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Estud. Econ., São Paulo, vol.49 n.4, p.687-722, out.-dez. 2019
Artigo de Pesquisa DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0101-41614943bnpl
Novas Medidas de Educação e de Desigualdade Educacional para a Primeira Metade do Século XX no Brasil
Bruno Komatsu1
Naercio Menezes-Filho2
Pedro Augusto Costa Oliveira3
Leonardo Teixeira Viotti4
ResumoEste artigo descreve a trajetória do nível e da desigualdade educacional no Brasil desde a primeira metade do século XX. Combinamos diversas fontes de dados históricos, tais como os relatórios do Ministério de Negócios do Império, os Anuários Estatísticos do Brasil e os Censos Demográficos para construir novas medidas de escolaridade e calcular índices de Gini educa-cional entre 1900 e 2000 para cada região e para o Brasil como um todo. Nossos resultados mostram que entre 1900 e 1930, a proporção de pessoas com ensino primário completo na população permaneceu em torno de 5%, ao passo que a parcela com ensino secundário completo esteve sempre abaixo de 1% e que somente 0,3% tinham ensino superior completo. Assim, a desigualdade educacional permaneceu constante até 1920, declinou lentamente entre 1920 e 1950 e mais rapidamente somente a partir de então.
Palavras-ChaveEducação. Desigualdade. Índice de Gini.
AbstractThis paper describes the trajectory of educational level and inequality in Brazil in the first half of the 20th century. We combine various sources of historical data, such as the reports of the Ministry of Business of the Empire, the Statistical Yearbooks of Brazil and the Demographic Censuses to construct new educational measures and calculate educational Gini indices betwe-en 1900 and 2000 for each region and for Brazil as a whole. Our results show that between
1 Pesquisador−InsperInstitutodeEnsinoePesquisa−Endereço:RuaQuatá,300-VilaOlímpia/SP CEP:04546-042-E-mail:[email protected]:https://orcid.org/0000-0002-7731-34222 Professor − Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e Faculdade de Economia, Administração eContabilidade−UniversidadedeSãoPaulo−End.:RuaQuatá,300−VilaOlímpia−SãoPaulo/SP
CEP:04546-042-E-mail:[email protected]:https://orcid.org/0000-0003-1241-61883 Mestrando – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade − Universidade de SãoPauloEnd.:AvenidaProfessorLucianoGualberto,908–Butantã–SãoPaulo/SP.CEP:05508-010E-mail:[email protected]–ORCiD:https://orcid.org/0000-0001-5423-8856
4 AnalistadeDados,DevelopmentImpactEvaluation-DIME,TheWorldBankGroup,Washington,DC,EstadosUnidos–Endereço:1818HStNW,Washington,DC20433–E-mail:[email protected] ORCiD:https://orcid.org/0000-0001-5638-4566
Recebido:22/11/2017.Aceite:06/06/2019.
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial 4.0 Internacional.
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1900 and 1930 the proportion of people with complete primary education in the population remained around 5%, while the share of secondary education was always below 1% and that only 0.3% had higher education complete. Thus, educational inequality remained constant until 1920, declining slowly between 1920 and 1950 and more rapidly thereafter.
KeywordsEducation. Inequality. Gini Index.
JEL ClassificationI24. I25.
1. Introdução
ApesardasimportantestransformaçõessociaisenomercadodetrabalhoocorridasnoBrasilnoperíodorecente,quelevaramàacentuadareduçãodadesigualdadederendanaúltimadécada(Lustig,Lopez-CalvaeOrtiz-Juarez2013),opaísfiguraaindahojeentreospaísescommaiorníveldedesigualdadenomundo(TsountaeOsueke2014;CIA2013).Alémdisso,oselevadosníveishistóricosdedesigualdadesocialdoBrasilsãocompar-tilhadosentrealgunspaíseslatinoamericanos.
Umimportantemecanismodeperpetuaçãodadesigualdadederendaen-trepaísesseconstituinasdiferençasdeinvestimentoedistribuiçãodecapitalhumano(DeFerrentietal.2004).NospaísesdaAméricaLatina,aeducaçãoformalsedesenvolveutardiamente,priorizandooacessodaselites,oquegerouumaescassezdemãodeobraqualificadaedesigualda-desregionais(CampseEngerman2014).ApósentrarnaagendadeagentesdaindependêncianoséculoXIX,aexpansãodaeducaçãoàpopulaçãofoiesquecidacomaconsolidaçãoderegimesconservadoresnoperíodopós--independênciaepermaneceucomoprivilégiodosmaisricosatéoúltimoquartodaqueleséculo(Frankema2009).Adicionalmente,asondasdemi-granteseuropeusaoBrasilentreofinaldoséculoXIXeiníciodoséculoXXrepresentaramchoquespositivosnosestoquesdecapitalhumanoereforçaramasdesigualdadesregionaisderenda(Rocha,FerrazeSoares2015).
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Esteartigopretendecontribuirparaa literaturacomnovasmedidasdeestoqueeducacionaletambémcomumaanálisedetalhadadaevoluçãodadesigualdadeeducacionaldoBrasilnoperíodoquevaidoiníciodoséculoXXatéadécadade1960.NossaprincipalcontribuiçãoéaconstruçãodemedidasmaisprecisasdeestoquesdapopulaçãoporeducaçãoparaaprimeirametadedoséculoXX,utilizandodadoshistóricosdosAnuáriosEstatísticosdoBrasil(AEBs)edosCensosDemográficos.Alémdisso,em-pregamosumesforçoparadocumentarastendênciaseadinâmicadadesi-gualdadeeducacionalnasregiõesbrasileirasaolongodetodooséculoXX.ConstruímosoestoqueinicialdeindivíduosporgraudeescolaridadeparaoiníciodoséculoXX,apartirdedadospoucoutilizadosanteriormente,obtidosnosRelatóriosAnexosaoMinistériodosNegóciosdoImpério,oquenospermitiuestimaroíndicedeGinieducacionalparaopaíscomoumtodoe tambémpara cadaumade suas regiões.A trajetóriadessamedidadedesigualdadeeducacionalnosdáumpanoramamaisclarodecomoestarespondeuàsreformasempreendidaspelogovernonatentativadeexpandirosistemadeensino.Alémdisso,oíndicedeGinieducacionalnospermiteavaliarcomoadesigualdadenaeducaçãosecomportouemalgumasregiõesdopaíseemquemedidaaeducaçãoéresponsávelpeladesigualdaderegionalexistenteaindahoje.
Aquestãodadesigualdadederendavemganhandodestaquenasmaisdiversasáreasdepesquisanosúltimosanos,tendoemvistaqueestudosrecentesapontamumaumentodadesigualdadeemtodoomundo(Dabla-Norris2015).Hána literaturaumconhecidodebatesobreaspossíveiscausasparaaalarmantedesigualdadenaAméricaLatina.Deumlado,ahipótesecentralédequeaatualdesigualdadenospaíses latino-ameri-canostemraízeshistóricaseumaforteassociaçãocomaqualidadedasinstituiçõesfundadasnoperíodocolonialeaquelasexistenteshojeemdia(Acemoglu,JohnsoneRobinson2001;DeFerrentietal.2004).Nessesentido,EngermaneSokoloff(1994)tambémargumentamqueascondi-çõesiniciaisapartirdasquaisascolôniasforamestabelecidas(incluindoaadequaçãodosoloparaculturascomgrandeseconomias,produçãocomescravosegrandequantidadepopulaçãonativa)tiveramimpactorelevantesobreaevoluçãoeducacionalesobreadesigualdadesocialposterior.Dooutrolado,outrosautoresargumentamqueaaltadesigualdadedaAméricaLatinaéumfenômenorelativamenterecente,tendosurgidoemmeioatransformaçõesnosséculosXIXeXX,comooaumentodospreçosinter-nacionaisdascommoditieseoisolacionismodospaíseslatinoamericanosapósaPrimeiraGuerraMundial(Williamson2015).Aevoluçãodiferen-
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ciadadospreçosportipodecommodity(emparticulardacanadeaçúcaredocafé)tambémparecerser importanteparaexplicardiferençasdedesenvolvimentodasregiõesnoBrasil(Leff1972).
Alémdessascorrentesexplicativas,aeducaçãodesempenhaumpapelrele-vantenaperpetuaçãodadesigualdadederenda.Osefeitosdadesigualdadedecapitalhumanosobreadesigualdadederendaforambastanteestuda-dosnaliteratura(veja,porexemplo,LameLevison(1991),Lorel(2008),Barros(2011)).Atransmissãointergeracionaldeescolaridadeconstituiocanalprincipalpeloqualadistribuiçãodesigualdecapitalhumanoafetaadesigualdadederenda(Lorel2008).Adesigualdadeeducacionalpodeafetaradesigualdadederendapormeiodadispersãodaescolaridadeedosefeitosdaescolaridadesobreosrendimentos.51Adicionalmente,aeducaçãopodeafetaradesigualdadederendaatravésdeexternalidadespositivasdocapitalhumano,relacionadasàtecnologia(Barros2011).Alémdoganhodeeficiênciaeaumentodaprodutividadedosindivíduoscommaiornívelde instrução,atecnologiaédesenvolvidarespeitandoasrestriçõesdosoutrosfatoresdeprodução.Portanto,regiõescommaiordisponibilidadedecapitalhumanoterãotecnologiasqueusammaisintensivamenteestefator,eemconsequênciaserãomaisprodutivas.Alémdisso,aimportânciadaeducaçãoparaadesigualdadeémaiornasregiõesmenosdesenvolvidasdoBrasil,asaberaregiãoNordeste,umavezqueodiferencialsalarialporgraudeescolaridadenessasregiõesémaior(ReiseBarros1991).
Nessesentido,amádistribuiçãodefatoresdeprodução,especialmentedocapitalhumano,acabaporimpediraconvergênciadonívelderendaper capita entreasregiões, esperadaporummodeloneoclássico(BarroeSala-i-Martin1992).ParaoBrasil,cercade40%dadesigualdadederendaobservadanasdécadasde1980e1990podeserexplicadopelava-riáveleducação(Ferreira2000).Adicionalmente,adistribuiçãodesigualdecapitalhumanotendeapersistir,umavezqueaacumulaçãodecapitalhumanodospaisépositivamenterelacionadaàdosfilhos.Aausênciadepolíticaspúblicasquebusquemredistribuireducaçãodeformamaisiguali-táriaentreasregiões,adesigualdaderegionaltendeasemanterportempoindeterminado(Barros2011).
1Emboraintuitivamenteadesigualdadedeescolaridadesejapositivamentecorrelacionadacomadesi-gualdadederenda,Lam,LeibbrandteFinn(2015)argumentamquenãoháfundamentoformalparaqueessarelaçãotenhaessesinal.
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Nossotrabalhotambémdialogacomestudosquetentamexplicarascausasdadistribuiçãodesigualdecapitalhumanoentreasregiõesbrasileiras,exa-minandoaquestãodasdiferençasdeacessoàeducação.Aestruturaprodu-tivaedepoderpolíticodasregiõesparecemexplicarpartedaconcentraçãodaeducação.OacessoàeducaçãoerarestritoàseliteslocaisatéofinaldoséculoXIX.AexpansãodoacessocomasreformaseducacionaisnofinaldoséculoXIXeiníciodoséculoXX,alémdisso,beneficiouespecialmen-tebrancos(incluindoimigranteseuropeus)erelegounativosamericanos,negrosemestiçosao segundoplano(CampseEngerman2014).Alémdisso,háevidênciasdequeainteraçãoentreaqualidadedasinstituiçõeslocaiseoaumentodospreços internacionaisdascommoditiesafetaosníveisregionaisdeacumulaçãodecapitalhumano(Musacchio,MartinezeViarengo2014).
Algunsestudosanterioresestimarammedidasdedesigualdadeeducacio-nalnolongoprazo.Thomas,WangeFan(2001)calculamumíndicedeGinieducacionalparadiversospaísesapartirde1960,econcluemqueatendênciageralnasegundametadedoséculoXXédereduçãodadesi-gualdadeeducacional,queénegativamenteassociadaàmédiadeanosdeestudoeàriquezadopaís.Aassociaçãodoníveldeescolaridadecomadispersão(medidapelodesviopadrão)segueopadrãodeumacurvadeKuznets.ResultadossemelhantessãoencontradosporLorel(2008)paraoBrasil,entre1950e2000,quandocomparaosestadosbrasileiros.LeeeLee(2016)constroemumamedidadeestoqueeducacionalparaoperío-doentre1870e2010para111países,apartirdeestimativasdetaxasdematrículanoperíodoentre1820e1945edasestimativaseducacionaisdeBarroeLee(2001)paraopósIIGuerra.VanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015)tambémcalculamumíndicedeGinieducacionalparadiversospaíses,entre1850e2000,incluindooBrasil.UmadiferençaimportanteentrenossoestudoeosdeLeeeLee(2016)edeVanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015)estánograudeprecisãodosdadosutilizados,umavezqueasestimativasapresentadasporestessãomaisgeraiseparatodoopaís,enquantoasestimativasapresentadasnestetrabalhosãodesagregadasporregiãoegraudeescolaridade.
Nossaprincipalcontribuiçãoéestimaraevoluçãodadesigualdadeeduca-cionalnoBrasilparaaprimeirametadedoséculoXX,paraquandonãohámicrodadosdepesquisascensitáriasdisponíveis.Nósadicionamosàlite-raturaresultadosobtidosapartirdefonteshistóricasnãoexploradasemoutrosestudos,comoosrelatóriosestatísticosdaantigaDiretoriaGeralde
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Estatísticas(DGE),relatóriosestatísticosdofinaldoséculoXIXetaxasdemortalidadecalculadasseparadamenteporníveldeescolaridade.
Oartigoestádivididoemseispartes,incluindoestabreveintrodução.Nasegundaparte,faremosumadescriçãodosdadosutilizados,bemcomodesuasfontessuasespecificidades.Emseguida,explicaremosdetalhadamen-teametodologiautilizadanotrabalho.Naquartaseção,realizamosumbrevehistóricodaeducaçãobrasileira.Porfim,apresentamososresultadosobtidosealgumasconclusõessobreoassunto.
2. Dados Metodologia
Paraestimarasestatísticasapresentadasnesteartigo,foramcombinadasdiversasfonteshistóricas.Paraestatísticascomotaxadealfabetizaçãoougraudeescolaridadedapopulação,utilizamososCensosDemográficos,divulgadosaproximadamenteacadadezanospeloInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE).Oprimeirorecenseamentonacionalocor-reuem1872,abrangendotodasasregiõesdoterritório,excetooatualestadodoAcre.
TambémutilizamososAnuáriosEstatísticosdoBrasil (AEB)publica-dospeloIBGE,naépocachamadoDiretoriaGeraldeEstatística(DGE)(MinistériodaAgricultura,IndustriaeCommercio,1916;DGE,1912-1936;InstitutoNacionaldeEstatística,1936-1937;IBGE,1938-1962).Oprimei-roAEBfoidivulgadoem1916,contendodadosparaosanosentre1907-1912.Apenasapartirde1936apublicaçãopassouaseranual.OsAnuáriosreúnemumagrandequantidadedeinformaçõessobreeducação,saúde,gas-topúblico,trabalho,política,entreoutrostemas,entretanto,essesdadosnãosãosemprecomparáveis.Utilizamosasinformaçõesdisponíveisacercadematrículas,conclusõesdecursoenúmerosdeinstituiçõesdeensino.
DadossobretaxadealfabetizaçãoougraudeescolaridadedapopulaçãoestãopresentesnosCensosDemográficosemtodaasérie.Paraestimaropercentualdeindivíduosmatriculadosnonívelescolarcorresponden-teacadafaixaetária,cruzamososdadosdosAEBscomasestimativas
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populacionaisdosCensosDemográficos.Porém,devidoàsfaixasetáriasdoscensosnãoseremexatamentecompatíveisàsdecadanívelescolar,foinecessáriorealizarumaaproximação.Assim,paraoensinoprimáriofoiconsideradaapopulaçãodecadaestado,entre5e14anos.Paraoensinosecundárioetécnico,ototaldepessoasporestadoentre10e19anos,eparaoensinosuperiorindivíduosentre20e24anos.
Para1930utilizamosestimativaspopulacionaisfeitaspeloDGE,umavezquenestadécadanãofoirealizadoCensoDemográfico.Entretanto,estasestimativaseramapenasparaototaldapopulaçãodecadaestado.Parachegaràpopulaçãoporfaixaetária,foifeitaumamédiaentreopercentualdapopulaçãoemcadafaixaetáriaporestadodosCensosde1920e1940.Emseguida,esteresultadofoimultiplicadopelapopulaçãototaldoestadocorrespondenteem1930.
Dadosdematrículasnoensinoprimário,secundárioetécniconofinaldoséculoXIXforamobtidosdosRelatóriosAnexosaoMinistériodosNegóciosdoImpério,daDiretoriaGeraldeEstatística(DirectoriaGeraldeEstatística,1875;Secretariad’EstadodosNegociosnoImperio,1887).Apesardepoucoconhecidos,estesrelatóriosapresentamumavastagamadeinformaçõessobreaeducaçãonopaísnaqueleperíodo,taiscomoreceitaedespesacomeducaçãoemnívelprovincial,númerodeestabelecimentosdeensinoprimárioesecundário,públicoseparticulares,frequênciaescolaremambososníveisedespesaporaluno.
UtilizamosdadosdemortalidadedapublicaçãoEstatísticasdoSéculoXXdoIBGEparaoBrasil,semdistinçãoderegiões.Aúnicaexceçãoéoes-tadodeSãoPaulo,emqueháinformaçõesmaisprecisasdisponíveisnoprojetoMemóriadasEstatísticasDemográficas(SEADE2010).
Apartirdessas informações foipossívelcalcularumGinieducacionalparaoBrasilcomoumtodoeparaalgumasdesuasregiões.AestimaçãodoGinifoifeitacombaseemestimativasdaescolaridadedapopulaçãobrasileiraaolongodoséculoXX.Oestoqueinicial,paraoanode1900,foicalculadocombasenosdadosdematrículaseconclusõesdosAEBsedeoutrostrabalhoserelatóriosdoDGE,especificadosacima.ContamostambémcomdadosdeestoquepopulacionalporescolaridadenosCensosDemográficosde1940a1960.
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2.1. Anuários Estatísticos
Paraocálculodosestoquesdeníveldeescolaridadeutilizamosasinforma-çõesacercadematrículas,conclusõesdecursoenúmerosdeinstituiçõesdeensinocontidasnosAnuáriosEstatísticosdoBrasil(AEB)entreosanosde1908e1962.Osanuáriosreúnemumagrandequantidadedeinforma-çõessobrediferentestemas,educação,saúde,gastopúblico,trabalho,polí-tica,religiãodentreoutros.Apesardariquezadeinformações,osanuáriostiverampublicaçõesinconstantesnosanosiniciaiseadisponibilidadedeinformaçõesvariasignificativamenteentreosanosedeterminadasinfor-maçõesnãosãocomparáveisentrediferentesanos.ParaumadiscussãodetalhadadadisponibilidadedeinformaçõesnosAEBsverSouto(2012),GuizzardiFilhoetal.(2003)eIBGE(2006).
OprimeiroAEBfoidivulgadoem1916,contendodadosparaosanosentre1907-1912,masapublicaçãofoiinterrompidaentre1913e1935.Apar-tirde1936,apublicaçãopassaaseranual,contudo,háinconstâncianosdadossobrematrículaseconclusões.AsTabelas1e2abaixosintetizamadisponibilidadedeinformações:
Tabela 1 – Dados disponíveis Anuários Estatísticos do Brasil - Matrículas
Matrículas
Ensino Primário Secundário Superior Profissionalizante
Série
1907-1912 Não disponívelDisponível para todas as UFs exceto AC
Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.
Disponível para todas as UFs exceto AC
1932-1937Disponível para todas as UFs
Disponível para todas as UFs
Disponível para todas as UFs exceto AC
Disponível para todas as UFs
1938-1950 Não disponível Não disponível Não disponível Não disponível
1951-1962 Não disponível Não disponível Não disponível Não disponível
Fonte:Elaboraçãoprópria.
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Tabela 2 – Dados disponíveis Anuários Estatísticos do Brasil - Concluintes
Concluintes
Ensino Primário Secundário Superior Profissionalizante
Série
1907-1912 Não disponível
Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.
Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.
Disponível para todas as UFs exceto AC
1932-1937Disponível para todas as UFs
Disponível para todas as UFs exceto AC
Disponível para todas as UFs exceto AC
Disponível para todas as UFs
1938-1950 Não disponível Não disponível Não disponível Não disponível
1951-1962
Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.
Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.
Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.
Disponível para algumas UFs ou disponibilidade varia na série.
Fonte:Elaboraçãoprópria.
Devidoàsinterrupçõesnasérie,utilizamosmétodosdeinterpolaçãolinearparapreencherlacunas,queserãoexplicadosnapróximaseção.
3. Metodologia
AmetodologiadesteartigoconsisteemcalcularoíndicedeGiniagregadocomestimativasdeestoquespopulacionaisporníveldeescolaridadeaolongodotempo.AprincipaldificuldadeenfrentadaédequenãohádadosestatísticosoucensitáriossobreoestoquedapopulaçãoporescolaridadenoBrasilouestadoatéoCensoDemográficode1940.Atéentão,a in-formaçãosobreaescolaridadedisponívelerasomentedequantossabiamounãolernapopulação.Poressemotivo,paraconstruirosestoquesporescolaridade,partimosdeestimativasdoestoquedepessoascomcadaníveldeescolaridadeem1900e,usandoinformaçõessobreosconcluintesdecadanível,construímosasérieparaaprimeirametadedoséculoXX.Também,utilizamosamesmametodologiadecálculodoGiniparaosda-dosdisponíveisnoscensosdemográficosde1940a2000,comointuitode
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darcontinuidadeàsérie.FazemosadicionalmenteestimaçõesseparadasparaasUnidadesdaFederação,oquenospermiteagregaremregiões.
3.1. Metodologia das Estimativas da Distribuição da População por Esco-laridade em 1900
Paraaestimaçãodoestoque inicialdapopulaçãoporescolaridadeem1900,nósnosinspiramosnametodologiadeinventárioperpétuodescritaporFöldvárieVanLeeuwen(2014)parachegaravaloresaproximadosdaparticipaçãorelativadosgruposdeescolaridadenapopulaçãode5anosoumaisem1900.Nóstrabalhamoscomcincocategoriasdeescolaridade:semescolaridade,ensinoprimárioincompleto,ensinoprimáriocompleto,ensinosecundáriocompleto(incluindooensinoprofissional),eensinosu-periorcompleto.62
Emlinhasgerais,ametodologiaconsisteemobteradistribuiçãodapo-pulaçãodeumadeterminadafaixaetáriaporgraudeensinoemalgumperíododoséculoXIX,eaplicaressespercentuaisparaamesmacoorteem1900.Porexemplo,seem1880aproporçãodepessoasentre5e10anosdeidadematriculadasnoprimáriofossede10%,entãosupomosqueomesmopercentualdepessoasentre25e30anosde idadeem1900certamentepossuaoensinoprimário.NasestimativaspopulacionaisdoséculoXIX,consideramostambémapopulaçãoescravanoscálculos(semnenhumaescolaridade).
Háduashipótesesimplícitasparaarealizaçãodessaestimativa.Emprimei-rolugar,supomosquetodososmatriculadosemumgrauescolardeumacoorteirãoseformar(taxadeevasãonula).Essahipóteseserárelaxadamaisadiante,porémosresultadosnãosealteraramdeformarelevante.Asegundahipóteseédequeataxademortalidadeemigraçãodaqueleséhomogêneaentrepessoascomdiferentesgrausescolares.Apesardeforte,nãoépossívelestimartaxasdemortalidadeemigraçãodiferenciadasporgrauescolarcomosdadosdisponíveis.Somenteestudosutilizandodadosmuitorecentessãocapazesderealizaressetipodeestimaçãodeforma
2 Oensinoprimárioequivaleaoqueatualmenteéchamadodeprimeirociclodoensinofundamental.Osecundárioconstituiumgraudeensinoquecompreendeosegundociclodoensinofundamentaleoensinomédio.Paraessaanálise,consideramosoensinoprofissionalcomopartedoensinomédio.
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precisa,porém,fizemosumtestederobustezcomestimativasdemorta-lidadediferenciadasentrepessoasalfabetizadaseanalfabetas.73
Paraobterasproporçõesdematriculadosporfaixasetárias,calculamosasproporçõesdecriançasejovensmatriculadosnoprimárioenosecundárioemrelaçãoaototaldeindivíduosnasfaixasdeidadeconsideradasade-quadasparacadagrau.Essaestimaçãofoipossívelparaoiníciodosanos1870(comdadosdoRecenseamentode1872edosRelatórioseTrabalhosEstatísticosde1875)edosanos1880(comdadosdosCensosde1872e1890,edosTrabalhosdaSeçãodeEstatísticade1886).Paraadécadade1880,tambémfoipossívelestimaraproporçãodeadultosmatriculadosnoensinosuperior.84
Comasestimativasdetaxasdematrículasemmãos,aplicamosessaspro-porçõesdepessoascomprimáriocompleto,secundáriocompletoeensinosuperiorcompletoparaapopulaçãode1900porestadodaseguinteforma.Asproporçõesdepessoascomprimáriocompletoem1880foramaplicadasparaasfaixascom10a29anosem1900,enquantoparaascoortesmaisvelhasnomesmoano,aplicamosasproporçõesde1870.Asproporçõesdepessoascomsecundáriocompletode1880foramaplicadasàspessoasentre15e29anosem1900,eparaosmaisvelhosaplicamosasproporçõesde1870.Porfim,asproporçõesdepessoascomensinosuperiorforamaplicadasàpopulaçãocom25anosoumaisem1900.Comoaquelesquefizeramumgrauescolarmaiselevadopassaramobrigatoriamentepelosgrausmaiselementares,evitamosqueelesfossemcontadosduplamentenosgrausescolaresanteriores.
Entreaquelesquenãoforamdesignadosaalgumgrauescolar,dividimosentreaquelesquesabiamounãoler.OnúmerodeanalfabetosfoiobtidoapartirdoCensoDemográficode1900,eessegrupofoiconsideradosemescolaridade.Osdemais,quesabiamler,porémnãoseencaixaramemnenhumdosgrausescolarescompletos,foramconsideradoscomotendoprimárioincompleto.
3 HáalgumaevidênciadequeasdiferençasdemortalidadeentreosmaisemenoseducadosnãoeratãograndenoiníciodoséculoXX.Cutler,DeatoneLleras-Muney(2006)mostramqueogradien-tedemortalidadeporrenda/educaçãoaumentacomotempo,comaintroduçãodeconhecimentorelevanteàsaúde,porqueaincorporaçãodesseconhecimentoempráticasquedefatoaumentamaexpectativadevidaémaisrápidaentreosmaisescolarizados.Porexemplo,ogradienteerabaixoentrearistocratasepessoascomunsnaInglaterraantesIluminismo,ouentrefilhosdepaismédicosounãomédicosantesdadescobertadequealgumasdoençaseramcausadaspelaaçãodegermes.
4 Detalhamososprocedimentospara obtençãodospercentuaisde adultos comensino superiornoApêndice.
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Comomencionamosanteriormente,épossívelrelaxarahipótesedequetodososmatriculadosseformam.Setivermosaproporçãodosconcluintesemrelaçãoaosmatriculados,podemosobterumaestimativamaisrealdonúmerodeformadosemumgrauescolar.Dessaforma,tentamoslidarcomoproblemaaplicandoataxadeconclusãoaosmatriculadosemultiplicandoovalorresultante(númerodeconcluintesemumano)pelotamanhodafaixaetáriaquefrequentariaaquelegrauescolar.
Osprimeirosdadosdeconcluintesparatodososníveisdeensinoestãodisponíveissomenteapartirdadécadade1930.Noentanto,comoataxadeconclusãopormatriculadoérelativamenteestávelentre1932e1949,utilizamosessataxaparaestimaraproporçãodeconcluintesporfaixaetá-riaem1870e1880.Emseguida,calculamosnovamenteasproporçõesdeformadosem1900,comodescritoanteriormente.Apesardecadaalteraçãoimplementadaparalidarcomumproblemadiferentegerarmodificaçõesnadistribuiçãodepessoasporescolaridade,essasdistribuiçõesnãosealteramsignificativamente.
3.2. Composição Educacional e População ao Longo do Século XX
Para estimar os estoquespopulacionais por escolaridade, tratamosdeformadiferenciadaosgruposcomníveisdeensinocompletos(primáriocompleto,secundáriocompletoesuperiorcompleto)depessoassemesco-laridadeoucomprimárioincompleto.Paraestimaronúmerodepessoascomcadaníveldeensinocompleto,partimosdaestimativadoestoqueinicialde1900e,iterativamenteparacadaanosubsequente,descontamososóbitosesomamosonúmerodeconcluintes,subtraindoonúmerodeconcluintesdonívelseguinte.Porexemplo,oestoquetotaldepessoascomensinoprimárioemumdeterminadoanoécalculadocomoasomaentreoestoquedoanoanterioreonúmerodeconcluintesdoensinoprimáriodaqueleanomenososconcluintesdoensinosecundáriodomesmoano.
Paraumgrauescolar 𝑗𝑗 noano𝑡𝑡 ,oestoquepopulacionalserádadopor:
Pop𝑗𝑗𝑗𝑗 = Pop𝑗𝑗,𝑗𝑗−1 × (1 − Taxa de Mortalidade𝑗𝑗𝑗𝑗) + (Concl𝑗𝑗𝑗𝑗 − Concl𝑗𝑗+1,𝑗𝑗) (1)
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onde Pop𝑗𝑗𝑗𝑗 é a população com escolar idade 𝑗𝑗 no ano 𝑡𝑡 ,Taxa de Mortalidade𝑗𝑗𝑗𝑗 éa taxademortalidadeeConcl𝑗𝑗𝑗𝑗 éonúmerodeconcluintesnograu 𝑗𝑗 noano𝑡𝑡 .
Adisponibilidadededadosdeconcluintesvariabastanteaolongodosanos,masestãodisponíveisparaquasetodasasUnidadesdaFederaçãoentreosanosde1907a1912,1932a1949e1951a1962.AssériesdeconcluintesparacadaníveleducacionalforaminterpoladasparaosanosemqueosAEBsnãoforampublicados,ouemqueestesnãoapresentamessainfor-mação.Assumiu-sequeaquantidadedematrículaseastaxasdeconclusãopoucomudamentreosanosde1899e1908,paraosestadosemqueexis-teminformaçõessobreonúmerodeconcluintesem1908.Paraosestadosemquenãoháinformaçõesdonúmerodeconcluintesem1908,fizemosumainterpolaçãolinearpontoaponto,oqueevitaaexistênciadequinas,supondoqueonúmerodeconcluintesdecadaníveldeensinoerazeroem1899.Dessaforma,épossívelconstruirumasériedeconcluintesdecadaníveleducacionalininterruptaentre1900e1960.Paraqueasestimativasfossemcomparáveiscomoscensosde1940e1950,osconcluintesdosníveissecundárioeprofissionalforamagrupadosparaestimaroestoquedepessoascomensinomédio.
Paraaspessoassemescolaridadeeoprimárioincompleto,procedemosda seguinte forma.O estoqueda população semescolaridade é dadoimediatamentepelonúmerodepessoasquenãosabemler.Essa infor-maçãoeodadodapopulaçãototalestãodisponíveisemtodososCensosDemográficos,desde1872,paraoBrasilcomoumtodoeparaasUnidadesFederativas.Parapreencherapopulaçãototaleassubpopulaçõesnosanosintercensitários,foiutilizadaumainterpolaçãolinearsimplesdaproporçãodeindivíduos.Dessaforma,faltariaapenasestimaroestoquedapopulaçãocomensinoprimárioincompleto.Calculamosesseestoquecomoadiferen-çaentreapopulaçãototaleosdemaisestoquesjáestimados.
Adicionalmente,osóbitosforamcalculadosapartirdasinformaçõessobreataxademortalidade.AtaxademortalidademédiadoBrasilfoiobtidadosCensosDemográficos(IBGE2007)eassumiu-sequeataxaéames-maentretodasasUnidadesdaFederação,comexceçãodeSãoPaulo,cujataxademortalidadeparaoperíodoanalisadoédivulgadapelaFundaçãoSEADE(SEADE2010).
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Érazoávelpensarqueataxademortalidadevariadeacordocomoníveldeinstrução(queépositivamentecorrelacionadocomarenda).Paratentarobterumataxademortalidadediferenciadaporinstrução,utilizamososdadosdealfabetizaçãodos indivíduosporfaixaetária,disponíveisnosCensosDemográficosde1940e1950,paracalcularamortalidaderelativa.Consideramosnocálculoindivíduoscom40anosoumais,umavezqueatéestafaixaetáriaaindahaviaumaparcelaconsideráveldapopulaçãosealfa-betizando.Paraocálculo,agregamosseparadamenteindivíduosquesabiamounãoler,comentre40e69anosnoCensode1940ecomparamoscomosgruposcorrespondentesdeindivíduoscomentre50e79anosnoCensode1950.Ataxaécalculadadividindoonúmerodepessoasporfaixaetárianoperíodofinalpelonúmerodepessoasnafaixaetáriaanteriornoperíodoinicial.Comisso,obtivemososresultadosapresentadosnaTabela3.
Tabela 3 – Taxas de mortalidade decenais
Comparação
40 a 19 / 50
a 5950 a 59 / 60
a 6960 a 69 / 70
a 79Agregado
Alfabetizados -21.41% -30.01% -49.72% -28.25%
Analfabetos -24.07% -28.32% -49.10% -29.78%
Total -22.96% -29.00% -49.33% -29.16%
Fonte: CensosDemográficos/IBGE.ElaboraçãoPrópria.Ainda,umajustefoifeitonoperíodoinicialdacomparação,incluindonosalfabetizadosesubtraindodosanalfabetos,osindivíduosquenadatadapes-quisaestavamfrequentandoaescola,porémaindaeramanalfabetos.
Odiferencialapartirdataxamédiade-29,16%éde0.97paraosalfabe-tizadosede1.02paraosanalfabetos.
3.3. Gini Educacional
Paracadacategoriaeducacionaldascincoutilizadas,atribuiu-seaquan-tidadedeanosdeeducaçãoformalequivalenteàduraçãodetodososní-veisconcluídospelosindivíduospresentesnogrupo.Assim,paraoensinoprimárioconsideramos4anosdeestudo;paraoensinomédio,11anosdeestudo;e15anosdeestudoparaoensinosuperior.Dessaforma,comoosanosdeeducaçãosãoconstantesparacadagrupo,nãoépossívelmensu-raradispersãodeescolaridadeintragrupo.Paraosindivíduosanalfabetos
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optamosporatribuirumaquantidadedeanosdeestudoigualazero(0anos).Também,paraaquelescomonívelprimárioincompleto,devidoàfaltadeinformaçõesnoperíodo,atribuiu-seumvalorad hocde1anodeestudoformal.
Porserumamedidacomumenteutilizadaparamedirdesigualdadeedefácilinterpretação,optou-sepeloíndicedeGiniparamediradesigualda-denadistribuiçãodeeducação.Ametodologiausadaéumaadaptaçãodaformausualdecálculodamedida(Cowell2009).Comoasinformaçõesexistentessobreoníveldeescolaridadeparaoperíodoanalisadoenossasestimaçõesdeestoquedepessoasporníveldeensinoestãoagregadas,istoé,nãotemosinformaçõesemnívelindividual,adaptamosafórmuladoín-dicedeGiniparaaestruturadenossosdados.AformadecálculoémuitosimilaràutilizadaporThomas,WangeFan(2001).
OGinieducacional(
𝐺𝐺 )paraumdeterminadoanoeregiãoécalculadocomoamédiadadiferençaentretodosospossíveisparesdeindivíduos,divididapelamédiadeanosdeescolaridade(
�̅�𝑋 ).Comoháapenascinco
tiposdistintosdeindivíduos,aformulapodesersimplificadadaseguintemaneira:
𝐺𝐺 = ∑ ∑ 𝑄𝑄𝑖𝑖𝑄𝑄𝑗𝑗𝑑𝑑𝑖𝑖𝑗𝑗
5𝑗𝑗=1
5𝑖𝑖=1
2𝑁𝑁2�̅�𝑋 (2)
Onde𝑁𝑁 éapopulaçãocom5anosoumais;
�̅�𝑋 éamédiadeanosdeestudo;𝑄𝑄𝑖𝑖 éaquantidadedepessoasdogrupo𝑖𝑖 ;demaneiraanálogaQjéaquan-tidadedepessoasdogrupoj;e𝑑𝑑𝑖𝑖𝑖𝑖 éadiferençadeanosdeestudoentreosgrupos𝑖𝑖 e 𝑗𝑗 .
4. Breve Histórico da Educação no Brasil
DuranteboapartedoséculoXIX,oBrasil–assimcomooutrospaíseslatino-americanos–esteveentreospaísescomospioresindicadoresedu-cacionaisdomundo,emtermosdeníveledesigualdadeescolar(Lustig,Lopez-CalvaeOrtiz-Juarez2013).
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Figura 1 - Média de anos de estudo para países selecionados
Fonte: Clio-Infra(Leeuwen,VanLeeuwen-LieFöldvari2013).Elaboraçãoprópria.Dadosparapopula-çãode15anosoumais.
AFigura1comparaaevoluçãodamédiadeanosdeestudoparaquatropaíses:Brasil,Argentina,EstadosUnidosePortugal.Percebe-sequeamé-diadeanosdeestudonoBrasileramuitobaixanofinaldoséculoXIX(0,7anosdeestudoem1900)eassimpermaneceuduranteastrêsprimeirasdécadasdoséculoXX.Apartirde1940,esteindicadorpassouaapresen-tarcrescimentomaisaceleradonoBrasil,tornandoacurvamaisinclinada.Somentenadécadade1990équeamédiadeanosdeestudodoBrasilchegaaonívelobservadonosEstadosUnidosnoiníciodoséculoXX,oqueexplicitaograndeatrasoeducacionaldopaís.AstrajetóriasdoindicadornaArgentinaforambemsemelhantesàdoBrasil,porémnumpatamarmaiselevado,comcrescimentocomparativamentemaisequilibradoaolongodetodooperíodo,excetoporumadécadadeestagnaçãoentre1980e1990,décadaemqueoBrasilmaisavançounesseindicador.
HádiversosfatoresqueexplicamoatrasorelativodoBrasil.DeacordocomColistete(2016),emcontrastecomoutrascolônias,comoosEstadosUnidoseCanadá,opadrãoeducacionalobservadonascolôniaslatinoame-ricanasseguiaodasmetrópoles,sendoextremamenterestrito,focadonoensinosecundárioesuperiorevoltadosparaaselites.
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Alémdisso,noBrasilhaviaumdescasopolíticocomoensinoprimário,queserefletianobaixoníveldegastosporaluno(dezvezesinferioraodosEstadosUnidos).
MesmoemcomparaçãoaosdemaispaísesdaAméricaLatina,oBrasilinicioutardiamenteumaexpansãodoacessoaoensinobásico,comoficaevidenciadopelabaixamédiadeanosdeestudonaFigura1.ApenasnasdécadasfinaisdoImpérioéqueseiniciouumlentoprocessodedifusãodeescolaspúblicaseaumentodonúmerodealunosmatriculados(Marcílio2005,115).
DuranteoperíodoconhecidocomoPrimeiraRepública,ocorreramdiver-sasmudançasnocampoeducacional.Emprimeirolugar,aConstituiçãoRepublicanade1891estabeleceuqueapenasindivíduosalfabetizadosti-nhamdireitoaovoto,portanto,somenteumaparcelareduzidadapopu-laçãoseriaconsideradaaptaavotar.Dessaforma,fornecermaioracessoàeducaçãopassouasertambémumaquestãopolítica,umavezquenãosomentesatisfariaasdemandasdapopulação,comotornariapossívelan-gariarummaiornúmerodeeleitores.
Alémdisso,estanovaConstituiçãodescentralizavaaadministraçãodosistemaeducacional,tornando-aresponsabilidadedosestadosemunicípios.Ofatodeogovernobrasileiroterdelegadoaadministraçãodoensinoaosestadosduranteboapartedahistóriaeducacionaléincluídocomoumadascausasparaoatrasoeducacionaldopaís(Colistete2016) eparaasdesigualdadesregionais,poisosestadosnãopossuíamomesmovolumederecursoseapenasogovernocentralconseguiriaarrecadarosrecursosne-cessáriosparademocratizaraeducação.Dessaforma,osestadosmaisde-senvolvidoseurbanizadostiveramumprogressoeducacionalsensivelmentemaisrápido(comoéocasodeSãoPauloeoutrosestadosdasregiõesSuleSudeste,comoépossívelnotarnasFiguras5e6).
Ainda,duranteaPrimeiraRepública,osistemaeducacionalbrasileiropou-coevoluiueaspolíticaseducacionaisadotadaspelosgovernantesdope-ríodoforam,emgrandeparte,controversasepoucoefetivaslevandoaumbaixocrescimentonastaxasdematrículaseconclusões,crescimentoesteconcentradonasregiõesmaisricaseurbanizadas,comopodeservistonasFiguras3e4.DeacordocomKang(2010),issopodeserexplicadopeladistribuiçãoaltamentedesigualdepoderpolíticonoperíodo.Eleargumen-taqueumaexpansãodaeducaçãopúblicasignificativadependeriadeuma
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maiorparticipaçãopolíticadasclassesquemaisseriambeneficiadasporestaexpansão,istoé,osmaispobres.Aumentandoaparticipaçãopolíticadapopulação,atravésdesuspensãodasrestriçõesaovoto,osindivíduosteriammaiorpoderparademandareducaçãopública,deformaqueaalfa-betizaçãodapopulação,bemcomoataxadematrículas,elevaria.
Apósacrise1929eseusreflexosparaaeconomiabrasileira,oEstadoado-touumaposturamaisintervencionista,especialmentenoquedizrespeitoàeducação.Somando-seaistoàRevoluçãode1930,umanovareformadoensinofoiproposta,comaintençãodecriar,pelaprimeiravez,umsistemanacionaldeensino.Em1931foicriadooMinistériodaEducaçãoeSaúde,elogoseseguiuacriaçãodaprimeirauniversidadepública,em1934,lo-calizadaemSãoPaulo.Apartirdaí,onúmerodeuniversidadescresceulentaecontinuamente.Noqueserefereaoensinosecundário,areformaestabeleceudiretrizesmaisclarasquenasdécadasanteriores.Oensinoprofissionaltambémseexpandiunoperíodo,estimuladopeloprocessodesubstituiçãodeimportações,queseintensificariafuturamente.
Oensinosecundárioentrouemfoconesseperíodo,oqueéevidenciadonopainelb)daFigura3,ondeataxadematrículanesteníveldeensino,quesemantiverapraticamenteamesmaentre1907e1932,passaacres-cerapartirdemeadosdadécadade1930.Todavia,aindanestemomentoapequenaexpansãodoensinosecundárioeravoltadaprincipalmenteàselites,aopassoqueparaasclassessociaismenosfavorecidassurgiacomoopçãooensinomédioprofissionalizante,representadoprincipalmentepeloensinoindustrial,oquepromoviaumprocessodesegmentaçãosocialdaeducação(Marcílio2005).
Nadécadade1940,oministériodaeducaçãovoltaaimplementarrefor-masparciais,chamadasdeLeisOrgânicas.Essasreformastangenciavamprincipalmenteoensinoprimárioesecundárioe,emalgunscasos,cursosdoensinoprofissional,comoéocasodasLeisOrgânicasde1942e1946.EstaspassaramareconheceroscursosIndustrial,Comercial,NormaleAgrícolacomosendodenívelsecundário.SeusefeitospodemsernotadosnaFigura6,ondeseregistraumgrandeaumentononúmerodeindivíduoscomensinoprimárioemédioentre1940e1950.Ainda,influenciadoporpropostasinternaseexternas,noperíodoentre1945e1964,osistemaeducacionalbrasileiropassouporimportantestransformações.Foramcria-dascampanhascomointuitodepromoveraalfabetizaçãodeadultos,eaexpansãodoensinoprimárioesuperior.
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LeeeLee(2016)pontuamqueoperíododecrescimentomaisaceleradodasmatrículas,emnívelmundial,deu-sesomenteapósaSegundaGuerraMundial.Noperíodoanterior,apenasospaísesmaisdesenvolvidos,queimplementarampolíticasdeescolarizaçãobásicaobrigatóriaentreossécu-losXVIIIeXIX,viramumaexpansãorealdonúmerodeindivíduosmatri-culados,emespecialnosensinosprimárioesecundário.Noquetangeaospaísesmenosdesenvolvidos,ocrescimentodataxadematrículasganhourelevânciasomenteapósadécadade1950,oquetambémpodeservistonaFigura1,ondeocrescimentodamédiadeanosdeestudodoBrasilficamaisevidenteapósadécadade1940.
AlémdoatrasorelativodoBrasil,tambémforamconstatadasdisparida-desregionaisemeducaçãointernasaopaís,contribuindoparageraçãodedesigualdadesocial.AFigura2ilustraessepontousandoataxadealfabe-tizaçãodapopulação.Apesardograndeaumentodaproporçãodealfabeti-zadosemtodoopaís,entreofinaldoséc.XIXeocomeçodoséculoXXI,verifica-seumrelativoatrasodealgumasregiões.NoCensode1872,asregiõescommaiorproporçãodealfabetizadoseramNorteeSul,enquan-tonãohaviagrandedistinçãoentreSudeste,NordesteeCentro-Oeste.AntesdofinaldoséculoXIX,aregiãoSudeste jáapresentaaceleradocrescimentoemcomparaçãocomasdemais.AregiãoCentro-Oeste,noentanto,sóchegaaoníveldealfabetizaçãodasregiõesqueem1872erammaisavançadasdepoisde1900,enquantoaregiãoNordestesóchegaaesseníveldepoisde1920.Essaregiãopermanececomamenortaxadealfabe-tizaçãonoperíodoemesmonoanofinal,2010,aelachegaaumnívelquefoiatingidopelasregiõesmaisalfabetizadasjáem1980.
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Figura 2 - Alfabetização nas Regiões Brasileiras
Fonte: CensosDemográficos/IBGE. Elaboração própria.Dados para a população de 5 anos oumais.Obs.: oCensode1900omitiu algunsdistritosdapesquisa, epor essemotivonãoo incluímosnessegráfico.
EssepanoramageraldaeducaçãonoBrasilrefletepolíticaseducacionaisaolongodetodooséculoXX,queafetamasmatrículaseconclusõesnosgrausescolares.Essastaxasdãoumavisãodocomportamentodosistemaeducacionalbrasileiroeexpõemobaixíssimoníveldematrículasemtodososgrausescolareseoaindamenorníveldeconclusões.Tambémchamaatençãoquãopequenafoiaevoluçãodoacessoàeducaçãonoperíodo,emespecialnoensinosuperior,queem1960possuíamenosde2%dapopu-laçãomatriculada.
AFigura3mostraaproporçãodematriculadosemcadagrauescolareapopulaçãonafaixaetáriaconsideradaidealparaonível.Todasasregiõesbrasileirasapresentamumcrescimentodastaxasdematrículaemtodososgrausescolares,ocorrendoprimeiroedeformamaisacentuadanoensinoprimário.95
5 ALei5.692/1971,conhecidacomo2ªLeideDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional,promoveumudançasnaorganizaçãodosgrausescolaresdaeducaçãobásica,substituindooprimáriodequatroanoseosecundáriodeseteanos(quatroanosno1ºcicloetrêsanosdo2ºciclo)pelosistemacomumprimeirograudeoitoanoseumsegundograudetrêsanos(Kang2018).ApesardessasmudançasexplicarempartedosmovimentosverificadosnasFiguras3e4após1970,elasnãoalteramnossasestimativas apresentadasnasFiguras6 a12.Comodescritona seção3.2,nessas estimativas, nós
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Figura 3 – Taxas de Matrícula
Fonte:OsdadosdematrículassãoprovenientesdosAnuáriosEstatísticosdoBrasil,dediferentesanos(DGE1912-1936;IBGE1932-1980)edoCensoEscolarde1995e2000paraosanosposterioresà1990.Parasechegaràtaxadematrícula,dividimosonúmerodeindivíduosmatriculadospelototaldapopulaçãonafaixaetáriaaproximadadefrequênciaidealdecadanívelescolar(Primário:5a14anos;Secundário:10a19anos;Profissional:10a19anos;Superior:20a24anos).
Oensinosecundárioeoprofissionalpossuemníveisiniciaiscomparativa-mentemuitomaisbaixose,emtodasasregiões,oprimeirosócomeçouaapresentarcrescimentoapartirde1932.Nocasodoensinosuperior,
consideramosagregadoscompatíveiscomosistemaanterioràquelaLei.
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apesardeaumentosignificativonasprimeirasdécadasdoséculoXXnasregiõesNorte,SuleSudeste,sóháumatendênciadecrescimentosiste-máticodataxanasdemaisregiõesapartirde1942.
Comparandoasregiões,éperceptívelqueasregiõesSuleSudesteapresen-tamasmaiorestaxasemquasetodososníveisdeensino.Particularmente,ocrescimentodataxaparaessasduasregiõesnonívelsuperioréexpressi-voapartirdadécadade1940.Emcontrapartida,aregiãonordesteapre-sentaasmenorestaxasemtodaasérieparaoensinoprimárioe,comex-ceçãodealgunspontos,tambémnosníveissecundárioeprofissional,mascomníveisdematrículaaindamuitobaixos.AsregiõesNorteeCentro-Oestetêmtaxasmedianasemcomparaçãocomasdemaisregiõesparaosníveisprimárioesecundário,masemparticular,aregiãocentro-oestetemaspiorestaxasdematrículanoensinosuperiorduranteoperíodo.
NaFigura4apresentamosastaxasdeconclusão,calculadascomoapro-porçãodeconcluintesemrelaçãoàpopulaçãonafaixadeidadecorrespon-denteaograuescolar.Ataxadeconclusãorefletedeformamaisprecisaoincrementodeumgrauescolaremumafaixadeidade,porém,excetopeloensinosuperior,cujasérieseiniciaem1912,osdemaisgrausescolarespossuemdadosdisponíveissomenteapartirde1932.
EnquantoasregiõesSuleSudesteapresentamcrescimentoentre1932e1942,ataxanasdemaisregiõespermanecepraticamenteconstante.AregiãoNorteéaquelacujataxamaisdestoadocomportamentodacurvadetaxadematrículas,oqueéexplicadoempartepela imprecisãodasinformações,emparticularparalocaismaisdistantesdocentropolíticoe intelectualdopaísecommaioresdificuldadesdeacesso.Na regiãoCentro-Oeste,aquedanopercentualdeconcluintesentreasdécadasde1950e1960podetersidocausadaporfatoresdemográficos,umavezquenametadefinaldadécadade1950,acidadedeBrasíliafoiconstruída,causandoumgrandeaumentodonúmerodehabitantesdaregião.Dema-neirasemelhanteàtaxadematrículas,ataxadeconclusõesparaosensinossecundário,profissionalesuperiorsãomuitopequenasemtodasasregiõesbrasileiras.OensinosuperiortambémapresentacrescimentodastaxasdeconclusãodasregiõesSuleSudestecomrelaçãoàsdemaisapós1940.106
6 ApresentamosnoApêndicegráficoscomonúmeroindivíduosnafaixaetáriacorrespondenteacadagraudeensinodivididopelonúmerodeescolasdestemesmograu.
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Comparandoataxadeconclusãoàtaxadematrículaépossívelterumanoçãodamagnitudedataxadeevasãoescolarnoperíodo,principalmentenoensinoprimário.Istosedeveaofatodequeaprincipalbarreiraparaacontinuidadedosestudosseencontravanatransiçãoentreoensinoprimá-rioeoensinosecundário,deformaqueboapartedosindivíduosqueaban-donavamosestudosofaziamaindanoensinoprimário(Marcílio2005).
Figura 4 – Taxas de Conclusão
Fonte:OsdadosdeconclusãodecursosãoprovenientesdosAnuáriosEstatísticosdoBrasildediferentesanos(DGE1912-1936;IBGE1932-1990)edoCensoEscolarde1995e2000paraosanosposterioresà1990.Parasechegaràtaxadeconclusão,dividimosonúmerodeconcluintespelototaldapopulaçãonafaixaetáriaaproximadadefrequênciaidealdecadanívelescolar(Primário:5a14;Secundário:10a19;Profissional:10a19;Superior:20a24).
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Osresultadosacimadescritospodem,emparte,serexplicadospelaformadeorganizaçãoeevoluçãodosistemaeducacionalbrasileiro.Inicialmente,antesdo séculoXX,o sistemaeducacionalbrasileiroevoluiumuito lentamente,principalmenteduranteoperíodoemqueopaísfoicolôniaportuguesa.
5. Resultados
Emprimeirolugar,aFigura6mostranossaprimeiracontribuiçãoempíricaprincipal,osestoquespopulacionaisporescolaridadeestimadosparaoBrasilapartirdosníveisiniciaiscalculadosparaoanode1900.Aslinhasrepresentamosníveisestimadosdepessoasemcadagrauescolar(primá-rio,secundárioeensinosuperior),enquantoospontosmostramostotaisobtidosapartirdosCensosDemográficosde1950a1960.
Paraoensinoprimário,maioriadapopulaçãoeducadanoperíodo,nossaestimativaésemelhanteaoobservadonoCensoDemográficode1950,masem1960subestimamosonúmerodepessoascomesseníveldeensino.UmapossívelexplicaçãoparaissoéquenoCensoDemográficodesteanoosindivíduosdeclararamsuaescolaridadeindependentedamodalidadedeensinoquehaviamcursado,aopassoqueosdadosutilizadosparaestimarapopulaçãocomensinoprimárionesteperíodo,provenientesdosAEBs,nãoincluíamaquelesquehaviamcursadooensinosupletivo,restringindo-seapenasaosindivíduosquefrequentavamoensinoprimáriofundamentalcomum.
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Figura 6 – Número de Pessoas com 5 Anos ou Mais por Grau Escolar
Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasrepresentamasestimativasparatodooperíodoeospontosrepresen-tamosdadosobservadosnosCensosDemográficos(IBGE1940-1960).
Figura 7 – Composição Educacional do Brasil
Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasrepresentamasestimativasparatodooperíodoeospontosrepre-sentamosdadosobservadosnosCensosDemográficos(IBGE1940-1960).
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Paraosoutrosdoisníveisdeensino,nossasestimativasestãomaispróxi-masaosníveisobservadosem1950e1960,oqueaumentanossaconfiançasobreelasparaaprimeirametadedoséculoXX.ComomostraaFigura6,aquantidadedepessoascomoprimáriocompletoémuitosuperioràque-ladosdemaisníveiseducacionais,eapresentacrescimentosubstancialapartirde1940.AFigura7mostraqueaparceladapopulaçãocomensinoprimário,secundárioesuperiorcrescerammuitolentamenteaolongodaprimeirametadedoséculoXX.Aproporçãodepessoascomensinopri-máriocompletonapopulaçãopermaneceuemtornode5%entre1900e1930.Nesseperíodo,aproporçãodepessoascomensinomédiocompletopermaneceusempreabaixode1%,eaproporçãocomensinosuperiorcompletoestavaabaixode0.3%.
NossosegundoresultadoprincipaléaestimaçãodoíndicedeGiniedu-cacionalduranteaprimeirametadedoséculoXX,paraoBrasilequatrodascincoregiõesbrasileiras,quemostramosnasFiguras8e9.AregiãoNortefoiexcluídadaanálisedevidoàbaixaqualidadedeinformaçõesparaocomeçodoséculoXX,porém,nocálculodoíndiceparaoBrasilestãoincorporadastodasascincoregiões.Adicionalmente,éutilizadaamesmametodologiadeagregaçãoemcincogruposdeescolaridadeparaosdadosdosCensosde1950a2000parafinsdecomparação.
Figura 8 – Gini Educacional Estimado vs Real – Brasil
Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasparaoperíodoentre1900e1960representamasestimativasdoGinieducacional feitas apartirdacomposiçãoeducacional anteriormenteestimada.Ospontosentre1950e2000representamoGinieducacionalcalculadoapartirdosdadosdosCensosDemográficos(IBGE1950-2000).
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Figura 9 – Gini Educacional Estimado vs Real por Região
Fonte:Elaboraçãoprópria.Aslinhasparaoperíodoentre1900e1960representamasestimativasdoGinieducacional feitas apartirdacomposiçãoeducacional anteriormenteestimada.Ospontosentre1950e2000representamoGinieducacionalcalculadoapartirdosdadosdosCensosDemográficos(IBGE1950-2000).
Emprimeirolugar,nossasestimativaschegama1950e1960muitopró-ximasaosníveisobtidosapartirdosestoquespopulacionaisporeducaçãoobservadosnosdadosdosCensosDemográficos,oquenostrazconfiançasobreosmovimentosdoindicadornaprimeirametadedoséculoXX.
Comoesperado,oníveldedesigualdadeeducacionalem1900ébastanteelevadoe,aoinvésdecaircomoaumentodeindivíduosescolarizados,adesigualdadeeducacionalbrasileirasemantémpraticamenteestávelemumnívelelevadoduranteboapartedaprimeirametadedoséculoXX.NaFigura9,mostramososíndicesseparadamenteporregião.Em1900,asquatrosériesestãorelativamentepróximasentresi(entre0,73paraaregiãoSule0,80paraasdemais).Adesigualdadeinternaàsregiõestemvariaçãoperceptívelaolongodotempo.Nasprimeirasdécadasdosécu-lo,apenasaregiãoSulapresentadeclíniono índicedeGini,enquantoasoutrastrêsregiõesanalisadaseoBrasilapresentamumaumentodedesigualdade.Notadamente,aregiãoNordestemantém-secomamaiordesigualdadedurantetodooperíodoanalisado.AregiãoSulpermaneceatéaofimdadécadade1950comamenordesigualdade,masaregião
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Sudeste,quetemquedaexpressivadesdeadécadade1920,aproxima-seconsideravelmentedesdemeadosdoséculo.AquedadedesigualdadeparaasregiõesCentro-OesteeNordeste,entretanto,passaaserexpressivaape-nasnoiníciodadécadade1950.AregiãoCentro-Oeste,queatéametadedoséculoestavaconsideravelmentepróximadaregiãoNordeste,em2000,encontra-semuitomaispróximadasregiõesSuleSudesteemtermosdedesigualdadeeducacional.EnquantoasregiõesSudesteeCentro-Oeste,obtiverammelhorasnadistribuiçãoeducacionalqueasaproximaramdaregiãoSul,aregiãoNordestemanteve-seafastadadasdemaisregiõesper-manecendocomamaiordesigualdadeeducacional.ÉpossíveldiferenciaradinâmicadoSuleSudestedasdemaisregiões,etambémnotarqueadesigualdadeeducacionalnesteslocaissemprefoimenor.
Osgráficosaseguirservemcomoumabaseparaverificaçãoecompara-çãodosresultadosdasnossasestimativasdoíndicedeGinieducacional.Atravésdessascomparações,notamosquenossasestimativasestãobastantepróximasdaquelasobtidasapartirdemicrodados,bemcomoatendênciadereduçãodadesigualdadeeducacional,especialmenteapartirdadécadade1950,seconfirmaquandoobservamoscadacoorteindividualmente.
Figura 10 – Gini Educacional Microdados vs Agregados
Fonte:CensosDemográficos/IBGE.Elaboraçãoprópria.
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AFigura10apresentaacomparaçãoentreocálculodo índicedeGiniusandoametodologiadeagregaçãoporníveiseducacionais(i.e.semvaria-çãointragrupo)eocálculoutilizandodadosemnívelindividual.AmbasassériesfazemusodosdadosdoCensoDemográfico,porém,apenasapartirde1960épossívelutilizarmicrodados.Aestimaçãocomdadosagregadossitua-seacimadaqueladenívelindividualemtodososanos.Comoparadefiniros5gruposdeníveldeensinofoiconsideradoapenasoúltimonívelconcluídoporcadaindivíduo,aodesconsideraravariaçãointragrupos,aagregaçãoprovavelmentesubestimaosanosdeestudodaparcelaeducadadapopulaçãoesuperestimaoíndice.Noentanto,épossívelobservarqueastendênciasdelongoprazodasduassériessãomuitosemelhantes,oquenosdámaiorconfiançasobreassériesestimadasparaaprimeirametadedoséculoXX.
Épossívelperceber,entretanto,queadiferençaémenornosanosde1960e1970.Dadoqueaproporçãodepessoascomeducaçãoformalaumentaao longodo tempo, adiferençaentreasduas séries tendeaaumentarcomopassardotempo.Assim,asuperestimaçãodoíndicetendeasermenosexpressivadocomeçoàmetadedoséculo,períododeinteressedessaanálise.
Figura 11 – Gini Educacional por Coortes de Nascimento
Fonte:DadosdosCensosDemográficos(IBGE1960-2000).CadaumadaslinhasrepresentaumCensoDemográfico,eospontosrepresentamoGiniEducacionalcalculadoparaaquelacoortenaqueleCensoDemográfico.
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AFigura11mostraumaformaalternativadeseestimaraevoluçãodoíndicedeGinieducacional,separandoosdadosporcoortedenascimentode1900a1990,observadosnosmicrodadosdosCensosapartirde1960.Podemosobservarqueosvaloresdoíndicesereduzemcontinuamenteacadanovacoorte,oquecontrastacomaestabilidadeinicialdoíndicedeGinieducacionalparatodooestoquepopulacionalaté1940(comovistonaFigura8).Essasdiferençaspodemserexplicadaspordoisfatores.Emprimeirolugar,comaexpansãodosistemadeensinoaolongodotempo,atendênciadereduçãodadesigualdadeeducacionalsignificaqueacadageração,maisindivíduosforamincorporadosaosistemaeducacional,demodoatorna-losmaishomogêneosentresiemtermosdeescolaridade.Apesardessasmudançasnascoortesdenascimento,astransformaçõesocorridasparaoestoquepopulacional sãomais lentas,umavezque,acadainstante,háváriascoortescoexistindo,ecadacoortecorrespondeaapenasumapequenaparceladapopulaçãototal,comdiferentesníveisdedesigualdadeeducacional.
Osegundofatorseriaumaseleçãopossivelmentediferenciadaporescola-ridadeaolongodotempo(devidoàsdiferençasdastaxasdemortalidade),deformaquesomenteosmaisescolarizadossobrevivematéasidadesmaisavançadasesãoabrangidospelosCensosapartirde1960.Noentanto,epossívelnotarqueaslinhasnãosedistanciammuitoumasdasoutras,oquesignificaqueessaseleçãoépequenaemcomparaçãocomavariaçãoentreascoortes.
Dessaforma,nossametodologiapermitechegaraestimativasmaisade-quadas,umavezquecomelaconseguimosestimaroíndicedeGiniparatodasascoortesemumdadoinstante,enãoincorremosnoviésdeseleçãodevidoàdiferenciaçãodastaxasdemortalidadeporníveldeescolaridade.
Porfim,realizamosumacomparaçãodosnossosresultadoscomaqueledeVanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015)paraoBrasil,mostradonaFigura12.Apartirdeumpontoinicialmuitosemelhanteem1900,ficaclaroque,emcontrastecomnossaestimativa,oGinieducacionalcalculadopelosautoresdecrescesistematicamentedesdeoiníciodoséculoXX.Apartirde1950,quandojáépossívelrealizardiretamenteestimativasdeestoqueseducacionais,astendênciasdasduassériesseigualamemummovimentodecrescente,porémemníveisdiferenciados.Conformejáargumentamos,noiníciodoséculo,oestoquequefaziamaiordiferençaparaadesigualda-deeducacionaleradeanalfabetos.
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Figura 12 – Comparação de Gini Educacional por Coortes de Nascimento
Fonte:VanLeeuweneVanLeeuwen-Li(2015);CensosDemográficos;AEB.Elaboraçãoprópria.Alinhaparaoperíodoentre1900e1960representamasestimativasdoGinieducacionalfeitasapartirdacom-posiçãoeducacionalanteriormenteestimada.Ospontosentre1950e2000representamoGinieducacio-nalcalculadoapartirdosdadosdosCensosDemográficos(IBGE1950-2000).
6. Conclusões
Esteartigotemointuitodecontribuirparaodebateacercadosdetermi-nantesdaelevadadesigualdadesocialobservadanopaís.Apesardarecentetendênciadequedadadesigualdadederenda,oBrasilaindaéumdospaí-sesmaisdesiguaisdomundo,epartedessasituaçãopareceserresultadodoprocessodiferenciadodeexpansãoeducacionalnasregiõesbrasileiras.Alémdisso,esteartigovisacontribuirparaaliteraturaapresentandoesti-mativasmaisprecisasdeestoqueseducacionaisparaapopulaçãobrasileiraconstruídasapartirdediversasfontesdedadoshistóricosnãoutilizadoscomestafinalidadeanteriormente.Paraverificaressahipótese,construí-mossériesdeumíndicedeGinieducacionaldesdeoiníciodoséculoXXparaoBrasileasregiõesanalisadas.
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Considerandoodesafiodenãohavermicrodadosderecenseamentospo-pulacionaisdisponíveisparaaprimeirametadedoséculoXX,oartigotrazduascontribuiçõesempíricasprincipais.Emprimeirolugar,realizamosestimativasdosestoquespopulacionaisporescolaridadeestimadosparaoBrasil,apartirde1900.NaprimeirametadedoséculoXX,amaioriadapopulaçãoédeanalfabetos,porém,ocrescimentodonúmerodepessoascomoprimáriocompletoapresentacrescimentoapartirde1940.Entre1900e1930,contudo,aproporçãodepessoascomensinoprimáriocom-pletonapopulaçãoficouemtornode5%,aopassoqueaproporçãocomensinosecundáriocompletopermaneceusempreabaixode1%eaparcelacomensinosuperiorestevesempreabaixode0,3%.
NossasegundacontribuiçãoempíricafoiocálculodeíndicesdeGiniedu-cacionaisparaoBrasileasregiõesbrasileirasnomesmoperíodo.Nossosresultadosindicamqueadesigualdadeeducacionalerabastanteelevadaem1900.Deacordocomasnossasestimativas,naqueleanoagrandemaioriadapopulaçãobrasileiracommaisde5anoseracompostaporanalfabetos(68,7%)ouporpessoassemoprimáriocompleto(25%),oquegeraumíndicedeGinide0,78.Osistemaeducacional,emgeral,poucoacessívelàpopulação,tambémcontribuiuparaamanutençãodadesigualdade,demodoqueageraçãonascidaentre1900e1910manteveumadesigualdaderelativamenteelevada(comíndicedeGinide0,69em1960).
Entre1900e1920,adesigualdadeeducacionalbrasileiraaumentou:con-sequênciadeumsistemaeducacionalemexpansão,masaindabastanterestrito.Aolongodasdécadas,noentanto,asnovasgeraçõestornaram-secadavezmenosdesiguais,oqueémedidopelodeclíniosistemáticodoGinieducacional.Paraosnascidosnadécadade1980,oíndiceépróximode0,3,tendocomoreferênciaocensode2000.Essemovimentofoicon-cretizadopeloaumentodematrículas inicialmentenoensinoprimário,eposteriormentenosecundárioesuperior,umavezquenocomeçodoséculoagrandemaioriadapopulaçãotinhaescolaridademuitopróximadezero.Dessaforma,areduçãodadesigualdadeeducacionalcoincidecomumaumentodonívelmédiodeescolaridade.Aintroduçãosucessivadasnovasgeraçõesmaiseducadasnoestoquefoireduzindoadisparidadegeraldeeducação,resultandoemummovimentodereduçãodadesigualdadenototaldapopulaçãoentre1920e2000.
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NoiníciodoséculoXX,adesigualdadeeducacionalerasemelhantenasregiõesbrasileiras,comumíndicedeGinientre0,73e0,81.Aolongodoséculo,aordenaçãodessasregiõesemtermosdedesigualdadeeduca-cionalnãomudou,masadiferençaentreasregiõesaumentousensivel-mente,em2000,asregiõescommaioremenordesigualdadeeducacio-nal,aregiãoNordesteearegiãoSudeste,tinhamíndicesde0,59e0,43respectivamente
Oacessoaosistemadeensinoeadistribuiçãodeeducaçãonãosomentesãoreflexosdeumprocessohistóricodedesenvolvimento,mastêmin-fluênciaexpressivasobreessemesmoprocesso.Aregiãonordesteapre-sentanofimdoséculoapiordistribuiçãodeeducação,eétambémaquelacompiordistribuiçãoderendaePIBper capita.11Emcontrapartida,aregiãosul,queduranteamaiorpartedasérieanalisadapermaneceucomamenordesigualdadedeeducação,nofinaldoséculofiguracomaspri-meirascolocaçõesemdistribuiçãoderendaePIBper capita.12 Distinguiressesefeitoséumatarefaquevaialémdoescopodestetrabalho,masosresultadossugeremquehárelaçãoentreessesindicadores.
Essaevoluçãoapresentadadadesigualdadeescolarajudaaesclarecer,emparte,adesigualdadesocialentreasregiões.Oaumentodaescolaridade,associadoàreduçãodadesigualdade,pareceterumpapelrelevanteparaexplicarasdiferençasderendaobservadasaolongodoséculoXXequeaindapersistematualmente.
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11InstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA).http://www.ipeadata.gov.br/Consultadoem21desetembrode2016.
12 InstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA).http://www.ipeadata.gov.br/Consultadoem21desetembrode2016.
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Apêndice - Detalhamento sobre Dados de Ensino Superior
Excetoparatrêsescolasdenívelsuperior,nãoconseguimosencontrarda-dosdematrículasnesseníveldeensinoparaoséculoXIX.Naausên-ciadessasinformações,procedemosdeduasformasdiferentes(que,noentanto,levaramaresultadossemelhantes).Emprimeirolugar,osAEBsfornecemdadosdematrículasnoensinosuperiorem1907(AEBde1953)porestadoe,alémdisso,onúmerodeescolasdenívelsuperiornofinaldoséculoXIXéconhecido(AnísioTeixeira1989).Comessasduasinforma-ções,tentamosaproximaronúmerodematriculadosexistentesem1890,supondoqueem1907asescolaspossuíamnúmerosemelhantedealunosentresi.Dessaforma,ajustamosonúmerodealunosde1907àsescolasexistentesem1890,supondoadicionalmentequenãohouvecrescimentorelevantedonúmerodevagasporinstituição.Apesardesetratardeumaaproximação,acomparaçãocomosdadosparaastrêsescolasdisponíveismostraqueosnúmeroscalculadosnãoestãomuitolongedarealidade.Apartirdessesnúmeros,calculamosonúmerodematrículascomopro-porçõesdapopulaçãoentre20e24anos.
Umacríticaquepoderiaserfeitaaométodoanteriorseriadequenãote-mosestimativasdemigraçãodosgraduadosentreosestados,demodoquesóconseguiríamosrealizarestimativasnosestadoscomalgumaescoladenívelsuperior.Nãoépossívelconhecera prioriadireçãodoviésdevidoaessemétodoemtodososestados,umavezqueépossívelqueestadossemescolasdenívelsuperiortenhamgraduadosquemigraramparalá,eestadoscomescolasdenívelsuperiortambémpodeatrairgraduadosdeoutrosestados.Natentativadelidarcomesseproblema,tentamosobterumaestimativadoestoquedepessoascomnível superiorapartirdasinformaçõesdeprofissãodoCensode1872.Paraisso,consideramosquetodasaspessoasqueexerciamalgumasprofissõesliberaiseramformadasnonívelsuperior.Apartirdessasinformações,obtivemosaproporçãodepessoascomensinosuperiornapopulação.
NocasodaestimativadeformadosnoensinosuperiorapartirdoCensode1872,nósaplicamosaproporçãoobtidaàpopulaçãocom25anosoumaisem1900e,emseguida,aplicamosasdemaisproporçõesaorestantedapopulaçãosemoensinosuperior.