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NELSON MANDELA Biografia Trabalho realizado por:

Nelson Mandela (1)

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NELSON MANDELA

Biografia

Trabalho realizado por: Pedro Mateus Nº24 12ºE

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INDICE

Mayibuye (regressa) Mandela!........................................... 2

As verdes Colinas ............................................................... 2

A cidade de ouro ................................................................ 4

O fim da pobreza e da mendigagem .................................. 4

O lider nato das massas ..................................................... 7

Advogado, jornalista, e acusado de alta traição ................ 7

A ilha ................................................................................. 11

Libertem Mandela ............................................................ 12

Finalmente Livre ............................................................... 14

Revolução em Sul Africano ............................................... 14

Presidente Conciliador ..................................................... 15

Epílogo ............................................................................. 16

Cronologia ........................................................................ 16

Bibliografia ....................................................................... 17

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Mayibuye (regressa) Mandela!

idade do Cabo, tarde de 11 de fevereiro de 1990: no extremo sul de África, chegava ao fim um radiante dia de Verão. Nesse momento, cerca de 50 quilómetros a norte da cidade, na tranquila regiºao ninícola de Paarl, milhares de curiosos e centenas de fotógrafos e repórteres de todo o mundo aguardavam ansiosamente a libertação do “pridioneiro mais famoso do mundo”. Finalmente, depois de várias horas de atraso, por volta das 16h 15,

hora local, Nelson Mandela deixava a prisão Victor Verster como um homem livre.C Juntamente com a mulher, Winnie, teve coragem suficiente para se impor +erante o extase de alegria dos seus apoiantes, no gigantesco tumulto junto aos portões da prisão. Deixaram o veiculo, em que percorreram as poucas centenas de metros entre o bungalow, onde etsav preso, e o portão para fazer o resto do caminho a pe. Nelson Mandela recorda-se perfeitamente desse momento: “ Quando estava no meio da multidão, levantei o punho direito e emergiu um grito de alegria. Durante 27 anos, não tive a possibilidade de o fazer e fui invadido por um sentimento de força e alegria. Ficámos alguns minutos no meio da multidão antes de regressar novamente para o carro e seguir em direcção à Cidade do Cabo. Ainda que estivesse feliz por esta recepção, estava muito preocupado por não ter podido despedir-me dos funcionerios da prisão. Assim que finalmente passei pelo portão para entrar para dentro do carro, à minha espera do outro lado, tive a sensação de estar a começar uma nova vida, apesar dos meus 71 anos. Tinham chegado ao fim os 10 mil dias de cativeiro.” Quase 100 mil entusiásticos, mas também cansados e impacientes, apoiantes de Mandela, à espera há horas sob um calor abrasador, deram largas à euforia assim que, perante a luz do anoitecer, o seu herói voltou a erguer o punho em direcção aos ceus na varanda da camara municipal na Grand Parade. “Amandla!” (Poder!), gritou Mandela para a multidão, ao que ribombou a resposta de 10 mil vozes: “Ngawethu!” (O poder é nosso!) “Africa!”, retribuiu Mandela ás massas – e a resposta que chegou à varanda foi “Mayibuye!” (África – regressa!”). Quem é afinal este Nelson Mandela, cujo regresso os seus apoiantes festejaram neste dia, como se de um messias se tratasse? De onde vem o fascínio por este homem que – em parte juntamente com a sua mulher – mereceu inúmeras homenagens ao longo das décadas em que esteve preso? E nas mentes daqueles que testemunharam a cena de libertação, os primeiros passoas em direcção à liberdade deste homem sorridente, alto, magro, de porte atlético e fato cinzento, fervilhava uma outra pergunta: como é que ele conseguiu resistir a mais de um quarto de século de prisão e, no final, enfrentar o mundo comportando-se como um homem de estado?

As verdes Colinas…...

Nelson Rolihlahla Mandela nasceu a 18 de julho de 1918 na aldeia de Mvezo, nas margens do rio Mbashe, na região do Transkei. Com as suas verdes colinas, os seus vales

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profundos e a sua costa selvagem virada para o Oceano Índico, a região do Transkei constitui a parte sudeste da África do Sul, sendo habitada sobretudo pelo povo Xhosa. Rolihlahla era o nome próprio de Mandela, escolhido pelo pai, que significa literalmente “arrancar o ramo de uma arvore”, sendo que o sentido coloquial é “o que causa problemas”. Mandela só viria a adoptar o nome britanico Nelson no primeiro dia de aulas. O jovem Rolihlahla, que tinha três irmas e três irmaos, ficou associado de forma decisiva à família real Thembu, pertencente ao povo Xhosa. No entanto, no seio da Monarquia Thembu, ele pertencia à chamada “Casa da Mão Esquerda”, que era responsável em primeiro lugar pela família real e pelo aconselhamento do monarca, ao passo que, tradicionalmente, era da “Casa da Mão Direita” que provinha o sucessor do rei. Desta forma, por uma questão genealógica, a ascensao ao trono estava vedada a Rolihlahla. No entanto, este cedo descobriu que o seu pai, que tinha 4 mulheres, não era apenas conselheiro de reis, mas também “fazedor” de reis. Na autobiografia, Mandela exprime a consciência da sua descendência real Xhosa: ”Os Xhosa são um povo orgulhoso, com uma língua extremamente expressiva e melódica e uma crença inabalável no siginificado de direito, educação e civilidade. Eu pertenço ao clã Madiba, cujo nome advem de um chefe Thembu que governou a região do Transkei no Séc. XVIII. É comum chamarem-me madiba, o meu nome de clã, que é sinónimo de grande respeito.” Rolihlahla teve uma infância feliz, intimamente ligada à natureza e relativamente abastada. Os costumes, rituais e tabus Thembu eram parte integrante da sua existência. O pai representava a figura de referência essencial para o jovem adolescente Rolihlahla. Depois de uma contenda com o governo branco da província, o pai perdeu os direitos de chefe e os bens. Consequentemente, o jovem e a mãe atravessaram alguns vales sem direcção à aldeia de Qunu, perto de Umtata, a capital da região de Transkei. A vida de Rolihlahla em Qunu era despreocupada. Demonstrava perante os poucos brancos que apreciam por lá uma consideração tida como natural. Em lutas e jogos com os da sua idade, reconhecia “que humilhar outra pessoa significa submetê-lo a um destino a um destino desnecessariamente cruel. Aprendi desde pequeno a vencer o meu adversário sem o desonrar”. O pai enviou-o para a escola metodista de Qunu (onde começou a adoptar o nome Nelson). Aqui, recebeu uma educação em que a cultura, o pensamento e as instituições britânicas eram automaticamente encaradas como superiores. Nelson tinha 9 anos quando o pai morreu. Ainda antes da sua morte, o pai havia decidido que o filho deveria ser educaod sob a tutela do regente do território Thembu, Jongintaba Dalindyebo. O tempo passado na sede governamental do regente, O Grande Lugar, Mqhekezweni, viria a alargar os horizontes de Nelson. Tal como o próprio constata retrospectivamente, os progressos alcançados na escola metodista local foram fruto mais da sua “tenacidade” do que da sua “inteligência”. O currículo incluía disciplinas como Inglês, Xhosa, História e Geografia. Aos 16 anos, Mandela vivenciou uma etapa da sua vida de grande importância. De acordo com os rituais e costumes da sua tribo, o regente decidiu que Nelson, assim como outros jovens, teria de ser submetido ao ritual de passagem para a idade adulta, a circuncisão. Abateu-se sobre ele uma dor lancinante e fez-se ouvir perante todos os ouvintes a palavra libertadora: “Ndiyindola” – Sou um Homem!

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No ano de 1993 , Mandela inscreveu-se na Universidade de Fort Hare na Província do Cabo

Oriental. Com apenas 150 estudantes, Fort Hare era o único estabelecimento de ensino para africanos na África do Sul. Foi aqui que Mandela conheceu o companheiro político Oliver Tambo, que viria a ser posteriormente presidente do Congresso Nacional Africano.Em Fort Hare, Mandela exerceu pela primeira vez uma actividade política. Aderiu a um comité interno de caloiros no campus.

A Cidade de Ouro

Num impulso, Justice (amigo de Mandela) e Nelson roubaram dois bezerros ao Regente, vendram-nos a um comerciante e investiram o lucro numa extenuante viagem até Joanesburgo, a quase mil quilómetros de distância. Os primeiros meses de Mandela na grande cidade ficaram marcados por dificuldades de adaptação, incerteza e fracassos. Finalmente, Mandela ficaria a dever a um primo residente em Joanesburgo a abertura das portas para uma nova prespectiva de vida. Nelson tinha-lhe contado que gostaria de tornar-se advogado. Na sequência disso, o primo apresentou-o a Walter Sisulu. Foi Sisulu que arranjou um cargo de “escriturário estagiário” para o filho de chefe na sociedade de advogados branca de Witkin, Sidelsky e Eidelman. Era necessário passar por um “estágio” deste tipo, se Mandela quisesse entrar posteriormente para um curso de Jurisprudencia. Um dia, em casa de Walter Sisulu, Mandela conheceu Evelyn Mase, uma “jovem do campo calma e bonita”, que vinha inclusivamente da região do Transkei. A paixão surgiu rapidamente e poucos meses depois assistia-se ao seu casamento civil.

O Fim da Pobreza e da Mendigagem

Os chefes tribais fundaram em Bloemfontein o South African Native National Congress (Congresso Nacional Nativo Sul-Africano), cujo nome viria a ser alterado para African National Congress (Congresso Nacional Africano) em 1923. Nas quase quatro décadas seguintes, o ANC, sob várias lideranças, procurou lutar contra o despojamento dos direitos dos africanos, recorrendo a meios estritamente legais. Originalmente uma organização fundada exclusivamente por e para negros, o ANC lutou desde o início pela união entre todos os povos africanos e tribos sul-africanas, no sentido de desenvolver uma nacionalidade africana. As eleições parlamentares de 1948 trouxeram para o partido Nacional, sob liderança do eclesiástico africânder Daniel François Malan, uma vitória escassa e igualmente episódica. O resultado das eleições significavam a materialização do programa político racista do apartheid, que o partido tanto tinha usado como instrumento de luta na campanha eleitoral. Apartheid significava a divisão racial estrita. Na verdade, não representava nada de absolutamente novo no âmbito da política racista sul-africana, uma vez que já o governo do primeiro-ministro James B. Hertzog havia praticado uma política efectiva de divisão racial durante trinta anos, política essa que o seu sucessor Smuts não aboliu totalmente. No entanto o apartheid significava inequivocamente uma radicalização desta política de segregação tradicional, trazendo, ao longo dos dez anos que se seguiriam, um fluxo incalculável de leis que

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estipulavam a divisão dos sul-africanos por raças claramente definidas. Essencialmente, as leis do apartheid podiam dividir-se em quatro áreas de actividade. Estas visavam a) o intuito de garantir a “unidade das raças”, b) a divisão física das quatro raças oficialmente definidas (negros, brancos, mestiços e asiáticos), c) assegurar um domínio político efectivo dos brancos e, finalmente, d) possibilitar um controlo abrangente sobre todos os negros em praticamente todas as esferas da vida social. Um dos pilares de sustentação do apartheid foi a Lei do Registo da População de 1950, que atribuía todos os habitantes da África do Sul a uma das quatro raças definidas. Uma vez que o tom de pele determinava o carácter do sistema governamental sul-africano como nenhuma outra característica o fazia, falava-se também da “pigmentocracia” da África do Sul. Os documentos da identificação registavam a origem racial dos seus portadores e só se procedia a reclassificações em casos excepcionais, cujos balanços anuais eram publicados. Outras leis aprovadas nos anos de 1952 e 1954 restringiam ainda mais o direito de permanência dos negros nas cidades “brancas”. Com as diversas leis no âmbito do “Grande Apartheid”, Pretória conseguiu temporariamente suscitar a impressão de um apartheid “positivo” em alguns locais no estrangeiro. O conceito previa uma solução a longo prazo para o problema racial sul-africano através da criação dos chamados bantustões, posteriormente designados por homelands. As reservas de negros deveriam depois ser dotadas de uma independência (aparente) e os seus adeptos desvinculados da federação sul-africana. Depois, sendo trabalhadores estrangeiros no domínio da África do Sul “branca”, ficariam totalmente destituídos de direitos. A relação cordial entre Nelson Mandela e o seu sobrinho Matanzima entrou em ruptura, quando este último se disponibilizou para apoiar a política dos bantustões de Pretória e, no ano de 1963, para assumir o gabinete de primeiro-ministro da região “independente” do Transkei. Desde o início que Mandela rejeitou radicalmente esta política. O governo nacionalista desenvolveu sistemas escolares separados para as várias raças e distribuiu uma enorme multiplicidade de recursos per capita para os alunos brancos, quando comparada com aquela que disponibilizava para os alunos africanos. Era vontade declarada de Verwoerd, o “arquitecto” do apartheid, que os africanos dentro do território branco da África do Sul não fossem além de um determinado nível de instrução. Como resposta imediata ao desfaio nacionalista dos africânderes, o Comité Executivo da Liga Jovem do ANC, com a colaboração de Mandela e Tambo, desenvolveu um “programa de acção” radical no qual era exigido o direito dos africanos à autodeterminação. O “programa de acção” teve um “impacto pioneiro” na história da resistência africana contra o apartheid. Marcou o fim da restrição voluntária das formas de protesto legais por todo o país, assim como para o boicote dos órgãos estatais que o governo dos africano decretou para seu benefício. O desterro era um instrumento tipicamente sul-africano de justiça criminal política, que pode abranger vários condicionamentos, desde prisão domiciliária, proibição de permanência, restrições em termos de viagens, assim como a proibição de exercício de actividades políticas ou de convocações. Na prática, as autoridades combinavam várias medidas, aniquilando assim os seus oponentes políticos. No final de 1950, a Liga Jovem elegeu Mandela para seu presidente nacional. No exercício das suas funções, em dezembro de 1951, proferiu um discurso no Congresso Anual da Liga, que reflectia o seu conflito ideológico com o marxismo. Esse discurso foi o primeiro de uma série de apresentações públicas de Mandela, nas quais se mostrava relativamente

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agressivo e pouco disposto a acordos e reconciliações. No dia 1 de maio de 1950 ensinou à sua audiência que nunca vale a pena ir contra “uma movimento em massas do povo”, e ainda: Aprendemos que um verdadeiro combatente deve estar sempre do lado do povo no combate ao opressor.” O tempo das conferências e das “análises bonitas” tinha chegado ao fim. “Actualmente”, salientou, “a política tornou-se o objecto de trabalho de um revolucionário profissional”. Mandela concluiu o discurso com a seguinte exigência: “Direitos democráticos totais na África do Sul, já.”

O Liíder Nato das Massas

Se quisermos procurar uma acção, que pudesse fundamentar a reputação lendária de Mandela de lutador carismático e inabalável contra o apartheid, terá de se mencionar o seu papel na primeira linha de “campanha de desobediência”. A acção tinha por objectivo transgredir conscientemente e em massa leis importantes do apartheid. Dezenas de milhares de voluntários tinham de se deixar prender. Também Mandela foi detido logo na primeira noite da campanha, por ter ignorado o recolher obrigatório às 23 horas. Durante o breve período de detenção, enquanto negro, insistiu em receber o mesmo tratamento que os indianos que partilhavam com ele a prisão. Pouco tempo depois seria libertado. A “campanha de desobediência” fez aumentar vertiginosamente a popularidade do ANC. Desde o seu incansável esforço antes e durante a “campanha de desobediência” que Mandela passou a ocupar uma posição de liderança dentro do ANC.

Se, por um lado, a “campanha de desobediência” tinha conduzido a um sucesso político, por outro, foi também no mínimo co-responsável pelo fim do seu casamento com Evelyn. A sua actividade incessante deixava-lhe muito pouco tempo para a família. Evelyn e os dois filhos Thembi e Makgatho ficaram por sua conta, enquanto Nelson promovia a campanha. Quando a separação foi oficializada em 1957, o tribunal entregou a custódia dos filhos à mãe.

Advogado, Jornalista, Acusado de Alta Traiçãçcao

Enquanto advogado no seio de uma sociedade de brancos, Mandela adquiriu a reputação de excelente orador e de astuto estratega no confronto entre as partes oponentes que lhe fazia merecer o respeito da parte de juízes e procuradores. Depois de ter obtido habilitação para exercer advocacia, abriu um gabinete de advocacia em conjunto com Oliver Tambo no final de 1952. Esta foi a primeira sociedade de advogados negra na África do Sul, localizada nas imediações do tribunal de magistrados da cidade de Joanesburgo. Mandela arriscou-se a uma condenação a prisão perpétua, ao realizar conferências nas townships nos arredores de Joanesburgo, apesar de ter sido desterrado. Em junho de 1953, quando o seu desterro chegou ao temporariamente ao fim, participou de imediato na revolta contra a deslocação obrigatória de cerca de 58 mil africanos da pequena cidade de Sophiatown, a oeste da cidade de ouro, que estava nos planos do governo. Para Mandela, Sophiatown era o obstáculo à questão da violência. Pouco depois do incidente, fez ali um discurso em que “gostaria de incitar aqueles que me ouvem. Enquanto condenava o governo pela sua falta de respeito e anomia, cruzei a linha que marcava o limite. Disse que tinha

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chegado ao fim o tempo da resistência pacífica, que a não-violência era uma estratégia inútil que nunca conseguiria levar a queda de um governo minoritário branco. Em Setembro de 1953, as autoridades voltaram a desterrar Mandela. A partir daí, e durante os dois anos que se seguiram, não poderia participar em qualquer assembleia nem sair de Joanesburgo. Pior ainda, foi obrigado a deixar o ANC. Terminavam assim quase dez anos de actividade para esta organização. No futuro o seu envolvimento nesta organização passaria a ser ilegal.

O desterro dos líderes mais importantes do ANC, como foi o caso de Mandela, conduziu o Congresso a uma crise complicada cuja culpa foi, no entanto, imputada ao seu fraco poder financeiro. Demasiada retórica por oposição a “acções preparadas com pouco cuidado”.

Perante esta situação difícil, o presidente do ANC da província do Cabo, o Professor Zachariah Matthews, lançou publicamente a proposta de convocar uma espécie de assembleia nacional, um congresso popular nacional de todos os grupos anti-apartheid. Matthwes tinha em mente uma assembleia que “representasse todas as pessoas deste país, independentemente da raça e do tom de pele, com vista a desenvolver uma Carta da Liberdade para a África do Sul democrática do futuro”.

Mandela e Sisulu, para além de outros activistas, recolheram propostas vindas de toda a população em resposta à seguinte questão: “Se pudesse fazer as leis, o que faria? O que faria para tornar a África do Sul um país feliz para todas as pessoas?” As propostas chegavam de clubes desportivos de jovens, grupos religiosos, associações de locatários, organizações femininas, escolas e sindicatos. Vinham escritas em guardanapos, em pedaços de papel e em versos de folhetos. “Era embaraçoso ver que as propostas das pessoas mais simples eram mais significativas do que as lançadas pelo líder.”, como realça Mandela. “A exigência mais frequente era a de One-Man-One-Vote, o direito ao voto igual para todos”.

O Comité Executivo Nacional do ANC aprovou finalmente um esboço da Carta da Liberdade desenvolvido a partir das incontáveis propostas recebidas.

“Para se alcançar apenas justiça na África do Sul, era necessário destruir o sistema apartheid, já que este era a personificação da desigualdade.”

A assembleia em Kliptown aproximava-se já do final do quando, na tarde de 27 de junho, um enorme destacamento policial interrompeu a votação da Carta de Liberdade. Fortemente armada, a polícia especial revistou centenas de participantes, anotou moradas e confiscou um sem-número de documentos. Segundo a acusação, o congresso popular estava a engendrar um plano de alta traição.

A acção policial marcou o início de um processo cuidadosamente conjugado por parte das autoridades contra as organizações anti-apartheid que se intensificou ao longo da segunda metade dos anos 50 e que aqueceu a atmosfera política do país.

Mandela não augurava nada de bom, devido à acusação ter sido assumida por um temível representante da coroa, o fascista de origem alemã e admirador de Hitler, Oswald Pirow. A função dos documentos alemães neste processo por alta traição era provavelmente a de dotar a acusação de novos argumentos numa fase mais fraca da constituição de prova. Mandela chama a atenção para o facto de que, apesar dos cerca de 10 mil elementos de prova apresentados, nunca conseguiriam comprovar de forma convincente a acusação de alta traição

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de inspiração comunista. Durante o processo por alta traição, Mandela e Lutuli, presidente do ANC, prestaram apoio à luta contra as leis dos passaportes, em vigor desde o inicio de 1956, que agora também incluíam as mulheres. Dois anos mais tarde, centenas de mulheres com os seus bebés voltariam a marchar pelo centro da cidade de Joanesburgo em manifestação contra a lei dos passaportes. Foram detidas aproximadamente 1300, libertadas mediante o pagamento de cauções e muitas delas condenadas a pena de prisão. Entre aquelas estiveram duas semanas na prisão e depois pagaram uma multa estava uma mulher chamada Nomzamo Winnifred (Winnie) Mandela.

Entre Mandela e Winnie nasceu um amor à primeira vista com tal intensidade que, poucas semanas depois dos primeiros encontros, já faziam planos de casamento. Em fevereiro de 1959, nascia uma filha que viria a chamar-se Zenani. No final de dezembro de 1960, Winnie voltaria a dar à luz uma outra menina a quem deram o nome de Zindziswa.

De qualquer forma, o ANC viu-se impelido pelo processo para seguir a linha defensiva e começaram também a nascer desavenças ideológicas internas a partir do final de 1958, que culminaram em abril de 1959 com a dissociação da ala africanista para assumir a forma de PAC – congresso pan-africanista). O PAC defendia uma estratégia de resistência fortemente africanista e rejeitava qualquer trabalho de cooperação cm indianos, mestiços e, sobretudo, com comunistas de qualquer tom de pele.

Com base na legislação do estado de emergência, a policia prendeu Mandela na madrugada de 30 de março. Pouco tempo depois, os prisioneiros, arguidos no processo de alta traição, foram transferidos para a prisão local de Pretória, a partir de onde passariam a assistir ao desenrolar do processo. A 8 de abril, o governo proibiu o ANC e o PAC. A partir daí qualquer actividade para essas organizações era considerada ilegal.

No dia 29 de março, Mandela compareceu pontualmente na antiga sinagoga de Pretória para assistir à continuação do processo. Este seria efectivamente o dia da proclamação da sentença. O tribunal concluiu que as provas apresentadas não eram suficientes para demonstrar que o ANC tinha uma política que visava a queda violenta da ordem estatal. Além disso, não tinha sido possível provar que a Carta da Liberdade aspirava a uma ordem social comunista: “Por conseguinte, os acusados foram considerados inocentes e serão libertados.

Certo dia, em Howick, nos arredores Pietermaritzburg, um veículo da polícia mandou parar o carro de Mandela: “Percebi nesse preciso momento”, diz Mandela, “que a minha fuga tinha terminado; os meus 17 meses de “liberdade” tinham chegado ao fim”.

Poucos dias após a detenção, as autoridades transferiram Mandela para Joanesburgo onde o juiz lhe apresentou a acusação: apelo a uma greve ilegal de trabalhadores africanos no final de maio de 1961, assim como saída do país em documentos de identificação válidos. Mandela calculou de imediato que deveria contar com, no máximo, 10 anos de cadeia. Ele tinha tirado as próprias conclusões, constatando que, do ponto de vista jurídico, não tinha quaisquer hipóteses contra os tópicos da acusação que o procurador tinha convincentemente argumentado à luz da legislação. O tribunal condenou-o a 5 anos de prisão a 7 de novembro, “a pena mais severa” para um crime político na África do Sul desde há muito tempo.

No final de maio 1963, as autoridades decretaram subitamente a transferência de Mandela e de outros prisioneiros políticos para a ilha-prisão de Robben Island na Baía da Mesa na Cidade do Cabo. Depois, subitamente, a meio de julho de 1963, voltou ao continente e foi transportado de volta para Pretória. No dia 9 de outubro de 1963, Mandela e os seu

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camaradas foram levados num carro da polícia blindado para o Palácio da Justiça em Pretória, a sede do Supremo Tribunal. De início o processo foi inicialmente designado por O estado contra o alto comando nacional e outros, e depois passou para O estado contra Nelson Mandela e outros, e perante o público era chamado simplesmente de processo de Rivonia.

Em concertação com a defesa, os acusados comprometeram-se a demonstrar “desprezo pelo processo”. Assim, o acusado “número um”, Nelson Mandela, respondeu à pergunta sobre se se declarava inocente ou culpado com: “My Lord, quem devia estar sentado no banco dos réus, não era eu, mas sim o governo. Eu declaro-me inocente.”

O país inteiro, e em especial o grupo de espectadores na sala de audiências, aguardou com grande ansiedade a aparição decisiva do acusado “número um” no processo. Winnie e a sua mãe também estavam presentes para assistir ao acontecimento. Estávamos no dia 20 de Abril de 1964.

De frente para a sala de audiências, Mandela começou o seu discurso de quatro horas, declamando calmamente as seguintes palavras: ” Sou o primeiro acusado. Tenho uma licenciatura em letras e exerci advocacia ao longo de vários anos em Joanesburgo, como sócio do Sr. Oliver Tambo. Sou um prisioneiro condenado e estou a cumprir uma pena de prisão por cinco anos.”

A sua última aparição pública assumiu o carácter de um legado que foi recorrentemente publicado e divulgado por todo o mundo.

Antes de mais, Mandela afirmou perante o tribunal que os africanos tinham levado a cabo a luta contra a privação dos seus direitos, como resultado da própria experiencia. Não forma de modo algum uma ferramenta submissa de um outro grupo – esta era uma clara rejeição da acusação, constantemente repetida de que a resistência negra estava sob controlo dos comunistas. Além disso, continuou, a violência tinha surgido como resultado da opressão branca. Depois de décadas de esforços pacíficos, o ANC tinha-se visto perante uma situação que já não deixava outra alternativa.

Além das passagens nas quais se defendia, uma parte significativa do discurso abordava a sua luta contra a pobreza material dos africanos no seu país. De acordo com a sua opinião duas características que distinguiam a vida africana dentro da república: miséria e falta de dignidade humana. Segundo Mandela, a legislação era feita por brancos e servia para tornar os africanos pobres e os brancos ricos. Depois de ter apresentado o texto, virou-se para o juiz e dirigiu-lhe as seguintes palavras finais: “Consagrei a minha vida à luta do povo africano. Lutei contra a supremacia branca, assim como lutei contra a supremacia negra. Persegui sempre o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem em comunidade, pacificamente e com igualdade de oportunidades. É por este ideal que vivo e luto. Mas se for necessário, então estou pronto a morrer por ele.“

Depois de terem falado os outros acusados, assim como a defesa, o julgamento foi adiado por três semanas para que se chegasse ao veredicto. Sem sombra de dúvida, este período jogou a favor dos acusados, uma vez que em muitas partes do mundo se realizaram manifestações em seu favor. Dois dias antes da proclamação da sentença, o Conselho de Segurança da ONU, com quatro abstenções de voto, exigiu que o governo sul-africano terminasse com o processo concedesse amnistia aos acusados.

A 11 de Junho de 1964, o juiz Quartus de Wet declarou o acusado “número um” como culpado nos quatro pontos de acusação. Apena para este e outros que tinham sido declarados culpados seria proferida no dia seguinte.

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O juiz de Wet proclamou a sentença perante um tribunal presenciado por cerca de 200 mil manifestantes. “Após consideração cuidadosa, decidi não impor a pena máxima, que habitualmente seria a pena adequada para um caso como este, mas em conformidade com o meu dever. A sentença para todos os acusados será a prisão perpetua”.

Mandela lembra da seguinte forma a primeira reção a estas palavras na sal de audiências: “ Olhámos uns para os outros e sorrimos. Quando de Wet anunciou que não nos condenaria a morte, ouviu-se na sala um suspiro de alivio conjunto.

A ILHA

“Nunca terás a tua liberdade, tu não és nada, és um kaffir. O homem branco está aqui para governar, este é o seu país e tu estás aqui para servir os brancos deste país. Um kaffir é um cão, tu és um cão e Mandela é um cão. Podes até ter 101 títulos académicos, mas continuas a ser um kaffir, és um número, não és nada.”

Este era o tom usado pelo pessoal da prisão, constituído exclusivamente por brancos, para com os condenados não brancos do Processo de Rivonia na ilha-prisão de Robben Island.

Mesmo a partir da ilha, os prisioneiros continuaram a luta contra o apartheid. Para Neville Alexander, também ele residente na prisão da ilha durante muitos anos, assim como para Mandela, Robben Island era a forma concentrada da África do Sul racista e violenta, um microcosmo da República. A luta por melhores conduções na prisão e por um alivio dos trabalhos constituía um reflexo da luta contra o apartheid que se tratava lá fora.

Incomparável, em Robben Island, foi uma criação da “Universidade de Mandela”: Um sistema de cursos, elaborado ao longo do tempo, que os prisioneiros desenvolveram com vista à sua formação complementar. A ilha, recordam hoje os prisioneiros daquela época, tronou-se um local incomparável de aprendizagem e de formação que também incluía e impressionava os guardas brancos. Esta situação mostrava a tolerância com que eram tratados os prisioneiros políticos perante o estrangeiro.

Percy Qozoba, editor do Sunday Post, que também esteve preso durante algum tempo em 1977, abriu a edição de 9 de março de 1980 coma manchete Free Mandela!. Iniciava-se assim uma campanha a partir da qual os opositores do apartheid de todos os tons de pele exigiriam a libertação dos presos políticos da África do Sul. Ainda que não pudesse ser citado Mandela dominava as manchetes. Este era o símbolo do renascido ANC, e, ao mesmo tempo, o presumível líder de um governo de maioria “pós Botha”.

Libertem Mandela!

Para que a campanha em nome da libertação de Mandela tivesse sucesso, depois de mais de 18 anos de cativeiro, seria necessário mais do que elaborados ataques guerrilheiros. O movimento necessitava de uma figura de integração no próprio país que unisse os vários grupos anti-apartheid. A eleição para o cargo recaiu sobre Winnie Mandela.

A pressão internacional crescente sobre o governo de Pretória, para que Mandela fosse finalmente libertado, culminou em 1983, com uma resolução correspondente da parte do Conselho de Segurança da ONU.

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Nesta altura, Mandela já não se encontrava em Robben Island. No início de abril de 1982, a administração penitenciária tinha-o transferido inesperadamente para a prisão de alta segurança de Pollsmoor, junto à Cidade do Cabo. Com ele, também Sisulu, Ahmed Kathrada, Raymond Mhalaba e Andrew Mlangeni deixaram a ilha pra ocupar quartos conjuntos no terceiro e último andar do edifício da prisão. “em comparação com Robben Island, estávamos num hotel de cinco estrelas.”

O que teria o governo em mente com a transferência destes prisioneiros? Na verdade, naquela altura, o governo esta a tentar atingir dois objetivos em simultâneo: a mudança para a prisão em Pollsmoor foi, sem dúvida, uma tentativa de separar os prisioneiros políticos de Robben Island, retirando de lá o reconhecido núcleo de liderança, em especial Mandela. Contudo, à luz dos desenvolvimentos ocorridos, havia também muitos argumentos a favor da versão do posterior Ministro da Justiça Coetsee, segundo a qual o núcleo de liderança da resistência teria sido posicionado ali de forma a possibilitar um contacto estritamente secreto entre este e o governo. Em Robben Island, isso teria sido praticamente impossível.

Em 1983, o governo de Botha provocou um escândalo internacional com o anúncio da alteração da Constituição e da introdução de um sistema de três câmaras, que representariam brancos, mestiços e indianos, permanecendo os negros excluídos do poder. Esta reforma visava inequivocamente a desagregação do apoio multirracial da resistência. De qualquer modo, a reforma da Constituição acordada nestas linhas foi considerada uma traição à doutrina pura do apartheid por 16 membros do Partido Nacional, que nessa altura exercia funções no governo. Estes acabaram por sair deste partido e fundar o Partido Conservador.

Imediatamente após o anúncio de Botha na introdução do sistema das três camaras formou-se, em agosto de 1983 na Cidade do Cabo, como resposta, a UDF (Frente Democrática Unida), uma organização de coordenação que, segundo alguns dados, abrangia mais de 400 grupos com mais de 1,5 milhões de membros. Esta organização adotou como base programática a carta da liberdade de 1955.

O apartheid tinha sido implementado depois da Segunda Guerra Mundial numa fase de prosperidade económica e a África de Sul, sob o regime do apartheid, viveu um crescimento económico continuo entre os anos 60 e 70. Mas estas circunstâncias mudaram a partir de meados dos anos 70. Para o declínio do crescimento económico contribui o elevado nível de desemprego cujo impacto sobre as massas de trabalhadores negros sem qualificações foi ainda mais agravado por uma crescente inflação e períodos de seca prolongados.

E se, desta forma, as condições estruturais económicas da África do Sul se desenvolveram desfavoravelmente, a política de Botha conduziu o país para uma situação na qual se tornava cada vez mais evidente que o apartheid fracassaria às suas próprias custas. Por fim, para o declínio do apartheid, também terão contribuído as sanções económicas impostas por diversos Estados e Instituições contra a África do Sul, devido exatamente a esta política do apartheid, sensivelmente a partir da revolta dos estudantes do Sowet. Na verdade, é difícil determinar ao pormenor o efeito destas de boicote pois, em alguns aspetos, o efeito terá sido efetivamente contraproducente. A África do Sul viu-se perante graves dificuldades económicas e estava a ser ostracizada internacionalmente.

Em outubro de 1980, Jacobus (Kobie) Coetsee assumiu a sucessão de Jimmy Kruger no cargo de Ministro da Justiça, da Policia e das Prisões. Quis o acaso que um amigo dos tempos da faculdade de Coetsee exercesse advocacia em Brandfort.

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Em novembro de 1985 devido a uma operação à próstata, Mandela, teve de ser internado no hospital. “Tive uma visita surpreendente e inesperada: Kobie Coetsee. De uma forma geral, foi gentil e afável e, durante a maior parte do tempo, trocámos simplesmente elogios. Embora eu tenha agido como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, estava admirado. À sua maneira lenta e hesitante, o governo tinha calculado que precisava de chegar a um qualquer acordo com o ANC. A visita de Coetsee foi como e entrega de um ramo de Oliveira.”

Em maio de 1988, Coetsee constitui um comité especial que viria a encontrar-se várias vezes com Mandela para longas conversas. No diário de Mandela há referências a 47 desses encontros , que incluíam discussões detalhadas, que chegavam a durar 7 horas. Além do próprio Coetsee, pertencia também a este comité de 5 elementos Niel Barnard, o chefe dos serviços secretos (NIS). Numa dessas viagens, o seu guarda e motorista parou numa loja para comprar uma Coca-Cola. “Fiquei ali sentado sozinho. De inico, não pensei na minha situação, mas à medida que os segundos passavam, comecei a ficar cada vez mais excitado. Pela primeira vez em 22 anos, estava cá fora e sem vigilância. Tive a visão de abrir a porta, saltar lá para fora e correr e correr. Mas depois dominei-me. Agir assim teria sido imprudente e irresponsável, já para não falar do perigo.”

Com o aumento da frequência das conversas entre Mandela e o comité especial, acabou por ser satisfeito o desejo de Mandela de consultar também os seus camaradas da prisão de Robben Island e Pollsmoor. No recinto do estabelecimento prisional Victor Verster, os cozinheiros preparavam agora as refeições para ele e para os seus amigos e os guardas estavam à disposição dos convidados. A casa tornou-se um centro d negociações e, considerando a atmosfera positiva, parecia estar preparado o terreno para um encontro com Mandela e Botha. Mas, em janeiro de 1989, o presidente viria a sofrer um acidente vascular cerebral. Após a recuperação de Botha, foi Niel Barnard que persuadiu o presidente a encontrar-se com Mandela. O encontro foi organizado para 5 de julho de 1989. Sendo que Botha temia cada vez mais repercussões negativas no seu eleitorado. “Então a porta abriu-se”, descreve Mandela, “e eu entrei, preparado para o pior. Vindo do lado oposto do seu gabinete feudal, Botha dirigiu-se a mim. Ele tinha planeado perfeitamente cada um dos seus passos, pois encontrámo-nos precisamente a meio caminho. Estendeu a mão e sorriu abertamente e, na verdade, esta primeira impressão desarmou-me por completo. O seu comportamento foi impecavelmente gentil, respeitador e amigável.”. “Pedi ao senhor Botha que libertasse todos os prisioneiros políticos, comigo incluído, sem condições. Este foi o único momento tenso do encontro e o Senhor Botha disse que temia que isso não fosse possível.”Com o seu estado de saúde desgastado, Botha demitiu-se do cargo de Presidente, cedendo assim à pressão política interna, a 14 de agosto de 1989, poucos meses depois de já ter abdicado da liderança do partido. Com uma escassa maioria, O Partido Nacional elegeu surpreendentemente como seu novo dirigente o líder do Partido Nacional do Transvaal, Frederick Willem de Klerk. As eleições parlamentares agendadas para 6 de setembro foram vencidas por de Klerk – Com uma perda significativa de votos para o seu partido.

Um mês depois de ter prestado juramento para presidente a 20 de setembro de 1989, de Klerk libertou o “mentor espiritual” de Mandela, Walter Sisulu, assim como sete outros prisioneiros políticos.

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Finalmente Livre!

De Klerk decidiu-se finalmente libertar Mandela. Em conjunto com o ministro Coetsee, definiu como decorreria o processo. Por um lado havia que considerar os distúrbios dificilmente controláveis por parte dos manifestantes negros no momento da libertação.

A 13 de dezembro deu-se o primeiro de três encontros entre de Klerk e Mandela em Tuynhuys. “Desde o início”, escreve Mandela, “notei que o senhor de Klerk dava ouvidos ao que tinha para dizer. Isto foi uma novidade para mim.”

A 11 de fevereiro de 199º, Nelson Mandela deu os primeiros passos em liberdade depois de mais de um quarto de século de prisão. Se a África do Sul branca estava á espera de um grandioso gesto de remissão e reconciliação por parte de Mandela, no dia em que recuperou a sua liberdade, acabou por ficar desiludida. Cerca de metade do seu discurso na varanda da câmara municipal da Cidade do Cabo perante a multidão de pessoas ansiosas incluiu, em primeiro lugar, palavras de cumprimento e agradecimento às organizações e pessoas, assim como à classe trabalhadora sul-africana, por o terem apoiado em conjunto ao longo dos anos e por terem combatido o apartheid. “apelamos ao nosso povo para que agarre a oportunidade, de modo a que o processo no sentido de uma democracia decorra rápida e tranquilamente. Já esperámos demasiado tempo pela nossa liberdade. Não queremos esperar mais. Chegou o momento de reforçar a luta em todas as frentes.”

Revoluçãcao em Sul-Africano

Enquanto os confrontos bélicos nas townships se tornavam ainda mais violentos, de Klerk deu um passo importante no sentido de aliviar a posição de Mandela. Em outubro de 1990, o presidente revogou a lei do apartheid a respeito dos serviços separados e, em fevereiro de 1991 anunciou a demolição dos últimos pilares do apartheid: a lei das áreas reservadas (1913-1936) assim como a lei do registo da população. Estas leis foram revogadas ainda antes de chegar a meio do ano e assim o apartheid deixava legalmente de existir.

Em julho de 1991, deu-se a primeira conferência anual do ANC em solo sul-africano ao fim de 30 anos. Nesta, Nelson Mandela foi eleito por unanimidade como presidente. No seu discurso, Mandela salientou que as negociações com o governo, só por si, eram já sinónimo de vitória, mesmo que estejamos em desacordo com o governo.

O novo líder do ANC que tinha agradecido a Oliver Tambo pelos anos em que assumiu a presidência a partir do exilio, continuou: “O ponto decisivo que tem de ser claramente encarado é de que a luta ainda não terminou e as próprias negociações são um palco da luta, com avanços e retrocessos como em qualquer forma de luta.”

Em dezembro de 1992 e janeiro de 1993, o governo e o ANC retiraram-se para o solitário campo de N’Yala, para aí realizarem duas conferências no mato, e assim prosseguirem intensivamente com as negociações. Durante quatro dias e quatro noites, os negociadores conversaram, comeram e distraíram-se. Alguns faziam jogging juntos de manhã e à noite

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sentavam-se à volta da fogueira do acampamento por baixo de uma árvore. Antigas inimizades foram desvanecendo-se gradualmente e, em alguns casos desenvolveram-se mesmo amizades.

1993 viria a ser também o ano do sucesso das negociações entre o ANC e o governo. No World Trade Centre, a 3 de junho, foi divulgada a data para as primeiras eleições democráticas da África do Sul: 27 de abril de 1994.

No período até às eleições, o clima adequado para as mesmas deveria ser garantido por um conselho executivo provisório constituído por membros de todos os partidos. Este conselho executivo (TEC) haveria de constituir o governo entre 22 de dezembro e 27 de abril.

No final de 1993, de Klerk e Mandela viajaram juntos para Oslo, para receberem ambos o prémio Nobel da Paz. O prémio constituía o reconhecimento pelo esforço conjunto no âmbito do processo de paz sul-africano.

Por questões de ordem técnica, foram decretados três dias de eleições, de 26 a 28 de abril. Ao longo dos três dias de eleições, formaram-se por vezes, filas intermináveis diante das assembleias de voto. Pela primeira vez, empregados domésticos negros e empregadores brancos juntaram-se aguardaram sob o sol quente o momento histórico das eleições gerais. Os resultados das eleições foram os seguintes: dos votos para a assembleia nacional, 66,6% foram para o ANC, 20,4% foram para o Partido Nacional, 10,5% para o Inkatha, 2,17% para Frente de Libertação e 1,2% para o PAC. Poucos dias após as eleições, Nelson Mandela, pleno de orgulho, declarou num discurso: “Chegou o momento de festejar, chegou o momento para os sul-africanos festejaram em conjunto o nascimento da democracia.”

Depois das eleições, a África do Sul estava como que transformada. Os atos de violência cessaram repentinamente e não se via nem se falava do espetro secessionista da direita branca. Enquanto vencedor das eleições, Mandela podia agora começar a compor o seu gabinete do governo de unidade nacional.

Presidente conciliador

A 10 de maio, realizou-se a tomada de posse oficial do governo de Mandela, que teve lugar diante da maior assembleia de personalidades de liderança internacionais que a África do Sul alguma vez tinha visto. Depois de Mandela ter prestado o juramento de fidelidade, declarou perante os convidados e diante de todo o mundo: das “experiências de um extraordinário desastre humano, tem de nascer uma sociedade da qual toda a humanidade se possa orgulhar.”

Depois da sua substituição no cargo de presidente da África do Sul, na sequência das segundas eleições livres em 1999, por Thabo Mbeki, que até então havia sido seu representante, Mandela pode fazer um balanço, em geral respeitável, da sua administração. Qualquer julgamento a respeito do seu período de governação teria de ter em conta que este e o seu gabinete tinham assumido a sua responsabilidade política num momento em que a jovem democracia sul-africana ainda sofria pressão.

Não obstante de todas as dúvidas e as promessas não cumpridas- como por exemplo em termos da construção de habitações para os pobres- Mandela conseguiu um impressionante triunfo a meio da primeira legislatura na África do Sul democrática.

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EpílogoNelson Mandela e

uma nova África do

Sul

No iníco do séc. XXI, a África do Sul apresenta um cenário profundamente desigual, de desenvolvimentos preocupantes que se misturam com outros positivos, mas outros também chocantes. Quase todos os observadores do país estão de acordo. A força carismática e conciliadora do Mandela desvaneceu-se e os seus sucessores no cargo de Presidente da República depararam-se com uma herança pesada, que carregam com esforço.

Uma década e meia depois do fim do apartheid, com a divisão espacial da África do Sul, segundo princípios racistas, o processo de desagregação está longe de fazer esqucer esta divisão.

No final de 2007, Mandela teve a oportunidade de realizar um último acto oficial que, para além de agradável, esteve repleto de simbolismo, quando inaugurou o gigantesco centro comercial Maponya no Soweto.

CRONOLOGIA:

1918 – 18 de julho, nascimento de Rolihlahla Nelson Mandela1939-1940 – Mandela estuda na universidade de Fort Hare1940 – Mandela entra na política por influencia de Sisulu1944 – Mandela entra para o ANC1944 – Casamento de Mandela com Evelyn Mase1956-1961 – Processo de alta traição contra Mandela1957 - Divórcio de Mandela e Evelyn1958 – Casamento de Mandela com Winnie Madikizela1961 – 29 de marcço: absolvição de Mandela no caso de alta traição1964 – Mandela condenado a prisão perpétua em RobbenI Island1990 – 11 de fevereiro: Libertação de Mandela1994 – Mandela eleito Presidente

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1996 – Divórcio de Mandela e Winnie1997 – Entra em vigor a Constituição final da África do Sul

Bibliografia

Documentário sobre a vida de Nelson Mandela: https://www.youtube.com/watch?v=QtugFtXBLHI [data da última visualização:

14/12/12]http://en.wikipedia.org/wiki/Nelson_Mandela [data da última visualização: 14/12/12]MANDELA, Nelson. Um longo caminho para a liberdade

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