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VIDA COTIDIANA E PENSAMENTO ECOLÓGICO

New VIDA COTIDIANA E PENSAMENTO ECOLÓGICO · 2018. 9. 13. · cutores por tantos anos: Danilo Marcondes, Edgard Filho, Gilvan Fogel, Rafael Haddock-Lobo, Pedro Rocha de Oliveira,

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VIDA COTIDIANA E PENSAMENTO ECOLÓGICO

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ReitorPe. Josafá Carlos de Siqueira SJ

Vice-ReitorPe. Álvaro Mendonça Pimentel SJ

Vice-Reitor para Assuntos AcadêmicosProf. José Ricardo Bergmann

Vice-Reitor para Assuntos AdministrativosProf. Luiz Carlos Scavarda do Carmo

Vice-Reitor para Assuntos ComunitáriosProf. Augusto Luiz Duarte Lopes Sampaio

Vice-Reitor para Assuntos de DesenvolvimentoProf. Sergio Bruni

DecanosProf. Júlio Cesar Valladão Diniz (CTCH)Prof. Luiz Roberto A. Cunha (CCS)Prof. Luiz Alencar Reis da Silva Mello (CTC)Prof. Hilton Augusto Koch (CCBS)

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LUIZ BICCA

VIDA COTIDIANA E PENSAMENTO ECOLÓGICO

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Editora PUC-RioRua Marquês de S. Vicente, 225, casa Editora PUC-RioGávea - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22451-900Tel.: (21)3527-1760/[email protected]/editorapucrio

Conselho Gestor Editora PUC-RioAugusto Sampaio, Danilo Marcondes, Felipe Gomberg, Hilton Augusto Koch, José Ricardo Bergmann, Júlio Diniz, Luiz Alencar Reis da Silva Mello, Luiz Roberto Cunha, Miguel Pereira e Sergio Bruni

Viveiros de Castro Editora Ltda.Rua Visconde de Pirajá, 580/sl. 320 – Ipanema22410-902 – Rio de Janeiro, RJ Tel. (21) [email protected]

Revisão de textoFrederico Hartje

Projeto gráfico de capa e mioloFlavia da Matta Design

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bicca, Luiz

Vida cotidiana e pensamento ecológico / Luiz Bicca. – Rio de Janeiro : Ed. PUC-Rio : 7 Letras, 2018.

272 p. ; 23 cm

Inclui bibliografiaISBN (Ed. PUC-Rio): 978-85-8006-245-8ISBN (7 Letras): 978-85-421-0685-5 1. Ecologia – Filosofia. 2. Ética ambiental. 3. Filosofia e civilização. 4.

Política ambiental. I. Título.

CDD: 577.01

Elaborado por Lizandra Toscano dos Santos – CRB-7/6915 Divisão de Bibliotecas e Documentação – PUC-Rio

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Os escritos que se seguem são dedicados (in memoriam) ao Dr. Edgard José Jorge, autodidata pioneiro nos estudos ecológicos, de quem recebi nos idos anos 1970 as primeiras advertências e lições sobre enormes perigos que já se apresentavam no horizonte, em tempos de deslumbrado desenvolvimen-tismo capitalista.

A dedicatória estende-se ainda ao Prof. Dr. Edgard J. Jorge Filho, que tão bem tem dado continuidade àqueles estudos.

***

Palavras de agradecimento vão também para amigos e colegas, interlo-cutores por tantos anos: Danilo Marcondes, Edgard Filho, Gilvan Fogel, Rafael Haddock-Lobo, Pedro Rocha de Oliveira, Rosana Suarez e ao Dr. Marcelo Marques, há décadas meu generoso fornecedor parisiense de material bibliográfico.

Visconde de Mauá, primavera de 2017.

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Apresentação | Rafael Haddock-Lobo

Modernidade circundante

Ética e vida cotidiana

Literatura moral, ironia e ceticismo

Desobediência

Pensamento ecológico

Bibliografia

Sumário

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53

95

125

159

269

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São poucas e esparsas as iniciativas para se tentar empreender, no âmbito das discussões brasileiras, uma efetiva abertura, em meio às questões considera-das clássicas no panteão filosófico, em direção a outros temas e outros focos da especulação filosófica. Questões como os problemas de gênero, raciais, a cultura brasileira e o pensamento ecológico vêm ganhando espaço e, passo a passo, começam a ocupar cadeiras em Departamentos de Filosofia e linhas de pesquisa de Programas de Pós-graduação e mostram que, ainda que em um ritmo bem mais lento, há um esforço por parte de alguns pesquisadores em mostrar a relevância destas discussões.

Dentre essas ainda poucas e esparsas tentativas de mostrar como são fundamentais para o pensamento ético-político, a abordagem das questões pós-coloniais ou descoloniais, as étnico-raciais, as de sexo e de gênero e o chamado problema dos “animais”, a relação entre filosofia, ética, política e ecologia deveria ganhar certa centralidade, justamente por fazer confluir grande parte das questões aqui elencadas. Pensar filosoficamente “o ecoló-gico” é de certo um dos principais desafios da filosofia contemporânea e, também é certo, um dos mais difíceis.

Sua dificuldade consiste na amplidão e no entrelaçamento de temas, questões e autores que surgem quando se trata de adentrar à pluralidade do problema. Tal pluralidade não advém apenas das reflexões se alimentarem de nomes importantes ao longo da História da Filosofia (dos gregos, como Aris-tóteles e Sexto Empírico, a autores eminentemente contemporâneos, como

ApresentaçãoRafael Haddock-Lobo (UFRJ)

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Derrida, Donna Haraway e Jacques Rancière, passando por Espinosa, Hume, Kant, Marx, Nietzsche, Heidegger e Adorno, para nomear apenas alguns); a pluralidade em questão vem também do entrecruzamento, sobretudo no final do século XX até nossos dias, de perspectivas céticas, naturalistas, perspecti-vistas, socialistas, desconstrucionistas, feministas e anarquistas, que acabam alimentando grande parte das discussões éticas e políticas de nossos tempos e que podem em muito contribuir para a questão dita “ecológica”.

É nesse sentido, que se pode ver a importância da chegada de uma obra como Vida cotidiana e pensamento ecológico, de Luiz Bicca. Trata-se, em pri-meiro lugar, de uma obra que se soma a esses poucos e esparsos esforços, na referida tentativa de abrir espaço no meio acadêmico brasileiro a questões que, em uma arquitetura clássica, não teriam certa prioridade ou “dignidade filosó-fica”. Em segundo lugar, o livro que aqui nos chega, aparece como a construção fundamental de uma aproximação às questões ecológicas, tendo como ponto de partida questões que poderiam ser consideradas mais amplas, como a modernidade filosófica, o ceticismo, a literatura, a política e a vida cotidiana.

Há, ainda, um outro aspecto a ser levado em consideração, no que diz respeito ao percurso filosófico do autor – aquilo que poderia parecer, em uma primeira impressão, como certa mudança temática ou de direcionamento filosófico em sua obra. Reconhecido especialista no pensamento dialético (de Hegel e Marx à Escola de Frankfurt), tendo se dedicado certo tempo às questões concernentes à alteridade (no estudo de autores como Schopenhauer, Nietzsche, Heidegger, Buber, Lévinas e Derrida) e mais recentemente aos problemas do ceticismo (tanto o antigo como o moderno), mais do que uma ruptura, esta obra pode representar um certo ápice ou ponto de confluência de tantas e aparentes diversas fontes de pesquisa.

Isso porque, sobretudo, o que se deixa marcar no percurso filosófico de Luiz Bicca é uma profunda atenção e dedicação aos temas éticos e políticos que constituem e alimentam nossas práticas cotidianas. As tentativas de com-preender o que seria o fenômeno humano, em suas relações éticas, políticas ou afetivas, com seu conhecido traço que oscila entre um pessimismo scho-penhaueriano e um ceticismo irônico de traço machadiano, aliam-se agora a uma análise atenta de uma produção bibliográfica radicalmente atual no que concerne à produção do pensamento ecológico.

O livro, apesar de dividido em cinco ensaios (que demonstram a liberdade de escrita cada vez surpreendente, preservando a notória clareza e didática do

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11Apresentação

autor), pode ser compreendido em duas partes, sendo que a inicial con-duz à final. Nos quatro primeiros ensaios (“Modernidade circundante”, “Ética e vida cotidiana”, “Literatura moral, ironia e ceticismo” e “Deso-bediência”), Bicca tece uma impressionante rede de argumentação, com recurso preciso a uma diversa gama de autores (de Wittgenstein e Hei-degger a Cavell e Nietzsche, de Hume e Montaigne a Derrida e Lévinas, de Thoreau e Emerson aos frankfurtianos, à psicanálise e ao marxismo, de Pirro e Aristóteles a Coetzee e Machado de Assis), preparando seu solo para o quinto ensaio, que ocupa grande parte do livro, não apenas em termos de tamanho, mas de importância filosófica.

É, portanto, no ensaio “Pensamento ecológico”, que o autor nos lega suas análises mais atuais e contundentes sobre a situação político-eco-lógica de nossos dias. Partindo das análises da ecologia profunda, Bicca transita e apresenta as principais ideias de correntes tão distintas como o biocentrismo, a ecofilosofia radical, o ecofeminismo, e a ecologia social, o ecomarxismo, ecossocialismo e o ecoanarquismo, construindo uma análise que ao mesmo tempo é didática e original análise, interessante tanto àqueles que se consideram iniciados nas leituras filosóficas como àqueles que tem o interesse voltado às questões do meio ambiente.

Resta ao leitor o prazer de acompanhar uma discussão tão inte-ressante e atual como essa, sobretudo acompanhando dos contracantos de Schelling, Heidegger, Marcuse, Adorno, Derrida e Haraway. Trata--se, por fim, de uma obra obrigatória a todos aqueles interessados em pensar sobre nossa condição de humanos, que habitamos esse planeta com outros seres, muitos humanos, muitos outros não, alguns animais outros não, alguns até mesmo não vivos, mas que compomos, ou que deveríamos compor, uma certa comunidade (ainda que sem comum) dentro disso que chamamos de “Terra”.

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I

A vida cotidiana faz figura tanto de um âmbito em que reside um conjunto de certezas de senso comum quanto de uma esfera em que tem lugar uma promessa de redenção. Aqui, todavia, a vida cotidiana importa, para fins de tematização, como espaço de acontecimento de uma busca incessante. Por sua vez, o caráter de comum ou ordinário, a ser privilegiado nas páginas que se seguem, fala de uma intimidade com o que aparece, com a existência, bem como de uma intimidade perdida, que seria capaz de neutralizar o desespero do mundo, tão próprio do ceticismo moderno. O cotidiano é o lugar da fala ou da linguagem comum, mas pode também ser pensado como instância na qual se encontrará nosso lar ou nossa terra natal. Segundo alguns intérpre-tes, o Wittgenstein das Investigações filosóficas tinha confiança no discurso comum; desconfiança ele mostrava em relação à linguagem filosófica, que acarreta aqueles “problemas que surgem através de uma má interpretação de nossas formas de linguagem” (Investigações, § 111).

A linguagem comum é o lar das palavras, dos termos de reflexão, que vivem filosoficamente um exílio em relação à superfície, já que esses termos se desgarram nas buscas filosóficas por “profundidade”. Vejamos como isso é dito com palavras que lembram Heidegger, embora o pensador que esteja sendo aqui explicitamente referido seja Wittgenstein:

Modernidade circundante