Notas 001 UEM 2013 (1)

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    Not as das aul as do d ireito r egist r al c ivi l (notas abreviadas do Livro: Direito Registral Civil,no prelo))

    Fac. Dir ei t o.UEM.Manuel Didier Malunga. 2013

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    Notas das aulas do direito registral civil

    1. Finalidade do registo

    Da publicidade registral

    O porqu da publicidade registral?

    A publicidade anttese do oculto e nesta base reside todo o seu fundamento.

    Publicitar situaes relativas a pessoa humana ter interesse para a prpria pessoa e tambm paraa sociedade1.

    Para o prprio sujeito, porquanto precisa de provar o seu estado pessoal e a grelha de direitos eobrigaes associados, perante a exigncia que se possa impor sua demonstrao, desde o seu

    nascimento seguindo pelos outros factos relevantes at morte.Para a sociedade e para as pessoas circundantes, o conhecimento de factos respeitantes a outrosintervenientes das relaes sociais assegura a segurana da sua actuao.

    Importa saber o estado civil das pessoas e o conjunto de direitos licitamente a elas ligados,aferindo-se a estabilidade nas relaes sociais.

    No comum dos exemplos, se algum pretende adquirir um imvel de outro, importar aferir oestado de legitimidade do ltimo, partindo do civil (se casado ou solteiro) para consecutivamenteapreciar o regime patrimonial confinante e dai avaliar se a transaco carece ou no deconsentimento conjugal.

    A informao relativa ao estado singular da pessoa necessita de publicitao registral para queiniciem os seus efeitos probatrios e principalmente na esfera de terceiros no participantes dedeterminado trfico jurdico.

    O objecto da publicidade registral cobre as situaes juridicamente relevantes na esfera singular dapessoa humana, pela extenso da vigncia da sua personalidade jurdica.

    O Cdigo do Registo Civil ilustra de forma taxativa no seu artigo 1 tais situaes e mais adianteaprofundaremos os seus permetros de ordem substantiva e processual.

    As situaes sujeitas ao registo incidem sobre a pessoa humana e desenvolvem-se sob mltiplasvertentes compondo a relao jurdica registral.

    Relao Jurdica Registral

    A relao jurdica incorpora em si toda a situao da vida social juridicamente relevante. Nosustento de Heinrich Ewald Horster2, a relao jurdica traduz o vnculo da vida social disciplinado

    1Vide captulo atinente evoluo histrica do registo civil.

    2Heinrich Ewald Horster, A Parte Geral do Cdigo Civil Portugus. Teoria Geral do Direto Civil, Coimbra, Almedina,

    1992, pag. 159

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    pelo direito, sendo atribudo a uma pessoa, um direito subjectivo e imposta a outra pessoa, umaobrigao correspondente de respeitar aquele direito3.

    A compreenso da disciplina da relao jurdica registral exige refinar, no geral, os elementosintegrantes de uma relao jurdica abstracta, para da seccionar a sua aplicabilidade no contextoda matria sujeita ao registo.

    Assim, os elementos estruturais4 da relao jurdica so o sujeito, o objecto, o facto jurdico e agarantia.

    2. Natureza substantiva dos factos sujeitos a registo5

    Correlao entre o direito registral e o direito substantivo

    Complementando o nmero antecedente, o direito registral, sendo adjectivo, tem umacorrespondncia com o direito substantivo. Antes de entrosarmos os nveis de correlao, urgir

    revigorar que o registo uma publicidade jurdica. O registo sendo instrumental publicita, emregra, o que tem sua gnese em normas substantivas.

    Quando essa publicidade se refere a pessoas singulares guia-se do incio da personalidade jurdicacom o nascimento at ao seu termo com a morte. Vrios factos jurdicos medeiam estes doisextremos e o artigo 1 do Cdigo do Registo Civil enuncia-os, taxativamente de que passamos descrio dos mais significativos, simetrizando-os com as respectivas plataformas do direitosubstantivo.

    Nascimento

    Nos termos do artigo 66 do Cdigo Civil, o nascimento dita o incio da personalidade jurdica do

    cidado. O registo de nascimento est previsto na alnea a) do nmero 1 do artigo 1 Cdigo doRegisto Civil e constitui um direito fundamental para a integrao da criana na cidadania e nafamlia. Como prev o artigo 205 da Lei da Famlia, os filhos tm o direito a ser imediatamenteregistados depois do seu nascimento, atribuindo-se-lhe o nome e apelido da famlia dos pais.

    O imperativo de registo de nascimento nascena tambm se emana do artigo 26 da Lei 7/2008, de9 de Julho (sobre a Promoo dos Direitos da Criana), ao preconizar o dever de registo da crianaaps o seu nascimento para materializar o direito a ter uma famlia, nome prprio e apelido. Alis,estes so os pressupostos bsicos para garantir a efectivao do direito ao convvio da criana comos seus pais e demais membros da famlia.

    3Mesma linha defendida por Inocncio Galvo Telles, Introduo ao Estudo do Direito, Vol II, 10 Ed. Reimpresso,

    Lisboa, 2010, pag.151

    44Seguindo a base do Heinrich Ewald Horster, obra citada, pag. 164

    5Apenas os factos mais representativos da relao jurdica registral so arrolados nestas notas. No livro em

    concluso este material merece mais desenvolvimento.

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    O direito ao registo imediato de nascimento decorre ainda dos instrumentos jurdicosinternacionais ratificados por Moambique, designadamente a Conveno sobre os Direitos daCriana e a Carta Africana sobre os Direitos e Bem-Estar da Criana que fixam, nos mesmos moldes,

    o imperativo de os Estados garantirem a implementao do dever de registo nascena para que secubra o direito a um nome, nacionalidade e integrao numa famlia. (conferir os artigos 7 e 6,respectivamente e infra, o captulo sobre as Fontes do registo civil).

    Filiao

    A filiao representa um estado jurdico pelo qual se define a maternidade e a paternidade.

    O direito da filiao tem consagrao constitucional nos termos do nmero 1 do artigo 120 daConstituio da Repblica ao exigir a dignificao da maternidade e paternidade.

    Do ponto de vista substantivo, a Lei da Famlia prev no seu artigo 213 que a prova da filiao spode fazer-se pelos meios previstos nas leis do registo civil.

    Com efeito, a alnea b) do nmero 1 do supradito artigo 1 do Cdigo do Registo Civil sujeita afiliao ao registo.

    O registo da filiao incorpora, em si, a maternidade e a paternidade e mais adiante esmiuaremoso mecanismo apropriado para o estabelecimento destes dois institutos reveladores do estadojurdico familiar da pessoa singular.

    Casamento

    O casamento, cuja previso para o seu registo obrigatrio decorre da alnea d) do nmero 1 doartigo 1 do Cdigo do Registo Civil, constitui uma das privilegiadas fontes das relaes jurdicas

    familiares.O casamento a unio pela qual homem e mulher unem-se de forma singular com o propsito deconstituir famlia, mediante comunho plena da vida.

    Esta noo inserta no artigo 7 da Lei da Famlia no cede dvidas quanto ao carcter contratual docasamento. Sendo contrato difere do registo, constituindo este um outro momento.

    Contudo, a falta do registo do casamento dita a ininvocabilidade do mesmo, seja pelos cnjuges ouseus herdeiros, seja por terceiro. Esta regra decorre dos artigos 91 da Lei da Famlia e 2 do Cdigodo Registo Civil.

    Conveno antenupcial

    A sua registabilidade se encontra prevista na alnea e) do nmero 1 do artigo 1 do Cdigo doRegisto Civil mas decorre substantivamente do artigo 118 da Lei da Famlia como instrumentoatravs do qual os nubentes podem fixar livremente o regime de bens do casamento.

    A conveno antenupcial est condicionada celebrao do casamento e conforme estipula o artigo137 da Lei da Famlia, a mesma caduca se o casamento no for celebrado dentro de um ano aps asua outorga.

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    As convenes carecem de registo para produzirem efeitos em relao a terceiros pelo que fixa oartigo 131 da Lei da Famlia.

    Retrocedendo ao artigo 130 da mesma lei, constata-se que este acordo pode revestir a forma deescritura pblica ou assinado perante o funcionrio do registo civil durante o processo preliminarde publicaes para o casamento.

    Esta disposio atribui, em si, um regime de efeitos diferente do previsto no artigo 2 do Cdigo doRegisto Civil.

    Pela norma do citado artigo 2, os factos sujeitos a registos no podem ser invocados mesmo entreas partes se no forem registados.

    Para o caso da conveno, parece no ser directamente aplicvel esta norma mas outra cautela tomada que a sua caducidade se o casamento no for celebrado dentro de um ano. Nesta mesmanorma, verificamos que a conveno caduca, igualmente, se o casamento vier a ser anulado.

    A conveno pode sobreviver durante um ano, quanto aos efeitos, entre os cnjuges mas perececaso o casamento no se realize no prazo fixado ou venha a ser anulado.

    H uma vida provisria e precria da conveno mesmo antes do registo mas sem relevnciaprtica pois o acordo em causa visa regular uma relao patrimonial que s inicia com a celebraodo casamento.

    Emancipao

    O Cdigo Civil preconiza que o termo da incapacidade de menores decorre da maioridade ou daemancipao (conferir artigo 129).

    O artigo 132 do mesmo diploma legal enumera os factos constitutivos da emancipao,designadamente o casamento do menor; a concesso dos pais, quando exeram plenamente o poderparental; a concesso do conselho de famlia, na falta dos pais ou estando eles inibidos do poderparental e a deciso judicial.

    O artigo 133 do referido cdigo esmia que o menor emancipado adquire plena capacidade deexerccio de direitos, habilitando-se a reger a sua pessoa e a dispor livremente dos seus bens comose fosse maior.

    Contudo, confrontando a norma que precede com o previsto na Lei da Famlia, constata-se do artigo73 deste ltimo diploma que o casamento s confere a plenitude da capacidade jurdica de exerccioao menor se ele tiver solicitado o consentimento dos pais ou dos seus representantes legais para

    casar.

    Na falta de consentimento para o casamento, o menor continuar a ser tido com incapacidadejurdica de exerccio at atingir a maioridade, relativamente aos bens que leve ao casamento ouposteriormente lhe advierem a ttulo gratuito.

    O registo da emancipao est enumerado na alnea g) do nmero 1 do artigo 1 do Cdigo doRegisto Civil e processualmente os artigos 259 a 269 do mesmo diploma regulam a suamaterializao extrajudicial em sede das conservatrias.

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    Assim, a concesso pelos pais deve ser requerida na conservatria da residncia habitual destes eno caso de ser emancipao restrita, especificar-se-o os actos ou a categoria dos mesmos.

    Sendo o conselho de famlia a conceder a emancipao, exigir-se- a deliberao respectiva.

    Quando seja o tribunal a conceder a emancipao, incorpora-se a deciso respectiva e remete-seoficiosamente conservatria detentora do assento de nascimento, dentro do prazo de cinco diasaps o trnsito em julgado da deciso.

    Para todos os casos, a emancipao deve ser averbada conservatria detentora do assento donascimento para que se cubram os efeitos desejados nos termos do artigo 2 do Cdigo do RegistoCivil.

    bito

    Seguindo-se na alnea f) do nmero 1 do artigo 1 do Cdigo do Registo Civil a sua registabilidade, o

    bito marca o termo da personalidade jurdica nos termos substantivos, indicados no artigo 68Cdigo Civil.

    A relevncia social do registo de bito decorre da sua ligao umbilical com o processo sucessrio.

    A abertura da sucesso est condicionada morte do dono da herana mas este estado civil s podeser invocado aps o registo, seguindo a tabela do artigo 2 do Cdigo do Registo Civil.

    Eplogo sobre os factos registveis

    Concluindo, o estado familiar publicitvel atravs do registo civil integra quatro principaismomentos: Nascimento, Filiao, Casamento e bito.

    No geral, a alnea l) do nmero 1 do artigo 1 do Cdigo do Registo Civil sujeita ao registo todas assituaes jurdicas determinativas, modificativas ou extintivas de qualquer dos factos supraanalisados.

    Esta norma torna-se relevante pois qualquer alterao a um facto registado no produz efeitosenquanto o respectivo registo no for realizado, garantindo, deste modo, a segurana,principalmente na esfera de terceiros. O registo civil no constitui direitos apenas os publicita.

    O artigo 2 do Cdigo do Registo Civil preconiza a no atendibilidade dos factos antes do seu registo.Subjaz aqui a formulao do princpio da no atendibilidade dos factos antes do seu respectivo.

    Os meios de prova dos factos sujeitos a registo esto taxativamente elencados na mesma lei e

    partindo do artigo 3 e especificados artigo 273, designadamente certides, boletins, cdula pessoalou bilhete de identidade.

    Quadro 1: Natureza Substantiva dos Factos Sujeitos Registo Civil. Art. 1 Cod. Reg. Civil

    A preencher pelo estudante: descrever os processos conforme o exemplo

    Nascimento

    Natural Vontade Decisojudicial

    Presunolegal

    Decisoadministrativa

    Observaes

    Observaes

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    Filiao Ex:maternidade

    resultantedaprocriaonatural

    Ex:declaraoda

    maternidade. Descrever oprocesso

    Ex:averiguao oficiosa

    damaternidade

    Descrever oprocesso

    Ex:presuno: pateris est

    Descrever oprocesso

    Ex: divrciopor mtuoconsentimen

    to

    Adopo

    Casamento

    Convenoantenupcial

    bito

    Emancipao

    Medidaslimitativasa

    Capacidadejurdica deexerccio

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    3. Princp ios registr ais

    Princpio da legalidade

    A legalidade o resguardo de todos os princpios de um sistema normativo.

    O princpio da legalidade ser analisado transcorrendo a vertente substantiva culminando com aprocessual.

    O conservador antes de registar deve apreciar se as declaraes ou os ttulos documentaisapresentados esto conforme a lei na ordem substantiva.

    Os princpios de direito revelam um sistema de comando normativo vigente num certoordenamento jurdico.

    Os princpios constroem-se das normas jurdicas em vigor (direito substantivo) e da sua posiohierrquica, orientando toda a cadeia de solues para cada caso especfico.

    Princpio da publicidade

    Esta, a razo de ser do registo. Tornar os factos relativos pessoa singular cognoscveis ou pblicospara permitir o melhor convvio entre todos os sujeitos do direito.

    O registo visa publicitar e deste pressuposto o princpio geral o de proibir situaes secretasexcepto quando a lei assim o determina para preservar outros princpios superiores.

    Assim, as situaes sujeitas ao registo so do domnio de qualquer um. O nome do indivduo, o seu

    estado civil e mesmo a filiao so importantes para quem quer com ele se relacionar.

    Se algum precisa de comprar um imvel a outrem que seja casado e este facto esteja omisso noregisto civil e no averbado no registo predial, corre-se o risco de comprar patrimnio dacomunho, sem consentimento devido, tornando insegura a transaco.

    Com efeito, o nmero 1 do artigo 277 do Cdigo do Registo Civil estipula que qualquer pessoa temlegitimidade para requerer certido dos registos constantes dos livros do registo civil, salvas asexcepes legais.

    As excepes visam preservar outros princpios superiores e nesta linha podemos exemplificar como nmero 2 do mesmo artigo quando se refere ao assento de nascimento de filho adoptivo cuja

    cpia integral (espelhando a origem biolgica do adoptado) s pode ser facultada a pessoas a quemrespeita, seus descendentes, herdeiros ou sob requisio das autoridades judiciais e policiais ouadministrativas hierrquicas do registo civil.

    Esta norma visa proteger a dignidade da pessoa registada pois o filho adoptivo equipara-se aosdemais filhos e se qualquer um aceder a essa informao at pode us-la para atitudesdiscriminatrias e redutoras da dignidade humana.

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    A questo de se proteger sempre a dignidade da pessoa um princpio supremo de direito que podeser retalhado de vrias normas com nfase para o artigo 41 da Constituio da Repblica, quandose refere ao direito honra, ao bom nome, reputao, defesa da sua imagem pblica e reserva

    da sua vida privada.

    A doutrina , igualmente, rica sobre nesta matria e assinalamos Baptista Machado, citado porPedro Pais Vasconcelos6, a elucidar que o princpio do respeito da dignidade da pessoa umprincpio suprapositivo: O direito de cada um ao respeito da sua dignidade no uma concessofeita pela ordem jurdica positiva, mas antes um direito natural anterior a qualquer ordenamentopositivo.

    No campo da filiao, o nmero 2 do artigo 157 do Cdigo do Registo Civil prev a promoo, peloConservador e atravs do Ministrio Pblico, da declarao de registo secreto quando se detectaque a filiao revela um incesto.

    Exemplifica-se o exposto com casos em que aps estabelecidas a maternidade e paternidade sedescobre que os progenitores so irmos entre si ou se trata de pai e filha. Como se nota, resideaqui um imperativo de proteger a dignidade de filhos incestuosos.

    Princpio da instncia

    A instncia revela a voluntariedade do registo. A iniciativa de registar parte, em regra, do prpriointeressado.

    Discute-se hoje se o registo de nascimento deve ou no ser feito oficiosamente, atendendo aimportncia desta matria tambm para o prprio Estado.

    O Cdigo do Registo Civil no artigo 1 estabelece uma obrigatoriedade do registo de todos os factos

    respeitantes pessoa singular e no artigo 2, orienta para que os factos sujeitos a registo nopossam ser invocados antes do mesmo se efectivar.

    Num contexto em que a cultura jurdica do cidado frgil, a preocupao em registar os factos sdesponta quando urge prov-los, documentalmente.

    As crianas so registadas quando atingem a idade escolar, o bito inscrito quando a prova deabertura de sucesso dita o acesso ao patrimnio do falecido. Mais exemplos podem seridentificados demonstrando que a adeso voluntria ao registo ainda uma miragem.

    Perante a vastido do territrio nacional ante as distncias que ainda separam as populaes daadministrao pblica, a problemtica do no registo nascena se forja no s da falta de culturajurdica como de factores administrativos da organizao estadual na base. As distncias so umfactor desencorajador sobretudo quando o saber jurdico-cultural deficiente.

    Numa outra perspectiva, a migrao masculina e a rejeio de filhos pelos progenitores ensombrameste processo de registo pois na mente de muitos cidados, o filho no pode ser registado sem quehaja condies para se estabelecer a filiao, principalmente a paternidade.

    6Vasconcelos, Pedro Pais. Teoria Geral de Direito Civil. 3 Edio. Coimbra, Almedina. 2005.pag. 11

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    O Governo tem exercido a sua aco administrativa desenhando programas de registo macio dascrianas, implementando um registo quase que oficioso.

    Programas desta natureza mostram que nos ltimos anos mais de quatro milhes de crianas foramregistadas em campanhas organizadas pelo Governo de parceria com Unicef e outras organizaesde sociedade civil.7

    Este processo se mostra adequado para no s registar as crianas, dando-lhes acesso cidadania eproteco, como tambm traduz-se em ferramenta para despertar do cidado a importncia deregisto civil para o gozo seguro dos seus direitos civis.

    Algumas fragilidades tm norteado o processo de registo de crianas nascena, nomeadamente aduplicao de dados registrais pois algumas pessoas aproximam-se da brigada de registo,declarando o registo enquanto houvera outro anteriormente feito sobre a mesma criana.

    Nas zonas fronteirias tm sido detectadas situaes de imigrantes legais que aproveitam-se dasbrigadas do registo para registarem crianas estrangeiras e vindas do estrangeiro como se depessoas nascidas em Moambique se tratasse.

    Princpio da prova

    O princpio da prova decorre dos artigos 3 e 273 do Cdigo do Registo Civil ao atriburemexclusividade aos meios previstos neste diploma para a prova dos factos sujeitos ao registo civil,designadamente boletins, cdulas, certides e ainda o bilhete de identidade.

    Princpio das presunes derivadas do registo

    Nos termos do artigo 4 do Cdigo do Registo Civil, o registo regularmente lavrado cria a presuno

    de veracidade at que se prove a sua falsidade em aco especialmente intentada e decidida comtrnsito em julgado. A presuno juris tantum, admitindo prova em contrrio.

    Esta norma confere ao registo uma fiabilidade presuntiva, garantindo a segurana das pessoasquando o seu estado jurdico esteja incorporado em documentos autnticos enquanto sentenajudicial no determine a sua falsidade ou imperfeio constitutiva.

    A aplicao do artigo 4 do Cdigo do Registo Civil tem comunicabilidade normativa com a matriasobre vcios, irregularidades, rectificao e cancelamento dos registos que neste ensejo urgedesenvolver para fechar o ciclo de abordagem.

    Assim, o valor jurdico do registo pode ser prejudicado pela existncia de vcios ou irregularidades.

    Princpio do trato sucessivo

    O trato sucessivo visa estabelecer uma cadeia ininterrupta de ingresso dos actos registrais.

    No registo civil, a aplicao do trato sucessivo pode ocorrer quando se cuide de restabelecer noassento registral, laos sucessveis temporalmente distantes e no consignados.

    7Dados da Unicef acessveis em www.unicef.org./Mozambique/Pt

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    A ttulo de exemplo, Joshua bisneto de Joshuama mas do seu assento registral a informao vai sat aos seus pais. Acontece que existe um patrimnio registado a favor de Joshuama, sendo Joshua onico sobrevivente da linha recta descendente.

    O reatamento do trato sucessivo, neste exemplo, implicaria recolher dados que permitam provarque o Joshua descende do Joshuama e fazer constar do registo.

    Nestas circunstncias, urge recolher o assento de nascimento do pai do Joshua para dele verificarque o Joshuama av (pai do pai do Joshua).

    Os dados recolhidos devem ser filtrados no registo civil sob forma de averbamento para encadear acontinuidade da linha do parentesco desde o Joshua at ao Joshuama. Este processo designa-se dereatamento de trato sucessivo.

    Efeitos do registo civil

    O efeito do registo, no geral, desmembra-se a dois nveis principais. Constitutivo e declarativo.

    O primeiro reflecte que o facto sujeito a registo no tem validade legal antes de inscrito naconservatria. O segundo expressa a natureza registral como instrumento de pura publicidade parao conhecimento pelos terceiros, dos factos sujeitos a registo. O direito a registar existe e eficazentre as partes, cabendo ao registo a sua publicitao jurdica para que seja oponvel a terceiros.

    No caso especfico do registo civil, os efeitos orientam-se por uma linha combinada entre os doisacima descritos.

    Acontece que um facto no registado s pode ser invocado, mesmo entre as partes a que respeita eseus herdeiros, aps o registo. Preceitua assim o artigo 2 do Cdigo do Registo Civil.

    Trata-se do princpio de no atendibilidade ou da ininvocabilidade que se preconiza no artigo 2 doCdigo do Registo Civil, segundo o qual para aludir a um facto sujeito a registo, urge primeiroregist-lo.

    Analisando a natureza substantiva dos factos sujeitos a registo observaramos, a ttuloexemplificativo, o nascimento.

    Uma criana no registada existe pois o artigo 66 do Cdigo Civil preconiza que o incio dapersonalidade jurdica d-se com o nascimento completo e com vida. Contudo, a falta do registoimpede a criana de ser individualizada como cidad e torna-se impossvel legalmente vincul-la auma famlia, pelo estabelecimento da filiao.

    Paradoxal parece esta norma mas a garantia mais segura para evitar que situaes respeitantes apessoas singulares se tornem ocultas por muito tempo.

    A nossa elaborao em relao a esta matria assenta no entendimento de que o efeito do registocivil consolidativo. Os direitos a registar existem validamente pela forma substantiva mas s seconsolidam aps o registo.

    Efeitos na cidadania

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    Este efeito estampa-se na complementaridade do anterior.

    O registo tem como finalidade individualizar a personalidade jurdica, estabelecendo a ponte entre

    o indivduo e uma cidadania.

    A cidadania vincula o indivduo a um Estado e esta equao legal decorre dos pressupostosprevistos na Constituio da Repblica.

    Com efeito, ao abrigo dos artigos 23 e 24 da Constituio da Repblica, a atribuio danacionalidade moambicana obedece a dois princpios:

    Consanguinidade determina que so moambicanos os filhos de pai ou me moambicanos. Nodesdobramento desta norma ainda se conclui que mesmo ao indivduo que tenha nascido noestrangeiro, se filho de pai ou me moambicanos, desde que expressamente declare que pretendes-lo, sendo maior de 18 anos de idade (ou por meio dos seus representantes legais, em caso demenoridade), beneficia-se desta faculdade legal.

    Territorialidade orienta que so moambicanos os indivduos que hajam nascido no territriomoambicano aps a proclamao da independncia nacional em 1975, mesmo que os pais sejamestrangeiros, desde que manifestem essa vontade.

    Como se apura dos pressupostos acima descritos, s o registo civil pode orientar legalmente aosindivduos na colecta da prova da existncia dos princpios de consanguinidade ou daterritorialidade.

    Efeitos na governao

    A governao se apoia nos dados do registo civil. Os programas e estratgias de governao

    desenham-se com enfoque para o cidado. Esta plataforma de anlise conduz-nos a entender que oGoverno elabora as suas polticas sustentando-se na tendncia de natalidade e de mortalidade dasua populao.

    Os programas de construo de infra-estruturas escolares e sanitrias podem tambm terorientao nos dados recolhidos pelo registo civil.

    Na esfera militar, decorre do artigo 9 da Lei 32/2009, 25 de Novembro (Lei do Servio Militar) queas conservatrias do registo civil so entidades intervenientes no processo de recrutamento militar.

    Mais especificamente o numero 3 do artigo 34 do Decreto 7/2010, de 15 de Abril (aprova oRegulamento da Lei do Servio Militar), fixa que as conservatrias, conforme a sua rea dejurisdio, devem enviar at 30 de Setembro, as listas nominais de assentos de nascimento,

    agrupadas por distritos, localidades e por ordem alfabtica de nome dos cidados que, em cada anocivil, completam 17 anos de idade e dos que, tendo idade superior, estejam sujeitos s obrigaesmilitares e ainda no tenham sido includos em recenseamentos anteriores.

    Outras funes registais integram as seguintes componentes:Estatstica vital, incorporando dados importantes para estudos especficos sobre as taxas denatalidade e mortalidade. As estatsticas constituem uma fonte de indicadores que orientam as maisdiversas actuaes administrativas do Estado: Onde assentar uma escola, um hospital, redeelctrica e de gua, dentre outras actividades.

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    Com efeito, O artigo 371 do Cdigo do Registo Civil preconiza que aos funcionrios do registo civilcompete preencher, logo aps a realizao do registo, verbetes estatsticos demogrficos relativos

    aos assentos de nascimento, casamento, bito e de fetos nascidos mortos e envi-los, em cadasegunda-feira, aos servios de Estatstica da Repblica de Moambique.

    Efeitos no direito privado

    No direito privado, a funo do registo civil decorre da consolidao da personalidade jurdica peloregisto e do seu vnculo familiar pelo estabelecimento da filiao. Na verdade, o cidado comosujeito das relaes jurdicas s pode se afirmar aps ter sido individualizado pelo nome.

    O direito privado, regulando relaes de natureza particular dentro do esprito de liberdade eigualdade, assenta no cidado devidamente registado, seno a sua responsabilizao ficariasubtrada do direito e insegura seriam as relaes entre pessoas que no tenha a identificao civil

    tecida do registo.4. rgos do registo civil

    rgos normais

    So rgos normais da funo registral civil as conservatrias e os postos do registo civil.

    As conservatrias subdividem-se em dois grupos. Conservatria dos Registos Centrais eConservatrias do Registo Civil.

    A Conservatria dos Registos Centrais foi criada no contexto do Governo de Transio deMoambique que aprovou, pelo Decreto-lei 70/75, de 12 de Junho, a criao da Direco dos

    Registos, Notariado e Identificao subordinada ao Ministro da Justia com atribuies de orientar efiscalizar os servios, incluindo as competncias para propor a extino, criao ou anexao dereparties dos registos, notariado e identificao, bem como as alteraes das respectivascompetncias territoriais.O Diploma legal em anlise criou a Conservatria dos Registos Centrais a funcionar na capital dopas, competindo-lhe o registo central da nacionalidade, do estado civil e das escrituras etestamentos. Esta disposio foi mais desenvolvida no Decreto 3/75, de 16 de Agosto, do Conselhode Ministros, que criou o servio nacional de registo de nacionalidade a funcionar na citadaConservatria dos Registos Centrais.As competncias da Conservatria dos Registos Centrais decorrem, actualmente, do artigo 13 doCdigo do Registo Civil e podemos delimitar a sua essncia no registo de actos ou factos quecontenham um elemento estrangeiro.

    Analisando o citado dispositivo legal, conclui-se que o elemento estrangeiro pode ser caracterizadoem seguintes momentos processuais:a) Factos respeitantes a moambicanos ocorridos no estrangeiro.b) Factos ocorridos a bordo de navio ou aeronave moambicana, seja qual for a nacionalidade

    dos sujeitos.c) Factos respeitantes a estrangeiros previamente registados nos rgos competentes

    estrangeiros necessitando de transcrio na Repblica de Moambique.

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    Acrescente-se que os documentos emitidos no estrangeiro devem ser devidamentetraduzidos, por tradutor oficial ajuramentado, quando escritos em lngua estrangeira ecarecem de legalizao nos termos do artigo 540 do Cdigo do Processo Civil.

    d) Factos ocorridos no territrio nacional respeitantes a moambicanos residentes noestrangeiro.

    e) Decises judiciais proferidas por tribunais estrangeiros.De referir que nos termos do artigo 7 do Cdigo do Registo Civil, depois de revistas econfirmadas as decises dos tribunais estrangeiros relativos ao estado ou capacidade civildos cidados moambicanos, so obrigatoriamente transcritas na conservatria dosregistos centrais.Decorre do artigo 225 do Cdigo do Processo Civil que cabe ao Tribunal Supremo proceder reviso de sentenas judiciais e arbitrais de tribunais estrangeiros.

    Critrios Definidores de Competncias

    No que concerne s conservatrias normais do registo civil, o artigo 11 do Cdigo do RegistoCivil enuncia o princpio da territorialidade segundo o qual compete quelas reparties oregisto dos factos previstos no artigo 1 do mesmo diploma, quando ocorridos na Repblica deMoambique, qualquer que seja a nacionalidade dos indivduos a quem respeitem.Quanto competncia territorial, prev o artigo 12 da mesma lei que as conservatrias sedefinem, na falta de disposio especial, em funo da residncia habitual da pessoa a quemrespeita o acto de registo, ou da sua naturalidade na falta de residncia habitual. Na anlise dosactos de registo em especial, conferiremos as disposies especiais correspondentes.As conservatrias do registo civil esto territorialmente afectas s capitais de provncia e sedesde distrito.Os Postos do registo civil tm a competncia limitada ao Posto administrativo e ficam adstritosa uma conservatria da sede do distrito respectivo.De forma inovadora, o actual Cdigo do Registo Civil concebe a figura de Brigada Mvel doregisto civil que constitui o desdobramento de Postos do registo civil.A razo de ser da criao de brigadas mveis prime-se com o imperativo de suprir as distnciasainda prevalecentes entre os postos e alguns aglomerados populacionais recnditos.As brigadas tm desempenhado um papel fulcral no somente no acto de registo como tambmse tm como agentes mobilizadores da importncia e funo do registo junto das populaespouco informadas.Os Postos do registo civil limitam-se aos actos de nascimento e de bito.Para alm dos postos normais do registo civil a mesma lei indica, no artigo 17, os PostosHospitalares, competentes para lavrar assentos de nascimento e bito ocorridos no respectivoestabelecimento.

    Na realidade sociocultural moambicana, a funcionalidades dos postos hospitalares no que serefere ao assento de nascimento conhece dificuldades pois para se fazer o registo nascenaurge ter o nome da criana, facto que muitas populaes no definem antes do nascimento.No artigo 14 do Cdigo do Registo Civil fixa-se um outro conceito relativo s RepartiesIntermedirias. So as conservatrias ou postos do registo civil nos quais podem sersubmetidos os requerimentos dirigidos s reparties competentes. Acontece que com adelimitao territorial prevista e feita no mbito dos critrios referidos nos artigos 11, 12 e 13,muitas das vezes o cidado depara-se com dificuldades em estar em determinado momentoperto da conservatria na qual deva praticar o acto.

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    A norma do artigo 14 faculta, ao cidado, submeter o pedido na repartio mais prxima daresidncia solicitando que esta faa chegar o pedido quela competente.Para exemplificar. Se algum tiver o seu assento de nascimento na distante cidade de Pemba,

    residindo na cidade de Maputo, ao invs de se dirigir Pemba para extrair uma certido doregisto de nascimento pode faz-lo por intermdio de uma conservatria da sua residncia aquem competir requerer, oficiosamente, o assento pedido.Para ultrapassar a dificuldade de distncias entre a residncia e a localizao de registos, oartigo 65 do Cdigo do Registo Civil estipula que os assentos existentes em conservatrias derea diferente daquela em que os interessados residem, podem ser transcritos na conservatriada rea de residncia dos interessados, a requerimento destes ou dos seus representanteslegais.Com o advento das novas tecnologias de informao e comunicao, estas dificuldades poderoser supridas pois o conceito ser de eliminar a competncia territorial das conservatrias esubstitu-la por uma base de dados centralizada de acesso fcil por qualquer ponto do pas.

    rgos especiaisRetrocedendo ao artigo 9 do Cdigo do Registo Civil, verificamos no nmero 2 queexcepcionalmente podem desempenhar funes do registo civil:a) 0s agentes diplomticos e consulares moambicanos em pas estrangeiro;b) Os comissrios de marinha dos navios do Estado, os capites, mestres ou patres nas

    embarcaes particulares moambicanas e os comandantes das aeronaves nacionais;c) As entidades especialmente designadas para o efeito nos regulamentos militares;d) Ainda quaisquer outros indivduos, nos casos designados por lei.

    Os actos praticados pelos rgos especiais ingressam no registo civil nacional por intermdio daconservatria dos registos centrais conforme aponta o artigo 13 do mesmo diploma legal.

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    5. Actos de Registo em geral

    Partes nos actos de registo

    No direito civil, parte a pessoa singular ou colectiva que dotada de personalidade jurdica podetitular os interesses regulados por lei (comprador e vendedor na compra e venda).

    No processo civil8, parte a pessoa, singular ou coletiva, que se apresenta ou apresentada peranteo tribunal como sujeito a quem certo processo diz respeito, por ser titular de interesses envolvidosno litgio. Trata-se de titulares de interesses no litgio a dirimir por via judicial.

    No registo civil delimita-se o critrio de definio de partes assente em quatro componentes:

    a) O declarante

    b) A pessoa a quem respeita o acto

    c) As pessoas de cujo consentimento dependa eficcia do acto

    d) Intervenientes instrumentrias.

    Caracterizando as componentes enunciadas, iniciaremos com previso do artigo 47 do respectivocdigo, detendo-nos na figura de declarante.

    Declarantes

    Como se aferiu na anlise dos princpios, o registo civil orienta-se pela instncia ou seja cabe aosinteressados declarar os factos sujeitos ao registo. A oficiosidade tem lugar em casos excepcionaisque adiante e casuisticamente sero analisados.

    A lei fixa critrios de legitimidade para a declarao dos factos sujeitos a registo e revisaremos deseguida esta matria por especialidade dos actos.

    Os declarantes de nascimento se encontram elencados no artigo 119 do referido cdigo eentremeiam familiares e instituies pblicas e privadas.

    O preceito em aluso gradua de forma sucessiva os familiares, do mais prximo ao distante. Asequncia abarca os pais e outros que tenha proximidade familiar e factual do prprio nascimento.

    Particular nfase recai sobre quem no sendo familiar se considere qualificado para declarar onascimento para o ter testemunhado: Director do estabelecimento onde ocorreu o parto, mdico,parteira ou outra pessoa que tenha assistido ao parto, autoridade comunitria ou dignitrio

    religioso que se encontre no lugar de nascimento.Quando a declarao seja feita acima de um ano do nascimento, a legitimidade reduz-se aos pais, aquem tiver o registando a seu cargo ou ao prprio registando quando maior de 14 anos, conferindo-se o artigo 124 do mesmo cdigo.

    8Prata, Ana, Dicionrio Jurdico, 3 Edio. Coimbra, Almedina, 1996, pag. 718

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    A prova de que o declarante tem o registando a seu cargo feita por meio testemunhas ouvidas emauto. Julgmos que esta norma associa-se preveno geral de que quem prestar falsas declaraesperante funcionrio pblico incorre nas penas criminais correspondentes.

    Os declarantes de bito indicam-se no artigo 234 do cdigo em citao e seguindo a mesmametodologia de proximidade familiar, contempla: chefe da famlia residente na casa em que o bitose verificar, parente prximo capaz, responsvel do estabelecimento onde o bito tiver ocorrido,autoridades administrativas ou policiais, no caso de abandono do cadver e entidade encarreguepelo funeral.

    Para o caso da filiao e casamento (incluindo as convenes antenupciais), segmentaremos alegitimidade no tratamento especfico da matria, devido a complexidade tcnica jurdica quesuscita.

    A pessoa a quem respeita o acto

    O sujeito principal da relao jurdica registral nem sempre est na posio de aptido para intervirno que lhe respeita. O beb, o falecido, o interdito e o inabilitado cobrem esta matria comoexemplos.

    Para os casos em que a pessoa a quem respeita o acto se qualifica como declarante, urgir observara natureza do acto para afunilar outros elementos de natureza intrinsecamente jurdica exigveis.

    A ltima parte do nmero 1 do Artigo 124 do Cdigo doo Registo Civil, permite ao maior de 14 anosdeclarar por si o seu nascimento.

    Para certa categoria de actos jurdicos registrais mais do que simples declarao de um facto, exige-se a capacidade jurdica apropriada, podendo ser a geral de exerccio ou outra que a lei fixar. A

    filiao e o casamento tm a idade de 18 anos como baliza legal nos termos do nmero 1 do artigo261 e a alnea a) do nmero 1 do artigo 30 da Lei da Famlia, respectivamente.

    As pessoas de cujo consentimento dependa eficcia do acto

    Os casos em que se exige consentimento de algum para eficcia de um acto registral estoestipulados na lei. O nmero 1 do artigo 55 do Cdigo do Registo Civil elucida um dos momentosfixando que nos assentos de casamento devem intervir duas testemunhas, maiores ou plenamenteemancipadas.

    Intervenientes instrumentrias

    Intervenientes instrumentrias so figuras que aparecem nos actos registrais de forma acidental

    para desempenharem papel acessrio.

    Entre os artigos 49 e 54 esto elencadas as seguintes figuras:

    Leitor de sinais que chamado para auxiliar os surdos e mudos na leitura dos textos dos assentos.

    Intrprete. Quando alguma das partes no conhecer a lngua oficial e o funcionrio no dominar oidioma em que a parte se exprime, deve ser nomeado um intrprete.

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    Procurador. lcito s pessoas que hajam de intervir num acto de registo, na qualidade de parte,fazerem-se representar por meio do procurador, contando que lhe confiram poderes especiais parao acto.

    Sublinha-se a particularidade de procurao para casamento da qual se impe que s um dosnubentes pode fazer-se representar por procurador. A procurao, neste contexto, deveindividualizar o outro nubente e indicar a modalidade do casamento.

    Modalidades do registo (artigos 62 a 102 do Cdigo do Registo Civil)

    O registo dos factos a ele sujeitos segue as modalidades de assento ou de averbamento.

    Os assentos correspondem anotao dos factos nos suportes documentais do registo (hoje solivros) e subdividem-se em duas sub-modalidades: Inscrio, quando o ingresso dos factos directamente feito na conservatria competente.

    Transcrio, quando o registo baseia-se num suporte documental emitido por uma outra entidade.

    Quando a declarao de nascimento prestada directamente na conservatria competente,estaremos em face de uma inscrio. Tratando-se de uma sentena de divrcio proferida por umtribunal, o ingresso ser por meio de transcrio daquele ttulo.

    Os averbamentos incorporam as alteraes que vierem a operar-se nos elementos j inscritos.

    Aos assentos de nascimento, so especialmente averbados: o casamento, a filiao, a adopo, amudana de nome, a inibio, a interdio e todos os outros adventos jurdicos que alteram oestado civil inicialmente apontado.

    Ao assento de casamento podem ser averbados: a dissoluo, inexistncia, declarao de nulidadeou anulao do casamento, morte presumida de qualquer dos cnjuges, separao ou divrcio,conveno antenupcial, alterao do regime de bens e outros elementos relevantes que alterem apublicidade registral inicial.

    Ao assento de bito, averbam-se: a trasladao, a incinerao ou cremao. Quaisquer outroselementos de identificao do falecido que venham ao conhecimento do conservador, depois delavrado o assento.

    6. Actos do registo em especial

    NascimentoO nascimento como figura do direito substantivo j foi caracterizado supra e nesta conjuntura

    iremos nos debruar sobre os aspectos processuais do seu registo.Competncia territorial.Em especial, a competncia territorial para o registo do nascimento tem a previso no artigo 118 doCdigo do Registo Civil que segue a regra de lugar de nascimento ou da residncia.

    Aquela norma permite aos interessados escolher o local do registo, de acordo com a suaconvenincia: Conservatria do lugar de nascimento ou da residncia.

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    Acontece que muitas das vezes o nascimento pode ocorrer em lugar diverso do da residncia eassim ser de todo aconselhvel que as partes registem-se no lugar onde a residncia permanenteat para permitir o manuseamento futuro de documentos enquanto o processo de informatizao

    no se tornar realidade.

    Hoje, um dos dilemas reside na busca de documentos pessoais em locais distantes dos daresidncia.

    O legislador avanou com a ferramenta processual prevista no artigo 65 do Cdigo do Registo Civilque permite que os assentos existentes em conservatria de rea diferente daquela em que osinteressados residem, possam ser transcritos nas conservatrias da rea de residncia dosinteressados, a requerimento destes ou dos seus representantes legais.

    Esta norma permite na prtica trazer o assento de nascimento para a sua residncia para facilitar aextraco futura de certides.

    Prazo e intervenientesO prazo para a declarao de nascimento de 120 dias a partir do momento de nascimento.

    O prazo foi historicamente estipulado em funo da realidade moambicana onde registar onascimento enfrenta demoras resultantes de barreiras geogrficas e administrativas (distnciasentre os servios e a populao), socioculturais, relacionadas com a atribuio de nome prprio aoregistando que depende de consultas tradicionais.

    Contudo, o registo de nascimento em si um elemento fulcral na organizao administrativa doEstado pois atravs dele se percebe da necessidade em fazer programas de desenvolvimento nasreas de sade (hospitais), educao (escolas).

    Alis nos referimos atrs do imperativo de as crianas serem registadas logo aps o nascimentopara que se vinculem cidadania e famlia.

    Os intervenientes no assento de nascimento esto previstos no artigo 119 e desta matria nosdebruamos supra.

    Elementos do registo de nascimento

    O artigo 127 do Cdigo do Registo Civil regulamenta que o assento de nascimento deve conter:

    Dia, ms, ano de nascimento, se possvel a hora;

    O Distrito, Posto Administrativo e localidade do lugar de nascimento;

    Sexo;Nomes;Nomes e estado civil dos pais;Nomes dos avs.Os elementos acima reflectidos concorrem para uma identificao inequvoca do cidado,propiciando a sua individualizao como sujeito das relaes jurdicas.

    Registo da FiliaoAspectos processuais

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    Maternidade

    A maternidade resulta do nascimento e basta se provar este facto para que seja estabelecida.

    A Lei da Famlia e o Cdigo do Registo Civil indicam trs mecanismos legais para o estabelecimentoda maternidade:

    a) Por indicao e meno

    A indicao da me um dever jurdico que impende sobre quem leva o facto de nascimento conservatria.Com efeito, o artigo 214 da Lei da Famlia conjugado com o 140 do Cdigo do Registo Civil fixa aobrigatoriedade de identificao da me em cada acto de declarao do nascimento.Entende-se daqueles preceitos que as pessoas visadas so as constantes do artigo 119 do Cdigo doRegisto Civil, designadamente:Os pais;

    O parente capaz mais prximo que se encontre no lugar do nascimento;O director do estabelecimento onde o parto ocorrer;O chefe de famlia residente na casa onde o parto ocorrer;O mdico ou a parteira assistente e, na sua falta, quem tiver assistido ao nascimento;Qualquer pessoa incumbida de prestar a declarao pelo pai ou me do registando, ou quem otenha a seu cargo eA autoridade comunitria ou religiosa que se encontre no lugar do nascimento.Como se deduz deste articulado legal, o leque de pessoas com legitimidade para declarar onascimento largo de modo a evitar que uma criana permanea sem o registo por infundadajustificao de falta de declarante.No alcance dos artigos 216 da Lei da Famlia e 141 do Cdigo do Registo Civil, a maternidadeindicada pelo declarante do nascimento menciona-se no assento e considera-se estabelecida

    quando o nascimento tiver ocorrido h menos de um ano. Esta via de apor a maternidade no registotem como finalidade proteger o superior interesse da criana e no deixa-la sem me at um ano deidade. Para o efeito, a maternidade nestas condies se estabelece mesmo que no seja possvelcolher a anuncia da me, basta a sua identificao para que se mencione no registo.

    Por declarao e confirmao

    Se o nascimento tiver ocorrido h mais de um ano, fixam os artigos 217 e 142 da Lei da Famlia e doCdigo do Registo Civil, respectivamente, que a maternidade s fica estabelecida se for a prpriame a declarar ou se ela vier a confirm-la.Neste captulo, exige-se a vontade expressa da me para efeitos do estabelecimento damaternidade. A vontade pode ser dada pela me no acto do registo ou por via de representante

    voluntrio.Ausente a me no momento de declarao e no estando ela representada, o conservador indagasobre a existncia de outros instrumentos legais permitidos para a verificar a expresso da suavontade, nomeadamente escritura pblica, testamento ou termo lavrado em juzo.Fora do que acima se estipulou, o conservador deve, sempre que possvel, comunicar pessoa dame indicada, mediante notificao pessoal, o contedo do assento, para, no prazo de 15 dias, elavir confirmar a maternidade, sob cominao de o filho ser havido como seu.Se a pretensa me negar a maternidade ou no puder ser notificada, a meno da maternidade ficasem efeito.

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    Conclui-se que para os casos em que o nascimento tenha ocorrido h mais de um ano, amaternidade s se estabelece quando confirmada pela indicada me, no tendo sido ela adeclarante.

    No confirmando ou sendo impossvel notific-la, seguir o mecanismo judicial do estabelecimentoda maternidade.

    Por deciso judicial em aco de averiguao oficiosa ou de investigao.

    Se a maternidade no for estabelecida pela via voluntria, competir ao conservador do registo civilproceder ao envio dos autos para o tribunal de menores com vista ao incio da averiguao oficiosa.Cabe ao tribunal apreciar as provas juntas ao auto, ordenando a respectiva remessa do processo aoagente do Ministrio Pblico, afim de a aco ser proposta.Numa outra perspectiva, a averiguao oficiosa da maternidade pode partir da iniciativa do curadorde menores nos termos do que fixam os artigos 150 a 156 da Lei 8/2008, de 15 de Julho (daOrganizao Tutelar de Menores).

    Nota interessante retalha-se do artigo 151 ao prever a inverso do nus de prova e com efeito, apessoa que se recusar a submeter-se aos exames com vista ao estabelecimento da maternidade,presume-se me do menor, lavrando-se o competente termo de perfilhao.Quando a presumida me confirmar, durante o processo, a maternidade, imediatamente lavrado otermo de perfilhao, na presena do curador de menores, ou, se a confirmao ocorrer durante asdiligncias complementares de instruo, perante o juiz.Nota crtica pode ser feita ao previsto na alnea b) do artigo 220 da Lei da Famlia impondo ainadmissibilidade da averiguao oficiosa da maternidade caso tenham decorrido dois anos da datado nascimento.Significa que ao terceiro ano do nascimento da criana no se pode proceder averiguao oficiosao que contraria o esprito do nmero 3 do artigo 47 da Constituio da Repblica a conjugar com oartigo 7 da Lei 7/2008, de 9 de Julho (sobre a Promoo dos Direitos da Criana), ao regularem que

    dever do Estado assegurar a efectivao dos direitos da criana referentes sua dignidade. Se namesma lei no artigo 3 a criana definida como toda a pessoa menor de 18 anos de idade, no sereputa coerente fixar que o Estado se abstenha de averiguar oficiosamente a maternidade logo queela perfaa dois anos.Achamos que a averiguao da maternidade deve se estender para todo o perodo em que a pessoano perfaa 18 anos. Alis, no captulo da paternidade este aspecto at est ultrapassado pois oartigo 273 da Lei da Famlia fixa a averiguao oficiosa durante toda a menoridade.

    Investigao da maternidade

    Esgotada a averiguao oficiosa da maternidade, segue-se a aco de investigao da maternidadepor iniciativa particular.O artigo 224 da Lei da Famlia concede ao filho a legitimidade para intentar a aco de investigao,entendendo-se que sendo este menor, os seus representantes legais supriro a sua incapacidade,nos termos gerais.O prazo para propositura da aco , conforme o artigo 227 da mesma lei, orientado pelamenoridade do filho e at aos trs anos depois da sua maioridade ou emancipao.Fixa o artigo 225 que o filho deve provar que nasceu da pretensa me mas a maternidade presume-se quando:

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    a) O filho houver sido reputado e tratado como tal pela pretensa me e reputado como filhonas relaes sociais, especialmente nas respectivas famlias;

    b) Exista carta ou outro escrito no qual a pretensa me declare inequivocamente a sua

    maternidade. Para este caso, preconiza o nmero 3 do artigo 227 que o prazo parapropositura da aco dilata-se at ao ano seguinte data em que a autora ou autor teve oudevesse ter tido conhecimento do contedo do escrito;

    c) Tenha existido unio de facto, durante o perodo legal de concepo. Esta norma aplica-separa o caso em que a investigao da maternidade intentada aps estabelecida apaternidade.

    Paternidade

    A Lei da Famlia (LF) e o Cdigo do Registo Civil fixam as regras inerentes a legalizao dapaternidade e disso nos ocuparemos nas linhas seguintes.

    A paternidade, apesar de ter como pressuposto a relao biolgica do homem com a mulher s setorna juridicamente relevante quando provada pelos meios previstos no Cdigo do Registo Civil,designadamente por certides, cdulas pessoais ou boletins, retratando um registo efectuado.

    Do ponto de vista de substncia, a paternidade se estabelece por trs vias:

    Primeira:Presuno legal da paternidadeA presuno legal, prevista no artigo 234 da Lei da Famlia, orienta que o filho de mulher casada do respectivo marido. Trata-se de um estado jurdico atribudo por lei e que pode, por ventura, atno corresponder verdade biolgica mas assim se valoriza o casamento como um vnculoafianado pelos deveres de coabitao e fidelidade. presuno da paternidade a lei prev trs excepes:

    a) Filhos concebidos antes do casamento. Art. 235b) Filhos concebidos depois de finda a coabitao. Art. 236

    c) No indicao da paternidade do marido por declarao da mulher. Confira infra, adescrio processual.

    Procurando disjudicializar cada vez mais os actos que possam obter solues extracontenciosas, a Lei da Famlia regula, de forma inovadora, a possibilidade de no indicao dapaternidade do marido por iniciativa de mulher casada.

    Decorre do artigo 238 que a mulher casada pode fazer a declarao de nascimento com indicaode que o filho no do marido.

    Esta disposio substantiva aspira eco regulamentar em sede do Cdigo do Registo Civil que nosartigos 354 e seguintes delineia as etapas do afastamento da presuno de paternidade por parte demulher casada.

    Fora do casamento, fixa o artigo 253 da Lei da Famlia, a paternidade reconhece-se porreconhecimento voluntrio (perfilhao) ou por via judicial, em aco de investigao.

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    Discorrendo sobre os aspectos prticos da perfilhao, alinhando, para o efeito, a plataformaexposta entre os artigos 259 e 266 da mesma lei a conjugar com os artigos 148 a 157 do Cdigo doRegisto Civil, deduzimos:

    A Lei da Famlia define, no artigo 259, a perfilhao como sendo um acto voluntrio pelo qual oprogenitor ou a progenitora declara a sua paternidade ou maternidade. Desta definio sobressai alinha da biologizao da paternidade (critrio de prevalncia da consanguinidade) defendida pelolegislador ptrio, ao parametrizar que a faculdade de perfilhar atribui-se ao progenitor. Decorredesta ilao que quem no for pai biolgico, se assim o anunciar estaria a prestar falsas declaraesperante o funcionrio pblico, podendo sujeitar-se ao crime correspondente.

    S quem tiver mais de 18 anos pode perfilhar. As formas de perfilhar se encontram indicadas noartigo 263 da Lei da Famlia e agrupam: (a) Declarao directa prestada perante o funcionrio doregisto civil; (b) Testamento; (c) Escritura Pblica (declarao unilateral do progenitor feitaperante o Notrio, que a incorpora no seu livro de notas diversas) e (d) Termo lavrado em processo

    judicial.O Termo lavrado em processo judicial decorre quando no acto do registo no haja sido estabelecidaa paternidade entretanto, no decurso da averiguao oficiosa, o pretenso pai venha a confirmar apaternidade perante o Juiz.

    Nestas condies, o Juiz lavra o termo de perfilhao e remete a certido conservatriacompetente para o correspondente averbamento. Este mecanismo reflecte um reconhecimentovoluntrio feito aps a me identificar quem o presumido pai da criana no Tribunal. Tal comoestabelece o artigo 274 da Lei da Famlia a conjugar com o artigo 155 da Lei 8/2008, de 15 d Julho(Lei da Organizao Tutelar de Menores), quando o pretenso pai, aps notificado, reconhecer ofilho, dispensa-se o procedimento de investigao, economizando-se o tempo processual. Certo que

    esta medida no assegura a verdade biolgica da paternidade, apenas valoriza a adeso voluntriado pai dentro do princpio de que a todo o tempo, quem tiver legitimidade poder impugnar, casotenha havido falso depoimento.

    Tratando-se de perfilhao de filho maior (de 21 anos), exige-se, nos termos do artigo 155 doCdigo do Registo Civil, concordncia dele e enquanto no for concedida, o registo do facto seconsidera secreto.

    No caso de perfilhao de filho incestuoso (filho entre irmos; pai e filha, dentre outras ligaes deparentesco), o registo do facto s pode ser lavrado em relao a um dos progenitores, depreferncia a favor da me, conforme estipula o artigo 157 do Cdigo do Registo Civil.

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    Processo especial de declarao do carcter secreto do registo de perfilhao de filhos

    incestuosos

    Previsto dos artigos 341 a 343 do Cdigo do Registo Civil, desencadeia-se a requerimento doMinistrio Pblico, em petio dirigida ao juiz e apresentada na conservatria detentora do registo.A petio deve ser instruda com certido de cpia integral dos assentos de nascimento doperfilhado e dos perfilhantes, bem como dos assentos de perfilhao, havendo-os.

    Autuada a petio com os documentos apresentados, o conservador do registo civil, se osconsiderar em ordem, determina a citao dos perfilhantes e perfilhado, se for maior ouemancipado, para no prazo de oito dias deduzirem oposio.

    Terminadas as diligncias acima descritas, o conservador remeter deciso judicial.

    Fixa o nmero 2 do artigo 155 do Cdigo do Registo Civil que o assento de perfilhao cuja eficciaesteja dependente de assentimento do filho considera-se secreto enquanto este no lhe foraverbado. E no nmero seguinte estipula-se que a recusa dita o cancelamento da perfilhao.

    Registo do casamento

    Aspectos gerais

    O casamento constitui uma das fontes privilegiadas das relaes jurdicas familiares pese o facto deo direito convivencial, simbolizado pela unio de facto, continuar a dominar a realidade socialmoambicana.

    As construes histrico-doutrinrias sobre o conceito do casamento arrastam nos a trsconcepes: Religiosa, Social e Contratualista

    Segundo a concepo religiosa, o casamento uma instituio divina, perptua e indissolvel.

    A linha contratualista baseia-se na ideia de que o casamento um acordo de sentimentos epatrimnio ou seja, negcio jurdico. J a Constituio francesa de 1791 definia no seu artigo 7: ALei no considera casamento seno como um contrato civil

    O Cdigo Civil aprovado em 1966 em Portugal, cuja parte respeitante ao direito da famlia vigorouem Moambique at 2004, fixava no artigo 1577 que o casamento o contrato celebrado entre duaspessoas de sexo diferente que pretendem constituir legitimamente a famlia mediante umacomunho plena de vida.

    Hoje, a Lei da Famlia define no seu artigo 7 que o casamento a unio voluntria e singular entreum homem e uma mulher, com o propsito de constituir famlia, mediante comunho plena de vida.

    Numa outra perspectiva, distingue-se o casamento acto e casamento - estado. O primeiro refere-seao processo do qual se origina a sociedade conjugal e o segundo revela a sociedade conjugalresultante do acto jurdico.

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    O Lei da Famlia fixa no artigo 16 que o casamento civil, religioso e tradicional. estas figurasrevestem-se de modalidades processuais de celebrao do casamento e no so tipo substantivo.

    No contexto anterior proclamao da independncia nacional (1975), o casamento religiosocatlico regia-se por normas substantivas prprias ao abrigo da Concordata rubricada entre oEstado Portugus e o Vaticano, em 1940.

    Reavivando a Concordata, examinem-se os artigos 13 e 15, estabelecendo:

    Artigo 13.1. O Estado portugus reconhece os efeitos civis aos casamentos celebrados emconformidade com as leis cannicas, desde que o respectivo assento de casamento seja transcrito paraos competentes livros do registo civil.

    Artigo 15:

    1. Celebrando o casamento cannico os cnjuges assumem por esse mesmo facto, perante aigreja, a obrigao de se aterem s normas cannicas que o regulara e, em particular, derespeitarem as suas propriedades essenciais.

    2. A Santa S, reafirmando a doutrina da Igreja Catlica sobre a indissolubilidade do vnculomatrimonial, recorda aos cnjuges que contrarem o matrimnio cannico o grave dever quelhes incumbe de se no valerem de faculdade civil de requerer o divrcio . (anote-se que anulidade de casamento cannico ficava reservado exclusivamente aos Tribunais oureparties eclesisticos)

    Remetidos Lei da Famlia, podemos constatar do artigo 17 que o casamento religioso rege-se,quanto aos efeitos civis, pelas normas comuns desta lei, salvo disposio em contrrio.

    A previso dos casamentos civil, religioso e tradicional no amolga os aspectos substantivos, sendoaquelas trs categorias meras modalidades da sua celebrao ou seja a atinentes aos requisitos deforma

    Quadro 2: Casamento: Preencher devidamente o quadro

    Modalidade decasamento

    Processo Preliminar dePublicaes ( PPP)Finalidade: verificaodos requisitossubstantivos:Positivos/negativos

    Celebrao Registo Observaes

    Civil Art. 163: conservatriacompetenteArt. 164: instnciaArt. 166: documentosArt. 170: editaisArt. Art. 172: Editais emcaso de residncia nosltimos 12 meses fora darea da conservatria.Art. 175: despacho finalArt. 176: prazo paracelebrao: 90 diasArt. 177: Certificado paracelebrao noutraconservatria.

    Art. 189: presenasobrigatrias art. 52:representao porprocurador53: procurao paracasamento: s um delesse pode fazerrepresentar;individualizar outrocnjuge e indicar amodalidade decasamento (ver 53).Art. 190: solenidade epublicidade

    Inscrio/transcrio: artigos:61/62/63/64Modalidades do registo

    a) 61: assento eaverbamento

    b) 62: assentos:inscrio etranscrio

    c) 63: assentos porinscrio: assentosde ingresso directona conservatriacompetente

    d) Transcrio: 64:assentos de ingresso

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    por meiodocumentos (ttuloslegais):conservatria

    intermediria(artigos 14, 177, 6, 7,13)

    e) Vide art. 65:transcrio deassentos

    f) Transcrio deassentos consulares:art. 66:Conservatria dosRegistos Centrais es podem servir demeio de prova:artigo 5: apsintegrao naconservatria dos

    RC

    Civil urgente Art. 44 LF/191Causasjustificativas: dispensa doPPP:

    a) Artigo 44 LF:receio de morteprxima de umdos nubentes

    b) Artigo 191 CRC:iminncia demorte

    Art. 191: a)Proclamaooralb) Consentimentoc) 4 Testemunhas duasdas quais no sucessveisdos doisd) Acta

    Art. 192: assento provisrio: 48HArt. 194: processo dehomologao: oficiosamentePPP: notificam-se osinteressados para a junodocumental.Art. 195: recusa dahomologao: no observnciados requisitos inerentes scausas justificativas; Falta derequisitos substantivos eformais.Em caos de recusa, o assentoprovisrio cancelado.

    Religioso Art. 26: obrigatoriedade doPPPArt. 27: Certificado, sem oqual o casamento no podeser celebrado

    Art. 50 LFFaz referncia aoprocurador mas naprtica parece no terenquadramento nosrituais religiosos

    Art 202 e 203: contedo doassento do casamento religiosoArt. 204: remessa do duplicadoa conservatria: prazo de 3diasArt. 205: conservatriacompetente: a que passou ocertificadoArt. 206: prazo interno para atranscrio: 2 dias

    Religiosourgente

    Art. 28: dispensa do PPP Art. 207: transcrio aps PPP Art 208: recusa datranscrio:aspectossubstantivos.

    Tradicional Artigo 25 LF: regimeespecial do CT: remete-se aocivil urgente

    Art. 51 LFArt. 221: presenasArt. 222: celebraoArt. 224: actaArt. 225: remessa doduplicado: 3 dias

    Art. 226: recusa de transcrioArt. 227: 228: homologao

    Casamento comelementoestrangeiro

    Art. 49 - Lei pessoal: art. 31 -mbito - nacionalidadeArt. 50: Forma: lei do Estadoonde celebrado

    Dois moambicanos noestrangeiro: artigos: n. 2do artigo 51/ 196:perante os agentes

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    Art. 51: desvio: regime dereciprocidade nas relaesconsulares e diplomticas

    consulares oudiplomticos ou peranteautoridade local: videartigos 6, 540 (CPC), 5,

    13198: verificao decapacidade matrimonialde moambicano: a) se omoambicano residir emMoambiquepretendendo casar noestrangeiro, requer averificao da C. Matri. ea passagem docertificado na C. RegistosCentrais/ b)Estrangeiros emMoambique:Substantivos: 49, 31Certificado de Capac.

    Matri. Artigo 201:passado h menos detrs mesesSuprimento:

    a) Processoespecialprevisto noartigo 335:Verificao dacap matri pela

    b) DNRN:fundamento:falta darepresentaodiplomtica ouconsular oupor razoes defora maiorimpedidos deobtercertificado/336:declarao deautoidoneidade decapacidadematrimonial/

    Requisitos substantivos: determinam a validade e a eficcia do casamento

    a) Positivos: idade: artigos 30/ emancipao: 132 -.) / 133: efeitos/ art. 73/ art. 128 -.);

    consentimento: n. 3 Art. 119 CRM; art. 41 LF; art. 190.1 d); e)

    b) Negativos:incapacidades e ilegitimidades

    Requisitos processuais: definem os procedimentos de celebrao

    Outros processos especiais matrimoniais:

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    a) Impedimento matrimonial:

    Artigo 173: n.1. A existncia de impedimentos pode ser declarada por qualquer

    pessoa at ao momento da celebrao do casamento, e deve s-lo oficiosamentepelos funcionrios do registo civil. n.3. Declarado o impedimento, cabe aoconservador qualific-lo em face da lei civil sobre a sua procedncia ou no e caso oadmita remeter ao tribunal

    318 (processo especial): forma de declarao: escrito autentico ou autenticado,verbalmente, em auto lavrado pelo conservador.

    319: prazo para juno da prova: 5 dias dados ao declarante. Caso no junte a provano prazo prescrito, a declarao fica sem efeito e o declarante de m f pode serpenalizado. Caso o impedimento declarado seja dirimente, o conservador deveproceder verificao da sua veracidade.

    320: a simples declarao de impedimento, enquanto no for julgada improcedenteou sem efeito, suste imediatamente o acto de celebrao do casamento, ou apassagem do certificado (analisar em face do artigo 190, 1. c) e d))

    321: procedendo a declarao (juntas as provas), os nubentes so citados para noprazo de 30 dias impugnarem

    322: a falta de impugnao, faz proceder o impedimento e arquiva-se o processo decasamento

    323: impugnado, remete-se ao tribunal para julgamento

    324: deciso judicial (possvel baixada a conservatria para diligncias prprias)

    325: recurso, como agravo em matria cvel

    326: responsabilidade: o declarante que decair condenado no pagamento dorespectivo imposto de justia bem como pelos danos causado e ao crime de falasdeclaraes, se for o caso.

    b) Dispensa de impedimento

    327/328:

    Base substantiva de dispensa: artigo 37 LF: parentesco no quarto grau da linha

    colateral; vnculo que liga o acolhido aos cnjuges de famlia de acolhimento;vnculo de tutela, curatela ou administrao legal de bens, se as respectivas contasestiverem j aprovadas;

    Justificativa: n. 3: interesse pblico e familiar

    Competncia: conservador ou se menores, tribunal

    c) Suprimento de autorizao para casamento de menores

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    Menor civil: idade inferior a 21 anos art 73, arbitra sanes aos menores que casarem sem consentimento conjugal Quando os pais no concedam autorizao, art 329, faculta o recurso ao tribunal 331: o juiz tem em conta, para deciso, a maturidade fsica e psquica e razes

    ponderosas que justifiquem a celebrao do casamento

    d) Sanao da anulabilidade do casamento por falta de testemunhas

    Artigo 55.n.1. obrigatoriedade de interveno de testemunhas

    art 56 LF: anulabilidade por falta de testemunhas: c)

    Deciso hierrquica administrativa da Ministro da Justia