvador b 15 -26 100 16 23 80 57 247

Guatemala 31 40 25 16 23 29 6 27

Costa Rica 17 98 263 6 7 9 2 23

Honduras 4 1 1 -1 1 1 0 40

Caribe 233 507 204 849 106 3 … …

Jamaica 84 85 115 76 61 … … …

Trinidad e Tobago 146 370 0 700 0 … … …

Barbados 3 44 82 63 41 … … …

Belize 0 8 7 10 4 3 -2 -41

Total 10 725 41 819 21 103 36 196 11 184 43 108 31 924 285

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de abril de 2011.

a Média simples. b Os dados de 2010 abrangem até o terceiro trimestre. c A cifra média para a primeira metade da década corresponde ao período 2001-2005.

72

Quadro I.5 PRINCIPAIS AQUISIÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS REALIZADAS POR EMPRESAS

LATINO-AMERICANAS, 2010 (Em milhões de dólares)

Empresa ou ativo adquirido País Setor Empresa compradora País comprador Valor

BSG Resources Guinea Ltd Reino Unido Mineração Vale SA Brasil 2 500

BAC Credomatic GECF Inc Panamá Serviços financeiros Grupo Aval Acciones y Valores

Colômbia 1 920

Gerdau Ameristeel Corp Canadá Manufaturados Gerdau Brasil 1 607

Cimpor Cimentos de Portugal Portugal Manufaturados Camargo Corrêa Portugal SGPS

Brasil 1 894

Keystone Foods LLC Estados Unidos Agroindústria Marfrig Alimentos SA Brasil 1 260

Univision Communications Inc Estados Unidos Serviços audiovisuais Televisa México 1 200

Cimpor Cimentos de Portugal Portugal Manufaturados Votorantim Brasil 1 192

DECA II Guatemala Serviços/energia Empresa Pública de Medellín

Colômbia 605

Farmacias Ahumada SA Chile Comércio Grupo Casa Saba SAB México 604

Bar-S Foods Co Estados Unidos Agroindústria Sigma Alimentos SA México 575

PetroRig III Pte Ltd-PetroRig Noruega Serviços Grupo R SA de CV México 540

Cintra Concesiones de Infraestructuras de Transporte

Chile Serviços Interconexión Eléctrica SA (ISA)

Colômbia 499

Cía Minera Milpo SAA Peru Mineração Votorantim Metais Ltda. Brasil 419

Sunoco Chemicals Inc Estados Unidos Manufaturados Braskem SA Brasil 350

Pasadena Refining System Inc Estados Unidos Manufaturados Petrobrás Brasil 350

Ecuador Bottling Co Corp Equador Bebidas Embotelladoras Arca SAB México 345

Devon Energy Corp-Cascade Estados Unidos Petróleo/gás Petrobrás Brasil 180

IBI México México Serviços financeiros Banco Bradesco SA Brasil 164

Dana Hldg-Structural Prod Bus Estados Unidos Manufaturados Metalsa SA México 150

417 Fifth Avenue, New York, NY Estados Unidos Serviços imobiliários Inmobiliaria Carso SA México 140

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em informação de Thomson Reuters.

73

Quadro I.6 ANÚNCIOS DE NOVOS INVESTIMENTOS TRANSFRONTEIRIÇOS REALIZADOS POR EMPRESAS

TRANSLATINAS POR MAIS DE 100 MILHÕES DE DÓLARES, 2010 (Em milhões de dólares)

País de origem Companhía País de destino Setor Montante em

milhões México América Móvil Brasil Telecomunicações 1 390 Chile Cencosud Brasil Comércio 496 Brasil Votorantim Colômbia Metais 327 Brasil Gerdau Peru Metais 327 Brasil EBX Group Colômbia Carvão, petróleo e

gás natural 283

Argentina Pauny Venezuela (República Bolivariana da)

Automóveis 251

Chile Cencosud Peru Comércio 230 Chile Cencosud Argentina Comércio 210 Chile Cencosud Colômbia Comércio 200 Brasil Votorantim Argentina Metais 180 México América Móvil Colômbia Telecomunicações 171 Brasil Vale (Companhia

Vale do Rio Doce) Chile Metais 140

El Salvador Grupo Poma Costa Rica Bens imóveis 116 Brasil Camargo Corrêa Paraguai Construção 100 Brasil EBX Group Colômbia Serviços de

Armazenagerm 100

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em informação de “fDi Markets”, Financial Times.

Quadro I.7

AMÉRICA LATINA E CARIBE: MAIORES EMPRESAS E GRUPOS COM VENDAS, INVESTIMENTOS E EMPREGOS NO EXTERIOR, 2010

Empresa País Vendas

(em milhões de dólares)

Investimentos no exterior

(em porcentagens)

Trabalhadores no exterior

(em porcentagens) Setor

Petrobrás Brasil 128 000 31,0 19,9 Petróleo/Gás

PDVSA Venezuela (República Bolivariana da)

95 530 5,2 5,6 Petróleo/Gás

Vale Brasil 49 949 49,8 27,1 Mineração

América Móvil México 49 221 33,0 70,0 Telecomunicações

Itaú-Unibanco Brasil 46 317 3,8 9,8 Banco

Grupo JBS (FRIBOI) Brasil 28 418 65,5 64,0 Alimentos

Gerdau Brasil 18 841 59,9 48,0 Siderurgia/Metalurgia

Cemex México 14 435 67,7 65,8 Cimento

Femsa México 13 742 18,0 33,4 Bebidas/Licores

Brasil Foods Brasil 12742 16,0 17,0 Alimentos

Cencosud Chile 11 822 48,3 55,6 Comércio varejista

Grupo Alfa México 11 045 71,0 51,5 Autopeças/Petroquímica

Andrade Gutierrez Brasil 10 895 7,5 9,7 Engenharia/Construção

Grupo Camargo Corrêa Brasil 9 698 15,0 22,5 Engenharia/Construção

Grupo Bimbo México 9 487 60,1 52,7 Alimentos

Cia. Siderúrgica Nacional Brasil 8 301 13,4 7,3 Siderurgia/Metalurgia

Telmex México 8 133 50,2 92,2 Telecomunicações

Falabella Chile 8 086 39,6 41,0 Comércio varejista

74

Quadro I.7 (conclusão)

Empresa País Vendas

(em milhões de dólares)

Investimentos no exterior

(em porcentagens)

Trabalhadores no exterior

(em porcentagens) Setor

Marfrig Alimentos SA Brasil 7 788 31,6 41,7 Alimentos

Tenaris Argentina 7 711 81,0 71,7 Siderurgia/Metalurgia

Grupo Modelo México 6 884 15,6 2,9 Bebidas/Licores

TAM Brasil 6 812 9,0 8,3 Transporte aéreo

Const. Norberto Odebrecht Brasil 5 500 56,0 48,6 Engenharia/Construção

Sudamericana de Vapores Chile 5 448 37,4 63,0 Transporte naval

Votorantim Brasil 5 316 49,0 36,0 Cimento

Embraer Brasil 5 216 26,5 11,0 Aeroespacial

Grupo Televisa México 4 685 22,1 11,0 Meios de comunicação

LAN Chile 4 387 76,4 43,0 Transporte aéreo

Grupo Casa Saba (FASA) México 4 100 53,0 70,0 Comércio varejista

CMPC Chile 3 818 30,0 33,0 Florestal

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em América economia, Nº 60, abril de 2011.

Requadro I.5 INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS MEXICANAS

A inserção do México na economia global se materializa, dentre outros âmbitos, nas operações de suas empresas, em particular por meio das exportações, do financiamento em mercados internacionais e dos investimentos no exterior. As empresas mexicanas foram pioneiras da região na busca de novos mercados como um passo natural no padrão de desenvolvimento e inserção internacional seguido pelo país (Peres, 1993, CEPAL, 2006). Basicamente, podem-se distinguir três etapas nos investimentos mexicanos no exterior. Nas décadas de 1970 e 1980, a maioria dos investimentos no exterior tinha como objetivo evitar as restrições comerciais dos países receptores, e, com frequência, se formavam associações com empresas locais e os investimentos visavam aos mercados do país receptor. Também, a crise dos anos oitenta, a instabilidade cambial e as restrições no acesso aos capitais estimularam algumas empresas a investir nos Estados Unidos. Assim que, no começo dos anos oitenta, o México concentrava os seus investimentos no exterior em países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos, e no setor de manufaturas de minerais não metálicos. Dentre estes investimentos podem-se mencionar os de Vitro (embalagens de vidro e indústrias conexas) e Cementos Mexicanos (CEMEX). Na segunda etapa, a partir da década de 1990 e junto com a implementação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN), as empresas mexicanas concentraram os seus investimentos nos Estados Unidos e América Central, em alguns casos estendendo-se à América do Sul e, em menor medida, à Europa e Ásia (CEPAL, 2006). Neste processo se distingue maior diversificação nos setores de destino. Durante este período, além de CEMEX e Vitro, alguns grupos empresariais do setor de bebidas e alimentos (GRUMA, Grupo Bimbo, FEMSA), de serviços (ICA, Televisa e Sidek) e outros grupos diversificados (DESC, SAVIA) realizaram importantes investimentos fora do México. A terceira etapa começa no ano 2000, momento a partir do qual os investimentos mexicanos no estrangeiro crescem consideravelmente. Os montantes do investimento médio chegam a 6.300 milhões de dólares por ano no período 2001-2010, e em 2010 alcançam um novo recorde histórico: 12.694 milhões de dólares. Neste período, a maioria das empresas transnacionais mexicanas abriu operações na América Latina e América do Norte. Também um grupo importante de empresas investiu na Europa, enquanto CEMEX e GRUMA o fizeram na Ásia e Oceania, e a primeira também na África. Assim que em 2008, das nove empresas latino-americanas que figuravam entre as 100 maiores empresas transnacionais não financeiras de países em desenvolvimento, quatro eram mexicanas (CEMEX, América Móvil, Teléfonos de México e FEMSA) (UNCTAD, 2010).

75

Requadro I.5 (conclusão)

Ao longo deste período, os setores de destino se diversificam, ainda que a liderança tenha correspondido a empresas do setor de serviços, associadas a grandes investimentos de Telmex/América Móvil, Televisa, Grupo Casa Saba, Grupo ICA, Grupo Posadas e Grupo Elektra e CIE. Os investimentos em manufaturas, por sua vez, mantêm um alto nível de participação no total dos fluxos de investimento mexicanos. Neste item, CEMEX continua sendo uma empresa com importantes investimentos no exterior, assim como Bimbo e Sigma, no setor de alimentos, Embotelladora Arca, Grupo Femsa e Grupo Modelo no setor de bebidas, Grupo IMSA em metalurgia, Grupo Alfa com atividades em alimentos, produtos químicos e petroquímicos (também tem atividades de serviços de tecnologias da informação), Grupo Mabe em eletrodomésticos e Grupo Sanluis Rassini e Metalsa em metal-mecânica. O Grupo México destaca-se nas operações empresariais mexicanas no setor primário, com importantes investimentos em mineração, especialmente no Peru. A estratégia adotada pelas transnacionais mexicanas nos últimos anos responde principalmente à procura de novos mercados, mas também contém outros elementos relevantes: as empresas buscaram vantagens estratégicas (aumentos de cotas de mercado, alianças com empresas transnacionais e seguimento de clientes) e vantagens competitivas (aprimoramento de produtos, melhorias em processos produtivos e de logística, assim como a criação de marcas regionais). Em 2010 em particular mostrou-se que as empresas mexicanas continuam aprofundando suas estratégias empresariais de internacionalização. Os Estados Unidos foram o principal destino de seus investimentos através de fusões ou aquisições, com 56% do total, seguido pela América do Sul (27%) e Europa (15%). A informação relativa aos projetos anunciados em novas plantas, por sua vez, mostra que os montantes de investimento estão concentrados na América Latina e Caribe: durante o período 2003-2010, 51% dos novos projetos se concentraram na região, alcançando 86% em 2010 (“fDi Markets”, 2011). Este processo tem levado a que algumas empresas mexicanas apresentem um alto grau de internacionalização. Igualmente, é importante mencionar que a forte concentração das empresas mexicanas nos Estados Unidos, procurando ampliar seu mercado e absorver os benefícios de operar na maior economia mundial, converteu-se em um grave problema durante a crise financeira, que causou um marcado impacto na economia estadunidense. As vantagens que uma economia como a mexicana pode obter da internacionalização de seu setor produtivo são variadas: aproveitamento de outros mercados (crescimento estável, financiamento em moeda estrangeira, taxas de juros favoráveis, maior demanda, economias de escala); vantagens do comércio intraindustrial e intraempresa como instrumento para penetrar nos mercados; acesso a novas tecnologias, conhecimentos e standards gerenciais; maior capacidade para empreender atividades de pesquisa e desenvolvimento; encadeamentos produtivos e dinamização dos mercados de capitais, dentre outras. No entanto, também é necessário fortalecer a institucionalidade e a política industrial encarregada de vincular essas vantagens com o desenvolvimento produtivo nacional, promovendo assim o transbordamento dos benefícios empresariais da internacionalização aos demais setores da economia por meio das instituições do sistema nacional de inovação, das instituições financeiras de desenvolvimento e do apoio às empresas locais.

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

É importante considerar o apoio governamental que empresas brasileiras têm recebido em seu processo de internacionalização (Sennes e Camargo Mendes, 2009)23. Dois exemplos específicos são o apoio do banco de desenvolvimento do Brasil (BNDES) à aquisição da firma estadunidense Keystone Foods por Marfrig, e à compra da também estadunidense Pilgrim’s Pride por JBS Friboi. Igualmente a BNDESPAR (BNDES Participações) subscreveu 100% da emissão de ações por 1.260 milhões de dólares realizada por Marfrig, para pagar a aquisição de Keystone Foods, e subscreveu quase a totalidade das obrigações de JBS Friboi em cumprimento da garantia para a compra de Pilgrim’s Pride por 800 milhões de dólares. A BNDESPAR tem agora 14% do capital de Marfrig e cerca de 17% de JBS Friboi. O forte incentivo da política pública à expansão de suas empresas líderes é de longa data, mas recentemente se acentuou com a política de desenvolvimento produtivo iniciada em 2008, na qual se definem cinco

23 Veja uma revisão detalhada do processo de internacionalização das empresas brasileiras em Ramsey e Almeida

(2009).

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estratégias consideradas adequadas para os diferentes graus de desenvolvimento dos sistemas produtivos e empresas do país. A primeira delas se refere à liderança mundial e tem como objetivo manter ou posicionar sistemas produtivos ou empresas brasileiras entre os cinco maiores atores mundiais em sua área de atividade, considerando que a liderança pode ser expressa em dimensões patrimonial, tecnológica ou produtiva. Os setores incluídos nesta estratégia são as indústrias da aeronáutica, petróleo, gás e petroquímica, bioetanol, mineração, papel e celulose, siderurgia e carnes (BNDES, 2008).

Gráfico I.23 BRASIL, CHILE E COLÔMBIA: DISTRIBUIÇÃO DAS SAÍDAS DE INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO, SEGUNDO SETORES DE DESTINO, 2010 a (Em porcentagens)

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de

abril de 2011. a A informação correspondente ao Brasil só contempla aportes de capital (não considera empréstimos entre companhias). O Chile aumentou seus investimentos no exterior 8% em 2010 e alcançou a cifra recorde de 8.744 milhões de dólares. O principal destino dos investimentos foram os países da região (58% do total), em particular o Brasil (20%), seguido por Peru (13%), Argentina (11%) e Uruguai (6%). Os investimentos se concentraram em serviços financeiros, empresas e outros (45% do total) e em comércio

Recursos naturais8

Alimentos15

Metalurgia7

Automobilístico/Autopeças5

Mineração não metálica4

Derivados do petróleo4Outras indústyrias

3

Serviços financeiros47

Outros serviços9

A. Brasil

Agricultura e pesca2 Mineração

12

Indústria de manufaturas10

Eletricidade,gás e água

6

Comércio, hotéis erestaurantes

21Transporte e

comunicações4

Serviços financeiros eempresas, seguros e

bens imóveis45

B. Chile

Exploração de minase pedreiras

70

Indústria de manufaturas2

Eletricidade, gás e água18

Transporte ecomunicações

6

Serviços financeirose empresas, seguros

e bens imóveis2

Outros serviços2

C. Colômbia

77

varejista (21%), e em menor grau, na indústria de manufaturados (10%) (veja o gráfico I.23). Entre as empresas comerciais destaca-se Cencosud (supermercados), que anunciou investimentos na Argentina, Brasil, Colômbia e Peru, e Falabella (loja por departamentos), que também anunciou investimentos na Argentina e Peru. Outras operações importantes de destacar em 2010 são as de Cementos Bío Bío no Peru (em conjunto com a empresa brasileira Votorantim); os investimentos da empresa de serviços de software e de tecnologias da informação Sonda na Argentina, Brasil e México por montantes que, em conjunto, superam 90 milhões de dólares, e a aquisição da empresa Eitzen Bulk Shipping de Dinamarca por Ultragas (carga marítima) em 93 milhões de dólares. A fusão da empresa LAN Airlines e TAM Airlines se encontra dependendo de aprovação dos organismos reguladores do Chile (veja o requadro I.3). No caso da Colômbia, os montantes de investimento no exterior totalizaram 6.504 milhões de dólares em 2010, o que duplica o montante registrado em 2009, crescimento que situa o país entre os maiores investidores da região. Esta dinâmica foi liderada por investimentos no setor de minas e pedreiras, que alcançaram 4,5 bilhões de dólares, isto é, 70% do total das saídas de IED (veja o gráfico I.23). Neste setor podem-se mencionar alguns investimentos da empresa ECOPETROL nos Estados Unidos, Brasil e Peru, que continuarão durante 2011. Especialmente dinâmicas têm sido também algumas empresas de serviços como o Grupo Aval Acções y Valores, que comprou BAC Credomatic na América Central por 1.920 milhões de dólares; a empresa estatal de distribuição de energia, Empresas Públicas de Medellín, que adquiriu a empresa Distribución Eléctrica Centroamericana II por 605 milhões de dólares, e a empresa estatal Interconexión Eléctrica que investiu 499 milhões de dólares em Cintra Concesiones de Infraestructuras de Transporte de Chile. Também se destacam alguns investimentos de Cementos Argos nos Estados Unidos, Haiti, Panamá e na República Dominicana. A República Bolivariana da Venezuela aumentou em 30% os seus investimentos diretos no exterior em 2010, que alcançaram 2.390 milhões de dólares. Muitas deles destinaram-se ao setor de petróleo e faziam parte da expansão da empresa estatal PDVSA. No entanto, também ocorreram investimentos no setor financeiro, por exemplo, os do grupo Fondo de Desarrollo Nacional, que comprou uma participação importante no Banco AKB Yevrofinans Mosnarbank da Federação Russa, e no setor de comércio mediante investimentos da empresa Becoblohm Valencia na Costa Rica e da empresa de serviços informáticos Sidif no Chile, Nicarágua e Peru. Nos países do istmo centro-americano, destacam-se os investimentos no exterior realizados por empresas da Costa Rica como Britt, que manteve durante 2010 o seu processo de expansão no México, ou a empresa de serviços de tecnologia ITS InfoCom, que em 2010 iniciou investimentos na Colômbia. As empresas de El Salvador também possuem investimentos relevantes no estrangeiro e durante 2010 destacam-se os da empresa Molinos de El Salvador em Honduras, os do Grupo Poma, que continuou realizando investimentos no setor hoteleiro, imobiliário e de distribuição de automóveis, por exemplo, na Costa Rica e Panamá, e do Grupo Agrisal, que continua investindo no setor imobiliário da Costa Rica. Também é importante destacar a aliança do Grupo TACA de El Salvador e a linha aérea colombiana Avianca (veja o requadro I.5). Em 2010 algumas empresas da Guatemala também concretizaram investimentos no exterior, como o Grupo Pharma que investiu 25 milhões de dólares no sul do México e em novas farmácias em El Salvador e o Grupo G&T Continental, que realizou investimentos em El Salvador. Algumas empresas da Nicarágua também participam nos fluxos de IED em direção ao exterior, destacando-se em 2010 os investimentos do Banco Lafise na Colômbia, Costa Rica, Honduras, México e Panamá (veja o capítulo II). É importante destacar que o Panamá consolida a sua estratégia de ser sede de empresas internacionais, razão pela qual a partir deste país se realizam mais investimentos globais que a partir de qualquer outro dessa sub-região. O dinamismo das empresas instaladas no Panamá quanto a

78

investimentos no exterior externo se observa nos recentes investimentos da linha aérea Copa em Aero República (veja o requadro I.3), dos bancos Bladex no Brasil, México e Peru, do Banco General na Costa Rica e dos seguros Assa na Costa Rica, e de empresas como Silva Tree no Reino Unido e Overseas Clearing Corporation na Nova Zelândia. Em síntese, os investimentos diretos no exterior das empresas dos países do Istmo Centro-Americano se concentraram na mesma sub-região e nos dois extremos dela: Colômbia e México. No Caribe, a Jamaica, República Dominicana e Trinidad e Tobago se uniram ao grupo de países com importantes investidores no exterior nos últimos anos (veja o quadro I.6). Alguns investimentos destacados são os do Grupo Digicel de capital irlandês com sede na Jamaica no operador de telefonia celular de Fiji (Digicel Pacific) de 132 milhões de dólares; os investimentos de Cervecería Nacional Dominicana CxA (Grupo León Jimenes) nas empresas de cerveja St. Vincent Brewery, Antigua Brewery e Dominica Brewery & Beverages Ltd., de 31 milhões de dólares. Por sua vez, o Grupo Bermúdez, de Trinidad e Tobago, anunciou investimentos no setor de alimentos na Costa Rica que chegam a 2,5 milhões de dólares.

E. CONCLUSÕES O IED na América Latina e Caribe cresceu 40% em 2010 e alcançou 113 bilhões de dólares, sendo a região do mundo onde mais aumentou após a crise financeira global. Isto ocorre em um contexto de crescente participação dos países em desenvolvimento nas correntes globais de IED. O IED aumentou 10% nos países em desenvolvimento em 2010, enquanto nos países desenvolvidos se reduziu, pelo terceiro ano consecutivo, em 7%, ocasionando que, pela primeira vez, os países em desenvolvimento sejam os maiores receptores em nível global. Por sua vez, os fluxos de saída de investimento direto a partir da América Latina e Caribe quase se quadruplicaram em 2010, superando os 43 bilhões de dólares. Estes maiores montantes de entrada e saída de IED mostram uma internacionalização cada vez maior das economias da região, assim como a sua crescente inter-relação econômica, já que a América Latina e Caribe foi origem de 10% do IED que chegou à região em 2010. A região também foi o destino de 47% das fusões e aquisições empreendidas por empresas translatinas e de 59% dos investimentos anunciados por empresas translatinas em novas plantas em 2010. O IED na América do Sul aumentou 56% em 2010, sendo o Brasil —que alcançou um novo recorde histórico— o maior receptor. Também houve um novo recorde de IED no Peru. O Chile, por sua vez, recebeu 15.095 milhões de dólares, enquanto Colômbia e Argentina receberam montantes de IED superiores a 6 bilhões de dólares. Por outro lado, o IED no México aumentou 17% em relação ao ano anterior, sendo o segundo receptor da região. O IED em direção ao Istmo Centro-Americano voltou a crescer em 2010 (16%), liderado por Panamá e Costa Rica, que receberam 64% dos fluxos da sub-região. Unicamente El Salvador manteve a tendência decrescente no recebimento de IED que iniciou em 2009. O Caribe, por sua vez, teve uma redução de 18% na chegada de IED em 2010. A República Dominicana foi o principal receptor da sub-região, com 42%. Ainda que os países da América Central e do Caribe recebam montantes pequenos de IED em termos absolutos, são os que mais recebem em relação ao PIB. Em termos de destino setorial do IED na região, existem diferenças importantes entre sub-regiões. Na América do Sul, em 2010, 43% do IED se concentra em setores relacionados com os recursos naturais, enquanto os serviços e os manufaturados recebem 30% e 27% do IED, respectivamente. Na sub-região integrada pelo México, Istmo Centro-Americano e Caribe os fluxos de IED se concentram em manufaturados (54%) e serviços (41%), enquanto o setor de recursos naturais só

79

recebe 5% da IED. A evidência sobre novos projetos anunciados de IED mostra que, na América Latina e Caribe predominam os setores de tecnologia baixa e média-baixa. Igualmente, se observa, nos últimos anos, o incremento de novos investimentos em setores de tecnologia média-alta e em projetos associados a atividades de pesquisa e desenvolvimento. No entanto, a participação da região em projetos de IED com conteúdo tecnológico alto é pequena em comparação com outras regiões do mundo e estes se concentram no Brasil e México. Mesmo que o Brasil seja o país que recebe maiores montantes absolutos em investimentos com conteúdo tecnológico alto, não é o que apresenta a maior porcentagem de investimentos deste tipo no total. De fato, somente 6% de seus novos projetos se dirigem a setores de alta tecnologia, enquanto no México 10% dos projetos têm essa característica. Por sua vez, em termos de origem do IED, os Estados Unidos continuam sendo o principal investidor na região, seguido pelos Países Baixos, China, Canadá e Espanha. Os investimentos de transnacionais latino-americanas e caribenhas, por sua vez, totalizaram 43 bilhões de dólares em 2010, o montante mais alto de sua história. Com isto, se retoma a tendência ascendente destes investimentos na última década. Estes fluxos de investimento direto tiveram sua principal origem no México e Brasil, seguidos por Chile e Colômbia. Estes quatro países concentraram 92% das saídas de investimento na região em 2010. Os países do Istmo Centro-Americano também têm evidenciado uma crescente importância de seus investimentos diretos no exterior. Os crescentes fluxos de IED em direção ao exterior incrementaram a relevância da região como investidor em nível global. Assim que, na última década a participação da América Latina e Caribe nos fluxos de IED ao exterior originado em países em desenvolvimento aumentou de 5% para 17%. A internacionalização de empresas latino-americanas e caribenhas ocorreu especialmente em indústrias básicas como hidrocarbonetos, mineração, cimento, papel e celulose, siderurgia, em atividades de manufaturados de consumo de massa como alimentos e bebidas e em alguns serviços como energia, telecomunicações, transporte aéreo e comércio varejista. Devido à importância dos fluxos de IED, é importante redobrar os esforços para compreender de melhor maneira o seu impacto na região e, como assinalado no começo deste capítulo, esta é uma agenda de pesquisa que exigirá um longo período de maturação. O dinamismo dos investimentos das empresas translatinas também deve levar a uma análise capaz de esclarecer os potenciais impactos nos países emissores desses investimentos e, portanto, sobre as possíveis ações das políticas de apoio. Nesse âmbito, como já mencionado, é importante considerar tanto os potenciais benefícios da maior internacionalização das empresas latino-americanas e caribenhas, como os argumentos contra uma política proativa de apoio. Em síntese, a região está passando por um período de crescente globalização e internacionalização, nas que o IED é um eixo central. A agenda de pesquisa deve redobrar seus esforços para compreender as repercussões deste fenômeno e a maneira como uma política industrial proativa pode contribuir para promover seus benefícios para o desenvolvimento econômico da região.

80

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83

Anexo

Quadro I.A-1 CLASSIFICAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DE MANUFATURAS, POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA

Intensidade tecnológica

Indústria a ISIC Rev.3

Alta Farmacêutica 2423

Fabricação de máquinas de escritório, contabilidade e informática 30

Fabricação de equipamentos e aparelhos de rádio, televisão e comunicações 32

Fabricação de instrumentos médicos, óticos e de precisão e fabricação de relógios

33

Média-Alta Fabricação de substâncias e produtos químicos, exceto farmacêuticos 24 menos 2423

Fabricação de máquinas e equipamento n.c.p. 29

Fabricação de máquinas e aparelhos elétricos n.c.p. 31

Fabricação de veículos motorizados, reboques e semirreboques 34

Fabricação de locomotivas e de material rodante para ferrovias, assim como, de outros tipos de equipamento de transporte n.c.p.

352 más 359

Média-Baixa Fabricação de coque, produtos da refinação de petróleo e combustível nuclear 23

Fabricação de produtos de borracha e plástico 25

Fabricação de outros produtos minerais não metálicos 26

Fabricação de metais comuns e de produtos elaborados de metal, exceto máquinas e equipamento

27 y 28

Construção e reparação de navios e outras embarcações 351

Baixa Elaboração de produtos alimentícios, bebidas e tabaco 15-16

Fabricação de produtos têxteis, vestuário; preparação e tintura de peles; curtimento e preparação de couros; fabricação de malas, bolsos de mão, artigos de montaria e acessórios, e calçado

17-19

Produção de madeira e fabricação de produtos de madeira e cortiça, exceto móveis; fabricação de artigos de palha e de materiais de cestaria

20

Fabricação de papel e de produtos de papel e atividades de edição e impressão e de reprodução de impressos

21-22

Fabricação de móveis; indústrias de manufaturas n.c.p. e reciclagem 36-37

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 2009.

Nota: n.c.p. – não classificados em outra parte.

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Quadro I.A-2 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ENTRADAS LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO POR PAÍSES, 2000-2010 (Em milhões de dólares)

País 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Anguillaa 43,0 34,7 38,2 34,4 91,8 117,3 143,2 120,0 101,0 46,3 24,6

Antígua e Barbuda a 66,6 111,9 79,7 179,4 95,2 221,0 361,0 340,5 176,2 121,3 107,9

Argentina 10 418,3 2 166,1 2 148,9 1 652,0 4 124,7 5 265,2 5 537,0 6 473,0 9 725,6 4 017,1 6 193,0

Bahamas b 469,1 492,6 312,4 641,7 632,4 911,5 1 159,4 746,2 838,9 664,0 499,1

Barbados 19,4 18,6 64,6 121,7 24,0 127,6 244,7 337,8 267,2 159,7 ...

Belize 23,3 61,2 25,4 -10,9 111,5 126,9 108,8 143,1 179,9 112,5 100,0

Bolívia (Estado Plurinacional da) 733,9 703,3 674,1 194,9 82,6 -290,8 277,8 362,3 507,6 425,7 650,8

Brasil 32 779,2 22 457,4 16 590,2 10 143,5 18 145,9 15 066,3 18 822,2 34 584,9 45 058,2 25 948,6 48 461,5

Chile 4 860,0 4 199,8 2 550,0 4 307,4 7 172,7 6 983,9 7 298,4 12 533,6 15 150,0 12 874,0 15 095,0

Colômbia 2 436,5 2 541,9 2 133,7 1 720,5 3 015,6 10 252,0 6 656,0 9 048,7 10 596,3 7 137,2 6 759,9

Costa Rica 408,6 460,4 659,4 575,1 617,3 861,0 1 469,0 1 896,0 2 021,0 1 322,6 1 412,0

Dominica a 20,3 20,6 20,7 31,9 27,5 19,2 28,9 47,9 56,8 41,9 31,4

Equador 720,0 1 329,8 783,3 871,5 836,9 493,4 271,4 194,2 1 000,5 319,0 164,1

El Salvador c 173,4 279,0 470,2 141,7 376,3 511,2 241,1 1 508,4 784,2 430,6 89,0

Granada a 39,4 60,8 57,4 90,5 66,3 70,2 95,6 167,4 148,1 104,0 90,4

Guatemala a 229,6 498,5 205,3 263,3 296,0 508,2 591,6 745,1 753,8 573,7 678,3

Guiana 67,1 56,0 43,6 26,1 30,0 76,8 102,4 110,3 179,1 221,9 198,0

Haiti 13,3 4,4 5,7 13,8 5,9 26,0 160,0 74,5 34,4 37,4 150,4

Honduras 381,7 304,2 275,2 402,8 546,7 599,8 669,1 927,5 1 006,4 523,2 797,5

Jamaica 468,3 524,9 404,9 604,4 541,6 581,5 882,2 866,5 1 436,6 540,9 ...

México 18 097,9 29 759,3 23 631,0 16 590,5 23 815,6 22 344,7 19 779,4 29 714,0 25 864,0 15 206,0 17 725,9

Montserrat a 2,3 0,6 0,6 2,1 2,8 0,8 4,0 6,5 12,6 2,6 2,1

Nicarágua 266,5 150,1 203,8 201,2 249,8 241,1 286,8 381,7 626,1 434,2 508,0

Panamá 623,9 467,1 98,6 770,8 1 012,3 962,1 2 497,9 1 776,5 2 401,7 1 772,8 2 362,5

Paraguai 104,1 84,2 10,0 25,0 27,7 35,5 95,0 201,8 208,5 98,8 268,1

Peru 809,7 1 144,3 2 155,8 1 335,0 1 599,0 2 578,7 3 466,5 5 491,0 6 923,7 5 575,9 7 328,0

República Dominicana 952,9 1 079,1 916,8 613,0 909,0 1 122,7 1 084,6 1 667,4 2 870,1 2 165,4 1 625,8São Cristóvão e Névis a 99,0 90,3 81,1 77,9 53,1 93,0 114,6 140,7 183,8 136,0 128,2

São Vicente e Granadinas a 37,8 21,0 34,0 55,2 66,1 40,1 109,8 132,0 159,2 106,8 92,6

Santa Lucía a 58,2 63,0 57,1 111,8 81,0 78,2 237,7 277,4 166,2 152,0 104,5

Suriname -148,0 -26,8 145,5 200,7 286,2 398,5 322,7 178,6 123,7 241,6 212,8

Trinidad e Tobago a 679,5 834,9 790,7 808,3 1 001,0 940,0 883,0 830,0 2 800,8 709,1 549,4

Uruguai 273,5 296,8 193,7 416,4 332,4 847,4 1 493,5 1 329,5 1 809,4 1 258,4 1 626,9

Venezuela (República Bolivariana da) 4 701,0 3 683,0 782,0 2 040,0 1 483,0 2 589,0 -508,0 1 008,0 349,0 -3 105,0 -1 404,0

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de abril de 2011.

a Estimativa oficial para o montante de IED de 2010. b O dado de 2010 corresponde ao acumulado até o terceiro trimestre. c A partir do quarto trimestre de 2009, El Salvador atualizou sua metodologia de medição do IED, pelo que nos dados de 2010

agora estão deduzidos os passivos das empresas, mostrando-se dados líquidos de IED.

85

Quadro I.A-3 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ENTRADAS LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO, POR SETOR DE DESTINO, 2000-2010 (Em milhões de dólares)

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Anguilla b Recursos naturais 0 0 0 4 3 … Manufaturados 0 0 0 0 0 … Serviços 60 72 78 39 30 … Outros 31 0 0 0 0 …

Antígua e Barbuda b Recursos naturais 0 0 0 0 0 … Manufaturados 0 0 0 0 0 … Serviços 75 259 245 78 65 … Outros 100 29 27 29 10 …

Argentina Recursos naturais 1 960 3 123 2 130 1 278 1 264 … Manufaturados 2 606 2 766 3 079 5 544 -527 … Serviços 2 239 1 701 2 266 3 565 2 378 …

Belize Recursos naturais 8 12 9 37 7 13 Manufaturados 0 0 0 0 0 0 Serviços 114 83 101 127 97 82 Outros 5 14 34 16 9 5

Bolívia (Estado Plurinacional da) Recursos naturais 363 146 441 862 … … Manufaturados 31 52 89 102 … … Serviços 274 308 343 368 … …

Brasil Recursos naturais 1 722 1 835 4 806 15 085 7 503 19 879 Manufaturados 5 411 7 851 16 074 15 791 12 810 18 708 Serviços 7 521 8 950 13 163 13 785 6 162 12 212

Chile c Recursos naturais 595 3 384 6 607 4 625 7 013 6 203 Manufaturados 199 1 149 -431 1 616 460 341 Serviços 1 003 2 766 6 358 8 939 5 229 8 040 Outros … 244 215 256 525 511

Colômbia Recursos naturais 3 288 3 786 4 474 5 231 5 742 4 969 Manufaturados 5 513 803 1 867 1 748 536 594 Serviços 1 451 2 067 2 709 3 605 924 1 197

Costa Rica Recursos naturais 37 66 -10 426 68 -9 Manufaturados 375 432 722 553 412 828 Serviços 450 967 1 181 1 001 845 587 Outros -1 4 4 41 22 18

Dominica d Recursos naturais 0 0 9 8 6 … Manufaturados 0 0 0 0 0 … Serviços 4 0 15 20 14 … Outros 12 24 12 17 12 …

86

Quadro I.A-3 (continuação)

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Equador Recursos naturais 222 -69 -77 263 45 168 Manufaturados 75 90 99 206 127 123 Serviços 196 250 173 536 145 -127 Outros

El Salvador Recursos naturais 0 29 10 5 1 1 Manufaturados 317 17 21 28 56 -58 Serviços 191 182 1 315 480 165 147 Outros (maquila) 4 0 101 26 72 -1

Guatemala Recursos naturais 150 69 70 174 139 … Manufaturados 131 175 210 175 51 … Serviços 219 328 437 369 401 … Outros 9 20 28 36 9 …

Granada d Recursos naturais 0 0 0 0 0 … Manufaturados 1 0 4 3 2 … Serviços 37 48 94 101 56 … Outros 9 19 31 8 22 …

Haiti Recursos naturais 3 1 9 4 6 13 Manufaturados 5 7 7 3 4 5 Serviços 2 151 56 20 26 129 Outros 1 2 4 2 2 3

Honduras d,e Recursos naturais 53 44 11 5 9 2 Manufaturados 270 227 384 215 143 210 Serviços 263 359 515 681 348 307 Outros 14 38 18 0 0 0

México d Recursos naturais 233 414 1 883 4 373 464 594 Manufaturados 11 007 9 923 12 125 6 384 4 831 10 585 Serviços 10 683 8 980 13 270 11 193 6 122 6 546

Nicarágua Recursos naturais 0 15 11 38 12 184 Manufaturados 87 63 121 96 101 108 Serviços 155 109 250 460 321 178 Outros 0 101 0 32 2 38

Panamá Recursos naturais 0 -108 1 -59 -28 … Manufaturados -62 105 129 161 48 … Serviços 1 693 2 531 1 765 2 106 1 755 … Outros -696 19 2 -11 -3 …

Paraguai e Recursos naturais -2 -36 -2 3 8 4 Manufaturados -16 61 8 149 -96 89 Serviços 53 70 196 57 186 86

87

Quadro I.A-3 (conclusão)

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Peru f Recursos naturais 283 735 3 923 3 783 3 965 … Manufaturados -78 433 1 361 1 026 570 … Serviços -272 345 4 695 5 527 1 969 …

República Dominicana Recursos naturais 31 100 76 414 758 311 Indústria/Comércio 199 259 188 583 120 308 Serviços 718 1 039 1 245 1 929 1 216 954 Outros 175 131 70 45 64 53

São Cristóvão e Névis b Recursos naturais 0 0 0 0 0 … Manufaturados 0 0 0 0 0 … Serviços 1 0 37 69 43 … Outros 40 24 7 12 8 …

Santa Lúcia b Recursos naturais 0 0 0 0 0 … Manufaturados 0 0 0 0 0 … Serviços 27 174 167 106 73 … Outros 28 1 21 13 9 …

São Vicente e Granadinas b Recursos naturais 2 0 0 0 0 … Manufaturados 0 0 0 0 0 … Serviços 11 48 52 56 39 … Outros 1 4 23 18 23 …

Trinidad e Tobago Recursos naturais 813 736 711 534 612 … Manufaturados 15 16 21 14 11 … Serviços 47 62 56 58 39 … Outros 65 69 43 2 194 47 …

Uruguai Recursos naturais 264 … … … … … Manufaturados 26 … … … … … Serviços 248 … … … … … Outros 310 … … … … …

Venezuela (República Bolivariana da) Recursos naturais 1 021 -1 958 -180 -230 0 … Manufaturados 0 0 0 0 0 … Serviços 492 369 673 469 -354 … Outros 1 076 999 153 110 -2 751 …

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras e estimativas oficiais em 15 de abril de 2011. Não há dados disponíveis por setor de destino para Montserrat.

a Os dados podem não coincidir com os informados no balanço de pagamentos. b Não inclui venda de terrenos nem reinvestimento de lucros. c O IED em 2005 corresponde ao concretizado mediante o decreto lei 600. d Os dados de manufaturados incluem maquila. e Os dados de 2010 correspondem ao acumulado no terceiro trimestre. f Os dados a partir de 2007 correspondem à desagregação setorial de capitais externos de longo prazo, considerando investimento

estrangeiro direto, desembolsos de empréstimos de longo prazo e bônus (Fonte: Banco Central de Reserva del Perú).

88

Quadro I.A-4 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ENTRADAS LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

DIRETO, POR PAÍS DE ORIGEM, 2000-2010 a (Em milhões de dólares)

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Anguilla Estados Unidos 62 68 68 46 30 …

Antígua e Barbuda Estados Unidos 19 0 0 0 0 … Itália 27 0 0 0 0 … Caribe 10 0 0 0 0 … Outros 118 290 255 107 75 …

Argentina Espanha 1 339 2 374 1 774 691 1 037 … Suíça 281 39 276 713 507 … Uruguai -364 16 115 320 496 … Bermuda -185 159 207 99 437 … Alemanha 71 253 465 368 314 … Estados Unidos 1 263 816 711 2 010 249 … Chile 605 517 469 787 233 … Países Baixos 1 055 110 589 1 152 211 …

Brasil Luxemburgo -44 397 5 864 6 292 -483 8 941 Suíça 368 1 572 819 1 335 34 6 466 Estados Unidos 4 034 2 784 3 744 5 007 1 963 5 382 Países Baixos 979 3 317 7 634 3 916 4 260 2 820 Japão 572 826 81 4 316 1 709 2 439 México 1 242 502 -27 1 197 -681 2 317 Chile 217 97 677 -108 1 611 1 415

Chile Estados Unidos 111 3 726 2 272 2 278 2 802 Reino Unido 756 704 438 671 1 813 Canadá 498 2 612 1 667 841 1 611 Bermuda 2 029 1 283 1 010 2 054 1 600 Espanha 822 1 088 2 210 1 756 1 243

Colômbia Panamá 208 240 477 760 337 620 Anguilla 0 0 1 020 1 184 46 455 Bermudas 222 8 12 31 287 328 Reino Unido 3 747 17 35 200 386 191 Canadá 2 18 8 52 78 163 Estados Unidos 1 410 1 524 1 389 1 742 1 234 -241

Costa Rica Estados Unidos 532 695 940 1 301 683 772 Espanha 14 10 54 76 78 82 Canadá 55 336 96 63 33 36 Reino Unido 13 21 20 16 28 32 Países Baixos 0 26 266 24 26 29 El Salvador 21 33 41 65 26 26

89

Quadro I.A-4 (continuação)

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Dominica Caribe 0 0 0 8 6 … Taiwan (província chinesa de) 0 0 2 2 1 … Reino Unido 0 0 0 0 0 … Estados Unidos 0 0 0 0 0 … Itália 0 0 0 0 0 … Canadá 0 0 0 0 0 … Alemanha 0 0 0 0 0 …

Equador Panamá 76 67 77 73 118 136 Canadá 29 -252 49 44 53 79 China -20 12 85 47 56 44 Uruguai 6 15 2 -32 -12 40 Bahamas 28 -17 -117 -25 -2 38 Países Baixos -43 38 8 -4 5 17 Espanha 3 7 85 128 73 16

El Salvador Panamá 42 68 841 321 80 81 Estados Unidos 332 13 499 129 74 112 Guatemala … … … … … 47 Peru … … … … … 20 Costa Rica … … … … … 7 Espanha … … … … … -43

Guatemala Estados Unidos 192 198 326 229 151 … Espanha 56 56 42 66 64 … Canadá 3 4 25 54 74 … Reino Unido 9 13 63 66 58 … México 26 83 76 76 50 … República da Coreia 43 45 13 4 23 …

Honduras b Estados Unidos 303 339 460 339 281 65 Costa Rica -2 2 8 2 6 48 Reino Unido 48 49 103 71 -37 32 Canadá 17 107 139 37 23 29 Irlanda 0 0 0 214 19 12 Guatemala 25 17 15 40 19 5

México Países Baixos 3 983 2 798 5 687 1 751 2 047 8 659 Estados Unidos 11 886 12 929 12 372 10 593 6 750 4 892 Espanha 1 289 1 779 5 380 4 880 2 639 1 305 Canadá 471 594 291 3 042 1 600 756 Brasil 46 50 25 88 124 351 Alemanha 335 629 623 525 22 241

Nicarágua Canadá 43 14 32 69 51 167 Estados Unidos 51 53 84 52 60 98 México 36 53 128 164 48 89 Venezuela (República Bolivariana da) 0 0 47 132 147 29 Espanha 17 10 45 59 26 33

90

Quadro I.A-4 (continuação)

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Panamá Espanha 172 271 188 371 … Estados Unidos 121 230 492 343 … México -28 79 68 69 199 … Colômbia -283 102 407 49 170 … Nicarágua 101 151 205 137 … Suíça 282 190 -122 128 … Argentina 19 -152 66 58 94 … Reino Unido 1 594 -13 460 31 … Paraguai Estados Unidos 20 84 107 190 111 193 Espanha 9 7 19 11 16 23 Brasil 10 52 41 42 -26 11 Panamá -7 -12 26 -13 0 6 Reino Unido -7 -1 1 -2 3 4 Portugal 0 -37 1 3 0 3

Peru Chile -82 62 32 591 181 … Itália -504 65 -22 414 0 … África do Sul 268 467 0 405 0 … Noruega 5 15 0 276 0 … França 0 0 -30 148 4 …

República Dominicana México -1 84 -124 1 055 273 369 Canadá 111 142 113 383 773 329 Estados Unidos 457 662 536 360 460 307 Espanha 215 308 604 181 154 299 Venezuela (República Bolivariana da) 6 17 53 11 31 140 Países Baixos 41 41 54 -73 96 62

São Cristóvão e Névis Estados Unidos 15 0 10 16 10 … Reino Unido 0 0 4 8 5 … Canadá 0 0 0 19 0 … Alemanha 0 0 0 0 0 … França 0 0 0 0 0 … Caribe 2 0 0 0 0 …

Santa Lúcia Estados Unidos 0 0 0 20 14 … Reino Unido 6 51 28 0 0 … Caribe 0 15 22 0 0 … Itália 0 4 9 0 0 … Arábia Saudita 0 0 0 0 0 … França 0 0 0 0 0 …

São Vicente e Granadinas Reino Unido 38 50 74 73 61 … Estados Unidos 0 0 0 0 0 … França 0 0 0 0 0 … Alemanha 0 0 0 0 0 … Itália 0 0 0 0 0 … Caribe 0 0 0 0 0 …

91

Quadro I.A-4 (conclusão)

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Trinidad e Tobago Estados Unidos 694 627 574 403 469 … Reino Unido 165 150 159 146 152 … Alemanha 41 38 43 30 32 … Índia 16 27 21 16 17 … Canadá 1 3 3 2 194 4 … Outros 22 39 29 11 35 …

Uruguai Argentina 397 … … … … … Brasil 203 … … … … … Panamá 106 … … … … … Paraguai 35 … … … … … Bahamas 29 … … … … … Outros 78 … … … … …

Venezuela (República Bolivariana da)

Espanha 40 274 295 237 … … Países Baixos 53 -74 203 84 … … Panamá 38 29 53 29 … … Colômbia 2 9 22 3 … … Outros 2 474 -832 76 1 363 … …

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais em 15 de abril 2011. a Os dados podem não coincidir com os informados no balanço de pagamentos. Não há dados disponíveis por país de origem

para o Estado Plurinacional da Bolívia, Granada e Montserrat. Os dados foram ordenaram segundo a importância das fontes do IED no último ano informado e os dados prévios a 2005 podem ser vistos nos informes sobre investimento estrangeiro direto da CEPAL de anos anteriores.

b Informações no terceiro trimestre de 2010; inclui maquila.

Quadro I.A-5 AMÉRICA LATINA E CARIBE: CORRENTES LÍQUIDAS DE INVESTIMENTO

DIRETO NO EXTERIOR, POR PAÍSES, CIFRAS OFICIAIS, 1999-2010 (Em milhões de dólares)

País 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010Argentina 901 161 -627 774 676 1 311 2 439 1 504 1 391 710 2 390Barbados 1 1 0 1 4 9 44 82 63 41 ...Belize 0 0 0 0 0 1 8 7 10 4 3Bolívia (Estado Plurinacional da) 3 0 0 0 0 0 3 4 5 -4 ...Brasil 2 282 -2 258 2 482 249 9 807 2 517 28 202 7 067 20 457 -10 084 11 500Chile 3 987 1 610 343 1 606 1 563 2 183 2 171 2 573 8 040 8 061 8 744Colômbia 325 16 857 938 142 4 662 1 098 913 2 254 3 088 6 504Costa Rica 8 10 34 27 61 -43 98 263 6 7 80El Salvador -5 -10 -26 19 -3 113 -26 100 16 23 1Guatemala … 10 22 46 41 38 40 25 16 23 29Honduras 7 3 7 12 -6 1 1 1 -1 1 9Jamaica 74 89 74 116 52 101 85 115 76 62 ...México … 4 404 891 1 253 4 432 6 474 5 758 8 256 1 157 7 019 12 694Paraguai 6 6 -2 6 6 6 4 8 8 8 -6Peru 0 74 0 60 0 0 0 66 736 398 946Trinidad e Tobago 25 150 106 225 29 341 370 0 700 0 ...Uruguai -1 6 14 15 18 36 -1 89 -11 2 215Venezuela (República Bolivariana da) 521 204 1 026 1 318 619 1 167 1 524 30 1 273 1 834 ...

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais em 15 de abril de 2011.