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recorre ao suposto despreparo dos professores, ,que, .t necessitariam ser orientados ,min\iciosament~ sobre as '/tções aserem irnplernenradas é menos verdadeiro do que intoler~rite. ~ertamente os professores carecem de u~a ormaçao mais adequada. Mas não se pode zerar 'o cro- '" nôrnerro e.começar tudo de novo,' nempretender "capa-' citar" em curtoperíodo as centenas-de milhares de pro- fessores, muito menos por meio do' recurso-a documen- , tos. É muita prlentação .merodológica 'para pouca den- ' :sidadé filosófica. Motivados por um projeto coletivo que., lhes faça sentido e munidos de condiçõesdé trabalho: ',' , adequadas, o ,que, ,natur'alinente,)ncIu(uma remunera- , ~ão digna, os professores cresceriárn em' serviço, em muito pouco tempo. Muitos.dos que, desiludidos, aban- doriaram ~s sal~s de aula..a eras voltariam, por voca~ão e opção. ' Não se pode duvidar da 'necessidade d~'existên- cia de planos de ação, ~ão só 'para, a área da' Educação, como também para a da,Saúde, para ada Habitação etc:, ' ' bem como de uma 'legislação atualizadà"nem'de 'docu-' mentes norreadores, que constituem a 'dimensão objeti- ,va' dos limites das ações políticas. Entretanto, adepen- dência tão direta entre projetos e planos de ação, entre planos e leis,que vial:>ilizemsua irnplernenração enúe,~leis e documentos controladores das ações práticas não pare- , ce natural nem conveniente;' " ..... .. ~ '- ;,. ' ~ ( . Em. 1997, .ocorreu uma profunda Reforma , Educacional no -Canadã, Mesmo corn tod;~ probie~á-, ' tica do bilingüismo e da delicada -convivência entre cida- -r "dâos culturas que podem não ter superado, definitiva- mente o, fantasma do separatismo, o tê.íctó:cqrresp'On- dente à Reforma, consta de pouco mais de quarenta pági- nas. .São .princípios gerais, verdadeiramente norreadores, \ ",,' 24 ' do Sistema Educativo (LBSE, 1986), formulada no período posterior à Rev'olução dos C'ravos (1974), regis-' tra, em seu Art. 20; que a,educação deve organizar-se tendo ern vista, 'o desenvolvimento pleno e harmonioso-da personalidade dos indivíduos" e 'a.Incenrivar 'a formação .de cidadiíos liures, responsáveis, autônomos e solidários. " Em SeuArt. 3°, explicita os princípios d~ organização do sistema educacional, que deve ter em vista "contribuir para a realização da.educando, através do Pleno desenuol- ' '.J '.' uimento da personalidade, da formação do cardcter e da cidadania", assim como "assegurar o respeito à diflri?nça, mercê do respeito.pelas personalidades epelos projetos ind/-' viduais de existência" (grifo nosso). ' A, referência direta ao respeitoaos projetos indi- viduais (pessoais) consrirui um indício impo'r~ante dá preocupação em valorizar o' ser humano,' tomando-o como pontO"' de parrida para 'as ações educativas, ao " esmotempo ~m que se busca uma valorizaçãoda soli- aariedade, da tolerância, 'elementos constituintes da h~ção d~ plena cidadania, evid~nciand6, porranto,um equilíbrio na duplapreocupação .de formação pessoal e 'soéia!. ., 1.7,Educação: projetos e vocação profissional à idéi~ de inregr,açãó entre'a formação e$soal e asi entre o esenvolvimento das personali a és 'individuais' e o 'ple'no (:'xerdcio,da cidadania tem, sido objeto de estudos extremamente fecundos, 'com origem em diferentes áreas do conhecimento. Alguns exemplos são os trabalhos de NorbçrcELIAS, em "A,Sociedade dos Indivíduos" (1994); no !,erreno da'sociglogia;, os de Marvin MINSKY, ~m "A Sociedade da Mente" (19..85), 26 a serem realizados loçalrnenre, nos .diversos segmentos ' ',dás siste~asdeensino; Os quadros -disciplinares 'para todos os ciclos são apresentados. Novas disciplinas são criadas, como, "História e Cidadania", '''Cíênciae Tecnologia", .ou "Entendendo o mundo conte~porâ'-. "neo". "Educação Moral ou' Religiosa" encontra-se pre- sente em todas as séries: Tudoem.pouco mais d~ quaren- ta'páginas. ~ , ') , , ,No caso da 'Educação Brasileir~, ao que, 'tudo indica, ,caiece,se muito mais 'de urna.Carta de Princípi,9$ Gerais, uma espécie de Tábua de Valores Funda~eniais; , amplamente acord~doscom as entidades m~is.reprcsen-' t~tivas da sociedade, sublinhando os,valores maiores que. deveriamorienrar os prQjetos e as ações cducacioriais, do' que eleplanejamentos'excessivamente ;n.inuciosos ou der ,alc,eraçõ~s radicais ~a .legislação'em vigor:~Álguns eúrrlc ..,'pios 'de tais valores, quasecsempre consensuais no nível ,do discurso mas ra~aIl]ente .presentes na lrnplerrie~taç~o , ,da~ aç?e~,sãoa autonomia da1uriidades escolares; que não pode limitar-se a aspectos financeitos, e a valoriza- ção da função docente, qde' não' se esgotan~ questão salarial mas que não pode 'esquecê-Ia, Sem o enrai;a- , r '_ - \ '. _~ ., -- mento em ,valores 'como' esses, os projetos mais bem ' ,intencionados terminam por perder roda a pOle~cialida·~. ' "derransforrnado ra,'tendendó,áçC;lnfun~ir"'se .corn planos" de, ação de cunho, mei-'a'})erifê/b~rõúátic'o, ou a tangen- ciar orerreno jurídico, onde correm o risco d~ corifun- -, .s dir-se com leis, cdstaliza~d~;se ou ~oi~-;'ndo derriasiada- menterígiclo 0, qu~ deve ser, por sua natureza, 'flexível, adaptável, variáveL' , A educação portuguesa, em tempos reccmt~s~ constitui umexb'I'\ploeluCidativo para a correção dos , desv~os,qúe acirna.se pretendeu ãponrar. A Lei de Bases ~ 1 .~ " I 25 ! I no terreno da psicologia cognitiva; ou os de Pierre LÉVY, em 'TlnteIligence Collecrive'' (1994); no terreno da-íeplstemologia. Parricularrnente neste último' caso, o recurso à expressão "inteligência coietiva" parece espe~ cialmente significativo, culminando uma aproximação tríplice entre as idéias de inteli ên i e rojeto, de inteligência e' e ci, a anIa,' e de ro'elos ( essoais e c~ e e CI ,a' ama, Entretanto, a inserção da pro-' blemática rndlvIdua17coletivo na legislação 'educacional portuguesa, de forma consciente, direta e equilibrada como foi, feita, visando não apenas 'a: objetivos estéticos .ou mer~inente retóricos, é ~m fa'to' alvissareiro para o' futuro dá educação naquele ,país. Tais preocupa,ções parecem conduzi rnaruralrnenre o-debare sobre as ques- tões educacionais para-a elaboração da idéia de projeto, e em particular, para a construção da noção de projetos uocacionais. Em FONSECA '(199.4), pode ser encontrado interess~nte material a esse respeito, destacando-se a ,análise de 'como os projetos de vida são construídos na interface individual/social, sempre supondo urna inter- verição conjunta de elementos afetivos, cognitivos' e sociais.. Cada projeto de vida tende a; caracterizar-se como la realização de uma vocação, de um apelo.vdeurn chamamentovindo, a um tempo, de dentro e de fora, , •• 1., ~ , I ,representando .o 'mais harmonioso' enconrrovpossível entre as aspirações individuais e os interesses coletivos. A' ' idéia de vocação aqui-evocada pouco tem em .cornurn com ás perspectivas religiosas ou-cor» os determinismos' - inaristas, aproximando-se muito ' mais da~p'erspectiva profissional, ou da escolha "madura" de urna atividade profissional, As palavras de FONSECA 'podem servir par~ explicitar mais as considerações supra-referidas, ao .' 27 '

neo. - IME-USPdpdias/2016/GEN5711 - Nilson complemento.pdf · c~ e eCI,a'ama, Entretanto, ainserção da pro-' blemática rndlvIdua17coletivo na legislação 'educacional portuguesa,

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Page 1: neo. - IME-USPdpdias/2016/GEN5711 - Nilson complemento.pdf · c~ e eCI,a'ama, Entretanto, ainserção da pro-' blemática rndlvIdua17coletivo na legislação 'educacional portuguesa,

recorre ao suposto despreparo dos professores, ,que,.t necessitariam ser orientados ,min\iciosament~ sobre as'/tções a serem irnplernenradas é menos verdadeiro do queintoler~rite. ~ertamente os professores carecem de u~aormaçao mais adequada. Mas não se pode zerar 'o cro- '"nôrnerro e.começar tudo de novo,' nempretender "capa-'citar" em curtoperíodo as centenas-de milhares de pro-fessores, muito menos por meio do' recurso-a documen- ,tos. É muita prlentação .merodológica 'para pouca den- ':sidadé filosófica. Motivados por um projeto coletivo que.,lhes faça sentido e munidos de condiçõesdé trabalho: ',' ,adequadas, o ,que, ,natur'alinente,)ncIu(uma remunera- ,~ão digna, os professores cresceriárn em' serviço, emmuito pouco tempo. Muitos.dos que, desiludidos, aban-doriaram ~s sal~s de aula..a eras voltariam, por voca~ão eopção. '

Não se pode duvidar da 'necessidade d~' existên-cia de planos de ação, ~ão só 'para, a área da' Educação,como também para a da,Saúde, para ada Habitação etc:, ' 'bem como de uma 'legislação atualizadà"nem'de 'docu-'mentes norreadores, que constituem a 'dimensão objeti-, va' dos limites das ações políticas. Entretanto, adepen-dência tão direta entre projetos e planos de ação, entreplanos e leis,que vial:>ilizemsua irnplernenração enúe,~leise documentos controladores das ações práticas não pare- ,ce natural nem conveniente;' "..... ..~ '- ;,. ' ~ ( .

Em. 1997, .ocorreu uma profunda Reforma, Educacional no -Canadã, Mesmo corn tod;~ probie~á-, 'tica do bilingüismo e da delicada -convivência entre cida- -r

"dâos culturas que podem não ter superado, definitiva-mente o, fantasma do separatismo, o tê.íctó:cqrresp'On-dente à Reforma, consta de pouco mais de quarenta pági-nas. .São .princípios gerais, verdadeiramente norreadores,\ ",,'

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do Sistema Educativo (LBSE, 1986), formulada noperíodo posterior à Rev'olução dos C'ravos (1974), regis-'tra, em seu Art. 20; que a, educação deve organizar-setendo ern vista, 'o desenvolvimento pleno e harmonioso-dapersonalidade dos indivíduos" e 'a.Incenrivar 'a formação.de cidadiíos liures, responsáveis, autônomos e solidários. "Em SeuArt. 3°, explicita os princípios d~ organização dosistema educacional, que deve ter em vista "contribuirpara a realização da.educando, através do Pleno desenuol- '

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uimento da personalidade, da formação do cardcter e dacidadania", assim como "assegurar o respeito à diflri?nça,mercê do respeito. pelas personalidades e pelos projetos ind/-'viduais de existência" (grifo nosso). '

A, referência direta ao respeitoaos projetos indi-viduais (pessoais) consrirui um indício impo'r~ante dápreocupação em valorizar o' ser humano,' tomando-ocomo pontO"' de parrida para 'as ações educativas, ao" esmotempo ~m que se busca uma valorizaçãoda soli-aariedade, da tolerância, 'elementos constituintes dah~ção d~ plena cidadania, evid~nciand6, porranto,umequilíbrio na duplapreocupação .de formação pessoal e'soéia!. .,

1.7, Educação: projetos e vocação profissional

à idéi~ de inregr,açãó en tre'a formação e$soal ea s i entre o esenvolvimento das personali a és'individuais' e o 'ple'no (:'xerdcio,da cidadania tem, sidoobjeto de estudos extremamente fecundos, 'com origemem diferentes áreas do conhecimento. Alguns exemplossão os trabalhos de NorbçrcELIAS, em "A ,Sociedadedos Indivíduos" (1994); no !,erreno da'sociglogia;, os deMarvin MINSKY, ~m "A Sociedade da Mente" (19..85),

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a serem realizados loçalrnenre, nos .diversos segmentos '',dás siste~asdeensino; Os quadros -disciplinares 'paratodos os ciclos são apresentados. Novas disciplinas sãocriadas, como, "História e Cidadania", '''CíênciaeTecnologia", .ou "Entendendo o mundo conte~porâ'-."neo". "Educação Moral ou' Religiosa" encontra-se pre-sente em todas as séries: Tudoem.pouco mais d~ quaren-ta' páginas. ~ , ') ,

, ,No caso da 'Educação Brasileir~, ao que, 'tudoindica, ,caiece,se muito mais 'de urna.Carta de Princípi,9$Gerais, uma espécie de Tábua de Valores Funda~eniais;, amplamente acord~doscom as entidades m~is .reprcsen-'t~tivas da sociedade, sublinhando os,valores maiores que.deveriamorienrar os prQjetos e as ações cducacioriais, do'que ele planejamentos'excessivamente ;n.inuciosos ou der

,alc,eraçõ~s radicais ~a .legislação 'em vigor:~Álguns eúrrlc..,'pios 'de tais valores, quasecsempre consensuais no nível,do discurso mas ra~aIl]ente .presentes na lrnplerrie~taç~o, ,da~ aç?e~,sãoa autonomia da1uriidades escolares; quenão pode limitar-se a aspectos financeitos, e a valoriza-ção da função docente, qde' não' se esgotan~ questãosalarial mas que não pode 'esquecê-Ia, Sem o enrai;a-

, r '_ - \ '. _~ ., --mento em ,valores 'como' esses, os projetos mais bem ', intencionados terminam por perder roda a pOle~cialida·~. '"derransforrnado ra, 'tendendó,áçC;lnfun~ir"'se .corn planos"de, ação de cunho, mei-'a'})erifê/b~rõúátic'o, ou a tangen-ciar orerreno jurídico, onde correm o risco d~ corifun- -,

.s dir-se com leis, cdstaliza~d~;se ou ~oi~-;'ndo derriasiada-menterígiclo 0,qu~ deve ser, por sua natureza, 'flexível,adaptável, variáveL' ,

A educação portuguesa, em tempos reccmt~s~constitui umexb'I'\ploeluCidativo para a correção dos, desv~os,qúe acirna.se pretendeu ãponrar. A Lei de Bases ~

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no terreno da psicologia cognitiva; ou os de PierreLÉVY, em 'TlnteIligence Collecrive'' (1994); no terrenoda-íeplstemologia. Parricularrnente neste último' caso, orecurso à expressão "inteligência coietiva" parece espe~cialmente significativo, culminando uma aproximaçãotríplice entre as idéias de inteli ên i e rojeto, deinteligência e' e ci, a anIa,' e de ro'elos ( essoais ec~ e e CI ,a' ama, Entretanto, a inserção da pro-'blemática rndlvIdua17coletivo na legislação 'educacionalportuguesa, de forma consciente, direta e equilibradacomo foi, feita, visando não apenas 'a: objetivos estéticos.ou mer~inente retóricos, é ~m fa'to' alvissareiro para o'futuro dá educação naquele ,país. Tais preocupa,çõesparecem conduzi rnaruralrnenre o-debare sobre as ques-tões educacionais para-a elaboração da idéia de projeto,e em particular, para a construção da noção de projetosuocacionais.

Em FONSECA '(199.4), pode ser encontradointeress~nte material a esse respeito, destacando-se a,análise de 'como os projetos de vida são construídos nainterface individual/social, sempre supondo urna inter-verição conjunta de elementos afetivos, cognitivos' esociais .. Cada projeto de vida tende a; caracterizar-secomo la realização de uma vocação, de um apelo.vdeurnchamamentovindo, a um tempo, de dentro e de fora,

, •• • 1., ~ , I

,representando .o 'mais harmonioso' enconrrovpossívelentre as aspirações individuais e os interesses coletivos. A' 'idéia de vocação aqui-evocada pouco tem em .cornurncom ás perspectivas religiosas ou-cor» os determinismos' -inaristas, aproximando-se muito ' mais da~p'erspectivaprofissional, ou da escolha "madura" de urna atividadeprofissional, As palavras de FONSECA 'podem servirpar~ expl icitar mais as considerações supra-referidas, ao

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