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1 Nota de Advertência! O presente texto foi desenvolvido como material de apoio da disciplina “processo constitucional II”, ministrada no curso de Bacharelado em Direito da FACEAR. Não tem a finalidade de substituir a presença do(a) aluno(a) em sala de aula! Igualmente não se prescinde da leitura completar e estudo individual para a realização das avaliações bimestrais. AULA 02 MANDADO DE INJUNÇÃO 1 NOTAS INTRODUTÓRIAS O mandado de injunção teve sua previsão no rol dos remédios constitucionais pátrios a partir da Constituição Federal de 1988. Vejamos o que dispõe o inciso LXXI, do artigo 5º do texto magno: LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; Trata-se de uma garantia constitucional autoaplicável, ou seja, não depende de regulamentação infraconstitucional para ser reclamada pelo cidadão. Faz parte do chamado controle incidental de constitucionalidade, uma vez que o âmbito de controle se dá na análise de um caso concreto apresentado ao Poder Judiciário (processo constitucional subjetivo). Por meio de decisão paradigmática 1 , o STF fixou 6 pontos básicos acerca do MI, são eles: 1. Os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção devem se apresentar como direitos à expedição de um ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento jurisdicional do STF; 2. A decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida; 3. A omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; 4. A decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no contexto de mandado de injunção; 1 MI 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21.9.1990.

Nota de Advertência! · 2 5. O STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais,

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Nota de Advertência!

O presente texto foi desenvolvido como material de apoio da disciplina

“processo constitucional II”, ministrada no curso de Bacharelado em Direito da

FACEAR. Não tem a finalidade de substituir a presença do(a) aluno(a) em

sala de aula! Igualmente não se prescinde da leitura completar e estudo

individual para a realização das avaliações bimestrais.

AULA 02 – MANDADO DE INJUNÇÃO

1 – NOTAS INTRODUTÓRIAS

O mandado de injunção teve sua previsão no rol dos remédios constitucionais pátrios

a partir da Constituição Federal de 1988. Vejamos o que dispõe o inciso LXXI, do

artigo 5º do texto magno:

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e

à cidadania;

Trata-se de uma garantia constitucional autoaplicável, ou seja, não depende de

regulamentação infraconstitucional para ser reclamada pelo cidadão.

Faz parte do chamado controle incidental de constitucionalidade, uma vez que o

âmbito de controle se dá na análise de um caso concreto apresentado ao Poder

Judiciário (processo constitucional subjetivo).

Por meio de decisão paradigmática1, o STF fixou 6 pontos básicos acerca do MI, são

eles:

1. Os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção

devem se apresentar como direitos à expedição de um ato normativo, os quais,

via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento

jurisdicional do STF;

2. A decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional

constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a

norma requerida;

3. A omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do

legislador quanto a uma omissão parcial;

4. A decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da

existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não

apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no

contexto de mandado de injunção;

1 MI 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21.9.1990.

2

5. O STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de

injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com

o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por

norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado;

6. Por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a

edição de outras medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna

expedição de normas pelo legislador.

Prosseguindo em nosso estudo, os pressupostos para o cabimento do mandado de

injunção são:

A existência da necessidade de fruição de um direito constitucional por parte de

quem impetra a medida e,

O impedimento de exercer o direito constitucional violado em virtude da ausência

de norma regulamentadora (lacuna técnica).

2 – ASPECTOS GERAIS DO MANDADO DE INJUNÇÃO (MI)

Vamos agora analisar os principais aspectos relacionados ao mandado de injunção (MI).

O MI está previsto na CF/88 no inciso LXXI do artigo 5º, conforme já transcrevemos

acima.

Sua regulamentação infraconstitucional não se encontra concretizada até o presente

momento2, havendo, somente, apenas um projeto de lei aguardando votação no Senado

da República.

Entretanto, para fins procedimentais, a Lei Federal nº 8.038/90, que trata de normas

aplicáveis as ações de índole constitucional de competência do STF e STJ, dispôs sobre

o procedimento aplicável ao MI nos termos do parágrafo único do artigo 24, verbis:

Art. 24 - Na ação rescisória, nos conflitos de competência, de jurisdição e de

atribuições, na revisão criminal e no mandado de segurança, será aplicada

a legislação processual em vigor.

Parágrafo único - No mandado de injunção e no habeas data, serão

observadas, no que couber, as normas do mandado de segurança,

enquanto não editada legislação específica.

Assim sendo, quando da impetração do MI, deverá o aplicador do Direito se socorrer da

legislação vigente para o mandado de segurança (Lei Federal nº 12.016/2009).

Vamos analisar os principais tópicos relativos aos elementos estruturais da relação

processual (legitimados ativos e passivos, competência, objeto da ação (causa de

pedir) e pedido), bem como a uma breve exposição do procedimento adotado.

2.1. Legitimados ativos

2 Edição concluída em 19 de fevereiro de 2016.

3

A legitimidade para se impetrar o MI é atribuída a qualquer titular de um direito

constitucionalmente assegurado, cujo exercício esteja inviabilizado pela ausência da

norma infraconstitucional regulamentadora (NOVELINO, 2012).

Neste sentido, o MI pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica titular do

suposto direito constitucional inviabilizado. Encontra divergência na doutrina a

possibilidade de impetração pelos entes federativos, pessoas jurídicas de direito

público ou órgãos públicos.

Para NOVELINO, é admissível a propositura do MI pelo Ministério Público posto que o

mesmo está incumbido, pela própria Constituição Federal, da defesa dos direitos

difusos, coletivos e até individuais indisponíveis (art. 129, II e III):

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

(...)

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de

relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,

promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos

e coletivos;

2.1.1.Mandado de Injunção Coletivo

Com base na aplicação analógica do que dispõe o inciso LXX do artigo 5º da CF/88, o

STF tem admitido a impetração de Mandado de Injunção Coletivo pelo mesmos

legitimados em propor o Mandado de Segurança Coletivo, são eles:

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente

constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos

interesses de seus membros ou associados;

Vejamos um extrato da atual jurisprudência do STF na ementa abaixo transcrita:

AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE INJUNÇÃO.

APOSENTADORIA ESPECIAL DO SERVIDOR PÚBLICO. ART. 40, § 4º,

III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO DO ART. 57 DA LEI

8.213/1991. LEGITIMIDADE ATIVA DO SINDICATO. LEGITIMIDADE

PASSIVA. AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO DO FUNDO

PREVIDENCIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS. PRECEDENTES.

AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – A jurisprudência desta Corte

sedimentou a possibilidade de as entidades de classe, desde que

legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano,

utilizarem o mandado de injunção coletivo. II – A orientação do Supremo

4

Tribunal Federal firmou-se no sentido de que apenas a autoridade, o órgão

ou a entidade que tenha o dever de regulamentar a norma constitucional

dispõe de legitimidade passiva ad causam no mandado de injunção. III –

Agravo regimental a que se nega provimento.

(MI 4503 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno,

julgado em 07/11/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-237 DIVULG 02-

12-2013 PUBLIC 03-12-2013)

2.2. Legitimados passivos

O tema da legitimidade passiva no MI é dividido em duas correntes doutrinária: corrente

não concretista e a corrente concretista individual.

Para a primeira corrente, as decisões do Poder Judiciário, em sede de MI, têm apenas

o efeito de reconhecer formalmente a inércia e dar ciência da omissão ao órgão

competente.

Assim, o legitimado será o órgão ou autoridade estatal que tenha o dever de elaborar a

norma regulamentadora.

Já para a segunda corrente (concretista individual), a decisão proferida produz efeitos

concretos inter partes, ou seja, traz resultado concretos e não apenas efeito meramente

declaratório.

Nestes termos, a legitimidade passiva recai tanto no responsável pela elaboração da

norma regulamentadora quanto àquele potencialmente atingido pelos efeitos da

decisão.

A posição do STF tem sido no sentido de que “somente pessoas estatais podem figurar

no polo passivo da relação processual instaurada com a impetração do mandado de

injunção, eis que apenas a elas é imputável o dever jurídico de emanação de

provimentos normativos” (apud NOVELINO, 2012).

Em relação a formação de litisconsórcio passivo, o STF já entendeu pela sua

impossibilidade no MI entre órgãos do poder público e o poder público e particulares,

vejamos nas ementas abaixo transcritas:

MANDADO DE INJUNÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL CONTRA

DESPACHO QUE NÃO ADMITIU LITISCONSORCIO PASSIVO E

INDEFERIU LIMINAR. - Já se firmou o entendimento desta Corte, no sentido

de que, em mandado de injunção, não cabe agravo regimental contra

despacho que indefere pedido de concessão de liminar. - Por outro lado, na

Sessão Plenária do dia 8.8.91, ao julgar este Plenário agravo regimental

interposto no mandado de injunção 335, decidiu ele, por maioria de votos,

que, em face da natureza mandamental do mandado de injunção, como já

afirmado por este Tribunal, ele se dirige as autoridades ou órgãos públicos

que se pretendem omissos quanto a regulamentação que viabilize o

exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas

inerentes a nacionalidade, a soberania e a cidadania, não se configurando,

assim, hipótese de cabimento de litisconsórcio passivo entre essas

autoridades e órgãos públicos que deverão, se for o caso, elaborar a

5

regulamentação necessária, e particulares que, em favor do impetrante do

mandado de injunção, vierem a ser obrigados ao cumprimento da norma

regulamentadora, quando vier esta, em decorrência de sua elaboração, a

entrar em vigor. Agravo que se conhece em parte, e nela se lhe nega

provimento.

(MI 323 AgR, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado

em 31/10/1991, DJ 14-02-1992 PP-01164 EMENT VOL-01649-01 PP-00123

RTJ VOL-00138-01 PP-00034).

AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE INJUNÇÃO. AVISO PRÉVIO

PROPORCIONAL. ORDEM PARCIALMENTE DEFERIDA.

POSSIBILIDADE DO DIREITO AO AVISO PRÉVIO SER ANALISADO

NOS TERMOS DA LEI Nº 12.506/11. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD

CAUSAM DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. RECURSO DE

JOSÉ GOULART DE MELO DO QUAL SE CONHECE E AO QUAL SE

NEGA PROVIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL DA VALE S/A DO QUAL

NÃO SE CONHECE.

1. Impossibilidade de formação de litisconsórcio passivo, em sede de

mandado de injunção, entre a autoridade competente para a elaboração da

norma regulamentadora de dispositivo constitucional e particulares. 2. Vale

S/A não figura no polo passivo da presente lide em mandado de injunção,

conforme já referendado pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e

assentido nas razões do próprio recurso interposto. 3. Agravo regimental de

José Goulart de Melo do qual se conhece e ao qual se nega provimento. 4.

Agravo de Vale S/A do qual não se conhece.

(MI 1007 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em

19/09/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-047 DIVULG 10-03-2014

PUBLIC 11-03-2014)

2.3. Competência

Em relação ao tema competência iremos dividir nosso estudo em duas partes:

competência originária (processamento e julgamento) e competência recursal (no

âmbito dos tribunais superiores). Vamos analisar em primeiro lugar a competência

originária:

Tanto o STF (Supremo Tribunal Federal) quanto o STJ (Superior Tribunal de Justiça)

detêm competência originária para apreciação, processamento e julgamento de MI.

As hipóteses de competência originária do STF, estão elencadas na alínea q do inciso

I do artigo 102 da CF/88, vejamos:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda

da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

(...)

6

q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora

for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da

Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas

Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais

Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;

Já as hipóteses de competência originária do STJ estão previstas na alínea h do inciso

I do artigo 105 da CF/88, vejamos:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

I - processar e julgar, originariamente:

h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora

for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração

direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo

Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da

Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;

A tabela abaixo irá facilitar a percepção das competências de cada tribunal, observe:

PO

DE

RE

S

Competência originária

Atribuição para

elaboração da norma

Tribunais Superiores

STF STJ

Executivo - Presidência da República

Órgãos, entidade ou autoridade federal (administração direta ou indireta) – exceto competência da justiça federal, eleitoral, militar, do trabalho e dos estados membros

Legislativo

- Congresso Nacional - Senado da República (SR) - Câmara dos Deputados (CD) - Mesas do SR e CD - Tribunal de Contas da União (TCU)

Judiciário

- STF - STJ - TST - TSE - STM

No caso da competência recursal, não teremos muita dificuldade em fixar de quem é a

competência para a apreciação de eventual recurso manejado. Vejamos:

7

Considerando que as matérias de competência do STF não cabem recurso para outro

tribunal superior, nos resta apenas fixar que somente as matérias de competência

originária do STJ e dos demais Tribunais Superiores (TSE, TST e STM) serão

apreciadas pelo STF, nos termos da alínea a, do inciso II do artigo 102 da CF/88:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda

da Constituição, cabendo-lhe:

(...)

II - julgar, em recurso ordinário:

a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado

de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se

denegatória a decisão;

Aqui cabe um alerta! Cuidado ao associar o STF apenas à apreciação de recursos

extraordinários. No STF são apreciados tanto os recursos chamados extraordinários

quanto os ordinários.

2.4. Objeto da ação (causa de pedir)

O MI tem por objetivo a concessão de garantia ao impetrante para o exercício de direitos

contemplados na Constituição, os quais não poderiam ser exercidos devido à ausência

de norma regulamentadora.

Nas palavras de Marcelo Novelino, verbis:

“ O objeto desta ação é a omissão inconstitucional em relação à tutela dos

direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à

nacionalidade, à soberania e à cidadania. Esta ocorre quando o Poder

Público deixa de atuar da forma exigida por uma norma constitucional, cuja

aplicabilidade depende de outra vontade integradora de seus comandos”.3

Com relação as normas de referência (parâmetro de controle) a doutrina diverge quanto

ao que se poderia entender como normas constitucionais aptas a serem objeto do MI.

Para a corrente liderada pelo jurista Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o MI não alcança

os direitos sociais, servindo apenas para garantir os direitos, liberdades e prerrogativas

diretamente vinculados ao status de nacional e de cidadão (NOVELINO, 2012).

Para a corrente liderada pelo jurista Celso Bastos, a expressão direitos e liberdades

constitucionais engloba não somente os clássicos direitos e garantias individuais,

previstos no artigo 5º da CF/88, mas também os direitos coletivos e sociais consagrados

no Título II da Constituição.

Já para a corrente liderada pelo jurista José Afonso da Silva, o MI assegura a fruição de

a) qualquer direito constitucional (individual, coletivo, político o social) não

regulamentado; b) de liberdade constitucional; c) das prerrogativas inerentes à

nacionalidade, à soberania, e à cidadania.

3 Direito Constitucional, 7ª edição, São Paulo : Método, p. 605

8

3 – PROCEDIMENTO DO MI

Considerando que até o presente momento o legislador ordinário não editou norma

específica regulamentando o procedimento do MI, tem sido adotado, por analogia, o

procedimento estabelecido no Mandado de Segurança (Lei Federal nº 12.016/09), além

de dispositivos subsidiários do Código de Processo Civil.

Como iremos tratar no próximo módulo acerca do Mandado de Segurança, pedimos

vênia para se reportar àquele conteúdo.

4 – ALCANCE DAS DECISÕES DE MÉRITO PROFERIDAS NO MI

Retomando a questão ligada a compreensão das correntes jurisprudenciais que se

debruçam sobre o tema do alcance e extensão das decisões proferidas nas ações

mandamentais de injunção (MI), iremos traçar um resumo dos principais pontos

característicos de cada uma das correntes, bem como do posicionamento atual do STF

quanto ao tema.

A corrente não concretista entende que o Poder Judiciário deve apenas reconhecer

formalmente a inércia e comunicar a omissão ao órgão competente para a elaboração

da norma regulamentadora. Pode ainda o prejudicar ajuizar ação de reparação

patrimonial para ressarcimento dos prejuízos decorrentes da omissão. Tal

posicionamento prevaleceu no STF até meados de 2007, quando o MI tinha os mesmos

efeitos de uma ADO.

A chamada corrente concretista admite a possibilidade de concretização judicial do

direito assegurado na CF, viabilizando, assim, o seu exercício. Atualmente se dividem

em: corrente concretista individual, corrente concretista geral e corrente concretista

intermediária.

A corrente concretista individual preconiza que cabe ao órgão jurisdicional competente

criar a norma para o caso específico, tendo a decisão efeito inter partes. Em termos

práticos, quando impetrando um MI, fica o Poder Judiciário autorizado a suprir a lacuna

legislativa apenas aos autores do respectivo mandado.

Tal posicionamento, defendido por grande parte da doutrina brasileira, foi adotado pelo

STF quando do julgamento dos MI impetrados para viabilizar o direito à aposentadoria

especial dos servidores públicos.

Já a corrente concretista geral admite que a omissão seja suprida pelo Poder Judiciário

não apenas para os impetrantes, mas também por todos aqueles que se encontrarem

em situação idêntica (efeito erga omnes). Este entendimento foi adotado pelo STF

quando do julgamento dos MI relativos ao exercício do direito de greve pelos servidores

púbicos. Nesse caso, o STF declarou a mora legislativa e determinou a aplicação

subsidiária da Lei nº 7.783/89 (Lei de Greve) aos casos envolvendo servidores

estatutários.

Por fim, para a corrente concretista intermediária, cabe ao Judiciário comunicar a

omissão ao órgão competente para a elaboração da norma regulamentadora com a

fixação de um prazo para supri-la. Esgotado o prazo, caso a inercia permaneça, o direito

poderá ser exercido pelo impetrante (concretista intermediária individual) ou por todos

os que se encontrem na mesma situação (concretista intermediária geral), conforme as

condições fixadas na decisão.

9

No julgamento do Mandado de Injunção nº 232/RJ, cuja ementa transcrevemos abaixo,

o STF fixou um prazo inicial para a edição de norma regulamentadora por parte do Poder

Legislativo competente. Caso houvesse descumprimento da decisão, poderia então o

interessado se valer do direito constitucional perseguindo (isenção de contribuição para

a seguridade social), vejamos:

MANDADO DE INJUNÇÃO. - LEGITIMIDADE ATIVA DA REQUERENTE

PARA IMPETRAR MANDADO DE INJUNÇÃO POR FALTA DE

REGULAMENTAÇÃO DO DISPOSTO NO PAR. 7. DO ARTIGO 195 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

Ocorrência, no caso, em face do disposto no artigo 59 do ADCT, de mora,

por parte do Congresso, na regulamentação daquele preceito constitucional.

Mandado de injunção conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido para

declarar-se o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a

fim de que, no prazo de seis meses, adote ele as providencias legislativas

que se impõem para o cumprimento da obrigação de legislar decorrente do

artigo 195, par. 7., da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo sem

que essa obrigação se cumpra, passar o requerente a gozar da imunidade

requerida.

(MI 232, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em

02/08/1991, DJ 27-03-1992 PP-03800 EMENT VOL-01655-01 PP-00018

RTJ VOL-00137-03 PP-00965)

5 – CONCESSÃO DE MEDIDAS LIMINARES EM MI

Segundo NOVELINO, é firme a jurisprudência do STF no sentido de que a natureza do

mandado de injunção é incompatível com a concessão de medidas liminares.

6. EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO DE CONTEÚDO:

Questão 1 - (XVI EXAME OAB UNIFICADO/FGV) O diretor de RH de uma multinacional

da área de telecomunicações, em reunião corporativa, afirmou que o mundo globalizado

vem produzindo grandes inovações, exigindo o reconhecimento de novas profissões

desconhecidas até então. Feitas essas considerações, solicitou à diretoria que alterasse

o quadro de cargos e funções da empresa, incluindo as seguintes profissões: gestor de

marketing digital e desenvolvedor de aplicativos móveis. O presidente da sociedade

empresária, posicionando-se contra o pedido formulado, alegou que o exercício de

qualquer atividade laborativa pressupõe a sua devida regulamentação em lei, o que

ainda não havia ocorrido em relação às referidas profissões. Com base na teoria da

eficácia das normas constitucionais, é correto afirmar que o presidente da sociedade

empresária

a) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da

Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou

profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, possui eficácia

limitada, exigindo regulamentação legal para que possa produzir efeitos.

10

b) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo da

Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou

profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, possui eficácia

contida, de modo que, inexistindo lei que regulamente o exercício da atividade

profissional, é livre o seu exercício.

c) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo da

Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou

profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, possui eficácia

plena, já que a liberdade do exercício profissional não pode ser restringida, mas apenas

ampliada.

d) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da

Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou

profissão atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, não possui

nenhuma eficácia, devendo ser objeto de mandado de injunção para a sua devida

regulamentação.

Questão 2 – (TRF3/Magistrado Federal/VI Concurso) Nos termos da Constituição

Federal:

a) mandado de injunção e ação de inconstitucionalidade por omissão são duas

designações do mesmo instrumento de defesa de direitos perante o Supremo Tribunal

Federal;

b) declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma

constitucional, o juiz determinará ao Poder competente que adote a providência

necessária, no prazo de trinta dias;

c) o mandado de injunção serve para suprir norma regulamentadora e tornar viável o

exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à

nacionalidade, à soberania e à cidadania;

d) conceder-se-á mandado de injunção para assegurar o conhecimento de informações

relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de

entidades governamentais ou de caráter público.

Questão 3 – (TRF3/Magistrado Federal/VII Concurso) Quando a falta de norma

regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e

das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, conceder-se-à:

a) mandado de segurança coletivo;

b) “habeas data”;

c) ação declaratória de constitucionalidade;

d) mandado de injunção.

Questão 4 – (TRF3/Magistrado Federal/VIII Concurso) Nos termos da Constituição

Federal:

a) o mandado de injunção pode ser impetrado por partido político, com ou sem

representação no Congresso Nacional, para assegurar o conhecimento de informações

relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de

entidades governamentais ou de caráter público.

11

b) qualquer cidadão é parte legítima para propor ação civil pública para assegurar o

conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros

ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público.

c) o mandado de injunção somente pode ser impetrado por partido político com

representação no Congresso Nacional, sempre que alguém sofrer ou se achar

ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade

ou abuso de poder.

d) qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato

lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade

administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,

salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Questão 5 – (TRF3/Magistrado Federal/VIII Concurso) Em virtude da Constituição

Federal em vigor, o mandado de injunção será concedido:

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,

constantes de registros de entidades de caráter público;

b) quando a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e

liberdades constitucionais inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;

c) quando a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos

constitucionais inerentes ao devido processo legal;

d) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso

judicial.

Questão 6 – (TJPR/Magistrado Estadual/2013/UFPR) Conceder-se-á sempre que

alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade

de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder:

a) Mandado de injunção.

b) Habeas data.

c) Mandado de segurança.

d) Habeas corpus.

Questão 7 – (MPPR/Promotor de Justiça Substituto/2011/Adaptada) Assinale

verdadeiro ou falso:

“São requisitos para o mandado de injunção a falta de norma regulamentadora de uma

previsão constitucional, bem como a inviabilização de direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à

cidadania”. (V) (F)

Questão 8 – (NOSSA CAIXA/Advogado/2011/FCC/Adaptada) Assinale verdadeiro ou

falso:

“Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, o

mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição

do Tribunal de Contas da União”. (V) (F)

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Questão 9 – (PGE-RS/Procurador Estadual/2015/FUNDATEC) – No que se refere ao

mandado de injunção, previsto no artigo 5º, inciso LXXI, da Constituição Federal de

1988, é correto afirmar que a jurisprudência do STF:

a) Sempre adotou a corrente não concretista, equiparando sua finalidade à da ação de

inconstitucionalidade por omissão.

b) Inicialmente adotou a corrente não concretista, equiparando sua finalidade à da ação

de inconstitucionalidade por omissão, transitando em 2007 para a corrente concretista

com efeitos gerais.

c) Inicialmente adotou a corrente concretista com efeitos gerais, equiparando sua

finalidade à da ação de inconstitucionalidade por omissão, transitando em 2007 para a

corrente não concretista.

d) Inicialmente adotou a corrente concretista particular, transitando em 2007 para a

corrente não concretista, equiparando sua finalidade à da ação de inconstitucionalidade

por omissão.

e) Sempre adotou a corrente concretista, no sentido de tornar viável o exercício de

direitos e liberdades inviabilizados por faltar norma regulamentadora.

Questão 10 – (AL-PB/Procurador/2013/FCC/Adaptada) - Assinale verdadeiro ou falso:

“Sobre o controle jurisdicional da Administração Pública, é correto afirmar que por ser

instrumento de tutela individual, destinado a garantir exercício dos direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania,

ameaçados por omissão legislativa ou regulamentadora, o mandado de injunção não

pode ser proposto como ação coletiva”. (V) (F)

GABARITOS

1 B 2 C 3 D 4 B 5 B

6 D 7 Verdadeiro 8 Falso 9 B 10 Falso