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Universidade Federal do Rio Grande – FURG Instituto de Letras e Artes Literatura do Rio Grande do Sul/2011 No rastro do Parthenon Literário Mauro Nicola Póvoas 1 O texto a seguir pretende contar um pouco da história dos periódicos, literários ou não, e, mais especificamente, centra-se na Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário. Para tanto, apresenta-se dividido em quatro partes, assim postas: 1) O periodismo literário em diferentes geografias: Europa, Brasil, Rio Grande do Sul; 2) A trajetória da Sociedade Partenon Literário e da sua Revista Mensal; 3) Seis poemas para o Partenon; 4) Bibliografia sobre o Partenon Literário. 1) O periodismo literário em diferentes geografias: Europa, Brasil, Rio Grande do Sul 2 O surgimento do periodismo em forma de revista fica configurado a partir das publicações Edinburgh Review, de 1802; Quarterly Review, de 1809; e Blackwood’s Magazine, de 1817, todas da 1 Dr. em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de Teoria da Literatura da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). 2 Muitas das informações aqui fornecidas foram colhidas do capítulo “De revistas, hebdomadários e magazines”, de MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista: imprensa e práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: EDUSP; FAPESP; Imprensa Oficial do Estado, 2001. p. 35-110.

No Rastro Do Partenon Literario

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Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Instituto de Letras e Artes

Literatura do Rio Grande do Sul/2011

No rastro do Parthenon Literário

Mauro Nicola Póvoas1

O texto a seguir pretende contar um pouco da história dos periódicos, literários ou

não, e, mais especificamente, centra-se na Revista Mensal da Sociedade Partenon

Literário. Para tanto, apresenta-se dividido em quatro partes, assim postas: 1) O periodismo

literário em diferentes geografias: Europa, Brasil, Rio Grande do Sul; 2) A trajetória da

Sociedade Partenon Literário e da sua Revista Mensal; 3) Seis poemas para o Partenon; 4)

Bibliografia sobre o Partenon Literário.

1) O periodismo literário em diferentes geografias: Europa, Brasil, Rio Grande

do Sul2

O surgimento do periodismo em forma de revista fica configurado a partir das

publicações Edinburgh Review, de 1802; Quarterly Review, de 1809; e Blackwood’s

Magazine, de 1817, todas da Grã-Bretanha. Publicações seqüenciais, todavia, não eram

mais novidade, já que edições periódicas em forma de jornal circulavam desde o século

XVII, sendo o inglês New Letters, que data aproximadamente de 1638, aquele que detém a

primazia de ser o primeiro jornal. Entretanto, o pai do moderno periodismo cultural é o

francês Journal des Sçavans, mais tarde Journal des Savans, semanário que circulou em

Paris de 1665 a 1795.

Esse jornal literário pioneiro já trazia em seu bojo duas características que marcam o

periodismo até hoje: abrangência temática, e caráter seriado e panorâmico. Porém, diferente

do jornal, diário, a revista atendia ao seu público, em termos de periodicidade, das mais 1 Dr. em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de Teoria da Literatura da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).2 Muitas das informações aqui fornecidas foram colhidas do capítulo “De revistas, hebdomadários e magazines”, de MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista: imprensa e práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: EDUSP; FAPESP; Imprensa Oficial do Estado, 2001. p. 35-110.

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diferentes maneiras: desde a circulação semanal até a anual, passando pela quinzenal,

mensal, trimestral e semestral. Por sua agilidade, os periódicos (que geralmente ancoravam-

se, em termos de suporte operacional, em torno de uma agremiação ou de um grupo3),

tornaram-se instrumentos correntes de informação, além de serem uma alternativa de

espaço a escritores, reconhecidos ou não, que viam nessas iniciativas a possibilidade de

divulgação rápida de idéias e posicionamentos.

Principalmente esse último tópico acentua-se a partir do século XIX, momento em

que a revista torna-se e, ao mesmo tempo, dita moda. Contam, para a sua disseminação, o

avanço técnico das gráficas, o aumento da população leitora e o alto custo do livro. Na

verdade, a revista se tornou uma intermediária entre o livro e o jornal, trazendo em si um ar

de modernidade – poucas folhas, presença de ilustrações, agilidade no trato das

informações. Tanto apreço do público fez com que houvesse uma diversificação na oferta

dos títulos, surgindo diferentes tipos de impressos: a revista ilustrada, o magazine

(acentuava a ilustração e trazia com destaque a publicidade, potencializando as

características comerciais do gênero), o hebdomadário (acelerava a periodicidade das

revistas, sendo semanal). Todavia, em todos os tipos, há a recorrência do caráter periódico,

descontínuo e fragmentário do gênero.

O livro, mais sólido, tem maior durabilidade, seja por seu conteúdo – a revista

possui uma diversidade temática que pode levá-la a ser encarada de modo mais superficial

–, seja pela materialidade que o envolve – capa e folhas de maior qualidade, volume de

páginas. A revista pode ser jogada fora ou ser abandonada, esquecida, sem maiores

constrangimentos, até porque a característica periódica reveste-a de um caráter efêmero,

ausente no livro. Por outro lado, o fato de ser uma publicação datada confere-lhe um forte

traço documental, permitindo reconstituir uma época por meio de suas páginas. Distingue-

se a revista do livro, ainda, por ser a primeira derivada da associação dos esforços de um

grupo, enquanto o segundo é obra, quase sempre, de um autor individual.

Já a diferença entre revista e jornal torna-se mais rarefeita, pois no formato eles se

assemelham muito, sobretudo quando as revistas, no século XIX, apresentam-se com suas

folhas soltas. Graficamente, a presença da capa é o indicativo de que se está diante de uma

3 Neste sentido, o Partenon Literário seguia à risca esse costume, já que a Revista Mensal era o órgão divulgador das idéias da agremiação.

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revista, e não de um jornal. Um outro aspecto que pode ser levado em conta é a

periodicidade mais espaçada da primeira4.

Espelho da rapidez e do tumulto da vida moderna, a revista (ou jornais, pois havia

certa confusão na denominação dos ditos) torna-se publicação emblemática na Europa,

modismo logo transplantado para o Brasil. Assim, no início do século XIX surgem

inúmeras, a princípio impressas fora do Brasil, já que havia uma proibição, por parte da

Coroa portuguesa, em relação à existência de tipografias em território brasileiro. Dessa

maneira, o primeiro periódico brasileiro, Correio Brasiliense – Armazém Literário foi

editado em Londres. Circulando mensalmente entre junho de 1808 e dezembro de 1822,

num total de 175 números, era dirigido pelo brasileiro Hipólito José da Costa.

Com a independência do Brasil, começam a surgir os periódicos impressos no País.

A Revista da Sociedade Filomática, iniciativa da Faculdade de Direito de São Paulo, tem a

primazia de se intitular a primeira do Brasil independente, circulando no ano de 1833, de

junho a dezembro5. Editada pelos bacharéis Carlos Carneiro Campos, Francisco Bernardino

Ribeiro e José Inácio Silveira da Mota, a revista equilibrava-se entre a aspiração à

novidade, embutida no projeto nacionalista-romântico, e a não-rejeição aos cânones do

Classicismo, dualidade típica de uma época em que a transição para o Romantismo

começava a se delinear no Brasil. José Aderaldo Castello diz que a Filomática

É o marco inicial de um movimento de sociedades culturais e

de revistas que traduziriam muito bem a efervescência

4 A Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário atende três requisitos que permitem sua classificação como revista: o próprio título, a periodicidade mensal e a presença da capa.5 Como se disse acima, a Revista da Sociedade Filomática é a primeira revista do Brasil independente. Helio Vianna aponta, sem medo de errar, que o primeiro periódico literário brasileiro foi As Variedades ou Ensaios Literários, da Bahia, editado por Diogo Soares da Silva de Bivar, do qual se extraíram, em 1812, três números, em dois volumes: “A revista As Variedades foi, pois, a primeira publicação periódica de caráter literário aparecida no Brasil, porquanto precedeu de quase um ano a O Patriota, jornal literário, político e mercantil do Rio de Janeiro, ao qual se tem arrogado este título, mas que só começou a sair em janeiro de 1813”. VIANNA, Helio. Contribuição à história da imprensa brasileira: 1812-1869. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945. p. 15. Hélio Lopes, em A divisão das águas: contribuição ao estudo das revistas românticas Minerva Brasiliense (1843-1845) e Guanabara (1849-1856). São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978. p. 9, reitera a primazia das Variedades; no entanto, para Lopes, mais importância teve O Patriota (1813-1814), que saía da Imprensa Régia, do Rio de Janeiro: “Ele inicia entre nós a revista de cultura”. Os dois, entretanto, são pré-1822. O capítulo 2 do livro de Hélio Lopes, “A tradição das revistas”, p. 9-73, lista e comenta as principais revistas literárias que surgiram na primeira metade do século XIX no País. Também José Aderaldo Castello diz ser As Variedades o detentor da primazia. CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade (1500-1960). São Paulo: EDUSP, 1999. v. 1. p. 166-168. Nessas páginas, arrolam-se os primeiros periódicos de feição literária do Brasil.

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literária, crítica e criadora daquela instituição [Faculdade de

Direito de São Paulo], principalmente durante o século XIX.6

A essas pioneiras manifestações no campo do periodismo brasileiro, seguiram-se

outros empreendimentos do gênero, como Niterói, Revista Brasiliense, lançada em 1836,

em Paris. Apesar de durar apenas dois números, contou em suas páginas com alguns dos

principais intelectuais brasileiros da época, como Gonçalves de Magalhães, Manuel de

Araújo Porto Alegre e Sales Torres Homem. A revista reveste-se de importância por surgir

no mesmo ano de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, considerado o

marco do início do Romantismo no Brasil:

A relevância histórica reside no fato de Magalhães não ter

operado sozinho como imitador de Lamartine e Manzoni, mas

de ter produzido junto a um grupo, visando a uma reforma da

literatura brasileira. Fundando em Paris a Niterói, Revista

Brasiliense (1836) com seus amigos Porto Alegre, Sales

Torres Homem e Pereira da Silva, o autor dos Suspiros

poéticos promoveu de modo sistemático os seus ideais

românticos (nacionalismo mais religiosidade) e o repúdio aos

padrões clássicos externos, no caso, ao emprego da mitologia

pagã.7

A independência e a conseqüente liberação da impressão em terras brasileiras

permitem o aparecimento dos mais diversos tipos de magazines, desde aquelas dedicadas à

ilustração, ao humor e à mofa, como o Diabo Coxo (1864) e o Cabrião (1866), ambas

dirigidas pelo italiano Angelo Agostini, até a Revista Brasileira – Jornal de Ciências,

Letras e Artes, que passou por várias fases, a primeira correspondendo ao ano de 1855, e

estendendo-se até os nossos dias, e que se destacou pela publicação de textos de autores

renomados, como Machado de Assis, Sílvio Romero e Sacramento Blake. Apesar do

levantamento da interdição em relação às tipografias, revistas dirigidas ao público brasileiro

continuaram sendo impressas no estrangeiro, como O Novo Mundo, Periódico Ilustrado do

Progresso da Idade, de 1870, impressa nos Estados Unidos, mais especificamente em Nova

6 CASTELLO, José Aderaldo. Op. cit. nota n. 5. p. 178.7 BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1993. p. 107.

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York, e Revista Moderna, de 1897, editada em Paris, uma das primeiras a vislumbrarem o

periodismo como um negócio.

Outros tantos títulos poderiam ser destacados no periodismo literário e cultural

brasileiro, como a Revue des Deux Mondes (1831-até os dias de hoje), que, apesar de

francesa, sempre circulou com desenvoltura no mercado brasileiro, principalmente no

tempo do Império; Minerva Brasiliense (1843-1845); Guanabara (1849-1856); A Estação

(1872-1878), revista voltada ao público feminino, que tinha, entre seus colaboradores,

Machado de Assis; Kosmos (1904-1909); O Pirralho (1911-1918); a longeva Revista do

Brasil (1ª fase, 1916 a 1925; 2ª fase, 1926 a 1927; 3ª fase, 1938 a 1943; 4ª fase, 1944; 5ª

fase, 1984 a 1990); as modernistas Klaxon (1922-1923), Revista de Antropofagia (1928-

1929) e Terra Roxa... E Outras Terras (1926). Passada a febre restauradora do

Modernismo, surgem publicações como Verde (1927-1929); Festa (1ª fase, 1927-1928; 2ª

fase, 1934-1935); Arco & Flexa (1928-1929); Revista Nova (1931-1932); Clima (1941-

1943).

A partir da década de 1960, quaisquer tentativas de levar adiante um projeto de

revista voltada ao pensamento e à discussão da arte em geral eram censuradas, como

aconteceu com Revista Brasiliense (1955-1964); Revista Civilização Brasileira (1965-

1968); Paz e Terra (1966-1969); Argumento (1973)8. Atualmente, dão continuidade ao

periodismo cultural-literário brasileiro empreendimentos como Bravo e Cult, ambos

surgidos no ano de 1997, e Entrelivros, de 2005, com abundância de cores e fotos e um

grafismo bem mais apurado do que as coetâneas das décadas e séculos anteriores.

Mais especificamente no Rio Grande do Sul, a historiografia da imprensa gaúcha

pode ser dividida, conforme o livro Breve histórico da imprensa sul-rio-grandense9, em

três períodos: 1) fase inicial, que corresponde aos periódicos que circularam de 1827 (data

do surgimento do primeiro jornal do Sul do País, Diário de Porto Alegre) até 1845, ano do

término da Revolução Farroupilha; 2) fase de consolidação, que se subdivide em três itens,

todos eles demarcados pelo aparecimento de jornais importantes para o Rio Grande do Sul:

o primeiro, vai de 1845 a 1869, ano em que surge A Reforma; o segundo, de 1869 a 1884,

8 Para um painel das revistas culturais do Brasil, do século XIX aos dias de hoje, v. A REVISTA no Brasil. São Paulo: Abril, 2000. p. 110-121.9 SILVA, Jandira M. M. da; CLEMENTE, Ir. Elvo; BARBOSA, Eni. Breve histórico da imprensa sul-rio-grandense. Porto Alegre: Corag, 1986. p. 15-16.

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ano em que sobrevém A Federação; o terceiro, de 1884 a 1895, ano em que se funda o

Correio do Povo; 3) fase moderna, que se estende de 1895 até nossos dias.

Os primórdios da imprensa gaúcha, como de resto de toda a imprensa brasileira,

devem seus primeiros passos à insatisfação política com o regime monárquico. Mais ou

menos em todas as províncias do Império começam a surgir jornais, com semelhanças nas

características e até na denominação, pregando uma maior liberdade de ações e uma menor

carga tributária. A impaciência com os rumos que o País tomava não se restringia apenas ao

espocar de jornais os mais diversos, a fim de dar vazão à incorformidade crescente:

agitações políticas estouram por todo o território brasileiro, como a Cabanagem, no Pará

(1831-1836); a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul (1835-1845); a Sabinada, na

Bahia (1837-1838); e a Balaiada, no Maranhão (1838-1841).

Se num momento inicial as publicações seriadas gaúchas têm um caráter

denunciatório e/ou informativo, sem uma maior preocupação com a questão cultural, é no

primeiro período da segunda fase do quadro proposto que aparece aquela que se pode

denominar como a folha pioneira no trato mais específico com a literatura: O Guaíba –

Periódico semanal, literário e recreativo, que circulou durante dois anos e meio, em Porto

Alegre, de 3 de agosto de 1856 a 26 de dezembro de 1858, sempre sob a direção de Carlos

Jansen. Publicava poemas e contos, de autores estrangeiros e também de nativos (como

Félix da Cunha, Rita Barém de Melo e Pedro Antônio de Miranda, por exemplo), além de

artigos de teor variado, que tratavam de temas como a educação feminina, a instrução

pública, a imigração européia, o Cristianismo e a erva-mate. A partir daí, seguem-se

diversas outras empresas semelhantes, divulgando as letras da e na terra rio-grandense10.

Na verdade, os inúmeros conflitos, internos e externos, pelos quais a Província

passou, aliados ao pouco desenvolvimento dos centros urbanos, devido à força do campo na

economia, atrasaram o surgimento de manifestações significativas nos campos artístico e

literário no Rio Grande do Sul, não permitindo uma maior expansão cultural e a formação

de um mercado consumidor de literatura, com autores, editores e leitores. Junto a esses,

outros fatores contribuíram para a inércia cultural: a falta de escolas e instrutores

adequados, acarretando a falta de um público leitor; a tardia integração da Província ao

10 Para um detalhamento dos jornais que surgiram em solo gaúcho, v. SCHNEIDER, Edgar Luiz. Imprensa sul-rio-grandense nos séculos XIX e XX. In: BARRETO, Abeillard et al. Fundamentos da cultura rio-grandense. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul, 1962. 5ª série. p. 81-101.

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território nacional, devido ao constante envolvimento da região em conflitos armados,

determinados pelos mais diversos motivos (delimitação de fronteiras, crises econômicas,

luta pela independência); a preocupação em primeiro consolidar a posição do Estado em

outros níveis – econômicos e políticos, principalmente; e o atraso no desenvolvimento da

imprensa em solo gaúcho (como de resto em toda a Colônia, em decorrência da proibição

da existência de prelos em território brasileiro), sendo o primeiro jornal sul-rio-grandense, o

Diário de Porto Alegre, de 182711.

Por causa desse quadro até certo ponto desalentador – que só começa a ser alterado

a partir da definitiva incorporação da Província sulina ao Brasil com o fim da Revolução

Farroupilha –, a divulgação da literatura do Rio Grande do Sul no século XIX ocorreu, em

especial entre as décadas de 1850 e 1880, por meio da difusão de poemas e contos, em

revistas e jornais. A imprensa, então, tornou-se a base do surgimento e do desenvolvimento

de uma geração de escritores, inicialmente cingidos ao Romantismo, que deu forma a

dezenas de folhas literárias espalhadas pelas mais diversas cidades sulinas.

A Sociedade Partenon Literário foi a agremiação que publicou o mais conhecido e

importante dos periódicos, a Revista Mensal (1869-1879), tornando-se o verdadeiro marco

iniciador da literatura do Rio Grande do Sul pelo alcance de seus textos em todo território

gaúcho, até porque a revista distribuía-se, por meio de agentes, a cidades como Rio Grande,

Pelotas, São Gabriel, Cachoeira do Sul e Rio Pardo, entre outras. Além de ser uma eficaz

divulgadora da literatura e da cultura regional, com uma criação artística caracterizada pelo

nacionalismo/regionalismo, pela idealização do amor e pelos temas evasionistas (exaltação

da morte, retorno à infância etc.), marcas do ideário romântico na qual a sociedade

partenonista estava inserida, a agremiação também abria suas páginas para gêneros como o

teatro, a crônica e a crítica, e para temas como o fim do regime imperial, a abolição da

11 Se não se esboçava um mercado mais amplo para a literatura escrita, evidente que havia a forte presença da literatura oral, que não era em absoluto prejudicada pela guerra, conforme deixa claro Carlos Dante de Moraes: “Poder-se-á justificar essa debilidade [da literatura rio-grandense], alegando o predomínio tirânico, absorvente, das atividades guerreiras e políticas? Não o acreditamos. Em 35, o vórtice dos acontecimentos não impede que apareçam numerosos poetas. Ao contrário, o culto dos heróis farroupilhas lhes acende a inspiração épica”. V. MORAES, Carlos Dante de. Condições histórico-sociais da literatura rio-grandense (esquema). In: _____. Figuras e ciclos da história rio-grandense. Porto Alegre: Globo, 1959. p. 182.Sobre o atraso da formação cultural do Rio Grande do Sul, v. SILVEIRA, Carmen Consuelo; BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. O Partenon Literário: imprensa e sociedade literária. In: ZILBERMAN, Regina; SILVEIRA, Carmen Consuelo; BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. O Partenon Literário: poesia e prosa. Porto Alegre: EST; Instituto Cultural Português, 1980. p. 16-17; e ZILBERMAN, Regina. A literatura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992. p. 12-13.

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escravatura e a defesa dos direitos das mulheres, denotando a preocupação social de seus

quadros.

Evidente que anteriormente o Rio Grande do Sul havia registrado manifestações

literárias, mas, como eram esparsas, não chegaram a repercutir junto aos leitores de uma

forma mais acentuada. Exemplos de expressões no campo das letras que assinalam este

período são os Versos heróicos (1823), de Maria Clemência da Silveira Sampaio – a

primeira obra literária impressa por um autor sul-rio-grandense12; as Poesias oferecidas às

senhoras rio-grandenses (1834), de Delfina Benigna da Cunha; os romances A divina

pastora (1847) e O corsário (1851), de José Antônio do Vale Caldre e Fião; e os

semanários O Guaíba, de Porto Alegre, periódico literário pioneiro no Rio Grande do Sul,

que circulou, como já visto, de 1856 a 1858, tendo como editor responsável Carlos Jansen,

e Arcádia, editado em Rio Grande e após em Pelotas, que circulou de 1867 a 1870, sob a

direção de Antônio Joaquim Dias. A Arcádia estampou em suas páginas artigos, contos e

poesias de vários colaboradores que, um pouco mais tarde, viriam a participar ativamente

ao longo da existência do grêmio literário do Partenon. Antes ainda do aparecimento dessas

iniciativas, a literatura na Província limitava-se ao registro oral, por meio de trovas e lendas

que posteriormente foram coligidas em cancioneiros por Apolinário Porto Alegre, Carlos

von Koseritz, Cezimbra Jacques, Graciano de Azambuja, Alfredo Ferreira Rodrigues, João

Simões Lopes Neto, Múcio Teixeira, Pedro Luís Osório, Walter Spalding, Contreiras

Rodrigues e Augusto Meyer13.

Em outras palavras, anteriormente ao Partenon não existia um conjunto de

produtores literários conscientes de seu papel, nem tampouco havia um conjunto de

receptores, formando diferentes tipos de público – faltava a constituição efetiva de um

sistema literário14. Sendo assim, o que aconteciam eram manifestações literárias esparsas,

que não se davam em decorrência de uma rede de relações, mas do esforço pessoal de

12 Essa obra é a prova do pouco conhecimento do que era produzido no Rio Grande do Sul em termos de literatura culta, na primeira metade do século XIX. Apesar de ser efetivamente o primeiro livro editado por autor gaúcho, em 1823, e não o de Delfina Benigna da Cunha, como a historiografia marcou ao longo dos anos, os Versos heróicos, de Maria Clemência da Silveira, viviam quase no anonimato, até o aparecimento de reedição organizada por Maria Eunice Moreira. V. SAMPAIO, Maria Clemência da Silveira. Uma voz ao sul: os versos de Maria Clemência da Silveira Sampaio. Florianópolis: Mulheres, 2003.13 Sobre os cancioneiros, v. CESAR, Guilhermino. História da literatura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1971. p. 43-49.14 CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. v. 1. São Paulo: Martins, 1959. p. 17-19.

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algum abnegado ou da sorte do escritor em vir a ser subvencionado pelo poder público. A

consolidação de um sistema literário, só vai acontecer, no Rio Grande do Sul, a partir do

surgimento das revistas literárias, que incentivam o nascimento de um público leitor na

Capital e nas principais cidades do Interior.

Efetivamente, é com o grupo partenonista que a literatura do Rio Grande do Sul

escapa da letargia e vai além das tentativas individuais, organizando um “sistema complexo

de intercâmbio de idéias e produções literárias” e cristalizando uma “cultura com

características próprias”15. Esse fortalecimento das instituições literárias, que se concretiza

a partir do Partenon, consolida-se ao longo do último quartel do século XIX,

desembocando, após, no florescimento de um mercado livreiro forte no século XX, com

editoras, gráficas, bom público consumidor de literatura e uma quantidade considerável de

grandes escritores, que ultrapassam as fronteiras estaduais e até nacionais, ampliando

substancialmente os possíveis leitores de suas obras.

Após o surgimento do Partenon Literário, outros periódicos sobrevieram nas

principais cidades sul-rio-grandenses. A Capital, especialmente, foi fértil terreno para o

florescimento de, entre 1869 e 1879 (anos de circulação da Revista Mensal), nada menos do

que quatorze periódicos que priorizavam a matéria literária16, atestando a vitalidade e a

movimentação do período. Entre as folhas nascidas após o Partenon, destacam-se a

Murmúrios do Guaíba e a Ensaios Literários, ambas com propostas e colaboradores

semelhantes ao mensário do grupo partenonista.

Desaparecendo a Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, marco balizador

da literatura sul-rio-grandense, torna-se a principal publicação gaúcha, em termos de

duração, o Corimbo (1883-1943) – editado em Rio Grande e dirigido pelas irmãs Revocata

Heloísa de Melo e Julieta de Melo Monteiro –, que se consolida como um divulgador da

literatura produzida não só do Estado sulino como do Brasil. Outras publicações seriadas

relacionadas ao campo literário são o Anuário da Província do Rio Grande do Sul (1885-

1914; a partir de 1892, Anuário do Estado...), editado em Porto Alegre por Graciano A. de

Azambuja, primeiramente, e Alcides Cruz, num segundo momento, e o Almanaque

Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul (1889-1917), editado de início em Pelotas,

15 ZILBERMAN, Regina. A literatura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992. p. 13.16 V. FERREIRA, Athos Damasceno. Imprensa literária de Porto Alegre no século XIX. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1975. Entre as páginas 64 e 116, Damasceno Ferreira tece comentários sobre as quatorze revistas literárias do período.

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depois em Rio Grande, por Alfredo Ferreira Rodrigues; ambos, em meio a artigos de

variada espécie, reservavam grandes espaços à literatura.

Se O Guaíba, por um lado, surge quando o Romantismo começa a dar os primeiros

passos na Província mais meridional do Brasil, e a Revista Mensal do Partenon enraíza o

movimento romântico por aqui, o Corimbo, por sua vez, marca a gradativa perda de força

do Romantismo no Estado. Os textos produzidos no centro do País já vinham, desde 1870,

apresentando, aos poucos, indícios dos novos rumos no pensamento humano –

Evolucionismo, Positivismo, Cientificismo –, que vão desaguar em estéticas que se

contrapõem à visão de mundo exposta pelo Romantismo: o Realismo, o Naturalismo, o

Parnasianismo.

No Rio Grande do Sul, Guilhermino Cesar aponta o desvanecimento do

Romantismo e o conseqüente surgimento do Parnasianismo em 1884, ano da publicação de

Opalas, de Fontoura Xavier, autor que, junto a Aquiles Porto Alegre e Damasceno Vieira,

destacou-se no novo quadro literário que se desenhava:

O quinto período (1884-1902) é o do abandono paulatino do

ideário romântico, com a adoção de formas mais vizinhas do

Realismo. O Parnasianismo tem nas Opalas, de Fontoura

Xavier, e nas Iluminuras, de Aquiles Porto Alegre, a sua

manifestação inaugural, enquanto os ensaios de prosa realista,

anteriores a 1884, se repetem com autores mais afirmativos.17

O fato de as datas de surgimento do Corimbo (1883) e do movimento parnasiano no

Rio Grande do Sul (1884) serem praticamente simultâneas, além de dois dos principais

nomes do Parnasianismo sulino (Aquiles Porto Alegre e Damasceno Vieira) se fazerem

presentes na revista rio-grandina, já bastaria para enquadrar a produção literária do

periódico comandado pelas irmãs Melo entre aquela advogada pelos novos rumos

“científicos” que a literatura assumia. O tempo, entretanto, era de transição, e a mescla de

estilos destacava-se no Corimbo, não havendo a concentração de nenhuma escola em

especial. Muito pelo contrário, o ecletismo da revista fica patente, até porque ao longo de

sua duração ela atravessou pelo menos três períodos históricos da literatura apontados por

Guilhermino Cesar18: o quinto, de 1884 a 1902, que marca o começo do Parnasianismo; o

17 CESAR, Guilhermino. Op. cit. nota n. 13. p. 19.18 Id. p. 18.

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Page 11: No Rastro Do Partenon Literario

sexto, de 1902 a 1925, que se destaca pelo Simbolismo de Marcelo Gama, pelo neo-

regionalismo de João Simões Lopes Neto e pelo primeiros indícios do Modernismo; e o

sétimo, de 1925 até os nossos dias, que traz em seu bojo Erico Verissimo e Dyonelio

Machado, nomes lapidares da encruzilhada em que se colocam os escritores sul-rio-

grandenses, divididos entre a opção do romance urbano e universalista ou o retorno ao

regionalismo, agora com tintas de revisão crítica.

Todas as nuances das transformações estéticas na literatura do Rio Grande do Sul, a

partir de 1880, podem ser detectadas no Corimbo, que, devido a seu extenso período de

circulação, abarcou as mais diversas influências, manifestações e escritores. No entanto, o

periódico, a par de estar aberto a essa gama de correntes, ainda apresentaria resquícios do

Romantismo em seus textos, numa convivência que se faria sentir por muito tempo.

Já no século XX, entre várias publicações, destacam-se, pela importância, as

revistas literárias da editora Globo – a Revista do Globo (1929-1967) e a Província de São

Pedro (1945-1957) –; a revista Quixote (1947-1952), divulgadora das idéias do grupo

homônimo; e a revista Horizonte (1949-1956), que dividia seu espaço entre a literatura e o

comunismo. Podem-se salientar, ainda, revistas de instituições ligadas às letras: Revista da

Academia Rio-Grandense de Letras (1910 até os dias de hoje, passando por vários nomes e

fases); Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, que circula desde

1921, reservando significativo número de páginas à literatura, em especial ao Partenon;

Atenéia (1949-1972) e Presença Literária (a partir de 1986), ambas da Academia Literária

Feminina do Rio Grande do Sul.

Recentemente, destacam-se as revistas acadêmicas editadas pelos cursos de Letras

das mais diversas universidades gaúchas; a Porto & Vírgula (1990), revista publicada pela

Secretaria Municipal da Cultura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; a Blau (1994),

editada pelo contista Walmor Santos, surgida primeiro sob a forma de jornal para depois

adquirir um formato de revista; a Continente Sul Sur (1996), publicada pelo Instituto

Estadual do Livro (IEL); a Aplauso (1998), que reserva igual espaço a todas as

manifestações artísticas, a literatura entre elas; e a Vox (2000), revista do IEL e da

Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (CORAG). Dessas, Continente Sul Sur e Vox

estão, atualmente, com sua circulação suspensa.

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Page 12: No Rastro Do Partenon Literario

Dessa maneira, registra-se o quanto a Revista Mensal da Sociedade Partenon

Literário insere-se numa longa linhagem de periódicos que auxiliaram na fixação e na

feição da literatura em território sulino, através da formação de um público leitor e da

divulgação de escritores, renomados ou não. A par dessa rica configuração, seja no nível

nacional, seja no regional, o periodismo nunca mereceu um espaço privilegiado na

historiografia literária brasileira. Nas histórias da literatura nacionais, os periódicos sempre

se destacaram por uma característica: a ausência. No momento de analisarem os diversos

períodos pelos quais a literatura do Brasil atravessou, os autores das histórias literárias

pouco valorizaram a importância dos periódicos: os poemas, romances, contos e peças de

teatro comentados são, em sua maioria, aqueles que receberam como suporte o formato

livro19.

O único historiador da literatura brasileira que dá um grande espaço ao periodismo

literário é José Aderaldo Castello, nos dois volumes de sua A literatura brasileira: origens

e unidade20, inclusive ilustrando sua publicação com inúmeras fotos de revistas e dedicando

vários capítulos à discussão e ao arrolamento de periódicos dos mais diversos pontos do

País. Não à-toa que Castello, através do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da

Universidade de São Paulo (USP), incentivou toda uma geração de pesquisadores que se

dedicou, a partir da década de 1970, a uma série de estudos, tematizando os mais diversos

periódicos brasileiros: Minerva Brasiliense, Guanabara, A Semana, Revista Brasileira,

Rosa Cruz, Nova Cruzada, Kosmos, Klaxon, Terra Roxa, Festa, Verde, Revista de

Antropofagia, Arco & Flexa, Movimento Brasileiro, Lanterna Verde e Clima21.

Se inicialmente a USP destacou-se como uma impulsionadora na produção de textos

sobre as relações entre imprensa e literatura, após, outros pólos surgiram, nas mais diversas

regiões do Brasil: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS);

19 No Rio Grande do Sul, ao contrário, as histórias da literatura sempre priorizaram o periodismo, talvez porque a Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário tenha sido primordial no pleno desenvolvimento das letras em solo gaúcho. Veja-se, por exemplo, a história de Guilhermino Cesar.20 CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade (1500-1960). São Paulo: EDUSP, 1999. 2 v. Sobre periódicos, ver: no v. 1, p. 166-168, sobre os primeiros periódicos literários brasileiros; p. 177-184, sobre a ação decisiva dos periódicos na Romantismo; p. 341-342 e 357-362, sobre os grupos e revistas simbolistas; no v. 2, p. 50-57, sobre a Revista do Brasil; p. 73-92, sobre grupos e revistas modernistas; p. 172-180, sobre o grupo reunido em torno da revista Festa; p. 411-426, sobre grupos e revistas surgidos a partir de década de 1940.21 SILVA, Margaret Abdulmassih Wood da. O projeto de estudos de periódicos do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 21, p. 117-122, 1979.

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Page 13: No Rastro Do Partenon Literario

Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Universidade Federal de Pelotas

(UFPel); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Universidade Estadual Paulista

(UNESP), campus de Assis; Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além destes centros

mais definidos, observa-se que em todas as faculdades de Letras do País há, em menor ou

maior grau, estudos que de uma maneira ou outra se reportam à matéria presente nas

páginas dos mais variados periódicos. Muitos desses estudos acadêmicos – projetos, teses,

dissertações – originaram livros, que, aos poucos, formam uma bibliografia sobre o assunto.

2) A trajetória da Sociedade Partenon Literário e da sua Revista Mensal

Embora desaparecida no último quartel do século XIX, a recepção à Revista Mensal

da Sociedade Partenon Literário, órgão da associação homônima, e aos seus principais

componentes, ao longo do século XX, foi sempre constante, por meio de revisões

periódicas e republicações de material proveniente das páginas da folha, abarcando

monografias, dissertações, teses, livros, artigos e comunicações em seminários. A prosa, a

poesia e o teatro da sociedade já freqüentaram variados estudos, os quais abordam tópicos

como o temário romântico, o biografismo, a política, a questão da mulher, entre outros.

Mesmo no século XXI, livros a respeito do Partenon continuam vindo a lume22, o que prova

o contínuo interesse dos pesquisadores, ligados a universidades ou não, pelo assunto. Sendo

assim, pode-se dizer que das revistas literárias do século XIX, a do Partenon Literário é a

que está canonizada, representando todas as suas coetâneas23.

O periódico circulou durante dez anos, com interrupções, num total de setenta

edições (ou setenta e um números)24, em quatro séries, ostentando diversos nomes25:

22 Cf., por exemplo, MOREIRA, Maria Eunice (Coord.). Narradores do Partenon Literário. Porto Alegre: IEL; CORAG, 2002; e SALDANHA, Benedito. A mocidade do Parthenon Litterário. Porto Alegre: Alcance, 2003.23 Um exemplo da representatividade da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, afora o fato de ela ter um percurso crítico maior do que qualquer outro periódico sul-rio-grandense do século XIX, está na inclusão do periódico partenonista na seção “Linha do tempo” do livro A revista no Brasil. A dita seção relaciona as principais revistas surgidas no Brasil a cada cinco anos, com o Partenon Literário comparecendo no qüinqüênio de 1865-1870. V. Op. cit. nota n. 8. p. 233.24 O único índice disponível da matéria da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, que possibilita uma visão panorâmica dos textos e autores que escreveram no mensário, a par algumas falhas e omissões, encontra-se em VILLAS-BÔAS, Pedro Leite. Síntese histórica e índice geral da Revista do Partenon Literário. In: HESSEL, Lothar F. et al. O Partenon Literário e sua obra. Porto Alegre: Flama; IEL, 1976. p. 87-109.25 Apesar das diversas denominações, adota-se, aqui, genericamente, Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, por ser o primeiro nome que o periódico ostentou.

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Page 14: No Rastro Do Partenon Literario

- 1ª série: de março a dezembro de 1869, circulação mensal, num total de dez

edições, com o nome de Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário;

- 2ª série: de julho de 1872 a maio de 1876, circulação mensal, num total de

quarenta e sete edições, com os nomes de Revista Mensal da Sociedade

Partenon Literário (1872 e 1873) e Revista do Partenon Literário (1874 a

1876);

- 3ª série: de agosto a dezembro de 1877, circulação quinzenal até outubro, e

mensal em novembro e dezembro, num total de oito edições, com o nome de

Revista do Partenon Literário26;

- 4ª série: de abril a setembro de 1879, circulação mensal, num total de cinco

edições27, com o nome de Revista Contemporânea do Partenon Literário,

Consagrada às Letras, Ciências e Artes.

Há dúvidas quanto a um hipotético número de janeiro de 1878, que daria

continuidade à 3ª série, mas essa edição nunca foi encontrada. Álvaro Porto Alegre, filho de

Apolinário Porto Alegre, em seu livro Partenon Literário: ensaio lítero-histórico, é quem se

refere à questão:

E isto o digo, por haver reaparecido a revista em agosto de

1877, prosseguindo até dezembro, cujo único exemplar que

conheço do ano seguinte é o de janeiro de 1878, já sem o

encanto das de anos precedentes, o mesmo se notando nas de

1877.28

A numeração ordenou-se de diversas maneiras ao longo dos anos. Em 1869 e 1872,

cada mês da revista começava da página 1. A partir de 1873, a paginação tornou-se

contínua em determinados períodos, sem interromper a seqüência numérica a cada edição,

da maneira como se segue:

- de janeiro de 1873 a junho de 1874: p. 1 a p. 830;

- de julho a dezembro de 1874: p. 1 a 278;

26 Na capa, nos oito números de 1877, aparece sempre Revista do Partenon Literário; entretanto, no interior das edições, na parte superior das páginas, constava, nos números de 1 a 6, Revista Quinzenal do Partenon Literário, e nos números 7 e 8, Revista Mensal do Partenon Literário.27 São cinco edições, e não seis, porque houve uma edição dupla, a de julho/agosto, reunindo os números quatro e cinco.28 PORTO ALEGRE, Álvaro. Partenon Literário: ensaio lítero-histórico. Porto Alegre: Thurmann, 1962. p. 37.

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Page 15: No Rastro Do Partenon Literario

- de janeiro a junho de 1875: p. 1 a p. 270;

- de julho a dezembro de 1875: p. 1 a p. 278;

- de janeiro a maio de 1876: p. 1 a p. 237;

- de agosto a dezembro de 1877: p. 1 a p. 238;

- de abril a setembro de 1879: p. 1 a p. 330.

A agremiação, na verdade, fundou-se meses antes do primeiro número da revista,

em 18 de junho de 1868, momento difícil da vida brasileira, em plena Guerra do Paraguai, e

encerrou suas atividades, provavelmente, em 188629, última data que registra uma

referência a alguma atividade relacionada ao Partenon Literário. Sua dissolução se deu por

motivos até hoje pouco explicados, sendo que dificuldades econômicas, dissidências

internas, divergências ideológico-religiosas, a indiferença de muitos dos contemporâneos e

o efeito da dispersão dos seus membros, parecem ter contribuído para tanto30.

A extinção da sociedade representou, para João Pinto da Silva, um retorno a um

marasmo literário do qual Porto Alegre até aquele momento (1924) ainda não tinha

conseguido se desvencilhar, já que

29 V., a propósito: TILL, E. Rodrigues. Contribuição à história do Partenon Literário. In: HESSEL, Lothar F. et al. Op. cit. nota. 24. p. 186-187. No artigo de Till, é reproduzido um edital, lançado a fim de selecionar projetos para a edificação da sede do Partenon Literário, datado de 9 de janeiro de 1886, publicado no jornal A Federação e assinado por Carlos da Gama Lobo d’Eça, 2º secretário da entidade. Em geral, o ano que a crítica marca como o do fim da Sociedade Partenon Literário é 1885. Mesmo assim, vez por outra, há referências desencontradas sobre o fim da entidade. Artigo do Correio do Povo afirma que ela existiu “seguramente até as vésperas da Revolução de 1893, quando praticamente se extinguiu”. Ainda o mesmo jornal assinala que, em 1902, um grupo, entre os quais se encontravam Múcio Teixeira, Benjamim Flores, Carlos Gama Lobo d’Eça, Olinto de Oliveira, João Simões Lopes Neto e Alcides Maya, tentou reviver a sociedade, sem sucesso, esbarrando na extrema rarefação do meio literário do momento. V. O QUE foi e o que fez o Partenon. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 6, 17 jun. 1948. Moysés Vellinho, em artigo publicado no volume que reuniu as conferências pronunciadas no 1º Seminário de Estudos Gaúchos, realizado de 3 de setembro a 4 de outubro de 1957, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, acrescenta dados à questão polêmica do fim do Partenon Literário: em 1888, a sociedade era um fantasma do que fora; às vésperas da Revolução de 1893, consta que houve uma tentativa de reerguimento; em 1902, afinal, um grupo de escritores, liderados por Alcides Maya, tentou uma ressurreição, também sem sucesso. V. VELLINHO, Moysés. O Partenon Literário. PRIMEIRO Seminário de Estudos Gaúchos. Porto Alegre: PUCRS, 1958. p. 25.30 Um grupo de intelectuais – professores, jornalistas, advogados – recuperou, em Porto Alegre, no século XX, a Sociedade Partenon Literário, com o intuito de apoiar e incentivar a cultura sul-rio-grandense contemporânea, sob a presidência de Serafim de Lima Filho. A reunião oficial que deu início à nova agremiação realizou-se a 19 de julho de 1997, a partir de uma idéia que começou a ser cultivada ainda em 1996. A sessão inicial deu-se em sala do Partenon Tênis Clube; depois, as reuniões e palestras passaram a ocorrer no Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho, ambos os locais em Porto Alegre. Além de reuniões administrativas, o grupo realiza saraus poéticos, organiza almoços de confraternização, promove palestras, presta homenagens aos membros do Partenon Literário original e edita uma revista, até o momento com seis edições (1998, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005), a qual traz, principalmente, poesias e ensaios de associados.

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Page 16: No Rastro Do Partenon Literario

O Partenon simboliza, ao mesmo tempo, a fase de mais

intenso labor espiritual do Rio Grande do Sul e a mais bela e

numerosa conjugação de esforços literários de que há

memória, entre nós, senão em todo o sul do Brasil, do Rio de

Janeiro para baixo.31

Em palestra proferida em 18 de junho de 1948, em comemoração aos 80 anos do

Partenon Literário e em nome do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul,

Othelo Rosa amplia o que João Pinto da Silva tinha dito sobre o Partenon: Rosa considera a

associação partenonista “o maior movimento de idéias, de que há memória entre nós, do

Rio de Janeiro para baixo, como do Rio de Janeiro para cima”32, pelo idealismo – talvez a

grande marca do Partenon, na opinião de Rosa –, pela amplitude e variedade de propósitos,

pelo número de homens de letras que congregou e pela influência que exerceu, não só em

Porto Alegre, mas em toda Província.

Seu endereço inicial era na Sociedade Firmeza e Esperança, na rua de Bragança,

hoje Marechal Floriano, na quadra compreendida entre as atuais ruas Riachuelo e Salgado

Filho, em Porto Alegre. Ocupou ainda um prédio junto à Praça da Matriz. O grupo fez duas

tentativas de ter uma sede própria, ambas infrutíferas: em 1873, em terreno em arraial de

Porto Alegre, que veio a dar origem ao bairro Partenon, hoje existente na Capital gaúcha 33,

e em 1885, em terreno na rua Riachuelo. Nas duas oportunidades, o acontecimento recebeu

destaque na imprensa, contando inclusive com o prestígio de autoridades, como o

presidente da Província e o bispo diocesano, em 1873, e a Princesa Isabel e o Conde D’Eu,

em 1885. A fachada da sede da rua Riachuelo deveria emular toda uma cultura, aquela

pertencente ao passado grego e à antigüidade clássica, homenageada e revivida no nome da

sociedade, como especifica uma das alíneas do edital lançado pelo Partenon Literário com o

objetivo de orientar os interessados na construção:

31 SILVA, João Pinto da. História literária do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1924. p. 57.32 ROSA, Othelo. O Partenon Literário. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul , Porto Alegre, n. 109-112, p. 166, 1948.33 O local onde a agremiação intentava construir a sua sede, em 1873, ficou conhecido como Partenon, denominação oficial do bairro porto-alegrense até hoje. Para informações sobre o bairro e a sua formação, v. MARTINI, Cyro. Arraial do Partenon. Porto Alegre: UE/Porto Alegre, 1999. Atualmente, além do bairro da cidade que carrega o nome Partenon, muitos autores do ateneu emprestam seus prenomes a logradouros de Porto Alegre, como, por exemplo, Luciana de Abreu, Eudoro Berlink, Múcio Teixeira, Afonso Marques e Caldre e Fião.

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Page 17: No Rastro Do Partenon Literario

5ª – A fachada principal do edifício aproximar-se-á tanto

quanto for possível, da do templo de Minerva (Partenon de

Atenas), podendo, porém, adaptar-se ao edifício, em vez da

ordem dórica, a coríntia ou a compósita.34

Sabem-se alguns dos presidentes da agremiação: Ernesto Santos e Silva, em 186935;

Gabriel Fay, em 1872; Firmiano Antônio de Araújo, em 1873 e 1874; Aquiles Porto

Alegre, em 1879; Apolinário Porto Alegre, em 1880. Como presidente honorário, o grêmio

teve José Antônio do Vale Caldre e Fião, que já era, na época, escritor de prestígio.

Os exemplares da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário encontram-se

em vários locais, principalmente nas cidades de Porto Alegre e Rio Grande. Na Capital, o

Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul possui a coleção quase completa do

periódico: das setenta edições conhecidas, a biblioteca do Instituto não elenca, completa,

apenas o número 6 da 3ª série, de 31 de outubro de 1877. O Museu de Comunicação Social

Hipólito José da Costa tem em seu acervo exemplares dos anos de 1869 e 1873; a

Biblioteca Pública do Estado guarda números de 1873 e 1879; a Biblioteca Central Irmão

José Otão da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul disponibiliza o ano de

1872; e a biblioteca particular do Sr. Júlio H. Petersen (recentemente adquirida pela

biblioteca da PUCRS) apresenta os anos completos de 1872, 1873, 1874, 1875 e 1879. Em

Rio Grande, na Biblioteca Rio-Grandense, localizam-se edições dos anos de 1872, 1873,

1874 e 1875, completos, e 1877 e 1879, incompletos. Todos os exemplares, em Porto

Alegre e Rio Grande, estão em estado de conservação que varia de regular a bom36.

Como não ostentava anúncios, a manutenção da revista se dava a partir do

pagamento das mensalidades dos sócios efetivos, até porque a revista não era vendida, mas

sim distribuída:

De finalidade estritamente cultural, não angariava nem

estampava anúncios comerciais, sendo suas despesas

34 TILL, E. Rodrigues. Op. cit. nota n. 29. p. 187.35 Esta informação consta de fac-símile, à página 8 do jornal Correio do Povo, de 18 jun. 1948, do diploma de sócio-fundador conferido a José Bernardino dos Santos, em 13 de novembro de 1869. Como tesoureiro comparece Norberto Antônio Vasques, e como primeiro-secretário, Francisco Isidoro de Sá Brito.36 A Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, n. 113-116, de 1951, em separata, republicou, em fac-símile, todo o ano de 1869 da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário; já nos n. 117-120, de 1953, da mesma revista do IHGRGS, também em separata, reimprimiu-se fac-similarmente todo o ano de 1872.

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Page 18: No Rastro Do Partenon Literario

financiadas pela tesouraria do grêmio, e sua distribuição era

feita – consta – gratuitamente, não só entre os sócios do

Partenon, como entre pessoas que se interessassem pela

publicação.37

O periódico também mantinha sócios-correspondentes nas principais cidades do Rio

Grande do Sul e do Brasil, o que fazia com que ele se espalhasse com rapidez por diferentes

recantos, em especial na Província sulina, o que garantiu à sociedade partenonista ser “a

mola de propulsão, a estruturadora da literatura gaúcha do século XIX”38. Tal característica

fez o grêmio merecer o título de verdadeiro instaurador de um sistema literário no Rio

Grande do Sul, com a formação de um público leitor consistente: “o início efetivo da

literatura do Rio Grande do Sul coincide com o trabalho dos escritores que tomaram parte

nessa agremiação”39.

Esse agrupamento de cidadãos em torno da literatura era algo desejado desde algum

tempo no Rio Grande do Sul. Athos Damasceno Ferreira, em artigo intitulado “Sociedades

literárias em Porto Alegre no século XIX”40, faz um levantamento dos cenáculos literários

que proliferaram em Porto Alegre a partir da segunda parte do século XIX. Entretanto, já

37 FERREIRA, Athos Damasceno. Op. cit. nota n. 16. p. 54. Apesar do que diz Athos Damasceno Ferreira, a edição de janeiro de 1875 traz, na contracapa, informações a quem quisesse assinar a revista: para a Capital, trimestre adiantado, 3$000; para fora da Capital, semestre adiantado, 6$000. Há também uma nominata dos agentes da revista nas mais diversas cidades, do Rio Grande do Sul e de fora – Rio Grande: Carlos Eugênio Fontana e Olegário José da Fonseca Torres; Pelotas: Joaquim de Figueiredo Pereira; Triunfo: João Leite Pereira da Cunha; Rio Pardo: Manuel Ribeiro de Andrade e Silva; Cachoeira: Francisco Gomes Porto; Encruzilhada: José Ferreira da Silva Porto; Santa Maria: Franklin Flores Ribeiro de Carvalho; Passo Fundo: Antônio Pereira Prestes Guimarães; São Borja: Albino Pereira Pinto; São Leopoldo: Félix Fernandes da Fonseca Azambuja; São Jerônimo: Antônio Joaquim da Costa Correia Júnior; Santo Antônio: Manuel José Maria dos Santos; Alegrete: João Pedro Caminha; São Gabriel: Francisco de Paula Mena Barreto; Itaqui: Luís Matias Teixeira; Taquari: Luís Cândido Veloso; Caçapava: Pedro Rodrigues Soares; São Sepé: Isidro Correia Pinto; São João do Montenegro: José Maria das Neves; São João Batista de Camaquã: Patrício Vieira Rodrigues; Jaguarão: Luís da Cunha Gardel; Cruz Alta: Francisco Cardoso de Carvalho; Uruguaiana: Firmo Soares Leans; Torres: Major José Teodoro Nunes de Oliveira; Rio de Janeiro: Eduardo Palassim Guinle; Corumbá: Pedro Antônio da Silva Horta Filho. Em fevereiro de 1876, reaparecem os agentes, com uma significativa redução de nomes, e apenas um acréscimo em relação à lista acima: Cuiabá: Frederico Simplício Gualberto de Matos. O preço da assinatura continua o mesmo.Outra indicação de que, pelo menos mais para o fim de sua existência, o Partenon Literário cobrava pela revista, inclusive sustentando-se dela, é uma nota do número 4/5, jul./ago. 1879, que roga aos favorecedores que efetuem o pagamento de suas assinaturas, a fim de que a empresa continuasse sem percalços.38 MACHADO, Antônio Carlos. A Sociedade Partenon Literário. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 6, 17 jun. 1948.39 ZILBERMAN, Regina. Op. cit. nota n. 15. p. 13.40 FERREIRA, Athos Damasceno. Sociedades literárias em Porto Alegre no século XIX. In: BARRETO, Abeillard et al. Fundamentos da cultura rio-grandense. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul, 1962. 5ª série. p. 49-67.

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em 1804, Paulo Gama, o então governador da Província, tentou dotar Porto Alegre de um

Club de Letras, intenção malograda que só vem a se solidificar com o surgimento,

cinqüenta anos depois, dos periódicos O Guaíba, Álbum de Domingo, Ipiranga, Sentinela

do Sul e Arcádia, esse último em Rio Grande. Todavia, com exceção do Grêmio Literário

Rio-Grandense, de que era órgão oficial a Arcádia, “esses grupos não constituíam na

realidade uma associação, um sodalício, um cenáculo de letrados, com a organização, as

características e os objetivos mirados por Paulo Gama”41. Assim, sociedades de letras,

propriamente ditas, só se constituem e se consolidam, no Rio Grande do Sul, a partir da

segunda metade do século XIX.

Por ter o Partenon surgido num momento de grande agitação política, econômica e

social no Rio Grande do Sul e mesmo no Brasil, Damasceno Ferreira afirma que “o famoso

grêmio não produziu nenhum acontecimento – foi produzido por eles”42. Seja como for, a

agremiação tornou-se um marco em sua época, inspirando a origem de novas sociedades

nos próximos trinta anos, como Culto às Letras, Ensaios Literários, Sociedade Literária

Castro Alves, José de Alencar e muitas outras, em sua maioria, como os próprios nomes

indicam, voltadas para o Romantismo, fidelidade que dificultará o desenvolvimento das

escolas subseqüentes nas letras rio-grandenses. Tantos grupos literários em território sulino

encontram justificativa, para Damasceno Ferreira, no fato de que aspectos relevantes da

formação cultural sul-rio-grandense se apoiaram “muito mais no apurado senso associativo

do gaúcho, do que nos isolados esforços de um individualismo distante dessa mesma

formação”43.

Ao contrário de outras regiões brasileiras, no Rio Grande do Sul, a expansão da

literatura escrita deu-se somente com o advento de cenáculos que congregavam escritores.

Carmen Consuelo Silveira e Carlos Alexandre Baumgarten apontam que as causas mais

comuns para esse surgimento cronologicamente tardio podem ser esquematizadas a partir

de três fatores: as guerras nas quais a Província se envolveu; a pouca afeição dos povos que

constituíram o Rio Grande do Sul a uma tradição cultural letrada; e a não-existência de

prelos44. Dessa forma, o Partenon Literário foi a “força-motriz de todo um período de 41 Id. p. 54.42 Id. p. 56.43 Id. p. 66.44 V., a propósito, SILVEIRA, Carmen Consuelo; BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. In: ZILBERMAN, Regina; SILVEIRA, Carmen Consuelo; BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. O Partenon Literário: poesia e prosa. Porto Alegre: EST; Instituto Cultural Português, 1980. p. 16-17.

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brilhantíssimos labores espirituais”45, constituindo-se na base principal para a expansão das

letras gaúchas na segunda metade do século XIX.

Para Walter Spalding, com o Partenon Literário, o Rio Grande do Sul deixou de ser

apenas “o cadinho de soldados e a estalagem do Império, para ser, também, cabeça

pensante e núcleo radioso de intelectuais”46. Para Spalding, a influência do Partenon

espraiou-se no sentido de inspirar, com suas atitudes e ensinamentos, agrupamentos

semelhantes posteriores, como o dos jovens estudantes gaúchos oriundos da Faculdade de

Direito de São Paulo (como Júlio de Castilhos e Assis Brasil), no Clube 20 de Setembro; ou

o de Mário Tota (cujo pai, Augusto Tota, pertencia ao Partenon Literário), que organizou o

Clube Jocotó47, nos moldes do sodalício do século XIX; ou, ainda, a famosa Padaria

Espiritual, do Ceará.

Também Guilhermino Cesar acentua a importância do Partenon Literário para a

literatura sul-rio-grandense que, envolta em inúmeros conflitos bélicos, demora a se dedicar

com afinco às letras, o que ocorre somente a partir da segunda metade do século XIX,

exatamente com a geração do Partenon Literário, “cujos nomes passaram a capitanear a

vida mental do Rio Grande, no livro, no jornal, na tribuna, bem como na luta aberta pela

Abolição e pela República”48. Com as ações do Partenon, sem sombra de dúvida, a

atividade literária do Rio Grande do Sul, até então incipiente, vence a desorganização. Pelo

parco desenvolvimento do mercado editorial e livreiro na Província, cristaliza-se a

importância dos periódicos nesse momento, como divulgadores, no extremo Sul do Brasil,

de uma produção que de outra forma talvez ficasse restrita ou até inviabilizada. Verificam-

se, assim, as estreitas relações que se estabelecem entre a vida cultural rio-grandense e as

condições peculiares de formação do território gaúcho.

A repercussão do Partenon Literário na sociedade da época era significativa mesmo

entre seus contemporâneos. Athos Damasceno Ferreira demonstra a entrada do Partenon

nos meios intelectuais da Capital gaúcha, reproduzindo duas notícias de 1872 – 4 de agosto

e 13 de outubro, respectivamente – do jornal A Reforma, que dão conta, com muitos

45 O QUE foi e o que fez o Partenon. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 6, 17 jun. 1948.46 SPALDING, Walter. Pequena nota sobre o Partenon. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 6, 17 jun. 1948. No título do artigo de Spalding está grafado, originalmente, “Partenão”; entretanto, atualizou-se para a forma que o uso consagrou como definitiva, “Partenon”.47 Sobre o Clube Jocotó, v. SANMARTIN, Olyntho. Um ciclo de cultura social. Porto Alegre: Sulina, 1969.48 CESAR, Guilhermino. Op. cit. nota n. 13. p. 172.

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elogios, do lançamento da Revista Mensal de julho, número um da 2ª série, e setembro,

número três49.

A revista era simples e até austera na parte gráfica. Sua capa era colorida,

apresentando uma gramatura um pouco mais espessa que a do miolo. Contava com cerca de

45 páginas, nas edições mensais50, e aproximadamente 25, nas quinzenais, com um formato

de 18cm por 27cm, em 1869, e 15cm por 22cm, nos demais anos. No frontispício,

estampavam-se gravuras do homenageado do escorço biográfico da edição, seção comum

ao longo da existência da revista51.

O órgão partenonista interessava-se, essencialmente, por uma tríade de matérias:

Literatura, História e Filosofia, sendo a primeira, sem dúvida, a mais saliente e importante.

Nas suas partes constitutivas, a revista era composta da seguinte forma: geralmente era

aberta por um esboço biográfico de alguma personalidade literária, religiosa, militar ou

política. Após, publicavam-se textos teatrais – comédias e dramas – e em prosa, não-

ficcionais – discursos, teses, ensaios – e de ficção – contos, novelas, romances. Algumas

obras eram estampadas ao longo de vários números, pela extensão e pelo chamariz ao

público que a técnica do folhetim oferecia, no momento em que uma intriga desenvolvida

em uma edição só encontraria seu desfecho no próximo mês. Isso acontecia tanto com

textos de aspecto monográfico, como “José de Alencar – Estudo biográfico”, de Apolinário

Porto Alegre, que teve suas dez partes distribuídas ao longo dos números 9, 10, 11 e 12 de

1873, e número 2 de 1874; quanto com os de cunho literário, como O vaqueano,

igualmente de Apolinário Porto Alegre, que apareceu, em seus vinte e quatro capítulos, dos

números 1 a 6 de 1872. Seguiam-se as composições poéticas, em número variável a cada

edição, numa média de três ou quatro. Ao fim, a revista divulgava o “Ementário mensal”

(no primeiro ano) ou a “Crônica” (como foi nomeada no resto dos anos), em geral assinada

pelo redator do mês, comentando os principais acontecimentos sociais e culturais em Porto

49 FERREIRA, Athos Damasceno. Op. cit. nota n. 16. p. 46-54.50 Exceções são os exemplares de 1869, que contavam com 30 páginas, e os de 1879, que variavam de 50 a 100 páginas, sendo esse último número alcançado no número duplo de julho/agosto.51 Algumas litografias publicadas na Revista Mensal: Delfina Benigna da Cunha, Afonso Marques, Rita Barém de Melo, Miguel Meireles, Félix da Cunha, José de Alencar, João Vespúcio de Abreu e Silva, Antônio de Sousa Netto, Luciana de Abreu, Manuel de Araújo Porto Alegre, Davi Canabarro, Oliveira Belo, Gonçalves Magalhães, Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu, Lobo Barreto, Padre Anchieta, Amália dos Passos Figueiroa e Caldre e Fião.

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Page 22: No Rastro Do Partenon Literario

Alegre, como apresentações musicais e dramáticas, lançamentos de livros e realizações de

saraus.

O redator do mês mudava a cada edição da revista, assim como a Comissão de

Redação. A Comissão de Redação do primeiro número de 1869, de março, por exemplo,

estava assim constituída: Vasco de Araújo e Silva, Apolinário Porto Alegre, Lúcio Porto

Alegre, Aurélio de Bittencourt, Juvêncio Augusto de Meneses Paredes e Hilário Ribeiro,

sendo o redator do mês Apolinário. Já no primeiro número de 1879, em abril, o grupo era

composto por Apeles Porto Alegre, Apolinário Porto Alegre, Aquiles Porto Alegre, Artur

Rocha, Augusto Tota e Joaquim Alves Torres, sendo o redator e gerente José Bernardino

dos Santos. Os textos publicados na revista eram sempre originais, de autoria dos sócios da

agremiação.

No período de sua circulação, a revista foi impressa em diferentes tipografias: em

1869, na tipografia do Jornal do Comércio; em 1872, na tipografia do jornal A Reforma (de

julho a outubro) e tipografia do Constitucional (novembro e dezembro); em 1873, na

tipografia do Constitucional; de 1874 a 1877, na Imprensa Literária; e em 1879, na

imprensa da Deutsche Zeitung. Essas trocas de tipografia acarretavam pequenas mudanças

na impressão de um ano para o outro.

Agrupando os principais nomes da literatura local da época, o mensário guarda um

manancial precioso de textos ao pesquisador das letras e da história sul-rio-grandenses.

Estão nas páginas do Partenon as primeiras obras regionais, ou seja, aquelas que

tematizaram o gaúcho e seus costumes; as primeiras tentativas organizadas de se escrever

para o teatro; apanhados biográficos de personalidades destacadas no cenário literário

brasileiro e rio-grandense; romances e contos que dão conta dos cenários campeiro e

urbano; poemas que transitam entre o épico laudatório e a lírica amorosa.

A sociedade agrupava quase meninos, como Múcio Teixeira, e escritores maduros e

de prestígio, como José Antônio do Vale Caldre e Fião. Outros nomes de relevo eram, em

ordem alfabética: Afonso Luís Marques, Antônio Ferreira das Neves, Apeles Porto Alegre,

Apolinário Porto Alegre52, Aquiles Porto Alegre, Argemiro Galvão, Artur Candal, Artur de 52 Este, sem dúvida, é o grande nome da Sociedade Partenon Literário. Sobre ele, destacam-se dois depoimentos, um de Carlos von Koseritz: “Seria uma celebridade na Alemanha”; outro de Sousa Doca: “Foi grande em tudo quanto escreveu”. CORREIO DO POVO, Porto Alegre, p. 6, 17 jun. 1948. Existem vários estudos que dão conta do principal nome do Partenon Literário, entre os quais podem-se destacar Apolinário Porto Alegre, de Álvaro Porto Alegre, e Apolinário Porto Alegre, de Maria Eunice Moreira; mais capítulos específicos sobre o autor nas histórias da literatura de João Pinto da Silva e de Guilhermino Cesar.

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Page 23: No Rastro Do Partenon Literario

Lara Ulrich, Artur Rodrigues da Rocha, Augusto Ernesto Estrela de Villeroy, Augusto

Tota, Aurélio de Bittencourt, Azevedo Júnior, Bernardo Taveira Júnior, Bibiano de

Almeida, Carlos Ferreira, Carlos von Koseritz, Clemente Pinto, Cônego José de Noronha

Nápoles Massa, Damasceno Vieira, Ernesto Santos e Silva, Eudoro Berlink, Felipe Néri,

Fernando Gomes, Fernando Osório, Francisco Antunes Ferreira da Luz, Francisco Isidoro

de Sá Brito, Frederico Ernesto Estrela de Villeroy, Graciano Alves de Azambuja, Gustavo

César Viana Filho, Hilário Ribeiro, Inácio de Vasconcelos Ferreira, João da Cunha Lobo

Barreto Filho, João Moreira da Silva, Joaquim Alves Torres, Joaquim Francisco de Assis

Brasil, José Bernardino dos Santos, José de Sá Brito, Júlio de Castilhos, Juvêncio Augusto

de Meneses Paredes, Lúcio Porto Alegre, Luís Kraemer Walter, Manuel José Gonçalves

Júnior, Manuel José Soeiro Júnior, Miguel de Werna, Napoleão Poeta, Nicolau Vicente,

Norberto Antônio Vasques, Oliveira Belo, Sebastião Leão, Silvino Vidal, Teodoro de

Miranda, Vasco de Araújo e Silva, Vítor Valpírio (pseudônimo de Alberto Coelho da

Cunha) e Zeferino Vieira Rodrigues Filho53.

O naipe feminino, integrado por Amália dos Passos Figueiroa, Luciana de Abreu,

Luísa de Azambuja e Revocata Heloísa de Melo54, representa umas das mais importantes

contribuições do Partenon, qual seja a da efetiva participação das mulheres nas mais

diversas questões sociais, fato que era raro na segunda metade do século XIX55. Ao abrir 53 Esta relação foi composta a partir dos autores citados ao longo do percurso crítico sobre o Partenon Literário. A listagem mais completa que existe de sócios do Partenon Literário é a que Guilhermino Cesar oferece em sua História da literatura do Rio Grande do Sul, com cento e vinte e nove nomes. Entretanto, as atas disponíveis, de 1872 e 1873, trazem vários nomes que não estão na listagem de Guilhermino Cesar, como Apolinário Jesuíno e Ricardo Ernesto Heinzelmann, por exemplo. Guilhermino admite que a sua lista não é definitiva, comparecendo ali somente aqueles de maior evidência e expressão à época. V. CESAR, Guilhermino. Op. cit. nota n. 13. p. 176-177. Um número que aparece como sendo o máximo de sócios que o Partenon teve é cento e trinta e oito. V.: VELLINHO, Moysés. Op cit. nota n. 29. p. 15.Um caso curioso é o de Lobo da Costa. Dos mais conhecidos poetas gaúchos do século XIX, o escritor sempre é citado como integrante do Partenon Literário, embora a Revista Mensal não tenha estampado nenhuma produção sua nos dez anos de circulação, nem haja referência ao fato de ele integrar o grupo, seja nas atas disponíveis, seja nas crônicas do periódico.54 Constantemente troca-se o nome de Revocata Heloísa de Melo, que foi quem efetivamente fez parte dos quadros do Partenon Literário, inclusive publicando o conto “O solitário do mirante”, em 1874, na Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, pelo da sua mãe, que possui nome semelhante, Revocata dos Passos Figueiroa e Melo. O erro aparece pela primeira vez no Correio do Povo de 17 de junho de 1848; a partir daí perpetua-se, inclusive em Guilhermino Cesar, Moysés Vellinho e no Pequeno dicionário da literatura do Rio Grande do Sul. Revocata dos Passos Figueiroa e Melo, também poeta, foi irmã de Amália Figueiroa e mãe, além de Revocata Heloísa, da escritora Julieta de Melo Monteiro. Conforme dados retirados do próprio Corimbo, faleceu a 14 de setembro de 1882.55 Sobre a participação das mulheres no Partenon Literário, v. SCHITZ, Viviane Salatti. Presença de mulher: a produção feminina na Revista da Sociedade Partenon Literário. Dissertação (Mestrado em Letras). Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. São doze, ao total, as escritoras do Partenon: Luciana de Abreu, Amália dos Passos Figueiroa, Luísa de Azambuja,

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Page 24: No Rastro Do Partenon Literario

espaço para a manifestação feminina, o grêmio partenonista mostrava sua posição arrojada,

que se confirmava em outros pontos, como a defesa da República, a luta pela abolição da

escravatura e a manutenção de aulas públicas noturnas para aqueles que não podiam estudar

durante o dia56. Apesar dessa aparente homogeneidade de pensamento em torno da abolição

e da República, deve-se ressaltar que a agremiação reunia, na verdade, representantes de

credos religiosos, políticos e filosóficos os mais contrastantes, inclusive com membros que

defendiam a manutenção do Império, por exemplo.

Outra postura avançada da sociedade constituía-se na manutenção de uma

biblioteca, que chegou a contar com mais de 6.000 volumes57, e de um museu de ciências

naturais, que incluía seções de Mineralogia, Arqueologia, Numismática e Zoologia58.

Significativa também era a organização de saraus lítero-musicais, em que conferências e

preleções de interesse social e cultural eram proferidas, como os famosos discursos de

Luciana de Abreu em favor da educação da mulher; versos eram declamados; esquetes

teatrais, encenados; músicas, executadas; tudo sucedido por bailes. Um dos grandes

acontecimentos dos serões poéticos era a alforria de escravos, ação que provava que as

idéias do grêmio não ficavam somente no plano da teoria. Um exemplo dessas atividades

pode ser encontrado em artigo de Caldre e Fião59, em que o presidente honorário do

Partenon descreve os atos realizados pela associação em prol dos escravos e em

comemoração ao dia da Pátria, que deveriam ocorrer inicialmente em 7 de setembro de

1869, em Porto Alegre. Devido a problemas, a festa só pôde ocorrer no dia 19, e o seu

Revocata Heloísa de Melo, Maria José Coelho, Ana Sabóia Viriato de Medeiros, Zulmira da Silveira, Cândida Isolina de Abreu, Avelina Barém, Maria Luísa Leal, Amélia de A. Sousa e Joana Manoela Gorriti.56 Othelo Rosa cita como professores e suas respectivas disciplinas: Afonso Marques, Corografia da Província e História; Vasco de Araújo e Silva, Matemáticas Elementares; José de Andrade e Silva, Escrituração Mercantil; Apolinário Porto Alegre, Gramática Portuguesa. V. ROSA, Othelo. Op. cit. nota n. 32. p. 168. Há registros de que outros professores das aulas noturnas foram José Gonçalves de Albuquerque Júnior e Ramiro de Araújo. 57 VELLINHO, Moysés. Op. cit. nota n. 29. p. 17.58 O artigo “Museu do Partenon”, na última edição conhecida da revista, em setembro de 1879, dá conta da diversidade de itens pertencentes ao museu.59 CALDRE E FIÃO, José Antônio do Vale. A libertação das crianças. Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário. Porto Alegre, 1º ano, n. 7, set. 1869, p. 26-27. A crítica costuma voltar-se para este evento descrito por Caldre e Fião. Cf. FERREIRA, Athos Damasceno. Palco, salão e picadeiro em Porto Alegre no século XIX: contribuição para o estudo do processo cultural do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1956. p. 113-119; VELLINHO, Moysés. Op. cit. nota n. 29. p. 17-18; PORTO ALEGRE, Álvaro. Op. cit. nota n. 28. p. 48-52, inclusive com a reprodução de trecho do texto de Caldre e Fião; ZILBERMAN, Regina. O Partenon Literário: literatura e discurso político. In: ZILBERMAN, Regina; SILVEIRA, Carmen Consuelo; BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. O Partenon Literário: poesia e prosa. Porto Alegre: EST; Instituto Cultural Português, 1980. p. 29-30. Este livro traz a reprodução do texto, às páginas 62-64.

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Page 25: No Rastro Do Partenon Literario

programa constou de apresentações, cantos, discursos e récitas, culminando na alforria de

vários escravos60.

Eram freqüentes as reuniões administrativas entre os sócios, as quais estão

reproduzidas nas atas disponíveis, as dos anos de 1872 e 1873, as únicas que restaram do

período e que, doadas ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul pelo

escritor Tyrteu Rocha Vianna, foram publicadas em quatro números da Revista do

IHGRGS61. Por meio da leitura desses documentos – de 1872, datadas de 18 de fevereiro a

19 de dezembro; de 1873, de 13 de janeiro a 24 de novembro – é possível, por exemplo,

reconstituir a nominata da diretoria do ano de 1872 e também conhecer a dinâmica dos

trabalhos das reuniões, nas quais se discutiam teses62, apresentavam-se sócios novos,

lançavam-se idéias, declamavam-se poesias, lamentavam-se falecimentos, sem falar na

sucessão de brigas e acusações entre os integrantes63.

A Sociedade Partenon Literário transitou entre o trabalho intelectual e a ação efetiva

e direta sobre a sociedade. Maria Eunice Moreira ressalta, em Nacionalismo literário e

crítica romântica64, as duas frentes nas quais o Partenon Literário marcou sua presença,

aliando teoria e prática: ao mesmo tempo em que elabora um plano para a literatura sul-rio-

grandense, atua no desenvolvimento da cultura na Província.

60 O adiamento de espetáculo deveu-se a desentendimentos entre o Partenon Literário e a Companhia Dramática, de José de Almeida Cabral, arrendatária do Teatro São Pedro à época. Depois de ter liberado a noite de 7 de setembro para o ato cívico partenonista, Cabral voltou atrás, de olho na renda do espetáculo, que já vinha sendo fartamente divulgado na imprensa. Após alguma discussão, as partes entraram em acordo de novo, com a data de 19 de setembro reservada para o Partenon. Cf. FERREIRA, Athos Damasceno. Op. cit. nota n. 59. p. 113-119.61 ATAS das sessões do Partenon Literário – 1872. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, ano IV, I e II trimestres, n. 13-14, p. 203-252, 1924; e ATAS das sessões do Partenon Literário – 1873. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul , Porto Alegre, ano IV, III e IV trimestres, n. 15-16, p. 153-216, 1924. As atas de 1872 são precedidas por uma introdução de Florêncio de Abreu. Um resumo das atas, além de outros dados relevantes em torno do Partenon, retirados de jornais e livros, encontra-se em CIBILS, Luis Alberto. Sociedade Partenon Literário. Revista da Academia Rio-Grandense de Letras, Porto Alegre, n. 16, p. 7-17, maio 2000.62 Algumas das teses discutidas nas reuniões, e que por vezes, posteriormente, tinham seus pareceres publicados na Revista Mensal, foram: “A vinda dos jesuítas ao Brasil foi benéfica ou perniciosa?”, por Aquiles Porto Alegre, ou “Os animais têm alma? Essa alma é imortal?”, por Nicolau Vicente.63 Como curiosidade, uma das discussões envolveu o ainda adolescente Múcio Teixeira que, na sessão de 25 de novembro de 1872, recebeu a acusação de tramar intrigas entre os associados; intempestivamente, na sessão seguinte, em 1º de dezembro, Múcio retirou-se do recinto, após dirigir “uma palavra ofensiva ao Sr. C. Kraemer”. Apolinário Porto Alegre foi um dos que defendeu o jovem poeta, julgando ser ele “uma criança e cheio de leviandade”.64 MOREIRA, Maria Eunice. Nacionalismo literário e crítica romântica. Porto Alegre: IEL, 1991. p. 156-163.

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Page 26: No Rastro Do Partenon Literario

Os agremiados do Partenon, mesmo sem redigirem nenhum documento formal a

respeito, implantaram um projeto para a literatura do Rio Grande do Sul, o qual reside,

fundamentalmente, no aproveitamento artístico da natureza, da história, das lendas e dos

costumes peculiares rio-grandenses. Esse programa revestiu-se de um caráter

integracionista, ajustando-se aos cânones da estética romântica nacional: a exploração do

material regional responde aos anseios de originalidade e autenticidade exigidos como

forma de garantia para a autonomia literária; no entanto, não deixa de comparecer uma

perspectiva separatista – apenas indiciada, mas não concretizada –, já que as bases da

literatura sulina moldam-se no aproveitamento do recurso regional. No saldo final, porém, a

opção dos partenonistas foi a de desenvolver “uma expressão poética contributiva da

afirmação do ideal de autonomia literária pretendido pela nação brasileira”65.

Por outro lado, a postura dos partenonistas – a de juntar ao fazer literário a

divulgação do livro e o desenvolvimento da educação –, disseminou no território rio-

grandense a constituição de sociedades literárias, a publicação de colunas literárias em

jornais noticiosos e a instalação de bibliotecas. A estimulação à participação social do

letrado contrariava “a imagem estereotipada do artista boêmio e irresponsável, consagrada

pela mitologia romântica”66. Esse “ir além” da questão estritamente literária, desaguando

numa função social – democratização da cultura e do saber e sentido progressista dos atos

do Partenon Literário –, é aspecto enfatizado desde o livro pioneiro na sistematização da

história da literatura gaúcha, de João Pinto da Silva:

Não era o Partenon associação exclusivamente literária.

Embora se não imiscuísse, de maneira direta e coletiva, na

política dos partidos que, periodicamente, empolgavam o

governo da Província, tinha orientação cívica, isto é, aspirava

a desempenhar, fora da literatura, uma função social prática e

eficiente.67

Constatação semelhante, a de que a Sociedade Partenon Literário não se preocupava

apenas com a literatura, mas também com o social e o civismo, fez Álvaro Porto Alegre:

65 Id. 163.66 ZILBERMAN, Regina. Op. cit. nota n. 15. p. 13.67 SILVA, João Pinto da. Op. cit. nota n. 31. p. 54.

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A finalidade do Partenon não se restringia somente à

literatura. Foi muito além. Tudo isto prova à evidência,

demonstra à saciedade, a grandeza do idealismo daquela

geração extinta, não compreendida por snobs ridículos,

voltados para o que é de fora, de grande valia, pelos

ensinamentos que trazem, e pela metodologia empregada,

todos o sabem, mas sem o poder de fazer esquecer o que é

nosso, a não ser a quem não sinta os efeitos deste vocábulo:

patriotismo.68

Guilhermino Cesar, por sua vez, aponta para o fato de a Sociedade Partenon

Literário e a sua revista abrirem o ciclo da literatura regionalista, ou gauchesca, no Rio

Grande do Sul. Embora nem sempre tenham logrado naturalidade na linguagem utilizada,

os escritores da época não fugiram à sua experiência, pois “fixaram-no [o peão da estância]

de mil modos – nas fainas da vida campeira, nas rixas políticas, nas carnagens da luta

externa, nimbado sempre por uma auréola de campeador medieval”69. Para Cesar, o

regionalismo gaúcho deve ser visto, antes de tudo, como um esforço, bem sucedido, do Sul,

em se inserir no campo mais amplo da cultura brasileira.

Athos Damasceno Ferreira igualmente observa que a mais original contribuição do

Partenon Literário foi a inserção do regionalismo no processo literário rio-grandense, já que

os textos de José Bernardino dos Santos, Apolinário Porto Alegre, Vítor Valpírio, Augusto

Tota, Múcio Teixeira, Pedro Antônio de Miranda e Aquiles Porto Alegre “iriam abeberar-se

nas fontes nativas, buscando inspiração, alento, estímulo e motivação original no chão da

querência, sobretudo (...) na ecologia rural e nos fatos de um passado próprio, embora

recente”70. Todavia, Damasceno Ferreira considera que os textos regionalistas do Partenon

são apenas tentativas de comunhão com a paisagem física e humana e com a história

peculiar do Rio Grande do Sul, sem conseguir, porém, uma integração exata com esse

meio, o que vai acontecer somente com o regionalismo mais orgânico de Alcides Maya,

Simões Lopes Neto e Amaro Juvenal, em contraposição ao regionalismo puramente formal

de Apolinário ou Múcio.

68 PORTO ALEGRE, Álvaro. Op. cit. nota n. 28. p. 48.69 CESAR, Guilhermino. Op. cit. nota n. 13. p. 174.70 FERREIRA, Athos Damasceno. Op. cit. nota n. 16. p. 61.

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Mesmo tendo sido o regionalismo uma das contribuições mais significativas do

Partenon Literário, é curioso destacar que, no primeiro ano de circulação da revista, 1869,

nada consta em termos de textos regionalistas. Essa preocupação começa a surgir no

mensário a partir da segunda série, em 1872. Guilhermino Cesar demonstra a falta de cor

local na produção inicial da revista, reproduzindo um trecho de poema de Apolinário Porto

Alegre, “O celibato”, de setembro de 1869. A atitude de não trabalhar com temas nativos

fez com que um missivista se dirigisse a José Bernardino dos Santos nos seguintes termos:

“Por que preferiam [os escritores gaúchos] buscar lá fora motivos com os quais não se

achavam identificados, quando havia tanto assunto local à espera de intérprete?”71. Seja

como for, a partir da segunda metade do século XIX, em decorrência da ação do Partenon

Literário, “o pampa, a atividade pastoril, as lutas de fronteiras não mais abandonaram a

literatura sul-rio-grandense”72.

Além do regionalismo, que se dá a partir do aproveitamento histórico das tradições

campesinas e heróicas do Rio Grande do Sul, os homens e as mulheres do Partenon

preocuparam-se em pregar o civismo, o nacionalismo e o culto às datas e às personalidades

pátrias, dando início efetivo ao Romantismo sulino, ao se voltarem para o decênio farrapo e

de lá extraírem a personagem (o gaúcho heróico, corajoso) que habitaria muitas das páginas

da revista, em textos como “O vaqueano” e “Gabila”, por exemplo, ambos de Apolinário

Porto Alegre. A revista solidificou, na então Província, o Romantismo, que encontrou

ambiente propício no Rio Grande do Sul, perdurando por aqui mesmo quando esse

movimento já tinha dado sinais de enfraquecimento em outros centros do País.

Ainda que sejam muitos os textos escritos sobre o Partenon, poucos são os que

efetivamente se debruçam sobre a análise da produção literária presente na Revista Mensal.

Um aspecto que se repete, com alguma freqüência, é a crítica à pouca qualidade dos textos

do periódico. Moysés Vellinho, apesar de exaltar o papel de precursores dos partenonistas,

pois eles tiveram que começar do zero, sem ninguém a lhes apontar algum caminho – o que

71 CESAR, Guilhermino. Op. cit. nota n. 13. p. 183.72 MOREIRA, Maria Eunice. Regionalismo e literatura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST; Instituto Cultural Português, 1982. p. 25.

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justifica o tom às vezes ingênuo que os escritos possuem73 –, aponta que os textos da

Revista Mensal interessam, presentemente, mais pelo seu valor histórico:

É evidente que suas páginas, crespas de uma retórica que para

nós perdeu de todo o sentido e o gosto, guardam um interesse

puramente histórico. O certo, porém, é que a seu tempo elas

desempenharam uma função considerável, uma função que

não pode deixar de ser levada em conta no inventário da nossa

evolução literária. Deparamos a prova disso no vivo

acolhimento com que era recebido pela imprensa local cada

número da Revista. Rodapés maciços lhe eram pontualmente

consagrados, glosando uma por uma suas colaborações.74

Também Athos Damasceno Ferreira acentua a contribuição histórica e

memorialística dos textos do Partenon, em detrimento de uma maior qualidade estética:

Realmente, embora de escasso ou nenhum valor para as letras,

essas páginas, contudo, traduzem vivamente as aspirações da

época e atestam o calor, o empenho com que então aqui se

procurava responder aos apelos do momento histórico,

sintonizando expressivamente com o espírito de renovação

dos costumes, das instituições e das idéias já em pleno

desabrochar em outras áreas culturais do Brasil.75

Adjetivos como “retórica”, “rebarbativa”, “pesada”, “inautêntica”, “questionável”,

“anacrônica”, “ingênua”, “ufanista” marcam as abordagens da poesia partenonista

realizadas por Regina Zilberman76 e Luís Augusto Fischer77. Ambos repetem a idéia de que

a literatura da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário não possui grande valor

estético, pautando o seu mérito na primazia histórica de ter trabalhado, pela primeira vez,

73 Carmen Consuelo Silveira e Carlos Alexandre Baumgarten têm visão divergente quanto a esse “partir do zero”. Para eles, a organização e a concepção da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário originou-se da Arcádia (1867-1870), revista editada em Rio Grande, e depois em Pelotas. Além de serem contemporâneas, ambas tinham Apolinário Porto Alegre como um dos colaboradores mais assíduos, o que explicaria a semelhança dos dois empreendimentos. V. SILVEIRA, Carmen Consuelo; BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. Op. cit. nota n. 44. p. 13.74 VELLINHO, Moysés. Op. cit. nota n. 29. p. 24.75 FERREIRA, Athos Damasceno. Op. cit. nota n. 16. p. 59.76 ZILBERMAN, Regina. Op. cit. nota n. 15. p. 12-18.77 FISCHER, Luís Augusto. Um passado pela frente: poesia gaúcha ontem e hoje. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1998. p. 21-27.

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com mais profundidade, no Rio Grande do Sul, vários gêneros e temas que no século XX

tomarão vulto. Em outro estudo, Regina Zilberman78 analisa o entrecruzamento dos

discursos político e literário no seio da revista partenonista e distingue algumas variantes

temáticas na sua produção poética: a predominância do condoreirismo à la Castro Alves; os

temas caros ao Romantismo de Casimiro de Abreu ou Álvares de Azevedo – o amor não

correspondido, a valorização da infância, a morte; e o indianismo de Gonçalves Dias. A

partir dessa última vertente, desenha-se o regionalismo.

Na Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, surgida dez anos depois do

fim d’O Guaíba (1856-1858), o primeiro periódico literário sul-rio-grandense, observa-se

uma maior aglutinação em torno dos ideais de divulgação da literatura, da história e da

cultura. O próprio fato de a revista ser ligada a um órgão, a Sociedade Partenon Literário,

ajudou na sua desenvoltura: em relação a O Guaíba, cresce o número de escritores-

colaboradores, a revista chega às cidades do interior da Província, aumenta o período de

circulação (dez anos contra dois anos e meio), a contribuição dos sócios minora os

problemas financeiros. Igualmente, as ações em prol da educação na região, antes tímidas,

restritas a aulas particulares, fermentam, com a promoção de saraus artísticos, com o

oferecimento de aulas noturnas, com a instalação da biblioteca e do museu, sem contar

atividades de caráter político-ideológico do porte da alforria de escravos e da discussão do

papel das mulheres na sociedade, todas na intenção de retirar Porto Alegre da situação de

inércia, em termos culturais, em que se encontrava em meados da segunda metade do

século XIX.

3) Seis poemas para o Partenon

Dentro da vasta matéria literária – poemas, romances, contos, peças de teatro,

crônicas – da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, pretende-se destacar uma

característica curiosa de praticamente todos periódicos do século XIX: a de consolidar o

sistema literário sul-rio-grandense, que se processava naquele momento, por meio da

78 ZILBERMAN, Regina. Op. cit. nota n. 59. p. 25-42. O artigo já tinha sido publicado em ZILBERMAN, Regina. O Partenon Literário: literatura e discurso político. Letras de Hoje, Porto Alegre, n. 40, p. 20-38, jun. 1980; e reaparece, com pequenas modificações, em ZILBERMAN, Regina. Roteiro de uma literatura singular. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992. p. 26-46. A autora, neste ensaio, analisa não o periódico do Partenon, mas os escritores partenonistas, pois vários dos textos comentados foram publicados em outros periódicos, que tiveram existência simultânea à Revista Mensal. Esse procedimento, de se analisar a “geração do Partenon”, e não os autores que publicaram na revista, é comum.

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Page 31: No Rastro Do Partenon Literario

homenagem a instituições fomentadoras da leitura e da literatura, como a imprensa, as

sociedades literárias, as escolas e as bibliotecas. Em especial, aqui, elege-se a

autopromoção e o auto-elogio como objeto da mirada crítica, ou seja, o reconhecimento

mútuo, entre os envolvidos de um determinado grupo, do importante papel que era

desempenhado pelas diversas agremiações sócio-literárias que existiam na época. Essa

postura ensimesmada deve-se, muitas vezes, à pouca receptividade dos empreendimentos

jornalístico-culturais junto ao grande público, o que levava o escritor a fazer o papel que

caberia ao leitor: a aprovação, ou não, das atividades produzidas e da produção encetada.

Sendo assim, das várias composições que se reportam à configuração do sistema

literário sulino, publicadas na Revista Mensal, seis delas exaltam e louvam as qualidades da

própria agremiação. Os poemas, que em geral foram declamados nas sessões aniversárias

da sociedade, que ocorriam a 18 de junho de cada ano (que também incluíam discursos e

danças), são: “Poesia recitada na sessão solene do 1º aniversário do Partenon Literário”, de

Nicolau Vicente79; “A mocidade. Recitada na 4ª sessão aniversária do Partenon Literário”,

de Augusto Tota80; “Canto à cítara”, de José Antônio do Vale Caldre e Fião81; “Ao Partenon

Literário. Ao Exmo. Sr. Dr. Luís da Silva Flores”, de Damasceno Vieira82; “18 de junho”,

de Augusto Tota; e “Partenon Literário”, de Azevedo Júnior83.

Em 1869, destinou-se a Nicolau Vicente a honra de homenagear seus pares

partenonistas, com a sua “Poesia recitada na sessão solene do 1º aniversário do Partenon

Literário”84, que evoca as pessoas talentosas, aquelas que, muitas vezes, não têm pleno

79 Nicolau Vicente Pereira nasceu em Penafiel, Portugal, a 8 de junho de 1841, e faleceu em Porto Alegre/RS, a 14 de março de 1909. Poeta e comerciante, assinava com o pseudônimo de Nivipe.80 Augusto Rodrigues Tota nasceu em Porto Alegre/RS, a 2 de julho de 1845, e faleceu na mesma cidade, a 12 de maio de 1907. Poeta, cronista e funcionário federal, publicou Dicionário postal-telegráfico: geografia postal do Rio Grande do Sul (1881).81 José Antônio do Vale Caldre e Fião nasceu em Porto Alegre/RS, a 15 de outubro de 1821, e faleceu em São Leopoldo/RS, a 19 de março de 1876. Poeta, romancista, biógrafo, jornalista, político e médico, publicou A divina pastora (romance, 1847) e O corsário (romance, 1851).82 João Damasceno Vieira Fernandes nasceu em Porto Alegre/RS, a 6 de maio de 1850, e faleceu em Salvador/BA, a 6 de março de 1910. Poeta, novelista, teatrólogo, cronista, crítico, jornalista, historiador e funcionário público, publicou Ensaios tímidos (poesias, 1974), História de um amor (novela, 1976), Auroras do Sul (poesias, 1879), Esboços literários (poesias e críticas, 1883), Musa moderna (poesias, 1885), Arnaldo (drama, 1886), Anália (drama, 1889), Os gaúchos (comédia, 1891), Escrínios (poesias, 1892), Poemetos e quadros (poesias, 1895), Memórias históricas brasileiras (1500-1837) (história, dois tomos, 1903), A crítica na literatura (crítica, 1907), Albatrozes (poesias, 1908). Assinava com os pseudônimos Renato e Luciano de Aguiar.83 Joaquim José Teixeira de Azevedo Júnior nasceu em Portugal, a 17 de outubro de 1840, e faleceu em São Leopoldo/RS, a 12 de abril de 1888. Poeta e jornalista, publicou Frisos de luz (poesias, 1884).84 VICENTE, Nicolau. Poesia recitada na sessão solene do 1º aniversário do Partenon Literário. Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, Porto Alegre, 1ª série, ano 1, n. 4, p. 21-22, jun. 1869.

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Page 32: No Rastro Do Partenon Literario

reconhecimento do seu gênio, até por serem, em geral, humildes, sofrendo ao longo da vida

por isso, como Camões e Lamartine, dois exemplos citados na composição. Em

contrapartida, há o homem que possui o dinheiro e a fama, “coberto de honras” e

“opulento”, mas com “mãos avaras”; entretanto, pelo seu poder, ninguém consegue

“reprimir-lhe os vôos”. Em síntese, o poema demonstra que mais valem o aplauso e o

reconhecimento do que a riqueza material:

Que importa o oiro, distinções compradas!

Doirado prisma d’ilusória esperança!

De mais quilate, mais valor que o oiro

São essas palmas que o talento alcança!

Eia, mancebos, abraçando as letras

Que dão ao mundo a verdadeira luz;

Tereis o prêmio, partilhando as glórias

Do homem mártir que expirou na cruz!

Já em 1872, foi Augusto Tota quem, em versos, declamou a grandeza dos feitos da

Sociedade Partenon Literário, com “A mocidade. Recitada na 4ª sessão aniversária do

Partenon Literário”85, em que são citados três dos maiores poetas do Romantismo

brasileiro: Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu. Essa invocação

significa a identidade que desde logo se instaurou entre a sociedade partenonista e o

movimento romântico, com a primeira fazendo questão de lembrar o quanto era penhorada

às contribuições advindas do centro do País:

Erguei, erguei vossos cantos

Com celeste inspiração,

Sede profeta dos povos

Lidadores da nação!

Um dia, talvez, bem cedo...

Direis aos vossos vindouros:

– Aqui colhemos os louros

Como Álvares de Azevedo!

85 TOTA, Augusto. A mocidade. Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, Porto Alegre, 2ª série, ano 1, n. 1, p. 39, jul. 1872.

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Page 33: No Rastro Do Partenon Literario

Olhai a senda brilhante

Que traçou Gonçalves Dias!

E vede Abreu inspirado

No leito das agonias!

O corpo a terra consome,

Ambos morreram, é certo!

Mas q’importa, se coberto

De láureas têm o renome.

“Canto à cítara”86, de Caldre e Fião, é a única composição do corpus que não foi

redigida para ser lida em um aniversário do Partenon Literário. Escrito em Porto Alegre, a

20 de dezembro de 1873, conforme indicação ao final, e publicado na edição de dezembro

mesmo, o poema, inicialmente, compara o “novo” Partenon ao “antigo”, templo erigido em

homenagem à deusa Minerva pelos gregos, povo que, evocado, traz à mente do sujeito

poético “mil triunfos belos / Das ciências, das letras, da poesia”. Agora, todavia, são outras

as preocupações da sociedade, e para todas elas o Partenon gaúcho está atento: o resgate do

índio, a revivência da memória dos heróis históricos, a independência de Portugal, a

escravidão, o ensino livre. São questões para as quais o partenonista se volta com

entusiasmado, sem medo de represálias, pois o escritor é a clivagem de um romeiro (aliás, é

uma metáfora recorrente nos poemas analisados a comparação poeta pertencente ao

Partenon/romeiro) e de um atleta, sempre na busca de seus ideais, com fé e

inabalavelmente:

Saúdo-te, romeiro, em teu caminho!

E antes de findar no tempo o prazo

Duma olimpíada, uma nova Olímpia

Tu vais tornar-te coroando os filhos

Da soberba Minerva em seus torneios.

Damasceno Vieira, com “Ao Partenon Literário. Ao Exmo. Sr. Dr. Luís da Silva

Flores”87, de 1874, presta a tradicional homenagem em decorrência do aniversário da

86 CALDRE E FIÃO, José Antônio do Vale. Canto à cítara. Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, Porto Alegre, 2ª série, ano 2, n. 12, p. 547-548, dez. 1873.87 VIEIRA, Damasceno.. Ao Partenon Literário. Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, Porto Alegre, 2ª série, ano 3, n. 9, p. 137-138, set. 1874.

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Page 34: No Rastro Do Partenon Literario

agremiação. Ao reclamar da falta de apoio que a empresa partenonista sofria à época, o eu-

lírico faz questão de lembrar Silva Flores, apontado no subtítulo, pessoa que, em momentos

difíceis, sempre estendeu a mão, incansável:

Porém a vós, senhor, que nos quisestes

Dar alento na senda afadigosa,

Qu’intentastes privar-nos dos espinhos

Que pungem-nos em vão,

A vós – hoje tecemos as grinaldas,

Grinaldas do talento, que não murcham!

Aceitai-as, senhor, as pobres flores

Da nossa gratidão!

Em 1875, coube outra vez a Augusto Tota poetizar em torno da data máxima da

entidade. Recitada na 7ª sessão aniversária do Partenon, pelo autor, conforme aponta nota

original, “18 de junho”88 propõe-se a vincar a sociedade partenonista como local do qual

dimanam luz e liberdade, além de lembrar Afonso Marques, Felipe Néri e Antônio Ferreira

das Neves, três membros ilustres da agremiação, já falecidos naquele momento:

Desperta Afonso Marques desse sono,

Que te prostrou no lôbrego abandono

Da campa n’aridez.

Dezoito hoje te chama pressuroso

Debruçado na tumba lagrimoso

Da tétrica mudez.

Transcende, Néri, o espaço do horizonte

Onde triste emergiste augusta fronte

Desprende-te do céu.

Ferreira Neves despe esse marasmo,

Que hoje é dia de santo entusiasmo,

Declina ao braço meu.

88 TOTA, Augusto. 18 de junho. Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, Porto Alegre, 2ª série, ano 4, n. 6, p. 262-264, jun. 1875.

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Page 35: No Rastro Do Partenon Literario

Por fim, em junho de 1879, Azevedo Júnior publica “Partenon Literário”89, poema

publicado no mensário do grêmio, à época em que ele se chamava Revista Contemporânea

do Partenon Literário – Consagrada às Letras, Ciências e Artes. É uma edição em grande

parte dedicada à reprodução de textos que homenagearam, em sarau comemorativo, o

décimo primeiro aniversário do Partenon. A ocasião foi marcada por récitas, falas,

apresentação de orquestra e baile. O poema foi lido na festividade, sendo publicado

posteriormente na revista, junto com diversos discursos, entre os quais se salienta um de

Luciana de Abreu, famosa oradora da época.

Dentro dos preceitos românticos que norteavam a literatura gaúcha da segunda

metade do século XIX, “Partenon Literário” reveste-se de um tom grandioso, em que os

membros da associação porto-alegrense são comparados a vultos da literatura e da história

mundiais de todos os tempos: Camões, Dante, Petrarca, Napoleão, Shakespeare, Tasso,

Lamartine e Franklin. O sujeito poético ressalta o caráter dúplice, divino e heróico, da

missão do escritor, qual seja a de iluminar o caminho da massa ignara em direção ao

progresso, por meio de um trabalho intelectual que se assemelha a um combate e

determina-se, em grande parte, pela inspiração, dom recebido pelo artista da palavra e que o

diferencia do restante das pessoas:

Eis o sublime combate

Das lutas do pensamento;

Nas expansões do debate

Brilha a luz do entendimento.

Dum lado – o vulto da Glória

Sustém o livro da História,

Fita o largo da amplidão...

Do outro – a Fama, pujante,

Aponta Camões e Dante,

Petrarca e Napoleão!

89 AZEVEDO JÚNIOR. Partenon Literário. Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, Porto Alegre, 4ª série, ano 1, n. 3, p. 125-127, jun. 1879. V., sobre este poema, PÓVOAS, Mauro Nicola. Um poema para o Partenon. Revista do Partenon Literário, Porto Alegre, n. 4, p. 25-28, jun. 2003. O poema em questão foi publicado, depois, em um livro de versos de Azevedo Júnior, Frisos de luz, de 1884, sob o título de “Ao Partenon Literário”, com pequenas modificações em relação ao que está publicado na revista.

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Page 36: No Rastro Do Partenon Literario

E nessa luta fremente

Passa uma idéia de luz...

– Como no crânio do crente

Perpassa a lenda da Cruz. –

Quais os antigos ascetas,

Esses modernos profetas

Têm uma crença, um só fim...

Descrever em áureo traço

Quem foi Shakespeare e Tasso,

Lamartine e Franklin.

Porém, quem são os heróis,

Que marcham com pé seguro,

À luz fulgente dos sóis

Em demanda do futuro?

Serão – a falange altiva

Que sente a centelha viva

Da lava da inspiração?...

Heróis da grande oficina

Do livro – o sol, que ilumina

As frontes da multidão?...

Laudatórias, as seis composições têm em comum a auto-reflexão e a auto-

referencialidade, numa tentativa de adornar o Partenon Literário de características positivas,

sempre registrando o caminho correto trilhado pela sociedade: o de estimular o progresso

dos seus leitores, nos mais diversos campos, como na cultura, na educação e no civismo. O

recurso exaltatório era comum à época, dando origem a uma produção encomiástica que

flagra um momento inicial do sistema literário sulino, em que eram necessárias a auto-

afirmação e a autocontemplação, num território com poucas escolas e parcas casas editoras,

e que, além de tudo, contava com um diminuto número, fosse de leitores capacitados, fosse

de publicações especializadas.

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Page 37: No Rastro Do Partenon Literario

4) Bibliografia sobre o Partenon Literário

Esta bibliografia, embora extensa, não se pretende completa, pois o Partenon

Literário e a sua respectiva revista mereceram reiterada e sucessiva atenção da crítica sul-

rio-grandense, desde o início do século XX até os primeiros anos do século XXI, conforme

as datas das edições abaixo mencionadas apontam. A seguir, listam-se artigos, livros,

dissertações e teses, que analisam as ações da agremiação, os autores partenonistas e a

produção presente no periódico: narrativas, poesias, peças de teatro, críticas, crônicas,

discursos. A coleção mais completa da revista – de 1869 a 1879, com interrupções –

encontra-se no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Em

1951 e 1953, a Revista do Instituto republicou, respectivamente, os anos de 1869 e 1872.

Outra fonte de textos sobre o Partenon são as seis edições – 1998, 2001, 2002 e 2003, 2004

e 2005 – da revista da nova Sociedade Partenon Literário, surgida em 1997.

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