Upload
phungtu
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Nota de Advertência!
O presente texto foi desenvolvido como material de apoio da disciplina
“processo constitucional II”, ministrada no curso de Bacharelado em Direito da
FACEAR. Não tem a finalidade de substituir a presença do(a) aluno(a) em
sala de aula! Igualmente não se prescinde da leitura completar e estudo
individual para a realização das avaliações bimestrais.
AULA 02 – MANDADO DE INJUNÇÃO
1 – NOTAS INTRODUTÓRIAS
O mandado de injunção teve sua previsão no rol dos remédios constitucionais pátrios
a partir da Constituição Federal de 1988. Vejamos o que dispõe o inciso LXXI, do
artigo 5º do texto magno:
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e
à cidadania;
Trata-se de uma garantia constitucional autoaplicável, ou seja, não depende de
regulamentação infraconstitucional para ser reclamada pelo cidadão.
Faz parte do chamado controle incidental de constitucionalidade, uma vez que o
âmbito de controle se dá na análise de um caso concreto apresentado ao Poder
Judiciário (processo constitucional subjetivo).
Por meio de decisão paradigmática1, o STF fixou 6 pontos básicos acerca do MI, são
eles:
1. Os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção
devem se apresentar como direitos à expedição de um ato normativo, os quais,
via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento
jurisdicional do STF;
2. A decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional
constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a
norma requerida;
3. A omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do
legislador quanto a uma omissão parcial;
4. A decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da
existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não
apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no
contexto de mandado de injunção;
1 MI 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21.9.1990.
2
5. O STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de
injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com
o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por
norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado;
6. Por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a
edição de outras medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna
expedição de normas pelo legislador.
Prosseguindo em nosso estudo, os pressupostos para o cabimento do mandado de
injunção são:
A existência da necessidade de fruição de um direito constitucional por parte de
quem impetra a medida e,
O impedimento de exercer o direito constitucional violado em virtude da ausência
de norma regulamentadora (lacuna técnica).
2 – ASPECTOS GERAIS DO MANDADO DE INJUNÇÃO (MI)
Vamos agora analisar os principais aspectos relacionados ao mandado de injunção (MI).
O MI está previsto na CF/88 no inciso LXXI do artigo 5º, conforme já transcrevemos
acima.
Sua regulamentação infraconstitucional não se encontra concretizada até o presente
momento2, havendo, somente, apenas um projeto de lei aguardando votação no Senado
da República.
Entretanto, para fins procedimentais, a Lei Federal nº 8.038/90, que trata de normas
aplicáveis as ações de índole constitucional de competência do STF e STJ, dispôs sobre
o procedimento aplicável ao MI nos termos do parágrafo único do artigo 24, verbis:
Art. 24 - Na ação rescisória, nos conflitos de competência, de jurisdição e de
atribuições, na revisão criminal e no mandado de segurança, será aplicada
a legislação processual em vigor.
Parágrafo único - No mandado de injunção e no habeas data, serão
observadas, no que couber, as normas do mandado de segurança,
enquanto não editada legislação específica.
Assim sendo, quando da impetração do MI, deverá o aplicador do Direito se socorrer da
legislação vigente para o mandado de segurança (Lei Federal nº 12.016/2009).
Vamos analisar os principais tópicos relativos aos elementos estruturais da relação
processual (legitimados ativos e passivos, competência, objeto da ação (causa de
pedir) e pedido), bem como a uma breve exposição do procedimento adotado.
2.1. Legitimados ativos
2 Edição concluída em 19 de fevereiro de 2016.
3
A legitimidade para se impetrar o MI é atribuída a qualquer titular de um direito
constitucionalmente assegurado, cujo exercício esteja inviabilizado pela ausência da
norma infraconstitucional regulamentadora (NOVELINO, 2012).
Neste sentido, o MI pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica titular do
suposto direito constitucional inviabilizado. Encontra divergência na doutrina a
possibilidade de impetração pelos entes federativos, pessoas jurídicas de direito
público ou órgãos públicos.
Para NOVELINO, é admissível a propositura do MI pelo Ministério Público posto que o
mesmo está incumbido, pela própria Constituição Federal, da defesa dos direitos
difusos, coletivos e até individuais indisponíveis (art. 129, II e III):
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos
e coletivos;
2.1.1.Mandado de Injunção Coletivo
Com base na aplicação analógica do que dispõe o inciso LXX do artigo 5º da CF/88, o
STF tem admitido a impetração de Mandado de Injunção Coletivo pelo mesmos
legitimados em propor o Mandado de Segurança Coletivo, são eles:
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;
Vejamos um extrato da atual jurisprudência do STF na ementa abaixo transcrita:
AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE INJUNÇÃO.
APOSENTADORIA ESPECIAL DO SERVIDOR PÚBLICO. ART. 40, § 4º,
III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO DO ART. 57 DA LEI
8.213/1991. LEGITIMIDADE ATIVA DO SINDICATO. LEGITIMIDADE
PASSIVA. AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO DO FUNDO
PREVIDENCIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS. PRECEDENTES.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – A jurisprudência desta Corte
sedimentou a possibilidade de as entidades de classe, desde que
legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano,
utilizarem o mandado de injunção coletivo. II – A orientação do Supremo
4
Tribunal Federal firmou-se no sentido de que apenas a autoridade, o órgão
ou a entidade que tenha o dever de regulamentar a norma constitucional
dispõe de legitimidade passiva ad causam no mandado de injunção. III –
Agravo regimental a que se nega provimento.
(MI 4503 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno,
julgado em 07/11/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-237 DIVULG 02-
12-2013 PUBLIC 03-12-2013)
2.2. Legitimados passivos
O tema da legitimidade passiva no MI é dividido em duas correntes doutrinária: corrente
não concretista e a corrente concretista individual.
Para a primeira corrente, as decisões do Poder Judiciário, em sede de MI, têm apenas
o efeito de reconhecer formalmente a inércia e dar ciência da omissão ao órgão
competente.
Assim, o legitimado será o órgão ou autoridade estatal que tenha o dever de elaborar a
norma regulamentadora.
Já para a segunda corrente (concretista individual), a decisão proferida produz efeitos
concretos inter partes, ou seja, traz resultado concretos e não apenas efeito meramente
declaratório.
Nestes termos, a legitimidade passiva recai tanto no responsável pela elaboração da
norma regulamentadora quanto àquele potencialmente atingido pelos efeitos da
decisão.
A posição do STF tem sido no sentido de que “somente pessoas estatais podem figurar
no polo passivo da relação processual instaurada com a impetração do mandado de
injunção, eis que apenas a elas é imputável o dever jurídico de emanação de
provimentos normativos” (apud NOVELINO, 2012).
Em relação a formação de litisconsórcio passivo, o STF já entendeu pela sua
impossibilidade no MI entre órgãos do poder público e o poder público e particulares,
vejamos nas ementas abaixo transcritas:
MANDADO DE INJUNÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL CONTRA
DESPACHO QUE NÃO ADMITIU LITISCONSORCIO PASSIVO E
INDEFERIU LIMINAR. - Já se firmou o entendimento desta Corte, no sentido
de que, em mandado de injunção, não cabe agravo regimental contra
despacho que indefere pedido de concessão de liminar. - Por outro lado, na
Sessão Plenária do dia 8.8.91, ao julgar este Plenário agravo regimental
interposto no mandado de injunção 335, decidiu ele, por maioria de votos,
que, em face da natureza mandamental do mandado de injunção, como já
afirmado por este Tribunal, ele se dirige as autoridades ou órgãos públicos
que se pretendem omissos quanto a regulamentação que viabilize o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes a nacionalidade, a soberania e a cidadania, não se configurando,
assim, hipótese de cabimento de litisconsórcio passivo entre essas
autoridades e órgãos públicos que deverão, se for o caso, elaborar a
5
regulamentação necessária, e particulares que, em favor do impetrante do
mandado de injunção, vierem a ser obrigados ao cumprimento da norma
regulamentadora, quando vier esta, em decorrência de sua elaboração, a
entrar em vigor. Agravo que se conhece em parte, e nela se lhe nega
provimento.
(MI 323 AgR, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado
em 31/10/1991, DJ 14-02-1992 PP-01164 EMENT VOL-01649-01 PP-00123
RTJ VOL-00138-01 PP-00034).
AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE INJUNÇÃO. AVISO PRÉVIO
PROPORCIONAL. ORDEM PARCIALMENTE DEFERIDA.
POSSIBILIDADE DO DIREITO AO AVISO PRÉVIO SER ANALISADO
NOS TERMOS DA LEI Nº 12.506/11. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. RECURSO DE
JOSÉ GOULART DE MELO DO QUAL SE CONHECE E AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL DA VALE S/A DO QUAL
NÃO SE CONHECE.
1. Impossibilidade de formação de litisconsórcio passivo, em sede de
mandado de injunção, entre a autoridade competente para a elaboração da
norma regulamentadora de dispositivo constitucional e particulares. 2. Vale
S/A não figura no polo passivo da presente lide em mandado de injunção,
conforme já referendado pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e
assentido nas razões do próprio recurso interposto. 3. Agravo regimental de
José Goulart de Melo do qual se conhece e ao qual se nega provimento. 4.
Agravo de Vale S/A do qual não se conhece.
(MI 1007 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em
19/09/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-047 DIVULG 10-03-2014
PUBLIC 11-03-2014)
2.3. Competência
Em relação ao tema competência iremos dividir nosso estudo em duas partes:
competência originária (processamento e julgamento) e competência recursal (no
âmbito dos tribunais superiores). Vamos analisar em primeiro lugar a competência
originária:
Tanto o STF (Supremo Tribunal Federal) quanto o STJ (Superior Tribunal de Justiça)
detêm competência originária para apreciação, processamento e julgamento de MI.
As hipóteses de competência originária do STF, estão elencadas na alínea q do inciso
I do artigo 102 da CF/88, vejamos:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda
da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
6
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora
for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas
Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais
Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
Já as hipóteses de competência originária do STJ estão previstas na alínea h do inciso
I do artigo 105 da CF/88, vejamos:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora
for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração
direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo
Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da
Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;
A tabela abaixo irá facilitar a percepção das competências de cada tribunal, observe:
PO
DE
RE
S
Competência originária
Atribuição para
elaboração da norma
Tribunais Superiores
STF STJ
Executivo - Presidência da República
Órgãos, entidade ou autoridade federal (administração direta ou indireta) – exceto competência da justiça federal, eleitoral, militar, do trabalho e dos estados membros
Legislativo
- Congresso Nacional - Senado da República (SR) - Câmara dos Deputados (CD) - Mesas do SR e CD - Tribunal de Contas da União (TCU)
Judiciário
- STF - STJ - TST - TSE - STM
No caso da competência recursal, não teremos muita dificuldade em fixar de quem é a
competência para a apreciação de eventual recurso manejado. Vejamos:
7
Considerando que as matérias de competência do STF não cabem recurso para outro
tribunal superior, nos resta apenas fixar que somente as matérias de competência
originária do STJ e dos demais Tribunais Superiores (TSE, TST e STM) serão
apreciadas pelo STF, nos termos da alínea a, do inciso II do artigo 102 da CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda
da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado
de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se
denegatória a decisão;
Aqui cabe um alerta! Cuidado ao associar o STF apenas à apreciação de recursos
extraordinários. No STF são apreciados tanto os recursos chamados extraordinários
quanto os ordinários.
2.4. Objeto da ação (causa de pedir)
O MI tem por objetivo a concessão de garantia ao impetrante para o exercício de direitos
contemplados na Constituição, os quais não poderiam ser exercidos devido à ausência
de norma regulamentadora.
Nas palavras de Marcelo Novelino, verbis:
“ O objeto desta ação é a omissão inconstitucional em relação à tutela dos
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania. Esta ocorre quando o Poder
Público deixa de atuar da forma exigida por uma norma constitucional, cuja
aplicabilidade depende de outra vontade integradora de seus comandos”.3
Com relação as normas de referência (parâmetro de controle) a doutrina diverge quanto
ao que se poderia entender como normas constitucionais aptas a serem objeto do MI.
Para a corrente liderada pelo jurista Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o MI não alcança
os direitos sociais, servindo apenas para garantir os direitos, liberdades e prerrogativas
diretamente vinculados ao status de nacional e de cidadão (NOVELINO, 2012).
Para a corrente liderada pelo jurista Celso Bastos, a expressão direitos e liberdades
constitucionais engloba não somente os clássicos direitos e garantias individuais,
previstos no artigo 5º da CF/88, mas também os direitos coletivos e sociais consagrados
no Título II da Constituição.
Já para a corrente liderada pelo jurista José Afonso da Silva, o MI assegura a fruição de
a) qualquer direito constitucional (individual, coletivo, político o social) não
regulamentado; b) de liberdade constitucional; c) das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania, e à cidadania.
3 Direito Constitucional, 7ª edição, São Paulo : Método, p. 605
8
3 – PROCEDIMENTO DO MI
Considerando que até o presente momento o legislador ordinário não editou norma
específica regulamentando o procedimento do MI, tem sido adotado, por analogia, o
procedimento estabelecido no Mandado de Segurança (Lei Federal nº 12.016/09), além
de dispositivos subsidiários do Código de Processo Civil.
Como iremos tratar no próximo módulo acerca do Mandado de Segurança, pedimos
vênia para se reportar àquele conteúdo.
4 – ALCANCE DAS DECISÕES DE MÉRITO PROFERIDAS NO MI
Retomando a questão ligada a compreensão das correntes jurisprudenciais que se
debruçam sobre o tema do alcance e extensão das decisões proferidas nas ações
mandamentais de injunção (MI), iremos traçar um resumo dos principais pontos
característicos de cada uma das correntes, bem como do posicionamento atual do STF
quanto ao tema.
A corrente não concretista entende que o Poder Judiciário deve apenas reconhecer
formalmente a inércia e comunicar a omissão ao órgão competente para a elaboração
da norma regulamentadora. Pode ainda o prejudicar ajuizar ação de reparação
patrimonial para ressarcimento dos prejuízos decorrentes da omissão. Tal
posicionamento prevaleceu no STF até meados de 2007, quando o MI tinha os mesmos
efeitos de uma ADO.
A chamada corrente concretista admite a possibilidade de concretização judicial do
direito assegurado na CF, viabilizando, assim, o seu exercício. Atualmente se dividem
em: corrente concretista individual, corrente concretista geral e corrente concretista
intermediária.
A corrente concretista individual preconiza que cabe ao órgão jurisdicional competente
criar a norma para o caso específico, tendo a decisão efeito inter partes. Em termos
práticos, quando impetrando um MI, fica o Poder Judiciário autorizado a suprir a lacuna
legislativa apenas aos autores do respectivo mandado.
Tal posicionamento, defendido por grande parte da doutrina brasileira, foi adotado pelo
STF quando do julgamento dos MI impetrados para viabilizar o direito à aposentadoria
especial dos servidores públicos.
Já a corrente concretista geral admite que a omissão seja suprida pelo Poder Judiciário
não apenas para os impetrantes, mas também por todos aqueles que se encontrarem
em situação idêntica (efeito erga omnes). Este entendimento foi adotado pelo STF
quando do julgamento dos MI relativos ao exercício do direito de greve pelos servidores
púbicos. Nesse caso, o STF declarou a mora legislativa e determinou a aplicação
subsidiária da Lei nº 7.783/89 (Lei de Greve) aos casos envolvendo servidores
estatutários.
Por fim, para a corrente concretista intermediária, cabe ao Judiciário comunicar a
omissão ao órgão competente para a elaboração da norma regulamentadora com a
fixação de um prazo para supri-la. Esgotado o prazo, caso a inercia permaneça, o direito
poderá ser exercido pelo impetrante (concretista intermediária individual) ou por todos
os que se encontrem na mesma situação (concretista intermediária geral), conforme as
condições fixadas na decisão.
9
No julgamento do Mandado de Injunção nº 232/RJ, cuja ementa transcrevemos abaixo,
o STF fixou um prazo inicial para a edição de norma regulamentadora por parte do Poder
Legislativo competente. Caso houvesse descumprimento da decisão, poderia então o
interessado se valer do direito constitucional perseguindo (isenção de contribuição para
a seguridade social), vejamos:
MANDADO DE INJUNÇÃO. - LEGITIMIDADE ATIVA DA REQUERENTE
PARA IMPETRAR MANDADO DE INJUNÇÃO POR FALTA DE
REGULAMENTAÇÃO DO DISPOSTO NO PAR. 7. DO ARTIGO 195 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Ocorrência, no caso, em face do disposto no artigo 59 do ADCT, de mora,
por parte do Congresso, na regulamentação daquele preceito constitucional.
Mandado de injunção conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido para
declarar-se o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a
fim de que, no prazo de seis meses, adote ele as providencias legislativas
que se impõem para o cumprimento da obrigação de legislar decorrente do
artigo 195, par. 7., da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo sem
que essa obrigação se cumpra, passar o requerente a gozar da imunidade
requerida.
(MI 232, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em
02/08/1991, DJ 27-03-1992 PP-03800 EMENT VOL-01655-01 PP-00018
RTJ VOL-00137-03 PP-00965)
5 – CONCESSÃO DE MEDIDAS LIMINARES EM MI
Segundo NOVELINO, é firme a jurisprudência do STF no sentido de que a natureza do
mandado de injunção é incompatível com a concessão de medidas liminares.
6. EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO DE CONTEÚDO:
Questão 1 - (XVI EXAME OAB UNIFICADO/FGV) O diretor de RH de uma multinacional
da área de telecomunicações, em reunião corporativa, afirmou que o mundo globalizado
vem produzindo grandes inovações, exigindo o reconhecimento de novas profissões
desconhecidas até então. Feitas essas considerações, solicitou à diretoria que alterasse
o quadro de cargos e funções da empresa, incluindo as seguintes profissões: gestor de
marketing digital e desenvolvedor de aplicativos móveis. O presidente da sociedade
empresária, posicionando-se contra o pedido formulado, alegou que o exercício de
qualquer atividade laborativa pressupõe a sua devida regulamentação em lei, o que
ainda não havia ocorrido em relação às referidas profissões. Com base na teoria da
eficácia das normas constitucionais, é correto afirmar que o presidente da sociedade
empresária
a) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da
Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, possui eficácia
limitada, exigindo regulamentação legal para que possa produzir efeitos.
10
b) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo da
Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, possui eficácia
contida, de modo que, inexistindo lei que regulamente o exercício da atividade
profissional, é livre o seu exercício.
c) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo da
Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, possui eficácia
plena, já que a liberdade do exercício profissional não pode ser restringida, mas apenas
ampliada.
d) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da
Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, não possui
nenhuma eficácia, devendo ser objeto de mandado de injunção para a sua devida
regulamentação.
Questão 2 – (TRF3/Magistrado Federal/VI Concurso) Nos termos da Constituição
Federal:
a) mandado de injunção e ação de inconstitucionalidade por omissão são duas
designações do mesmo instrumento de defesa de direitos perante o Supremo Tribunal
Federal;
b) declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma
constitucional, o juiz determinará ao Poder competente que adote a providência
necessária, no prazo de trinta dias;
c) o mandado de injunção serve para suprir norma regulamentadora e tornar viável o
exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;
d) conceder-se-á mandado de injunção para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
entidades governamentais ou de caráter público.
Questão 3 – (TRF3/Magistrado Federal/VII Concurso) Quando a falta de norma
regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, conceder-se-à:
a) mandado de segurança coletivo;
b) “habeas data”;
c) ação declaratória de constitucionalidade;
d) mandado de injunção.
Questão 4 – (TRF3/Magistrado Federal/VIII Concurso) Nos termos da Constituição
Federal:
a) o mandado de injunção pode ser impetrado por partido político, com ou sem
representação no Congresso Nacional, para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
entidades governamentais ou de caráter público.
11
b) qualquer cidadão é parte legítima para propor ação civil pública para assegurar o
conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público.
c) o mandado de injunção somente pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade
ou abuso de poder.
d) qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
Questão 5 – (TRF3/Magistrado Federal/VIII Concurso) Em virtude da Constituição
Federal em vigor, o mandado de injunção será concedido:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros de entidades de caráter público;
b) quando a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
c) quando a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos
constitucionais inerentes ao devido processo legal;
d) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso
judicial.
Questão 6 – (TJPR/Magistrado Estadual/2013/UFPR) Conceder-se-á sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder:
a) Mandado de injunção.
b) Habeas data.
c) Mandado de segurança.
d) Habeas corpus.
Questão 7 – (MPPR/Promotor de Justiça Substituto/2011/Adaptada) Assinale
verdadeiro ou falso:
“São requisitos para o mandado de injunção a falta de norma regulamentadora de uma
previsão constitucional, bem como a inviabilização de direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania”. (V) (F)
Questão 8 – (NOSSA CAIXA/Advogado/2011/FCC/Adaptada) Assinale verdadeiro ou
falso:
“Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, o
mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição
do Tribunal de Contas da União”. (V) (F)
12
Questão 9 – (PGE-RS/Procurador Estadual/2015/FUNDATEC) – No que se refere ao
mandado de injunção, previsto no artigo 5º, inciso LXXI, da Constituição Federal de
1988, é correto afirmar que a jurisprudência do STF:
a) Sempre adotou a corrente não concretista, equiparando sua finalidade à da ação de
inconstitucionalidade por omissão.
b) Inicialmente adotou a corrente não concretista, equiparando sua finalidade à da ação
de inconstitucionalidade por omissão, transitando em 2007 para a corrente concretista
com efeitos gerais.
c) Inicialmente adotou a corrente concretista com efeitos gerais, equiparando sua
finalidade à da ação de inconstitucionalidade por omissão, transitando em 2007 para a
corrente não concretista.
d) Inicialmente adotou a corrente concretista particular, transitando em 2007 para a
corrente não concretista, equiparando sua finalidade à da ação de inconstitucionalidade
por omissão.
e) Sempre adotou a corrente concretista, no sentido de tornar viável o exercício de
direitos e liberdades inviabilizados por faltar norma regulamentadora.
Questão 10 – (AL-PB/Procurador/2013/FCC/Adaptada) - Assinale verdadeiro ou falso:
“Sobre o controle jurisdicional da Administração Pública, é correto afirmar que por ser
instrumento de tutela individual, destinado a garantir exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania,
ameaçados por omissão legislativa ou regulamentadora, o mandado de injunção não
pode ser proposto como ação coletiva”. (V) (F)
GABARITOS
1 B 2 C 3 D 4 B 5 B
6 D 7 Verdadeiro 8 Falso 9 B 10 Falso