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Informativo 540-STJ (28/05/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE Direito Administrativo Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel. Contratação de parentes antes da SV 13 do STF e improbidade administrativa. Direito Civil Cláusula penal e cumulação com perdas e danos. Alienação fiduciária e pagamento integral da dívida após o cumprimento da liminar de busca e apreensão Valor recebido pela vítima do DPVAT e compensação com indenização judicial fixada. Direito Empresarial Créditos decorrentes de honorários advocatícios e falência. Novação de dívidas por força de recuperação judicial não extingue as garantias prestadas. Direito Processual Civil Responsabilidade pelos juros e correção monetária do valor depositado em juízo pelo devedor. Impossibilidade de intervenção da parte que teve seu processo sobrestado no recurso especial repetitivo selecionado como paradigma. Responsabilidade pelos juros e correção monetária do valor depositado em juízo pelo devedor. Beneficiário da justiça gratuita tem direito de requerer auxílio da contadoria judicial para elaboração de seus cálculos. Petição da impugnação ao cumprimento de sentença por excesso de execução. Direito Penal Princípio da insignificância e furto de bijuterias de 40 reais. Princípio da insignificância e crimes envolvendo tributos estaduais ou municipais. Regime inicial da pena no caso de crimes hediondos e equiparados. Transporte de arma de fogo por praticante de tiro desportivo. Direito Processual Penal Inaplicabilidade do princípio da indivisibilidade à ação penal pública. Poderes do Relator na investigação instaurada contra magistrado. Manutenção da prisão cautelar mesmo o réu tendo sido condenado a regime semiaberto. Direito Penal Militar Crime de descumprimento de missão. Direito Previdenciário Incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre os valores pagos a título de horas extras, adicional noturno e adicional de periculosidade.

ÍNDICE - · PDF filePetição da impugnação ao cumprimento de sentença por excesso de execução. Direito Penal

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Informativo 540-STJ (28/05/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE Direito Administrativo Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel. Contratação de parentes antes da SV 13 do STF e improbidade administrativa.

Direito Civil Cláusula penal e cumulação com perdas e danos. Alienação fiduciária e pagamento integral da dívida após o cumprimento da liminar de busca e apreensão Valor recebido pela vítima do DPVAT e compensação com indenização judicial fixada.

Direito Empresarial Créditos decorrentes de honorários advocatícios e falência. Novação de dívidas por força de recuperação judicial não extingue as garantias prestadas.

Direito Processual Civil Responsabilidade pelos juros e correção monetária do valor depositado em juízo pelo devedor. Impossibilidade de intervenção da parte que teve seu processo sobrestado no recurso especial repetitivo

selecionado como paradigma. Responsabilidade pelos juros e correção monetária do valor depositado em juízo pelo devedor. Beneficiário da justiça gratuita tem direito de requerer auxílio da contadoria judicial para elaboração de seus

cálculos. Petição da impugnação ao cumprimento de sentença por excesso de execução.

Direito Penal Princípio da insignificância e furto de bijuterias de 40 reais. Princípio da insignificância e crimes envolvendo tributos estaduais ou municipais. Regime inicial da pena no caso de crimes hediondos e equiparados. Transporte de arma de fogo por praticante de tiro desportivo.

Direito Processual Penal Inaplicabilidade do princípio da indivisibilidade à ação penal pública. Poderes do Relator na investigação instaurada contra magistrado. Manutenção da prisão cautelar mesmo o réu tendo sido condenado a regime semiaberto.

Direito Penal Militar Crime de descumprimento de missão.

Direito Previdenciário Incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre os valores pagos a título de horas extras, adicional

noturno e adicional de periculosidade.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção

O pedido de intervenção, na qualidade de amicus curiae, em recurso submetido ao rito do art. 543-C do CPC, deve ser realizado antes do início do julgamento pelo órgão colegiado. Isso porque, uma vez iniciado o julgamento, não há mais espaço para o ingresso de amicus curiae. De fato, já não há utilidade prática de sua intervenção, pois nesse momento processual não cabe mais sustentação oral, nem apresentação de manifestação escrita, e, segundo assevera remansosa jurisprudência, o amicus curiae não tem legitimidade recursal, inviabilizando-se a pretensão de intervenção posterior ao julgamento.

STJ. Corte Especial. QO no REsp 1.152.218-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2014.

Conceito e finalidade Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em processo relevante com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre o debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão julgador possa ter mais elementos para decidir de forma legítima. Nomenclatura Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte” ou “amigo do tribunal”. Obs: amici curiae é o plural de amicus curiae. Natureza jurídica Existe muita polêmica sobre este ponto, mas prevalece, entre os Ministros do STF, que o amicus curiae é uma forma de intervenção anômala de terceiros. Previsão legal Existem algumas leis que preveem expressamente a participação do amicus curiae nos seguintes processos:

Lei 6.385/76 (CVM)

Nos processos que tenham por objeto matérias de competência da Comissão de Valores Mobiliários (autarquia federal que fiscaliza o mercado de ações) ela será intimada para intervir, se assim desejar, como amicus curiae, oferecendo parecer sobre o caso ou prestando esclarecimentos.

Lei 12.529/11 (CADE)

Nos processos em que se discuta a aplicação da Lei 12.529/11 (infrações contra a ordem econômica), o CADE deverá ser intimado para, querendo, intervir no feito na qualidade de assistente.

Obs: já havia esta previsão na Lei n. 8.884/94 (antiga Lei Antitruste).

Lei 9.868/99 (ADI / ADC)

Nos processos de ADI e ADC em tramitação perante o STF, o Ministro Relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades. Obs: o ingresso de amicus curiae é admitido também para os casos de ADI por omissão.

Lei 9.882/99 (ADPF)

Nos processos de ADPF em tramitação perante o STF, o Ministro Relator poderá autorizar sustentação oral e juntada de memoriais por requerimento dos interessados no processo.

Art. 482, § 3º do CPC

No incidente de declaração de inconstitucionalidade em tribunal, o Relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades.

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Art. 543-A, § 6º do CPC

No recurso extraordinário submetido à repercussão geral, o Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros.

Art. 543-C, § 4º do CPC

No REsp submetido ao procedimento dos recursos repetitivos, o Relator, considerando a relevância da matéria, poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia.

Lei 11.417/06 (súmula

vinculante)

No procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a manifestação de terceiros na questão (art. 3º, § 2º).

Além dessas hipóteses, é possível a intervenção de amicus curiae em outros processos? SIM. Admite-se a intervenção do amicus curiae em qualquer tipo de processo, desde que: a) a causa tenha relevância; e b) a pessoa tenha capacidade de dar contribuição ao processo. O STF já admitiu até mesmo a participação de amicus curiae em habeas corpus (HC 82424, Relator Min. Moreira Alves, Relato p/ Acórdão: Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2003). Vale ressaltar, no entanto, que, se a causa não representar potencial para gerar efeito multiplicador e se envolver apenas direitos individuais, será possível negar a intervenção do amicus curiae:

(...) Não estando o presente recurso submetido ao rito dos recursos repetitivos e nem se incluindo na hipótese de multiplicidade de demandas similares a demonstrar a generalização da decisão, não há previsão legal para a inclusão do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - CFOAB na condição de amicus curiae, notadamente porquanto em discussão direito individual ao recebimento de verba advocatícia. (...) (AgRg na PET no AREsp 151.885/PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 11/09/2012)

Previsão do amicus no caso de ADI e ADC

Vale a pena destacar a previsão da Lei n. 9.868/99 (ADI / ADC), que é a mais cobrada:

Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade. § 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

Como se vê, em regra, não é admitida a intervenção de terceiros nos processos de ADI e ADC, sendo, contudo, permitida a participação do amicus curiae, que é uma intervenção anômala. Recursos cabíveis contra a decisão do Relator sobre a participação do amicus:

Contra a decisão (“despacho”) que admite a participação do amicus: não há recurso cabível.

Contra a decisão que inadmite a participação do amicus: cabe agravo regimental. Formalização da participação do amicus curiae

O amicus curiae pode ser convocado, de ofício, pelo Tribunal, ou, então, pleitear sua participação no processo.

O STF já decidiu que o pedido de admissão do amicus curiae deve ser assinado por advogado constituído, sob pena de não ser conhecido (ADPF 180/SP).

O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que seja incluído na pauta de julgamentos (STF ADI 4071 AgR, Min. Re. Menezes Direito, Tribunal Pleno, julgado em 22/04/2009).

No mesmo sentido, o STJ também já decidiu que o pedido de intervenção, na qualidade de amicus curiae, em recurso submetido ao rito do art. 543-C do CPC, deve ser realizado antes do início do

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julgamento pelo órgão colegiado. Isso porque, uma vez iniciado o julgamento, não há mais espaço para o ingresso de amicus curiae. De fato, já não há utilidade prática de sua intervenção, pois nesse momento processual não cabe mais sustentação oral, nem apresentação de manifestação escrita, e, segundo assevera remansosa jurisprudência, o amicus curiae não tem legitimidade recursal, inviabilizando-se a pretensão de intervenção posterior ao julgamento (QO no REsp 1.152.218-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2014).

Poderes do amicus curiae O amicus pode apresentar memoriais? SIM. O amicus curiae tem a prerrogativa de apresentar memoriais, pareceres, documentos etc. com o objetivo de subsidiar os julgadores com dados técnicos sobre a causa. O amicus pode aditar o pedido contido na inicial? NÃO. O amicus curiae, uma vez admitido seu ingresso no processo objetivo, tem direito a ter seus argumentos apreciados pelo Tribunal, inclusive com direito a sustentação oral, mas NÃO TEM direito a formular pedido ou de aditar o pedido já delimitado pelo autor da ação (AC 1362 / MG). O amicus tem direito de fazer sustentação oral? • Nos processos perante o STF: SIM. Para o STF, o amicus curiae, uma vez formalmente admitido no processo tem o direito de fazer sustentação oral (ADI 2777/SP). • Nos processos perante o STJ: NÃO. A Corte Especial do STJ definiu, em Questão de Ordem examinada no REsp 1.205.946/SP (Rel. Min. Benedito Gonçalves, sessão de 17.8.2011), que o amicus curiae NÃO TEM direito à sustentação oral. Excepcionalmente, o STJ poderá convocá-lo para sustentação oral se assim entender necessário. O amicus pode recorrer contra a decisão proferida? NÃO. O amicus curiae não pode recorrer porque não é parte. Não pode nem mesmo opor embargos de declaração. Essa é a posição do STF (ADI 3615 ED/PB, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.3.2008). Vale ressaltar, no entanto, que o amicus curiae pode recorrer, interpondo agravo regimental, contra a decisão do Relator que inadmitir sua participação no processo.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel

No procedimento de desapropriação para fins de reforma agrária, caso se constate que a área registrada em cartório é inferior à medida pelos peritos, o expropriado poderá levantar somente o valor da indenização correspondente à área registrada, devendo o depósito indenizatório relativo ao espaço remanescente ficar retido em juízo até que o expropriado promova a retificação do registro ou até que seja decidida, em ação própria, a titularidade do domínio.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/5/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro ocupava uma fazenda de 5.000ha (hectares) que foi desapropriada por interesse social para fins de reforma agrária por ser improdutiva. Ocorre que, no cartório do Registro de Imóveis, constava a informação de que a fazenda apresentava apenas 4.000ha. Desse modo, a área registrada em cartório era inferior à medida pelos peritos.

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Pedro poderá receber a indenização relativa aos 5.000ha? NÃO. Pedro terá direito de receber a indenização correspondente ao total da área registrada (4.000ha) e o valor restante ficará depositado em juízo até que ele consiga fazer a retificação do registro ou até que seja decidida, em ação judicial própria, de quem é a titularidade desses 1.000ha. Isso está previsto no art. 34

do Decreto-lei n. 3.365/41:

Art. 34. O levantamento do preço será deferido mediante prova de propriedade, de quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o bem expropriado, e publicação de editais, com o prazo de 10 dias, para conhecimento de terceiros. Parágrafo único. Se o juiz verificar que há dúvida fundada sobre o domínio, o preço ficará em depósito, ressalvada aos interessados a ação própria para disputá-lo.

Alcance da vedação contida no art. 9º, III, da Lei 8.745/93

No âmbito da administração pública federal, é vedada a contratação temporária do mesmo servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento do contrato anterior. Tal regra está prevista no art. 9º, III, da Lei n. 8.745/93.

O STJ decidiu, no entanto, que é possível nova contratação temporária, também com fundamento na Lei 8.745/1993, precedida por processo seletivo equiparável a concurso público, para outra função pública e para órgão sem relação de dependência com aquele para o qual fora contratado anteriormente, ainda que a nova contratação tenha ocorrido em período inferior a 24 meses do encerramento do contrato temporário anterior.

Ex: Carlos, após ser aprovado em processo seletivo simplificado, foi contratado temporariamente, com base na Lei n. 8.745/93, para prestar serviços técnicos na ANATEL. Cinco meses após acabar seu contrato temporário, Carlos participou de novo processo seletivo simplificado, desta vez para prestar outro tipo de serviço temporário (também com base na Lei n. 8.745/93), agora para o Ministério da Saúde. Carlos foi aprovado e, mesmo não tendo se passado 24 meses do último vínculo, ele tem direito de ser contratado.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.433.037-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/2/2014.

Exceção ao princípio do concurso público A CF/88 instituiu o “princípio do concurso público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou emprego público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na verdade é uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional. Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos: a) Cargos em comissão (art. 37, II); b) Servidores temporários (art. 37, IX); c) Cargos eletivos; d) Nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais; e) Ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT); f) Agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º). Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88). Redação do art. 37, IX O art. 37, IX, prevê o seguinte:

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IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;

O inciso IX do art. 37 consiste em uma norma constitucional de eficácia limitada, dependendo, portanto, de lei para produzir todos os seus efeitos. Servidores temporários Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são chamados de servidores temporários. Características Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser... - feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos) - com o objetivo de atender a uma necessidade temporária - e que se caracterize como sendo de excepcional interesse público. Lei de cada ente deverá reger o tema Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por tempo determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se respeite a autonomia administrativa dos entes.

Ex1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei n. 8.745/93.

Ex2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual n. 13.664/2000.

Ex3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei municipal n. 1.425/2010. A lei de cada ente irá prever as regras sobre essa contratação, ou seja, as hipóteses em que ela ocorre, seu prazo de duração, direitos e deveres dos servidores, atribuições, responsabilidades etc. Vale ressaltar que a referida lei não poderá contrariar a moldura (os limites) que o inciso IX do art. 37 da CF/88 deu ao tema. Processo seletivo simplificado A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização de prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem observados pelo administrador no momento

de contratar. Ex: a Lei n. 8.745/93, que rege o tema em nível federal, exige que, em regra, os profissionais a serem contratados sejam submetidos a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais simples que o concurso público, no entanto, por meio do qual se possa selecionar os melhores candidatos à função e de maneira impessoal. Veja:

Art. 3º O recrutamento do pessoal a ser contratado, nos termos desta Lei, será feito mediante processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, inclusive através do Diário Oficial da União, prescindindo de concurso público.

Regra do art. 9º, III, da Lei 8.745/93: No âmbito da administração pública federal, é vedada a contratação temporária do mesmo servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento do contrato anterior. Tal regra está prevista no art. 9º, III, da Lei

n. 8.745/93:

Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá: III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato anterior, salvo nas hipóteses dos incisos I e IX do art. 2º desta Lei, mediante prévia autorização, conforme determina o art. 5º desta Lei.

Imagine agora a seguinte situação adaptada: Carlos, após ser aprovado em processo seletivo simplificado, foi contratado temporariamente, com base

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na Lei n. 8.745/93, para prestar serviços técnicos na ANATEL. Cinco meses após acabar seu contrato temporário, Carlos participou de novo processo seletivo

simplificado, desta vez para prestar outro tipo de serviço temporário (também com base na Lei n. 8.745/93), agora para o Ministério da Saúde. Carlos foi aprovado, mas a União não permitiu que ele fosse contratado, afirmando que incidia a proibição

legal do art. 9º, III, da Lei n. 8.745/93. Agiu corretamente a União? O inciso III do art. 9º aplica-se no presente caso? NÃO. Segundo decidiu o STJ, é possível nova contratação temporária, mesmo em prazo inferior a 24 meses, uma vez que essa contratação será para outra função pública e para outro órgão, sem qualquer relação de dependência com aquele para o qual fora contratado anteriormente.

A vedação prevista no art. 9º, III, da Lei n. 8.745/1993 deve ser interpretada restritivamente, de acordo com a finalidade para a qual foi criada, ou seja, impedir a continuidade do servidor temporário no exercício de funções públicas permanentes, em burla ao princípio constitucional que estabelece o concurso público como regra para a investidura em cargos públicos. Em outras palavras, essa regra tem como objetivo evitar que a mesma pessoa fique ocupando a mesma função pública por longos períodos, mediante a renovação indefinida do contrato temporário. No caso concreto, como a contratação foi para outra função pública, em órgão diverso, o objetivo da Lei

n. 8.745/93 foi preservado, já que não havia a renovação para a mesma função. Ademais, o servidor foi aprovado em processo seletivo que tinha as características essenciais dos concursos públicos (publicidade, ampla concorrência e provas eliminatórias e classificatórias). Desse modo, foi selecionado, de forma objetiva, o candidato mais preparado, não havendo motivo idôneo a justificar a sua não contratação.

Contratação de parentes antes da SV 13 do STF e improbidade administrativa

A contratação, por agente político, de parentes para cargos em comissão ocorrida antes da Súmula Vinculante n. 13 do STF configura ato de improbidade administrativa?

NÃO. Posição da 1ª Turma do STJ.

SIM. Entendimento da 2ª Turma do STJ.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 24/4/2014 (Info 540).

STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.386.255/PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 24/04/2014 (não divulgado em Info).

O art. 11 da Lei n. 8.492/92 elenca condutas que configuram atos de improbidade administrativa em razão de violarem os princípios da administração pública.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício; III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;

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IV - negar publicidade aos atos oficiais; V - frustrar a licitude de concurso público; VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João era prefeito de um Município do interior e, em 2005, nomeou, para cargos em comissão, a esposa, seu irmão e sua cunhada. O Ministério Público instaurou um inquérito civil e ajuizou uma ação por improbidade administrativa contra João. Vale ressaltar que, nessa época, não havia lei municipal proibindo o nepotismo e a Súmula Vinculante n. 13 (que também veda essa prática) ainda não tinha sido aprovada (somente o foi em 2008). João, ao contratar seus parentes, praticou ato de improbidade administrativa? Existem decisões em sentidos opostos no STJ sobre o tema:

NÃO SIM

Não configura improbidade administrativa a contratação, por agente político, de parentes e afins para cargos em comissão ocorrida em data anterior à lei ou ao ato administrativo do respectivo ente federado que a proibisse e à vigência da Súmula Vinculante n. 13 do STF. STJ. 1ª Turma. REsp 1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 24/4/2014 (Info 540).

A prática de nepotismo configura grave ofensa aos princípios da administração pública, em especial aos princípios da moralidade e da isonomia, enquadrando-se, dessa maneira, no art. 11 da Lei n. 8.429/92. A nomeação de parentes para ocupar cargos em comissão, ainda que ocorrida antes da publicação da Súmula vinculante 13, constitui ato de improbidade administrativa, que atenta contra os princípios da administração pública, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.429/92, sendo despicienda a existência de regra explícita de qualquer natureza acerca da proibição. STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1386255/PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 24/04/2014 (não divulgado em Info).

DIREITO CIVIL

Cláusula penal e cumulação com perdas e danos

Importante!!!

Em um contrato no qual foi estipulada uma CLÁUSULA PENAL, caso haja o inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as perdas e danos?

Se for cláusula penal MORATÓRIA: SIM. Se for cláusula penal COMPENSATÓRIA: NÃO.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.617-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/3/2014.

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CLÁUSULA PENAL Cláusula penal é...

uma cláusula do contrato

ou um contrato acessório ao principal

em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga

pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação. A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena convencional. NATUREZA JURÍDICA Trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal. Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado. FINALIDADES DA CLÁUSULA PENAL A cláusula penal possui duas finalidades:

Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no momento de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do contrato.

Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional.

ESPÉCIES DE CLÁUSULA PENAL

MORATÓRIA (compulsória):

COMPENSATÓRIA (compensar o inadimplemento)

Estipulada para desestimular o devedor a incorrer em mora ou para evitar que deixe de cumprir determinada cláusula especial da obrigação principal. É a cominação contratual de uma multa para o caso de mora.

Estipulada para servir como indenização no caso de total inadimplemento da obrigação principal (adimplemento absoluto).

Funciona como punição pelo retardamento no cumprimento da obrigação ou pelo inadimplemento de determinada cláusula.

Funciona como uma prefixação das perdas e danos.

Ex1: em uma promessa de compra e venda de um apartamento, é estipulada multa para o caso de atraso na entrega. Ex2: multa para o caso do produtor de soja fornecer uma safra de qualidade inferior ao tipo “X”.

Ex: em um contrato para que um cantor faça um show no réveillon, é estipulada uma multa de 100 mil reais caso ele não se apresente.

A cláusula penal moratória é cumulativa, ou seja, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação principal mais o valor da cláusula penal (poderá exigir a substituição da soja inferior e ainda o valor da cláusula penal).

A cláusula penal compensatória não é cumulativa. Assim, haverá uma alternativa para o credor: exigir o cumprimento da obrigação principal ou apenas o valor da cláusula penal.

Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal

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para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

Multa moratória = obrigação principal + multa Multa compensatória = obrigação principal ou multa Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal MORATÓRIA, caso haja o inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as perdas e danos? SIM. A cláusula penal moratória não é estipulada para compensar o inadimplemento nem para substituir o adimplemento. Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora não interfere na responsabilidade civil correlata que já deflui naturalmente do próprio sistema. Logo, não há óbice a que se exija a cláusula penal moratória juntamente ao valor referente aos danos emergentes e lucros cessantes (perdas e danos). No caso de mora, existindo cláusula penal moratória, concede-se ao credor a faculdade de requerer, cumulativamente: o cumprimento da obrigação; a multa contratualmente estipulada; e ainda indenização correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.

Exemplo: o promitente comprador, no caso de atraso na entrega do imóvel adquirido, tem direito a exigir, além do cumprimento da obrigação e do pagamento do valor da cláusula penal moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela não fruição do imóvel durante o período da mora. Foi o que decidiu a 3ª Turma do STJ no REsp 1.355.554-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/12/2012 (Info 513). Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal COMPENSATÓRIA, caso haja o inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as perdas e danos? NÃO. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula penal com indenização por perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação. Enquanto a cláusula penal moratória manifesta, com mais evidência, a característica de reforço do vínculo obrigacional, a cláusula penal compensatória prevê indenização que serve não apenas como punição pelo inadimplemento, mas também como prefixação de perdas e danos. A finalidade da cláusula penal compensatória é recompor a parte pelos prejuízos que eventualmente decorram do inadimplemento total ou parcial da obrigação. Não é possível, pois, cumular cláusula penal compensatória com perdas e danos decorrentes de inadimplemento contratual. Com efeito, se as próprias partes já acordaram previamente o valor que entendem suficiente para recompor os prejuízos experimentados em caso de inadimplemento, não se pode admitir que, além desse valor, ainda seja acrescido outro, com fundamento na mesma justificativa – a recomposição de prejuízos.

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Alienação fiduciária e pagamento integral da dívida após o cumprimento da liminar de busca e apreensão

Importante!!!

Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária

STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo).

CONCEITO “A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565). REGRAMENTO O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-A. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:

alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;

alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma subsidiária:

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.

Resumindo:

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS fungíveis e

infungíveis quando o credor fiduciário for instituição

financeira

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS infungíveis

quando o credor fiduciário for pessoa natural ou jurídica (sem

ser banco)

Alienação fiduciária de bens IMÓVEIS

Lei nº 4.728/65 Decreto-Lei nº 911/69

Código Civil de 2002 (arts. 1.361 a 1.368-A)

Lei nº 9.514/97

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO ÂMBITO DO MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS Imagine a seguinte situação hipotética: Antônio quer comprar um carro de R$ 30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. Assim, o Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento

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do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel é do Banco “X” (constará “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio. O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)? Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo DL 911/69):

Protesto do título ou notificação do credor: o credor (mutuante) deverá fazer o protesto do título ou a notificação extrajudicial do devedor, por meio do Cartório de Registro de Títulos e Documentos, de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora.

Súmula 72 do STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Obs: a notificação não precisa ser pessoal, bastando que seja entregue no endereço do devedor:

Na alienação fiduciária, a mora do devedor deve ser comprovada pelo protesto do título ou pela notificação extrajudicial feita por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos, entregue no endereço do domicílio do devedor, sendo dispensada a sua notificação pessoal. STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 418.617/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 06/02/2014.

Ajuizamento da ação: após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior.

Concessão da liminar: o juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69).

Apreensão do bem: o bem é apreendido e entregue ao credor.

Possibilidade de pagamento integral da dívida: no prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). Veja o dispositivo legal:

Art. 3º (...) § 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) § 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)

O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? Para que o devedor consiga ter de volta o bem, ele deverá pagar todo o valor do financiamento ou somente as parcelas já vencidas e não pagas (purgação da mora)?

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Ex: Antônio financiou o veículo em 60 parcelas. A partir da 21ª prestação, ele começou a não mais pagar. Estão vencidas 5 parcelas. Para ter de volta o bem, ele terá que pagar somente as 5 parcelas vencidas (purgação da mora) ou todo o financiamento restante (40 parcelas)? Todo o débito.

Segundo decidiu o STJ, a Lei n. 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente as prestações vencidas. Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas e vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar. Em nosso exemplo, Antônio terá que pagar, em 5 dias, as 40 parcelas restantes. O devedor purga a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão vencidas e mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento. Ocorre que na alienação fiduciária em

garantia, a Lei n. 10.931/2004 passou a não mais permitir a purgação da mora. Vale ressaltar que o tema foi decidido em sede de recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em todos os processos semelhantes:

Nos contratos firmados na vigência da Lei n. 10.931/2004, que alterou o art. 3º, §§ 1º e 2º, do Decreto-lei 911/1969, compete ao devedor, no prazo de cinco dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida – entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial –, sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária.

Nos contratos anteriores à vigência da Lei n. 10.931/2004, é permitida a purgação da mora?

SIM. Antes da Lei n. 10.931/2004 era permitida a purgação da mora, desde que o devedor já tivesse pago no mínimo 40% do valor financiado. Tal entendimento estava, inclusive, consagrado em um enunciado do STJ:

Súmula 284-STJ: A purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária, só é permitida quando já pagos pelo menos 40% (quarenta por cento) do valor financiado.

A súmula 284-STJ ainda é válida? Para contratos anteriores à Lei 10.931/2004: SIM. Para contratos posteriores à Lei 10.931/2004: NÃO.

Contestação: no prazo de 15 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação). Obs1: a resposta poderá ser apresentada, ainda que o devedor tenha decidido pagar a integralidade da dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição. Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade das cláusulas contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o contrato era abusivo, isso justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora.

Sentença: da sentença proferida, cabe apelação apenas no efeito devolutivo.

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Valor recebido pela vítima do DPVAT e compensação com indenização judicial fixada

O valor correspondente à indenização do seguro de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre (DPVAT) pode ser deduzido do valor da indenização por danos exclusivamente morais fixada judicialmente, quando os danos psicológicos derivem de morte ou invalidez permanente causados pelo acidente.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.365.540-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/4/2014.

NOÇÕES GERAIS SOBRE O DPVAT Em que consiste o DPVAT? O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não. Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de DPVAT por invalidez. Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente. O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais.

Quem custeia as indenizações pagas pelo DPVAT? Os proprietários de veículos automotores. Trata-se de um seguro obrigatório. Assim, sempre que o proprietário do veículo paga o IPVA, está pagando também, na mesma guia, um valor cobrado a título de DPVAT. O STJ afirma que a natureza jurídica do DPVAT é a de um contrato legal, de cunho social. O DPVAT é regulamentado pela Lei nº 6.194/74. VALOR DA INDENIZAÇÃO DO DPVAT Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei? no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima) no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima) no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso à cada

vítima. Como a indenização por invalidez é de até R$ 13.500,00, entende-se que esse valor deverá ser proporcional ao grau da invalidez permanente apurada. Desse modo, a fixação da indenização no patamar máximo previsto não pode ser fundamentada exclusivamente na circunstância de existir prova do acidente e de ser permanente a invalidez. É necessário observar a respectiva proporcionalidade da indenização. Assim, deverão ser analisados a extensão da lesão e o grau de invalidez, segundo as provas produzidas nos autos. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ:

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A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez (Súmula 474 do STJ). Quem paga o valor da indenização do DPVAT? São as seguradoras que integram o consórcio do seguro do DPVAT. O beneficiário do DPVAT pode acionar qualquer seguradora integrante do grupo para receber a indenização securitária. VALOR RECEBIDO PELA VÍTIMA E COMPENSAÇÃO COM INDENIZAÇÃO JUDICIAL SITUAÇÃO 1 Imagine a seguinte situação hipotética: Ricardo sofreu um acidente de trânsito causado por João e ficou com invalidez permanente. Ricardo procurou a seguradora “X”, devidamente credenciada, para receber seu DPVAT, tendo-lhe sido pago o valor de 10 mil reais. Algum tempo depois, Ricardo ajuizou ação de indenização por danos materiais contra João. O juiz condenou João a pagar 30 mil reais a Ricardo a título de danos materiais (despesas com médicos, remédios, transporte etc). João pediu que desses 30 mil fossem descontados os 10 mil que Ricardo já havia recebido do DPVAT. Assim, ele só teria que pagar 20 mil à vítima. Esse pedido de João deverá ser aceito? O valor do DPVAT recebido deverá ser abatido (descontado) do valor que a vítima tem a receber na indenização por DANOS MATERIAIS fixada judicialmente? SIM. Existe até um enunciado do STJ sobre o tema:

Súmula 246-STJ: O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada.

Consoante entendimento do STJ, “o valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada (Súmula 246/STJ), sendo que essa dedução efetuar-se-á mesmo quando não restar comprovado que a vítima tenha recebido o referido seguro” (EDcl no REsp 1.198.490/DF, 3ª Turma, Rel. Min. Vasco Della Giustina, DJe de 04/11/2011). SITUAÇÃO 2 Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro sofreu um acidente de trânsito causado por Cláudio e ficou com invalidez permanente. Pedro procurou a seguradora “Y”, devidamente credenciada, para receber seu DPVAT, tendo-lhe sido pago o valor de 10 mil reais. Algum tempo depois, Pedro ajuizou ação de indenização por danos morais contra João. O juiz condenou Cláudio a pagar 30 mil reais a Pedro a título de danos MORAIS (sofrimento decorrente do fato de ter ficado inválido). Cláudio pediu que desses 30 mil fossem descontados os 10 mil que Pedro já havia recebido do DPVAT. Assim, ele só teria que pagar 20 mil à vítima. Esse pedido de Cláudio deverá ser aceito? O valor do DPVAT recebido deverá ser abatido (descontado) do valor que a vítima tem a receber na indenização por DANOS MORAIS fixada judicialmente? SIM. Havia dúvida sobre esse tema, mas o STJ afirmou recentemente que sim. O valor correspondente à indenização do DPVAT deve ser deduzido do valor da indenização fixada judicialmente, ainda que a indenização seja referente exclusivamente a danos morais. Logo, a súmula 246 do STJ abrange também a indenização por danos morais.

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O valor que é pago à vítima pelo DPVAT abrange os danos morais? SIM. A cobertura do DPVAT abrange tanto os danos materiais como os morais.

De acordo com o art. 3º da Lei n. 6.194/74, os danos pessoais cobertos pelo seguro obrigatório compreendem “as indenizações por morte, por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares”. O dispositivo legal em momento algum limita a cobertura do seguro obrigatório apenas aos danos de natureza material. Não há nenhuma ressalva quanto ao fato de não estarem cobertos os prejuízos morais derivados desses eventos. Os casos de morte ou invalidez permanente acarretam à vítima (ou aos seus herdeiros), além de danos materiais, também danos psicológicos, os quais, à míngua de previsão legal expressa, não podem ser excluídos da cobertura do DPVAT. Portanto, segundo a Min. Nancy Andrighi, conclui-se que a expressão “danos pessoais” contida no art. 3º da Lei do DPVAT abrange todas as modalidades de dano: materiais, morais e estéticos, desde que derivados dos eventos expressamente enumerados: morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares.

DIREITO EMPRESARIAL

Créditos decorrentes de honorários advocatícios e falência

I – Caso um advogado tenha créditos de honorários advocatícios para receber da sociedade empresária falida, tais créditos estarão em que lugar na ordem do art. 83 da Lei 11.101/2005?

Em primeiro lugar, enquadrando-se no inciso I do art. 83. Os créditos resultantes de honorários advocatícios (sucumbenciais ou contratuais) têm natureza alimentar e são equiparados aos créditos trabalhistas para efeito de habilitação em falência, estando, portanto, enquadrados no art. 83, I.

II – Se um advogado é contratado pela massa falida, os honorários advocatícios desse causídico deverão ser pagos também segundo a ordem do art. 83?

NÃO. Os honorários de advogado resultantes de trabalhos prestados à massa falida, depois de ter sido decretada a falência são considerados como créditos extraconcursais, nos termos dos arts. 84 e 149 da Lei 11.101/2005.

STJ. Corte Especial. REsp 1.152.218-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2014 (recurso repetitivo).

Conceito Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável. Finalidade A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.

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Legislação aplicável

Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária é regida pela Lei n. 11.101/05. Procedimento:

I – PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR II – PROCESSO FALIMENTAR

O procedimento pré-falimentar vai do pedido de falência até a sentença do juiz. Engloba, resumidamente, três atos principais: 1) pedido de falência; 2) resposta do devedor; 3) sentença. Ao final desta fase, a sentença pode ser: • Denegatória: o processo se extingue sem a instauração da falência. • Declaratória: hipótese em que se iniciará o processo falimentar propriamente dito.

O processo falimentar vai da sentença declaratória de falência até a sentença de encerramento. É no processo falimentar propriamente dito que ocorre a verificação e habilitação dos créditos e o pagamento dos credores.

Classificação dos créditos da falência: Como vimos, o objetivo da falência é arrecadar valores para efetuar o pagamento dos credores, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.

O art. 83 da Lei n. 11.101/05 estabelece a ordem em que os créditos concursais devem ser organizados para serem pagos.

Da Classificação dos Créditos Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias;

IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;

V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;

VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;

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VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

Créditos de honorários advocatícios e falência Caso um advogado tenha créditos de honorários advocatícios devidos pela sociedade empresária falida, tais créditos estarão em que lugar na ordem do art. 83? Em primeiro lugar, enquadrando-se no inciso I do art. 83. Os créditos resultantes de honorários advocatícios (sucumbenciais ou contratuais) têm natureza alimentar e são equiparados aos créditos trabalhistas para efeito de habilitação em falência, estando, portanto,

enquadrados no art. 83, I, da Lei n. 11.101/2005. Obs: conforme prevê o art. 83, I, se o valor dos honorários for superior a 150 salários-mínimos, o valor que ultrapassar esse montante será recebido como crédito quirografário (inciso VI, “c”). Ex: Rui (advogado), desde 2013, tinha um valor de 200 salários-mínimos para receber da sociedade empresária “A”, a título de honorários advocatícios. Em 2014, é decretada a falência da empresa. Logo, Rui

terá que receber seus honorários na ordem de pagamentos prevista no art. 83 da Lei n. 11.101/2005. Rui receberá 150 salários-mínimos de forma prioritária, na forma do inciso I. Os outros 50 salários-mínimos ele receberá (se sobrar dinheiro), na ordem prevista no inciso VI, ou seja, após serem pagos todos os demais credores previstos nos incisos I a V. Se um advogado é contratado pela massa falida, os honorários advocatícios desse causídico deverão ser pagos também segundo a ordem do art. 83? NÃO. Os honorários de advogado resultantes de trabalhos prestados à massa falida, depois de ter sido decretada a falência são considerados como créditos extraconcursais, nos termos dos arts. 84 e 149 da Lei 11.101/2005. Créditos concursais são as dívidas do falido que devem ser pagas na ordem do art. 83. Os créditos extraconcursais, por sua vez, são dívidas da massa falida e que devem ser pagas antes dos créditos concursais. Estão previstos no art. 84. Em outras palavras, primeiro devem ser pagos os créditos extraconcursais e, depois, os concursais. Os créditos extraconcursais são pagos antes dos concursais porque são dívidas que surgem depois de ter sido decretada a falência e em decorrência dela. Em regra, são débitos que nascem para que o processo de falência possa ser realizado. Caso fossem pagos após os demais créditos, a massa falida teria muita dificuldade de conseguir levar em frente o procedimento da falência. Assim, os serviços prestados à massa falida após a decretação da falência são créditos extraconcursais, que devem ser satisfeitos antes, inclusive, dos trabalhistas, à exceção do que dispõe o art. 151. Veja quais são os créditos extraconcursais:

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a: I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência; II – quantias fornecidas à massa pelos credores; III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência; IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;

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V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

Os honorários advocatícios de serviços prestados por advogados à massa falida são considerados como créditos extraconcursais porque são equiparados a créditos trabalhistas de serviços ocorridos após a falência. Logo, enquadram-se no inciso I do art. 84:

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a: I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência;

CRÉDITOS CONCURSAIS CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS

Previstos no art. 83. Previstos no art. 84.

Consistem em dívidas contraídas pelo falido antes da quebra.

Consistem em dívidas contraídas pela massa falida, ou seja, após ter ocorrido a quebra. São débitos que surgem para que o processo de falência possa ser conduzido.

São credores do falido. São credores da massa falida.

São pagos depois dos créditos extraconcursais. São pagos antes dos créditos concursais.

Novação de dívidas por força de recuperação judicial não extingue as garantias prestadas

A novação prevista no Código Civil extingue os acessórios e as garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364). No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei n. 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).

Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2014.

Recuperação judicial A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. Fases da recuperação De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases: a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;

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b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. Juízo falimentar

A Lei n. 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual. Plano de recuperação Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência. Este plano deverá conter: discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); demonstração de sua viabilidade econômica; e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional

legalmente habilitado ou empresa especializada. Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de credores. Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções Após o devedor apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando o prazo para a manifestação de eventuais objeções. Desse modo, os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores apresentarem objeções é de 30 dias. Se não houver objeção dos credores Caso nenhum credor apresente objeção ao plano no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano. Se houver objeção por parte dos credores Havendo objeção de algum credor, o juiz deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos pertinentes, poderá: a) aprovar o plano sem ressalvas; b) aprovar o plano com alterações; c) não aprovar o plano. Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, § 1º). Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação judicial, iniciando-se a fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores e apenas homologado pelo juiz. Aprovado o plano, ocorre a novação dos créditos anteriores ao pedido

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A homologação do plano de recuperação judicial autoriza a retirada do nome da empresa recuperanda e dos seus respectivos sócios dos cadastros de inadimplentes, bem como a baixa de eventuais protestos existentes em nome destes? SIM. Diferentemente do regime existente sob a vigência da antiga Lei de Falência e Concordata (art. 148 do DL nº 7.661/45), a atual Lei de Falências e Recuperação Judicial estabelece que o plano de recuperação judicial acarreta a novação dos créditos anteriores ao pedido:

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.

Qual é a consequência jurídica de haver a novação dos créditos? A novação ocorre, dentre outras hipóteses, quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior (art. 360, I, do CC). Desse modo, o que o art. 59 está afirmando é que, quando o plano de recuperação judicial é homologado, as dívidas que o devedor (recuperando) possuía com os credores são extintas e substituídas por outras novas obrigações. Como a novação induz a extinção da relação jurídica anterior, substituída por uma nova, não será mais possível falar em inadimplência do devedor com base na dívida extinta (Min. Nancy Andrighi). Diante disso, não se justifica a manutenção do nome da recuperanda ou de seus sócios em cadastros de inadimplentes em virtude da dívida novada. Assim, “a novação extingue a dívida anterior; estando o autor adimplente quanto ao novo débito, é ilícita a inscrição em órgãos de proteção ao crédito fundamentada em inadimplemento de parcela vencida anteriormente à novação” (AgRg no Ag 948.785/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 05.08.2008). Essa regra do art. 59 tem como norte a preocupação de recuperar a empresa em dificuldade financeira, atendendo ao chamado “princípio da preservação da empresa”. A novação decorrente da recuperação judicial implica a extinção de garantias que haviam sido prestadas aos credores? NÃO. A novação prevista no Código Civil extingue sim os acessórios e as garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364).

No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei n. 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).

Novação do CC: em regra, extingue as garantias prestadas.

Novação da recuperação judicial: em regra, não extingue as garantias prestadas. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral (REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2014). Exemplo: A sociedade GW Ltda emitiu uma nota promissória em favor de BB. Gabriel (sócio da GW) figurou como avalista na nota promissória, ou seja, ele ofereceu uma garantia pessoal de pagamento da dívida. Ocorre

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que a sociedade GW Ltda requereu recuperação judicial e o plano foi aprovado. BB ajuizou, então, uma execução de título extrajudicial cobrando de Gabriel o valor da nota promissória vencida. Gabriel defendeu-se alegando que, como foi aprovado o plano de recuperação judicial, houve novação e a execução deveria ser extinta. O STJ não concordou com a tese. Para a Corte, a homologação do plano de recuperação judicial da devedora principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada em face de sócio coobrigado. Conforme já explicado, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas anteriores, as garantias (reais ou fidejussórias), como regra, são preservadas. Logo, o aval (garantia) prestado por Gabriel não foi extinto com a aprovação do plano. Diante disso, o credor poderá exercer seus direitos contra Gabriel (terceiro garantidor), devendo, portanto, ser mantida a execução proposta contra ele. É importante fazer outra ressalva: a novação operada pelo plano de recuperação fica sujeita a uma condição resolutiva, que é o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano. O que isso quer dizer? Decretada a recuperação judicial, ocorre a novação. No entanto, os efeitos dessa novação poderão ser extintos se houver o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano. A cessação da eficácia da novação fica condicionada a um acontecimento futuro e incerto capaz de desfazer os efeitos do negócio jurídico. Esse acontecimento futuro e incerto (condição resolutiva) é o descumprimento do plano. Dessa feita, se o devedor descumprir o plano, a recuperação judicial é convertida em falência e a novação é extinta, de forma que as obrigações originais são reconstituídas. Sendo assim, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, com o que os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.260.301-DF, rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2012 (Info 502). Em suma: Conclui-se que o plano de recuperação judicial opera uma novação sui generis. Isso porque ela, em regra, não extingue as garantias prestadas e estará sempre sujeita a uma condição resolutiva, que é o eventual descumprimento do que ficou acertado no plano. Tais peculiaridades fazem com que essa novação se diferencie bastante da novação prevista no CC.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Impossibilidade de intervenção da parte que teve seu processo sobrestado no recurso especial repetitivo selecionado como paradigma

Quando determinado tema é selecionado para ser julgado sob a sistemática do art. 543-C (recursos especiais repetitivos), é escolhido um ou alguns recursos para serem analisados pelo STJ (recursos paradigmas) e os demais que tratem sobre a mesma matéria ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se pronuncie sobre o tema central.

A parte que teve seu processo sobrestado não poderá intervir nem como assistente simples nem como amicus curiae no recurso especial paradigma que será analisado pelo STJ.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014.

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Multiplicidade de recursos especiais tratando sobre o mesmo tema O legislador percebeu que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos temas jurídicos. Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei nº 11.672/2008 acrescentou os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento em idêntica controvérsia ou questão de direito. Julgamento por amostragem O art. 543-B estabelece o procedimento a ser adotado pelo STF no caso de múltiplos recursos

extraordinários tratando sobre o mesmo tema. O art. 543-C, por sua vez, prevê o rito no caso de múltiplos recursos especiais em tramitação no STJ. Veja o que estabelece o art. 543-C do CPC:

Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.

1) Em primeiro lugar, o Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto. Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações contra a Fazenda Pública é de três ou cinco anos. 2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais que representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ. Serão escolhidos os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de argumentos no recurso especial. 3) Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se pronuncie sobre o tema central. Se a matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae. É o que prevê o § 4º do art. 543-C do CPC:

§ 4º O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior Tribunal de Justiça e considerando a relevância da matéria, poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia.

Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação adaptada: João tinha um processo na Justiça, que tratava sobre o tema “purgação de mora em alienação fiduciária”. Já havia prolatada sentença em 1ª instância e acórdão no TJ. João interpôs, então, recurso especial. Ocorre que o assunto tratado no processo foi enquadrado na sistemática do art. 543-C (julgamento por amostragem). Diante disso, o recurso especial interposto por João não foi selecionado como paradigma e ficou sobrestado (suspenso) no TJ, nem sendo encaminhado ao STJ (item 3 acima explicado). João pediu, então, para intervir no recurso especial selecionado como paradigma pelo STJ, ou seja, ele pediu para ser assistente simples (art. 50 do CPC) ou, então, amicus curiae na discussão sobre o tema que era tratado também em seu processo (“purgação de mora em alienação fiduciária”). João alegou que seria terceiro interessado, já que o resultado do recurso repetitivo influenciaria decisivamente na solução do processo em que é parte.

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O pedido de intervenção formulado por João poderá ser aceito? NÃO. João não poderá intervir como assistente simples porque não tem interesse jurídico. Para o STJ, não configura interesse jurídico apto a justificar o ingresso de terceiro como assistente simples em processo submetido ao rito do art. 543-C do CPC o fato de o requerente ser parte em outro feito no qual se discute tese a ser firmada em recurso repetitivo. Isso porque, nessa situação, o interesse do terceiro que pretende ingressar como assistente no julgamento do recurso submetido à sistemática dos recursos repetitivos é meramente subjetivo, quando muito, reflexo, de cunho meramente econômico, o que não justifica sua admissão como assistente simples. Além disso, o requerente não se enquadra no rol do art. 543-C, § 4º, do CPC, sendo certo ainda que nem mesmo aqueles inseridos da referida lista podem ser admitidos como assistentes no procedimento de recursos representativos, não sendo possível, também, a interposição de recurso por eles para impugnar a decisão que vier a ser prolatada. Por fim, se fosse admitida a participação do requerente, isso abriria a possibilidade de que todos aqueles que figuram em processos sobrestados pudessem também intervir, o que, evidentemente, inviabilizaria o julgamento de recursos repetitivos.

Responsabilidade pelos juros e correção monetária do valor depositado em juízo pelo devedor

Na fase de execução, o depósito judicial do montante (integral ou parcial) da condenação extingue a obrigação do devedor, nos limites da quantia depositada.

STJ. Corte Especial. REsp 1.348.640-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/5/2014 (recurso repetitivo).

Imagine a seguinte situação hipotética: João propõe uma ação de cobrança contra Roberto. O juiz julga a sentença procedente, condenando Roberto a pagar 1 milhão de reais a João, tendo havido o trânsito em julgado. João ingressou com uma petição requerendo o cumprimento da sentença e o pagamento do valor da condenação (1 milhão de reais). O juiz determinou a intimação do devedor para pagar a quantia em 15 dias. O devedor, em vez de pagar, afirmou que queria se defender (questionar o cumprimento de sentença por meio da impugnação). Para isso, ele depositou em uma conta bancária, a disposição do juízo, 1 milhão de reais, e apresentou a impugnação. Suspensão da execução Em regra, a impugnação não tem efeito suspensivo, ou seja, o cumprimento de sentença continua normalmente. No entanto, o juiz pode atribuir efeito suspensivo (paralisando a execução), desde que constate a ocorrência de dois requisitos (art. 475-M): a) os fundamentos alegados pelo devedor são relevantes; e b) o prosseguimento da execução puder causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. Suponha que o magistrado determinou a suspensão da execução. Logo, o dinheiro depositado como garantia permanecerá na conta bancária, não podendo ser sacado pelo credor. Responsabilidade do devedor pela correção monetária e juros de mora

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Imagine agora que dois anos depois, o juiz julga improcedente a impugnação e determina, assim, o prosseguimento da execução. Nesse caso, o credor poderá sacar o dinheiro depositado pelo devedor. Ocorre que não seria justo que após todo esse tempo, e exequente recebesse o valor sem qualquer encargo. Desse modo, o credor terá direito de receber a quantia depositada, acrescida de juros e correção monetária, para que não seja prejudicado pela demora. A obrigação de pagar os juros e a correção monetária é do devedor? Em nosso exemplo, Roberto, que já havia depositado um milhão de reais, terá que pagar mais algum valor a título de juros e correção monetária? NÃO. Segundo o STJ, a responsabilidade pela atualização monetária de valores em depósito judicial é da instituição financeira onde o numerário foi depositado. Nesse sentido, existe um enunciado:

Súmula 179-STJ: O estabelecimento de crédito que recebe dinheiro, em depósito judicial, responde pelo pagamento da correção monetária relativa aos valores recolhidos.

Ressalte-se que o credor não precisará intentar uma nova ação para receber a quantia:

Súmula 271-STJ: A correção monetária dos depósitos judiciais independe de ação específica contra o banco depositário.

O pedido de atualização monetária deve ser dirigido à instituição financeira no processo em que foi realizado o depósito judicial. Logo, o credor não poderá exigir do devedor mais nenhum valor a título de juros e correção monetária, uma vez que isso já foi pago (ou deverá ser) pelo banco, que é quem ficou com o dinheiro lá depositado durante todo esse tempo. Assim, depois de fazer o depósito, o devedor cumpre a sua obrigação e terá apenas que aguardar o resultado do julgamento. Se lhe for favorável, receberá de volta (em todo ou em parte). Se lhe for contrário, perderá a quantia depositada, mas não precisará mais pagar nenhuma verba extra ao credor. O STJ reiterou o entendimento acima exposto, agora em sede de recurso repetitivo, sendo firmada a seguinte conclusão, a ser aplicada em todos os processos semelhantes: “Na fase de execução, o depósito judicial do montante (integral ou parcial) da condenação extingue a obrigação do devedor, nos limites da quantia depositada.”

Beneficiário da justiça gratuita tem direito de requerer auxílio da contadoria judicial para elaboração de seus cálculos

O beneficiário da assistência judiciária, ainda que seja representado pela Defensoria Pública, pode se utilizar do serviço de contador judicial para apuração do crédito que será objeto de execução, independentemente da complexidade dos cálculos.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.200.099-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/5/2014.

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA Em regra, a sentença deve ser líquida.

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O que é sentença líquida? Apesar de existirem opiniões em sentido contrário, para o CPC, sentença líquida é aquela que define o quantum debeatur, ou seja, é aquela que fixa o valor da obrigação devida. Pode acontecer de ser prolatada uma sentença sem que conste o valor da condenação (ilíquida)? SIM. O ideal é que a sentença seja líquida. Em alguns casos, no entanto, pode ocorrer de não ser possível se determinar o valor da condenação já na sentença. Nessas hipóteses, deverá ser realizada a liquidação da sentença, conforme prevê o CPC:

Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação.

Desse modo, a liquidação da sentença é a etapa do processo que ocorre após a fase de conhecimento e que se destina a descobrir o valor da obrigação (quantum debeatur) quando não foi possível fixar essa quantia diretamente na sentença. Objetivo da liquidação: Descobrir o quantum debeatur e, assim, poder permitir o cumprimento da sentença (execução). Espécies de liquidação: O CPC previu duas espécies de liquidação: a) por arbitramento; b) por artigos.

ESPÉCIES DE LIQUIDAÇÃO

POR ARBITRAMENTO POR ARTIGOS

Ocorre quando for necessária a realização de uma PERÍCIA para se descobrir o quantum debeatur.

Ocorre quando for necessário alegar e provar um FATO NOVO para se descobrir o quantum debeatur. É utilizada quando forem necessários outros meios de prova para se determinar o valor da condenação, além da perícia. Obs: fato novo é aquele que não tenha sido analisado e decidido durante o processo. Não significa necessariamente que tenha surgido após a sentença. Novo = ainda não apreciado no processo.

Ex: João estava construindo um prédio, tendo essa construção causado danos na estrutura do imóvel vizinho. O juiz condena João a indenizar o réu. Na fase de liquidação, um engenheiro irá fazer um laudo dos prejuízos causados.

Ex: Pedro foi vítima de infecção hospitalar. O juiz condena o hospital a pagar todas as despesas que ele já teve por conta da infecção, bem como as que ainda terá após a sentença. Na fase de liquidação da sentença, Pedro irá alegar e provar os gastos que teve após a sentença.

E a chamada “liquidação por cálculos”? A denominada “liquidação por cálculos de contador” é aquela que exige mera operação aritmética para se chegar ao quantum debeatur. Antigamente, uma sentença que trazia uma condenação que necessitasse de cálculos deveria ser obrigatoriamente remetida à contadoria do juízo, fazendo com que houvesse um atraso na execução, tendo em vista a natural demora desse órgão (por conta do volume de serviço) em apresentar os cálculos. Pensando nisso, e a fim de agilizar o processo, o legislador, em 1994 (Lei nº 8.898), acabou com a

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liquidação por cálculo. Assim, atualmente, quando o quantum debeatur puder ser apurado mediante simples cálculo aritmético (o que pode ser feito por programas gratuitos na internet), não será necessária a liquidação. O próprio credor deverá fornecer os cálculos que seriam feitos pela contadoria. Se o juiz achar que os cálculos apresentados pelo exequente podem estar errados, aí sim será determinada a remessa dos autos à contadoria do juízo para exame. Essa sistemática está prevista no art. 475-B do CPC:

Art. 475-B. Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, o credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo. (...) § 3º Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exequenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária. § 4º Se o credor não concordar com os cálculos feitos nos termos do § 3º deste artigo, far-se-á a execução pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora terá por base o valor encontrado pelo contador.

Resumindo:

Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético.

Não será necessária a liquidação. Não é o contador do juízo quem faz o cálculo. O próprio credor deverá apresentar a memória discriminada e atualizada do cálculo.

O juiz deverá determinar que o cálculo seja feito pela contadoria do juízo em duas situações:

a) quando o juiz desconfiar que a memória apresentada pelo credor esteja errada;

b) quando o credor for beneficiário da justiça gratuita (presume-se que ele não pode contratar alguém para fazer os seus cálculos).

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ: Imagine a seguinte situação adaptada: João, assistido pela Defensoria Pública, ajuizou ação de indenização contra Pedro. O juiz julgou o pedido procedente e condenou o réu ao pagamento de determinada quantia. Transitada em julgado a sentença, João requereu ao juiz que os autos fossem remetidos à Contadoria Judicial para determinar o valor atualizado da dívida, tendo em vista ser beneficiário da assistência judiciária gratuita, nos termos do § 3º do art. 475-B do CPC (parte final). O magistrado indeferiu o pedido de remessa, aduzindo dois argumentos principais: 1) a realização de cálculos pelo contador judicial é exceção e somente poderá ser feita nos casos em que o credor for beneficiária da justiça gratuita e a elaboração dos cálculos apresentar complexidade extraordinária. Sendo os cálculos simples, devem ser apresentados pelo próprio credor, mesmo este sendo hipossuficiente. 2) o credor é assistido pela Defensoria Pública, instituição que deve possuir em seus quadros contadores para elaboração dos cálculos. Agiu corretamente o juiz? NÃO. O beneficiário da assistência judiciária, ainda que seja representado pela Defensoria Pública, pode se utilizar do serviço de contador judicial para apuração do crédito que será objeto de execução, independentemente da complexidade dos cálculos. Conforme explica a Min. Nancy Andrighi, a finalidade da parte final do § 3º do art. 475-B é a de facilitar a defesa daquele credor que não tem condições financeiras de contratar profissional para a realização dos

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cálculos sem comprometimento do seu sustento ou de sua família. A busca pela maior agilidade no processo judicial, por meio da transferência do ônus de elaboração dos cálculos àquele que tem interesse no recebimento do crédito e, portanto, no prosseguimento célere da execução, não pode prejudicar o hipossuficiente. O fato de o beneficiário da assistência judiciária ser representado pela Defensoria Pública não lhe retira a possibilidade de utilizar-se dos serviços da contadoria judicial, pois não se pode presumir que a Defensoria Pública esteja ou deva estar aparelhada para a execução desses cálculos. Também não pode ser invocada a complexidade dos cálculos do valor da condenação como uma condição imprescindível para que os serviços do contador judicial possam ser utilizados, uma vez que o art. 475-B, § 3º, do CPC, ao permitir a utilização da contadoria, não faz essa exigência.

Petição da impugnação ao cumprimento de sentença por excesso de execução

Importante!!!

Se o devedor apresentar impugnação ao cumprimento de sentença alegando que há excesso de execução e que o credor está pleiteando quantia superior a que é devida, ele deverá apontar, na petição da impugnação, a parcela incontroversa do débito, bem como as incorreções encontradas nos cálculos do credor. Caso não faça isso, o juiz deverá rejeitar liminarmente a impugnação (§ 2º do art. 475-L), não sendo permitido que o devedor faça a emenda da inicial da impugnação para corrigir essa falha.

STJ. Corte Especial. REsp 1.387.248-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/5/2014 (recurso repetitivo).

Se o devedor está sendo executado, ele tem o direito de se defender. Qual é a defesa típica do devedor executado?

No processo de execução (execução de título extrajudicial): a defesa típica do executado são os EMBARGOS À EXECUÇÃO (embargos do devedor).

No cumprimento de sentença (execução de título judicial): é a IMPUGNAÇÃO. Vale ressaltar que a pessoa executada poderá se defender ainda por meio de:

Exceção de não-executividade (exceção de pré-executividade / objeção de pré-executividade); ou

Ações autônomas (chamada de defesa heterotópica do executado). Quais as matérias que poderão ser alegadas na impugnação?

Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III – penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes; V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.

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Hipóteses em que há excesso de execução O devedor poderá se defender na execução alegando que há excesso de execução. Normalmente, os alunos pensam que excesso de execução significa que o credor está cobrando do executado mais do que seria devido. Essa é apenas uma das hipóteses, porém existem outras. Vejamos:

Art. 743. Há excesso de execução: I - quando o credor pleiteia quantia superior à do título; II - quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no título; III - quando se processa de modo diferente do que foi determinado na sentença; IV - quando o credor, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da do devedor (art. 582); V - se o credor não provar que a condição se realizou.

Obs: apesar de esse art. 743 estar no capítulo que trata sobre a execução contra a Fazenda Pública, a doutrina e a jurisprudência afirmam que ele vale também para as demais espécies de execução. Excesso de execução quando o credor pleiteia quantia superior à do título Imagine que o credor apresenta requerimento ao juiz pedindo o cumprimento da sentença. Na petição do exequente, ele afirma que a dívida resultante do título judicial é de 500 mil reais. O magistrado determina a intimação do devedor para pagar a quantia em 15 dias. O devedor, em vez de pagar, apresenta uma fiança bancária, fazendo a garantia do juízo por meio de caução, e apresenta, então, impugnação. Na impugnação, o devedor alega excesso de execução (art. 475-L, V) e afirma que o credor está pleiteando quantia superior à da sentença (art. 743, I). Nesse caso, o CPC determina que o executado deverá declarar, de imediato, o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação (§ 2º do art. 475-L). Logo, o devedor deverá dizer: o credor está cobrando 500 mil, mas a sentença me condenou a pagar apenas 400 mil reais. Há um excesso de 100 mil reais. Desse modo, 400 mil reais são incontroversos (tanto o credor como o devedor concordam que são devidos). Por outro lado, há controvérsia (discussão, contestação) quanto a 100 mil reais. Veja a redação do § 2º do art. 475-L:

§ 2º Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação. (Incluído pela Lei nº 11.232/2005)

Por que existe essa regra do § 2º do art. 475-L? O Min. Paulo de Tarso Sanseverino explica que esse dispositivo possui duas finalidades: a) impedir que o cumprimento de sentença seja protelado por meio de impugnações infundadas (como o

devedor terá que expor onde está o excesso, isso o inibirá de apresentar impugnações sem qualquer fundamento, sob pena de ela ser liminarmente rejeitada); e

b) permitir que o credor faça o levantamento da parcela incontroversa da dívida (ora, se todos concordam que 400 mil é devido, nada impede que o credor fique desde logo com esse valor enquanto se discute o restante).

Além disso, o legislador, ao fazer a exigência do art. 475-L, § 2º, do CPC conferiu o mesmo tratamento que já havia dado ao credor no art. 475-B do CPC. Este dispositivo estabelece que o credor, ao requerer o cumprimento de sentença, deverá apresentar a memória discriminada e atualizada dos cálculos exequendos (quantum debeatur). Por paridade, a mesma exigência é feita ao devedor. Assim, se este impugna e afirma que estão errados os cálculos do credor, deverá apresentar seus próprios cálculos.

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Se o devedor apresenta impugnação sem atender a regra do § 2º do art. 475-L, ele terá direito de emendar a petição da impugnação corrigindo essa falha? NÃO. O STJ tem negado a possibilidade de emenda aos embargos/impugnação formulados em termos genéricos. Assim, na hipótese do art. 475-L, § 2º, do CPC, é indispensável que o devedor aponte, na petição da impugnação, a parcela incontroversa do débito, bem como as incorreções encontradas nos cálculos do credor, sob pena de rejeição liminar da petição, não se admitindo emenda à inicial.

DIREITO PENAL

Princípio da insignificância e furto de bijuterias de 40 reais

Aplica-se o princípio da insignificância à conduta do réu primário que subtraiu bijuterias avaliadas em R$ 40,00 pertencentes a estabelecimento comercial e restituídas posteriormente à vítima.

STJ. 6ª Turma. HC 208.569-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/4/2014.

Segundo o Min. Rogerio Schietti Cruz, para decidir se deve ser aplicado o princípio da insignificância ao furto, é necessário que sejam avaliados os seguintes aspectos: a) o valor do bem; b) a situação econômica da vítima; c) as circunstâncias em que o crime foi perpetrado (se foi de dia ou durante o repouso noturno, se teve o concurso de terceira pessoa, sobretudo adolescente, se rompeu obstáculo de considerável valor para a subtração da coisa, se abusou da confiança da vítima etc.); e d) a personalidade e as condições pessoais do agente, notadamente se demonstra fazer da subtração de coisas alheias um meio ou estilo de vida, com sucessivas ocorrências (reincidente ou não). Assim, caso seja verificada a inexpressividade do comportamento do agente, fica afastada a intervenção do Direito Penal.

Princípio da insignificância e crimes envolvendo tributos estaduais ou municipais

Para se aplicar o princípio da insignificância aos crimes tributários envolvendo tributos estaduais ou municipais, é necessário que exista lei estadual ou municipal dispensando a execução fiscal no caso de tributos abaixo de determinado valor. Esse será o parâmetro para a insignificância.

Não é possível aplicar o patamar estabelecido no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, uma vez que essa lei trata de tributos que sejam da competência da União.

STJ. 6ª Turma. HC 165.003-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/3/2014.

O princípio da insignificância pode ser aplicado no caso de crimes tributários? SIM. É plenamente possível que incida o princípio da insignificância tanto nos crimes contra a ordem

tributária previstos na Lei n. 8.137/90, como também no caso do descaminho (art. 334 do Código Penal).

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Existe algum limite máximo de valor para que possa ser aplicado o princípio da insignificância nos crimes tributários? SIM. A jurisprudência criou a tese de que nos crimes tributários, para decidir se incide ou não o princípio da insignificância, será necessário analisar, no caso concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos. E qual é, então, o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários? Tradicionalmente, esse valor era de 10 mil reais. Assim, se o montante do tributo que deixou de ser pago era igual ou inferior a 10 mil reais, não havia crime tributário, aplicando-se o princípio da insignificância. Qual era o parâmetro para se chegar a esse valor?

Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base o art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que determina o arquivamento das execuções fiscais cujo valor consolidado for igual ou inferior a R$ 10.000,00. Em outros termos, a Lei determina que, até o valor de 10 mil reais, os débitos inscritos como Dívida Ativa da União não serão executados. Segundo a jurisprudência, não há sentido lógico permitir que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Nesse caso, o direito penal deixaria de ser a ultima ratio. Esse valor de 10 mil reais permanece ainda hoje? Aqui reside a polêmica. Recentemente, foi publicada a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).”

Desse modo, o Poder Executivo “atualizou” o valor previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002 e passou a dizer que não mais deveriam ser executadas as dívidas de até 20 mil reais. Em outras palavras, a Portaria MF 75/2012 “aumentou” o valor considerado insignificante para fins de execução fiscal. Agora, abaixo de 20 mil reais, não interessa à Fazenda Nacional executar (antes esse valor era 10 mil reais). Diante desse aumento produzido pela Portaria, começou a ser defendida a tese de que o novo parâmetro para análise da insignificância penal nos crimes tributários passou de 10 mil reais (de acordo com o art. 20

da Lei n. 10.522/2002) para 20 mil reais (com base na Portaria MF 75). A jurisprudência acolheu essa tese?

STJ: NÃO STF: SIM

O STJ tem decidido que o valor de 20 mil reais,

estabelecido pela Portaria MF n. 75/12 como limite mínimo para a execução de débitos contra a União, NÃO pode ser considerado para efeitos penais (não deve ser utilizado como novo patamar de insignificância). São apontados dois argumentos principais: i) a opção da autoridade fazendária sobre o que deve ou não ser objeto de execução fiscal não pode ter a força de subordinar o exercício da

Para o STF, o fato de as Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda terem aumentado o patamar de 10 mil reais para 20 mil reais produz efeitos penais. Logo, o novo valor máximo para fins de aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários passou a ser de 20 mil reais. Precedente: STF. 1ª Turma. HC 120617, Rel. Min. Rosa Weber,

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jurisdição penal; ii) não é possível majorar o parâmetro previsto no

art. 20 da Lei n. 10.522/2002 por meio de uma portaria do Ministro da Fazenda. A portaria emanada do Poder Executivo não possui força normativa passível de revogar ou modificar lei em sentido estrito. Em suma, para o STJ, o valor máximo para aplicação do princípio da insignificância no caso de crimes contra a ordem tributária (incluindo o descaminho) continua sendo de 10 mil reais. Precedentes: AgRg no AREsp 331.852/PR, j. em 11/02/2014 AgRg no AREsp 303.906/RS, j. em 06/02/2014

julgado em 04/02/2014.

Em suma, qual é o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários?

• Para o STJ: 10 mil reais (art. 20 da Lei n. 10.522/2002).

• Para o STF: 20 mil reais (art. 1º, II, da Portaria MF n. 75/2012). Esse valor é considerado insignificante tanto no caso de crimes envolvendo tributos federais, como também estaduais e municipais? NÃO. Esse parâmetro vale, a princípio, apenas para os crimes que se relacionam a tributos federais,

considerando que é baseado no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que trata dos tributos federais. Assim, esse é o valor que a União considera insignificante. Para fins de crimes de sonegação fiscal que envolvam tributos estaduais ou municipais, deve ser analisado se há lei estadual ou municipal dispensando a execução fiscal no caso de tributos abaixo de determinado valor. Esse será o parâmetro para a insignificância. Veja como decidiu o STJ:

“(...) 4. Para a aplicação do referido entendimento aos tributos que não sejam da competência da União, seria necessária a existência de lei estadual no mesmo sentido, até porque à arrecadação da Fazenda Nacional não se equipara a das Fazendas estaduais. Precedentes e doutrina. 5. Inviável a aplicação do referido entendimento ao caso em análise, no qual o paciente foi denunciado por, em tese, suprimir o valor de R$ 819,00 (oitocentos e dezenove reais) de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência dos estados, de acordo com o art. 155, II, da Constituição Federal. 6. Um dos requisitos indispensáveis à aplicação do princípio da insignificância é a inexpressividade da lesão jurídica provocada, que pode se alterar de acordo com o sujeito passivo, situação que reforça a impossibilidade de se aplicar referido entendimento de forma indiscriminada à sonegação dos tributos de competência dos diversos entes federativos da União. (...) STJ. 6ª Turma. HC 165003/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/03/2014.

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Regime inicial da pena no caso de crimes hediondos e equiparados

Não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado.

STJ. 5ª Turma. HC 286.925-RR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/5/2014.

O que são crimes hediondos? São crimes que o legislador considerou especialmente repulsivos e que, por essa razão, recebem tratamento penal e processual penal mais gravoso que os demais delitos. A CF/88 menciona que os crimes hediondos são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia, não definindo, contudo, quais são os delitos hediondos.

Art. 5º (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Quais são os crimes hediondos no Brasil? O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos. Isso significa que é a lei quem define, de forma exaustiva (taxativa, numerus clausus), quais são os crimes hediondos.

Esta lei é a de n. 8.072/90, conhecida como Lei dos crimes hediondos.

A Lei n. 8.072/90 prevê, em seu art. 1º, o rol dos crimes hediondos:

São considerados hediondos os seguintes crimes (consumados ou tentados): I - homicídio (art. 121 do CP), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V); II - latrocínio (roubo seguido de morte) (art. 157, § 3º, in fine); III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º); V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º); VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). VIII - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B).

IX - Genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889/56).

A tortura é crime hediondo? NÃO. O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos. Estes três delitos (TTT) são equiparados (assemelhados) pela CF/88 a crimes hediondos. Em outras palavras, não são crimes hediondos, mas devem receber o mesmo tratamento penal e processual penal mais rigoroso que é reservado aos delitos hediondos.

A Lei n. 8.072/90, em sua redação original, determinava que os condenados por crimes hediondos ou equiparados (TTT) deveriam cumprir a pena em regime integralmente fechado:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: (...) § 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.

Em 23/02/2006, o STF declarou inconstitucional este § 1º do art. 2º por duas razões principais, além de outros argumentos: a) A norma violava o princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF/88), já que

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obrigava o juiz a sempre condenar o réu ao regime integralmente fechado independentemente do caso concreto e das circunstâncias pessoais do réu; b) A norma proibia a progressão de regime de cumprimento de pena, o que inviabilizaria a ressocialização do preso. STF. Plenário. HC 82959, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/02/2006.

Diante dessa decisão, o Congresso Nacional editou a Lei n. 11.464/2007, modificando o § 1º do art. 2º da

Lei n. 8.072/90:

Redação original Redação dada pela Lei 11.464/2007

§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida INTEGRALMENTE em regime fechado.

§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida INICIALMENTE em regime fechado.

O novo § 1º do art. 2º da Lei n. 8.072/90, com a redação dada pela Lei n. 11.464/2007, continua sendo inconstitucional? Os vícios de inconstitucionalidade que existiam na redação original permanecem? Esse dispositivo, em sua nova redação, continua violando o princípio constitucional da individualização da pena?

SIM. O STF decidiu que o § 1º do art. 2º da Lei n. 8.072/90, com a redação dada pela Lei n. 11.464/2007, ao impor o regime inicial fechado, é INCONSTITUCIONAL. STF. Plenário. HC 111.840/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, 27/6/2012 (Info 672). Veja os principais argumentos utilizados para se chegar a essa conclusão: A CF prevê o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI). Esse princípio também deve ser

observado no momento da fixação do regime inicial de cumprimento de pena. Assim, a fixação do regime prisional também deve ser individualizada (ou seja, de acordo com o caso concreto), ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado.

A CF prevê, no seu art. 5º, XLIII, as vedações que ela quis impor aos crimes hediondos e equiparados

(são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia). Nesse inciso, não consta que o regime inicial para esses crimes tenha que ser o fechado. Logo, não poderia o legislador estabelecer essa imposição de regime inicial fechado, por violar o princípio da individualização da pena.

Desse modo, deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início do

cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que preencham todos os demais requisitos previstos no art. 33, §§ 2º, e 3º, do CP, admitindo-se o início do cumprimento de pena em regime diverso do fechado.

O juiz, no momento de fixação do regime inicial, deve observar as regras do art. 33 do Código Penal,

podendo estabelecer regime prisional mais severo se as condições subjetivas forem desfavoráveis ao condenado, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo.

A partir dessa decisão do STF, a pergunta que surge é a seguinte: Qual é o regime inicial de cumprimento de pena do réu que for condenado por crime hediondo ou equiparado (ex: tortura ou tráfico de drogas)? O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex: tráfico de drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também o regime semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do art. 33, § 2º, alíneas “b” e “c”, do Código Penal. Assim, será possível, por exemplo, que o juiz condene o réu por tortura a uma pena de 2 anos de reclusão e fixe o regime inicial aberto.

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Mas o juiz, ao sentenciar o réu por crime de tortura, não é obrigado a aplicar o § 7º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 (Lei de Tortura) (§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado)? NÃO. Como vimos acima, o Plenário do STF decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado para os crimes hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES). Esse entendimento do STF aplica-se também para o delito de tortura, por ser este equiparado a crime hediondo.

Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei n. 9.455/1997, por ser esta norma também inconstitucional. Em suma, não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado.

Transporte de arma de fogo por praticante de tiro desportivo

Pratica o crime do art. art. 14 da Lei n. 10.826/2003 o praticante de tiro desportivo que transporta, municiada, arma de fogo de uso permitido em desacordo com os termos de sua guia de tráfego, a qual autorizava apenas o transporte de arma desmuniciada.

STJ. 6ª Turma. RHC 34.579-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 24/4/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: Durante uma blitz, a polícia encontrou, no automóvel de Fábio, um revólver calibre .22 (arma de fogo de uso permitido), carregado com cinco cartuchos intactos. Questionado sobre o fato, Fábio alegou que era praticante de tiro esportivo e apresentou aos policiais o registro da arma e uma guia de tráfego que o autorizaria a transportar o artefato bélico. Fábio praticou crime? SIM. O agente praticou o delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, previsto no art. 14 da Lei

n. 10.826/2003:

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Os praticantes de tiro esportivo possuem porte de arma de fogo? Os praticantes de tiro esportivo possuem autorização para o porte apenas no momento em que a competição é realizada. No trajeto entre o local onde está guardada a arma e o estande de tiro, a legislação não autorizou o porte, mas apenas determinou que o praticante terá direito de levar a arma consigo, desde que acompanhada por uma “guia de tráfego” expedida pelo Comando do Exército (art. 30, § 3º do Decreto 5.123/2004). Vale ressaltar que essa “guia de tráfego” não é o mesmo que “porte de arma”. Na guia de tráfego, há uma expressa determinação no sentido de que a arma de fogo deverá ser transportada dentro de recipiente próprio e separada da munição, ou seja, a arma deve estar descarregada.

Veja o que diz a Lei n. 10.826/2003, que remete ao regulamento, o detalhamento da matéria:

Art. 6º É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para:

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IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental. Art. 8º As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas legalmente constituídas devem obedecer às condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei.

Esses dispositivos foram regulamentados pelo Decreto 5.123/2004.

DIREITO PENAL MILITAR

Crime de descumprimento de missão

A ausência injustificada nos dias em que o militar tenha sido designado para a função específica de comando de patrulhas configura o crime de descumprimento de missão.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.301.155-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/4/2014.

Descumprimento de missão O art. 196 do CPM tipifica o delito de “descumprimento de missão”:

Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi confiada: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.

O crime de descumprimento de missão está previsto no capítulo de “crimes em serviço”, e a missão, aqui, deve ser entendida como incumbência, tarefa designada ao militar. No caso concreto julgado pelo STJ, o réu foi designado para a função específica de Comando de Patrulhas, mas nesse dia se ausentou. O Comando de Força Patrulha consiste verdadeira longa manus do Comandante na fiscalização das diretrizes baixadas pelo próprio Comando na execução da missão constitucional da Polícia Militar. Com este encargo, o Oficial recebe verdadeira missão, mais especificamente, a de comandar todo o efetivo na atividade operacional. Desse modo, ser designado para a função de Comando de Patrulhas é, inegavelmente, uma “missão” confiada ao militar, de forma que, ao deixar de desempenhá-la, o agente comete o crime do art. 196 do CPM.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Inaplicabilidade do princípio da indivisibilidade à ação penal pública

Na ação penal pública não vigora o princípio da indivisibilidade. Assim, o MP não está obrigado a denunciar todos os envolvidos no fato tido por delituoso, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi denunciado. Isso porque o Parquet é livre para formar sua convicção, incluindo na denúncia as pessoas que ele entenda terem praticado o crime, mediante a constatação de indícios de autoria e materialidade.

STJ. 6ª Turma. RHC 34.233-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6/5/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: João e Pedro foram denunciados pelo Ministério Público acusados da prática de peculato (art. 312 do CP). Os acusados impetraram habeas corpus no Tribunal alegando a seguinte tese: o MP deixou de denunciar algumas outras pessoas que também estariam envolvidas nesse fato delituoso. Logo, o Parquet promoveu o arquivamento implícito do inquérito em relação a esses indivíduos, o que viola o princípio da isonomia. Diante disso, não há justa causa para a ação penal proposta. O STJ concordou com a tese da defesa? NÃO. O Ministério Público não é obrigado a denunciar todos os envolvidos nos fatos tidos por delituosos, dado que não vigora, na ação penal pública incondicionada, o princípio da indivisibilidade. O princípio da indivisibilidade preconiza que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores do delito. O princípio da indivisiblidade é aplicado à ação penal privada, mas não incide no caso de ações penais públicas. O MP pode intentar a ação penal contra um autor, enquanto investiga o outro, por exemplo. Assim, o Parquet é livre para formar sua convicção, incluindo na denúncia as pessoas que ele entenda que praticaram os crimes, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi denunciado. Vale lembrar que até a sentença é possível que o MP faça o aditamento da denúncia. Nesse sentido, existem outros precedentes do STJ e do STF. Confira: (...) O oferecimento de denúncia em desfavor de alguns dos investigados em inquérito policial não gera arquivamento implícito em relação aos não-denunciados. Princípio da indivisibilidade que não é aplicável à ação penal pública incondicionada. Precedentes. (...) STJ. 5ª Turma. REsp 1255224/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/02/2014. (...) Compete ao Ministério Público, na condição de dominus litis, avaliar se há elementos de autoria e materialidade suficientes para a propositura da ação penal pública. Se determinada pessoa não foi denunciada é porque com relação a ela não está formada a opinio delicti, cuja aferição compete, em tal caso, exclusivamente ao Parquet. (...) STJ. 5ª Turma. HC 178406/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2012.

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Poderes do Relator na investigação instaurada contra magistrado

Havendo indícios da prática de crime por parte de Magistrado, desloca-se a competência para o Tribunal competente para julgar a causa, prosseguindo-se na investigação. Trata-se, pois, de regra de competência.

No Tribunal, o inquérito é distribuído ao Relator, a quem cabe determinar as diligências que entender cabíveis para a apuração, inclusive medidas cautelares, como interceptação telefônica.

Vale ressaltar que o Relator poderá delegar à Polícia a realização de atos de investigação.

O próprio Relator é quem iniciará o inquérito judicial destinado a apurar os fatos contra o Magistrado, não sendo necessário que haja prévia autorização do órgão especial do Tribunal para isso.

STJ. 6ª Turma. HC 208.657-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 22/4/2014.

O art. 33, parágrafo único, da Lei Orgânica da Magistratura (Lei Complementar n. 35/79), estabelece o seguinte:

Art. 33 (...) Parágrafo único. Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.

No Tribunal, o inquérito é distribuído ao Relator, a quem cabe determinar as diligências que entender cabíveis para realizar a apuração, podendo chegar, inclusive, ao arquivamento, se for o caso. Vale ressaltar que o próprio Relator poderá iniciar o inquérito judicial destinado a apurar os fatos, não sendo necessário que haja autorização do órgão especial do Tribunal para isso. Em outras palavras, não precisa de autorização do Tribunal para que haja a abertura de investigação contra o magistrado. Confira:

(...) O inquérito instaurado para apurar eventual prática de delito por magistrado fica sujeito à presidência do relator, mostrando-se desnecessário que o Tribunal competente para processar o feito autorize previamente a deflagração da fase preliminar da persecução criminal. Precedente do STF que examinou especificamente a garantia prevista no art. 33, parágrafo único, da LOMAN. (...) STJ. Corte Especial. AgRg na APn 626/DF, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 06/10/2010.

Nos inquéritos instaurados com o fim de apurar a prática de delitos por autoridades com foro privilegiado perante os TJ's, TRF's, STJ e STF, o Desembargador relator e o Ministro relator, respectivamente, acumulam as funções tanto de presidente do inquérito, quanto de relator do processo que será iniciado com o eventual recebimento de denúncia oferecida pelo Ministério Público. Cabe ao próprio Relator, monocraticamente, decidir sobre o deferimento de medidas constritivas de liberdade, tais como interceptações telefônicas, buscas e apreensões etc, ressalvando ao interessado a possibilidade de discutir o acerto das decisões tomadas por meio de agravo regimental a ser jugaldo pelo órgão colegiado do Tribunal. Nesse papel de presidente do inquérito, o Relator poderá delegar funções aos Delegados de Polícia que atuem nos autos do inquérito, outorgando-lhes a atribuição de agir como seu longa manus. Assim, é permitido que o Relator delegue a realização de atos instrutórios do inquérito à Polícia Federal, que os executa por expressa autorização legal e regimental.

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Manutenção da prisão cautelar mesmo o réu tendo sido condenado a regime semiaberto

Atenção! MP e Magistratura

Não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime inicial semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar.

Se ainda persistem os motivos que ensejaram a prisão cautelar (no caso, o risco de fuga), o réu deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime inicial semiaberto.

Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso, porém, ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença. Em outras palavras, o réu, enquanto aguarda seu recurso preso, deverá receber o tratamento dispensado aos condenados ao regime semiaberto.

STJ. 5ª Turma. HC 289.636-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/5/2014.

Imagine a seguinte situação: João é réu em um processo penal acusado da prática de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Durante a instrução, o réu tentou fugir, razão pela qual foi preso preventivamente para assegurar a aplicação da lei penal. O magistrado proferiu sentença condenando o acusado a uma pena de 3 anos, a ser cumprida em regime semiaberto. Na sentença, o juiz decidiu que o condenado deveria continuar preso cautelarmente, ou seja, deveria aguardar o julgamento de eventual recurso preso (art. 387, § 1º do CPP). A defesa interpôs apelação contra a decisão postulando a absolvição de João. Além disso, a defesa também impetrou habeas corpus pedindo que João aguardasse o julgamento do recurso em liberdade. A argumentação da defesa foi a seguinte: o réu foi condenado ao regime semiaberto. Ainda que a sentença seja mantida, ele não ficará no regime fechado. Logo, não é possível que o réu permaneça preso se a sentença já fixou regime semiaberto. A manutenção da prisão cautelar é incompatível para condenados ao regime semiaberto. O STJ concordou com a tese da defesa? NÃO. Para o STJ, não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime inicial semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar. Se ainda persistem os motivos que ensejaram a prisão cautelar (no caso, o risco de fuga), o réu deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime inicial semiaberto. Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso, porém, ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença. Em outras palavras, o réu, enquanto aguarda seu recurso preso, deverá receber o tratamento dispensado aos condenados ao regime semiaberto. Em nosso exemplo, João sairá da Penitenciária (local destinado ao regime fechado) e deverá ser transferido para uma colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar, eis que esse é o local de cumprimento da pena para o regime semiaberto. Lá, o condenado, enquanto aguarda o recurso, já poderá usufruir dos benefícios da execução penal, como o trabalho e a frequência a cursos. Em suma, o que o STJ decidiu é que, se o réu estava preso durante todo o processo criminal, e, na sentença, foi condenado ao regime semiaberto, isso não significa, necessariamente, que o juiz terá que revogar a prisão cautelar e conceder-lhe a liberdade. A providência a ser adotada pelo magistrado é a de garantir que esse condenado receba o tratamento destinado aos presos do regime semiaberto.

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Veja outros precedentes do STJ no mesmo sentido:

(...) A orientação pacificada nesta Corte Superior é no sentido de que não há lógica em deferir ao condenado o direito de recorrer solto quando permaneceu preso durante a persecução criminal, se presentes os motivos para a segregação preventiva. 2. Entretanto, verificado que ao recorrente foi imposto o regime inicial semiaberto de cumprimento da pena, faz-se necessário compatibilizar a custódia cautelar com o modo de execução determinado na sentença condenatória, sob pena de estar-se impondo ao apenado regime mais gravoso de segregação tão somente pelo fato de ter optado pela interposição de recurso. 3. Recurso ordinário improvido, concedendo-se, contudo, habeas corpus de ofício apenas para determinar que o recorrente aguarde o julgamento de eventual recurso em estabelecimento adequado ao regime fixado na condenação. STJ. 5ª Turma. RHC 41.665/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 05/06/2014.

(...) 3. Ainda que se considere haver elementos suficientes para a negativa do direito de recorrer em liberdade, é certo que, tendo sido fixado o regime semiaberto como inicial para o cumprimento da pena reclusiva, configura constrangimento ilegal manter o apenado submetido a regime fechado. Não se mostrando razoável que o réu aguarde o julgamento do recurso em regime prisional mais gravoso do que àquele que foi estabelecido na sentença condenatória. Precedentes. 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para assegurar ao paciente sua imediata colocação no regime semiaberto, enquanto aguarda o trânsito em julgado da condenação. STJ. 6ª Turma. HC 269.288/MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/08/2013.

CUIDADO COM ESTE PRECEDENTE A SEGUIR: Caso concreto: João e mais outras três pessoas foram presas em flagrante e denunciadas pela prática dos delitos previstos no art. 334, § 1º, “c” e “d” e art. 288, ambos do Código Penal. A pena do art. 334 é de 1 a 4 anos. A reprimenda imposta ao art. 288 é de 1 a 3 anos. Liberdade provisória João interpôs um pedido de liberdade provisória, tendo o juiz indeferido o benefício e mantido a prisão cautelar. A discussão sobre a liberdade do réu chegou até o STJ.

Decisão do STJ A 5ª Turma do STJ decidiu conceder a liberdade ao acusado. Para a Corte, é ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início do cumprimento da pena, em caso de eventual condenação, será feita em regime menos rigoroso que o fechado. No caso concreto, o STJ vislumbrou que, se o réu for condenado, ele não o será no regime fechado. Logo, por essa razão, não deveria responder o processo preso. Conforme afirmou o Ministro, a prisão provisória é providência excepcional no Estado Democrático de Direito, só sendo justificável quando atendidos os critérios de adequação, necessidade e proporcionalidade. Dessa forma, para a imposição da medida, é necessário demonstrar concretamente a presença dos requisitos autorizadores da preventiva (art. 312 do CPP) — representados pelo fumus comissi delicti e pelo periculum libertatis — e, além disso, não pode a referida medida ser mais grave que a própria sanção a ser possivelmente aplicada na hipótese de condenação do acusado. É o que se defende com a aplicação do

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princípio da homogeneidade, corolário do princípio da proporcionalidade, não sendo razoável manter o acusado preso em regime mais rigoroso do que aquele que eventualmente lhe será imposto quando da condenação. STJ. 5ª Turma. HC 182.750-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013 (Info 523). O que fazer na prática? Pela leitura dos votos, percebe-se que, a par do debate jurídico, o que realmente influencia para que o STJ mantenha ou não a prisão é a existência de indícios concretos de que a custódia é necessária para a garantia da ordem pública, para a conveniência da instrução criminal ou para evitar riscos à aplicação da lei penal. Em outras palavras, mesmo sendo possível antever que o regime será o semiaberto, a prisão cautelar é mantida quando se mostrar realmente necessária. O fato de o possível regime ser o semiaberto serve apenas como mais um elemento de fundamentação para a concessão da liberdade quando não houver motivos para a prisão. O que fazer nos concursos públicos? Em provas práticas (alegações finais, recurso, habeas corpus etc.) deve-se adotar a tese favorável à defesa (no caso da Defensoria Pública) ou à acusação (em concursos do MP). Se a prova for objetiva ou discursiva, deve-se ficar atento para os elementos fornecidos pelo enunciado da questão porque provavelmente estará sendo utilizado o caso concreto (ex: pode-se dizer que o réu já foi condenado e recorreu. Nesse caso, estará sendo adotado como paradigma o HC 289.636-SP). Na dúvida, o entendimento que prevalece é o exposto no HC 289.636-SP (Info 540), ou seja, é possível manter a prisão preventiva do réu mesmo que ele tenha sido condenado a regime semiaberto e tenha recorrido contra a sentença.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre os valores pagos a título de horas extras, adicional noturno e adicional de periculosidade

Atenção! Concursos federais

Estão sujeitas à incidência de contribuição previdenciária as parcelas pagas pelo empregador a título de:

horas extras e seu respectivo adicional adicional noturno e adicional de periculosidade.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.358.281-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 23/4/2014 (recurso repetitivo).

CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL A CF/88 prevê, em seu art. 195, as chamadas “contribuições para a seguridade social”. Consistem em uma espécie de tributo, cuja arrecadação é utilizada para custear a seguridade social (saúde, assistência e previdência social).

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

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Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos; IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

A CF/88 determina que os recursos arrecadados com as contribuições previstas no art. 195, I, “a” e II serão destinados exclusivamente para o pagamento de benefícios previdenciários do RGPS (administrado pelo INSS). Em razão disso, a maioria dos autores de Direito Previdenciário denomina as contribuições do art. 195, I, “a” e II de “contribuições previdenciárias”, como se fossem uma subespécie das contribuições para a seguridade social. Nesse sentido: Frederico Amado. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS A contribuição previdenciária é uma espécie de tributo, cujo dinheiro arrecado é destinado ao pagamento dos benefícios do RGPS (aposentadoria, auxílio-doença, pensão por morte etc.) Existem duas espécies de contribuição previdenciária:

PAGA POR QUEM INCIDE SOBRE O QUE

1ª) Trabalhador e demais segurados do RGPS (art. 195, II).

Incide sobre o salário de contribuição, exceto no caso do segurado especial.

2ª) Empregador, empresa ou entidade equiparada (art. 195, I, “a”).

Incide sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício.

O valor recebido pelo empregado a título de HORAS EXTRAS integra o salário de contribuição? Em outras palavras, incide contribuição previdenciária sobre as horas extras e seu respectivo adicional? SIM, porque constitui verba de natureza remuneratória. E o valor recebido pelo empregado a título de adicional noturno? SIM, porque também é verba de natureza remuneratória. Por fim, e o adicional de periculosidade? SIM, porque é igualmente verba remuneratória.

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CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS A CARGO DA EMPRESA

Verba Incide

contribuição previdenciária?

Fundamento

Salário maternidade SIM É verba salarial.

Salário paternidade SIM É verba salarial.

Horas extras SIM É verba salarial.

Adicional noturno SIM É verba salarial.

Adicional de periculosidade SIM É verba salarial.

Terço de férias indenizadas NÃO A Lei 8.212/91 determina que não incide.

Terço de férias gozadas NÃO É verba indenizatória.

Aviso prévio indenizado NÃO É verba indenizatória.

Valor pago pela empresa ao empregado nos 15 dias que antecedem o auxílio-doença

NÃO Não é verba salarial.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (TJDFT 2012) Embora não seja admitida a intervenção de terceiros no processo da Ação Direta de

Inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal vem permitindo o “Amicus curiae”, para possibilitar à sociedade um mais amplo debate da questão constitucional. ( )

2) (MP/SP 2012) A figura do amicus curiae ou “amigo da Corte”, cuja função primordial é juntar aos autos parecer ou informações com o intuito de trazer à colação considerações importantes sobre a matéria de direito a ser discutida pelo Supremo Tribunal Federal, bem como acerca dos reflexos de eventual decisão sobre a inconstitucionalidade ou constitucionalidade da espécie normativa impugnada pode ser admitida a qualquer tempo, antes do julgamento final, exigindo a maioria de 2/3 dos membros do STF. ( )

3) (DPE/RR 2013 CESPE) O STF admite o ingresso de amicus curiae na ADI, reconhecendo-lhe o direito de aditar o pedido formulado pelo autor da referida ação. ( )

4) (TJ/BA 2012 – CESPE) No processo objetivo do controle de constitucionalidade, a intervenção do amicus curiae equivale à intervenção de terceiros, o que lhe garante a prerrogativa de interpor recurso para discutir a matéria objeto de análise na ação em que atua. ( )

5) (Juiz Federal TRF2 2009 – CESPE) O STF admite a figura do amicus curiae na ADC, sem, contudo, reconhecer-lhe a faculdade de interpor recurso quanto à matéria objeto do processo objetivo, salvo quando se insurge contra a decisão que não admite sua intervenção. ( )

6) (DPE/SP 2012 – FCC) É possível a intervenção de amicus curiae no procedimento de análise da repercussão geral em recurso extraordinário, dando legitimação social à decisão do STF. ( )

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7) (Juiz TJRN 2013 CESPE) Em se tratando de recurso extraordinário interposto pela União, tendo havido reconhecimento pelo STF da repercussão geral da questão suscitada nesse recurso, não é possível o ingresso de estado da Federação como amicus curiae, já que essa forma de ingresso é possível apenas em ação de controle concentrado de constitucionalidade. ( )

8) (PFN 2012 – ESAF) A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, diante da importância da apreciação de controvérsias sob a sistemática do julgamento por amostragem de recursos repetitivos, permite a ampla participação de amicus curiae, inclusive com direito à sustentação oral. ( )

9) (PGE/MS 2014) Ao interpretar a possibilidade legal (artigo 543-A, §6º, CPC) de manifestação de terceiros na análise da repercussão geral, o STF passou a admitir o ingresso de amici curiae no procedimento da repercussão geral no recurso extraordinário, admitindo, inclusive, que produzam sustentação oral na sessão de julgamento. ( )

10) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) O amicus curiae somente pode demandar a sua intervenção até a data em que o relator liberar o processo para pauta de julgamento, e a sua participação será autorizada mediante despacho irrecorrível do relator nas ações diretas de inconstitucionalidade; porém a sua participação não será cabível no procedimento de controle difuso de constitucionalidade. ( )

11) (Procurador BACEN 2013 CESPE) A legislação de regência veda expressamente a participação de amicus curiae em ADI por omissão, embora admita a participação dos demais legitimados para a ação. ( )

12) (TJ/CE 2012 – CESPE) Na ação direta de inconstitucionalidade por omissão, admite-se a participação do amicus curiae, bem como de peritos especializados na realização de audiências públicas. ( )

13) (Juiz TJDF 2014 CESPE) Se determinada entidade, pretendendo opor embargos de declaração em face de acórdão proferido em recurso especial representativo de controvérsia, requerer sua admissão como terceiro, tal pedido deverá ser rejeitado pelo STJ, já que a admissão de terceiros ou amicus curiae para manifestação em recurso especial admitido como representativo de controvérsia somente poderá ocorrer antes do seu julgamento pelo órgão competente. ( )

14) (Juiz TJDFT 2014 CESPE – adaptada) A cláusula penal moratória compensa o inadimplemento, o que impede a responsabilização civil do promitente vendedor pelo valor referente aos lucros cessantes. ( )

15) (Juiz TJDFT 2014 CESPE – adaptada) O promitente comprador, no caso de atraso na entrega do imóvel adquirido, tem direito de exigir, além do cumprimento da obrigação e do pagamento do valor da cláusula penal moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela não fruição do imóvel durante o período da mora. ( )

16) (Juiz TJCE 2014 FCC) Nos contratos de financiamento, por instituição financeira, com alienação fiduciária em garantia de bem móvel, não sendo paga a dívida, o credor A) poderá promover ação de busca e apreensão do bem, que terá de ser vendido judicialmente para satisfação de seu crédito. B) poderá promover ação de busca e apreensão do bem e deverá vendê-lo para satisfazer seu crédito. C) só poderá cobrar a dívida, porque, desde a edição da súmula vinculante no 25 do Supremo Tribunal Federal, não poderá ocorrer a prisão do fiduciante, que é considerado depositário, se o bem não for encontrado. D) poderá promover ação de busca e apreensão do bem alienado e, alternativamente, vendê-lo para satisfazer seu crédito ou consolidar definitivamente o domínio em seu patrimônio, a título de pagamento. E) poderá promover ação de busca e apreensão do bem, independentemente de notificação prévia do devedor ou de protesto do título, porque a mora se configura pela falta de pagamento no respectivo termo.

17) (Juiz TJDF 2014 CESPE – adaptada) Considere que o executado tenha oposto embargos à execução, com

fundamento em excesso de execução, sem apontar na petição inicial o valor que considerava correto e sem apresentar memória de cálculo, fato que levou o magistrado a rejeitar liminarmente os embargos. Nessa situação hipotética, a decisão do magistrado foi correta, pois competia ao executado indicar o

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valor que entendia ser o correto, juntamente com a memória do cálculo, não cabendo ao juiz, diante do fato, determinar a emenda à inicial. ( )

18) (Analista TJAM 2013 FGV) Na ação penal privada vigora o princípio da indivisibilidade. ( ) 19) (OAB X 2013 FGV) Um professor na aula de Processo Penal esclarece a um aluno que o Ministério

Público, após ingressar com a ação penal, não poderá desistir dela, conforme expressa previsão do Art. 42 do CPP. O professor estava explicando ao aluno o princípio da A) indivisibilidade. B) obrigatoriedade. C) indisponibilidade. D) intranscedência.

20) (Juiz TJPA 2012 CESPE) Em delito de ação pública incondicionada, o fato de, eventualmente, existirem outros agentes que, não denunciados, teriam participado do crime não induz à anulação do processo já instaurado, porquanto os princípios da indivisibilidade e da obrigatoriedade da ação penal obstam o ajuizamento, em separado, de outra ação pelo MP, mas não o aditamento da denúncia, em momento oportuno, depois de coligidos elementos suficientes para embasar a acusação. ( )

21) (Juiz TJMS 2012) São princípios que regem as ações penais públicas a obrigatoriedade, a indisponibilidade, a oficialidade e a indivisibilidade. ( )

Gabarito

1. C 2. E 3. E 4. E 5. C 6. C 7. E 8. E 9. C 10. E

11. E 12. C 13. C 14. E 15. C 16. Letra B 17. C 18. C 19. Letra C 20. E 21. E