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N O T I C I A S

JUBILAÇAO DA PROF. DOUTORA MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA

Em 1995, por altura da sua jubilação, o Instituto de Estudos Clássicos homenageou um dos seus mais conceituados professores, a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira.

Ponto alto da vida do Instituto, que não esquece quem o serve e lhe dá renome, a homenagem teve dois momentos distintos, mas ligados ambos pelo facto de os constituírem actos culturais. O primeiro centrou-se na oferta de uma Miscelânea de estudos e o segundo na representação da Antígona de Sófocles, em tradução da homenageada, pelo Teatro de Estudantes da Uni­versidade de Coimbra (TEUC).

Entrega da Miscelânea

A Miscelânea, o número 47 da Humanitas — dois tomos que somam cerca de 1200 páginas e traduzem a admiração e estima de colegas, amigos e discípulos por tão notável professor —, foi-lhe entregue, no dia 29 de Julho de 1995, em cerimónia que decorreu no Anfiteatro II da Faculdade, sala em que durante longos anos leccionou com saber e competência. Perante um Anfiteatro cheio de numerosos professores e assistentes, antigos e actuais alunos e funcionários, dignou-se presidir à sessão o Magnífico Reitor, Dou­tor Rui de Alarcão, com a presença do Presidente do Conselho Directivo, Doutor João Lourenço Roque, do Presidente do Conselho Científico, Doutor Jorge Alarcão, e do Dr. Fernando Aguiar-Branco, Presidente da Fundação Eng. António de Almeida, que subsidiou na íntegra a composição e impres­são deste número especial da Humanitas.

Na mesma data foi inaugurada, na sala do Instituto de Estudos Clássi­cos, uma exposição da numerosa obra da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, mais de trezentos títulos, incluindo as recensões, como se pode ver no Catálogo então publicado, da autoria da Dr.a Zélia de Sampaio.

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Fez entrega da Miscelânea, em nome do Instituto de Estudos Clássi­cos, o Doutor José Geraldes Freire que, na ocasião, proferiu as seguintes palavras:

— Magnífico Reitor — Senhora Doutora Maria Helena da Rocha Pereira — Senhor Presidente do Conselho Científico — Senhor Presidente da Fundação Engenheiro António de Almeida — Senhor Doutor João Manuel Nunes Torrão — Prezados Colegas — Caros Estudantes — Estimados Funcionários — Minhas Senhoras e meus Senhores

Uma condição pôs a Prof. Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, depois de muita relutância, para consentir na realização de uma cerimónia de entrega do n.° XLVII, em 2 tomos, relativo ao ano de 1995, da revista Humanitas, escrito em sua honra, na previsão da sua próxima jubilação: — que fosse um acto simples.

Tendo sido designado para, em nome de todos os membros do Insti­tuto de Estudos Clássicos da nossa Faculdade, expressar os nossos mais profundos sentimentos neste momento e querendo cingir-me estritamente à vontade manifestada, direi apenas uma palavra: — GRATIAS, ou, usando a frase final da cerimónia dos doutoramentos solenes na nossa Universidade: — Nunc restat nobis agere granas pro tot tantisque beneficiis erga nos collatis.

Gratias, em nome da própria revista Humanitas, órgão do Instituto de Estudos Clássicos de Coimbra, que desde o princípio da sua II Série, em 1952, conta com a sua ininterrupta, variada e preciosa colaboração.

Gratias é a expressão exacta que brota do coração dos docentes e fun­cionários do Instituto de Estudos Clássicos, onde tem exercício funções de chefia ao longo de tantos anos, zelando sempre pela sua organização e fun­cionalidade e preocupando-se particularmente com a renovação e actualiza­ção bibliográfica, recebendo alunos e orientando muitos dos promouendi ad gradus de todos os escalões.

Gratias também pela incessante operosidade em todas as iniciativas ligadas ao Instituto: — o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, a Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, os vários Congressos e Coió-

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quios promovidos, a fundação e vida do Boletim de Estudos Clássicos — e as constantes acções em defesa do Grego e do Latim, tão frequentemente ameaçados no Ensino Secundário e até no Superior e Universitário.

Granas sobretudo pela actividade docente, onde se revelou Magistra pela competência, pelo atractivo das suas lições, pelo incentivo dado a todos os alunos, estimulando de modo particular os mais classificados e dando contínuo exemplo de uma sempre renovada actualização cien­tífica, expressa na aquisição pessoal dos livros e revistas mais recentes, vin­dos quantas vezes a ser emprestados e, de modo particular, na sua imensa produção literária. Para mencionar uma só "cadeira", que rege ininter­ruptamente desde a sua fundação, em 1957, a História da Cultura Clás­sica, a Prof.a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira é, sem dúvida, nos últimos 40 anos, a Mestra do maior número de alunos que passaram pela Faculdade de Letras de Coimbra. Pela grande variedade de disciplinas leccionadas, em grego e em latim, pela amplidão dos temas estudados, até à Literatura Portuguesa Contemporânea, e ainda pelos seus mais de vinte mil alunos, só em Coimbra, bem se lhe poderá aplicar um daqueles epítetos com que as Universidades do século XIII caracterizaram um dos seus mestres mais famosos: a Prof.a Rocha Pereira merece também o título de doctor uniuersalis.

Gradas (continuamos nós) pelo prestígio que granjeou para o nosso Grupo de Estudos Clássicos nos cargos que tem desempenhado na Faculdade e nos serviços centrais da Universidade, em comissões do Ministério da Educação, em Academias, Fundações e Instituições de Ensino, quer em Portugal quer no estrangeiro. Não podemos deixar de referir tam­bém este aspecto mais global, precisamente porque ele nos abre caminho para mencionar, pelo menos, uma destas Instituições, que de modo algum podemos omitir hic et nunc: — a Fundação Eng.° António de Almeida, do Porto.

Gradas à Fundação Eng.° António de Almeida, na pessoa do seu ilus­tríssimo Presidente, o Ex.mo Sr. Dr. Fernando Aguiar-Branco, aqui pre­sente, que, para além do seu já prolongado mecenatismo cultural, na hora da nossa planificação deste número in honorem, imediatamente nos acolheu e estimulou com estas deslumbrantes palavras: "Para homenagear a Prof.a

Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, a Fundação assume o encargo exclusivo e integral de toda a publicação da Humanitas, e sem quaisquer limites!" — o que veio a resultar em dois tomos, separatas e catálogo biblio­gráfico. "Tem que ser!" — disse-nos o Dr. Aguiar-Branco, com uma decisão que constitui para nós próprios uma lição de Mestre. Grates ergo quam máximas tibi agimus.

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Ex.ma Sr.a Prof.a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira:

Propus-me dizer uma só palavra: GRATIAS, baseando-me na praxe académica da Sala dos Capelos. Apraz-me terminar parafraseando também a clausura da cerimónia do paraninfo:

Ν une restat nobis hoc uotum erga te exprimere: Faxit Deus ut omnia tibi prospera eueniant — per muitos faustosque

annos! Accipe, quaesumus, benigne, haec munera nostra, quae tibi gratulan-

ter dicata sunt. JOSé GERALDES FREIRE

Falou de seguida o Presidente do Conselho Directivo que exprimiu, nos seguintes termos, o grande apreço e gratidão da Faculdade à home­nageada:

— Magnífico Reitor — Senhora Doutora Maria Helena da Rocha Pereira — Senhor Presidente do Conselho Científico — Senhor Presidente da Fundação Engenheiro António de Almeida — Senhor Doutor José Geraldes Freire — Senhor Doutor João Manuel Nunes Torrão — Prezados Colegas — Caros Estudantes — Estimados Funcionários — Minhas Senhoras e meus Senhores

Por ocasião de tão singela mas expressiva cerimónia de homenagem, desejava eu reencontrar a inspiração e as palavras insubstituíveis dos autores clássicos, à medida dos excepcionais merecimentos e qualidades da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, paradigma de excelência e de dignidade na vida universitária e no mundo da cultura.

Mas onde a voz e as palavras que procuro? Desejo vão, ilusória espe­rança. Os deuses me não consentiriam mais que frustes arremedos. Ainda assim, a ousadia própria de recusar o silêncio... porque seria esconder senti­mentos que verdadeiramente sinto.

Neste cenário quotidianamente austero e académico... transfigurado e engrandecido com a honrosa presença do Magnífico Reitor e de tantos Colegas e Amigos, a quem saúdo com muito apreço e reconhecimento...

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neste anfiteatro, que foi palco, eco, história e memória de inesquecíveis e profundas lições de Cultura Clássica, em tantos de nós convergem recorda­ções e emoções, longínquas e próximas. Lições e diálogos que influenciaram e impressionaram várias gerações de estudantes — razão de ser, essência e vivência da comunidade universitária.

Na condição de aluno da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira e na qualidade de Presidente do Conselho Directivo, cumpro o grato dever de lhe manifestar a sincera e afectuosa expressão de muita estima, admiração e gratidão.

Ao ser-lhe entregue o volume da revista Humanitas que o Instituto de Estudos Clássicos tão justamente lhe dedicou, simboliza-se e realça-se a sua notável e multifacetada obra científica. Indissociável, todavia, de outros legados igualmente paradigmáticos na área da docência, da cultura e da intervenção universitárias. A Doutora Maria Helena da Rocha Pereira assumiu na plenitude a trilogia do magistério universitário — investigar, transmitir, agir em benefício das instituições e da sociedade.

Tanto lhe devemos, tanto lhe deve a Faculdade de Letras, que de modo exemplar e distinto tem servido e nobilitado. Em Coimbra, aquém e além fronteiras, fazendo da Universidade opção existencial, projecto e caminho de humanismo universal, na pluralidade do conhecimento e das raízes cultu­rais. Itinerários surpreendentes de tradição e modernidade.

Confrontados, frequentemente, com a subalternização das humanida­des por parte de sectores que ignoram ou desvalorizam a dimensão cultural e humana do desenvolvimento social, emergem ou insinuam-se dúvidas e interrogações quanto ao presente e ao futuro da nossa Escola. Em tal con­texto de novos problemas e dificuldades, que importa questionar e superai", de muito nos tem valido e valerá o exemplo e o prestígio de mestres insignes. Entre eles, a figura ímpar da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira que respeitosamente saúdo, com muita cordialidade e emoção.

JOãO LOURENçO ROQUE

Numa Saudação à Professora Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, o Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra começou por confessar ser--lhe muito grato participar nesta sessão de homenagem, promovida pela Revista "Humanitas" e pelo Instituto de Estudos Clássicos, com o apoio do Conselho Directivo da Faculdade de Letras, Faculdade à qual a homena-

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geada, como lembrou, dera o melhor de si própria em 44 anos de ininter­rupta e brilhante actividade.

Depois de salientar a craveira da Doutora Rocha Pereira como profes­sora de excepcional valia e investigadora de renome internacional, o Reitor frisou que essas absorventes tarefas não impediram que prestasse relevantís­simos serviços à sua Faculdade e à Universidade noutras áreas, recordando, inter alia, que fora durante cerca de 12 anos Presidente do Conselho Cien­tífico da sua Faculdade e lembrando as funções que desempenhara no Governo Central da Universidade, como Senadora e como Vice-Reitora. Realçou também o seu fulgor cultural, a sua dignidade e sensibilidade, a sua riqueza humana.

Só por estes factos se justificava, disse o reitor, a sua presença "qua tale". Mas Rui de Alarcão não quiz deixar de afirmar igualmente a respei­tosa mas viva amizade que o liga à Doutora Rocha Pereira e o bom conselho que sempre nela encontrou, seja antes seja sobretudo depois de ser eleito Reitor da Universidade.

Considerou depois Rui de Alarcão que os professores universitários se encontram de certo modo favorecidos em matéria de jubilação, pois podem manter boa parte das actividades a que até então se dedicavam e assim ali­viar as restrições que o limite da idade para muitos acarreta.

Neste particular, referiu que se a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, com a jubilação, perdeu alguma "potestas", mantém íntegra a sua inconfundível "auctoritas"... A Doutora Maria Helena, disse, "continua a ser uma referência cultural e moral obrigatória, um modelo, um "clássico".

Terminou dizendo que, em circunstâncias como estas, as palavras afi-guram-se quase sempre escassas. Mas reforçam-nas os sentimentos. Como o sentimento de profunda admiração e amizade que expressava à Doutora Maria Helena da Rocha Pereira.

Por último, a homenageada agradeceu a manifestação de apreço e estima que estava a receber, com as seguintes palavras:

Magnífico Reitor Senhores Presidentes dos Conselhos Directivo e Científico Caros Colegas Minhas Senhoras e meus Senhores

"É cousa tão natural o responder, que até os penhascos duros respon­dem e para as vozes têm ecos". Peço emprestada esta frase a uma carta do Pe. António Vieira, para justificar a necessidade e a ousadia de proferir

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algumas palavras depois de discursos tão generosos que nem se podem agra­decer condignamente.

Tenho, na verdade, a plena consciência de não merecer tais elogios. Nada mais fiz, ao longo de quase quarenta e cinco anos de serviço que levo nesta casa do que procurar, em tudo — e contra tudo, quando necessário — cumprir o meu dever. Um desafio com os escolhos próprios do que é humano — como diziam os gregos, as coisas belas são difíceis, χαλεπά τα καλά. — mas também com as íntimas alegrias inerentes à procura do saber e à sua partilha com os alunos. Não se pode ser professor sem ser estudante toda a vida.

Tenho tido a felicidade de ser ambas as coisas, gastando a maior parte dos meus dias entre a investigação e o ensino; outras vezes também em tare­fas da nossa respublica universitária.

Tive a honra de aprender com as lições ou com o convívio de grandes Mestres desta Faculdade, entre os quais o Doutor Carlos Ventura, a quem devo a minha formação em Linguística Grega, e a quem sucedi na cátedra. Não posso deixar de lembrar também os eminentes helenistas de quem fui discípula em Oxford, sobretudo os que mais influíram na minha orientação científica — Dodds, Fraenkel, Beazley. Depois, uma reforma dos planos de licenciatura de grande alcance — a de 1957 — proporcionou-me, a mim e aos meus colegas de então, graças à criação de cadeiras novas de mais vastos horizontes, a ocasião de alargar o âmbito estreito em que se moviam os Estudos Clássicos. Foi já nesse conjunto de circunstâncias favoráveis que aos poucos se foi estruturando um grupo novo de classicistas que, mais do que uma promessa, é já uma realidade.

Quatro dentre eles — é com desvanecimento que o registo — alcança­ram a cátedra no período em que tenho estado à frente da secção, assegu­rando assim a continuidade e progresso de um trabalho de equipa que as suas altas qualidades morais e intelectuais saberão orientar com o equilíbrio e bom senso de que têm dado provas.

A eles em especial, e a todo o grupo de Estudos Clássicos em geral (incluindo nele a nossa Técnica Superior), agradeço a organização deste volume de Humanitas e da cerimónia da sua entrega. Esta, porém, não teria sido possível, na amplitude que atingiu, sem o apoio e entusiástica adesão do Senhor Presidente do Conselho Directivo. Junta-se a honra da presença do nosso Magnífico Reitor, a amizade da comparência de tantos colegas, desta e de outras Universidades, o calor do encontro com tantos antigos e actuais alunos, a assistência gratificante de tantos funcionários.

Por todos estes motivos é que eu afirmei no começo que não tinha palavras suficientes para agradecer. Permitam-me que exprima apenas

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quanto me comove que, a pretexto deste acto, tenha sido possível sentir, na congregação de tantos dos seus membros, a presença e a vitalidade da grande instituição de ensino que nos honramos de servir.

Μ . H. ROCHA PEREIRA

Representação da Antígona

Continuação da homenagem que o Instituto de Estudos Clássicos entendeu prestar à Prof. Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, a represen­tação da Antígona de Sófocles — bem como uma exposição relativa à prece­dente encenação da peça, da autoria de Paulo Quintela — teve a sua estreia no dia 28 de Novembro de 1995, no Teatro Académico Gil Vicente. Consi­deramos que dar ao público ã representação da Antígona de Sófocles lhe agradaria e não infringia a promessa que lhe fizemos de simplicidade e moderação na homenagem.

A Doutora Maria Helena da Rocha Pereira tem o seu nome ligado à representação de tragédias gregas pelo Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, então dirigido por Paulo Quintela que lhe imprimiu um cunho indelével e o transformou numa poderosa escola de actores. Ε para esse grupo teatral foram traduzidas por ela, expressamente, a Medeia de Eurípi-des e a Antígona de Sófocles. Por isso, pensámos que seria uma boa forma de a homenagear oferecer a representação desta última peça — aliás aprovei­tando uma sugestão do Professor Trindade Santos que agradecemos e logo acolhemos de bom grado — e associar a esta nova encenação mais uma vez o TEUC que desde os primeiros momentos acolheu com entusiasmo a ideia e se comprometeu a realizar a exposição no mesmo dia inaugurada.

Mestre insigne que, com a sua docência e dedicação, tanto dignificou e engrandeceu o Instituto de Estudos Clássicos e a quem a cultura, o ensino e a Universidade portuguesa tanto devem, é para todos paradigma a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira.

ESTADIA EM COIMBRA DE SIR KENNETH DOVER

Em Outubro de 1995, dias 25 e 26, esteve em Coimbra Sir Kenneth Dover, da Universidade de St. Andrews, para fazer uma conferência e lec­cionar um seminário, uma iniciativa cultural realizada no âmbito do Mestrado em Línguas e Literaturas Clássicas.

A conferência, com o título "Gravity and levity in Aristophanes", versou um tema e um autor familiares a Sir Kennth Dover, As Rãs de Aristó-

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fanes, de que é um dos mais renomados especialistas e sobre os quais traba­lha há longos anos. Além de ter publicado em 1972 Aristophanic Comedy, um penetrante estudo sobre o teatro do comediógrafo ateniense, é autor das edições comentadas, saídas na prestigiada Oxford at Clarendon Press, das Nuvens (1968) e das Rãs (1993), com uma extensa introdução (125 e 106 páginas, respectivamente) em que são tratados os principais problemas levantadas pelas peças.

O seminário, subordinado ao título "Poetic Ingredients in Greek Prose Literature", abordou matéria que, na altura, era objecto da sua investigação, a prosa literária grega. A partir da análise de vários passos de autores e teorizadores literários (Tirteu, Sólon, Eurípides, Tucídides, Xenofonte, Isócrates, Platão, Aristóteles), a finura do grande helenista foi-nos mos­trando, ao longo do seminário, como os poetas e os processos literários dos poetas estão presentes nos prosadores gregos.

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ESTUDOS CLÁSSICOS

De acordo com a dinâmica ensaiada pela nova Direcção desta asso­ciação, a APEC tem promovido, ao longo do ano de 96, várias tardes cultu­rais dedicadas a temas previamente escolhidos. Foram quatro as sessões realizadas.

— 14 de Março, em Aveiro. Tema: "Recepção da Tradição Clássica". Doutor Aníbal Pinto de Castro (Univ. de Coimbra): A recepção das literaturas clássicas e a periodização da Literatura Por­tuguesa.

Doutor José Ribeiro Ferreira (Univ. de Coimbra): O tema do labirinto em três poetas: David Mourão Ferreira, José Augusto Seabra e Sofia de Mello Breyner.

Doutor Vítor Jabouille (Univ. de Lisboa): Tragédia e Literatura Portuguesa.

— 21 de Março, em Coimbra. Tema: "Renascimento".

Doutor Américo da Costa Ramalho (Univ. de Coimbra): A missão japonesa em Coimbra no Natal de 1585.

Doutor R. M. Rosado Fernandes (Univ. de Lisboa): Geografia e História Antiga em André de Resende.

Doutor Sebastião Tavares de Pinho (Univ. de Coimbra): Proble­mas de crítica textual no Humanismo.

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— 29 de Abril, em Coimbra. Tema: "Romance Grego".

Doutor Bryan Reardon (Univ. de Irvine, Califórnia): Le roman . grec antique: vue d' ensemble.

Doutor Jacyntho Lyns Brandão (UFMG - Belo Horizonte): O mundo do espectáculo no romance grego antigo.

Doutora Marília Pulquério Futre (Univ. de Lisboa): A recepção do romance grego na literatura do Renascimento.

Na mesma sessão, foi apresentado o romance de Cáriton, Quéreas e Calírroe, em tradução da Doutora Maria de Fátima Silva (Univ. de Coimbra), editado pelas edições "Cosmos".

— 8 de Maio, em Coimbra. Tema: "Romance Latino".

Doutor David Konstan (Brown Univ.): Amor e amizade no romance antigo.

Doutor Walter de Medeiros (Univ. de Coimbra): Do desencanto à alegria: o Satyricon de Petrónio e o Satyricon de Fellini.

Mestre Delfim Ferreira Leão (Univ. de Coimbra): Trimalquião. A humanitas de um novo-rico.

Quem desejar ser sócio da APEC poderá enviar o seu pedido de ins­crição para o Instituto de Estudos Clássicos — 3049 Coimbra — Portugal.

PINTURAS MINOICAS NO EGIPTO

A fascinante questão das relações culturais entre Egípcios e Minóicos recebeu nova contrapartida, em tempos da "Black Athena" e outras fantasias em curso. Trata-se da descoberta, em Tell el-Dab'a, a antiga Avaris, na parte oriental do delta do Nilo, de um palácio da primeira metade do séc. XVIII a.C. (ou seja, começos da 13.a Dinastia), de cerâmica minóica de Kamares e de um alfinete de ouro com dois cães simetricamente dispostos (comparável, portanto, ao conhecido "alfinete das abelhas"), e em seguida (sem que se encontrassem indícios do que se passou em duzentos anos trans­corridos) de pinturas minóicas do séc. XVI a.C.

A extraordinária novidade foi apresentada no Colóquio Egypt, the Aegean and the Levant, realizado no British Museum em Julho de 1992, tendo sido os seus trabalhos agora ampliados e publicados pela mesma insti­tuição e com o mesmo título, sob a direcção de W. Vivian Davies e Louise

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Schofield, em Londres, em 1995. Do conjunto destacaremos a comunicação do próprio autor da descoberta, Manfred Bietak, professor da Universidade de Viena, feita com a modesta epígrafe "Connections between Egypt and the Minoan World. New Results from Tell el-Dab'a/Avaris" (pp. 19-28).

Segundo este arqueólogo, as pinturas são em tudo semelhantes às de Creta: na técnica inconfundível dos Minóicos (combinação de pintura a fresco e em seco sobre gesso, desconhecida no Egipto antigo e no Próximo Oriente); uso das mesmas cores — branco, amarelo, vermelho, azul, cin­zento e negro, sendo o vermelho aplicado em figuras masculinas e o branco nas femininas —; temas, que privilegiam plantas e animais, mas incluem também acrobatas e os característicos "Saltos do Touro". O enigmático azul para representar o cabelo rapado, presente nos frescos de Terá, igualmente se encontra em Tell el-Dab'a. A qualidade da pintura, a vivacidade dos movimentos são semelhantes. "Não é uma arte provinciana" — conclui Bietak (p. 26), sugerindo depois, como simples hipótese, que a vinda de artistas minóicos para decorar o palácio poderá ter-se devido a um casa­mento inter-dinástico entre um príncipe dos Hyksos e uma princesa minóica. As relações entre as duas cortes poderiam, por outro lado, explicar a razão por que nos frescos de Cnossos e de Terá se encontram motivos nilóticos, como a paisagem com papiros e palmeiras e macacos.

No sarcófago de Haghia Triada teriam trabalhado artistas egípcios para honrar a memória de um chefe micenico, segundo geralmente se admite. Sendo assim, as novas descobertas em Tell el-Dab'a invertem a cronologia das relações artísticas entre os dois povos.

Μ . H. ROCHA PEREIRA

NOTICIAS DE TRÓIA

Desde que as escavações recomeçaram em Hisarlik, sob a direcção de Manfred Korfmann, de Tiibingen, e com a colaboração de muitas. Universi­dades europeias, americanas (designadamente a de Cincinatti, que conduzira a campanha arqueológica anterior) e ainda de Israel e da Turquia, que as novidades não param. Não vamos repetir o que a esse propósito temos escrito noutros lugares. Queremos apenas referir a última e das mais impor­tantes descobertas: a presença da escrita.

Trata-se de um sinete de bronze, de 1190 a 1040 a.C, que tem gra­vado de um lado o nome de uma mulher e do outro o de um homem, o qual parece ter sido o escriba. As palavras estão em hieróglifos hititas, um dos

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tipos de escrita que se empregava também para o lúvio. É, efectivamente essa língua indo-europeia que aí foi usada.

Ora, se o objecto não foi levado para Tróia por outrem, como parece ser o caso, mas existia no lugar, então impõe-se a conclusão de que os Troianos falavam lúvio (é curioso recordar que há umas dezenas de anos L. R. Palmer, num livro famoso, Mycenaeans and Minoans (London 1961), lançava a hipótese de ser aquela língua do grupo anatólio que estaria nas tabuinhas em Linear A). Ora é notável a concordância desta nova descoberta com os dados das fontes históricas da antiga capital hitita, Hattusa, onde se fala de Ilios (Wilusiya) e de Alaksandus (Alexandros, outro nome de Paris), como seu rei cerca de 1280 a.C. Ainda não há muitos anos, estas discutidas identificações tinham sido postas de parte no Colóquio de Liverpool, em 1981 (vide Lin Foxhall and John K. Davies, edd., The Trojan War, Its Historicity and Context).

As escavações em curso não põem em dívida que Tróia foi cenário de muitas guerras, uma das quais foi perdida na primeira metade do séc. XII a.C. (Tróia VII a), como mostram os vestígios a sudoeste da parte inferior da cidade.

O artigo de Michael Siebler, um dos colaboradores de Manferd Kor-fmann, do qual tomámos várias destas informações1, conclui com prudência: "Seria errado ver nisto uma demonstração da existência da Guerra de Tróia de Homero. Esta expedição dos Micenicos contra Tróia, com os seus famosos protagonistas Agamémnon e Aquiles, Príamo e Heitor, é literatura. Mantém-se a prova de que na Ilíada se contém um reflexo de uma certa guerra da época micénica tardia, quer ela seja de cerca de 1250 a.C. (Tróia VI) ou cem anos posterior (Tróia VII a). Mas que por trás da Ilíada podia estar um acontecimento histórico é o que se torna cada vez mais evi­dente, devido às actuais escavações".

Μ . H. ROCHA PEREIRA

VASOS GREGOS NO RIO DE JANEIRO

O Brasil teve a sorte de encontrar, na pessoa da Imperatriz Tereza Cristina, mulher de D. Pedro II, uma soberana sensível e culta, que canali­zou para o seu país de adopção muitas centenas de peças de cerâmica, lam-

1 Publicado na Frankfurter Allgemeine Zeitung de 23.10.95 e reproduzido em DieAntike 26 (1995) 472-473.

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parinas, estatuetas e outras antiguidades egípcias, gregas ou provenientes de escavações da sua pátria de origem, a Itália (algumas das quais por ela patrocinadas na sua propriedade de "Isola Farnese", outras pertencentes às colecções de seu avô Fernando I, rei das Duas Sicílias, ou da rainha Carolina Murat, esposa do general Murat, rei de Nápoles).

Os vasos gregos que continha, ocasionalmente referidos ou descritos por especialistas estrangeiros, alguns estudados por mestres da craveira de A. D. Trendall e de H. R. W. Smith, estavam recolhidos em armários envi­draçados no Museu Nacional da Quinta da Boavista, no Rio de laneiro, e nunca tinham sido sistematicamente analisados..

Entretanto formou-se no Brasil um grupo de arqueólogos, dos quais se destaca, na parte grega, a Prof. Haiganuch Sarian, da Universidade de São Paulo, que se especializou em Paris e na Escola Francesa de Atenas, pelo que foi finalmente possível organizar uma exposição sobre Cerâmicas Anti­gas da Quinta da Boavista e publicar o respectivo catálogo, com o mesmo título (Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes, 16 de Novembro de 1995 a 16 de Março de 1996). O livro, com colaboração de vários autores, compreende, além de outras peças, trinta e sete vasos, dos quais um coríntio, quatro áticos, cinco italiotas, dez campanienses, dois pestenses, dois lucâ-nios, dez apúlios e ainda três etruscos.

Depois do que se disse acima sobre a sua proveniência, não é de admi­rar que predominem francamente os originários da Magna Grécia. Vários têm os pintores identificados, as descrições são cuidadosas e as gravuras excelentes.

Esta colecção, agora devidamente tratada e estudada, vem pois jun-tar-se à do Museu Arqueológico da Universidade de São Paulo, ficando o todo a constituir, depois do Uruguai, o mais rico acervo de vasos gregos da América do Sul.

Μ . H. ROCHA PEREIRA

O MAUSOLÉU DE AUGUSTO

Semelhante, na configuração e nas dimensões, ao Mausoléu de Adriano (Castel Sant'Angelo), mas mais antigo, uma vez que o próprio Imperador o mandou executar ainda jovem e o concluiu em 28 a.C, a gran­diosa sepultura do Princeps foi liberta das construções que a ocultavam em 1938, como parte das celebrações do seu bimilenário.

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Ainda não visitável, volta, no entanto, a estar na ordem do dia, devido a descobertas recentes no seu perímetro. Efectivamente foi neste espaço que foi possível reconstituir, graças aos trabalhos de Edmund Buchner1, o Horo-logium Augusti. Ao mesmo conjunto monumental pertencem ainda a Ara Pacis Augustae e o Ustrinum (lugar de cremação do Imperador). Em longos trabalhos realizados com o concurso de outros arqueólogos nos primeiros meses deste ano, conseguiu ainda Buchner localizar, através da descoberta das bases, os dois obeliscos e o canal através do qual teriam sido transporta­dos, a partir do Tibre, para Roma, ainda por ordem do Princeps, cerca de 10 a.C. Esse canal seria a mesma obra de engenharia hidráulica que permi­tiu trazer para a Cidade Eterna outros dois obeliscos famosos — o do Reló­gio do Sol e o do Circus Maximus.

Mas faltava ainda localizar "um registo dos seus feitos, que ele dese­java fosse gravado em duas lâminas de bronze colocadas no exterior do Mausoléu", como se lê em Suetónio {Augusto 101), ou seja, as mais que famosas Res Gestae Divi Augusti, de que se conhecem cópias parciais, em grego e em latim, mas sobretudo o grande texto aparecido, em 1955, nas paredes do Templo de Roma e Augusto em Ancyra (hoje Angora). Edmund Buchner pensa ter encontrado o local onde se erguiam os dois postes de bronze a alguns passos da entrada do Mausoléu, isto é, tal como dissera Suetónio, ante Mausoleum.

A célebre inscrição, "não menos instrutiva pelo que omite do que pelo que diz", como escreveu Ronald Syme2, tem sido um dos pilares da reinter­pretação daquele que foi uma das figuras mais marcantes no destino da Europa. De novos dados, trazidos pela mão dos arqueólogos, pode haver ainda muito a esperar.

Μ . H. ROCHA PEREIRA

1 Uma primeira notícia sobre estas escavações foi dada pelo próprio autor em "Ein Kanal fíir Obelisken. Neues vom Mausoleum des Augustus in Rom", Die Antike Welt 27 (1996), 161-168.

2 The Roman Revolution (Oxford 1936), 523. O livro de E. S. Ramage, Nature and Purpose of Augustas' Res Gestae (Stuttgart 1987) contém uma bibliografia crítica da questão. Pode ver-se uma tradução portuguesa da inscrição em Romana (Coimbra, 2.a ed., 1994), 109-121.

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