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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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O USO DE METODOLOGIAS ALTERNATIVAS PARA A ABORDAGEM DO

CONCEITO DE TERRITORIO NAS AULAS DE GEOGRAFIA

José Claudio Rech1

Najla Mehanna Mormul2

RESUMOO presente trabalho tem objetivo de discutir o emprego de metodologiasalternativas para o entendimento do conceito de território, nas aulas de Geografiadas turmas de 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Humberto deCampos, nos períodos manhã, tarde e noite. Este trabalho faz parte da conclusãodo Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), oferecido aos professoresda rede pública do Estado do Paraná. Nele discutimos as metodologias daLiteratura Geográfica, do Cinema e do Estudo do Meio, entendendo que taismetodologias podem contribuir no entendimento do conceito de território acercadas relações de poder para além do enfoque do senso comum, propondo umaabordagem política, enfatizando sua configuração independente dainstitucionalização ou de sua materialização no espaço, considerando desde osmicro até os macro territórios. Para isso, realizamos pesquisa bibliográfica comvistas a auxiliar na abordagem do tema e no processo de ensino e aprendizagem.Quanto aos resultados, percebemos que existe ainda muita dificuldaderelacionada, sobretudo ao uso das tecnologias, a estrutura física, capacitação dosprofessores, duração do tempo da aula e horário. Contudo vale salientar que aimportância deste trabalho não é tornar as metodologias empregadas como sendoas únicas ou as melhores para o ensino de Geografia, mas sim, ressaltamos queé uma das formas de trabalho que vem contribuir na melhoria do aprendizadodos estudantes. Nesse sentido o emprego das metodologias citadasoportunizaram trabalhar com o conceito de território de modo articulado com avivência/cotidiano dos estudantes.

Palavras chave: Metodologias; Território; Ensino de Geografia; Ensino Médio

1. INTRODUÇÃO

Na busca de discutir o emprego de metodologias alternativas para o ensino

da Geografia e suas contribuições para o entendimento do conceito de território,

desenvolvemos a implementação pedagógica nos 3º anos do Ensino Médio, nos

1 Professor PDE turma 2013/2014, Professor de Geografia da Rede Publica do Estado doParaná; Especialista em Metodologia do Ensino;

2 Professora Adjunta do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –Campus Francisco Beltrão.

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três períodos, manhã, tarde e noite, do Colégio Estadual Humberto de Campos,

localizado na cidade de Santo Antonio do Sudoeste, Paraná. As metodologias

propostas foram: Literatura Geográfica, do Cinema, e do Estudo do Meio.

O trabalho ora apresentado é resultado do projeto de implementação

sistematizado e desenvolvido ao longo do processo de formação continuada do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Governo do Estado do

Paraná aos professores da rede pública do Estado, entre os anos de 2013 e

2014, tendo como objetivo oportunizar aos professores da rede pública do Estado,

um estudo diferenciado junto as Instituições de Ensino Superior (IES). Dessa

forma, os estudos teórico-metodológicos e orientados pelos professores da

Universidade Estadual do Oeste (UNIOESTE), resultaram na elaboração do

material didático, na forma de Unidade Didática, intitulado “O uso de metodologias

alternativas para a abordagem e do conceito de território nas aulas de Geografia”

e posteriormente na elaboração desse artigo científico.

Houve o interesse em abordar esse tema na pesquisa devido ao fato de

discutir metodologias que dessem significado e motivassem os estudantes a se

apropriarem do conhecimento. A utilização das mesmas colocam-se como

elemento importante na prática docente, e o interesse em abordar o tema de

Território, ocorreu também devido a localização da cidade de Santo Antonio do

Sudoeste que faz fronteira com a Argentina, fator esse que enriquece a

abordagem do tema.

A referida Unidade Didática propôs um diálogo com os estudantes na

prerrogativa de ajudá-los a conhecer um pouco mais de alguns lugares

fronteiriços entre os países Brasil e Argentina, bem como de outros lugares

distantes, de outros países.

A abordagem da metodologia da Literatura Geográfica foi desenvolvida

através de leituras de textos, reportagens de revistas, sites eletrônicos, imagens e

mapas. Devido as condições ofertadas pelo estabelecimento de ensino e para

facilitar o desenvolvimento das aulas, parte do material foi disponibilizado em blog

específico <geografiahc.blogspot.com.br>.

Na metodologia do cinema, foi abordado o filme Bordertown. Inicialmente,

apresentamos a sinopse, abordamos os temas que deveriam ser analisados com

maior profundidade e na sequencia ele foi exibido, com duração de 112 minutos.

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Após a exibição, os estudantes, em grupos, discutiram sobre a fronteira entre

EUA e México; Nafta; Trabalhadores (proletários); Empresários (burgueses);

Trabalho; Classes sociais; Segurança; entre outros. Após os trabalhos em grupos,

os estudantes, em forma de seminários, apresentaram suas considerações para

os demais da sala de aula.

Por fim, a metodologia do Estudo do Meio foi realizada em cinco lugares

diferentes somente com os estudantes do período diurno. Com os estudantes do

noturno não foi possível implementá-la. A visita in loco propiciou aos estudantes,

do período diurno, a observação dos locais, conversa com moradores, e, ao

retorno para a sala de aula, análise da ocupação do território.

Como forma de explicar o processo, organizamos o artigo da seguinte

maneira. No primeiro momento foi realizado uma contextualização sobre

metodologias do ensino, posteriormente foi discutido sobre sua a importância nas

aulas de Geografia e suas contribuições para o entendimento do conceito de

território. Na sequencia são apresentados os resultados do projeto da

implementação com detalhamento das ações empregadas e por fim as

considerações finais.

2. CONTEXTUALIZANDO METODOLOGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

NAS AULAS DE GEOGRAFIA

Ao propormos o estudo sobre o emprego de metodologias alternativas:

literatura geográfica, cinema e estudo do meio, entendemos que elas permitem a

sistematização do conhecimento, através de processos que estimulem os

estudantes a se apropriarem dos conceitos fundamentais3 da Geografia. De

acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCE) de Geografia

isso ocorre “a partir da intervenção intencional própria do ato docente, mediante

um planejamento que articule a abordagem dos conteúdos com a avaliação”

(PARANÁ, 2008, p. 75).

Com o intuito de atribuir qualidade ao ensino e a aprendizagem, o

professor deve buscar caminhos para sensibilizar o estudante. Utilizando-se de

3 Entende-se por conceitos fundamentais: paisagem, região, lugar, território, natureza e sociedade.

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situações problemas relacionadas ao conteúdo. Ler e interpretar os processos de

produção, organização espacial e relacioná-las no seu cotidiano, possibilita o

estudante à compreensão do conteúdo.

A DCE, proposta pela Secretaria de Estado da Educação (SEED), orienta

que a abordagem da disciplina de Geografia enfatize a configuração dos

territórios a partir das relações de poder, independente da institucionalização ou

de sua materialização no espaço, seja em escala local, regional ou global, para

Santos, território é um “nome político para o espaço de um país. [...] Pode-se

falar, portanto, de territorialidade sem Estado, mas é praticamente impossível nos

referirmos a um Estado sem território” (SANTOS; SILVEIRA, 2005, p. 19).

Sua abordagem partirá das relações políticas, do local para o global e vice-

versa, abordando as mais variadas situações como a questão do "território do

tráfico, da prostituição ou da segregação socioeconômica, até os regionais,

internacionais e globais” (PARANÁ, 2008, p. 63).

Os temas trabalhados em sala de aula, relacionados com a realidade dos

estudantes contribuíram para situá-los nas relações entre o dia a dia e o conteúdo

que está sendo desenvolvido. A abordagem dos conteúdos pode ser realizada

através de filmes relacionados com as questões políticas, sociais, econômicas,

culturais. Utilizando-se do cinema como metodologia, o professor tem condições

de instigar o estudante à participação através de situações problemas. Essas

situações têm o objetivo de mobilizar o estudante para a compreensão do

conhecimento.

A literatura traz o conhecimento através do texto. O cinema possibilita o

professor de Geografia e os estudantes à visualização e a viagem aos diversos

locais através dos filmes. “O filme pode ser analisado de inúmeras óticas: do

ponto de vista das fotografias, do ponto de vista da criação artística”.

(PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2009, p. 267).

Nessa metodologia deve-se ter cuidado com o uso de filmes e programas,

para que não sejam vistos apenas como ilustração daquilo que o professor

explicou. Outro cuidado também é em relação com sua veracidade, visto que

muitos dos filmes são fictícios, não retratando a realidade.

O estudo do meio, ou também denominada como aula de campo, é um

encaminhamento metodológico para a análise da área em estudo, partindo do

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local ao global, ou inverso. O estudo do meio parte de uma realidade bem

delimitada para a investigação. As comparações de um lugar com outro, próximos

ou não, permitem a realização da constituição histórica do local. Este

encaminhamento metodológico serve para a análise da área em estudo. “Assim, a

aula de campo jamais será apenas um passeio, porque terá importante papel

pedagógico no ensino da Geografia” (PARANÁ, 2008, p. 80-81).

Acredita-se que estudar o uso das metodologias para o ensino da

Geografia e aplicá-las em sala de aula, pode possibilitar melhorias no processo do

ensino e aprendizagem. “A geografia não deve se restringir às aparências, ao

visível”. (KAERCHER, 2003, p. 173). Deve sim, contribuir para conhecer melhor o

espaço de vivência, estabelecer relações com a natureza, provocar

transformações na sociedade e ajudar na tarefa de atenuar as fronteiras

existentes entre os seres humanos.

Nos encaminhamentos metodológicos das DCE's de Geografia,

entendemos que a aproximação dos estudantes com os conceitos fundamentais

da Geografia deve ser oportunizada. As metodologias propostas nesse

documento permitem aos estudantes que

se apropriem dos conceitos fundamentais da Geografia e compreendamo processo de produção e transformação do espaço geográfico […] deveconsiderar o conhecimento espacial prévio dos alunos para relacioná-loao conhecimento científico no sentido de superar o senso comum(PARANÁ, 2008, p. 75).

Para a aplicação dessas metodologias, decidimos pela utilização dos

conteúdos básicos4. Estes conteúdos estão relacionados com o conceito de

território, que está estabelecido com espaço e poder. Na abordagem dessas

relações, espaço e poder, institucionalizadas ou não, o professor, ao incorporar as

metodologias supracitadas, terá alternativas que contribuirão para que a análise

das relações de poder empreendidas, tanto em escala global quanto em escala

local, sejam entendidas, sobretudo quanto às tensões provocadas pelas relações

de dominação provenientes das ações de agentes que gerenciam o capital

mundial, movidos por interesses hegemônicos e a resistência das culturas locais

que representam a identidade de uma sociedade e que as une territorialmente

enquanto nação.

4 Sempre que nos referimos a Conteúdo Básico, estaremos nos referindo a: “Formação,mobilidade das fronteiras e a reconfiguração dos territórios”.

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3. METODOLOGIAS ALTERNATIVAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A

COMPREENSÃO DO CONCEITO DE TERRITÓRIO

Buscamos discutir as diferentes metodologias para o ensino de Geografia e

suas contribuições para o entendimento do conceito de território. Essa discussão

está articulada com o conteúdo básico, visando à proposição de estratégias de

ações implementadas no Colégio Estadual Humberto de Campos – Ensino

Fundamental, Médio e Profissionalizante, nas turmas do 3º ano, nos turnos da

manhã, tarde e noite.

Na implementação, abordamos alguns questionamentos, entre eles, como

o professor de Geografia pode abordar em sala de aula o conceito de território

articulado com fronteiras? Qual a estratégia metodológica mais adequada para

abordar esse conceito? Quais os desafios e possibilidades para a utilização de

propostas metodológicas diferenciadas para os conteúdos trabalhados?

Esses são alguns dos questionamentos que realizamos ao abordar o

conceito território articulado com fronteiras. Para poder respondê-los, propomos

uma ação de intervenção pedagógica com a utilização de metodologias

alternativas: literatura geográfica, cinema e estudo do meio.

No desenvolver da pesquisa, buscamos entender a questão da qualidade,

trabalhando com observações, descrições, comparando e interpretando. Nossa

preocupação maior foi com o nível de realidade existente em sala de aula. Não

nos preocupamos com dados numéricos ou estatísticos, mas sim pela forma de

experimentação empírica, no detalhamento, na lógica das ideias, estimulando os

estudantes na aprendizagem do conteúdo, neste caso específico, o conceito de

território.

A curiosidade do ser humano sobre os lugares são objetos de estudos das

ciências, sobretudo da Geografia. Esses estudos são fundamentais para a

constituição do conhecimento do espaço de vivência desde sua antiguidade até

os dias atuais.

Essas observações iniciais, como a descrição de áreas conquistadasforam fundamentais para a expansão marítima européia a partir doséculo XV. Desde então, as expedições terrestres passaram a descrevere representar o espaço: rios, lagos, montanhas, desertos, planícies e asrelações homem-natureza em diferentes sociedades. Os dadoslevantados sobre as riquezas dos territórios coloniais serviram aosEstados colonizadores, na expansão de seus interesses, explorando e

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dizimando as populações autóctones (PARANÁa, 2011, p. 70).

O espaço de vivência dentro da disciplina de Geografia é estudado de

acordo com os conteúdos estruturantes,5 estabelecidos pela Secretaria de Estado

da Educação do Paraná (SEED) para as escolas da rede do Estado do Paraná.

Os conteúdos estruturantes “devem ser tratados pedagogicamente a partir

das categorias de análise – relações Espaço ↔ Temporais e relações Sociedade

↔ Natureza – e do quadro conceitual de referência” (PARANÁ, 2008, p. 69).

Através dessa abordagem que se conceitua o objeto de estudo da disciplina de

Geografia na Educação Básica.

O estudo da Geografia tem como um dos objetivos o entendimento do

espaço geográfico que pode ser orientado pelas concepções neopositivistas

humanísticas, existencialistas, dialética dentre outras.

Nesse sentido trabalhamos com metodologias diferenciadas com o 3º ano

do Ensino Médio, nos três períodos: manhã, tarde e noite, abordando os

conteúdos básicos selecionados. Pautado na concepção materialista histórica, por

entender que esse pressuposto pode nos auxiliar na formação de sujeitos críticos

e autônomos.

A Geografia é constituída de conceitos fundamentais básicos e esses

conceitos não se explicam por si só, é necessário fundamentá-los por meio dos

conteúdos. Neste caso, optamos pelo conceito de território, e que esse, nem

sempre é acompanhada de nação ou na existência do Estado.

A análise de território leva naturalmente, a tentativa de conceituação e decaracterização e delimitações das fronteiras. Fronteiras que não sãoestáticas nem apenas políticas, mas móveis, que flutuam ou mudam deposição conforme a evolução dos processos econômicos e políticos, comcaracterísticas próprias em cada ponto da superfície da Terra(ANDRADE, 2004, p. 233).

A Geografia nas últimas décadas passou por diversas transformações. As

mudanças decorrentes da globalização apontavam necessidades de

redimensionar a abordagem que se dava na disciplina de Geografia, passando da

prática tradicional para uma postura mais crítica em função da complexidade dos

fenômenos a serem compreendidos, entretanto, adotar uma Pedagogia sobre um

enfoque mais crítico dos conteúdos, não se efetivou plenamente devido à

5 Quando nos referimos ao termo “Conteúdos Estruturantes” estamos nos referindo à: “Dimensãoeconômica do espaço geográfico; Dimensão política do espaço geográfico; Dimensão cultural edemográfica do espaço geográfico e Dimensão socioambiental do espaço geográfico”.(PARANÁ, 2008, p.97).

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escassez de condições materiais, de assimilação dessa perspectiva enquanto

sistema educacional, pois manteve o mesmo formato pautado na fragmentação

das disciplinas, carga horária de trabalho dos professores elevada e hora

atividade insuficiente para pesquisa e reflexão a cerca da prática docente,

[…] tal implantação inconsistente, pois manteve intacta a organizaçãoescolar em disciplinas fragmentadas, carga horária elevada de trabalhodo professor e a não remuneração das horas de trabalho fora da sala deaula. (…) que o professor é tratado não como um pesquisador, mascomo um dador de aula, é remunerado de acordo com o número deaulas ministradas, sem levar em consideração o tempo de estudo e deplanejamento das atividades pedagógicas (BACZINSKI, 2009, p. 176-177).

As consequências dessa posição do professor como um “dador de aulas”

fortalece o dogmatismo do ensino precário, tradicional e fragmentado da

realidade. Para a superação desse dogmatismo, o professor deve observar o

Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, pois é ele que reúne propostas de

ações concretas para serem executadas num determinado período. Considera-se

Político, por que a escola é como um espaço de formação de cidadãos

conscientes, responsáveis e críticos. Pedagógico, pois define e organiza as

atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e

aprendizagem. O Projeto Político Pedagógico (PPP) do Colégio Estadual

Humberto de Campos – Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante, foi

elaborado visando:

Na busca da valorização da escola pública, [...] que tem como objetivocondutor desenvolver valores necessários à integração dos projetos doseducandos com a transformação social de que tanto nossa sociedadeprecisa, procurando interagir com toda a comunidade escolar, ouvindopais, funcionários, alunos, professores e demais segmentos sociais paraque possamos direcionar positivamente o ensino (PARANÁb, 2011, p. 6).

No PPP do Colégio, fica evidenciado que o nível socioeconômico dos

estudantes é de vulnerabilidade social, pois os pais são em sua maioria

assalariados. Há uma pequena parcela dos estudantes com renda de atividades

em minifúndios e outra constituída por filhos de microempresários e de pequenos

industriais.

O Município de Santo Antonio do Sudoeste é essencialmente agrícola,com parte da população de minifundiários, parte, de micro empresas epequenas indústrias. Devido a este perfil, a maior parte da comunidadeescolar é assalariada e de nível econômico menos favorecido(PARANÁb, 2011, p. 10).

Diante do exposto, entende-se que um dos poucos recursos utilizados

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pelos estudantes em sala de aula é o livro didático6. Dessa forma, serão

aproveitados outros textos de diversos autores bem como a unidade de

intervenção pedagógica produzida, especialmente, para a aplicação das

metodologias alternativas para o ensino do conceito de território nas aulas de

Geografia.

3.1 Literatura geográfica e ensino de geografia

A literatura dentro do ensino de Geografia é essencial, pois sem entender

um texto, o estudante também não conseguirá compreender a Geografia, sendo

assim:

Saber ler e analisar um texto ou documento é requisito indispensávelpara o estudante em todas as disciplinas escolares. [...] Um aluno quenão consegue entender um texto não é capaz de resolver problemas dematemática (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2009, p. 220).

Diante desta afirmação, entendemos que para a compreensão da

Geografia, o ser humano, nesse caso, o estudante, necessita fazer a leitura de

textos que contenham informações sistematizadas.

A literatura, em seus diversos gêneros, pode ser instrumento mediadorpara a compreensão dos processos de produção e organização espacial;dos conceitos fundamentais à abordagem geográfica e, também,instrumento de problematização dos conteúdos (PARANÁ, 2008, p. 84).

Ao trabalhar com a literatura geográfica, o professor deve pautar a

abordagem, observando todas as possibilidades oferecidas na obra, adequando à

linguagem para a etapa da escolarização dos estudantes. É fundamental também

destacar a relação dialética entre a obra com as concepções do dia a dia dos

estudantes.

No uso da metodologia da Literatura Geográfica durante a intervenção

pedagógica, enfrentamos muita dificuldade principalmente com o uso de recursos

tecnológicos. Em primeiro momento, em uma das salas de aula, a TV-Pendrive

não funcionava. Em outra sala, não funcionava a rede de internet wi-fi (internet

sem fio). Após averiguar outras salas de aula, percebemos que muitas delas não

dispõem de sinal de internet sem fio e que em várias salas de aula, as TV's

Pendrive não funcionam. Outra situação encontrada é que o Colégio dispõe

6 Geografia Geral e do Brasil, volume 2: espaço geográfico e globalizado, de Eustáquio de Senee João Carlos Moreira, adotada pelo Colégio no programa PNLD 2012/2014, para os 3º anosdo Ensino Médio.

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apenas de dois projetores de imagens, sendo insuficientes para atender a

demanda, já que o período da manhã tem 20 turmas regulares de estudantes,

distribuídos entre as séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, sem

contarmos com turmas como o “mais educação” e sala de recursos. No período

da tarde, o número de turmas regulares chega a 14. Enquanto que no período

noturno, o número de turmas regulares é menor, 12 no total.

Percebemos ainda, sobre a internet sem fio, praticamente todas as

semanas, ou até duas vezes por semana, realiza-se troca de senha para o

acesso, dificultando assim o trabalho planejado com os estudantes. Ao questionar

a secretaria do Colégio sobre os motivos da troca de senha, informaram que era

devido ao uso indevido por parte dos estudantes e até mesmo de professores e

que, em alguns momentos, estavam conectados mais de 100 dispositivos, entre

eles computadores portáteis e aparelhos de celulares. Esse uso elevado de

equipamentos dificultava o trabalho da secretaria, ou seja, o sistema de internet

do Colégio, não suporta um número elevado de equipamentos conectados.

Para superar essas dificuldades encontradas, procuramos metodologias

alternativas, como o uso de blog específico, para facilitar a pesquisa dos

estudantes, bem como foi criado um “grupo” em rede social, como o facebook,

para cada turma que estávamos aplicando a intervenção pedagógica. Dessa

forma conseguimos superar um pouco as dificuldades que estavam sendo

apresentadas na estrutura física existente do Colégio. Essa metodologia permitiu

aos estudantes o uso de equipamentos eletrônicos como notebook, celulares. De

acordo com a estudante do 3º ano período noturno (A. E.)7, salienta que “Esse

novo jeito de ensino é muito bom, pois usamos o celular, not para a aula, para

aprender e não ficar mechendo por bobeira”. O uso de equipamentos eletrônicos

em sala de aula é um desafio a ser superado pelos professores. Não restam

dúvidas que os recursos tecnológicos precisam ser incorporados às práticas

pedagógicas dos docentes. As novas tecnologias precisam ser utilizadas de

maneira adequada e isso requer capacitação dos docentes para lidar de forma

eficiente com essas tic's. Essa capacitação também deve ser feita de forma

institucionalizada, ou seja, pela mantenedora, através de cursos e momentos de

reflexão aos docentes, sem esperar na iniciativa individual, em que o professor

7 Para não expor a identidade dos estudantes e dos professores, optamos manter somente asiniciais dos nomes.

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procura a capacitação por livre vontade.

O êxito na incorporação das novas tic's no cotidiano das aulas envolve

muito mais que a presença desses recursos nas escolas. É necessário equipe

especializada para a manutenção, apoio técnico, capacitação, uma equipe diretiva

que favoreça esse processo e ainda, talvez o mais importante, investimentos na

disponibilização de tecnologias, como computadores de última geração,

projetores de imagens, e videotecas atualizadas constantemente.

Sobre o conceito de território, o uso dessa metodologia, Literatura

Geográfica, a Professora (M. A. D.), que leciona na Casa Familiar Rural, no

município de Santa Izabel do Oeste, Núcleo Regional de Francisco Beltrão,

durante o curso do GTR8, disse que trabalha com “leitura de textos, análise de

fotos e mapas comparando um determinado período com os dos dias atuais”. A

professora salienta ainda que após as pesquisas bibliográficas, geralmente acaba

utilizando vídeos para “mostrar os conflitos existentes naquele território”.

Quanto ao trabalho desenvolvido em sala de aula, a estudante do período

da manhã, (M. C. F.), disse que nessa metodologia desenvolvida em sala de aula,

pode perceber que através das ações e iniciativas do governo Federal e das

Forças Armadas no processo de proteção do território brasileiro “podemos

compreender que o governo possui projetos para a melhoria das condições na

divisa do país, procurando diminuir e com o tempo acabar com o contrabando de

produtos entre Brasil e os países fronteiriços, por meio de uma fiscalização

reforçada e punição mais rigorosa para os contrabandistas”.

Nessa metodologia da Literatura Geográfica, percebemos que os

estudantes do período da manhã conseguiram desenvolver as atividades com

maior facilidade, pois dispõem de tempo em turno contrário, para, em grupos

realizarem as leituras e discussões solicitadas, bem como para se prepararem

com materiais, como vídeos, textos, e slides para as discussões em sala de aula.

Já o período da tarde, tanto na elaboração das atividades, como no debate os

estudantes apresentaram dificuldades. Percebemos que os estudantes não

8 Grupo de Trabalho em Rede, através da modalidade da Educação a Distância (EaD) realizadopela Secretaria de Estado da Educação, sendo tutores, os professores participantes do PDE,que é disponibilizado Projeto da Intervenção Pedagógica e que através de fóruns sãoanalisados e discutidos as ações propostas com os estudantes. Na turma específica destatutoria, participaram 17 professores de diversas regiões do Estado do Paraná, tendo 14professores concluíntes.

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aprofundaram as leituras em casa, ficando somente no que foi disponibilizado em

sala de aula. Já no período noturno, os debates foram sempre proveitosos, mas

percebemos que só conseguiram realizar pesquisas e leituras dos materiais que

foram disponibilizados em sala de aula, pois a maioria dos estudantes desse

período trabalha diariamente.

3.2 Cinema e ensino de geografia

Em relação à metodologia do cinema podemos abordar questões

relacionadas como a da sociedade-população, de gênero, violência, relações de

poder de classes (burguesia e proletariado), economia, política, cultura, etnias,

religiosidade, o poder da grande mídia. Na dimensão econômica do espaço

geográfico, pode ser dado o enfoque quanto a localização, urbanização,

hidrografia, relevo, vegetação, utilização de Sistema de Informação Geográfica

(SIG)9, e o sistema de posicionamento global, popularmente conhecido por Global

Positioning System, (GPS), ou do português geo-posicionamento por satélite10.

Todos os temas relacionados com o local em estudo podem ser articulados

com o local/lugar do estudante. A partir dessas reflexões no ensino de Geografia,

relacionamos essas discussões aos regionalismos, aos blocos econômicos, na

formação de redes e na (re) configuração de fronteiras. Fronteiras não são

apenas a questão do território, delimitado através de Leis.

[…] uma construção humana e que, portanto, são provisórias, repletasde interesses e conflitos. Fronteiras não são só entre unidadesadministrativas. Uma caixa de supermercado é uma fronteiraintransponível para quem não possui dinheiro para comprar. É umafronteira que impede o desejo de consumo das pessoas (KAERCHER,2003, p. 15).

Fronteiras, nesta visão, perpassam a fluidez tanto da questão cultural de

uma nação, como na delimitação de áreas. Elas estão além da percepção da

imaginação do ser humano.

Nessa metodologia de cinema, exibimos o filme Bordertown, (Cidade do

Silêncio), direção de Gregory Nava, identificando nele a situação das pessoas

9 (SIG ou GIS - Geographic Information System, do acrónimo/acrônimo inglês) é um sistema dehardware, software, informação espacial e procedimentos computacionais que permite e facilitaa análise, gestão ou representação do espaço e dos fenômenos que nele ocorrem (Sistema deinformação geográfica, 2013).

10 É um sistema de navegação por satélite que fornece a um aparelho receptor móvel a posiçãodo mesmo, assim como informação horária, sob todas as condições atmosféricas, a qualquermomento e em qualquer lugar na Terra, desde que o receptor se encontre no campo de visãode quatro satélites GPS (Sistema de posicionamento global, 2013).

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residentes em fronteiras, que geralmente são submetidas ao trabalho que

demanda de concentração, movimentos repetitivos, com longas jornadas de

trabalho diário e ainda submetidas a salários que não satisfazem as necessidades

de uma qualidade de vida mínima para a sobrevivência de um ser humano. Para

a exibição do filme utilizamos como recurso tecnológico um projetor de imagens

com disponibilidade de áudio. Como o filme tem uma duração de 112 minutos,

precisamos utilizar aulas de outros professores. Quanto à utilização das aulas foi

acertado com antecedência com os professores.

A experiência pessoal no decorrer desse trabalho de pesquisa, revelou que

o uso da TV multimídia, projetor de slides, resultou em aulas mais atrativas, nas

quais, os estudantes demonstraram maior atenção e curiosidade. O uso de

imagens, na projeção filmítica, possibilita superar a abstração e contribui para a

aprendizagem, pois a contextualização é facilitada. Alguns estudantes mais

desatentos e outros tímidos, aos poucos, se envolvem e participam, pois após a

exibição do filme, foi oportunizada a todos os estudantes, primeiramente em

grupos de três a cinco e, após em forma de seminário, na apresentação das

discussões relacionando o filme com o conteúdo. Esse debate foi oportunizado a

todos, manifestando suas interpretações com relação ao filme. Dessa forma,

percebeu-se que a aprendizagem dos estudantes melhora quando há

metodologias diferenciadas do dia a dia.

No período da manhã e da tarde, a exibição deu-se na própria sala de aula.

Já para as turmas do período da noite, a exibição aconteceu no anfiteatro do

Colégio, visto que foi exibido o filme ao mesmo tempo para duas turmas, 3º “D” e

3º “E”, pois, foi a forma mais eficaz para o uso das aulas, já que a duração do

filme exigia a permanência dos estudantes durante três horários de aula e que em

acordo com os professores daquele dia, juntamente com a equipe pedagógica,

avaliou-se que dessa maneira, contibuiria para o bom funcionamento da escola.

É importante destacar que o uso de filmes nas aulas de Geografia não

deve se tornar o único ou o melhor recurso existente, nem tão pouco fazer-se

presente em todas as aulas. Esse recurso deve vir associado e/ou intercalado a

outros recursos didáticos já disponíveis, possibilitando metodologias

diversificadas ao longo do ano letivo.

Os recursos, sejam eles tecnológicos ou não, sempre serão recursos que

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possibilitam a aprendizagem, entretanto, o fazer pedagógico, nos limites das

condições de infraestrutura física das escolas, de turmas com número de

estudantes elevado, na precarização11 da educação, faz com que o docente

procure superar essas dificuldades, ultrapassando o conservadorismo existente

na sociedade, principalmente dentro da escola.

Convém salientar que o papel do professor no processo educacional é

fundamental, seu comprometimento no uso e exploração dos recursos é

determinante, procurando sempre, recursos que possibilitam no entendimento do

conteúdo que está sendo desenvolvido.

Nessa metodologia, buscamos ressaltar a importância do trabalho com o

uso de imagens, em especial a filmítica, ou seja, a produção de filmes, e

oportunizando aos estudantes a exibição de filmes, a observação, a análise e por

fim que possam interpretá-los, de maneira crítica, comparando com a realidade

dos estudantes. Ao mesmo tempo, os filmes passam a ser incorporados aos

demais instrumentos didáticos de aprendizagem, principalmente à disciplina de

Geografia.

Na análise dessa metodologia, percebemos que os estudantes do período

noturno conseguiram um aprofundamento melhor do que as turmas dos períodos

da manhã e tarde. No desenvolvimento das atividades propostas após a exibição

do filme, os estudantes do noturno, procuraram ver o filme novamente e

realizaram debates em sala de aula, primeiramente em grupos e após em forma

de seminário. Nesses debates, os estudantes do noturno conseguiram extrair a

essência do filme, retratando com a realidade em que vivem. Ressaltamos que as

atividades foram realizadas da mesma maneira entre os três períodos e que nos

períodos da manhã e tarde o interesse dos estudantes para a análise e discussão

do filme, foi menor com relação ao período noturno.

Entendemos que há dificuldades na utilização de filmes no espaço escolar,

mais precisamente em sala de aula. Essas dificuldades estão relacionadas ao

tempo da duração das aulas, na estrutura física do Colégio, dos profissionais da

educação que ainda veem o filme como “aula matada”. Essas dificuldades foram

e continuam sendo encontradas no Colégio onde foi aplicado a intervenção

pedagógica. Acreditamos que em outras escolas, essas situações são as

11 Essa precarização geralmente gera um ensino com baixa qualidade na aprendizagem dos estudantes.

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mesmas, pois as dificuldades de infraestrutura, da duração das aulas e a

formação pedagógica dos docentes não diferem muito entre um estabelecimento

de ensino e outro.

Cabe a cada professor adaptar, mudar e criar, buscando aprimorar as

metodologias que utilizam, desmistificando o audiovisual como apenas para

“matar a aula”.

3.3 Estudo do meio e ensino de geografia

O cinema provoca a visualização do local, mas, a aula de campo é uma

metodologia que possibilita o estudante desenvolver múltiplas atividades, tais

como: consultas bibliográficas (livros e periódicos), análise de fotos antigas,

interpretação de mapas, entrevistas com moradores, elaboração de maquetes,

murais e produção de textos.

Nessa metodologia, dificilmente uma disciplina escolar isolada pode

atender os objetivos propostos para a compreensão do conhecimento. Dessa

maneira, estudo do meio, ou aula de campo como também pode ser chamada, é

“uma metodologia de ensino interdisciplinar que pretende desvendar a

complexidade de um espaço determinado extremamente dinâmico e em

constante transformação” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2009, p. 173).

Durante a intervenção pedagógica, também realizamos aula de campo, no

marco principal da fronteira, entre os países da Argentina com o Brasil, localizado

na nascente do Rio Santo Antônio. Sendo essa referência histórica na

confrontação desses países. Além desse local, realizamos visitas em outros

quatro lugares para o aprofundamento do conteúdo. Esses outros lugares, em

área urbana da cidade de Santo Antonio do Sudoeste.

O estudo do meio consiste na visita preliminar e o planejamento quanto à

opção pelo percurso, a elaboração da caderneta de campo para o registro das

observações e a pesquisa propriamente dita.

Buscando uma prática reflexiva, oportunizando aos estudantes melhor

compreensão do conceito de território articulado com fronteiras, realizamos

estudo do meio com os estudantes envolvidos na intervenção pedagógica. Com

as turmas do período da manhã e tarde, visitamos o marco principal da fronteira

entre Brasil e Argentina, localizado no interior do município de Santo Antonio do

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Sudoeste. Além desse local, visitamos outros quatro pontos pré-estabelecidos

para a análise e compreensão do conteúdo, sendo: Bairro Novo Horizonte, Bairro

Jardim Fronteira, Bairro Entre Rios e Bairro Vila Nova.

O Bairro Novo Horizonte, está localizado em uma antiga área onde era

depositado o lixo recolhido da área urbana de Santo Antonio do Sudoeste. Neste

bairro, os moradores, cerca de 250 residências, convivem com situações de alta

vulnerabilidade social, com a falta de água encanada e esgoto a céu aberto.

Podemos constatar neste caso, as fronteiras da exclusão social, bem como a falta

de atendimento por parte dos órgãos públicos. Constatamos também em

conversa com os moradores, que além dessas situaçãoes encontradas, pesa

ainda a discriminação social.

No Bairro Jardim Fronteira, localizado próximo ao rio Santo Antonio, rio que

determina a fronteira entre Brasil e Argentina. A formação deste bairro é recente e

planejado, contando com energia elétrica, água encanada, rede de esgoto, ruas

com pedras irregulares. A situação social das famílias encontradas neste lugar

difere em muito do anterior. O terceiro bairro visitado, o Entre Rios, fica a margem

do Rio Santo Antonio, próximo à área central da cidade. No território deste, houve

a ocupação irregular de centenas de famílias, sendo que algumas residências

estão construídas a poucos metros da margem do rio. O local está desprovido do

atendimento dos órgãos públicos. Neste local, os estudantes puderam constatar a

situação vivida pelas pessoas, à ocupação irregular, a fronteira entre os dois

países, Brasil e Argentina, locais de passagem clandestina, denominados pelos

moradores de “picos”, que de acordo com eles, é utilizado para a passagem de

mercadorias do Brasil para a Argentina e vice-versa. No Bairro Vila Nova,

encontramos uma ocupação organizada, mas mesmo assim, algumas, são

construídas irregularmente, contando com a falta de atendimento básico dos

órgãos públicos. A situação de ocupação desse último local não difere em muito

do Bairro Entre Rios, até por que, estão localizados próximos um do outro.

Quanto aos estudantes do período noturno, foram agendadas cinco vezes

para a realização do estudo do meio, sendo: dia 12 de abril, 19 de abril, 26 de

abril, 03 de maio e 10 de maio, mas nenhuma das datas foi possível realizar as

atividades, por diversas situações, sendo: No dia 12 de abril, motivo: chuva; dia

19 de abril, motivo: feriado de Páscoa; 26 de abril, motivo: greve dos professores;

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dia 03 de maio, chuva, a cidade foi assolada por enchente; dia 12 de maio,

motivo: chuva. Dessa forma, a aula de campo do período noturno não foi possível

sua realização.

Com relação aos dois turnos, manhã e tarde, que foi possível realizar as

atividades de estudo do meio, os estudantes do período da manhã, durante as

visitas procuraram conversar com os moradores, questionando-os. No retorno

para a sala de aula, os estudantes, em grupos, debateram a situação dos locais e

realizaram apresentações com o uso de slides, apresentando diversas imagens

realizadas por eles. Já os estudantes do período da tarde, não demonstraram

interesse em conversar com os moradores e ao retornar para a sala de aula,

apresentaram pouca discussão sobre os locais.

Desse modo, entendemos que estudar o conceito de território contribui

para que o estudante construa o conhecimento acerca das relações de poder

para além dos enfoques do senso comum, para um conhecimento científico.

Propondo uma abordagem política em diferentes escalas a qual considere desde

os micros até os macros territórios.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para as análises conclusivas do estudo, salientamos que, ao discutir

metodologias alternativas para a abordagem do conceito de território, nossa

intenção não foi de inovar, mas, de buscar uma prática reflexiva, que possa

oportunizar aos docentes e estudantes uma discussão do uso de metodologias

diferenciadas, que possibilite um trabalho na disciplina de Geografia de forma a

contribuir na formação crítica de indivíduos capazes de entender o local em que

vivem e relacioná-lo com lugares distantes.

O emprego dessas metodologias está voltado na busca de práticas

curriculares que possam auxiliar na construção do sujeito crítico, participativo e

em condições de compreender o mundo e atuar nele.

A Geografia enquanto ciência humana tem a preocupação de compreender

a sociedade, a partir de sua existência. Entender essa dinâmica da sociedade é

de fundamental importância, pois é através dessa dinâmica que o território sofre

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as ações. Essas mudanças são provocadas pelos seres humanos através de sua

luta pela sobrevivência.

Essas construções e modificações estão inseridas num determinado

território. Para a conceituação de território em sala de aula, desenvolvemos a

intervenção pedagógica com o uso de metodologias alternativas, sendo: l iteratura

geográfica, cinema e estudo do meio. Na primeira, apresentamos textos,

reportagens em revistas, sites eletrônicos, blogs e imagens. Na segunda,

apresentamos as diferenças existentes na sociedade através do filme Bordertown,

(no Brasil, Cidade do Silêncio), direção de Gregory Nava. Na terceira

metodologia, estudo do meio, visitamos o marco principal da fronteira entre Brasil

e Argentina, localizado na cidade de Santo Antonio do Sudoeste (BR) e San

Antonio (AR). Além desse, outros locais foram visitados, sendo os bairros Novo

Horizonte, Jardim Fronteira, Entre Rios e Vila Nova. Essas visitas só foram

possíveis com os estudantes dos períodos diurno.

Convém salientar que o papel do professor no processo educacional é

fundamental, seu comprometimento no uso e exploração dos recursos é

determinante, procurando sempre, metodologias que possibilitam no

entendimento do conteúdo que está sendo desenvolvido.

Não temos a prerrogativa de aqui propor novas práticas pedagógicas,

muito ao contrário, o que buscamos é ressaltar a importância do trabalho com o

uso de metodologias alternativas. Essa alternancia, oportunizam aos estudantes

observar, analisar, interpretar e debater em sala de aula, de maneira crítica, a

realidade que vivem e de outros lugares.

Buscamos assim, uma prática reflexiva, por meio do uso de metodologias

diferenciadas, acreditando que essas se bem trabalhadas pelo professor podem

promover uma aprendizagem significativa.

5. REFERÊNCIAS

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BACZINSKI, Alexandra Vanessa de Moura. A implantação oficial da pedagogia

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histórico-crítica na rede pública do Estado do Paraná (1983 – 1994): legitimação,resistências e contradições. In: MARQUES, Sônia Maria dos Santos et al (org.)Conhecimentos, (Re)construções e práticas pedagógicas. Francisco Beltrão.Unioeste, 2009, p. 163-180.

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______. Desafios e utopias no ensino de geografia. In: ______ et al (orgs.).Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 4ª ed. Porto Alegre: Editora daUFRS/Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Porto Alegre, 2003, p. 173-186.

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SANTOS, Milton. SILVEIRA, María Laura. O Brasil: território e sociedade noinício do século XXI. 8ª ed. Record. Rio de Janeiro, 2005.