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00.20.59 Pulp Fiction é um filme emblemático dos anos 90 e da filmografia do cineasta Quentin Tarantino, que tornou-se referencial pois trouxe ao grande público narrativas não lineares mostrando violência e vulgaridade, histórias que já foram vistas, mas renovadas por uma linguaguagem e por um desprendimento que se liberta da narrativa para uma nova abordagem do cinema. Ao entrar nesta sala, a luz se torna mais intensa, com indícios de que não seja natural, pois a fonte principal de luz, que seriam as janelas do apartamento, estão com as cortinas fechadas e a luz é demasiado branca para ser uma luz interna residencial. Além disso, é utilizado nova- mente o recurso da key light para enfatizar o low key e as expressões dos personagens principais para esta ação: Jules e o jovem sentado. A cena mistura long shots com foco longo, para adcionar profundidade e movimento enquanto o suspense é construído (FIG 10), shots médios e shots curtos para mostrar expressões e dar ao especta- dor o pormenor da ação no ponto desejado, depois de apresentar o entorno no long shot. Nos shots médios, iden- tifica-se picada e contra-picada para não deixar dúvidas sobre a hierarquia de dominação dos personagens (FIG 09 e 10). É interessante notar o uso de key light artificial nos long shots com foco longo, ampliando a dramaticidade e destacando os contornos dos personagens para que nao se perca a hierarquia de importância dos presentes nem a profundidade conseguida com uso de lentes wide angle para ampliar efeito dramático (FIG 10). Os recursos são claramente utilizados afim de construir uma cena dramática mesmo com um grande alongamento dos acontecimentos, extraindo o máximo de duração de cada evento. A luz é quase que natural quando está se dando a construção da cena e não há grandes infor- mações nem grandes demandas de atenção do especta- dor (FIG 04). Conforme o suspense avança, o uso de luz se amplia, ficando bastante aritificial conforme os shots se tornam mais aproximados, para ampliar o drama, acentu- ando o aspecto low key, (FIG 02) mas sem perder profundi- dade no ambiente, adcionando contorno aos personagens em primeiro plano, uma vez que o foco é longo e pode-se ver tudo o que acontece no ambiente, o que apesar de adcionar profundidade, pode igualar em importância os personagens, que se se fora do primeiro plano tornam-se todos iguais, indicando que participaram desta cena apenas colocados para densifica-la (FIG 10). Esse efeito é devidamente compensado pelos recursos de luz quando desejado, adcionando key light para uma luz low key nos personagens focais (Jules e Bret) (FIG 10). Nesta cena não houve shots panning, shots de inclinação ou shot crane. O movimento da câmera foi constante em todos os momentos da cena porque raramente algum ator caminha pelo apartamento. A única vez que o movimento da câmera foi rastreado foi quando Jules pegou hambúr- guer de Bret para dar uma mordida depois que ele lhe pediu e também quando ele pegou bebida Bret para terminá-lo fora (FIG 06). O ângulo do shot picado também se intensifica conforme aproxima-se o clímax. Em resumo, os efeitos vão ficando menos sutis conforme a cena avança, os ângulos ficam mais acentuados, os shots mais aproximados, bem como a luz artificial low key. Finalmente, aos 00:20:59 temos os tiros. Luz artificial com colorida em vermelho dramatiza o clímax, que inclui um shot onde os atiradores são enquadrados numa persectiva que demonstra confiança, com leve contra-picada a indicar superioridade, deixando o espectador certo de que o tiro foi certeiro, sem necessi- dade de mostrar os resultados da violência (FIG 11). ...desprendimento que se liberta da narrativa para uma nova abordagem do cinema. ANÁLISE GERAL ANÁLISE DE CENA Destaca-se no filme as cenas muito alongadas em que na maior parte do tempo não acontece nada relevante para o enredo, os diálogos não adcionam informação e mesmo os recursos sintáticos são bastante sutis, pouco perceptíveis para leigos. O cenário também é vulgar e pouco exuberan- te, somente com o necessário para a ambiência das cenas. O uso de recursos de filmagem começa a ficar mais elab- orado e perceptível conforme a cena se encaminha para o clímax, ampliando a tensão e a dramaticidade a cada momento. A cena escolhida para esta análise foi aquela em que os personagens Vincent Vega e Jules se encaminham para recuperar a maleta roubada no quarto de hotel, vingando seu chefe dos sócios que o roubaram. A cena começa efetivamente aos 00:10:20 do filme. A câmera está posicionada em contra picada e aliada ao key light e enquadramento, estabelece-se uma hierarquia na qual percebe-se a postura dominante do personagem Jules (FIG 01). Em geral usa-se angulos bem abertos, com pouca profundidade de campo. Após esse momento de apresentação, a luz passa a ser aparentemente natural e sem destaque definido, com muita relfexão (FIG 04 e 05). O primeiro momento em que se nota a presença de luz artifi- cial é já no elevador, pois o mesmo está fechado e apresen- ta uma luz intensa direcionada ao personagem Jules, luz esta que não aparece em intensidade semelhante quando abre-se a porta para o corredor. A filmagem incorpora movimentos de câmera tremida, que aliada a posição de câmera no mesmo nível que os personagens, bem como alguns shots sobre o ombro dos personagens dão a ideia de que agora o espectador está os acompanhando de perto. O suspense aumenta a medida que os shots vão se tornando mais próximos e a luz passa a contar com reforço artificial para reforçar o efeito low key e adicionar dramatici- dade e tensão (FIG 05). Essa primeira parte da cena termi- na aos 00.13.40, com a entrada no apartamento. Marcos Tadeu Pretto Rafaela Regina de Souza A entrada no apartamento do hotel apresenta, além dos personagens Vic e Jules, três jovens tomam café da manhã com hambúrgueres e refrigerante, com as cortinas meio fechadas. Um deles, sentado em posição central ao enquadramento, parece ser o líder, e é a ele quem Jules confronta sobre o roubo (FIG 07).

Narrativas Cinemáticas no Espaço Arquitetônico e Urbanístico

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Análise dos Elementos Sintáticos da Linguagem Cinematográfica

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Page 1: Narrativas Cinemáticas no Espaço Arquitetônico e Urbanístico

00.20.59

Pulp Fiction é um filme emblemático dos anos 90 e da filmografia do cineasta Quentin Tarantino, que tornou-se referencial pois trouxe ao grande público narrativas não lineares mostrando violência e vulgaridade, histórias que já foram vistas, mas renovadas por uma linguaguagem e por um desprendimento que se liberta da narrativa para uma nova abordagem do cinema.

Ao entrar nesta sala, a luz se torna mais intensa, com indícios de que não seja natural, pois a fonte principal de luz, que seriam as janelas do apartamento, estão com as cortinas fechadas e a luz é demasiado branca para ser uma luz interna residencial. Além disso, é utilizado nova-mente o recurso da key light para enfatizar o low key e as expressões dos personagens principais para esta ação: Jules e o jovem sentado. A cena mistura long shots com foco longo, para adcionar profundidade e movimento enquanto o suspense é construído (FIG 10), shots médios e shots curtos para mostrar expressões e dar ao especta-dor o pormenor da ação no ponto desejado, depois de apresentar o entorno no long shot. Nos shots médios, iden-tifica-se picada e contra-picada para não deixar dúvidas sobre a hierarquia de dominação dos personagens (FIG 09 e 10). É interessante notar o uso de key light artificial nos long shots com foco longo, ampliando a dramaticidade e destacando os contornos dos personagens para que nao se perca a hierarquia de importância dos presentes nem a profundidade conseguida com uso de lentes wide angle para ampliar efeito dramático (FIG 10).Os recursos são claramente utilizados afim de construir uma cena dramática mesmo com um grande alongamento dos acontecimentos, extraindo o máximo de duração de cada evento. A luz é quase que natural quando está se dando a construção da cena e não há grandes infor-mações nem grandes demandas de atenção do especta-dor (FIG 04). Conforme o suspense avança, o uso de luz se amplia, ficando bastante aritificial conforme os shots se tornam mais aproximados, para ampliar o drama, acentu-ando o aspecto low key, (FIG 02) mas sem perder profundi-dade no ambiente, adcionando contorno aos personagens em primeiro plano, uma vez que o foco é longo e pode-se ver tudo o que acontece no ambiente, o que apesar de adcionar profundidade, pode igualar em importância os personagens, que se se fora do primeiro plano tornam-se todos iguais, indicando que participaram desta cena apenas colocados para densifica-la (FIG 10). Esse efeito é devidamente compensado pelos recursos de luz quando desejado, adcionando key light para uma luz low key nos personagens focais (Jules e Bret) (FIG 10).Nesta cena não houve shots panning, shots de inclinação ou shot crane. O movimento da câmera foi constante em todos os momentos da cena porque raramente algum ator caminha pelo apartamento. A única vez que o movimento da câmera foi rastreado foi quando Jules pegou hambúr-guer de Bret para dar uma mordida depois que ele lhe pediu e também quando ele pegou bebida Bret para terminá-lo fora (FIG 06). O ângulo do shot picado também se intensifica conforme aproxima-se o clímax. Em resumo, os efeitos vão ficando menos sutis conforme a cena avança, os ângulos ficam mais acentuados, os shots mais aproximados, bem como a luz artificial low key. Finalmente, aos 00:20:59 temos os tiros. Luz artificial com colorida em vermelho dramatiza o clímax, que inclui um shot onde os atiradores são enquadrados numa persectiva que demonstra confiança, com leve contra-picada a indicar superioridade, deixando o espectador certo de que o tiro foi certeiro, sem necessi-dade de mostrar os resultados da violência (FIG 11).

...desprendimento que se liberta da

narrativa para uma

nova abordagem do cinema.

ANÁLISE GERAL

ANÁLISE DE CENA

Destaca-se no filme as cenas muito alongadas em que na maior parte do tempo não acontece nada relevante para o enredo, os diálogos não adcionam informação e mesmo os recursos sintáticos são bastante sutis, pouco perceptíveis para leigos. O cenário também é vulgar e pouco exuberan-te, somente com o necessário para a ambiência das cenas. O uso de recursos de filmagem começa a ficar mais elab-orado e perceptível conforme a cena se encaminha para o clímax, ampliando a tensão e a dramaticidade a cada momento.

A cena escolhida para esta análise foi aquela em que os personagens Vincent Vega e Jules se encaminham para recuperar a maleta roubada no quarto de hotel, vingando seu chefe dos sócios que o roubaram.

A cena começa efetivamente aos 00:10:20 do filme. A câmera está posicionada em contra picada e aliada ao key light e enquadramento, estabelece-se uma hierarquia na qual percebe-se a postura dominante do personagem Jules (FIG 01). Em geral usa-se angulos bem abertos, com pouca profundidade de campo. Após esse momento de apresentação, a luz passa a ser aparentemente natural e sem destaque definido, com muita relfexão (FIG 04 e 05). O primeiro momento em que se nota a presença de luz artifi-cial é já no elevador, pois o mesmo está fechado e apresen-ta uma luz intensa direcionada ao personagem Jules, luz esta que não aparece em intensidade semelhante quando abre-se a porta para o corredor. A filmagem incorpora movimentos de câmera tremida, que aliada a posição de câmera no mesmo nível que os personagens, bem como alguns shots sobre o ombro dos personagens dão a ideia de que agora o espectador está os acompanhando de perto. O suspense aumenta a medida que os shots vão se tornando mais próximos e a luz passa a contar com reforço artificial para reforçar o efeito low key e adicionar dramatici-dade e tensão (FIG 05). Essa primeira parte da cena termi-na aos 00.13.40, com a entrada no apartamento.

Marcos Tadeu PrettoRafaela Regina de Souza

A entrada no apartamento do hotel apresenta, além dos personagens Vic e Jules, três jovens tomam café da manhã com hambúrgueres e refrigerante, com as cortinas meio fechadas. Um deles, sentado em posição central ao enquadramento, parece ser o líder, e é a ele quem Jules confronta sobre o roubo (FIG 07).

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