90
Nossa Relação com a Eternidade Por Silvio Dutra Nov/2018

Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

Nossa Relação com a Eternidade

Por

Silvio Dutra

Nov/2018

Page 2: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

2

A474 Alves, Silvio Dutra Nossa relação com a eternidade / Silvio Dutra Alves Rio de Janeiro, 2018. 90p.; 14,8 x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252

Page 3: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

3

“E sei que o seu mandamento é vida eterna.

Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente

como o Pai me ordenou.” (João 12.50)

“Assim como lhe deste autoridade sobre toda a

carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles

que lhe tens dado. E a vida eterna é esta: que te

conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e

a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (João

17.2,3)

Em sua significação geral a palavra eternidade

carrega consigo a noção de tudo aquilo que

jamais deixará de existir. Ainda que o tempo

deixasse de existir, o ser eterno continuaria em

sua existência. É fácil de se supor que todos os

seres que vivem no céu, não estão sujeitos ao

tempo, conforme ele corre em sucessão aqui na

Terra, e pode-se dizer que todos os que lá vivem,

encontram-se em estado eterno.

Todavia, quando a palavra tem sua significação

restringida àquilo que é espiritual, duas

situações devem ser consideradas: 1) a primeira

é relativa à condição que é chamada de morte

eterna, em que se encontram todos os seres

morais que não desfrutam da vida de Deus, e 2)

a segunda, por conseguinte, à que é chamada de

vida eterna, por corresponder ao desfrute da

Page 4: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

4

vida de Deus por parte daqueles a quem isto é

concedido, sejam homens ou anjos. É a esta

segunda condição que os nossos textos de

abertura se referem.

Sendo Deus a fonte e a causa de todas as formas de vida que chegam por ele à existência, só

podem ter vida eterna, assim como esta se encontra na divindade, aqueles que conhecem

por experiência pessoal a Deus, e que têm participação da comunhão com ele, pois, é

evidente, que tudo o que se encontra desligado da fonte, não pode ter continuidade em si

mesmo., conforme tudo o que existe na fonte.

Daí nosso Senhor ter conceituado a vida eterna

de forma tão sucinta com as seguintes palavras: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti,

como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.”

Este é um assunto fascinante por sua própria natureza intrínseca em sua extensão ilimitada, com variadas e infinitas formas de abordagens,

das quais temos que selecionar e nos focar apenas naquilo que diz respeito às realidades

espirituais conformem elas existem na própria pessoa de Deus.

Mas, ao focarmos em Deus não estaremos, como muitos costumam conceber, fazendo

considerações de algo monótono e estacionário.

Page 5: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

5

Muito a contrário disso, trata-se de uma matéria sem limites, assim como é o próprio Deus, que

não poderiam confiná-lo a algum aspecto determinante de tudo o mais.

Deus é profundidade sem fundo, e suas múltiplas realidades e ações são todas elas de caráter eterno, assim como ele é eterno.

Só para ilustrar um destes muitos aspectos, podemos antecipar um de importância capital que é o ato da morte e ressurreição de Jesus, que

apesar de terem ocorrido historicamente em um determinado ponto do tempo, possuem um

caráter eterno não somente de gratidão e louvor por parte daqueles que são e serão para sempre

alcançados pela salvação, como também permanecem como atos eternos na produção de

seus benefícios. Toda vez que alguém se converte, é como se eles se renovassem e

ocorressem de novo, apesar de não ser assim, pois foram realizados de uma vez para sempre.

Assim, a vida eterna é composta também de vários momentos, inclusive já passados, mas

que carregam consigo não apenas a lembrança, mas a eficácia e os efeitos, de tudo aquilo que é bom e edificante, conforme existentes na

pessoa de Deus.

Por outro lado, pode-se definir a morte eterna, como o alijamento que durará para sempre, de

Page 6: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

6

toda a bondade que há em Deus, porque, não se tendo experiência desta bondade e amor, não é

possível trazê-los à lembrança, e nem mesmo ser participante de seus benefícios.

A morte eterna é o estado de completa destituição de graça divina. É a miséria absoluta que atormentará para sempre a consciência que

será ativada para este propósito de condenação perpétua, em todos aqueles que praticaram o

mal, e não foram perdoados e lavados de suas iniquidades.

Suas mentes serão aferroadas sem descanso por toda a eternidade, pelo próprio mal que praticaram, e do bem que fizeram, eles não

terão qualquer lembrança, por não ter sido feito em Deus e por Deus.

Somente o que procede de Deus terá a marca da eternidade, no que se refere ao bem. E nestes

que são alcançados pela vida eterna divina, não haverá lembrança do mal que os atormente,

porque tudo o que vier à tona, será para o louvor e glória de Jesus Cristo. Assim, até mesmo a

lembrança do mal, naqueles que alcançarem a vida eterna em Deus, a maldição será transformada em motivo de bênção, em razão

do perdão concedido a eles.

Davi era um grande conhecedor, na prática, destas verdades, e por isso podia dizer que só um

Page 7: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

7

dia nos átrios do Senhor tinha muito mais valor do que mil fora da Sua presença. Por que isto,

porque aqueles momentos de um só dia, ficariam marcados na lembrança e na vida, para

produzir todo um efeito bom de louvor, gratidão, alegria, e para consolidar a fé no amor

de Deus por seus filhos.

O profeta Jeremias, também conhecendo o poder e a realidade destes momentos de

eternidade com Deus, em suas aflições, sempre procurava trazer à lembrança as coisas divinas

pelas quais podia manter firme a sua esperança.

Nenhuma boa obra feita em Deus deixará de ter

o seu galardão, e jamais cairá no esquecimento. Aquele gesto de amor da mulher que derramou

o unguento precioso sobre Jesus, recebeu dEle a promessa de que aquilo seria lembrado onde

quer que o evangelho fosse pregado, para memória dela. E certamente, aquele ato nunca será esquecido por todos os crentes, por toda a

eternidade, porque marca o amor eterno em ação entre Deus e os Seus.

Não é preciso esperar para entrar nesta vida maravilhosa, porque ela já começa aqui; o reino

eterno de Deus está em nós, a vida do céu está em nós, a partir do momento mesmo que nos

convertemos a Cristo. A fé nos leva a nos apoderar das coisas que ainda não são vistas e

que esperamos. Ela nos permite viver na

Page 8: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

8

atmosfera espiritual e celestial ainda aqui neste mundo, e nos aponta a plenitude que teremos

disto na glória.

Somos seres criados para a eternidade – lembremos sempre disso, uma vez que formos criados para sermos à imagem e semelhança de

Deus.

Já à luz destas poucas reflexões nós podemos

concluir quão errado é o modo de se pensar na

vida eterna como algo desvinculado de nós

mesmos, como se fosse apenas um simples

prêmio recebido da parte de Deus, para ir para o

céu depois da morte neste mundo, e ser livrado,

por conseguinte, do castigo eterno no inferno.

Neste sentido, foram muitos que perguntaram a

Jesus o que deveriam fazer para herdar a vida

eterna, conforme se vê no registro dos

evangelhos. Não que eles estivessem pensando

que mudança deveria ser feita em suas pessoas,

como eles deveriam se converter a Deus, pois

não estavam dispostos a isto, senão

simplesmente, pensando se havia alguma

forma ritualística de adoração exterior que eles

ainda não conheciam, e que poderia lhes ser

revelada por Jesus. (Lc 18.18).

Sabemos, pelas Escrituras, que Deus planejou

antes mesmo da fundação do mundo que a

Page 9: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

9

salvação seria exclusivamente pela graça,

mediante a fé e o arrependimento.

Mas, quantas verdades estão atreladas a esta

graça, a esta fé e a este arrependimento! Aqui,

ao se falar de graça, não se deve pensar apenas

no que é gratuito, mas sobretudo em poder que

é capaz de converter e produzir santidade no

pecador. Ao se falar de fé, não está em foco

apenas crer e confiar, mas receber o dom de

Deus que nos liga a Cristo, para que possamos

receber da Sua própria vida, e todos os

benefícios que Ele conquistou para nós na cruz.

E o arrependimento que sempre acompanha a

verdadeira fé, não é mera resignação, mas

mudança de direção, do pecado para a

santidade, do mundo e do diabo, para Deus. É

uma mudança de mente, como está no original

grego (metanoia) – de uma mente carnal, para

uma mente espiritual.

“Para que todo aquele que nele crê tenha a vida

eterna. Porque Deus amou o mundo de tal

maneira que deu o seu Filho unigênito, para que

todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha

a vida eterna.” (João 3.15, 16).

“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que,

porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas

sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3.36).

Page 10: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

10

A mente carnal que estava presa às coisas deste

mundo, e incapaz de conhecer a vida de Deus

por permanecer na ignorância das trevas,

quando é vencida, e passamos a ter a mente de

Cristo, que é obtida na conversão, abre-se um

amplo horizonte diante de nós, de

possibilidades que não têm fim, e que sempre

estão em contínuo movimento assim como as

águas de um rio que estão sempre correndo

para o mar. A vida que recebemos de Deus, é

como um rio de água viva que flui para o grande

oceano do amor de Deus, e este rio jamais

secará.

“Mas aquele que beber da água que eu lhe der

nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu

lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre

para a vida eterna.” (João 4.14).

Esta que é a maravilha da coisa, pois apesar de

Jesus ser o mesmo alimento do qual comemos

sempre, não há qualquer possibilidade de vir a

se tornar em uma rotina enjoada, porque assim

como as águas do rio correm continuamente,

elas nunca são as mesmas águas à medida que

vão avançando. Assim, em relação a Cristo, que

é sempre novo para nós, apesar de ser sempre o

mesmo. Por isso a vida que temos com ele é

chamada de novidade de vida, não apenas por

ser algo diferente, mas por ser algo que está

Page 11: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

11

sempre se renovando em nós, sem nunca

alterar a sua substância santa.

Paulo diz, a este respeito, que sendo novas

criaturas em Cristo, o que é velho já passou e

todas as coisas se fizeram novas, e que o homem

exterior se corrompe, mas o novo, criado em

Cristo e por Cristo, se renova diariamente.

“Trabalhai, não pela comida que perece, mas

pela comida que permanece para a vida eterna,

a qual o Filho do homem vos dará; pois neste,

Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.” (João 6.27).

João 6.47: Em verdade, em verdade vos digo:

Aquele que crê tem a vida eterna.

João 6.54: Quem come a minha carne e bebe o

meu sangue tem a vida eterna; e eu o

ressuscitarei no último dia.

Como temos visto que a vida eterna se funda no

bem que está em Deus, o pecado é o grande

inimigo desta vida, e não podemos morrer para

o pecado se não morrermos juntamente com

Cristo, recebendo-o pela fé em nosso coração.

Se não nos despojarmos do velho homem e não

nos revestirmos do novo que é criado segundo

Deus em justiça, não podemos achar os efeitos

desta vida eterna atuando em nossa existência.

Page 12: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

12

“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste

mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida

eterna.” (João 12.25).

É possível ter alcançado a vida eterna por meio

da fé em Jesus e no entanto viver como morto

espiritual, por causa da falta de mortificação do

pecado. Quando não andamos no Espírito, o que

há de prevalecer são as obras da carne.

A razão de tudo isto, é porque, como já dissemos,

a vida eterna é dinâmica, ela vive na piedade e

no crescimento contínuo na graça e no

conhecimento de Jesus. Se a água do rio é

bloqueada ela ficará estagnada. Importa então

exercitar-se diariamente na vida de piedade que

para tudo é proveitosa, pois sem isto, não se verá

todos os movimentos da vida eterna operando

em nós e através de nós.

Deus é Deus de vivos, e não de mortos. Vivos

espirituais, e por isso seu mandamento é que

não somente sejamos transportados da morte

para a vida, mas que vivamos perante Ele como

filhos avivados, renovados pelo Espírito Santo,

cheios do fruto de justiça e boas obras.

“E sei que o seu mandamento é vida eterna.

Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente

como o Pai me ordenou.” (João 12.50).

Page 13: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

13

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o

dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo

Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6.23).

Sendo Deus espirito, e sua eternidade sendo

então decorrente da sua espiritualidade, nunca

podemos esquecer que todas as coisas naturais

visíveis são temporais, e nada têm em si mesmas

da vida eterna que são espirituais e, portanto,

invisíveis, e que são reveladas como reais e

eternas que são, para nós, pela fé.

O nosso próprio corpo físico que tem a sua

importância como veículo da alma, todavia,

também é natural e temporal. Ele pode

participar do culto a Deus, pois devemos adorá-

lo também com o nosso corpo, mas de modo

algum ele é apto para atos espirituais, que são

provenientes exclusivamente das faculdades do

espírito. Por isso Jesus disse que a carne para

nada aproveita, e que tudo o que é gerado pela

carne é carnal e não espiritual. Somente o

espírito é o que vivifica, e pode responder

adequadamente à adoração a Deus, porque toda

a adoração verdadeira é espiritual, porque Deus

é espírito.

“Não atentando nós nas coisas que se veem, mas

sim nas que se não veem; porque as que se veem

Page 14: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

14

são temporais, enquanto as que se não veem são

eternas.” (II Coríntios 4.18).

“Porque quem semeia na sua carne, da carne

ceifará a corrupção; mas quem semeia no

Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.”

(Gálatas 6.8).

Não podemos esquecer que a vida eterna não é

algo que existe à parte de Jesus Cristo, porque

Ele própria é a vida eterna, como definiu em seu

ministério terreno que era a Videira Verdadeira,

e o caminho e a verdade e a vida. Disto se

depreende que somente pode ser dito que se

tem vida eterna, quando se está em união com

Cristo, participando de Sua vida, alimentando-

se dEle e vivendo nEle.

“Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e

nos deu entendimento para conhecermos

aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele

que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus

Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.”

(I João 5.20).

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém

comer deste pão, viverá para sempre; e o pão

que eu darei pela vida do mundo é a minha

carne.” (João 6.51).

Page 15: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

15

“Antes que as montanhas fossem geradas, ou

você tivesse formado a terra e o mundo, de

eternidade a eternidade, tu és Deus.” (Salmo 90:

2).

O título deste salmo é uma oração; o autor,

Moisés. Ele menciona aqui a eternidade de

Deus, não somente com respeito à essência de

Deus, mas à sua providência federal; como ele é

a morada do seu povo em todas as gerações. A

duração de Deus para sempre é mais falada nas

Escrituras do que sua eternidade, embora essa

seja a base de todo o conforto que podemos tirar

de sua imortalidade: se ele tivesse um começo,

ele poderia ter um fim, e assim toda a nossa

felicidade, esperança e ser expiraria com

ele; mas as Escrituras às vezes notam que ele é

sem começo, assim como é sem fim: “Tu és da

eternidade” (Salmos 93: 2); “Bendito seja Deus

de eternidade a eternidade” (Salmo 41:13); “Fui

instituído desde a eternidade” (Provérbios 8:23):

se sua sabedoria existia desde a eternidade, ele

mesmo seria de eternidade; entendê-lo de

Cristo, o Filho de Deus, ou da sabedoria

essencial de Deus, é tudo um para o presente

propósito.

A sabedoria de Deus supõe a essência de Deus,

como os hábitos nas criaturas supõem que o ser

de algum poder ou faculdade é o assunto deles.

Page 16: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

16

A sabedoria de Deus supõe mente e

compreensão, essência e substância. A noção de

eternidade é difícil; como Agostinho disse do

tempo, se ninguém me fizesse a pergunta, que

horas são, eu sei bem o que é; mas se alguém me

perguntar o que é, não sei como explicá-lo;

então posso dizer da eternidade; é fácil na

palavra pronunciada, mas dificilmente

compreendida e mais dificilmente expressada;

é melhor expresso por negativas do que palavras

positivas. Embora não possamos compreender a

eternidade, podemos compreender que existe

uma eternidade; como, embora não possamos

compreender a essência de Deus o que ele é,

mas podemos compreender que ele é; podemos

entender a noção de sua existência, embora não

possamos entender a infinitude de sua

natureza; contudo, podemos entender melhor a

eternidade do que a infinitude; nós podemos

melhor conceber um tempo com a adição de

inumeráveis dias e anos, do que imaginar um

Ser sem limites; de onde o apóstolo junta a sua

eternidade com seu poder; “Seu eterno poder e

divindade” (Rom. 1:20); porque, ao lado do poder

de Deus, apreendido na criatura, nós viemos

necessariamente por raciocínio, a reconhecer a

eternidade de Deus. Aquele que tem um poder

incompreensível precisa ter uma natureza

eterna; seu poder é mais sensível nas criaturas

aos olhos do homem, e sua eternidade

Page 17: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

17

facilmente a partir daí é deduzível pela razão do

homem. A eternidade é uma duração perpétua,

que não tem começo nem fim; o tempo tem

ambos.

As coisas que dizemos são, no tempo, que

começam, crescem gradualmente, têm

sucessão de partes; a eternidade é contrária ao

tempo e é portanto, um estado permanente e

imutável; uma posse perfeita da vida sem

qualquer variação; compreende em si todos os

anos, todas as idades, todos os períodos de idade;

nunca começa; ela perdura após cada período

de tempo e nunca cessa; faz tanto tempo de fuga

quanto foi antes do começo: o tempo supõe algo

anterior; mas não pode haver nada antes da

eternidade; pois não seria então a eternidade.

O tempo tem uma sucessão contínua; o

primeiro tempo passa e outro sucede: o último

ano não é este ano, nem este ano o próximo.

Devemos conceber a eternidade contrária à

noção de tempo; como a natureza do tempo

consiste na sucessão de partes, então a natureza

da eternidade em uma duração infinita e

imutável. Eternidade e tempo diferem como o

mar e rios; o mar nunca muda de lugar e é

sempre uma água; mas os rios deslizam e são

engolidos pelo mar; assim é o tempo pela

Page 18: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

18

eternidade. Uma coisa é dita ser eterna ou

eterno em vez disso, nas Escrituras...

Quando é de longa duração, embora tenha um

fim; quando não tem medidas de tempo

determinadas a isso; então a circuncisão é dita

estar na carne por um “pacto eterno” (Gên

17:13); não puramente eterno, mas enquanto

essa administração da aliança deve durar. E

assim, quando um servo não deixaria seu

mestre, mas teria sua orelha perfurada, diz-se,

ele deveria ser um servo "para sempre" (Deut

15:17); isto é, até o jubileu, que era todo o

quinquagésimo ano: assim diz-se que a oferta de

carne que ofereciam "perpetuamente" (Lev.

6:20); dizem que Canaã é dada a Abraão por um

possessão “eterna” (Gên 17: 8); quando os judeus

são expulsos de Canaã, que é uma presa para as

nações bárbaras. De fato, a circuncisão não era

eterna; ainda a substância do pacto do qual isto

era um sinal, que Deus seria o Deus dos crentes,

permanece para sempre; e essa circuncisão do

coração que foi simbolizada pela circuncisão da

carne, permanecerá para sempre no reino da

glória.

Quando uma coisa não tem fim, embora tenha

um começo. Então anjos e almas são

eternos; ainda que o seu ser nunca cesse, mas

houve um tempo em que o ser deles

Page 19: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

19

começou; eles não eram nada antes de serem

algo, embora nunca sejam nada ainda, mas deve

viver em infindável felicidade ou miséria. Mas

isso corretamente é eterno e não tem começo

nem fim; e assim a eternidade é uma

propriedade de Deus.

Vejamos agora como Deus é eterno, ou em que

aspectos ele é assim.

A eternidade é um atributo negativo, e é uma

negação de Deus quaisquer medidas de tempo,

como a imensidão é uma negação de qualquer

limite de lugar. Como a imensidão é a difusão de

sua essência, a eternidade é a duração de sua

essência; e quando dizemos que Deus é eterno,

excluímos dele todas as possibilidades de

começo e fim, todo fluxo e mudança.

Enquanto a essência de Deus não pode ser

delimitada por nenhum lugar, por isso não deve

ser limitada a qualquer momento: como é sua

imensidão estar em toda parte, assim é sua

eternidade para sempre. Como as coisas criadas

dizem estar em algum lugar em relação ao

lugar, e estar no presente, passado ou futuro,

em relação a tempo; então o Criador em relação

ao lugar está em toda parte, em relação ao

tempo é sempre. Sua duração é tão infinita

quanto sua essência é ilimitada: ele sempre foi e

Page 20: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

20

sempre será, e não terá mais fim do que teve um

começo; e esta é uma excelência pertencente ao

Ser supremo. Como sua essência compreende

todos os seres, e os excede, e sua imensidade

supera todos os lugares; então sua eternidade

compreende todos os tempos, todas as durações

e infinitamente os excede.

Deus é sem começo. “No princípio” Deus criou o

mundo (Gên 1: 1). Deus era então antes do

começo disto; e que ponto pode ser estabelecido

onde Deus começou, se ele estava antes do

começo das coisas criadas? Deus não teve

começo, embora todas as outras coisas tiveram

tempo e começaram com ele. Como a unidade é

antes de todos os números, assim é Deus diante

de todas as suas criaturas. Abraão convocou o

nome do Deus eterno (Gênesis 21:33), o Deus

eterno. - Ele se opõe aos deuses pagãos, que

eram de ontem, novos e cunhados de novo; mas

o Deus eterno foi antes do mundo ser

feito. Nesse sentido, deve ser entendido; “O

mistério que foi mantido em segredo desde que

o mundo começou, mas agora se manifesta, e

pelas Escrituras dos profetas, de acordo com o

comando do Deus eterno, é tornado conhecido a

todas as nações pela obediência da fé” (Rom

16:26). O evangelho não é pregado pelo comando

de um Deus novo e temporário, mas daquele

Deus que foi antes de todas as idades: embora a

Page 21: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

21

manifestação disso seja no tempo, ainda assim o

propósito e a resolução disso foi desde a

eternidade. Se houvesse decretos antes da

fundação do mundo, haveria um Decreto antes

da fundação do mundo. Antes da fundação do

mundo, ele amava a Cristo como mediador; uma

pré-ordenação dele foi antes da fundação do

mundo (João 17:24); uma escolha de homens e,

portanto, um Seletor antes da fundação do

mundo (Efésios 1: 4); uma graça dada em Cristo

antes do mundo começar (2 Timóteo 1: 9) e,

portanto, um doador daquela graça. Desses

lugares, diz Crellius, parece que Deus era antes

da fundação do mundo, mas eles não afirmam

uma eternidade absoluta; mas estar diante de

todas as criaturas é equivalente ao seu ser da

eternidade. O tempo começou com a fundação

do mundo; mas Deus sendo antes do tempo, não

poderia ter início no tempo. Antes do começo da

criação e início dos tempos, não poderia haver

nada além de eternidade; nada além do que foi

criado, isto é, nada além do que era sem

começo. Estar no tempo é ter um começo; ser

antes de todos os tempos é nunca ter um

começo, mas sempre para ser; pois, como entre

o Criador e as criaturas, não há meio, então

entre o tempo e a eternidade não há meio. É

como facilmente deduzido que aquele que era

antes de todas as criaturas é eterno, como

aquele que fez todas as criaturas é Deus. Se ele

Page 22: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

22

tivesse um começo, ele deve tê-lo de outro, ou

de si mesmo; se de outro, aquele de quem ele

recebeu seu ser seria melhor que ele, então

mais um deus do que ele. Ele não pode ser Deus

que não é supremo; ele não pode ser supremo

que deve seu ser ao poder de outro. DEle não

seria dito apenas ter imortalidade como ele é (1

Timóteo 6:16), se ele dependesse de outro; nem

poderia ter um começo de si mesmo; se ele

tivesse dado início a si mesmo, então ele já seria

nada; haveria um tempo em que ele não era; se

ele não fosse, como ele poderia ser a Causa de si

mesmo? É impossível para qualquer um dar um

começo e ser para si mesmo: se agir, deve existir

e, portanto, existir antes de existir. Uma coisa

existiria como causa antes de existir como

efeito.

Aquele que não é, não pode ser a causa que ele

é; se, portanto, Deus existe, e não tem o seu ser

de outro, ele deve existir na

eternidade. Portanto, quando dizemos que Deus

é de e de si mesmo, queremos dizer que Deus

não deu ser a si mesmo; mas deve

negativamente ser entendido que ele não tem

causa de existência sem ele mesmo. Qualquer

que seja o número de milhões de milhões de

anos que possamos imaginar antes da criação do

mundo, todavia Deus era infinitamente anterior

a esses; ele é, portanto, chamado o "Ancião dos

Page 23: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

23

Dias" (Daniel 7: 9), como sendo antes de todos os

dias e tempo, e eminentemente contendo em si

mesmo todos os tempos e idades. Embora, de

fato, Deus não possa ser chamado

apropriadamente de antigo, que testificará que

ele está decaindo, e em breve não será; não mais

do que ele pode ser chamado de jovem, o que

significaria que ele não demorou muito

antes. Todas as coisas criadas são novas e

frescas; mas nenhuma criatura pode descobrir

qualquer princípio de Deus..

Deus é sem fim. Ele sempre foi, sempre é e

sempre será o que é. Ele permanece sempre o

mesmo em ser; tão longe de qualquer mudança,

que nenhuma sombra dela possa tocá-lo (Tiago

1:17). Ele continuará sendo enquanto ele já o

tiver desfrutado; e se poderíamos acrescentar

nunca tantos milhões de anos juntos, ainda

estamos tão longe de um fim como de um

começo; porque “o Senhor permanecerá para

sempre”(Salmo 9: 7).

Como é impossível que ele não seja, sendo

desde toda a eternidade, então é impossível que

ele não seja para toda a eternidade.

A Escritura é mais abundante nos testemunhos

dessa eternidade de Deus, ou após a criação do

mundo: diz-se que ele "vive para sempre”

Page 24: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

24

(Apocalipse 4: 9, 10). A terra perecerá, mas Deus

"durará para sempre", e seus "anos não terão

fim" (Salmos 102: 27).

Plantas e animais crescem desde pequenos

começos, chegam ao seu pleno crescimento, e

declinam novamente, e sempre têm notáveis

alterações em sua natureza; mas não há

declinação em Deus por todas as revoluções do

tempo. Daí alguns pensam que a

incorruptibilidade da Deidade foi significada

pela madeira de cedro, da qual a arca foi feita,

sendo de natureza incorruptível (Ex 25:10).

O que que não teve início de duração nunca

pode ter um fim ou qualquer interrupção

nele. Desde que Deus nunca dependeu de nada,

deve fazê-lo deixar de ser eternamente o que ele

tem sido, ou pôr fim à continuação de suas

perfeições? Ele não pode querer a sua próprio

destruição; isso é contra a natureza universal

em todas as coisas deixarem de ser, se elas

puderem se preservar. Ele não pode abandonar

o seu próprio ser, porque ele não pode deixar de

amar a si mesmo como o melhor e maior bem. A

razão pela qual qualquer coisa decai é sua

própria origem em fraqueza, ou um poder

superior de algo contrário a ela. Não há fraqueza

na natureza de Deus que possa introduzir

qualquer corrupção, porque ele é infinitamente

Page 25: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

25

simples sem qualquer mistura; nem pode ser

dominado por qualquer outra coisa; um mais

fraco não pode feri-lo, e um mais forte do que ele

não pode haver; nem pode ser enganado ou

contornado por causa de sua infinita sabedoria.

Como ele não recebeu seu ser de ninguém,

então ele não pode ser privado de si por

ninguém: como ele necessariamente existe,

então ele sempre necessariamente existe. Isto,

na verdade, é propriedade de Deus; nada tão

apropriado para ele como sempre ser. Quais

perfeições qualquer ser tem, se não for eterno,

não é divino. Só Deus é imortal; somente ele é

assim por uma necessidade da natureza. Anjos,

almas e corpos também, após a ressurreição,

serão imortais, não por natureza, mas por

concessão; eles estão sujeitos a retornar a nada,

se essa palavra que os levantou do nada deve

falar a eles em nada novamente. É tão fácil com

Deus despojá-lo quanto investir com ele; ou

melhor, é impossível, mas que eles deveriam

perecer, se Deus retira seu poder de preservá-

los, o que ele exerceu ao criá-los; mas Deus está

inamovivelmente fixo em seu próprio ser; que,

como ninguém lhe deu a vida, ninguém pode

privá-lo de sua vida ou da menor partícula dele.

Não é um monte de felicidade e a vida que Deus

infinitamente possui pode ser perdida; será

durável para sempre, como foi possuído desde a

eternidade.

Page 26: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

26

Deus revela a Sua eternidade nas Escrituras,

especialmente pelas profecias, pois, nas

mesmas demonstra que as coisas que ainda

serão são perante Ele como já realizadas, de

forma que tanto em casos particulares como a

antecipação dos nascimentos e nomes dos reis

Ciro e Josias, do engrandecimento que seria

dado a José no Egito, a morte expiatória de Jesus,

o surgimento sucessivo dos impérios da Assíria,

Babilônia, Grécia e Roma, tudo isto foi

profetizado por Deus com séculos de

antecedência, e ainda há muitas profecias que

aguardam por cumprimento, como o

arrebatamento da Igreja, a segunda vinda de

Jesus etc.

O Senhor fala destas coisas em sua eternidade,

como quem vê um desfile do alto e pode

observar toda a sucessão de modo diferente de

quem se encontra num ponto fixo aqui embaixo,

como é o nosso caso, que podemos ver apenas

aquilo que passa diante de nós, no que

chamados de presente.

Quando a Bíblia fala em Apocalipse que o

Cordeiro que morreu desde antes da fundação

do mundo, temos aqui uma referência à

eternidade do sacrifício de Jesus, que tem o

poder de beneficiar até mesmo aqueles que

viveram antes do dia da Sua morte na cruz. Na

Page 27: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

27

condição de ter sido um momento eterno, ele

avança em todas direções quer passadas,

presentes ou futuras. E isto é a eternidade.

Não há sucessão em Deus. Deus é sem sucessão

ou mudança. "De eternidade a eternidade ele é

Deus”, ou seja, o mesmo. Deus não só

permanece sempre em ser, mas ele permanece

sempre o mesmo naquele ser: “tu és o mesmo”

(Salmos 102: 27) O ser das criaturas é sucessivo;

o ser de Deus é permanente e permanece

inteiro com todas as suas perfeições, inalterado

em uma duração infinita. De fato, a primeira

noção da eternidade é estar sem começo e fim,

o que nos indica a duração de um ser em relação

à sua existência; mas não ter sucessão, nada

primeiro ou último, nota antes a perfeição de

um ser em relação à sua essência. As criaturas

estão em um fluxo perpétuo; algo é adquirido ou

algo perdido todos os dias. Um homem é o

mesmo em consideração da existência quando

ele é homem, como era quando era criança; mas

há uma nova sucessão de quantidades e

qualidades nele.

Todos os dias ele adquire algo até chegar à

maturidade; todo dia ele perde algo até chegar

ao seu período. Um homem não é o mesmo à

noite que ele foi de manhã; algo é expirado e

algo é adicionado; todos os dias há uma

Page 28: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

28

mudança em sua idade, um mudar em sua

substância, uma mudança em seus acidentes.

Mas Deus tem todo o seu ser em um e o mesmo

ponto, ou momento da eternidade.

Ele não recebe nada como um acréscimo ao que

era antes; ele não perde nada do que era antes;

ele é sempre a mesma excelência e perfeição na

mesma infinidade como sempre. Seus anos não

falham (Hebreus 1:12), seus anos não vêm e vão

como os outros; não há hoje, amanhã ou ontem,

com ele. Como nada é passado ou futuro com ele

em relação ao conhecimento, mas todas as

coisas estão presentes, então nada é passado ou

futuro em relação à sua essência. Ele não é em

sua essência neste dia o que ele não era antes,

ou será no dia seguinte. Todas as suas perfeições

são mais perfeitas nele a todo momento; antes

de todas as idades, depois de todas as idades.

Como ele tem toda a essência indivisa em todo

lugar, assim como em um espaço imenso, assim

ele tem todo o seu ser em um momento de

tempo, assim como em intervalos infinitos de

tempo. Alguns ilustram a diferença entre a

eternidade e o tempo pela similitude de uma

árvore, ou uma rocha em pé sobre o lado de um

rio ou costa do mar; a árvore permanece sempre

a mesma e imóvel, enquanto as águas do rio

deslizam ao longo do pé. O fluxo está no rio, mas

a árvore não adquire nada além de um respeito

Page 29: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

29

e uma relação de presença diversa para as várias

partes do rio quando elas fluem. As águas do rio

pressionam e empurram um para o outro, e o

que o rio teve neste minuto, não tem o mesmo

no próximo. Assim são todas as coisas

sublunares em um fluxo contínuo. E embora os

anjos não tenham mudanças substanciais, ainda

assim eles têm uma acidental; pois as ações dos

anjos neste dia não são as mesmas ações

individuais que eles realizaram ontem: mas em

Deus não há mudança; ele sempre permanece o

mesmo. De uma criatura, pode-se dizer que ele

era, ou é, ou será; de Deus não pode ser dito,

senão somente que ele é. Ele é o que sempre foi,

e ele é o que sempre será; enquanto uma

criatura é o que ele não era, e será o que ela não

é agora. Como pode ser dito da chama de uma

vela, é uma chama: mas não é a mesma chama

individual que era antes, nem é a mesma que é

atualmente, depois; há uma dissolução

contínua no ar e um suprimento contínuo para

a geração de mais. Enquanto continua, pode-se

dizer que há uma chama; ainda não

inteiramente uma, mas em uma sucessão de

partes. Assim, de um homem pode-se dizer, que

ele está em falta de partes; mas ele não é o

mesmo que ele era, e não será o mesmo que ele

é. Mas Deus é o mesmo, sem a sucessão de

partes e de tempo; dele se pode dizer: "Ele é". Ele

não é mais agora do que era, e não será mais

Page 30: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

30

além do que é. Deus possui um ser firme e

absoluto, sempre constante para si mesmo. Ele

vê todas as coisas deslizando sob ele em uma

variação contínua; ele contempla as revoluções

no mundo sem qualquer mudança de sua

natureza mais gloriosa e inamovível. Todas as

outras coisas passam de um estado para outro;

do seu original, ao seu eclipse e destruição; mas

Deus possui seu ser em um ponto indivisível,

não tendo começo, fim, nem meio.

Não há sucessão no conhecimento de Deus. A

variedade de sucessões e mudanças no mundo

não faz sucessão, ou novos objetos na mente

Divina; pois todas as coisas estão presentes para

ele desde a eternidade em relação ao seu

conhecimento, embora elas não estejam

realmente presentes no mundo, em relação à

sua existência. Ele não sabe uma coisa agora e

outra depois; ele vê todas as coisas ao mesmo

tempo: "Todas as coisas são conhecidas desde o

princípio do mundo" (Atos 15:18); mas na sua

verdadeira ordem de sucessão, como estão no

conselho eterno de Deus, para serem geradas no

tempo. Embora haja uma sucessão e uma ordem

de coisas à medida que são feitas, ainda não há

sucessão em Deus em relação a seu

conhecimento delas. Deus sabe as coisas que

devem ser feitas, e a ordem delas em seu ser

trazida ao palco do mundo; ainda as duas coisas

Page 31: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

31

e a ordem que ele conhece por um ato. Embora

todas as coisas estejam presentes com Deus,

ainda assim elas estão presentes para ele na

ordem de sua aparição no mundo, e não tão

presentes com ele como se devessem ser

executadas ao mesmo tempo. A morte de Cristo

deveria preceder sua ressurreição em ordem de

tempo; há uma sucessão nisso; ambos de uma

vez são conhecidos por Deus; todavia, o ato de

seu conhecimento não é exercido sobre Cristo

como morrendo e ressurgindo ao mesmo

tempo; de modo que há uma sucessão nas coisas

quando não há sucessão no conhecimento de

Deus sobre elas. Desde que Deus conhece o

tempo, ele conhece todas as coisas como elas

são no tempo; ele não sabe todas as coisas de

uma vez, embora ele saiba imediatamente o que

foi, é e será. Todas as coisas são passadas,

presentes e futuras, em relação à sua existência;

mas não há passado, presente e futuro, em

relação ao conhecimento de Deus sobre elas,

porque não é suposto e conhecido por nenhum

outro, mas por si mesmo; ele é a sua própria luz

pela qual ele vê, o seu próprio espelho onde ele

vê; vendo a si mesmo, ele contempla todas as

coisas.

Não há também sucessão nos decretos de Deus.

Ele não decreta isso agora, o que ele não

decretou antes; porque assim como as suas

Page 32: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

32

obras eram conhecidas desde o princípio do

mundo, assim foram decretadas as suas obras

desde o princípio; como são conhecidos

imediatamente, são decretados de uma só vez;

há uma sucessão na execução deles; primeiro

graça, depois glória; mas o propósito de Deus

para o enriquecimento de ambos foi em um e no

mesmo momento da eternidade. "Ele nos

escolheu nele antes da fundação do mundo,

para que fôssemos santos" (Efésios 1: 4): A

escolha de Cristo, e a escolha de alguns nele

para serem santos e felizes, foi antes da

fundação do mundo. É pelo eterno conselho de

Deus que todas as coisas aparecem no tempo;

elas aparecem em sua ordem de acordo com o

conselho e a vontade de Deus desde a

eternidade. A redenção do mundo é depois da

criação do mundo; mas o decreto pelo qual o

mundo foi criado e por meio do qual foi

redimido, foi na eternidade.

Deus é sua própria eternidade. Ele não é eterno

por concessão e disposição de qualquer outro,

mas por natureza e essência. A eternidade de

Deus nada mais é do que a duração de Deus; e a

duração de Deus nada mais é do que sua

existência duradoura. Se a eternidade fosse algo

diferente de Deus, e não da essência de Deus,

então haveria algo que não era Deus, necessário

para aperfeiçoar a Deus. Como a imortalidade é

Page 33: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

33

a grande perfeição de uma criatura racional, de

modo que a eternidade é a perfeição da escolha

de Deus, sim, o brilho de todas as demais coisas.

Toda perfeição seria imperfeita, se nem sempre

fosse uma perfeição. Deus é essencialmente

tudo o que ele é, e não há nada em Deus além de

sua essência. Duração ou continuação como

existe em criaturas, difere de seu ser; pois eles

podem existir, senão por um instante, caso em

que deles pode ser dito como sendo, mas não

com duração, porque toda a duração inclui prius

et posterius. Todas as criaturas podem deixar de

ser se for o prazer de Deus; elas não são,

portanto, duráveis por sua essência e, portanto,

não são sua devassidão, não mais do que sua

própria existência. E embora algumas criaturas,

como anjos e almas, possam ser chamadas

eternas, como vida é comunicado a eles por

Deus; todavia, eles nunca podem ser chamados

de sua própria eternidade, porque tal duração

não é simplesmente necessária, nem essencial

para eles, mas acidental, dependendo do prazer

do outro; não há nada em sua natureza que possa

impedi-los de perdê-lo, se Deus, de quem eles o

receberam, planejasse retirá-lo; mas como Deus

é sua própria necessidade de existir, então ele é

sua própria duração em existir; como ele

necessariamente existe por si mesmo, então ele

sempre existirá necessariamente por si mesmo.

Portanto todas as perfeições de Deus são

Page 34: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

34

eternas. Em relação à eternidade divina, todas as

coisas em Deus são eternas; seu poder,

misericórdia, sabedoria, justiça, conhecimento.

O próprio Deus não seria eterno se alguma das

suas perfeições, que são essenciais para ele, não

fosse eterna também, ele não teria sido um Deus

perfeito desde toda a eternidade, e assim todo o

seu eu não teria sido eterno. Se algo pertencente

à natureza de uma coisa está faltando, não se

pode dizer que seja aquilo que deveria ser. Se

qualquer coisa necessária para a natureza de

Deus estivesse faltando num momento, dele

não poderia ter sido dito ser um Deus eterno.

Deus é eterno. O Espírito de Deus nas Escrituras

condescende com as nossas capacidades em

significar a eternidade de Deus por dias e anos,

que são termos pertencentes ao tempo, através

dos quais o medimos (Salmos 102: 27). Mas não

devemos mais conceber que Deus é delimitado

ou medido pelo tempo, e tem sucessão de dias,

por causa dessas expressões, do que podemos

concluir que ele tem um corpo, porque os

membros são atribuídos a ele nas Escrituras,

para ajudar nossas concepções de sua gloriosa

natureza e operações. Embora os anos lhe sejam

atribuídos, ainda assim não podem ser

contados, não podem ser terminados, já que não

há proporção entre a duração de Deus e os

homens. “Eis que Deus é grande, e não o

Page 35: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

35

podemos compreender; o número dos seus

anos não se pode calcular. Porque atrai para si as

gotas de água que de seu vapor destilam em

chuva,” (Jó 36:26, 27). O número das gotas de

chuva que caíram em todas as partes da terra

desde a criação do mundo, se subtraído do

número dos anos de Deus, seria encontrado

uma pequena quantidade, um mero nada,

comparado com os anos de Deus. Como todas as

nações do mundo comparadas com Deus, são

como a “gota de um balde, pior do que nada, do

que a vaidade” (Isaías 40:15); assim, todas as

idades do mundo, se comparado com Deus, não

chegam a tanto quanto a centésima milésima

parte de um minuto; os minutos da criação

podem ser numerados, mas os anos da duração

de Deus sendo infinitos são sem medida. Como

um dia é para a vida do homem, assim são mil

anos para a vida de Deus. O Espírito Santo se

expressa à capacidade do homem, para nos dar

uma noção de duração infinita, por uma

semelhança adequada à capacidade do homem.

Se mil anos são como um dia para a vida de Deus,

então como um ano é para a vida do homem,

assim são trezentos e sessenta e cinco mil anos

para a vida de Deus; e como setenta anos são

para a vida do homem, assim são vinte e cinco

milhões quatrocentos e cinquenta mil anos para

a vida de Deus. E ainda, como não há proporção

entre o tempo e a eternidade, devemos lançar

Page 36: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

36

nossos pensamentos além de todos esses; por

anos e dias, medimos apenas a duração das

coisas criadas, e daquelas que são apenas

materiais e corpóreas, sujeitas ao movimento

dos céus, o que faz dias e anos. Às vezes, essa

eternidade é expressa por partes, olhando para

trás e para frente; pelas diferenças de tempo,

“passado, presente e futuro” (Apocalipse 1: 8),

“que era, e é, e está por vir” (Apocalipse 4: 8).

O Espírito Santo declara algo apropriado a Deus,

incluindo todas as partes do tempo; ele sempre

foi, é agora e sempre será. Pode sempre ser dito

dele, que ele era, e sempre pode ser dito dele,

que ele será; Não há tempo em que ele comece,

não há tempo em que ele cesse. Não se pode

dizer de uma criatura que ele sempre foi, ele

sempre é o que ele era, e ele sempre será o que

ele é; mas Deus sempre é o que era e sempre

será o que é; de modo que é uma expressão

muito significativa da eternidade de Deus, como

pode ser adaptado às nossas capacidades. Sua

eternidade é evidente, pelo nome que Deus dá a

si mesmo (Êxodo 3:14): “Disse Deus a Moisés: EU

SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos

filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros.”

Este é o nome pelo qual ele se distingue de todas

as criaturas; Eu sou, é o seu nome próprio. Esta

descrição está no tempo presente, mostra que

sua essência não conhece passado, nem futuro.

Page 37: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

37

Eu sou, o único ser, a raiz de todos os seres; ele

está, portanto, na maior distância de não ser, e

isso é eterno. Assim, isso significa sua

eternidade, assim como sua perfeição e

imutabilidade.

A eternidade de Deus é oposta à volubilidade do

tempo, que é estendida ao passado, presente e

futuro. Nosso tempo é apenas uma pequena

gota, como uma areia para todos os átomos e

pequenas partículas de que o mundo é feito; mas

Deus é um mar ilimitado de ser. "Eu Sou o que

Sou", isto é, uma vida infinita; eu não tenho

agora, o que eu não tinha anteriormente, não

vou depois ter o que eu não tenho agora; eu sou

aquele em cada momento que eu era, e estarei

assim em todos os momentos do tempo, nada

pode ser adicionado a mim, nada pode ser tirado

de mim. Não há nada superior a ele, que possa

prejudicá-lo, nada desejável que possa ser

acrescentado a ele. Agora, se houvesse qualquer

princípio e fim de Deus, qualquer sucessão nele,

ele não poderia ser “Eu Sou”; pois em relação ao

que foi passado, ele não seria; em relação ao que

estava por vir, ele ainda não é. De todas as

criaturas, pode-se dizer que elas eram ou serão;

mas de Deus não se pode dizer outra coisa senão

que Deus é, porque ele preenche uma duração

eterna. Não se pode dizer que uma criatura seja,

se ainda não é, nem se é agora, mas tem sido.

Page 38: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

38

Deus só pode ser chamado de "Eu Sou"; todas as

criaturas têm mais de não ser do que ser; pois

toda criatura não era nada desde a eternidade,

antes de fazer algo no tempo; e se for

incorruptível em toda a sua natureza, nada será

para a eternidade depois de ter sido algo no

tempo; e se não for corruptível em sua natureza,

como os anjos, ou em toda parte de sua

natureza, como homem em relação a sua alma;

contudo, não tem um ser apropriado, porque

depende do prazer de Deus de continuar ou

privá-lo dele; e enquanto é, é mutável e toda a

mutabilidade é uma mistura de não ser. S

Deus tem vida em si mesmo (João 5:26): “O Pai

tem a vida em si mesmo”; ele é o “Deus vivo”,

portanto, “firme para sempre” (Daniel 6:26). Ele

tem a vida pela sua essência, não pela

participação. Ele é um sol para dar luz e vida a

todas as criaturas, mas não recebe luz nem vida

de nada; e, portanto, ele tem uma vida ilimitada,

não uma gota de vida, mas uma fonte; não é uma

faísca de uma vida limitada, mas uma vida que

transcende todos os limites. Ele tem vida em si

mesmo; todas as criaturas têm sua vida nele e

dele.

Quando Deus pronunciou seu nome: "Eu Sou o

que Sou", anjos e homens já haviam sido criados,

Moisés, a quem ele fala, estava em existência;

Page 39: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

39

mas somente Deus é, porque somente ele tem a

fonte de ser em si mesmo; mas tudo o que eles

eram era um riacho dele. Toda a vida está

assentada em Deus, como em seu próprio trono,

em sua mais perfeita pureza. Deus é vida; está

nele originalmente, radicalmente, portanto

eternamente. Ele é um ato puro, nada além de

vigor e ato; ele tem por sua natureza a vida que

os outros têm por sua concessão; donde o

apóstolo diz (1 Timóteo 6:16) não só que ele é

imortal, mas que tem imortalidade em plena

posse; não dependendo da vontade de outro,

mas contendo todas as coisas dentro de si

mesmo. Aquele que tem vida em si mesmo e é

de si mesmo, não pode deixar de ser. Ele sempre

foi, porque ele não recebeu o seu ser de nenhum

outro. Se havia algum espaço antes que ele

existisse, então havia algo que o fez existir; a vida

não estaria então nele, mas naquilo que o

produziu; ele não poderia então ser Deus, mas o

outro que lhe deu ser seria Deus. E dizer que

Deus surgiu por acaso, quando não vemos nada

no mundo que é trazido por acaso, mas tem

alguma causa de sua existência, seria vão;

porque desde que Deus é um ser, o acaso, que

não é nada, não poderia produzir algo e pela

mesma razão, que ele surgiu por acaso, ele pode

desaparecer totalmente por acaso. Que deus

estranho seria este! Tal Deus que não tinha vida

em si mesmo, mas do acaso! Visto que ele tem

Page 40: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

40

vida em si mesmo, e que não havia causa de sua

existência, ele não pode ter causa de sua

limitação, e não pode mais ser determinado a

um tempo, do que pode a um lugar, o que tem a

vida em si, tem vida sem limites, e nunca pode

abandoná-la, nem ser privado dela; de modo que

ele vive necessariamente, e é absolutamente

impossível que ele não viva; enquanto todas as

outras coisas "vivem e se movem, e têm o seu ser

nele" (Atos 17:28); por isso, eles vivem de acordo

com sua vontade, de modo que não podem

retornar a nada à sua palavra. Se Deus não fosse

eterno, ele não seria imutável em sua natureza.

É contrário à natureza da imutabilidade

permanecer sem eternidade, pois tudo o que se

inicia muda em sua passagem do não ser para o

ser. Começou a ser o que não era; e se termina,

deixa de ser o que era; não pode, portanto, ser

dito que é Deus, se não havia nem começo nem

fim, nem sucessão nele (Malaquias 3: 6): “Eu sou

o Senhor, não mudo;” (Jó 37:23): “Ao Todo-

Poderoso, não o podemos alcançar; ele é grande

em poder, porém não perverte o juízo e a

plenitude da justiça.” Deus argumenta aqui, diz

Calvino, de sua natureza imutável como Jeová, a

sua imutabilidade em seu propósito. Se ele não

tivesse sido eterno, haveria a maior mudança de

nada para alguma coisa. Uma mudança de

essência é maior que uma mudança de

propósito. Deus é um sol resplandecendo

Page 41: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

41

sempre na mesma glória, não crescendo na

juventude; sem passando para a idade avançada.

Se ele não fosse sem sucessão, permanecendo

em um ponto da eternidade, haveria uma

mudança do passado para o presente, do

presente para o futuro. A eternidade de Deus é

um escudo contra todo tipo de mutabilidade. Se

algo se espalhar na essência de Deus que não

existia antes, ele não poderia ser considerado

uma substância eterna ou inalterada. Deus não

poderia ser um Ser infinitamente perfeito, se

ele não fosse eterno. Uma duração finita é

inconsistente com a perfeição infinita. Tudo o

que é contraído dentro dos limites do tempo não

pode englobar todas as perfeições em si mesmo.

Deus tem uma perfeição insondável.

”Porventura, desvendarás os arcanos de Deus

ou penetrarás até à perfeição do Todo-

Poderoso?”(Jó 11: 7). Ele não pode ser

descoberto: ele é infinito, porque é

incompreensível. Incompreensibilidade surge

de uma perfeição infinita, que não pode ser

compreendida pela linha curta da compreensão

do homem. Sua essência em relação à sua

difusão, e em relação à sua duração, é

incompreensível, assim como sua ação. Se Deus,

portanto, tivesse início, ele não poderia ser

infinito; se não fosse infinito, ele não possuiria a

mais alta perfeição; porque a perfeição poderia

ser concebido além disto. Se o seu ser pudesse

Page 42: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

42

falhar, ele não seria perfeito; pode merecer o

nome da mais alta sensibilidade, o que é capaz

de corrupção e dissolução? Ser finito e limitado

é a maior imperfeição, pois consiste em ser um

ser. Ele não poderia ser o Ser mais abençoado se

ele não fosse sempre assim, e não deveria

permanecer para sempre assim; e quaisquer

que fossem as suas deficiências, seria azedado

pelos pensamentos, que com o tempo eles

cessariam, e assim não poderiam ser puros

afetos, porque não permanentes; mas “ele é

abençoado de eternidade a eternidade” (Salmos

41:13). Se ele tivesse um começo, ele não poderia

ter toda a perfeição sem limitação; ele teria sido

limitado pelo que lhe dava o começo; o que lhe

deu ser seria Deus, e não ele mesmo, e portanto

mais perfeito que ele: mas como Deus é a

perfeição mais soberana, do que nada pode ser

imaginado como o mais amplo entendimento,

Ele é certamente “eterno”, sendo infinito, nada

pode ser adicionado a ele, nada pode prejudicá-

lo.

Deus não poderia ser onipotente, todo-

poderoso, se ele não fosse eterno. O título de

todo-poderoso não concorda com uma natureza

que teve início; tudo que tem um começo já foi

nada; e quando não era nada, nada poderia agir:

onde não há ser, não há poder. Nem o título de

todo-poderoso concorda com uma natureza que

Page 43: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

43

perece: ele não pode fazer nada com propósito,

que não pode se preservar contra a força

exterior e a violência dos inimigos, ou contra as

causas internas de corrupção e dissolução.

Nenhuma consideração é feita do homem,

porque “a respiração dele está nas suas narinas”

(Isaías 2:22); poderia um relato melhor ser feito

de Deus, se ele fosse da mesma condição? Ele

não podia ser propriamente onipotente, nem

sempre poderoso; se ele é onipotente, nada

pode prejudicá-lo; ele que tem todo poder, e não

pode ter ferido. Se ele faz tudo o que lhe agrada,

nada pode torná-lo miserável, pois a miséria

consiste naquelas coisas que acontecem contra

a nossa vontade. A onipotência e a eternidade de

Deus estão ligadas entre si: “Eu sou Alfa e

Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que foi,

e que é, e que virá, o Todo-poderoso”

(Apocalipse 1: 8): onipotente porque é eterno e

eterno porque é onipotente.

Deus não seria a primeira causa de todos se ele

não fosse eterno; mas ele é o primeiro e o

último; a causa primeira de todas as coisas, o

último de todas as coisas: aquilo que é o

primeiro não pode começar a ser; não foi então

o primeiro; não pode deixar de ser: o que quer

que seja dissolvido, é dissolvido naquilo em que

consiste, que foi antes dele, e então não foi o

primeiro. O mundo pode não ter sido; não foi

Page 44: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

44

nada; deve ter algum motivo para chamá-lo do

nada: nada tem poder para se fazer alguma

coisa; existe uma causa superior, pela vontade e

pelo poder, e assim dá a todas as criaturas suas

formas distintas. Esse poder não pode ser senão

eterno; deve ser antes do mundo; o fundador

deve estar antes da fundação; e sua existência

deve ser da eternidade; ou devemos dizer que

nada existiu desde a eternidade: e se não

houvesse ser da eternidade, não poderia haver

agora nenhum ser no tempo. O que vemos e o

que somos deve surgir de si mesmo ou de outro;

não pode de si mesmo: se alguma coisa se fez,

teve o poder de se fazer; isto então tinha um

poder ativo antes de ter um ser; era algo em

relação ao poder, e não era nada em relação à

existência ao mesmo tempo. Suponha que ele

tenha um poder para se reproduzir, esse poder

deve ser conferido a ele por outro; e assim, o

poder de se reproduzir não era de si mesmo,

mas de outro; mas se o poder do ser era de si

mesmo, por que não se reproduzia antes? Se

existe alguma existência, é necessário que

aquilo que era a “primeira causa” deveria existir

eternamente. ”Tudo o que foi a causa imediata

do mundo, senão a primeira e principal causa

em que devemos descansar, não deve ter nada

antes disso; pois se tivesse algo antes, não seria

a primeira; Deus, portanto, essa é a primeira

causa, deve ser sem começo; nada deve ser

Page 45: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

45

antes dele; se ele teve um começo de outro, ele

não poderia ser o primeiro princípio e autor de

todas as coisas; se ele for o primeiro por causa de

todas as coisas, ele deve dar a si mesmo um

começo, ou ser da eternidade: ele não poderia

dar a si mesmo um começo; tudo que começa no

tempo não era nada antes, e quando não era

nada, não podia fazer nada; não podia se dar

nada, pois então daria o que não tinha, e faria o

que não poderia. Se ele se fez a tempo, por que

ele não se fez antes? o que o atrapalhou? Foi ou

porque ele não podia, ou porque ele não faria; se

ele não pudesse, sempre lhe faltou poder, e

sempre, a menos que fosse concedido a ele, e

então ele não poderia ser dito ser de si

mesmo. Se ele não faria a si mesmo antes, então

ele poderia ter feito a si mesmo quando ele iria:

como ele tinha o poder de querer e realizar sem

ser?

Então, se Deus foi a causa de todas as coisas, ele

existiu antes de todas as coisas, e isso desde a

eternidade.

A eternidade é apenas apropriada a Deus e não é

comunicável. É uma loucura tão grande atribuir

a eternidade à criatura, quanto privar o Senhor

da criatura da eternidade. É tão apropriado para

Deus, que quando o apóstolo provasse a

divindade de Cristo, ele a provaria pela sua

Page 46: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

46

imutabilidade e eternidade, bem como por seu

poder criador: “Ainda: No princípio, Senhor,

lançaste os fundamentos da terra, e os céus são

obra das tuas mãos; eles perecerão; tu, porém,

permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual

veste; também, qual manto, os enrolarás, e,

como vestes, serão igualmente mudados; tu,

porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão

fim.”. (Heb 1: 10–12).

O argumento não teria força, se a eternidade

pertencesse essencialmente a qualquer outro

que não fosse Deus; e, portanto, somente dele é

dito ter "imortalidade" (1 Tim 6:16): todas as

outras coisas recebem seu ser dele, e podem ser

privadas de seu ser por ele: todas as coisas

dependem dele; ele de nenhuma de todas as

outras coisas que são como roupas, que se

gastariam se Deus não as preservasse.

A imortalidade é apropriada a Deus, isto é, uma

imortalidade independente. Anjos e almas têm

uma imortalidade, mas por doação de Deus, não

por sua própria essência; dependente de seu

Criador, não é necessário em sua própria

natureza: Deus poderia tê-los aniquilado depois

que ele os criou; de modo que sua duração não

pode ser apropriadamente chamada de uma

eternidade, sendo extrínseco para eles, e

dependente sobre a vontade do seu Criador, por

Page 47: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

47

quem eles podem ser extintos; não é uma

imortalidade absoluta e necessária, mas

precária.

Tudo o que não é Deus é temporário; tudo o que

é eterno é Deus. É uma contradição dizer que

uma criatura pode ser eterna; pois nada criado é

eterno. O que é distinto da natureza de Deus não

pode ser eterno, a eternidade sendo a essência

de Deus. Toda criatura, na noção de criatura,

fala da dependência de alguma causa e,

portanto, não pode ser eterna. Como isso é

repugnante à natureza de Deus não ser eterno,

por isso é repugnante à natureza de uma

criatura ser eterna; pois então uma criatura ser

igual ao Criador, e o Criador, ou a Causa, não

seria antes da criatura, ou efeito. Seria tudo

como admitir muitos deuses, como muitos

eternos; e todos a dizerem que Deus pode ser

criado, como se dissesse que uma criatura não

pode ser ferida, o que é ser eterno.

Quando se diz que em Cristo o homem é imortal

e eterno, é no sentido que ele já não morre por

participar da vida dAquele que é imortal e

eterno, a saber, Cristo.

Assim, o homem não possui eternidade e

imortalidade por si mesmo, mas a recebe de

Page 48: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

48

Outro, na medida em que participa da dAquele

que tem vida em si mesmo.

A criação é uma produção de algo do nada. O que

antes era nada, não pode, portanto, ser

eterno; em si mesmo, portanto, seu ser não

poderia ser eterno, pois deveria ser antes dele, e

seria algo quando não era nada.

Cristo "é antes de todas as coisas" (Col 1:17), ou

seja, todas as coisas foram criadas por ele; e ele

não é, portanto, criatura e, se não é criatura, é

eterno. "Todas as coisas foram criados por ele ”,

tanto no céu como na terra, anjos, assim como

homens, sejam tronos ou domínios (ver. 16).

Cristo não é mais hoje do que era ontem, nem

será outro amanhã do que hoje; e, portanto,

Melquisedeque, cuja descendência,

nascimento e morte, pai e mãe, começo e fim

dos dias, não estão registrados, era um tipo da

existência de Cristo sem variação de

tempo; “Não tendo princípio de dias nem fim de

vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus”

(Heb 7: 3). A supressão de seu nascimento e

morte foi planejada pelo Espírito Santo como

um tipo de excelência da pessoa de Cristo na

eternidade e na duração de seu encargo em

relação ao seu sacerdócio. Como havia uma

aparência de uma eternidade na supressão da

Page 49: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

49

descendência de Melquisedeque, assim há uma

verdadeira eternidade no Filho de Deus.

“Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o

mundo e vou para o Pai.” (João 16:28). Ele vai ao

Pai como ele veio do Pai; ele vai para o Pai "para

sempre", então ele veio do Pai "da eternidade";

há a mesma duração em sair do Pai, como no

retorno ao pai. Mas mais claramente: ele fala de

uma glória que ele “teve com o Pai antes da

fundação do mundo” (João 17: 5), quando não

havia criatura. Esta é uma glória real, e não

apenas em decreto; como a glória decretada que

os crentes têm, e por que não pode cada um

deles dizer as mesmas palavras: "Pai, glorifica-

me com a glória que tive contigo antes que o

mundo existisse"? Prova que a glória deles é

apenas por decreto.

Cristo fala de algo peculiar a ele, uma glória em

posse real antes que o mundo existisse:

“Glorifique-me, receba-me, honre-me como

teu Filho, enquanto Eu tenho sido agora, aos

olhos do mundo, lidado humildemente como

um servo.”

Por que ele não usou as mesmas palavras para

seus discípulos que estavam com ele?

Page 50: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

50

Sua eternidade também é mencionada no

Antigo Testamento: “O SENHOR me possuía no

início de sua obra, antes de suas obras mais

antigas.” (Provérbios 8:22).

“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para

figurar como grupo de milhares de Judá, de ti

me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas

origens são desde os tempos antigos, desde os

dias da eternidade.” (Miqueias 5: 2). Há duas

saídas de Cristo descritas, uma de Belém, nos

dias de sua encarnação, e outra da eternidade. O

Espírito Santo acrescenta, depois de sua

previsão de sua encarnação, sua saída da

eternidade, para que ninguém deve duvide de

sua divindade. Em Isaías 9: 6 ele é

particularmente chamado de "eterno" ou "Pai

eterno”, não o Pai na Trindade, mas um Pai para

nós; ainda "eterno", o "Pai da eternidade". Como

ele é o "poderoso Deus", ele é "o Pai eterno.”

Como a eternidade de Deus é a base de toda a

religião, assim a eternidade de Cristo é a base da

religião cristã. Poderiam nossos pecados ser

expiados perfeitamente se ele não fosse uma

eterna divindade para responder pelas ofensas

cometidas contra um Deus eterno? Sofrimentos

temporários seriam de pouca validade, sem

infinitude e eternidade em sua pessoa para

adicionar peso à sua paixão.

Page 51: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

51

Se Deus é eterno, ele conhece todas as coisas

como presentes. Todas as coisas estão presentes

para ele em sua eternidade; pois esta é a noção

de eternidade, a saber, deve ser algo sem

sucessão.

Deus considera todas as coisas em sua

eternidade em um conhecimento simples,

como se estivessem agindo diante dele:

“Conhecidos por Deus são todas as suas obras

desde o princípio do mundo”.

Quando Saulo perseguia a Igreja ele não sabia

que nos conselhos eternos de Deus ele havia

sido designado para ser o apóstolo dos gentios,

cujo nome seria mudado para Paulo. Deus já

conhecia de antemão tanto perseguidor quanto

o apóstolo, e pelo seu poder, faria com que o

perseguidor se convertesse e viesse a ser

pregador do evangelho para os gentios.

E como Deus conheceu isto, bem como todas as

demais coisas, senão por sua eternidade

essencial?

O conhecimento é coeterno com ele; pois se ele

não conhecesse na eternidade, ele não seria

eternamente perfeito, pois o conhecimento é a

perfeição de uma natureza inteligente.

Page 52: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

52

Quão audaz e tolo é para uma criatura mortal

censurar os conselhos e ações de um Deus

eterno, ou ser muito curioso em sua vida?

A eternidade coloca Deus acima de nossas

investigações e censuras. Bebês de um dia de

idade não são capazes de entender os atos de

cabeças sábias e grisalhas: nós, que somos de

um ser tão curto e compreensivo como ontem,

presumimos medir os movimentos da

eternidade por nossos escassos intelectos?

Como a eternidade não pode ser compreendida

no tempo, não pode ser julgada por uma criatura

do tempo.

Assim como a santidade implica vida eterna, o

pecado implica morte eterna, daí se dizer que o

salário do pecado é a morte.

O Deus eterno que é a fonte da verdadeira vida

demanda santidade de suas criaturas morais

para que compartilhem da vida eterna com ele.

De modo que toda aproximação dele deve ser

em ou para santificação.

Que loucura e ousadia existe no pecado, pois um

Deus eterno é ofendido por isso! Todo pecado é

agravado pela eternidade de Deus. A escuridão

das trevas da idolatria pagã estava em mudar a

Page 53: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

53

glória do Deus incorruptível (Rom.

1:23); erigindo semelhanças dele contrárias à

sua natureza imortal; como se o Deus eterno,

cuja vida é tão ilimitada quanto a eternidade,

fosse como aquelas criaturas cujos seres são

medidos pelo curto período de tempo, que são

de natureza corruptível e passando diariamente

à corrupção; eles não poderiam realmente

privar Deus de sua glória e imortalidade, mas

eles o fizeram na sua estimativa.

Há na natureza de todo pecado uma tendência a

reduzir Deus a um não ser. Aquele que pensa

indignamente de Deus, ou age indignamente

em relação a ele, faz com que (tanto quanto nele

reside) sujem e destruam estas suas duas

perfeições: imutabilidade e eternidade. É uma

alta desonra, como se ele fosse tão desprezível

quanto uma criatura que não fosse de ontem, e

não permanecerá no amanhã. Aquele que

colocaria um fim na glória de Deus,

escurecendo-a, poria fim à vida de Deus em sua

mente e coração.

Se toda a adoração é devida exclusivamente a

Deus por conta das perfeições de sua

espiritualidade e eternidade, qual espaço há que

se introduza outro tipo de adoração, a criaturas,

ainda que sejam pessoas santas como foi a

Virgem Maria, os apóstolos Pedro e João, entre

Page 54: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

54

outros? Eles têm eternidade de si mesmos, ou

são espíritos onipotentes, oniscientes e

onipresentes? Eles são redentores e criadores

da santidade que há nos que se convertem?

Os que o fazem desviam a adoração que é devida

exclusivamente às três pessoas da Trindade, e

pervertem o culto que é devido somente a Deus

“2 Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da

terra do Egito, da casa da servidão.

3 Não terás outros deuses diante de mim.

4 Não farás para ti imagem de escultura, nem

semelhança alguma do que há em cima nos

céus, nem embaixo na terra, nem nas águas

debaixo da terra.

5 Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque

eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que

visito a iniquidade dos pais nos filhos até à

terceira e quarta geração daqueles que me

aborrecem.” (Êxodo 20.2-5).

Quão terrível é estar sob o golpe de um Deus

eterno! Sua eternidade é um terror tão grande

para aquele que o odeia, pois é um conforto para

aquele que o ama; porque ele é o "Deus vivo, um

rei eterno, as nações não serão capazes de

suportar a sua indignação.” (Jer 10:10).

Page 55: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

55

Embora Deus esteja menos em seus

pensamentos e seja feito luz no mundo, ainda

assim os pensamentos da eternidade de Deus,

quando ele vier para julgar o mundo, fará os

ofensores dele tremerem. Que o juiz e punidor

vive para sempre, é a maior mágoa para uma

alma na miséria, e adiciona um peso

inconcebível a ela, acima do que a infinitude do

poder executivo de Deus poderia fazer sem essa

duração. Sua eternidade torna o castigo mais

terrível do que seu poder; seu poder torna-o

afiado, mas sua eternidade torna-o perpétuo. E

como é triste pensar que Deus coloca sua

eternidade para penhorar a punição de

pecadores obstinados, e engaja-o por um

juramento, que ele "aguçará sua espada

cintilante", que sua "mão tomará juízo ”, que ele

“fará vingança a seus inimigos e uma

recompensa aos que o odeiam”; uma

recompensa proporcional à grandeza de suas

ofensas e à glória de um Deus eterno! “Levanto

a mão aos céus e afirmo por minha vida

eterna: se eu afiar a minha espada reluzente, e a

minha mão exercitar o juízo, tomarei vingança

contra os meus adversários e retribuirei aos que

me odeiam.” (Deut 32:40, 41): isto é, tão certo

como eu vivo para sempre, vou aguçar minha

espada reluzente. Como ninguém pode

transmitir bem com uma perpetuidade,

ninguém pode transmitir o mal com tal duração

Page 56: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

56

eterna como Deus. É uma grande perda perder

uma embarcação ricamente carregada no

fundo do mar, para nunca mais ser lançada na

praia; mas quão maior é perder eternamente

um Deus soberano, do qual fomos capazes de

desfrutar eternamente, e passar por um mal

duradouro?

As misérias dos homens depois desta vida não

são atenuadas, mas aguçadas, pela vida e

eternidade de Deus.

Mas que fundamento de conforto podemos ter

em qualquer um dos atributos de Deus, não

fosse por sua infinitude e eternidade, em que ele

seja “misericordioso, bom, sábio, fiel?” Que

apoio poderia haver, se eles fossem perfeições

pertencentes a um Deus corruptível?

Que esperanças de uma ressurreição para a

felicidade podemos ter, ou da duração dela, se

aquele Deus que prometeu não fosse imortal

para continuá-lo, bem como poderoso para

efetuá-lo? Seu poder não seria todo poderoso, se

sua duração não fosse eterna.

Se Deus for eterno, sua aliança será assim. É

fundada sobre a eternidade de Deus; o

juramento pelo qual ele confirma isso é por sua

vida.

Page 57: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

57

Visto que não há ninguém maior do que ele, ele

jura por si mesmo (Heb 6:13), ou por sua própria

vida, que ele engaja junto com sua eternidade

para o desempenho total; de modo que, se ele

viver para sempre, a aliança não será anulada; é

um “conselho imutável” (v. 16, 17). A

imutabilidade de seu conselho segue a

imutabilidade de sua natureza. Imutabilidade e

eternidade andam juntas.

A promessa da vida eterna é tão antiga quanto o

próprio Deus em relação ao propósito da

promessa, ou em relação à promessa feita a

Cristo por nós. “Vida eterna que Deus prometeu

antes do mundo começar.” (Tito 1: 2): Como há

uma ante-eternidade, também há uma pós-

natalidade; portanto, o evangelho, que é o novo

pacto publicado, é denominado “o evangelho

eterno” (Apocalipse 14: 6), que não pode mais

ser alterado e perecer, do que Deus pode mudar

e desaparecer em nada; ele pode negar

moralmente a sua verdade, como ele pode

naturalmente abandonar sua vida. A aliança

está aí representada em uma cor verde, para

notar sua verdura perpétua; o arco-íris, o

emblema da aliança "sobre o trono, era

semelhante a uma esmeralda" (Apocalipse 4: 3),

uma pedra de cor verde, enquanto que o arco-

íris natural tinha muitas cores; mas uma, para

significar sua eternidade.

Page 58: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

58

Se Deus é eterno, ele sendo nosso Deus em

aliança, é um eterno bem e possessão. "Este

Deus é nosso Deus para todo o sempre" (Salmos

48:14): “Ele é uma morada de todas as gerações”.

Percorreremos o mundo por algum tempo e

então chegaremos às bênçãos de Jacó dadas a

José “as bênçãos dos montes eternos” (Gên

49:26). Se uma propriedade de mil libras por ano

dá vida confortável a um homem por um curto

período de tempo, quanto mais a alma pode ser

envolvida com alegria no desfrute do Criador,

cujos anos nunca têm fim, e que vive para

sempre para ser desfrutado, e pode nos manter

na vida para sempre para desfrutá-lo! A morte,

de fato, se apoderará de nós pela vontade de

Deus por uma ordem irreversível, mas o Criador

imortal fará com que ela vomite seu bocado e

nos coloque em uma gloriosa

imortalidade; nossas almas em sua dissolução, e

nossos corpos na ressurreição, após o que eles

permanecerão para sempre, na extensão dessa

ilimitada eternidade, na fruição do Deus

soberano e eterno; pois é impossível que o

crente, que está unido ao Deus imortal que é de

eternidade a eternidade, possa perecer; por

estar em conjunção com aquele que é uma fonte

de vida sempre fluindo, ele não pode permitir

que ele permaneça nas garras da

morte. Enquanto Deus é eterno e sempre o

mesmo, não é possível que aqueles que

Page 59: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

59

participam de sua vida espiritual, não devam

também participar de sua eternidade. É da

consideração da imensidão dos anos de Deus

que a igreja conforta-se para que “seus filhos

continuem e sua semente seja estabelecida para

sempre” (Salmo 102: 27, 28). E da eternidade de

Deus Habacuque (cap. 1:12) conclui a eternidade

dos crentes: “Não és tu desde a eternidade, ó

SENHOR, meu Deus, ó meu Santo? Não

morreremos.” Depois que eles se aposentarem

deste mundo, eles viverão para sempre com

Deus, sem qualquer mudança pela multidão

daqueles anos imagináveis e idades que devem

durar para sempre. É aquele Deus que não tem

começo nem fim, esse é o nosso Deus; quem tem

não apenas a imortalidade em si mesmo, mas a

imortalidade para dar aos outros. Como ele tem

“abundância de espírito” para vivificá-los (Mal

2:15), então ele tem abundância de imortalidade

para continuar. É somente na consideração

disto que um homem pode com sabedoria dizer:

“Então, direi à minha alma: tens em depósito

muitos bens para muitos anos; descansa, come,

bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta

noite te pedirão a tua alma; e o que tens

preparado, para quem será?”(Lucas 12:19, 20):

dizê-lo de qualquer outra posse é a maior

loucura no julgamento do nosso Salvador. “A

mortalidade será absorvida pela imortalidade;”

Page 60: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

60

“rios de prazer” serão “para todo o sempre”. A

morte é uma palavra nunca falada ali por

ninguém; nunca ouvida por ninguém naquela

posse da eternidade; é para sempre apagada

como um dos inimigos vencidos por Cristo. A

felicidade depende da presença de Deus, com

quem os crentes estarão para sempre

presentes. A felicidade não pode perecer

enquanto Deus viver; ele é o primeiro e o

último; o primeiro de todos os prazeres, nada

diante dele; o último de todos os prazeres, nada

além dele; um paraíso de delícias em todos os

pontos, sem uma espada flamejante.

O desfrute de Deus será tão fresco e glorioso

depois de muitas eras, como foi a princípio. Deus

é eterno e a eternidade não conhece

mudança; então haverá a possessão mais

completa sem qualquer deterioração no objeto

desfrutado. Não pode haver nada passado, nada

futuro; o tempo não aumenta nem diminui; que

a infinita plenitude da perfeição que floresce

nele agora florescerá eternamente sem

qualquer descoloração dele, pelo menos, por

aquelas idades inumeráveis que correrão para a

eternidade, muito menos qualquer

despojamento dele deles: "Ele é o mesmo em sua

duração sem fim" (Salmos 102: 27). Assim como

Deus é, a eternidade dele será, sem sucessão,

sem divisão; a plenitude da alegria estará

Page 61: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

61

sempre presente; sem passado para ser pensado

com pesar por ter ido embora; sem futuro a ser

esperado com desejos atormentadores. Quando

desfrutamos de Deus, desfrutamos dele em sua

eternidade sem qualquer fluxo; uma posse total

de todos juntos, sem a passagem dos prazeres

que podem ser desejados a retornarem, ou a

expectativa de alegrias futuras que possam ser

desejadas.

O tempo é fluido, mas a eternidade é estável; e

depois de muitas eras, as alegrias serão tão

salgadas e satisfatórias como se tivessem sido,

como naquele primeiro momento provado por

nossos apetites famintos. Quando a glória do

Senhor se erguer sobre você, será tão longe se

estabelecida, que depois de milhões de anos

serem expirados, tão numerosos quanto as

areias na praia, o sol, à luz de cujo semblante

você viverá, será tão brilhante como na primeira

aparição; ele estará tão longe de deixar de fluir,

que ele fluirá tão forte, tão cheio, como na

primeira comunicação de si mesmo em glória à

criatura. Deus, portanto, sentado em seu trono

de graça, e agindo de acordo com sua aliança, é

como uma pedra de jaspe, que é de cor verde,

uma cor sempre deleitável (Apocalipse 4:

3); porque Deus é sempre vigoroso e

florescente; um puro ato de vida, novos e

brilhantes raios de vida e luz para a criatura,

Page 62: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

62

florescendo com uma fonte perpétua, e

contentando o desejo mais amplo; formando

seu interesse, prazer e satisfação; com uma

variedade infinita, sem qualquer alteração ou

sucessão; ele terá variedade para aumentar os

prazeres e a eternidade para perpetuá-los; este

será o fruto do gozo de um Deus infinito e

eterno: não é uma cisterna, mas uma fonte em

que a água está sempre viva e nunca apodrece.

Se Deus é eterno, aqui está um forte

fundamento de conforto contra todas as aflições

da igreja, e as ameaças dos inimigos da igreja.

A permanência de Deus para sempre é o apelo

que Jeremias faz pelo seu retorno à sua igreja

abandonada: “Tu, SENHOR, reinas

eternamente, o teu trono subsiste de geração

em geração. Por que te esquecerias de nós para

sempre? Por que nos desampararias por tanto

tempo?” (Lamentações 5:19, 20). A igreja é fraca;

as coisas criadas são facilmente cortadas; o que

existe, senão aquele Deus que vive para sempre?

O que, embora Jerusalém tenha perdido seus

baluartes, o templo foi destruído, a terra

desperdiçada; ainda o Deus de Jerusalém se

assenta sobre um trono eterno e, de eternidade

a eternidade, não há diminuição de seu poder. O

profeta insinua nesta queixa, não é agradável à

eternidade de Deus esquecer o seu povo, a quem

Page 63: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

63

ele, desde a eternidade, deu boa vontade. Nas

maiores confusões, os olhos da igreja devem ser

fixados na eternidade do trono de Deus, onde ele

se senta como governador do mundo. Nenhuma

criatura pode ter qualquer conforto nesta

perfeição, mas a igreja; outras criaturas

dependem de Deus, mas a igreja está unida a ele.

A primeira descoberta do nome “eu sou”, que

significa a eternidade divina, assim como a

imutabilidade, foi para o conforto dos "Israelitas

oprimidos no Egito" (Êxodo 3:14, 15): foi então

publicado a partir do lugar secreto do Todo-

Poderoso, como o único forte consolo para

ajudá-los, e jamais perderá sua virtude em

qualquer das misérias que venham a suceder

sucessivamente, à igreja.

É um conforto tão durável quanto o Deus cujo

nome é; ele ainda é “eu sou” e o mesmo para a

igreja, como era então para o seu Israel. Dele, o

Israel espiritual tem um direito maior às glórias

do que o Israel carnal poderia ter. Nenhuma

opressão pode ser maior que a deles; o que era

um conforto adequado a esse sofrimento, tem a

mesma adequação a qualquer outra opressão.

Não era um nome temporário, mas um nome

para sempre; seu “memorial para todas as

gerações” (ver. 15), e chega à igreja dos gentios

com quem ele trata como o Deus de Abraão;

Page 64: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

64

ratificando esse pacto pelo Messias, que ele fez

com Abraão, o pai dos fiéis.

Os inimigos da igreja não devem ser temidos;

eles podem brotar como a grama, mas logo

depois murcham por seus próprios princípios

internos, ou são cortados pela mão de Deus

(Salmo 92: 7-9). Eles podem ser instrumentos da

ira de Deus, mas “serão dispersos como os

obreiros de Deus”.

Eles podem ameaçar, mas sua respiração pode

desaparecer assim que suas ameaças forem

pronunciadas; pois eles não respiram fundo

num lugar que suas narinas, sobre as quais o

Deus eterno pode colocar sua mão, e afundá-los

com toda a sua raiva. Os profetas e instrutores da

igreja "vivem para sempre" (Zac 1: 5)? Não: os

adversários e perturbadores da igreja viverão

para sempre? Eles desaparecerão como uma

sombra; seu ser depende do eterno Deus dos

fiéis e do eterno juiz dos ímpios. Aquele que

habita a eternidade está acima daqueles que

habitam a mortalidade; e devem, quer digam ou

não, "dizer à corrupção: Tu és meu pai, e ao

verme, Tu és minha mãe e minha irmã ”(Jó

17:14). Quando eles agirão com confiança, como

se fossem deuses vivos, ele não será apaziguado;

mas evidencia-se como um Deus vivo acima

deles. Por que, então, homens mortais devem

Page 65: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

65

ser temidos em suas carrancas, quando um

Deus imortal prometeu proteção em sua palavra

e vive para sempre para cumpri-la?

Daí segue outro conforto; já que Deus é eterno,

ele tem tanto poder quanto vontade para ser tão

bom quanto sua palavra. Suas promessas são

estabelecidas em sua eternidade; e sua

perfeição é uma base principal de confiança;

“Confie no Senhor para sempre: pois no Senhor

Jeová há força eterna” (Isaías 26: 4).

Seu nome é dobrado; aquele nome, Jeová, que

sempre foi a força do seu povo; ou rocha das

eternidades: não uma falha, mas uma verdade e

poder eternos; que, como sua força é eterna,

nossa confiança nele deve imitar sua eternidade

em sua perpetuidade; e, portanto, no desânimo

de seu povo, como se Deus tivesse esquecido

suas promessas, e não tivesse feito nenhuma a

eles, ou sua palavra, e estivesse cansado de fazer

o bem, ele os chama para refletir sobre o que

eles tinham ouvido falar de sua eternidade, que

é atendida com imutabilidade, que tem uma

infinidade de poder para realizar sua vontade, e

uma infinitude de entendimento para julgar a

correta ocasião de aplicação do mesmo. Sua

sabedoria, vontade, verdade, sempre foi e será

para a eternidade (Is 40:27, 28). Não lhe falta

mais a vida que o amor, para sempre nos ajudar;

Page 66: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

66

já que sua palavra é passada, ele nunca nos

faltará; desde que a sua vida continua, ele nunca

pode estar fora de uma capacidade para nos

aliviar; e, portanto, sempre que o acusamos de

maneira insensata com nossos pensamentos

desconfiados, esquecemos seu amor, que fez a

promessa e sua vida eterna, que pode realizá-

lo. Como sua palavra é o fundo da nossa

confiança, e sua verdade é a garantia de sua

sinceridade, então Sua eternidade é a garantia

de sua capacidade de realizar: "Sua palavra

permanece para sempre" (ver. 8). Um homem

pode ser meu amigo neste dia e estar em outro

mundo amanhã; e embora ele nunca seja tão

sincero em sua palavra, mas a morte arrebenta

sua vida e proíbe a execução.

Mas como Deus não pode morrer, ele não pode

mentir; porque ele é a eternidade de Israel: “A

força de Israel não mente, nem se arrepende”,

perpetuidade, ou eternidade de Israel (1 Sam.

15:29).

A eternidade implica imutabilidade; nós não

poderíamos ter base para nossas esperanças, se

nós o conhecêssemos não sendo mais vívido do

que nós mesmos. O salmista bate nossas mãos

da confiança nos homens, "Não confieis em

príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem

não há salvação. Sai-lhes o espírito, e eles

Page 67: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

67

tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos

os seus desígnios.” (Salmo 146: 3, 4). E se o Deus

de Jacó fosse como eles, que felicidade

poderíamos ter em ter-lhe como a nossa

ajuda? Como sua soberania em dar preceitos

não teria sido um forte fundamento de

obediência, sem considera-lo como um

legislador eterno, que poderia manter seus

direitos; por isso sua bondade em fazer as

promessas não teria sido um forte fundamento

de confiança, sem considerá-lo como um

prometedor eterno, cujos pensamentos e cuja

vida nunca podem perecer. E isso pode ser uma

das razões pelas quais o Espírito Santo menciona

com tanta frequência a pós-eternidade de Deus

e tão pouco sua ante-eternidade; porque essa é o

alicerce mais forte de nossa fé e esperança, que

respeita principalmente àquilo que é futuro, e

não aquilo que é passado; ainda assim, nem a

garantia de sua pós-eternidade pode ser obtida,

se sua ante-eternidade não for certa. Se ele teve

um começo, ele pode ter um fim; e se ele tivesse

uma mudança em sua natureza, ele poderia ter

em seus conselhos; mas como todas as

resoluções de Deus são como ele é, eterno e

todas as promessas de Deus são os frutos do seu

conselho, portanto eles não podem ser

mudados; se ele devesse mudá-los para melhor,

ele não teria sido eternamente sábio, para saber

Page 68: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

68

o que era melhor; e ele não teria sido

eternamente bom ou justo.

Os homens podem quebrar suas promessas

porque elas são feitas sem previsão; mas Deus,

que habita a eternidade, antecipa todas as coisas

que devem ser feitas debaixo do sol, como se

eles estivessem então agindo diante dele; e nada

pode intervir, ou trabalhar uma mudança em

suas resoluções; porque as mínimas

circunstâncias foram eternamente previstas

por ele. Embora possa haver variações e

mudanças à nossa vista, o vento pode se

aproximar e a cada hora acidentes novos

tribulações acontecem; mas o eterno Deus, que

é eternamente fiel à sua palavra, senta-se ao

leme, e os ventos e as ondas obedecem-no. E

embora deva adiar sua promessa por mil anos,

ainda assim ele “não é negligente” (2 Pedro 3: 8,

9); porque ele adia senão um dia para sua

eternidade: e quem não ficaria com conforto um

dia na expectativa de uma vantagem

considerável?

À luz de tudo o que foi dito, vamos ser

profundamente afetados pelos nossos pecados

há muito cometidos. Embora eles tenham

passado conosco, eles são, em relação à

eternidade de Deus, presente com ele; não há

sucessão na eternidade, como há no

Page 69: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

69

tempo. Todas as coisas estão diante de Deus de

uma só vez; nossos pecados estão diante dele,

como se cometidos neste momento. Como ele é

o que ele é em relação à duração, então ele sabe

o que sabe em relação de conhecimento.

Como ele não é mais do que ele era, nem deve

ser mais do que ele é, então ele sempre soube o

que ele sabe, e não deixará de saber o que ele

sabe agora. Como ele mesmo, assim como seu

conhecimento, é um ponto indivisível da

eternidade. Ele não sabe nada além do que ele

sabia na eternidade; ele não saberá mais sobre o

futuro do que ele agora sabe. Nossos pecados

estão presentes com ele em sua eternidade, e

devem estar presentes conosco em nossa

consideração de recordação deles, e tristeza por

eles.

Embora muitos anos tenham se passado, muito

tempo se esgotou e nossas iniquidades quase se

apagaram de nossa memória; ainda desde mil

anos são, aos olhos de Deus, e em relação à sua

eternidade, senão como um dia - “Pois mil anos,

aos teus olhos, são como o dia de ontem que se

foi e como a vigília da noite.” (Salmo 90: 4) - estão

diante dele. Pois suponha que um homem fosse

tão velho quanto o mundo, acima de cinco

Page 70: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

70

mil e seiscentos anos; os pecados cometidos há

cinco mil anos são, segundo essa regra, senão

como se tivessem sido cometidos há cinco dias

atrás; de modo que sessenta e dois anos são

apenas uma hora e meia; e os pecados

cometidos há quarenta anos desde como se

fossem cometidos, senão a esta hora

presente. Mas se formos mais longe, e

considerá-los, senão como uma vigília da noite,

cerca de três horas (porque a noite, consistindo

de doze horas, foi dividida em relógios fixos),

então mil anos são apenas três horas à vista de

Deus; e então os pecados cometidos há sessenta

anos são como se tivessem sido cometidos

dentro dos cinco minutos. Que nenhum de nós

acenda a luz de iniquidades cometidas há

muitos anos e imagine que esse período de

tempo pode acabar com sua culpa. Não: vamos

considerá-los em relação à eternidade de Deus,

e excitar um remorso interior, como se

tivessem sido apenas o nascimento deste

momento.

Deixemos a consideração da eternidade de Deus

abater nosso orgulho. Este é o desígnio dos

versos que seguem o texto: a eternidade de Deus

sendo é tão suficiente para nos fazer entender

nosso próprio nada, que deveria ser um grande

fim do homem, especialmente quando caído. A

eternidade de Deus deve nos fazer tanto

Page 71: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

71

desprezar a nós mesmos, como a excelência de

Deus fez Jó abominar a si mesmo (Jó 42: 5, 6). Sua

excelência deve nos humilhar sob o senso de

nossa vaidade, e sua eternidade sob o sentido da

brevidade de nossa duração. Se o homem

comparar ele mesmo com outras criaturas, ele

pode ser muito sensato de sua grandeza; mas se

ele se comparar com Deus, ele não pode deixar

de ser sensato de sua baixeza.

1º. Em relação à nossa impotência para

compreender esta eternidade de Deus. Quão

pouco sabemos quão pouco podemos saber da

eternidade de Deus!

Não podemos concebê-lo totalmente, muito

menos expressá-lo; nós temos apenas uma

compreensão bruta em todas essas coisas, como

Agur disse de si mesmo em Provérbios 3: 7. O

que é infinito e eterno não pode ser

compreendido por criaturas finitas e

temporárias; se pudesse, não seria infinito e

eterno; porque conhecer uma coisa, é saber a

extensão e a causa disso. É impossível que a

eternidade seja conhecida, porque é sem

limites, sem causas; o entendimento mais

elevado não pode ter uma compreensão

proporcional da mesma. Que desproporção

existe entre uma gota de água e o mar em sua

grandeza e movimento; ainda que por uma gota

Page 72: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

72

podemos chegar a um conhecimento da

natureza do mar, que é uma massa de gotas

unidas; mas a duração mais longa dos tempos

não pode nos fazer saber o que é a eternidade,

porque não existe qualquer proporção entre o

tempo e a eternidade. Os anos de Deus são tão

inumeráveis quanto os seus pensamentos

(Salmo 40: 5).

Se nossos entendimentos são muito grosseiros

para compreender a majestade de suas obras

infinitas, eles são muito mais do que

insuficientes para compreender a infinitude de

sua eternidade.

2º. Em relação à vasta desproporção de nossa

duração a esta duração de Deus.

Nós temos mais do que nada do que ser. Nós não

éramos nada de uma eternidade não começada,

e poderíamos ter sido nada para uma eternidade

infinita, Deus não nos chamou para o ser; e se

ele quiser, podemos ser nada por uma palavra

tão curta e aniquiladora, como fomos algo por

uma palavra criadora. Como é da prerrogativa

de Deus ser “Eu sou o que sou”, então é

propriedade de uma criatura ser “Eu sou não

sou o que sou; não sou eu o que sou, mas pela

indulgência de outro. Eu não era nada

antigamente; posso ser nada de novo a menos

Page 73: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

73

que ele seja "Eu Sou", e faça-me subsistir no que

eu sou agora. Nada é tanto o título da criatura

quanto o ser é o título de Deus.

Nada é tão sagrado como Deus, porque nada tem

como ser Deus: “Não há santo como o Senhor,

pois não há outro além de ti” (1 Sam 2: 2). A vida

do homem é uma imagem, um sonho, que é

quase nada; e se comparado com Deus, pior que

nada; uma nulidade, bem como uma vaidade,

porque “só com Deus está a fonte da vida”

(Salmos 36: 9). A criatura é apenas uma gota de

vida dele, dependente dele: uma gota de água

não é nada se comparada com a vasta

confluência de águas e inúmeras gotas no

oceano.

Quão monstruoso é o orgulho na criatura, para

aspirar, como se ele fosse o Pai da eternidade, e

tão eterno quanto Deus, e assim a sua própria

eternidade!

O que nós temos é apenas de curta duração em

relação à nossa vida neste mundo. Nossa vida

está em constante mudança e fluxo; nós não

permanecemos o mesmo um dia inteiro; a

juventude rapidamente conquista a infância, e a

idade avança rapidamente nos calcanhares da

juventude; existe uma contagem regressiva

contínua de minutos, como há de areias em um

Page 74: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

74

copo. Ele é como um relógio de areia no início de

sua vida, e disso o tempo está acabando, até ele

chegar ao fundo; parte de nossas vidas é cortada

todos os dias, a cada minuto. A vida é apenas um

momento: o que é passado não pode ser

lembrado, o que é futuro não pode ser

assegurado. Se aproveitarmos este momento,

perdemos o passado e atualmente perder isso

pelo próximo que está por vir. A curta duração

dos homens é exposta nas Escrituras por tais

criaturas que logo desaparecem: verme (Jó 25:

6), que pode sobreviver a um inverno; grama,

que murcha pelo sol de verão. A vida é uma

"flor", logo murchando (14: 2); um “vapor”, logo

desaparecendo (Tiago 4:14); uma “fumaça”, logo

desaparecendo (Salmos 102: 3). O homem mais

forte é comparado à poeira; o tecido deve

moldar; a montanha mais alta cai e não dá em

nada.

O tempo dá lugar à eternidade; nós vivemos

agora e morremos amanhã. O dia mais longo da

vida de qualquer homem nunca chegou a vinte

e quatro horas no relato da divina eternidade:

uma vida de tantos séculos, com o acréscimo

“ele morreu”, compõe a maior parte da história

dos patriarcas (Gên 5); e desde que a vida do

homem foi reduzida, se houver no mundo

oitenta anos, ele escassamente vive sessenta

Page 75: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

75

deles, e destes, a quarta parte do tempo é pelo

menos consumida durante o sono.

Os anjos, que duraram tanto tempo quanto o céu

e a terra, tremem diante de Deus; os céus se

derretem em sua presença; e nós, que somos

apenas de ontem, nos aproximamos de uma

eternidade divina com almas desamparadas, e

oferecemos os sacrifícios dos nossos lábios com

o orgulho dos demônios, e permanecemos em

nossos termos com ele, sem cair sobre nossos

rostos, com um sentido que somos apenas pó e

cinzas e criaturas do tempo?

Deixe a consideração da eternidade de Deus

tirar o nosso amor e confiança do mundo, e das

coisas do mesmo. A eternidade de Deus censura

a busca do mundo, preferindo um prazer

momentâneo diante de um Deus eterno; como

se fosse um mundo temporal pudesse ser um

suprimento melhor do que um Deus cujos anos

nunca falham. Ai! o que é esta terra os homens

são tão gananciosos, e vai prevalecer, embora

por sangue e suor? O que é toda esta terra, se

tivéssemos toda a posse dela, se comparada com

os vastos céus, a sede dos anjos e espíritos

abençoados? É apenas como um átomo para a

maior montanha, ou como uma gota de orvalho

para o imenso oceano. Quão tolo é preferir um

átomo antes que o mundo! A terra é apenas um

Page 76: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

76

ponto para o sol; o sol com todo o seu orbe, mas

uma pequena parte dos céus se comparado com

o tecido inteiro. Se um homem tivesse a posse de

todos aqueles, não poderia haver comparação

entre aqueles que tiveram um começo e terão

um fim, e Deus que está sem eles. E quantos há

que não fazem nada da eternidade divina e

imaginam uma eternidade de nada!

As belezas do mundo são transitórias e perecem.

O mundo inteiro não é outra coisa senão uma

coisa fluida; a moda é uma pompa, “falecendo”

(1 Cor 7:31): embora as glórias dele possam ser

concebidas maiores do que são, ainda assim não

são consistentes, senão transitório; não pode

haver todo um prazer deles, porque eles

crescem e expiram a cada momento, e escapam

entre nossos dedos enquanto os usamos. Não

ouvimos falar de Deus dispersando os maiores

impérios como “joio diante de um

redemoinho”, ou como “Fumaça da chaminé”

(Oséias 13: 3), que, embora pareça uma nuvem

compacta, como se sufocasse o sol, é

rapidamente espalhado em várias partes do ar e

se torna invisível?

Urtigas muitas vezes foram herdeiros de

palácios imponentes, como Deus ameaça Israel

(Oséias 9: 6). Nós não podemos nos prometer

nada sobre a noite do próximo dia. Um reino

Page 77: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

77

com a glória de um trono pode ser cortado em

uma manhã (Oséias 10:15). O novo vinho pode

ser retirado da boca quando a safra estiver

madura; o gafanhoto devorador pode arrebatar

tanto as esperanças quanto a colheita (Joel 1:15);

eles são, portanto, coisas que não são, e nada

pode ser um objeto adequado para confiança ou

afeição; “Porventura, fitarás os olhos naquilo

que não é nada? Pois, certamente, a riqueza fará

para si asas, como a águia que voa pelos céus.

”(Provérbios 23: 5). Eles não são propriamente

seres, porque eles não são estáveis. Eles não são,

porque podem não ser o próximo momento para

nós o que eles são: são apenas cisternas, não

nascentes e quebradas cisternas não sãs e

estáveis; nenhuma solidez em sua substância,

nem estabilidade em sua duração. Que tolice é

então, preferir uma felicidade transitória, mera

nulidade, diante de um Deus eterno! Que coisa

sem sentido seria em um homem preferir o

mapa de um reino, que a mão de uma criança

pode rasgar em pedaços, antes do reino que é

eterno e inabalável! Quanto mais indesculpável

é valorizar as coisas, que estão tão longe de

serem eternas, que não são mais como

semelhanças obscuras de uma eternidade.

Fossem as coisas do mundo mais gloriosos do

que são, todavia elas são apenas como um falso

sol em uma nuvem, que fica aquém do

verdadeiro sol nos céus, tanto na glória e

Page 78: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

78

duração; e para estimá-los diante de Deus, é

inconcebivelmente mais pobre do que se um

homem valorizasse uma bolha colorida no ar,

antes que uma rocha durável de diamantes. Os

confortos deste mundo são como velas, que

terminarão em um rapé; enquanto a felicidade

que flui de um Deus eterno, é como o sol, que

brilha mais e mais para um dia perfeito.

As coisas do mundo não podem, portanto, ser

aptas para uma alma, que foi feita para ter um

interesse na eternidade de Deus. A alma sendo

de natureza perpétua, foi feita para a fruição de

um bem eterno; e não para aquilo que nunca

pode ser perfeito. A perfeição, essa nobre coisa,

não se levanta de qualquer coisa neste mundo,

nem é um título devido a uma alma enquanto

neste mundo; é então que se diz que eles são

perfeitos quando chegam a toda essa conjunção

com o eterno Deus em outra vida (Heb 7:23). A

alma não pode ser enobrecida por um

conhecimento dessas coisas, ou estabelecida

por uma dependência delas; elas não podem

conferir o que uma natureza racional deve

desejar, ou fornecer o que quer. A alma tem uma

semelhança com Deus em uma pós-eternidade;

por que deveria ser posta de lado pelos agrados

das coisas terrenas, para negligenciar seu

verdadeiro estabelecimento, e ser um servo do

Page 79: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

79

corpo, que é apenas a sombra da alma, e foi feito

para segui-la e servi-la?

Mas enquanto ele se ocupa completamente nas

preocupações de um corpo que perece, e

procura satisfação em coisas que se afastam,

torna-se antes, um corpo que a alma desce

abaixo de sua natureza, censura aquele que

imprimiu nele uma imagem de sua própria

eternidade, e perde o conforto da eternidade de

seu Criador. Como é que o mundo inteiro, se as

nossas vidas fossem tão duradouras quanto isso,

seria um prazer eterno para nós, que temos

almas que devem sobreviver a todas as delícias,

que devem fritar nas chamas que devem

disparar todo o quadro de natureza na

conflagração geral do mundo? (2 Ped 3:10)?

Alguém dirá: “Se há tal perigo na relação com as

coisas naturais que o próprio Deus criou para o

homem, em afastar o seu coração do Criador,

por amor a elas, porque então Deus as criou e fez

o homem dependente delas, especialmente

pelo corpo que lhe deu?”

Esta é uma pergunta para muitas respostas, mas

podemos destacar que principalmente havia

necessidade de que o homem fosse feito não

somente espírito, mas também corpo, porque

sabendo Deus que o homem pecaria e toda a sua

Page 80: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

80

descendência, necessitando de que um

sacrifício de vida fosse oferecido em seu lagar,

para ser redimido do pecado, e ser reconciliado

a Deus, nosso Senhor encarnou neste mundo, e

ofereceu o seu corpo como sacrifício a Deus,

quando morreu na cruz.

Se o homem fosse apenas espírito, jamais

poderia ser redimido, porque isto importaria a

aniquilação do espírito de Cristo, em vez do seu

corpo que foi oferecido por nós.

Este é provavelmente o ponto mais importante,

mas há outras realidades a serem consideradas,

como por exemplo:

O amor e a fé do homem são sempre colocados

à prova, se serão maior por Deus ou pela

criatura. E importa que Deus seja amado acima

de tudo o mais, inclusive de nossos familiares,

conforme Jesus nos ensinou. Um Deus eterno e

único Criador, somente é digno de nossa

adoração. De modo que, pela nossa forma diária

de nos relacionarmos com as coisas desta vida,

poderemos confirmar para nós mesmos a quem

de fato pertence o nosso coração, se a Deus ou às

suas criaturas?

Outra resposta à pergunta formulada encontra-

se também no fato de que somos exercitados em

Page 81: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

81

amor, caridade, misericórdia, serviço ao

próximo, no uso que fazemos dos bens deste

mundo, não sendo avarentos, mas buscando o

interesse de outros. Muito da nossa fé e piedade

é exercitado pela forma como a Providência atua

conosco na concessão das coisas matérias que

necessitamos para a subsistência do nosso

corpo.

Muitos outros fins úteis foram previstos por

Deus ao nos ter criado também com um corpo,

diferentemente, por exemplo, dos anjos.

E o Senhor requer que reconheçamos que até

mesmo a provisão material é feita por Ele para

nós, de modo que nossa dependência sempre é

direta dEle mesmo, que dispôs todas as coisas

para a continuidade da vida da humanidade na

Terra.

Outro aspecto que devemos ter sempre em

consideração que é somente nas virtudes que

estão em Cristo, na vida do espírito que temos

nEle, que há a eternidade, e tudo o mais é

passageiro, de modo que devemos ser sábios em

fazer provisão para o espírito e não para a carne,

porque a carne para nada aproveita para os

propósitos da eternidade, senão somente o

espírito que nos vivifica.

Page 82: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

82

Portanto, vamos providenciar um interesse feliz

na eternidade de Deus. O homem é feito para um

estado eterno. A alma tem tal perfeição em sua

natureza, que está apta para a eternidade e não

pode exibir todas as suas operações, senão na

eternidade. Para uma eternidade devemos ir e

viver desde que o próprio Deus vive. Coisas de

curta duração não são proporcionais a uma

alma feita para uma continuidade eterna; de

maneira que é uma eternidade confortável, que

vale todo o nosso cuidado. O homem é uma

criatura previdente e considera não apenas o

presente, mas também o futuro, em suas

provisões para sua família; e ele envergonhará

sua natureza em rejeitar toda a consideração de

uma eternidade futura? Obtenha posse,

portanto, do eterno Deus. “Uma parte desta

vida” é a sorte daqueles que serão eternamente

miseráveis (Salmos 17:14). Mas Deus, é a “porção

eterna”, é o lote daqueles que são projetados

para a felicidade. "Deus é a minha porção para

sempre" (Salmo 73:26). “O tempo é curto.” (1

Coríntios 7:29). O tempo todo para o qual Deus

projetou esse edifício do mundo é de uma

pequena duração; é um palco erguido para que

as criaturas racionais atuem em suas partes por

alguns milhares de anos; a maior parte do tempo

é esgotada; e então o tempo, como cairá no mar

da eternidade, de onde surgiu. Como o tempo é

apenas um lapso de eternidade, assim

Page 83: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

83

terminará na eternidade; nossas vantagens

consistem no instante presente; o passado

nunca prometeu um retorno, e não pode ser

recuperado por todos os nossos votos. O que é o

futuro, não podemos nos comprometer a

desfrutar; podemos ser arrebatados antes que

chegue. Cada minuto que passa, torna menor o

restante, até o momento da morte; e como

estamos a cada hora mais longe do nosso

começo, estamos mais perto do nosso fim. A

criança nascida neste dia cresce, para

finalmente morrer. Em todas as eras há “senão

um passo entre nós e a morte”, como Davi disse

de si mesmo (1 Samuel 20: 3). O pequeno horário

que permanece para o diabo até o dia do

julgamento, envenena sua ira; ele ruge, porque

“seu tempo é curto” (Apo 12:12). O pouco tempo

que resta entre este momento e nossa morte,

deve acelerar nossa diligência para herdar a

eternidade infinita e imutável de Deus.

Devemos meditar muitas vezes sobre a

eternidade de Deus. A santidade, o poder e a

eternidade de Deus são os artigos fundamentais

de toda religião, sobre os quais todo o corpo dela

se apoia; a santidade dele para conformidade a

ele, o poder dele e eternidade para o apoio de fé

e esperança.

Page 84: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

84

"E os quatro seres viventes, tendo cada um deles,

respectivamente, seis asas, estão cheios de

olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso,

nem de dia nem de noite, proclamando: Santo,

Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,

aquele que era, que é e que há de vir."

(Apocalipse 4: 8). Embora seu poder seja

insinuado, ainda assim os principais são sua

santidade, três vezes expressadas; a eternidade

que se repete, “quem vive para todo o sempre”

(ver 9). Esta deve ser a prática constante na

igreja dos gentios, que este livro respeita

principalmente; a meditação de sua graça

convertida, manifestada a Paulo, arrebatou o

coração do apóstolo; mas não há a consideração

triunfante de sua imortalidade e eternidade,

que são as partes principais da doxologia: "Agora

ao Rei eterno, imortal. invisível, o único Deus

sábio, seja honra e glória para todo o sempre" (1

Timóteo 1: 15, 17). Não poderia ser um grande

transporte para o espírito, considerá-lo glorioso

sem considerá-lo imortal.

A desconfiança de suas perfeições em relação

ao tempo, apresenta à alma uma questão da

maior complacência. A felicidade de nossas

almas depende de seus outros atributos, mas a

perpetuidade dela, da sua eternidade. É um

consolo ver sua imensa sabedoria? Sua bondade

transbordante; sua terna misericórdia; e

Page 85: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

85

verdade? Que conforto haveria em qualquer um

desses, se fosse uma sabedoria que poderia ser

desconcertada; uma bondade que poderia ser

amortecida, uma misericórdia que pudesse

expirar; e uma verdade que pode perecer? Sem

a eternidade, o que seriam todas as suas outras

perfeições, senão flores gloriosas, mas

murchando; uma beleza grande, mas

decadente?

Por uma meditação frequente da eternidade de

Deus, devemos nos tornar mais sensíveis à

nossa própria vaidade e à insignificância do

mundo; como nada devemos nós mesmos;

como nada todas as outras coisas apareceriam

em nossos olhos! Com que frieza devemos

desejá-los! Quão fracamente devemos confiar

neles! Não devemos nos julgar dignos de

contemplar uma glória perecível, esperar apoio

de um braço de carne, quando há uma beleza

eterna? Para nos violentar, quando há um braço

eterno para nos proteger?

Asafe, quando considerava Deus “uma porção

para sempre”, não pensava nas glórias da terra,

ou nas belezas dos céus criados, dignas de seu

apetite ou complacência, mas “Deus” (Salmo

73:25, 26). Além disso, um quadro elevado de

coração na consideração da eternidade de Deus,

abateria as fortalezas e os motores de qualquer

Page 86: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

86

tentação: uma ligeira tentação não saberia onde

encontrar e agarrar uma alma elevada e se

esconderia em uma meditação dela; e se isso

acontecer, não haverá falta de preservativos

para resistir e conquistá-lo.

Que prazeres transitórios não sufocarão os

pensamentos da eternidade de Deus? Quando

esse trabalho se torna uma alma, é grande

demais para que ele desça, para ouvir um recado

sem mangas do inferno ou do mundo. As

seduções devassas da carne serão adiadas com

indignação. As ofertas do mundo serão ridículas

quando as colocarmos na balança com a

eternidade de Deus, que se apega em nossos

pensamentos, não seremos uma presa tão fácil

para o laço dos caçadores de pássaros. Vamos,

portanto, meditar sobre isso com frequência,

mas não em uma simples especulação, sem

engajar nossas afeições, e fazer com que cada

noção da eternidade divina termine em uma

impressão adequada em nossos corações. Isto

seria muito parecido com os discípulos olhando

para os céus na ascensão de seu Mestre,

enquanto eles se esqueceram da prática de suas

ordens (Atos 1:11).

Se Deus é eterno, quão digno é ele de nossas

melhores afeições e mais fortes desejos de

comunhão com ele! Não deve tudo ser

Page 87: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

87

valorizado de acordo com a grandeza de seu ser?

Como, então, devemos amá-lo, que não é apenas

adorável em sua natureza, mas eternamente

amável; tendo desde a eternidade todas as

perfeições centradas em si mesmo, que

aparecem no tempo! Se tudo for amável, quanto

mais ele participa da natureza de Deus, que é o

principal bem; quanto mais infinitamente

amável é Deus, que é superior a todos os outros

bens, e eternamente assim! Não é um Deus de

alguns minutos, meses, anos ou milhões de

anos; não dos resíduos do tempo ou do alto do

tempo, mas da eternidade; acima do tempo,

inconcebivelmente imenso além do tempo.

Amá-lo infinitamente, perpetuamente, é um ato

de homenagem a ele por sua excelência eterna;

podemos dar-lhe um, pois nossas almas são

imortais, embora não possamos ser o outro,

porque são finitas. Visto que ele inclina em si

todas as excelências do céu e da terra para

sempre, ele deve ter um afeto, não apenas do

tempo neste mundo, mas da eternidade no

futuro; e se não lhe devemos amor pelo que

somos por ele, devemos-lhe amor pelo que ele é

em si mesmo; e mais pelo que ele é, do que pelo

que ele é para nós. Ele é mais digno de nossas

afeições porque ele é o Deus eterno, do que

porque ele é nosso Criador; porque ele é mais

excelente em sua natureza, do que em suas

ações transitórias; os raios de sua bondade para

Page 88: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

88

conosco, para direcionar nossos pensamentos e

afeições a ele; mas sua própria excelência

eterna deve ser a base e fundamento de nossas

afeições para ele. E verdadeiramente, uma vez

que nada além de Deus é eterno, nada além de

Deus vale o amor; e fazemos apenas um direito

ao nosso amor, para lançar aquilo que sempre

pode nos possuir e ser possuído por nós; sobre

um objeto que não pode enganar nosso afeto, e

colocá-lo fora de nós por uma dissolução. E se a

nossa felicidade consiste em ser como Deus,

devemos imitá-lo em amá-lo como ele se ama, e

enquanto ele ama a si mesmo; Deus não pode

fazer mais para si mesmo do que amar a si

mesmo; ele não pode acrescentar sua essência,

nem diminuir sua essência. O que devemos

fazer menos a um Ser eterno, do que agregar

afeição sobre ele, como o seu próprio para si

mesmo; já que não podemos encontrar nada tão

durável quanto ele, pelo qual devemos amá-lo.

Quando adoramos a Deus, e o Espírito Santo se

move em nós para isto, é que nos tornamos

semelhantes a Ele em espírito, quanto à

santidade, porque é contemplando a beleza da

Sua santidade que ela é refletida em nossos

espíritos. É por atos reflexos que recebemos as

virtudes de Deus, como por exemplo, Ele nos

ama, e retornamos amor a Ele de volta, Ele faz o

Seu rosto brilhar sobre nós, e retornamos

Page 89: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

89

alegria e gratidão a Ele. Além disso, na

manifestação da Sua pureza, nossos corações

são também purificados, e nossas consciências

são purgadas de todas as obras mortas.

Somente Deus é digno do nosso melhor serviço.

O Ancião dos Dias deve servir antes de todos os

que são mais jovens que ele; nossa melhor

obediência é devida a ele como um Deus de

excelência não confinada; tudo que é excelente

merece uma veneração adequada à sua

excelência. Como Deus é infinito, ele tem direito

a um serviço ilimitado; como ele é eterno, ele

tem direito a um serviço perpétuo: como o

serviço é uma dívida de justiça na conta da

excelência de sua natureza, assim, um serviço

perpétuo é tanto uma dívida de justiça por causa

da eternidade. Se Deus é infinito e eterno, ele

merece uma honra e um comportamento de

suas criaturas, adequados à ilimitada perfeição

de sua natureza e à duração de seu ser. Quão

digna é a resolução do salmista! “Cantarei ao

Senhor enquanto eu viver; eu louvo ao meu

Deus enquanto tenho algum ser” (Salmos 104:

33). É o uso que ele faz da duração infinita da

glória de Deus. Servir a outras coisas, ou servir a

nós mesmos, é um serviço muito vasto sobre

aquilo que nada serve. Ao nos dedicarmos a

Deus, servimos a ele, isto é, assim como nunca

começou; está para vir, assim como ele nunca

Page 90: Nossa Relação com a Eternidade · “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (João 12.50) “Assim como

90

deve; por quem todas as coisas são o que são; que

tem tanto conhecimento eterno para lembrar-

se de nosso serviço, quanto bondade eterna.

NOTA: Usamos também na composição deste

livro citações de Sthepen Charnock, que

traduzimos pioneiramente para a língua

portuguesa.