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Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Exatas Departamento de Física FIS06325 Introdução ao Estudo dos Fenômenos Físicos Prof. Anderson Coser Gaudio 1 NOTAS DE AULA PARTE I 1. O Curso de Física e a profissão de físico 1.1. O que é Física? 1.2. O que é necessário para ser um bom físico? 1.3. O Curso de Física da UFES 2. Observação e medida em Física 3. O fenômeno natural e sua observação 4. Fenomenologia, modelos qualitativos e quantitativos PARTE II

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Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Exatas Departamento de Física FIS06325 Introdução ao Estudo dos Fenômenos Físicos Prof. Anderson Coser Gaudio

1

NOTAS DE AULA

PARTE I

1. O Curso de Física e a profissão de físico

1.1. O que é Física?

1.2. O que é necessário para ser um bom físico?

1.3. O Curso de Física da UFES

2. Observação e medida em Física

3. O fenômeno natural e sua observação

4. Fenomenologia, modelos qualitativos e quantitativos

PARTE II

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5. Medidas físicas

A obra do pintor holandês Vincent van Gogh exibida na Figura 5.1 é intitulada “Meio-dia:

Descanso do Trabalho”. Trata-se de um quadro que mostra dois camponeses tirando uma deliciosa

soneca sobre um monte de feno logo após o almoço. Observe-a atentamente e tente responder: qual é

a medida da beleza deste quadro?

Figura 5.1. Meio-dia: Descanso do Trabalho. Van Gogh, 1889

O link da Figura 5.2a abaixo irá direcionar o leitor para uma apresentação orquestral da Ária

na corda Sol da Suíte No. 3, do compositor alemão J.S. Bach. Ouça-a com atenção.

(a) (b)

Figura 5.2. (a) Vídeo da apresentação da Ária da Suíte No. 3, do compositor alemão J.S. Bach, disponível no

endereço http://www.youtube.com/watch?v=3mlsKCyuDnw. (b) Johann Sebastian Bach (1685–

1750).

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Agora tente responder: qual é a medida de sua beleza? Você deve estar pensando... É possível

estabelecer uma unidade cuja escala possa traduzir em números algo como beleza? Note que não

estamos falando de olhar o quadro ou ouvir a música e dar uma nota entre zero e dez. Se assim fosse,

pessoas diferentes atribuiriam números diferentes para avaliar a beleza dessas obras e, portanto, não

chegaríamos à conclusão alguma sobre o verdadeiro grau de sua beleza. A dificuldade para traduzir

beleza em números decorre do fato de que beleza é um conceito puramente abstrato. Não podemos

quantificar objetivamente e de forma reprodutível as sensações pessoais que surgem da observação

de uma obra de arte. Esta é uma das razões que impede a arte de ser classificada como ciência.

Entre outras coisas, para que uma área de conhecimento possa ser classificada como ciência,

as observações resultantes das atividades nessa área devem poder ser traduzidas em números. E mais

que isso, os números devem ser reprodutíveis em qualquer lugar e a qualquer tempo. A Física é uma

dessas áreas, assim como são a Química, a Biologia, e muitas outras. A Física é uma ciência que

progride sempre embasada em observações experimentais. E a parte mais importante de qualquer

observação é a medida.

É sabido que nem todo estudante se tornará cientista. Portanto, para quê temos que nos

preocupar com medidas? Não devemos pular esta parte e ir direto para a Física propriamente dita? É

claro que não. Acontece que a realização de medidas não é importante apenas no âmbito da ciência.

Em nosso cotidiano sempre estamos fazendo medidas. Sempre que consultamos o relógio, fazemos a

medida do tempo. Sempre que subimos numa balança, medimos nossa massa. Quando estamos com

febre, não medimos a temperatura corporal? Quando fazemos um pão, há necessidade de medir a

massa do trigo, o volume do leite e a temperatura do forno. As medidas estão presentes em nossa

vida, independente de sermos cientistas ou não. Por este motivo, o estudante deve aprender os

fundamentos envolvidos na medição. Este conhecimento irá ajudá-lo ao longo de toda sua vida. E

não há lugar melhor para se aprender isso do que nas aulas de física.

5.1. Sistema de unidades

O sistema de unidades físicas adotado no Brasil é o Sistema Internacional de Unidades, ou SI,

que também é adotado pela maioria dos países do mundo. Uma exceção notável são os Estados

Unidos, que usam o chamado Sistema Inglês. O SI define os padrões e as unidades de medição das

grandezas físicas que compõe o sistema. Para nós neste momento, as grandezas físicas mais

importantes são o tempo, a massa e o comprimento.

A unidade do SI para o tempo é o segundo, cujo símbolo é s. O segundo é definido em função

do período de uma radiação emitida pelo átomo de césio. Tecnicamente, o segundo é a duração de

9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis hiperfinos do estado

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fundamental do átomo de césio 133. Essa radiação é de natureza eletromagnética, tal como é a luz

visível ou a radiação responsável pelo aquecimento dos alimentos no forno de microondas. Você

deve lembrar que o período é o tempo que um sistema oscilante leva para completar um ciclo.

Um exemplo notável de padrão de tempo é o NIST-F1, relógio atômico de césio capaz de

trabalhar 60 milhões de anos sem adiantar ou atrasar um segundo sequer (Figura 5.3). O NIST-F1 é

mantido pelo National Institute of Standards and Technology (NIST) e atualmente é o padrão

primário de tempo nos Estados Unidos.

Figura 5.3. NIST F-1.

A unidade do SI para o comprimento é o metro, cujo símbolo é m. No passado, o metro era

definido como sendo a distância entre dois riscos feitos sobre uma barra metálica (Figura 5.4a). Hoje,

o padrão de comprimento é definido em função da velocidade da luz. O metro é a distância

percorrida pela luz durante 1/299.792.458 s, sendo que a velocidade da luz foi definida exatamente

como o inverso desse valor. Na prática, o comprimento deixou de ser uma das grandezas

fundamentais do SI, sendo substituído pela velocidade.

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(a) (b)

Figura 5.4. (a) Antigo padrão do metro. (b) Padrão moderno do metro, materializado com o uso de um laser

de hélio-neon estabilizado por vapor de iodo.

A unidade do SI para a massa é o quilograma, cujo símbolo é kg. O padrão de massa é um

cilindro metálico que fica guardado na Agência Internacional de Pesos e Medidas, em Paris (Figura

5.5). Cópias desse padrão foram enviadas para o mundo inteiro. A cópia brasileira fica armazenada

no Inmetro que, entre outras coisas, fornece os padrões que serão usados na calibração de

instrumentos de medida em todo o Brasil.

Figura 5.5. Padrão do quilograma.

5.2. Prefixos do SI

O Sistema Internacional de Unidades define prefixos-padrões que podem ser usados para designar

múltiplos e submúltiplos das unidades do sistema. Os principais múltiplos e submúltiplos são

mostrados na Tabela 5.1.

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Tabela 5.1. Prefixos do SI

Fator Prefixo Símbolo Fator Prefixo Símbolo

101 deca da 101

deci d

102 hecto h 102

centi c

103 quilo k 103

mili m

106 mega M 106

micro

109 giga G 109

nano n

1012

tera T 1012 pico p

1015

peta P 1015 femto f

Muitas grandezas que usam estes prefixos nos são familiares. Vejamos alguns exemplos: um

quilograma é igual a mil gramas, ou 103 g; um mililitro é igual a um milésimo de litro, que é igual a

103

L; um megaton é igual a um milhão de toneladas, ou 106 toneladas, de alguma coisa como, por

exemplo, do explosivo TNT; e um gigabyte é igual um bilhão de bytes, ou seja, 109 bytes. Os

prefixos do SI também servem de inspiração para a criação de novos termos usados na área

científica. Por exemplo, o termo nanotecnologia refere-se ao conjunto de conhecimentos e técnicas

que possibilitam a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos individuais. Nesse

termo, o prefixo nano é usado para designar a ordem de grandeza das estruturas construídas, ou seja,

109

m.

5.3. Padrões de medidas

Para medirmos alguma coisa, precisamos de um padrão de referência. Por exemplo, para

medirmos a massa de um objeto, precisamos de um padrão de massa. O que é isto? Um padrão de

massa nada mais é do que um objeto cuja massa será usada para comparação com a massa que

queremos medir. O tipo, o tamanho e a forma desse objeto são escolhidos arbitrariamente. Suponha

que o padrão de massa escolhido seja um pequeno cilindro de metal, que convencionamos ter

exatamente uma unidade de massa (Figura 5.6a).

(a) (b)

Figura 5.6. (a) Cilindro metálico que poderia ser usado como padrão fictício para o quilograma. (b) A medida

da massa é uma comparação entre a massa de um objeto e a massa de um padrão pré-definido.

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Portanto, para medir a massa de uma melancia, por exemplo, devemos contar quantos desses

cilindros de metal são necessários para equilibrar a melancia numa balança (Figura 5.6b). Se forem

precisos quatro cilindros, a massa da melancia será igual a quatro unidades de massa. Podemos ainda

dar um nome para a unidade de massa referente ao padrão escolhido, só para não termos de dizer

toda hora que a melancia tem “quatro unidades de massa”. Vamos batizá-la de quilograma. Portanto,

a tal melancia têm agora quatro quilogramas de massa.

Agora vem a parte principal. Como você já deve suspeitar, ao medirmos a massa de um

objeto, não é preciso saber do que ela é feita. Além disso, a medida da massa não nos fornece

qualquer informação precisa sobre a natureza da massa presente no objeto. Muito menos podemos

concluir algo sobre o motivo de o objeto ter massa, ou ainda sobre o que seja a própria massa. A ação

de medir é basicamente uma comparação entre uma quantidade conhecida, que é o padrão, e uma

desconhecida, que é o que desejamos medir.

5.4. Erros experimentais

5.5. Algarismos significativos e incertezas

Quando efetuamos a medida da largura de uma folha de papel, estamos querendo descobrir

qual é o valor real dessa grandeza. E que valor é esse? Ninguém sabe e ninguém nunca saberá

exatamente. Mas vamos imaginar que um ser divino nos informasse que certa folha de papel A4

tivesse 21,02684938... cm de largura, com todas as casas decimais que desejássemos. Neste exemplo,

vamos simplesmente ignorar a impossibilidade de obter medida exata e completa para qualquer

grandeza física. Pois bem, agora vamos entregar essa folha a um físico para que ele efetue a medida

de sua largura. Só que não mencionamos o fato de que já conhecemos seu valor exato por

antecipação. O físico toma uma régua milimetrada de boa qualidade (Figura 5.7a), faz a medida e nos

diz o resultado: 21,03 0,02 cm. O resultado causa-nos certa surpresa. O 21,03 cm já era esperado,

mas que negócio é este de “ 0,02”? Ele nos explica que a largura da folha não é exatamente 21,03

cm, mas sim um valor desconhecido (ao menos para ele) que está localizado entre 21,01 cm e 21,05

cm. O termo “ 0,02” é chamado de incerteza da medição. Aí você consulta o valor exato da largura

fornecido pelo ser divino e constata que o físico tem razão: de fato a largura exata encontra-se nesse

intervalo. O físico então resolve melhorar a exatidão da medida e usa um paquímetro para medir a

largura da folha (Figura 5.7b). Desta vez, ele obtém 21,024 0,003 cm, sendo que agora o valor real

da largura deve está entre 21,021 cm e 21,027 cm. Você conclui que o físico acertou novamente.

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(a) (b)

Figura 5.7. (a) Detalhe da escala uma régua milimetrada. (b) Paquímetro.

Há pelo menos duas coisas que devemos concluir a respeito desse exemplo. Em primeiro

lugar, toda medida física está associada a uma incerteza, sendo que muitos são os fatores

responsáveis pela incerteza da medida. Os mais importantes são a limitação da escala do instrumento

de medida, o nível de calibração do instrumento, as condições reinantes no ambiente da medição e a

habilidade do medidor. Em segundo lugar, quando efetuamos a medida de uma grandeza estamos

tentando descobrir um valor que é desconhecido. A medição é o meio utilizado para encontrar esse

valor. Quanto melhor for o instrumento de medida utilizado, maior será a extensão do conhecimento

do valor procurado.

A expressão extensão do conhecimento do valor procurado está relacionada com o número

de algarismos significativos da medida. As duas medidas efetuadas pelo físico diferem em relação à

quantidade de algarismos significativos. Deixando-se de lado a incerteza, a primeira medida, 21,03

cm, tem quatro algarismos significativos, enquanto que a segunda, 21,024 cm, tem cinco. Podemos

notar que o número de algarismos significativos de uma medida é determinado pelo tipo de

instrumento usado na medição. Quanto melhor o instrumento, maior o numero de algarismos

significativos da medida e, consequentemente, mais informação ela nos traz.

5.6. Análise estatística

6. Algumas ferramentas úteis em física

6.1. Análise dimensional

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6.2. Ordens de grandeza

6.3. Aproximações matemáticas

PARTE III

7. Aplicação de conceitos e ideias - Mecânica

7.1. Pêndulo simples

7.1.1. Introdução

O pêndulo é um objeto suspenso a partir de um pivô de tal forma que possa oscilar livremente

sob a ação da gravidade (Figura 7.1). A característica mais importante dos pêndulos é a regularidade

de suas oscilações. Galileu foi o primeiro a observar a independência do período em relação à

amplitude da oscilação (isocronismo) e a utilizar essa característica para a construção de um relógio

de pêndulo. No entanto, a invenção do relógio de pêndulo foi creditada ao holandês Christiaan

Huygens, que o patenteou em 1673.

Figura 7.1. Exemplos de pêndulos.

7.1.2. Teoria

Um pêndulo simples consiste num sistema idealizado em que uma massa pontual m está

suspensa por um fio fino, leve e inextensível de comprimento L, o que faz com que toda a massa do

pêndulo esteja concentrada em sua extremidade inferior (Figura 7.2a). Ao ser deslocado de sua

posição de equilíbrio de um ângulo m e solto, passa a oscilar de tal forma que não haja perda de

energia devido ao atrito com o ar ou nos pontos de suspensão.

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(a) (b)

Figura 7.2. Pêndulo simples.

Nessas condições, a massa suspensa está sujeita a apenas duas forças: a da gravidade ( gF ),

exercida pela Terra, e a de tração ( TF ), exercida pela corda (Figura 7.2b). Como a direção da força

de tração (linha de ação da força) passa pelo ponto de suspensão do pêndulo (ponto O), esta não é

capaz de exercer torque sobre a massa suspensa. Assim, o movimento do pêndulo simples é

governado apenas pela força gravitacional. Esta pode ser decomposta em seus componentes radial (

rF ) e tangencial ( tF ). O componente radial neutraliza a força de tração, mantendo assim constante o

comprimento do fio (Figura 7.3a).

(a) (b)

Figura 7.3. Componentes da força gravitacional.

O componente tangencial da força gravitacional vale, de acordo com a Figura 7.3b:

sen sent gF F mg (7.1)

O sinal negativo na Eq. (7.1) decorre dos sentidos inversos do deslocamento angular do

pêndulo, em relação à vertical, e do torque gerado por esse componente. Ou seja, sempre que o

pêndulo se desloca para um lado, o componente tangencial da força gravitacional age no sentido de

acelerar a massa no sentido oposto.

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Para obter a equação de movimento do pêndulo, é preciso resolver a segunda lei de Newton

em sua forma angular, Eq. (7.2), onde t é o torque do componente tangencial (Ft L), I é o momento

de inércia do pêndulo simples (mL2) e é sua aceleração angular.

t I (7.2)

.tF L I

(7.3)

22

2sen .

dmgL mL

dt

(7.4)

2

2sen 0

d g

dt L

(7.5)

A Eq. (7.5) é uma equação diferencial de segunda ordem não-linear, cuja solução exata

envolve um tipo especial de integral, chamada integral elíptica completa do primeiro tipo, que é algo

ainda um pouco avançado para alunos recém-ingressos na universidade. Sua solução é expressa na

forma de uma expansão em série de potências, como vemos na Eq. (7.6).

2 2 22 4

2 2 2

1 1 .32 1 sen sen

2 2 2 .4 2

m mLT

g

(7.6)

No entanto, uma solução alternativa pode ser obtida rapidamente adotando-se a aproximação

sen . Esta aproximação é tanto mais verdadeira quanto menor for o valor de , em radianos,

como mostra a Tabela 7.1.

Tabela 7.1. Comportamento da aproximação sen .

(rad) sen Erro %

1 0,8414710 16

0,5 0,4794255 2,1

0,1 0,0998334 0,017

0,05 0,0499792 0,0021

0,01 0,0099998 0,000017

E qual é o valor de que valida esta aproximação? Esta é uma pergunta muito frequente que,

na maioria das vezes, costuma ficar sem resposta satisfatória. Um critério interessante que pode ser

usado é o limite de erro tolerado no valor calculado do período. Por exemplo, se adotarmos esse

limite como sendo de 1%, o valor máximo aceitável de m é de aproximadamente 23.

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Exercício 7.1. O desvio relativo entre o valor experimental do período de um pêndulo simples (Texp) e

seu valor calculado (Tcalc) é dado por:

exp calc

exp

T T

T

Se aproximarmos o valor de Texp pelos dois primeiros termos da expansão em série do período do

pêndulo simples, de acordo com a Eq. (7.6), teremos:

2

exp calc

11 sen

4 2

mT T

.

Mostre que o valor máximo de m que pode ser tolerado ao cometer um erro , é:

1 12sen 2 1

1m

Assim, adotando-se a aproximação sen , a Eq. (7.5) será:

2

20

d g

dt L

(7.7)

Representando g/L por 2 , uma das possíveis soluções para esta equação é

cosmt t

(7.8)

Nesta equação, o termo t é chamado de fase do movimento. É a fase que define a posição

angular do pêndulo em qualquer instante de tempo t. O termo é a constante de fase do movimento

pendular. Seu valor define a posição angular do pêndulo no instante t = 0. Ou seja:

0 cosm

(7.9)

O termo é interpretado como a frequência angular do movimento do pêndulo, o que

equivale à velocidade angular escalar média do pêndulo (daí o uso da barra sobre o símbolo, o que

evita confusão com a velocidade angular instantânea, ). Por exemplo, uma frequência angular de 2

rad/s significa que o pêndulo descreve um ângulo de 2 rad, ou seja, um ciclo completo, em 1 s.

De posse da Eq. (7.8), podemos obter expressões para a velocidade angular ( ) e para a

aceleração angular ( ), em função do tempo.

senm

d tt t

dt

(7.10)

2 2cosm

d tt t t

dt

(7.11)

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Exercício 7.2. Mostre que a Eq. (7.9) é uma solução da Eq. (7.7).

O período de qualquer sistema oscilante, cuja frequência angular é , é dado por:

2T

(7.12)

No caso do pêndulo simples, onde adotamos g/L por 2 , teremos:

2L

Tg

(7.13)

Como esperado, a aproximação sen tornou o período independente da amplitude

angular m .

7.1.3. Aplicação

Historicamente, a principal aplicação do conceito de pêndulo simples foi a invenção do

relógio de pêndulo. Antes disso, o tempo era medido com o auxílio de ampulhetas, velas de parafina

acesas, relógios de sol e relógios de água, também chamado de clepsidra (Figura 7.4). Nessa época, o

modo mais acurado de medir o tempo acarretava numa imprecisão de até quinze minutos por dia.

Após a introdução do relógio de pêndulo, essa medida foi reduzida para apenas cerca de quinze

segundos por dia.

E para quê isso era tão importante?

(a) (b) (c)

Figura 7.4. Instrumentos antigos para medição de tempo. (a) relógio de sol, (b) relógio de água (clepsidra) e

(c) relógio de areia (ampulheta).

No século XVII, época do desenvolvimento do relógio de pêndulo, a navegação representava

o principal meio de expansão do domínio colonial das nações mais desenvolvidas e,

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consequentemente, de ampliação de reserva de mercado para o comércio. Para aumentar esse

domínio, era preciso navegar para cada vez mais longe de casa. Essa necessidade tornou urgente a

melhoria da medição da latitude () e, principalmente, da longitude () (Figura 7.5).

Figura 7.5. Ângulos que definem a latitude () e a longitude ().

A determinação da latitude é relativamente fácil. No hemisfério norte, basta ler o ângulo entre

o horizonte e a estrela Polar (Figura 7.6). No hemisfério sul, o ângulo a ser medido é entre o

horizonte e a estrela Sigma Octana. Essas duas estrelas estão alinhadas ao eixo de rotação da Terra e,

dessa forma, estão sempre fixas no céu noturno (Figura 7.7).

Figura 7.6. Medida da latitude.

Figura 7.7. Estrelas usadas como referência na

medida da latitude.

Se por um lado a medida da latitude é simples, o mesmo não é verdadeiro para a longitude. A

medida da latitude é facilitada pelo fato de haver duas estrelas fixas no céu noturno, uma em cada

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polo (Figura 7.7). Essas estrelas fornecem a referência ideal para a determinação da latitude. No caso

da longitude, a situação é diferente. Na direção leste-oeste não há uma estrela sequer que esteja fixa

em relação à Terra, pois a abóbada celeste gira continuamente no sentido leste-oeste. Isso

impossibilita a determinação precisa da longitude por meio da medida de ângulos (embora isso possa

ser feito de forma aproximada usando-se a Lua como referência). Portanto, antes do advento do GPS,

a única maneira de medir a longitude era por meio do uso de relógios.

A longitude A de um ponto A, localizado sobre a superfície da Terra, é um ângulo medido

sobre o plano (ortogonal ao eixo de rotação e paralelo ao plano equatorial da Terra), que passa pelo

ponto A (Figura 7.8). O ângulo é centrado no ponto onde o eixo de rotação cruza o plano (ponto

O), sendo medido a partir do ponto R. O ponto de referência (R) é definido pela interseção de uma

linha de referência, que vai do polo norte ao polo sul ao longo da superfície da Terra, com o plano .

Por convenção internacional, a linha de referência, denominada Meridiano de Greenwich, passa pelo

Observatório Real de Greenwich, na Inglaterra, e possui longitude igual a 0. Partindo-se daí para o

leste, temos valores crescentes de longitude de 0 a +180 e, para o oeste, de 0 a 180. Como o Sol

está (relativamente) fixo no espaço e a Terra gira em torno de seu eixo no sentido oeste-leste, ao

viajarmos para o leste nosso relógio fica atrasado e, portanto, devemos adiantá-lo para que fique

sincronizado com a hora local. O contrário ocorre quando viajamos para o oeste, quando devemos

atrasar nosso relógio.

Figura 7.8. Definição da longitude do ponto A, localizado sobre a superfície da Terra.

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A Terra é uma (quase) esfera que leva 24 horas para dar uma volta completa em torno de seu

eixo. Dividindo-se os 360 de sua circunferência por esse tempo, obtemos 15 por hora. Ao sair para

o mar aberto, um navegador antigo levava consigo um relógio sincronizado com a hora local.

Durante a viagem, ele determinava a hora do navio com base em observação astronômica, como por

exemplo, a localização do Sol. Ao comparar a hora atual com a hora do relógio trazido de casa, a

longitude era determinada com base na regra de 1 h = 15 de longitude. Por exemplo, se a hora

astronômica estiver atrasada em relação à hora do relógio em 2,5 horas, a longitude será de 38 em

relação ao ponto de partida.

Portanto, como a determinação do posicionamento global dependia essencialmente da

medição do tempo, houve grande incentivo financeiro para o desenvolvimento de relógios cada vez

mais precisos. E o relógio de pêndulo reinou absoluto durante quase de três séculos.

7.1.4. Prática

Como tarefa prática, os alunos deverão fazer a determinação experimental da aceleração da

gravidade com o uso de um pêndulo simples. Essa determinação é baseada na Eq. (7.13), que pode

ser representada da seguinte forma:

22 4

T Lg

(7.14)

Esta equação é comparável a

y ax b , (7.15)

onde 2y T , 24

ag

, x L e 0b . A regressão linear de 2T em função de L deverá fornecer o

valor do coeficiente angular 24

g

e, por conseguinte, de g. O erro padrão do coeficiente angular

deverá ser usado para determinar a incerteza de g.

Materiais

(a) Uma carambola de pesca, feita de chumbo (ou algo similar);

(b) Fio fino e resistente, preferencialmente “fio urso”;

(c) Transferidor circular;

(d) Trena;

(e) Cronômetro;

(f) Computador com o software Mathematica instalado.

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Procedimento experimental

(a) Ajuste inicialmente o comprimento do pêndulo para 40,0 cm. Esta medida que deve ser feita

entre o ponto de suspensão do fio e o centro de massa do pêndulo.

(b) Desloque o pêndulo de cerca de 10 em relação a sua posição de equilíbrio e solte-o. Ao

completar seu primeiro ciclo, dispare o cronômetro e meça o tempo para dez oscilações

completas. Anote o resultado na coluna 10t da tabela de dados (ver abaixo). Repita este

procedimento duas vezes para concluir a medição em triplicata de 10t .

(c) Repita as etapas (a) e (b) para os demais valores de L da tabela de dados.

(d) Preencha as demais colunas da tabela de dados.

Tabela de dados

(m)L a 10 (s)t b

10 (s)t c

(s)T d

2 (s)T d

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

a Comprimento do pêndulo;

b Tempo para dez oscilações completas, medido em triplicata;

c Média aritmética dos tempos para dez oscilações completas;

d Período do pêndulo, que é igual a

10 /10t .

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18

Cálculos

Utilize o software Mathematica nas etapas a seguir.

(a) Crie uma lista com os dados experimentais obtidos: dados = {{0.40,T2

1},{0.60,T22},... };

(b) Use a função LinearModelFit do Mathematica para fazer uma regressão linear de 2T em

função de L, determinar o coeficiente angular da reta e, com isso, obter o valor da aceleração

da gravidade.

(c) Use o parâmetro ParameterErrors para obter o erro padrão do coeficiente angular com

70% de confiança. (Use o Help do Mathematica para auxiliá-lo nessa tarefa – clique F1.)

(d) Construa um gráfico de T 2

em função de L, para visualizar os pontos. Para isso, use a função

ListPlot. Sobreponha aos pontos a reta média que corresponde ao resultado da regressão

linear obtida no item (b). Visite o Help para essa função e melhore a aparência do gráfico o

quanto for possível.

Resultado

Valor obtido para a aceleração da gravidade:

g = ( _______________ _______________ ) m/s2.

7.1.5. Modelagem

Como exercício final, os alunos deverão utilizar o Mathematica para construir um modelo

funcional de pêndulo, cujos parâmetros L, m e g possam ser escolhidos pelo usuário.

7.1.6. Problemas

Problema 1. Um pêndulo simples de comprimento L, está

solidário com um carrinho que desliza sem atrito por um

plano inclinado de . Calcular o período de oscilação do

pêndulo no carrinho deslizando plano abaixo.

Problema 2. Um pêndulo simples de comprimento L, é solto

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19

em repouso fazendo um ângulo 0 com a vertical. (a) Admitindo que o movimento seja harmônico

simples, calcular a velocidade do pêndulo ao passar por = 0. (b) Calcular, com a conservação da

energia, a velocidade mencionada no item anterior. (c) Mostrar que os resultados de (a) e (b)

coincidem quando o afastamento angular 0 for pequeno. (d) Calcular a diferença nos dois resultados

para = 0,20 rad e L = 1,0 m.

7.2. Queda livre

7.2.1. Introdução

Quem nunca desejou ser um super-herói? Quem, em alguma fase da vida, nunca desejou

possuir alguma habilidade extraordinária, algo que o tornasse especial e que o diferenciasse das

outras pessoas. Ou seja, quem nunca desejou ter superpoderes? O sonho de possuir superpoderes

permeia a imaginação de todas as crianças e até de alguns adultos. Entre os meninos talvez haja uma

preferência toda especial pelo Super-Homem. Por que motivo? Por causa de seus incríveis poderes.

O Super-Homem é indestrutível, possui força ilimitada, visão de raios-X e ...pode voar. E não é voar

simplesmente. É voar em supervelocidade. Graças ao poder de voar do Super-Homem, muitos

meninos costumam amarrar uma capa em torno do pescoço para brincar de voar. Muitos chegam a

saltar de cadeiras e mesas na esperança de conseguir voar, mesmo que só por alguns instantes.

Desnecessário dizer que essas brincadeiras acabam invariavelmente no chão.

Talvez seja numa dessas brincadeiras que, pela primeira vez, muitas crianças tomem

consciência de que há algo na natureza que não nos permite flutuar livremente acima do solo. Por

que motivo isso ocorre? A explicação mais simples para isso é que o nosso planeta, a Terra, age

como um poderoso imã sobre todos os corpos a sua volta. É o que chamamos de gravidade. A

atração da Terra sobre os corpos gera nestes uma aceleração que os mantém grudados ao solo. É a

aceleração da gravidade, cujo símbolo é g.

A aceleração da gravidade faz-se presente em qualquer ponto em volta da Terra e até em seu

interior. A direção da aceleração é radial e o sentido é para o centro do planeta. Sempre que

deixamos cair um objeto ou o lançamos para cima, a aceleração da gravidade acelera-o em direção

ao solo. Nas proximidades da superfície da Terra, o módulo da aceleração da gravidade tem o valor

aproximadamente constante de 9,8 m/s2.

Talvez a coisa mais importante sobre a aceleração da gravidade é que ela é a mesma para

todos os corpos, independente de suas massas. Isso significa que se deixarmos cair de uma mesma

altura dois objetos quaisquer, de massas diferentes, ele deveriam chegar ao solo exatamente no

mesmo instante de tempo. Mas é isso o que observamos na prática? É claro que não. Experimente

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20

soltar uma pena e um martelo simultaneamente de uma mesma altura que você não terá dúvidas de

que o martelo chegará primeiro ao solo. Observações como essa tiveram profunda influência sobre o

pensamento dos filósofos da antiguidade.

No século IV a.C., o filósofo grego Aristóteles defendeu a ideia de que os corpos mais

pesados cairiam mais rapidamente do que os corpos mais leves. Ao afirmar isso, Aristóteles apenas

formalizou uma conclusão que certamente já era de conhecimento público. Ou será que antes de

Aristóteles nunca alguém havia percebido que uma pedra caía mais rápido do que uma pena de

ganso? O mérito de Aristóteles foi usar esse postulado, em conjunto com muitos outros, para

sistematizar as leis da natureza. A simplicidade dos argumentos utilizados, sempre coerentes com o

senso comum, somada ao imenso prestígio de Aristóteles, fez com que suas ideias ganhassem força

de dogma e reinassem absolutas por quase 2.000 anos.

Até que um dia existiu um homem chamado Galileu Galilei (1564 – 1642). Com seus estudos

sobre o rolamento de esferas sobre planos inclinados, que é uma forma lenta de queda livre, Galileu

provou que todos os corpos caem com a mesma aceleração. O fato de não observarmos isso no dia a

dia, concluiu Galileu, é consequência da resistência do ar que tem maior influência sobre o

movimento de corpos mais leves.

Galileu também teve seu nome ligado a um dos experimentos mais famosos da história da

física: o da Torre de Pisa. Conta-se que Galileu reuniu uma pequena multidão em torno da torre

inclinada da cidade de Pisa, Itália, para provar que esferas de chumbo de massas diferentes, soltas

simultaneamente do alto da torre, tocariam o solo ao mesmo tempo. Apesar de os registros históricos,

ou a ausência deles, indicarem que essa experiência de fato nunca ocorreu, a lenda tomou corpo e

ganhou força de verdade com o passar dos séculos.

E quanto à queda do martelo e da pena? Ainda hoje muita gente não acredita que esses

objetos possam cair com a mesma aceleração. Pois bem, se você também não acredita, então veja o

seguinte experimento realizado pelo astronauta David Scott em agosto de 1971, durante a missão

Apolo 15. O experimento foi conduzido na Lua, lugar onde não há atmosfera e, portanto, a queda dos

corpos não pode ser afetada pela resistência do ar.

7.2.1. Teoria

O tipo mais comum de movimento retilíneo com aceleração constante é o de um corpo que

cai a partir do repouso apenas sob a ação da aceleração da gravidade. Esse movimento é chamado

queda livre. Nas proximidades da superfície da Terra, um corpo sujeito à queda livre acelera

continuamente em direção ao solo a uma taxa aproximada de 9,8 m/s2. Na superfície da Lua, a queda

livre ocorre com aceleração de apenas 1,6 m/s2.

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21

Uma observação importante sobre a queda livre refere-se à resistência do ar. Na forma em

que é definido, o movimento de queda livre não pode sofrer influência da resistência do ar. Quando o

ar exerce resistência à queda do corpo, gera neste uma aceleração no sentido contrário ao seu

movimento. O módulo dessa aceleração aumenta com a velocidade do corpo e, portanto, a aceleração

devida à resistência do ar é variável. Por definição, apenas as quedas que ocorrem no vácuo podem

ser de fato consideradas como queda livre. Na prática, apenas corpos massivos, como uma bola de

chumbo caindo de alturas não muito grandes, desenvolvem movimento de queda livre. No entanto,

por motivos didáticos, é comum desprezarmos a resistência do ar mesmo em situações em que ela é

essencial, como no caso do salto livre de um paraquedista.

Na descrição matemática do movimento de queda livre, normalmente utilizamos como

sistema de coordenadas o eixo cartesiano y posicionado na vertical, com os valores crescentes de y

para cima. Também é usual atribuirmos ao solo o valor y = 0. Isso implica em que todos os pontos

acima do solo receberão valores de y positivos. Com o eixo y nessa configuração, a aceleração da

gravidade, com sentido contrário aos valores crescentes de y, possui sinal negativo. Ou seja, a = g =

9,8 m/s2. A equação a = g é a equação diferencial do movimento de queda livre vertical. Para

resolvê-la, precisamos integrá-la.

dv

gdt

dv gdt

0 0

v t

v tdv g dt

0 0v v g t t

Considerando-se t0 = 0, teremos:

0tv v gt (7.16)

A Eq. (7.16) costuma ser chamada de função horária da velocidade da queda livre. Como é também

uma equação diferencial, vamos integrá-la para obter y(t):

0

dyv gt

dt

0 0dy v gt dt v dt gtdt

Integrando-se, teremos:

0 0 0

0

y t t

y t tdy v dt g tdt

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22

2 2

00 0 0

2

t ty y v t t g

Considerando-se t0 = 0, teremos:

2

0 02

t

ty y v t g (7.17)

A Eq. (7.17) é a função horária da posição para a queda livre. Devemos notar que o sinal

negativo da aceleração da gravidade nesta e na Eq. (7.16) gera consequências nos gráficos de y × t e

de v × t (Figura 7.9). Na função horária da posição, que é uma equação do segundo grau, a parábola

possui a concavidade voltada para baixo, enquanto que na função horária da velocidade, que é uma

equação do primeiro grau, a reta apresenta declividade negativa. A curva do gráfico de a × t, por sua

vez, é uma constante.

Figura 7.9. Gráficos de y t, v t e a t da queda-livre de um corpo que cai a partir do repouso de uma

altura h = 30 m.

Uma terceira equação de movimento para a queda livre pode ser obtida ao eliminarmos o

tempo entre as Eqs. (7.16) e (7.17). O resultado será:

2 2

0 02v v g y y (7.18)

A Eq. (7.18) é conhecida como equação de Torricelli, graças aos experimentos do italiano

Evangelista Torricelli (1608-1647) sobre o movimento de jatos de líquidos que vazam a partir de

furos em seus recipientes.

O exemplo mais simples de movimento de queda livre é o de um corpo que cai a partir do

repouso de uma altura h acima do solo. Para estudá-lo, vamos utilizar como sistema de coordenadas

o eixo cartesiano y orientado na vertical com origem no solo (Figura 7.10). A coordenada inicial do

corpo, que corresponde ao ponto de partida do movimento, será y0 = h, enquanto que a coordenada

final, o solo, será y = 0. Como o corpo parte do repouso, sua velocidade inicial será nula, ou seja, v0

= 0.

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23

Figura 7.10. Esquema da queda-livre de um corpo que cai no solo, a partir do repouso, de uma altura h.

Nessas condições, a equação de Torricelli resultará em:

2 0 2 0v g h

2 2v gh

2v gh

Este resultado corresponde ao valor da velocidade com que o corpo tocará o solo, quando

liberado a partir do repouso de uma altura h. O estudante deve prestar muita atenção a este resultado,

pois há diversas situações físicas importantes, semelhantes a esta, em que este resultado poderá ser

aplicado. Uma dessas situações é o de um líquido contido num tanque onde há um furo, por onde o

líquido escapa. O centro do furo está localizado a uma distância vertical h da superfície do líquido.

Torricelli demonstrou que a velocidade com que o jato escapa do tanque é igual a 2gh , ou seja, a

mesma velocidade atingida por uma gota d’água em queda livre ao longo da mesma distância h. Este

resultado ficou conhecido como o teorema de Torricelli.

7.2.2. Aplicação

Em 14/10/2012, o paraquedista austríaco Felix Baumgartner quebrou o recorde mundial de

altitude, ao saltar em queda livre de um balão de hélio a 38.969 m (Figura 7.11). A aventura foi

patrocinada pela empresa austríaca Red Bull, no projeto denominado Red Bull Stratos. O nome do

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24

projeto lembra o termo “estratosfera”, a região da atmosfera situada entre 15 e 50 km de altitude, de

onde o salto foi executado. O recorde anterior pertencia ao Cel. Joseph Kittinger, da força aérea

norte-americana, que saltou de 31.300 m em 16/08/1960.

Ao pular do balão, Baumgartner acelerou praticamente sem a resistência do ar. Pouco depois

de iniciar o salto, o corpo do paraquedista começou a girar sem controle por cerca de 80 segundos, o

que por pouco não fez com que a missão fosse abortada. Foi nesse período crítico, aos 42 s, que

Baumgartner quebrou o recorde mundial de velocidade em queda livre, atingindo a velocidade

supersônica de 1.342 km/h, o segundo recorde do saltoa. Assim, tornou-se o primeiro e, até o

momento, único homem a quebrar a velocidade do som sem o auxílio de propulsão artificial. Seu

paraquedas foi acionado após 4 min 16 s de deixar o balão. Com isso, Baumgartner quebrou o

terceiro e último recorde mundial da aventura, o de maior distância percorrida em queda livre, que

foi de 36.402 m.

Figura 7.11. Salto recordista de Felix Baumgartner (Wikipedia).

7.2.3. Prática

A atividade prática proposta para esta seção é, novamente, a medida da aceleração da

gravidade. Só que agora a medida será por meio da medida direta do tempo de queda (t = tq) de uma

pequena esfera metálica a partir de uma altura y0 = h 2 m. Como o tempo de queda livre de uma

a A velocidade do som ao nível do mar é de 1.225 km/h.

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25

altura dessas é de cerca de 1 s, não poderemos simplesmente usar um cronômetro manual para medi-

lo. Também não precisaremos usar aparato mais sofisticado, como fotocélulas.

Para a medida do tempo de queda da esfera, usaremos um software editor de som instalado

num notebook. A ideia consiste em que o microfone do computador capte o som emitido pela esfera

no início da queda (t0) e o emitido ao chegar ao solo (t). Como todo editor de som tem uma linha do

tempo, é possível medir os instantes de tempo em que ocorreram os picos correspondentes a t0 e t

(Figura 7.12). O tempo de queda será obtido por diferença. Nesta atividade, sugerimos o software

WavePad Sound Editor, produzido por NCH Software.a Ao fazer o download do programa, o aluno

deverá escolher a versão livre, exclusivamente para uso doméstico.

Figura 7.12. Medida dos instantes de tempo do início (t0 = 3,192 s) e do final (t = 4,596 s) de um evento.

Neste caso, o intervalo de tempo é de 1,404 s.

Para determinar a aceleração da gravidade, utilizaremos a Eq. (7.17), onde a posição inicial é

h (y0 = h), a posição final é zero, pois a coordenada y tem a origem no solo (y = 0), a velocidade

vertical inicial é nula (v0 = 0). O tempo t corresponde ao intervalo de tempo medido no editor de

som.

2

0 02

t

ty y v t g

2

0 02

th t g

2

2

tg h

a http://www.nch.com.au/wavepad/index.html

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26

2

2hg

t (7.19)

O estudante deve notar que o valor de g é fortemente influenciado pelo tempo de queda que,

por coincidência, é a medida mais difícil a ser realizada. Por esse motivo, esta atividade prática tem

caráter meramente acadêmico. Determinações de g por meio de queda livre só fazem sentido com

medidas ótico-eletrônicas do tempo de queda, utilizando sensores adequados para detectar o início e

fim do movimento. Por esse motivo, não nos preocuparemos em fazer medidas do tempo de queda a

partir de variadas alturas para obter g por meio de regressão linear. Para os objetivos desta atividade,

a realização de cinco medidas diretas será suficiente para calcularmos g por média aritmética.

Materiais:

(a) Esfera de rolimã, com cerca de 1 cm de diâmetro;

(b) Haste metálica;

(c) Notebook com microfone e editor de som instalado;

(d) Trena;

(e) Calculadora.

Procedimento experimental

(a) Posicione a esfera na borda de uma superfície localizada a cerca de 2 m de altura, como o

topo de uma porta aberta.

(b) Com o auxílio de uma trena de boa qualidade, meça cinco vezes a altura dessa superfície em

relação ao chão.

(c) Com o software WavePad carregado e o microfone conectado (é preferível o uso de um

microfone com fio ao invés do embutido no notebook), dê início à gravação.

(d) Suba numa escada doméstica ou num banco (tome cuidado) e use a haste metálica para dar

um golpe horizontal na esfera. Esse golpe será registrado no editor sonoro, assim como

também será registrado o som do choque da esfera contra o solo (cerâmico PI-5, de

preferência).

CUIDADO: Não faça isso utilizando esferas maiores do que a recomendada e nem em pisos

de porcelanato. Há risco de fratura do piso.

(e) Determine o intervalo de tempo de queda no editor.

(f) Faça esta medida cinco vezes.

Tabelas de dados

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27

Altura da superfície de onde partirá a esfera

Medida (m)ih

a

5

ihh

b ih h c

5

ih hh

d

1

2

3

4

5

a Tempo de queda da i-ésima medida da altura. Refaça medidas que difiram em mais de dois desvios-padrão em relação à

média. Use sua calculadora para isso;

b Média aritmética das alturas;

c Desvios absolutos entre a i-ésima altura e média aritmética;

d Média aritmética dos desvios absolutos;

Tempo de queda livre:

Medida (s)it

a

5

itt b

it t c

5

it tt

d

1

2

3

4

5

a Tempo de queda da i-ésima medida. Refaça medidas que difiram em mais de dois desvios-padrão em relação à média.

Use sua calculadora para isso;

b Média aritmética dos tempos de queda;

c Desvios absolutos entre o i-ésimo tempo de queda e média aritmética;

d Média aritmética dos desvios absolutos;

Cálculos

Utilize uma calculadora nas etapas a seguir.

(a) Utilize as tabelas acima para compor os valores de h e t, com suas respectivas incertezas;

h h h e t t t

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28

(b) Para determinar o valor de g faça a operação a seguir considerando as incertezas envolvidas.

2

2hg

t

Resultado

Valor obtido para a aceleração da gravidade:

g = ( _______________ _______________ ) m/s2.

7.2.4. Modelagem

Na prática, as equações de queda-livre têm aplicação limitada. Isso se deve à interferência da

atmosfera no movimento dos corpos. Um corpo que se move num meio fluido, como o ar, sofre ação

de uma força de arrasto (Fd) contrária ao seu movimento, cuja origem é a interação entre as

moléculas do fluido e do corpo. Sabemos que o módulo da força de arrasto aumenta com a

velocidade relativa entre o corpo e o fluido. Entretanto, o comportamento exato da relação força-

velocidade não é trivial. A experiência acumulada mostra que essa dependência pode ser

representada pela Eq. (7.20).

n

dF bv (7.20)

Nesta equação, b e n são constantes e v é a velocidade instantânea do corpo. A constante b

depende da forma do corpo e das propriedades do fluido. O número n é igual a 1 para velocidades

pequenas do corpo em relação ao fluido e igual a 2 para velocidades elevadas. A definição do que

sejam pequenas e grandes velocidades pode variar bastante. Uma referência útil pode ser n = 1 para

velocidades de módulos menores do que 2 m/s no ar e menores do que 0,03 m/s na água; e n = 2 para

velocidades de módulos entre 10 m/s e 200 m/s no ar e entre 0,05 m/s e 2 m/s na água.

A Eq. (7.20) é uma forma simplificada de duas equações mais detalhadas para definir a força

de arrasto. A primeira é a lei de Stokes, Eq. (7.21), onde é o coeficiente de viscosidade dinâmica

do fluido e R o raio do corpo, considerado esférico.

6F Rv (7.21)

A segunda é a equação de Rayleigh, Eq. (7.22), onde C é o coeficiente de arrasto do corpo em

relação ao meio, é a densidade do fluido e A é a área da seção transversal do corpo.

21

2F C Av (7.22)

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29

A inclusão da força de arrasto na 2ª lei de Newton para um corpo em queda livre em alta

velocidade (n = 2) resulta em:

2

RF mg bv ma (7.23)

Vamos tentar simular o movimento de um objeto sujeito à força descrita na Eq. (7.23),

usando o algoritmo de integração de Euler. A simulação por este algoritmo, como em todos os

demais, parte de uma configuração do sistema no instante de tempo t = 0, que é definida pelos

valores iniciais de algumas grandezas físicas, como posição, velocidade e aceleração.

Para iniciar a simulação, faz-se o tempo correr não de forma contínua, mas em pequenos

passos t. A ideia é que se o passo da simulação for suficientemente pequeno, cada mudança na

configuração do sistema ocorrerá com velocidade aproximadamente constante. Assim, pelo método

de Euler, teremos as seguintes equações que nortearão a evolução do sistema.

1 0 0x x v t (7.24)

1 0 0v v a t (7.25)

2

1 0a mg bv (7.26)

Para fazer a simulação, sugiro usar uma planilha Excel. A Figura 7.13 mostra o arcabouço da

planilha com a simulação pretendida, onde aparecem as fórmulas que controlam os cálculos. Na

Figura 7.14 podemos ver os valores numéricos gerados na simulação.

Figura 7.13. Simulação de queda livre numa planilha Excel, com exibição das fórmulas.

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30

Figura 7.14. Simulação de queda livre numa planilha Excel, com exibição dos valores numéricos.

A Figura 7.15(a) mostra o resultado numérico da simulação em que a resistência do ar foi

considerada. Observe o comportamento dos valores da aceleração, que diminui à medida que a

velocidade aumenta. Esta por sua vez tende a um valor constante enquanto a aceleração tende a zero.

Na Figura 7.15(b) podemos ver o gráfico comparativo de y t, para as simulações da queda livre com

e sem resistência do ar.

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31

(a) (b)

Figura 7.15. (a) Resultado numérico da queda livre com resistência do ar. (b) Gráfico comparativo das duas

simulações.

7.2.5. Problemas

Problema 1. Uma pedra é solta a partir do repouso na borda de um poço. (a) Se o som do choque da

pedra com a água é ouvido 2,67 s depois, qual a distância entre a borda e a superfície da água? A

velocidade do som no ar (à temperatura ambiente) é de 337 m/s. (b) Se o tempo de viagem do som

for desprezado, que erro percentual é introduzido no cálculo da profundidade do poço?

Problema 2. Um canhão com velocidade de disparo de 1.000 m/s é usado para iniciar uma avalanche

na encosta de uma montanha. O alvo está a 2.000 m do canhão na horizontal e 800 m acima do

canhão. A que ângulo, acima da horizontal, o canhão deve ser disparado?

0

20

40

60

80

100

120

0 2 4 6

y (m)

Tempo (s)

Queda livre

Sem resist. ar

Com resist. ar