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Narrar uma história efetivamente vivenciada, … situações e fatos nela citados, deve ser considerado como fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, estórias

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O Pastor Arivalter Bahyão

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O Pastor,

Convicções Estremecidas

Arivalter Bahyão

Primeira Edição

Salvador - Bahia

2013

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Esta é uma obra de ficção. Portanto, mesmo tendo baseamento em

fatos reais, todo o seu conteúdo, a exemplo de nomes de

personagens, situações e fatos nela citados, deve ser considerado

como fruto da imaginação do autor.

Qualquer semelhança com nomes, estórias ou fatos reais que

eventualmente tenham sido testemunhados e, até, documentados,

deve ser considerada mera coincidência.

Arivalter Bahyão.

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SUMÁRIO

Pág 06 – INTRODUÇÃO

Pág 08 – GABRIEL

Pag.14 – MEXICA

Pag.16 – BABI

Pág.19 – O Pastor, Com vicções Estremecidas

Pág 28 – Zoínho Reencontra Gabriel

Pág 39 – Gabriel se Converte Protestante

Pág 48 – O Reencontro de Gabriel com Mexica

Pág 51 – A Morte e a “Ressurreição” de Mexica

Pág 62 – O Reencontro de Mexica (Celino) com sua Esposa

(Melissa)

Pág 85 - O Encontro de Celino (Mexica) com sua Esposa e Filhos

Pág 113 - EPÍLOGO

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INTRODUÇÃO

O Pastor é o resultado de um levantamento que o autor fez na vida

dos seus dois principais personagens. Um deles, um dos narradores

da estória e o outro é aquele que se tornou pastor de uma religião

protestante, fundador de sua própria Igreja, hoje com sedes em

Salvador e em várias cidades do interior baiano. Tem, até, programa

regular em emissoras de televisão. Esses programas, transmitidos

direto de sua sede central, promete e, segundo testemunhos

divulgados, faz curas e realiza milagres diversos. Através desses

programas, também, o pastor pede contribuição financeira de seus

fiéis e de eventuais patrocinadores que pretendam ser “salvos” e

enviados para o Reino de Deus.

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PERSONAGENS MAIS DESTACADOS

O propósito deste bloco é descrever de forma clara, mas bastante

sucinta, o histórico dos personagens que ganharam um destaque

maior neste trabalho.

Espera-se, com o conteúdo deste bloco, oferecer ao caro leitor,

maiores recursos para o entendimento da história como um todo.

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GABRIEL

Ângelo Gabriel de Andrade, este foi o nome que já estava destinado

ao sexto filho do “Seo” Augusto e D. Maria das Dores, mesmo

antes dele nascer.

Quando eu conheci o Gabriel na pensão de D. Sassá, ele já era

adulto, 1,80m, moreno forte, cabelos longos e lisos, barba cheia e

sotaque carregado, de interiorano, mais precisamente da Cidade de

Monte Santo, interior da Bahia. Foi a mãe dele, D. Maria das Dores

quem me contou sobre sua infância, desde o nascimento.

Muita gente fala, nos dias atuais, dos sérios riscos que corre a

mulher que engravida com mais de 35 anos. Como também, causa

muito espanto saber que uma garota de 11 ou 12 anos de idade, deu

à luz. Ocorre que naquela época, ainda era normal uma filha ser

prometida, geralmente pelo pai, a jovens advogados, engenheiros,

médicos, filhos de fazendeiros ilustres da região, e casada a partir

dessa faixa etária. E, em seguida, iniciar sua vida de procriadora.

Comum, também, era uma mulher engravidar perto dos 40. Foi o

caso de D. Maria das Dores que, no dia 24 de Junho de 1945 deu à

luz àquele que seria o caçula da família, Ângelo Gabriel de

Andrade.

Com 56cm de comprimento e algo em torno de 3,5kg, o parto do

Gabriel, como confirmará mais adiante D. “Das Dores”, foi um dos

mais estranhos, não só que já tivera conhecimento, como também,

dos que tivera.

Segundo ela, D. “Das Dores”, não sentira dor nenhuma durante o

parto. Pelo tempo de gravidez, pelo tamanho e pelo peso do feto já

pressionando a barriga para baixo, sabia, por experiências

anteriores, que a qualquer momento poderia ocorrer. Tanto é que já

deixara D. Ricarda a “aparadeira”, de sobreaviso. Logo, quando a

placenta se partiu, mandou “Seo” Augusto chamá-la para exercer

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suas funções. Só que, quando ela chegou, tudo já havia acontecido.

O “moleque” Gabriel já havia saído suavemente, sem causar

qualquer dor ou dano à sua mamãe; esperava, apenas, que lhe fosse

cortado o cordão umbilical e que lhe fossem dados os tratamentos

que normalmente se dá a um recém-nascido.

A população de Monte Santo, interior da Bahia, festejava o São

João, com suas fogueiras, comidas típicas e, claro, muita sanfona

tocando o forró.

A família de “Seo” Augusto tinha um motivo a mais para festejar.

Todas as honras foram dadas ao novo membro da família, que

agora completava oito pessoas. D. Maria das Dores, “Seo” Augusto

e os filhos:

A mais velha, Maria da Conceição; Maria das Graças, Davi,

Messias, Maria Angélica, e, agora, Ângelo Gabriel. Observe-se a

preocupação do casal, que parecia hereditária, em atribuir aos seus

filhos nomes bíblicos, demonstrando, assim, sua fervorosa

religiosidade voltada para a Igreja Católica.

A infância de Gabriel fora semelhante à de qualquer criança da

localidade. Salvo algumas ocorrências que serão lembradas pelos

pais e irmãos, no decurso desta estória. Não fora o tipo de aluno

que se possa dizer que ficava o tempo todo estudando. Mas,

freqüentava assiduamente a escola, fazia, logo que chegava em

casa, seus deveres e saía junto aos amigos em direção aos quintais

para caçar passarinhos com o badogue e apanhar frutas, nos

pomares vizinhos.

Algo curioso, inexplicável e, até inacreditável, acontecera numa das

suas “aventuras” nos quintais dos amigos, que costumava

freqüentar para apanhar frutas. Estava ele sentado num galho de

mangueira se espichando para alcançar uma manga verde a fim de

“arrancar” e atirar para baixo em direção aos companheiros.

Brincavam de guerra, trocando tiros de manga verde. De repente, ao

tentar se esquivar de uma “rajada” que vinha de baixo em sua

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direção, o galho quebrou e ele caiu, de uma altura aproximada de 4

metros, procurando apoio com um dos braços. Espatifou-se no

chão; assustado, chorando desesperadamente, o braço torto que nem

um anzol! Os amigos também entraram em desespero e saíram

gritando por socorro.

Estavam na casa de Pedrinho, filho de “Seo” Liotério. Foi D. Marta,

mãe de Pedrinho, que apareceu atônita...

- Mas o que foi, meu Deus do céu?! –Perguntou com as mãos

na cabeça

- Foi Gabriel que caiu da mangueira. Olhe o braço dele como

ficou... – Respondeu Pedrinho, em prantos apontando com o dedo

em direção ao braço torto do amigo.

- Não se preocupem. Vamos dar um jeito nisso. Vamos levar

você para o posto médico pra “encanar” seu braço. Tudo vai ficar

bem. Tranqüilizou D. Marta.

Nisso foi chegando o pai de Pedrinho, que após as breves

explicações da “patroa” colocou o assustado Gabriel nos braços e

foram em procissão para o Posto Médico.

Depois de ficarem por quase duas horas aguardando atendimento,

uma enfermeira convidou “Seo” Liotério a entrar com Gabriel nos

braços. A essas alturas, o garoto já parecia mais tranqüilo. Não

demonstrava estar sentindo nada.

- E então, o que é que temos aí? – Perguntou o “doutor” que

se aproximara.

- Este garoto, doutor, caiu da mangueira e quebrou o braço. –

Respondeu “Seo” Liotério, colocando o menino na maca.

O médico deu umas instruções à enfermeira no sentido de preparar

as ataduras com gesso e dispôs a examinar o braço de Gabriel.

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Tal não foi a surpresa do médico ao constatar que o braço do garoto

estava normal.

- Ué, o braço do moleque está normal! Não vejo problema

nenhum! – Exclamou estupefato.

- Mas, doutor, eu vi... Todos nós vimos o braço dele torto. –

Retrucou o também surpreso “Seo” Liotério, saindo até à recepção

onde os amigos de Gabriel aguardavam preocupados.

- Meninos, entrem aqui. Venham ver só uma coisa! –

Convidou os garotos a entrar.

Ao chegarem à sala do médico já encontraram Gabriel sentado na

maca, feliz, como se nada tivesse acontecido.

- Olhe pra isso, Pedrinho. Não estava todo torto quando nós

o trouxemos? – Perguntou “Seo” Liotério, sem querer acreditar no

que estava vendo.

- É verdade, doutor. Tava torto mesmo. – Responderam em

uníssono, olhando, admirados, o braço “recuperado” do amigo.

- Bom. Como não houve fratura exposta, e como o garoto,

até a hora do atendimento, foi mantido com o braço praticamente

estabilizado, deve ter acontecido uma calcificação espontânea,

muito normal nessa idade. De qualquer maneira, o braço do garoto

não tem nada. – Retornou o médico, apalpando e exercitando o

braço de Gabriel em busca de alguma fratura ou anormalidade.

– Eu tenho um montão de gente para atender. Portanto, vão

embora e me deixem trabalhar.

Por não ter entendido direito as palavras do “doutor”, até hoje

ninguém sabe explicar, com segurança, o que aconteceu. Gabriel

preferiu ocultar o fato de seus pais. Não só para não os deixar

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preocupados, como também para não ter que dar explicações que

nem ele mesmo as tinha.

Para completar o estado de estupefação geral, quando os garotos

retornaram à casa de “Seo” Liotério, constataram que o galho da

mangueira que tinha quebrado na queda de Gabriel, estava intacto.

Como se nada tivesse acontecido.

Como ninguém encontrou nem, certamente, encontraria jamais,

explicação para os “fenômenos” dos quais foram protagonistas, D.

Marta e “Seo” Liotério aconselharam os garotos a esquecer o

assunto e a não contá-lo pra mais ninguém a fim de evitar ter que

dar explicações para algo que nem eles mesmos sabiam como

acontecera.

Gabriel aprendera o Catecismo, fizera a Primeira Comunhão e,

até, tivera oportunidade de, durante quase um ano, ajudar ao Padre

Florisvaldo na realização de seus Sacramentos.

No ginásio, escola particular, tornara-se líder estudantil

promovendo agitados movimentos reivindicatórios, muitas vezes

deixando a escola sem aula por meses, e, claro, sem receber as

mensalidades dos pais dos alunos, para obrigar a diretoria a atender

às exigências do diretório acadêmico.

Aos 17 anos concluíra o curso do ginásio passando a liderança

estudantil para o José Roberto Figueiredo, mediante eleição

específica. A partir e então, viajaria para a capital, aonde daria

continuidade aos estudos e procuraria trabalho. Seu sonho era um

emprego público.

Já no último ano do ginásio, Gabriel começara a questionar os

ensinamentos religiosos que tivera da família e no tempo em que

estivera como “coroinha”, comparando com o que vinha

aprendendo nas aulas de História Geral, Religião, com suas

reflexões a respeito das diferenças entre as classes sociais que já

naquela época eram evidentes e assustadoras. Por inúmeras vezes,

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acompanhara sua mãe, nas noites de terças-feiras, a levar uma

panela enorme de sopa e pães para distribuir entre os mais carentes,

nos abrigos públicos e nas ruas onde muitos mendigos disputavam

um lugar protegido das chuvas para dormir. E pensava... Onde

estão, a igreja, a prefeitura, o governo... O que é que fazem com

tanto dinheiro que arrecadam como dízimos e impostos! Será que

essas autoridades não veem tudo isso? E não se sensibilizam?

Certamente não teem nenhum parente entre esses miseráveis. E

Deus? Como é que Ele permite tanta injustiça, tanto descaso para

com as Suas criaturas? Pois, pelo que eu sei, Êle é onipresente,

onipotente e onisciente.

Suas convicções fraquejaram de vez, quando começou a ler sobre o

ateísmo. Átheo, segundo os gregos, eram os indivíduos

desprovidos de crença divina. Um indivíduo sem Deus. Em nossa

língua, ateu. O significado é o mesmo. É o indivíduo que questiona

a existência de Deus como ser Supremo, criador do céu, da terra e

de todas as criaturas nela existentes. As conclusões a que chegara

quando se dirigia num velho ônibus de “carreira” para Salvador,

eram assustadoras. Desde então passara a se perguntar, se valeram a

pena todos os ensinamentos católicos que obtivera até então. Se sua

crença estava, agora, toda distorcida, de nada adiantaria tudo aquilo.

“Na verdade, pra mim, tudo aquilo foi conversa fiada, apenas uma

forma de alienar o indivíduo desde sua mais tenra idade.”

E foi com esse pensamento que Gabriel chegou a Salvador. Iria ler

todos os livros que encontrasse sobre ateísmo, para melhor se

informar a respeito.

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MEXICA

MEXICA, forma reduzida de Mexicano. Era esse o codinome desse

novo personagem. Nunca soube seu verdadeiro nome. Era assim

chamado porque, nas ocasiões em que desfilava na Escola de

Samba Barroquinha Zero Hora, como parte da bateria, usava um

belo sombrero mexicano.

Ganhava a vida como alfaiate. Trabalhava num ateliê que ficava

bem embaixo da Pensão da D. Sassá. O ateliê era dos pais do

Edilton, também integrante da bateria. Edilton, pele clara, cabelos

curtos e cacheados morava, junto com seus pais, no fundo do ateliê.

Cheio de gírias, nas horas em que não estava ajudando a mãe nas

costuras ou no colégio São Bento, ali próximo, estava na sede da

Escola de Samba, como dizia, “na roda da malandragem”.

Mexica devia ter, àquela ocasião, por volta dos 29 anos. Tinha a

pele morena, com cabelos pretos, lisos e curtos, aproximadamente

1,70m de altura, trabalhador... Era, o que se costumava chamar,

gente boa! Gostava de uns “pileques” aos finais de semana. Mas

nunca se excedia, a ponto de causar constrangimentos. Quando

percebia que atingiu o ponto de controle, dizia, “Pessoal, já tô cheio

de

razão. Tô indo...” e, discretamente, tomava o rumo do seu

quartinho, na subida da Visconde de Itaparica, onde morava

sozinho. Poucos sabiam sobre sua origem ou sobre seus pais,

irmãos etc.

Mexica fazia questão de permanecer solteiro. Dizia que gostava de

liberdade e do “descompromisso” geral. Era esse o termo que

costuma empregar para justificar o fato de até aquela idade ainda

estar solteiro. Também, não se ligava muito em religião. Alguns

que o conheciam há mais tempo e, até, com mais intimidade,

diziam que o Mexica tinha envolvimento com candomblé. A

verdade é que o nosso personagem estava sempre alegre e

receptivo, para quem precisasse dos seus serviços.

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Essa era a vida de Mexica! Lembro-me que, por volta de 8 anos

desde que deixara de morar na Pensão da d. Sassá, em passagem

pela Barroquinha, perguntando pelos amigos da época em que por

lá estivera, soube, dentre outras coisas, que o Mexica, finalmente,

havia contraído matrimônio. Conhecera uma bela, turista paulista

que com ele se encantara durante uma exibição da “Barroquinha

Zero Hora”

E isso era tudo o que sabíamos sobre o componente da bateria da

Escola de Samba Barroquinha Zero, que, nas suas exibições,

costumava usar um amplo sombrero mexicano.

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