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Estud. Econ., São Paulo, vol.49 n.4, p.687-722, out.-dez. 2019 Artigo de Pesquisa DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0101-41614943bnpl Novas Medidas de Educação e de Desigualdade Educacional para a Primeira Metade do Século XX no Brasil Bruno Komatsu 1 Naercio Menezes-Filho 2 Pedro Augusto Costa Oliveira 3 Leonardo Teixeira Viotti 4 Resumo Este artigo descreve a trajetória do nível e da desigualdade educacional no Brasil desde a primeira metade do século XX. Combinamos diversas fontes de dados históricos, tais como os relatórios do Ministério de Negócios do Império, os Anuários Estatísticos do Brasil e os Censos Demográficos para construir novas medidas de escolaridade e calcular índices de Gini educa- cional entre 1900 e 2000 para cada região e para o Brasil como um todo. Nossos resultados mostram que entre 1900 e 1930, a proporção de pessoas com ensino primário completo na população permaneceu em torno de 5%, ao passo que a parcela com ensino secundário completo esteve sempre abaixo de 1% e que somente 0,3% tinham ensino superior completo. Assim, a desigualdade educacional permaneceu constante até 1920, declinou lentamente entre 1920 e 1950 e mais rapidamente somente a partir de então. Palavras-Chave Educação. Desigualdade. Índice de Gini. Abstract This paper describes the trajectory of educational level and inequality in Brazil in the first half of the 20th century. We combine various sources of historical data, such as the reports of the Ministry of Business of the Empire, the Statistical Yearbooks of Brazil and the Demographic Censuses to construct new educational measures and calculate educational Gini indices betwe- en 1900 and 2000 for each region and for Brazil as a whole. Our results show that between 1 Pesquisador − Insper Instituto de Ensino e Pesquisa − Endereço: Rua Quatá, 300 - Vila Olímpia/SP CEP: 04546-042 - E-mail: [email protected] - ORCiD: https://orcid.org/0000-0002-7731-3422 2 Professor − Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade − Universidade de São Paulo − End.: Rua Quatá, 300 − Vila Olímpia − São Paulo/SP CEP: 04546-042 - E-mail: [email protected] - ORCiD: https://orcid.org/0000-0003-1241-6188 3 Mestrando – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade − Universidade de São Paulo End.: Avenida Professor Luciano Gualberto, 908 – Butantã – São Paulo/SP. CEP: 05508-010 E-mail: [email protected] – ORCiD: https://orcid.org/0000-0001-5423-8856 4 Analista de Dados, Development Impact Evaluation - DIME, The World Bank Group, Washington, DC, Estados Unidos – Endereço: 1818 H St NW, Washington, DC 20433 – E-mail: [email protected] ORCiD: https://orcid.org/0000-0001-5638-4566 Recebido: 22/11/2017. Aceite: 06/06/2019. Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial 4.0 Internacional.

Novas Medidas de Educação e de Desigualdade Educacional ... · 688 Bruno Komatsu, Naercio Menezes-Filho, Pedro Augusto C. Oliveira e Leonardo Teixeira Viotti 1900 and 1930 the proportion

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Estud. Econ., São Paulo, vol.49 n.4, p.687-722, out.-dez. 2019

Artigo de Pesquisa DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0101-41614943bnpl

Novas Medidas de Educação e de Desigualdade Educacional para a Primeira Metade do Século XX no Brasil

Bruno Komatsu1

Naercio Menezes-Filho2

Pedro Augusto Costa Oliveira3

Leonardo Teixeira Viotti4

ResumoEste artigo descreve a trajetória do nível e da desigualdade educacional no Brasil desde a primeira metade do século XX. Combinamos diversas fontes de dados históricos, tais como os relatórios do Ministério de Negócios do Império, os Anuários Estatísticos do Brasil e os Censos Demográficos para construir novas medidas de escolaridade e calcular índices de Gini educa-cional entre 1900 e 2000 para cada região e para o Brasil como um todo. Nossos resultados mostram que entre 1900 e 1930, a proporção de pessoas com ensino primário completo na população permaneceu em torno de 5%, ao passo que a parcela com ensino secundário completo esteve sempre abaixo de 1% e que somente 0,3% tinham ensino superior completo. Assim, a desigualdade educacional permaneceu constante até 1920, declinou lentamente entre 1920 e 1950 e mais rapidamente somente a partir de então.

Palavras-ChaveEducação. Desigualdade. Índice de Gini.

AbstractThis paper describes the trajectory of educational level and inequality in Brazil in the first half of the 20th century. We combine various sources of historical data, such as the reports of the Ministry of Business of the Empire, the Statistical Yearbooks of Brazil and the Demographic Censuses to construct new educational measures and calculate educational Gini indices betwe-en 1900 and 2000 for each region and for Brazil as a whole. Our results show that between

1 Pesquisador−InsperInstitutodeEnsinoePesquisa−Endereço:RuaQuatá,300-VilaOlímpia/SP CEP:04546-042-E-mail:[email protected]:https://orcid.org/0000-0002-7731-34222 Professor − Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e Faculdade de Economia, Administração eContabilidade−UniversidadedeSãoPaulo−End.:RuaQuatá,300−VilaOlímpia−SãoPaulo/SP

CEP:04546-042-E-mail:[email protected]:https://orcid.org/0000-0003-1241-61883 Mestrando – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade − Universidade de SãoPauloEnd.:AvenidaProfessorLucianoGualberto,908–Butantã–SãoPaulo/SP.CEP:05508-010E-mail:[email protected]–ORCiD:https://orcid.org/0000-0001-5423-8856

4 AnalistadeDados,DevelopmentImpactEvaluation-DIME,TheWorldBankGroup,Washington,DC,EstadosUnidos–Endereço:1818HStNW,Washington,DC20433–E-mail:[email protected] ORCiD:https://orcid.org/0000-0001-5638-4566

Recebido:22/11/2017.Aceite:06/06/2019.

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial 4.0 Internacional.

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1900 and 1930 the proportion of people with complete primary education in the population remained around 5%, while the share of secondary education was always below 1% and that only 0.3% had higher education complete. Thus, educational inequality remained constant until 1920, declining slowly between 1920 and 1950 and more rapidly thereafter.

KeywordsEducation. Inequality. Gini Index.

JEL ClassificationI24. I25.

1. Introdução

ApesardasimportantestransformaçõessociaisenomercadodetrabalhoocorridasnoBrasilnoperíodorecente,quelevaramàacentuadareduçãodadesigualdadederendanaúltimadécada(Lustig,Lopez-CalvaeOrtiz-Juarez2013),opaísfiguraaindahojeentreospaísescommaiorníveldedesigualdadenomundo(TsountaeOsueke2014;CIA2013).Alémdisso,oselevadosníveishistóricosdedesigualdadesocialdoBrasilsãocompar-tilhadosentrealgunspaíseslatinoamericanos.

Umimportantemecanismodeperpetuaçãodadesigualdadederendaen-trepaísesseconstituinasdiferençasdeinvestimentoedistribuiçãodecapitalhumano(DeFerrentietal.2004).NospaísesdaAméricaLatina,aeducaçãoformalsedesenvolveutardiamente,priorizandooacessodaselites,oquegerouumaescassezdemãodeobraqualificadaedesigualda-desregionais(CampseEngerman2014).ApósentrarnaagendadeagentesdaindependêncianoséculoXIX,aexpansãodaeducaçãoàpopulaçãofoiesquecidacomaconsolidaçãoderegimesconservadoresnoperíodopós--independênciaepermaneceucomoprivilégiodosmaisricosatéoúltimoquartodaqueleséculo(Frankema2009).Adicionalmente,asondasdemi-granteseuropeusaoBrasilentreofinaldoséculoXIXeiníciodoséculoXXrepresentaramchoquespositivosnosestoquesdecapitalhumanoereforçaramasdesigualdadesregionaisderenda(Rocha,FerrazeSoares2015).

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Esteartigopretendecontribuirparaa literaturacomnovasmedidasdeestoqueeducacionaletambémcomumaanálisedetalhadadaevoluçãodadesigualdadeeducacionaldoBrasilnoperíodoquevaidoiníciodoséculoXXatéadécadade1960.NossaprincipalcontribuiçãoéaconstruçãodemedidasmaisprecisasdeestoquesdapopulaçãoporeducaçãoparaaprimeirametadedoséculoXX,utilizandodadoshistóricosdosAnuáriosEstatísticosdoBrasil(AEBs)edosCensosDemográficos.Alémdisso,em-pregamosumesforçoparadocumentarastendênciaseadinâmicadadesi-gualdadeeducacionalnasregiõesbrasileirasaolongodetodooséculoXX.ConstruímosoestoqueinicialdeindivíduosporgraudeescolaridadeparaoiníciodoséculoXX,apartirdedadospoucoutilizadosanteriormente,obtidosnosRelatóriosAnexosaoMinistériodosNegóciosdoImpério,oquenospermitiuestimaroíndicedeGinieducacionalparaopaíscomoumtodoe tambémpara cadaumade suas regiões.A trajetóriadessamedidadedesigualdadeeducacionalnosdáumpanoramamaisclarodecomoestarespondeuàsreformasempreendidaspelogovernonatentativadeexpandirosistemadeensino.Alémdisso,oíndicedeGinieducacionalnospermiteavaliarcomoadesigualdadenaeducaçãosecomportouemalgumasregiõesdopaíseemquemedidaaeducaçãoéresponsávelpeladesigualdaderegionalexistenteaindahoje.

Aquestãodadesigualdadederendavemganhandodestaquenasmaisdiversasáreasdepesquisanosúltimosanos,tendoemvistaqueestudosrecentesapontamumaumentodadesigualdadeemtodoomundo(Dabla-Norris2015).Hána literaturaumconhecidodebatesobreaspossíveiscausasparaaalarmantedesigualdadenaAméricaLatina.Deumlado,ahipótesecentralédequeaatualdesigualdadenospaíses latino-ameri-canostemraízeshistóricaseumaforteassociaçãocomaqualidadedasinstituiçõesfundadasnoperíodocolonialeaquelasexistenteshojeemdia(Acemoglu,JohnsoneRobinson2001;DeFerrentietal.2004).Nessesentido,EngermaneSokoloff(1994)tambémargumentamqueascondi-çõesiniciaisapartirdasquaisascolôniasforamestabelecidas(incluindoaadequaçãodosoloparaculturascomgrandeseconomias,produçãocomescravosegrandequantidadepopulaçãonativa)tiveramimpactorelevantesobreaevoluçãoeducacionalesobreadesigualdadesocialposterior.Dooutrolado,outrosautoresargumentamqueaaltadesigualdadedaAméricaLatinaéumfenômenorelativamenterecente,tendosurgidoemmeioatransformaçõesnosséculosXIXeXX,comooaumentodospreçosinter-nacionaisdascommoditieseoisolacionismodospaíseslatinoamericanosapósaPrimeiraGuerraMundial(Williamson2015).Aevoluçãodiferen-

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ciadadospreçosportipodecommodity(emparticulardacanadeaçúcaredocafé)tambémparecerser importanteparaexplicardiferençasdedesenvolvimentodasregiõesnoBrasil(Leff1972).

Alémdessascorrentesexplicativas,aeducaçãodesempenhaumpapelrele-vantenaperpetuaçãodadesigualdadederenda.Osefeitosdadesigualdadedecapitalhumanosobreadesigualdadederendaforambastanteestuda-dosnaliteratura(veja,porexemplo,LameLevison(1991),Lorel(2008),Barros(2011)).Atransmissãointergeracionaldeescolaridadeconstituiocanalprincipalpeloqualadistribuiçãodesigualdecapitalhumanoafetaadesigualdadederenda(Lorel2008).Adesigualdadeeducacionalpodeafetaradesigualdadederendapormeiodadispersãodaescolaridadeedosefeitosdaescolaridadesobreosrendimentos.51Adicionalmente,aeducaçãopodeafetaradesigualdadederendaatravésdeexternalidadespositivasdocapitalhumano,relacionadasàtecnologia(Barros2011).Alémdoganhodeeficiênciaeaumentodaprodutividadedosindivíduoscommaiornívelde instrução,atecnologiaédesenvolvidarespeitandoasrestriçõesdosoutrosfatoresdeprodução.Portanto,regiõescommaiordisponibilidadedecapitalhumanoterãotecnologiasqueusammaisintensivamenteestefator,eemconsequênciaserãomaisprodutivas.Alémdisso,aimportânciadaeducaçãoparaadesigualdadeémaiornasregiõesmenosdesenvolvidasdoBrasil,asaberaregiãoNordeste,umavezqueodiferencialsalarialporgraudeescolaridadenessasregiõesémaior(ReiseBarros1991).

Nessesentido,amádistribuiçãodefatoresdeprodução,especialmentedocapitalhumano,acabaporimpediraconvergênciadonívelderendaper capita entreasregiões, esperadaporummodeloneoclássico(BarroeSala-i-Martin1992).ParaoBrasil,cercade40%dadesigualdadederendaobservadanasdécadasde1980e1990podeserexplicadopelava-riáveleducação(Ferreira2000).Adicionalmente,adistribuiçãodesigualdecapitalhumanotendeapersistir,umavezqueaacumulaçãodecapitalhumanodospaisépositivamenterelacionadaàdosfilhos.Aausênciadepolíticaspúblicasquebusquemredistribuireducaçãodeformamaisiguali-táriaentreasregiões,adesigualdaderegionaltendeasemanterportempoindeterminado(Barros2011).

1Emboraintuitivamenteadesigualdadedeescolaridadesejapositivamentecorrelacionadacomadesi-gualdadederenda,Lam,LeibbrandteFinn(2015)argumentamquenãoháfundamentoformalparaqueessarelaçãotenhaessesinal.

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Nossotrabalhotambémdialogacomestudosquetentamexplicarascausasdadistribuiçãodesigualdecapitalhumanoentreasregiõesbrasileiras,exa-minandoaquestãodasdiferençasdeacessoàeducação.Aestruturaprodu-tivaedepoderpolíticodasregiõesparecemexplicarpartedaconcentraçãodaeducação.OacessoàeducaçãoerarestritoàseliteslocaisatéofinaldoséculoXIX.AexpansãodoacessocomasreformaseducacionaisnofinaldoséculoXIXeiníciodoséculoXX,alémdisso,beneficiouespecialmen-tebrancos(incluindoimigranteseuropeus)erelegounativosamericanos,negrosemestiçosao segundoplano(CampseEngerman2014).Alémdisso,háevidênciasdequeainteraçãoentreaqualidadedasinstituiçõeslocaiseoaumentodospreços internacionaisdascommoditiesafetaosníveisregionaisdeacumulaçãodecapitalhumano(Musacchio,MartinezeViarengo2014).

Algunsestudosanterioresestimarammedidasdedesigualdadeeducacio-nalnolongoprazo.Thomas,WangeFan(2001)calculamumíndicedeGinieducacionalparadiversospaísesapartirde1960,econcluemqueatendênciageralnasegundametadedoséculoXXédereduçãodadesi-gualdadeeducacional,queénegativamenteassociadaàmédiadeanosdeestudoeàriquezadopaís.Aassociaçãodoníveldeescolaridadecomadispersão(medidapelodesviopadrão)segueopadrãodeumacurvadeKuznets.ResultadossemelhantessãoencontradosporLorel(2008)paraoBrasil,entre1950e2000,quandocomparaosestadosbrasileiros.LeeeLee(2016)constroemumamedidadeestoqueeducacionalparaoperío-doentre1870e2010para111países,apartirdeestimativasdetaxasdematrículanoperíodoentre1820e1945edasestimativaseducacionaisdeBarroeLee(2001)paraopósIIGuerra.VanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015)tambémcalculamumíndicedeGinieducacionalparadiversospaíses,entre1850e2000,incluindooBrasil.UmadiferençaimportanteentrenossoestudoeosdeLeeeLee(2016)edeVanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015)estánograudeprecisãodosdadosutilizados,umavezqueasestimativasapresentadasporestessãomaisgeraiseparatodoopaís,enquantoasestimativasapresentadasnestetrabalhosãodesagregadasporregiãoegraudeescolaridade.

Nossaprincipalcontribuiçãoéestimaraevoluçãodadesigualdadeeduca-cionalnoBrasilparaaprimeirametadedoséculoXX,paraquandonãohámicrodadosdepesquisascensitáriasdisponíveis.Nósadicionamosàlite-raturaresultadosobtidosapartirdefonteshistóricasnãoexploradasemoutrosestudos,comoosrelatóriosestatísticosdaantigaDiretoriaGeralde

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Estatísticas(DGE),relatóriosestatísticosdofinaldoséculoXIXetaxasdemortalidadecalculadasseparadamenteporníveldeescolaridade.

Oartigoestádivididoemseispartes,incluindoestabreveintrodução.Nasegundaparte,faremosumadescriçãodosdadosutilizados,bemcomodesuasfontessuasespecificidades.Emseguida,explicaremosdetalhadamen-teametodologiautilizadanotrabalho.Naquartaseção,realizamosumbrevehistóricodaeducaçãobrasileira.Porfim,apresentamososresultadosobtidosealgumasconclusõessobreoassunto.

2. Dados Metodologia

Paraestimarasestatísticasapresentadasnesteartigo,foramcombinadasdiversasfonteshistóricas.Paraestatísticascomotaxadealfabetizaçãoougraudeescolaridadedapopulação,utilizamososCensosDemográficos,divulgadosaproximadamenteacadadezanospeloInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE).Oprimeirorecenseamentonacionalocor-reuem1872,abrangendotodasasregiõesdoterritório,excetooatualestadodoAcre.

TambémutilizamososAnuáriosEstatísticosdoBrasil (AEB)publica-dospeloIBGE,naépocachamadoDiretoriaGeraldeEstatística(DGE)(MinistériodaAgricultura,IndustriaeCommercio,1916;DGE,1912-1936;InstitutoNacionaldeEstatística,1936-1937;IBGE,1938-1962).Oprimei-roAEBfoidivulgadoem1916,contendodadosparaosanosentre1907-1912.Apenasapartirde1936apublicaçãopassouaseranual.OsAnuáriosreúnemumagrandequantidadedeinformaçõessobreeducação,saúde,gas-topúblico,trabalho,política,entreoutrostemas,entretanto,essesdadosnãosãosemprecomparáveis.Utilizamosasinformaçõesdisponíveisacercadematrículas,conclusõesdecursoenúmerosdeinstituiçõesdeensino.

DadossobretaxadealfabetizaçãoougraudeescolaridadedapopulaçãoestãopresentesnosCensosDemográficosemtodaasérie.Paraestimaropercentualdeindivíduosmatriculadosnonívelescolarcorresponden-teacadafaixaetária,cruzamososdadosdosAEBscomasestimativas

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populacionaisdosCensosDemográficos.Porém,devidoàsfaixasetáriasdoscensosnãoseremexatamentecompatíveisàsdecadanívelescolar,foinecessáriorealizarumaaproximação.Assim,paraoensinoprimáriofoiconsideradaapopulaçãodecadaestado,entre5e14anos.Paraoensinosecundárioetécnico,ototaldepessoasporestadoentre10e19anos,eparaoensinosuperiorindivíduosentre20e24anos.

Para1930utilizamosestimativaspopulacionaisfeitaspeloDGE,umavezquenestadécadanãofoirealizadoCensoDemográfico.Entretanto,estasestimativaseramapenasparaototaldapopulaçãodecadaestado.Parachegaràpopulaçãoporfaixaetária,foifeitaumamédiaentreopercentualdapopulaçãoemcadafaixaetáriaporestadodosCensosde1920e1940.Emseguida,esteresultadofoimultiplicadopelapopulaçãototaldoestadocorrespondenteem1930.

Dadosdematrículasnoensinoprimário,secundárioetécniconofinaldoséculoXIXforamobtidosdosRelatóriosAnexosaoMinistériodosNegóciosdoImpério,daDiretoriaGeraldeEstatística(DirectoriaGeraldeEstatística,1875;Secretariad’EstadodosNegociosnoImperio,1887).Apesardepoucoconhecidos,estesrelatóriosapresentamumavastagamadeinformaçõessobreaeducaçãonopaísnaqueleperíodo,taiscomoreceitaedespesacomeducaçãoemnívelprovincial,númerodeestabelecimentosdeensinoprimárioesecundário,públicoseparticulares,frequênciaescolaremambososníveisedespesaporaluno.

UtilizamosdadosdemortalidadedapublicaçãoEstatísticasdoSéculoXXdoIBGEparaoBrasil,semdistinçãoderegiões.Aúnicaexceçãoéoes-tadodeSãoPaulo,emqueháinformaçõesmaisprecisasdisponíveisnoprojetoMemóriadasEstatísticasDemográficas(SEADE2010).

Apartirdessas informações foipossívelcalcularumGinieducacionalparaoBrasilcomoumtodoeparaalgumasdesuasregiões.AestimaçãodoGinifoifeitacombaseemestimativasdaescolaridadedapopulaçãobrasileiraaolongodoséculoXX.Oestoqueinicial,paraoanode1900,foicalculadocombasenosdadosdematrículaseconclusõesdosAEBsedeoutrostrabalhoserelatóriosdoDGE,especificadosacima.ContamostambémcomdadosdeestoquepopulacionalporescolaridadenosCensosDemográficosde1940a1960.

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2.1. Anuários Estatísticos

Paraocálculodosestoquesdeníveldeescolaridadeutilizamosasinforma-çõesacercadematrículas,conclusõesdecursoenúmerosdeinstituiçõesdeensinocontidasnosAnuáriosEstatísticosdoBrasil(AEB)entreosanosde1908e1962.Osanuáriosreúnemumagrandequantidadedeinforma-çõessobrediferentestemas,educação,saúde,gastopúblico,trabalho,polí-tica,religiãodentreoutros.Apesardariquezadeinformações,osanuáriostiverampublicaçõesinconstantesnosanosiniciaiseadisponibilidadedeinformaçõesvariasignificativamenteentreosanosedeterminadasinfor-maçõesnãosãocomparáveisentrediferentesanos.ParaumadiscussãodetalhadadadisponibilidadedeinformaçõesnosAEBsverSouto(2012),GuizzardiFilhoetal.(2003)eIBGE(2006).

OprimeiroAEBfoidivulgadoem1916,contendodadosparaosanosentre1907-1912,masapublicaçãofoiinterrompidaentre1913e1935.Apar-tirde1936,apublicaçãopassaaseranual,contudo,háinconstâncianosdadossobrematrículaseconclusões.AsTabelas1e2abaixosintetizamadisponibilidadedeinformações:

Tabela 1 – Dados disponíveis Anuários Estatísticos do Brasil - Matrículas

Matrículas

Ensino Primário Secundário Superior Profissionalizante

Série

1907-1912 Não disponívelDisponível para todas as UFs exceto AC

Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.

Disponível para todas as UFs exceto AC

1932-1937Disponível para todas as UFs

Disponível para todas as UFs

Disponível para todas as UFs exceto AC

Disponível para todas as UFs

1938-1950 Não disponível Não disponível Não disponível Não disponível

1951-1962 Não disponível Não disponível Não disponível Não disponível

Fonte:Elaboraçãoprópria.

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Tabela 2 – Dados disponíveis Anuários Estatísticos do Brasil - Concluintes

Concluintes

Ensino Primário Secundário Superior Profissionalizante

Série

1907-1912 Não disponível

Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.

Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.

Disponível para todas as UFs exceto AC

1932-1937Disponível para todas as UFs

Disponível para todas as UFs exceto AC

Disponível para todas as UFs exceto AC

Disponível para todas as UFs

1938-1950 Não disponível Não disponível Não disponível Não disponível

1951-1962

Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.

Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.

Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.

Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.

Fonte:Elaboraçãoprópria.

Devidoàsinterrupçõesnasérie,utilizamosmétodosdeinterpolaçãolinearparapreencherlacunas,queserãoexplicadosnapróximaseção.

3. Metodologia

AmetodologiadesteartigoconsisteemcalcularoíndicedeGiniagregadocomestimativasdeestoquespopulacionaisporníveldeescolaridadeaolongodotempo.AprincipaldificuldadeenfrentadaédequenãohádadosestatísticosoucensitáriossobreoestoquedapopulaçãoporescolaridadenoBrasilouestadoatéoCensoDemográficode1940.Atéentão,a in-formaçãosobreaescolaridadedisponívelerasomentedequantossabiamounãolernapopulação.Poressemotivo,paraconstruirosestoquesporescolaridade,partimosdeestimativasdoestoquedepessoascomcadaníveldeescolaridadeem1900e,usandoinformaçõessobreosconcluintesdecadanível,construímosasérieparaaprimeirametadedoséculoXX.Também,utilizamosamesmametodologiadecálculodoGiniparaosda-dosdisponíveisnoscensosdemográficosde1940a2000,comointuitode

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darcontinuidadeàsérie.FazemosadicionalmenteestimaçõesseparadasparaasUnidadesdaFederação,oquenospermiteagregaremregiões.

3.1. Metodologia das Estimativas da Distribuição da População por Esco-laridade em 1900

Paraaestimaçãodoestoque inicialdapopulaçãoporescolaridadeem1900,nósnosinspiramosnametodologiadeinventárioperpétuodescritaporFöldvárieVanLeeuwen(2014)parachegaravaloresaproximadosdaparticipaçãorelativadosgruposdeescolaridadenapopulaçãode5anosoumaisem1900.Nóstrabalhamoscomcincocategoriasdeescolaridade:semescolaridade,ensinoprimárioincompleto,ensinoprimáriocompleto,ensinosecundáriocompleto(incluindooensinoprofissional),eensinosu-periorcompleto.62

Emlinhasgerais,ametodologiaconsisteemobteradistribuiçãodapo-pulaçãodeumadeterminadafaixaetáriaporgraudeensinoemalgumperíododoséculoXIX,eaplicaressespercentuaisparaamesmacoorteem1900.Porexemplo,seem1880aproporçãodepessoasentre5e10anosdeidadematriculadasnoprimáriofossede10%,entãosupomosqueomesmopercentualdepessoasentre25e30anosde idadeem1900certamentepossuaoensinoprimário.NasestimativaspopulacionaisdoséculoXIX,consideramostambémapopulaçãoescravanoscálculos(semnenhumaescolaridade).

Háduashipótesesimplícitasparaarealizaçãodessaestimativa.Emprimei-rolugar,supomosquetodososmatriculadosemumgrauescolardeumacoorteirãoseformar(taxadeevasãonula).Essahipóteseserárelaxadamaisadiante,porémosresultadosnãosealteraramdeformarelevante.Asegundahipóteseédequeataxademortalidadeemigraçãodaqueleséhomogêneaentrepessoascomdiferentesgrausescolares.Apesardeforte,nãoépossívelestimartaxasdemortalidadeemigraçãodiferenciadasporgrauescolarcomosdadosdisponíveis.Somenteestudosutilizandodadosmuitorecentessãocapazesderealizaressetipodeestimaçãodeforma

2 Oensinoprimárioequivaleaoqueatualmenteéchamadodeprimeirociclodoensinofundamental.Osecundárioconstituiumgraudeensinoquecompreendeosegundociclodoensinofundamentaleoensinomédio.Paraessaanálise,consideramosoensinoprofissionalcomopartedoensinomédio.

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precisa,porém,fizemosumtestederobustezcomestimativasdemorta-lidadediferenciadasentrepessoasalfabetizadaseanalfabetas.73

Paraobterasproporçõesdematriculadosporfaixasetárias,calculamosasproporçõesdecriançasejovensmatriculadosnoprimárioenosecundárioemrelaçãoaototaldeindivíduosnasfaixasdeidadeconsideradasade-quadasparacadagrau.Essaestimaçãofoipossívelparaoiníciodosanos1870(comdadosdoRecenseamentode1872edosRelatórioseTrabalhosEstatísticosde1875)edosanos1880(comdadosdosCensosde1872e1890,edosTrabalhosdaSeçãodeEstatísticade1886).Paraadécadade1880,tambémfoipossívelestimaraproporçãodeadultosmatriculadosnoensinosuperior.84

Comasestimativasdetaxasdematrículasemmãos,aplicamosessaspro-porçõesdepessoascomprimáriocompleto,secundáriocompletoeensinosuperiorcompletoparaapopulaçãode1900porestadodaseguinteforma.Asproporçõesdepessoascomprimáriocompletoem1880foramaplicadasparaasfaixascom10a29anosem1900,enquantoparaascoortesmaisvelhasnomesmoano,aplicamosasproporçõesde1870.Asproporçõesdepessoascomsecundáriocompletode1880foramaplicadasàspessoasentre15e29anosem1900,eparaosmaisvelhosaplicamosasproporçõesde1870.Porfim,asproporçõesdepessoascomensinosuperiorforamaplicadasàpopulaçãocom25anosoumaisem1900.Comoaquelesquefizeramumgrauescolarmaiselevadopassaramobrigatoriamentepelosgrausmaiselementares,evitamosqueelesfossemcontadosduplamentenosgrausescolaresanteriores.

Entreaquelesquenãoforamdesignadosaalgumgrauescolar,dividimosentreaquelesquesabiamounãoler.OnúmerodeanalfabetosfoiobtidoapartirdoCensoDemográficode1900,eessegrupofoiconsideradosemescolaridade.Osdemais,quesabiamler,porémnãoseencaixaramemnenhumdosgrausescolarescompletos,foramconsideradoscomotendoprimárioincompleto.

3 HáalgumaevidênciadequeasdiferençasdemortalidadeentreosmaisemenoseducadosnãoeratãograndenoiníciodoséculoXX.Cutler,DeatoneLleras-Muney(2006)mostramqueogradien-tedemortalidadeporrenda/educaçãoaumentacomotempo,comaintroduçãodeconhecimentorelevanteàsaúde,porqueaincorporaçãodesseconhecimentoempráticasquedefatoaumentamaexpectativadevidaémaisrápidaentreosmaisescolarizados.Porexemplo,ogradienteerabaixoentrearistocratasepessoascomunsnaInglaterraantesIluminismo,ouentrefilhosdepaismédicosounãomédicosantesdadescobertadequealgumasdoençaseramcausadaspelaaçãodegermes.

4 Detalhamososprocedimentospara obtençãodospercentuaisde adultos comensino superiornoApêndice.

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Comomencionamosanteriormente,épossívelrelaxarahipótesedequetodososmatriculadosseformam.Setivermosaproporçãodosconcluintesemrelaçãoaosmatriculados,podemosobterumaestimativamaisrealdonúmerodeformadosemumgrauescolar.Dessaforma,tentamoslidarcomoproblemaaplicandoataxadeconclusãoaosmatriculadosemultiplicandoovalorresultante(númerodeconcluintesemumano)pelotamanhodafaixaetáriaquefrequentariaaquelegrauescolar.

Osprimeirosdadosdeconcluintesparatodososníveisdeensinoestãodisponíveissomenteapartirdadécadade1930.Noentanto,comoataxadeconclusãopormatriculadoérelativamenteestávelentre1932e1949,utilizamosessataxaparaestimaraproporçãodeconcluintesporfaixaetá-riaem1870e1880.Emseguida,calculamosnovamenteasproporçõesdeformadosem1900,comodescritoanteriormente.Apesardecadaalteraçãoimplementadaparalidarcomumproblemadiferentegerarmodificaçõesnadistribuiçãodepessoasporescolaridade,essasdistribuiçõesnãosealteramsignificativamente.

3.2. Composição Educacional e População ao Longo do Século XX

Para estimar os estoquespopulacionais por escolaridade, tratamosdeformadiferenciadaosgruposcomníveisdeensinocompletos(primáriocompleto,secundáriocompletoesuperiorcompleto)depessoassemesco-laridadeoucomprimárioincompleto.Paraestimaronúmerodepessoascomcadaníveldeensinocompleto,partimosdaestimativadoestoqueinicialde1900e,iterativamenteparacadaanosubsequente,descontamososóbitosesomamosonúmerodeconcluintes,subtraindoonúmerodeconcluintesdonívelseguinte.Porexemplo,oestoquetotaldepessoascomensinoprimárioemumdeterminadoanoécalculadocomoasomaentreoestoquedoanoanterioreonúmerodeconcluintesdoensinoprimáriodaqueleanomenososconcluintesdoensinosecundáriodomesmoano.

Paraumgrauescolar 𝑗𝑗 noano𝑡𝑡 ,oestoquepopulacionalserádadopor:

Pop𝑗𝑗𝑗𝑗 = Pop𝑗𝑗,𝑗𝑗−1 × (1 − Taxa de Mortalidade𝑗𝑗𝑗𝑗) + (Concl𝑗𝑗𝑗𝑗 − Concl𝑗𝑗+1,𝑗𝑗) (1)

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onde Pop𝑗𝑗𝑗𝑗 é a população com escolar idade 𝑗𝑗 no ano 𝑡𝑡 ,Taxa de Mortalidade𝑗𝑗𝑗𝑗 éa taxademortalidadeeConcl𝑗𝑗𝑗𝑗 éonúmerodeconcluintesnograu 𝑗𝑗 noano𝑡𝑡 .

Adisponibilidadededadosdeconcluintesvariabastanteaolongodosanos,masestãodisponíveisparaquasetodasasUnidadesdaFederaçãoentreosanosde1907a1912,1932a1949e1951a1962.AssériesdeconcluintesparacadaníveleducacionalforaminterpoladasparaosanosemqueosAEBsnãoforampublicados,ouemqueestesnãoapresentamessainfor-mação.Assumiu-sequeaquantidadedematrículaseastaxasdeconclusãopoucomudamentreosanosde1899e1908,paraosestadosemqueexis-teminformaçõessobreonúmerodeconcluintesem1908.Paraosestadosemquenãoháinformaçõesdonúmerodeconcluintesem1908,fizemosumainterpolaçãolinearpontoaponto,oqueevitaaexistênciadequinas,supondoqueonúmerodeconcluintesdecadaníveldeensinoerazeroem1899.Dessaforma,épossívelconstruirumasériedeconcluintesdecadaníveleducacionalininterruptaentre1900e1960.Paraqueasestimativasfossemcomparáveiscomoscensosde1940e1950,osconcluintesdosníveissecundárioeprofissionalforamagrupadosparaestimaroestoquedepessoascomensinomédio.

Paraaspessoassemescolaridadeeoprimárioincompleto,procedemosda seguinte forma.O estoqueda população semescolaridade é dadoimediatamentepelonúmerodepessoasquenãosabemler.Essa infor-maçãoeodadodapopulaçãototalestãodisponíveisemtodososCensosDemográficos,desde1872,paraoBrasilcomoumtodoeparaasUnidadesFederativas.Parapreencherapopulaçãototaleassubpopulaçõesnosanosintercensitários,foiutilizadaumainterpolaçãolinearsimplesdaproporçãodeindivíduos.Dessaforma,faltariaapenasestimaroestoquedapopulaçãocomensinoprimárioincompleto.Calculamosesseestoquecomoadiferen-çaentreapopulaçãototaleosdemaisestoquesjáestimados.

Adicionalmente,osóbitosforamcalculadosapartirdasinformaçõessobreataxademortalidade.AtaxademortalidademédiadoBrasilfoiobtidadosCensosDemográficos(IBGE2007)eassumiu-sequeataxaéames-maentretodasasUnidadesdaFederação,comexceçãodeSãoPaulo,cujataxademortalidadeparaoperíodoanalisadoédivulgadapelaFundaçãoSEADE(SEADE2010).

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Érazoávelpensarqueataxademortalidadevariadeacordocomoníveldeinstrução(queépositivamentecorrelacionadocomarenda).Paratentarobterumataxademortalidadediferenciadaporinstrução,utilizamososdadosdealfabetizaçãodos indivíduosporfaixaetária,disponíveisnosCensosDemográficosde1940e1950,paracalcularamortalidaderelativa.Consideramosnocálculoindivíduoscom40anosoumais,umavezqueatéestafaixaetáriaaindahaviaumaparcelaconsideráveldapopulaçãosealfa-betizando.Paraocálculo,agregamosseparadamenteindivíduosquesabiamounãoler,comentre40e69anosnoCensode1940ecomparamoscomosgruposcorrespondentesdeindivíduoscomentre50e79anosnoCensode1950.Ataxaécalculadadividindoonúmerodepessoasporfaixaetárianoperíodofinalpelonúmerodepessoasnafaixaetáriaanteriornoperíodoinicial.Comisso,obtivemososresultadosapresentadosnaTabela3.

Tabela 3 – Taxas de mortalidade decenais

Comparação

40 a 19 / 50

a 5950 a 59 / 60

a 6960 a 69 / 70

a 79Agregado

Alfabetizados -21.41% -30.01% -49.72% -28.25%

Analfabetos -24.07% -28.32% -49.10% -29.78%

Total -22.96% -29.00% -49.33% -29.16%

Fonte: CensosDemográficos/IBGE.ElaboraçãoPrópria.Ainda,umajustefoifeitonoperíodoinicialdacomparação,incluindonosalfabetizadosesubtraindodosanalfabetos,osindivíduosquenadatadapes-quisaestavamfrequentandoaescola,porémaindaeramanalfabetos.

Odiferencialapartirdataxamédiade-29,16%éde0.97paraosalfabe-tizadosede1.02paraosanalfabetos.

3.3. Gini Educacional

Paracadacategoriaeducacionaldascincoutilizadas,atribuiu-seaquan-tidadedeanosdeeducaçãoformalequivalenteàduraçãodetodososní-veisconcluídospelosindivíduospresentesnogrupo.Assim,paraoensinoprimárioconsideramos4anosdeestudo;paraoensinomédio,11anosdeestudo;e15anosdeestudoparaoensinosuperior.Dessaforma,comoosanosdeeducaçãosãoconstantesparacadagrupo,nãoépossívelmensu-raradispersãodeescolaridadeintragrupo.Paraosindivíduosanalfabetos

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optamosporatribuirumaquantidadedeanosdeestudoigualazero(0anos).Também,paraaquelescomonívelprimárioincompleto,devidoàfaltadeinformaçõesnoperíodo,atribuiu-seumvalorad hocde1anodeestudoformal.

Porserumamedidacomumenteutilizadaparamedirdesigualdadeedefácilinterpretação,optou-sepeloíndicedeGiniparamediradesigualda-denadistribuiçãodeeducação.Ametodologiausadaéumaadaptaçãodaformausualdecálculodamedida(Cowell2009).Comoasinformaçõesexistentessobreoníveldeescolaridadeparaoperíodoanalisadoenossasestimaçõesdeestoquedepessoasporníveldeensinoestãoagregadas,istoé,nãotemosinformaçõesemnívelindividual,adaptamosafórmuladoín-dicedeGiniparaaestruturadenossosdados.AformadecálculoémuitosimilaràutilizadaporThomas,WangeFan(2001).

OGinieducacional(

𝐺𝐺 )paraumdeterminadoanoeregiãoécalculadocomoamédiadadiferençaentretodosospossíveisparesdeindivíduos,divididapelamédiadeanosdeescolaridade(

�̅�𝑋 ).Comoháapenascinco

tiposdistintosdeindivíduos,aformulapodesersimplificadadaseguintemaneira:

𝐺𝐺 = ∑ ∑ 𝑄𝑄𝑖𝑖𝑄𝑄𝑗𝑗𝑑𝑑𝑖𝑖𝑗𝑗

5𝑗𝑗=1

5𝑖𝑖=1

2𝑁𝑁2�̅�𝑋 (2)

Onde𝑁𝑁 éapopulaçãocom5anosoumais;

�̅�𝑋 éamédiadeanosdeestudo;𝑄𝑄𝑖𝑖 éaquantidadedepessoasdogrupo𝑖𝑖 ;demaneiraanálogaQjéaquan-tidadedepessoasdogrupoj;e𝑑𝑑𝑖𝑖𝑖𝑖 éadiferençadeanosdeestudoentreosgrupos𝑖𝑖 e 𝑗𝑗 .

4. Breve Histórico da Educação no Brasil

DuranteboapartedoséculoXIX,oBrasil–assimcomooutrospaíseslatino-americanos–esteveentreospaísescomospioresindicadoresedu-cacionaisdomundo,emtermosdeníveledesigualdadeescolar(Lustig,Lopez-CalvaeOrtiz-Juarez2013).

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Figura 1 - Média de anos de estudo para países selecionados

Fonte: Clio-Infra(Leeuwen,VanLeeuwen-LieFöldvari2013).Elaboraçãoprópria.Dadosparapopula-çãode15anosoumais.

AFigura1comparaaevoluçãodamédiadeanosdeestudoparaquatropaíses:Brasil,Argentina,EstadosUnidosePortugal.Percebe-sequeamé-diadeanosdeestudonoBrasileramuitobaixanofinaldoséculoXIX(0,7anosdeestudoem1900)eassimpermaneceuduranteastrêsprimeirasdécadasdoséculoXX.Apartirde1940,esteindicadorpassouaapresen-tarcrescimentomaisaceleradonoBrasil,tornandoacurvamaisinclinada.Somentenadécadade1990équeamédiadeanosdeestudodoBrasilchegaaonívelobservadonosEstadosUnidosnoiníciodoséculoXX,oqueexplicitaograndeatrasoeducacionaldopaís.AstrajetóriasdoindicadornaArgentinaforambemsemelhantesàdoBrasil,porémnumpatamarmaiselevado,comcrescimentocomparativamentemaisequilibradoaolongodetodooperíodo,excetoporumadécadadeestagnaçãoentre1980e1990,décadaemqueoBrasilmaisavançounesseindicador.

HádiversosfatoresqueexplicamoatrasorelativodoBrasil.DeacordocomColistete(2016),emcontrastecomoutrascolônias,comoosEstadosUnidoseCanadá,opadrãoeducacionalobservadonascolôniaslatinoame-ricanasseguiaodasmetrópoles,sendoextremamenterestrito,focadonoensinosecundárioesuperiorevoltadosparaaselites.

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Alémdisso,noBrasilhaviaumdescasopolíticocomoensinoprimário,queserefletianobaixoníveldegastosporaluno(dezvezesinferioraodosEstadosUnidos).

MesmoemcomparaçãoaosdemaispaísesdaAméricaLatina,oBrasilinicioutardiamenteumaexpansãodoacessoaoensinobásico,comoficaevidenciadopelabaixamédiadeanosdeestudonaFigura1.ApenasnasdécadasfinaisdoImpérioéqueseiniciouumlentoprocessodedifusãodeescolaspúblicaseaumentodonúmerodealunosmatriculados(Marcílio2005,115).

DuranteoperíodoconhecidocomoPrimeiraRepública,ocorreramdiver-sasmudançasnocampoeducacional.Emprimeirolugar,aConstituiçãoRepublicanade1891estabeleceuqueapenasindivíduosalfabetizadosti-nhamdireitoaovoto,portanto,somenteumaparcelareduzidadapopu-laçãoseriaconsideradaaptaavotar.Dessaforma,fornecermaioracessoàeducaçãopassouasertambémumaquestãopolítica,umavezquenãosomentesatisfariaasdemandasdapopulação,comotornariapossívelan-gariarummaiornúmerodeeleitores.

Alémdisso,estanovaConstituiçãodescentralizavaaadministraçãodosistemaeducacional,tornando-aresponsabilidadedosestadosemunicípios.Ofatodeogovernobrasileiroterdelegadoaadministraçãodoensinoaosestadosduranteboapartedahistóriaeducacionaléincluídocomoumadascausasparaoatrasoeducacionaldopaís(Colistete2016) eparaasdesigualdadesregionais,poisosestadosnãopossuíamomesmovolumederecursoseapenasogovernocentralconseguiriaarrecadarosrecursosne-cessáriosparademocratizaraeducação.Dessaforma,osestadosmaisde-senvolvidoseurbanizadostiveramumprogressoeducacionalsensivelmentemaisrápido(comoéocasodeSãoPauloeoutrosestadosdasregiõesSuleSudeste,comoépossívelnotarnasFiguras5e6).

Ainda,duranteaPrimeiraRepública,osistemaeducacionalbrasileiropou-coevoluiueaspolíticaseducacionaisadotadaspelosgovernantesdope-ríodoforam,emgrandeparte,controversasepoucoefetivaslevandoaumbaixocrescimentonastaxasdematrículaseconclusões,crescimentoesteconcentradonasregiõesmaisricaseurbanizadas,comopodeservistonasFiguras3e4.DeacordocomKang(2010),issopodeserexplicadopeladistribuiçãoaltamentedesigualdepoderpolíticonoperíodo.Eleargumen-taqueumaexpansãodaeducaçãopúblicasignificativadependeriadeuma

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maiorparticipaçãopolíticadasclassesquemaisseriambeneficiadasporestaexpansão,istoé,osmaispobres.Aumentandoaparticipaçãopolíticadapopulação,atravésdesuspensãodasrestriçõesaovoto,osindivíduosteriammaiorpoderparademandareducaçãopública,deformaqueaalfa-betizaçãodapopulação,bemcomoataxadematrículas,elevaria.

Apósacrise1929eseusreflexosparaaeconomiabrasileira,oEstadoado-touumaposturamaisintervencionista,especialmentenoquedizrespeitoàeducação.Somando-seaistoàRevoluçãode1930,umanovareformadoensinofoiproposta,comaintençãodecriar,pelaprimeiravez,umsistemanacionaldeensino.Em1931foicriadooMinistériodaEducaçãoeSaúde,elogoseseguiuacriaçãodaprimeirauniversidadepública,em1934,lo-calizadaemSãoPaulo.Apartirdaí,onúmerodeuniversidadescresceulentaecontinuamente.Noqueserefereaoensinosecundário,areformaestabeleceudiretrizesmaisclarasquenasdécadasanteriores.Oensinoprofissionaltambémseexpandiunoperíodo,estimuladopeloprocessodesubstituiçãodeimportações,queseintensificariafuturamente.

Oensinosecundárioentrouemfoconesseperíodo,oqueéevidenciadonopainelb)daFigura3,ondeataxadematrículanesteníveldeensino,quesemantiverapraticamenteamesmaentre1907e1932,passaacres-cerapartirdemeadosdadécadade1930.Todavia,aindanestemomentoapequenaexpansãodoensinosecundárioeravoltadaprincipalmenteàselites,aopassoqueparaasclassessociaismenosfavorecidassurgiacomoopçãooensinomédioprofissionalizante,representadoprincipalmentepeloensinoindustrial,oquepromoviaumprocessodesegmentaçãosocialdaeducação(Marcílio2005).

Nadécadade1940,oministériodaeducaçãovoltaaimplementarrefor-masparciais,chamadasdeLeisOrgânicas.Essasreformastangenciavamprincipalmenteoensinoprimárioesecundárioe,emalgunscasos,cursosdoensinoprofissional,comoéocasodasLeisOrgânicasde1942e1946.EstaspassaramareconheceroscursosIndustrial,Comercial,NormaleAgrícolacomosendodenívelsecundário.SeusefeitospodemsernotadosnaFigura6,ondeseregistraumgrandeaumentononúmerodeindivíduoscomensinoprimárioemédioentre1940e1950.Ainda,influenciadoporpropostasinternaseexternas,noperíodoentre1945e1964,osistemaeducacionalbrasileiropassouporimportantestransformações.Foramcria-dascampanhascomointuitodepromoveraalfabetizaçãodeadultos,eaexpansãodoensinoprimárioesuperior.

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LeeeLee(2016)pontuamqueoperíododecrescimentomaisaceleradodasmatrículas,emnívelmundial,deu-sesomenteapósaSegundaGuerraMundial.Noperíodoanterior,apenasospaísesmaisdesenvolvidos,queimplementarampolíticasdeescolarizaçãobásicaobrigatóriaentreossécu-losXVIIIeXIX,viramumaexpansãorealdonúmerodeindivíduosmatri-culados,emespecialnosensinosprimárioesecundário.Noquetangeaospaísesmenosdesenvolvidos,ocrescimentodataxadematrículasganhourelevânciasomenteapósadécadade1950,oquetambémpodeservistonaFigura1,ondeocrescimentodamédiadeanosdeestudodoBrasilficamaisevidenteapósadécadade1940.

AlémdoatrasorelativodoBrasil,tambémforamconstatadasdisparida-desregionaisemeducaçãointernasaopaís,contribuindoparageraçãodedesigualdadesocial.AFigura2ilustraessepontousandoataxadealfabe-tizaçãodapopulação.Apesardograndeaumentodaproporçãodealfabeti-zadosemtodoopaís,entreofinaldoséc.XIXeocomeçodoséculoXXI,verifica-seumrelativoatrasodealgumasregiões.NoCensode1872,asregiõescommaiorproporçãodealfabetizadoseramNorteeSul,enquan-tonãohaviagrandedistinçãoentreSudeste,NordesteeCentro-Oeste.AntesdofinaldoséculoXIX,aregiãoSudeste jáapresentaaceleradocrescimentoemcomparaçãocomasdemais.AregiãoCentro-Oeste,noentanto,sóchegaaoníveldealfabetizaçãodasregiõesqueem1872erammaisavançadasdepoisde1900,enquantoaregiãoNordestesóchegaaesseníveldepoisde1920.Essaregiãopermanececomamenortaxadealfabe-tizaçãonoperíodoemesmonoanofinal,2010,aelachegaaumnívelquefoiatingidopelasregiõesmaisalfabetizadasjáem1980.

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Figura 2 - Alfabetização nas Regiões Brasileiras

Fonte: CensosDemográficos/IBGE. Elaboração própria.Dados para a população de 5 anos oumais.Obs.: oCensode1900omitiu algunsdistritosdapesquisa, epor essemotivonãoo incluímosnessegráfico.

EssepanoramageraldaeducaçãonoBrasilrefletepolíticaseducacionaisaolongodetodooséculoXX,queafetamasmatrículaseconclusõesnosgrausescolares.Essastaxasdãoumavisãodocomportamentodosistemaeducacionalbrasileiroeexpõemobaixíssimoníveldematrículasemtodososgrausescolareseoaindamenorníveldeconclusões.Tambémchamaatençãoquãopequenafoiaevoluçãodoacessoàeducaçãonoperíodo,emespecialnoensinosuperior,queem1960possuíamenosde2%dapopu-laçãomatriculada.

AFigura3mostraaproporçãodematriculadosemcadagrauescolareapopulaçãonafaixaetáriaconsideradaidealparaonível.Todasasregiõesbrasileirasapresentamumcrescimentodastaxasdematrículaemtodososgrausescolares,ocorrendoprimeiroedeformamaisacentuadanoensinoprimário.95

5 ALei5.692/1971,conhecidacomo2ªLeideDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional,promoveumudançasnaorganizaçãodosgrausescolaresdaeducaçãobásica,substituindooprimáriodequatroanoseosecundáriodeseteanos(quatroanosno1ºcicloetrêsanosdo2ºciclo)pelosistemacomumprimeirograudeoitoanoseumsegundograudetrêsanos(Kang2018).ApesardessasmudançasexplicarempartedosmovimentosverificadosnasFiguras3e4após1970,elasnãoalteramnossasestimativas apresentadasnasFiguras6 a12.Comodescritona seção3.2,nessas estimativas, nós

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Figura 3 – Taxas de Matrícula

Fonte:OsdadosdematrículassãoprovenientesdosAnuáriosEstatísticosdoBrasil,dediferentesanos(DGE1912-1936;IBGE1932-1980)edoCensoEscolarde1995e2000paraosanosposterioresà1990.Parasechegaràtaxadematrícula,dividimosonúmerodeindivíduosmatriculadospelototaldapopulaçãonafaixaetáriaaproximadadefrequênciaidealdecadanívelescolar(Primário:5a14anos;Secundário:10a19anos;Profissional:10a19anos;Superior:20a24anos).

Oensinosecundárioeoprofissionalpossuemníveisiniciaiscomparativa-mentemuitomaisbaixose,emtodasasregiões,oprimeirosócomeçouaapresentarcrescimentoapartirde1932.Nocasodoensinosuperior,

consideramosagregadoscompatíveiscomosistemaanterioràquelaLei.

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apesardeaumentosignificativonasprimeirasdécadasdoséculoXXnasregiõesNorte,SuleSudeste,sóháumatendênciadecrescimentosiste-máticodataxanasdemaisregiõesapartirde1942.

Comparandoasregiões,éperceptívelqueasregiõesSuleSudesteapresen-tamasmaiorestaxasemquasetodososníveisdeensino.Particularmente,ocrescimentodataxaparaessasduasregiõesnonívelsuperioréexpressi-voapartirdadécadade1940.Emcontrapartida,aregiãonordesteapre-sentaasmenorestaxasemtodaasérieparaoensinoprimárioe,comex-ceçãodealgunspontos,tambémnosníveissecundárioeprofissional,mascomníveisdematrículaaindamuitobaixos.AsregiõesNorteeCentro-Oestetêmtaxasmedianasemcomparaçãocomasdemaisregiõesparaosníveisprimárioesecundário,masemparticular,aregiãocentro-oestetemaspiorestaxasdematrículanoensinosuperiorduranteoperíodo.

NaFigura4apresentamosastaxasdeconclusão,calculadascomoapro-porçãodeconcluintesemrelaçãoàpopulaçãonafaixadeidadecorrespon-denteaograuescolar.Ataxadeconclusãorefletedeformamaisprecisaoincrementodeumgrauescolaremumafaixadeidade,porém,excetopeloensinosuperior,cujasérieseiniciaem1912,osdemaisgrausescolarespossuemdadosdisponíveissomenteapartirde1932.

EnquantoasregiõesSuleSudesteapresentamcrescimentoentre1932e1942,ataxanasdemaisregiõespermanecepraticamenteconstante.AregiãoNorteéaquelacujataxamaisdestoadocomportamentodacurvadetaxadematrículas,oqueéexplicadoempartepela imprecisãodasinformações,emparticularparalocaismaisdistantesdocentropolíticoe intelectualdopaísecommaioresdificuldadesdeacesso.Na regiãoCentro-Oeste,aquedanopercentualdeconcluintesentreasdécadasde1950e1960podetersidocausadaporfatoresdemográficos,umavezquenametadefinaldadécadade1950,acidadedeBrasíliafoiconstruída,causandoumgrandeaumentodonúmerodehabitantesdaregião.Dema-neirasemelhanteàtaxadematrículas,ataxadeconclusõesparaosensinossecundário,profissionalesuperiorsãomuitopequenasemtodasasregiõesbrasileiras.OensinosuperiortambémapresentacrescimentodastaxasdeconclusãodasregiõesSuleSudestecomrelaçãoàsdemaisapós1940.106

6 ApresentamosnoApêndicegráficoscomonúmeroindivíduosnafaixaetáriacorrespondenteacadagraudeensinodivididopelonúmerodeescolasdestemesmograu.

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Comparandoataxadeconclusãoàtaxadematrículaépossívelterumanoçãodamagnitudedataxadeevasãoescolarnoperíodo,principalmentenoensinoprimário.Istosedeveaofatodequeaprincipalbarreiraparaacontinuidadedosestudosseencontravanatransiçãoentreoensinoprimá-rioeoensinosecundário,deformaqueboapartedosindivíduosqueaban-donavamosestudosofaziamaindanoensinoprimário(Marcílio2005).

Figura 4 – Taxas de Conclusão

Fonte:OsdadosdeconclusãodecursosãoprovenientesdosAnuáriosEstatísticosdoBrasildediferentesanos(DGE1912-1936;IBGE1932-1990)edoCensoEscolarde1995e2000paraosanosposterioresà1990.Parasechegaràtaxadeconclusão,dividimosonúmerodeconcluintespelototaldapopulaçãonafaixaetáriaaproximadadefrequênciaidealdecadanívelescolar(Primário:5a14;Secundário:10a19;Profissional:10a19;Superior:20a24).

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Osresultadosacimadescritospodem,emparte,serexplicadospelaformadeorganizaçãoeevoluçãodosistemaeducacionalbrasileiro.Inicialmente,antesdo séculoXX,o sistemaeducacionalbrasileiroevoluiumuito lentamente,principalmenteduranteoperíodoemqueopaísfoicolôniaportuguesa.

5. Resultados

Emprimeirolugar,aFigura6mostranossaprimeiracontribuiçãoempíricaprincipal,osestoquespopulacionaisporescolaridadeestimadosparaoBrasilapartirdosníveisiniciaiscalculadosparaoanode1900.Aslinhasrepresentamosníveisestimadosdepessoasemcadagrauescolar(primá-rio,secundárioeensinosuperior),enquantoospontosmostramostotaisobtidosapartirdosCensosDemográficosde1950a1960.

Paraoensinoprimário,maioriadapopulaçãoeducadanoperíodo,nossaestimativaésemelhanteaoobservadonoCensoDemográficode1950,masem1960subestimamosonúmerodepessoascomesseníveldeensino.UmapossívelexplicaçãoparaissoéquenoCensoDemográficodesteanoosindivíduosdeclararamsuaescolaridadeindependentedamodalidadedeensinoquehaviamcursado,aopassoqueosdadosutilizadosparaestimarapopulaçãocomensinoprimárionesteperíodo,provenientesdosAEBs,nãoincluíamaquelesquehaviamcursadooensinosupletivo,restringindo-seapenasaosindivíduosquefrequentavamoensinoprimáriofundamentalcomum.

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Figura 6 – Número de Pessoas com 5 Anos ou Mais por Grau Escolar

Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasrepresentamasestimativasparatodooperíodoeospontosrepresen-tamosdadosobservadosnosCensosDemográficos(IBGE1940-1960).

Figura 7 – Composição Educacional do Brasil

Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasrepresentamasestimativasparatodooperíodoeospontosrepre-sentamosdadosobservadosnosCensosDemográficos(IBGE1940-1960).

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Paraosoutrosdoisníveisdeensino,nossasestimativasestãomaispróxi-masaosníveisobservadosem1950e1960,oqueaumentanossaconfiançasobreelasparaaprimeirametadedoséculoXX.ComomostraaFigura6,aquantidadedepessoascomoprimáriocompletoémuitosuperioràque-ladosdemaisníveiseducacionais,eapresentacrescimentosubstancialapartirde1940.AFigura7mostraqueaparceladapopulaçãocomensinoprimário,secundárioesuperiorcrescerammuitolentamenteaolongodaprimeirametadedoséculoXX.Aproporçãodepessoascomensinopri-máriocompletonapopulaçãopermaneceuemtornode5%entre1900e1930.Nesseperíodo,aproporçãodepessoascomensinomédiocompletopermaneceusempreabaixode1%,eaproporçãocomensinosuperiorcompletoestavaabaixode0.3%.

NossosegundoresultadoprincipaléaestimaçãodoíndicedeGiniedu-cacionalduranteaprimeirametadedoséculoXX,paraoBrasilequatrodascincoregiõesbrasileiras,quemostramosnasFiguras8e9.AregiãoNortefoiexcluídadaanálisedevidoàbaixaqualidadedeinformaçõesparaocomeçodoséculoXX,porém,nocálculodoíndiceparaoBrasilestãoincorporadastodasascincoregiões.Adicionalmente,éutilizadaamesmametodologiadeagregaçãoemcincogruposdeescolaridadeparaosdadosdosCensosde1950a2000parafinsdecomparação.

Figura 8 – Gini Educacional Estimado vs Real – Brasil

Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasparaoperíodoentre1900e1960representamasestimativasdoGinieducacional feitas apartirdacomposiçãoeducacional anteriormenteestimada.Ospontosentre1950e2000representamoGinieducacionalcalculadoapartirdosdadosdosCensosDemográficos(IBGE1950-2000).

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Figura 9 – Gini Educacional Estimado vs Real por Região

Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasparaoperíodoentre1900e1960representamasestimativasdoGinieducacional feitas apartirdacomposiçãoeducacional anteriormenteestimada.Ospontosentre1950e2000representamoGinieducacionalcalculadoapartirdosdadosdosCensosDemográficos(IBGE1950-2000).

Emprimeirolugar,nossasestimativaschegama1950e1960muitopró-ximasaosníveisobtidosapartirdosestoquespopulacionaisporeducaçãoobservadosnosdadosdosCensosDemográficos,oquenostrazconfiançasobreosmovimentosdoindicadornaprimeirametadedoséculoXX.

Comoesperado,oníveldedesigualdadeeducacionalem1900ébastanteelevadoe,aoinvésdecaircomoaumentodeindivíduosescolarizados,adesigualdadeeducacionalbrasileirasemantémpraticamenteestávelemumnívelelevadoduranteboapartedaprimeirametadedoséculoXX.NaFigura9,mostramososíndicesseparadamenteporregião.Em1900,asquatrosériesestãorelativamentepróximasentresi(entre0,73paraaregiãoSule0,80paraasdemais).Adesigualdadeinternaàsregiõestemvariaçãoperceptívelaolongodotempo.Nasprimeirasdécadasdosécu-lo,apenasaregiãoSulapresentadeclíniono índicedeGini,enquantoasoutrastrêsregiõesanalisadaseoBrasilapresentamumaumentodedesigualdade.Notadamente,aregiãoNordestemantém-secomamaiordesigualdadedurantetodooperíodoanalisado.AregiãoSulpermaneceatéaofimdadécadade1950comamenordesigualdade,masaregião

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Sudeste,quetemquedaexpressivadesdeadécadade1920,aproxima-seconsideravelmentedesdemeadosdoséculo.AquedadedesigualdadeparaasregiõesCentro-OesteeNordeste,entretanto,passaaserexpressivaape-nasnoiníciodadécadade1950.AregiãoCentro-Oeste,queatéametadedoséculoestavaconsideravelmentepróximadaregiãoNordeste,em2000,encontra-semuitomaispróximadasregiõesSuleSudesteemtermosdedesigualdadeeducacional.EnquantoasregiõesSudesteeCentro-Oeste,obtiverammelhorasnadistribuiçãoeducacionalqueasaproximaramdaregiãoSul,aregiãoNordestemanteve-seafastadadasdemaisregiõesper-manecendocomamaiordesigualdadeeducacional.ÉpossíveldiferenciaradinâmicadoSuleSudestedasdemaisregiões,etambémnotarqueadesigualdadeeducacionalnesteslocaissemprefoimenor.

Osgráficosaseguirservemcomoumabaseparaverificaçãoecompara-çãodosresultadosdasnossasestimativasdoíndicedeGinieducacional.Atravésdessascomparações,notamosquenossasestimativasestãobastantepróximasdaquelasobtidasapartirdemicrodados,bemcomoatendênciadereduçãodadesigualdadeeducacional,especialmenteapartirdadécadade1950,seconfirmaquandoobservamoscadacoorteindividualmente.

Figura 10 – Gini Educacional Microdados vs Agregados

Fonte:CensosDemográficos/IBGE.Elaboraçãoprópria.

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AFigura10apresentaacomparaçãoentreocálculodo índicedeGiniusandoametodologiadeagregaçãoporníveiseducacionais(i.e.semvaria-çãointragrupo)eocálculoutilizandodadosemnívelindividual.AmbasassériesfazemusodosdadosdoCensoDemográfico,porém,apenasapartirde1960épossívelutilizarmicrodados.Aestimaçãocomdadosagregadossitua-seacimadaqueladenívelindividualemtodososanos.Comoparadefiniros5gruposdeníveldeensinofoiconsideradoapenasoúltimonívelconcluídoporcadaindivíduo,aodesconsideraravariaçãointragrupos,aagregaçãoprovavelmentesubestimaosanosdeestudodaparcelaeducadadapopulaçãoesuperestimaoíndice.Noentanto,épossívelobservarqueastendênciasdelongoprazodasduassériessãomuitosemelhantes,oquenosdámaiorconfiançasobreassériesestimadasparaaprimeirametadedoséculoXX.

Épossívelperceber,entretanto,queadiferençaémenornosanosde1960e1970.Dadoqueaproporçãodepessoascomeducaçãoformalaumentaao longodo tempo, adiferençaentreasduas séries tendeaaumentarcomopassardotempo.Assim,asuperestimaçãodoíndicetendeasermenosexpressivadocomeçoàmetadedoséculo,períododeinteressedessaanálise.

Figura 11 – Gini Educacional por Coortes de Nascimento

Fonte:DadosdosCensosDemográficos(IBGE1960-2000).CadaumadaslinhasrepresentaumCensoDemográfico,eospontosrepresentamoGiniEducacionalcalculadoparaaquelacoortenaqueleCensoDemográfico.

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AFigura11mostraumaformaalternativadeseestimaraevoluçãodoíndicedeGinieducacional,separandoosdadosporcoortedenascimentode1900a1990,observadosnosmicrodadosdosCensosapartirde1960.Podemosobservarqueosvaloresdoíndicesereduzemcontinuamenteacadanovacoorte,oquecontrastacomaestabilidadeinicialdoíndicedeGinieducacionalparatodooestoquepopulacionalaté1940(comovistonaFigura8).Essasdiferençaspodemserexplicadaspordoisfatores.Emprimeirolugar,comaexpansãodosistemadeensinoaolongodotempo,atendênciadereduçãodadesigualdadeeducacionalsignificaqueacadageração,maisindivíduosforamincorporadosaosistemaeducacional,demodoatorna-losmaishomogêneosentresiemtermosdeescolaridade.Apesardessasmudançasnascoortesdenascimento,astransformaçõesocorridasparaoestoquepopulacional sãomais lentas,umavezque,acadainstante,háváriascoortescoexistindo,ecadacoortecorrespondeaapenasumapequenaparceladapopulaçãototal,comdiferentesníveisdedesigualdadeeducacional.

Osegundofatorseriaumaseleçãopossivelmentediferenciadaporescola-ridadeaolongodotempo(devidoàsdiferençasdastaxasdemortalidade),deformaquesomenteosmaisescolarizadossobrevivematéasidadesmaisavançadasesãoabrangidospelosCensosapartirde1960.Noentanto,epossívelnotarqueaslinhasnãosedistanciammuitoumasdasoutras,oquesignificaqueessaseleçãoépequenaemcomparaçãocomavariaçãoentreascoortes.

Dessaforma,nossametodologiapermitechegaraestimativasmaisade-quadas,umavezquecomelaconseguimosestimaroíndicedeGiniparatodasascoortesemumdadoinstante,enãoincorremosnoviésdeseleçãodevidoàdiferenciaçãodastaxasdemortalidadeporníveldeescolaridade.

Porfim,realizamosumacomparaçãodosnossosresultadoscomaqueledeVanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015)paraoBrasil,mostradonaFigura12.Apartirdeumpontoinicialmuitosemelhanteem1900,ficaclaroque,emcontrastecomnossaestimativa,oGinieducacionalcalculadopelosautoresdecrescesistematicamentedesdeoiníciodoséculoXX.Apartirde1950,quandojáépossívelrealizardiretamenteestimativasdeestoqueseducacionais,astendênciasdasduassériesseigualamemummovimentodecrescente,porémemníveisdiferenciados.Conformejáargumentamos,noiníciodoséculo,oestoquequefaziamaiordiferençaparaadesigualda-deeducacionaleradeanalfabetos.

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Figura 12 – Comparação de Gini Educacional por Coortes de Nascimento

Fonte:VanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015);CensosDemográficos;AEB.Elaboraçãoprópria.Alinhaparaoperíodoentre1900e1960representamasestimativasdoGinieducacionalfeitasapartirdacom-posiçãoeducacionalanteriormenteestimada.Ospontosentre1950e2000representamoGinieducacio-nalcalculadoapartirdosdadosdosCensosDemográficos(IBGE1950-2000).

6. Conclusões

Esteartigotemointuitodecontribuirparaodebateacercadosdetermi-nantesdaelevadadesigualdadesocialobservadanopaís.Apesardarecentetendênciadequedadadesigualdadederenda,oBrasilaindaéumdospaí-sesmaisdesiguaisdomundo,epartedessasituaçãopareceserresultadodoprocessodiferenciadodeexpansãoeducacionalnasregiõesbrasileiras.Alémdisso,esteartigovisacontribuirparaaliteraturaapresentandoesti-mativasmaisprecisasdeestoqueseducacionaisparaapopulaçãobrasileiraconstruídasapartirdediversasfontesdedadoshistóricosnãoutilizadoscomestafinalidadeanteriormente.Paraverificaressahipótese,construí-mossériesdeumíndicedeGinieducacionaldesdeoiníciodoséculoXXparaoBrasileasregiõesanalisadas.

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Considerandoodesafiodenãohavermicrodadosderecenseamentospo-pulacionaisdisponíveisparaaprimeirametadedoséculoXX,oartigotrazduascontribuiçõesempíricasprincipais.Emprimeirolugar,realizamosestimativasdosestoquespopulacionaisporescolaridadeestimadosparaoBrasil,apartirde1900.NaprimeirametadedoséculoXX,amaioriadapopulaçãoédeanalfabetos,porém,ocrescimentodonúmerodepessoascomoprimáriocompletoapresentacrescimentoapartirde1940.Entre1900e1930,contudo,aproporçãodepessoascomensinoprimáriocom-pletonapopulaçãoficouemtornode5%,aopassoqueaproporçãocomensinosecundáriocompletopermaneceusempreabaixode1%eaparcelacomensinosuperiorestevesempreabaixode0,3%.

NossasegundacontribuiçãoempíricafoiocálculodeíndicesdeGiniedu-cacionaisparaoBrasileasregiõesbrasileirasnomesmoperíodo.Nossosresultadosindicamqueadesigualdadeeducacionalerabastanteelevadaem1900.Deacordocomasnossasestimativas,naqueleanoagrandemaioriadapopulaçãobrasileiracommaisde5anoseracompostaporanalfabetos(68,7%)ouporpessoassemoprimáriocompleto(25%),oquegeraumíndicedeGinide0,78.Osistemaeducacional,emgeral,poucoacessívelàpopulação,tambémcontribuiuparaamanutençãodadesigualdade,demodoqueageraçãonascidaentre1900e1910manteveumadesigualdaderelativamenteelevada(comíndicedeGinide0,69em1960).

Entre1900e1920,adesigualdadeeducacionalbrasileiraaumentou:con-sequênciadeumsistemaeducacionalemexpansão,masaindabastanterestrito.Aolongodasdécadas,noentanto,asnovasgeraçõestornaram-secadavezmenosdesiguais,oqueémedidopelodeclíniosistemáticodoGinieducacional.Paraosnascidosnadécadade1980,oíndiceépróximode0,3,tendocomoreferênciaocensode2000.Essemovimentofoicon-cretizadopeloaumentodematrículas inicialmentenoensinoprimário,eposteriormentenosecundárioesuperior,umavezquenocomeçodoséculoagrandemaioriadapopulaçãotinhaescolaridademuitopróximadezero.Dessaforma,areduçãodadesigualdadeeducacionalcoincidecomumaumentodonívelmédiodeescolaridade.Aintroduçãosucessivadasnovasgeraçõesmaiseducadasnoestoquefoireduzindoadisparidadegeraldeeducação,resultandoemummovimentodereduçãodadesigualdadenototaldapopulaçãoentre1920e2000.

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NoiníciodoséculoXX,adesigualdadeeducacionalerasemelhantenasregiõesbrasileiras,comumíndicedeGinientre0,73e0,81.Aolongodoséculo,aordenaçãodessasregiõesemtermosdedesigualdadeeduca-cionalnãomudou,masadiferençaentreasregiõesaumentousensivel-mente,em2000,asregiõescommaioremenordesigualdadeeducacio-nal,aregiãoNordesteearegiãoSudeste,tinhamíndicesde0,59e0,43respectivamente

Oacessoaosistemadeensinoeadistribuiçãodeeducaçãonãosomentesãoreflexosdeumprocessohistóricodedesenvolvimento,mastêmin-fluênciaexpressivasobreessemesmoprocesso.Aregiãonordesteapre-sentanofimdoséculoapiordistribuiçãodeeducação,eétambémaquelacompiordistribuiçãoderendaePIBper capita.11Emcontrapartida,aregiãosul,queduranteamaiorpartedasérieanalisadapermaneceucomamenordesigualdadedeeducação,nofinaldoséculofiguracomaspri-meirascolocaçõesemdistribuiçãoderendaePIBper capita.12 Distinguiressesefeitoséumatarefaquevaialémdoescopodestetrabalho,masosresultadossugeremquehárelaçãoentreessesindicadores.

Essaevoluçãoapresentadadadesigualdadeescolarajudaaesclarecer,emparte,adesigualdadesocialentreasregiões.Oaumentodaescolaridade,associadoàreduçãodadesigualdade,pareceterumpapelrelevanteparaexplicarasdiferençasderendaobservadasaolongodoséculoXXequeaindapersistematualmente.

Referências Acemoglu, D., Johnson, S., e Robinson, J. A. 2001. The Colonial Origins of Comparative Development: An Empirical Investigation. American Economic Association, 91(5): 1369-1401.Anazawa, L. S. 2011. Análise da Queda na Participação no Ensino Superior. Universidade de São Paulo: Facul-dade de Economia, Administração e Contabilidade. Mimeo.Barro, R. J.; Sala-i-Martin; X. 1992. Convergence. Journal of Political Economy, 100(2): 223-251.Barros, A. R. 2011. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, causas, origens e soluções. Rio de Janeiro: Elsevier.

11InstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA).http://www.ipeadata.gov.br/Consultadoem21desetembrode2016.

12 InstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA).http://www.ipeadata.gov.br/Consultadoem21desetembrode2016.

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Apêndice - Detalhamento sobre Dados de Ensino Superior

Excetoparatrêsescolasdenívelsuperior,nãoconseguimosencontrarda-dosdematrículasnesseníveldeensinoparaoséculoXIX.Naausên-ciadessasinformações,procedemosdeduasformasdiferentes(que,noentanto,levaramaresultadossemelhantes).Emprimeirolugar,osAEBsfornecemdadosdematrículasnoensinosuperiorem1907(AEBde1953)porestadoe,alémdisso,onúmerodeescolasdenívelsuperiornofinaldoséculoXIXéconhecido(AnísioTeixeira1989).Comessasduasinforma-ções,tentamosaproximaronúmerodematriculadosexistentesem1890,supondoqueem1907asescolaspossuíamnúmerosemelhantedealunosentresi.Dessaforma,ajustamosonúmerodealunosde1907àsescolasexistentesem1890,supondoadicionalmentequenãohouvecrescimentorelevantedonúmerodevagasporinstituição.Apesardesetratardeumaaproximação,acomparaçãocomosdadosparaastrêsescolasdisponíveismostraqueosnúmeroscalculadosnãoestãomuitolongedarealidade.Apartirdessesnúmeros,calculamosonúmerodematrículascomopro-porçõesdapopulaçãoentre20e24anos.

Umacríticaquepoderiaserfeitaaométodoanteriorseriadequenãote-mosestimativasdemigraçãodosgraduadosentreosestados,demodoquesóconseguiríamosrealizarestimativasnosestadoscomalgumaescoladenívelsuperior.Nãoépossívelconhecera prioriadireçãodoviésdevidoaessemétodoemtodososestados,umavezqueépossívelqueestadossemescolasdenívelsuperiortenhamgraduadosquemigraramparalá,eestadoscomescolasdenívelsuperiortambémpodeatrairgraduadosdeoutrosestados.Natentativadelidarcomesseproblema,tentamosobterumaestimativadoestoquedepessoascomnível superiorapartirdasinformaçõesdeprofissãodoCensode1872.Paraisso,consideramosquetodasaspessoasqueexerciamalgumasprofissõesliberaiseramformadasnonívelsuperior.Apartirdessasinformações,obtivemosaproporçãodepessoascomensinosuperiornapopulação.

NocasodaestimativadeformadosnoensinosuperiorapartirdoCensode1872,nósaplicamosaproporçãoobtidaàpopulaçãocom25anosoumaisem1900e,emseguida,aplicamosasdemaisproporçõesaorestantedapopulaçãosemoensinosuperior.