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nÚmero 133 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014 2 € periódico galego de informaçom crítica portuGueses na Galiza 22 O historiador Dionísio Pereira vem de publicar Emigrantes, exilados e perseguidos onde analisa a persegui- çom política a que se vírom submeti- dos cidadaos de origem portuguesa após o golpe de estado de 1936. mulheres shipiba do peru 12 Na Amazónia peruana convivem um- ha dúzia de grupos étnicos, sendo um deles o shipiba. Umha mulher deste povo expom as problemáticas de gé- nero presentes na sua vida e também a sua experiência de luita. N ovas da G ali a “Neste momento histórico cumpre superar os medos atávicos que temos no nacionalismo” paula rios da coordenadora da coordenadora de galiza pola de galiza pola soberania soberania pág. 15 flickr.com/pabloherrero a venda a preço de saldo da ngb à banesco é a condena que a sociedade paga por culpa dumhas caixas dirigidas ao lucro privado e duns poderes políticos cúmplices / pÁG. 2, 16-18 privatizados os restos das caixas GaleGas Galiza perde um sistema financeiro que nunca foi seu Quem decide o preço da eletricidade? o poder do oliGopólio enerGético O novo ano chega com umha nova suba na fatura da luz. Gali- za continua a produzir muita mais energia da que precisa, as- sumindo todos os custos am- bientais derivados. Ainda assim, o país paga o mesmo que Ma- drid pola energia. O oligopólio das elétricas segue a impor os seus preços mediante um siste- ma de leilons totalmente opaco elaborado por altos cargos de Estado que agora estám a cobrar milhares de euros como asseso- res externos das companhias elétricas. / pÁG. 11 “O regime FIES é ilegal e inumano” presos políticos independentistas A associaçom Que Voltem para a Casa trabalha nos últimos meses para “pôr a andar a máquina de mobilizaçom e solidariedade” em defesa dos direitos humanos dos presos políticos independen- tistas. Xavier Sánchez Paços, membro da diretiva, salienta que os partidos que defendem a dis- persom e os regimes de isola- mento “só podem evadir o deba- te, que tenhem perdido, e nós precisamos forçá-los a entrar a debater a fundo o tema”. / pÁG. 6 opiniom agenda ano zero por isaac lourido / 3 repensar o sindicalisMo, repensar-nos nós por cris blanco / 3 feliz ano novo por Maurício delito / 28 suplemento central a revista galegos de barakaldo Carlos C. Varela debruça-se sobre a vida de dous galegos que re- calárom no País Basco e que exercêrom o compromisso político etnologia botánica da sexualidade Neste artigo, é tratada a relaçomque existia entre as plantas e o mundo sexual na sociedade tradicional galega galiza contrainfo

Novas da Galiza · debater a fundo o tema”. / pÁG. 6 opiniom agenda ano zero por isaac lourido / 3 repensar o sindicalisMo, repensar-nos nós por cris blanco / 3 feliz ano novopor

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nÚmero 133 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014 2 €

p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

portuGueses na Galiza 22O historiador Dionísio Pereira vemde publicar Emigrantes, exilados e

perseguidos onde analisa a persegui-çom política a que se vírom submeti-dos cidadaos de origem portuguesaapós o golpe de estado de 1936.

mulheres shipiba do peru 12Na Amazónia peruana convivem um-ha dúzia de grupos étnicos, sendo umdeles o shipiba. Umha mulher destepovo expom as problemáticas de gé-nero presentes na sua vida e também asua experiência de luita.

Novas da Gali a

“Neste momento

histórico cumpre

superar os medos

atávicos que

temos no

nacionalismo”

paula riosda coordenadora da coordenadora de galiza polade galiza polasoberaniasoberaniapág. 15

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a venda a preço de saldo da ngb à banesco é a condena quea sociedade paga por culpa dumhas caixas dirigidas ao lucroprivado e duns poderes políticos cúmplices / pÁG. 2, 16-18

privatizados os restos das caixas GaleGas

Galiza perde um sistema financeiro que nunca foi seu

Quem decide o preçoda eletricidade?

o poder do oliGopólio enerGéticoO novo ano chega com umhanova suba na fatura da luz. Gali-za continua a produzir muitamais energia da que precisa, as-sumindo todos os custos am-bientais derivados. Ainda assim,o país paga o mesmo que Ma-drid pola energia. O oligopólio

das elétricas segue a impor osseus preços mediante um siste-ma de leilons totalmente opacoelaborado por altos cargos deEstado que agora estám a cobrarmilhares de euros como asseso-res externos das companhiaselétricas. / pÁG. 11

“O regime FIES éilegal e inumano”

presos políticos independentistas

A associaçom Que Voltem para aCasa trabalha nos últimos mesespara “pôr a andar a máquina demobilizaçom e solidariedade”em defesa dos direitos humanosdos presos políticos independen-tistas. Xavier Sánchez Paços,

membro da diretiva, salienta queos partidos que defendem a dis-persom e os regimes de isola-mento “só podem evadir o deba-te, que tenhem perdido, e nósprecisamos forçá-los a entrar adebater a fundo o tema”. / pÁG. 6

opiniom

agenda ano zero por isaac lourido / 3

repensar o sindicalisMo, repensar-nosnós por cris blanco / 3

feliz ano novo por Maurício delito / 28

suplemento central a revista

galegos de barakaldoCarlos C. Varela debruça-se sobre a vida de dous galegos que re-calárom no País Basco e que exercêrom o compromisso político

etnologia botánica da sexualidadeNeste artigo, é tratada a relaçomque existia entre as plantas e omundo sexual na sociedade tradicional galega

galiza contrainfo

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02 opiniom Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

o pelourinho do novas

contra a privatizaçomda esterilizaçom noscentros hospitalÁrios

A CIG-Saúde demandava da Con-selharia de Sanidade, no passado4 de dezembro, a confirmaçom oudesmentido da informaçom quecirculava polos centros hospitalá-rios do Sergas segundo a qual, afinais desse mesmo mês, se iriaproceder à publicaçom do con-curso para a privatizaçom do ser-viço de esterilizaçom dos centroshospitalários. Desde a Conselha-ria nom houvo resposta nengum-ha, mas sim a publicaçom do con-curso no dia 2 de janeiro. A CIG-Saúde denuncia que para quepassasse despercebido, o anúnciopara esta privatizaçom foi publi-cado no DOUE e nem sequer seinformou os serviços afetados. Adata prevista para o início dosprocedimentos de adjudicaçom éo 1 de março. (...)

A CIG-Saúde explica que oshospitais públicos do Sergas con-tam com os certificados de quali-dade ISO 9001 que garantem aexcelência e qualidade do traba-lho. Este controlo dos standardsde qualidade também se fai polos

serviços de medicina preventivados hospitais. O conjunto do tra-balho e do controlo de qualidadeé prestado por pessoal sanitário ese isto passa a maos de umha em-presa privada tal e como vem deconfirmar-se “estaríamos a falarda privatizaçom da ‘bata branca’,essa que disseram, tanto a conse-lheira como o próprio presidenteda Junta, que nom se ia produ-zir”, denuncia María Xosé Abuín.

A CIG-Saúde adverte do encare-cimento de todo o processo se real-mente se chegar a efetivar, já que omaterial teria que ser transladadoem camions blindados, com siste-mas que preservem um determi-nado nível de humidade. (...)

Gabinete de Comunicaçom da CIG

pola implicaçom da unescona luita contra as minas

O SLG apresentou senlhos escri-tos diante dos órgaos reitores dasreservas da biosfera Terras do Mi-nho e Ancares Lucenses em rela-çom a projetos mineiros. Busca-se a implicaçom do ConselhoCientífico do Comité Espanhol doPrograma MaB (Programa sobre

o Home e a Biosfera da Organiza-çom da Unesco, em que se in-cluem as reservas da biosfera).

No caso dos Ancares, o SLGlembrou que existem várias licen-ças de investigaçom para projetosmineiros auríferos que afetam es-te território e que podem sair aconcurso ou ser prorrogados. (…)Instam o conselho reitor a solici-tar informaçom sobre a tramita-çom dos expedientes às adminis-traçons responsáveis das conces-sons, que som a Conselharia de

Indústria na Galiza e o Principa-do das Astúrias; e que se apresen-te nestes processos da mesmamaneira que o fijo em setembrocom Lago II (projeto de Gold-quest Ibérica que afeta mais de11.000 hectares da Fonsagrada,Baleira, Baralha e Bezerreá). (…)

A Reserva da Biosfera Terras doMinho, está afetada por três con-cessons mineiras à empresa Erim-sa para extrair quartzo afetando a5.700 hectares. O SLG lembrou-lhe ao conselho reitor que a De-

claraçom de Impacto Ambientalnom incluía um relatório da Re-serva da Biosfera Terras do Mi-nho. Por isso, pedem que soliciteumha cópia do expediente dastrês concessons com vistas a queo Conselho Científico do Comitéda MaB emita informe “abordan-do a possibilidade de solicitar anulidade das três concessons porclara vulneraçom do procedimen-to legalmente estabelecido (…)”.

Gabinete de comunicaçom do SLG

oano 2014 apresenta-se-nossem demasiadas novida-des. Os titulares continuam

dando conta de mais cortes sociais,mais parados na rua, mais juventu-de emigrando, mais detençons polí-ticas, mais subas no recibo da luz emais famílias despejadas das suascasas polos bancos. A propósito dosbancos: entre tantas notícias, pare-ce que nom se volveu falar da pri-vatizaçom de Nova Galicia Banco.

Ficou atrás, assunto fechado.Que perto do 50% do aforro ga-

lego passasse de golpe a maos ve-nezuelanas sem possibilidade decontrolo galego nom foi motivo pa-ra grandes manifestaçons ou epi-sódios de indignaçom social, paraalém das concentraçons partidá-rias ou sindicais de protocolo.

Nom é que o povo seja parvo, mastodo o contrário: as antigas caixaslevavam anos sendo pervertidas e

funcionando ao serviço dos interes-ses do grande capital privado; nocanto de ser umha alternativa deeconomia social sem ânimo de lucroao serviço da cidadania, como esta-vam configuradas num princípio. Asociedade, pois, nom pudo percebera perda de algo que em realidade le-vava décadas sem ser seu.

Tirando da ladainha habitual, des-de o poder tentou-se apresentar adesfeita como um dano colateral da

crise, como umha cousa inevitável.Ademais, olhai se temos sorte, Banes-co nom é tam má opçom. “Polo me-nos nom foi vendida por um euro”,alegrava-se 'o nosso presidentinho'.

Como era previsível, do mesmojeito que com o Prestige ou com ocomboio de Angróis, ninguém saiuà palestra para reconhecer respon-sabilidades políticas. A escassa vigi-láncia que por lei podia exercer aJunta sobre a actividade das caixaspermitiu arriscadas mas lucrosasoperaçons especulativas, umha vezaberta a veda -também pola Junta-

ao capital privado. Mas nom, nomexistem responsabilidades políticas.

E parece que tampouco existemresponsabilidades políticas na(in)decisom de nom converterNGB num banco público galego.Esta opçom nom só era perfeita-mente legal e viável, através de dis-tintas fórmulas, mas também eradesejável para os interesses do te-cido produtivo e das maiorias so-ciais do país. A única que sairia per-dendo neste caso seria a banca pri-vada. Mas neste sistema essa nomperde nem jogando às bolas.

A banca sempre ganhaeditorial

humor suso sanmartin

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

editoraa.c. Minho Media

conselho de redaçoMiván g. riobó, aarón lópez rivas, rubénMelide, xavier Miquel, raul rios, xoán r.sampedro, olga romasanta, alonso vidal

secçonscronologia: iván cuevas / economia:aarón lópez rivas / Mar: afonso dieste / Media: xoán r. sampedro e gustavo luca /além Minho: eduardo s. Maragoto / povos: José antom ‘Muros’ / dito e feito:olga romasanta / a denúncia: iván garcía/ desportos: anjo rua nova e xermán vilu-

ba / consumir Menos, viver Melhor: xanduro / a criança natural: Maria álvaresrei / agenda: irene cancelas / a revista:rubén Melide / a galiza natural: Joãoaveledo / gastronomia: luzia rgues., sinoseco / língua nacional: valentim r. fagim / criaçom: patricia Janeiro / cinema:xurxo chirro, iván garcía ambruñeiras e Julio vilariño

desenho gráfico e MaQuetaçoMhilda carvalho, Joám fernandes, Manuel pintor, helena irímia

fotografiaarquivo ngz, sole rei, galiza independente(gzi-foto), zélia garcia, borja toja

adMinistraçoMcarlos barros gonçales

audiovisual: galiza contrainfo

huMor gráficosuso sanmartin, pestinho, xosé lois hermo,gonzalo, ruth caramés, pepe carreiro, Mincinho, beto

correçoM lingÜÍsticaxiam naia, f. corredoira, vanessa vila verde,Mário herrero, Javier garcia, iván velho, Josédias cadaveira, albano coelho

colaboraM neste nÚMeroisaac lourido, cris blanco, hadrián dios,lara dopazo ruibal, Joám lopes facal, car-los calvo, santiago alba rico, Mauricio deli-to, charo lopes, roi vidal

fecho de ediçoM: 16/01/2014

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Q ue nom nos trema o pul-so ao pôr sobre a mesaas nossas derrotas, os

nossos erros.Precisamos dumha estrutura

de sindicato que evolua no planoteórico, útil para recompor umhaclasse trabalhadora cindida até ainfinidade com inteligência poloCapital. Que saiba projetar dis-cursos para a mocidade, para asdesempregadas e desemprega-dos, para as e os imigrantes, paraas mulheres que seguem a pro-duzir cuidados nas suas casas...ampliar a ótica e ampliar as nos-

sas análises, conceber que as re-formas laborais já nom som sóaquelas que levam esse título: aLei de Estrangeiras, a Lei de Fa-mília, o Real Decreto do Empre-go no Fogar, os Reais Decretossobre ETTs, Mútuas... formamparte dumha grande manobradisciplinante da mao de obra,dumha “Grande Reforma Labo-ral” que até o de agora nom foicompreendida no seu conjunto.Eis a nossa labor. Compreendê-la, trabalhar desde aí.

E claro, também reinventar-nos por dentro. Demonstrar quesomos quem de criar estruturasde luita horizontais. Rachar coma desafeiçom que a classe traba-

lhadora tem polos sindicatos quenom fam mais que reproduzir-sea si próprios, como estruturas desupervivência e poder. Isto signi-fica primar a corresponsabilida-de na luita, a assembleia no local,formar-nos como trabalhadorase trabalhadores para saber eaprender que na luita revolucio-nária e democrática ninguém éimprescindível, só o coletivo o é.

Integrar as vozes das desem-pregadas e desempregados, dasmulheres, da mocidade, das mi-grantes... Renovar cargos e rotarresponsabilidades, limitar man-datos, desprofissionalizar o sin-dicalismo, em soma.

Separar de maneira fulminan-

te o que o sindicalismo e a luitade rua significa a respeito do jo-go político parlamentar, eliminaros vínculos de dependência...além disso, construir esse sindi-calismo que ainda queda porconstruir, onde a igualdade entretrabalhadoras e trabalhadoresseja um feito desde agora, ondedemonstremos que sim somosquem de construir umha socie-dade igualitária, e desde o queprojetemos de maneira perma-nente que só a rua e a barricadasalvarám a classe trabalhadora.

Por isso, seguimos a apostarpola greve geral indefinida, com-panheiros e companheiras. Polagreve geral revolucionária.

03opiniomNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

opiniom

p roponho saudarmos comoumha das boas novas de2013 a apariçom de Galiza

Ano Cero, a televisom na rede quenos oferece debates, entrevistas eoutros conteúdos, produzidosdesde os movimentos sociais ecom formato horizontal, colabo-rativo e aberto. O principal méritoda iniciativa consiste na possibili-dade de contribuir na formaçomdumha agenda de debate e dumcontra-espaço público própriodos movimentos sociais e, se qui-germos e em sentido mais amplo,do conjunto da esquerda galega.

Se reconhecermos que o espaçopúblico está tomado pola impren-sa comercial e polos ritmos dita-dos desde Madrid, a grande falên-cia da imprensa crítica galega temsido e está a ser, a sua incapacida-de para criar um espaço de debateentre iguais, umha autêntica bata-lha de ideias, capaz de apoiar e es-timular processos transformado-res e constituintes. No meu diag-nóstico deteto umha brutal depen-dência das agendas parlamentarese institucionais, mas também decontumazes obediências às con-signas do partido, à posiçom dogrupo. Muita mensagem, muitaopiniom, mui pouca análise.

Na maior parte das interven-çons importa reforçar o discursopróprio, sem fissuras, sem interro-gantes, sem abertura para o deba-te. Som gastas a maior parte dasenergias no debate partidista, gru-

pal e eleitoral, fazendo boa a má-xima de que quanto menor poderem disputa, maior intensidade naluita. Percebo aliás umha claradesfocagem, mais ou menos in-consciente, do público alvo. Quesentido fazem as cascatas de opi-nions ferozes contra a política lin-guística de Feijó se som escritaspara e recebidas apenas por umpúblico “convencido”? Nom é me-lhor assumir que escrevemos ha-bitualmente para o “nosso públi-co”? Que é só em determinadascondiçons que podemos forçar odebate com “outros públicos”?

Acho em falta qualquer refle-xom sobre a condiçom do intelec-tual e sobre a posiçom (normal-mente privilegiada) desde a que seescreve, circunstância que ocasio-na graves distorçons no uso daspreposiçons e as conjunçons. Jásabem: as confusons à hora de fa-lar para, desde, em nome de, como

se. Mas também: a implacável

constataçom das fendas entre dis-curso e experiência. Negar legiti-midade à voz das prostitutas e àspessoas que trabalham com elas.Usar lumpen como insulto. Nuncaanalisar os próprios pré-conceitos.Nunca exercer a auto-crítica.

Proponho que nos perguntemospolo peso que conserva o paradig-ma da esquerda ilustrada na im-prensa crítica galega e nos forosafins, com um questionamentoapenas retórico da fundamenta-çom patriarcal, colonial e racistado projeto da modernidade. E emque medida estám a ser reprodu-zidas inercias discursivas sobre areivindicaçom do trabalho, a cren-ça no progresso, a retórica da so-berania nacional ou, mesmo, a de-fesa incondicional do Estado dobem-estar, essa criaçom indisso-ciável do capitalismo, como temalertado o Carlos Taibo.

Talvez a dependência desse pa-radigma explica o ataque, quandonom a ignorância ou, no melhordos casos, o paternalismo perantea introduçom de outros debates: odecrescimento, a crítica do traba-lho, a auto-gestom (vejam o artigode María Pampín no número 132do NOVAS DA GALIzA), os cuidadosou, como modelos globais, as coo-perativas integrais ou os sobera-nismos sustentáveis e nom-estataisque nos propom o Carlos Calvo.

Repasso na web de Galiza AnoCero os assuntos centrais de deba-tes e entrevistas: pobreza, repres-som, democracia representativa,desobediência. Há aí a base para acriaçom dum contra-espaço de de-bate, com agendas e ritmos pró-prios. Também: um projeto dis-posto para a sua replicaçom nou-tros meios e âmbitos, o nodo dum-ha rede que pode e deve crescer.

Agenda ano zeroisaac lourido

Repensar o sindicalismo, repensar-nos nóscris blanco

a grande falência da imprensa críticagalega tem sido eestá a ser, a sua incapacidade paracriar um espaço dedebate entre iguais,umha autêntica batalha de ideias,capaz de apoiar eestimular processostransformadores e constituintes

construir esse sindicalismo queainda queda porconstruir, onde aigualdade entre trabalhadoras e trabalhadores sejaum feito, onde demonstremos quesim somos quem de construir umhasociedade igualitária

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04 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

aconteceA biblioteca Concepción Arenal, da USC,mantém ativos os tornos da sua entrada pa-ra impedir a entrada a estudantes de forada universidade. O reitor prometeu retirá-los quando pactuou com os estudantes queocupárom História o ano passado.

a usc mantém ativos os tornos da ‘conchi’

A Junta reduziu num 63 por cento o or-çamento para projetos de fomento dogalego nas escolas públicas. A quantiadesceu de 800.000 euros para só500.000, sendo menor a tesourada noscentros privados que nos públicos.

menos dinheiro para o GaleGo nas escolas

10.12.2013 / Segunda jornada dagreve na sanidade galega, commais de 80% de seguemento etreze manifestaçons contra aprivatizaçom em todo o país.

11.12.2013 / José Prol Álvarez,emigrante de Santa Comba de52 anos, morre numha obra emBerna (Suiça).

12.12.2013 / Um home mortoem Bordons (Sam Genjo) aocair-lhe em cima a árvore queestava a podar.

13.12.2013 / Mais de mil pessoassaem à rua em Bueu contra os des-pedimentos em conservas Alonso.

14.12.2013 / Mobilizaçom noObradoiro (Compostela) recla-ma o mantemento do actualtraçado do Caminho Norte deSantiago frente às modifica-çons propostas pola Junta.

15.12.2013 / Centos de pessoasfam umha cadeia humana em Coia(Vigo) em defesa duns orçamentosmunicipais, socias e galegos.

16.12.2013 / Dúzias de transpor-tistas protestam contra a subado imposto de hidrocarburosconduzindo lentamente camionsentre Ámio e Compostela.

17.12.2013 / Foro Galego da Imi-graçom apresenta em Ferrolmanifesto em defesa dos servi-ços sociais públicos.

18.12.2013 / Plataforma Galegaem Defensa do Ensino Públicocenifica a incineraçom da LOM-QE para entregar depois as cin-

sas ao conselheiro de educa-çom Xesús Vázquez Abad.

19.12.2013 / Políticos, trabalhado-res e funcionários da Cámara deCarvalho concentram-se frente àCasa do Concelho contra a refor-ma da Administraçom Local.

20.12.2013 / Martiño Noriega re-nuncia como coordenador na-cional de Anova. Ao dia seguin-te, quatro pessoas da perma-nente apresentam também asua demissom.

21.12.2013 / A.V.R. morre emDodro esmagado pola árvoreque estava a talhar.

22.12.2013 / É “liberado” na sedede Emigraçom o rei Baltasar dopresépio do Obradoiro, com umcartaz contra o arame farpadode láminas do valado de Melilha.

23.12.2013 / Morre Xesús Barrosaplastado por um derrube en-quanto recolhia ferralha no aban-donado Centro de Interpretacióndas Gándaras de Budinho.

cronoloGia

NGZ / No passado 20 de dezembroo Governo espanhol anunciavaumha profunda involuçom no re-conhecimento dos direitos das mu-lheres ao iniciar o caminho para areforma da Lei do Aborto. Foi o mi-nistro de Justiça, Alberto Ruiz Gal-lardón, o encarregado de expor oanteprojeto do que se deu em cha-mar “lei orgánica de proteçom davida do concebido e dos direitos damulher embaraçada”, um nomebaixo o que se agocham as reivin-dicaçons dos setores ultracatólicose é negado à mulher o poder de de-cisom sobre o seu próprio corpo.

A reforma que encabeça RuizGallardón pretende desmontar aatual “lei de prazos” que foraaprovada durante o governo deJosé Luis Rodríguez zapatero pa-ra o substituir por um sistema desupostos ainda mais restritivo doque a legislaçom que fora aprova-da em 1985. Assim, a lei de prazosdesenvolvida polo governo socia-lista permite umha interrupçomvoluntária da gravidez nas suasprimeiras 14 semanas, um avan-ço social que sentou mui mal aossetores mais retrógrados da Igre-ja e que o PP prometera botarabaixo de chegar ao poder, pro-messa que começou a cumprir nopassado mês de dezembro.

Deste jeito, a reforma queanunciou Gallardón só recolhe-ria dous supostos nos quais nomse penalizaria o aborto: a exis-tência de grave perigo para a mu-

lher grávida e o caso de que aconcepçom fosse consequênciade um “delito ou atentado contraa sua integridade”. O caráter

marcadamente involucionistadesta proposta é patente, poisdeixa fora um terceiro supostoque estava presente na lei de

1985: no caso de malformaçomdo feto. Ademais, a nova legisla-çom promovida polo Executivoespanhol obriga as mulheres me-

nores de idade a ter o consenti-mento dos seus progenitores pa-ra interromper a gravidez.

No próprio dia que se anuncia-va esta reforma, o feminismo ga-lego tomou as ruas de várias lo-calidades do país, deixando claroo amplo rejeitamento popularcom que contam estas medidas eque as mulheres luitarám paraque os seus direitos estejam ga-rantidos. A Plataforma Galegapolo Direito ao Aborto já anun-ciou que se desenvolverá um pro-grama de atividades e de mobili-zaçons com que fazer frente àspolíticas retrógadas do governoestatal. Ainda que no debate quese está a dar nos meios conven-cionais algumhas vozes da direi-ta espanhola nom se vem repre-sentadas pola reforma de Gallar-dón e mesmo se fala de umhasuavizaçom da mesma, de todosos jeitos é previsível que o cortede direitos se execute, ante o quala luita feminista estará alerta.

Governo espanhol quer cortar direitos da mulherreforma da lei do aborto recolhe as reivindicaçons dos setores ultracatólicos

errataNa reportagem publicada naspáginas 20 e 21 do anteriorNOVAS DA GALIzA, 'Greve geral,por que nom?', fai-se referên-cia ao secretário geral da CUTcomo Francisco Caamaño,quando em realidade o seu no-me é Manolo Caamaño.

As primeiras semanas de 2014 já deixárom as duasprimeiras vítimas mortais da violência machista.Assim, umha mai e umha filha fôrom assassinadasno concelho marinhao de Cervo presuntamentepolo marido desta última, quem chamou aos servi-ços de emergência para confessá-lo. A MarchaMundial das Mulheres mobilizou-se nos dias 15 e16 de janeiro em repulsa à violência machista soba legenda O machismo mata todos os dias, saia-

mos à rua para combatê-lo! em várias localidades. Ademais destas duas mulheres assassinadas,

nos últimos dias de dezembro de 2013 a violênciamachista deixava também umha vítima mortal nalocalidade morracense de Marim, onde um ho-mem confessava ter provocado a morte da sua pa-relha sentimental. Segundo informavam os meiosde comunicaçom, este homem contava já com an-tecedentes por violência machista.

novas vítimas mortais da violência machista

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05aconteceNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

Após o sequestro reivindicativo da figura do neno Jesusno Natal de há um ano, desta volta tocou-lhe ao rei Balta-sar. Apesar das medidas de vigiláncia para evitar umhanova desapariçom, o rei negro foi levado até a porta daSecretaria Geral de Emigraçom, onde apareceu com car-tazes denunciando as facas da valha de Melilha.

sequestrado o rei baltasar no belém de compostela

O conselheiro de Educaçom, Jesús Vázquez, será levadoante o juiz por acusar o BNG de “apoiar grupos terroris-tas” numha entrevista publicada o passado mês de setem-bro. Também declarará por afirmar que a frente naciona-lista está “fora do sistema democrático” por se opor aochamado decreto do plurilinguismo.

vÁzquez declara por acusar ao bnG de apoiar o terrorismo

24.12.2013 / Augusto C. Lendoiroanúncia que renúncia à reelei-çom como presidente do Des-portivo após 25 anos no cargo.

26.12.2013 / María Isabel PérezFraga é assassinada em Marimpolo homem com o qual manti-nha uma relaçom sentimental.

27.12.2013 / Morto na Larachapor acidente com o seu trator.

28.12.2013 / Iolanda Pérez Do-campo, responsável de Açom

Feminista, demite-se da Comis-som Permanente de Anova

29.12.2013 / Vizinhança da Ci-dade Jardim vota nuns comí-cios simbólicos a favor de se-gregar-se de Ferrol e unir-se aoconcelho de Narom.

30.12.2013 / Governo autonó-mico galego remete ao Parla-mento documento em que ad-mite 2.500 contratos assina-dos com as empresas citadaspor Luís Bárcenas.

31.12.2013 / DOGA recolhe reno-vaçom dos permisos ambientaisde Ence e Elnosa até 2016.

02.01.2014 / PP regista no Parla-mento proposta para rebaixar de75 a 61 o número de deputados.

03.01.2014 / Alcalde do Carva-lhinho anúncia que vai solicitarà Real Academia Galega queadmita a palavra ‘pulpo’.

04.01.2014 / Desaparece um ho-mem de 70 anos enquanto pes-

cava na zona de Corrubedo. Oseu cadaver aparecerá a dia 8.

05.01.2014 / Pessoas desco-nhecidas destroçam o refú-gio de Casimiro Sobrado,sem-teito que dorme no re-cinto ferial de Ginzo, amea-çado de despejo pola cáma-ra municipal.

06.01.2014 / Três pessoas damesma família desapareci-das em Meirás (Valdovinho)por causa do temporal.

07.01.2014 / Um homem lança asua dona polas escaleiras e de-pois enforca-se em Tominho.

08.01.2014 / Três cavalos apare-cem mortos a tiros em SantoAdrao (Lourençá).

09.01.2014 / Pessoal laboral deExtel e Atento concentra-sediante das sedes das empre-sas na Corunha contra os des-pedimentos, as pressons e asmodificaçons das suas condi-çons laborais.

cronoloGia

NGZ / O lume que arrasou nopassado natal o santuário daNossa Senhora da Barca, emMugia, pujo de manifesto a pre-cariedade laboral e a descoorde-naçom a que se vê submetido oserviço de bombeiros que gere aempresa Natutecnia. Através deumha nota de imprensa, o Sin-dicato Independente de Bom-beiros da Galiza (Sib-Gal) de-nunciou os problemas de comu-nicaçom dos grupos saintes eentrantes, pertencentes ao Par-que de Bombeiros de Cee, devi-do às limitaçons de material quea empresa impom com o fim decortar gastos, assim como defi-ciências num camiom de bom-beio que implicou que este nompudesse ser empregado nos la-bores de extinçom.

No mesmo comunicado, Sib-Gal expom que os bombeiros deNatutecnia “levam muito tempoacusando a sua empresa gestorade que nom se estám a fazer asmanutençons e revisons perti-nentes dos veículos dentro dosprazos exigidos”. Para mais, des-de há meses está aberto um con-flito laboral entre a empresa e aspessoas que trabalham nos Par-ques de Bombeiros das Pontes,Cee, Santa Comba, Monforte,Sárria e Chantada, localidades

onde Natutecnia é a concessio-nária deste serviço e onde se le-vam sucedendo greves e todo otipo de mobilizaçons operárias.

Assim, a Mesa Intersindicalde Bombeiros da Galiza fijo pú-blicos durante os meses de no-vembro e dezembro comunica-dos nos quais expunha diferen-tes incumprimentos em que in-corria Natutecnia na prestaçomdo serviço, assim como reclama-çons salariais. Por exemplo, sa-lientava-se que as pessoas assa-lariadas por Natutecnia conta-vam com menos ingressos doque os operários e operárias deVeicar, a gestora maioritária nocampo dos bombeiros comar-cais privatizados. Por outra ban-da, há que lembrar que a empre-sa Natutecnia fijo-se recente-mente com a gestom das briga-das helitransportadas na luitacontra incêndios num processosalpicado de irregularidades.

Incêndio do santuáriode Mugia desvendaprecariedade laboral

NGZ / O passado 15 de novembroo Comité contra os Desapareci-mentos Forçados (CED, polassuas siglas em inglês), agênciade expertos independentes per-tencente ao Alto Comissionadopolos Direitos Humanos das Na-çons Unidas, emitiu um relatórioem que solicita ao Reino de Es-panha a modificaçom da Lei deAmnistia de 1977 e a criaçom deumha 'Comissom da Verdade'que investigue as violaçons con-tra os direitos humanos aconte-cidas no passado.

Assim, esta organizaçom chamaa revisar a legislaçom que oferecer

imunidade aos agentes do Estadoque cometêrom crimes durante aGuerra Civil e a ditadura do militarFrancisco Franco e admite queexistem umhas 114.226 pessoasdesaparecidas e que 30.960 bebésforam roubados entre 1936 e 1975.O relatório emitido é fruto dumgrupo de trabalho que percorreu oestado espanhol entre os dias 23 e30 de setembro e que recolhe re-comendaçons para se cumpriremas obrigas marcadas polos trata-dos internacionais sobre desapa-recimentos forçados.

No relatório do CED, afirma-sesurpresa sobre a sentença de Tri-

bunal Supremo espanhol sobre apossibilidade de julgar os crimesdo franquismo em que se afirma-va que “nom é razoável argumen-tar que um detido ilegalmente em1936, cujos restos nom fôrom en-contrados em 2006, poda racio-nalmente pensar-se que seguiudetido além do prazo de prescri-çom de 20 anos”, pois os tratadosinternacionais assinados poloReino de Espanha consideramque, para iniciar a conta para aprescriçom dos delitos de desa-parecimento forçado, é precisoque a pessoa ou os seus restosmortais apareçam.

ONU pede mudar Lei de Amnistiae criar comissom da verdade

estado oferece imunidade a criminais do franquismo

consequências da privatizaçom

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06 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

Maria Dolores Faraldo Botana, deputada do PP e ex-al-caldesa de Betanços, anunciou que pom o cargo a dispo-siçom do partido antes de ir a juízo. O Tribunal Superiorde Justiza da Galiza (TSJG) acusa-a de prevaricaçom ad-ministrativa e falsidade documental pola contrataçom ir-regular dum professor.

deputada processada pom o carGo a disposiçom do pp

O Ministério de Educaçom espanhol reduziu as ajudaspara livros de texto num 36 por cento na Galiza. Segundoa Liga Estudantil Galega, ficarám sem esta ajuda 30.000estudantes, o 20 por cento do total. Desde o sindicato de-nunciam que Wert aprofunde “ num modelo de ensino eli-tista e que impede a igualdade real de oportunidades”.

wert deixa famílias sem ajuda para livros de texto

Fala-se em um tratamento 'de ex-

cepcionalidade' e 'inumano' aos

seis presos independentistas.

Quais som os traços principais

que permitem essa acusaçom?

Em primeiro lugar, os presos po-líticos som classificados no regi-me FIES (Ficheiro de Internosde Especial Seguimento), no-meadamente FIES-3. A teoria éque a qualificaçom penitenciáriadum preso é individual e tem queser objetiva, em funçom do seucomportamento na cadeia. Masneste caso aplica-se coletiva-mente e de maneira automática,já mesmo estando em prisompreventiva. Por exemplo, XurxoRodrigues Olveira encontra-sesubmetido a esse regime semexistir condena nengumha por"pertencer a um grupo terroris-

ta", que é o que exige a lei para aqualificaçom de FIES-3.

E é claro, essa qualificaçomnom é inócua. O regime FIES écomo umha cadeia dentro da ca-deia. Nos traços fundamentais, te-nhem que passar 23 horas dentrodas suas celas, tenhem enormesrestriçons nas comunicaçons, queestám todas intervidas pola dire-çom da prisom, e as visitas mui re-duzidas em quantidade e tempo.Essa limitaçom na comunicaçomampara ademais todo tipo de abu-sos contra eles, e ainda um trata-mento mui agressivo face as suasfamílias que se diferencia de jeitopatente do que recebem as de pre-sas e presos sociais.

Somado a todo isto vai a dis-persom. Os presos políticos somenviados pola direçom de Insti-tuiçons Penitenciárias espanholaa cadeias em qualquer parte, massempre fora da Galiza. Existeumha grande demagogia em de-fender a dispersom 'para evitar aorganizaçom dos presos dentrodas cadeias', como defendem ospartidos do regime. Avondariacom trazer os seis para a cadeiada Lama e situar cada um nummódulo, e de feito a mentira daargumentaçom demostra-se por-

que já agora Xurxo Rodrigues eEduardo Vigo atopam-se na mes-ma cadeia em Castela sem pode-rem ter contato.

O que supom a dispersom, a

grandes traços, à hora de famí-

lias e pessoas achegadas viaja-

rem para visitar os presos?

Nós temos algumha estimaçomfeita que resulta bastante signifi-cativa. Dumha banda, fazendo ocálculo com as 17 pessoas quedesde 2005 tenhem sido presas, adistáncia média a que tenhem es-tado dispersados os presos e pre-sas é de 575 quilómetros dos sí-tios onde moram. Mais em con-

creto, no caso dos presos atuais,os deslocamentos para visitas nascadeias mais próximas da Galizasomam por volta dos 40.000 qui-lómetros no ano, e nos casos maisafastados seriam já 70.000 ou80.000. Centos e centos de horasde viagem. O gasto monetárioanual em viagens para visitar ca-da preso ascende entre 7.000 e12.000 euros, segundo se encon-

trarem em cadeias mais ou me-nos próximas. Som cifras que fa-lam por sim próprias.

Em Julho anunciava-se umha

nova etapa do trabalho da Que

Voltem para a Casa. Qual é o

trabalho que a associaçom está

a desenvolver?

Acho que na questom da defesados presos políticos há umha du-pla vertente: dumha banda estáa questom da defesa política dospresos e a defesa do projeto polí-tico que eles podam defender. Edoutra banda está a defesa dosdireitos dos presos e a denúnciada situaçom penitenciária, e é

“só quem pense em chave de guerra podejustificar o tratamento aos presos políticos”

conversa com xavier sÁnchez paços, da diretiva de ‘que voltem para a casa’

XOÁN R. SAMPEDRO / A associa-çom 'Que Voltem para a Casa',de familiares, amigas e amigosdos presos independentistasgalegos, constituia-se no pas-sado verao, como umha novaetapa do trabalho que desde2006 realizava a 'Plataforma Ci-dadá' de igual nome. Um traba-lho focado na defesa dos direi-tos humanos dos presos, e adenúncia da dispersom e dotratamento penitenciário de ex-cepcionalidade que recebem.Xavier Sánchez Paços fai partedo núcleo de ativistas que pro-curam desde a associaçom“conseguir que sejam reivindi-caçons transversais, que todoo mundo faga suas”. Quer dei-xar claro que a Que Voltem pa-ra a Casa “nom é a 'cara amá-vel' do independentismo, nema peça da estratégia de nen-gumha organizaçom política”,sem que isto empeça a “boa re-laçom com todo o mundo” vi-gorante. “Acreditamos a sérioem dar umha batalha polos di-reitos dos presos no plano le-gal e humanitário, que criecontradiçons”, conclui.

“os presos políticos somenviados a cadeiasem qualquer parte”

“temos os princípiosdo direito e a razom

moral do nosso lado”

Xavier Sánchez paços (à direita) e pablo touza, membros da diretiva da associaçom / galizacontrainfo

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07aconteceNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

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Esculca apresentou umha queixa junto do Valedor do Po-vo polas identificaçons policiais realizadas em Ourenseapós umha concentraçom o passado 30 de agosto. A polí-cia identificou duas pessoas por nom conhecer a sua filia-çom política; com o que os agentes estariam infringindo oprincípio de “neutralidade política”.

identificados porque a polícia “nom os conhecia”

Um membro da Polícia Local de Vigo foi condenado porumha falta de lesons a umha vizinha dessa cidade em de-zembro de 2012. Os agentes obrigárom a sair do CenroSocial Revolta o companheiro da vítima num controlo dehorários. Quando esta foi ver que acontecia foi espanca-da, empurrada e algemada polo agente agora condenado.

polícia condenado por aGressom no centro social revolta

nesta segunda dimensom ondeQue Voltem Para a Casa está maisencaixada. Sem deixar de ser per-feitamente complementária coma outra, nesta dimensom estrita-mente humanitária há umhas ou-tras possibilidades de visibilizar asituaçom a nível social e atoparsolidariedades. Estamos conven-cidos de que o nosso discurso temmuito potencial para conseguirque a gente se some. E só faltapôr a andar a máquina de mobili-zaçom e solidariedade. E é nissoque andamos a trabalhar, comconcentraçons nos concelhos deorigem dos presos, a apresenta-çom de moçons neles ou a pró-pria Marcha às Cadeias.

E como valorizades a resposta?

Valorizamos mui positivamenteo resultado, tendo em conta deque as forças com que se contampoderiam e deveram ser mais.Consideramos que se avançounestes meses, no que tem a vercom a visibilizaçom. E pensamosque se pode considerar um su-cesso, talvez o principal, que se

tenha feito pública a solidarieda-de com os presos em todos osámbitos de nacionalismo galego.Temos agora apoio da Anova edo BNG, ademais do da CausaGaliza e da Nós - Unidade Popu-lar. Isso por sinalar as quatro or-ganizaçons políticas que nosmostrárom o seu apoio explícito,mas pensamos que se pode dizerhá apoio de praticamente todo omundo no nacionalismo.

É claro que nem para o BNG oua Anova é umha questom prioritá-ria mas conseguimos algo mui im-portante que é que exista consen-so em que compre defender a cau-sa pola fim da vulneraçom de di-reitos dos presos.

Como argumentar e concretizar es-

sa defesa para pôr o debate na rua?

Há umha cousa que temos muiclara que é que os nossos argu-mentos som irrebatíveis: temos amaioria das leis do nosso lado,mas sobretodo temos os grandesprincípios do direito e a razommoral, os pronunciamentos da Or-ganizaçom das Naçons Unidas, doTribunal Europeu de Direitos Hu-manos e a Convençom EuropeaContra a Tortura... E por isso en-tendemos que o debate polos di-reitos dos presos e contra a dis-persom é um debate que imos ga-nhar sempre. Que onde vaiamospetar na porta, há que ver quemse atreve a dizer-nos que nom te-mos razom, que nom é ilegal o queacontece e que nom há violaçonsde direitos, e que estám a favordessas políticas.

Mas no primeiro debate num pleno

municipal dumha moçom pola re-

patriaçom dos presos, em Teu, PP e

PSOE posicionárom-se contra...

Certo, mas só há que ver que apostura adoptada polo PP e PSOEé nom entrar a debater. Simples-mente escapam, com alusons am-

bíguas ao terrorismo, com que sesobre isso só podem falar os tribu-nais... Mas ninguém é capaz de di-zer "estou a favor desse tratamen-to aos presos". Por isso seguimosconvencidos de ir petar em todasas portas até que todo o mundo re-conheça a situaçom que há.

Ninguém pode ganhar esse de-bate, nom sendo que se apresentecom umha mentalidade bélica ediga 'isto é umha guerra contravós e vale empregar qualquer me-dida...'. Mas isso nom é o que amaior parte de concelheiros do PPpode defender. Por isso só podemevadir o debate, que tenhem per-dido, e nós precisamos forçá-los aentrar a debater a fundo o tema.

Que continuidade pode haver

nesse trabalho local? E outras li-

nhas de denúncia?

Nesse sentido há um trabalho porfazer, de reunions tanto com ospartidos políticos como com asso-ciaçons vicinais e de todo o tipo deatividade social das vilas ou bair-ros em que os presos estavam amorar para transmitir-lhes o que é

que está a acontecer. Que saibamcomo é que se atopam essas pes-soas com as que até há nada con-viviam. Estám-se a baralhar tam-bém toda umha série de ativida-des para fazer presente na socie-dade a defesa dos direitos huma-nos. E também neste ano vamos irao Valedor do Povo denunciar adispersom, com um dossiê em queficarám claramente documenta-das todas as violaçons de direitosde que som vítimas os presos.

Há umha outra face menos visí-

vel: o do apoio aos próprios pre-

sos e às suas famílias. Que se está

a fazer e que mais se poderia fa-

zer neste sentido?

O certo é que este trabalho é maisdelicado e complicado de levaradiante que a outra vertente de de-núncia. E talvez nisto seja no queficou um pouco mais coxo o traba-lho nestes primeiros meses, masem todo o caso está entre as priori-dades para o trabalho próximo. Oobjetivo fundamental é canalizarumha série de recursos que pensa-mos que vam estar aí quando serealize um bom trabalho de ativa-çom. Recursos económicos queajudem a segurar que os presos es-tejam bem e a enfrentar os custoseconómicos da dispersom. E tam-bém recursos humanos, em formade atençom médica de confiançapara os presos, ou dum grupo deapoio psicológico para as famílias.Também um outro que poda asses-sorá-las no jurídico, explicar o queé que está a acontecer em cada mo-mento. E em quanto à logística dasviagens: umha rede de condutoressolidários que poidam acompa-nhar para as visitas, umha outra re-de de gente que poda oferecer es-paços para dormir... Todo isto é tra-balho que há por diante e vai serfeito, aguardamos que cada vezcom mais gente implicada.

“o gasto anual paravisitar cada preso é

entre 7 e 12 mil euros”

Que Voltem para a casa toma o relevo de ceivar naconvocatória da marcha às cadeias / galizacontrainfo

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08 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

“Antes, em época de Franco, pola sua maneira de falarvocês estariam no calabouço aguardando a pena demorte”. Estas fôrom as palavras pronunciadas -em cas-telhano- por María Deza, vozeira municipal do PP emSam Genjo, dirigindo-se à oposiçom durante um plenomunicipal extraordinário.

vozeira do pp fai apoloGia do fascismo e da pena de morte

A Comissom Europeia rejeita o Plano Nacional Transitóriosobre emissons industriais apresentado polo Governo cen-tral. O executivo comunitário considera que os limites deemissom de contaminantes de grandes instalaçons de com-bustom som "inapropriados", nalguns casos, e "injustifica-dos" noutros, segundo o publicado no Diário Oficial da UE.

comissom europeia limita emissons da central das pontes

NGZ / No passado 14 de janeiroas Forças de Seguridade do Es-tado, baixo as ordens da Audiên-cia Nacional, detinham numhanova operaçom repressiva de ca-ráter político três pessoas emLugo, Vigo e Ciudad Real, asquais som acusadas de perten-cer a “um grupo anarquista an-tissistema”, segundo o comuni-cado que emitiu o Ministério deInterior espanhol. No feche deediçom deste jornal ainda nomse tinha conhecimento da suaposta a disposiçom judicial, fi-cando os dous homens e a mu-lher detidas sob regime de inco-municaçom em dependênciaspoliciais madrilenas. O operati-vo repressivo contou tambémcom registos domiciliários nascidades de Lugo e Vigo.

A versom policial dos feitos

indica que esta operaçom estárelacionada com o lançamentode coquetéis molotov ao ClubeFinanceiro de Vigo que tivo lu-gar em setembro de 2012. Aodia seguinte a tal ataque, o jor-nal empresarial La Voz de Gali-

cia recebia o comunicado deumha organizaçom com o nomede Acción Directa Anticapitalis-ta Internacionalista (ADAI).

Como é habitual, as Forças deSegurança do Estado enviáromaos meios de comunicaçom fotose dados pessoais das detidas, fa-cilitando assim a construçom deperfis manipulados por parte dasempresas da comunicaçom mas-siva e a publicaçom de informa-çons de caráter privado irrele-vantes que procuram estigmati-zar às pessoas represaliadas decara à opiniom pública.

Operaçom ‘antiterrorista’com três detençons

NGZ / O passado 20 de dezembroo Conselho de Ministros aprova-va o anteprojeto da nova lei doaborto fazendo saltar todos osalarmes. Nesse mesmo dia, apro-veitando a polémica gerada, oGoverno aprovava a nova refor-ma laboral com a intençom deaprofundar na norma vigente eprecarizar ainda mais as condi-çons de trabalho, como já adian-tava o NOVAS DA GALIzA 132.

Assim, com esta reforma par-cial, o executivo de Rajoy flexibili-za por completo o contrato a tem-po parcial, dá às ETT capacidadepara formalizar contratos de prá-ticas, prorroga a opçom de os con-tratos de formaçom nom estaremligados a nengumha formaçom re-grada e dá ainda mais capacidadeàs empresas para gerir as baixaspor incapacidade temporal.

PrecarizaçomCom a reforma, as empresas po-derám contratar o trabalhador atempo parcial e, se nalgum mo-mento precisa que trabalhe maishoras, estarám em disposiçomde fazê-lo à vontade. O trabalha-dor nom poderá fazer horas ex-traordinárias, mas sim “horascomplementárias”, que poderámchegar até as 10 horas por sema-na de meia anual.

Esta fórmula já existia, mas ogoverno reduziu o tempo com oque a empresa tem que avisar otrabalhador -também permiteque nom haja aviso- e aumentoua porcentagem do total da jorna-da laboral que podem ocupar es-tas horas “precárias”. Deste jeito,

nalguns casos, um trabalhadorpoderia fazer até o 90% da jorna-da laboral ordinária apesar de es-tar contratado a tempo parcial.

Poder às mútuas e ETTDepois da campanha mediáticacontra o chamado “absentismo la-boral”, esta reforma laboral outor-ga à patronal o controlo das bai-xas por incapacidade temporal.As mútuas, organizaçons que for-mam parte da patronal, até agorapodiam pedir ao sistema públicode saúde a alta do trabalhador.Agora, com a reforma, o médicodeverá responder em cinco dias a

essa proposta e, caso nom fazê-lo,dará-se-lhe a alta ao trabalhador -antes contava com 15 dias e, denom contestar, entendia-se desa-tendida a proposta-.

Depois de o Governo permitiràs empresas de trabalho tempo-ral (ETT) fazer contratos formati-vos, agora estes agentes terámautorizaçom para formalizar con-tratos de práticas e pô-los a dis-posiçom doutras empresas. Nestalinha, o Executivo prorroga todo2014 a possibilidade de fazer con-tratos formativos em matérias emque nom exista a formaçom re-grada correspondente.

PP aprova nova reforma laboralaproveitando polémica do aborto

Governo precariza ainda mais as condiçons laborais

Familiares do PP geremparques arqueológicosNGZ / A Conselharia de Culturavem de adjudicar à Espiral Xes-tión Cultural SL a exploraçom doParque Arqueológico da CulturaCastreja de Sam Cibrao de Lás,na comarca do Carvalhinho, poloque receberá uns 543.842,98 eu-ros. Espiral Xestión Cultural, aqual também conta com a ges-tom do Parque Arqueológico daArte Rupestre de Campo Lamei-ro, foi criada a inícios de 2012 porJorge Sayáns, filho do alcalde doPP desse concelho, e Juan Ma-nuel Boullosa, irmao de umhaconcelheira do município.

O objetivo inicial da EspiralXestión Cultural foi fazer-se

com a exploraçom do citado par-que arqueológico de Campo La-meiro, umha vez que a empresaconcessionária original, IngeniaQED, se declara em concurso decredores. Sayáns e Boullosa tra-balhavam para Ingenia QED edecidírom-se a criar Espiral Xes-tión Cultural para conseguir aconcessom. Assim, a Junta daGaliza pactuou com a nova com-panhia umha subrogaçom docontato, polo que esta operaçomnom passou por nengum tipo deconcurso público. Pola explora-çom de Campo Lameiro a em-presa embolsará este ano porvolta de 544.500 euros.

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09aconteceNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

crónica GrÁficaapós conhecer-se a reforma da lei doaborto, as feministas da cidade de Vigotomárom as ruas e precintárom a colegiata de Santa maria / galizacontrainfo

perto de um cento de solidárias e solidários participárom na XiV marcha à prisom de teixeiro denunciando osabusos do sistema penitenciário e enviando mensagens de ânimo àspessoas presas / noVaS Da galiza

a plataforma galega em Defesa do ensinopúblico encenou a queima da lomQe e entregou as cinzas no registo para o conselheiro de educaçom / galizacig

imagens de conteúdo católico exibem-se noprédio administrativo da Junta em Vigo. Várias vozes denunciárom vulneraçom daaconfessionalidade do estado / galizacig

o setor naval de ferrol continua à esperade soluçons. na imagem, faixas que acompanhárom umha mobilizaçom operária em dezembro / SUSete ferrol

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10 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

aGro

NGZ / O Sindicato Labrego Galego(SLG) vem de solicitar à Conse-lharia de Meio Rural o desenho deum plano que avalie e contribuapara paliar os danos que os suces-sivos temporais do passado pro-vocárom em exploraçons agráriase ganadeiras do país.

Segundo alerta o SLG, os refa-chos de vento que atingírom os185 km/hora e as grandes quanti-dades de água e saraiva registadasproduzírom graves danos em es-truturas de estufas, cobertas denaves, assim como alagamentos,arrastes de terras e diversos danosnos cultivos. A todo isto, o sindica-to engade também os efeitos ne-gativos que também ocasionam oscortes prolongados no subminis-tro elétrico, contingência aindahabitual em várias comarcas gale-gas. Assim, perante os numerososexemplos que estám a receber noSLG, esta organizaçom solicita àConselharia de Meio Rural “quese habilitem de imediato medidas

de apoio às exploraçons afetadas”.“Há que ter em conta que no se-

tor da horta, um dos mais danadospolos temporais, há umha proble-mática geral com a falta de adap-taçom dos seguros agrários à rea-lidade das exploraçons galegas, oque fai que muitas nom tenhamnengum seguro ou cobertura paraeste tipo de danos”, explica o SLGatravés de umha nota de imprensa.Assim, desde este coletivo teme-seque este tipo de problemas, unidoa atrasos nas colheitas e outro tipode perdas acumuladas ao longo doano, “podem suponher o fecho demuitas exploraçons de nom tomar-se as medidas oportunas”.

As fortes chuvas e saraivas ar-

rasárom diferentes cultivos, espe-cialmente alguns importantes nes-ta época do ano como som os gre-los ou as nabiças. “Os produtorese produtoras de várias comarcascomo Betanços consideram que asperdas na colheita de grelos desteano pode superar o 30%”, expomo SLG, quem também denunciaque “o cereal de inverno que já es-tava cultivado em comarcas comoa Límia quedou totalmente des-truído em muitas parcelas, depoisde ter feito todos os labores e osgastos para o seu cultivo”.

Sobre os cortes de subministrode eletricidade, e os danos que is-to ocasiona, o SLG considera “quea Administraçom deve fazer um-ha avaliaçom de todos estes da-nos, que afetam numerosos seto-res e exigir que as empresas sub-ministradoras se comprometamem ter a rede em melhores condi-çons, garantindo o subministro, emesmo assumindo as responsabi-lidades dos prejuízos causados”.

SLG pede ajuda da Juntapara paliar os danos provocados polos temporais

mar

Umha lei de fora paraum país marinheiroA.DIESTE / O Parlamento europeuaprovou a reforma da PolíticaPesqueira Comum (PPC), querege desde 1 de janeiro de 2014e substitui a atualmente vigente,de 2002. Poucos países como aGaliza vam notar os efeitos (po-sitivos ou negativos) deste con-junto de normas, regras e dispo-siçons. Um dado como exem-plo: a produçom extrativa gale-ga do sector do mar supera a so-ma das de Finlándia, Alemanha.Suécia, Bélgica e Grécia.

A nova PPC contém aspetospositivos e negativos. Dependede com quem se fale, destacamuns ou outros. Na sua elabora-çom e tramitaçom (iniciada em2009) houvo intrigas, cambade-las, traiçons ou patos às escon-didas entre os diferentes esta-dos da UE. Um taboleiro de jogoonde a voz do setor do mar ga-lego estivo ausente a nível insti-tucional e tivo que ser a eurode-putada nacionalista Ana Miran-da quem suplisse esse silênciocom emendas, propostas, nego-ciaçons, e mesmo levando re-presentantes de pesca, maris-queio e aquicultura tradicionala Bruxelas e organizando-lhesreunions e encontros com as au-toridades europeias.

Todos coincidem em fazerfinca-pé no facto de a PPC falarde três aspectos fulcrais: elimi-nar a sobrepesca, atender as re-gions pesqueiras e acabar comos descartes (capturas que ve-nhem nas redes e sem interessecomercial ou permissom paraas comercializar e que som de-voltas o mar).

E a dimensom social?Organizaçons de armadores,como Cepesca, vem a PPC “de-sequilibrada” e “pouco realista”pois, afirmam, nom tem emconta a dimensom social nemeconómica da atividade pes-queira. Umha queixa que de-

vém principalmente da obrigaestabelecida na PPC de que to-das as capturas que venham nasredes dos barcos vam ter queser desembarcadas em porto enom devolvidas ao mar. Outrosaspectos negativos que se apon-tam da PPC é que se segue amanter o sistema e critério dequotas desde há 30 anos, ou quea UE pode deixar sem fundospesqueiros um estado se estenom eliminar a sobrecapacida-de da sua frota. E também que afrota artesanal deveria ter umconceito mais favorável à bai-xura de países como Galiza.

“Um dos objetivos é acabarcom a sobrepesca: 80% daspesquerias mediterráneas es-tám sobreexploradas mas 'só'47% das do Atlántico. Nom senos pode exigir o mesmo a nósque aos que pescam no Medi-terráneo”, indicam na Federa-çom de confrarias.

O sector pesqueiro -que en-globa todas as atividades rela-cionadas com a pesca extrativa,o marisqueio e a aquicultura, as-sim como a conserva e o conge-lado- é um dos alicerces da eco-nomia galega. Segundo dadosda Junta, os setores extrativo,aquícola e transformador em-pregam conjuntamente na Gali-za perto de 38.000 pessoas, re-presentando aproximadamente52% do emprego total pesqueirono Estado espanhol e 12% noconjunto da UE (310.000 pes-soas). A cifra de negócio da pes-ca e a aquicultura galega move-se por volta dos 1.000 milhonsde euros anuais, com um 44% dovalor gerado na pesca de altura,um 19% na pesca costeira, um6% no marisqueio e um 31 % naaquicultura. A produçom extra-tiva galega anual supom, em ter-mos de valor, 15% da UE, supe-rando assim a produçom con-junta da Alemanha, Bélgica, Fin-lándia, Grécia e Suécia.

fortes ventos e saraivas causam graves danos em exploraçons

várias comarcas padecérom cortes desubministro elétrico

cultivos de grelos e nabiças entre os mais afetados

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ADRIÁN DIOS / Para compreender-mos o que está acontecer no se-tor elétrico espanhol nom bas-tam 'convulsas' notícias de atua-lidade. É preciso fazer uma breveanálise histórica, pois a realida-de atual vem diretamente deter-minada polo processo de confi-guraçom do setor.

O paradigma dominante até osanos 70 foi o dumha forte regula-mentaçom. As nacionalizaçons dosetor após a Segunda GuerraMundial na França (1946), no Rei-no Unido (1948) ou na Itália (1962)apontavam para umha interven-çom direta do Estado nos elemen-tos fundamentais de controlo dosetor: tarifas, empresas públicas eregulamentaçom elétrica.

No caso do Estado espanhol, oINI promove umha intervençomque confronta com a patronalelétrica, configurando um mode-lo híbrido, presidido por duasgrandes empresas públicas(ENHER e Endesa), com um sis-tema de tarifas (as Tarifas TopeUnificadas), regulado mas quebeneficia ao oligopólio elétrico, ecom umha regulamentaçom elé-trica nom demasiado ambiciosa.

O avanço do neoliberalismo du-rante os anos 80 e 90 leva a modifi-car esta configuraçom tradicionaldo setor seguindo dous paráme-tros: privatizaçom e liberalizaçom.

Estas duas premissas, que en-contram o apoio explícito daUniom Europeia através de su-cessivas Diretivas (começandopola Diretiva 96/92/EC no ano1992) som aplicadas com celeri-dade. Em primeiro lugar, por Fe-lipe González e depois por JoséMaría Aznar, que remata o pro-cesso de privatizaçom ao mesmotempo que desenvolve a chama-da liberalizaçom da mao de Jo-sep Piqué, naquela altura Minis-tro da Indústria.

Primeiro elemento a desta-car: na atualidade Felipe Gon-zález é assessor externo da GasNatural Fenosa (126.000 €/ano)e José María Aznar da Endesa(200.000 €/ano). As portas gira-tórias som um elemento funda-mental para entender o setor,como mecanismo do oligopólioelétrico de cara a obter benefí-cios do bipartidismo posterior àSegunda Restauraçom Bourbó-nica. Outros nomes destacados

podem ser Pedro Solbes, ElenaSalado, Luis De Guindos, ÁngelAcebes ou Josep Borrell.

Como estamos na atualidade?A configuraçom posterior à libe-ralizaçom desenvolveu um meca-nismo de fixaçom de preços ba-seado em dous elementos: as por-tagens fixadas polo governo (des-de primas a renováveis até paga-mentos às elétricas polamoratória nuclear) e o preço demercado fixado nos leilons elétri-cos. O valor de cada um desteselementos achega-se a 50%.

É evidente que o sistema deportagens deve reconfigurar-se,mas aqui interessa-me destacaro funcionamento do pull elétrico,onde empresas produtoras e dis-tribuidoras (que som essencial-mente as mesmas através deconglomerados empresariais) eentidades financeiras (que espe-culam com o preço através domercado de futuros) fixam umpreço “de equilíbrio” com a se-guinte lógica: a última unidadevendida será a que marque opreço do total da eletricidadeposta no mercado. Isto significaque todas as unidades anteriores(que som mais baratas) terámum sobrepreço para a pessoaconsumidora e permitirám lu-cros extra ao oligopólio (é o quese chama lucros caídos do céu).

Dous elementos relevantes: omecanismo de fixaçom de preçosé verdadeiramente injusto, en-quanto a opacidade nos leilonspermite a manipulaçom de pre-ços (e já a Comissom Nacional da

Concorrência tem decidido nestesentido multando as elétricas).

Ao mesmo tempo, durante osanos 2000 o setor inventava umnovo mecanismo do roubo. Sob apremissa de que o processo de li-beralizaçom fai que vendam ele-tricidade por baixo do seu custo,conseguem o compromisso doEstado (onde PSOE e PP tenhema mesma postura) de cara a queseja este quem financie o deficit.

Quanto é o deficit atual? Nomse sabe. O setor calcula que andaà volta de 29.000 milhons de eu-ros, mas nom existe nengum ti-po de base para isto. As empre-sas recusam-se a fazer audito-rias (que de seguro negariam aexistência deste deficit) paraque poidamos conhecer a reali-dade. Basta ver os lucros dasgrandes elétricas para dar-seconta disto: 6.000 milhons de eu-ros em 2012 só entre Endesa,Iberdrola e Gas Natural Fenosa.

Por outra banda, o ministro So-ria falou em outubro dum deficitanual de 2.500 milhons e em de-zembro passou, sem se saber por

quê, a uns 4.000 milhons.O que aconteceu nos últimos

meses para a suba do 11%, poste-riormente anulada? Simplesmen-te que o pagamento às elétricaspolos Orçamentos Gerais do Es-tado (mais de 4.000 milhons) fi-nalmente nom se aplicou, ao nomautorizar Montoro um crédito ex-tra que incrementaria o desfasesobre os objetivos de deficit assi-nados com a Troika. Isto levou aque no seguinte leilom as elétri-cas incrementaram o preço de jei-to desproporcionado até subir um11% a fatura da luz.

Esta cifra nom era assumívelpoliticamente (porque a econo-mia é política) polo PP, que se de-cidiu a invalidar o leilom, interviro preço e fixar umha nova tarifabaseada em preços históricos.

Perante esta situaçom, se nomse produz umha nova regulaçomelétrica no curto prazo (interven-çom decidida no setor) a manu-tençom do atual statu quo entregoverno e oligopólio elétrico re-matará por provocar umha enor-me suba do preço ou umha novatransferência de fundos públicos.

E o que se passa com a Galiza?Ante este panorama geral, há quesublinhar o papel da Galiza no se-tor. Em primeiro lugar, porque éexportadora líquida de eletricida-de. Esta questom nom é menor, jáque o preço estatal é uniforme. Is-to é, umha família galega paga omesmo que umha murciana oumadrilena.

Isto é verdadeiramente injusto,ao ignorar duas realidades: as

perdas derivadas do transportede eletricidade e as externalida-des (poluiçom, destruiçom do ter-ritório, assulagamento de terre-nos...) que sofre a Galiza polaproduçom elétrica. Estes elemen-tos tenhem que ser fundamentaispara estabelecer umha tarifa elé-trica galega, que beneficiariam aseconomias domésticas (com asua contrapartida em maior con-sumo noutras atividades) e umelemento de competitividade pa-ra as empresas do nosso país. Porque nom nos deixam aproveitaras nossas capacidades?

Como vemos na imagem, Ma-drid é um verdadeiro buraco ne-gro na questom elétrica.

A necessidade dum novo modelo energéticoTodos estes elementos devem viracompanhados, inevitavelmen-te, por um novo modelo energé-tico. Em primeiro lugar porque adependência energética galega ébrutal (somos fortes importado-res de petróleo e carvom) para aproduçom de energia secundá-ria (essencialmente eletricida-de), o qual constitui um enormeproblema devido às flutuaçonsinternacionais de preços.

E o elemento fundamental: épreciso um novo modelo ener-gético baseado em energiaslimpas. O mundo é finito, poloque a extraçom de energia tam-bém. Esquecer isto, como fai adoutrina económica dominan-te, só pode provocar umha ca-tástrofe ambiental (e tambémsocial) no longo prazo.

11acontece

o mecanismo de fixaçom de preços está baseado em portagens e no preço de mercado por leilomeconomia

O que se passa com o setor elétrico?

Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

a opacidade nos leilons permite

manipular os preços

as empresas nomfam auditorias para

conhecer a realidade

o fenómeno das 'portas Giratórias' e fundamental para entender o oliGopólio

distribuiçom GeoGrÁfica da produçom e o consumo elétrico no estado espanhol

■ produçom ■ diferença produçom/consumo ■ consumofonte: reD eléctica eSpaÑola

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12 internacional Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

rabin rama é uma organização criada por shipibas migradas à cidadea terra treme

uma olhada à luta das mulheres shipibasL.DOPAZO RUIBAL / Hilda tem a pe-le endurecida pelo sol de cin-quenta anos de trabalho. A peleendurecida baixo os acenos sua-ves que lhe movem a cara ao fa-lar. A pele é importante; se es pe-ruana a pele é importante, quasetanto como o é a língua.

No continente americano sa-bem isto. Em Latinoamérica, co-mo acontece em boa parte do pla-neta, há dois traços que permitemetiquetar com um simples golpede olhos: o gênero, a cor.

Hilda Amasifuén é mulher e éindígena da Amazônia. Falar demulheres da floresta, coloca apriori um ela e um nós. Uma fron-teira. Segundo avança a conversa,o eu e o ela, o nós e o vós diluem-se. Há mais semelhanças que di-ferenças nisto de contar as bata-lhas e vitórias das mulheres de umlado e doutro no mapa.

A floresta da qual Hilda procedeé espessa, é imensa. A Amazôniaestende-se por oito estados: o Bra-sil e o Peru, que partilham a maiorextensão da floresta, mas tambémColômbia, Venezuela, Equador,Bolívia, Guiana e Suriname. NaAmazônia peruana convivemmais de uma dúzia de grupos ét-nicos. Hilda é shipiba. O seu povodistribui-se principalmente nasmargens do rio Ucayali, em 226comunidades que somam por vol-ta de 25.000 pessoas. Ainda quenasceu numa comunidade, morae trabalha na cidade, uma cidadepequena, deitada na margem dorio, e que se move ao ritmo dosimensos barcos que o cruzam.

Para os olhos forasteiros, as co-munidades shipibas são uma pai-sagem estranha. Entre as novasconstruções de madeira aindapervivem cabanas sem paredes eteto de palha, elevadas um metrodo chão, e sulcadas de macas nasque dormir. Cada comunidadetem uma rede de voleibol, o des-porto por excelência da floresta.Em cada comunidade, as meninassão as melhores jogadoras. O vo-leibol é um desporto eminente-mente feminino.

Desde que as comunidades seassentaram há um século, um fe-nômeno relativamente recente, avida das mulheres mudou avondo.“Antes os pais decidiam pelo ho-mem para se casar, iam buscar-lheuma mulher; designavam os casaisdesde o nascimento”, explica Hil-

da. Ela, que tem filhas e já algumneto, leva a vida inteira a lutar pe-los direitos das mulheres, dentro efora da sua comunidade. “Antespensavam que as mulheres eramnada mais uma parte do homem;quem tomava as decisões era o ho-mem”, diz, e por um exemplo: “aminha avó dizia: como vai lavar elese é um homenzinho?”.

Organizadas em Rabin RamaHilda tenta fazer um repasso, aju-dada pela sua filha Jersy, sentadaao seu lado, do trabalho que levamfeito nos últimos anos através deuma organização criada por shi-pibas migradas à cidade, RabinRama. “Rabin Rama viu que a ne-cessidade era grande; antes mui-tas pessoas vinham a Yarinacochapor estudos ou trabalho, e as mu-lheres tinham que trabalhar”, ex-plica; “os homens não pensam nacasa nem nos filhos, eu sai parasacar adiante as minhas filhas”,acrescenta após contar que tam-bém ela teve problemas na casaquando pensou por vez primeiraem sair do âmbito doméstico.

A organização Rabin Ramaconta com um grande reconheci-mento dentro das comunidades, etrabalha em diversos campos,além do apoio a mulheres traba-lhadoras. “O último projeto emque trabalhamos é de participa-ção feminina nos governos lo-

cais”. As comunidades indígenastêm governos próprios em que épossível levar avante iniciativasque optem a receber orçamentospúblicos. “As autoridades não in-formam do orçamento participati-vo à população; por isso capacita-mos autoridades, comunidades efuncionários”. Estes orçamentosparticipativos, explica Jersy, são“propostas das autoridades da co-munidade para o bem da comuni-dade”. A questão é procurar temasprioritários, mas se não há infor-mação, dificilmente se podemapresentar projetos.

“Os homens não pensavam nasmulheres” para apresentar inicia-tivas para a comunidade. “Depoisdas capacitações, as mulheres jánão têm medo a falar em público eapresentam as suas propostas”. Asideias das mulheres são, por regrageral, mais abertas, incidem de jei-

to mais direto no bem-estar co-mum, e tendem a um gasto maiseficiente do orçamento público.

Porém, aclara, “ainda não têm omesmo peso a voz do homem e ada mulher, por isso temos quecontinuar com este trabalho”.

Defender-se sozinhasNos seus inícios contaram com oapoio doutras organizações parase formar, antes de se converterelas próprias em formadoras.“Fomos capacitadas em melho-rar a nossa capacidade de pro-dução, liderado, autoestima,equidade de gênero e violênciaintrafamiliar e sexual”. Aprende-ram quais eram os seus direitos,de que jeito tinham sido vulnera-dos e questões como a discrimi-nação racial. Agora, “fazemosver que nos têm que respeitar co-mo pessoas; as mulheres de Ra-bin Rama aprenderam e sabemcomo defender-se sozinhas”.

Nos anos que levam de andaina,aumentaram em número e em ca-pacidade de incidência. “Traba-lhamos com instituições, que co-laboraram com nós em temas co-mo os educadores de pares, quefuncionam muito bem”. Os educa-dores de pares são pessoas forma-das no seio da comunidade quereplicam os conhecimentos em re-de, de jeito totalmente horizontal,algo básico em comunidades com

uma língua própria e uma culturadiferenciada. Nalgumas questões,como é o caso da educação sexualou a planificação familiar, é básicoo apoio entre pares para segurarque as mensagens chegam a todaa comunidade, trasladadas comrespeito aos costumes e às tradi-ções que lhes são próprias.

A história recente mostra que otrabalho pelos direitos humanostem dado os seus frutos. Do tempoem que a mutilação genital erauma prática comum na Amazôniaperuana até hoje, a situação dasmulheres tem mudado muito.

Mas também é muito o que ficapor fazer. Os povos amazônicoscontinuam a ser os mais pobresdo Peru, com menos acesso a ser-viços de qualidade e a oportuni-dades em igualdade. De entre osmais pobres e oprimidos, as mu-lheres são maioria. Dedicadomaioritariamente a atividades tra-dicionais, o povo shipibo luta pormanter vivas a sua cultura frentea uma modernização maciça eocidentalizadora que leva pordiante séculos de tradições, jeitosde vida e uma cosmogonia única.

Esta não é só a realidade shipi-ba. É fácil encontrar analogiascom outros povos, e as mulheresque fazem parte deles, que dia adia transformam o estigma deser mulheres indígenas na ban-deira da sua luta.

hilda amasifuén e líder comunitÁria de uma etnia indíGena da amazônia peruana

“os homens não pensam na casa nem nos filhos”

o povo shipibo luta por manter

viva a sua cultura

mulheres shipibas cozinhando odia da festa da sua comunidade

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13internacionalNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

“É causa de diversos tipos de cancro, de aceleraçom da demência, de infertilidade e de malformaçons nos fetos”além minho

JOSÉ A. ‘MUROS’ / No Indostámalém dos distintos povos, étnias ecomunidades com línguas e cos-tumes vários que o conformam,sejam estas anissasi (aborígenes)ou aderentes a umha das civiliza-çons dominantes (hindu, indo-musulmans etc) trasversalizadaspolos estados-naçom herdeiros dacomum e imposta civilizaçom oci-dental, há comunidades, povos,grupos que polo seu caráter inter-médio entre estas, com rasgos

particularizantes e ao mesmotempo de ponte-fratura, é bom ci-tá-las neste último percurso poreste subcontinente:

Cachemira: naçom sem estadoque é ao mesmo tempo um lugarde fratura entre o Islám e o hin-duísmo, entre Pakistám e a UniomÍndia. Esta povoada por uns 10 mi-lhons de pessoas que se nucleamao redor do belíssimo Val de Ca-chemira, entre o Tibet, Pakistám ea Índia. Falam maiormente Kas-

mir, umha língua que conta comumha rica tradiçom histórica e quetem caráter oficial na Uniom Ín-dia, constitucionalmente no esta-do de Jamnu e Cachemira. O povo

deste território procura liberar-seda dominaçom índia com o apoiode um Pakistám cobiçante de um-ha anexaçom e duns integristas is-lámicos que a consideram pontade lança da Jihad global. O territó-rio que depois de anos de guerrasde guerrilhas logrou administrarPakistám se denomina ironica-mente Azad Cachemira (Cachemi-ra Livre). Há que dizer que o povoKasmir foi noutrora multi-religio-so, com um povo tolerante de ten-

dências sufis e moderadas e um-has elites hinduístas (Nerhu entreeles).O movimento de libertaçomnacional divide-se entre os queprocuram umha Cachemira livredos dous estados, laica e reunifi-cada e os fundamentalistas pro-pakistanis. As elites de terratenen-tes e brahmas hinduístas escapá-rom para o sul, cara o distrito deJamnu, perdendo idioma (adotá-rom o Indi) e costumes (de um valmontanhoso à planície indostana).

primeira entrega do repasso de conflitos étnicos no indostámpovos

Quebras várias no Indostám. Pontos de encontro? (I)

reivindicaçom contra a alta tensom salta a raia galego-portuguesa

Centenas de vizinhos e vizi-nhas do concelho galego deArvo manifestaram-se naquinta-feira passada emCompostela. Chegárom emvários autocarros e percorrê-rom algumhas ruas do centrohistórico até o Obradoiro des-de as onze da manhá. Som osprincipais afetados por umalinha de alta tensom de 400kilowatts que percorrerá, emterritório galego, a distânciade 23 quilómetros que separao alto da Fonte Fria, na Cani-ça, e a fronteira portuguesano referido concelho do Con-dado, passando também po-los municípios das Neves eCovelo. Nom era a primeiravez que se manifestavam. Po-rém, nesta ocasiom, a vizi-nhança arvense contou coma solidariedade dos vizinhosdo outro lado da raia.

RAIMUNDO SERANTES / As cruzes eos caixons que portavam as pes-soas na concentraçom ilustravamclaramente o sentido da reivindi-caçom. Nom se tratava apenas dadefesa de uns metros quadradosde terreno, mas da própria vida.Em geral, com o objetivo de nomafetar a saúde das pessoas, este ti-po de instalaçons costumam pas-sar a quatrocentos metros das ca-sas habitadas, mas neste caso a

Rede Elétrica Espanhola (REE) ea Rede Elétrica Nacional (portu-guesa) decidiram que a linha dealta tensom podia passar a menosde 20 metros das casas, priorizan-do interesses económicos à saúdedas pessoas, que deveria ser colo-cados antes de qualquer outraconsideraçom mesmo em caso dedúvida. Essa é a política, de facto,que defende o alcalde nacionalis-ta de Arvo, Xavier Simón, que re-jeita os 22.000 euros que a REEoferece aos cofres municipais pa-ra passar as famosas torretas poloterritório do município: “Nom hádinheiro suficiente que compenseos efeitos sobre a populaçom”,afirma. As freguesias mais afeta-das polas enormes torres som, em

território galego, as de Caveiras,Varzela, Sela, mui povoadas e vi-nhateiras, mas tampouco em Por-tugal houvo demasiada conside-raçom polas pessoas, e as cáma-ras municipais de Melgaço e Mon-ção, unidas aos representantes devárias juntas de freguesia, juntá-rom-se ao protesto com bandeirasportuguesas. Igualmente juntosparticipam na Plataforma Inter-nacional de Afetados pola Linhade Alta Tensom 400 Kw FonteFria-Fronteira Portuguesa (AA-LAT), que podeira estender-se aoutros concelhos lusos se a des-consideraçom com a vizinhançafor a política da empresa em todoo trajeto da linha. Agapito Valado,porta-voz da Plataforma, desta-

cou que os horizontes de sucessoque se abrem para a iniciativacom a adesom da populaçom por-tuguesa ao protesto som agoramuito maiores, apesar de que aRede Elétrica Espanhola já está ainformar alguns vizinhos de que aocupaçom de terrenos é iminente:“A vitória é segura, porque nom sepodem impor à vontade popular”,di. Os promotores da iniciativa pe-dem que o projeto seja retirado,mas nom a linha, que consideramque pode passar por outros terre-nos, nom habitados e baldios.Com isto último referem-se àpreocupaçom que sentem comum dos modos de subsistência dacomarca: as vinhas, denomina-çom de origem Rias Baixas, atra-vessadas em cheio pola linha. Aparte final do trajeto antes da en-trada em território português tam-bém afeta a mina romana das La-goas. Para o impedirem, tentaráminternacionalizar (em referência aPortugal) o conflito e pedirám queas forças políticas representadasno concelho de Arvo que contemcom assentos em Madrid levem a

questom ao Congresso. O eletromagnetismo que pro-

duz a linha é prejudicial para asaúde, até o ponto de que “é causade diversos tipos de cancro, deaceleraçom da demência, de infer-tilidade e de malformaçons nos fe-tos, riscos “mais do que suficien-tes para que sejam procuradas al-ternativas e a a linha seja construí-da por lugares baldíos onde nomhabitem pessoas e o risco para asaúde nom exista”.

No concelho de Monção, repre-sentado na manifestação porConceição Soares, vereadora dopelouro das obras e urbanismo, omais afetado do lado português,as freguesias atingidas som as deRiba de Mouro, Tangil, Merufe,Portela, Abedim, União das Fre-guesias de Messegães, Valadarese Sá, União das Freguesias deCeivães e Badim e União das Fre-guesias de Anhões de Luzio. Po-rém, no território português, oprojeto de alta tensom atravessamuitos outros concelhos mais asul, como a Póvoa de Varzim, Vilado Conde, Barcelos, Vila Nova deFamalicão e os concelhos limítro-fes dos dous minhotos já citados.O projeto encontra-se em fase deconsulta pública nas cámarasmunicipais portuguesas abrangi-das (nas galegas já acabou) ou nosítio da Internet www.apambien-

te.pt até o dia 13 de fevereiro.

projeto de lat ameaça saÚde das pessoas em vÁrios concelhos fronteiriços

“nom há dinheiroque compense os

efeitos sobre o povo”

cachemira é um lugar de fratura entreo islám e o hinduísmo

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14 dito e feito Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

O que som os cantos de Reis? Gru-pos de moças e moços percorriama aldeia em quadrilhas cantandoestas peças da literatura popular, eem troques recebiam o aguinaldocom o que faziam a festa. Iamacompanhados de gaiteiro e, oca-sionalmente, percusom e outrosinstrumentos populares. Em Natalcantavam-se panxolinhas ou na-tais, em Fim de Ano as Janeiras,Manueis ou Aninovos, e na vésperade Reis os cantares de reis ou agui-naldos. O conteúdo destes cantosadoita estar relacionado com a te-mática religiosa do Natal, aindaque começam com umhas cántigasem que se pede licença para entrarna casa que os recebia, e rematamcom umha louvança aos seus do-nos em caso de que lhes dessem al-go polas suas músicas.

Muitos destes cantos, de grandecomplexidade, provenhem do re-pertório gregoriano e os cantaresreligiosos dos séculos XV e XVI,mas fôrom adaptados polo povo.Essa origem em textos bíblicos faicom que a meirande parte delesestejam em “castrapo”.

Boimorto, o labor de recuperaçomBoimorto é umha das capitais ga-legas dos cantos de Reis, graçasao Certame de cantos que nesteano chegou à sua décima ediçom.As quadrilhas participantes noconcurso citam-se pola manhá doprimeiro Sábado do ano para co-meçar um percurso polas paró-quias de Boimorto, continuandocom um jantar colectivo e a mos-tra dos cantos à tarde. A músicaacompanha-se também dumhafeira de artesania. Neste certamedam-se cita algumhas das gran-des quadrilhas de reiseiros querecorrem nos dias prévios os ruei-ros de distintos pontos do paísdando vida à tradiçom.

Rancho de Reis em SalzedaMas nom só os cantos som típi-cos destas datas; vilas do Sul daGaliza como Salzeda de Caselas

mantenhem viva a tradiçom dasdanças no dia de Reis, tambémconhecidas como “ranchos”. Amaior parte dos ranchos que seconservam na atualidade somdesta zona, destacando o de Gu-láns, Riofrio, e o Norte de Por-tugal. Malia as diferenças de ca-da zona, predominam neles asvestimentas brancas e os ador-nos florais e exóticos, para além

das jóias e o ouro. O grupo salcedense Os de Sem-

pre reune-se há anos com as ve-lhas geraçons que compunhamos ranchos e em 2009 voltou a en-

cher as ruas da vila de baile e mú-sica no Dia de Reis. O rancho des-ta zona estava composto por dousdançantes que bailavam arredorda figura da Dama, normalmente

representada por um menino en-galanado como umha senhora. Adiferença doutros casos, nesterancho nom existe a dança dospaus, dos arcos ou as fitas, tam-bém nom se dança dentro da igre-ja, como sim é o caso da paróquiade Guláns (Ponte Areias).

Também nas cidadesMas nom só as aldeias se enchemde música popular no Natal; as ci-dades galegas estám começandoa ver como as associaçons de ba-se recuperam esta tradiçom. EmLugo, por exemplo, mantivo-se vi-va até a década de 60. Em 70,anos especialmente pobres nesteámbito, a associaçom culturalMaria Castanha voltou a tomar asprincipais ruas da cidade para dara conhecer o legado reiseiro àsnovas geraçons. Nos últimosanos, colectivos como Os Frebu-dos continuarom com esta tradi-çom na cidade.

Ponte Vedra é outro dos pon-tos onde estas músicas estámmais vivas, graças ao labor daA.C. Os Chichisos, que leva trezeanos saíndo polas ruas da cidadee outras paróquias da zona can-tando os Reis. Neste ano, porvolta dumhas vinte crianças saí-rom cantar nas datas de Natal.Vendo o êxito que espertou nosúltimos anos, em 2008 os Chichi-sos decidírom dar um mais pas-so nos trabalhos de recupera-çom e oferecer obradoiros decantos de Reis em centros de en-sino como o CEIP de Cabanas.

Também na Corunha o caminhode recuperaçom está dando osseus primeiros passos. Neste Na-tal convocou-se um obradoiro pa-ra aprender os cantos com os es-pecialistas Pablo Díaz e Olga Kirk.

dito e feito

O tecido associativo consegue devolver à vida os Cantos de Reis

Muitas das peças provenhem do repertório gregoriano e os cantares religiosos do século xv e xvi

a tradiçom natalícia GaleGa também cheGa às cidades

OLGA ROMASANTA / Os movimentos sociais conseguírom que desde há unsanos o Apalpador volte a descer das montanhas para levar castanhasàs crianças galegas. Mas essa nom é a única tradiçom do nosso Natalque se conseguiu recuperar: de Riofrio a Boimorto, de Ramirás ao Ze-breiro, existem pequenas associaçons que levam décadas investigando

e interpretando os Cantos de Reis, cançons ou mesmo danças que en-chiam de música os remates do ano e os primeiros dias do ano novo. Oseu trabalho foi devagarinho, mas hoje, quarenta anos depois de que asprimeiras associaçons se interessassem por esta tradiçom, já se podemouvir em boa parte do país.

lugo, ponte vedra oucorunha tambémcantam em reis

vilas do sul tambémrecuperárom as

danças destas datas

foto antiga do rancho de reis dabaixo, Salzeda de caselas

chichisos na praca̧ de Sam José,́ ponte Vedra

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15a conversaNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

a conversa “dizer que há que priorizar a questom social sobre a nacional é umha falsidade”

RAUL RIOS / No 3 de março doano passado decorria emCompostela a primeira mani-festaçom soberanista convo-cada unitariamente por umconjunto de forças tam hete-rogéneo como o BNG, Nós-UP, AMI, o MpB ou a CIG. Erao germolo da iniciativa Galizapola Soberania (GpS), com-posta de pessoas militantesdestas forças ou de gentesem filiaçom, com o objectivoexpresso de espalhar a ideiade soberania entre a popula-çom galega. Segundo contaPaula Rios – militante de Mu-lheres Nacionalistas Galegase membro da coordenadorade GpS –, a iniciativa está ain-da dando os primeiros pas-sos. O trabalho proposto paraos próximos meses é consti-tuir grupos de trabalho seto-riais para artelhar um discur-so com o que fazer essa pe-dagogia soberanista. Tam-bém, e ainda que faltem me-ses para o 25 de julho e nomhaja nada falado formalmen-te, confessa que umha dasideias de futuro da iniciativaseria convocar um Dia da Pá-tria unitário no que todo o so-beranismo pudesse sentir-serepresentado.

Logra-se fazer pedagogia sobera-

nista entre gente que nom é nacio-

nalista a priori ou, afinal, acaba

caindo o discurso sempre na pró-

pria militância do nacionalismo?

Nom é doado. Num primeiromomento, as pessoas que temosumha sensibilidade nacionalistasomos as primeiras em juntar-mo-nos. Tampouco é baladi nes-te país: umha iniciativa que porprimeira vez tenta abranger todoo âmbito do nacionalismo de for-ma aberta já é positivo. Umhavez que acordamos quais somesses mínimos para os diferen-tes jeitos de ver o país, sim esta-mos fazendo esse outro trabalhode tentar gerar discurso com oque fazer pedagogia.

A ideia agora é criar comissonsde trabalho por setores para ge-rar esse discurso. Por exemplo,criará-se umha comissom de his-

toriadores e historiadoras ou,também, umha que se centre nasquestons económicas, para deitarabaixo todo esse argumentário deque “sem Espanha nom podemossobreviver”.

Nesse sentido, existe a ideia de

que a reivindicaçom nacionalista

ou soberanista é para "tempos de

paz", mas num contexto de crise

económica cumpre priorizar o

social por acima do nacional.

Nom podemos esquecer que aquestom nacional na Galiza estávencelhada historicamente a um-ha ideia de esquerda. De todas for-mas, tampouco é o trabalho deGpS estabelecer qual é o marcoeconómico que quereríamos nes-sa república, independentementede que o sentir maioritário poidaser um mui concreto, evidente-mente social. Eu por exemplo per-tenço a um coletivo feminista,nom me valeria pessoalmentequalquer soberania se nom temem conta a metade da populaçom.

Nom é questom de priorizar, éumha trampa. O nom termos so-berania como povo também afetaàs questons sociais. Se tivermossoberania poderíamos tomar de-cisons diferentes às que se estámtomando agora naquelas cousasque nos afetam.

Como é possível fazer-lhe che-

gar essa mensagem à gente que

vê que o seu perigo imediato es-

tá em perder o trabalho ou em

perder a casa?

Esse é o repto. O elaborarmos odiscurso que lhes faga visível queeste outro discurso de que "há quepriorizar umha cousa ou outra" éfalso à partida. Um exemplo:numha comarca como Ferrol,com a crise do naval e a morte daprópria comarca, é importantevincular no discurso soberania eeconomia, pôr sobre a mesa quesim que lhes afeta nom sermos

soberanos. Nas últimas decisonssobre pesca em Europa, foi o Go-verno do Estado o que priorizavaa pesca andaluza em detrimentoda galega. O valor desta iniciativaé conseguir que a gente veja quea soluçom à crise também passapor sermos um povo soberano.

Quando nasceu GpS, houve gen-

te que lhe atribuiu ao BNG estar

detrás da mesma e mesmo hou-

ve quem interpretou que era

umha forma de marcar posiçons

frente à Anova, agora mesmo co-

ligada com Esquerda Unida. Que

lhes dirias?

Diria-lhes que eu pertenço a umcoletivo, Mulheres NacionalistasGalegas, que sempre cuidou muitoa sua independência como organi-zaçom. É evidente que há pessoasdo BNG dentro da iniciativa. Queseja mais ou menos visível deter-minada organizaçom depende deque as pessoas doutras organiza-çons também nos impliquemos. Sehá 20 pessoas que formam partedumha organizaçom e três ou nen-gumha de outra…

A ideia dos promotores é queseja umha iniciativa de adscriçomindividual e ampla. Muitas pes-soas gostaríamos de algo como oque está a fazer a Assembleia Na-cional Catalá: elaborarmos unsmínimos entre todas as pessoasque cremos que os povos temos

direito a decidir o nosso futuroem liberdade e, depois, já dare-mos os passos necessários. En-tendemos que por processos his-tóricos que vivemos é difícil.Sempre há esse medo a que nosmanipulem ou que nos utilizem,ou que alguém está a mover osfios… mas nom há tal.

Entendo, polo que me dizes, que

nom há demasiada gente do en-

torno de Anova implicada em

GpS; ou nom tanta como doutras

organizaçons…

Há pessoas de diferentes setores,eu tampouco vou perguntando "dequem és". Nom pido filiaçom a nin-guém, em todo caso pido trabalho.

Tivemos juntanças com diferen-tes organizaçons ou coletivos paraexplicar a iniciativa. De primeiras,como estava no grupo inicial queconvocou a manifestaçom [a do 3de março], o Bloque sim que ma-nifestou que apostava por um pro-cesso soberanista e nos convidavaa fazer essa pedagogia. No entan-to, Anova, num primeiro momentoe por mor dos funcionamentos in-ternos, comunicou que necessita-va mais tempo. Agora tem outrosproblemas que tem que resolver,mas sim há pessoas de Anova queestám a colaborar exatamenteigual que pessoas de outras orga-nizaçons ou que nom tenhem fi-liaçom nengumha.

Falavas-me de que, pola história

recente, era fácil pensar que al-

guém ia "mover os fios" ou "te ia

manipular". Nom sei se te refe-

rias a outras iniciativas suprapar-

tidárias anteriores como as Bases

Democráticas ou Causa Galiza.

Referia-me a todos. As pessoasque levamos tempo formando par-te ou trabalhando no soberanismoconhecemos diferentes processosque, por umhas questons ou poroutras, nom conseguírom calhar.Os que te referes e outros, como oProcesso Espiral no seu momento.Todo esse tipo de questons vamdeixando feridas.

Como evitar os mesmos erros?

Umha das questons importantesé que a iniciativa seja de adscri-çom individual. Somos pessoasconstruindo a soberania, nom or-ganizaçons construindo a sobe-rania. Imos falar entre todas aspessoas que é o que queremos pa-ra este país e como podemostransmiti-lo ao resto da popula-çom. Umha vez haja umha massasocial consciencializada com asoberania pois já escolherá.

Que erro nom devemos cometer?

Considerar que isto é um "chirin-guito" de tal grupo. Cada qual serepresenta a si mesmo ou a simesma e todo o mundo temos jei-to de participar.

Muitas vezes, as iniciativas su-

prapartidárias tenhem sido em-

pregues por grupos políticos pa-

ra levar a cabo a sua própria es-

tratégia de cara à própria mili-

tância nacionalista no canto de

para trabalhar a prol dos objeti-

vos declarados em cada caso.

Corre o mesmo risco GpS?

Riscos corremo-los sempre. Euacho que a participaçom horizon-tal e a existência de assembleiasabertas é umha vacina. Estamosnum tempo histórico no que te-mos que superar esses medos atá-vicos que temos no nacionalismo,soberanismo, independentismoou como queiramos chamá-lo. Éumha responsabilidade do con-junto. Como evitar esses riscos?Se vamos com lealdade nom de-veríamos ter nengum problema.

“a soluçom à crisepassa também por ser

um povo soberano”

entrevista a paula rios, da iniciativa Galiza pola soberania

“Pensar que Galiza pola Soberania éum ‘chiringuito de tal grupo’ é um erro”

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16 a fundo Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

a fundo

Chegou o final. Os restos dasantigas Caixas de Aforro gale-gas, reconvertidas na Nova Ga-licia Banco, fôrom vendidos apreço de saldo a quem mais pa-gou. Consuma-se assim o des-membramento do tecido finan-ceiro próprio e dá-se via livre aoespólio do aforro gerado na Ga-liza. As responsabilidades polí-ticas da catástrofe, numha Jun-ta que nom só recusou semprea exercer a competência exclu-siva em matéria de Caixas deAforro, como ainda foi prepa-rando o assalto do capital pri-vado às Caixas já desde temposanteriores a Fraga. O Banesco éapresentada como a menos mádas opçons, mas os responsá-veis governamentais nem con-siderárom a hipótese de nacio-nalizar a entidade.

A. LOPES E R. RIOS / Depois de que oFundo de Reestruturaçom Orde-nada Bancária (FROB) empregas-se uns 9.000 milhons de euros pú-blicos no saneamento da NovaGalicia Banco (NGB), o grupobancário venezuelano Banescoganhou o leilom a que foi subme-tido a entidade com umha ofertade 1.000 milhons, umha nona par-te do que o Estado gastara no res-gate da mesma. O saldo negativopara os contribuintes é de 8.000milhons de euros.

Além do baixo preço, os obsé-quios da administraçom estatal àempresa venezuelana som múlti-plos. Assim, umha nota informati-va emitida polo FROB em 18 dedezembro indicava que este fundoestatal compensará em 85% asperdas relacionadas, entre outrosaspetos, com as responsabilida-des do banco na emissom de par-ticipaçons preferenciais, com adesapariçom das cláusulas-soloou mesmo com as dívidas contraí-das com entidades seguradoras. Arespeito deste último ponto, a no-va proprietária da NGB terá co-berta a indemnizaçom de 430 mi-lhons que a seguradora Aviva vemreclamando. Umha bilha abertade dinheiro público para limparas más gestons empresariais.

Há décadas que as Caixas jánom funcionavam nas condiçonsem que foram concebidas no iní-cio, isto é, como entidades deaforro popular com finalidade so-

cial e nom mercantil, destinadasàs necessidades do povo e nomao lucro empresarial. Enfim, ascaixas funcionavam sob umha ló-gica nom capitalista. É verdadeque este funcionamento das Cai-xas estava a ser pervertido siste-maticamente com a cumplicidadedo poder autonómico e estatal,mas também é certo que com avenda de NGB, a Galiza perde apossibilidade de começar a cons-truir sobre a entidade um sistemafinanceiro próprio e ao serviçodas necessidades de crédito daeconomia real do país.

“A melhor oferta”Quando o FROB pujo a NGB de-finitivamente à venda recebeuaté seis ofertas diferentes entreas quais a do Banesco. Das ou-tras cinco, duas procediam dedous fundos de investimento nor-te-americanos, o Guggenheim eo JC Flower; e as outras três debancos espanhóis: Santander,BBVA e CaixaBank.

Que o ganhador do leilom forao Banesco parece a melhor op-çom ou, por melhor dizer, a me-nos má das possíveis. Este é oúnico ponto em que parece exis-tir certo consenso entre Junta eoposiçom, embora seja por dife-rentes motivos. Pola sua banda,o presidente Feijoo insiste emque a do Banesco foi “a melhoroferta para os contribuintes es-panhóis” e que, polo menos, ex-plica, a NGB nom foi vendida porum euro como a Caja de Ahorrosdel Mediterráneo ou a Unnim.

Bem diferente é o ponto de vistada oposiçom parlamentar. O por-ta-voz nacional do BNG, XavierVence, vê consumada a “coloniza-çom” do aforro galego; mas reco-nhece que a pior opçom seria a“colonizaçom direta da banca es-panhola”. E, numha linha similar,o secretário-geral do PSdeG, JoséRamón Gómez Besteiro, reconhe-ce que nom se pode falar de “gale-guidade” da entidade bancáriaainda que o seu âmbito de atua-çom vaia ser, “fundamentalmen-te”, a Galiza.

Seja como for, a principal dife-rença entre o Banesco e um bancoespanhol é que o venezuelanonom tem presença na Galiza en-quanto o Santander, BBVA ou Cai-xaBank sim. Isto obriga ao primei-

ro a manter a estrutura com queaté agora vinha funcionando aNGB, enquanto os últimos pode-riam substitui-la polas suas pró-prias redes de agências e centrali-zar certos serviços nas seus escri-tórios principais em Madrid.

Risco para os postos de trabalhoManter o emprego do banco nomfoi umha condiçom a ter em contapolo FROB no leilom no qual o Ba-nesco se fazia proprietário daNGB. Ainda assim, tanto a Juntacomo o gigante venezuelano in-sistem em que se manterá o atualquadro de pessoal, composto por40.000 pessoas.

Porém, a CIG-Banca lembra queno NGB está em andamento umERE que nom se interromperácom a chegada dos novos proprie-tários. Clodomiro Montero, da cen-tral sindical citada, salienta que es-se expediente atinge 350 pessoase que poderám ser despedidasnum futuro próximo se nom acei-

tarem o plano de baixas incentiva-das - cujo prazo expira em 20 dejaneiro. Este ERE é o quarto que seexecuta desde a fusom e a criaçomda Novacaixagalicia em 2010, ade-mais doutras remodelaçons quedeteriorárom as condiçons labo-rais. Montero indica que em 2010,no momento da fusom, o plantelda Novacaixagalicia ascendia às8.300 pessoas. Hoje, ficam apenasumhas 4.300, quase a metade.Acrescente-se a isto os postos detrabalho indiretos perdidos, cate-goria difícil de quantificar.

A CIG-Banca salienta tambémo risco para o futuro do pessoalna Unidade de Gestom de AtivosSingulares (UGAS) da NGB, umplantel de umhas 530 trabalhado-ras e trabalhadores. Esta divisomé a encarregada da gestom e sa-neamento dos ativos que o bancotem em diversos setores, como oimobiliário. Mas o futuro destespostos de trabalho no UGAS ficatambém no ar com a promessa doBanesco de liquidar estes ativos.

Segundo assinala Montero, taisativos poderiam estar avaliadosem 600 milhons de euros. Estaquantia é mais um obséquio parao Banesco, pois com a adjudica-çom da NGB a esta entidade sus-pendeu-se o processo de coloca-çom desses ativos, sendo agora aentidade venezuelana a que irá lu-crar da sua venda.

Banca pública, por que nom?No meio do delírio, alguns se es-forçavam em fazer ver que a ven-

da das caixas nom era tam má op-çom e outros caíam na resigna-çom. No entanto, tanto a AGE co-mo o BNG reclamárom, antes dese iniciar o processo de venda,que se criasse umha banca públi-ca galega a partir da NGB, comosoluçom nom só viável, mas tam-bém desejável. A maioria absolutado PP encarregou-se de que aspropostas para lograr um controlopúblico e galego da entidade ficas-sem no papel.

Na realidade, no atual quadrolegislativo europeu e espanhol,nom há nengum impedimentopara a nacionalizaçom. O Estadopoderia nacionalizar facilmenteo banco por “motivos de interes-se geral”, transformando as par-ticipaçons do FROB por decreto-lei e compensando os investido-res, para depois assinar um acor-do com a Junta para manter ocontrolo na Galiza.

Segundo um estudo realizadopolo BNG, o custo disto seria de2.430 milhons de euros no máxi-mo, o valor das participaçons doFROB. No referido estudo, os na-cionalistas recordam que tam-bém a privatizaçom implica cus-tos para as arcas públicas - no ca-so da CAM, o Sabadell levoumais de 5.000 milhons de eurosdo Banco de Espanha. A diferen-ça estaria no resultado: um ban-co privado ao serviço do lucroparticular ou umha entidade pú-blica que funcionasse conformecritérios de interesse social. Afi-nal, acabou sendo o primeiro.

Galiza fica sem sistema financeiro

Venda das caixas a preço de saldo

a venda poderia ter sido evitada comumha banca pública

a conservaçom deemprego nom foi tidaem conta polo frob

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17a fundoNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

Um guiom ruim para um final previsívelA.L. E R.R. / O assassinato começoua argalhar-se bem antes da fusomda Caixa Galicia e a Caixa Nova.O artigo 30 do Estatuto de Auto-nomia atribui ao Parlamento gale-go e à Junta a competência exclu-siva sobre a regulaçom das Caixasde Aforros. Em 1985, quatro anosdepois da aprovaçom do Estatuto,o Parlamento promulgava a Lei7/1985, exercendo essa competên-cia de regular as caixas.

Arribada madrilenaUm mês depois entra em cena oGoverno central, personagemprincipal do drama das Caixas. OPSOE de Felipe González, commaioria absoluta naquela altura,aprova a Lei 31/1985, de “regula-mento das normas básicas sobreórgaos reitores das Caixas de Afor-ro”, intrometendo-se num ámbitocompetencial que era matéria ex-clusiva da Comunidade Autónoma.O poder central quer homogenei-zar o esquema das diferentes Cai-xas de Aforro do Estado, cada um-ha adaptada ao seu próprio contex-to. Pouco depois, o Tribunal Cons-titucional (TC) remata a faena de-clarando inconstitucionais esuprimindo vários artigos da Leide Caixas galegas numha sentençade 22 de março de 1988.

Rapidamente, os figurantes dogoverno tripartito que governavana Junta naqueles anos (Psoe, CGe PNG) decidem tramitar no Hór-reo um projeto de lei de modifica-çom da lei de Caixas do ano 85,com o único objetivo de se amoldarao corsé imposto polo TC. O BNGapresentou na altura umha emen-da à totalidade, desouvida polamaioria parlamentar, denunciandoque aquele projeto de lei era “umauto-recorte de competências”.

Qual foi o resultado? Umha leide Caixas cheia de buracos quenem sequer regula cara que tipode investimentos se deve orientaro crédito gerado. O único controlopúblico das entidades de aforro é,atendendo à questons de solvên-cia financeira, a necessidade - ex-clusivamente potestativa - de au-torizaçom prévia da Junta “paraos investimentos em imóveis,açons, participaçons ou outros ati-vos monetários, a concessom degrandes créditos ou a concentra-çom de riscos numha pessoa ougrupo”. Exercêrom os sucessivosgovernos da Junta esse controlo?

O conto nom remata aí. Na leitambém se contemplam as “quo-tas participativas”, isto é, a entra-da de capital da banca privada nasCaixas. Que interesse há de ter o

capital privado de participar dum-has entidades com fins sociais enom lucrativos?

Depois chegou Fraga e, comele, a lei de Caixas de 1996. Cria-se entom um mecanismo de con-trolo das caixas: umha unidadeadministrativa da Conselharia daEconomia e Fazenda para velarpolo cumprimento da regula-mentaçom vigente.

O “controlo” da JuntaSob esse suposto controlo da Jun-ta de Fraga e dos posteriores go-vernos, as Caixas de Aforros fô-rom incrementando as suas apos-tas no setor imobiliário, alimen-tando a bolha especulativa queacabaria por arrastar à queda estetipo de entidades financeiras. Nosinformes de governo corporativoque as Caixas galegas deviam en-tregar anualmente ao ConselhoNacional do Mercado de Valores(CNMV) já se expóm a releváncia

das jogadas especulativas nos gru-pos de negócio das mesmas.

Assim, a Caixa Galicia, no seuinforme de 2007, reconhecia um-ha “ativa presença nos mercadosde capitais”, afirmando ser “um-ha das entidades financeiras es-panholas com maior operatóriaem mercados financeiros”. Nomesmo ano, a Caixanova indica-va também que umha das ativida-des que abarcava o seu grupo denegócio era a “participaçom emempresas de setores que polo seupeso na economia, o seu poten-cial de crescimento e geraçom devalor, ou o efeito multiplicadorque podem despregar, se consi-deram estratégicos”.

Deste jeito, entre as empresasdas que participavam as Caixascontam-se múltiplas sociedadesimobiliárias e os investimentos di-rigidos a este setor fôrom abondo-sos. Bastam alguns exemplos: ain-da em 2007 a Caixa Galicia inves-tia 27 milhons de euros na Inver-sora de Hoteles Vacacionales, em-presa que tinha como objetivo aexploraçom de complexos de fé-rias no litoral do Mediterráneo, eoutros 43 milhons na Astroc, imo-biliária que também operava noPaís Valenciano e que foi um dosparadigmas da especulaçom ur-

banística caindo em Bolsa comvultosas perdas. Quanto à Caixa-nova, nesse mesmo ano, tinha emcarteira investimentos tais como ode 19 milhons na Herecsa Inter-nacional, imobiliária com boa par-te dos seus projetos na Europa doLeste, ou uns 21 milhons no Gru-po Inmobiliario Ferrocarril, em-presa radicada em Madrid, entrecujas atividades se encontrava aconstruçom de segundas residên-cias em países da América do Sul.

É nesses anos que a crise imobi-liária começa a aflorar e em 2008as duas Caixas galegas passam afundar novas sociedades filiaisdestinadas a colocar no mercadopromoçons e vivendas que fôromentregues às Caixas polas faltasde pagamento dos promotoresimobiliários. Assim, estas novassociedades, como também as fi-liais imobiliárias já existentes,irám acumulando centos de mi-lhons em números negativos.

Desse forma, entre a falta decontrolo público e as apostas ar-riscadas para obter o máximo lu-cro, chegou-se à fusom das Cai-xas e à imediata bancarizaçom,preparando o terreno à privatiza-çom que agora vivemos. Umguiom bem ruim para um finaltrágico e previsível.

o tc tombou váriosartigos da lei de

caixas galega do ‘85

história recente das caixas GaleGas

BERTO GARCIA - FLICKR.COM

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nos meses finais de 2011 oBanco Popular decidia ab-sorver o Banco Pastor me-

diante pagamento de 1.246 mi-lhons com a bênçom preceptivado Banco de España. Nos 25 deabril de 2012 a operaçom fazia-seoficial. Com posterioridade, sou-bemos que o valor líquido do ban-co corunhês - ativos menos passi-vos ajustados - era negativo por1.679 milhons, com o qual o pre-juízo aceite polo Popular ascen-deu, entre preço pago e menos va-lia aceite, a 2.925 milhons de eu-ros. Contodo, a operaçom prospe-rou. O Banco Popular acabou ad-quirindo a rede de clientes e asexpectativas de futuro do Pastorpor um preço que achou justo:quase 3.000 milhons de euros.

A 16 de dezembro de 2013 oBanco de España emitia umhabreve nota informativa de ter re-cebido seis ofertas vinculantespara a adquisiçom de 88,33% docapital de Novagalicia Banco.Três eram os bancos espanhóisconcorrentes à poja por Novaga-licia: Santander, BBVA e Caixa-Bank, junto com o venezuelanoBanesco e dous fundos de investi-mento norte-americanos, Gugge-nheim e JC Flower, este em asso-ciaçom com Oak Tree. A ofertaganhadora foi a do Banesco, ins-trumentada através do Banco Et-cheverría, umha venerável enti-dade financeira sediada em Be-tanços e fundada em 1717 que fo-ra adquirida polo Banesco unsmeses antes. O Etcheverría é umfruito histórico da entrada de ca-pital e tecnologia vascongadaafluente à Galiza durante o séculoXVIII, atraído polas expectativasda indústria do curtume. O preçoofertado polo grupo Banesco porNovagalicia foi de 1.003 millonsde euros polo 88,3% do capital, asatisfazer 40% no ato de formali-zaçom do acordo e 60% restanteem prazos dilatados até 2018.

No breve lapso de vinte messesa Galiza ficava despojada do seusistema financeiro, o Pastor e aFundaçom Barrié demitiam-se doseu protagonismo na cena finan-ceira e cultural da Galiza absorvi-dos por um banco menor no siste-

ma financeiro espanhol, e a No-vagalicia adquiria passaporte ve-nezuelano. A queda de Novagali-cia traduz a dissoluçom de umhasólida cadeia de aforro popularque remonta, através de um pro-cesso de nascimentos, fusons ecircunstanciais falências, até oano 1842 em que via a luz a pri-meira Caixa de aforros galega.Em 16 de dezembro de 2013, Ga-liza liquidava de um golpe 170anos de esforçado e paciente afor-ro popular. Amargo final o da es-tirpe dos Pastor, Barrié e Díaz deRábago, último ato da comédia deerros das últimas Caixas galegasque tivérom como protagonistasem cartel a uns senhores Méndeze Gaioso, comandantes em praçalocal e localista e interlocutoresinevitáveis e reverenciados noscorredores de Sam Caetano.

O grupo que passa a lideraragora o mapa financeiro galegocomprometeu-se a manter os es-critórios abertos, emprego e aobra social de Novagalicia. Igno-ra-se a solidez do compromissoadquirido, mas, no entanto, toma-mos-lhe a palavra. Mais ainda,atrevemo-nos mesmo a transmitirumha mensagem desinteressadaao senhor Escotet que agora co-manda cento e setenta anos deaforro popular de incerto futuro:Faga-se assessorar, tente com-preender a funçom desempenha-da e características peculiares das

Caixas onde reside o segredo dasua persistência e da fidelidadesocial concitada. Mantenha e de-senvolva o compromisso com oidioma do seu novo país, vai-lheser de máxima utilidade e poupa-rá em campanhas de imagem.Nom é difícil, informe-se no fun-do CVC Capital Partners, atuaisproprietários da empresa opera-dora de transmissons por cabo,“R” operante na Galiza ou em LaCaixa mesmo. Respeitar o paísanfitriom é umha norma de pru-dência que um banqueiro nompode desconhecer. O castelhanocarece de valor para singularizara marca. É elementar.

As generosas e imprescindíveisajudas do Estado às Caixas fali-das via FROB somam até o mo-mento 61.366 millons de euros afundo perdido, quer dizer a pagarpolos cidadaos mediante exac-çom tributária. Novagalicia rece-beu 9.052 dos quais 8.000 fôromo presente obrigado de boas-vin-das do Estado ao senhor Escotet.

O resto dos concorrentes à pojapedia um presente mais generosoainda. Estám mal afeitos. De qual-

quer forma, os 61.000 milhons deresgate das Caixas espanholassom apenas a ponta do icebergue.O diário económico Expansión,5/08/2013, desvendava, a partir defontes do FMI, o segredo melhorguardado da Administraçom es-panhola: o montante total de aju-das concedidas ao sistema bancá-rio espanhol em crise alcança jáos 250.000 milhons, quarta partedo PIB do Estado. A descomunalquantia inclui os compromissosadmitidos para proteger os adqui-rentes da depreciaçom futura deativos corruptos (EPA), por valorde 28.600 milhons, mais os avaise cauçons concedidos ao bancomau - o denominado Sareb - por155.000 milhons mais. Está porver a quantidade a recuperar detam ingente esforço. Sabemos emtroca quem vai pagar a diferença.

A oligarquia económica espa-nhola está afeita à submissom doEstado, afinal, pátria e lucro aca-bam coincidindo. Nom podemospor menos de lembrar a respeito-sa petiçom elevada ao governopor boca Gerardo Díaz Ferrán,presidente na altura da CEOEatualmente processado por frau-de fiscal. O senhor Díaz Ferránpropujo na ocasiom fazer umha"parêntese" nos sagrados princí-pios do livre mercado para aplicar"medidas excecionais" com queatalhar a crise. Os incansáveispregadores contra os desmesura-

dos privilégios e crónica preguiçados assalariados solicitam cortes-mente mudar as regras para sal-var a pátria de ouro a custo da pá-tria do suor.

O colapso financeiro do sistemade aforro popular que as Caixasde aforros representavam acaboupraticamente com elas, já muitobancarizadas, através do traumá-tico processo de refinanciamentocom fundos públicos ainda pen-dente de culminar. Bankia e Cata-lunya Banc sobrevivem ainda noestranho limbo de expectativa dedestino do qual foi expulso Nova-galicia de más maneiras. Comoconsequência do processo, aimensa maioria das CCAA ficá-rom despojadas de entidades fi-nanceiras própria. Só cinco con-servam esta vantagem estratégi-ca, embora no caso da Galiza depropriedade estrangeira. Galizamantém-se no mapa com o grupoBanco Etcheverría-NCG Banco(Banesco) junto com a Caixa Ru-ral Galega. Contam também comentidades sediadas no próprio ter-ritório Catalunha (CaixaBank eSabadell, além de CatalunyaBanc, pendente de privatizaçom),Euskadi (Kutxabank, nascida daintegraçom das três Caixas bas-cas), Andaluzia (Unicaja Banco) eAragom (Ibercaja Banco). Sobreos restos do naufrágio há de serprojetado agora o futuro possíveldo aforro do nosso País.

18 tribuna Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

sobre os restos do naufrágio há de ser projetado agora o futuro possível do aforro do nosso paísa fundo

170 anos de pacienteaforro popular fôrom

liquidados dum golpe

Novagalicia Banco, 1842-2013. Do colapso (in)evitável ao futuro incertoJoám lopes facal

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“Nun pobo de Estremadura bateunos a

Garda Civil. ¡Eramos uns pobres mendi-

gos! ¡Que se non habían de ter os corvos

xantar de carne de garda! O que diciamos

cando atopabamos unha parella: “en ca-

da volta do camiño debía haber un civil…

enforcado”, engadiamos polo baixo”.

R. OTERO PEDRAIO1

Desde há um par de déca-das a antropologia focoua sua atençom nas formas

de açom política – especialmenteas próprias de grupos subordina-dos – que a modernidade nom re-conhece como “políticas”. Estaatençom conseguiu devolver-lheà realidade social a sua complexi-dade, detetando um enorme cam-po de forças por baixo – ou por ci-ma – de batalhas, eleiçons, parti-dos e demais instâncias oficiaisde política. Umha contribuiçomdecisiva foi Os dominados e a arte

de resistência. Discursos ocultos,publicado em 1990 por James C.Scott. Nele rastreja os distintosrepertórios de resistência que ossubordinados fôrom desenvol-vendo no dia a dia: anonimatosofensivos, eufemismos, rumoresdifamatórios, ilegalismos, refun-funhos, contos populares… Prá-ticas que Scot enquadra na infra-política, “um âmbito discreto deconflito político” que “aos olhoscumha ciência social afinada portratar com a política relativamen-te aberta das democracias liberaise com as rebelions, manifesta-çons, protestos igualmente explí-citos que acaparam a atençomdos jornais, a luita surda que osgrupos subordinados livram quo-tidianamente encontra-se – comoos raios infravermelhos – maisalém do espetro visível. A sua in-visibilidade é (…) em boa medidaresultado dumha açom delibera-da, dumha decisom tática que éconsciente do equilíbrio de po-der”2 desfavorável à açom aberta.

Em vez de ocupar abertamentea finca dum terratenente, ponha-mos por caso, a resistência infra-política desenvolve umha pres-som constante e quotidiana, quevai roubando terra palmo a pal-mo. Assim minimizamos riscos

repressivos sem se re-signarem, mas renun-ciando ao desafio explí-cito. Polo geral, quantomais invencível parece opremor, mais densa é amáscara sob a qual osdominados elaboram ar-tes de resistência e osseus discursos ocultos.A Galiza é terra fértilnestas artes: o essencia-lizado galego que “nomse sabe se sobe ou sebaixa” é o resultado his-tórico dum povo secular-mente dominado.

Um bom exemplodeste tipo de recursosinfrapolítico de resistên-cia é esta carta de 1788:

“… párroco de Ca-manzo, párroco de los demonios,tu acabas ós probes, que lle(s)vendes o que tén pa comer; tu nonnos vestes, como fai o de Pilonio,tu non lles das ferrados de grao…;tu acabas ós probes dos fregueses,cos escribanos queres acabalos detodo… Pois si non despachas ósescribanos, e si non dis a misa po-la mañá ás sete, e se non mudasde vida, juramos a Dios que hasde amencer queimado…; tamén tedecimos que te habemos de quei-mar as medas e os palleiros… Nonche firmamos porque non quere-mos: outros porque non sabe-mos”3.

Nom há programa político nemsiglas, e muito menos intençom de“dar boa imagen”. Apenas umanonimato ofensivo e a ameaça desabotagem em defesa disso queEdward P. Thompson chama a“economia moral” das multidons.Minimizar os riscos, a exposiçom,e maximizar os benefícios.

Outro exemplo de negociaçonspolíticas à margem da política pro-porciona-no-la Alfredo Vicenti. Ojornalista, que fora deputado libe-ral polo distrito de Ordes entre1914 e 1916, recluirá-se umhatemporada às beiras da Ulha. Aliviveu umha cena no adro da igrejade que fai umha densa descriçom:

“… mais longe o pedáneo, lidojá o Boletim da província, acha-va-se no uso da palavra, servindode ponto cêntrico a umha vinte-na de notáveis.

- Em resumo, rapazes, o Alcai-de, polo mesmo que é Alcaide, or-dena o translado da feira…

- Ou eu me equivoco – interrom-peu um anciám lavrador de fisio-nomia inteligente –, ou é da pro-priedade da sua senhoria o localaonde exige que levemos os nos-sos gados desde o mês próximo.

-Sem dúvida algumha, Antomde Touceda – contestou um robus-to moçote que polo traje pareciaalvanel –, sem dúvida algumha, eainda pudeste engadir que no no-vo se derreterám ao sol os nossosbois e poldros, posto que apenashá umha árvore, ao passo que naantiga carvalheira cabíamos todosà sombra… mas, bah!, as Autori-dades interessam-se sempre polosbens do país, sabem mais que nóse tenhem as suas razons, que nomestám ao nosso alcance, para or-denar o que ordenam.

- Verdade é… – murmuráromtodos pensativos.

- E di-nos, pedáneo – pergun-tou um jovem em cujos olhos res-plandecia a um tempo o valor e asocarranaria –, encontrou por fimo Sr. Juiz alguns indícios sobre oincêndio casual do monte N…

que, segundo dim, pertence aonosso bom secretário?”4.

Este lance de democracia rural– decadente já, com o pedáneo co-mo mera correia de transmissomdo poder estatal representado poloAlcaide – é umha magnífica mos-tra do equilibrismo da infrapolíticae os discursos ocultos, o jogo entreo explícito e o implícito. Dizer oque se di sem dizê-lo, a ameaça emesmo a reivindicaçom jocosa,mas de contra-ponto a retranquei-ra louvança e a parvoíce fingida.

Mas o principal mérito da Ja-mes C. Scott é que resgata estaspráticas das sombras sem subli-má-las, foge do miserabilismosem cair no populismo. Trata-sede nom esquecer a ambiguidadena que se desenvolvem os discur-sos ocultos e públicos. Se toma-mos a anedota de Otero Pedraioque encabeça o artigo, e estes ou-tros semelhantes: “Por detrás po-ñíalle a figa, pero á cara andábanl-le mansiños de todo”5, ou “Sacán-dolle a montera ós señorescand’os atopamos n-os camiños efacéndolle a figa por detrás; en-trando co-a orella gacha n-a casad’os que mandan para saír d’elabotando rayos e centellas”6; o quetemos é umha garrafa a meias,meio cheia ou meio vazia, resis-tência e submissom. JustamenteScott abre o seu livro com um pro-vérbio etíope análogo aos exem-plos galegos: “Quando o grandesenhor passa, o camponês sábio

fai umha grande reverência e si-lenciosamente bota um peido”.Reverencia o senhor, sim, masbota-lhe um peido; bota-lhe umpeido, sim, mas nom deixa de fa-zer-lhe a reverência. Quando seproduz a rutura do silêncio dodiscurso oculto – o qual é impos-sível sem a resistência infrapolí-tica, que a estimula e contém aomesmo tempo –, quando se tornaexplícito e o camponês nom fai areverência, a situaçom enche-sede “eletricidade política”. O de-safio aberto é umha situaçomcompletamente nova.

Contudo, parece que a tendên-cia na Galiza é a de sublimar asresistências infrapolíticas, caindonesse populismo que atribui aosdominados umha situaçom decontrolo, ou astuta hegemonia si-lenciosa (que só existe na mente

do “analista”), ao preço de deixara realidade tal e como está. Nomfalta, por exemplo, quem fazendoda necessidade virtude, elogiara afigura do cacique como se fosseum instrumento político em maosdo povo. Como diz o Leo F. Cam-pos, “Primeiro, coa saudade, amorriña, a negra sombra, apren-demos a ir botando amodiño demenos o país de Nunca Máis. Lo-go chegou a retranca, o disfraceperfecto, a melhor forma de sersen sermos, de irlle indo sen mol-larse e/ou queimarse”7.

8/11/13, Terra Ancha

notaS1. R. Otero Pedraio. Os camiños da vida,

Vigo, Galaxia, 1996 (1928), p. 353

2. James C. Scott, Los dominados y el

arte de la resistencia, México D. F., Era,

2004, (1990), p. 217.

3. Reproduzida em P. Saavedra, La vida

cotidiana en la Galicia del Antiguo Régi-

men, Barcelona, Crítica, 1994.

4. A. Vicenti, “A orillas del Ulla. (Perfiles

gallegos)”, em J. A. Durán (ed.), Aldeas,

Aldeanos y Labriegos en la Galicia Tradi-

cional, Xunta de Galicia, Santiago, 1984,

p. 78. Primeiro publicado por artigos no

El Heraldo Gallego entre 1875 e 1879.

5. M. García Barros “Kenkeirades”, Dos

meus recordos, Vigo, Galaxia, 2001

(1928-1962), p. 141.

6. Marcos d’a Portela (V. Lamas Carva-

jal), Catecismo do labrego, 1889.

7. Leo F. Campos, “Medulio 2.0”, Sermos

Galiza nº 52, 2013.

19memóriaNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

nom há programa político nem siglas, e muito menos intençom de “dar boa imagen”memória

a luita dos subordinados está

além do espetro visível

Resistência infrapolítica na Galiza tradicionalcarlos c. varela

trata-se de minimizaros riscos repressivos

sem resignaçom

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20 tribuna Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

É difícil entender em que sentido umha catalunha independente seria menos democrática que a espanha do bipartidismotribuna

em frente ao espumoso mo-vimento independentistana Catalunha, provoca um

certo rubor a criminalização de-magógica do nacionalismo porparte de uma direita que, atravésdos meios de comunicação e dospartidos políticos, utiliza curiosa-mente os conceitos condenatóriosligados historicamente à crítica es-querdista (identidade, tradiciona-lismo, violência, protofascismo)para defender em frente a elesconceitos universais: cidadania,constituição, Estado de Direito. Odilema, ao que parece, obriga a es-colher entre a democracia e a Ca-talunha, como instâncias recipro-camente excludentes; e os mes-mos que faz 80 anos teriam apoia-do o lebensraum racista de Hitlere a cruzada “nacional” de Franco,os mesmos que faz dois dias seexaltavam com a “reconquista” dePerejil ou de Gibraltar, os mesmosque espurram a marca Espanhaem todos os foros -e que aplaudemleis antiterroristas e medidas liber-ticidas- tornam, frente “ao buclemelancólico do nacionalismo se-paratista”, em apaixonados defen-sores das liberdades democráti-cas, em cujo nome impugnam,carregados de razão ilustrada, odireito a decidir dos catalães (ouos bascos e os galegos).

Mas o dilema, sabemo-lo, não éesse. O dilema -que uma consultademocrática deveria propor emforma de pergunta- é o que en-frenta a Espanha e a Catalunhaou, se se preferir, o nacionalismoespanhol e o nacionalismo cata-lão. Ou, para formular de outramaneira, a eleição propõe-se en-tre uma nação democrática espa-nhola e uma nação democráticacatalã. É difícil entender em quesentido uma Catalunha indepen-dente seria menos democráticaque a Espanha do bipartidismo, amonarquia e a Audiência Nacio-nal. Paradoxalmente, Espanhaseria um pouco mais democráticase permitisse a independência deCatalunha ou, para começar, asua autodeterminação; e uma Ca-talunha republicana, no mínimonas formas, seria sempre um pou-co mais democrática que uma Es-panha borbónica.

A direita foi sempre nacionalis-ta no sentido excludente e antide-mocrático do termo. A dúvida está

em saber se o nacionalismo, ao in-vés, pode ser também de esquer-das; se pode ter um nacionalismoanti-imperialista, anti-capitalista edemocrático. No caso da Catalu-nha, o que a esquerda sabe é queas diferenças entre a Espanha e aCatalunha nada têm a ver com ademocracia e as suas instituições.No atual contexto europeu e mun-dial, a Espanha e a Catalunha po-deriam conviver umha junto a ou-tra como duas democracias igual-mente limitadas pela tenaz econó-mica e o domínio de classe. Nema esquerda catalã nem a esquerdado resto do Estado enganam-se aeste respeito: não há nenhuma ra-zão propriamente “marxista” paraapoiar ou para recusar a indepen-dência de Catalunha. Mas, tal ecomo estão as coisas no mundo, ocerto é que também não existirianenhuma razão “marxista” -depura lógica de classes- para pro-nunciar-se a respeito da Palesti-niana, o Afeganistão, o Iraque ouo Saara. Nem, é claro, para apoiarou recusar a democracia na Tuní-sia, o Egito ou as Honduras.

Mas o caso é que a democraciaconta. Qual deve ser a posição daesquerda em frente ao naciona-lismo? Aqui há que seguir a Leni-ne: taxativo e implacável com onacionalismo opressor; muitosensível e recetivo com o nacio-nalismo oprimido. Se existe obje-

tivamente uma diferença -e umconfronto- entre nações opresso-ras e nações oprimidas, diferençaque só as nações opressoras ne-gam, então o imperativo da es-querda espanhola é dar priorida-de absoluta à defesa democráticada autodeterminação (que é a de-fesa da democratização da Espa-nha). Quanto à esquerda catalã(ou basca ou galega), esta deveser severamente crítica, e inclusi-ve prioritariamente crítica, com ocaráter classista do movimentoindependentista, mas sem se ex-cluir de uma mobilização popularsem precedentes, e sem equiva-lente em outras partes do Estado,que nem Mas nem os discursosoficiais são capazes de cingir eque poderia se utilizar em favorde um projeto mais radical. A Ca-

talunha não está à beira do socia-lismo, mas ainda menos está aEspanha. Deve a esquerda catalãopor-se ao princípio de autode-terminação porque a burguesiaestá a geri-lo de maneira fraudu-lenta ou, pelo contrário, tratar deinstilar e estender lucidez políticae económica em uma reclamaçãosocialmente maioritária e politi-camente democrática? Após tu-do, em uma Catalunha indepen-dente de direitas a esquerda cata-lã não estaria pior do que agora;e nesse caso, ademais, a esquerdacatalã e a esquerda espanhola po-deriam ser por fim reciproca-mente inter-nacionalistas (en-quanto agora são muitas vezesopostamente nacionalistas).

Fica em pé a questão geral donacionalismo. Não é que o nacio-nalismo das nações oprimidasseja às vezes anti-capitalista, an-ti-imperialista e democrático; éque o anti-capitalismo, o anti-im-perialismo e a democracia se de-senvolvem no contexto de umadisputa fatalmente territorial cu-ja unidade histórica mais ou me-nos estabilizada, e questionadaprecisamente hoje pelo agregadocapitalista, é a nação oprimida.O internacionalismo (recordavafaz pouco Gorka Larrabeiti)pressupõe a existência soberanadas nações e o seu contrário,acrescento eu, é o cosmopolitis-

mo, nomadismo identitário post-moderno das nações e as classesopressoras. Do Vietname à AL-VA, a esquerda não nega o motornacionalista dos movimentosemancipatórios e soberanistas.Mas hoje sabemos -ou devería-mos saber- até que ponto é umerro considerar a “identidade”mesma como reacionária ou po-tencialmente fascista. Ao invésque Lenine, mais sensível às di-ferentes culturas “nacionais”,Stalin preconizou uma “abstrataidentidade proletária” que con-duziu, segundo denunciava Sul-tan Galiev, à “colonização pan-russa” da periferia soviética. Nãohá uma “identidade proletária” e,a cada vez que se tentou imporuma pela força, se destruíramformas densas de resistência quehoje são mais importantes quenunca: basta ver o papel que estáa jogar a “identidade indígena” -que não convém nem muito me-nos idealizar ou celebrar sem re-servas- como resistência ecológi-ca e organizativa em frente à fú-ria destruidora do capitalismo. Ocapitalismo é -por assim o dizer-um turboestalinismo. Em defini-tiva: só uma combinação de Di-reito, Democracia e IdentidadeAntropológica podem questionarhoje, da esquerda, o avanço im-parável do neoliberalismo econó-mico e do neofascismo político.

nesta questom há que seguir

a lenine: taxativo e implacável com

o nacionalismo opressor; sensível e recetivo com o

nacionalismo oprimido

Democracia e nacionalismossantiago alba rico

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21a fundoNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

media

Duas circulares internas na Companhiade Radio-Televisom da Galiza alertam ostrabalhadores e trabalhadoras contra oemprego de “estridências” ou “inova-çons estéticas ousadas”, e mais de que,entre outras limitaçons relacionadas como uso de Internet, a companhia “reserva-se o direito de revisar as mensagens decorreio eletrónico dos usuários da redecorporativa”. Todo isto com a campanha'Eu nom manipulo', de denúncia do usopartidário e propagandístico dos meiospúblicos, como pano de fundo.

X.R.S. / "O verdadeiro objetivo desta normativa,que criminaliza e pom baixo suspeita a todo opessoal no uso quotidiano que fai dos siste-mas de informaçom, é reprimir e sementar oterror entre os trabalhadores e trabalhadorasda CRTVG, da TVG e da RG para abandona-rem atitudes surgidas nos últimos messes". Éa opiniom da secçom sindical da CUT a res-peito da 'normativa de usos dos sistemas deinformaçom da CRTVG e as suas sociedades'.

O regulamento interno procuraria, segun-do a justificaçom dos próprios responsáveispolíticos da companhia pública, "proteger ainformaçom da organizaçom e o bom de-senvolvimento da sua atividade". Mas,acrescentam da CUT, foi “elaborada e publi-cada de costas viradas para a representa-çom sindical” e a direçom mantem o textopese a diferentes sindicatos com represen-taçom no Comité Interempresas terem exi-gido a retirada ou suspensom cautelar.

Redaçom opacaNo que só parece poder ler-se como umhavontade de botar -nestes tempos de generalexigência de transparência nos organismospúblicos- um pano de sombra sobre o queacontece nas redaçons dos meios públicos.A razom mais que provável é que a direçomtenha chegado a sentir-se interpelada pola

campanha de denúncia 'Eu nom manipulo'(centralizada no blogue eunonmanipulo.word-

press.com) na que trabalhadoras e trabalha-dores da televisom e da rádio dam a conhe-cer com exemplos como é que se produzemos processos de manipulaçom e desinfor-maçom nas redaçons.

A norma proíbe retirar informaçom daCRTVG "mediante suportes materiais ouatravés de quaisquer meios de comunica-çom, incluindo a simples visualizaçom ouacesso". Para isso, fica proibida a introduçomou uso de equipamentos informáticos exter-nos, sejam computadores portáteis, discosduros, netbooks ou tabletas, sem existir um-ha autorizaçom prévia da direçom.

Do sindicato observam ademais que a

normativa pode ter também como objetivo"entorpecer a obtençom de documentaçomque os trabalhadores e trabalhadoras preci-sam achegar nos julgados como provas emdemandas depois dumha violaçom sistemá-tica de direitos laborais".

Vestir 'sóbrio, correcto e moderado'Umha outra normativa publicada tambémnas últimas semanas, 'sobre atuaçons de tra-balhadores e trabalhadoras da TVG', marcaas limitaçons quanto à vestimenta que ostrabalhadores e trabalhadoras podem em-pregar “na medida em que através dos mes-mos se proxecta a imaxe da TVG”.

É de sinalar que nos últimos messes, e nomarco da campanha antes citada, em váriasocasions se puido ver trabalhadores e traba-lhadoras a portar crachás com o lema contraa intoxicaçom. Nesse sentido pronuncia-sea circular, que obriga aos trabalhadores etrabalhadoras evitarem “quaisquer símbo-los que ponham de manifesto a sua filiaçomou proximidade dumha opçom política, sin-dical, social, desportiva ou económica".

Denunciam que a CRTVG vai vigilar os correios do pessoal

notas de rodapé

Se a Iberdrola considera ruinosoo recibo da luz, por que nom re-

nuncia ao negócio e o transfere acontrolo público? Que Lei obriga osempresários das hidroelétricas amanterem umha empresa com queperdem dinheiro?

nom fagam mais sacrifícios pornós. Galiza paga o

quilovátio/hora quase 30% acima damédia da UE, por muito que produ-za mais eletricidade da que conso-me, ao cabo de ter encorado rios, desulagar vales viçosos, de crucificarcom papaventos miradoiros, fachose varandas de mar.

Se Iberdrola e Fenosa aborrecemdesta fábrica de energia, que no-

la volvam. Os elementos que a com-ponhem e a força sem fim da auga edo vento, som propriedade coletiva enós saberemos governá-la.

os encoros foram financiadosnos anos 50 mediante umha co-

ta obrigatória igual ao 100% do reci-bo da luz (o imposto OFILE) aplica-da pola Ditadura, derrama públicaque foi transferida pola Ditadura àsempresas elétricas privadas.

oSistema Sil, levantado com ofamoso recibo dobrado de

Franco, já foi mais de dez vezesamortizado. Consta de 15 encorose 21 centrais produtoras de energiae está governado pola Iberdroladesde Bilbo. Chantado sobre umhadas áreas mais deprimidas da UE,produz elevados lucros e mal em-prega 140 pessoas.

oGoverno central cuida politica-mente indefensível o "deficit de

tarifa" reclamado polas elétricas.Felipe González e José Maria Aznarcomprometeram-se com o oligopó-lio da energia a pagar o inexistente"deficit", criado por um sistema defixaçom de custos tam delirante co-mo o da Iberdrola no Sil.

porém, os dous capos citados,participam no oligopólio elé-

trico à beira de De Guindos, Sol-bes, Acebes, Boyer, Salgado, Mar-tín Villa, Pizarro e Cabanillas,mentres os meios, que acovilhamem silêncio o choromicante anún-cio da Iberdrola, esperam aumen-tar difusom em 2014.

Coitadas hidroelétricas

pretendem evitar as críticasde manipulaçom a golpe

de normativas internas

‘La Voz de Galicia’ recebeu 45 milhonsdos governos da Junta de Núñez FeijóoX.R.S. / CIG-Autonómica denunciou numcomunicado o jeito em que a Junta finan-cia as empresas privadas da comunica-çom da Galiza. "Outorga mais de 1,5 mi-lhons em aguinaldos para comprar o fa-vor dos médios galegos".

O principal beneficiado é La Voz de Ga-

licia. O periódico de Santiago Rey Fer-nández-Latorre recebe mais de umha ter-ceira parte (583.974 euros) do total repar-tido pola Junta em subvençons no segun-do semestre de 2013. Também case umha

terceira parte das subvençons encobertascomo convénios de colaboraçom assina-dos pola Secretaria Geral de Meios daJunta da Galiza, chegando aos 150.000euros em ajudas deste tipo.

Destaca a seçom na administraçom au-tonómica da CIG que "em total, durante otempo que leva Feijóo no Governo esti-mamos que esta empresa leva recebidoda Junta mais de 45 milhons de euros en-tre diferentes conceitos (subvençons,convénios e contratos)".

o periódico de santiago reyfernández-latorre recebemais de terceira parte do

dinheiro que a Junta reparteem subvençons diretas e nasencobertas como convénios

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22 cultura Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

centros sociais

aguilhoarO Forno · Ginzo de Límia

arredistaRodas, 25 · Compostela

cs almuinhaRosalia de Castro, 46 · Marim

artábriaTrav. Batalhons · Ferrol

aturujoPrincipal · Boiro

bou evaTerço de Fora · Vigo

a casa da estaciónPonte d’Eume

casa do sarCurros Enríquez · Compostela

cso casa do ventoFigueirinhas · Compostela

cso a Kasa negraPerdigom · Ourense

ls do coletivo terraBoa Vista · Ponte d´Eume

a cova dos ratosRomil · Vigo

distrito 09Coia · Vigo

ateneu libertário a engranaxeRio Sil · Lugo

faíscaCalvário · Vigo

fervesteiroAdám e Eva · Ferrol

o frescoBº da Ponte · Ponte Areias

o fuscalhoFrente à Atalaia · Guarda

a GhavillaPonte da Raínha · Compostela

Gomes GaiosoMonte Alto · Corunha

liceo muranteRosalia de Castro · Ponte Vedra

cs lume!Rouxinol nº16 · Vigo

mádia levaSerra de Ancares · Lugo

cso palaveaPalaveia · Corunha

cs en péZona velha · Ponte Vedra

o pichelSta. Clara · Compostela

a reviraGonz. Gallas · Ponte Vedra

a revolta do berbésRua Real · Vigo

a revolta de trasancosA Faísca · Narom

sem um camRua do Vilar, 9 · Ourense

a tiradouraReboredo · Cangas

cs vagalumeR. das Nóreas, 5 · Lugo

cs xebraLeandro Curcuny · Burela

cso xuntasRua do Carme · Vigo

cs a zalenváR. Carris, Valençá · Barbadás

cultura "a colaboraçom entre o estado novo e o governo de burgos foi decisiva para o resultado da contenda"

“os 360 portugueses represaliados na galiza entre1936 e 1940 representam só a ponta do iceberg”

conversa com dionísio pereira, historiador

A migraçom galega para Portugal

na Idade Contemporánea é relati-

vamente bem conhecida. Por que

é que nom existe umha corres-

pondência para o caso inverso?

Talvez porque a emigraçom gale-ga para Portugal, afincadamaiormente no Porto e Lisboaassim como na regiom do Douroem menor medida, foi massivadesde o século XVIII e radicou(exceto nas terras do Douro) emgrandes núcleos urbanos, o quepermitiu certa visibilidade acres-centada polo seu deveço associa-tivo, concretizado na alvorada doséculo XX com a fundaçom querdo Centro Galego de Lisboa(1908), quer de diversas socieda-des de classe integradas maior-mente por galegos tal que a “As-sociação dos Criados de Mesa”lisboeta (1904). Pola contra, apaulatina e persistente emigra-çom portuguesa, constatada jános começos da Idade Moderna,foi a conta-gotas a través dos sé-culos e, aliás, estivo muito espa-lhada por toda a Galiza rural, de-vido a que até depois da 1ª Guer-ra Mundial aqui quase nom hou-vo núcleos urbanos de releván-cia. Ao cabo, a identidadecultural com a populaçom autóc-tone, a cativa taxa de retorno e aserôdia apariçom de instánciasassociativas próprias da emigra-çom portuguesa (em fins dosanos vinte do século passado),contribuírom para que tanto naGaliza como no seu próprio país,Portugal, aquela passasse des-percebida e fosse quase invisível.O facto é que em Portugal os es-

tudos migratórios centrárom-seno Brasil, nas colónias africanase asiáticas e, com posterioridade,na França e noutros países docontinente americano, esquecen-do de vez a silenciosa emigraçomdirigida à Galiza e ao conjuntodo Estado espanhol.

Em que medida colaborou o Es-

tado Novo com os golpistas es-

panhóis de 1936?

O Estado Novo salazarista viu,primeiro no ronsel da IIª Repúbli-ca espanhola e depois na GuerraCivil que desembocou numha re-voluçom proletária nalgumhas zo-nas que nom caíram em poder dosgolpistas (Catalunya, mais que na-da), um perigo certo para a suaprópria sobrevivência. Nom podesurpreender, pois, que as suassimpatias por aqueles fossem ex-plícitas já desde a preparaçom do

movimento militar africanista.Num primeiro momento, talvezcom certas contradiçons, devidasao compromisso da diplomacia lu-sa com o “Comité de Nom Inter-vençom” via Gram-Bretanha, oque deu lugar a que alguns milha-res de refugiados e refugiadasprocedentes das zonas dominadaspolos golpistas, se enviassem devolta para o território leal à Repú-blica por via marítima; velai o co-nhecido caso do transatlántico“Nyassa”, que saiu de Lisboa comrumo ao porto de Tarragona emOutubro de 1936, levando comopassageiros 1.400 refugiados es-panhóis, muitos deles galegos.Mas mesmo até o momento daquebra das relaçons diplomáticasentre Portugal e a República espa-nhola (outono de 1936), a coni-vência franco-salazarista foi notó-ria tanto no terreno militar (servi-ços logísticos no tráfico aéreo enas comunicaçons por rádio, semir mais longe), como no fecho dasfronteiras para muitos persegui-dos polos fascistas que fôrom en-tregues às novas autoridades comas tristes consequências que hoje,após diversas investigaçons aorespeito, podemos constatar. De-pois, a partir do devalo de 1936, acolaboraçom comercial, militar epolicial entre o Estado Novo e o

Governo de Burgos foi muito es-treita; mesmo decisiva para o re-sultado da contenda.

Chegastes a conhecer 360 casos

de portugueses residentes na Ga-

liza que sofrêrom represálias en-

tre 1936 e 1940. A que perfis cos-

tumam responder estas pessoas?

Fum capaz de documentar na Gali-za essas 360 pessoas que sofrêromrepresálias de ascendência portu-guesa, mas isso apenas representaa ponta do “iceberg”. No nossopaís, ainda está por estudar a re-pressom económica levada a cabomediante os Expedientes de Res-ponsabilidades Civis e Políticas ecumpre que os estudos de histórialocal determinem com maior pre-cisom a personalidade de muitosassassinados que agora ainda le-vam o rótulo de “desconhecidos”;também de nom poucos portugue-ses cujo nome foi castelhanizado.Em Portugal, o trabalho com os fi-cheiros da Polícia Internacionalpermitirá no futuro quantificar eidentificar em maior medida a no-jenta prática da deportaçom de ci-dadaos portugueses radicados noEstado espanhol, qualificados demaneira arbitrária como “indesea-bles”; umha prática que, por certo,começou durante a IIª República efoi levada a cabo de maneira mas-siva polas autoridades franquistasapós o golpe militar. O perfil daspessoas de origem português quesofrêrom represálias? O mesmoque o da emigraçom portuguesana Galiza: trabalhadores manuais,canteiros, serradores e jornaleirosmais que nada, que emigrárom a

RUBÉN MELIDE / Dionísio Pereira (Corunha, 1953) é, antes de mais, historiador daIdade Contemporánea galega, tendo trabalhado especialmente em temas rela-cionados com o movimento operário, o anarcossindicalismo ou a repressomfranquista. No ano 2007, mesmo se viu implicado num processo judicial –no qual

acabaria sendo absolvido- por denunciar a participaçom do alcaide franquistade Cerdedo em diversas manifestaçons da repressom. A sua última obra, editadaem 2013 pola Através, é Emigrantes, exilados e perseguidos, a comunidade por-tuguesa na Galiza (1890-1940). É sobre ela que conversamos com o autor.

“há portugueses que vestírom a

farda falangista”

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23culturaNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

Comunidade de Montesde Amoedo criará roteiro arqueológico

esta adaptaçom verÁ a luz na revista GaleGa de teatro

Editam a banda desenhada '2132',com guiom de Vidal Bolanho

REDAÇOM / A Revista Galega deTeatro publica a adaptaçom abanda desenhada do guiom deciência fiçom ideado por Rober-to Vidal Bolanho que leva por tí-tulo 2132 (Exercicio para debu-

xantes intrépidos), o qual forapublicado no número 8 da cita-da revista. Os quadrinhos fôromdesenhados polo jovem mari-nhao Diego Blanco, quem ga-nhou o IV Certame de BandaDesenhada sobre o Teatro Gale-go convocado pola AssociaçomEntre Bambalinas. Este concur-so centrou-se este ano nos trêscapítulos que Vidal Bolanhoreuniu sob o título de 2132 e pa-ra o qual as pessoas aspirantesdeviam apresentar umha pági-na que recolhesse parte do ter-ceiro episódio deste texto.

O guiom de 2132 descreve umfuturo em que a sociedade, apósumha série de revoltas a nívelplanetário, se instalou num “feu-dalismo tribal transitório” eapresenta um grupo oculto em

Nova Iorque chamado “Os Esco-lhidos” que mantém as velhasestruturas. Umha morte relacio-nada com um código que con-tém a palavra Gallaecia abre asportas a um mistério em que serecolhem cenas tradicionais navida deste misterioso e nevoentopaís. Os três capítulos originaisde Vidal Bolanho deixam incon-clusa a história e o dramaturgo

compostelano, naqueles anos90, salientava que estes frag-mentos de guiom “formava par-te de um projeto de publicaçomestimulado por familiares e ami-gos de presos independentistasgalegos o qual, como a tantasoutras cousas relativas à sua si-tuaçom atual, a insolidariedade,o medo e o silêncio condenarama esmorecer no olvido”.

REDAÇOM / A Comunidade deMontes de Amoedo, no concelhoviguês de Paços de Borvém, está atrabalhar no desenho de um rotei-ro de sendeirismo duns quatroquilómetros que percorrerá as nu-merosas mámoas e petróglifos quese encontram nestes montes. EmAmoedo se encontra um dos jazi-gos mais importantes do sul dopaís, concentrando-se nesta zonauns 80 gravados e 22 mámoas, al-gumhas delas ainda sem catalogar.O futuro sendeiro que estám a pla-near os comuneiros contará combalizados, assim como um blogueem internet em que se divulgará

informaçom arqueológica e mes-mo a localizaçom deste patrimó-nio através de Google Maps.

A Comunidade de Montes deAmoedo leva tempo trabalhandona posta em valor destes jazigosarqueológicos. Assim, já no ve-rao esta entidade organizara vi-sitas noturnas aos petróglifosnumhas jornadas que levavam onome Amoedo. Lenda em pedra

e se realizaram em colaboraçomcom o Instituto de Estudos Mi-nhoranos. Nessas atividadesparticiparam mais de um centode vizinhas e vizinhos da paró-quia e a sua contorna.

partir da Iª Guerra Mundial, proce-dentes sobretodo dos distritosfronteiriços com a Galiza (Bragan-ça, Vila Real, Braga e Viana do Cas-telo, para além do Porto) e residen-tes fundamentalmente nas provín-cias de Ourense e Ponte Vedra. Apresença da mulher é menor (7%das vítimas), mas significativa.Muitos destes emigrantes que so-frêrom represálias tivérom, aliás,um compromisso político-sindicalna Galiza durante a IIª República.Por isso fôrom perseguidos.

Há também portugueses do lado

dos fascistas e dos verdugos?

Certamente, há os que vestírom afarda falangista, patrulhárom po-las ruas galegas com os seus ca-maradas galegos e mesmo se in-corporárom a unidades do exérci-to golpista. Outros, umha pequenaminoria, mas suficientementesanguinária, exercêrom como ver-dugos nos assassinatos pola bravaem diferentes zonas da geografiagalaica, caso dos arrabaldes da ca-pital ourensana, Valdeorras, Ni-grám, zás ou Negreira. Tal e comose aponta no livro, umha pesquisaespecífica nesta direçom viria dei-tar muita luz sobre estoutra “escu-ra faciana” da integraçom da co-munidade portuguesa na Galiza.

Até que ponto colaborárom os ha-

bitantes de além da raia com os

membros da guerrilha galega?

Nalgumhas zonas isoladas de di-fícil acesso dos Municípios de Vi-nhais (Os Pinheiros, Sernande, ALomba), Chaves (O Cambedo,Mosteiró...), Montalegre (Ne-grões, Vila da Ponte...) ou Melga-ço (Castro Laboreiro), o apoio foiimportante e tivo também funes-tas consequências para a popula-çom autóctone, muito perseguidaquer polos franquistas, quer po-los salazaristas. Umha persegui-çom e um sofrimento que fôrom

invisíveis tanto na Galiza comoem Portugal até que, nos anos 90,pessoas como a antropóloga Pau-la Godinho ou o escritor Bento daCruz começárom a transmitir oacontecido nalgum destes luga-res maltratados. Este livro, mo-destamente, pretende continuarpolo mesmo caminho e reivindi-car a solidariedade de muitos ha-bitantes da raia portuguesa comos fugidos e guerrilheiros galegose doutras zonas do Estado espa-nhol, averiguando as suas moti-

vaçons. Até o momento, a referi-da solidariedade foi atribuídaquer ao humanitarismo cristaopróprio daquelas gentes humil-des, quer às peculiares relaçonsde sociabilidade existentes naraia. Pola minha parte, sem negarambas as visons, pretendo esta-belecer umha correlaçom entre ainicial repressom franquista quesofrem em território galego osnaturais destas zonas da raia por-tuguesa (mais de 40% dos repre-saliados e represaliadas de ori-gem lusa na província de Ouren-se durante o período 1936-39),com a que depois deverám aturarnos anos 40 em território portu-guês polo seu apoio ao “maquis”.Nestas bisbarras, a repressomnom foi um facto efémero e mar-cou a sua existência durante maisde dez anos, polo que caberia in-corporar umha nova explicaçomnom excludente ao compromissosolidário daquelas gentes: umhaincipiente politizaçom e umhaatitude resistente mais aberta,por parte dalguns segmentos dapopulaçom rural da raia lusitana.

Falas de grupos em que coexis-

tiam fugidos de ambas as naciona-

lidades. Foi frequente este facto?

Ainda sabemos pouco deste as-sunto, apesar de que constatamosjá desde o momento do golpe mili-tar a presença de grupos “promís-cuos” de fugidos, que posterior-mente desembocam numha guer-rilha mais ou menos organizada:eis o grupo do Demetrio García,na raia de Chaves; o de Manolo “Odo Dente de Ouro” ativo polo Cas-tro Laboreiro; mesmo o dos “Cu-quinhos de Pinheiro”, cujos inte-grantes eram todos de nacionali-dade portuguesa, na contorna deVinhais... . É algo pouco conheci-do, mas que nom deveria sur-preender numha geografia ondeexistem fronteiras arbitrárias eidentidades amplamente partilha-das, nuns lugares que os próprioshabitantes definem como “pro-míscuos”: O Cambedo, Lamadar-cos, Soutelinho da Raia, Sernan-de, Segirei... Determinar até queponto estes grupos respondem auns vínculos iniciados numha prá-tica de luita social em comum nostempos da República (nas agita-çons operárias do caminho de fer-ro polo sueste ourensano, porexemplo), e prolongados com pos-terioridade no auxílio e solidarie-dade com os fugidos e com osguerrilheiros, será um dos objeti-vos de próximas investigaçons.

“em partes da raiaportuguesa houvo muito

apoio à guerrilha”

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24 desportos Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

A Seleçom Galega de futebol

voltou sair ao terreno de jogo

da mao de SSGG, para medir-se

a Occitánia, que foi o que moti-

vou a sua eleiçom?

Como em anos anteriores, desdeque SSGG tomou a iniciativa daorganizaçom, procuramos um ri-val dumha naçom sem Estado,como nós, para criar sinergiasem favor da oficialidade. Joga-mos com Palestina, Saara e Cur-distám, e procuramos umhaequipa europeia, e a Occitánia éumha das seleçons mais potentese a opçom máis viável, porque sótemos o financiamento proce-dente da venda dos bilhetes e dematerial. Aliás, foi fundamentala colaboraçom da CONIFA (Con-federation of Independent Foot-ball Associations) que nos facili-tou as gestons para jogar com aOccitánia.

Na organizaçom do Galiza-Oc-

citânia, SSGG recebeu mais

apoios ou mais impedimentos?

Se nom figessem nada seriamuito... Temos constância deque da Federaçom Galega de Fu-tebol se tem pressionado algunsclubes para que nom permitis-sem que os seus jogadores par-ticipassem no jogo, e também daFederaçom de árbitros. Este anocontamos com a colaboraçomda Vice-presidência primeira daDeputaçom de Lugo mas, toda ajornada é autogerida; o finan-ciamento procede da bilheteira,do balcom, dos concertos e davenda de material.

Que valorizaçom fai SSGG do

Gz-Occitánia e das jornadas?

Manter viva a chama da reivindi-caçom da oficialidade, que é anossa labor como coletivo, é umsucesso, mais um ano. Ser quemde organizar esta jornada, com

todos os impedimentos que tem,e dentro das nossas limitadas ca-pacidades acho que há que valo-rizá-lo positivamente, mas sem-pre é melhorável.

Comenta-se que a Federaçom

Galega de futebol está a nego-

ciar amigáveis da seleçom gale-

ga contra a catalana para o

2014, que opiniom vos merece?

A nós que a Federaçom Galegade futebol e demais instituiçonsfagam o seu trabalho parece-nos muito bem; de ser certo, eapesar de que nom é o que nósreivindicamos em essência (nóspedimos a oficialidade), simnos pareceria um passo adian-te, pequeno, mas necessário, eapoiaríamos esta iniciativa.Mas olho! Que nom nos vendamum amigável entre regions daEspanha como um jogo da nos-sa seleçom nacional, por aí simque nom passamos.

Desde que SSGG organiza o jo-

go, a seleçom galega é mista,

por que?

SSGG pede a oficialidade, mastemos posiçons políticas e so-ciais. Defendemos o direito deautodeterminaçom dos povos,condenamos o machismo...Com os jogos mistos pretende-mos rematar com a segregaçompor sexo. Nisto é fundamentala contribuiçom de Pilar Neira,que consegue que venham à se-leçom galega futebolistas deprimeira ordem, como a nossa

futebolista mais internacional,Vero Boquete. Pilar é a nossatreinadora e fai um trabalhomuito importante. Nós aposta-mos por ela e ela por nós.

Por que para SSGG é insufi-

ciente o amigável de natal?

Organizamos umha jornada festi-va e reivindicativa, mas nom nos

conformamos. Saímos à rua emprol dum princípio básico e demo-crático, cada desportista e cadanaçom poda representar o seupaís, tal e como sucede em qual-quer parte do mundo. O únicoobstáculo para que a Galiza nompoda competir internacionalmen-te é o Estado espanhol. Nom hánengumha proibiçom nas federa-

çons internacionais que impedacompetir à Galiza. Mesmo na FI-FA há umhas trinta seleçons denaçons sem Estado que compe-tem com normalidade, como Es-cócia, Gales, Gibraltar, Ilhas Feroeou colónias francesas e holande-sas das Caraíbas som seleçonspróprias. Galiza tem o direito a jo-gar oficialmente, mas nom podepolo bloqueio político que o Esta-do espanhol fai.

Que vantagens considerais que

teria para os nossos e nossas

desportistas que a seleçom ga-

lega pudesse competir interna-

cionalmente?

Que a seleçom galega competisseoficialmente seria muito impor-tante para as e os desportistas daGaliza. Fomentaria o desporto en-tre a populaçom, evitando muitosproblemas sociais e de saúde emesmo criaria o valor acrescen-tado de ter mais possibilidadesde poder competir a nível mun-dial, o que repercutiria sobretodonos desportos minoritários. Achoque o desporto de base se benefi-ciaria muito e poderíamos racharcom a dinámica do desporto co-mo negócio e espetáculo.

d desp

orto

sseleçom GaleGa de handebol fica quarta

Novo sucesso para o clube NaturalSport de Ribeira, que logrou o título decampeom estatal de Taekwondo emcombate por sétimo ano consecutivo.Aliás, as e os taekwondocas trouxéromnove medalhas na categoria sénior eoutras nove em cadete.

mais umha vez, o ns ribeira campeom

A seleçom galega cadete sonhava comobter umha medalha no campeonato es-tatal, mas umha má primeira parte pri-vou os galegos do seu objetivo. Apesarde que a Galiza chegou a pôr-se a doustantos, finalmente a seleçom basca supe-rou a Galiza por 39-33, levando o bronze.

“O bloqueio político do Estado espanhol é o único que impede à Galiza competir oficialmente”

“com os jogos mistos pretendemos

rematar com a segregaçom por sexo”

ANXO RUA NOVA / Desde há cinco anos Siareir@s Galeg@s (SSGG) permite-nos ver jogar a seleçom galega de futebol. Com o seu trabalho autogestio-nado, cada natal podemos ver o jogo da Irmandinha, que a Junta de Feijoonos nega. Mas, para Siareir@s Galeg@s o amigável é insuficiente e pedem aoficialidade das seleçons galegas através dum completo programa lúdico e

reivindicativo que incluiu bilharda, futebol gaélico, jantar, manifestaçompolo direito a competir, homenagem a treinadora Pilar Neira e ao triatleta An-tón Ruanova, concertos e o jogo entre Galiza e Occitánia. A jornada desen-volveu-se na cidade de Lugo no passado dia 28 de dezembro. Entrevistamosa Xosé Viana, responsável de SSGG, para que valorize o evento.

xosé viana foi um dos coordenadores da jornada reivindicativa de siareir@s GaleG@s

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25desportosNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

O ciclista da Estrada Alex Marque inteirou-se do seu supos-to positivo através do jornal“El País”. O ganhador da Volta aPortugal afirma que tinha autorizaçom facultativa para to-mar betametasona (anti-inflamatório) e que assim o refletiupor escrito nos controis. O ciclista recebeu milhares deapoios que condenam a criminalizaçom mediática e recla-mam o esclarecimento do caso de forma imparcial.

maré de apoios sociais com o alex marque

Bea Gómez (CN Galaico) e Maria Vilas (CN Ribeira) lide-ram a nataçom galega. As duas participárom no Campeo-nato da Europa de Nataçom em Herning (Dinamarca), con-seguindo meter-se nas finais dos 400 livres e 800 livres res-petivamente. Além, ambas destacárom na prova dos 400estilos, onde Bea foi quinta, fazendo o recorde galego(4´31”65) e Maria sétima (4´35”50).

as nadadoras GaleGas brilham no europeu

LNB / Os espetaculares Fachos deCastro Caldelas serám os que ilu-minem um novo amanhecer bil-hardeiro nesse microcosmos indo-mável ao pé dos Canons do Sil,uns fachos que vam prender nasmaos de cada um dos palanadorese palanadoras que participem noprimeiro Aberto dos Fachos dessapoderosa vila ourensana, mas senom puderes estar ali o teu fachopode arder em cada açom bilhar-deira que organizes na tua vila , ci-dade ou aldeia... Porque há centosde motivos para prender um fachoe queimar umha bandeira do esta-do repressor ou unha sucursalbancária, os mesmos que há paraapertar os punhos e pôr em mar-cha um Aberto de Bilharda - Tomanota e passa à açom >> A bilhar-da (pau afiado polos dous lados oupor um de entre 17 e 22 cm) é pou-

sada no chao e golpeada numhaponta com o palám (pau de 60 cmque fai as funçons de "bate") para

que a lance polo ar, onde volta sergolpeada para tentar meter a bil-harda entre os dous paus verticais

que formam o varal. Se após leresisto, decides fazer umha mudançaradical na tua vida organizando a

tua primeira Carreira-LNB, estásde sorte, procura um ou umhacontrincante e situai as vossas bil-hardas no mesmo ponto de parti-da, no fundo da pista, colocai umvaral (as duas varas verticais tipobaliza de ráguebi ou um sucedá-neo de urgência, como duas latasou garrafas de cerveja para sinalaras linhas imaginárias do varal) . Acarreira consiste em tentar metera bilharda no varal. Realizam-selançamentos alternados (primeiroum e depois o outro ) e utilizandoo mesmo número de golpes. O va-ral pode ser alcançado com o gol-pe de saída, conhecido como vara-do, ou pode ser necessário utilizarvários golpes para sentir o imensoprazer de introduzir a bilharda nocampo magnético que sinala o va-ral - Para que a Galiza seja respei-

tada coma povo #faitedaLNB!

Ali onde estejas prende o facho da LNB paraque a Galiza seja respeitada como povo!

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26 tempos livres Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

MARIA ÁLVARES / Umha das pio-res perversons do capitalismo, noque a criança se refere, foi fazercalhar o discurso de que ter filhasé património exclusivo da genteque tem dinheiro. Quer dizer, sótendo dinheiro e umha boa posi-çom económica podemos optar ater descendência. Este sistema fi-jo-nos crer que só deste modo po-demos fazer felizes as nossascrianças, pois caso tivermos um-ha posiçom económica ajustadaestes meninos e meninas nom es-tariam bem cuidadas e nom po-deriam dispor de todo o necessá-rio para o seu desenvolvimento.

Figérom-nos crer, cremos e fa-zemos crer que o sustento eco-nómico é fulcral para o desenvol-vimento da melhor criança pos-sível. Com frequência ouvimossentenças e juízos de valor sobrea importáncia de ter um bom tra-balho e dinheiro para criar osnossos meninos: “Ficou grávidae nom tem trabalho”, “Até queme arranje um emprego seguronom podo pôr-me a ter crianças”,“Eu gostava de ser mae, masagora com a crise e sem trabalho,nom podo”… Estes comentáriossom o pam nosso de cada dia eproduto dum sistema que é ca-paz de planificar até o milímetroas nossas vidas.

As que queremos ser maes, an-tepomos sem dar-nos conta (por-que assim o marca umha lei nom

escrita) o nosso pisinho de 60 m2com hipoteca a pagar em 40anos, o carro, as viagens anuaisou a roupa de marca à decisomde sermos maes quando real-mente quereríamos. Só quandodispomos destes bens materiais,considerados co-mo o passaportepara a nossa felici-dade podemos serpais e maes. Aliás,quando o nossobebé nasça teriaque ter isto e mui-to mais: o berço,um quarto novo,cambiador, carri-nho de ultima ge-raçom, creche, osmelhores leitespara os seus bibe-rons, as melhorescremes para o seucu, e quando cres-ça um pouquinho:um i-pad, móvel,computador, play,wii, video-games,roupa de marca, aulas de inglês,de música…

Parece que o sistema económi-co marcou que o prioritário paraas nossas filhas som os bens ma-teriais que o capitalismo é capazde produzir. Esquecemos quandoantepomos o discurso económi-co, que o melhor para estas crian-ças é o seu bem-estar emocional:

procurar um lar onde a criançanada mais nascer se sinta em har-monia com os seus pais, para istoo mais necessário por cima de to-do é a dedicaçom, o tempo e a es-tabilidade. É impossível que um-ha criança cresça tranquila e feliz

sem estas cousas e, no entanto, emuito possível crescer sem berço,sem carrinho, sem computadorou sem creche. E para mostra, sa-be-se que a maioria dos proble-mas polos que umha criança aco-de na atualidade e nos países de-senvolvidos a um psicólogo in-fantil é polo pouco tempo quepassa com os seus pais. Umha

criança nom precisa mais do quea quentura e o leite que lhe pro-porciona o corpo da sua mae. To-do o resto é secundário.

É fácil comprová-lo se olha-mos para trás, no começo de to-do: a humanidade foi capaz deparir filhas sem estas supostas eirrenunciáveis comodidades. Sesaltamos a geraçom dos nossasmaes e vamos até a das nossasavós, encontramos-nos com mu-

lheres que paríromnumha guerra oupós-guerra, quecriárom 4, 5 e 6crianças sem tra-balhar fora da ca-sa, mas trabalhan-do muito dentrodela, aproveitandoas botas e as calçasdas primeiras paraas terceiras filhas,remendando, te-cendo camisolas,aleitando, coleitan-do, aquecendo acasa, criando re-des entre a famíliae as vizinhas e namaior parte dos ca-sos sem o acompa-nhamento da pare-

lha.Se vamos a comunidades indí-

genas que permanecem na atua-lidade comprovamos que aconte-ce o mesmo. Estas crianças cres-cem juntas, a comunidade educa-as e as cuida-as, e as suas maesestám as 24 horas do dia comelas, enquanto trabalham nocampo levam as crianças com

elas e enquanto cozinham, brin-cam com o resto das crianças datribo, umha tribo que assume aatenção das crianças de formacoletiva. Quase nom há diferen-ças entre irmaos, primos, vizi-nhos… e estes som felizes brin-cando com umha lata que fai debola. Evidentemente, tenhemmais amigos que as nossas crian-ças que combinam umha tardecom um amigo para meter-se nomundo imaginário que propor-ciona a play.

Se nos paramos a pensar, mui-tas maes encontramos a tranqui-lidade quando voltamos aos mé-todos dantes, aos mais eviden-tes: ao coleitarmos, as nossascrianças dormem tranquilas, aoacudirmos a um grupo de aleita-mento sentimos apoio e rede,com o peito alimentamos e acal-mamos e quando passamos tem-po com as nossas filhas elas es-tám muito mais felizes.

Que sentido tem matar-nos atrabalhar unicamente para che-gar a pagar umha creche ou aoutra mulher que cuide dos nos-sos bebés?

A sociedade em que vivemosestá doente ao considerar sem-pre que o dinheiro está por cimade todo. Está comprovado queas crianças nascidas em famí-lias endinheiradas nom sommais felizes que as que crescemem famílias mais humildes.Nom sejamos nós quem corte-mos as nossas ánsias maternaispara perpetuarmos umha formade criar que se baseia unica-mente no material.

tempos livres

podemos ter filhas!

entrelinhas ‘como ser reinteGracionista sen que a familia saiba’

criança natural

RUBÉN MELIDE / O título e o ca-maleom que ocupa a capa des-crevem bem a intencionalidadeda obra. Num formato que ten-de ao do clássico livro de textopara o aprendizado de línguas,é-nos oferecida a possibilidadede depurarmos o nosso galegode castelhanismos e aproximá-lo da sua versom internacionalsem por isso transgredirmos asconvençons da norma chamadade oficial. O livro responde a es-sa nova visom do conflito nor-mativo que, refugando o con-fronto direto, procura avançosconcretos no fomento e prote-çom da língua galega, tambémno referente à qualidade com

que a empregamos. E é que adesapariçom da nossa línguapode vir por dous caminhos: oda suplantaçom polo castelhanoé um deles, mas também existeo da progressiva hibridaçomcom ele.

Como parte da metodologia eda própria filosofia da obra, te-mos o emprego sistemático dosconceitos de galego convergente

e galego divergente, os quaisnom viriam a representar duasgramáticas ou duas normativasortográficas, mas duas atitudesa respeito do idioma. A estraté-gia baseada no galego conver-

gente suporia o emprego dumhalíngua de qualidade, acorde com

as variantes estáveis no nossosistema linguístico, posto que aqualidade da língua é medida

pola sua solidez, sendo esta umvalor que nom oferecem outrasestratégias como a do simplesdiferencialismo com o espanhol.

Para além das possibilidadesde aprendizagem que nos forne-ce, talvez o mais novidoso paraumha pessoa preocupada polalíngua seja a aplicaçom conse-quente dumha filosofia que já le-va anos percebendo-se nos am-bientes comprometidos com oidioma: nom sendo previsível adesapariçom de nengumha dasduas escolas normativas numprazo razoável de tempo, resultainteressante o fomento da con-vergência do português em to-dos os ámbitos e no seio de todas

as posiçons gráficas. Isto é: a fi-losofia reintegracionista tam-bém pode ser espalhada no seioda opçom gráfica isolacionista.

No que diz respeito ao méto-do, o livro baseia-se no clássicoesquema de exercícios com so-lucionários ao final de cada uni-dade, sendo possível empregá-lo em aulas ou por livre, estu-dando na casa. Assim, a ideiadum galego oficial de qualidadecoloca-se ao alcanço da mao pa-ra qualquer pessoa que estiverinteressada.

Eduardo S. Maragoto, Como ser rein-

tegracionista sen que a familia saiba.

Vigo, Edicions do Cumio, 2013.

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27tempos livresNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2014

que fazer

17.01.2014 / APRESENTAÇOMDE A LENDA DO XAMELDÍN,DE ROBERTO A. RODRI-GUES / 20:00 no Fogar daspalabras (Rua dos Castinhei-ros, 6). COMPOSTELAConvoca a editora Contos Es-traños, que também organizaumha ceia depois do ato, às22:00, no bar J.de.Joker. A ins-criçom está aberta.

17.01.2014 / APRESENTAÇOMDE HISTORIA DE GALICIA,DE ANSELMO LÓPEZ CA-RREIRA / 20:00 no C.S. Faís-ca (Rua Toledo, 9). VIGOFalará o autor do livro.

17.01.2014 / PROJEÇOM DODOCUMENTÁRIO CARGA DEDIGNIDADE / na Casa dasCrechas (Via Sacra, 3). COM-POSTELAApresenta o realizador do fil-me, Xosé Bocixa.

17.01.2014 / APRESENTAÇOMDE OUTRA VIDA. 22 POE-MAS, UMA CONFISSÃO E UMESCLARECIMENTO, DE MÁ-RIO HERRERO, E LUSOCU-RIA, DE VERÓNICA MARTÍ-NEZ DELGADO / 20:00 noLar da A. Cultura do País(Rua das Hortas, 1). LUGOCom a presença dos autores eeditores de ambos os livros.

17.01.2014 / APRESENTAÇOMDE LETRAS DE AMOR EGUERRA, DE RAMIRO VIDAL/ 21:00 na Casa da CulturaAntón Avilés de Taramancos(Corredoira de Luis Cadarso,s/n). NOIAOrganiza A Lanzadeira de Al-cor, e contará com a presençado autor do poemário.

17.01.2014 / ATUAÇOM DASPANDERETEIRAS DA BUXAI-NA / À noite no Furancho Ma-laherba (Praça de Sam Mauro- Matamá). VIGOMais informaçom em colectivo-malaherba.blogspot.com.

18.01.2014 / MARCHA ÀS CA-DEIAS / Toda a jornada. FE-RROL, CORUNHA, COMPOS-TELA E LUGOHoras e lugares de saída emhttp://quevoltem.org/.

18.01.2014 / ATELIER DE FO-TOGRAFIA BÁSICA / 19:30no C.S. A Cova dos Ratos(Rua Romil, 3). VIGOMinistrado por David Barreiro(Máster em EFTI).

18.01.2014 / CÉ ORQUESTRAPANTASMA APRESENTA ODISCO 'DO MEU' / 22:30 noC.S. A Rebusca. MACEDAAtua com o Coro Bocas Negh-ras e Gorxas Mel-Odiosas.

17.01.2014 / ATUAÇOM DELEO I ARREMECAGONHA / Anoite no Furancho Malaherba

(Praça de Sam Mauro - Mata-má). VIGOTambém organizam a II Proce-sión Atea. Mais informaçomem colectivomalaherba.blogs-pot.com.

22.01.2014 / PROJEÇOM DESTROSZEK, DE WERNERHERZOG / 21:30 no C.S. O Pi-chel (Rua Santa Clara, 21).COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VOSG.

24.01.2014 / PROJEÇOM DE AFAZAÑA DA LIBERDADE /20:30 no L.S. Faísca (Rua To-ledo, 9). VIGODocumentário biográfico sobreAlexandre Bóveda. Apresenta-do polo diretor, Seném Outeiro.

24.01.2014 / CONCERTO DETHE PENNYCOCKS E OS DE-RRADEIROS / 22:30 na Fun-daçom Artábria (Travessa deBatalhons, 7 - Esteiro). FE-RROLEntrada 5 euros.

24.01.2014 / ATUAÇOM DE CÉORQUESTRA PANTASMA / Ànoite no Furancho Malaherba(Praça de Sam Mauro - Mata-má). VIGOCom o Coro Bocas Neghras.

25.01.2014 / ATELIER DE CO-ZINHA VEGANA / 10:30 noC.S. A Cova dos Ratos (RuaRomil, 3). VIGO

25.01.2014 / ATELIER DE CA-TA DE CERVEJA / 18:00 no

C.S. Mádia Leva (Rua Serrados Ancares, 18). LUGOMinistrado por membros doProxecto Píntega, da Fonsagra-da. Tem um preço de 20 euros.

25.01.2014 / ATELIER DE FO-TOGRAFIA BÁSICA / 19:30no C.S. A Cova dos Ratos(Rua Romil, 3). VIGOMinistrado por David Barreiro(Máster em EFTI).

25.01.2014 / FOLIADA / 21:00no C.S. Gomes Gaioso (RuaMarconi, 9 - Monte Alto). CORUNHAMúsica, dança e petiscos. Nosúltimos sábados de cada mês.

26.01.2014 / ROTEIRO ‘AUGASMANSAS’ POLAS LAGOAS

DA TERRA CHÁ / 09:00 naFaculdade de Formaçom doProfessorado (Avenida deRamón Ferreiro). LUGOO roteiro dura todo o dia. Re-servar no 982 240 299 ou no679 113 718. Organiza Adega.

29.01.2014 / PROJEÇOM DE APEDRA DO LOBO, DE AL-BERTE PAGÁN / 21:30 noC.S. O Pichel (Rua Santa Cla-ra, 21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. Com a presença do di-retor. VO.

31.01.2014 / CONCENTRA-ÇONS POLA LIBERDADEDOS PRESOS INDEPENDEN-TISTAS / 20:30. BURELA, FE-RROL, PONTE VEDRA, COM-POSTELA, CORUNHA, LUGO,OURENSE e VIGOConvocatórias certas emhttp://www.ceivar.org/.

31.01 e 01.02.2014 / FINDE KFLIPAS / À noite no C.S. ARebusca. MACEDAAtuam Patxaranga, Cuchufe-llos e Brigada Am Soundsys-tem o primeiro dia e Xenderal& Chek Selekta, Chotokoeu eHadri Hache na segunda jorna-da. Mais informaçom emhttp://www.arebusca.com/.

01.02.2014 / ‘O DEREITO Á CI-DADE’. JORNADAS DE UR-BANISMO E PARTICIPAÇOM /16:30 no C.S. Bou Eva (RuaTerzo de Fóra, 11). VIGOSobre o direito à vivenda. Oprograma e horários vam serpublicados no blogue http://ac-boueva.blogaliza.org/.

04.02.2014 / CLUBE DE LEI-TURA / 19:30 no Ateneu Fe-rrolano (Rua Madalena, 202-204). FERROLTodas as primeiras terças-fei-ras de cada mês.

07.02.2014 / MASA CRÍTICA /20:00 na Praça de Maria Pita.CORUNHATodas as primeiras sextas-fei-ras de cada mês, evento ciclistade participaçom aberta.

21.02.2014 / BAILE ASSALTO/ 21:00 no C.S. O Pichel (RuaSanta Clara, 21). COMPOS-TELAAmenizado polos mestres econvidados da Escola Livre daMPG. Às 19:00 haverá cursointrodutório ao baile.

14.02.2014 / VIDEOFORUM'MULHERES E LÍNGUA' /20:00 Na Livraria Lilith (RuaTravessa, 7). COMPOSTELAProjeçom do documentárioMulheres e Língua e debate.

homenagem a Manolo soto polo seucabodano e ceia em salvaterra de Minhoa sociedade cultural e desportivado condado celebra, no sábado 8de fevereiro, umha homenagem aManolo soto. Membro fundadorda associaçom, que organiza ofestival da poesia no condado, eativista em múltiplos projetos, ‘orata’, alcume polo qual era con-hecido, faleceu em fevereiro de2013 aos 60 anos.

a homenagem celebra-se na casada cultura de salvaterra de Minhoe começa às 19:00. haverá músi-ca, poesia, e as intervençons depessoas que partilhárom militán-cia sindical, cultural, política e so-cial com Manolo soto.antes, no dia 25 de janeiro, a scdorganiza umha ceia-concerto paraarrecadar fundos para a realiza-

çom do próximo festival da poesiano condado. o ato, protagonizadopolo grupo a bagunda, de “folkrústico para mover os pés”, come-ça às 21:30 na casa da culturade salvaterra. a entrada custa 12euros e pode ser reservada no 646959 587 ou em info@scdconda-

do.org. Mais informaçom emhttp://scdcondado.org/.

atos pola sanidade públicao Movemento veciñal a prol dosbens comúns de Marim organizaem janeiro duas atividades paradefender a sanidade pública.a biblioteca municipal de Maromacolhe, na sexta-feira dia 17,desde as 20:00, a apresentaçomdo livro ‘la contrarreforma sani-

taria’. intervenhem o médico evozeiro de sos sanidade públicaManuel Martín e a radióloga Ma-ría luisa lores aguín. no dia 23 projeta-se Sicko, do-cumentário de Michael Mooresobre a sanidade nos eeuu. se-rá às 20:00 na biblioteca.

a associaçom o aturuxo de Mel-pómene organiza um curso dedireçom teatral com cándidopazó. será todas as segundasfeiras de janeiro, fevereiro e mar-ço, de 16:00 a 20:00 no localda associaçom em xubia (na-rom). o preço do curso, de 36horas, é de 200 euros. para so-licitar informaçom ou formalizara inscriçom hai que chamar ao690 103 659. Mais informa-çom no blogue http://oaturuxo-

demelpomene.blogspot.com.

curso dedireçom deteatro

narom

scd do condado

em marim

ENVIA CONVOCATÓRIAS aocorreio [email protected] do dia 12 de cada mês.

Anuncia os teus atosno NOVAS DA GALIZA.

Page 28: Novas da Galiza · debater a fundo o tema”. / pÁG. 6 opiniom agenda ano zero por isaac lourido / 3 repensar o sindicalisMo, repensar-nos nós por cris blanco / 3 feliz ano novopor

Novas da Gali a apartado 39 (15701) coMpostela tel. 692 060 607 [email protected]

no dia 2 de janeirofum a um bar e verifi-quei que no 2014 El

Correo Gallego continua a re-matar o seu jornal com umhapiada. a piada sintetiza umpouco o que sentimos naspáginas anteriores: frio e des-truiçom. imagino a pessoaque inventa as piadas, sem-pre a mesma, de madrugada,com um revólver na boca.florinda campoamor. eutambém tenho a mania decontar piadas. aí vai.

a história do sujeito que foiao hospital visitar o filho queacabou de nascer.

o médico foi ao encontrodo pai para lhe dizer que iaapanhar o menino no berçá-rio. voltou carregando nosbraços o que seria o bebezin-ho, envolto em cobertores,que entregou ao pai. Mashouve um problema, o seufilho nasceu com uma defi-ciência, diz o médico. dentrodo cobertor havia apenasumha enorme orelha. “ai,meu deus” diz o pai da crian-ça, “ele nasceu assim? Masnom importa, vou amá-lo domesmo jeito. Meu filho”, opai diz para a orelha, “eu teamo, viu? eu te amo e amareisempre”. o médico o inte-rrompeu dizendo, “fale maisalto que ele é surdo”.

assim vejo eu o2014: ascousas sempre podem ir apior, mas nom por isso deve-mos claudicar.

post-scriptum: a piada faiparte de um relato do livrode Axilas e outras historias

indecorosas de rubem fon-seca. eu só parafraseei. narealidade, copiei quase pa-lavra por palavra. a gentedo novas avisou-me tarde,o natal foi particularmenteintenso, nom se me ocorrianada que dizer, etc. portan-to, decidim copiar e colar,umha piada neste caso, pa-ra acabar pronto, ao estilodos estudantes preguicei-ros. ainda som um poucoadolescente. sempre pensoem acabar pronto todo oque fago. nem sequer ten-ho um editor de texto quecontabilize os caracteres.nom sei se serám suficien-tes. obviamente nom osvou contar um por um.nom, nom há tempo.

Maurício delito

feliz ano novo

Foste um dos pioneiros no em-

prego e a reivindicaçom do ga-

lego na judicatura. Como fôrom

os primeiros passos dessa luita?

Tinhas que luitar contra todo.Quando chegavas a um julgadoos advogados falavam em castel-hano. Eu falava galego e respon-diam-me em galego, mas nomhavia nenhumha possibilidadedisto nos escritos ou mesmonum juízo. Eras consciente deque eras pior recebido se falavasgalego. A primeira ponência queapresentei para o uso dos idio-mas vernáculos foi no Congres-so da Advocacia Espanhola emLeóm, o qual rematou com a en-trada da polícia na assembleia ebotando-nos a todos fora. Foi em1970. Depois apresentei outra noCongresso do Direito Galego naCorunha, em 1972. Umha daspetiçons que figem foi que se pu-dera empregar o nosso idiomaespecialmente nas declaraçonsdas testemunhas.

Penso que a primeira vez que ogalego foi empregado num juízofoi no juízo oral celebrado na Au-diência da Corunha contra Fran-cisco Carballo em 1985. Levei eua defesa e curiosamente o fiscalrespondeu-me também em gale-go. O juízo era por injúrias e calú-nias contra a Polícia por ter ditonum livro que Moncho Reboirasfora assassinado pola Polícia. Em

escritos, o galego começou a em-pregar-se depois da Constituiçome o Estatuto de Autonomia.

Pensas que ainda há prejuízos e

barreiras para o emprego do ga-

lego na judicatura hoje em dia?

Total e absolutamente, mas comexceçons. Há juízes que, além deadmitir o texto em galego, que é oque devem fazer, celebram o juízoem galego e ditam sentença emgalego. Mas dizer que represen-tam 1% seria excessivo. Tambémé certo que os advogados nomcumprimos adequadamente comas nossas obrigas com a língua. Eeu encontro mui pouca gente quefaga as suas demandas em galegoe muita menos que responda àsminhas demandas em galego.

Há muitos juízes que te olhamcom desconfiança e quando háproblemas nom há mais remédio,a nom ser que seja um assuntopessoal ou de alguém que estejaconscientizado com a língua, queaceitar o que di o juiz, estás a de-fender os direitos de um terceiroque talvez o que menos lhe impor-te nesse momento seja o idioma.

Como reintegracionista, que pro-

blemas encontras para desenvol-

ver esta opçom linguística?

Sou reintegracionista e movo-meno possibilismo, nos mínimos, em-pregando terminaçons em -m, -

zom, algumha vez utilizo o ç, v emvez de b, finais em -vel... Tenho re-cebido de todo e há gente que nomlhe preocupa. Sou reintegracionis-ta e nom estou contra ninguém,mas incomoda-me que os isolacio-nistas estejam em contra do rein-tegracionismo. Quando começa-mos a empregar o galego, eu apre-sentara no julgado de Verim umhaquerela em mínimos e o secretá-rio, que ao parecer era galeguista,nom a admitiu. Nom sabia que fa-zer... pensei, os reintegracionistas,em relaçom com os isolacionistas,somos pessoas que temos gralhasao escrever, portanto decidim re-digir um recurso em espanhol,mas com gralhas: o c era escritocom k, todo com b... E um dia liga-me por telefone um juiz de Verimpara que fosse falar com ele. Ex-pliquei-lhe porque tinha feito as-sim o recurso e admitiu-me a que-rela em galego de mínimos. Tiveoutro problema em Vigo com umjuiz, também muito galeguista,porque o meu galego nom era onormativo. Aí é onde reparas daloucura que há neste país, porqueparece que esse juiz tam galeguis-ta preferia que escrevesse em es-panhol antes que num galego “de-turpado”, segundo ele.

Além desta luita pola língua,

levas muitos anos militando no

nacionalismo e no indepen-

dentismo. Como foi a tua evo-

luçom política?

Nascim no rural e os meus paiseram mestres. Meu pai tinhaumha biblioteca de autores ga-legos da época que eu lia. Quan-do fui estudar a Madrid na min-ha equipagem iam alguns livrosde Lamas Carvajal, Curros Enrí-quez ou Castelao. Em Madrid éonde sentim mais nostalgia, doidioma e da naçom. Quando aca-bei os estudos e regressei paraOurense comecei a relacionar-me com dom Ramom OuteiroPedraio, Ferro Couselo e, sobre-todo, com Eduardo Blanco-Amor. Comecei a derivar paraum nacionalismo muito cons-ciente através da relaçom deamizade que mantivem comMéndez Ferrín. A partir daí, sen-do ao princípio o único advoga-do que tinha a UPG, fum conhe-cendo a opressom da Polícia, ainjustiça, o maltrato... e comeceia reparar em que eu era um pri-vilegiado por ser advogado, em-bora também nos levassem emaltratassem nalgumha oca-siom. Tés que dar a cara porquetés mais vantagens das que po-dem ter outros, portanto pare-ce-me covarde ter essas vanta-gens e nom ser capaz de dar acara em cada momento e em ca-da sítio, como para defender eempregar a língua galega.

“Dizer que 1% dos juízes emprega

o galego seria mesmo excessivo”A. LOPES / Este advogado natural de Viana do Bolo, nado lápolo ano 1935, exerce a sua profissom desde há décadas esempre com umha profunda consciência de país. NemésioBarxa foi das pessoas pioneiras em reivindicar o empregoda língua galega na judicatura, umha batalha que ainda hoje

se encontra longe de ganhar. Num mundo tam conservadorcomo é o dos julgados, assim o admite ele próprio, fôrommuitas as dificuldades com que Barxa bateu por empregaro nosso idioma, algumhas devidas à sua praxe reintegra-cionista.

nemésio barxa, advoGado