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O uso do solo Nathieli K. Takemori Silva Sandro Menezes Silva D esde que o homem começou a praticar a agricultura, há cerca de 10 mil anos atrás, vem provocando alterações no solo dos locais por onde passa. Essas alterações têm sido tanto mais severas quanto têm avançado as tec- nologias voltadas ao aumento da produção agrícola. Mas esse não é o único uso que o homem faz do solo. O solo tem sido utilizado também para erguer cidades e explorar minérios, e invariavelmente estas atividades estão associadas a algum tipo de degradação, sendo as conseqüências mais comuns a erosão, a contamina- ção de aqüíferos e o assoreamento dos rios, canais e lagos. Em geral, a retirada da vegetação nativa, seja ela uma floresta ou um campo, é o primeiro passo para a utilização do solo com fins produtivos. A desestruturação da camada fértil do solo, o uso de substâncias químicas diversas, a utilização de terras inadequadas para atividades agrícolas, a impermeabilização dos solos das cidades, a ocupação urbana de áreas impróprias, a abertura de estradas e escavações para a extração de minérios são algumas das causas mais comuns da degradação do solo, tanto nos ambientes urbanos como no meio rural. O solo é um conjunto de corpos naturais tridimensionais resultantes da ação integrada do clima e dos organismos sobre o material de origem. É condicionado pelo relevo em diferentes períodos de tempo e apresentando, então, características que constituem a expressão dos processos e dos mecanismos dominantes na sua formação. É composto por uma parte orgânica e uma mineral. A parte orgânica é representada por restos animais e vegetais em decomposição e a parte mineral vem do intemperismo 1 das rochas e compõe-se, por exemplo, de quartzo 2 , cauli- nita 3 , montmorilonita 4 e óxido de ferro 5 , entre outros, dependendo da composição da rocha matriz. O solo apresenta três fases: sólida, líquida e gasosa. As fases líquida e gaso- sa preenchem os espaços entre os corpos tridimensionais da fase sólida. O ar que compõe a fase gasosa é composto por gases atmosféricos e gases provenientes das reações que ocorrem no sistema água-solo-planta. Na fase líquida, a retenção da água está relacionada ao tipo de solo, mais especificamente a suas características físicas e químicas. No processo de formação do solo, conhecido como pedogênese, a produção e deposição dos diferentes materiais formadores gera a diferenciação de camadas mais ou menos paralelas à superfície, denominadas na literatura especializada de horizontes . O conjunto organizado de horizontes de um solo constitui o que se chama de perfil do solo, unidade fundamental na classificação dos solos. O dia- grama ilustra um perfil esquemático de solo, com seus diferentes horizontes. 1 Conjunto de processos que ocasionam a desin- tegração e a decomposição dos minerais em geral, pela ação de agentes atmosféricos e biológicos. É sinônimo de meteorização. 2 Cristal de brilho vítreo gerado por processos metamórficos, magmáticos, diegenéticos e hidrotermais. Tem sido utilizado na fabrica- ção de vidros, esmaltes, sapo- náceos, abrasivos, lixas entre outros materiais diversos. 3 Mineral do grupo das argilas, encontrada em rochas metamórficas e ígne- as, produzida pela decompo- sição do feldspato. Também ocorre em rochas sedimen- tares e pode ser produzida por reações do material de origem com fontes hidroter- mais, formada principalmen- te sob condições tropicais. Constitui matéria prima bá- sica na indústria de cerâmica e porcelanas, além de vários outros usos industriais. (MA- CHADO, MOREIRA, ZA- NARDO et al., 2005). 4 Trata-se de um silicato de alumínio, cálcio e mag- nésio hidratado, associados a minerais presentes na argila, resultante da intemperização de rochas ígneas efusivas, metamórficas e sedimentares em ambientes mal drenados. (MACHADO, MOREIRA, ZANARDO et al., 2005). 5 Forma química em que o ferro comumente ocorre nos diferentes tipos de solo, podendo apresentar diferen- tes combinações e graus de hidratação. É um dos respon- sáveis pelas diferentes colora- ções dos horizontes do solo. (MACHADO, MOREIRA, ZANARDO et al., 2005).

Nathieli K. Takemori Silva Sandro Menezes Silva · Em geral, a retirada da vegetação nativa, seja ela uma floresta ou um campo, é o primeiro passo para ... nos ambientes urbanos

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O uso do soloNathieli K. Takemori Silva

Sandro Menezes Silva

D esde que o homem começou a praticar a agricultura, há cerca de 10 mil anos atrás, vem provocando alterações no solo dos locais por onde passa. Essas alterações têm sido tanto mais severas quanto têm avançado as tec-

nologias voltadas ao aumento da produção agrícola. Mas esse não é o único uso que o homem faz do solo. O solo tem sido utilizado também para erguer cidades e explorar minérios, e invariavelmente estas atividades estão associadas a algum tipo de degradação, sendo as conseqüências mais comuns a erosão, a contamina-ção de aqüíferos e o assoreamento dos rios, canais e lagos. Em geral, a retirada da vegetação nativa, seja ela uma floresta ou um campo, é o primeiro passo para a utilização do solo com fins produtivos. A desestruturação da camada fértil do solo, o uso de substâncias químicas diversas, a utilização de terras inadequadas para atividades agrícolas, a impermeabilização dos solos das cidades, a ocupação urbana de áreas impróprias, a abertura de estradas e escavações para a extração de minérios são algumas das causas mais comuns da degradação do solo, tanto nos ambientes urbanos como no meio rural.

O solo é um conjunto de corpos naturais tridimensionais resultantes da ação integrada do clima e dos organismos sobre o material de origem. É condicionado pelo relevo em diferentes períodos de tempo e apresentando, então, características que constituem a expressão dos processos e dos mecanismos dominantes na sua formação. É composto por uma parte orgânica e uma mineral. A parte orgânica é representada por restos animais e vegetais em decomposição e a parte mineral vem do intemperismo1 das rochas e compõe-se, por exemplo, de quartzo2, cauli-nita3, montmorilonita4 e óxido de ferro5, entre outros, dependendo da composição da rocha matriz.

O solo apresenta três fases: sólida, líquida e gasosa. As fases líquida e gaso-sa preenchem os espaços entre os corpos tridimensionais da fase sólida. O ar que compõe a fase gasosa é composto por gases atmosféricos e gases provenientes das reações que ocorrem no sistema água-solo-planta. Na fase líquida, a retenção da água está relacionada ao tipo de solo, mais especificamente a suas características físicas e químicas.

No processo de formação do solo, conhecido como pedogênese, a produção e deposição dos diferentes materiais formadores gera a diferenciação de camadas mais ou menos paralelas à superfície, denominadas na literatura especializada de horizontes. O conjunto organizado de horizontes de um solo constitui o que se chama de perfil do solo, unidade fundamental na classificação dos solos. O dia-grama ilustra um perfil esquemático de solo, com seus diferentes horizontes.

1 Conjunto de processos que ocasionam a desin-

tegração e a decomposição dos minerais em geral, pela ação de agentes atmosféricos e biológicos. É sinônimo de meteorização.

2 Cristal de brilho vítreo gerado por processos

metamórficos, magmáticos, diegenéticos e hidrotermais. Tem sido utilizado na fabrica-ção de vidros, esmaltes, sapo-náceos, abrasivos, lixas entre outros materiais diversos.

3 Mineral do grupo das argilas, encontrada em

rochas metamórficas e ígne-as, produzida pela decompo-sição do feldspato. Também ocorre em rochas sedimen-tares e pode ser produzida por reações do material de origem com fontes hidroter-mais, formada principalmen-te sob condições tropicais. Constitui matéria prima bá-sica na indústria de cerâmica e porcelanas, além de vários outros usos industriais. (MA-CHADO, MOREIRA, ZA-NARDO et al., 2005).

4 Trata-se de um silicato de alumínio, cálcio e mag-

nésio hidratado, associados a minerais presentes na argila, resultante da intemperização de rochas ígneas efusivas, metamórficas e sedimentares em ambientes mal drenados. (MACHADO, MOREIRA, ZANARDO et al., 2005).

5 Forma química em que o ferro comumente ocorre

nos diferentes tipos de solo, podendo apresentar diferen-tes combinações e graus de hidratação. É um dos respon-sáveis pelas diferentes colora-ções dos horizontes do solo. (MACHADO, MOREIRA, ZANARDO et al., 2005).

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Floresta de coníferas

Floresta caducifólia

Campo

Horizonte A

Horizonte B

Horizonte C

Rocha matriz(a) (b) (c)

IESD

E B

rasi

l S.A

.

Figura 1 – Perfil esquemático de três tipos de solo: (a) solo sob floresta de coníferas (Coniferous forest), na qual o folhedo decompõe-se lentamente resultando em um horizonte superficial ácido e com pouca matéria orgânica humificada; (b) solo sob floresta caducifólia (Deciduous forest), na qual o folhedo decompõe-se mais rapidamente e forma um solo mais fértil, com mais matéria orgânica; (c) solo sob campo (grassland) onde há uma camada orgânica bastante espessa, resultante da morte anual das partes aéreas da plantas e conseqüente acúmulo sobre o solo.

O horizonte A contém grande quantidade de material orgânico, tanto vivo como morto, tais como folhas mortas e em decomposição e outras partes de plan-tas, insetos e outros pequenos artrópodos, minhocas, organismos unicelulares, nematóides e fungos.

O horizonte B é a região de deposição, ou seja, onde os óxidos de ferro, as partículas de argila e a matéria orgânica trazidas do horizonte A pela água da chuva se deposita. O horizonte B contém menos material orgânico e é menos in-temperizado que o horizonte A.

O horizonte C é composto por rochas intemperizadas e minerais a partir dos quais o verdadeiro solo dos horizontes superiores é formado. Está em contato di-reto com a rocha matriz, ou seja, aquela que dá origem à fração mineral do solo.

Os solos não são iguais em todas as partes do planeta. Podem variar, inclu-sive, em uma escala muito pequena, às vezes dentro de uma mesma fazenda, por exemplo. Sua composição pode variar de acordo com o tipo de rocha matriz, além é claro de fatores como o clima da região, os organismos que vivem no local, o relevo e o tempo necessário para sua formação.

Tipos de solos Cambissolo – classe de solo com horizonte B incipiente, não hidromór-

fico, ou seja, sem efeito direto da ação da água, com uma seqüência inci-piente de horizontes.

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Latossolo – solo predominantemente formado em regiões tropicais úmi-das, sem horizontes subsuperficiais de acúmulo de argila, caracterizado por apresentar baixa relação molecular entre a sílica e os sesquióxidos, formas estáveis de ligação do ferro com o oxigênio na fração argila, além de uma baixa capacidade de troca catiônica, isto é, a capacidade de reter os elementos necessários às plantas, e baixo teor de minerais primários facilmente intemperizáveis. É normalmente muito espesso.

Litossolo – solo pouco espesso que apresenta pequena camada enrique-cida em matéria orgânica (horizonte A) diretamente assentada sobre a rocha matriz. Comumente está associado a afloramentos de rocha em locais com relevo acidentado.

Podzol – classe de solos geralmente formadas em climas temperados úmidos, sob vegetação de coníferas e caracterizadas particularmente por apresentar um horizonte claro eluvial, ou seja, de perda de minerais e matéria orgânica para as camadas inferiores do solo, sobre horizonte espódico, isto é, rico em óxidos de ferro e alumínio e pobre em argilas. No Brasil, a maior parte desses solos está associada a materiais arenosos de origem marinha com lençol freático elevado.

O conhecimento e a organização das qualidades e características dos solos que podem ser identificados em levantamentos de campo, são essenciais para o fornecimento das bases necessárias para as seguintes atividades:

referência para o estabelecimento de políticas e estratégias de desenvol-vimento sustentável com conservação ambiental;

estabelecer políticas e estratégias de educação ambiental, ordenamento e de utilização de áreas de forma economicamente viáveis, socialmente justas e ecologicamente adequadas;

modelar o desenvolvimento agrícola sustentável e melhorar a qualidade de vida para as gerações atuais e futuras;

planejar e implementar o desenvolvimento de sistemas integrados de produção e selecionar áreas para exploração agrícola, pastoril e florestal intensivas nas propriedades rurais;

identificar e avaliar os impactos ambientais provocados pela ação do homem;

estudar áreas para localização e orientação de obras de infra-estrutura, como rodovias e ferrovias, além do desenvolvimento urbano, rural e in-dustrial;

selecionar áreas para turismo, recreação, parques, camping, aterro sani-tário, cemitérios e proteção da flora e da fauna;

selecionar áreas para programas de conservação, agrovilas, estações ex-perimentais, irrigação e drenagem;

selecionar áreas para loteamentos e infra-estrutura de saneamento básico;

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planejar, elaborar programas e identificar problemas na implantação de práticas de manejo e conservação do solo e da água;

estabelecer e implementar pólos irradiadores para difusão e transferência de tecnologias sustentáveis;

zoneamentos agroambientais, avaliação da aptidão agrícola das terras, diversificação agrícola e recuperação de áreas degradadas;

estudos de avaliação da fertilidade natural, impedimentos à mecaniza-ção, tráfego de máquinas pesadas, suscetibilidade à erosão, profundidade do solo e do lençol freático.

Os solos como “organismos vivos”A fertilidade de um determinado tipo de solo é conseqüência de uma série

de fatores relacionados à sua origem e processo de formação. A cobertura vegetal, como um desses fatores, tem um papel fundamental na manutenção dos processos que mantém as interações no solo e, portanto, suas características podem refletir diferentes níveis de especificidade nos ciclos dos minerais. Boa parte da floresta amazônica ocorre sobre solos arenosos e pobres em nutrientes, formados basica-mente por sedimentos depositados pelos sistemas fluviais da região. O processo rápido de decomposição da matéria orgânica, associado a eficientes formas de ab-sorção dos nutrientes essenciais pelas plantas, garante a manutenção dos estoques de nutrientes necessários no processo de ciclagem dos minerais.

Há uma relação bastante estreita entre clima, solo e vegetação. Em geral, quanto mais densa a cobertura vegetal, mais protegido o solo está da ação do vento, das variações de temperatura e das chuvas, fatores responsáveis por alte-rações em sua estrutura. Os organismos que vivem no solo são fonte de matéria orgânica e contribuem na transformação deste material em substâncias húmicas, além de atuarem na decomposição das rochas. As raízes das plantas intensificam a decomposição da parte mineral e contribuem para manter os fragmentos no solo agregados, evitando assim a erosão. A fauna, seja ela visível ou não a olho nu, atua na translocação do material mineral e na mistura de materiais orgânicos e inorgânicos do solo. As minhocas, por exemplo, contribuem para a aeração do solo, evitando sua compactação, além de produzirem material orgânico semelhan-te ao húmus de origem vegetal presente no solo.

Os ciclos biogeoquímicosOs nutrientes inorgânicos, como o nitrogênio, o fósforo e o cálcio, são es-

senciais para o crescimento e para o metabolismo dos seres vivos. Esses nutrientes são incorporados de diferentes formas e mais tarde retornam para o ambiente, geralmente quando o indivíduo morre e entra em decomposição. Isso também acontece com o carbono, por exemplo, presente na atmosfera como dióxido (CO2) ou monóxido de carbono (CO). O dióxido de carbono é a fonte de carbono para as plantas, passando a compor moléculas de carboidratos através do processo de

O uso do solo

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fotossíntese, e quando a planta morre, esses carboidratos são decompostos e o dióxido de carbono volta à atmosfera.

Outros nutrientes que servem como exemplo são o potássio (K+), responsá-vel principalmente pelo balanço iônico das células, o cálcio (Ca2+), componente da parede das células vegetais e dos ossos nos vertebrados, o fósforo, presente nos ácidos nucléicos e no ATP, molécula de importância vital para os seres vivos, pois libera a energia durante a respiração celular, além do nitrogênio, ocorrente em diversas moléculas, como aminoácidos, proteínas, nucleotídeos, ácidos nucléicos, clorofilas e coenzimas.

O nitrogênio gasoso (N2), ao contrário do oxigênio (O2) e do gás carbônico (CO2), não é absorvido pelos seres vivos. Em uma cadeia alimentar, os produtores, ou seja, os seres vivos que fazem fotossíntese, absorvem o nitrogênio do ambiente e fixam este elemento em substâncias como as proteínas e os nucleotídeos. Dessa forma, colocam o nitrogênio à disposição na cadeia alimentar. Entretanto, para que as plantas consigam assimilar esse nitrogênio, é necessário que ele esteja na forma de NO3- (nitrato) ou NH4

+ (amônia). Na natureza existem bactérias que são capazes de fazer a transformação do nitrogênio gasoso em formas assimiláveis pelas plantas. Elas são chamadas de bactérias fixadoras de nitrogênio e estão pre-sentes no solo, na água e em simbiose com outros organismos. A simbiose pode ocorrer entre uma bactéria e uma planta ou uma bactéria e um fungo. Pesquisas já mostraram que algumas espécies de fungos também são fixadoras de nitrogênio, vivendo em simbiose com plantas.

Alguns exemplos de fixadores de nitrogênio conhecidos são Rhizobium – bactérias que vivem em simbiose com plantas leguminosas, formando nódulos em suas raízes; Anabaena – cianobactéria que vive simbioticamente nos poros das folhas de uma pequena pteridófita aquática flutuante (Azolla sp.); actinomicetos – grupo de fungos que vivem associados às raízes de plantas como Araucaria, Ginkgo e Casuarina. Como exemplo de bactérias de vida livre, pode-se citar Azo-tobacter, Clostridium e as cianobactérias Nostoc e Anabaena.

Cerca de 80% de todo o nitrogênio assimilado pela biota global são reci-clados a partir do estrato terrestre e aquático e apenas 20% vem da fixação do nitrogênio atmosférico. Uma porção muito pequena dos fertilizantes aplicados às terras é reciclada. A maior parte é perdida na retirada da colheita, na lixiviação ou escoamento e na desnitrificação6.

A degradação do solo e a qualidade de vida

A ocupação dos solos pelas cidades, a completa desestruturação do solo e seu isolamento provocam o que se chama de impermeabili-zação urbana. Normalmente, a água que cai sobre o solo é drenada para um aqüífero, rio ou lago. Nos solos urbanos, o asfalto, as calçadas e as construções atuam como barreiras, não deixando que a água seja

6 Processo pelo qual bac-térias reduzem o nitrato

a gás nitrogênio e óxido de nitrogênio, que voltam para a atmosfera.

A ocupação urbana e as atividades agríco-las são as principais causas da degrada-ção dos solos.

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drenada para o solo e deste para a alimentação da bacia hidrográfica. Para permitir que haja esta drenagem, são construídas tubulações e galerias pluviais que levam a água até um ponto de escoamento para algum rio. Freqüentemente ocorre o acú-mulo de lixo e sedimentos nessas tubulações, tendo como resultado uma diminui-ção da capacidade de drenagem do sistema, provocando as enchentes nos períodos mais chuvosos.

Os deslizamentos de encostas em regiões montanhosas é outro problema urbano decorrente do uso inadequado do solo. Os deslizamentos de terra podem ocorrer naturalmente e são importantes modelando a paisagem da superfície ter-restre. Porém, com a interferência humana, principalmente com a ocupação desor-denada de áreas de risco, os deslizamentos ocorrem e causam grandes prejuízos.

Em 1993, segundo dados da Defesa Civil da ONU, os deslizamentos de terra causaram 2.517 mortes no mundo, ficando em terceiro lugar entre os desastres naturais que mais afetam a humanidade. Nas grandes cidades brasileiras têm sido um problema freqüente, sendo suas principais causas os cortes de encostas para implantação de moradias e estradas, a remoção da vegetação nas encostas mais íngremes, atividades de mineração, disposição final inadequada do lixo e dos es-gotos domésticos.

Nas áreas rurais, os principais fatores de degradação do solo são a erosão e a contaminação química com adubos e defensivos agrícolas.

A erosão é provocada basicamente pela falta de proteção do solo, combi-nada à ação das chuvas, ventos e temperatura. Alguns solos são mais frágeis e suscetíveis à erosão do que outros, e são mais rapidamente degradados pela ação do tempo. Quando a cobertura vegetal é retirada, a umidade do solo diminui e conseqüentemente sua fauna e microfauna também diminuem. Com a perda de matéria orgânica, responsável em grande parte pela agregação do solo, este fica menos agregado facilitando a remoção dos grãos pela ação do vento e da chuva. Menos estável e compactado, o solo perde a porosidade e tem menor taxa de infil-tração da água, aumentando o escoamento superficial e diminuindo a resistência ao impacto das gotas de chuva.

ErosãoAs matas ciliares, isto é, as florestas que acompanham o curso dos rios,

protegem os solos contra o fluxo superficial de sedimentos e evita que parte do solo erodido seja levado para dentro dos rios. Esta proteção contribui para evitar o assoreamento dos rios, evidenciado pela diminuição da profundidade do rio e conseqüente aumento de sua largura.

Outra conseqüência possível da supressão da cobertura vegetal é a desertifi-cação, entendida como a diminuição drástica do potencial biológico da terra pela perda de água, levando a condições ambientais semelhantes a desertos. No Brasil, até os anos 1970, as observações de desertificação restringiam-se ao semi-árido nordestino. Porém, hoje sabe-se que existem outros núcleos de desertificação em vários locais do território brasileiro, como por exemplo no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul.

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A desestruturação e o empobrecimento do solo em um ecossistema inicia-se com a remoção da cobertura vegetal. Os solos sob cultivo intensivo são aqueles que freqüentemente mostram um declínio mais notável na quantidade de mine-rais, principalmente nitrogênio, nutriente que também é perdido quando a camada orgânica superficial do solo é levada pela erosão ou destruída pelo fogo.

A conservação dos solos e a produção de alimentos

O aumento da produção agrícola de alimentos em diversas regiões do mun-do teve como conseqüência um uso intensivo do solo, com conseqüente perda de fertilidade e necessidade de utilização de substâncias químicas, como adubos e defensivos. De uma forma genérica, as substâncias químicas que são empregadas na agricultura recebem o nome de agrotóxicos, palavra que em geral traz uma conotação negativa em relação às ameaças à saúde do agricultor.

Os agrotóxicos são substâncias químicas – herbicidas, pesticidas, hormô-nios e adubos químicos – utilizadas em produtos agrícolas e nas pastagens de gado; têm a finalidade de proteger os cultivos contra a ação de outros seres vivos. Existem cerca de 15 mil formulações para 400 tipos diferentes de agrotóxicos. No Brasil, cerca de 8.000 formulações estão licenciadas.

Além da degradação ambiental provocada pela introdução de substâncias totalmente estranhas nas cadeias alimentares, os agrotóxicos provocam diversos problemas de saúde, sendo o mais comum a intoxicação. Esta pode ser de três tipos: aguda, subaguda e crônica. A intoxicação aguda tem sintomas imediatos; a intoxicação subaguda tem efeitos que aparecem aos poucos como dor de cabeça e sonolência; e a intoxicação crônica é aquela que tem os efeitos a longo prazo, podendo levar a pessoa à paralisia ou a algum tipo de câncer. Segundo a Organi-zação Mundial de Saúde, há 20 mil óbitos/ano em conseqüência da manipulação, inalação e consumo indireto de agrotóxicos nos países em desenvolvimento como o Brasil.

Estatísticas apontam que o uso de fertilizantes nitrogenados nos Estados Unidos aumentou 12 vezes entre 1950 e 1980, embora a produtividade não tenha aumentado mais que duas vezes no mesmo período, indicando que grande parte do fertilizante usado foi jogado fora. Entre os anos de 1964 e 1979, o uso de agro-tóxicos no Brasil aumentou 420%, mas a produção não chegou a aumentar 5% no mesmo período. Atualmente, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotó-xicos. Mesmo com a legislação nacional proibindo o uso de muitas substâncias químicas na agricultura, alguns agricultores continuam utilizando e conseguem comprar mercadoria contrabandeada. Dessa forma colocam em risco a própria vida, a vida de outros milhões de brasileiros que irão se alimentar destes produtos e a vida das demais espécies que fazem parte dos diferentes ecossistemas.

Os pesticidas inorgânicos foram muito utilizados no passado, porém, atual-mente não representam mais do que 10% do total em uso. São produtos à base de

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arsênico e flúor e que agem por contato, matando a praga por asfixia. Os pesticidas orgânicos podem ser de origem vegetal ou sintéticos. Os de origem vegetal são de baixa toxicidade e de curta permanência no ambiente, sendo utilizados em algu-mas práticas agroecológicas, como o piretro, extraído do crisântemo, e a rotenona, extraída do timbó. Os pesticidas orgânicos sintéticos (organo-sintéticos) persistem por muitos anos nos ecossistemas, contaminando-os e trazendo uma série de pro-blemas de saúde para os seres humanos.

O DDT (diclorodifeniltricloretano) foi preparado pela primeira vez em 1874 por Othomar Zeidler? Sua utilização como inseticida, porém, só acon-teceu depois de muito tempo, durante a Segunda Guerra Mundial por causa dos mosquitos que transmitiam doenças e matavam os soldados. Paul Müller descobriu o efeito inseticida do DDT e recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1948, pois com o uso do inseticida, muitas vidas foram salvas.

Os principais grupos de pesticidas organo-sintéticos, conforme suas respec-tivas composições químicas são os que seguem.

Organoclorados – não causam morte imediata e permanecem por mais tempo no organismo ou no ambiente quando comparados aos outros gru-pos de agrotóxicos. Fazem parte deste grupo o DDT, Aldrin, Dieldrin, Endrin, heptacloro, clordano, toxafeno, Mirex e o BHC. Os efeitos dos organoclorados são mais sentidos pelas pessoas expostas continuamente a doses baixas, como os profissionais que produzem ou aplicam os pro-dutos. Os organoclorados atuam no sistema nervoso e possuem efeitos cancerígenos. Além disso, podem entrar na cadeia alimentar e intoxicar os seres vivos.

Organoclorofosforados – são altamente tóxicos e podem causar morte imediata por agir no sistema nervoso central.

Organofosforados – são altamente tóxicos, mas se degradam rapidamen-te e não se acumulam nos tecidos adiposos. Assim como os organocloro-fosforados, podem causar morte súbita, atuando no sistema nervoso. O herbicida Paraquat, que é um organofosforado, é comercializado no Bra-sil com o nome de Gramoxone. É um herbicida que mata todos os tipos de plantas. A substância causa lesões de rim e se concentra nos pulmões, causando fibrose irreversível.

Carbamatos – apresentam toxicidade média e são degradados rapida-mente, não se acumulando nos tecidos adiposos. Os carbamatos também atuam inibindo a transmissão dos impulsos nervosos cerebrais. Muitos desses produtos foram proibidos em diversos países em virtude de seu efeito altamente cancerígeno.

O uso do solo

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Os agrotóxicos chegaram ao Brasil em meados da década de 1960, junto com as monoculturas da soja, do trigo e do arroz. Era praticamente obrigatório o uso desses produtos para quem pretendesse usufruir o crédito rural. Atualmen-te, os agrotóxicos encontram-se disseminados na agricultura convencional, como uma solução de curto prazo para a infestação de pragas e doenças.

Na Guerra do Vietnã, entre 1954 e 1975, os agrotóxicos foram usados como armas de guerra, pois utilizou-se herbicidas desfolhantes – conhecidos como “agente laranja” –, utilizados pelos norte-americanos para remover a folhagem das árvores que os soldados vietnamitas usavam para se esconder e atacar. Os aviões aspergiam os herbicidas sobre as florestas, dificultando as tocaias armadas pelos vietnamitas. Esta operação militar trouxe conseqüências ambientais e de saúde graves para as populações que ficaram expostas ao agente laranja. O herbi-cida 2.4.5-T (“agente laranja”) é acompanhado da dioxina, que é o mais ativo com-posto causador de deformações em recém-nascidos que se conhece (teratogênico); permanece no solo e na água por mais de um ano.

Na União Européia só é possível comprar agrotóxicos fosforados após a realização de um curso de 60 horas, que habilita o usuário a receber uma carteira de autorização para utilização do agrotóxico no seu município. Segundo informa-ções divulgadas em vários meios de informação ambiental, a maioria dos fabri-cantes de agrotóxicos estão instalados em países do terceiro mundo, muitos deles inclusive mediante a concessão de incentivos para instalação.

No início do período de maior utilização dos agrotóxicos na agricultura, a primeira preocupação foi em relação aos casos de morte em um curto prazo de tempo após o contato com a substância química. Depois, essa preocupação passou a ser em relação aos efeitos a longo prazo que esses venenos têm sobre o corpo hu-mano. Hoje sabe-se que os diferentes tipos de venenos atuam em todas as partes das células, sendo a ação dependente da função da célula e da natureza química da substância. Em geral ocorrem alterações nas reações celulares, estimulando ou inibindo reações específicas.

Fim dos 12 poluentes orgânicos(NASS; FRANCISCO, 2002)

Durante uma reunião do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, Unep, ocorrida em maio de 2001 na capital sueca, Estocolmo, representan-tes de 90 países, incluindo o Brasil, assinaram a Convenção sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, que visa proibir a produção e o uso de 12 substâncias orgânicas tóxicas, atendendo a um apelo do diretor da Unep e da comunidade internacional.

Os 12 poluentes orgânicos persistentes (POPs), conhecidos também como a “dúzia suja” (dirty dozen, em inglês) são Aldrin, clordano, Mirex, Dieldrin, DDT, dioxinas7, furanos8, PCBs9, Endrin, heptacloro, BHC e toxafeno. Eles são acusados de causar doenças graves, em especial o câncer, e malformação

7 São provenientes da in-cineração do lixo, da

combustão da madeira, de decomposiçãod e produtos de origem vegetal e de trans-formações de herbicidas pro processos enzimáticos. Subs-tância bastante tóxica, sendo que apenas um miligrama de dioxina é suficiente para matar um macaco de 15 ki-logramas.

8 Produto da reação dos PCBs com o oxigênio at-

mosférico. Molécula pareci-da com a dioxina e tão tóxica quanto ela.

9 PCBs – bifenilas poli-cloradas (a sigla vem do

nome em inglês Polychlori-nated bipheniyls). Composto orgânico clorado de grande utilização na indústria por causa de suas propriedades, tais como: isolante térmico, pouco combustível e baixa evaporação. Acumula-se nos tecidos animais e dificilmen-te é eliminado.

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de humanos e animais de todo o mundo, muitas vezes sendo encontrados em locais distantes de qualquer fonte emissora, tornando-se portanto um proble-ma global. [...] A maioria dos 12 compostos da lista já foi banida ou teve seu uso reduzido em boa parte do mundo, reduzindo o impacto econômico da ratificação da convenção e facilitando sua entrada em vigor. O Brasil, por exemplo, não produz diretamente nenhum dos 12 compostos, mas importa três deles para uso industrial. Entretanto, as dioxinas e os furanos, por serem produzidos de forma não intencional, demorarão mais a ser eliminados.

O uso sustentável do soloAs atividades agrícolas são, por natureza, aquelas que mais provocam alte-

rações nas características do solo e, muitas vezes, a sua degradação. As formas tradicionais de produção, com base em monoculturas mantidas às custas de gran-de quantidade de insumos, têm impactos variados sobre o solo, e cada vez mais têm sido utilizadas técnicas de menor impacto e que visam sua conservação.

Na seqüência, são apresentadas as técnicas mais usuais no Brasil, com suas respectivas características e vantagens em relação à conservação do solo.

Rotação de culturas – a rotação de culturas consiste em alternar espécies vegetais anuais numa mesma área agrícola, de forma a conciliar produ-ção agrícola com conservação do solo. Dentre as principais vantagens da rotação de culturas estão uma produção mais diversificada, a melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo, um auxílio no controle de plantas daninhas, doenças e pragas, uma maior reposição de matéria orgânica, a proteção do solo contra a ação dos agentes climáticos e a facilitação no sistema de plantio direto, com vantagens para o produ-tor e principalmente para o ambiente como um todo.

A máxima eficiência no sistema de rotação de culturas é obtida quan-do é feito um planejamento associando espécies que produzem bastan-te biomassa e com rápido desenvolvimento, que podem ser cultivadas tanto isoladamente como em consórcio com as culturas comerciais. As espécies vegetais empregadas na rotação de cultura devem ser escolhidas tendo em vista a utilização comercial e a cobertura do solo, com a possi-bilidade ainda de envolver espécies úteis na “adubação verde”, que será abordada na seqüência. Deve ser dada preferência para plantas capazes de fixar nitrogênio, com sistema radicial profundo e abundante, contri-buindo assim para promover a ciclagem de nutrientes.

Plantas com sistemas radiciais, formas de crescimento e exigências nu-tricionais diferentes podem interromper ciclos de pragas e doenças, redu-zindo custos e aumentando o rendimento da cultura principal. Algumas opções freqüentemente usadas com esta finalidade são o milho, o sorgo, o milheto e o girassol.

Quando o objetivo é a recuperação de solos degradados, são indicadas espécies com grande quantidade de matéria verde e com abundante sis-

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tema radicial. O consórcio de espécies comerciais com leguminosas, por exemplo, milho e guandu, ou então a mistura de culturas que promovam a cobertura do solo e culturas com grande produção de biomassa.

Adubação verde – prática agrícola que incorpora ao solo massa vegetal não decomposta, de plantas cultivadas com a finalidade de enriquecer o solo com matéria orgânica e elementos minerais. Consiste basicamente no plantio de diversas espécies vegetais intercaladas ou concomitantes às culturas comerciais. Na adubação verde a agricultura procura imitar o que ocorre nas florestas naturais: diversificar os tipos de vegetação sobre o solo, diversificar os tipos de microrganismos no solo, adicionar matéria orgânica ao solo e interromper o ciclo de pragas e doenças, entre outros.

Um dos principais benefícios da adubação verde é a economia significa-tiva que o produtor faz com a fixação do nitrogênio do ar atmosférico. A mucuna-preta, uma das espécies usadas na adubação verde, chega a fixar 157 quilos de nitrogênio por hectare, enquanto a crotalária fixa até 155 quilos, o feijão de porco até 190 quilos e o guandu até 280 quilos.

A adubação verde propicia ainda uma maior ciclagem de nutrientes, um aumento de teores e melhoria na qualidade da matéria orgânica, um in-cremento na atividade biológica do solo, uma maior agregação do solo, melhor infiltração e armazenamento de água, redução da compactação e proteção contra a erosão.

Deve-se ter o cuidado de evitar que as espécies usadas na adubação ver-de cheguem até a fase de produção de sementes, evitando assim que elas se transformem em plantas invasoras ou contaminantes biológicos.

Controle biológico – o controle biológico consiste no uso de um orga-nismo que ataca outro organismo que esteja causando danos econômicos às lavouras. Este agente pode ser um predador, um parasita ou um pató-geno. Muitos países têm investido grandes quantidades de recursos na pesquisa de agentes que atuam no controle biológico das espécies mais freqüentemente cultivadas, esperando com isto diminuir a dependência de produtos químicos cujos direitos de uso são pagos às grandes corpo-rações multinacionais que atuam no setor.

Em Cuba, o desenvolvimento das técnicas de controle biológico iniciou em conseqüência do embargo aplicado pelos Estados Unidos, que impe-diu que o país comprasse agrotóxicos para o combate das pragas. Atual-mente esta técnica é utilizada em cerca de 56% da área agrícola do país, sendo referência em nível mundial no tema.

No Brasil, o uso do controle biológico não é uma prática muito comum entre os agricultores, embora haja vários avanços nesta área de pesquisa no país. Estes devem-se principalmente aos esforços de órgãos estadu-ais de pesquisa e extensão rural e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, que há muitos anos vem pesquisando agentes biológicos de controle de pragas. Um exemplo bem-sucedido é o contro-

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le da lagarta da soja (Anticarsia gemmatallis) por meio do Baculovirus anticarsia. Essa prática foi lançada em 1983, pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja, unidade da Embrapa localizada na cidade de Londrina (PR). Estima-se que o uso deste agente já proporcionou uma economia estimada em cem milhões de dólares em agrotóxicos ao país, e gran-des benefícios ambientais decorrentes da não-aplicação de mais de 11 milhões de litros de venenos no ambiente. O Quadro 1 mostra alguns exemplos de organismos que são empregados como agente de controle biológico no Brasil.

Quadro 1– Microorganismos utilizados no controle biológico de pragas

Agente Biológico Nome O que ele ataca Como se aplica

Fungo Metarhizium anisopliae

Cigarrinha folha da cana-de-açúcar

É pulverizado e, em contato com o corpo do inseto, causa doença.

Broca dos citrusÉ polvilhado nos buracos da planta contaminando a praga.

Fungo Beauveria bassiana

Besouro moleque-da-bananeira

É aplicado na forma de pasta em pedaços de bananeira que são colocados ao redor das árvores servindo de isca.

Fungo Insectonrum sporothrix

Percevejo mosca-de-renda

É pulverizado e, em contato com o corpo do inseto, causa doença.

Vírus Baculovírus anticarsia

Lagarta da sojaPulverizado sobre a planta, adoece a lagarta que se alimenta das folhas.

Vírus Baculovírus spodoptera

Lagarta do cartucho de milho

Pulverizado sobre a planta, adoece a lagarta que se alimenta da espiga em formação.

Vírus GranuloseMandorová da mandioca

Pulverizado sobre a mandioca é nocivo à praga.

Nematóide Deladendus siridicola

Vespa-da-madeiraEm forma de gelatina é injetado no tronco da árvore esterelizando a vespa.

Bactéria Bacillus thuringiensis

Lagartas desfolhadoras

Pulverizado sobre a planta é nocivo às lagartas.

Fonte: http://www.planetaorganico.com.br/controle.htm

Sistemas agroflorestais (SAF) – os sistemas agroflorestais podem também ser chamados de sistemas agrossilviculturais. Trata-se de uma prática de manejo em que as culturas comerciais são plantadas entre corredores de árvores e arbustos, podendo ainda ser associada à criação de animais junto à plantação de árvores. Dentre as várias vantagens dos SAF estão a recuperação da fertilidade do solo, maior controle das condições mi-croclimáticas da área, aumento da diversidade de culturas e o controle de ervas daninhas. As espécies cultivadas nos SAF podem servir para

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diferentes fins, como produção de madeira, de frutos e sementes, de for-ragem, de lenha, ou ainda funcionar como quebra-vento e cercas-vivas, no caso das árvores e dos arbustos. Esse sistema pode atender diferentes escalas de produção, desde a atividade de subsistência até a comercial.

Agricultura orgânica – sob essa denominação são incluídas várias práti-cas agrícolas de menor impacto sobre o ambiente, dentre as quais a con-servação do solo é um direcionador. Os métodos agroecológicos buscam aplicar o princípio da prevenção, fortalecendo o solo e as plantas pela pro-moção do equilíbrio em todo o ambiente de produção. Algumas práticas comuns na agroecologia são o controle agroecológico de insetos, fungos, ácaros, bactérias e viroses, o plantio em épocas corretas e com variedades adaptadas ao clima e ao solo da região, o uso da adubação orgânica e da rotação de culturas, o uso de cobertura morta e plantio direto, o plantio de variedades e espécies resistentes às pragas e doenças, a consorciação de culturas e manejo seletivo das espécies invasoras, a prevenção contra a erosão do solo, o uso de plantas que funcionem como “quebra ventos” e “faixas protetoras”, a nutrição equilibrada das plantas e a conservação dos remanescentes de vegetação nativa existentes na região.

Café com floresta muda a paisagem do Pontal Assentamentos vizinhos ao Morro do Diabo criam corredores de fauna plantando café orgânico com árvores nativas

(JOHN, 2003)

Campinas – Um saldo de apenas 1,85% da cobertura florestal original foi o resultado ambiental mais evidente de pelo menos cinco décadas de conflitos fundiários do Pontal do Paranapanema, no oeste de São Paulo. Extremamente fragmentados, estes remanescentes se espalham em fazendas e assentamen-tos, em torno do Parque Estadual Morro do Diabo, a única grande mancha de mata nativa preservada, com seus 37 mil hectares. Para reverter esta fragmen-tação – e as conseqüências desastrosas, que ela tem para a fauna – o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) iniciou um projeto de bosques “trampolim”, incentivando fazendeiros e assentados a plantar pelo menos um hectare de ár-vores nativas entre o parque e suas reservas particulares de floresta, nas trilhas usadas por alguns animais silvestres, na sua busca diária por alimento.

Há um ano, os bosques-“trampolim” ganharam uma nova versão, com a adição de mudas de café, cultivadas sem agrotóxicos, o que é possível graças à proteção natural oferecida pela sombra e diversidade das árvores nativas, com as quais o café divide o espaço. “Embora tenhamos conseguido implantar 70 hec-tares de bosques-trampolim, entre 1998 e 2000, em dois assentamentos vizinhos ao parque, ainda faltava um estímulo para aumentar a adesão dos agricultores à formação de bosques”, explica Laury Cullen Júnior, do Ipê, coordenador do

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projeto. “É difícil convencer um assentado, com um lote de 14 a 18 hectares, a destinar um hectare para árvores nativas, que não geram renda”.

Mas com o café com floresta é diferente. Já no segundo ano, o agricultor colhe uma safrinha e a produção plena inicia no quarto ano. O café é orgânico e do tipo arábica, com boa aceitação e preço diferenciado no mercado. “Au-mentou muito a adoção; as famílias de assentados têm vindo nos procurar e, em um ano, já constituímos 40 hectares de bosques”, comemora Cullen Jr. “A paisagem do Pontal está mudando e, além do valor ambiental, esta mudança tem valor social e cultural”. E, para a fauna, o que importa é que a mobilização do solo é mínima – pois o café é uma cultura permanente –, não se usam vene-nos – pois o cultivo é orgânico – e o caminho entre os remanescentes de mata natural estão mais protegidos, facilitando até o trânsito de animais menores.

O projeto é apoiado pela Ashoka Empreendedores Sociais, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Fundação Interamericana e Instituto Flo-restal de São Paulo, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Conta com cerca de 100 mil dólares para um prazo de quatro anos, recursos utilizados no estabelecimento de viveiros de mudas de nativas – de pelo menos 40 espécies diferentes – e compra das mudas orgânicas certificadas de café, além da assis-tência técnica e cursos de capacitação dos agricultores. Segundo Cullen Jr., o Ipê também está começando a desenvolver planos de negócios para a comer-cialização do café, visando aumentar ainda mais a adesão.

“A gente sempre sonhou com o verde e aproveitava os passeios no meio ambiente, junto com o pessoal do Ipê, para conhecer melhor. Agora, com o café, deu para plantar”, diz Antônia Pereira dos Santos, de 47 anos, do assen-tamento Ribeirão Bonito. Com 6 pessoas da família morando no lote e plan-tando “de tudo um pouco”, Antônia já espera colher a primeira safra de café em 2004 e admira o tamanho das mudas nativas. “Já tem árvore pra mais de metro, algumas até pra mais de dois metros”.

“Se você chega na minha casa, já é um bosque de mato”, afirma outro assentado de Ribeirão Bonito, José Santiago, de 52 anos. “Sempre gostei de prevenir com o meio ambiente: aqui a temperatura nesta época chega a 35, 40 graus, sem sombra. Nem os bichos agüentam, quanto mais o ser humano”. Além de dois bosques-trampolim, Santiago plantou nativas em volta da casa e numa pequena área destinada às crianças. E comemora a possibilidade de comer fru-tas sem veneno, graças à opção pelo cultivo orgânico, feita com a orientação técnica do Ipê. “Os bosques protegem contra as pragas e também contra a geada, já plantei tanto que daqui a pouco meu lote vai virar reserva”, brinca.

A necessidade de utilização do solo, cuja formação envolve processos com-plexos e milhares de anos de evolução, é um fato concreto nas civilizações atuais. O aumento da população, e conseqüentemente o aumento da necessidade de áreas para instalação de aglomerações urbanas e para plantio de alimentos, são inevitá-veis a curto e médio prazo. Frente a esse cenário, o grande desafio é fazer com que o desenvolvimento leve em consideração alguns princípios básicos de conserva-

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ção do solo, considerando que já existem informações disponíveis suficientes de experiências bem-sucedidas que não deixaram de utilizar este precioso patrimô-nio natural que é o solo, garantindo a manutenção da produção agropecuária com menor impacto sobre o ambiente.

A Primavera Silenciosa Rachel CarsonUm dos livros que marcaram o século XX

(SABIO, 2005)

Ao ser introduzido para uso no combate a pragas, o DDT — o mais poderoso pesticida que o mundo já conhecera — terminou por mostrar que a natureza é vulnerável à intervenção humana. A maior parte dos pesticidas é efetiva contra um ou outro tipo de insetos, mas o DDT era capaz de destruir de imediato centenas de espécies diferentes de insetos. O DDT, cujo inventor recebeu o Prêmio Nobel, tornou-se conhecido durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi usado pelas tropas americanas contra insetos causadores da malária. Ao mesmo tempo, na Europa, começou a ser usado sob a forma de pó, eficiente contra pulgas e outros pequenos insetos.

No livro Silent Spring (A Primavera Silenciosa), lançado em 1962, Rachel Carson mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano!), com o risco de causar câncer e dano genético.

A grande polêmica movida pelo instigante e provocativo livro é que não só ele expunha os perigos do DDT, mas questionava de forma eloqüente a confiança cega da humanidade no progres-so tecnológico. Dessa forma, o livro ajudou a abrir espaço para o movimento ambientalista que se seguiu. Juntamente com o biólogo René Dubos, Rachel Carson foi uma das pioneiras da conscien-tização de que os homens e os animais estão em interação constante com o meio em que vivem.

Quando o DDT se tornou disponível para uso também por civis, poucas pessoas desconfiavam do miraculoso produto, talvez apenas aquelas que eram ligadas a temas da natureza. Uma dessas pes-soas foi o escritor E. W. Teale, que advertia: “Um spray que atua de forma tão indiscriminada como o DDT, pode perturbar a economia da natureza tanto quanto uma revolução perturba a economia social. Noventa por cento dos insetos são benéficos e, se são eliminados, as coisas em pouco tempo fogem do controle”.

Outra dessas pessoas foi Rachel Carson, que propôs um artigo para o Reader’s Digest fa-lando sobre a série de testes que estavam sendo feitos com o DDT próximo a onde ela vivia, em Maryland. A idéia foi rejeitada.

Treze anos mais tarde, em 1958, a idéia de Rachel de escrever sobre os perigos do DDT, teve um novo alento, quando ela soube da grande mortandade de pássaros em Cape Cod, causa-da pelas pulverizações de DDT. Porém, seu uso tinha aumentado tanto desde 1945, que Rachel não conseguiu convencer nenhuma revista a publicar sua opinião sobre os efeitos adversos do DDT. Ainda que Rachel já fosse uma pesquisadora e escritora reconhecida, sua visão do assun-to soava como uma heresia.

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Então, ela decidiu abordar o assunto em um livro.

A Primavera Silenciosa levou quatro anos para ser terminado. Além da penetração do DDT na cadeia alimentar, e de seu acúmulo nos tecidos dos animais e do homem, Rachel mostrou que uma única aplicação de DDT em uma lavoura matava insetos durante semanas e meses e, não só atin-gia as pragas, mas um número incontável de outras espécies, permanecendo tóxico no ambiente mesmo com sua diluição pela chuva.

Rachel concluía que o DDT e outros pesticidas prejudicavam irremediavelmente os pássa-ros e outros animais, e deixavam contaminado todo o suprimento mundial de alimentos. O mais contundente capítulo do livro, intitulado “uma fábula para o amanhã”, descrevia uma cidade ame-ricana anônima na qual toda vida — desde os peixes, os pássaros, até as crianças — tinham sido silenciadas pelos efeitos insidiosos do DDT.

O livro causou alarme entre os leitores americanos. Como era de se esperar, provocou a in-dignação da indústria de pesticidas. Reações extremadas chegaram a questionar a integridade, e até a sanidade, de Rachel Carson.

Porém, além de ela estar cuidadosamente munida de evidências a seu favor, cientistas emi-nentes vieram em sua defesa e quando o Presidente John Kennedy ordenou ao comitê científico de seu governo que investigasse as questões levantadas pelo livro, os relatórios apresentados foram favoráveis ao livro e à autora. Como resultado, o governo passou a supervisionar o uso do DDT e este terminou sendo banido.

A visão sobre o uso de pesticidas foi ampliada e a conscientização do público e dos usuários começou a acontecer. Logo, já não se perguntava mais “será que os pesticidas podem ser realmen-te perigosos?”, mas sim “quais pesticidas são perigosos?”.

Então, em vez dos defensores da natureza terem de provar que os produtos eram prejudiciais, foram os fabricantes que passaram a ter a obrigação de provar que seus produtos são seguros.

A maior contribuição de A Primavera Silenciosa foi a conscientização pública de que a natu-reza é vulnerável à intervenção humana. Poucas pessoas até então se preocupavam com problemas de conservação, a maior parte pouco se importava se algumas ou muitas espécies estavam sendo extintas. Mas o alerta de Rachel Carson era assustador demais para ser ignorado: a contaminação de alimentos, os riscos de câncer, de alteração genética, a morte de espécies inteiras... Pela primeira vez, a necessidade de regulamentar a produção industrial de modo a proteger o meio ambiente se tornou aceita.

1. Relacione a seguir as vantagens e desvantagens da agricultura convencional, que utiliza adubos e de-fensivos químicos (agrotóxicos). Compare-a com a agricultura orgânica e suas principais técnicas.

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2. Cite as principais formas de uso sustentável do solo, comentando as vantagens de cada técnica.

3. Forme um grupo de três pessoas e discuta como um cidadão que não é um agricultor pode agir para amenizar os impactos de suas ações sobre o solo.

4. Organize os principais pontos da discussão e apresente uma síntese das idéias do grupo para o restante da turma.

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GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da (org.). Geomorfologia e Meio Am-biente. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 372p.

Esse livro trata das relações entre a geomorfologia, ou seja, o estudo das diferentes feições da Terra, e o meio ambiente, considerando seus diversos aspectos e elementos. São vários temas trata-dos, sendo uma consulta fundamental para profissionais e estudantes que têm interesse na ocupação da superfície terrestre e na conseqüente degradação dos ambientes naturais, de forma a aplicar estes conhecimentos na melhoria da gestão ambiental.

<www.planetaorganico.com.br>

Este site trata de assuntos ligados ao tema conservação do solo, como as implicações do uso de agrotóxicos, a compostagem e a agricultura orgânica, mostrando ainda técnicas e informações sobre os produtos orgânicos. O site tem um glossário para os termos utilizados no texto, facilitando assim a compreensão mesmo daqueles que nunca tiveram contato direto com o assunto.

<www.estadao.com.br/ext/ciencia/zonasderisco/dano.htm>

Este é site oficial do jornal O Estado de São Paulo e traz informações sobre produtos tóxicos normalmente usados em produtos de limpeza ou agrotóxicos, entre outros. São informações sobre o que são estes produtos, onde são encontrados, qual a sua origem, os impactos ambientais que sua utilização provoca e os riscos à saúde humana.

<http://www.taps.org.br/aorganica17.htm>

A Taps (Temas Atuais na Promoção da Saúde) é um centro de estudos que mantém uma bi-blioteca e um website abrangendo diversas áreas relacionadas com a saúde. Neste site encontra-se diversos temas relacionas à saúde, além de curiosidades, perguntas e respostas pertinentes ao tema alimentação, envolvendo produção orgânica de alimentos e outras técnicas e hábitos alimentares.