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Índice de Massa Corporal, Estado Geral e
Cancro do Pulmão
Body Mass Index, General Status and
Lung Cancer
Luís Miguel Monteiro da Silva
Orientado por: Mestre Sónia Xará
Trabalho de Investigação
Porto, 2009
i
Índice
Lista de Abreviaturas ......................................................................................... iii�
Lista de Quadros e Tabelas ............................................................................... iv�
Resumo ............................................................................................................... v�
Abstract ............................................................................................................. vii�
Introdução .......................................................................................................... 1�
Objectivos .......................................................................................................... 7�
Participantes e Métodos ..................................................................................... 7�
Resultados ....................................................................................................... 10�
Discussão ......................................................................................................... 15�
Conclusões ...................................................................................................... 20�
Referências Bibliográficas ................................................................................ 21�
Anexos ............................................................................................................. 27�
ii
iii
Lista de Abreviaturas
CP – Cancro do Pulmão
CPPC – Cancro do Pulmão de Pequenas Células
CPNPC – Cancro do Pulmão de Não Pequenas Células
PS – Performance Status
QdV – Qualidade de Vida
ECOG - Eastern Co-operative Oncology Group
OMS – Organização Mundial de Saúde
IMC – Índice de Massa Corporal
CHVNG/E, EPE – Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Entidade
Pública Empresarial
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
PG-SGA – Patient Generated Subjective Global Assessment
iv
Lista de Quadros e Tabelas
Lista de Quadros:
Quadro 1 – Estadios do CP segundo a classificação TNM ................................ 3�
Quadro 2 – Escala de valores do PS (ECOG/OMS) .......................................... 3�
Lista de Tabelas:
Tabela 1 – Caracterização demográfica e clínica da amostra.
……………………………... ............................................................................... 11
Tabela 2 – Análise descritiva de frequências entre as relações IMC, tipo
histológico e estadio de doença………………………………………………. ...... 12
Tabela 3 – Análise descritiva de frequências entre as relações perda de peso, tipo
histológico e estadio de doença………………………………………………. ...... 13
Tabela 4 – Análise descritiva de frequências entre as relações PS, tipo histológico
e estadio de doença .................. ……………………………………………………14
v
Resumo
Introdução: O cancro do pulmão (CP) é uma das neoplasias com maior
incidência em todo o mundo e a principal causa de morte por cancro. Os vários
tipos histológicos e estadios de doença apresentam incidências diferentes. O
Índice de Massa Corporal (IMC), a perda de peso e o performance status (PS) na
data de diagnóstico, são factores que vão influenciar o tratamento, a qualidade de
vida e a sobrevivência do doente.
Objectivo: Avaliar se o IMC, a perda de peso e o PS se relacionam com o tipo
histológico e o estadio da doença na data de diagnóstico de CP.
Participantes e Métodos: Estudo retrospectivo com 163 doentes com CP
seguidos em regime de ambulatório tendo sido recolhidos os seguintes dados:
sexo, idade, data de diagnóstico, tipo histológico, estadio de doença, IMC, perda
de peso e PS. Foram calculadas as frequências, absolutas e relativas para as
variáveis categóricas e médias e desvios-padrão para as variáveis numéricas.
Para o estudo da relação entre as variáveis utilizou-se o teste Qui-Quadrado de
Pearson. A análise de dados foi feita de acordo com o IMC, % de perda de peso e
PS, de modo a determinar relações entre estes parâmetros e o tipo histológico e
estadio de doença. A análise estatística foi feita com recurso ao programa SPSS
17.0.
Resultados: Na data de diagnóstico, a maioria dos doentes apresentava um IMC
normal (50,9%), uma perda de peso superior a 5% (54,0%) e apresentavam-se
em PS1 (69,9%). O adenocarcinoma foi o tipo histológico mais frequente (40,5%)
e 81,6% dos doentes encontravam-se em estadios avançados de doença.
Nenhum doente com CP Pequenas Células apresentava baixo peso à data de
diagnóstico. A maioria dos doentes com baixo peso e com perda de peso superior
vi
a 10% encontrava-se em estadios avançados de doença (81,8% e 88,0%,
respectivamente). Dos doentes com uma perda de peso inferior a 5%, 51,5%
destes apresentavam adenocarcinoma. Não se verificaram relações com
significado estatístico entre o IMC e o tipo histológico e entre o IMC e o estadio de
doença. A perda de peso é significativamente superior nos doentes em estadios
avançados (p=0,042), mas é independente do tipo histológico. A maioria dos
doentes em PS0 (75,0%) apresentava o diagnóstico de adenocarcinoma. Todos
os doentes em PS4 encontravam-se em estadios avançados. Não existiu uma
relação significativa entre o PS e o tipo histológico e entre o PS e o estadio de
doença.
Conclusões: À data de diagnóstico apenas a perda de peso se encontrava
relacionada com o estadio do CP.
Palavras-Chave: Cancro do Pulmão, Índice de Massa Corporal, Perda de Peso,
Performance Status, Tipo Histológico, Estadio de Doença.
vii
Abstract
Introduction: Lung cancer (LC) is one of the most occurring neoplasias all over
the world and the main cause of cancer mortality. The various histological types
and stages of disease present different incidence rates. The Body Mass Index
(BMI), weight loss and performance status (PS) at the time of the diagnosis
constitutes factors that will influence treatment, quality of life and patient’s survival.
Objectives: Evaluate if the BMI, weight loss and PS are related with the
histological type and stage of disease by the time of LC diagnosis.
Participants and Methods: A retrospective study was conducted with 163
outpatients with LC and there have been collected the following data: gender, age,
date of diagnosis, histological type, stage of disease, BMI, weight loss and PS.
The absolute and relative frequencies were calculated for categorical variables as
means and standard deviation was calculated for numerical ones. Relations
between variables were calculated with Pearson’s Chi-Square. Data analysis
referred to BMI, percentage of weight loss and PS, in order to determine relations
between the parameters and the histological type and the stage of disease.
Statistical analysis was made through SPSS 17.0.
Results: At the time of diagnosis, most patients presented a normal BMI (50.9%),
a weight loss over 5% (54.0%) and were in PS1 (69.9%). Adenocarcinoma was the
most frequent histological type (40.5%) and 81.6% of patients were in advanced
stages of disease.
There was no patient with Small Cell LC and low weight at the time of diagnosis.
Most patients with low weight and weight loss over 10% were in advanced stages
of disease (81.8% and 88.0%, respectively). Of patients with weight loss lower 5%,
51.5% these presented a adenocarcinoma. There were no significant statistical
viii
relations between PS and histological type and PS and stage of disease. Weight
loss is significantly over in advanced stages patients (p=0.042), but independent of
the histological type. Most patients in PS0 (75.0%) had the diagnosis of
adenocarcinoma. All the patients in PS4 were in advanced stage. There was no
significant relation between PS and histological type or between PS and stage of
disease.
Conclusions: At the time of diagnosis only weight loss was related to LC satge.
Keywords: Lung cancer, Body Mass Index, Weight Loss, Performance Status,
Histological Type, Stage of Disease.
1
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Introdução
O Cancro do Pulmão (CP) apresenta neste momento proporções
alarmantes, tendo sido em 2002 o tipo de cancro com maior incidência em todo o
mundo (1,4 milhões de casos)(1). Neste mesmo ano foi responsável por 1,18
milhões de mortes, tornando-o a principal causa de morte por cancro(2). O CP
representa cerca de 12% de todos os tipos de neoplasia, sendo 75% dos casos
em indivíduos do sexo masculino(1).
Nos Estados Unidos, estima-se que para este ano (2009) o CP seja o
segundo tipo de cancro com maior incidência, em ambos os sexos, apenas o
cancro da próstata, no sexo masculino e o da mama, no sexo feminino têm uma
estimativa superior(3). Prevê-se que o CP seja responsável por 30% e 26% das
mortes por cancro no sexo masculino e feminino, respectivamente, mantendo-se
como a principal causa de morte por neoplasia em ambos os sexos(3).
Na Europa, no ano de 2006, o CP, tal como nos Estados Unidos, foi o
segundo tipo de cancro com maior incidência no sexo masculino (292 200 casos),
e o quarto no sexo feminino, com tendência a aumentar nesta população(4, 5). Com
334 800 mortes (253 300 no sexo masculino e 81 500 no sexo feminino), o CP
constitui também na Europa a principal causa de morte por cancro(4).
Em Portugal, estima-se uma incidência bruta de 34/100 000 com 28/100
000 novos casos de CP para o sexo masculino e 6/100 000 para o sexo
feminino(6). Tal como no resto do mundo, no nosso país, o CP é a principal causa
de morte por neoplasia(7).
O CP divide-se fundamentalmente em dois grandes tipos histológicos, o CP
Pequenas Células (CPPC) e o CP Não Pequenas Células (CPNPC), que
representam cerca de 90 a 95% dos casos de CP(1). Por sua vez, o CPNPC
2
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
encontra-se ainda dividido em diferentes subtipos: os adenocarcinomas (30 a
45% dos casos de CPNPC), os carcinomas epidermóides (30 a 35% dos casos de
CPNPC) e os CPNPC indiferenciados(1).
Cerca de 10 a 15% dos casos de CP são CPPC, apresentando este tipo
histológico uma entidade patológica distinta do CPNPC, devido à sua
agressividade biológica, à tendência pronunciada para a ocorrência de
metástases à distância e um prognóstico reservado, apesar de ter uma boa
resposta inicial à quimioterapia(1, 8)
O estadiamento do CP faz-se através do sistema de classificação de
Tumores Malignos – TNM, definindo estadios que traduzem a extensão anatómica
do tumor, sendo um instrumento de trabalho que ajuda a definir o prognóstico
(Quadro 1)(9).
A descrição T (1,2,3,4) classifica o tamanho do tumor e a sua invasividade
local. A descrição N (0,1,2,3) indica a presença ou ausência de metástases do
tumor nos gânglios regionais, de acordo com a localização e a descrição M (0,1)
define a presença ou ausência de metástases à distância(9).
Habitualmente o diagnóstico de CP é feito muito tardiamente, encontrando-
se apenas cerca de 20% dos doentes em estadio cirúrgico na altura do
diagnóstico (estadios I, II e IIIa) (7, 8).
3
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Estadio Subtipo TNM
Ia T1N0M0
Ib T2N0M0
IIa T1N1M0
IIb T2N1M0 / T3N0M0
IIIa T3N1M0
T1N2M0 / T2N2M0 / T3N2M0
IIIb T4N0M0 / T4N1M0 / T4N2M0
T1N3M0 / T2N3M0 / T3N3M0 / T4N3M0
IV TqualquerNqualquerM1
Quadro 1 - Estadios do CP segundo a classificação TNM
Em oncologia, um dos parâmetros utilizados para avaliação funcional do
doente é o performance status (PS), estando este correlacionado com a presença
de co-morbilidades, com a resposta esperada à terapêutica, com a qualidade de
vida (QdV) e a sobrevivência do doente(10).
A escala de valores do PS preferencialmente utilizada é a da Eastern
Co-operative Oncology Group (ECOG)/Organização Mundial de Saúde (OMS),
devido à sua simplicidade (Quadro 2)(10, 11).
Esta escala é utilizada para determinar quais os doentes que
apresentam um estado geral que permita efectuar o tratamento delineado(10).
Contudo tal avaliação é considerada, por outros autores, bastante subjectiva(12).
0 - Actividade normal.
1 - Restringida a actividade física extenuante, mas em ambulatório.
2 - Em ambulatório, mas incapaz de realizar qualquer actividade de trabalho.
3 - Restringido à cama ou cadeira por mais de 50% das horas em que está acordado
4 - Totalmente restringido a permanecer na cama ou na cadeira.
5 – Morte
Quadro 2 - Escala de valores do PS (ECOG/OMS)
4
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Os doentes com cancro apresentam frequentemente sintomas como a
perda de peso e desnutrição(13, 14). A frequência da desnutrição varia entre os 9%
em doentes com cancro do sistema urinário, 46% em doentes com CP e os 85%
em doentes com cancro pancreático. O estadio da doença e o tipo de tratamento
também influenciam a frequência de desnutrição nestes doentes(13). O
agravamento da desnutrição pode levar à perda de massa livre de gordura
(caquexia) e comprometimento das funções musculares, imunitárias, físicas e
psicológicas (14, 15).
A perda de peso nestes doentes está associada ao comprometimento da
função física e diminuição da QdV pondo também em causa o efeito das
diferentes opções terapêuticas (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia)(16). Nos
doentes cirúrgicos, a perda de peso está associada com o aumento de
complicações pós-operatórias e com a mortalidade(16). Nestes doentes, a perda
de peso é considerada um factor independente da sobrevivência(16).
Kruizenga et al (2003) analisaram a prevalência de desnutrição associada
à doença na Holanda, e verificaram que 20% dos doentes com cancro (cabeça e
pescoço, pulmão, intestino e órgãos reprodutores) apresentavam uma perda de
peso superior a 10% e 19% dos doentes uma perda de peso entre 5 e10%(17).
A desnutrição está presente em 25-40% dos doentes no momento da
admissão hospitalar, aumentando para cerca de 60% durante o internamento
hospitalar(18, 19). Estes dados evidenciam a importância da implementação do
rastreio nutricional desde o momento do diagnóstico e com a regularidade clínica
necessária de acordo com a situação clínica, assim como da necessidade de
efectuar aconselhamento nutricional individualizado(20-24). Ravasco et al (2003)
verificaram que o aconselhamento alimentar possibilitou aumentar a ingestão
5
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
nutricional e melhorar a QdV de doentes com cancro (gastrointestinal, cabeça e
pescoço, próstata, mama, pulmão, cérebro útero e vesícula biliar), durante o
tratamento com radioterapia (24). Unsal et al (2006) evidenciaram que a
desnutrição é um problema importante em doentes submetidos a radioterapia, e
que uma avaliação atempada é decisiva para a implementação de um adequado
suporte nutricional nestes doentes(25).
O Índice de Massa Corporal (IMC) e o CP têm sido objecto de vários
estudos que associam um elevado risco de desenvolver CP em indivíduos com
baixos valores de IMC, apresentando este último diferentes pontos de corte de
acordo com os estudos (<23,1 kg/m2(26); <20,8 kg/m2(27); 18,5kg/m2(28) e <21,26
kg/m2(29)). Esta associação é mais clara nos indivíduos de sexo masculino,
podendo ser justificada pelo facto de a existência de hábitos tabágicos e de
doenças respiratórias (exemplo: Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) serem
mais prevalentes nos homens(27). A associação entre o IMC e os diferentes tipos
histológicos de CP está também descrita em estudos científicos(27, 30, 31). Olson et
al (2002) demonstraram uma associação inversa entre o IMC e o risco de
adenocarcinoma, enquanto que Kanashiki et al (2005) evidenciaram que tanto a
magreza como a obesidade, aumentam o risco de adenocarcinoma, no sexo
masculino(27, 30). Oh et al (2005) mostraram haver uma relação positiva entre o
aumento do IMC e o risco de CPPC e uma relação negativa com o risco de
desenvolver carcinoma epidermóide(31).
Apesar de serem várias as referências na literatura que correlacionam o
IMC, a perda de peso e o PS em doentes com CP, desconhecemos estudos que
tenham como objectivo avaliar e relacionar especificamente estes parâmetros à
data de diagnóstico, justificando-se assim a realização deste trabalho. A avaliação
6
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
inicial destes parâmetros adquire um papel importante na perspectiva de uma
actuação precoce, pois deverá constituir uma mais-valia na previsão do
prognóstico e da QdV futura do doente, podendo assim contribuir na decisão da
melhor opção terapêutica.
7
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Objectivos
O presente estudo tem como objectivo analisar, na data de diagnóstico de
CP, se existe relação entre o IMC, a perda de peso e o PS e o tipo histológico de
CP e estadio de doença.
Participantes e Métodos
Foi realizado um estudo observacional de natureza retrospectiva na
Unidade de Pneumologia Oncológica do Serviço de Pneumologia do Centro
Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Entidade Pública Empresarial
(CHVNG/E, EPE).
Amostra
Foram incluídos neste estudo 163 doentes seguidos em regime de
ambulatório na Unidade de Pneumologia Oncológica do CHVNG/E, EPE com
diagnóstico de CP (CPPC e CPNPC – Adenocarcinoma, Carcinoma Epidermóide
e CPNPC indiferenciado,), entre Janeiro de 2006 e Abril de 2009. A amostra
utilizada corresponde a 48,1% do número total de casos diagnosticados neste
mesmo período de tempo nesta unidade. Foram usados como critérios de
exclusão a ausência de registo no processo clínico de dados referentes ao peso,
altura, perda de peso nos últimos seis meses ou PS na altura do diagnóstico.
8
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Recolha de dados
A recolha da informação foi realizada através da consulta dos processos
clínicos e dos registos informáticos referentes a cada processo. Foram recolhidos
dados sócio-demográficos como o sexo e a idade, assim como, a data de
diagnóstico, o tipo histológico e o estadio inicial de doença. Para o cálculo do IMC
(1) foram utilizados os dados referentes ao peso (kg) e à altura (m) registados no
processo clínico à data do diagnóstico. Para avaliação do estado geral foi utilizada
a percentagem de perda de peso dos últimos seis meses (% perda de peso) (2), e
o valor de PS à data de diagnóstico.
(1) IMC (Kg/m2) = Peso (kg)/Altura2(m) (32)
(2) % perda de peso = [(peso habitual (Kg) - peso actual (Kg))/ peso
habitual (Kg)] x 100
Os participantes foram divididos de acordo com a % de perda de peso (<
5%; 5-10%; > 10%) e de acordo com as classes de IMC definidas pela OMS(33)
(baixo: <18,5 kg/m2; normal: 18,5-24,9 kg/m2 e excesso de peso/obesidade: ≥25,0
kg/m2).
Este estudo foi previamente aprovado pela Comissão de Ética do
CHVNG/E, EPE (Anexo 1).
Análise de dados
A estatística descritiva consistiu no cálculo de frequências, absolutas e
relativas para as variáveis categóricas, e médias e desvios-padrão para as
variáveis numéricas. Para o estudo da relação entre duas variáveis nominais ou
ordinais, por si só e entre si, utilizou-se o teste Qui-Quadrado de Pearson.
9
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
O nível de significância utilizado foi de 0.05. O software estatístico utilizado
foi o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0.
Na análise dos dados de acordo com o estadio da doença agruparam-se os
doentes em dois grupos de acordo com o estadio (estadios precoces: I, II e IIIa vs
estadios avançados: IIIb e IV). O estadio IIIb é considerado um estadio avançado
porque inclui tumores com uma vasta extensão extra-pulmonar, invadindo
estruturas como o esófago, traqueia, coração ou vértebras, enquanto no estadio
IIIa a extensão do tumor está limitada(9).
Realizou-se a análise de dados de acordo com o IMC, a % de perda de
peso e o PS.
10
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Resultados
Na amostra de 163 doentes com CP, 128 doentes (78,5%) são do sexo
masculino e 35 doentes (21,5%) do sexo feminino, com uma média de idades de
65,0 anos (desvio padrão =12,5) (Tabela 1).
Na tabela 1, podemos observar que, à data de diagnóstico, apenas 6,7%
dos doentes apresentava baixo peso, dos quais 90,9% eram do sexo masculino, e
15,3% dos doentes apresentavam uma perda de peso superior a 10%, sendo a
maioria destes doentes do sexo masculino (84,0%). A maioria dos doentes em
PS0 a PS3 era também do sexo masculino. O tipo histológico mais frequente foi o
adenocarcinoma (40,5%) e a maioria dos doentes (81,6%) encontrava-se num
estadio avançado de doença (IIIb e IV), dos quais 78,2% eram do sexo masculino
(Tabela 1).
11
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Sexo feminino n = 35
Sexo masculino n = 128
Idade (anos)
média (desvio padrão)66,4 (13,1) 64,6 (12,3)
Índice Massa Corporal (kg/m2)*
Baixo peso (<18,5) 1 (9,1) 10 (90,9)
Normal (18,5-24,9) 12 (14,5) 71 (85,5)
Excesso de peso/Obesidade (≥25,0) 22 (31,9) 47 (68,1)
Perda de peso (%)*
<5 16 (21,3) 59 (78,7)
5-10 15 (23,8) 48 (76,2)
>10 4 (16,0) 21 (84,0)
Performance Status*
0 3 (18,8) 13 (81,2)
1 24 (21,1) 90 (78,9)
2 7 (26,0) 20 (74,0)
3 0 (0,0) 4 (100,0)
4 1 (50,0) 1 (50,0)
Tipo histológico*
CPPC 2 (12,5) 14 (87,5)
CPNPC
Indiferenciado 13 (32,5) 27 (67,5)
Adenocarcinoma 19 (28,8) 47 (71,2)
Epidermóide 1 (2,4) 40 (97,6)
Estadio*
Precoce 6 (20,0) 24 (80,0)
Avançado 29 (21,8) 104 (78,2)
Tabela 1- Caracterização demográfica e clínica da amostra
*n (%)
12
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Verificamos que os doentes com baixo peso (6,7%) pertencem todos ao
tipo histológico CPNPC, não existindo nenhum doente com CPPC e baixo peso
(Tabela 2).
A maioria dos doentes que na data de diagnóstico apresentavam baixo
peso encontrava-se em estadios avançados de doença (81,9%). De acordo com a
análise efectuada não existe relação com significado estatístico entre o IMC e o
tipo histológico, e entre o IMC e o estadio da doença (Tabela 2).
Índice Massa Corporal (kg/m2)
Baixo peso
(n=11)
Normal
(n=83)
Excesso de peso/Obesidade
(n=69)
p¥
Tipo histológico* n.s.
CPPC 0 (0,0) 8 (9,6) 8 (11,6)
CPNPC
Indiferenciado 2 (18,1) 20 (24,1) 18 (26,1)
Adenocarcinoma 4 (36,4) 34 (41,0) 28 (40,6)
Epidermóide 5 (45,5) 21 (25,3) 15 (21,7)
Estadio* n.s.
Precoce 2 (18,1) 14 (16,9) 14 (20,3)
Avançado 9 (81,9) 69 (83,1) 55 (79,7)
Tabela 2 - Análise descritiva de frequências entre as relações IMC, tipo histológico e estádio de
doença
¥ Qui-Quadrado de Pearson; n.s. = não significativo
*n (%)
13
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Analisando os dados dos doentes com uma perda de peso inferior a 5 %,
verificamos que 45,4% destes apresentavam adenocarcinoma. A maioria dos que
apresentam uma perda de peso superior a 10 % encontrava-se num estadio
avançado de doença (88,0%). Observa-se que a perda de peso é
significativamente superior nos doentes em estadios avançados (p=0,042) mas é
independente do tipo histológico (Tabela 3).
Perda de peso (%)
<5
(n=75)
5-10
(n=63)
>10
(n=25)
p¥
Tipo histológico* n.s.
CPPC 7 (9,3) 5 (7,9) 4 (16,0)
CPNPC
CPNPC indiferenciado 16 (21,3) 16 (25,4) 8 (32,0)
Adenocarcinoma 34 (45,4) 25 (39,7) 7 (16,0)
Epidermóide 18 (24,0) 17 (27,0) 6 (24,0)
Estadio* ,042
Precoce 20 (26,7) 7 (11,1) 3 (12,0)
Avançado 55 (73,3) 56 (88,9) 22 (88,0)
Tabela 3 - Análise descritiva de frequências entre as relações perda de peso, tipo histológico e
estádio de doença
¥ Qui-Quadrado de Pearson; n.s.= não significativo
* n (%)
14
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Quanto ao PS, é possível verificar que a maioria dos doentes em PS0
(75,0%) tem o diagnóstico de adenocarcinoma (Tabela 4). Os dois doentes em
PS4 encontravam-se em estadios avançados (Tabela 4).
Segundo os nossos dados não existe relação, com significado estatístico,
entre o PS e o tipo histológico e entre o PS e o estadio da doença (Tabela 4).
Performance Status
0
(n=16)
1
(n=114)
2
(n=27)
3
(n=4)
4
(n=2)
p¥
Tipo histológico* n.s.
CPPC 1 (6,3) 13 (11,4) 2 (7,4) 0 (0,0) 0 (0,0)
CPNPC
Indiferenciado 1 (6,3) 34 (29,8) 4 (14,8) 1 (25,0) 0 (0,0)
Adenocarcinoma 12 (75,0) 37 (32,5) 14 (51,9) 1 (25,0) 2 (100,0)
Epidermóide 2 (13,4) 30 (26,3) 7 (25,9) 2 (50,0) 0 (0,0)
Estadio* n.s.
Precoce 6 (37,5) 21 (18,4) 2 (7,4) 1 (25,0) 0 (0,0)
Avançado 10 (62,5) 93 (81,6) 25 (92,6) 3 (75,0) 2 (100,0)
Tabela 4 - Análise descritiva de frequências entre as relações PS, tipo histológico e estádio de
doença
¥ Qui-Quadrado de Pearson; n.s.= não significativo
*n (%)
15
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Discussão
Neste estudo, as características demográficas da amostra, como a idade e
a elevada percentagem de doentes do sexo masculino são semelhantes às
encontradas em estudos já efectuados(7, 34).
Quanto ao tipo histológico, a nossa amostra era constituída
maioritariamente por doentes com CPNPC cujo tipo histológico era o
adenocarcinoma seguido do epidermóide. Relativamente ao estadio da doença,
81,6% dos doentes encontravam-se em estadios avançados de doença à data de
diagnóstico (IIIb e IV). Estes resultados são também coincidentes com os
encontrados noutros estudos em que o adenocarcinoma constituía o tipo
histológico mais frequente e a maioria dos doentes se encontravam já em
estadios avançados de doença na data da avaliação(7, 34, 35).
Os nossos dados vêm reforçar a tendência para um aumento da incidência
dos adenocarcinomas constatada em estudos prévios(36, 37). Este facto pode
dever-se ao aparecimento de métodos de diagnóstico mais avançados e
alterações do estilo de vida entre outras e tem contribuído para a diminuição da
proporção de cancro classificados como CPNPC indiferenciados(37).
Ao analisar os resultados da perda de peso verificamos que diferem dos
encontrados noutro estudo realizado em doentes com CP, dos quais a maioria
(80,7%) apresentava uma perda de peso inferior a 5%(38). Este facto pode ser
explicado pela maioria dos doentes se encontrarem em estadios de doença
precoces à data de diagnóstico (I, II e IIIa)(38). Noutro estudo, Khalid et al (2007)
numa amostra em que 81% dos doentes tinham cancro gastrointestinal e apenas
19% tinham CP, verificaram que 58% apresentavam à data de diagnóstico uma
perda de peso entre 5 e 10% e 33% dos doentes uma perda de peso superior
16
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
a10%(16). Este resultado pode ser justificado pelo facto de a maioria dos doentes
terem cancro gastrointestinal estando este tipo de cancro associado a frequências
de perda de peso superiores às dos doentes com CP (39).
No mesmo estudo, o IMC foi um dos parâmetros avaliados, tendo 58,0%
dos doentes um IMC normal e apenas 6,6% um IMC inferior a 18,5 kg/m2(16).
Kanashiki et al (2005) num estudo realizado em doentes com CP, observaram
que a maioria dos doentes na data de diagnóstico, em ambos os sexos,
apresentavam um IMC normal, sendo estes resultados semelhantes aos
observados na nossa amostra(27).
Pelo exposto, podemos refrir que apesar de a amostra analisada no nosso
estudo não representar a totalidade de casos de CP diagnosticados entre Janeiro
de 2006 e Abril de 2009 nesta unidade, o que constitui uma limitação, ilustra o tipo
de doentes em tratamento numa unidade prestadora de cuidados de saúde desta
natureza.
Os resultados obtidos no nosso trabalho são semelhantes aos encontrados
em estudos com doentes com outros tipos de neoplasia. Num estudo em doentes
com cancro do estômago em período pós-operatório, dos quais 53,8% pertenciam
ao sexo masculino, 57,6% apresentaram uma perda de peso entre 5 e 10% nos 6
meses anteriores e 48,0% um IMC superior a 25,0 kg/m2(40). Noutro estudo com
220 doentes com cancro gastro-esofágico, sendo a maioria do sexo masculino
(66,0%) e 73,0% dos doentes encontrava-se em estadios avançados na data de
diagnóstico e 39,0% dos doentes apresentavam uma perda de peso superior a
10%, valor superior ao observado na nossa amostra(41).
No nosso trabalho não foi encontrada nenhuma relação entre o IMC e o
tipo histológico e o IMC e o estadio da doença, na data de diagnóstico. Contudo,
17
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
não conhecemos estudos prévios que avaliem esta relação no momento de
diagnóstico. Os estudos existentes tinham como objectivo avaliar a associação
entre o IMC e o risco de desenvolver um determinado tipo histológico ou avaliar a
associação entre o IMC e a sobrevivência.
Olson et al (2002) realizaram um estudo prospectivo onde verificaram que
mulheres com um IMC elevado (> 30,7 kg/m2) têm menos 40,0% de probabilidade
de desenvolver CPPC ou adenocarcinoma, e menos 75,0% de probabilidade de
desenvolver carcinoma epidermóide(30). Win et al (2008) realizaram um estudo
prospectivo com 110 doentes diagnosticados com CPNPC em estadios cirúrgicos
(I, II e IIIa)(42). A maioria dos doentes (52,7%) apresentava excesso de peso e o
tipo histológico mais frequente foi o carcinoma epidermóide (44,0%)(42). Neste
trabalho não foi encontrada qualquer associação significativa entre o tipo
histológico ou o IMC e a sobrevivência(42). Num estudo prévio que utilizou a
mesma amostra não foi encontrada associação entre um IMC inferior a 18,5
kg/m2, uma perda de peso superior a 10% ou um doseamento de albumina sérica
inferior a 30 g/l e a mortalidade no pós-operatório(43).
Apesar dos estudos com doentes com CP apresentarem resultados
controversos, noutros tipos de cancro está descrita a existência de uma
associação consistente entre um IMC mais elevado e o aumento da
sobrevivência. Num estudo recente realizado com uma amostra de 780 doentes
com cancro do rim sujeitos a nefrectomia, Haferkamp et al (2008) verificaram que
um IMC inferior a 18,5 kg/m2 constitui um factor de risco para a diminuição da
sobrevivência destes doentes(44). Constataram também que o excesso de peso
tem um efeito favorável na sobrevivência dos doentes com esta neoplasia(44).
Read et al (2006) verificaram que numa amostra de 51 doentes com cancro do
18
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
cólon e do recto em estadio IV e em cuidados paliativos, 56,0% dos doentes se
encontravam segundo o Patient Generated Subjective Global Assessment
desnutridos ou em risco de desnutrição(45). Observaram também um aumento
significativo da sobrevivência em doentes sem desnutrição em relação aos
doentes em risco de desnutrição ou desnutridos (45).
Do ponto de visto do PS os nossos resultados são concordantes com os
observados noutro estudo em que a maioria dos doentes avaliados se encontrava
também em PS1(7). No trabalho de Fernandez et al (2007) 27,0% e 23,0% dos
doentes apresentavam PS1 e PS2 respectivamente(34). No estudo de Debevec et
al (2009) a maioria dos doentes apresentava-se com um PS0 ou PS1(35).
De acordo com o que acontece com o IMC, também as relações entre o PS
e o tipo histológico e o PS e o estadio na data de diagnóstico não têm sido objecto
de análise. Grande parte dos estudos que relacionam o PS com o tipo histológico
e o estadio fazem-no para analisar a sua associação com o tratamento e a
sobrevivência dos doentes(10, 46-48). Chen et al (2009), num estudo com 284
doentes com CPPC em estadios precoces verificaram que um PS superior ou
igual a dois não indica uma diminuição da sobrevivência, e ainda que o PS não
deve constituir o único factor determinante da opção terapêutica(46). Novaes et al
(2008) num estudo que incluiu 240 doentes com CP (37,5% com carcinoma
epidermóide, 32,5% com CP de grandes células indiferenciado e 30,0% com
adenocarcinoma), concluíram que a principal razão para a falta de tratamento é a
existência de um PS igual ou superior a dois, uma vez que traduz que a doença já
se encontra num estado avançado(47). Helbekkmo et al (2008) num estudo em
doentes com CPNP em estadios avançados (IIIb e IV), verificaram que os doentes
com PS2 apresentavam uma melhoria da dor, da dispneia e da QdV, apesar de
19
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
terem uma diminuição do tempo de sobrevivência em relação aos doentes com
PS0 ou PS1 (48).
Uma vez que os nossos dados correspondem a uma avaliação à data de
diagnóstico constitui uma vantagem uma vez que os doentes ainda não foram
sujeitos a qualquer tipo de tratamento (quimioterapia, radioterapia ou terapia
combinada). Assim, não há enviesamento dos dados recolhidos visto que
poderiam existir frequências mais elevadas de desnutrição e um agravamento do
estado geral dos doentes caso estes tivessem efectuado ou estivessem a efectuar
qualquer opção terapêutica à data da avaliação. O facto das variáveis analisadas
corresponderem à totalidade da amostra, constitui outra vantagem deste estudo.
Contudo, este estudo apresenta algumas limitações. Entre elas está o facto
de ser um estudo retrospectivo e da amostra não corresponder à totalidade de
casos de CP diagnosticados entre Janeiro de 2006 e Abril de 2009 nesta unidade.
A falta de estudos científicos que avaliem o IMC, a perda de peso e o PS
na data de diagnóstico de CP dificultam a comparação dos nossos dados com
achados noutras populações. É assim necessária a realização de mais estudos
nesta área, de forma a estudar estas e outras possíveis relações entre estes
parâmetros e o tipo histológico, o estadio e mesmo a sobrevivência dos doentes.
Prevê-se no futuro a inclusão de novos casos que nos permitam aumentar
o tamanho amostral e a análise de novos parâmetros de modo a chegar a novas
conclusões.
20
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Conclusões
Deste trabalho poderemos concluir que, dos objectivos propostos, à data
de diagnóstico encontramos apenas uma associação entre a perda de peso e o
estadio da doença. Esta associação necessita de clarificação adicional e de uma
análise estatística mais profunda, após recolha de todas as variáveis
confundidoras da mesma.
Em todo o caso, parece-nos que o presente estudo vem reforçar a
importância de avaliar a perda de peso à data de diagnóstico de modo a proceder
a uma avaliação nutricional atempada retardando tanto quanto possível a
desnutrição neste tipo de doentes.
21
Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
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Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Anexos
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Índice de Massa Corporal, Estado Geral e Cancro do Pulmão
Índice de Anexos
Anexo 1 – Declaração da aprovação do estudo pela Comissão de Ética do
CHVNG/E, EPE. ............................................................................................... a1�
a1
Anexo 1
________________________________________________________________
Declaração da aprovação do estudo pela Comissão de Ética do CHVNG/E, EPE.
a2
a3