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A Nova Dinâmica do Desenvolvimento Regional no Brasil: Globalização, Desigualdades Sócio-Econômicas e Integração 1
Silverio T. Baeta Zebral Fiho2 Wanderley Mariz 3
Centro de Estudos em Reforma do Estado (CERES)
Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) Fundação Getulio Vargas (FGV)
Praia de Botafogo, 190 – sala 1124 – Botafogo 22253-900 - Rio de Janeiro / RJ – Brasil
Tel: 55 21 5525099 - Fax: 55 21 5369409 e-mail: [email protected] / [email protected]
Julho de 1998
Resumo
É crescente a preocupação dos economistas e dos cientistas sociais com a crise do federalismo brasileiro e com os desequilíbrios sócio-econômicos entre as regiões do país. Tal preocupação advêm dos efeitos negativos que tais desequilíbrios produzem sobre a integração nacional, principalmente num ambiente de superação da unidade político-institucional tradicional - o Estado Nacional - por uma outra: a de novas regiões de vanguarda produtiva que desenvolvem sua própria institucionalidade e identidade econômica e, desta forma, iniciam uma corrida competitiva na atração de recursos privados e públicos necessários a seu desenvolvimento. O presente trabalho pretende lançar luz sobre este problema de modo a identificar a natureza, a ambiência e a evolução histórica do desenvolvimento regional desigual no Brasil. Quer ainda advogar a tese da emergência de uma nova dinâmica do desenvolvimento regional no Brasil caracterizada pelo surgimento de áreas de vanguarda produtivamente orientadas à exportação e pólos produtivos especializados. Esta dinâmica, teoricamente, deveria alimentar um processo de despolarização, e, por conseguinte, de continuidade da convergência das rendas regionais, iniciada no início dos anos 70. Entretanto, de acordo com os resultados do modelo teórico adotado, verificou-se que esse processo se arrefeceu em função da crise fiscal do Estado, do esgotamento da ampliação de novas fronteiras e dos novos elementos trazidos pela globalização e abertura econômica. Este arrefecimento sugere a necessidade da adoção de políticas públicas que redinamizem a despolarização, impedindo a reversão do quadro e contribuindo assim, para a redução das desigualdades sócio-econômicas entre as regiões brasileiras, incrementando a integração nacional.
1 Trabalho originalmente elaborado para o Centro de Estudos em Reforma do Estado da Fundação Getulio Vargas (CERES/FGV), com o apoio do CNPq/MCT. Posteriormente apresentado ao Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) para participação na 2ª. edição do Prêmio Senador Milton Campos, onde foi premiado com o 2º. Lugar, em março de 1999. 2 Pesquisador do Centro de Estudos em Reforma do Estado da Fundação Getulio Vargas (CERES/FGV)
3 Graduando do Departamento de Economia da Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e assistente de pesquisa no CERES/FGV.
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1. Introdução
A estabilização da economia certamente vem abrindo espaço para a discussão de
temas outrora obscurecidos ou mesmo, podemos dizer, relegados a segundo plano no
debate nacional. Em um cenário caracterizado pela preocupação emergencial com a
formulação de estratégias e ações que permitissem ao país superar o processo
inflacionário - no caso brasileiro este assumiu nuances e peculiaridades que tornaram
a questão da estabilização ainda mais complexa - praticamente não havia espaço
institucional para que aspectos estruturais da nossa economia fossem analisados com a
devida importância.
Nesse contexto, a consolidação do processo de estabilização, calçada nas reformas
institucionais que o balizam cria o ambiente para que, o país experimente um novo
ciclo de crescimento econômico. Diante dessa perspectiva, torna-se crucial o debate
acerca de qual o padrão de desenvolvimento desejado, para que esse processo de
crescimento não venha a agravar ainda mais o quadro de desigualdades já existente,
tornando-se insustentável no longo prazo.
Dentro dessa perspectiva, faz-se necessário aprofundar na identificação e discussão de
inovadores e diferentes aspectos que permeiam a problemática. A realidade da
economia neste final de século introduz elementos fundamentais para o
amadurecimento do tema, e consequentemente para a busca de alternativas políticas e
econômicas para o problema colocado.
1.1. Definindo Conceitos Fundamentais
As tentativas recentes de reconstrução teórica para a interpretação das questões de
localização e desenvolvimento regional têm sido fortemente influenciadas por
problemas específicos dos países industrializados (desindustrialização, por exemplo)
e/ou relacionadas com a emergência das indústrias de alta tecnologia. Embora
relevantes, essas interpretações não podem ser tomadas como paradigma totalizante
para análise do caso brasileiro, consideradas as especificidades estruturais e setoriais
de nossa indústria e a atual etapa de nosso desenvolvimento, necessitando adaptações.
Nesse sentido, conceitos como desenvolvimento poligonal e polarização reversa
serão aqui apresentados conforme posto em Diniz (1986,1987,1993), Lemos (1986) e
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Richardson (1980), de forma a prosseguir na tentativa de traçar, juntamente com a
assimilação de novos elementos que vem sendo incorporados à realidade
(globalização, revisão do papel do Estado, dentre outros), um padrão mais adequado à
situação brasileira.
O conceito de polarização reversa deve ser entendido como um movimento aonde as
tendências de polarização espacial da economia nacional dão lugar a um processo de
dispersão espacial para fora da região central, em direção a outras regiões do sistema,
conforme explicitado por Haddad (1997). Tais regiões capturam a maior parte das
novas atividades econômicas, consistindo em pólos de crescimento, que configuram-
se como os vértices do chamado polígono de desenvolvimento. Porém, os pontos
desse polígono não estão necessariamente interligados, determinando, nesse caso,
uma perspectiva de integração fragmentada, com segmentos espaciais que se
destacaram economicamente (as chamadas áreas de vanguarda), integrando-se com
parcelas do restante da economia brasileira ou ao mercado externo e constituindo
pólos de dinamismo diferenciados e, muitas vezes, desarticulados entre si.
A assimilação dos estudos teóricos relativos às noções de desenvolvimento poligonal
e polarização reversa são de extrema importância para que se possa traçar um
diagnóstico realista acerca da questão das desigualdades sócio-econômicas e suas
implicações na integração nacional, bem como para o entendimento das mais diversas
considerações sobre o tema. Na verdade, essas formulações são os principais
balizadores da ambiência do desenvolvimento regional desigual no Brasil, consistindo
no ponto de partida para a elaboração de um diagnóstico sobre a evolução recente do
quadro de desigualdades regionais.
Para a definição instrumental do conceito de integração propriamente dito,
amadurecendo as proposições de SOUZA (1996), a melhor alternativa seria comparar
fluxos de comércio entre as áreas, e derivar daí uma medida mais restrita do grau de
integração das mesmas. Porém, a dificuldade em obtenção dos dados referentes às
exportações e importações de cada unidade da federação tem impossibilitado essa
intenção na literatura recente, obstacularizando o desenvolvimento de um modelo
econométrico formal que leve em conta estas varáveis. Apesar desse entrave, é válido
colocar o raciocínio que envolve esse método, pois será abordado mais adiante,
quando da descrição do processo vivido pela economia brasileira nos anos 70 e 80.
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De acordo com esse procedimento, o grau de integração entre diferentes regiões é
indicado pela estrutura de fluxos inter-regionais de bens e serviços, onde uma
economia será mais integrada quanto maior for sua propensão a importar da outra
região. Assim, um aumento na demanda pelos produtos dessa região fará com que esta
aumente sua demanda de bens e serviços provenientes da própria área, de outras
regiões e do exterior. As ditas regiões-chave na geração da produção/emprego são
aquelas que exercem, simultaneamente, efeitos de encadeamento verticais (compra de
bens e serviços) e horizontais (vendas) acima da média do sistema. A reprodução
desse mecanismo, no longo prazo, vai tornar a estrutura produtiva de cada região mais
homogênea, reduzindo-se as desigualdades regionais. Além disso, a integração
econômica e diversificação interna de cada região contribuirão para que as crises
externas não exerçam um impacto tão intenso, na medida em que os seus efeitos
passam a ser distribuídos de forma mais equânime.
Cabe também colocar que a forma como será tratado, no transcurso deste trabalho, o
tema: Desigualdade Sócio-Econômicas e suas repercussões na Integração Nacional,
já faz uma superposição importante e necessária dos conceitos: Desigualdade e
Integração Nacional. Ao adotar o enfoque do desenvolvimento regional, parte-se do
princípio de que a questão da integração entre as regiões deve ser analisada segundo o
grau de desigualdade sócio-econômica entre as mesmas
Para fins do prosseguimento de nossa análise, entenda-se integração nacional como o
processo de redução das desigualdades sócio-econômicas relativas entre as regiões
nacionais.
1.2. Definindo parâmetros de análise
A articulação entre modalidades de medidas de desigualdades permite investigar
conseqüências destas últimas para a definição de tendências do processo de
integração.
Dessa forma, a análise das desigualdades sócio econômicas relativas basear-se-á,
dentre outros indicadores de desenvolvimento humano e econômico, em dois índices
fundamentais:
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a) Coeficiente de Gini: É medida mais freqüente de concentração de renda, calculada
através da análise da participação relativa da população na renda nacional. O índice é
construído a partir da relação entre parcelas (%) da população e suas respectivas
participações (%) na renda nacional.
c) Índice de desigualdade de Theil: Com este indicador, podemos decompor a
desigualdade total entre desigualdade entre regiões e intra-regiões.
1.3. O Verdadeiro Desafio
Todos essas perspectivas levantadas, que consistem no eixo fundamental de análise do
trabalho, têm como objetivo principal a constatação da hipótese central deste estudo:
a emergência de um uma nova dinâmica de desenvolvimento regional no Brasil,
fortemente relacionada com a ambiência da abertura econômica e globalização, e cuja
caracterizada principal é o movimento chamado de polarização reversa. Esse
movimento, até então, vinha contribuindo para diminuir as desigualdades entre as
Regiões. Porém, evidências recentes do arrefecimento da “desconcentração” levantam
dúvidas quanto a continuidade imediata do processo.
2. Antecedentes
2.1. Desenvolvimento e Integração: O passado revisitado
As desigualdades regionais com seus significativos impactos no processo de
integração nacional tem sido uma característica marcante da economia brasileira
desde os tempos coloniais. A partir de então, verificamos um padrão caracterizado por
uma série de grandes ciclos de exportação primária que dominaram o crescimento
econômico e, em parte, a ocupação territorial do Brasil até o século XX., aonde
regiões específicas foram beneficiadas em detrimento de outras, tornando-se a área
pólo de desenvolvimento do país.
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O primeiro importante produto de exportação no Brasil foi o açúcar, produzido
principalmente próximo à úmida zona litorânea do Nordeste brasileiro, conhecida
como a Zona da Mata. O ciclo da cana de açúcar predominou nos séculos XVI e
XVII, fazendo da Zona da Mata nordestina o pólo de desenvolvimento do país
naquela época. A medida que o século XVI foi chegando ao fim, a atividade
exportadora começou a enfraquecer, principalmente devido ao desenvolvimento de
uma crescente quantidade da oferta do produto nas colônias inglesas, holandesas e
francesas, que tinham acesso preferencial aos respectivos países de origem.
Uma nova “onda” de crescimento foi iniciada em 1869 com a descoberta do ouro na
região onde hoje situa-se o estado de Minas Gerais. Alguns historiadores afirmam que
o Brasil chegou a ser responsável por cerca da metade da produção mundial de ouro
no século XVIII. O ciclo de exportação de ouro mudou o centro de atividade
econômica do Brasil para o Centro-Sul, esvaziando a região Nordeste, outrora
promissora, e atraindo migrantes de toda parte do país. O incremento da mineração
também surtiu consideráveis efeitos de encadeamento, estimulando o
desenvolvimento da pecuária em áreas relativamente próximas e o desenvolvimento
acelerado do Rio de Janeiro como o porto por onde os metais eram escoados para o
mercado externo. O ciclo do ouro terminou no final do século XVIII, quando a
maioria das minas haviam-se esgotado.
A expansão do café do século XIX foi impulsionada pela melhoria dos padrões de
vida na Europa e na América do Norte, principalmente após a acumulação de capital
decorrente da Revolução Industrial. As exportações de café foram o instrumento de
crescimento durante todo o século XIX. Os efeitos de acumulação de capital da
economia paulista aprofundaram o dualismo regional entre o Centro-Sul e o restante
do Brasil. Na última parte desse século, a economia cafeeira transferiu-se para São
Paulo, e o centro econômico mudou gradualmente para essa região, onde permanece
até os dias de hoje.
Dessa forma, a substituição histórica de regiões economicamente favorecidas chegou
ao fim e a região Sudeste, que liderou o processo de industrialização, vai aumentar
significativamente sua participação no PIB até o início dos anos 70.
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3. Anos 50/Meados dos anos 80 – Concentração e “Desconcentração”
3.1. O Primeiro Momento: A expansão dos anos 50.
Nos anos 50, com o programa de metas de JK, pode-se dizer que o Brasil
experimentou seu primeiro grande ciclo de expansão, vivenciando um intenso
processo de substituição de importações. Para se ter uma idéia da magnitude desse
crescimento, observa-se que o País cresceu 5.7% em 1956, 5.4% em 1957, 16.8% em
1958 e 13.24% em 59. Nessa fase, consolidou-se no Brasil o parque industrial mais
moderno tecnologicamente e mais diversificado entre as nações do terceiro mundo à
época. Porém, a maciça concentração dos investimentos realizados na região Sudeste
e a falta de uma preocupação do governo em relação à questão regional fez com que
esse processo agravasse substancialmente o quadro de desigualdades sócio-
econômicas existente, bem como dificultam a integração das regiões periféricas ao
pólo dinâmico (região Sudeste) - daí a migração maciça de nordestinos para as
grandes metrópoles e os graves impactos sociais resultantes.
Em 1970, a região Sul do Brasil possuía um nível de esperança de vida ao nascer
cerca de vinte anos maior do que o Nordeste. O Estado de São Paulo isoladamente
absorveu 57% dos novos empregos criados no período de 1950 a 1970, e passou a
deter 58% da produção industrial do país e 50% da participação no total do emprego
industrial, enquanto o Nordeste passava de uma participação de 16.8% em 1950 para
10.3% em 1970. Já em 1960, o setor industrial ultrapassava o setor agrícola em termos
de participação no PIB nacional (Tabela 02).
3.2. O processo de “desconcentração”
A partir dos anos 70 a economia brasileira começa a presenciar um processo de
desconcentração, que apesar de não alterar substancialmente os níveis de
concentração espacial da atividade econômica e da renda na economia brasileira,
interrompeu a tendência secular de concentração espacial, acentuada com a expansão
econômica da década de 50.
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3.2.1. Desconcentração Regional e Intra-Regional
Nesse processo, a região (e o Estado) mais industrializado do País apresenta perda em
sua posição relativa em favor das regiões economicamente mais atrasadas (Diniz e
Santos, 1993). Em 1970, o Sudeste registrava uma participação de 65,5% no total do
produto interno a custo de fatores, passando para 62% em 1980 e 59,1% em 1995
(Tabela 01).
Outra forma de desconcentração é a intra-regional, evidenciada de forma mais clara
nas regiões que registram maiores níveis de renda por habitante: o Sudeste e o Sul.
No tocante ao Sudeste, a desconcentração se expressa na redução da participação da
economia de São Paulo no Produto Interno Bruto - PIB (de 39.4% em 1970 para
35.4% em 1985) e, sobretudo, no declínio relativo do Rio de Janeiro (de 16.7% em
1970 para 12.3% em 1985). Por outro lado, aumentam as participações de Minas
Gerais (8.3% e 9.8%, respectivamente) e Espírito Santo (1.2% e 1.7%) na economia
nacional.
Com relação à região Sul, esse processo de desconcentração foi menos expressivo,
evidenciando-se pela redução da participação do Rio Grande do Sul no PIB (8.6% em
1970 parta 7.9% em 1985) e pelo aumento da participação do Paraná (5.4% e 6.1%,
respectivamente) e de Santa Catarina (2.7% e 3.2%, respectivamente).
No Nordeste, todos os estados aumentaram sua participação no produto, com exceção
de Pernambuco, atentando-se para o crescimento significativo da economia baiana
que representava 3.8% do PIB nacional em 1970, e passou a 5.2% em 1985,
articulando-se fortemente à economia do Sudeste. No Norte, ao lado do aumento da
concentração no Pará e Amazonas - os dois estados que registram maior participação
no produto interno - verificou-se um incremento da participação de Rondônia. No
Centro-Oeste, todas as unidades federadas aumentaram seu percentual na economia
nacional, principalmente o Distrito Federal.
Além disso, as regiões cujo produto interno por habitante era inferior ao do País
apresentaram, entre 1970 e 1985, melhora sistemática de sua posição relativa,
aproximando-se gradativamente do valor 100 assinalado para o Brasil. O Sudeste -
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única região cujo produto por habitante em 1970 era maior do que o produto per
capita do país em seu conjunto apresentou uma redução também sistemática, partindo
do valor 153, no primeiro ano da série considerada, e alcançando 137 em 1985
(Tabela 03).
É importante levar em conta que essa convergência ocorreu tanto na fase em que a
economia brasileira crescia a taxas aceleradas (1970-75) - a exceção da região Norte -,
como na fase de desaceleração (1975-80) - excetuando-se a região Sul -, fase de crise
e instabilidade. Tal evidência significa que, de forma geral, em termos per capita, as
economias das regiões mais pobres cresceram mais intensamente na fase expansiva ou
desaceleraram menos na fase de declínio do que a região economicamente mais
adiantada.
3.2.2. Desconcentração Intra-Estadual
Nessa outra dimensão da desconcentração espacial, o caso mais investigado é o da
economia paulista, em que há perda da posição relativa da Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP) em favor das demais sub-regiões (Negri, 1992). Em 1970, a
RMSP concentrava 43.4% do valor da transformação industrial do País e 74% do total
de São Paulo; em 1985, tais indicadores eram, respectivamente, 29.4% e 56.6%. Em
contrapartida, as sub-regiões do interior aumentaram de forma significativa sua
participação na indústria nacional e na de São Paulo, conforme posto em Diniz e
Santos (1993).
Embora ainda não estejam disponíveis estudos a respeito da evolução econômica das
metrópoles nacionais - salvo para a Região Metropolitana de Porto Alegre, para a qual
também se verifica um processo de desconcentração (Bandeira e Grundling, 1986) -
análises mais recentes sobre a dinâmica demográfica, realizadas a partir de dados do
censo de 1991, registram um processo de reversão da metropolização, no qual o
crescimento populacional passa a se manifestar mais intensamente no centros
intermediários. Tais informações sugerem que a desconcentração intra-estadual possa
ter ocorrido de forma mais generalizada.
Um aspecto interessante dessa dimensão intra-estadual da desconcentração é que em
cidades de porte médio, como Vitória (ES) e Natal (RN) esse processo, em grande
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parte devido à estagnação econômica (basicamente “gargalos” de infra-estrutura e
mão-de-obra) do interior dos respectivos estados, ocorre uma desconcentração
desordenada e restrita, resumindo-se, basicamente em criação de novas aglomerações
no chamado “entorno” dessas cidades, reproduzindo fortes impactos na demanda e
oferta de serviços públicos e privados disponíveis nessa respectivas áreas.
Assim, as dimensões do processo de desconcentração mostram que este está associado
a novas formas de articulação das unidades da Federação e de sub-regiões no interior
de espaços maiores. Essa constatação coloca a necessidade de repensar uma nova
partição do território brasileiro que apreenda as novas formações regionais em curso.
3.2.3. A Distribuição da Grande Empresa
O processo de desconcentração também pode ser perceptível quando se considera a
distribuição da grande empresa no território brasileiro nas duas últimas décadas
Considerando-se as mil maiores empresas de todos os setores produtivos (Revista
Visão), percebe-se que o Sudeste que detinha 80.3% das empresas em 1975, passou a
concentrar 73.8% em 1980 e 62.8% em 1990; já no Sul, esses mesmos dados eram,
respectivamente, 10.9% e 14% e 15.4%; no Nordeste, 6.3%, 8.1% e 10.5%; na região
Norte, 0.9%, 1.8% e 3%; e no Centro-Oeste, 1.6%, 2.3% e 2.9%. Em Guimarães Neto
(1993), mostra-se que a desconcentração foi constatada tanto quando se considerou o
número de grandes empresas, como quando se levou em conta o seu faturamento ou
receita.
Porém, apesar do processo de desconcentração espacial, os grandes grupos
econômicos e conglomerados mantiveram, no mesmo período analisado, o mesmo
nível de concentração, com suas sedes localizadas no Sudeste e em São Paulo. Isso
acontece apesar do processo de desconcentração espacial que também atingiu as
empresas pertencentes à esses grupos. Ou seja, permaneceu concentrado o centro de
decisão, desconcentrando-se a base de operação do grande capital.
3.3. Causas e Fatores da Desconcentração Econômica
Dentre os múltiplos e complexos fatores explicativos do processo de desconcentração
espacial, podem ser considerados:
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3.3.1. Deseconomias de Aglomeração
À medida que a cidade se São Paulo se megapolizou, a partir da década de 50, tanto
os custos privados como sociais começaram a aumentar, tais como: elevação do preço
da terra, dos aluguéis e salários relativos, dos custos de co-gestão e infra-estrutura,
além da pressão sindical na área metropolitana de São Paulo. Essa elevação dos custos
de concentração gerou o que alguns autores costumam chamar de deseconomias de
aglomeração (Negri, 1992),
3.3.2. Infra-Estrutura
Avanço da infra-estrutura em direção a outros estados e regiões, destacando-se aí os
maciços investimentos estatais em rodovias (Belém-Brasília, por exemplo),
hidrelétricas (Itaipu e Tucuruí) e telecomunicações. Vale lembrar que o período de
“desconcentração” corresponde à criação dos grandes conglomerados de empresas
estatais destinados a atuar no setor de infra-estrutura (Telebrás, Embratel, Portobrás,
dentre outras);
3.3.3. Incentivos Fiscais
Políticas públicas e investimentos fiscais regionais, com destaque para as políticas
contidas no II PND. No que se refere à Amazônia e ao Nordeste, dentre os fatores que
influenciaram a implantação de empreendimentos de maior porte, deve-se considerar
as políticas de desenvolvimento regional e alguns dos seus mecanismos fiscais e
financeiro, em especial os da SUDAM e Banco da Amazônia (BASA), SUDENE e
Banco do Nordeste (BNB) e os da SUFRAMA. Do mesmo modo, no Sul e Sudeste, as
políticas de incentivo à exportação (soja, laranja, carne e outros produtos agrícolas), o
Próálcool, as refinarias de Paulínea e São José dos Campos e a Companhia
Siderúrgica Paulista S/A (COSIPA), além da implementação de instituições de
pesquisa associadas a investimentos produtivos, como a UNICAMP (Universidade
Estadual de Campinas) e o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica);
3.3.4. Ampliação das fronteiras agrícola e mineral
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O deslocamento geográfico dos investimentos em mineração atuaram no sentido da
desconcentração regional, uma vez que as indústrias orientadas por recursos naturais
ainda exercem (principalmente no auge deste movimento - segunda metade dos anos
70) peso significativo na estrutura econômica do país. Tais setores - metalurgia,
cimento, fertilizantes, agroindústrias - tendem a se localizar junto à fonte de matérias-
primas ou ao mercado potencial, indo na direção dessa expansão da disponibilidade de
recursos naturais.
3.3.5. Unificação do mercado nacional
Esse ponto está diretamente relacionado aos investimentos do Estado na ampliação da
malha rodoviária e telecomunicações, que criou externalidades positivas para a
interligação dos mercados de consumo e produção, ampliando os fluxos de comércio
entre as regiões, que, de acordo com SOUZA (1996), pode significar um grau maior
de integração.
3.4. A formação do polígono de desenvolvimento
A interação desse conjunto de causas e fatores apontou para o surgimento de pólos
dinâmicos, os quais formam os vértices do chamado polígono de desenvolvimento.
Essa região inclui o próprio Estado de São Paulo, podendo ser caracterizada como o
polígono BeloHorizonte-Uberaba-Londrina-Maringá-Porto Alegre-Florianópolis-São
José dos Campos-Belo Horizonte. Assim, excluindo-se a Área Metropolitana de São
Paulo, a região que vai de Belo Horizonte a Porto Alegre aumentou sua participação
na produção industrial do país de 33% para 51%, entre 1970 e 1990.
É importante ressaltar que a assimilação do conceito de desenvolvimento poligonal
não significa colocar que outras áreas situadas fora do “polígono”, não tenham
apresentado desenvolvimento. Como exemplos, podem ser citados o complexo agro-
industrial no submédio São Francisco e o químico na Bahia (Nordeste), o mineral e o
siderúrgico no Pará e a produção de produtos eletro-eletrônicos na Zona Franca de
Manaus (Norte)
4. Impactos na Integração Nacional
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O traço mais marcante das transformações verificadas no período foi certamente a
redução da importância relativa da atividade agrícola em favor das atividades
industriais. Os dados apontam que tais mudanças ocorreram principalmente nos anos
em que antecederam a década de 80. Inclusive entre 1980 e 1985 , percebe-se a
redução do ímpeto das transformações ou mesmo sua inflexão, com o setor agrícola,
em algumas regiões, voltando a ganhar posição relativa em detrimento do setor
industrial. Mesmo assim, o setor agrícola passou por transformações importantes nos
anos 60 e 70, principalmente no Sudeste e Sul.
4.1. Nordeste
Na região Nordeste, destaca-se a consolidação da indústria de bens intermediários
concentrada no setor químico, em particular a petroquímica da Bahia, que deslocou
para a região parte significativa dessa indústria. É importante também ressaltar o
desenvolvimento da industria tradicional, notadamente a de produtos alimentares, com
maior expansão dos cultivos voltados para a exportação e para o processamento
industrial, em detrimento das culturas voltadas para o abastecimento alimentar. A
participação dessas últimas no valor da produção agrícola nordestina passou de 46.7%
em 1970 para 62.1% no mesmo período (FUNDAJ, 1992). Em grande parte isso se
deve ao considerável aumento do cultivo da cana-de-açúcar, associado à produção de
álcool, que deu novo alento à economia canavieira nordestina. A indústria têxtil
também apresentou desempenho satisfatório no período.
No que se refere à atividade agropecuária, a recente produção de grãos na parte
ocidental da região, sobretudo no oeste baiano, e a produção agrícola irrigada, com a
formação de um complexo agro-industrial no submédio São Francisco (Araújo, 1994).
Outras atividades, que seriam extremamente importantes para o desenvolvimento da
região, tais como a moderna agricultura irrigada e a produção de grãos na parte
ocidental da região, ainda não influenciaram de maneira relevante as informações
estatísticas disponíveis.
4.2. Centro - Oeste
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A agropecuária do Centro-Oeste expandiu-se nos anos 70 e 80 de forma variada. O
efetivo bovino passou de 9.7 milhões de cabeças em 1970 para 36.1 milhões em 1985,
de acordo com dados censitários, o que representa expansão anual de 9.2%. A
produção de grãos cresceu significativamente, baseada principalmente na soja, cuja
produção passou de 24 mil toneladas em 1970 para 6.4 milhões em 1990; e no trigo,
que passou de 1.7 mil para 205.2 mil toneladas. A terceira vertente da expansão
agropecuária do Centro-Oeste foi a produção de cana-de-açúcar, com a produção
passando de 297.1 mil toneladas em 1970 para 14.1 milhões em 1980.
A presença de fatores de atração - maior disponibilidade de terras, implantação de
infra-estrutura econômica e incentivos fiscais atribuídos à Amazônia Legal, que
abrange parte do seu território, além da existência de financiamento do BNDES para
projetos agro-industriais e do grande número de programas governamentais voltados
para a agropecuária e agroindústria - tem levado à região grandes empresas e grupos
econômicos originários de outras regiões, principalmente da região Sul (Castro e
Fonseca, 1992).
4.3. Sul
Nas décadas recentes, a região Sul perdeu posição como região voltada à produção
agrícola e ganhou como região industrial. De fato, em 1970 e 1975, sua participação
no produto agrícola era de 33.4% e 36.1% respectivamente, e em 1985 registrava
apenas 27.1%; sua participação no produto industrial que era de 12% em 1970, passou
para 15.7% em 1985. Essas mudanças estão associadas, por um lado, à
desconcentração industrial que parte de São Paulo (Diniz e Santos, 1993) e, por outro,
ao crescimento da produção de grãos e pecuária no Centro-Oeste (Bandeira, 1994)
Embora verifique-se essa redução da participação da região Sul no produto agrícola
do País, a produção de grãos e carnes e a formação de complexos agro-industriais
garantem, para os estados da região, um importante papel no suprimento da demanda
interna e na participação da pauta de exportações do País. A atividade industrial na
região Sul do país apresenta-se de forma diversificada, inclusive associada à produção
agrícola, destacando-se: o pólo de couro-calçados com forte articulação com o
mercado externo; a indústria de bens de capital (máquinas, equipamentos e
implementos agrícolas) muito articulada aos complexos agro-industriais; a indústria
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de bens de consumo não-duráveis (ligada à produção de carnes e grãos); e o segmento
associado à indústria da madeira (móveis, papel e celulose).
4.4. Norte
Durante o período de “desconcentração” analisado (1970 - finais dos anos 80), houve
um significativo aumento na participação do grupo de bens de consumo duráveis e de
bens de capital no valor total da transformação industrial da região (de 5% em 1970
para 48% em 1985), o que está em parte associado à instalação de grande número de
empresas voltadas para a produção de eletroeletrônicos e eletrodomésticos na Zona
Franca de Manaus.
Além disso, os incentivos fiscais e financeiros da política regional coordenada pela
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM possibilitaram o
desenvolvimento de empreendimentos industriais em outras partes da região,
notadamente no Pará, destacando-se a atividade extrativa mineral e metalúrgica,
sobretudo a vinculada ao alumínio. Há autores que interpretam o surgimento e
consolidação do pólo siderúrgico de Carajás como o provável nascimento de uma
nova “região industrial” (Machado, 1992).
4.5. Sudeste
No Sudeste, destaca-se o processo de desconcentração das atividades industriais
ocorrido a partir da RMSP. Ressalta-se também uma maior diversificação produtiva
do Estado do Espírito Santo, sobretudo em relação à produção siderúrgica e de papel e
celulose, e também em Minas Gerais, tradicional fornecedora de produtos
industrializados intermediários para São Paulo e para o restante da economia nacional,
influenciada pela maior disponibilidade de infra-estrutura e pela sua proximidade com
as áreas de concentração industrial de São Paulo.
Aliás, no período analisado é latente uma maior integração entre as economias de
Minas Gerais e São Paulo, a partir do eixo São Paulo-Belo Horizonte, que se desdobra
na direção da sub-região do Triângulo Mineiro (Martine e Diniz, 1991). O Estado do
Rio de Janeiro, por sua vez, tem ficado a margem da desconcentração industrial
iniciada a partir da RMSP, reduzindo gradativamente participação relativa no total do
16
PIB nacional, onde representava 16,7% em 1970, 15.3% em 1975, 13.7% em 1980 e
12.3% em 1985.
De acordo com Negri (1992) é importante também ressaltar o papel desempenhado
pela sub-região do interior do Estado de São Paulo, onde destacam-se: os complexos
agro-industriais voltados para a soja, café, laranja, carne e cana-de-açúcar
(aproximadamente dois terços da produção nacional de álcool estão concentrados no
interior do Estado de São Paulo); o aumento da produção petroquímica (refinarias de
Paulínea e São José dos Campos, além do pólo petroquímico da região de Santos); o
pólo eletroeletrônico e de informática de Campinas e o complexo aeroespacial e da
indústria bélica de São José dos Campos.
5. Desigualdades Sociais
As transformações examinadas tiveram também sua correspondência na evolução dos
indicadores sociais. Em termos absolutos, em todas as regiões e tanto na fase de
expansão econômica dos anos 70 como na desaceleração da década de 80, houve
melhoria nos indicadores sociais: esperança de vida, mortalidade infantil, instrução e
saneamento básico. Porém isso ocorreu de forma desigual e com perda de intensidade
nos anos 80, em razão da crise econômica do País, da crise fiscal e financeira do
Estado nacional e da falência da maioria das políticas sociais.
Em relação à esperança de vida ao nascer, embora as informações revelem aspectos
de uma convergência em torno da média nacional para todas as regiões, apresentou
algumas particularidades. As regiões Norte e Nordeste além de convergirem para a
média nacional, melhoraram as suas posições relativas, enquanto o Sul e o Sudeste,
atingiram posições piores, convergindo para a média nacional, uma vez que situavam-
se bem acima desta. Sendo a média nacional igual a 100 (é conveniente trabalhar com
os dados em base 100 para se ter uma melhor visualização dos desvios), as regiões
Norte e Nordeste que apresentaram valores de 103 e 84, respectivamente, em 1970,
passam a 105 e 91 em 1988. As regiões Sul e Sudeste apontaram para 114 e 108 em
1970, passando a 103 e 104 em 1988. A região Centro-Oeste permaneceu com
posição praticamente inalterada, apresentando índice de 106 em 1970 e 105 em 1988
(Tabela 04).
17
Os dados referentes a mortalidade infantil apontam para um padrão distinto,
assumindo um comportamento divergente e mostram que o Nordeste possuía um
coeficiente de mortalidade infantil 29% superior ao coeficiente médio do País e em
1988 apresentou diferencial próximo a 68%. A região Norte, que em 1970 registrava
um valor ligeiramente inferior à média nacional, nos últimos anos passou a exibir
coeficiente um pouco superior ao do País. Nas regiões Sul e Sudeste houve uma
redução sistemática da mortalidade infantil em termos absolutos e em relação à média
nacional (=100), passando de 77 e 86 respectivamente para 62 e 71 (Tabela 05). O
mesmo padrão divergente foi constatado na participação da população de 15 anos ou
mais sem instrução na população total (Tabela 06), bem como na participação
relativa dos domicílios com abastecimento de água no total de domicílios (Tabela 07).
Na análise dos indicadores sociais das décadas de 70 e 80, observa-se. primeiramente,
uma maior concentração da pobreza no Nordeste, que, apesar de ter apresentado
maior expansão do produto por habitante, não conseguiu reduzir sua participação
relativa no número de pobres do País: em 1970 participava com 43.3% e alcançou
53% em 1988 (Tabela 08). Em segundo lugar, a pobreza brasileira passou a ser cada
vez mais urbana, com os pobres vivendo em centros urbanos passando de 35% do
total em 1970 para 50% em 1988.
As estimativas feitas Albuquerque e Vilela (1991), além de análise de Azzoni (1997)
mostram que o coeficiente de Gini (indicador de concentração de renda) assumiu
comportamento diferenciado, apontando para um nítido aumento da concentração da
renda nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste com os coeficientes aproximando-
se da unidade (quanto mais próximo a unidade, maior a concentração de renda),
enquanto que no Sudeste o coeficiente reduziu-se e no Sul permaneceu constante
(Tabela 09). É interessante observar a trajetória dos Índices de Gini registrados pelo
Ceará para os anos de 1970, 1980 e 1988 (0.616, 0.645 e 0.666) em contraste com a
performance do Estado de São Paulo (0.578, 0.543 e 0.555, respectivamente).
A evolução do coeficiente de Gini nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste mostra
que o crescimento econômico nessa regiões foram acompanhados por aumento de
concentração de renda. Em Neto (1995), coloca-se que a reversão do caráter
polarizado do desenvolvimento brasileiro não foi igualmente acompanhada por uma
maior convergência dos indicadores de mortalidade infantil, níveis de instrução e
18
saneamento básico nas áreas ou regiões que apresentaram crescimento mais acelerado,
reafirmando o caráter concentrador do crescimento econômico.
6. O Quadro Resultante (1970 – 1985).
Em geral, um processo de desconcentração pode, possivelmente, assumir aspectos
positivos no sentido em que as chamadas novas zonas de vanguarda geram em suas
áreas equipamento público e privado, tais como uma maior rede de hospitais, escolas,
comércio, e outras economias externas que atuarão inclusive como fatores de estímulo
para o próprio alargamento dessa fronteira de vanguarda . Por outro lado, um segundo
ponto a ser analisado são os aspectos motivadores de desequilíbrios provenientes
desse movimento entendido como polarização reversa. Dentre estes, dois se destacam,
a priori, com maior nitidez: a) nas regiões que outrora atuavam como pólo dinâmico
central, há indícios do surgimento de deseconomias, aonde o ambiente de dinamismo
característico perde força, abrindo espaço, em princípio, para o agravamento do
quadro de desigualdades (queda do ritmo de crescimento - ou até mesmo corte - dos
postos de trabalho, possível redução na taxa de formação de capital bruto com
impactos na produtividade da economia, a investigar); b) a própria continuidade desse
processo dinâmico nas chamadas regiões de vanguarda geram novas demandas que
muitas vezes o processo em curso não é capaz de suprir.
No período aludido, tantos os efeitos positivos quanto os negativos acima
apresentados foram verificados, cada qual de diferentes formas, em locus
determinados e em sub-períodos distintos. Entretanto, o que nos interessa é que,
apesar do movimento de desconcentração verificado a partir do início dos anos 70,
com as decorrentes transformações na estrutura produtiva e no intercâmbio comercial
das regiões, ainda persiste significativa heterogeneidade na sociedade brasileira,
heterogeneidade esta que tem como base uma desigualdade de renda e de condições
sócio-econômicas, com marcante viés locacional (diferenças acentuadas entre regiões
geográficas).
No território brasileiro, convivem regiões, sub-regiões e unidades federadas com
níveis de renda e de vida muito baixos e outras, cujos indicadores sociais e
econômicos se aproximam aos de países mais industrializados. Essas desigualdades
referem-se não mais exclusivamente a espaços economicamente independentes ou
19
autônomos, mas dizem respeito a economias regionais ou sub-regionais intensamente
articuladas no comércio e integradas através de grupos e conglomerados econômicos
presentes em várias regiões, fazendo a soldagem de um sistema produtivo
espacialmente disperso, mas articulado.
Vale reafirmar que, nesse período, o Estado brasileiro era o único “ator social” capaz
de funcionar como o agente propulsor do processo de desconcentração, seja através da
oferta de infra-estrutura e de incentivos fiscais, do fornecimento de crédito e
incentivos financeiros e, sobretudo, da articulação dos capitais envolvidos. No início
do período referido, em especial nos anos 70, a chamada Doutrina de Segurança
Nacional (ESG 1972) norteava as políticas públicas relativas à questão da integração
nacional. Essa lógica será rompida mais adiante pela emergência de novos atores
sociais e pelo esgotamento da capacidade de investimento do Estado, diante de sua
crise fiscal, dentre outros fatores.
7. Anos 90 – A Nova Dinâmica do Desenvolvimento Regional
7.1 Globalização e a nova unidade geo-política
A partir do início dos anos 90, novos e contundentes elementos, tais como
globalização, reforma do Estado, polarização reversa, desenvolvimento poligonal,
novas regiões de vanguarda e integração fragmentada, vão se agregando ao estudo do
tema, determinando um novo e complexo paradigma de análise.
Este paradigma está determinado pelo processo de desintegração do Estado Nação, e a
perda de seu status de unidade fundamental da análise político-econômica das
relações internacionais e das análises político-institucionais das sociedades nacionais,
para o que Ohmae (1993) chama de regional-state.
No ambiente de globalização, uma nova divisão internacional do trabalho rompe as
tradicionais fronteiras do Estado Nacional, determinando o confronto entre áreas
específicas que não necessariamente integram um mesmo Estado-Nação ou, que,
também, não obedecem outras classificações previamente estabelecidas.
20
Este confronto traduz-se na adoção de estratégias de inserção econômica e
desenvolvimento social próprias por sub-regiões, pólos ou clusters produtivos. Tais
estratégias estão baseadas, em grande medida, na identificação de um papel a
desempenhar dentro de um determinado processo produtivo, agora com etapas
internacionalizadas. Estas estratégias são específicas, pois definem-se em função das
economias externas locais que permitem a obtenção de vantagens competitivas em
determinadas etapas produtivas, de determinados processos relativos a determinado
produto. Esta estratégias são autônomas, pois a “construção” ou ampliação destas
vantagens competitivas requerem do governo nacional a condução de ações e medidas
de política econômica - no que diz respeito ao padrão de inserção no comércio
exterior – especiais (vide o caso de cidades como Xangai e Hong Kong). Em alguns
casos, o próprio Estado Regional recebe autonomia parcial de direito para definir
alguns parâmetros de seu comércio exterior.
Essa nova realidade torna a implicação das desigualdades sócio-econômicas regionais
na integração nacional ainda mais complicada. O processo de incremento da
integração entre regiões nacionais – quando entendido como o resultado final da
diminuição dos hiatos sócio-econômicos - também passa a não obedecer a critérios de
fronteira previamente estabelecidos.
As transformações ocorridas na economia brasileira, destacando-se aí os efeitos da
globalização e da abertura comercial, vêm corroborar essa colocação, uma vez que,
as diferenças sócio-econômicas dentro dos próprios Estados e/ou Regiões têm se
mostrado de forma cada vez mais latente. Como exemplos, podem ser citados a
reconcentração regional dentro do próprio Estado de São Paulo e contradições
verificadas em Estados como Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, aonde
existem áreas de desenvolvimento acelerados e áreas estagnadas ou decadentes.
Também merece ser citada, na Região Nordeste, a disparidade entre a problemática
área do semi-árido vis-a-vis o fortalecimento de indústrias intensivas em de mão-de-
obra principalmente no entorno das Regiões Metropolitana de cidades de porte médio
(Fortaleza e Natal, por exemplo).
Esse novo sistema, caracterizado por vanguardas produtivas regionais, reforça a
necessidade de se flexibilizar a nomenclatura tradicional utilizada para a análise das
21
regiões (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, Centro-Oeste), impondo um nova metodologia
de análise da dinâmica dos desenvolvimentos regionais, uma vez que na realidade
atual convivem áreas-pólo e regiões-chave não mais identificadas com recortes geo-
políticos internos.
Além disso, a globalização também tem como uma de suas principais características
a velocidade e disseminação das tendências que nela se manifestam, indicando a
necessidade de urgência com que deve ser tratada a questão.
7.2. Abertura Comercial e Nova Dinâmica do Desenvolvimento Regional.
A abertura comercial, do modo como foi conduzida, inaugurou uma nova lógica do
desenvolvimento regional nacional através de dois de seus produtos: a) o surgimento
de áreas de vanguarda em regiões desfavorecidas com viés eminentemente exportador
e competidoras em preço, e b) o processo de ajuste industrial do período 1991-1994.
Ambos se complementam e se confundem.
O processo de abertura comercial, desencadeado no início dos anos 90, vem
reproduzindo fortes impactos na economia brasileira. O processo de
“desconcentração” ou polarização reversa teve como pano de fundo uma economia
cartorial, protegida, que criava um mercado cativo para os novos pólos de dinamismo
que se desenvolveram no período e principalmente para que a região mais
industrializada escoasse a sua produção. Além disso, a prática de uma taxa de câmbio
tida por alguns economistas como sobrevalorizada - âncora principal do programa de
estabilização implementado em 1994 (Plano Real) -, atuou como reforço ao aumento
das importações, impactando em diversos setores da economia.
A “substituição” de produção nacional - em determinados setores - por produtos
importados certamente implicou em fechamento e transferência de inúmeras
empresas, modificando a divisão inter-regional do trabalho e a integração produtiva
entre as regiões. Competindo em preços com a presença de novos produtos
estrangeiros no mercado nacional, as indústrias localizadas principalmente na Região
Sudeste passam por um dramático processo de ajuste industrial, que resulta, após
alguns anos, na migração parcial inter-regional da produção industrial de menor valor
agregado para regiões menos desenvolvidas como o Nordeste e o Centro-Oeste – à
22
busca da menores custos de mão-de-obra, dada a intensividade em trabalho – e da
produção industrial de maior valor agregado para regiões ao menos tão desenvolvidas,
como a Região Sul – à busca de maior escolaridade da mão de obra, menores
deseconomias de aglomeração e proximidade com os demais países do Mercosul.
Como exemplos do primeiro caso podem ser citados os anúncios recentes de
transferências de plantas têxteis e de calçados para o Nordeste, bem como a
implantação de grandes projetos de produção de celulose na Bahia. No caso da Região
Sul, ressalta-se a instalação de duas plantas automobilísticas de novas montadoras no
entorno da capital gaúcha e no interior do estado do Paraná.
A abertura comercial deve ser incorporada como um elemento intransponível,
implicando necessariamente na subversão da estratégia de desenvolvimento do
passado recente (para dentro, no sentido de povoar o interior e ampliar as fronteiras
para Centro-Oeste e Norte) pela moderna estratégia de estimular o desenvolvimento
de pólos específicos onde estejam presentes economias externas adequadas à
transformação de vantagens comparativas locais em “vantagens competitivas”, de
acordo com a teoria de Ricardo revistada em Porter (1996).
7.3. Integração Nacional e Integração Internacional
Como então se conjugam os processos de integração internacional destas áreas de
vanguarda com o exterior e o processo de integração destas regiões internamente. Isto
chega a configurar um problema ? Fishlow (1996) acredita que a resolução da tensão
entre globalismo e regionalismo é conciliável. Segundo ele (...) “é inclusive mais
apropriado considerar este último como parte e/ou desdobramento do movimento de
globalização”.
Essa realidade reforça a necessidade de elaboração de estratégias de integração
regional externa (blocos entre países) em concomitância com estratégias de
desenvolvimento “internas”, de forma que o engajamento inevitável nos blocos
internacionais não venha a agravar ainda mais o quadro de desequilíbrios entre as
regiões brasileiras.
7.4. A formação de clusters industrais
23
Todas estas características do processo de abertura comercial e suas conseqüentes
concorrências internas vêm abrindo espaço para iniciativas de inserção locais e
alternativas – em geral, regionalmente coordenadas – como por exemplo, a formação
de clusters produtivos - alternativa a um modelo de inserção aproveitador do sistema
de global sourcing.
Caracterizados pela concentração geográfica de atividades econômicas similares e
complementares – nos quais emerge uma conjunto de serviços de suporte à produção,
infra-estrutura especializada etc.. – os clusters começam a surgir como um novo e
interessante mecanismo de desenvolvimento regional, onde a interação entre os
diversos agentes facilita o contínuo surgimento de inovações, o aprendizado conjunto
e a eficiência coletiva. Exemplos internacionais de sucesso podem ser observados no
caso do Silicon Valley, na Califórnia, e na chamada Terceira Itália.
Embora este novo padrão de organização industrial - que congrega locacionalmente
empresas produtoras e fornecedoras, centros de aprendizagem profissional, centros de
tecnologia e pesquisa aplicada e instituições e mecanismos de fomento a produção
direta e a inovação tecnológica – seja uma opção organizacional distinta ao global
sourcing (apresentado anteriormente e caracterizado pela fragmentação internacional
das cadeia produtivas), não há incompatibilidade entre ambos, posto que um cluster
pode limitar-se a determinada etapa do processo integrando-se a rede internacional de
produção. .
No mecanismo de impulsão do desenvolvimento regional em regiões menos
favorecidas, a iniciativa privada tem sido o protagonista no processo – em contraste
com os projetos e programas de desenvolvimento regional dos anos 70. Todavia, a
condução do processo de implantação dos clusters (chamados em alguns casos de
distritos industriais autônomos) congrega os mais diversos atores sociais regionais,
reservando aos governos estaduais, o papel de facilitador e catalizador, limitando-se à
articulação do fornecimento de infra-estrutura básica e/ou especializada. Esta, em
muitos casos, é operada por parcerias entre agentes exclusivamente privados. Este
tipo de iniciativa tem como exemplo o Grupo Executivo da Iniciativa pelo Nordeste
(GEIN) – destinado a fomentar a formação de clusters na região - surgido por
iniciativa de empresários regionais, pelo esforço de governos estaduais e locais da
Região, sob a orientação do Banco Mundial.
24
7.5. O problema tecnológico
Um olhar mais aguçado para a competição internacional como estratégia de melhoria
do bem-estar sócio econômico da população local, e por conseguinte, para a
diminuição do hiato relativo das desigualdades de renda, pode sugerir um obstáculo à
continuidade da despolarização, em função do recrudescimento de fatores de atração –
no que pese o contínuo incremento de fatores de expulsão nas grandes aglomerações
que sofrem com largas deseconomias.
Trata-se da sustentabildade de longo prazo do desenvolvimento baseado nos ganhos
de competitividade e produtividade voltados para o fator preço. A resposta à este
importante questionamento sugere uma pequena digressão, apresentada a seguir:
Como vimos, pode-se afirmar, em certa medida, que entre os anos 50 e 70, era
possível conduzir um processo de desenvolvimento num espaço estritamente nacional.
O modelo produtivo keynesiano de produção em massa não foi complementado por
um padrão de distribuição de renda que garantisse o desenvolvimento de um mercado
interno, impedindo a expansão dos sistemas de produção, bloqueando economias de
escala, que, por conseguinte, permitiu a sobrevivência dos oligopólios e reduzido grau
de competição. O desenvolvimento industrial contribuiu para o problema da hiper-
concentração regional: na ausência de uma expansão previsível e viável, as indústrias
modernas concentraram-se em torno de alguns centros urbanos, que foi acompanhada
da concentração da riqueza e da pobreza. O modelo de produção em massa deixou de
ser o princípio propulsivo da economia mundial em meados dos anos 70. A este
modelo, o chamado substituição de importações, sobreveio um aumento do comércio
internacional sem precedentes no período 70-94 (a produção mundial dirigida ao
mercado internacional saltou de 10% para 26% do total), acompanhada das duas crise
do petróleo e da crise da dívida externa dos países latino-americanos, a década
perdida e, finalmente a inserção com quinze anos de atraso do Brasil na economia
internacional através de commoditties e produtos semi-elaborados exportáveis e
competitivos em preço .
Porém, estas áreas de vanguarda, muitas vezes, estão aprisionadas (em função de
especificidades de ativos e outras especializações produtivas) à um círculo vicioso de
25
competição de preço, cuja tendência atual é o caminho “ladeira abaixo”, com redução
de margens brutas e excedentes do produtor.
Como aponta Stroper (1994), como áreas consumidoras (e não produtoras) de
tecnologia, estas regiões estão ainda “atreladas a um ritmo menos veloz de inovação e
à uma certa defasagem tecnológica, somente recuperada num segundo momento do
ciclo de vida de um produto, quando o ritmo continuado da inovação já diminuiu e o
processo de produção se padronizou”
Neste sentido, é imprescindível que algumas dessas áreas de vanguarda possam
alcançar os níveis tecnológicos das firmas dos países exportadores de tecnologia.
Cada país inserido na economia mundial tem algum complexo industrial regional (ou
diversos) deste tipo, pois somente produtos competitivos em tecnologia podem ser
vendidos a preços mundiais que sustentem altos níveis de salários e de acumulação de
capital, e assim, gerem excedentes nos mercados internacionais para financiar o resto
do processo de desenvolvimento e de redução das desigualdades
8. Evolução Recente das Desigualdades Regionais: uma Análise Empírica.
A partir dos dados referentes à renda per capita dos Estados e Regiões como
proporção da renda per capita nacional entre os anos de 1970 e 1995, e conforme
realizado em Ferreira (1998), constrói-se o chamado Índice de Theil, de forma a
decompor a desigualdade total entre as regiões da federação.
Índice Theil / Desigualdade Inter-Regional – Lr :
L = Σ r ( 11 , 25) p r ln (pr/yr)
Onde, pr = participação da região r na população do país; yr = participação da renda da
região r na renda interna; Σ = operador da soma e ln = logarítmo natural.
Para que se tenha uma situação em que todos as regiões apresentem a mesma renda
per capita, ou seja, uma distribuição inter-regional da renda perfeitamente igualitária,
o índice de Theil-Lr deverá ser igual a zero. Um maior diferencial positivo deste
número em relação a zero significa um maior diferencial entre as rendas per capita das
26
regiões, apontando para um nível de desigualdade sócio-econômica maior. Os dados
utilizados nessa análise estão dispostos nas tabelas 11 e 12 do anexo.
A evolução do índice Theil-Lr sugere que o período 1970-95 pode ser dividido em
duas fases distintas, no que diz respeito ao processo de convergência entre as rendas
per capita regionais no Brasil. Em uma primeira fase, de 1970 a 1986, esse índice
tende a se reduzir de forma contínua e relativamente rápida, alcançando em 1986,
0,0867, um valor equivalente a pouco mais da metade daquele observado em 1970
(0,1482). A partir desse ponto, passa a registrar, em média, uma estabilidade entre
1987 e 1995 (0,0870 e 0,0870 respectivamente, após ligeiras flutuações) .
Quando são analisados os dados referentes ao Índice de Theil-L relativos à
distribuição de renda interestadual, os resultados obtidos por Ferreira (1998) não
apresentam diferenças significativas em comparação ao enfoque regional.
Conclui-se, portanto, que o movimento de desconcentração iniciado nos anos 70 é
manifestado através de uma maior convergência entre as rendas regionais, e que este
movimento vêm dando sinais de arrefecimento desde meados dos anos 80.
9. Avaliações e Perspectivas
Os resultados obtidos pela análise quantitativa e dados mais recentes referentes à
evolução da participação relativa de cada região no PIB brasileiro (1985-1986),
constatam, não somente um esgotamento do processo de “desconcentração”
econômica, mas também sérios indícios de uma tendência de reconcentração do PIB
na Região Sudeste. A participação da Região Sudeste foi ampliada, segundo os dados,
de 59.1% em 1985 para 62.6% em 1996, enquanto a participação conjunta das
Regiões Nordeste, Centro-Oeste, Norte e Sul, no mesmo período caiu de 40.8% para
37.4%.
O arrefecimento do processo de desconcentração através da polarização reversa, pode
ser visto como resultado de que a maior parte das forças que desencadearam esse
movimento a partir dos anos 70, cessaram de operar, ao menos em parte. Este
arrefecimento ocorre mesmo à despeito das iniciativas de formação de ilustres
industriais no Nordeste e da migração inter-regional da indústria para fora do eixo
27
Rio-São Paulo. Possivelmente, a redução dos investimentos públicos em infra-
estrutura básica e dos incentivos fiscais e subsídios diante da crise financeira vivida
pelo Estado brasileiro, além da perda de impulso do processo de ocupação de novas
áreas do país que levou à expansão da fronteira agrícola e mineral, somados à crise
econômica que atingiu mais fortemente os Estados mais endividados, tenham
determinado esse novo movimento.
O processo de interrupção na convergência das rendas, já verificado empiricamente,
pode ser dramatizado – ou até mesmo, no longo prazo, revertido em divergência – se a
existência do “problema tecnológico” apresentado na seção anterior persistir.
Problema este que dificulta a sustentabilidade (sempre no longo prazo) do processo de
criação de novos pólos dinâmicos, além da manutenção e expansão de alguns já
existentes.
Vale lembrar, que, diante da ambiência de globalização e abertura econômica, o
crescimento econômico tende a ser intensivo em ciência e tecnologia, dificultando a
posição das regiões mais distantes dos centros de pesquisa avançada, a ver justamente
aquelas situadas em posição desfavorável no quadro de desigualdades (Norte,
Nordeste e Centro-Oeste).
O fato de o PIB brasileiro, ter apresentado, neste período (85-96), taxas positivas
(embora moderadas) de crescimento, corrobora os indícios de que o crescimento
econômico pode estar associado a um movimento de reconcentração econômica
regional, conforme colocado em Haddad (1997) e na seção anterior.
A configuração dessa perspectiva deve servir de alerta para que a questão do
desenvolvimento regional não continue obscurecida na agenda de debates sobre os
grandes temas nacionais e que se dê ao debate o caráter estratégico e a visão de longo
prazo que ele merece. .
10. Políticas Públicas Alternativas
10.1. Apresentação
28
Abaixo apresenta-se um rol de alternativas de políticas públicas e privadas para a
redução dos desequilíbrios sócio-econômicos inter-regionais no Brasil, de modo a
obter repercussões ditas “positivas” sobre o grau de integração regional, contribuindo
para um desenvolvimento regional mais equilibrado e menos excludente.
Quanto aos atores sociais envolvidos, serão apresentadas as estratégias e ações
adotadas pelo setor privado e por entidades de terceiro setor ligadas a questão regional
(institutos de pesquisa, gestores de programas sociais) e pelo poder público (a nível
federal, estadual e municipal) no trato da questão da desigualdade e da integração,
com especial atenção para as ações de planejamento estratégico em pólos produtivos.
Destacam-se ainda os desafios a serem enfrentados no próximo século, oportunidades
a serem aproveitadas e obstáculos a serem contornados.
10.2. Diretrizes fundamentais
De modo geral, é possível construir diretrizes conceituais que norteiem a
implementação de políticas de desenvolvimento regional. Estes pressupostos devem
permear a análise da efetividade de determinado um conjunto de ações selecionadas e
articuladas que venha a constituir uma política de governo.
Ao se discutir as políticas públicas e privadas a serem eventualmente implementadas,
é necessário ter em vista os novos papéis que os agentes econômicos vem assumindo
com as transformações recentes da economia brasileira, aonde sobressaem-se novos
mecanismos de articulação entre Estado e Sociedade Civil para a formulação de
estratégias de desenvolvimento. O setor privado vem assumindo novas
responsabilidades, passando a atuar em setores outrora monopolizados pelo Estado,
dentre os quais se destaca a área de infra-estrutura - elemento essencial para o
desenvolvimento sustentável.
Por outro lado, quanto à adoção de políticas públicas nessa direção, cabe questionar
até que ponto o Estado, na atual crise fiscal em que se encontra, deve se envolver em
políticas compensatórias e/ou ativas no tratamento das desigualdades geradas por essa
nova dinâmica. É importante atentar que no último grande ciclo de crescimento
presenciado pela economia brasileira, as políticas públicas compensatórias e ativas
foram muito importantes no sentido de que o quadro de desigualdades não se
agravasse ainda mais. Porém, na atual crise financeira em que se encontra o Estado
29
brasileiro, dificilmente poderá se contar com esse dispositivo em uma nova fase de
crescimento.
Nesse sentido, tanto para as responsabilidades do setor público quanto do setor
privado, tenha-se em vista a necessidade de soluções conseqüentes, pertinentes e
viáveis do ponto de vista fiscal, operacional e político. Caso contrário, qualquer
iniciativa significará uma contribuição meramente retórica.
Vale lembrar que as políticas sugeridas abaixo devem responder ao novo modelo de
inserção externa de economia brasileira e, consequentemente, à nova dinâmica
regional ora em curso, caracterizada pela necessidade imperativa da dinamização
produtiva para o setor externo de pólos produtivos integrados em eixos de
desenvolvimento. Estas políticas devem estar adequadas ao mais latente paradoxo da
globalização: o fortalecimento do papel das regiões, e mesmo de espaços localizados e
o crescimento da importância de sua integração sistêmica .
Cabe ainda aos policy-makers identificar regiões/eixos-chave de desenvolvimento,
selecionando aquelas que exerçam, em maior grau e simultaneamente, efeitos de
encadeamento horizontal e vertical (medidos pelas vendas e compras de bens e
serviços respectivamente). Investimentos realizados nestas regiões teriam o poder de
provocar maiores impactos no resto do sistema, maximizando o crescimento da
produção e do emprego. Esta identificação é fundamental para a formulação de
políticas vencedoras e redutoras de desigualdades regionais.
Desta forma, de modo geral, tais políticas devem:
a) adequarem-se à nova ambiência de abertura econômica e globalização, e por
conseguinte a nova lógica do desenvolvimento regional por ela engendrada,
internalizando seus novos elementos e padrões como realidades objetivas .
b) estar identificadas e em conformidade com um projetos local de desenvolvimento
elaborado em conjunto com a sociedade organizada local. Tais projetos devem
envolver principalmente a formulação de uma visão do desenvolvimento
30
c) articularem-se particularmente com os projetos locais de dinamização do setor
exportador local, incorporando à políticas de desenvolvimento e integração
regional, elementos relativos à integração da região de referência aos fluxos de
comércio e aos processos produtivos internacionais
d) objetivar esta visão do desenvolvimento através de programas autônomos,
nominados, identificáveis, locais e inter-articulados
e) redefinir o antigo modelo de atuação do Estado na implementação das políticas e
ações de desenvolvimento com o intuito de corrigir as desigualdades abandonando
a priorização de grandes projetos de viés colonizador. Tais projetos, embora
contribuíssem para a integração da região de referência com as demais, não
impactavam significativamente a cadeia produtiva, uma vez que praticamente não
existia articulação ou integração entre a frágil base produtiva local.
f) reduzir de custos de transação relativos a integração dos pólos produtivos em
eixos de desenvolvimento estratégicos
g) implementar-se através da descentralização das ações e projetos, respeitando-se o
princípio da subsidiariedade
h) atentar para a sustentabilidade dos programas e projetos autônomos, garantindo às
regiões mais atrasadas livre acesso a capitais e tecnologia.
i) maximizar a geração de economias externas e minimizar as deseconomias de
aglomeração à nível local.
10.3. Sugestão de políticas públicas e privadas
As políticas aqui indicadas pretendem servir de estímulo ao desenvolvimento regional
mais integrado das regiões produtivas brasileiras, de acordo com os desafios a serem
enfrentados no próximo século, tudo de acordo com as oportunidades sistêmicas e
setoriais, limitadores e potencialidades identificadas ao longo deste trabalho.
31
As políticas sugeridas concentram-se em torno da ação do Estado. De modo geral, as
ações relativas ao planejamento e desenvolvimento regional são atividades “típicas de
governo”. Parece claro, entretanto, que, em função da crise fiscal do Estado, arranjos
inter-institucionais diversos terão de ser implementados para garantir a necessária
participação dos demais atores sociais na formulação, implementação e avaliação de
tais políticas. Estão apontadas ainda algumas ações de caráter acessório, a serem
desenvolvidas pelo setor privado e por entidades não governamentais. Estas ações,
apesar de não agirem diretamente sobre os problemas identificados, podem gerar
economias externas e uma ambiência institucional adequada à implementação,
eficácia e eficiência das políticas públicas fundamentais.
Vale destacar que a efetividade e o custo fiscal de tais políticas alternativas aqui
arroladas para o trato da questão identificada como central – garantir um
desenvolvimento sócio-econômico relativamente equilibrado e convergente dos
diversos pólos produtivos do país e de suas regiões de influência em função da nova
dinâmica do desenvolvimento regional identificada – devem ser posteriormente
estudados com mais vagar. A perfeita identificação de políticas prioritárias e
acessórias, de curto e de longo prazo, mais ou menos custosas, dar-se-à na medida em
que o arrefecimento da tendência de despolarização se consolidar, recrudescer,
reanimar-se ou mesmo, reverter-se de vez em polarização. A avaliação da “eficiência
alocativa” de tais políticas e de sua efetividade estará sempre condicionada ao sentido
da tendência do processo.
10.3.1. Políticas de desenvolvimento e integração
Mecanismos institucionais de participação social
As ações devem resultar de amplo processo participativo que busque a convergência,
a parceria, a qualidade e a sustentabilidade dos processos. A gestão participativa do
projeto de desenvolvimento regional pressupõe:
a) visão ampliada do espectro dos atores sociais, incluindo-se aí empresas privadas,
movimentos sociais, organismos de fomento nacionais e internacionais e outras
esferas de governo.
32
b) gestão negociada e participativa deste atores sociais na visão e implementação do
projeto de desenvolvimento, através de fóruns de participação da sociedade e
mecanismos institucionais não permanentes de acesso às decisões de governo.
Política Industrial : Governo e setor privado
a) desenvolver ações de política industrial voltada, exclusivamente, a criação de
institucionalidade macroeconômica que potencialize vantagens comparativas
regionais já existentes. As políticas industriais e projetos de desenvolvimento (tipo
Plano de Metas, PND´s e similares) caracterizadas por soluções de incentivo fiscal e
subsídio que intencionam a criação de vantagens artificiais são, em geral, custosas,
ineficientes e proibitivas no cenário atual.
c) Identificar nichos mercadológicos e vantagens competitivas regionais, voltadas a
dinamização do setor externo, objetivando o incentivo à geração de clusters
produtivos (locus geográfico onde se desenvolvem atividades econômicas interligadas
ou fortemente correlacionadas) com especial atenção a cadeias sócio-produtivas
típicas. Não há aqui incompatibilidade entre o desenvolvimento de clusters e o padrão
de global sourcing característico do processo de globalização, posto que um cluster
deve limitar-se a realização de etapas do processo produtivo onde possua vantagens
competitivas.
d) Deixar que seja esta formação quando espontânea, seja orientada pela liderança
privada e incentivada pelo governo através da ampliação da competitividade sistêmica
do país, via redução dos chamados custo e risco Brasil. O governo local deve atuar
como facilitador – principalmente na provisão de infra-estrutura, inclusive a
especializada – e como estimulador – dos investimentos produtivos dos diversos
componentes dos cluster.
10.4. A “importância” dos recursos naturais
Na identificação destas vantagens competitivas orientadas ao exterior, o elemento
“disponibilidade de recurso naturais” não deve ser identificado como elemento
limitador. Surpreendentemente, uma plotagem de PIB per capita de diversas regiões
da vanguarda produtiva internacional (clusters selecionados) e exportações de
33
recursos in natura em percentagem do PIB, verifica-se uma relação de
proporcionalidade inversa (ver Sachs, J & Warner A (1997)). Tais disponibilidades
de recursos naturais importam mais quando falamos da dinamização da economia para
o setor interno e vêm progressivamente perdendo sua importância face a queda
generalizada no nível de preços das commoditties.
10.5. Dinamização local do setor exportador
O investimento deverá ser preponderante em esforços na dinamização do setor
exportador de todas as regiões e pólos produtivos, na medida em que a demanda
internacional pelas exportações locais exerce efeitos de encadeamento sobre as
demais regiões produtoras de bens complementares.
10.6. Grandes projetos de desenvolvimento
a) Dar continuidade ao Programa Brasil em Ação, que se caracteriza pela realização
de investimentos visando a geração de infra-estrutura para o desenvolvimento. O
Programa deve estar mais atento a especificidades de cada localidade em matéria da
especificação destes ativos, de modo a atender não somente a geração de empregos,
mas às necessidades de ganhos regionais de competitividade externa e inter-regionais.
b) Encerrar á termo todos os projetos de desenvolvimento, de viés colonizador,
característico dos Planos Nacionais de Desenvolvimento dos anos 70.
10.7. Infra-estrutura, tecnologia, economias externas e descentralização
a) desenvolver ação pragmática no incentivo a construção de uma rede local de
serviços a produção e de uma infra-estrutura local especializada, com especial atenção
ao fator logístico no caso de pólos industriais.
b) Criar mecanismos de difusão e transferência tecnológica e da inovação produtiva,
de modo a disseminar os novos padrões por todas as regiões produtivas aplicáveis.
c) Incentivar a interiorização da produção industrial, através de investimentos de
infra-estrutura adequada em pólos produtivos em parceria com o setor privado
34
investidor. Nesta regiões as taxas de retorno são mais elevadas devido em parte a
ausência de deseconomias de aglomeração.
10.8. Desigualdade social: o papel da educação
a) Entender o nível de escolaridade médio como grande operador de impacto sobre o
alargamento da desigualdade de renda entre as regiões. Vale lembrar que a
desigualdade educacional explica entre 35% e 50% das diferenças nos níveis de
salários quando tomado o agregado da economia (Paes e Barros (1995)).
b) A partir do entendimento anterior incentivar em parcerias com o sistema dos “S”
(SESI,SENAI, etc...), Universidades e Escolas Técnicas a implantação de Programas
de Capacitação e Formação Técnica especializada orientada para as potencialidades e
necessidades produtivas locais.
10.9. Agências de fomento e desenvolvimento e Associativismo
a) Incentivo a criação de agências e instituições de desenvolvimento local
comprometidas com o desenvolvimento regional sustentável, segundo o modelo
adotado pela Associação Européia de Agências de Desenvolvimento (EURADA) ou
pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.
10.10. Financiamento do desenvolvimento
Fatores e diretrizes principais:
a) garantir o nexo e a correspondência entre carga tributária e provisão de bens
públicos como princípio racionalizador da despesa pública, principalmente em
sistemas onde existem grandes disparidades de capacidade tributária regional,
minimizando as transferências inter-governamentais que objetivam correções nas
disparidades acima referidas. Todavia, é preciso ter em mente, que estas
transferências, em geral, promovem uma subvaloração dos custos dos bens públicos
locais, promovendo uma provisão ineficiente e excessiva, incentivando a separação
entre impostos e decisões de gasto público, que em geral resulta no repasse do
financiamento das despesas das unidades descentralizadas pelo conjunto da federação.
35
Este financiamento não-tributário incentiva ainda a redução dos esforço de
arrecadação de recitas próprias pelas unidades locais)
b) Mitigar e desincentivar estratégia de guerra fiscal que comprometem a
sustentabilidade dos projetos de desenvolvimento de longo prazo, em detrimento do
aproveitamento de oportunidades presentes.
c) Reduzir as isenções de ICMS e manter concessões financeiras e incentivos para-
fiscais relacionados a aquisição de ativos fixos na região e simplificação dos trâmites
burocráticos de instalação das empresas, assistência técnica na elaboração de projetos.
d) Criar um mecanismos alternativo de desoneração das exportações, de modo a
dinamizar internamente os pólos produtivos voltados a competição com o exterior. O
arranjo efetivado pela Lei Kandir, produziu perdas para os Estados da federação que
já tem sua capacidade de investimentos reduzida em função de sua crise fiscal.
e) Alterar o perfil dos itens financiáveis através dos fundos de financiamento
regionais. No caso do FINOR, por exemplo somente os investimentos em capital fixo
são financiáveis (projetos, instalações, equipamentos). É preciso que tais programas
passem a premiar também investimentos em programas de treinamento instrumental
de mão-de-obra, programas de capacitação gerencial, bem como a instalação de
laboratórios de ensaio e certificação de produtos.
11. Referências Bibliográficas
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12. Anexo Estatístico (Tabelas e Gráficos)
41
Tabela 01Produto Interno Bruto por Regiões e Unidades da Federação
Regiões e Unidadesda Federação 1970 1975 1980 1985
BRASIL 100,0 100,0 100,0 100,0NORTE 2,2 2,0 3,3 4,1Rondônia 0,1 0,1 0,3 0,5Acre 0,1 0,1 0,1 0,1Amazonas 0,7 0,7 1,1 1,3Roraima 0,0 0,0 0,0 0,1Pará 1,1 1,0 1,6 1,8Amapá 0,1 0,1 0,1 0,1Tocantins // // 0,2 0,1NORDESTE 11,7 11,1 12,0 13,6Maranhão 0,8 0,7 0,8 1,0Piauí 0,4 0,4 0,4 0,4Ceará 1,4 1,3 1,5 1,7Rio Gde do Norte 0,5 0,6 0,6 0,9Paraíba 0,7 0,7 0,7 0,7Pernambuco 2,9 2,7 2,5 2,4Alagoas 0,7 0,6 0,7 0,7Sergipe 0,4 0,4 0,4 0,7Bahia 3,8 3,7 4,3 5,2SUDESTE 65,5 64,9 62,3 59,1Minas Gerais 8,3 8,4 9,4 9,8Espírito Santo 1,2 1,0 1,5 1,7Rio de Janeiro 16,7 15,3 13,7 12,3São Paulo 39,4 40,1 37,7 35,4SUL 16,7 17,9 17,0 17,1Paraná 5,4 6,6 5,8 6,1Santa Catarina 2,7 2,8 3,3 3,2Rio Gde do Sul 8,6 8,5 7,9 7,9CENTRO OESTE 3,9 4,1 5,4 6,0Mato Grosso do Sul // 0,4 0,6 0,8Mato Grosso 1,1 0,8 1,1 1,0Goiás 1,5 1,5 1,7 2,0Distrito Federal 1,3 1,4 2,0 2,2Fonte: IBGE - Anuário Estatístico - 1992
Participação no Total do País
Tabela 02
Setores 1953 1960 1970 1975 1980 1992Agricultura 26,0 23,0 11,7 9,7 8,8 9,9Indústria 24,0 25,0 35,4 36,8 38,2 31,6Serviços 50,0 52,0 52,9 53,5 53,0 58,5Fonte: Baer, 1995
Distribuição Setorial do PIB
42
Tabela 03
1970 1975 1980 1985BRASIL 100 100 100 100NORTE 56 47 68 72NORDESTE 39 37 41 47SUDESTE 153 150 143 137SUL 94 107 106 110CENTRO-OESTE 71 69 85 93Fonte: Britto, 1995
Evolução do Produto per capita
Tabela 04
Regiões 1970 1980 1988BRASIL 100 100 100NORTE 103 107 105NORDESTE 84 86 91SUDESTE 108 106 103SUL 114 111 108CENTRO-OESTE 106 108 105Fonte: IBGE
Esperança de Vida ao nascer
Tabela 05
Regiões 1970 1980 1985 1988BRASIL 100 100 100 100NORTE 96 81 101 101NORDESTE 129 154 152 168SUDESTE 86 71 70 71SUL 77 61 59 62CENTRO-OESTE 81 78 74 80Fonte: IBGE
Mortalidade Infantil
43
Tabela 06Participação da população de 15 anos ou mais sem instrução
Regiões 1970 1980 1990BRASIL 100 100 100NORTE 109 123 //NORDESTE 168 178 196SUDESTE 76 66 60SUL 79 63 62CENTRO-OESTE 111 97 89Fonte: IBGE
na população total de 15 anos ou mais
Tabela 07
Regiões 1970 1980 1988BRASIL 29,3 51,6 69,2NORTE 13,4 29,4 60,3NORDESTE 9,7 25,2 38,7SUDESTE 46,6 69,3 84,7SUL 24,4 55,9 78,4CENTRO-OESTE 15,8 36,1 59,2Fonte: Baer, 1995
Domicílios c/ Abast. De Água (%)
Tabela 08
Regiões 1970 1980 1988BRASIL 54,5 80,1 73,8NORTE 49,5 74,5 75,4NORDESTE 29,8 58,1 48,8SUDESTE 70,1 91 85,2SUL 58,1 86 79,4CENTRO-OESTE 50,7 80,6 75,3Fonte: Baer, 1995
(%) Pessoas c/ Renda Acima da Linha de Pobreza
Tabela 09
Regiões 1970 1980 1988BRASIL 66 74,6 81,1NORTE 63,4 70,7 88,1NORDESTE 45,3 54,6 63,5SUDESTE 76 83,1 88,2SUL 75 83,7 87,5CENTRO-OESTE 64 74,7 83,1Fonte: Baer, 1995
Taxa de Alfabetização (%)
44
Tabela 10
Regiões 1970 1980 1988BRASIL 47,6 68,5 85,9NORTE 27,3 45,8 92,9NORDESTE 23,3 43,6 67SUDESTE 68,7 85,4 94,8SUL 43,1 71,4 91CENTRO-OESTE 28,6 57,3 81,9Fonte: Baer, 1995
Domicílios c/ Energia Elétrica (%)
Tabela 11
Regiões 1970 1975 1980 1985 1990 1995NORTE 0,58 0,51 0,67 0,76 0,79 0,72NORDESTE 0,40 0,39 0,41 0,48 0,48 0,48SUDESTE 1,52 1,47 1,43 1,37 1,36 1,34SUL 0,96 1,08 1,08 1,11 1,05 1,16CENTRO OESTE 0,68 0,73 0,81 0,81 0,96 0,97Fonte: Ferreira, 1998
Brasil: Rendas per Capita Regionais como proporção da Renda per Capita do Brasil 1970/95
Tabela 12
1970 0,14821975 0,14811980 0,12311985 0,09161986 0,08671987 0,08701988 0,08631989 0,08301990 0,08541991 0,08531992 0,08801993 0,08611994 0,08391995 0,0870
Fonte: Ferreira, 1998
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