5
Direito e Neurociência: uma visão geral Vinícius de Souza Balestra A aproximação entre Direito e Neurociência pode se dar de diversos modos. Como aponta Capó (2006), a neurociência teve nos últimos anos um grande crescimento em sua produção científica. Esse “boom” de produções e descobertas não passou despercebido pelas ciências humanas e tem produzido uma aproximação filosófica da ética e da neurociência. Essa aproximação, ainda segundo Capó (2006), se daria de três modos distintos: a) no desenvolvimento de uma ética das neurociências, como extensão da própria bioética; b) uma preocupação com as melhorias de capacidades cognitivas que podem ser obtidas mediante novas técnicas neurocientíficas; e c) o possível uso jurídico dos avanços neurocientíficos. A possibilidade do que chamamos de uso jurídico se daria, a princípio, também de três maneiras distintas: o uso dessas novas tecnologias neurocientíficas como meio de prova em processos judiciais; o uso dessas tecnologias para meio alternativo de tratamento (e, portanto, de pena); e, por fim, o uso dos conhecimentos obtidos pela neurociência para alterar as concepções filosóficas que sustentam determinadas normas jurídicas para, por fim, alterar a própria norma. Nos Estados Unidos, por exemplo, tem sido frequente o uso dessas técnicas no segundo uso apontado, qual seja, de desenvolvimento de novas técnicas terapêuticas como alternativas

Nojiri

Embed Size (px)

DESCRIPTION

filosofia direito

Citation preview

Direito e Neurocincia: uma viso geralVincius de Souza BalestraA aproximaoentreDireitoeNeurocinciapodesedar dediversosmodos. ComoapontaCap(2006), aneurocinciatevenos !timos anos um"randecrescimentoemsuaproduocient#$ica. %sse&'oom(deprodu)esedesco'ertasnopassoudesperce'idope!ascincias *umanas e tem produ+ido uma aproximao $i!os$ica da ,tica e da neurocincia. %ssaaproximao, ainda se"undo Cap (2006), se daria de trs modos distintos- a) nodesenvo!vimentodeuma,ticadasneurocincias, comoextensodaprpria'io,tica. ')umapreocupao com as me!*orias de capacidades co"nitivas /ue podem ser o'tidas mediante novast,cnicas neurocient#$icas. e c) o poss#ve! uso 0ur#dico dos avanos neurocient#$icos.A possi'i!idade do /ue c*amamos de uso 0ur#dico se daria, a princ#pio, tam',m de trsmaneirasdistintas- ousodessasnovastecno!o"iasneurocient#$icascomomeiodeprovaemprocessos 0udiciais. o uso dessas tecno!o"ias para meio a!ternativo de tratamento (e, portanto, depena). e, por $im, o uso dos con*ecimentos o'tidos pe!a neurocincia para a!terar as concep)es$i!os$icas /ue sustentam determinadas normas 0ur#dicas para, por $im, a!terar a prpria norma.Nos %stados 1nidos, por exemp!o, tem sido $re/uente o uso dessas t,cnicas no se"undouso apontado, /ua! se0a, de desenvo!vimento de novas t,cnicas teraputicas como a!ternativas 2spenas tradicionais. 3usode t,cnicas neuro$armaco!"icas comosu'stitutivode pena paraintervir em condenados com ansiedade, a"ressividade ou impu!sividade tem "erado controv,rsiasno campo ,tico. no entanto, tem sido $ormado um consenso a respeito do uso dessas t,cnicas paraa/ue!es/uesoconsideradoscasosmais"raves, taiscomodevio!nciaextremaea"ressosexua! reincidente.4or outro !ado, o uso de t,cnicas neurocient#$icas como meio d eprova tem sido de'atidoprincipa!mente em vista do desenvo!vimento de t,cnicas de brain reading- isto ,, a possi'i!idadede dia"nosticar, em determinados indiv#duos, de /ue en$ermidades padecem. A!"uns estudos, porexemp!o, 05apontamapossi'i!idadedeuti!i+ar6sedomapeamentocere'ra! paraidenti$icarpessoas com propenso ao uso de dro"as. No mesmo sentido, essa !eitura do c,re'ro por meio dedeterminados apare!*os tam',mtemsidousada para &detectar mentiras(, comoa empresaamericana &7rain 8in"erprints 9a'oratories(, /ue det,m uma tecno!o"ia usada, em a!"uns casos,inc!usive nos tri'unais.(Cap et a!., 2006)As o'0e)es a essa t,cnica so muitas. A primeira o'0eo /ue podemos $a+er , a respeitoda aura de o'0etividade e preciso /ue a modernidade dessas t,cnicas podem aparentar. De $ato,*5 a!"um potencia! sedutor, e uma crena positivista de in$a!i'i!idade /ue podem !evar a exa"erose e/u#vocos. De outro modo, tam',m *5 /ue se ponderar a respeito da vo!untariedade do usodessas t,cnicas. Como 'em exp!icita Cap (2006), o inconsciente tem sido &poupado( pe!o meio0ur#dico, visto /ue parte inte"rante da privacidade e da intimidade do indiv#duo. 3 advento e usocrescente dessas t,cnicas, nesse sentido, poderia se tornar um risco a proteo dessas "arantiasconstitucionais.1m caso espec#$ico em /ue as neurocincias tm sido usadas com a!"um sucesso comoaux#!io 2 instruo pro'atria , na de$inio do momento da morte. Cap (2006) aponta, nessesentido, o caso de :erri ;c*iavo, /ue tomou "randes porpor)es na m#dia americana, /uando amu!*er de :erri pediu /ue deixassemseu marido morrer de inanio, ve+ /ue 05 estavade$initivamente irrecuper5ve! do ponto de vista 'io!"ico. 1m exame aps a sua morte con$irmouo/ue a mu!*er vin*a di+endo, aoconstatar /ue seu c,re'ro 05 estava irremediave!mentedani$icado.4or $im, a neurocincia e as t,cnicas por e!a desenvo!vidas recentemente tm suscitadomuitas /uest)esno /ue concerneaos $undamentos prpriosdemuitosinstitutos 0ur#dicos,emespecia! os$undamentos dasnormasde&responsa'i!i+ao(uti!i+adas noDireito. Con$ormeaponta Demetrio6Crespo (20