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ANO I – Nº 02 – 2008 – ISSN 1983-1285

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Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008

Expediente

Revista Eletrônica da Faculdade José Augusto Vieira edição 02, ano I. Lagarto, setembro de 2008.

EDITOR-CHEFE Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos CONSELHO EDITORIAL E REDAÇÃO Prof. Msc. Alexandre Matos (Administração de Empresas) Prof. Rogério Teles Santos (Contabilidade) Prof. Msc. Ademário dos Santos Júnior (Geografia) Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque (História) Prof. Paulo Roberto Boa Sorte Silva (Letras Português-Inglês) Prof. Edílson de Araújo Santos (Matemática) Profª Msc. Silmere Alves Santos de Souza (Serviço Social)

COLABORADORES

Acadêmicos

Rosana Rocha Siqueira (Administração de Empresas) Rilley Guimarães de Oliveira (Administração de Empresas)

Professores

Prof. Msc. Alexandre Matos (Administração de Empresas) Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque (História) Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos (História) Profª. Ana Lúcia Simões Borges Fonseca (Letras Português-Inglês) Prof. Edilson de Araújo Santos (Matemática) Prof. Bel. Alysson Cristian Rocha Souza (Serviço Social) Prof. Cezar Alexandre Neri Santos (Letras Português-Inglês) Profª. Msc. Jussara Maria Viana Silveira (ISEJAV)

Outras Instituições

João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C Gabriel Francisco da Silva, Ds.C – Universidade Federal de Sergipe Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos CAPA - Efeito X

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO - Prof. Msc Claudefranklin Monteiro Santos........ p.05

A Mulher na Família Empresária- Rosana Rocha Siqueira .............. p. 06 Planejamento Logístico para o Desenvolvimento Organizacional: o Caso da Integração da Rede Calçadista- Rilley Guimarães de Oliveira e Prof. Msc. Alexandre de Souza Matos ................................................p. 16 Despindo a Preceptora Inglesa – Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque ........................................................................................... p. 43 O Uso da Iconografia no Ensino de História – Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos ..................................................................................... p. 47

Literatura e Cultura no Ensino na Língua Inglesa – Profª Ana Lúcia Simões Borges Fonseca .......................................................................... p.66

O Brasil das Incoerências – Prof. Edilson de Araújo Santos ............... p.87

Avaliação dos Capsaicinóides em Pimentas Malagueta - João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C; Gabriel Francisco da Silva, Ds.C; Universidade Federal de Sergipe; Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos......pg 91 Cidade e Modos de Vida: Transformações Socioculturais em Aracaju - Alysson Cristian Rocha Souza ........................................................pg. 101 Professor João Cardoso Nascimento Júnior e o Movimento Estudantil da Universidade Federal de Sergipe (1968-1972) – Profª. Msc. Jussara Maria Viana Silveira ...........................................................................pg. 128 O Uso de Recursos Audiovisuais no Ensino-Aprendizagem da Língua Latina - Cezar Alexandre Neri Santos ............................................pg. 148

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APRESENTAÇÃO

Passado o momento de descrença, a Revista Eletrônica da FJAV

chega ao seu número 02 com algumas novidades, entre elas a participação

externa na contribuição de artigos e trabalhos.

A visita técnica do MEC, através dos Professores Doutores Oséias de

Oliveira (Centro-Oeste do Paraná) e Antônio Marcelo Jackson Ferreira da

Silva (UERJ) no final de junho, abriu novos horizontes e nos permitiu

enxergar a importância dessa iniciativa acadêmica, a qual tem despertado na

comunidade docente o desejo de produzir cientificamente.

Os nossos ilustres visitantes permitiram-nos ampliar parcerias com

outras IES e atrair um público diferenciado do nosso, capaz de dinamizar o

universo acadêmico no que tange à amplitude das capacidades humanas em

suas mais variadas áreas do saber.

Abraçando o compromisso com uma educação plural e

emancipadora, a Revista Eletrônica da FJAV vai ganhando, aos poucos,

credibilidade junto ao público acadêmico. E-mails vindos de diversas partes

do país demonstram a nossa vontade de se inserir com afinco no campo da

pesquisa, da produção e da formação.

O tempo tem sido o aliado maior dessa idéia e construirá sedimentos

onde possa ser repousada a postura transformadora e desafiante da marca

FJAV, reconhecidamente de qualidade.

Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos – Editor-Chefe

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A MULHER NA FAMÍLIA EMPRESÁRIA

Rosana Rocha Siqueira

[email protected]

Acadêmica do 7º Período do Curso de Administração de Empresas (FJAV)

RESUMO

O novo panorama social e econômico, influencia de forma significativa na

formação familiar e na organização das empresas, onde a mulher empreendedora

assume novas atribuições na família empresária, sendo de fácil percepção a estreita

relação do cotidiano feminino com a busca por soluções, acrescida pelo impulso da

profissionalização. A prática da governança corporativa surge então como uma

oportunidade igualitária de solucionar conflitos entre três esferas básicas: família,

empresa e sociedade, analisando-as de forma distinta sem comprometer sua

integração.

PALAVRAS-CHAVES: empresa, família, mulher.

ABSTRACY

The new social and economic , influences of significant form in the familiar

formation and the organization of the companies, where the enterprising woman

assumes new attributions in the family entrepreneur , being of easy perception the

narrow daily relation of the feminine one with the search for solutions, increased

for the impulse. For the impulse of the professionalization the practical one of

the corporative governance appears then as a chance to solve conflicts between

three basic spheres: family, company and society, analyzing them of distinct

form without compromising its integration .

WORDS- KEY : company, family , woman ,work .

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1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O Objetivo deste artigo é a análise do papel feminino na família

empresária, onde mulheres motivadas pelo empreendedorismo destacam-se

nos negócios, embora estilos de liderança ainda patriarcais dominem as

colocações estratégicas nas empresas. Enfatiza ainda a necessidade de

reformularmos conceitos organizacionais não igualitários em

oportunidades, méritos e crescimento profissional.

2. METODOLOGIA

A metodologia adotada foi a revisão analítica do material

bibliográfico em livros, revistas, e Internet. Pretendendo-se salientar através

da reflexão, os referenciais teóricos sobre a temática abordada.

3. RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO

A sociedade de forma geral está inserida em um âmbito global de

mudanças velozes antes nunca vistas, onde fatores como o acesso amplo às

informações e a grande participação das mulheres no mercado de trabalho

moldam novas relações na família empresária.

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Segundo Castells (2005, p.82), se há uma nova economia é porque há

um impulso substancial de crescimento da produtividade, desenhando o

surgimento de empresas onde as estruturas físicas já não representam a

totalidade dos negócios modernos.

O trabalho agora mais flexível e adaptável ganha novas

características onde o talento, a pró-atividade empreendedora e o

conhecimento, agregam valor ao novo perfil dos (as) empresários

(as). O ato de trabalhar ganhou mais importância na vida das pessoas,

principalmente das mulheres, como imperativo de competição a fim

de alcançar seus objetivos, antes ligados somente a realização

familiar.

Pela ótica de Berardi (2005, p.38), o trabalho se tornou uniforme,

onde vários profissionais independente do sexo e do ramo de atuação

realizam trabalhos ergonomicamente da mesma forma, diante de

computadores ou máquinas.

Este panorama leva a primordial reflexão sobre as transformações

que as empresas familiares passam a fim de atingir o grau de maturidade e

competitividade que o mercado global exige, sem esquecermos que as

empresas familiares possuem peculiaridades que as diferem dos moldes

comuns de uma organização empresária, sendo predominantes em todo o

mundo, inclusive no Brasil.

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Empresa familiar é uma organização onde os membros de uma

família detém a maior parte do capital e possuem componentes

(consangüíneos ou não) em cargos estratégicos. Estas empresas podem

surgir de uma idéia motivada por oportunidades ou da busca pela

sobrevivência, onde o(a) empreendedor (a) fundador (a) dedica muito

tempo de sua vida , compartilhando o alcance dos objetivos profissionais

com o crescimento familiar .

Sendo de fácil percepção estabelecermos uma estreita relação entre o

cotidiano feminino com suas atribuições, e a motivação em busca de

soluções empreendedoras , seja para ajudar nas despesas do lar, para o

aumento da renda pessoal, destaque profissional ou mesmo a fim de superar

desafios.

De acordo com pesquisa realizada pelo Global

Entrepreneurship, em parceria com o SEBRAE, o Brasil possui mais

de 6 milhões de mulheres empreendedoras e mais de 11 milhões de

domicílios chefiados por mulheres.

A observação detalhista do cotidiano, a prática de atividades

variadas manuais, cognitivas e estratégicas, a habilidade na gestão do

tempo, no aprendizado e repasse de novos conhecimentos facilitam a

participação das mulheres nas empresas familiares, apoiando muitas

vezes lideranças patriarcais que a sujeitam a posições

“colaborativas”.

Segundo Margarite Berger do Banco Interamericano de

Desenvolvimento, no Brasil a presença da mulher é mais significativa nos

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níveis assalariados, onde apenas 25% têm seu próprio negócio formalizado.

A consultora avalia que realmente as mulheres avançam nos cargos, mas as

chefias de cúpula continuam difíceis de alcançar, devido muitas vezes ao

preconceito e ao despreparo da gestão da liderança e do poder.

Podemos citar avanços e melhorias no que se refere à queda de

paradigmas, onde empresas apresentam mudanças de incentivo à

saúde da mulher e cuidados com a família, por observarem que tais

medidas agregam valor à qualidade de vida no trabalho, iniciativas

deste tipo podem abrir espaço para o aumento da participação das

mulheres em cargos de diretoria.

O controle da natalidade, o aumento da escolaridade feminina e

seu ingresso no mercado de trabalho são grandes influenciadores das

novas organizações familiares, onde mulheres à frente dos negócios

sugerem estilos de liderança mais flexíveis e dinâmicos, sem

a “obrigação” de parecerem homens no poder.

Consultores especialistas em empresas familiares como o renomado

Renato Bernhoeft, analisam a nova geração de herdeiras que buscam a

profissionalização. Segundo ele, as mulheres representam 50% do número

de participantes, do programa de formação ministrado pela Bernhoeft

Consultoria. Em 2001, a proporção de mulheres que concluíram pelo

menos o ensino médio atingiu 23,2%%%%, situando-se 3,1 pontos acima

da população masculina. Lembrando que há diferença entre herdeiros e

sucessores, onde o herdeiro somente assume o poder com o falecimento do

fundador, e o sucessor poderá tomar posse com sua indicação para o cargo.

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Filhos homens e filhas mulheres costumam relacionar-se de

forma diferente com o peso da herança e da sucessão. (...) Os

filhos muitas vezes são educados para ter um emprego na

empresa da família, o que gera um conforto perigoso e inibe

iniciativas próprias. Quanto às mulheres, há com freqüência

uma expectativa bem diferente. Sua educação costuma ser

afastada do raio de influência dos negócios ou da área

corporativa de difícil mensuração de resultados, onde se

acredita, quaisquer decisões terão menor impacto sobre a

companhia. (PASSOS, 2006. p.46)

Novos arranjos familiares mudaram as estruturas organizacionais dos

negócios, onde o triangulo esposo, esposa e filhos já não é requisito para

que exista família, redesenhando também o papel de pai-chefe.

Mulheres empresárias cuidam muitas vezes de seus filhos sem auxílio

de um parceiro; a convivência entre avós e netos tornou-se dinâmica e

participativa devido ao aumento da longevidade; filhos de casamentos

anteriores trabalham com meio-irmãos e outros membros familiares. Cada

geração da família cria inúmeras combinações na empresa familiar, onde as

disfunções podem causas instabilidades, separações, desajustes

organizacionais e até a venda ou falência da empresa.

Muitas empresas familiares ainda não avançaram em relação ao

planejamento em longo prazo e a preparação não somente de herdeiros, mas

também de herdeiras potenciais.

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De acordo com Roberta Machado, uma das herdeiras da Editora

Record, em pesquisa realizada para sua tese de mestrado, foi constatado que

75% das empresas familiares em todo o mundo estão sob o comando da

primeira geração, onde 20% estão sob a orientação dos filhos dos

fundadores e apenas 5% são dirigidas pelas gerações seguintes.

Segundo Gersick (2006, p.69), a relação de preparação de herdeiras e

de mulheres a frente de negócios familiares estão intimamente ligadas ao

“empreendimento-casamento”, um sistema de relações cada vez mais

complexas, onde o casal elabora acordos e hábitos implícitos e explícitos a

respeito de dinheiro, trabalho, afeição, filhos e comportamento empresarial,

onde as violações desses acordos constituem a fonte da maioria dos

conflitos.

As empresas e as famílias são mutáveis e por vezes podem não seguir

as mesmas tendências do ponto de vista organizacional, ocorrendo rupturas

sob o prisma de interesses diferentes, onde a “velha receita” do sucesso do

(a) fundador (a) pode não representar vantagem competitiva atual.

A possibilidade da mulher assumir papeis estratégicos na empresa

familiar deve então partir do princípio básico da meritocracia e das

competências profissionais, analisado em nível de igualdade, independente

do sexo. Velhos paradigmas como a primogenitura masculina e sua

preparação para a liderança e sucessão, a pré-disposição natural e social da

mulher com a maternidade, a formação e educação familiar, criam falsos

entraves para que as mulheres possam realmente preparar-se para a

sucessão nas empresas familiares.

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A prática da governança corporativa surge como um caminho

igualitário e uma possível solução para tais conflitos, onde as três esferas

básicas: família, empresa e sociedade são observadas de forma diferenciada,

compreendidas em suas peculiaridades, mas não deixando de serem

integradas, agregando valor à cultura organizacional proposta pelo (a)

fundador (a).

Portanto, os órgãos da governança formam e reforçam a

integração entre os sistemas por meio de canais competentes.

Uma empresa familiar adequadamente estruturada com os

órgãos de governança permite atender às demandas das

famílias, dos sócios, dos executivos e formar o alicerce para

sua perpetuação. (BORNHOLDT, 2005. p.28)

Todas as vertentes influem na delegação e sucessão do poder, pois

famílias menores possuem o número reduzido de potenciais sucessores.

Quando se refere a presença das mulheres em cargos da alta cúpula, torna-

se ainda mais delicada as relações nas empresas familiares. A maioria dos

cargos é destinada aos homens herdeiros, sócios ou outros profissionais

contratados, sendo poucos os exemplos de preparação de herdeiras para a

sucessão do poder nas empresas familiares.

Devemos observar ainda que muitos empresários apóiam iniciativas

femininas de filhas e esposas em negócios separados do ramo principal,

como lojas, restaurantes, mas muitas vezes criam barreiras diante da

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participação das mulheres nos negócios já estabelecidos pela família

empresária, onde a frase “negócio para homem” pode vir a perpetuar o

preconceito nas organizações familiares.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As mudanças no cenário social e econômico influenciaram

profundamente a formação familiar e a organização das empresas neste

novo século, trazendo novos arranjos entre seus membros e novos diálogos

entre as gerações.

A clareza das aptidões e dos papéis desempenhados pelos membros

da família são de extrema importância para que se possa ser definida suas

atribuições na empresa familiar, lembrando que o profissionalismo das

relações é primordial para que cada membro realmente desempenhe funções

de acordo com suas competências, passando por avaliações de desempenho

como os demais membros da empresa. A delegação de poder e

responsabilidade, unida à avaliação do desempenho, caminham rumo ao

alcance da governança corporativa, baseada na ética e na igualdade de

oportunidades, onde homens e mulheres possam tanto progredir

profissionalmente, quanto perpetuarem os valores e propósitos iniciados

pelo (a) fundador (a).

A Cultura organizacional compreende fatores muito importantes

neste âmbito, onde os hábitos e crenças da família tendem a influenciar nas

bases fundamentais da empresa, inclusive na forma de liderança.

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Embora a grande maioria das empresas ainda permaneça em

modelos patriarcais (pai-chefe) de liderança e sucessão de poder, muitos

avanços em prol da flexibilização e valorização da mulher empresária são

marcantes, abrindo espaço para novas idéias e formas de gestão

independente do sexo, comprometidas com as novas estratégias e vantagens

competitivas.

A mulher sendo respeitada em suas opiniões e idéia no âmbito

familiar terá grandes chances de colocá-las em prática na empresa, onde as

relações de delegação do poder geram códigos de conduta e participação

mútua. Não bastando apenas incentivar e capitalizar outros negócios para

que as mulheres da família possam se dedicar, mas permitir sua

profissionalização, acesso aos cargos estratégicos e preparação de

herdeiros, a fim de perpetuar de forma competitiva e plena, os ideais

propostos pelo (a) fundador (a) da empresa familiar.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORNHOLDT, Werner. Governança na Empresa Familiar. Porto Alegre: Brookman, 2005.p.28 BERARDI, Franco. A Fábrica da Infelicidade: Trabalho Cognitivo e a Crise da New Economy. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2005. p.38. CASTELL, Manuel. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os Negócios e a Sociedade. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005. P.82

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PLANEJAMENTO LOGÍSTICO PARA O DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL:

O caso da integração da rede calçadista.

Rilley Guimarães de Oliveira

Graduando do 5º período do curso de Administração de Empresas da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV e sócio-gerente da Elegante Calçados Ltda. . E-mail: [email protected]

M S.c. Alexandre de Souza Matos

Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC e professor da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV. E-mail: [email protected] do 5º período do curso de Administração de Empresas da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV e secretária da Lagarto Factoring Ltda. E-mail: [email protected]

RESUMO

Este artigo caracteriza-se por ser um estudo teórico que visa contribuir com a literatura sobre planejamento logístico e o desenvolvimento organizacional dentro das empresas. O estudo tem como público alvo, tanto executivos quanto acadêmicos que estejam engajados na árdua tarefa da busca de vantagem competitiva, para que as empresas possam competir com sucesso numa economia cada vez mais globalizada. Pretende-se que, ao final do artigo, o leitor tenha aprimorado sua capacidade de avaliar e sugerir recomendações úteis que venham a colaborar com as atividades empresariais na definição do desenvolvimento organizacional, dentro do contexto do planejamento logístico.

Palavras-chave: Controle, distribuição e competitividade.

ABSTRACT This article is characterized for being a theoretical study that it aims at to inside contribute with literature on logistic planning and the organizacion development of the companies. The study it has as public target, in such a way executive how much academics who are engaged in the arduous task of the search of competitive advantage, so that the companies can more compete successfully in a economy each globalizada time. One intends that, to the end of the article, the reader has improved its capacity to evaluate and to suggest recommendations useful that come to collaborate with the enterprise activities in the definition of the organizacion development, inside of the context of the logistic planning.

Word-key: Control, distribution and competitiveness.

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1. INTRODUÇÃO

A logística deve ser entendida como o principal instrumento

administrativo para a obtenção de vantagem competitiva das organizações

locais, deste século. A necessidade de uma integração logística, aliada às

constantes mudanças das necessidades dos clientes, nos leva a ver na

logística não apenas as atividades de: almoxarifado, estoque e transporte de

mercadorias, mas sim planejamento e coordenação do fluxo de informações

e materiais que permitem maior eficiência no suprimento da fábrica, no

planejamento da produção e na distribuição física dos produtos acabados. A

globalização exige que a vantagem competitiva seja mais determinante do

que a vantagem comparativa para os paises que negociam no âmbito

internacional. Portanto, desenvolver estratégias que norteiam a empresa é

um fator de extrema importância para a sua manutenção no mercado.

O processo de desenvolvimento de estratégias exige a participação de

todo corpo gerencial da empresa, além disso, é importante contar com o

apoio de bons estrategistas que, de certa forma, fornecerão uma base sólida

no desenvolvimento das atividades. Atualmente, uma atividade que está em

evidência no âmbito empresarial é a do transporte que, consiste na tarefa de

se levar as mercadorias de um lugar para o outro. Esta atividade é o

mecanismo que aproxima indústrias, comerciantes e clientes, envolvendo

elementos importantes como preço do serviço, pontualidade da entrega,

condições físicas dos bens entregues, entre outros. Tudo isso é levado em

consideração pelos clientes no momento da definição de qual a empresa se

tornará parceira para o desenvolvimento dos serviços de transporte. No

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Brasil, observa-se que o mercado de transporte está em pleno processo de

reestruturação em virtude da globalização e da abertura do mercado. Como

conseqüência deste processo de globalização e de abertura do mercado,

tem-se a chegada de empresas internacionais que iniciaram suas atividades

no país impulsionando a implantação de ferramentas modernas de

gerenciamento, agregando valor nos serviços oferecidos aos clientes,

contribuindo, assim para tornar o setor mais dinâmico.

As novas exigências para a atividade logística no Brasil e no mundo

passam pelo maior controle e identificação de oportunidades de redução de

custos, redução de prazos de entrega e aumento da qualidade no

cumprimento do prazo, disponibilidade constante dos produtos,

programação das entregas, facilidade na gestão dos pedidos e flexibilização

da fabricação, análises de longo prazo com incrementos em inovação

tecnológica, novas metodologias de custeio, novas ferramentas para

redefinição de processos e adequação dos negócios (Exemplo: Resposta

Eficiente ao Consumidor – Efficient Consumer Response), entre outros.

Apesar dessa evolução até a década de 40, havia poucos estudos e

publicações sobre o tema. A partir dos anos 50 e 60, as empresas

começaram a se preocupar com a satisfação do cliente, foi então que surgiu

o conceito de logística empresarial, motivado por uma nova atitude do

consumidor. Os anos 70 assistem à consolidação dos conceitos como o

MRP (Material Requeriments Planning), Kanban e Just-in-time.

Após os anos 80, a logística passa a ter realmente um

desenvolvimento revolucionário, empurrado pelas demandas ocasionadas

pela globalização, pela alteração da economia mundial e pelo grande uso de

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computadores na administração. Nesse novo contexto da economia

globalizada, as empresas passam a competir em nível mundial, mesmo

dentro de seu território local, sendo obrigadas a passar de moldes

multinacionais de operações para moldes mundiais de operação.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. PLANEJAMENTO LOGÍSTICO

Lambert e Stock (1992, p. 125) adotam a definição de logística

formulada em 1986 pelo CLM – Council of Logistics Management (Concílio

do Gerenciamento da Logística), que assim descreve a logística:

“É o processo eficiente de planejamento, implementação e

controle efetivo do fluxo de custos, do estoque em processo,

dos bens acabados e da informação relacionada do ponto de

origem ao ponto de consumo, com o propósito de se adequar

aos requisitos do consumidor.”

Conforme Bowersox (2001) é de competência da logística a

coordenação de áreas funcionais da empresa, desde a avaliação de um

projeto de rede, englobando localização das instalações, sistema de

informação, transporte, estoque, armazenagem, manuseio e qualificação de

materiais até se atingir um processo de criação de valor para o cliente.

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Entende-se como serão gerenciadas as ações de planejamento,

organização e controle. Um planejamento bem feito, terá como resultado

organização e controles mais eficazes.

Conforme Martins (2005), o planejamento logístico tem por objetivo

desenvolver estratégias que possam resolver os problemas de quatro áreas

de destaque em empresas de transporte que são: 1) o nível de serviços

oferecido aos clientes; 2) localização das instalações de centros de

distribuição; 3) decisões de níveis de estoque e; 4) decisões de transportes

que devem ser utilizados no desenvolvimento de todo o processo. Todas as

quatro áreas são de fundamental importância para a empresa, suas funções e

atividades devem ser planejadas de forma integrada, buscando oferecer um

resultado operacional dentro das necessidades que o mercado exige de seus

participantes. Levantar informações sobre o mercado no qual se está

inserido e suas respectivas necessidades são de grande validade no processo

de planejamento da empresa, bem como, na definição de como serão

utilizados os recursos disponíveis, alocando-os da melhor maneira possível.

Mesmo com o avanço atual da tecnologia, da troca de informações em

tempo real, o transporte continua sendo fundamental para que seja atingido

o objetivo logístico, que é o produto certo, na hora, no lugar certo, ao menor

custo possível. Poderão ser adotadas diversas estratégias de transporte:

entrega direta, milk run¹, consolidação, cross-docking², OTM (operação de

transporte multimodal), intermodal, janela de entrega, observando ainda a

melhor matriz de transporte (rodoviário, ferroviário, aquaviário, duto viário,

aeroviário), e sua adequação aos objetivos propostos em cada etapa do

processo de transporte. Sobre a decisão do modelo de gestão de estoques

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mais adequado, dependerá da identificação das principais características das

operações de produto e/ou distribuição. De maneira geral, as decisões de

estoque devem estabelecer os reabastecimentos, constituindo-se sempre em

decisões de alto risco, pois itens mantidos em estoque podem deteriorar

tornarem-se obsoletos e até se perderem na produção, além de ocuparem

espaço que poderia estar sendo utilizado para outros fins, sem contar o

custo do capital investido. Em contrapartida, a manutenção de estoque

proporciona segurança em ambiente incerto e complexo. Desta forma,

haverá sempre o trade-off³: custo versus disponibilidade, que definirá

quanto pedir, quando pedir e como controlar o sistema (tecnologias

adotadas).

Segundo Ballou (2001), a logística envolve todas as operações

relacionadas com planejamento e controle de produção, movimentação de

materiais, embalagem, armazenagem e expedição, distribuição física,

transporte e sistemas de comunicação que, realizadas de modo

sincronizado, podem fazer com que as empresas agreguem valor aos

serviços oferecidos aos clientes e também oportunizando um diferencial

competitivo perante a concorrência. O objetivo central da logística é o de

atingir um nível de serviço ao cliente pelo menor custo total possível

buscando oferecer capacidades logísticas alternativas com ênfase na

flexibilidade, na agilidade, no controle operacional e no compromisso de

atingir um nível de desempenho que implique um serviço perfeito.

Pode-se verificar que, no contexto das quatro áreas, a definição dos

serviços a serem oferecidos aos clientes é o que afeta drasticamente toda a

viabilidade do negócio. Ele será o indicador pelo qual o cliente tomará a

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decisão de utilizar ou não os serviços da empresa. Através do planejamento

logístico a empresa deve estruturar toda a sua plataforma de operação,

definindo seus padrões de níveis de serviços que serão oferecidos aos seus

clientes. O mercado sofre mudanças rápidas e, muitas vezes, as empresas

não estão preparadas para absorver estas mudanças dificultando sua

adaptação ao novo ambiente de negócios. Portanto, desenvolver um bom

processo de planejamento, é de importância extrema para a empresa, pois

um planejamento logístico, orientado para atender as necessidades impostas

pelo mercado, faz com que se mantenha o controle da empresa. Esse

controle advém do equilíbrio dos recursos financeiros disponíveis e da

oferta de serviços especializados, de forma que se agregue valor aos

mesmos e, também, oportunizando um diferencial competitivo a

concorrência sem afetar a rentabilidade da empresa. O planejamento

logístico ampara-se no planejamento estratégico da empresa, sendo assim,

ambos devem ser coerentes de forma que os objetivos estipulados sejam

atingidos. Estrategistas, altamente conhecedores do assunto, devem

assessorar o desenvolvimento do mesmo, sob pena de se ter reveses durante

todo o processo. È importante salientar que o processo, para ter êxito,

precisa necessariamente ter o consentimento de toda a direção da empresa e

de seus acionistas, de forma que sejam estabelecidos os limites máximos de

mudanças aceitos para o posicionamento da empresa no mercado. Assim, os

gestores das empresas devem elaborar planejamentos logísticos flexíveis de

forma que possam ser ajustados aos elementos críticos logísticos,

estabelecendo ações apropriadas que devem ser utilizadas caso algum

evento inesperado venha ocorrer. Desta forma, pode-se evitar um processo

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desgastante junto aos clientes por não terem sido cumpridas as ações

programadas o que, em muitos casos, podem provocar quebras de contratos

e perdas de clientes de alta rentabilidade.

2.2. AS TRÊS DIMENSÕES DA LOGÍSTICA

De acordo com Martins (2005) a logística tem três dimensões

principais: dimensão de fluxo, dimensão de atividades e dimensão de

domínios. Já Dornier (2000) diz que as dimensões da logística são:

dimensão funcional, dimensão setorial e dimensão geográfica.

Segundo Martins (2005) a dimensão de fluxo diz respeito aos

suprimentos, transformação, distribuição e serviço ao cliente; a dimensão de

atividades trata do processo operacional, administrativo, gerencial e de

engenharia; a dimensão de domínios aborda a gestão de fluxos, tomada de

decisão, gestão de recursos e modelo organizacional.

A dimensão de domínio engloba: visão de fluxo (entradas, saídas e

controles); visão de decisão (estratégias, princípios de planejamento e

controle, decomposição de ordem, comunicação); visão de recursos (físico,

humanos, métodos de trabalho e ferramentas); visão organizacional

(estrutura de negócios, gerência e cultura).

Tendo em vista as dimensões propostas por Dornier (2000)

supracitado, observa-se que a dimensão funcional destaca a natureza

interfuncional da logística que cruza as áreas funcionais e permitem a

criação de importantes conexões entre as áreas de atividades da empresa

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que devem ser gerenciadas coletivamente, incentivado a cooperação entre

as funções.

O mesmo autor afirma que a dimensão setorial refere-se aos esforços

de parceiros da cadeia de suprimentos para coordenar e gerenciar suas

atividades como uma única entidade em vez de gerencia-las como entidades

separadas. A integração da cadeia de suprimentos requer que as partes

compartilhem conhecimentos, eliminando ineficiências que adicionam

custo sem adicionar valor.

A dimensão geográfica da logística identifica e analisa os fatores que

diferem entre as nações que influenciam na efetividade das funções

(produtividade do trabalhador, adaptabilidade do processo, regulamentações

e assuntos governamentais, disponibilidade de transporte, cultura e outros).

Nesta dimensão, por causa das distancias envolvidas nas operações globais,

o transporte e a distribuição têm maior importância bem como a eficiência e

efetividade da função logística, pois bens e mercados dispersos

geograficamente são mais difíceis de gerenciar e servir.

Dorrnier (2000, p. 89) afirma que “o objetivo central do sistema

logístico é maximizar o lucro através da racionalização de recursos”. O

relacionamento entre as três dimensões no modelo de logística global

proporciona uma melhor orientação para a organização. Os três tipos

básicos de orientação são: logística orientada para recursos; logística

orientada para a informação e logística orientada para o usuário.

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Conforme o autor as organizações podem adotar cada uma das três

orientações com diferentes intensidades em diferentes épocas, pois os

negócios globais são bastante dinâmicos, e as prioridades da empresa

podem ser mudadas por causa de diferentes forças internas e externas.

Segundo Dornier (2000, p. 88): “A logística orientada para recursos é

o gerenciamento de recursos diferentes necessários para a fabricação de

produtos a serem entregues aos clientes finais. Ela enfatiza o

relacionamento entre as dimensões funcionais e geográficas”. Sua ênfase é

orientar-se para a otimização do uso dos recursos, já que o mercado está se

tornando independente de fronteiras geográficas, isto é, as empresas estão

buscando diferentes localidades geográficas, como locais de fabricação para

minimizar os custos. “Se o mercado é o mundo, a empresa deve coordenar

os recursos de diferentes áreas funcionais para satisfazer às necessidades

globais” (DORNIER, 2000, p. 88).

A logística orientada para informação está relacionada à gestão da

informação como fonte de vantagem competitiva, pois a logística não está

só envolvida com o fluxo de produtos, mas também com o fluxo de

informação (disponibilidade de produto, prazo de entrega, necessidades dos

clientes). Refere-se ao relacionamento entre a dimensão setorial e a

dimensão geográfica, fornecendo não só informações tradicionais, mas

informações mais recentes e estratégicas.

A logística orientada para o usuário foca no cliente final, ganhando

assim flexibilidade na resposta à necessidade dos clientes através da

interação e cooperação entre parceiros da cadeia de suprimentos, ou seja, a

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flexibilidade é obtida através da combinação de diferentes empresas por

meio de uma adequada coordenação.

2.3. PONTOS BÁSICOS DA LOGÍSTICA

Os principais pontos em que a logística se baseia são movimentação

dos produtos; a movimentação das informações, o tempo, o custo e o nível

de serviços. Por isso é de suma importância o nível de serviço, pois o

transporte de carga tradicional tratava de deslocar produtos e insumos entre

diversos pontos, considerando a escala do tempo de forma secundária.

Assim, o transportador tradicional se incumbia de levar determinada carga

de um ponto A para um ponto B, mas, geralmente, não assumia o

compromisso de entregá-la no destino dentro de um prazo preestabelecido.

Com a evolução do mercado e com a preocupação das empresas em relação

ao nível de serviço oferecido aos seus clientes, procurou-se identificar e

quantificar os fatores necessários para elaboração de novos níveis de

serviço como: prazo de execução e respectivo nível de confiabilidade;

tempo de processamento de tarefas, disponibilidade de pessoal e dos

equipamentos solicitados; facilidade em sanar erros e falhas; agilidade e

precisão em fornecer informações sobre os serviços em processamento;

agilidade e precisão no rastreamento de cargas em processamento ou em

trânsito; agilidade no atendimento de reclamações e no encaminhamento de

soluções; estrutura tarifária fácil de entender e simples de aplicar. Para que

esses pontos básicos sejam integrados de forma concisa a logística temos

que levar em conta os seguintes grupos:

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1) Fornecedores – A função dos fornecedores dentro da logística moderna é

o de parceiros operacionais. Esse conceito exige um relacionamento aberto,

que compreende desde o desenvolvimento conjunto do produto até

contratos de fornecimento com preços, qualidade e prazos sujeitos a uma

mútua administração, visando a conservação do mercado pela contínua

satisfação do cliente.

2) Atacadistas – Trabalham com a logística como principal meio de

aumentar o número de clientes.

3) Suprimento - Fornecimento; provisão.

4) Venda Direta - A realizada sem intermediário entre produtor e

consumidor.

2.4. SISTEMA DE INFORMAÇÃO – TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO

Um sistema de informações bem feito é fator critico de sucesso para

um sistema logístico. Ele consegue ter a visão do processo logístico de

empresa, desde estoques, emissão de notas fiscais, entregas de mercadorias

e outros. As informações nos permitem fazer previsões e dar respostas aos

consumidores em tempo real.

Ao propor uma gestão eficaz das operações e logísticas globais,

afirmam que o sistema de informações logísticas tornou-se um fator crítico

de sucesso na estratégia logística. Ele engloba a monitoração de fluxo ao

longo de toda a cadeia de atividades logísticas, capturando dados básicos,

transferindo dados para outros centros de tratamento e processamento,

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armazenando os dados básicos conforme seja necessário, processando

dados em informações úteis armazenando as informações conforme seja

necessário e transferindo informações aos usuários e clientes. Assim,

fortalecem a percepção de que a gestão da informação na logística é um

elemento de grande importância funcional ao afirmarem: “Mais que apenas

o fluxo de produtos, o sistema logístico está diretamente envolvido com o

fluxo de informações (disponibilidade de produtos, prazo de entrega,

necessidades dos clientes)", Dornier (2000, p. 584).

O sistema integrado é de grande importância para as empresas, pois

oferece um melhor atendimento ao cliente, com mais eficiência e rapidez,

ajuda organizar o estoque de forma que o produto é lançado e retirado do

estoque com menor tempo, coloca a disposição ferramentas para tomada de

decisão acertada, permite o retorno de informações para um melhor

monitoramento do desempenho operacional.

Conforme Novaes (2001), o sistema de informação é uma peça crítica

do canal logístico total, desempenhando um conjunto de funções vitais.

Em suma, o propósito de um sistema de informação logística é

coletar, manter e manipular os dados dentro da empresa para tomada de

decisões, abrangendo desde o nível estratégico até o operacional.

As áreas comerciais e industriais das empresas estão sempre buscando

procedimentos para incrementar a distribuição de seus produtos e viabilizar

operações que atendam ao aumento de demanda, mantendo o abastecimento

continuo em todas as regiões de atuação, por mais remotas que sejam. A

logística aplicada nas empresas de maneira correta, agrega valor de forma

que os resultados são rápidos e eficientes. Com a implantação de sistemas

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de informações eficientes e ferramentas como, por exemplo, o EDI, as

empresas reduzem custos, tem maiores ganhos e o cliente fica satisfeito

com a agilidade na entrega, pois todo valor agregado é de grande

importância para o cliente.

A implantação de um bom sistema de informação nas empresas, a

logística fica eficiente e eficaz de forma que as entregas são mais rápidas e

eficientes. Isso é elo de cadeias que envolvem dos fornecedores ao

consumidor. Quando o sistema está integrado, a empresa consegue

controlar todo tipo de transação realizada, que vai do processo de compra

até a entrega. Muitas empresas não conseguem trabalhar com sistema

eficiente de logística, por conta dos altos custos, mas a empresa deve se

conscientizar que é necessário investir em equipamentos e no capital

intelectual. A dinâmica da globalização nos remete a uma continua reflexão

sobre a concorrência baseada no tempo, a necessidade de redução dos ciclos

operacionais, além da descoberta de meios e iniciativas que melhorem a

relação entre o tempo consumido em atividades que realmente adicionem

valor a produtividade tornando uma espécie de diferencial entre bons e

maus resultados de uma empresa.

E necessário que o empresário perceba que entender o conceito de logística

é de grande importância para o desenvolvimento organizacional, para que

assim possa aceitar as mudanças e não ter dificuldades de se adaptar a elas.

Com o sistema de informação a empresa só tem a ganhar, pois com a

globalização e o avanço tecnológico, tudo é realizado de maneira muito

rápida e a velocidade no atendimento é uma estratégia para ganhar

concorrência.

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De acordo Dálcio Nunes, diretor comercial da Fimatec, empresa

fornecedora de componentes para calçados, uma logística eficiente deve ser

voltada para um sistema de informação que armazene todos os registros e

todas as operações, como ele mesmo afirma que adotou o EDI (intercambio

eletrônico de dados) e fala que o mesmo reduz e até elimina erros de

digitação e de informação verbal na comunicação.

(disponível em http://www.wsag.udesc.br/biblioteca/textos/giuliani.html).

2.4.1 ELETRONIC DATA INTERCHANGE – EDI

Entende-se por EDI (Eletronic Data Interchange) ou intercambio

eletrônico de dados, uma ferramenta tecnológica de informação, que tem

sido utilizada pelas organizações para ligar seus componentes e parceiros,

de modo a gerar perfeita integração, rápida comunicação e agilidade na

resposta.

No entender de PIZYSIEZNIG (2002) o EDI influência a cadeia de

valor quando a adoção de estratégias para uma vantagem competitiva em

um mercado globalizado.

“O EDI é uma rede de acesso restrito aos clientes do provedor, que

permite a conexão entre os sistemas eletrônicos de informação entre

empresas, independentemente dos sistemas e procedimentos utilizados no

interior de cada uma. A função principal de um provedor de EDI é, no

momento de adesão de um cliente a rede, instalar o hardware e software

para a tradução das informações da empresa em padrões já normatizados

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internacionalmente. Na operação do sistema, o provedor deve garantir,

tanto o registro da transação (comunicação) entre dois parceiros na rede,

quanto o sigilo em relação ao acesso de terceiros a estas informações. As

empresas não entram em contato apenas com bancos, mas com todos os

parceiros nos negócios. A troca de informação gera economias e maior

eficiência para todos os participantes da rede. Assim, cada um é, ao mesmo

tempo, cliente e fornecedor de informações”. (PIZYSIEZNIG 2002: 55)

Este conceito de comunicação entre empresas, o EDI compreende

todas as trocas de documentos e informações entre todos os participantes

das transformações, potencializando recursos de tempo e capital eliminando

todo e qualquer tipo de ineficiência da cadeia de valor.

A adoção do EDI implica em re-configurar no sistema logístico,

englobando todos os parceiros comerciais, sejam eles fabricantes,

transportadores ou varejistas.

Com espaço cada vez mais garantido no futuro das operações

logísticas, o EDI oferece maior eficiência, controle e organização no

intercâmbio de dados: “Não existe progresso ou desenvolvimento rápido na

logística sem automação dos processos. A logística eficiente, agregada ao

sistema de intercâmbio eletrônico de dados chegou para ficar. É uma

situação irreversível que, mais cedo ou mais tarde, todas as empresas

adotarão. Ninguém pode se furtar da tecnologia e ela chegou para ficar e

conquistar, a cada dia que passa mais espaço. A GS1 Brasil - Associação

Brasileira de Automação tem um papel fundamental na efetivação desse

processo no País. Cabe a ela dar todo suporte técnico e informações que as

empresas precisam para operar o sistema corretamente. Não há mais como

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ser eficiente sem pensar em um padrão adequado de logística. Toda cadeia

está ligada. E os empresários que pensam no futuro sabem disso e estão

procurando se modernizar. É a única forma de sobreviver num mercado

cada vez mais globalizado e competitivo”, afirma Ivair Kautzmann, gerente

de TI da Via Marte, empresa do setor calçadista.

3. ESTUDO DE CASO

Em virtude da falta de aderência entre os modelos de pedido e de uma

demanda diferenciada, nasceu o projeto GOL (Grupo de Otimização

Logística). Grupo composto por empresas do setor calçadista como Azeléia,

Beira Rio, Grendene, Paquetá e Via Marte e pela GS1 Brasil.

O setor de componentes da cadeia calçadista, ou seja, de matéria-

prima para a fabricação do calçado, é formado por uma gama variada de

empresas, pertencentes a distintos ramos de produção. Dada à diversidade

de segmentos que compõem o setor, as soluções desenvolvidas não

poderiam ser únicas, e por esse motivo a metodologia utilizada para o

trabalho com o grupo foi a de agrupamento das empresas, de acordo com os

produtos que fabricam e mercados atendidos. Por exemplo, produtos

químicos e sintéticos; couro; saltos; solas e solados; têxteis e sintéticos etc.

O grupo de Trabalho nasceu no início de 2002, como conseqüência do

desenvolvimento de um projeto piloto bem sucedido realizado pela

Calçados Azaléia, com o apoio da GS1 Brasil. Os bons resultados

administrativos e operacionais obtidos pelo projeto, mesmo em sua fase de

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implantação, a necessidade de viabilização dos investimentos necessários

em toda a cadeia de suprimentos e o interesse da Abicalçados – Associação

Brasileira da Indústria de Calçados, em ampliar a utilização das ferramentas

de automação em toda a indústria, levaram à criação do Grupo de

Otimização Logística (GOL). A premissa básica para a formação desse

grupo foi à utilização de padrões internacionais, pois já havia sido criado

um padrão setorial que não obteve sucesso, visto que a maioria das

indústrias participantes estavam inseridas em diversas cadeias de

suprimentos diferentes e exportavam seus produtos para vários países.

O objetivo do projeto é desenvolver padrões para a utilização de

ferramentas de gerenciamento da cadeia de suprimentos, envolvendo as

tecnologias de captura automática de dados e comércio eletrônico,

permitindo a integração colaborativa de forma eficiente e eficaz entre os

participantes da Cadeia de Suprimentos da Indústria Calçadista, nos

aspectos logísticos e comerciais. Essa cadeia envolve fornecedores,

transportadores, distribuidores, lojistas e supermercados. As expectativas

dos participantes do grupo são:

� Maior eficiência na gestão de estoques;

� Agilização no recebimento e expedição de mercadorias;

� Melhoria na eficiência do fluxo de produtos e informações;

� Melhor gerenciamento do Negócio;

� Ampliação dos serviços aos clientes;

� Intensificação do relacionamento entre clientes e fornecedores;

� Redução dos custos da administração dos processos logísticos;

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� Redução de volume de papéis;

� Facilidade de apuração de margens, giro de estoque, descontos,

segurança e rapidez no inventário e no controle físico e financeiro

dos estoques, etc.

Estes benefícios resultam em mais vendas, redução total de custos,

diminuição da margem de erros e aumento de eficiência no ponto-de-venda,

promovendo crescimento e vantagens para toda a cadeia.

Os objetivos específicos são implantar padrões para sistemas

automatizados nas operações logísticas de recebimento e compras da

indústria calçadista; Estabelecer padrões de etiquetas logísticas e

mensagens eletrônicas com base no Sistema GS1; Possibilitar a adoção das

ferramentas de automação pelos fornecedores da Indústria Calçadista;

Reflexo da automação do recebimento; aprovação do pedido e expedição de

produto nos fornecedores.

A GS1 Brasil, entidade que representa mais de 52 mil empresas

usuárias de padrões de código de barras e comércio eletrônico dissemina

padrões internacionais para integração da cadeia de suprimentos. A

organização coordena, em conjunto com empresas e entidades do setor, o

Grupo de Trabalho de Calçados, realiza mensalmente reuniões para

definição e implantação das melhores práticas para o setor. O Sistema GS1

é um conjunto de padrões que possibilita a gestão eficiente de cadeias de

suprimentos globais e multisetoriais, identificando com exclusividade

produtos, unidades logísticas, localizações, ativos e serviços. Além disso,

facilita os processos de comércio eletrônico, propondo soluções

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estruturadas para mensagens eletrônicas e viabilizando a total

rastreabilidade das operações, o que vem ao encontro dos objetivos do setor

calçadista.

O piloto entre a Via Marte e Lojas Paquetá foi finalizado com

enormes ganhos de produtividade e redução expressiva de erros

operacionais, trazendo respaldo, veracidade e credibilidade para o projeto.

A indústria otimiza a logística ampliando as parcerias em todas as áreas.

Ivair Kautzmann, gerente de TI da Calçados Via Marte, explica que a

empresa busca mostrar aos envolvidos, seja indústria, fornecedor,

transportador ou varejo, que com a utilização de um padrão haverá sempre a

redução de tempo e dinheiro no alinhamento da logística entre os parceiros.

“Fica muito claro que a questão da otimização passa pela identificação

padronizada, somada ao intercambio eletrônico de dados (EDI). Não há

como otimizar relações sem contemplar esses dois itens do processo”.

Para que o processo tenha sucesso é necessário entender o seu

conceito fundamental e investir em equipamentos, treinamento de pessoal

especializado, tanto na área administrativa, como na produção e expedição.

A automação dos sistemas logísticos com o EDI contribui de forma

surpreendente para as cadeias de suprimentos, uma vez que o fluxo

eficiente e continuo das informações é imprescindível para a eficácia do

relacionamento das cadeias através de seus elos.

Como as empresas utilizaram os serviços traçados pelo projeto GOL

via EDI, conforme figura abaixo:

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Figura 1: base da proposta – fluxo de integração da rede calçadista

Fonte: elaborada pelos autores.

3.1. FUNCIONAMENTO DO PROJETO GOL

Iniciando no departamento de compras (da Loja), o comprador, com o

representante da indústria, fecha o pedido. Cada item com suas descrições

são identificados com seu código de barras. As informações da venda são

transcritas para o sistema da indústria e resumidamente para o sistema da

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loja, aguardando a fabricação e entrega. No comercial (da indústria), as

informações das vendas, efetuado pelo representante, são recebidos

eletronicamente e alimentam o banco de dados que irá apoiar os processos

fabris e financeiros da indústria. No planejamento (da produção da

indústria), em função das necessidades de matéria-prima e componentes, as

ordens de compras são emitidas e transmitidas para os fornecedores. Cada

item com suas unidades de medidas e seu código de barras. No fornecedor

(de matéria-prima ou componentes), ao receber a ordem de compra

eletrônica, é providenciada a fabricação e a entrega da mercadoria para seu

cliente, a indústria. Encaminha a nota fiscal eletrônica a transportadora e a

indústria por EDI. Na transportadora (de matéria-prima), de posse da nota

fiscal eletrônica, a transportadora emite o conhecimento de fretes (via EDI)

para a indústria. A indústria recebe o componente ou matéria-prima

solicitada junto com os documentos fiscais. No entanto, os documentos

eletrônicos já se encontram no seu sistema (economia de tempo e custo). A

adoção do padrão GOL: nota fiscal eletrônica, o aviso de despacho, código

de barras da embalagem e etiqueta, garante a verificação automática na

recepção e checagem com a ordem de compra, nota fiscal, conteúdo da

embalagem. Com isso, agiliza a entrada do estoque e libera os itens

recebidos para a linha de produção. Na recepção (na indústria), com o

padrão GOL, a embalagem já vem identificada com etiqueta com códigos

logísticos. Se o documento “aviso de despacho” estiver sendo utilizado

facilitará a conferencia e o rastreamento dos volumes. Na expedição (da

Indústria), quando a produção do pedido solicitado pelo lojista estiver

concluída, no processo de expedição, a nota fiscal eletrônica é encaminhada

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para o transportador dos produtos acabados e para o lojista, garantindo

agilidade e economia dos processos. No transportador (de produtos

acabados), de posse da nota fiscal eletrônica, o transportador gera o

conhecimento de frete para a entrega de mercadorias ao ponto de venda,

encaminha via EDI os documentos de fretes para a indústria. Os DOCs

eletrônicos dos serviços prestados podem ser encaminhados aos bancos

conveniados também via EDI de forma automática. Na recepção (da loja), o

produto chega ao ponto de venda com a nota fiscal física e a nota fiscal

eletrônica. Já estando no banco de dados, alimenta seu estoque. Mais

rapidez significa menos gastos, maior tempo para vender, menor tempo

para o produto ser exposto no ponto de venda, processo que não agrega

valor. No contas a pagar (da indústria), de posse dos conhecimentos gerados

eletronicamente pela transportadora, a indústria efetua os pagamentos. No

banco, processa os DOCs eletrônicos e os pagamentos recebidos

encaminhando aos clientes, quer sejam transportadores, indústria ou

fornecedores fechando o ciclo da operação.

Ninguém discute a necessidade de informatização dos processos intra-

empresariais (da pequena a grande empresa) e, cada vez, mais organizações

de ponta estão integrando os seus sistemas com os seus parceiros:

fornecedores, clientes, representantes, bancos ou governo.

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4. METODOLOGIA

Os objetivos deste artigo é uma revisão da literatura sobre a logística

como estratégia para o desenvolvimento organizacional. A pesquisa visa

descrever uma determinada realidade, logo pode ser considerada como

descritiva, do tipo teórico e empírico.

Considera-se o paradigma interpretativo o mais adequado ao objeto

em estudo. O padrão interpretativo, assim como o funcionalista, preocupa-

se com a regulação social, porém de um ponto de vista subjetivista

(LAKATOS & MARCONI, 2001). Assim, para melhor considerar a

subjetividade, opta-se por uma pesquisa qualitativa.

Como método de abordagem, a pesquisa foi conduzida de forma

indutiva, realizada em três etapas: a observação dos fenômenos, a

descoberta da relação entre eles e a generalização da relação (LAKATOS &

MARCONI, 2001). Utilizou-se também como método de procedimentos, o

estudo de caso, definido como uma investigação empírica que investiga um

fenômeno contemporâneo, dentro de seu contexto da vida real (YIN, 2001).

No presente trabalho foi realizado revisão e interpretação dos estudos

pertinentes, implicando na seleção, leitura e análise de conceitos que

abrangem o tema, permitindo assim, maior clareza nos dados e na

formulação de comparações com aplicações práticas.

A revisão da literatura permitiu edificar conceitos teóricos, métodos e

instrumentos de análise, através de referências bibliográficas ou citações de

artigos, trabalhos e aplicações semelhantes em outros contextos, revistas,

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dissertações, publicações referentes ao objeto da investigação e mídia

eletrônica.

5. CONCLUSÃO

A logística está sempre sob objeto de interesse dos empresários. A

redução dos custos aliados ao aumento de produtividade nesse setor nunca

deixará de ser perseguido pelos gestores. Diante do mercado globalizado

em que vivemos e com constantes mudanças, qualquer alteração pode

provocar incertezas para o planejamento e operação das atividades da

logística. Isto exigirá habilidade e constante atualização por parte da

administração das empresas.

Conclui-se que, por meio do estudo de caso da indústria do calçado

brasileiro e sua integração entre toda cadeia calçadista, que o emprego

correto da logística significa redução de tempo, numa economia cada vez

mais globalizada e sequiosa de agilidade e ganhos. Seu planejamento

juntamente com a automação dos sistemas logísticos como EDI, contribui

de forma surpreendente para as cadeias de suprimentos, uma vez que o

fluxo eficiente e continuo das informações é imprescindível para a eficácia

do relacionamento das cadeias através de seus elos. Mas, vale lembrar que

as empresas precisam entender que é necessário investir em equipamento,

treinamento de pessoal especializado, tanto na área administrativa, como na

produção e expedição conscientizando-os da importância de trabalhar com

informações corretas.

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Fica claro que a logística é um ponto fundamental para qualquer

empresa que queira ganhar e se manter no mercado altamente competitivo,

com redução de seus custos e eficiência no atendimento de seus clientes que

significa a chave do sucesso de qualquer organização.

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DESPINDO A PRECEPTORA INGLESA

Samuel Barros de Medeiros Albuquerque

Professor do curso de História da Faculdade José Augusto Vieira (FJAV), graduado em História e mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), doutorando em História pelo Universidade Feral da Bahia (UFBA). E-mail: [email protected]

Num passado não muito distante, entre a segunda metade do século

XIX e as primeiras décadas do século XX, educadoras estrangeiras

estiveram a cultivar a fina-flor da juventude sergipana. Eram preceptoras

alemãs, austríacas, francesas e inglesas que cruzavam o Atlântico,

seduzidas por boas propostas de emprego.

Tenho estudado, sistematicamente, a contribuição dessas mestras na

formação educacional das antigas elites sergipanas1. Contudo, no desenrolar

dessa laboriosa tarefa, emergia um grande problema: o(s) perfil(is) das

preceptoras européias. Afinal, quem eram essas mulheres?

As poucas obras da nossa historiografia educacional, dedicadas

integral ou parcialmente ao estudo da preceptoria, esclarecem parcamente o

problema. Por isso mesmo, foi bastante compensador deparar-me com a

obra “Sombra errante: a preceptora na narrativa inglesa do século XIX”, da

professora Maria Conceição Monteiro.2

1 Projeto desenvolvido no doutorado em História do Programa de Pós-Graduação

em História da Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Profª Drª Lina Aras [ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Preceptoras alemãs na Bahia e em Sergipe (1860-1920). Salvador/BA. Projeto de Pesquisa (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História/UFBA. Início: 2008].

2 MONTEIRO, Maria Conceição. “Sombra errante: a preceptora na narrativa inglesa do século XIX”. Niterói/RJ: EdUFF, 2000. 153 p. (Coleção Ensaios; 17).

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Monteiro é professora titular da Universidade Estadual do Rio de

Janeiro (UERJ), onde integra o quadro docente do Instituto de Letras. A

formação acadêmica da autora desdobrou-se, sobretudo, no âmbito da

Universidade Federal Fluminense (UFF), onde se tornou especialista e

mestra em Língua Inglesa, obtendo, em 1998, o título de doutora em

Literatura Comparada. A autora tem uma copiosa produção bibliográfica3 e,

atualmente, dedica-se a estudos voltados para o gênero gótico nas literaturas

contemporâneas de língua inglesa.

O livro “Sombra errante” foi publicado em 2000, pela Editora da

Universidade Federal Fluminense (EdUFF). Trata-se do desdobramento de

uma premiada tese, defendida por Maria Conceição Monteiro em 1998, no

Instituto de Letras da UFF.4

A apresentação gráfica da obra não é das melhores5. A capa, mesmo

trazendo uma bela imagem ao centro, carece de melhor elaboração6. A

3 Além de inúmeros ensaios em livros e periódicos, Maria Conceição Monteiro é

autora de obras como: “Na aurora da modernidade: a ascensão dos romances gótico e cortês na literatura inglesa” (Rio de Janeiro: Caetés, 2004); “Representações culturais do outro” (Niterói/RJ: Vício de Leitura, 2001); “Dialogando com culturas: questões de memória e identidade” (Niterói/RJ Vício de Leitura, 2003); “Figurações do feminino nas manifestações literárias” (Rio de Janeiro: Caetés, 2005), as três últimas organizadas em parceria com Tereza Marques de Oliveira Lima.

4 Sob orientação do professor Roberto Acízelo Quelha de Souza, o trabalho recebeu o prêmio de melhor tese do Programa de Pós-Graduação em Literatura Comparada do Instituto de Letras da UFF, em 1999.

5 A referida edição da EdUFF tem formato 14x21 cm, orelhas de 07 cm e um montante de 153 páginas, agrupadas em 10 cadernos costurados e colados. O papel utilizado na confecção da obra foi o chamois 75 g/m2, sendo que o cartão

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formatação do texto não está equilibrada com as dimensões da edição,

notadamente as margens esquerda e direita. Todavia, o conteúdo não deixa

dúvidas quanto à grandiosidade da obra.

O texto desenvolve-se em cinco capítulos, sendo o último de caráter

conclusivo. O primeiro, especialmente instigante para os historiadores de

ofício, analisa a condição histórica de preceptora na Inglaterra do século

XIX. O segundo capítulo apresenta o perfil da preceptora inglesa,

baseando-se na narrativa ficcional que antecede a publicação do romance

“Jane Eyre”7, obra que é analisada no terceiro capítulo. Em seguida, a

autora trata das representações da preceptora na ficção inglesa posterior a

“Jane Eyre”. E, finalmente, o quinto capítulo empreende um balanço geral

do estudo.

O ensaio de Maria Conceição Monteiro representa um monumento

à figura histórico-literária da preceptora. O talento da autora fica

evidenciado no fôlego do seu texto, fluente e agradável da primeira à última

página, tão sedutor quanto os romances oitocentista que esmiúça.

Além disso, Monteiro desenvolveu uma meticulosa pesquisa em

bibliotecas inglesas, em especial, a de Oxford e a de Nottingham, onde

levantou suas fontes básicas — primeiras edições dos romances estudados,

supremo 250 g/m2 foi utilizado na capa. Não conseguimos dados sobre a tiragem da edição.

6 Em preto e branco, a capa tem no centro a imagem (9x12 cm) de uma bela dama, que suponho ser uma preceptora inglesa do século XIX. O título da obra aparece acima da citada imagem e, abaixo dela, observa-se o nome do autor e o símbolo da editora.

7 Obra Charlotte Brontë, publicada, originalmente, em 1847.

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além de outros importantes documentos da época (manuais de

comportamento feminino e muitos periódicos).

Do conjunto de romances estudados, um número expressivo foi

traduzido para o português. Provavelmente, a circulação desses livros

contribuiu para formação de uma imagem acerca da preceptora européia no

imaginário dos leitores brasileiros.

Monteiro reconhece a problemática que gira em torno do uso de

textos ficcionais como lastro para estudos históricos. Entretanto, conclui

que, mesmo não reproduzindo a realidade, a ficção indicia o impacto mental

causado pela figura da preceptora nas mentes de seus contemporâneos.

Além disso, um dos méritos da obra, de grande valia para os

historiadores da educação brasileira, é a devassa empreendida pela autora

na bibliografia de língua inglesa que trata da educação doméstica. Obras de

sociologia, história e educação que foram utilizadas e devidamente

referenciadas.

Lastreada num articulado diálogo entre história e literatura, a autora

nos põe diante de uma preceptora inglesa do século XIX, espectro que

ganha forma no brilhante estudo de Maria Conceição Monteiro. Dessa

forma, muitos dos questionamentos que formulei acerca dessas educadoras

européias foram elucidados.

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O USO DA ICONOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA

Claudefranklin Monteiro Santos

Graduado em História e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Professor, Historiador e Escritor Lagartense. Coordenador e Docente do Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira e Professor de História da Rede Pública Estadual de Sergipe. Ee-mail: [email protected]

“A imagem instrumentalizada transforma o olho do cientista: abre-lhe novos horizontes e fecha outros, habitua este olho a enxergar em uma direção específica com a exclusão de outras, ou a constituir de um modo e não de outro os contornos de determinado objeto. Compreendido isto, a questão não é lutar em vão contra as inevitáveis limitações de uma imagem instrumentalizada ou de uma direção metodológica estabelecida para tal o qual fim, mas sim devolver a estas imagens e direções metodológicas a sua dimensão instrumental e transitória, dominá-las e não se deixar dominar por elas, superá-las sempre que for necessário e propor constantemente novas maneiras de abordar ou constituir o objeto sempre a partir de uma imaginação criadora e demolidora de imagens e conceitos congelados”. (D´ASSUNÇÂO, 2004)

Considerando que quase tudo que acontece se dá pelo aspecto visual,

faz-se necessário ao professor de história a necessidade de se valorizar a

educação pelo olhar. A história acontece a olhos vivos. Além disso, é

preciso salientar a força que a imagem provoca nas pessoas. Seu poder de

atração e seu fascínio. Aquilo que desperta tanta atenção não pode deixar de

ser um veículo precioso de ensino e de aprendizagem.

Como entender o material iconográfico e sua utilização em sala de

aula é uma reflexão que merece um cuidado inicial. Antes de tudo, é

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necessário entender aqui iconografia ou imagens como um artefato

(gravuras, fotografias, litografia, xilografia, charges, caricaturas,

publicidade, cartaz, cinema, televisão, vídeo) produzido culturalmente por

uma dada sociedade industrial, os chamados “artefatos imaginéticos”. Em

seguida, a iconografia passa então a ser encarada como técnica de ensino,

tendência construída ao longo da história da educação brasileira.

(SCHMIDT, 2002)

SERRANO afirma que é preciso aprender História “pelos olhos e não

mais enfadonhamente só pelos ouvidos, em massudas, monótonas e

indigestas preleções” (SERRANO,1912:11). Assim, o uso da iconografia no

ensino de história concretiza o que pode chamar de educação pelo olhar.

Mas, o uso excessivo da imagem também pode afastar o aluno do

mundo real, quando este não se dá conta da carga de representatividade

construída em torno dela. O fenômeno da iconização das coisas, e não

diferente do ensino de história, pode trazer distorções de aprendizagem e

distanciar o aluno das representações sociais. Essa tese é defendida por

alguns estudiosos, a exemplo da professora Elias Thomé Saliba (USP). Ela

admite que a imagem muitas vezes não ilustra bem a realidade e nem tão

pouco a reproduz, dado que é construída num determinado contexto

histórico. Assim, nem sempre o que é ou parece ser, é de fato: é o que

querem que seja ou que pensem que seja. “Toda a atenção – não apenas do

professor, mas de todo aquele que lida com as imagens – deve voltar-se

para o lado mais invisível, frágil, onde talvez se encontrem os possíveis

vestígios de um inconsciente visual de nossa época” (SALIBA , 2003:126).

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Para analisar e/ou interpretar a história de uma nova maneira, sob um

novo olhar, muitos historiadores vêm se distanciando do paradigma

tradicional. A chamada história nova tem considerado “novos problemas”,

“novas abordagens” e “novos objetos”. Essa nova roupagem da história

permite, entre tantas possibilidades, através da iconografia a revelação de

representações simbólicas que o dado oficial ou o registro escrito não

seriam capazes de permitir uma interpretação do real. Nesse contexto, o

professor de história pode se fazer valer do imaginário e despertar em seu

aluno a construção do mesmo nas mentalidades coletivas.

Nascida na França, em 1919 pela iniciativa de Marc Bloch e Lucien

Febvre, seguida nun segundo momento por Fernand Braudel, a História

Nova está associada a revista dos Annales (Annales, économies, societés,

civilisations), colaborando sobremaneira para a renovação dos chamados

“paradigmas da história”. Para BURKE (1992), um dos maiores estudiosos

do tema, durante muito tempo houve na tradição histórica uma preocupação

com uma história nacional ou internacional, não levando em consideração a

importância do aspecto regional. Esse tipo de tendência insistia na idéia de

que a política era a formadora da história, desconsiderando os variados

aspectos das atividades humanas, vista em sua totalidade. Preocupados em

relatar uma história factual, centrada nos acontecimentos, não se

preocuparam em saber de toda estrutura que permeia as transformações.

Esse tipo de conduta historiográfica valorizava excessivamente figuras

ilustres, em detrimento da História Nova que valoriza todas as categorias

sociais e suas representações, que deram origem à história das

mentalidades.

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“(...) a indagação sobre o popular levou à diversificação de recursos,

relativizando o primado do escrito e valorizando outras fontes, tais como o

documento oral e a iconografia, ardil legítimo para se romper o silêncio de

mundos mal conhecidos” (VOVELLE, 1997:17). Permitindo ir além do

escrito, as novas fontes procuram dar conta de lacunas que por vezes

ajudaram a firmar imagens distorcidas de épocas da história mundial e

brasileira. Nesse sentido, há quem afirme que a fonte iconográfica, se bem

utilizada como testemunho, muitas vezes tornam-se mais exatos em sua

informação do que o discurso escrito. Para tanto, há que se fazer e saber

fazer novas perguntas a essas novas fontes, para que elas possam romper o

silêncio acima citado, num universo historiográfico dominado pela palavra

escrita. Lidar com imagens também é lidar com o desconhecido e invisível,

com o ausente.

“Sendo as coisas que pensamos invisíveis, nem mesmo quem enxerga

pode vê-las” (CHARTIER , 1996).

Com a Nova História ampliou-se também o conteúdo do termo

documento – “há que tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais amplo,

documento escrito, ilustrado, transmitido pelo som, pela imagem ou de

qualquer outra maneira” – destacando a necessidade da crítica do

documento. Para Le Goff, “o documento não é qualquer coisa que fica por

conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as

relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento

enquanto documento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao

historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de

causa”.

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Ulpiano Bezerra vai mais longe e propõe que o historiador, ao se

aproximar do campo visual (iconográfico) desenvolva o que ele chama de

potencial cognitivo (MENESES, 2003). Para tanto, ele convida o

historiador a mergulhar no campo da história da imagem, como elemento

necessário para a elucidação da historicidade das coisas. Nesse sentido, o

aspecto iconográfico na história adquire numa visão antropológica de si

mesma, três modalidades: ele é visto como elemento produzido pelo

observador, como registro ou parte do observável (na sociedade observada)

e a interação entre o observador e observado.

O sentido proposto por este autor não tem ainda merecido estudos

mais abrangentes, e quando existentes limitam-se a épocas específicas,

como a Antiguidade, o Renascimento, entre outros. Para tanto, atribui ao

campo da história da arte, à partir do século XVIII um período promissor ao

reconhecimento do potencial cognitivo da iconografia.

Na ótica de Ulpiano Bezerra, a imagem não pode ser encarada como

mera ilustração do real, mas como coisa intrinsecamente pertencente a ele e

às práticas materiais que a envolvem. A iconografia não pode ser vista

como à margem da história, mas na e parte dela. A imagem estaria, assim,

dosada de uma historicidade própria.

Este autor afirma, ainda, que existe por parte da própria historiografia

uma espécie de silenciamento do tratamento da imagem como documento

histórico, mesmo por parte daqueles que se apresentam como os maiores

nomes de então na área das novas abordagens históricas: Le Goff e Pierre

Nora. Os estudos desenvolvidos são ao seu ver evasivos no tratamento

historiográfico dado às imagens, no que o autor os chama de superficiais,

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principalmente por não levarem em conta os aspectos visualidade e leituras

de imagens.

Complementando essa visão, é preciso estar atento que BURKE

denominou de “contexto social” da imagem, ou seja, as circunstâncias nas

quais ela foi encomendada, bem como o contexto material e o local onde se

desejava exibi-la, procurando dar conta das formas de produção, circulação

e consumo dos meios visuais. (BURKE, 2005:171).

As novas concepções no campo da História Nova e a relação com a

nova prática do ensino de História não só permite como também dinamiza a

relação professor de história e aluno, até porque o uso da iconografia em

sala de aula pode perfeitamente tornar-se possível e bem vindo. Para

SCHMIDT, “o uso de imagens como alternativa metodológica para a

formação do professor de História é importante, não só para entendê-las

como documento ou um tipo de linguagem a ser utilizada pelo professor em

seu trabalho em sala de aula, como também no sentido de apreendê-las

como conteúdo curricular, isto é, como conteúdo a ser ensinado”

(SCHMIDT, 2002:171).

A prática mecanicista do uso novas formas de aprendizagem no

ensino de História devem ser evitadas, pois comprometem o processo de

construção qualitativa do conhecimento, inibindo a capacidade do aluno no

que se refere a sua postura crítica diante da informação apresentada. As

fontes iconográficas não devem ser usadas como mera ilustração. Elas

devem ser tratadas como instrumento para a construção do saber histórico,

colaborando na problematização dos conteúdos expostos e estimulam o

aluno a ir além do tema abordado.

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O uso da iconografia na prática do ensino de história deve estabelecer

um diálogo entre a produção cultural da sociedade contemporânea e a

construção do conhecimento histórico propriamente dito.

Cristina Bruzzo (2004) afirma que o nosso imaginário sobre outros

tempos e espaços é indelevelmente marcado pelo repertório visual que

povoa as várias expressões de nossa cultura. Para tanto, é preciso estar

atento às armadilhas resultantes das convenções presentes na iconografia do

passado.

Considerando que a iconografia é resultado de uma prática social e

construída culturalmente, o estudo das representações, defendida pelo

historiador francês Roger Chartier (1990:13), permite “ver uma coisa

ausente quer como exibição de uma presença”.

Num trabalho desenvolvido por Fábio Vergara Cerqueira (2000)

sobre a iconografia dos vasos gregos antigos como fonte histórica, afirma

que iconografia, registrada nas pinturas que decoram os vasos gregos, é

produzida por artesãos, população de origem humilde e simples, distanciada

da sofisticação dos debates filosóficos, do refinamento das récitas poéticas e

das observações científicas. Para o pesquisador, remeter-se da tradição

literária à iconográfica significa colocar em relação o imaginário popular e

o das elites, a cultura dos excluídos e dos incluídos. Considerando, por

exemplo, que a alfabetização no período clássico devia atingir, de forma

satisfatória, aproximadamente 15 a 20% da população, o entendimento das

informações visuais era irrestritamente acessível a amplas camadas,

contanto tivessem acesso a divisar os objetos decorados e dispusessem de

códigos culturais para interpretá-los.

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Burke (1994) traça um amplo painel dos processos utilizados pela

corte de Luís XIV, por exemplo, com a finalidade de criar uma imagem,

uma representação e mitos sobre a figura do rei.

Michel Vovelle (1987:93), na primeira parte de Ideologias e

mentalidades, discute a relação entre iconografia e a história das

mentalidades, destacando a sua utilização por parte dos historiadores da

Idade Média que - ao analisarem ex-votos, altares, estátuas etc.- buscaram

traçar tanto uma geografia do sagrado como o perfil das sensibilidades

coletivas no passado. Os problemas levantados por Vovelle convergem para

uma única questão: "Pode-se, efetivamente, elaborar uma verdadeira

semiologia da imagem?”

Ainda de Vovelle (1997), Imagens e Imaginário na História vêm

discutir algumas questões pertinentes ao uso da iconografia na história.

Primeiro por ser uma contribuição essencial ao estudo das mentalidades,

uma vez que somente nela ela se concretiza enquanto fonte histórica.

Depois, porque ele considera a imagem como resultado da sensibilidade de

uma época, ao passo que o pesquisador deva detectar as idéias-forças das

representações coletivas expressas nesses sistemas de símbolos, o que não

poderia de deixar de ser também uma dos ofícios do professor de história.

O aspecto inovador da Nova História chega ao Brasil a partir dos

anos 70 e com repercussões saudáveis no campo da prática do ensino de

história. Tal evidência leva a crer que não há como desassociar a prática de

ensino do aspecto teórico-metodológico.

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“(...) essa grande mudança cultural e epistemológica envolve mudanças em termos de tecnologia e pedagógica e, portanto, novas compreensões da relação entre tecnologias e pedagogias, escolarização e cultura da mídia. Apenas agora estamos começando a registrar a importância educacional e cultural da imagem como princípio organizacional para as relações sociais e as subjetividades”. (GREEN, B.; BIGUN, C,1995)

Diante de tais considerações, torna-se evidente que não seja mais

possível imaginar que a história seja exclusivamente elaborada e ensinada

apenas por intermédio de discursos escritos. Para a história, a iconografia se

apresenta como fonte de conhecimento visual da cena passada e, portanto,

como possibilidade de estudo desse passado ou resgate da memória do

homem e do seu entorno sócio-cultural.

No âmbito da discussão didático-pedagógica, se nota uma crítica em

torno da prática de ensino de história em não se dá a devida atenção à parte

teórico-metodológica, o que para alguns tem engessado a área no sentido de

proporcionar alterações e mudanças significativas.

A prática do ensino de história que leve em consideração o uso do

material iconográfico deve estar atenta à idéia de que ele não pode vir

desassociado da noção de que é um elemento importante na sociedade

contemporânea e de que é preciso salientar a relação entre cultura e

educação (SCHMIDT, 2002).

“(...) Se esse trabalho com imagens enquanto documento pressupõe que o professor domine conteúdos e competências específicas do uso escolar do documento e também da linguagem que ele for trabalhar, o recorte temático da

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História exige um domínio consistente do conteúdo a ser trabalhado, bem como um acompanhamento das novas pesquisas e produções historiográficas, para que diferentes temas sejam incorporados aos conteúdos que serão trabalhados em sala de aula”. (SCHMIDT, 2002:176).

O perfil dos professores de história no Brasil gira em torno da idéia

de um serem sujeitos não muito dados à reflexão, em função da via

discursiva adotada pela maioria deles na prática de ensino. Tal

representação leva a crer que ensinar história é uma tarefa muito fácil, por

não requerer, aparentemente, qualquer interferência de questões teóricas,

metodológicas e ideológicas, bastando apenas decorar e transmitir o que é

posto.

Este tipo de representação deposita, ainda, no professor a mazela de

ser um agente centralizador do saber histórico, ao passo em que o aluno se

transforma num receptor passivo de conteúdos constante no currículo de

história, mas nem sempre capaz de renovar a realidade por meio do

cotidiano da sala de aula, como o uso, por exemplo, da iconografia.

A experiência em sala de aula nos permite trocar experiências com

nossos alunos, além de termos diante de nós uma gama inesgotável de

fontes de pesquisa através do documento. Porque não acrescentarmos a tudo

isso, além de lousa, giz e livro didático, a aprendizagem da História através

da iconografia.

O professor de História deve alimentar no aluno o hábito ler o

material iconográfico que se apresentar, de modo especial nos livros

didáticos, onde texto e imagem muitas vezes não se relacionam, servindo

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apenas como ilustração. Ainda que se leve em consideração o que

GASKELL (1992:237) afirma sobre a maioria dos historiadores (e nesse

contexto, professores de história também), que “são muitas vezes

despreparados para lidar com o material visual, muitos utilizando as

imagens apenas de maneira ilustrativa”.

Enest Lavisse, em seu Historie de France (1887) destaca a

importância da imagem para a compreensão da história. No livro, justifica o

uso das mesmas como a necessidade de formar no aprendiz de história a

capacidade de desenvolver a inteligência e a memória, no que ele chamava

de “revisão pelas imagens”.

O texto acompanhado do material iconográfico tem sido uma das

mais eficientes estratégias de aprendizagem nos livros didáticos de história.

Ao longo da história da educação do Brasil isso é notório, especialmente

entre o final do século XIX e o início do século XX, onde os chamados

livros de leitura procuravam por meio de imagens, incutirem nas crianças

mensagens como noções de higiene, moral e civismo.

O uso do conteúdo iconográfico no ensino de história não é uma

novidade desse século. Há muito se faz uso de ilustrações nos textos

escritos. Porém, nunca tão intensificado como nas práticas pedagógicas

atuais, ainda mais como os surgimento e aprimoramento de novas mídias. A

professora BITTENCOURT (2003) manifesta, nesse sentido, duas

preocupações que merecem um exaustivo debate. Primeiramente com

relação à escassez, dentro da questão ensino-aprendizagem do uso dessas

imagens. Em seguida, com relação às mudanças, que embora pertinentes,

venham a causar na aprendizagem de história.

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Entre os elementos apontados por BITTENCOURT (2003:77), um

chama a atenção no que se refere às ilustrações. No uso delas no livro

didático, a autora enfatiza o seu aspecto mercadológico e afirma

categoricamente a interferência dos interesses de lucro até mesmo na

escolha e aplicação das imagens nos livros didáticos, tolhendo a liberdade

de produção do autor, inclusive a nível técnico.

A autora ainda destaca que as representações do material iconográfico

são carregadas de conteúdo ideológico. Segundo ela, ao longo dos anos

predominou as representações da História Política, com ênfase nas figuras

administrativas e suas especificidades e variações, a exemplo das figuras de

D. Pedro I e Getúlio Vargas. Com o avanço da História Social e Cultural,

essa cena vai mudando de feição e outras representações até então ocultadas

ou deformadas aparecem como a tônica de trabalhos de História do Brasil,

como indígenas e negros.

Se considerarmos o período compreendido entre os anos 1930-1945

no Brasil, ver-se-á que houve um investimento maciço em produção de

material iconográfico, cuja finalidade fora a de criar uma imagem

extremamente positiva de seu governante, o ditador Getúlio Vargas,

comumente e estrategicamente chamado de “pai dos pobres”. Para

KORNIS (1988:72), “transformados em verdadeiros ícones ao longo das

últimas cinco décadas, tais registros reinvetam a todo o momento o mito em

torno de uma figura”.

Cabe, portanto, ao professor de história debruçar-se sobre tal

problemática e tirar-lhe um proveito pedagógico, construindo entre outras

coisas, com seu aluno estratégias que não só desmistificam imagens

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construídas ideologicamente, como a de Getúlio Vargas, ao mesmo tempo

em que desenvolvam um senso crítico de leitura de imagens que lhe garanta

habilidades que o cotidiano muitas vezes exigem em outras situações que

extrapolem a sala de aula. “(...) Imagens podem ser utilizadas para

quaisquer fins, não sendo por si só provas de verdade, muito embora não

possamos desconhecer a existência de um registro real na imagem

documental” (KORNIS, 1988:73).

“Ao considerar o livro como um documento, ele passa a ser analisado dentro de pressupostos da investigação histórica, portanto objeto produzido em um determinado momento e sujeito de uma história da vida escolar ou da editora. Nesse sentido, cabe ao professor a tarefa de utilizar uma metodologia que possibilite leitura e interpretação que desperte o sentido histórico nas relações triviais de sala de aula”. (BITTENCOURT , 2003:86).

Não seria diferente, entende-se, como o conteúdo iconográfico. O

fato de um livro insistir em trazer a representação tradicional de um

momento da história (Independência do Brasil) não impede que alunos e

professor possam se debruçar sobre aquela imagem e decifra-la sob todos os

aspectos. O olho existe não para a conformação passiva do aprendiz, mas

para o eterno olhar na melhor atitude de um estudioso incansável em

absorver o real, ainda que em seu sentido abstrato.

Essa nova postura permite a perspectiva de análise sobre o

imaginário. Nas representações políticas construídas ao longo da história,

permite ver a minissérie global JK como um elemento importante na

construção de uma identidade nacional coletiva. Seus autores se utilizaram

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de fontes a profícua iconografia da época (fotos de jornais e revistas,

gravuras, fotografias pessoais, entre outros, não só para reviver figurinos,

estilos, comportamentos e até posturas dos personagens que outrora foram

reais).

Com relação à figura de Tiradentes, as representações políticas

também se fizeram presentes por meio do uso e do abuso do material

iconográfico. De famigerado rebelde e perigo para a nacionalidade na

abordagem da Monarquia Brasileira, na Republica, após 1889, torna-se

símbolo da causa republicana, transfigurando-se em herói e mártir, numa

construção de fundamentação religiosa bastante evidente, dada a sua figura

ser aproximada a de Cristo, como redentor de muitos, com pinturas lhe

representando de cabelos longos, barba comprida e olhar de padecimento, a

exemplo da tela de Pedro Américo (1843-1930), “Tiradentes Esquartejado”.

Entre os mais afeiçoados à idéia libertadora, figurava um alferes de cavalaria, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Era um homem pobre, de coração generoso, inteligência viva, amante do progresso, um auto-didata, cheio de ardor e capaz de grandes empreitadas. (...) Não era nem sonhador, nem entusiasta vulgar. Tinha senso da realidade, espírito prático, realizador, produto que era de um meio, onde se cultivavam as letras, empreendiam-se organizações, lutava-se com a aspereza da terra e procurava-se disciplinar a fortuna. (...) Era o tipo representativo do brasileiro do século XVIII, cujas virtudes e qualidades os pósteros herdaram, nos seus cometimentos e empresas pela libertação moral, intelectual e econômica do Brasil, entre os quais citamos José Bonifácio, Cairú, Mauá, Rebouças e tantos outros. (VIANA, 1994:336)

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Chama à atenção a obra de Michel Vovelle (1997), onde o historiador

procura mostrar as mudanças nas chamadas “mentalidades” a partir de uma

variação iconográfica das imagens da Revolução Francesa ou ainda dos

altares dedicados às almas do purgatório entre os séculos XV e XX.

Um dos campos mais privilegiados e mais fecundos da iconografia é

o da religião e da religiosidade. Muitas das imagens estiveram associadas à

ideologia cristã, especialmente na ótica do catolicismo.

“As comparações de ilustrações reproduzidas em momentos

diferentes são necessárias para que alunos possam estabelecer relações

históricas entre permanências e mudanças e para relativizar o papel que

determinados personagens tendem a desempenhar na História”, afirma

BITTENCOURT (2003:88). É o caso, por exemplo, da Lei Áurea e sua

relação com a Princesa Isabel. Normalmente, as imagens utilizadas passam

a idéia de concórdia entre brancos e negros e a de heroísmo e humanidade

da Alteza. Nesse sentido, as representações mais comuns dão conta de

apresentar o 13 de maio como uma grande vitória ou a “redenção de uma

raça” e garantia da paz e prosperidade social, desconsiderando, dessa forma,

os longos anos de luta e resistência dos negros e os efeitos maléficos da Lei

Áurea, especialmente no campo social, como os atuais problemas de

discriminação e miséria social dos descendentes daquele povo.

A proposição do uso da iconografia no ensino de história implica,

necessariamente, entender e encarar o ensino como produção do

conhecimento e convite à pesquisa. Mais do que o docente, os cursos

superiores de licenciatura em história devem formar o professor-

pesquisador.

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O gosto pela pesquisa deve ser também um ingrediente importante

nessa nova prática do ensino de história, uma vez que a iconografia passa a

ser encarada como documento capaz de permitir a investigação histórica.

Faz-se necessário, assim, entender a prática pesquisa histórica no cotidiano

das aulas de história, para que o aluno perceba que o conhecimento é

construído e não repassado desgastantemente pelo professor. “Encaminhar

o processo ensino-aprendizagem nesta perspectiva é acreditar na capacidade

de raciocínio do aluno, proporcionado-lhe condições para raciocínios

críticos, criativos, sem deixar de considerar um certo rigor metodológico na

orientação sobre a busca do conhecimento.” (LUPORINI, 2002:200).

Se a iniciativa do professor de história em fazer bom uso do material

iconográfico em sala de aula for bem sucedida, ele estará formando, sem

sombras de dúvidas, um sujeito com uma postura realmente historiográfica,

capaz não só de dá conta do elemento aprendizagem (via ensino), mas

também de aguçar nesse profissional o gosto pela pesquisa e pela

construção do conhecimento histórico.

Referências

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LITERATURA E CULTURA NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA

Ana Lúcia Simões Borges Fonseca

Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Mestranda em Língua Inglesa e suas Literaturas pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professora do Curso de Letras Português / Inglês da Faculdade José Augusto Vieira. E-mail: [email protected]

RESUMO Pretendemos, com este trabalho, fazer com que educadores/as e alunos/as reflitam

sobre a importância de utilizar os textos literários nas aulas de língua estrangeira

não apenas com o objetivo de decodificá-los, mas com a proposta de utilizá-los

como mediadores na formação de sujeitos verdadeiramente críticos, ativos e

leitores das relações do mundo. Pretendemos, também, tratar da relevância que

tem a literatura no sentido de permitir um diálogo interdisciplinar e, sobretudo,

demonstrar qual a sua contribuição em se tratando do ensino/aprendizagem do

inglês como língua estrangeira.

Palavras-Chave: Língua; Literatura; Cultura

ABSTRACT This article aims at making teachers and students reflect on the importance of using literary texts in the foreign language classes, not only with the purpose of interpreting them, but with the purpose of using them to mediate the formation of critical and active individuals, who are able to read the world’s relations. We also highlight the relevance of Literature in what concerns its interdisciplinary approach and show its contribution towards the teaching and learning of English as a foreign language.

Key words: Language; Literature; Culture

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1-INTRODUÇÃO

Acreditamos ser a literatura uma importante faceta das

manifestações culturais e leitura que objetiva gerar reflexão,

conscientização e atuação dos indivíduos sobre si próprios e sobre o mundo

que os cerca. Acreditamos, também, ser a literatura constituída de aspectos

dinâmicos, os quais oportunizam transformações e acompanham as

mudanças do mundo podendo, portanto, propiciar mudanças significativas

no nosso sistema educacional. Sistema este que, infelizmente, encontra-se

distante dos ideais educacionais e o qual, para atender às condições

histórico-sociais que lhe são impostas no decorrer de séculos e sobre as

quais não objetivamos discorrer no dado momento, ainda se desenvolve

muito mais no plano da manutenção do que no da criação dificultando,

sobremaneira, a liberdade de inovar.

Assim sendo, pretendemos, com este trabalho, fazer com que

educadores/as e alunos/as reflitam sobre a importância de utilizar os textos

literários nas aulas de língua estrangeira não apenas com o objetivo de

decodificá-los, mas com a proposta de utilizá-los como mediadores na

formação de sujeitos verdadeiramente críticos, ativos e leitores das relações

do mundo. Pretendemos, também, tratar da relevância que tem a literatura

no sentido de permitir um diálogo interdisciplinar, chamando a atenção de

outras áreas do conhecimento para problemáticas dentro das quais as

mesmas se inserem e, sobretudo, demonstrar qual a sua contribuição em se

tratando do ensino/aprendizagem do inglês como língua estrangeira.

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Esses fatores, associados a uma série de observações

concernentes à nossa prática com o ensino de Língua Inglesa e suas

Literaturas e que têm nos mostrado o quão desconhecido ainda é o terreno

literário para muitos/as alunos/as que ingressam no curso de Letras

Português/Inglês inseguros, angustiados e tementes em relação aos estudos

literários e, muitas vezes, descrentes em relação às suas habilidades e

percepções, vêm reforçar esta nossa proposta, no sentido de fazer com que

haja reflexões sobre a necessidade premente de se utilizar a literatura no

ensino/aprendizagem do inglês como língua estrangeira.

Portanto, não hesitamos em sugerir a incorporação do uso de

atividades que visem integrar a leitura de textos literários em língua

estrangeira às propostas curriculares dos ensinos Fundamental e Médio,

visando fazer com que os/as alunos/as, desde cedo, tenham a chance de

conhecer e vislumbrar as inúmeras possibilidades que esta integração

língua/literatura lhes pode proporcionar. Pensamos que tal mudança far-se-

ia de fundamental importância, uma vez que prepararia os/as alunos/as para

compreender que eles/as sempre terão algo a dizer a respeito de um texto

literário e que o caminho da literatura está repleto de descobertas

fascinantes, mas precisa ser trilhado. Afinal, como propõem Collie e Slater8

ao tratar da literatura (1987, p.16), é importante que os alunos sintam que

seus conhecimentos e experiência de vida podem oferecer valiosa

orientação.

8 It is important for learners to feel that their knowledge and life experience can still provide valuable guidance.

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Considerando esses aspectos que norteiam a nossa proposta,

faz-se importante ressaltar que procuramos pautá-la, também, nas idéias

de Culler9 (1997, p.43), que diz ser de particular relevância o estudo de

culturas instáveis e identidades culturais que surgem para grupos –

minorias étnicas, imigrantes, mulheres – que podem ter problemas em se

identificar com a cultura mais ampla na qual se encontram – uma cultura

que é em si mesma uma construção ideológica em constante mutação; de

Kramsch10 (1993, p.205), ao citar o fato de o pensamento tradicional no

ensino de LE ignorar o fato de que boa parte do que chamamos cultura é

um construto social, o produto da percepção de si mesmo e dos outros e,

finalmente, na proposta de Collie e Slater11 (1987, p.10) que sugerem

uma abordagem através da qual os/as alunos/as possam aproveitar os

benefícios de atividades comunicativas e outras atividades para o

aprimoramento da língua dentro de contextos de trabalhos adequados de

literatura. Ainda segundo Collie e Slater12 (1987, p.10), compartilhar

literatura com os alunos é um estímulo para que eles possam adquirir

9 Particularly important, therefore, has been the study of unstable cultures and cultural identities that arise for groups – ethnic minorities, immigrants, women – that may have trouble identifying with the larger culture in which they find themselves – a culture which is itself a shifting ideological construction. 10 It (=traditional thought) has usually ignored the fact that a large part of what we call culture is a social construct, the product of self and other perceptions. 11 The overall aim, then, of our approach to the teaching of literature is to let the student derive the benefits of communicative and other activities for language improvement within the context of suitable works of literature. 12 Sharing literature with students is a spur to their acquiring these benefits, providing teachers make a balanced selection of activities and present them with confidence. Todas as traduções são minhas.

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esses benefícios, desde que o/a professor/a faça uma seleção equilibrada

de atividades e as apresente com confiança.

Os objetivos culturais e literários concernentes à nossa

proposta tratarão, respectivamente, da questão da discriminação e

preconceito e das imagens utilizadas nos poemas para construir a idéia de

não-pertencimento. Quanto aos objetivos lingüísticos, faz-se importante

destacar que a falta de leitura de textos literários em língua estrangeira

ainda tem dificultado e comprometido a compreensão dos/as alunos/as ao

se depararem com os mesmos. Mediante o exposto, e com o intuito de,

paulatinamente, mudar este quadro de perplexidade por parte dos/as

alunos/as, buscamos desenvolver este trabalho de forma que estes/as se

sentissem confiantes para debater sobre a temática proposta utilizando a

língua alvo o máximo possível13, no caso o inglês, a fim de que, ao

término dos trabalhos, estivessem aptos a redigir um texto expressando

suas percepções acerca dos temas sobre os quais versou a temática em

questão: discriminação, cultura, minorias e/ou outros que pudessem advir

das discussões.

Dessa forma, acreditamos ser possível integrar, por meio dos

textos literários, as quatro habilidades de uma maneira diferenciada e

interessante, demonstrando, sobretudo, quão significativa e possível pode

ser a integração língua, literatura e, por conseguinte, cultura.

13 Com o intuito de não inibir a participação dos/as alunos/as, permitir-se-á, também, o uso da língua materna, caso haja necessidade.

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A idéia para a elaboração desta proposta, surgiu durante as

aulas do mestrado, na disciplina Literatura e o Ensino de Inglês como

LE, quando das entusiasmadas e eloqüentes apresentações de poemas

declamados pela Professora Ildney Cavalcanti, e dentre os quais

chamaram a minha atenção os poemas de Phillis Wheatley e Grace

Nichols. Ao atentar-me às observações feitas pela professora, veio-me à

mente uma discussão mantida com os/as alunos/as do curso de Letras

Português/Inglês do Projeto de Qualificação Docente (PQD), na aula de

Literatura Norte Americana, sobre o Dia da Consciência Negra,

comemorado no dia 20 de novembro, e que me parecera suscitar grande

interesse por parte dos/as mesmos/as. De imediato, reportei-me à música

London, London, de Caetano Veloso, associando-a aos dois poemas os

quais, por sua vez, também me pareceram estar relacionados à

problemática debatida previamente em sala de aula. Concluí, portanto,

que os textos adequar-se-iam a uma possível atividade a ser desenvolvida

nas aulas de inglês e resolvi executá-la. Mediante os resultados obtidos, e

os quais os alunos/as consideraram bastante satisfatórios, esperamos que

outros se interessem e possam vir a executar e/ou adaptar a proposta ora

sugerida.

2-DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE

Consideramos ser de suma importância conseguir,

satisfatoriamente, despertar nos/as alunos/as a curiosidade e o prazer pela

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leitura. Para atingir tal objetivo, consideramos ser necessário levar em

conta o interesse que eles/as possam ter pelo tema proposto e as reações

que os textos selecionados possam vir a despertar nos/as mesmos/as, já

que esses podem constituir-se em fatores indispensáveis para fazer com

que eles/as queiram ler os textos literários.

Visando, portanto, atingir a meta supracitada, utilizamos a

canção London, London, de Caetano Veloso, como uma atividade

introdutória. Além do atrativo da música, a escolha desta canção deveu-

se ao fato de ela já ser conhecida pelos/as alunos/as e, sobretudo, por

estar relacionada à temática dos dois poemas a serem analisados.

Pensamos, pois, propiciar com essa estratégia, uma maior identificação

inicial por parte dos/as alunos/as e, a qual, segundo a nossa percepção,

poderia ser decisiva para um bom encaminhamento do processo como

um todo. O uso da canção também visou permitir que os alunos

percebessem o quão interessante é fazer a ponte entre diferentes

momentos, culturas e autores. Após ouvirem a música, a professora

explanou sobre possíveis dúvidas referentes ao vocabulário14 e falou

sobre a vida de Caetano Veloso, sobre o momento em que ele compôs a

canção e sobre o motivo principal que o levou a fazê-lo, sempre

solicitando e incentivando a participação dos/as alunos/as para que

levantassem questionamentos ou dessem contribuições pertinentes à

discussão. Ao término das discussões, a pedido dos/as alunos/as, a

professora executou mais uma vez a canção e, em seguida, distribuiu

14 O/A professor/a poderá esclarecer as dúvidas lexicais antes da execução da música.

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cópias dos dois poemas a serem analisados, juntamente com uma sucinta

biografia de suas autoras: On Being Brought from Africa to America, de

autoria de Phillis Wheatley, e The Fat Black Woman Goes Shopping,

escrito por Grace Nichols. Pediu-se aos/às alunos/as apenas que eles

fizessem a leitura em casa para discussão na aula subseqüente. Findou-se,

assim, o primeiro momento do trabalho.

Deu-se início aos trabalhos do segundo momento com uma

pequena discussão sobre as interpretações e impressões dos/as alunos/as

em relação aos textos. As perguntas, inicialmente, versaram sobre os

temas e as idéias principais encontradas nos mesmos e a professora não

fez comentários e/ou perguntas complexas que viessem a inibir a fala

dos/as alunos, já que o objetivo era deixá-los/as à vontade para que

pudessem expor as suas idéias. Em seguida, a professora falou

exaustivamente sobre as autoras dos poemas e sobre o momento em que

compuseram as suas obras pedindo, em seguida, que os/as alunos/as

fizessem uma segunda leitura dos poemas, agora em pequenos grupos.

Formados os grupos, foram distribuídas atividades referentes aos dois

poemas para que os/as alunos/as pudessem refletir sobre questões mais

específicas em relação aos mesmos, além de oportunizar uma maior

interação entre os seus componentes; neste momento, a professora atuou

como mediadora das discussões, esclarecendo dúvidas e levantando

alguns questionamentos a fim de manter os/as alunos/as engajados/as na

atividade.

Finalizada a atividade, a professora perguntou aos/às

alunos/as quais tinham sido as suas impressões após a segunda leitura,

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desta vez revelando-lhes quaisquer aspectos que tivessem passado

despercebidos e/ou não tivessem sido citados por eles/as como, por

exemplo, a questão das minorias e do não-pertencimento a outras

culturas. Após exaustivos comentários acerca dos poemas, deu-se a

finalização do segundo momento e a professora solicitou aos /às

alunos/as que, na aula seguinte, cada grupo expusesse o seu trabalho,

considerando as discussões conduzidas no decorrer do processo e,

sobretudo, ressaltando as suas impressões sobre a proposta desenvolvida.

Durante a apresentação, a professora responsabilizou-se em fazer todos

os comentários e colocações pertinentes às temáticas apresentadas, com o

intuito de explicitar quaisquer dúvidas e/ou esclarecer questões que

pudessem comprometer as apresentações, sempre observando a

participação e interação dos/as alunos/as e motivando-os/as a

expressarem suas idéias. Ao término das apresentações, e para encerrar o

processo, pediu-se que cada aluno/a redigisse, em casa, um texto acerca

da temática ora exposta, finalizando, assim, os trabalhos.

Em suma, acreditamos que atividades como esta, além de

despertarem um maior interesse por parte dos/as alunos/as pela literatura,

permitem-lhes aprimorar os seus conhecimentos e habilidades na língua

inglesa e, também, adentrar discussões em outras áreas de conhecimento,

tais como a história, a geografia, etc., mostrando-lhes que língua,

literatura e cultura realmente podem e devem caminhar lado a lado.

Permitem-lhes, também, perceber que o medo, a insegurança, a incerteza,

a perplexidade e outros sentimentos que muitas vezes parecem ser

inibidores podem, na verdade, passar a ser a mola propulsora que os/as

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leva a buscar entender o que trazem consigo os textos literários e o quão

intrigante é o universo que os constitui. Entender que, muitas vezes, a

escuridão é necessária para motivar-nos a buscar a claridade. Entender

que é do não entendimento que se fazem as grandes descobertas.

Entender que o caminho que permeia o claro no escuro é exatamente o

caminho que eles/as se propuserem a trilhar...

3-PERFIL DO GRUPO

Embora acreditemos na possibilidade e necessidade de se

trabalhar com os textos literários desde o ensino fundamental, sugere-se

que a atividade aqui proposta seja desenvolvida com alunos/as de nível

intermediário e/ou avançado15, considerando o grau de dificuldade dos

textos no que diz respeito às questões de vocabulário e à problematização

por estes sugerida.

Outros aspectos que foram levados em consideração para a

escolha dos níveis com os quais pensamos em trabalhar, bem como para

a escolha da atividade, foram condizentes com a maturidade intelectual

do grupo, seu embasamento cultural e literário e os seus interesses.

Assim sendo, embora acreditemos ter atingido satisfatoriamente os

objetivos literários voltados para esta proposta, observamos que os

15 Entenda-se como alunos/as de nível intermediário e/ou avançado, aqueles/as que sejam capazes de fazer uso, o máximo possível, da língua alvo, no nosso caso do inglês, seja para participar das discussões, seja para redigir o texto final ao término do trabalho proposto.

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objetivos lingüísticos ainda foram os mais privilegiados, considerando o

fato de que, infelizmente, os/as alunos/as ainda não tinham uma aguçada

percepção que lhes permitisse adentrar nos pormenores das questões

literárias e/ou discutir as suas sutilezas.

Visando, portanto, permitir que os/as alunos/as sejam cada

vez mais estimulados/as a querer participar das discussões literárias e se

sintam realmente preparados/as e confiantes para isso, esperamos que

atividades como a que propusemos venham a ser trabalhadas com mais

freqüência pelos/as professores/as de Língua Inglesa e suas Literaturas,

com o intuito de que, cada vez mais, haja uma integração entre as duas

disciplinas e o terreno literário, ainda árido e pouco explorado por

muitos, possa vir a gerar frutos. Irriguemo-lo, pois!

4-REFERÊNCIAS

COLLIE, Joanne & SLATER, Stephen. Literature in the Language Classroom – A Resource Book of Ideas and Activities. Cambridge: Cambridge University Press, 1987. CULLER, Jonathan. Literary Theory - A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 1997. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. HYMES, D.H. Language, culture and society. New York: Harper and Row, 1964. LAZAR, Gillian. Literature and Language Teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. KRAMSCH, Claire. Context and Culture in Language Teaching. Oxford: Oxford University Press, 1993.

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ANEXOS

ANEXO A - Warm - up Activity / Caetano Veloso’s song

London, London

Caetano Veloso

I'm wandering round and round, nowhere to go

I'm lonely in London, London is lovely so

I cross the streets without fear

Everybody keeps the way clear

I know I know no one here to say hello

I know they keep the way clear

I am lonely in London without fear

I'm wandering round and round, nowhere to go

While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)

Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me

And people hurry on so peacefully

A group approaches a policeman

He seems so pleased to please them

It's good at least, to live and I agree

He seems so pleased, at least

And it's so good to live in peace

And Sunday, Monday, years, and I agree

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While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)

I choose no face to look at, choose no way

I just happen to be here, and it's ok

Green grass, blue eyes, grey sky (2x)

God bless silent pain and happiness

I came around to say yes, and I say

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44739/

ANEXO B – Phillis Wheatley’s Biography

PHILLIS WHEATLEY

Phillis Wheatley was born in Senegal in about 1753. She was captured by

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slave traders and brought to America in 1761. Purchased by John Wheatley,

a tailor from Boston, Phillis was taught to read by one of Wheatley's

daughters. Phillis studied English, Latin and Greek and in 1767 began

writing poetry. Her first poem was published in 1770.

Phillis Wheatley caused a stir in white society when a book of her poetry

was published in England in 1773. At the time, many whites considered

blacks to be inferior. They wondered how a girl brought from Africa at 8

years of age could be reading Latin and writing poetry in the style of the

great English poets of the age by the time she was 12 years of age.

Even though Wheatley lived with a family who recognized her talent and

promoted the publication of her work, the public was highly skeptical.

Wheatley had to be examined by prominent members of Boston society

who finally attested, in a letter to the public, that she was capable of writing

the poems.

Due to that, the assumption about the inferiority of blacks was brought into

question. People believed that Africans were not fully human because they

had no written literature. The fact that African literature followed an oral,

rather than written, tradition was ignored. Whether or not her poetry

convinced people otherwise, Wheatley's writing was well received.

Wheatley was the first American woman and the first black writer to

publish a book in North America. Phillis was the name of the boat that

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brought her to America; Wheatley was the surname of her master. She died

in Boston, in 1784.

http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/USASwheatley.html

ANEXO C – Phillis Wheatley’s Poem “On Being Brought from Africa to America”

On Being Brought from Africa to America

Phillis Wheatley

'TWAS mercy brought me from my Pagan land,

Tought me benighted soul to understand

That there's a God, that there's a Saviour too:

Once I redemption neither sought nor knew.

Some view our sable race with scornful eye,

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"Their colour is a diabolic die."

Remember, Christians, Negros, black Cain,

May be refin'd, and join th' angelic train.

http://www.theotherpages.org/poems/2001/wheatley0101.html

©2001 Poets' Corner Editorial Staff, All Rights Reserved Worldwide

ANEXO D – Grace Nichols’ Biography

GRACE NICHOLS

Photo: © Penguin

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Grace Nichols was born in Georgetown, Guyana, in 1950 and grew up in a

small country village on the Guyanese coast. She moved to the city with her

family when she was eight, an experience central to her first novel, Whole

of a Morning Sky (1986), set in 1960s Guyana in the middle of the country's

struggle for independence.

She worked as a teacher and journalist and, as part of a Diploma in

Communications at the University of Guyana, spent time in some of the

most remote areas of Guyana, a period that influenced her writings and

initiated a strong interest in Guyanese folk tales, Amerindian myths and the

South American civilisations of the Aztec and Inca. She has lived in the UK

since 1977.

Her first poetry collection, I is a Long-Memoried Woman, was published in

1983. The book won the Commonwealth Poetry Prize and a subsequent

film adaptation of the book was awarded a gold medal at the International

Film and Television Festival of New York. The book was also dramatised

for radio by the BBC. Subsequent poetry collections include The Fat Black

Woman's Poems (1984), Lazy Thoughts of a Lazy Woman (1989), and

Sunris (1996). She also writes books for children, inspired predominantly

by Guyanese folklore and Amerindian legends, including Come on into My

Tropical Garden (1988) and Give Yourself a Hug (1994). Everybody Got A

Gift (2005) which includes new and selected poems.

Her most recent collection is Startling the Flying Fish (2006), poems which

tell the story of the Caribbean.

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She lives in England with her partner, the poet John Agard.

Author Profile - www.contemporarywriters.com

Wednesday, January 23, 2008. Copyright © Booktrust, British Council, the

authors, the photographers. Produced by the Literature Department of the British Council in association

with Booktrust.

ANEXO E – Grace Nichols’ Poem “The Fat Black Woman Goes Shopping”

The Fat Black Woman Goes Shopping

Grace Nichols

Shopping in London winter

is a real drag for the fat black woman

going from store to store

in search of accommodating clothes

and de weather so cold

Look at the frozen thin mannequins

fixing her with grin

and de pretty face salesgals

exchanging slimming glances

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thinking she don’t notice

Lord is aggravating

Nothing soft and bright and billowing

to flow like breezy sunlight

when she walking

The fat black woman curses in Swahili/Yoruba

and nation language under her breathing

all this journeying and journeying

The fat black woman could only conclude

that when it come to fashion

the choice is lean

Nothing much beyond size 14

http://www.pearsonpublishing.co.uk/education/samples/S_493419.pdf

Reproduced with permission of Curtis Brown Ltd, London on behalf of

Grace Nichols. Copyright © Grace Nichols 1984

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Activity on Phillis Wheatley’s Poem

ACTIVITY ON THE POEM

ON BEING BROUGHT FROM AFRICA TO AMERICA

by

PHILLIS WHEATLEY

1- What were your first impressions about the poem? 2- Did you like it? Why (not)?

3- Why does the author make use of some words in italics? Discuss

such usage.

4- Comment on the use of the words God and Saviour. Are they related in a way?

5- What do you think the author meant by using the word benighted?

6- Who is the author referring to when she uses the word some? 7- “Their color is a diabolic die”. Who says so and why? 8- Comment on the use of the imperative Remember. 9- What could you learn from the poem?

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APÊNDICE B – Activity on Grace Nichols’ Poem

ACTIVITY ON THE POEM

THE FAT BLACK WOMAN GOES SHOPPING

by

GRACE NICHOLS

1- What were your first impressions about the poem? 2- Did you like it? Why (not)?

3- List some of the words and phrases the author uses to describe the

background of the poem. 4- Is there any relation between the fat black woman and the weather

in the poem? If so, is it important? Why?

5- Does the fat black woman experience any sort of prejudice? Where can we find it in the poem?

6- Comment on the fat black woman’s response to the salesgirl.

7- Spot the grammatical mistakes that can be found in the poem and explain what the author wants to convey by using them.

8- Comment on the use of the word journeying in the text. What does

the author really mean?

9- What do the two texts analysed have in common? In

what way are they related to Caetano Veloso’s song?

Justify your answer.

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O BRASIL DAS INCOERÊNCIAS

Professor Edílson de Araújo Santos - (Matemática – FJAV)

Deve pagar imposto quem tem condições e pode ajudar a quem

nada tem. Deve pagar mais impostos, quem tem mais – que grandeza

tributária! Imediatamente vem a pergunta: Que país é esse? No nosso país

as coisas são diferentes, ou seja, quem tem muito não paga nada, paga

pouco, sonega, cria fundações fantasmas, recebe incentivos fiscais ou ajuda

internacional. No país do carnaval e do Lula cria-se um imposto a cada

sessão parlamentar, através de medidas provisórias, que não deixa de ser

um Decreto – Lei (AI-5 e cia.) disfarçada, muito usada no regime militar de

64. Vamos citar algumas aberrações tributarias: cria-se um imposto

compulsório sobre combustíveis, carros novos e viagens internacionais, que

nunca será devolvido, e qual a finalidade? Cria-se uma CPMF que se dizia

provisória e que já estava a caducar, para financiar a saúde, e no fim se

descobre que não foi nada disso, foi apenas para reforçar o caixa do

governo, pois a saúde continua em estado terminal nas UTI´s das cidades

deste imenso manicômio chamado Brasil. E agora, depois de prorrogar o

prazo de contribuição da dita cuja e aumentando o seu percentual de 0,30%

para 0,38% dando como justificativa a criação de Fundo de Apoio a

Pobreza – pelas experiências anteriores foi mais um engodo contra o povo,

que continua de mal a pior, mas a CPMF foi extinta por uma discursão entre

o governo e a oposição. Hoje o governo Lula envia uma nova proposta de

se criar não a CPMF mais sim um outro imposto que tenha a mesma

finalidade da anterior com uma taxa de 0,1%.

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Foi criado o FGTS para beneficiar o trabalhador, assegurar uma

velhice tranqüila, porém com esse dinheiro o governo constrói casas

populares, via BNH, hoje com a CEF, mas quando o fundo quebrar, o

trabalhador terá que arcar com o prejuízo. Foi criado o INSS para cuidar da

previdência social, e o que acontece? Para cada rombo que surge, por culpa

da desonestidade e corrupção de funcionários, auditores e juízes, o

trabalhador é taxado mais e mais, e o rombo continua, e os fraudadores se

multiplicam e se especializam. E quando por acaso, alguns são presos, o

dinheiro não volta na sua totalidade aos cofres públicos, raramente os bens

são confiscados, e a vida continua.

Privatizam-se empresas estatais viáveis, competentes, leiloadas a

preços mínimos, e o dinheiro se evapora, e as dividas externa e interna

continua a níveis estratosféricos, tudo em nome de um neoliberalismo

tupiniquim. As empresas estatais, órgãos públicos, ministérios, governos

estaduais e municipais terceirizam seus serviços, alguns essenciais, visando

torna-se mais eficientes – mas pura ilusão! Ou será que fazem de má fé,

para beneficiar amigos e correligionários? Pois tudo continua como estava

antes, ou pior – péssimo serviço, altos custos e total desrespeito á população

e nenhuma economia para os órgãos ou empresas publicas. Criaram uma

Lei de Incentivo á Cultura (Lei Sarney) – mas que cultura? Da soja, do café

ou da chuchu? Porque obrigar um pai da família a por o filho na escola, sob

pena de punição em troca de R$ 90,00 por mês, é piada de mau gosto.

Impedir que se faça dedução no imposto de renda, com gastos referentes á

compra de livros técnicos, cursos de informática e idiomas, são realmente

de deixar o mundo civilizado de queixo caído com tanto incentivo á tal

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cultura e educação. Mas nem tudo esta perdido – o credito educativo é

oferecido a estudantes carentes, a juros de mercados, sem carência e o

formando começa a pagar – ló um ano após a formatura. Pergunta-se: Com

que emprego com que experiência profissional irá pagar o debito? É uma

piada não?

A tabela do imposto de renda foi reformada, enquanto isso o salário

mínimo aumenta todo ano, a inflação continua existindo. Enquanto isso, a

Receita Federal comemora recordes de arrecadação. Com a tabela nova,

sem aceitar as deduções acima citadas e outras que fogem ao meu

conhecimento, precisa ser muito inteligente para perceber quem esta

pagando a conta? Mas o combate à sonegação fiscal, aos grandes

empresários, aos CPF´s fantasmas, ao caixa 2 das empresas, não passa de

cena e papo de vendedor de ilusões. O que é notório e incontestável é que o

trabalhador continua carregando esse país nas costas – desde o inicio

do´plano Real que o homem do campo juntamente com os demais

trabalhadores assalariado tem dado o sangue para manter viva a esperança

de dias melhores. Os trabalhadores carregam um bando de ociosos e mal

intencionados, nas repartições publicas, nos governos, no sistema financeiro

e um congresso, que quando faz alguma coisa é quase sempre causa própria

e fins escusos, sobrando migalhas para o povo, e ainda tem o desplante de

ficarem a lavar a roupa suja, fruto de suas maracutais, na frente de toda

população pacata e submissa.

E os desmandos continuam – a insegurança, o desemprego, e o

povo a perder a paciência e a esperança de dias melhores para si, sua

família e para as futuras gerações, pois como as coisas estão e com as

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mentes dominantes que temos, o futuro é incerto e tenebroso. O Brasil

passa por uma serie crise de identidade, de honestidade, de

responsabilidade, de valores morais, com carência de cidadãos

comprometidos com o social, com a segurança, com a saúde, com a

educação, com a habitação popular. A fome e a miséria deste país, rico para

uns e miserável para a grande maioria de sua população, que é sofrida,

carente e marginalizada é incontestável, desumano. Dizer que este país é

serio, tem futuro promissor e que estamos há um passo do primeiro mundo,

é na melhor das hipóteses, na melhor das intenções quererem alienar a

todos, ou então querer levar o primeiro mundo para a´idade da pedra.

A pergunta que se faz é a seguinte: Até quando o povo brasileiro

vai continuar sofrendo, chorando, torcendo pela seleção brasileira e

brincando carnaval o ano inteiro, lembrando os velhos costumes romanos?

Até quando continuará elegendo e sustentando os corruptos e insanos? Seria

cômico se não fosse trágico e tendencioso – a receita federal impede a

dedução no imposto de renda, gastos com a compra de óculos, aparelhos de

surdez e compra de remédios – Será que se encontra critico mais

conveniente: cego, surdo e doente? Enfim, até quando o cidadão vai

continuar pagando o pato. Alias, pagar o pato é redundância, pois o

trabalhador vai continuar sendo o pato, o avestruz e até o vira-lata nas mãos

deste governo pobre de decisões, pobre de credibilidade e rico de

desilusões.

Se a esperança é a ultima que morre, já podemos ministrar a

extrema-unção para o povo brasileiro e desejar uma grata acolhida junto ao

criador.

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AVALIAÇÃO DOS CAPSAICINÓIDES EM PIMENTAS MALAGUETA

João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C; Email: [email protected].

Gabriel Francisco da Silva, Ds.C – Universidade Federal de Sergipe E-mail: [email protected].

Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos; E-mail: [email protected].

RESUMO O cultivo de pimentas malagueta (Capsicum spp) para aplicação na indústria de alimentos vem crescendo a cada ano, tornando uma atividade bastante rentável economicamente. O sabor picante dos frutos provém da ação de uma substância denominada capsaícina que é acumulada pelas plantas no tecido da superfície da placenta e é liberada pelo dano físico às células quando se extraem sementes ou corta-se o fruto para qualquer fim. O objetivo deste trabalho foi verificar a ardência em pimentas malaguetas por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). Palavras-chave: capsaicinóides, processo; análises.

ABSTRACT EVALUATION OF CAPSAICINOIDS IN PEPPERS MALAGUETA. The cultivation of peppers malagueta (Capsicum spp) for application in the industry of foods comes growing to every year, turning a quite profitable activity economically. The spicy flavor of the fruits is the action of a substance denominated capsaicin that is accumulated by the plants in the fabric of the surface of the placent and it is liberated by the physical damage to the cells when seeds are extracted or the fruit is cut for any end. The objective of this work went verify to capsaicin in peppers malaguetas high performance liquid chromatography (HPLC). Keywords: capsaicinoids; process; analyses.

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INTRODUÇÃO

A indústria de processamento de hortaliças vêm apresentando

importância crescente no mercado nacional, pelas suas características de

alta produtividade, alta rentabilidade por área e por unidade de capital

investido, além de sua importância social1.

A pimenta-malagueta (Capsicum ssp) é um arbusto pequeno

pertencente a família das solanáceas, nativo de regiões tropicais e muito

cultivada no Brasil. O arbusto possui flores alvas e frutos vermelhos

bastante picantes, utilizados como condimento e excitantes do aparelho

digestivos, sendo utilizados na América Latina desde a época pre-

hispánica2. A principal característica do fruto da pimenta é a pungência,

conferida por substâncias alcalóides denominados capsaicinóides dos quais,

aproximadamente, 90% encontram-se na placenta dos frutos3 citado por4.

Os principais capsaicinóides encontrados na pimenta malagueta são

os seguintes:

Capsaicina

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Dihidrocapsaicina

Nordihidroxicapsaicina

A indústria de processamento de pimenta é um mercado ascendente

em volume e importância. Os diferentes tipos de pimentas apresentam

diversas formas de preparo e de consumo, sendo uma das hortaliças mais

versáteis para a indústria de alimentos. As pimentas doces e picantes podem

ser processadas na forma de pó, flocos, picles, escabeches, molhos líquidos,

conservas de frutos inteiros, geléias e etc. As pimentas picantes ainda são

utilizadas pela indústria farmacêutica e também pela indústria de

cosméticos5. Trazem ainda benefícios para a saúde por sua atividade

antioxidante e anticancerígena6,8.

No Estado de Sergipe, especificamente no município de Lagarto,

atualmente o cultivo de pimenta-malagueta (Capsicum frutescens L.) é uma

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atividade bastante rentável de grande importância sócio-econômica.

Contribuindo como fonte geradora de renda e sustentabilidade da atividade

rural.

O presente trabalho teve por objetivo quantificar os capsaicinóides

presente em pimentas malagueta após trinta dias de maturação em solução

de cloreto de sódio na concentração de 12%.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análises Físico-

química da Maratá Sucos do Nordeste Ltda e no Laboratório de Tecnologia

de Alimentos-UFS.

Matéria-prima

A matéria-prima foi pimentas malagueta, utilizadas para a produção

de molhos. Os lotes de sementes de pimenta malagueta foram adquiridos

dos produtores do Município de Lagarto-SE. Após a recepção, cada lote de

semente foi homogeneizado com 12% de cloreto de sódio e em seguida

triturado em moinho de martelo. Nesta etapa foram coletadas amostras para

análise dos capsaicinóides.

Cromatografia líquida de alta eficiência

Os cromatogramas dos capsaicinóides foram obtidos utilizando-se

um cromatógrafo líquido constituído por conjunto de bombeamento

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quaternário de solvente, da marca VARIAN STAR, detector de arranjo de

diodos e injetor Rheodyne (loop de 20µL). Foi usada uma coluna

OMNISPHER 5 C18 (250 x 4,6mm) com partícula de 5µm e pré-coluna

ChoromSep Guard Columm SS (10 x 3mm), fase móvel constituída de

acetronitrila e água, com ácido acético 2% (80:20, v/v), desenvolvido

isocraticamente a um fluxo de 1mL/min, tempo de corrida de 30min e

comprimento de onda de 460nm; todos os solventes e grau cromatográfico

foram previamente filtrados em membrana de 0,45µm antes de serem

utilizados no equipamento7,9 .

Foram pesados com precisão 0,0200g de cada amostra e

adicionados 5mL de acetona para facilitar a solubilidade do pigmento.

Transferiram-se as amostras para balão volumétrico de 50mL completando-

se com acetronitrila. Antes da análise por CLAE, as amostras foram

filtradas em membrana de 0,45µm e acondicionadas em vials de cor âmbar.

O padrão de capsaícina utilizado neste trabalho foi fornecido pela

Sigma-Aldrich.

Os resultados da quantificação dos capsaicinóides presentes nas

pimentas malagueta utilizado foi unidade de Scoville de calor (SHU). Essa

é a unidade mais empregada para quantificação de ardência em pimentas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 se encontram os resultados dos teores de ardência

(SHU) obtidos para as sementes de pimentas malagueta utilizadas no

presente estudo. Os resultados indicam que a ardência decresce

significativamente em função do período de amostragem. Estes resultados

comprovam os apresentados por10, que comparou a produção de capsaicina

em pimentas da espécie Capsicum annuum L. var. annuum quando

submetidas a condições de ausência de água e observou que as plantas

mantidas em tratamento de déficit de água apresentaram maiores

concentrações de capsaicinóides em relação às amostras mantidas em

condições normais de desenvolvimento.

Jan Fev Mar Abr Mai

20000

24000

28000

32000

36000

40000

Expeimental Ajuste polinomial

SHU=42336,94-2725,82*Mêses-134,40*(Mêses)2

R2=98,44%

SHU

Mêses

Figura 1. Ardência de pimentas durante período de cinco meses.

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Os experimentos de cromatografia líquida de alta eficiência tiveram

como finalidade avaliar as variações das concentrações de capsaicinóides

em função do período de amostragem. Na Figura 2 estão apresentados os

cromatogramas das amostras estudadas. Observou-se que em todas as

amostras foram detectadas as presenças dos três picos correspondentes a

capsaicina, nordihidroxicapsaicina e dihidrocapsaicina. Relata-se também

que o principal componente de ardência das pimentas malagueta é a

capsaicina.

Figura 2. Cromatogramas de pimentas durante período de cinco meses.

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CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos na quantificação de capsaicinóides

em pimentas malagueta, conclui-se que:

1. A quantidade da ardência nas pimentas malagueta depende do

período em que são colhidas. Os melhores resultados foram obtidos

no período de Janeiro a Março.

2. Por cromatografia líquida de alta eficiência possibilitou quantificar

os capsaicinóides presentes nas pimentas, sendo a capsaicina a

substância em maior quantidade.

REFERÊNCIAS

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malagueta (Capsicum frutescens L.). Revista Ciência Agronômica, v.36,

n.1, p.98-104, 2005.

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3. ISHIKAWA, K.; JANOS, T.; SAKAMOTO, S.; NUNOMOURA O. The

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caracteres do fruto: implicações no melhoramento de uma população de

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Piracicaba-SP, 104.p, 2003.

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Hortaliças. Embrapa Hortaliças e Frutas, nº 33, 7.p, 2005.

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amarelos (Capsicum annuum L.). Caracterização e verificação de mudanças

com o cozimento. Ciência e Tecnologia dos Alimentos, 18 (3), 1998.

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in Capsicum and their extractives. Collaborative study. J. AOAC-ASTA

int. 79 (3): 738, 1996.

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ONO, E.O. Ácido giberélico na produção de frutos partenocárpicos de

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9. Cázares-Sánchez, E.; Ramírez-Vallejo, P.; Castillo-González, F.; Soto-

Hernández R. M.; Rodríguez-González, M. T. e Chávez-Servia, J. L.

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(capsicum annuum l.) del centro-oriente de Yucatán. Agrociencia. n.39,

p.627-638, 2005.

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CIDADE E MODOS DE VIDA: TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS EM ARACAJU

Alysson Cristian Rocha Souza

Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais e Mestre em Sociologia das Cidades pela Universidade Federal de Sergipe. Pesquisador do Laboratório de Estudos Urbanos e Culturais – LABEURC e Professor da disciplina Sociologia I do curso de Serviço Social da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV. Endereço eletrônico: [email protected]

Resumo Aracaju passou por diversas mudanças no seu território desde o inicio das políticas de habitação iniciada nos anos sessenta. A intervenção do poder público na criação de novos conjuntos habitacionais apresentou uma mudança radical no espaço urbano, isso pôde ser visto no crescimento da população, assim como na localização das camadas sociais após o fim das politicas do Banco Nacional de Habitação, em que teve como resultado: as camadas de baixa renda ficaram situadas na zona norte e noroeste e as camadas de média e alta renda ocupando a zona sul. As transformações espaciais e sociais proporcionaram o surgimento de bairros que afirmaram essa condição. Bairros como Treze de julho, Inácio Barbosa, Atalaia, Grageru, São José e Jardins, entre outros, constituíram as atividades socioculturais antes desenvolvidas no Centro da cidade para a zona sul. Palavras-chave: Aracaju, Bairro Jardins e modos de vida.

A última grande urbanização de Aracaju registrada entre os anos

sessenta e oitenta proporcionou grandes mudanças no espaço e na

sociedade. A começar pela modificação da referência de moradia das elites

do Centro para a Zona Sul, além disso, as transformações socioculturais

proporcionaram a ampliação de serviços e produtos voltados para as

camadas sociais de maior renda. De fato esse desenho de Aracaju das

últimas décadas do século XX pode estar diretamente associada as

migrações provenientes do interior do estado e de outros estados.

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Alguns acontecimentos foram importantes para atribuir a capital

sergipana o estatuto de cidade completamente urbanizada. Um dos

principais fatores se deveu aos planos de Habitação e geração de empregos

desenvolvidos pelo Banco Nacional de Habitação – BNH.

Este programa tinha como objetivo dar soluções para o déficit

habitacional do país, ao mesmo tempo que geraria empregos na área da

construção civil para os mais pobres. No entanto, esse plano acabou

gerando graves problemas urbanos. As cidades escolhidas para tais

intervenções foram as capitais que, por sua vez, não conseguiram

solucionar o problema da falta de habitação e, além disso, assistiu ao

aparecimento de outros problemas urbanos graves como, a violência

urbana, a falta de infra-estrutura e o grande fluxo migratório que provocou

um “inchaço” nessas cidades. Com isso, o aumento da desigualdade social,

desemprego e formação de áreas precárias para a moradia contribuíram para

a fragmentação socio-espacial dessas cidades.

As ações do poder público contribuíram para fortalecer as empresas

imobiliárias e suas ações no espaço urbano, já que estas tinham como trunfo

um conjunto de fatores políticos, econômicos e sociais favoráveis e com

uma demanda efetiva proveniente dos contratos firmados com o Estado. Foi

a partir disso que Aracaju assistiu ao processo de uma nova estratificação

para no seu espaço urbano.

Foi na década de noventa que essa condição se realizou. Segundo

França (1999), “A partir de 1996, o setor imobiliário começa a reagir no

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âmbito nacional e intensificam-se os lançamentos de prédios na cidade.”(p.

190).

A ascensão do mercado imobiliário acompanhou as transformações

sociais e culturais de Aracaju. Isso significa que as intervenções na região

sul e sudoeste da cidade não se deram somente pelo processo de

especulação de suas terras, mas devido à escolha das camadas de maior

renda nesta região da cidade. Isso aconteceu de maneira gradativa e, em

seguida, foi continuada pelos planos de habitação e pelo crescente

desenvolvimento do mercado imobiliário. Com isso, a expansão urbana de

Aracaju ocorreu através da ação gradativa, como no caso do atual bairro

Atalaia, ou através dos agentes do setor imobiliário que adquiriram terrenos

que em décadas seguintes passaram por uma grande valorização.

A seguir propomos uma ampliação da discussão dos conceitos de

urbanização e modos de vida para com isso estabelecer aproximação com o

objeto empírico. Para isso partiremos do argumento de que a urbanização é

um fenômeno social gerado a partir da ação de seus agentes, os mesmos

contribuem para re-organizar o espaço urbano sendo responsáveis pela

construção das paisagens que por sua vez exercem poder. (ZUKIN, 2000b).

URBANIZAÇÃO E MODOS DE VIDA

Segundo Lefebvre (1999), a urbanização é um fenômeno

originalmente impulsionado pela industrialização. Foi através da

industrialização e das suas intervenções que muitas cidades tornaram-se

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sociedades completamente urbanizadas. (LEFEBVRE, 1999). A expansão

das atividades econômicas, principalmente na produção fabril e na

ampliação do comércio, e a densidade demográfica foram fatores

importantes para o surgimento de distintos modos de vida. Para esse autor,

a urbanização ganha independência em relação a industrialização.

Segundo Nunes (s/d),

A ênfase que estamos dando ao caráter urbano a tal transformação está ligada a nossa concepção de ‘urbano’ entendido mais como um fenômeno cultural do que propriamente espacial/territorial (Pechman, 1991). Assim, estamos considerando que são nas cidades (manifestação concreta do urbano) que novos modos de vida se gestam e a cultura daí decorrente se transforma em paradigma de uma cultura universal abrangendo também o campo. (p. 01).

As diferenças entre campo e cidade são definidas a partir da

constituição dos seus modos de vida. Os atores sociais dessas duas

expressões sociais da humanidade atribuem sentidos a seus respectivos

espaços, em que constituem cosmovisões, fundamentadas, relações de

interação social e de identificação. Os atores sociais urbanos, focos

principais desse artigo, vivenciam a cidade atribuindo a ela sentido.

O urbanismo racionalizador e higienista, herança da emblemática

intervenção parisiense do século XIX, inaugurou uma etapa de disposição

fragmentada das camadas sociais no espaço urbano. Da mesma forma que

contribuíram para construir significados diferenciados nas sociabilidades

públicas e nos modos de viver.

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Wirth (1997) e Park (1979) investigaram o crescimento das cidades

sob a ótica dos grupos sociais e seus modos de viver. A densidade

demográfica fazia das cidades grandes aglomerados urbanos proporcionava

o surgimento de práticas e comportamentos sociais em toda a sua extensão.

Com isso, a presença de uma cultura urbana se diferenciava do estilo de

vida do campo sob o aspecto territorial e social, sendo definida como

“Ecologia Humana”. Esse conceito diz respeito ao desenvolvimento dos

modos de vida em uma forma de organização social que se diferencia da

vida em comunidade por aspectos de dimensão territoria e populacional,

fatores quantitativos, mas principalmente por características diversas no

tocante a reunião de diferenciados grupos sociais e étnicos, fatores

qualitativos. Segundo Park (1979), “... a cidade não é meramente um

mecanismo físico e uma construção artificial. Está envolvida nos processos

vitais das pessoas que a compõem é um produto da natureza, e

particularmente da natureza humana”. (p. 26).

As experiências urbanas contemporâneas representadas pelas

políticas de enobrecimento constituem uma realidade fragmentada para as

cidades, já que a constituição desses espaços está regida pela lógica de

mercado marcada pela constituição de símbolos que identificam as camadas

sociais de maior renda.

Segundo Zukin (2000b),

processo de melhoramento urbano e de deslocamento devido à ação do mercado privado e não ao planejamento do Estado

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é denominado ‘enobrecimento’. (...) o ‘enobrecimento é um processo que resulta num mercado imobiliário em torno do ‘lugar’ de diversidade social e cultural criado por artistas, intelectuais e classes trabalhadoras. Numa paisagem cada vez mais homogênea, a diversidade tem valor de mercado. (p. 108).

As políticas de enobrecimento acompanham essas modificações,

uma vez que os valores culturais da classe média e alta são o seu principal

foco. Junto a isso está a crescente necessidade de equipamentos de controle

social, responsáveis pelo desenvolvimento asséptico das sociabilidades.

Segundo Caldeira (2000), atualmente as políticas de segregação

socio-espacial apontam para a construção de símbolos de status. Esses

fazem parte de um processo que possui como critérios a constituição de

espaços de distinção social que afirmam essa condição através da

coadunação de símbolos. Sendo assim, “...o uso de meios literais de

separação é complementado por uma elaboração simbólica que transforma

enclausuramento, isolamento, restrição e vigilância em símbolos de

status...” (CALDEIRA, 2000, p. 259).

Nunes (s/d) complementa

Em Weber, o lugar social e mesmo o destino dos homens está determinado por uma estima social, de honra, onde – conforme já explicitado – nem sempre a propriedade joga um papel chave. Em outras palavras, pessoas com propriedade e pessoas sem propriedade podem pertencer ao mesmo grupo de status, desde que gozem de uma honra social comum. Esta honra advinda do status está ligada à semelhança de estilos de vida comum aos indivíduos participantes e que impõem aos

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que desejam entrar no círculo a adaptação de seus estilos de vida àquele grupo. (p. 07).

Segundo Zukin (2000b), a construção de paisagens de poder nas

cidades são a combinação entre política e cultura. Ou seja, as ações dos

poderosos modificam o espaço a partir da impressão de marcas e usos, os

quais constroem a sua identificação fundamentada na distinção. Desse

modo, as intervenções enobrecedoras atribuem símbolos às paisagens que

por sua vez passam a representar estilos de vida. A construção desses

sentidos se impõem diante de outros grupos sociais e seus usos, segundo

Zukin (2000a, 2000b), através da paisagem. De acordo com essa

interpretação o espaço construído possui forte influência na apropriação do

grupo, pois é através desse que os usos vão sendo definidos e as fronteiras

proporcionalmente se erguem selecionando os usuários do mesmo.

A formação de áreas enobrecidas expressa a apropriação de

usuários a uma determinada região da cidade. A sua imagem é construída a

partir do investimento econômico ou da afirmação do valor cultural o valor

cultural. Portanto, a constituição de “paisagens de poder” são a expressão

dessas políticas, onde o “vernacular”, os sem poder, são retirados do

espaço, pois não coadunam com a paisagem enobrecida.

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URBANIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM ARACAJU

As políticas de habitação promovidas pelo Estado a partir dos anos

sessenta resultaram na fragmentação do espaço urbano de Aracaju. A

construção de conjuntos habitacionais para além da malha urbana

contribuiu para o aumento da especulação imobiliária, pois, entre esses

conjuntos se formaram grandes terrenos, cujas intervenções se deram em

maior instância a partir dos anos noventa pelo setor privado na região sul da

cidade. Essas iniciativas contribuíram para impulsionar a mobilidade dos

grupos sociais mais abastados para a zona sul, tomando essa região como

espaço para o desenvolvimento dos seus modos de vida.

A valorização dessa região fomentou a formação de paisagens

constituídas por prédios de luxo e serviços voltados para os grupos sociais

que passou a ser predominante na região. Proporcionalmente a essa

transformação o Centro foi perdendo a sua condição histórica de ponto de

moradia e atividades sócio-culturais das elites aracajuanas cedendo lugar

para um comércio popular e de pouco interesse para as classes média e alta.

Desde que foi elevada a capital do Estado na metade do século

XIX, o Centro sempre foi o foco principal do poder político, econômico e

cultural da cidade. De onde partiu o primeiro plano urbanístico da cidade e

de onde partiam os códigos de postura, ou de como eram deveriam ser

definidas os comportamentos de quem vivia no perímetro planejado. O

primeiro plano urbanístico realizado em Aracaju foi realizado pelo

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engenheiro Sebastião Pirro que dispôs as ruas do centro semelhante a um

tabuleiro de xadrez.

Foi nessa localidade que foram definidas fronteiras a partir de

sanções que concederam a esta área a apropriação simbólica por parte

desses grupos sociais. Definidas tanto pela valorização de seus terrenos

como pelas normas de uso das intervenções ocorridas. Desta forma, pode-se

inferir que essas transformações reforçavam a presença das elites

aracajuanas no Centro, pois era neste que estes grupos sociais desenvolviam

os seus modos de vida.

As intervenções realizadas no Centro, por exemplo, visavam

construir espaços em que as atividades sociais e culturais reunissem em

torno das marcas simbólicas, formas contíguas de sociabilidades. Com isso,

a construção do mercado Tales Ferraz e do Hotel Palace procuraram passar

a cidade uma imagem moderna tanto no aspecto físico como nas atividades

sócio-culturais. Junto a isso estava o status constituído através da

diferenciação do restante da cidade.

Segundo Lima (2002),

...a aclamada modernização aracajuana perpassou-se muito mais no desejo de suas elites, as quais proveram meios de anunciar as melhorias urbanas como elementos identificadores do “novo” e do “moderno”, do que propriamente na transformação de Aracaju numa cidade socialmente mais homogênea e melhor munida de serviços públicos básicos como saneamento,

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transporte, iluminação, arborização, entre outros. (p. 198).

A busca por símbolos que atribuíssem uma face moderna ao centro

consistia na apropriação do Centro através de marcas físicas e culturais

reconhecidas por seus usuários. No entanto, o estatuto de centralidade

única se viu ameaçada nas três décadas em que a capital sergipana viu sua

população quadruplicar passando de uma cidade com áreas rurais para uma

realidade completamente urbana. Durante essa experiência surgiram áreas

de forte influência econômicas e sociais, originadas por fluxos espontâneos

da população de maior renda que já possuíam terrenos ou habitações

naquela região, obtidos pelos planos habitacionais ou por conta própria.

Neste sentido, a distribuição de grupos sociais pelo espaço urbano

se deu de forma fragmentada gerando a constituição gradativa da

desigualdade social e espacial. Durante este período Aracaju viu o seu

espaço urbano dividir-se da seguinte forma: as camadas de baixa renda se

concentraram no Norte e Noroeste da cidade enquanto na zona sul e

sudoeste concentraram-se as camadas de média e alta renda.

A criação do Banco Nacional de Habitação – BNH não conseguiu

cumprir seus objetivos de sanar o déficit habitacional. As construções de

casas e conjuntos habitacionais movimentou o setor da construção civil e

impulsionou o aparecimento de empresas do setor imobiliário. Segundo

Campos (2006), a “...ampliação do número de empresas de construção civil,

que passa de 18 empresas locais na década de 70 para 174 no inicio de 90”,

muitas delas constituídas por capitais regionais e estrangeiros...” (p. 237).

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A decadência dos planos desenvolvidos pelo poder público se deu

no final dos anos oitenta. Segundo Campos (2006),

Após a extinção do BNH, quando parte de suas atribuições foram transferidas para a Caixa econômica Federal, as criticas que foram impostas, principalmente com respeito à qualidade e ao elevado custo dos investimentos e sua representatividade quanto á redução do déficit habitacional em relação ao período anterior, caracterizam-no como grande fracasso da história política recente do Brasil. (p. 229).

Conjuntos e bairros passaram rapidamente a situar as atividades

econômicas e os grupos sociais na região sul. Deste modo, a urbanização

compreendida no período entre os anos sessenta e anos noventa contribuiu

para fortalecer o mercado imobiliário e constituir centralidades. As

centralidades consistem na adaptação da cidade a parâmetros

modernizadores, por sua vez, influenciados por fluxos econômicos globais,

ao mesmo tempo que disciplinam os usos e seus usuários.

Segundo Frugoli Júnior (2000),

...O processo de expansão metropolitana, portanto, torna a questão da centralidade ainda mais complexa. Em alguns casos, os subcentros guardam certas relações de complementaridade com o núcleo central, nos passam muitas vezes a competir economicamente de forma mais acirrada com o centro tradicional, de modo a se tornarem ou almejarem se tornar os “novos centros”. Isso se dá, em particular, pela lógica dessa expansão, que acarreta muitas vezes a fuga de empresas

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para os subcentros e a deteriorização urbana do núcleo original, concomitantemente à mudança na composição social da população que passa a habitar este último, marcada pela forte presença das classes populares. (p. 26).

Os motivos desse deslocamento e da apropriação cultural da zona

sul pelas camadas de média e alta renda se deram através da combinação

entre as ações do poder público sobre o espaço urbano e a apropriação

cultural das camadas de média e alta renda no lado sul.

CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO ARACAJU 1960 – 2000

ANOS POPULAÇÃO

URBANA

POPULAÇÃO

RURAL TOTAL

1960 112.500 3.213 115.713

1970 179.276 4.394 183.670

1980 287.900 5.200 293.100

1991 402.341 - 402.341

1996 428.194 - 428.194

2000 461.534 - 461.534

Fonte: Anuário Estatístico da Prefeitura Municipal de Aracaju (Secretaria Municipal de Planejamento) 2005.

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O desinteresse das camadas sociais de maior renda pelo Centro

tradicional representou a incompatibilidade simbólica desses grupos com o

espaço. Para Loureiro (1983), o principal motivo para o seu deslocamento

está associado à queda da qualidade de vida, ou seja, a “poluição

atmosférica, sonora, congestionamento de tráfego, etc.” (p. 81).

A busca por áreas mais amenas e tranqüilas convergia para a zona

sul, devido a reunião de alguns elementos atrativos como às condições

climáticas, a proximidade da praia e a distância das “insalubridades” da

cidade. Com isso, o Centro foi se tornando uma área de concentração

comercial, serviços e consumo popular. A mobilidade das populações de

melhor poder aquisitivo que residiam no Centro foram para bairros situados

na zona sul e sudoeste da cidade: Grageru, Jardins, Treze de Julho, São

José, Salgado Filho e Luzia (SOUZA, 2004, p. 34).

Toda zona sul passou por processos de substituição das suas

populações. A urbanização colocou essas populações em dias com as

condições de vivência com uma cidade urbanizada, não apenas pela

infraestrutura e outros equipamentos urbanos, mas principalmente pelas

condições de trabalho e modificação nas suas formas de viver.

O enobrecimento dessa região se deu a partir da substituição dessas

comunidades e de suas atividades como pode ser visto no relato de Ribeiro

(1989):

Os bairros São José e a praia Treze de Julho transformaram-se em eixo do setor elegante da cidade. Estes bairros tiveram desenvolvimento rápido, quase exclusivamente por grupos da classe média/alta e da classe alta, que iam em busca de amenidades e, nesse processo, expulsavam os antigos ocupantes – os pescadores. (p. 49).

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Os bairros Atalaia e Coroa do Meio eram também constituídos

predominantemente por colônias de pescadores que a partir do avanço da

urbanização viu esta população ser expulsa e, em consequência, a

decadência da atividade pesqueira (SILVA, 2001).

A ação da valorização do uso do solo no bairro Atalaia contribuiu

para a expulsão dos moradores pobres do bairro, para dar lugar a uma

população de alta renda, visando a ocupação por parte das camadas de alta

renda como mostra a citação abaixo,

(...) compravam-se as suas casas [dos moradores mais pobres] por preços aviltamente baixos para revendê-las a preço de mercado, forçando muitos moradores nativos a se transferirem para as áreas de mangue. (SILVA, 2001, p. 35).

Processo semelhante ocorreu na Coroa do Meio no final dos anos

oitenta quando da construção do primeiro shopping Riomar. Resultado da

parceria entre a construtora Góes Cohabita S. A. da Bahia e da EMURB

(Empresa Municipal de Urbanização), tinha como estratégia promover a

substituir a população constituída por pescadores por outra de maior renda.

Segundo França (1999), “A construção do shopping Riomar foi também

uma estratégia da EMURB para a ocupação e valorização da Coroa do

Meio, a instalação do shopping atraiu outras atividades comerciais e de

serviços nas suas proximidades para as avenidas Beira-Mar e Francisco

Porto.” (p. 172).

Segundo Ribeiro (1989) a urbanização do espaço urbano aracajuano

durante esse período se dividiu em três etapas. O momento inicial da

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expansão do território através dos conjuntos habitacionais (1964 – 1967);

na fase seguinte, em ritmo crescente, mesmo diante da grande demanda e da

crise na indústria de material de construção (1968 – 1974); e, o período

central para observar o crescimento do setor imobiliário e da construção

civil (1975 – 1981). Nesta etapa Aracaju cresceu em várias direções, tendo

seu ápice em 1981, neste momento o setor da construção civil e o setor

imobiliário cresceram em conjunto com Aracaju. Tanto é que em 1976 as

áreas construídas superaram as de licenciadas, fato que caracterizou,

segundo Ribeiro (1989), como o “período de aburguesamento da cidade”.

Esta informação pode ser verificada na divisão das habitações

realizadas durante o período. Inicialmente essa divisão estava na ordem de

50% para a classe média e 50% para a classe de baixa renda, no entanto,

essa distribuição foi realizada da seguinte forma: classe média (45,6%),

classe alta (32,6%) e a classe popular (21,7%). (RIBEIRO, 1989, p. 64).

A constituição da zona sul como região preferida pelas camadas de

média e alta renda é a expressão contemporânea do desenvolvimento

urbano de Aracaju materializadas pela combinação de moradias, serviços

urbanos e econômicos.

Segundo França (1999),

a consolidação e ampliação da Norcolândia (área pertencente à construtora NORCON, toda verticalizada, situada no bairro Treze de Julho), isto é, a ocupação adensada de uma área moderna e elitizada da cidade. Além disso, se constituirá um outro sub-centro, pois já está em construção um novo shopping, que tem como loja âncora um hipermercado,

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inaugurado nos últimos dias do mês de abril de 1997, considerado o mais moderno do Nordeste. (p. 192).

As intervenções na zona sul continuaram ao longo dos anos noventa

com a construção do bairro Jardins. Este bairro caracterizou-se como o

último grande investimento do setor e potencializando formas de moradia,

consumo e lazer.

É importante destacar que a centralidade do bairro Jardins já era

reforçada em seu processo de construção. Tanto que, as empresas que

realizaram a intervenção ressaltavam os serviços, as lojas, o shopping e a

qualidade de vida que seria morar naquela localidade.

...Surge, então o bairro Jardins, a nova área de ‘viver bem’ na cidade, amplamente divulgada para a classe média e alta com toda a sua Infra-estrutura próxima. De um lado, surgem condomínios financiados pelo Plano Maior, que, a partir de 1995, vem suprir a escassez do sistema financeiro, e, no outro, edifícios mais diferenciados para a população de maior renda da cidade. Além disso, começa, nesta época, a surgir um maior número de particulares, através de condomínios, com a intenção de uma maior liberdade e qualidade de projeto associada a um menor preço. (DINIZ, 2005, p. 115).

A associação do “bem viver” com morar em condomínios passou

pela mudança nos valores culturais da classe média e alta da cidade. Com

isso, a construção dos sentidos perpassou pela afirmação nas sociabilidades

e dos modos de vida desenvolvidos nessa faixa da cidade. A constituição do

bem estar da moradia passa por viver com comodidade, em áreas de clima

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ameno, próximos de serviços e praças de consumo convergentes com as

suas necessidades simbólicas, segurança, espaços de lazer e entretenimento.

A constituição da representação da região sul como região que

converge status se deve a rede de serviços que se desenvolveram naquele

espaço, são escolas, bancos, shoppings centers, hipermercados,

restaurantes, bares, entre outros.

No anúncio de um prédio de luxo a publicidade destaca o status do

empreendimento e da sua localização,

O edifício Premium acertou em cheio em tudo o que você esperava de um empreendimento imobiliário. Ele tem estilo, inovação, sofisticação, acabamento impecável e, para valorizar ainda mais a sua conquista, está na melhor localização da Francisco Porto, bem perto do calçadão da Treze de Julho, de bancos, escolas, hipermercado, shoppings e restaurantes. O Premium é seu por dois motivos: merecimento e sorte de conquistar o apartamento que combina totalmente com o seu estilo de vida.

No anúncio de um outro prédio de classe média localizado no

Bairro Luzia possui a seguinte frase, “No bairro Luzia, próximo de tudo que

você precisa: shopping Jardins, escolas, supermercados como todo conforto

que sua família merece”.

Outra característica que essas empresas oferecem nestas moradias

são a segurança e o lazer. Deste modo, são ressaltadas guaritas, cercas

elétricas, parque infantil, salão de festas, piscina, churrasqueiras, entre

outros.

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BAIRRO JARDINS E CENTRALIDADE

O bairro Jardins foi inaugurado em meados dos anos noventa em

conjunto com um shopping center de mesmo nome. A combinação entre

centro comercial e moradias verticalizadas se configurou como

01 Centro02 Industrial03 Porto D'anta04 Lamarão05 Soledade06 Cidade Nova07 Santo Antônio08 Palestina09 18 do Forte10 Santos Dumont

11 Bugio12 Jardim Centenário13 José Conrado de Araújo14 Olaria15 Novo Paraíso16 Capucho17 América18 Siqueira Campos19 Getúlio Vargas20 Cirurgia

21 Pereira Lobo22 Suissa23 São José24 13 de Julho25 Salgado Filho26 Grageru27 Jardins28 Luzia29 Ponto Novo30 Jabotiana

31 Inácio Barbosa32 São Conrado33 Farolândia34 Coroa do Meio35 Atalaia36 Aeroporto37 Expansão Urbana36 Aeroporto37 Expansão Urbana

0 1100 2200 3300m

N

ARACAJUDIVISÃO DOS BAIRROS

01 02 03

07

08

04

05

0609

10

1112

1416

1513

17

30

2931

33

32

34

36

35

37

28

2627

24

25

22

23

19

1821

20

Mapa de Aracaju com a divisão dos bairros Fonte: Secretaria de Planejamento do Município de Aracaju - SEPLAN.

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empreendimento realizado entre empresas imobiliárias e lojas âncoras do

shopping center Jardins.

O seu território era composto por salinas, sítios e manguezais. Ao

seu redor já existiam residências de classe média como, o conjunto Leite

Neto, os bairros Luzia, Inácio Barbosa, Treze de Julho e Grageru.

O enobrecimento desta área acompanhou a ascensão das empresas

imobiliárias na década de noventa. A concretização das construções

aconteceu em 1997 com propagandas anunciando o surgimento de uma área

nobre na cidade dispondo de um shopping center.

Esta é uma foto geral das obras do PLANO MAIOR em JARDINS, onde está nascendo uma nova Aracaju. Destacamos os 4 primeiros lançamentos, o real Garden (1° prédio já entregue), o Golden Garden, o Victoria Garden e o Regent Garden. Todos os prazos estão sendo cumpridos e é uma satisfação mostrar aos nossos clientes e parceiros a nossa realidade com obras. (CINFORM. Aracaju, 14 a 20 de outubro de 1996, edição 705, ano XIV).

Na mesma edição outro informe refere às proximidades do

shopping, neste caso na referente a Avenida Silvio Teixeira,

O residencial Delphinos fica no Grageru, na Avenida Silvio Teixeira, a 100 metros do novo Shopping. Uma localização privilegiada, com todo o conforto que o bairro oferece, num imóvel que tem a garantia de entrega e qualidade COSIL. Um lançamento à altura da sua estrela pessoal. (CINFORM. Aracaju, 14 a 20 de outubro de 1996, edição 705, ano XIV)

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Nesse contexto, a formação das “paisagens de poder” (Zukin,

2000b), expressam a afirmação deste segmento social no espaço, o qual

concede um discurso segregador para a cidade. Deste modo, estilos de vida,

formas de consumo, moradias e sociabilidades se relacionam como

características de status.

As residências verticalizadas organizadas em condomínios fechados

é a forma predominante de moradia deste bairro. Guaritas, cercas elétricas,

interfones e áreas de lazer nos espaços intramuros. O acesso ao interior

dessas habitações fica restrito aos seus moradores e àqueles que recebem

autorização desses para a sua entrada.

O bairro Jardins como um dos empreendimentos dessa região já

estava circundado por ocupações e serviços voltados para essas camadas

sociais. Escolas, casas de show, hipermercados, um shopping (Riomar),

restaurantes, bancos, todos esses serviços sempre estiveram relacionados

com os prédios inaugurados na região, desempenhando um papel especifico

de valorização econômica e de status.

As características relativas ao bem estar, tranqüilidade e segurança

se apresentam em expressões dos modos de viver na cidade. Esses modos

de viver estão relacionados a maneira de como esses grupos lidam com o

espaço e como constroem as suas práticas.

A reprodução de áreas públicas como parques, quadras

poliesportivas, salão de festas, piscinas entre outros, reforçam o caráter de

status e de segurança. Os informes publicitários de prédios construídos em

sua proximidade ressaltam a característica de construção de uma outra

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cidade com aspectos econômicos e socioculturais diferenciados de outras

regiões da cidade.

Com o fim do modelo de políticas de habitação no final dos anos

oitenta outras perspectivas foram abertas para o setor imobiliário que por

sua vez passou a comandar as construções para a classe média e alta,

principalmente durante os anos noventa. As grandes empresas do setor que

haviam se estruturado durante o período das políticas de habitação

direconaram seus investimentos para a zona sul da cidade, próximo as praias

e das amenidades climáticas, além dessas o estabelecimento das camadas de

média e alta renda se deu pelo rápido desenvolvimento dos serviços e pela

expansão de suas marcas para uma nova área de valorização da cidade a

Zona de expansão. Esse espaço compreende um conjunto de povoados

localizados na extensão sul da capital. Esta área está sendo bastante

valorizada devido à proximidade com a praia e amenidades climáticas.

De forma semelhante, como ocorreu nos outros bairros da zona sul,

esse espaço desenvolveu formas de moradia para a classe média.

Diferentemente das moradias da zona sul que registraram o adensamento de

condomínios verticalizados fechados (DINIZ, 2005).

Embora existam casas de veraneio, condomínios fechados e outras

formas de moradia, a predominância ainda são as atividades das

comunidades pesqueiras. No entanto, muitos serviços como supermercados

e condomínios de luxo já podem ser encontrados naquela região. Alguns dos

fatores que são tomados como atrativos expostos pelos anúncios das

construtoras sã a tranqüilidade e o lazer, esses aliados a segurança

configuram alguns dos valores explorados por essas empresas para atrair as

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camadas de média e alta renda. Para Caldeira (2000, p.264) “Os anúncios

usam um repertorio de imagens e valores que fala à sensibilidade e fantasia

das pessoas, a fim de atingir seus desejos”.

Segundo França (2005), existiam até o ano de 2004 vinte e nove

condomínios horizontais na Zona de Expansão. Neste trabalho, a autora

investigou a condição de auto-segregação dos grupos que escolhem este tipo

de moradia o qual destaca como categoria que delimita uma continuidade

desse status de viver na zona sul, onde o isolamento e a segurança são os

principais motivos.

A busca pela qualidade de vida oferecida pelos condomínios

fechados segue a condição de refúgio que essas moradias ganham em

relação aos “perigos” da cidade. Segundo França (2005), “A idéia principal

da publicidade dos condomínios fechados vem sendo atrelada à intenção de

mostrar os incômodos causados pelos problemas urbanos, como barulho e a

violência”. (p. 216).

Portanto, ainda é continua a investida das camadas sociais de média

e alta renda em direção a zona sul. O surgimento de bairros e áreas

enobrecidas fez realizar nessa região a apropriação cultural por parte desses

segmentos sociais com seus estilos de vida e formas de sociabilidade. A

estabilização dessas camadas sociais atraiu atividades comerciais e de

serviços para a região. O deslocamento de atividades econômicas como

restaurantes, bares, escolas, bancos, casas de show e shoppings centers

contribuíram para constituir, nesta parte de Aracaju a cidade suscita um

ritmo especifico que caminha na direção de uma continuidade do que ocorre

na zona sul e sudoeste.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A substituição do contingente populacional das áreas da zona sul,

antes habitadas por comunidades de pescadores, assistiu a chegada de

modos de vida e atividades urbanas características das camadas de média e

alta renda. A marca da segregação socioespacial construída em Aracaju

durante a última grande urbanização colocou as populações de baixa renda

concentradas nas zonas norte e noroeste da cidade e, por outro lado,

convergiram os estratos de maior renda para a zona sul.

A ascensão das empresas imobiliárias teve importância para

potencializar os modos de vida que se estabeleciam, assim como transformar

a paisagem. No entanto, o comando do mercado imobiliário nas

intervenções urbanas dessa região proporcionou uma espécie de urbanização

particular voltada somente para uma parte da cidade.

O mercado imobiliário encontrou na zona sul um grande filão que

permitiu a expansão desses espaços. O investimento em moradias e espaços

de sociabilidades e consumo se juntam ao progressivo desenvolvimento de

redes de serviços como restaurantes, lojas, shoppings, bares, hipermercados,

entre outros que afirmam o caráter fragmentador.

Neste sentido, o mercado imobiliário intensifica essa condição, pois

este segue a lógica de sua construção em áreas mais valorizadas com

camadas sociais de maior renda. Isso contribui para o deslocamento de

empresas com produtos e serviços voltados para esses grupos sociais. Tais

serviços afirmam uma condição que é gritante no espaço urbano aracajuano:

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a sua segregação socioespacial a partir dos modos de vida e de como eles

estão dispostos no espaço urbano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PROFESSOR JOÃO CARDOSO NASCIMENTO JÚNIOR E O MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (1968-1972)

Jussara Maria Viana Silveira Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Professora substituta da Universidade Federal de Sergipe. Coordenadora do Instituto Superior de Educação José Augusto Vieira – ISEJAV - Faculdade José Augusto Vieira - FJAV. Professora do Núcleo de Pós-Graduação da Faculdade José Augusto Vieira. Membro do Grupo de Pesquisa em História da Educação: Intelectuais, Instituições e Práticas de Ensino e membro da Sociedade Brasileira de História da Educação – SBHE.

RESUMO

Este artigo tem por objetivo reconstruir historicamente a trajetória do professor João Cardoso Nascimento Júnior, contemplando a sua atuação como primeiro Reitor da Universidade Federal de Sergipe e a forte ligação com o movimento estudantil sergipano entre os anos de 1968 a 1972, num período conturbado da nossa história “a ditadura militar”. O referencial selecionado para o estudo relaciona-se à História da Educação e à História Cultural e como metodologia apropriei-me da Abordagem Biográfica. Entre as categorias de análises estabelecidas por Chartier, trabalhei a apropriação e representação; bem como os conceitos de campo e capital de Bourdieu e memória de Jacques Le Goff. Ao construir essa trajetória, trilhei inúmeros caminhos, transformei vestígios descontínuos em História, na história de vida de João Cardoso Nascimento Júnior, que ao longo da sua trajetória contribuiu para edificar o ensino superior em Sergipe.

PALAVRAS-CHAVES: Abordagem Biográfica; Educação; João Cardoso Nascimento Júnior; Trajetória.

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Dr. João Cardoso teve um desempenho elogiável, pois conseguiu levar a bom termo uma universidade mal vista aos olhos da revolução, com ‘tiras’ em seu corpo, patrulhando, ideologicamente, todos. Conciliar a prepotência com a democracia, a vigilância opressora com a liberdade discreta, só o seu caráter firme e manso pôde operar tal milagre na difícil reitoria.(MARQUES, 1988)

Para muitos, as universidades brasileiras entraram em crise quando

houve a “Quartelada Militar” de 1964, e passaram a ser chamadas nessa

época de “Universidade da Mordaça”, onde estudantes e intelectuais foram

tratados como delinqüentes e muitos obrigados a retirar-se do país, na

imposição de um exílio forçado, e outros submetidos a sessões de torturas e

humilhações por parte dos que acreditavam estar impondo a ordem e a

tranqüilidade do país através da força bruta.

O golpe militar repercutiu significativamente no movimento

estudantil. A influência das correntes políticas de esquerda levou ás

autoridades militares a reprimirem as lideranças estudantis e desarticularem

as suas principais organizações representativas. Primeiramente a União

Nacional dos Estudantes (UNE) foi posta na ilegalidade, depois foi a vez do

Diretório Central dos Estudantes (DCE), partindo dessa desarticulação

foram criadas novas organizações e novos procedimentos foram adotados

para seleção de seus representantes.

As constantes tentativas das lideranças estudantis de retomarem o

controle das organizações foi o principal fator a desencadear novas ondas

de repressão política. Desse modo, reivindicações educacionais e

manifestações de protesto político contra o governo militar foram as

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principais bandeiras de luta do movimento na segunda metade da década de

1960. O ápice da radicalização dos grupos estudantis ocorreu em 1968, ano

marcado por grandes manifestações de rua contra a ditadura militar.

O auge da repressão que parecia ser uma breve intervenção militar

na política acabou transformando-se numa ditadura que reprimiu

violentamente grupos e movimentos de oposição. De 1969 a 1973, a

coerção política atingiu o seu ápice. Neste período, o movimento estudantil

foi completamente desarticulado. A maior parte dos militantes e líderes

estudantis ingressaram em organizações de luta armada para tentar derrubar

o governo. No dia 28 de março de 1968, uma manifestação contra a má

qualidade do ensino, realizada no restaurante estudantil Calabouço, no Rio

de Janeiro, foi violentamente reprimida pela polícia, resultando na morte do

estudante Edson Luís Lima Souto (GASPARI, 2002:51).

No Brasil já no segundo semestre de 1968, os estudantes

começavam a demonstrar sinais de recuo. Somente alguns comandos mais

radicais da época continuavam a lutar pela repressão desencadeada.

Segundo o professor Daniel Arão Reis, “o canto do cisne ocorreu quando da

dissolução pela polícia, do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de

São Paulo, em outubro de 1968, tendo sido presas centenas de lideranças

estudantis” (REIS, 2002:51). Entre os estudantes presos em São Paulo

estavam alguns alunos da recém-criada Universidade Federal de Sergipe:

E no dia 13 de dezembro, com a edição do Ato Institucional nº. 5, aí as coisas ficaram complicadas, porque nós tínhamos sido presos no XXX Congresso da UNE, em Ibuína no Estado de

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São Paulo. Quando retornamos para Aracaju fomos soltos. Em São Paulo ficamos detidos no presídio Tiradentes, em torno de uma semana ou um pouco mais. Mas como não tínhamos nenhum pedido de prisão preventiva decretada, nós ficamos respondendo o processo em liberdade aqui em Sergipe. Logo depois da edição do Ato institucional nº. 5, então todos nós retornamos a prisão, fomos presos e aí nós pudemos ver, que o regime realmente foi o período mais difícil da ditadura. Porque não havia hábeas corpus, não havia praticamente nada! (Entrevista com o Dr. João Augusto Gama, concedida à autora em 3.1.2007).

Começava para o Magnífico Reitor da UFS, Professor João

Cardoso Nascimento Júnior, uma nova luta para proteger os estudantes e os

professores, que ele acreditava estarem sob sua proteção. No dia seguinte à

publicação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), os estudantes sergipanos que

participaram do XXX Congresso da UNE em Ibiúna voltaram a ser presos,

juntamente com outras pessoas que eram consideradas subversivas pelo

governo militar. Segundo o historiador Ibarê Dantas, três professores foram

intimados a comparecer no 28º Batalhão de Caçadores (28º BC), em

Aracaju, onde foram “inquiridos”, respondendo aos processos pelos quais

foram condenados pela Justiça Militar do 6ª Região Militar em Salvador

(DANTAS, 2004:182-183).

O governo sergipano estava sob a administração do médico

Lourival Baptista, que havia tomado posse com a indicação do presidente

da República em 31 de janeiro de 1967. Em fins de janeiro é instituída em

Sergipe a Comissão Geral de Investigação (CGI), com a finalidade de

apurar corrupção em todo o estado, embora se soubesse essa era a forma de

obter informações seguras para “respaldar os atos punitivos que

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prosseguiam” (DANTAS, 2004:184). Em 1970, o governador de Sergipe,

Lourival Baptista, renunciou ao cargo para concorrer a uma cadeira no

Senado, sendo indicado para substituí-lo o engenheiro Paulo Barreto de

Menezes.

Para o historiador Ibarê Dantas, o governador Lourival Baptista

terminou seu mandato considerando-se “um administrador operoso e

conciliador”. Em toda a sua administração a política econômica sergipana

esteve marcada pela ostentação, certificada pelo aumento vertiginoso da

receita, ocorrido com a mudança da legislação tributária. Entre os seus

feitos em Sergipe, estão às construções de: estádios de futebol; o Edifício

Estado de Sergipe, com 28 andares; escolas; postos de saúde; rodovias;

conjuntos habitacionais; saneamento básico; ampliação da rede elétrica;

implantação do Distrito Industrial de Sergipe e o empenho pela criação da

Universidade Federal em Sergipe (DANTAS, 2004:184).

A ditadura colocou à margem da lei todas as organizações e

movimentos que surgiram nas faculdades e universidades em todo o país.

Tudo que fosse considerado ameaça à “tutela militar” era visto como

subversivo. Entre os movimentos que conheceram a mão repressora do

Estado Ditatorial encontravam-se a UNE e o DCE da Universidade Federal

de Sergipe. Abafando esses movimentos, os militares procuravam evitar

qualquer ação política no interior das instituições de ensino superior.

A UNE, mesmo extinta, continuava a agir na clandestinidade,

liderando em todo o país a revolta estudantil. O ano de 1968 foi marcado

por muitas revoltas. Os estudantes foram às ruas reivindicar direitos e lutar

pela volta da democracia no Brasil. A polícia reprimiu a revolta dos

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estudantes da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP).

Este conflito foi muito violento, e o prédio da Faculdade foi destruído e

logo depois desativado. O governo militar ao editar, em dezembro de 1968,

o AI-5 retirou todas as garantias individuais dos cidadãos brasileiros. O

poder foi centralizado na pessoa do presidente da República, que adquiriu

poderes para atuar como legislador e executivo:

O quinto Ato Institucional significava a vitória da linha dura sobre os moderados, proporcionando nova fase do Estado Autoritário. Com esse instrumento normativo, o Executivo tornou-se autorizado a fechar as diversas casas legislativas, intervir nos estados e municípios, cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos, remover e aposentar ou reformar funcionários, decretar estado de sítio e confisco de bens, suspender garantias constitucionais e estabelecer censura à imprensa (DANTAS, 2004:182).

Numa época de governo autoritário avesso a qualquer manifestação

de liberdade institucional e do povo, o Professor João Cardoso conduzir o

destino da jovem universidade sergipana, defendendo a autonomia de

pensamento da instituição. Soube ser paciente com os discentes que na

ânsia de querer a democracia no país, foram duramente perseguidos. Como

primeiro Reitor da Universidade Federal de Sergipe o Professor João

Cardoso Nascimento Júnior defendeu os seus discentes da arbitrariedade e

da prepotência do governo militar. A UFS, em 1968 nascia e já começava a

engatinhar sofrendo as pressões do Governo Ditatorial instalado no Brasil

desde o golpe militar de 1964. Com a institucionalização do AI-5, a UFS

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passa a viver sob um “fogo cruzado”, como ressaltou o historiador Ibarê

Dantas.

A situação agravou-se quando o Reitor João Cardoso Nascimento

Júnior recebeu o oficio de nº. 24-E/2, de 13 de fevereiro de 1969, expedido

pela 6ª Região Militar, localizada em Salvador, e assinado pelo General de

Brigada Abdon Senna. O ofício de caráter “Confidencial” trazia anexo, uma

lista contendo os nomes de trinta e dois discentes das Escolas e das

Faculdades que eram agregadas à Fundação da Universidade Federal de

Sergipe, os quais segundo as fontes consultadas para construção desse

artigo, estavam prejudicando a vida da sociedade aracajuana e trazendo

intranqüilidade ao setor estudantil da UFS.

De acordo com depoimentos, toda essa pressão levou o Professor

João Cardoso a sofrer um infarto. Ele resguardava a sua família e os amigos

mais próximos dos momentos de pressão e tensão pelo qual passava como

Reitor da Universidade Federal de Sergipe. Mesmo sendo um intelectual

respeitado pela política do regime militar, sofria com agressões enviadas

pelos militares que comandavam o 28º BC e a 6ª Região Militar.

Num desfile cívico do dia 7 de setembro de 1970, em cujo palanque

principal estavam presentes, o Reitor João Cardoso e demais autoridades

civis, militares e políticas sergipanas, ficou marcado, pelas ameaças que o

Comandante da 6ª Região Militar fez ao Professor João Cardoso dizendo

que “o Reitor de Sergipe não estava prestando atenção às recomendações

vindas do comando militar e estava conciliando demais com os

comunistas”. Em resposta ao General Abdon Senna, o Professor João

Cardoso, disse “o senhor comanda soldados, eu comando inteligência”

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(Informações obtidas através da entrevista como senhor Antônio Bernardo

da Silva Lima, concedida à autora em 12 de abril de 2007).

O Magnífico Reitor João Cardoso ignorou todas as ameaças

expressas nos Ofícios Confidenciais recebidos. Em resposta, baixou uma

Portaria de nº. 09, de 10 de março de 1969, afastando os dirigentes do DCE

da UFS, das suas funções e representações estudantis. Com coragem e

determinação, após análises feitas em vários documentos, afirmou-se que o

Professor João Cardoso Nascimento Júnior, durante o seu reitorado não

cassou os direitos estudantis de nenhum dos jovens estudantes da UFS que

tiveram seus nomes expostos na mira da ditadura militar.

No mesmo dia em que baixou essa Portaria o Magnífico Reitor João

Cardoso, recebeu outro ofício confidencial nº. 46-E/2 de 10 de março de

1969, contendo os nomes dos estudantes Antônio Vieira da Costa, Benedito

Figueiredo, Elze Maria dos Santos, João Augusto Gama da Silva, Janete

Correia de Melo, Laura Tourinho Ribeiro e Wellington Dantas Mangueira

Marques, que deveriam ser expulsos da UFS:

Mas o Reitor afastou-os da representação política, protelou a decisão e não os expulsou, passando a ser mal visto pelas autoridades militares. Enquanto isso, nos outros estados, em 05/1969 a 03/1970, pelos menos 192 estudantes ficaram impedidos de estudar com base no decreto lei 477 (DANTAS, 2004:183).

O Professor João Cardoso Nascimento Júnior também foi

interrogado no 28º Batalhão de Caçadores, para prestar esclarecimentos em

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face da sua decisão de não observar o decreto 477 para cassar os direitos

dos discentes, cujos nomes foram indicados pelos órgãos de segurança

como lideranças subversivas. Os esclarecimentos prestados pelo Reitor

João Cardoso foram considerados insatisfatórios. A UFS entra para a

História da Educação como uma universidade federal brasileira que não

cassou os direitos dos seus estudantes universitários.

O Reitor da Universidade Federal de Sergipe, João Cardoso

Nascimento Júnior, foi interrogado diversas vezes para esclarecer a decisão

de não cassar os direitos dos estudantes que estavam sob a sua orientação.

Além da convocação do 28º BC, o Professor João Cardoso também foi

chamado a prestar depoimentos na 6ª Região Militar, em Salvador.

Ao protelar a idéia de expulsar os discentes, o Reitor ganhava

tempo, pois só colocou em votação o assunto em outubro de 1969. O seu

objetivo era que os alunos se formassem. Em 10 de março de 1969, o Reitor

João Cardoso reuniu todo o corpo docente e discente da UFS na Faculdade

de Ciências Econômicas e leu em público a Portaria de nº. 09, em que

seriam suspensos do exercício de suas funções todos os dirigentes dos

órgãos e das representações estudantis da UFS.

Para a professora e historiadora Maria Thétis Nunes:

A luta naquele momento era sobretudo estudantil. Nós sabemos o que em 1968 foi passado. A passeata dos Cem Mil, e aquela passeata toda foi a reação. Quanta gente perdeu emprego; Estudantes cancelaram as matrículas. Muitos começaram seus exames e foram terminar em outros estados. Aí, Doutor João conseguiu contornar realmente isso, essa é a grande verdade naquela época, ele tinha muita conversa e com

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habilidade muito grande e assim realmente Sergipe foi um dos estados que menos perseguiu os estudantes e os professores também. [...]. (Entrevista com a professora, escritora e historiadora Maria Thétis Nunes, concedida autora no dia 11 de julho de 2007).

Segundo documentos analisados, o Professor João Cardoso

Nascimento Júnior deu ao governo da Universidade Federal a plenitude de

sua personalidade, a clarividência do espírito, a bondade do coração e o

esforço do trabalho intensivo. Para alcançar os objetivos de sua

administração, preferiu sempre as regras humanizadas da persuasão aos

argumentos indiscutíveis da autoridade. Não enfraqueceu diante do medo

das pressões e das decisões tomadas; nem a vaidade e a inflexibilidade

imobilizaram-no para o reexame e as revisões indispensáveis. O tempo e a

paciência entraram sempre na fórmula com que curava as incompreensões e

a maldade dos ressentimentos gratuitos. Em fevereiro de 1970, ele foi

novamente convocado a depor, desta vez diante do General Comandante da

6ª Região Militar, Abdon Senna, para prestar esclarecimentos sobre a

subversão estudantil na UFS, após receber outro oficio confidencial nº.

001/SI/DSIEC/70 da Divisão de Segurança e Informações, onde continha o

nome de mais cinco estudantes entre os quais estava o historiador José Ibarê

Costa Dantas (Oficio nº. 001/SI/DSIEC/70 do Ministério da Educação e

Cultura enviado ao Magnífico Reitor da Universidade Federal de Sergipe

Professor João Cardoso. Data: 7.1.1970. Fonte: Acervo pessoal do Prof.

João Cardoso).. No segundo parágrafo do citado oficio, dizia que o

Magnífico Reitor tinha suspendido os direitos políticos estudantis,

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entretanto todos integrantes mencionados na lista, continuavam a freqüentar

as faculdades, fazendo inclusive, distribuições de jornais e outras

publicações notadamente subversiva.

Ao longo da história da UFS, muitos nomes destacaram-se, cada

um contribuindo ao seu modo para a consolidação do ensino superior

federal em Sergipe. Portanto, o nome do seu primeiro Reitor, Professor

João Cardoso Nascimento Júnior, deve ser lembrado como aquele que

conduziu e resistiu habilmente às tentativas dos militares de exigir a

expulsão dos estudantes que participaram ativamente do movimento

estudantil, deixando sua marca na História do Ensino Superior em

Sergipe como um homem conciliador e de visão abrangente.

Segundo o professor José Paulino da Silva:

Numa época de governo autoritário, avesso a qualquer sopro de liberdade das instituições e das pessoas, João Cardoso soube conduzir os destinos da Universidade Federal de Sergipe, defendendo a autonomia de pensamento da instituição e, sobretudo, soube ser paciente com os jovens universitários e defendê-los contra a arbitrariedade e a prepotência do então governo federal do regime ditatorial militar (SILVA, 1998:11).

No início de 1969, poucos eram os que sabiam o que estava

acontecendo no interior da Reitoria da UFS. As pressões sofridas pelo

Professor João Cardoso começaram bem antes da institucionalização do AI-

5, a exemplo da vigilância da 6ª Região Militar em Salvador, comandada

pelo General de Brigada Abdon Senna; as interferências dentro das

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dependências da UFS pelo Departamento de Polícia Federal, este chefiado

pelo General Bretas Cupertino; a inspeção da Diretoria de Divisão de

Segurança e Informações dirigida pelo Brigadeiro Armando Tróia e a

coação vinda do 28º BC sob o comando do Coronel Ítalo Diogo Tavares

(DANTAS, 2004).

O Professor João Cardoso não foi simplesmente o Magnífico

Reitor da UFS, mais um “Reitor Magnífico”, pelo papel que

desempenhou dentro dessa universidade, pois muitos estiveram sob sua

proteção; e com “tiras em seu corpo”, livrou os seus discentes e docentes

das garras do poder opressor e agressor dos militares. João Cardoso

Nascimento Júnior não administrou a UFS com atitudes covardes e nem

foi subserviente; não baixou a cabeça para os mandos e desmandos do

governo militar e nem para aqueles que, por terem indicado seu nome

para Reitor, pensaram em decidir como queriam o destino da

universidade em Sergipe. O “Reitor Magnífico” João Cardoso

Nascimento Júnior, dirigiu a instituição com dignidade; e como escreveu

a professora e escritora Núbia Marques, “o Reitor da Universidade, com

sua serenidade, conseguiu conter situações delicadas. Hoje não convém

citá-las” (MARQUES, 1988). No dia 15 de maio de 1972, no salão

nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, o Professor João

Cardoso Nascimento Júnior despede-se do seu reitorado da UFS. Em

sessão extraordinária, os conselheiros, o corpo docente, discente e

funcionários da Universidade Federal homenageiam o seu ex-reitor. Em

nome do Conselho Diretor falou o Dr. Walter Cardoso, enquanto que em

nome do Conselho de Pesquisa e Universitário falou o Dr. João Batista

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Perez Garcia Moreno, ressaltando o trabalho do Professor João Cardoso à

frente da Reitoria. Em agradecimento o homenageado, João Cardoso

finaliza o seu discurso de despedida dizendo que a Universidade deve

estar sempre integrada ao homem (Recorte do jornal “Gazeta de

Sergipe”. Data: 20.5.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João

Cardoso).

A imprensa sergipana noticiou o fim do mandato do primeiro

Reitor da UFS, ressaltando a valiosa contribuição prestada pelo Professor

João Cardoso ao ensino superior em Sergipe. O Senador da República

Lourival Baptista, em nota ao jornal “Gazeta de Sergipe” (Jornal “Gazeta

de Sergipe”. Data: 3.6.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João

Cardoso), disse que o Professor João Cardoso, como primeiro Reitor, foi

um grande colaborador para o desenvolvimento educacional do Estado.

O Professor João Cardoso deixou a Reitoria da UFS no dia 15 de

maio de 1972, após quatro anos de mandato, cumprindo mais uma

missão que lhe foi confiada. Emocionado, agradeceu em poucas palavras

as homenagens que lhe foram prestadas pelos professores, diretores,

funcionários e estudantes. Na ocasião, o Professor João Cardoso

Nascimento Júnior transferiu o cargo de Reitor para o seu sucessor

professor Luiz Bispo. O Ministro da Educação Jarbas Passarinho mandou

um representante do MEC o Dr. Sileno Ribeiro Paixão para transmitir ao

Professor João Cardoso, os seus agradecimentos pelos serviços prestados

a educação brasileira.

Mesmo com o pedido da comunidade universitária, do Ministro

da Educação e Cultura Jarbas Passarinho e das sociedades civil e política

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de Aracaju, para que continuasse no cargo de Reitor, o Professor João

Cardoso Nascimento Júnior recusou. O Ministro da Educação queria-o

dentro da universidade devido ao caráter seguro e as habilidades que

tinha quando se tratava de lidar com questões envolvendo o corpo

discente; e este caráter para Jarbas Passarinho, era necessário dentro de

uma universidade. Portanto, indicou, assim com foi pedido pelos

membros dos Conselhos, um nome, o do professor Luiz Bispo,

acreditando ele ser melhor naquele momento para dar continuidade ao

trabalho que vinha sendo feito dentro da administração da UFS.

Em oficio de nº. GR/122/72, de 15 de maio de 1972, enviado ao

MEC, em nome do Ministro Jarbas Passarinho, o Magnífico Reitor João

Cardoso Nascimento comunica o encerramento do seu mandato no cargo

de Reitor da UFS, notificando a transmissão do cargo para o Professor

Luiz Bispo. Em seu nome e em nome da Universidade agradeceu ao

Ministro pelo seu elevado espírito público e por ter encaminhado as

soluções dos desafiadores problemas da Educação e Cultura no Brasil e

pela compreensão que teve com a UFS na sua cotidiana luta para poder

prestar os serviços de que tanto carecem aqueles que a procuraram e nela

depositaram suas esperanças (Oficio nº. CR/122/72. Universidade

Federal de Sergipe para o Ministério da Educação e Cultura. Data:

15.5.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João Cardoso).

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Considerações Finais

Na esfera da abordagem biográfica, uma história de vida ou

trajetória deve ser entendida como um caminho de conhecimentos do

mundo apresentado e apropriado através da subjetividade dos sujeitos

que decidi biografar. A relevância do estudo aqui apresentado teve como

objetivo reconstruir a trajetória do Professor João Cardoso Nascimento

Júnior, como médico e professor, apontando os traços que marcaram sua

presença no cenário educacional, social e histórico sergipano.

Percebi as inúmeras possibilidades que a abordagem biográfica ofereceu

para a construção da pesquisa histórica e em particular para compreensão

do determinado contexto da historiografia educacional sergipana,

empreendendo o exercício fascinante de garimpar memórias,

reconstruindo histórias de vida e a partir delas apropriar-me de saberes,

conhecimentos, experiências e práticas que se tornaram imperceptíveis

aos documentos.

Ao narrar às experiências do Professor João Cardoso, compreendi

sua trajetória não como uma reprodução de fatos passados, mas como uma

reconstrução congruente da compreensão atual, fazendo-o sujeito da sua

própria história, através das suas emoções, das suas decisões e escolhas. A

narrativa utilizada para a construção deste texto não se limitou apenas à

reconstrução do passado, mas se preocupou em expressar a compreensão

de momentos vivenciados pelo personagem João Cardoso Nascimento

Júnior.

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Através da história foi possível elaborar uma pós-história, dando

significado a um conjunto de significados. O esforço de interpretar essa

trajetória, apontando sua importância para os estudos biográficos na

História da Educação em Sergipe, foi providencial, pois tem como objetivo

narrar a história de vida desse intelectual da educação, trazendo-o de volta,

dando-lhe voz outra vez, tirando-o do esquecimento.

Para o historiador e professor Jorge Carvalho do Nascimento:

A reconstrução das trajetórias dos intelectuais pode ser feita através dos registros de suas experiências de vida: registros de imprensa, documentos institucionais e particulares referentes à formação, atuação profissional e política , atas, relatórios, processos, teses, depoimentos (orais e escritos), cartas e fotografias (NASCIMENTO, 2007:97).

A metodologia escolhida para construção deste estudo inseriu-se na

perspectiva da Abordagem Biográfica, em que me utilizei da narrativa para

entender o significado dos caminhos trilhados pelo ator social João Cardoso

Nascimento Júnior, os quais segui através das fontes documentais e orais

para construir sua história de vida, trazendo para a narrativa as

representações e apropriações do mundo vivenciado por ele, através das

suas memórias e pelas experiências compartilhadas por meio de

depoimentos, ajudaram-me na construção deste artigo.

A trajetória do Professor João Cardoso Nascimento Júnior ainda

tem muito para contar e contribuir com a História da Educação em Sergipe.

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Recorro às palavras de Ana Chrystina Venâncio Mignot que diz: “sua

trajetória evidencia que a vida é mais complexa que as classificações. Em

diferentes momentos, nos diversos espaços de atuação, demonstrou que

entendia a educação como instrumento de ação política” (MIGNOT,

2002:324).

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O USO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA LATINA

Cezar Alexandre Neri Santos Professor de língua latina (UFS / FJAV). [email protected]

RESUMO Este trabalho pretende apresentar experiências resultantes da prática docente em língua latina. Até o século XVIII o Latim era visto como indispensável na vida civil. Já na sociedade contemporânea, seu espaço está restrito à igreja, a algumas ciências e aos bancos escolares dos cursos de ciências humanas. As TICs (tecnologias da informação e comunicação) têm facilitado o acesso a bons e raros materiais, ao passo que obras didáticas clássicas sofrem redução editorial. Assim, ao lado das leituras de Fedro, Cícero e César, podem-se apresentar trechos da Vulgata, de orações, o dicionário vulgar e o ‘Latinitas Recens’ – léxico recente com vocábulos do cotidiano moderno, além de trechos de grupos musicais e do best-seller Harry Potter em sua versão latina. Acredita-se que a utilização de tais instrumentos pode incitar o estudo da etimologia e do legado histórico-cultural deixado nesta língua. Palavras chave: Latim; didática; recursos audiovisuais.

ABSTRACT This work aims to present experiences of teaching process in the Latin language. Up to the eighteenth century Latin was indispensable in civil daily life. Currently, its use is reserved for the Catholic Church, college subjects and some sciences. TICs (communication and information technologic instruments) have made access to relevant and rare material easily, opposed to the number of didactic works in the classic area, which have been reduced drastically. Phedro’s, Cicero’s and Caesar’s works can be studied alongside with the Latin Bible, prays, and studies on modern-day and forbidden vulgar lexicon in Latin. Besides, translating songs, texts and audios, like Harry Potter’s in Latin. It’s believed to stimulate students’ motivation through etymological and diachronic studies. Based on the purpose of making teaching pleasanter, strategies should be practiced so as to spread the Latin language and to clear up historic and cultural importance and bequest. Key words: Latin language; didactics; audio-visual aids.

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“Quem não estudou as estruturas do Latim ignora ainda do que é capaz a linguagem humana” (Werner Jaeger)

A linguagem é um fato social e fatos lingüísticos são a expressão do

espírito de uma determinada época, grupo ou nação. Diante dessa

perspectiva, nenhuma língua ocidental foi tão fundamental e conseguiu ter

tanto prestígio em vários campos do conhecimento humano quanto o latim.

O latim deriva de línguas arcaicas faladas no Lácio e em Roma,

consolidando-se gramaticalmente a partir do século III a.C. Do local de sua

origem, na Itália central, provém o seu nome. Serviu inicialmente como

canal de comunicação do Império Romano e perdurou como língua franca –

idioma dos negócios, das ciências, da escola – até o fim do Renascimento.

No entanto, muitos perguntam por qual finalidade se estuda latim se

há várias obras já traduzidas para as línguas modernas. Crê-se que a

verdadeira instrução para a humanidade exige universalidade e uma visão

geral. Quanto a isto, Schopenhauer indaga “como seria se cada um deles

[autores antigos] tivesse escrito na língua de seu país, seguindo o estágio

em que ela se encontrava na sua época? Seria impossível, para mim,

entender sequer a metade dos seus textos (...)”i Grande defensor do ensino

das línguas clássicas, grego, latim e sânscrito, o filósofo alemão ratifica a

importância cultural do latim, como via propagadora durante vários séculos

do conhecimento humano.

Esse partidarismo quanto ao latim se dá porque foi nesse idioma

que “as leis francesas são escritas até séc. XVI, (...) os tratados de música

de Boécio; livros de medicina, de culinária, de veterinária, de conservação

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dos alimentos e sobretudo textos religiosos. Lê-se Aristóteles em sua

tradução latina, assim como a Bíblia. (...) As descrições da Zoologia e da

Botânica eram todas em latim; os nomes científicos, todavia, ainda o são.”ii

Nas escolas do tempo medievo, os que tinham a oportunidade de

instruir-se estudavam com livros escritos em latim, e no seu ensino

utilizavam métodos de tradução direta, com textos literários longos e

complexos. As temáticas destes textos vão de provérbios a retórica,

objetivando um ensino basilar moral muito arraigado às tradições católicas.

É mister considerar que, na "Idade das Trevas", o modelo de erudição era o

‘homo trilinguis’ ou ‘trium linguarum gnarus’, aquele conhecedor das três

línguas sapienciais - latim, grego e hebraico. Mesmo assim, os dois últimos

foram sempre subjugados ao primeiro. O grego, por possuir vasta literatura

pagã, não podia ser cristianizado, a exemplo de tratados filosóficos; assim

como a língua hebraica por estar vinculada à religião judaica.

Desde suas origens ao seu desaparecimento como língua viva, se

imortalizou nas penas de Cícero, César e Vergílio. Seu auge se deu entre o

século I a.C. e meados do século I d.C. como via de expressão dos autores

supracitados, literatos clássicos universais. É importante ressaltar o porquê

o Latim galgou tal prestígio como língua universal e o grego não.

Supremacia política não significa imposição lingüística e o ponto de

desequilíbrio a favor do primeiro foi o Cristianismo, e com ele seu maior

representante, a Igreja Católica. No século IV d.C., o Catolicismo tornou-se

a religião oficial do Império Romano, ao mesmo tempo em que tomou para

si o latim como sua língua oficial. Literatura, vocabulário e ensino passaram

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a ter um forte cunho moral, já que as obras cristãs passaram a ser escritas na

língua de Roma.

Com a expansão territorial do Império Romano, consolidado na

Europa, África e Ásia entre I a.C. e III d.C., o latim foi levado nesse plano

dominatório. Tal contato permitiu que até línguas de árvores lingüísticas

não-itálicas se latinizassem, a exemplo do alemão e do inglês. Este último,

de descendência indo-germânica, possui entre 45 e 55% de seu léxico de

origem latina, boa parte através do francês.iii Isso se deve à invasão

normando-francesa a partir do século XI, que renovou lexicalmente a língua

da Bretanha, um dos motivos pelo qual há tantos cognatos entre o português

e a língua de Shakespeare.

Outro ponto relevante é o ensino do latim em diversos países não-

românicos. Entre estes, merecem destaque a Alemanha, grande difusor da

filologia românica, área destinada aos estudos e críticas de textos nas

línguas neolatinas. Além de haver grande número de estudiosos, todo

aquele que se destina ao ensino superior naquele país tem de estudar latim

por nove anos. Na Áustria, sete. Em Bremen, norte da Alemanha, há uma

rádio transmissora que expede tudo em língua latina. Neste país, o latim é a

terceira língua mais procurada nas academias, atrás apenas do inglês e do

francês. “Os alemães querem aprender latim na tentativa de entender as

suas próprias raízes e de encontrar uma identidade européia comum. O

renascimento latino coincide com a unificação da Europa.”iv

A preferência de vários autores pela língua latina se dá por esta ser

uma língua sintética. Isso significa que seu sistema nominal é baseado em

desinências, exigindo lógica e perspicácia do estudante em entender que

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não a ordem, mas os sufixos determinam a função sintática de um termo na

oração. Poucas línguas modernas possuem este princípio, como o alemão, e

seu desaparecimento nas línguas românicas se deve, por exemplo, às leis

fonéticas. É comum que os falantes pronunciem erroneamente certas

terminações. Como modelo de comparação, pode-se verificar como os

brasileiros deixam de pronunciar o S final das palavras. O mesmo ocorreu

com o latim historicamente.

Com o exposto, é latente que o latim serve como língua que

demanda certa lógica e atenção no seu estudo. Por tal fato, muitos países

não-latinos o proporcionam em seus currículos, inclusive no ensino médio,

independente de área do conhecimento. Talvez pelo valor que tais nações

dêem ao latim e ao seu legado histórico-cultural, pode-se relacionar com o

nível econômico e intelectual alcançados. O Brasil, na contramão destes

países, mesmo sendo de família lingüística românica, restringiu os estudos

clássicos aos cursos de letras, depois de várias reformas educacionais.

Muitos são os que pensam que o latim restringe-se a influenciar

línguas como português, espanhol, francês e italiano, pela posição

geográfica de Roma. Porém, são dez as línguas denominadas românicas ou

neolatinas. Além das citadas, há o romeno, como o próprio nome pode

explicitar sua ligação com Roma, o provençal, sardo, rético, catalão e o

dalmático. Estes últimos são dialetos não elevados ao nível de língua

literária como os primeiros, mas com estrutura léxico-gramatical também

advindas da língua do Lácio.

Atualmente o latim é lembrado comumente por ser uma língua

morta, ou seja, não possuir uma comunidade lingüística falante. Mesmo

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assim, deve-se lembrar que as línguas românicas ou neolatinas são a

passagem diacrônica do latim dos tempos romanos e continua presente

nestas línguas no léxico, na fonologia e na sintaxe. O português, por

exemplo, é denominado pelo epíteto ‘A última flor do Lácio’. Isso se deve a

este ter sido um dos últimos idiomas a se formar do latim – século XII.

Como afirmam tantos autores, deve ser esta a causa de a língua portuguesa

ser tão semelhante em léxico e ortografia ao latim.

Contrariamente, não há tanta menção ao idioma que permutou

influências com o latim na formação de nossa língua. A língua originária do

Condado Portucalense, hoje correspondente à região de Portugal, o dialeto

galego, sofreu simbioses ao encontrar os dominadores romanos,

colonizadores desta área. O modelo sintático e de estilo foi o latim, assim

como o esquema gramatical sobre a qual foram descritas, mas é certo que o

galego também influenciou a língua de Camões.

Contudo, mesmo grandes impérios possuem limitações. E a

Romanização superficial ou a superioridade cultural dos vencidos fez do

latim galgar, no máximo, a posição de adstratov em certos locais da

Româniavi. Para Ilari, “o latim impôs-se como língua falada no

mediterrâneo ocidental e na Europa continental, mas esteve sempre em

situação de inferioridade na Grécia, Anatólia e no Mediterrâneo Oriental.”vii

Assim, a separação do império Romano em Império do Oriente, de

língua grega, e Império Ocidental, de língua latina, corresponde a uma

realidade. Mesmo sendo influenciado, o Latim não é derivado do grego nem

de qualquer outra língua historicamente conhecida. Ele resulta de um

idioma há muito desaparecido, que não pode ser reconstituído, falado pelos

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antigos habitantes do Lácio, na Itália Central. No Império Romano, não

havia escolarização em massa, mas apenas uma parcela minoritária, como

os cidadãos livres, podia freqüentar bancos escolares. Havia no Império

uma coexistência pacífica entre o latim clássico e o latim vulgar. É

relevante pontuar aqui a distinção entre duas formas.

Toda língua possui níveis lingüísticos, ou seja, formas canonizadas

como estilo correto ou em desconforme com suas regras. Deve-se pontuar

que durante o Império Romano diferentemente do que comumente se

imagina, este último não é derivado do primeiro, mas tal latim era vulgar

por “ser uma língua popular, expressão das camadas sociais que não

tiveram acesso à cultura formal e escrita. Não fica excluído que essa

variedade pudesse ser falada também pela aristocracia em situações

extremamente informais”viii. Isso revela que ambas as variantes lingüísticas

se constituíram concomitantemente.

Assim, as línguas românicas são o produto desse latim vulgar,

gramaticalmente ‘errado’, com os dialetos das áreas conquistadas. O latim

dominava sob a sua forma dupla: o “sermo nobilis”, língua literária das

obras de literatura, dos tratados e das escolas e o “sermo rusticus, plebeicus,

castrensis”, a linguagem dos colonos e falada pelas populações locais.

Segundo Oliveira, “isso aconteceu não porque essas línguas

deixaram de ser empregadas, mas porque não atendiam mais às

necessidades de uma nova civilização, nem às relações que se tornavam

mais freqüentes entre as diversas partes do Império e, sobretudo, com a

metrópole”. Durante a expansão territorial do Império Romano, o latim

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influenciava dialetos autóctones com vocabulário ligado à guerra e ao

direito.

Todas as grandes civilizações durante o curso da humanidade,

como o império Babilônico, o Egito, as cidades-estados Gregas, os Impérios

Romano e Inca, deixaram um legado de influências ou vestígios que

permanece até hoje. Numa proposta de dominação, a eficácia está

diretamente proporcional à aculturação do oponente. É assim atualmente o

caso estadunidense, sendo o inglês uma via de imposição através dos

negócios, da internet e de sua cultura tecnológica. Quanto ao prestígio do

latim, Oliveira explica que “as línguas modernas, por sua vez, não seriam

dignas de desempenhar o mesmo papel pedagógico que as línguas clássicas,

pois não teriam o mesmo valor cultural e civilizador” ix.

Detendo-se à esfera científica, observamos a importância do latim

como instrumento de difusão do conhecimento epistemológico. Das

ciências jurídicas às biológicas, passando pela literatura, foi em latim que os

cientistas até o fim do Renascimento se expressaram, sendo o idioma do

Lácio a língua franca da Idade Média, ou seja, língua da cultura, das

correspondências e dos negócios.

Todo o modus vivendi e modus cogitandi do homem medievo foi

permeado de latim: lia-se a Bíblia através de sua tradução latina, a Vulgata,

feita por São Jerônimo no fim do século IV, mesmo já havendo, antes desta,

várias versões da Bíblia grega, na qual a mais difundida foi a Agostiniana,

denominada Ítala. Cantava-se em latim para afastar o mal x. Como observa

Georges Duby, os cantos gregorianos são "cantos de guerra, criados pelos

monges, combatentes contra os exércitos satânicos, para impor a derrota,

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arremessando contra eles, como dardos, a mais segura das armas: as

palavras da prece”. xi

Numa perspectiva sociopolítica, ao mesmo tempo em que o uso do

latim perdia utilidade para a vida profissional, também foi um instrumento

de divisão social. Assim, não importava sua nacionalidade - Inglaterra,

Portugal, França ou Brasil - o latim era o divisor de classes, aquele que

classificava os cidadãos. Esse era o pensamento da elite medievo-moderna.

Este fato também ocorre na atualidade, a exemplificar o poder do inglês e

na distinção social entre os falantes e os não-falantes da língua de

Shakespeare.

Por outro lado, o latim também funcionou como ferramenta de

ascensão social. Alguns argumentos atestam que a aprendizagem de uma

língua clássica gera nas pessoas senso crítico, ao mesmo tempo em que

constitui status no meio social. Segundo Oliveira, seu estudo seria

uma encorajadora de aspirações quiméricas a profissões inacessíveis às massas mais humildes (...). Por outro lado, “do Renascimento ao século XIX, o latim foi um fenômeno amplamente elitista, [que] classificava os indivíduos, ou seja, traduzia ostensivamente a pertença a uma classe.” (OLIVEIRA, 2004, p. 101)

A Igreja Católica foi certamente o maior difusor da língua latina.

Os cristãos foram barbaramente perseguidos durante 300 anos. As primeiras

comunidades cristãs se opunham ao politeísmo Romano e sua injusta

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política de coleta de impostos, que designava todos, pobres ou ricos, como

devedores de César. Mas em 391 d.C., após tornar-se religião oficial do

Império Romano, proibiu outras crenças e rituais de serem praticados,

constituindo-se como uma instituição de Roma, e transformando-se em

canal de comunicação de todos os autores cristãos até o início do

Renascimento. Pode-se inferir que a Igreja, nesse ponto, via no latim um

idioma unificador, com o papel de reunir todos os pensamentos cristãos em

uma unidade lingüística. Essa visão pastoral tinha uma função

emancipatória, já que ao aprender o idioma do Lácio, o indivíduo teria

acesso à vasta literatura.

Concomitante e paradoxalmente, a Igreja, no Concílio de Tours, na

França em 813, percebendo a existência das línguas românicas nacionais,

prescreve que o clero e missionário passem a evangelizar desde então não

mais em latim, para que houvesse compreensão e eficácia na recepção da

mensagem cristã. Constata-se que, já em tal época – século IX, as línguas

nacionais possuíam estrutura própria, e assim, sendo distintas do latim.

No campo religioso, ainda se mantém como a língua oficial do

Vaticano. Por isso, todos os documentos oficiais da Igreja são expedidos em

latim, e somente após ou concomitantemente são traduzidos para as línguas

modernas. Até a década de 1960, as missas, se iniciavam com o In nomine

Patri e terminavam com o Dominus vosbiscum, passando pelo Pater

Noster.

Atualmente, há uma discussão quanto à posição do papa Bento XVI

em permitir que a liturgia seja professada em latim. No documento "motu

proprio”, de julho de 2007, Bento afirma que "é uma questão de chegar a

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uma reconciliação interior no coração da Igreja (...) a missa no antigo rito

tridentino poderá ser celebrada livremente em todo mundo, pelos sacerdotes

que assim o desejarem, sem necessidade de autorização hierárquica, licença

ou indulto de um Bispo”.xii O papa, com esse ato, dá força e margem à ala

tradicionalista da igreja, que se viu prejudicada com a promulgação do

Concílio Vaticano II, na década de 1960, em que a Igreja dá grandes saltos

no sentido de abertura política. Este concílio é visto por muitos como

extremamente liberal.

Com os argumentos anteriores, atesta-se que a língua latina foi um

instrumento poderoso utilizado em várias esferas do conhecimento

epistemológico e artístico. E que deveras é interessante entender o espaço

das línguas clássicas no processo histórico assim como seu significado

pedagógico, político e social.

Até o século XVIII o Latim era visto como indispensável na vida

civil. Entretanto, as críticas ao seu ensino se davam pela sua rigidez ou

metodologia descontextualizada. Atualmente, na maioria das universidades

brasileiras, depara-se com alunos despreparados e desmotivados. A prática

docente faz acreditar que quando há o segundo fator – a motivação – a falta

de outras variáveis é minimizada e que o ensino não-traumático, mas sim

apaixonante e contextualizado, é possível.

As TICs (tecnologias da informação e comunicação) tem facilitado

o acesso a bons e raros materiais. Ao lado das fábulas de Fedro e dos

clássicos de Cícero e César, pode-se apresentar trechos da Vulgata, orações,

estudar o ‘Latinitas Recens’ – dicionário recente com vocábulos do

cotidiano moderno. Traduzir trechos de grupos como Era, Cirque du Soleil,

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High School Musical, Carl Orff, texto e áudio do best-seller Harry Potter, já

com duas versões latinas, além de estudo de uma lista de vocábulos

proibidos em Latim incitam a curiosidade quanto à etimologia e ao estudo

diacrônico.

O ensino de uma segunda língua possui particularidades, por ser o

“aprendizado de línguas diferente de qualquer outro aprendizado devido à

sua natureza social e comunicativa. Aprender uma língua envolve

comunicação com outras pessoas e isso requer não somente as habilidades

cognitivas, mas também habilidades sociais e comunicativas”.xiii Assim, a

aprendizagem de uma nova língua possibilita um leque de oportunidades,

como o acesso a outra cultura, seus costumes e seus escritos.

Como professor também de uma língua moderna, a citar o inglês, e

estudante de alemão, o autor desse texto percebe profundas diferenças na

abordagem de ensino dos idiomas modernos em relação aos clássicos. O

latim apresenta objetivos diferentes dos de uma língua moderna,

exatamente por ser uma língua clássica, como o inglês. Seu foco está num

viés mais cultural que comunicativo, já que se o estuda nas universidades

brasileiras não para a prática oral, mas para a tradução e compreensão de

sua literatura, para seu estudo gramatical ou influência na língua

portuguesa.

Crê-se que a utilização de novas estratégias no ensino de latim

possibilite um relevante meio de aprendizagem. O uso do dicionário não é o

único instrumento possível de estudo de uma língua clássica. A internet é

uma ferramenta de auxílio ao professor de latim. Através dela, pode-se

fazer download de áudios de resenhas de livros clássicos e modernos, como

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leituras de Harry Potter, de músicas contemporâneas em latim e de cantos

gregorianos.

Quanto ao glossário latino, Longo diz que:

“para quem está diante de um dicionário de uma língua antiga como o latim, cujo estudo está reduzido à recepção escrita, todas as informações que visam à produção de discursos na língua, geralmente fornecidas pelos dicionários bilíngües, não têm a mesma relevância que no dicionário de um idioma moderno. Para garantir a leitura e a compreensão do texto latino, tornam-se importantes aquelas informações que dêem conta da significação da palavra e seus diferentes empregos.” (LONGO, 2006, p. 39)

O dicionário não deve mero instrumento de procura por vocábulos.

Deve-se trabalhar na carga contida no radical da palavra latina. Assim, o

estudo dos metaplasmos (µετα:: além de + πλασµα obra modelada) é

balizado no entendimento das alterações fonéticas que ocorrem em

determinadas palavras ao longo da evolução de uma língua. Metaplasmos

podem ocorrer pela adição, supressão ou modificação dos sons. Tal

mecanismo torna-se útil pois ao entender que as leis fonéticas seguem

padrões regulares, o alunado compreende a etimologia de muitas palavras

em língua vernácula através de modelos lineares. Isso é possível por que o

latim possui diversas similaridades com o português, já que

aproximadamente 59% (60.000 palavras) do nosso vocabulário derivam

diretamente do latim vulgar, sendo quase todas estas são,

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morfologicamente, ativas, com exceção de 354 termos, que, até o presente,

ficaram inativos xiv.

Músicas, independente da língua, é sempre uma boa técnica de

aprendizagem. O latim traz consigo uma grande carga religiosa, também

possuindo diversas obras seculares. Até o emprego de músicas pode ser

guiado por óperas ou bandas góticas que encontram no latim uma expressão

de seu estilo medieval. É evidente o grande número de grupos musicais

como Nightwish, Era, Rhapsody, que enfocando a mitologia clássica,

através do latim, compõem canções nessa língua. O interessante em tais

obras é o teor pagão e demoníaco que várias possuem. Ao contrário dos

cantos cristãos, que entoam anjos e Maria e a exaltação de Jesus Cristo,

músicas pagãs pregam o fim do Reino de Deus e a exortação do diabo. Um

exemplo disto está na canção “Cathar Rhythm”, que compreende em seu

refrão a passagem “O Reino não é nada, escureceu, onde está Tu, deus

cruel/fortaleza? (...) as mãos negras do diabo”.

Até o grupo circense Cirque di Soleil tem em seu repertório canções

em vários dialetos, demonstrando o caráter universal no grupo. Uma destas

foi composta em latim, Miracula Aeternitatis cuja temática é o milagre da

vida.

O emprego da Vulgata, tradução bíblica latina feita por São

Jerônimo, se justifica pelo vasto conhecimento que as pessoas possuem do

texto sagrado. Assim como documentos expedidos pelo Vaticano em latim,

escritos sagrados podem ser trabalhados gramaticalmente. Aspectos dos

sistemas verbal e nominal podem ser trabalahdos, como a criação do mundo

ou excertos dos evangelhos.

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O professor de latim deve estar consciente e conscientizar os alunos

de que o uso de recursos com teor sacro não significa transmitir uma

corrente ideológica. Todo estudo epistemológico, como é o que o latim

pretende ser, deve estar dissociado de ideologias religiosas. Apesar de

grande e valioso material estar relacionado à Igreja Católica, orações e

referências místicas devem ser trabalhados tão imparcial quanto

objetivamente.

Corroborado a esfera religiosa, a visão do professor de latim sempre

se configurou a de um docente desatualizado, “caduco” ou conservador.

Para Vasconcellos, em seu texto sobre a visão de professor de latim no

cinema, comenta que “no Brasil, até há algumas décadas atrás, essa imagem

era freqüentemente associada a ideais de direita e a elitismo, o que deve ter

contribuído para a eliminação do latim dos currículos das escolas de ensino

secundário a partir da década de 60“.xv

Por este último argumento, uma estratégia de ensino eficaz é

utilizar áudios em latim, que representem as diversas pronúncias desta

língua. Numa abordagem comunicativa, utilizando diversos recursos, pode-

se trabalhar vocabulário, estruturas gramaticais ou até compreensão

auditiva. Este último expediente é possível pela semelhança fonético-lexical

entre as línguas latina e portuguesa. Exatamente por ser o português uma

língua românica, a fonética portuguesa é baseada na latina, sendo que

poucos são os fonemas diferentes.

Essa técnica, caracterizada como listening no ensino de inglês,

permite que o aluno,

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“assim como na leitura, na audição, há também duas formas simultâneas e complementares de processar um texto. No processo topo-base (de cima para baixo), os aprendizes usam seu conhecimento prévio para fazer previsões sobre o texto. Já no base-topo, estes se apoderam no conhecimento de elementos lingüísticos – vogais, consoantes, palavras, sentenças para fazer a construção do significado. Os professores geralmente acham que os alunos conseguiram captar todos os sons, palavras ou frases antes de entenderem o sentido geral da passagem. No entanto, na prática, eles geralmente adotam uma abordagem topo-base para prever o provável tema e então passar ao base-topo para checar seu entendimento”. xvi

Em latim, tal metodologia pode ser utilizada ao extrair do aluno seu

conhecimento de mundo, um dos principais entraves de um professor de

disciplinas balizadas como históricas, como são o latim e a filologia

clássica. Trabalhar aspectos socioculturais, dando à disciplina um tom de

“latinidade”. As principais dificuldades estão na falta do que Buonamassa

chama de “noções elementares de história antiga e geografia da Europa e

limitação do patrimônio relativo à cultura geral”. Para a autora,

“em primeiro lugar, procuramos fornecer as informações relativas às questões históricas e geográficas. (...) e coadjuvados, os dois, pela escolha de documentários e filmes sobre o período histórico em tela, proporcionaram uma consciência bastante segura no aluno da importância do processo de romanização (durante e depois do Império Romano) para o desenvolvimento das línguas neolatinas e da língua portuguesa, especificamente.” xvii

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Outra técnica de ensino numa perspectiva sociocultural que pode

interessar aos alunos é o estudo de léxico latino através de um dicionário

vulgar. Através deste, decifra-se quais as principais expressões de baixo

calão usadas no Império Romano, assim como compreender sua visão

quanto à sexualidade como civilização que existiu há mais de dois mil anos

atrás. Como exemplo, pode-se explicar que palavras como vagina, merda,

penis, meretrix e cacare mostram que certos termos ainda continuam a ser

usados em português. Curiosidades como estas fazem o discente pensar em

língua como sistema de expressão de seu pensamento (νουσ grego).

Neste viés, o estudo de léxico moderno latino se faz pertinente.

Como expressar, em latim, verbetes de cunho tecnológico ou

contemporâneo, como computador, automóvel e internet, termos que não

existiam na época do Império Romano? Para tal finalidade foi criado o

latinitas recens, dicionário de vocabulário recente que contempla termos de

expressão necessários num contexto capitalista e de sociedade globalizada.

Disponibilizado para abranger termos que até então não possuíam verbetes,

tais neologismos são necessários devido a seu emprego em novas situações.

Como língua veicular da Igreja Católica e instrumento de ciências tais quais

a Botânica e o Direito, tornam-se necessários termos que esclareçam essas

expressões.

Os amantes dos estudos clássicos, apesar de lidarem, certas vezes,

com material escasso ou não traduzido, procuram perpetuar de diversas

formas uma cultura da Antiguidade. Destarte, uma via encontrada pelos

latinistas foram as histórias em quadrinhos. Escritas em latim e expondo

temas de época, este gênero textual e entretenimento serve como forma de

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aprendizagem. Um exemplo de quadrinhos é as aventuras de Asterix e

Obelix. Numa perspectiva histórica, pode-se ler sobre os célebres combates

entre Gálios e Romanos, quando da invasão da Gália (atual França) pelos

últimos. Personagens como Júlio César e seus centuriões são revestidos de

aspectos modernos, numa linguagem mais coloquial, em relação aos textos

clássicos geralmente estudados nesta disciplina.

Tal como Asterix, outro personagem da ficção que serve de veículo

ao estudo do latim é o best-seller Harry Potter. Nas suas duas traduções

latinas, ‘Harrius Potter’ e seus amici podem ser meios de aprendizagem do

idioma por dois motivos. Primeiro, por ser um texto moderno e de fácil

aceitação por parte dos alunos, já que parte já leu ou possui o mínimo de

informações sobre sua temática. Segundo por conter vários neologismos e

verbetes que apóiam o estudo do latinitas recens. Tanto em Philosophi

Lapis (A Pedra Filosofal) quanto em Camara Secretorum (A câmara dos

segredos), o texto nos envolve com uma tradução direta e plena de termos

contemporâneos, muitos dos quais perífrases para vocábulos cotidianos. Lá

encontram-se respostas para perguntas como ‘Como dizer computador ou

avião em latim, termos tecnológicos?’ Vocábulos como carro podem

demonstrar diferenças culturais interessantes. Em latim clássico traduz-se

como carrus, i, da segunda declinação. Mas carrus designa o carro da

época do Império Romano – a carruagem. Para sanar tal ambigüidade, o

tradutor se fez de uma expressão para designar o léxico – quattuor rotula

automotaria. Pensando atentamente, um carro moderno nada mais é do que

um “motor automático de quatro rodas”. Neste caminho, pode-se aprender

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palavras como internetum, captilavium (shampoo) ou autocinetum

laophorum (ônibus).

Independente de se tratar de línguas vernáculas ou estrangeiras,

modernas ou clássicas, o ensino baseado em técnicas que trabalhem os

sentidos humanos é eficaz. Mais que comprovada, a teoria das múltiplas

inteligências de Howard Gardner atesta que são diversas as formas de

obtenção do conhecimento, assim como também presume a teoria dos

sentidos.

Tal tese baseia-se na idéia de que os canais sensitivos são mais

aguçados a depender da personalidade do indivíduo. Nesta teoria há três

tipos de alunos. A saber, sinestésico, auditivo e visual. Boa parte das

crianças é sinestésica, daí a enorme quantidade de atividades que envolvem

o lúdico e a locomoção. Já adultos tendem a ser mais visuais e auditivos.

Nessa perspectiva de ensino de língua estrangeira, técnicas que

abracem figuras, áudios, mapas e animações de histórias são bons

instrumentos de auxílio. Sempre aliada à teoria gramatical, a motivação e a

aprendizagem do latim é facilitada e torna-se mais prazerosa. Em adição ao

já explanado, o professor português João Torrão, numa pesquisa realizada

com discentes patrícios, demonstra que o deficit dos alunos é, por vezes, de

conhecimentos básicos humanísticos e gramaticaisxviii. Assim, entender as

vicissitudes e percursos da língua latina durante o curso histórico é de

grande auxílio.

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CONCLUSÃO

Conclui-se que o ensino-aprendizagem do latim, útil não apenas aos

estudantes de Letras, pode ser processado com técnicas multimídias,

negando a pejorativa imagem de que o profissional desta disciplina é

desajustado socialmente, desatualizado ou sádico. Esse ethos pode ser

porque os amantes da língua latina vêm produzindo vasto material, didático

ou não, neste idioma. Cabe ao docente ter acesso a esses por vezes raros

instrumentos. Técnicas até então reservadas às línguas modernas também

podem fazer parte de uma aula de latim (ou grego). Além de fornecer um

caráter de formação humanística, patriótica e pedagógica, entre outros

argumentos, o latim corrobora para a visão de linguagem como expressão

do pensamento, de um povo, sua época e cultura (volkgeist) e dar subsídios

pedagógicos aliados à nova ordem mundial é uma saída para a procura e

eficácia de seu ensino. Com essas práticas, espera-se e confia-se que frases

como a de um aluno nosso “o latim não é uma língua morta, mas uma

língua que mata!”, com referência à dificuldade em se aprender suas regras,

possam ser proferidas com menos freqüência.

NOTAS i SCHOPENHAUER, Arthur. A Arte de Escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2005. p.35 ii VIARO, Mário Eduardo. A Importância do Latim na atualidade. Revista de ciências humanas e sociais, São Paulo, Unisa, v. 1, n. 1, 1999. p. 8

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iii BRITO, Otávio T. de. Do Latim ao Inglês. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1965. iv LOSS, Hartmut apud SCARDOVELLI, Eliane. Namoro germânico com o latim In Revista Língua Portuguesa. Ano I. n. 8. São Paulo: Segmento, 2006. p. 45 v Adstrato é um termo lingüístico que remete à situação de bilingüismo. Ou seja, o latim, na Grécia, por não possuir a mesma carga cultural do vizinho grego, conseguiu conviver concomitantemente nos territórios orientais, emprestando e influenciando lingüisticamente. vi Entenda-se aqui o termo România como os povos latinizados, ou seja, sob a alçada do Império Romano e consequentemente, do latim. vii ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1999. p.48 viii Op. Cit., p. 60 ix OLIVEIRA, Antônio Andrade de. O Ensino de Latim na História da Educação Luso-brasileira. 2004. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe. p. 99 x Como bem explícito em ‘O nome da Rosa (The Name of the Rose, ALE/FRA/ITA 1986). Jean Jacques Annaud. 130 min, Globo Vídeo’ xi DUBY apud BRAGANÇA, Álvaro Alfredo. Provérbios medievais em latim – o discurso da dominação. Hipertexto disponível em www.filologia.org.br/anais/anais_238.html. xii http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=236651. xiii WILLIAMS M.; BURDEN R.L. Psychology for Language Teachers. Cambridge. Cambridge University Press, 1997.

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xiv Apud HECKLER, Evaldo, et al. Estrutura das palavras: famílias, morfologia, análise, origem. São Leopoldo: UNISINOS, 1994. 416 p. p. 21 xv Vale a pena ler o artigo de VASCONCELLOS, P. S. A construção da imagem do professor de latim no cinema. Calíope (UFRJ), v. 17, p. 95, 2007 xvi http://iteslj.org/Techniques/Lingzhu-Listening.html, [tradução nossa]. xvii BUONAMASSA, Stefania. O ensino da Filologia Românica em Sergipe: algumas considerações teórico-metodológicas. Hipertexto em www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-08.html xviii Vide pesquisa sobre o ensino do latim em Portugal in TORRÃO, João Manuel. O ensino de latim: exigência ou sedução? Hipertexto disponível em www2.dlc.ua.pt/classicos/ensilodelatim.pdf