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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE – UNICENTRO
MARGARETH DE FÁTIMA MACIEL
LAURETE MARIA RUARO
NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS A EDUCAÇÃO
2012
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SUMÁRIO
1. Introdução ....................................................................................................................04
2. Introdução ao Ambiente Virtual de Aprendizagem - Moodle..................................05
2.1. O que é o Moodle..................................................................................................07
2.2. Conhecendo o Moodle.....................................................................................................08
3. O impacto das novas tecnologias de comunicação e informação na educação …..11
4.Fundamentos da informática na educação.................................................................16
4.1. A evolução da técnica ..........................................................................................16
4.2. A condição humana e do meio ambiente......................................................
4.3. As tecnologias na escola...............................................................................
4.4. A mudança necessária na educação ….........................................................
5.Contexto histórico da informática educativa no Brasil e a formação de professores.
5.1.A formação dos professores para uso da informática na escola…...............
5.2. A formação nos Centros de Pesquisa.....................…..............................
5.3. A formação de professores para os CIEDs, CIETs e CIEs......................
5.4. A formação de professores na atualidade….............................................
6. Informática educativa .................................................................................................
6.1. Software educacional...................................................................................
6.2. Software livre cmaptools e aprendizagem significativa.............................
7. Redes sociais ..............................................................................................................
7.1.Conhecendo a organização da Web …............................................................
7.2.A cultura da internet
7.3.Rede social e comunidade virtual de aprendizagem
7.4.Possibilidades pedagógicas na rede
8. Educação a distância ...................................................................................................
8.1. Educação a distância: introdução
8.1. Flexibilização de tempo e espaço pedagógico
8.2. Didática para EaD.........................................................................................
8.3. Tecnologias da informação e comunicação....................................................
8.4. Modelos teóricos na educação a distância......................................................
3
8.5. Políticas para educação a distância no Brasil..................................................
9. Considerações finais ......................................................................................................81
10. Referências bibliográficas............................................................................................82
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1. Introdução
Escrever não é tarefa fácil, sobretudo quando se trata de atender uma proposta
inesperada e, também, muito provocadora. Na tentativa de trazer algo novo e descobrir, ao
mesmo tempo, a novidade escrevendo, empregamos aqui as palavras mais particulares e
abertas para fazer sentido o motivo que as despertou. Particulares, pois representam nossa
análise sobre o tema e, abertas para que possam receber toda contribuição e ampliar as
discussões ora apresentadas.
Escrevemos em duas mãos sobre um tema muito presente no âmbito educacional,
mas que necessita de muitas revisões e novas discussões para que possa ser utilizado da
melhor maneira e da maneira mais adequada. Trata-se da inserção das novas tecnologias na
educação.
Quando mencionamos novas significa estarmos falando dos sistemas
teleinformáticos mais recentes como mídias, interatividade, conexão, rede e ciberespaço
que são algumas das palavras chave que compõem esse universo e que será objeto de
análise.
A construção de concepções e perspectivas em torno do uso das tecnologias na
educação constitui em um desafio para quem está iniciando um novo olhar sobre a
formação e a prática de professores, a partir das mudanças nos sistemas produtivos
decorrentes dos enormes avanços técnicos dos processos de informatização e de
comunicação na sociedade.
Com o intuito de trazer, não apenas dados e informações sobre este tema, mas
também perceber a sua construção numa perspectiva mais reflexiva e crítica propomos
uma divisão meramente didática dos conteúdos para situar melhor o seu desenvolvimento
no transcorrer dos períodos e, que está distinta em dois momentos.
O primeiro traz uma abordagem ampla e genérica do impacto das tecnologias na
educação seguido de um discurso mais aprofundado, sobre o quadro teórico que envolve as
tecnologias e suas implicações no processo educativo e, ainda, mas não menos importante
que os primeiros, a história da informática educacional apenas para situar os caminhos
pelos quais foi construído o processo de inserção da tecnologia na educação. Esse início se
caracteriza como sendo de ordem mais teórica e que irá conduzir todo nosso pensamento
na realização das atividades propostas.
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O segundo momento aborda questões de ordem mais prática como o ambiente
virtual e suas ferramentas, o que é e quais são os tipos de softwares educativos existentes, o
uso da internet, o que são redes sociais e como vem funcionando a educação a distância.
O conteúdo tratado teoricamente aqui terá sua extensão em atividades a serem
realizadas em laboratório as quais virão complementar e esclarecer muitos conceitos, bem
como desmistificar pré-conceitos sobre o tema.
Desejando pensar de um jeito claro e objetivo sobre esse conteúdo, e tendo um
quadro teórico composto pela cultura tecnológica e pelo ensino institucionalizado,
seguimos na tentativa de encontrar uma realidade sinalizada por uma ponta de esperança
daqueles que acreditam que há sempre dimensões novas a serem reveladas no dia-a-dia
aparentemente linear da educação.
Esse texto pretende abrir espaços para uma discussão em torno do uso das
tecnologias mais significativas e que adentram no campo das humanidades de modo a
influenciar incisivamente o processo educativo.
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2. Introdução ao Ambiente Virtual de Aprendizagem - Moodle
Nos últimos anos, as aulas dos cursos a distância passaram a ser mais dinâmicas e
quase que, em tempo real, devido a utilização das novas tecnologias. Os alunos podem, por
meio da internet, acessar conteúdos, atividades, vídeos, textos e participar de discussões
online utilizando uma ferramenta para o mapeamento de informações com fins
pedagógicos e que proporcione uma aprendizagem colaborativa.
Ambiente Virtual de Aprendizagem conhecido pela sigla AVA é o recurso mais
adequado para fomentar um espaço de discussão. O AVA mais utilizado na atualidade, é o
moodle e é esse ambiente que irá operacionalizar nossas aulas quando realizarmos a
distância. Vamos conhecer um pouco sobre ele na sequência.
É importante você estudar o que é um AVA, como ele surgiu, como funciona e do
que é composto para aprender e interagir melhor.
Além do moodle existem vários outros AVAs disponíveis na internet e que podem
ser aplicados na Educação a Distância – EaD, como por exemplo: Teleduc –
www.teleduc.nied.unicamp.br e o E-Proinfo – http://e-proinfo.gov.mec.br.
O TelEduc é distribuído pelo NIED – Núcleo de Informática na Educação em
cooperação com o Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas-SP e o
E-Proinfo distribuído pelo MEC. Este ambiente é denominado também de Ambiente
Colaborativo de Aprendizagem e tem como caracter~istica a distribuição gratuita.. Além
desses há o Dokeos (da Universidade Católica de Louvain) - www.dokeos.com e Bodington
(da Universidade de Oxford e do Instituto Milenium – Inglaterra) – http://bodington.org.
Há ainda aqueles ambientes que não são gratuitos como, por exemplo: Webaula,
Portal educação, Micropower, Angel learning e Black board.
Você poderá conhecer melhor esses ambientes acessando os endereços acima, mas
nosso foco de interesse, nessa disciplina, estará direcionado ao moodle que é o ambiente
utilizado nos cursos a distância na UNICENTRO e no sistema UAB – Universidade Aberta
do Brasil.
Para tanto dividimos essa primeira parte abordando aspectos conceituais do moodle,
as ferramentas disponíveis, a importância educacional do AVA e sua aplicação na
disciplina de Novas Tecnologias Aplicadas a Educação.
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2.1. O que é Moodle ?
O ambiente Moodle é o ambiente que vamos utilizar para desenvolver nossas aulas,
através dele podemos nos comunicar de forma síncrona (utilizando o chat, por exemplo) ou
assíncrona (utilizando o Fórum), ou seja, essas ferramentas permitem que a comunicação
aconteça simultaneamente ou em momentos posterior a postagem de alguma atividade.
Moodle quer dizer Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment que
significa Objeto Orientado Para Aprendizagem em Ambiente Dinâmico. É um software
livre e serve de apoio à aprendizagem online.
A expressão designa ainda o Learning Management System (Sistema de gestão
da aprendizagem) em trabalho colaborativo baseado nesse programa. Em
linguagem coloquial, o verbo to moodle descreve o processo de navegar
despretensiosamente por algo, enquanto fazem-se outras coisas ao mesmo tempo.
(JUSTIÇA DO TRABALHO, 2009, p. 01)
Esse ambiente foi criado em 1999 na Curtin University of Technology, em Perth, na
Austrália, por Martin Dougiamas, com o intuito de fomentar um espaço de colaboração,
onde os seus usuários poderiam compartilhar saberes, experimentando e criando novas
interfaces para o ambiente em uma grande comunidade aberta. (MUZZOLON, 2010)
Voltado para especialistas e acadêmicos de modo geral, é na educação que ele se
concentra constituindo-se em um sistema de administração de atividades educacionais
destinado à criação de comunidades online em ambientes virtuais voltados para uma
aprendizagem colaborativa. É um software que permite, de maneira simplificada, a um
estudante ou a um professor integrar-se, estudando ou lecionando, num curso online à sua
escolha. Não se trata apenas de uma aprendizagem como atividade social, mas focaliza a
atenção na aprendizagem que acontece enquanto construímos ativamente textos, exercícios
e outras atividades para que outros os vejam ou utilizem.
O programa por ser gratuito pode ser instalado em diversos ambientes (Unix, Linux,
Windows, MacOS X). Na UNICENTRO temos um gerenciador do moodle que está
representado na figura do coordenador de informática da Instituição. É ele quem faz a
manutenção, atualização e a administração do site.
O Moodle foi desenhado para ser compatível, flexível e de fácil modificação. Foi
escrito usando-se a linguagem popular e poderosa do PHP (preprocessador de hipertexto),
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que faz funcionar qualquer plataforma de computador com um mínimo de esforço,
permitindo que professores montem seus próprios servidores usando suas máquinas
Desktop (computador de mesa).
Este ambiente permite criar três formatos de cursos: social, semanal e modular. O
curso social é baseado nos recursos de interação entre os participantes e não em um
conteúdo estruturado. Os dois últimos cursos são estruturados e podem ser semanais e
modulares e, são centrados na disponibilização de conteúdos e na definição de atividades.
Optamos pelo sistema semanal e todo o conteúdo será dividido em semanas
contendo atividades de leitura, links, vídeos, tarefas, wikis e na medida do possível chats.
Existe uma diversidade de ferramentas que podem ser utilizadas nos cursos a
distância: as ferramentas de comunicação, as de avaliação e outras ferramentas
complementares ao conteúdo, como glossários, diários, ferramenta para importação e
compartilhamento.
2.2. Conhecendo o Moodle
O ambiente moodle se divide de duas formas com algumas ferramentas que podem
ser utilizadas em um curso na modalidade a distância que correspondem em acrescentar
recursos e acrescentar atividades e funcionam independentemente.
No botão para acrescentar recursos encontramos os seguintes elementos:
1. Criar uma página simples;
2. Criar uma página web;
3. Link a um arquivo ou site;
4. Visualizar um diretório;
5. Utilizar um pacote IMS CP;
6. Inserir um rótulo.
Cada um desses itens tem uma função específica, por exemplo, ao inserir um link a
um arquivo ou site estaremos disponibilizando um endereço da internet para que os alunos
possam acessá-lo diretamente pelo moodle e, quando queremos encaminhar um arquivo
basta seguir alguns passos definidos pelo ambiente para disponibilizar o arquivo completo
para o aluno, por meio do link direto. Como na figura abaixo.
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As ferramentas de comunicação que correspondem as atividades como, por
exemplo, o fórum de discussões, o chat e wiki, apresentam um diferencial interessante com
relação a outros ambientes, pois não há ferramenta de e-mail interna ao sistema. Ele utiliza
o e-mail externo próprio do participante é o caso da ferramenta fórum que permite ao
participante enviar e receber mensagens via e-mail externo. Logo, há uma facilidade de
cooperar com uma discussão a partir do seu próprio gerenciador de e-mails.
Com relação às ferramentas de avaliação disponíveis no Moodle são curso, pesquisa
de opinião, questionário, tarefas e trabalhos com revisão. As ferramentas permitem,
respectivamente, a criação de avaliações gerais de um curso; pesquisas de opinião rápidas,
ou enquetes, envolvendo uma questão central; questionários formados por uma ou mais
questões (10 tipos diferentes de questões) inseridas em um banco de questões previamente
definido; disponibilização de tarefas para os alunos onde podem ser atribuídas datas de
entrega e notas e, por fim, trabalhos com revisão em que os participantes podem avaliar os
projetos de outros participantes.
Conforme informações do próprio site do moodle, (www.moodle.org.br) o ambiente
está presente em 211 países, com mais de 48 mil sites registrados, mais de 44 milhões
usuários e mais de 140 mil downloads mensais chegando a 180 mil no mês de maio de
2010. Dentre as regiões com mais usuários se destacam os países do Reino Unido e Vietnã.
O Brasil se destaca com algumas universidades com maior número de cursos a distância
administradas pelo tendo o sistema UAB - UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
criada em 2005 para oferecer cursos de formação continuada a professores do ensino
básico. O seu grande diferencial está no fato de que possibilita aos seus usuários a
customização deste ambiente de acordo com os seus interesses e propósitos pedagógicos.
Segundo Alves et al (2009), esta plataforma integra muitas das características
esperadas de uma plataforma e-learning, como fóruns de discussão configuráveis, ainda
que de forma limitada; gestão de conteúdos, permitindo a edição direta de documentos em
formato texto e HTML (HyperText Markup Language); criação de questionários com
possibilidade de opção por vários tipos de resposta; sistema de chat com registro de
histórico configurável; sistema de Blogs; editor Wiki; sistema de distribuição de inquéritos
estandardizados; sistema de gestão de tarefas dos utilizadores, etc. Essas características e o
fato de ser traduzido em mais de 60 idiomas, confirma a grande aceitação da plataforma
junto a seus usuários na Internet.
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3. O impacto das tecnologias de informação e de comunicação na educação
Desde o princípio da humanidade, esta vem mantendo sua sobrevivência por meio
de vários mecanismos que proporcionam mudanças nas próprias condições da vida que
vive e das relações que constrói e mantém.
A partir daí, ao mesmo tempo, em que ocorreu a transformação da natureza em
decorrência das ações humanas, ocorreu a transformação da humanidade em relação à
visão que passa a ter da natureza e de si mesma, ou seja, passa a perceber que está munida
de instrumentos que desencadeiam o desenvolvimento de suas habilidades e a torna capaz
de intervir, criar e modificar o meio em que vive.
É o meio social que vai proporcionar à humanidade condições de tornar-se humana
e assim dar continuidade a sua vida biológica, embora a cultura e o biológico constituam-
se como elementos de natureza diferente em que, fica claro que o que se passa na vida
social atinge e altera diretamente a vida individual e vice-versa. A humanidade, então, vai
se constituindo pela relação intrínseca que mantém com o meio, o qual diversas vezes,
determina e amplia seu universo cultural e, utilizando-se das várias formas de comunicação
existentes, complementa continuamente sua própria existência.
Dreifuss (1996) analisa esse processo afirmando que, durante séculos o esforço
criativo se concentrou na complementação e ampliação da capacidade manual e
locomotiva do ser humano além de buscar a reprodução, aumentando a substituição da
capacidade muscular e das possibilidades de articulação da sua estrutura física. Com o
passar do tempo esse esforço começou a se direcionar para o desenvolvimento das
faculdades intelectuais.
Hoje, o esforço se concentra mais na capacidade dos sistemas visual e nervoso e do
pensar, pois o desenvolvimento dos sistemas de comunicação com tecnologias avançadas
de informação resultou em uma superestrutura com características que exigem um novo
funcionamento do cérebro e da memória para usufruir dos serviços que envolvem a
informação, a economia e a mídia, cujo atendimento é rápido e sua forma de operação vem
se incorporando no cotidiano da maioria das pessoas que necessitam se adaptar ao
processo.
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São estes sistemas que passam a modificar parte do conjunto de valores existentes
na sociedade haja vista que, a maioria dos empregos que surgem atualmente necessita da
inteligência em decorrência dos sistemas de informação.
Segundo Moreno (1996, p. 24) “a revolução digital das telecomunicações, a
mercantilização dos bits e a miniaturização dos aparelhos eletrônicos” são algumas das
realizações produzidas pelo homem cuja tendência é ampliar-se continuamente.
Paralelamente a isso, a aceleração do aperfeiçoamento da técnica exigiu
profissionais para exercerem essas funções chamadas “quaternárias” e, no mundo do
trabalho que começa a emergir, explica Moreno (1996, p. 10), requer-se
(...) habilidades na manipulação, processamento, agregação de valor e
disseminação da informação do conhecimento e dos símbolos. A maior parte da
informação está eletronicamente codificada, computadorizada e transmissível via
telecomunicações e telemática.
Embora esta forma de comunicação seja tão avançada com sistemas de informação
sofisticados, grande parte da humanidade permanece solitária, distante e alheia a essas
mudanças porque o avanço científico-tecnológico que está em evidência, viabiliza
reestruturações dos sistemas produtivos de alcance global como parte de um processo
internacional em que aqueles que vivem em condições desprivilegiadas economicamente
não têm participação direta. Isso torna a sociedade vulnerável, principalmente pela
dificuldade de acesso à tecnologia, o que aumenta o estado de dependência dos países
menos desenvolvidos.
A informática, a telemática e algumas outras formas de comunicação e de
participação social são realidades que, direta ou indiretamente impregnam toda a
sociedade, pois a todo instante a realidade se modifica pelo aperfeiçoamento da tecnologia
já conhecida e pela introdução de novos sistemas e linguagens, assim como pela contínua e
rapidíssima superação dos índices existentes, cujos resultados oscilam entre o que é
positivo e o que é negativo.
Nesse cenário, a maioria dos indivíduos vive um cotidiano configurado pela massa
de informação disponível, veiculada eletronicamente em escala mundial, sem condições de
intervir no processo uma vez que, sendo a informática utilizada como um mecanismo que
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favorece o aumento do poder e o controle de uns sobre os outros, por meio dela, uma
minoria acaba por determinar as condições de vida das demais camadas sociais.
Grande parte do arsenal científico e tecnológico voltado para a construção e
aplicação de softwares vem sendo mal utilizado, ou seja, têm a finalidade de aperfeiçoar e
criar modelos para a sociedade, de determinar comportamentos e de implantar regras de
sobrevivência. Há um desconhecimento ímpar dos limites e das possibilidades da
tecnologia informática que distancia cada vez mais as pessoas desse processo. Isso ocorre,
talvez, pelo fato de que muitas das grandes invenções e descobertas geradas pela
tecnologia, da forma como foram utilizadas, pouco contribuíram para diminuir as
desigualdades sociais e atender as reais necessidades da população.
O mercado de trabalho é outro fator que limita o acesso da população à tecnologia.
A competitividade incentiva o desenvolvimento tecnológico, tornando os recursos
utilizados mais complexos e potentes exigindo maior conhecimento técnico e científico
para manuseá-lo e, como conseqüência, os empregos baseados nos serviços de automação
acabam privilegiando os especialistas e operadores da computação.
Diante da necessidade de formar profissionais para este mercado, vem sendo dada
maior prioridade ao ensino da técnica dirigido ao exercício de atividades bastante
específicas, em que há possibilidade de se permanecer com diferentes opções tecnológicas,
com trabalhadores atuando numa organização fordista e outros operando com sistemas
mais flexíveis. Ambos não se opõem por que atuam na lógica da acumulação.
Na educação esse quadro se modificou significativamente, conforme Santos (1996,
p. 196),
A educação, que fora inicialmente transmissão da alta cultura, formação do
caráter, modo de aculturação e de socialização adequado ao desempenho da
direção da sociedade, passou a ser também a educação para o trabalho, ensino de
conhecimentos utilitários, de aptidões técnicas especializadas capazes de
responder os desafios do desenvolvimento tecnológico no espaço da produção.
Por seu lado, o trabalho, que fora inicialmente desempenho de força física no
manuseio dos meios de produção, passou a ser também trabalho intelectual,
qualificado, produto de uma formação profissional mais ou menos prolongada. A
educação cindiu-se entre a cultura e a formação profissional e o trabalho, entre o
trabalho não qualificado e o trabalho qualificado.
A nosso ver, a educação além de estar vinculada a esta necessidade, vai além de
favorecer a construção do conhecimento. Existe para buscar um sentido para a vida,
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conduzir à humanização, a uma consciência que favoreça a solidariedade e a autonomia,
bem como constituir espaços para o desenvolvimento de capacidades visando à produção
de novos saberes que possam promover o bem-estar e melhores condições de vida às
pessoas.
Porém, o conhecimento técnico paralelamente a uma concepção que considerava o
desenvolvimento humano, não interferiu na postura tradicional da maioria das instituições,
pelo contrário acabou por ser incorporado de forma acrítica e de acordo com a lógica do
mercado. O conhecimento não estava sendo produzido na tentativa de resolver
determinados problemas existentes na sociedade, mas, de certo modo, procurou atender as
necessidades do mundo do trabalho e, assim, aumentar as possibilidades de infiltração
ideológica controlada pelo capital, situação essa apontada no Fórum de Pró-reitores de
graduação.
O saber sistematizado e o acúmulo de informação, no mundo globalizado,
parecem perder muito de sua função de busca de sentido para a vida, de reflexão
sobre o destino humano e da sociedade, para se tornarem mercadoria e meio de
produção, orientados pelo novo paradigma da aplicabilidade e do utilitarismo. Os
paradigmas da modernidade, de matriz cartesiana, encontram-se em crise.
Ensejavam rotas previstas, por meio do uso correto da razão, de avanços e
progressos para o desenvolvimento. Mas, agora, o que parece ser apontado é um
deslocamento desta dimensão humana, universal, para uma distribuição de
indivíduos em categorias de consumo determinadas pelas estruturas de mercado.
(FORGRAD, 2004)
Nesse sentido, a aplicabilidade tecnológica e sua relação com o conhecimento,
modificaram o papel social da escola que, vinculado à formação para o mundo do trabalho,
necessitou de novos parâmetros e de uma melhor redefinição para acompanhar a “evolução
tecnológica que define os contornos do exercício profissional contemporâneo.”
(FORGRAD, 2004, p. 12)
A Pedagogia, como ciência que trata da educação e da formação de educadores, que
trabalha, na atualidade, com alunos advindos de uma cultura tecnológica, ainda tem seu
foco indefinido, uma vez que passa a conviver com várias concepções opostas umas às
outras.
Conforme Saviani (2007, p. 110), estas concepções podem ser assim descritas:
Pedagogia conservadora versus pedagogia progressista, pedagogia católica
(espiritualista) versus pedagogia leiga (materialista), pedagogia autoritária versus
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pedagogia da autonomia, pedagogia repressiva versus pedagogia libertadora,
pedagogia passiva versus pedagogia ativa, pedagogia da essência versus
pedagogia da existência, pedagogia bancária versus pedagogia dialógica,
pedagogia teórica versus pedagogia prática, pedagogia do ensino versus
pedagogia da aprendizagem (...)
Isso descaracterizou, de certo modo, os princípios para uma formação adequada do
profissional da educação frente aos desafios existentes na sociedade. A própria LDB/1996
tornou frágil a formação de pedagogos quando apontou o profissional da educação como
um semiprofissional, (BRZEZINSKI, 2000, p. 153) apesar de vários educadores
acentuarem a valorização do educador como um dos princípios expressos na nova LDB.
Por outro lado, não podemos desconsiderar que há muitos avanços na LDB vigente em
relação à formação do profissional da educação.
Essas questões, associadas a outras ideias sobre o tema, serão tratadas no âmbito da
disciplina de Novas Tecnologias Aplicadas a Educação, situando o conhecimento técnico
e pedagógico a partir das fontes teóricas que a sustentam fundamentando, assim, a prática
das atividades em laboratório.
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4. Fundamentos da informática na educação
A história traz à tona aspectos da vida humana que auxiliam a compreender o
presente e a influência que cada um exerce nele. Nesse sentido, apresentamos uma pequena
discussão em torno das teorias que fundamentam o uso das tecnologias no processo
educacional e a formação de professores.
Nossa reflexão, nesta unidade, passa pela necessidade de superar a dicotomia
existente entre razão/emoção, lógica/intuição, corpo/mente, pensar/sentir e teoria/prática.
Para isso, utilizamos autores que procuram explicar como se originou tal dicotomia e como
vem sendo ampliada na sociedade e na escola através dos tempos.
Em seguida, relacionamos alguns estudos que apontam alternativas para rever esse
processo numa perspectiva de mudança e transformação, salientando a formação e a
prática pedagógica do professor em ambientes informatizados.
4.1. A evolução da técnica
A partir de algumas reflexões feitas por Vargas (1985), Morin (1996) e Laszlo
(1999) sobre a evolução da espécie humana, homens e mulheres viviam, durante milhares
de anos, em um mundo onde tinham como referenciais os elementos naturais dos quais
eram parte. Ambos não se distinguiam desses elementos. O mundo parecia ser uma
extensão de si mesmos.
Tornaram-se caçadores, habitaram vários lugares em pequenas comunidades
distantes umas das outras, cada uma com sua cultura, seus ritos e crenças. As comunidades
apresentavam-se mais abertas e algumas mais fechadas em sua relação com a natureza e
com outras comunidades. Porém, foram as culturas indígenas e neolíticas exemplos de
sociedades com visão biocêntrica do mundo, com bases econômicas e tecnológicas
sustentáveis.
Usavam, além da intuição, deduções que permitiam prever o tempo, e seus
conhecimentos mais primitivos tornavam conhecida a melhor época para o cultivo.
Aprenderam a contar os dias e as noites e com isso nos deram a base para o que hoje
chamamos de calendário.
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Segundo esses autores, o aperfeiçoamento do uso do fogo e de outras técnicas,
aliado à formação das sociedades urbanas e rurais, foram os aspectos que mais definiram o
papel da humanidade no mundo.
A técnica passou a ser um sinal de contradição entre os homens a partir do
momento em que, relacionada aos poderes transcendentais, foi utilizada para o acúmulo de
riquezas na exploração dos recursos da terra e na subordinação dos seres entre si.
De acordo com Vargas (1985, p.14) “todas as descobertas técnicas eram tidas como
presentes dos deuses e, portanto, agricultores, pastores e cozinheiros eram, de uma forma
ou de outra, sacerdotes ou mágicos e seus saberes eram sagrados e secretos – só
transmissíveis aos escolhidos por eles.”
Os mestres e aprendizes formavam sociedades fechadas tradicionais, configurando
em torno de si uma magia revelada que só era transmitida aos iniciados. Essa concepção da
técnica fazia parte da existência dos mitos que vinham justificar a realidade vivida,
presente na atividade humana. Assim, o homem era submetido “na sua ação, a imitar os
deuses nos ritos que atualizam os mitos primordiais, pois, caso contrário, a semente não
brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore não dará frutos e o dia não sucederá
a noite.” (ARANHA, 1986, p. 24)
A relação com o mundo natural passou a ser de dominação, em que homens e
mulheres também estavam subordinados ao poder transcendental transferido para a técnica,
configurando, assim, uma dualidade entre espírito e matéria, entre homem e natureza, entre
mente e corpo, cuja tensão perdura até os nossos dias.
As comunidades primitivas foram aos poucos sendo exterminadas, salvo algumas
exceções. Com elas, perderam-se saberes sobre a aplicação de algumas técnicas,
principalmente em relação ao manejo dos recursos da natureza e da forma como se
organizavam socialmente.
No mundo grego, passou-se do saber sagrado ao saber humano, em que se destacou
um saber adquirido pelos “olhos do espírito” (VARGAS, 1985), ou seja, aquele que vê o
que está por trás das transformações naturais e daquelas proporcionadas pela ação do
homem através da técnica.
Aristóteles, o filósofo grego que melhor expressou essa idéia, é considerado por
Capra (1996, p.34), o “primeiro biólogo da tradição ocidental.” Ele acrescentou o elemento
substância às aparências como sendo o inteligível da realidade. Para ele
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(...) as substâncias, não se separam das coisas da natureza, nem se furtam às
transformações naturais. Elas passam daquilo que são potencialmente para o que
são em atualidade. Essa contínua passagem da potência ao ato explica todas as
transformações e movimentos que se dão na natureza. (VARGAS, 1985, p. 17)
Para Aristóteles, a natureza essencial de todas as coisas estava contida na matéria
numa configuração de fluxo em potencialidade. “Por meio da forma, essa essência torna-se
real, ou efetiva.” (CAPRA, 1996, p. 34) Ou seja, é o processo de auto realizacão da
essência, “auto-organizacão e autopoiese” (MATURANA, 1997).
Nesse sentido, houve uma recuperação de aspectos elementares do homem
primitivo no qual o transcendental estava relacionado à potencialidade enquanto
transformação de si mesmo e dos demais seres da natureza que, posteriormente, foi
transferido à mágica realizada pela técnica.
Embora permanecesse fortemente, a cultura mitológica e os conceitos como os de
Aristóteles levantaram aspectos da dimensão humana de busca por uma finalidade própria,
ou seja, a virtude, cujo significado de origem “designa uma qualidade ou característica de
algo, uma força ou potência que pertence à natureza de algo.” (JAPIASSÚ;
MARCONDES, 1990, p. 243)
Tanto na técnica como na humanidade (incluímos aqui também todos os seres
vivos) parece estar presente o aspecto do transcendente; porém, ao reduzi-lo somente à
técnica, a humanidade deixou de realizar a busca pela sua realização plena, ou seja, sua
própria humanização.
Historiadores e antropólogos, por um longo tempo, revelaram a existência de uma
consciência de homo sapiens que está presente no homo erectus, espécie considerada a
mais próxima da humanidade na atualidade. Porém, o que se evidencia hoje, é a existência
de um homem constituído também de homo demens. Pois conforme Morin (1997, p. 53)
(...) se se define o homem unicamente como sapiens, se oculta dele a afetividade,
disjuntando-o da razão inteligente. Inteligência e afetividade são correlacionadas.
A afetividade é aquilo que, ao mesmo tempo, nos cega e nos ilumina, mas a
afetividade humana inventou algo que não existia: o ódio, a maldade gratuita, a
vontade de destruir por destruir. Homo sapiens é igualmente homo demens.
19
Desconhecendo a inter-relação entre essa dualidade humana – sapiens-demens – o
homem provocou a aceleração de um processo de destruição dos sistemas de vida. Com
isso, a supervalorização da técnica vem provocando, desde os tempos mais remotos, o
descuido com o desenvolvimento humano.
Todo esse processo permitiu à humanidade realizar aprenderes que foram
construindo e modificando sua visão de mundo.
O aperfeiçoamento das técnicas existentes levou homens e mulheres a descobrirem
outras formas de viver mais complexas. Essas descobertas modificaram as concepções de
mundo, de tempo e de espaço e, muitas delas, continuam modificando comportamentos e
atitudes cotidianos.
Hoje, a técnica baseada na ciência reforça os mecanismos de mudança que
interferem diretamente na vida cotidiana, principalmente por meio da tecnologia, “que
surgiu há cerca de 400 anos atrás, mas tornou-se uma atividade humana importante no
início do século XX.” (VARGAS, 1985, p. 14)
O avanço da tecnologia proporcionou a construção do computador, criando-se um
sistema de redes de teleinfocomunicação, termo utilizado por Dreifuss (1996) para
designar o uso dos meios tecnológicos de maior alcance social, aproximando as pessoas
das diferentes regiões do planeta, permitindo sua aplicação em diversas áreas no sentido de
reverter processos de destruição, de conter doenças, de facilitar estudos da genética,
biologia, física, etc.
No entanto, a má utilização dessa mesma tecnologia tornou-se prejudicial à
realidade humana. O potencial de aniquilamento da própria espécie aumentou com a
ameaça nuclear, com o retorno de bactérias conhecidas que resistem aos antibióticos
existentes, com o desequilíbrio do ecossistema provocado pelos poluentes químicos para
citar alguns dos graves sintomas que marcam a ambivalência no uso da tecnologia.
Diria Morin (1996, p. 89) “a elevação dos níveis de vida pode estar ligada à
degradação da qualidade da vida”, se considerar o contraste da vida humana gerado pela
má utilização da tecnologia.
Nesse sentido aumenta a fragilidade humana diante do avanço da técnica e da
tecnologia.
20
4.2. A condição humana e do meio ambiente
Vimos anteriormente como o desenvolvimento da técnica foi significativo na
construção de novos comportamentos e atitudes na sociedade. A humanidade evoluiu, mas
a dicotomia existente permaneceu presente e gerou graves conseqüências que vêm,
efetivamente, provocando inúmeras alterações nos sistemas vivos.
Iniciamos pelas mudanças que marcaram a passagem do século XX para o século
XXI e, que estão sendo ocasionadas pela forma como entendemos a nossa finalidade no
planeta e as condições em que ele se encontra, além de evidenciar o que temos contribuído
para promover a vida, o desenvolvimento e o bem-estar de todos os seres, ou o contrário.
Marcado pelas contradições, o final do século passado apontou uma preocupação
com a vida humana de maneira alarmante, conforme estudos desenvolvidos por Arendt
(1989), Dreifuss (1996), Maduro (1994) e Masseto (1999).
De um lado, vivemos um forte desejo de querer estar bem, de gozar do conforto e
de ter alegrias como a conquista de um emprego; a compra da casa própria; um filho que
nasce; ter boa saúde; a alegria de um reencontro; a viagem sonhada ou um amor
verdadeiro.
Tudo isso constitui momentos que reencontram e reencantam o sentido da vida.
São momentos necessários para alimentar os motivos que nos levam a buscar uma vida
feliz e essa busca não se constitui apenas em sobreviver, mas desfrutar de uma vida plena e
feliz.
Parafraseando Maduro (1994, p. 31),
A vida que buscamos e apreciamos é aquela que sentimos como a vida em
abundância, (...) vida a desfrutar sem destruir a possibilidade de usufruí-la até a
mais avançada idade(...), é aptidão para assumir criativamente o sofrimento
pessoal como dimensão intrínseca da própria vida. É esforço para superar o
sofrimento injusto e evitar o sofrimento desnecessário.
De outro lado, a busca irracional da satisfação desses desejos tem nos levado ao
estresse, à depressão e à infelicidade, à falta de diálogo, à insegurança e ao medo. Tem-nos
levado também à discriminação, às doenças graves, à perda de pessoas queridas, ao
desemprego, à violência que invade nossas casas, aos escândalos de corrupção. Enfim, a
21
luta constante pelas condições mínimas de sobrevivência custa um esforço físico,
emocional e intelectual diário sem limites, trazendo, na maioria das vezes, dor e tristeza.
As realidades da vida não estão proporcionando nem mesmo a esperança de
sobrevivência. A cada dia que passa perdas são reforçadas pela incompreensão.
Mais de três milhões de pessoas morrem por ano de doenças evitáveis como a
tuberculose, disenteria ou malária. Nos países menos desenvolvidos, mais de 95
milhões de crianças menores de 15 anos trabalham para ajudar seus familiares,
mais de um milhão de crianças se viram obrigadas a prostituir-se, cerca de um e
meio milhão foram mortas em guerra, e perto de cinco milhões estão vivendo em
campos de refugiados e similares. (DREIFUSS, 1996, p. 12-13)
Esses são alguns dados que mostram o quanto a vida não está sendo cuidada,
preservada e valorizada.
A busca da sobrevivência pela maioria da população vem exigindo um esforço
sobre-humano, gerando a maior parte dos problemas existentes na família e,
principalmente, na escola e na sociedade. A falta de diálogo, o desentendimento, o
preconceito, acabam provocando a violência, a insegurança e a impaciência. Essas
condições determinam nossos comportamentos e atitudes frente ao coletivo que, por sua
vez, emana das “interferências externas, que se limitam ao mundo observável dos sentidos,
gerando a crueldade e a agressividade.” (SCAPIN, apud VIDOR, 1998, p. 136)
Individualmente, sofremos o impacto de tensões externas que provocam um
desequilíbrio desnecessário atingindo os grupos sociais dos quais participamos, em que
culturas, sentimentos e valores espelham o que somos e como estamos, como um todo,
concebendo a vida, os demais seres e o universo.
Toda essa tensão que vivemos diariamente passa a existir como um sinal da
necessidade de retomarmos algumas concepções que se passaram ao longo de nossa
história e repensarmos alternativas de viver em sociedade. Esse conflito não ocorre
somente no âmbito individual, mas também social e em todos os níveis. Há tensão
(...) entre o global e o local, entre o universal e o singular, entre tradição e
modernidade, soluções a curto prazo e a longo prazo, tensão entre competição
necessária e a igualdade de oportunidades, entre o desenvolvimento dos
conhecimentos e as capacidades de assimilação humana, entre o espiritual e
material. (MASETTO, 1999, p. 22-23)
22
Cresce a violência na família, na escola e, em praticamente todos os lugares da
sociedade. Parece não haver lugar para todos num mundo tão competitivo no qual a
competição, às vezes, custa a própria vida.
Por outro lado, os fenômenos naturais vêm se manifestando irregularmente em
várias regiões com a seca ou enchentes, provocadas pelo aquecimento global chamado
efeito estufa. O avanço da desertificação é outro fenômeno que poderá tornar áreas férteis
do planeta em desertos. Há ainda o perigo da contaminação radioativa, da contaminação da
água e da poluição do ar.
As agressões ao meio ambiente, causadas pelas queimadas e desmatamentos, pela
emissão de gases poluentes das indústrias e automóveis, pelos depósitos de lixo a céu
aberto, pelo descuido com o saneamento básico, pela manipulação de substâncias
radioativas de forma irresponsável, compõem um índice ameaçador à vida de todos os
seres.
Muitas manchetes de jornais retratam o descaso com a vida em todas as suas formas
de manifestação. Parece que o modo de organização e relacionamento que vimos adotando
ao longo da história colocou nossa própria espécie em risco de extinção.
Segundo Arendt (1989, p. 281),
(...) o que nos ocorre em primeiro lugar, naturalmente, é o tremendo aumento de
poder humano de destruição, o fato de que somos capazes de destruir toda a vida
orgânica da Terra e de que, algum dia, provavelmente seremos capazes de
destruir toda a Terra.
Diante desse quadro, parece que não há muitas soluções. Boff (1996, p. 25)
colocou, “ou nos salvamos todos dentro de um sistema de convivência solidário, ou pela
indignação e pelos levantes podemos fazer explodir a nave Terra.” Levy (2000, p. 14)
apresentou duas alternativas semelhantes, a primeira é “a guerra, não importando qual seja
a sua forma e a outra, a exaltação do indivíduo, o humano considerado como maior valor.”
Reconhecemos, nesse cenário de tantos conflitos, que há manifestações de paz por
todo o mundo. O crescimento do terceiro setor como as ONGs e outras entidades
filantrópicas tem sido uma demonstração de auxílio à solidariedade. Instituições como a
ONU (Organização das Nações Unidas), OMS (Organização Mundial da Saúde), Cruz
23
Vermelha, as Instituições Religiosas e de Ensino e ainda, as Pequenas Associações
Comunitárias procuram contribuir para melhorar as condições de vida das pessoas.
Frente a isso, podemos inferir que há alguma esperança.
Morin (1995) mencionou alguns princípios de resistência de que dispomos
naturalmente, que são princípios de esperança na desesperança. O primeiro deles é o
principio da vida, que consiste na regeneração natural de tudo o que existe. O segundo é o
princípio do inconcebível, em que todas as grandes transformações ocorreram de forma
impensada. O terceiro é o princípio do improvável, referindo-se a tudo o que aconteceu de
positivo na história como, a princípio, improvável. O quarto é o princípio da toupeira que
age no subsolo através das galerias subterrâneas até afetar a superfície. O quinto princípio
é o do salvamento em que, diante do perigo, há uma tomada de consciência. E por fim o
sexto, o antropológico, mencionando a pequena utilização, pelo homem, das possibilidades
do espírito/cérebro.
Desse modo, ele se refere a atual cultura como correspondendo à pré-história do
espírito humano e, portanto, a certeza de que não chegamos ao fim de nossas
possibilidades.
De certa forma Morin (1996), também alertou para esses princípios em sua
inversão, em que, a qualquer momento, podemos nos deparar acidentalmente com a morte.
O inconcebível não é uma finalidade. O improvável pode não ser bom. A toupeira poderá
não ter o efeito desejado e a possibilidade de salvamento poderá estar muito aquém das
ameaças de perigo.
Isso nos leva a reconhecer a importância das várias iniciativas que vêm surgindo,
mobilizando a sociedade para a urgente necessidade de modificar nossas atitudes e nossa
forma de pensar o mundo, a vida e a nós mesmos. Ainda que algumas dessas iniciativas
venham se constituindo a partir de segmentos muito frágeis, ou seja, formadas por uma
consciência ingênua, são igualmente importantes para desencadear um novo processo.
Destacamos como uma dessas iniciativas a inserção do computador na sociedade e
na escola. Para a primeira, sua utilização favorece o crescimento e a mobilização de
diversos setores como o econômico, o científico, o cultural, entre outros, que acabam
criando oportunidades de trabalho e de acesso a seus produtos, serviços e informações.
24
Quanto à escola, procura promover o acesso à informática e à informação, bem
como o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos juntamente com a tentativa de
propor uma metodologia coerente com as necessidades escolares.
Muitas discussões sobre esse tema vêm surgindo, seja nos meios escolares, seja m
congressos, seminários ou encontros, proporcionando uma mudança de visão sobre o uso
de tecnologias na educação.
Quando nos refirimos à mudança,
estamos entendendo a transformação histórica qualitativa pela qual passa uma
sociedade alterando a relação entre os homens na direção de maior justiça, de
verdade, de sentido ético, estético e de maior liberdade. Enfim, a mudança social
leva-nos a caminho da humanização.(ALMEIDA, 1999, p. 51)
Grande parte desse processo de mudança é gerado pela forma como concebemos
nossa finalidade na realidade social em que vivemos e as condições na qual a sociedade se
encontra, além de evidenciar o que temos contribuído para promover a vida, o
desenvolvimento e o bem estar de todos, ou ao contrário, nossa omissão no processo.
Essa visão parece modificar a importância da educação na sociedade.
Para Almeida (1999, p. 52),
a mudança na escola está relacionada a ensinar a pensar e criticar as realidades
opressoras; educar para autonomia; partir das reais necessidades dos alunos;
instrumentalizar a todos para participarem dos benefícios produzidos pela
sociedade, isto é fazer uma educação para a mudança.”
Na leitura de Arroyo (1999), as contradições que existem no sistema escolar
inibem essas mudanças. Apresenta o autor que a inovação educativa representa a idéia de
que as decisões sobre a escola vêm de fora para dentro, comprovando que essas decisões
não se efetivam no âmbito escolar porque a ação pedagógica é outra.
Por outro lado, há canais que pretendem facilitar a participação dos professores,
mas que são insuficientes, pois os professores não têm em suas condições de trabalho
como acompanhar as mudanças e, ao mesmo tempo, estarem preparados para enfrentá-las.
Por isso a era digital que vem alterando os comportamentos e o modo de aprender
dos alunos, não fez o mesmo com os professores. Muitos são chamados a enfrentar uma
25
nova postura instalada na escola, e “o aluno já chega à escola transportando consigo cada
vez mais um mundo e uma carga de informações que ultrapassam o estreito âmbito da
família, transmitidos sobretudo pelos meios de comunicação.” (GADOTTI, 2000, p. 45)
4.3. As tecnologias na escola
Hoje, as relações na escola não podem limitar-se somente àquelas que incentivam
os padrões de comportamentos recebidos no ambiente familiar, mas estar se modificando
em virtude das mudanças do mundo atual, que exigem um repensar da família, da escola e
da sociedade em geral.
Nesse sentido, vemos como prioritário o interesse e o investimento de órgãos
públicos na capacitação de professores desde o ensino fundamental aos cursos de pós
graduação com o intuito de melhorar o desempenho, enfocando áreas que abrangem todos
os setores da sociedade.
Nos ambientes de ensino informatizados, tanto na Universidade quanto na
Educação Básica, percebe-se que professor e alunos exercem o papel de mediadores
quando encaminham alternativas, apresentam respostas imediatas a dúvidas, procuram se
mobilizar ao exercício do uso do computador para se contactarem, propõem novas
atividades no mesmo período de outras. Ambos dinamizam o ambiente, tornam-se
provocativos. Quer dizer, a mediação pedagógica se efetiva continuamente.
Podemos entender mediação pedagógica, aqui, como
(...) um processo comunicacional, conversacional, de co-construção, cujo
objetivo é abrir e facilitar o diálogo e desenvolver a negociação significativa de
processos e de conteúdos a serem trabalhados, bem como incentivar a construção
de um saber relacional, gerado na interação professor/aluno. (MORAES, 2000, p.
9)
Essa mediação resulta da atuação entre sistemas interdependentes, como por
exemplo, entre educador/educando, teoria/prática, razão/emoção, etc. Ambos estão num
constante interagir, complementando-se uns aos outros e crescendo coletivamente.
Por esse motivo, as relações existentes no ensino por meio do computador
começam a se diferenciar do ensino tradicional. O professor dá importância e dedica maior
26
atenção a cada aluno. Sente-se cada vez mais próximo de todos e, ao mesmo tempo, de
cada um, pois tem condições de atendê-lo individualmente.
O aluno percebe que seu texto foi lido quando obtêm uma resposta, a partir daí
começa a conhecer o valor do que expõe. Isso se constitui numa nova forma de ensinar e
aprender, na qual a tecnologia, quando utilizada adequadamente, promove a interação.
Nesse processo, o que está sendo construído é o diálogo que promove a troca e o incentivo
ao estudo e à aprendizagem, favorecendo os processos de construção do conhecimento.
Outro ponto positivo é o fato de que os alunos podem ser vistos e melhor
conhecidos pelo professor, o que facilita o reconhecimento e a aplicação de novas
estratégias aos alunos com dificuldades de aprendizagem.
A escrita passa a ser um referencial para haver participação e comunicação. A
exigência da forma escrita favorece o desenvolvimento das idéias num texto formal que
deverá ser bem redigido, articulado e completo para ser compreendido pelos demais. A
grande dificuldade dos estudantes e até mesmo de muitos professores, além de ler, é
escrever. Isso melhora a própria comunicação e o uso da linguagem em todos os níveis.
Esses aspectos parecem tornar a aprendizagem por meio do computador menos
fragmentária. A possibilidade de articulação entre as partes e a visão do todo demonstra
uma nova perspectiva para o ensino e para a aprendizagem.
A relação entre professor e aluno, nesse ambiente, pode propiciar uma
aprendizagem colaborativa que contempla a interdependência e a inter-relação. Essa
relação, sendo de parceiros que colaboram e constroem juntos, respeita, ao mesmo tempo,
a individualidade e a diversidade presentes.
Aprendizagem colaborativa é um processo de reaculturação que ajuda os
estudantes a se tornarem membros de comunidades de conhecimento cuja
propriedade comum é diferente daquelas comunidades que já pertencem. O
acesso a uma comunidade depende da aquisição de características especiais dos
membros desta comunidade. A mais importante delas é a fluência na linguagem
que constitui a comunidade. (ALCANTARA, 2001, p. 01.)
Entendemos que um dos objetivos mais relevantes, nesse trabalho, esteja
relacionado a um novo modo de pensar a educação, a sociedade, as relações sociais, o
27
ambiente em que vivemos, gerando, com isso, uma sociedade na qual a escola possa ser o
local da criatividade, do respeito às diferenças e da abertura ao novo.
O computador na escola, sendo utilizado adequadamente, poderá oportunizar a
reflexão sobre uma nova concepção da educação. É motivo de atenção o modo de pensar
das pessoas, o nível das relações existentes entre cada indivíduo, as condições de vida
da humanidade e do próprio sistema, as dificuldades econômicas e a expansão cultural,
bem como o distanciamento, o isolamento e a solidão que muitas pessoas passam a viver.
O acesso às informações, a troca de experiências local e global, o contato com outras
culturas começa a fazer parte das preocupações e objetivos da educação.
A sociedade hoje, parece impor uma educação na qual a prática do professor
necessita ser diferenciada. Entendemos que trata-se de uma nova postura, um novo olhar,
uma educação voltada para a importância das relações que compreende o universo e os
seres na sua essência.
Masetto (1999, p.144) enfatiza que o que marca essa diferença é a "atitude, o
comportamento do professor que se coloca como facilitador, incentivador da
aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser ponte entre o aprendiz e a
aprendizagem."
Porém, essa atitude e comportamento não são suficientes enquanto permanecerem
os mesmos paradigmas. O professor poderá se tornar um facilitador da aprendizagem, mas
se o modo como concebe o mundo, como se relaciona com ele mesmo e com os demais
seres, dentre eles o aluno, estiver baseado em referenciais cartesianos, sua prática será
ainda mais nociva, pois a informática traz consigo um potencial superior às demais
tecnologias existentes na escola.
Novos paradigmas estão nos conduzindo à análise da realidade num enfoque que
envolve a “planetaridade, sustentabilidade virtualidade, globalização e
transdisciplinaridade“ (GADOTTI, 2000) que se constituem em consideráveis referenciais
que vêm abrindo vários caminhos e despertando interrogações e iniciativas, talvez por
estarem ligadas à própria sobrevivência da espécie.
A integração da informática com a visão de mundo apresentada acima por Gadotti
poderá viabilizar uma prática pedagógica que, sendo desenvolvida de acordo com os
fundamentos teóricos apresentados, irá potencializar a compreensão e possibilitar a
transformação da realidade. Essa compreensão tem sua importância na medida em que
28
os indivíduos se percebem como sujeitos de um processo em curso. São capazes de
refletir, intervir e propor mudanças nessa realidade, torná-la conhecida e buscar uma vida
feliz.
Existem muitas propostas e alternativas que procuram romper com a idéia do
ensino fragmentário e descontextualizado, propondo uma aprendizagem sem currículo
(PAPERT) ou ainda o currículo em ação (FREIRE). A tecnologia pode ser tratada no
âmbito das relações sociais a partir de seu uso na escola como elemento que favorece uma
visão mais ampla do mundo, pois não apresenta um problema técnico, mas um problema
social que exige reflexão, discussão e mudança.
Portanto, a inserção do computador no meio social e na escola procura modificar as
concepções de tempo e espaço, bem como as formas de comunicação e organização entre
os indivíduos, nesse último caso, professor e alunos.
Consequentemente isto vem provocando uma série de posicionamentos, nos quais
podemos identificar duas categorias bem definidas, apresentadas por Sancho (1998):
a. Aqueles que vêem no computador a saída para a crise.
b. E aqueles que o negam por considerá-lo desencadeador do agravamento
dos problemas educacionais e da destruição do ambiente.
Os primeiros se enquadram na categoria que a autora denomina de tecnófobo e os
segundos, de tecnófilos.
Diz a autora, em relação aos primeiros, que “o uso de qualquer tecnologia que eles
não tenham usado desde pequenos e tenha passado a fazer parte de sua vida pessoal e
profissional representa um perigo para aqueles valores que eles têm.” (SANCHO, 1996,
p.43). Um exemplo que apresenta é a postura de Sócrates que rejeitou a escrita, pois
acreditava que com ela os homens deixariam de exercitar sua memória, tornando-se
dependentes da palavra escrita.
No sentido oposto estão “aqueles que encontram em cada nova contribuição
tecnológica, principalmente naquelas situadas no âmbito da informação, a resposta final
para os problemas.” (SANCHO, 1998, p. 43). Desde 1820, a produção intensa e barata de
livros provocou sua ampla distribuição, aumentando as possibilidades pedagógicas de
diversificar as aulas. Nos últimos 20 anos, os sistemas de comunicação e informação estão
aumentando as expectativas de melhorar as condições escolares.
29
Essas afirmações, sendo opostas, de certo modo apresentam-se bastante
semelhantes. Ou seja, de um lado, vemos os que a rejeitam por considerar que a forma que
utilizam ainda é a mais plausível, esquecendo-se de que também estão usando um
conhecimento tecnológico que, muitas vezes, não possui relação com o contexto social.
Por outro lado, os tecnófilos encontram, na sofisticação dos meios tecnológicos,
perspectivas de resoluções que pouco tem a ver com os problemas educacionais atuais.
Ambas as posturas parecem conduzir a uma infinidade de interrogações, revelando
uma dicotomia quanto a vários aspectos que permeiam a inserção do computador na
sociedade e na educação.
Nesse último caso, a perspectiva de reversão do quadro social seria mais plausível
se os elementos que compõem a escola concebessem e utilizassem a tecnologia para
promover o desenvolvimento humano, intensificando a informação e a comunicação entre
as pessoas, democratizando o acesso ao conhecimento às classes sociais menos
favorecidas, organizando grupos de estudos sobre os problemas mais emergentes a fim de
realizar programas e parcerias, etc.
Essas seriam algumas sugestões de como o uso da tecnologia na educação poderia
trazer benefícios à sociedade como um todo. Para isto, torna-se importante rever os
reflexos dessa tecnologia na prática pedagógica para melhor pontuar os objetivos aqui
propostos, bem como as teorias que fundamentam este estudo e identificam suas
características.
4.4. A mudança de paradigma necessária na educação
As ideias em discussão permitem ampliar o conhecimento do professor quanto ao
uso do computador na escola, vindo a diversificar as atividades com os alunos uma vez que
o laboratório é o local onde os alunos podem manifestar seu conhecimento técnico e de
conteúdo.
Um exemplo disso é o trabalho realizado por meio do software LOGO que permite
que se construam estruturas intelectuais, espontaneamente, sem que elas sejam impostas. O
computador apenas fornece informações essenciais sobre o tema escolhido, possibilitando
ao aluno organizá-las de modo a elaborar seu próprio conhecimento.
30
No ambiente Logo subjazem temas filosóficos e educativos, referentes à forma
como propicia uma aprendizagem numa abordagem piagetiana. Trata-se de criar
circunstâncias para que as crianças explorem naturalmente os domínios do conhecimento
que não só requerem didática anterior como geralmente são alcançados pelas crianças em
etapas posteriores do desenvolvimento. Essas etapas dão início à transição que finalmente
converte a criança numa pensadora formal, o que implica a conquista do símbolo.
Segundo Papert (1988, apud. CLIE, 1990, 01),
(…) é possível aprender e assimilar o formal e apropriar-se antecipadamente do
símbolo com o computador mediante a construção de micromundos que podem
concretizar conceitos que até então só podiam ser ensinados através de fórmulas
e outras relações matemáticas, para cuja assimilação é necessário o domínio do
símbolo. Agora, numa forma sintômica, a criança pode reconstruir fragmentos de
conhecimento alheios ao mundo infantil, ao realizar construções de maior
complexidade e diversidade à medida que avança em sua construção cognitiva.
A princípio, o LOGO foi elaborado a partir de uma abordagem construtivista,
assumindo que o conhecimento não pode ser transmitido de uma pessoa para outra. Nessa
perspectiva, o professor não transmite conhecimento para o aluno, dá-se importância à
atividade construtiva do aluno na realização das aprendizagens escolares. Ao longo do
tempo, o Logo adquiriu um caráter mais construcionista, que enfatiza a construção mental.
Ele atribui especial importância ao papel das construções no mundo como apoio
para o que ocorreu na cabeça, tornando-se, desse modo, menos uma doutrina
puramente mentalista. Também leva mais a sério a idéia de construir na cabeça
reconhecendo-se mais de um tipo de construção (algumas delas são afastadas de
construções simples como cultivar um jardim) e formulando perguntas a respeito
de métodos e materiais usados. (PAPERT, 1996, p. 128)
Por esse processo, a criança acaba construindo o conhecimento de que precisa. O
momento da descoberta ocasiona na criança mudanças de comportamento e atitudes e ela
passa a demonstrá-las frente a realidade que vive, principalmente em decorrência das
situações vividas diariamente que solicitam, a todo instante, respostas concretas e objetivas
para as quais, muitas vezes, não está preparada.
Segundo Valente (1999, p. 141), o construcionismo é “a construção de
conhecimento baseada na realização concreta de uma ação que produz um produto
palpável, de interesse pessoal de quem produz.”
31
É o estudo, a experiência e o retorno para a teorização que produzirá um
conhecimento real.
O aluno passa a transformar toda informação, dados, sistemas, mensagens,
programas e outros recursos como um modo de construir seu conhecimento pessoal,
descartando a simples memorização.
Nesse sentido, o conhecimento, quando construído, facilita a realização de
atividades voltadas para o processo de síntese, entrando em choque com o modelo da
escola tradicional, que se limita a atividades contínuas de análise. A exemplo disto temos a
estrutura escolar que dispersa o conhecimento em especialidades e essas, em várias
disciplinas.
Papert (1996), apontava que as fases evolutivas apresentadas por Piaget, pelas
quais a criança passa, podem ser antecipadas com a utilização do computador quando
voltado para atividades educativas.
Essas fases correspondem a três sendo elas:
1. Fase evolutiva - fase sensomotora – 0 a 2 anos – as aprendizagens se realizam
através da elaboração de inputs sensoriais e motores.
2. Fase pré-conceitual – 2 a 7 anos – construoem-se os primeiros conceitos. Não são
definívies propriamente, porque a criança não está em condições de ordenar e
classificar corretamente.
3. Na fase das operações formais – a partir dos 11-12 anos – a criança inicia a
compreensão das operações mentais, conseguindo se valer da abstração, da
generalização. Adquirindo o pensamento lógico-educativo a criança está em
condições de dominar a realidade, de levantar hipóteses, de pensar em termos de
probabilidade, de absurdo, de possível. (MACIEL, 1998)
Na visão de Papert, o conhecimento formal pode ser concretizado através do acesso
a informações, as quais a criança passará a organizar e elaborar em forma de conceitos.
Com isso, adquirirá certa autonomia e esse processo poderá auxiliar na passagem do
pensamento concreto para o pensamento abstrato.
Alguns programas de computação são construídos de modo a tornar concretos
conhecimentos que somente poderiam ser conhecidos de forma abstrata. Quando a criança
chega à fase da programação do computador, além de passar a dominar essa tecnologia,
adquire condições de contactar com outras áreas como a ciência, a matemática, a arte,
32
entre as demais que tem acesso. Por esse processo, pode ampliar seu conhecimento e
dominar recursos que antes não conhecia.
O processo educativo se transforma, dando à criança maior auto-confiança e
responsabilidade pela própria aprendizagem.
Com o uso do software Logo esse processo tende a se expandir, pois ele é
caracterizado como uma linguagem organizada para desenvolver atividades que venham a
preencher uma lacuna no conhecimento.
O que pode ocorrer é que os mecanismos à disposição no programa não aparecem
para o professor de modo claro e objetivo, impossibilitando-o de concatenar os dois
ambientes – o de ensino e o de informática.
O interesse individual e coletivo em aprender a trabalhar com o computador é uma
prática que o professor deve valorizar no sentido de incentivar novas atitudes,
comportamentos e interesses nos seus alunos, pois o contrário disso seria provocar um
retrocesso e criar uma situação de confronto com a sociedade.
A oportunidade de fazer com que a escola contribua para uma mudança parece ter
início a partir do momento em que o professor se posiciona criticamente frente a questões
que interferem na construção de uma sociedade mais solidária e mais humana.
Muitas vezes, o professor que não demonstra essa preocupação nos discursos ou
nos projetos pedagógicos, deixa transparecer um interesse maior em relação aos conteúdos
aprendidos e o desenvolvimento de estratégias na resolução de problemas, não percebendo,
todavia, que uma articulação dos conceitos formulados em torno da tecnologia e dos
conteúdos trabalhados com os alunos poderia promover uma educação mais significativa.
Isso conduz os trabalhos de uma forma a adentrar no plano epistemológico,
introduzindo na formação dos professores a idéia de um novo paradigma para a educação,
no sentido de encontrar parâmetros para uma mudança também na prática.
Moraes (1997, p. 17) apresenta esse paradigma como uma nova forma de pensar e
conceber a realidade. “Um paradigma que reconhecesse a interdependência existente entre
os processos de pensamento e de construção do conhecimento e o ambiente geral, (...) Uma
proposta que trouxesse a percepção de mundo holística, global, sistêmica; (...)”.
Para a autora, é preciso perceber o mundo e os seres em sua totalidade e o resultado
dos esforços humanos em perfeita sintonia com as suas necessidades, tendo por base as
relações que mantêm com o mundo, com os demais seres e consigo mesmo.
33
A era das relações, como a autora denomina, caracterizada pelos “sistemas inter,
intra e transpessoais” (MORAES, 1997, p. 83), é o momento da criatividade, da
autonomia, da construção e evolução dos processos de desenvolvimento humano.
A educação, no contexto atual, ainda privilegia uma prática tradicional de ensino
que, de certo modo, impede o desenvolvimento do ser humano em sua totalidade. Isso se
estende também à discussão em torno da formação do professor que utiliza a informática.
Pela sua recente inserção na escola, pouca tem sido a atenção dada a este aspecto da
educação: a prática e a formação docente em ambientes informatizados. Os projetos de
informática educativa têm se limitado, na maioria das escolas, a aprender informática, fato
esse que ocorre pela falta de compreensão e conhecimento “para o uso competente dessas
tecnologias nos ambientes escolares“ (MORAES, 2000, p. 03).
Nesse percurso, colocam-se os inúmeros problemas que atingem a formação
docente, incidindo na deficiência de seu próprio crescimento, revelando a força do
paradigma (KUHN, 1989) para explicar o desenvolvimento teórico e prático. Alguns
problemas se configuram como uma crise que aponta a insuficiência do paradigma
(KUHN, 1989). As possíveis soluções acabam por ser superficiais, rompendo aspectos da
teoria e da prática na formação dos docentes e reduzindo o potencial explicativo do
paradigma.
Moraes (2000, P. 03), afirma que “estamos falhando por falta de metodologias
adequadas e epistemologicamente mais atualizadas, inspiradas em paradigmas que
facilitem a operacionalização dos trabalhos na direção construtiva e criativa que
almejamos”, ou seja, uma educação para a era das relações que, para a autora, implica:
(...) o alcance de um novo patamar na história da evolução da humanidade no
sentido de corrigir os inúmeros desequilíbrios existentes (...). Uma educação que
favoreça a busca de diferentes alternativas que ajudem as pessoas a aprender a
viver e a conviver, a criar um mundo de paz, harmonia, solidariedade,
fraternidade e compaixão. (MORAES, 2000, p. 27)
Nesse paradigma, a educação é considerada um sistema aberto e transformador que
valoriza as ações do sujeito com os demais e com o meio em que vive.
A educação tende a seguir outro parâmetro que não seja somente o
desenvolvimento de habilidades cognitivas, mas também implica uma ação conjunta da
34
“intuição, da criatividade, da responsabilidade social incluindo os componentes éticos,
afetivos, físicos e espirituais“ (MORAES, 1997, p. 211).
Uma educação baseada nesses princípios, procura oferecer condições ao indivíduo
de aprender o essencial da vida, além de promovê-la por meio de suas ações no mundo.
Da educação se exigem os instrumentos necessários para se estar no mundo como
um ser dinâmico e transformador e, portanto, conhecedor dos limites e das possibilidades
que possui para desenvolver suas capacidades e habilidades humanas.
Para isso, há que se rever a prática e a formação dos professores no sentido de
promover uma mudança capaz de cumprir com os propósitos acima, uma mudança de
paradigma que se configura numa reconstrução e melhoria das “concepções e prática
pedagógicas, resgatando o prazer e a alegria na práxis docente, criando novos ambientes de
aprendizagem e construindo novos horizontes capazes de gerar novas dinâmicas, novos
processos e valores.” (MORAES, 2000, p. 11)
Essa idéia parece estar vinculada aos estudos da neurociência e da ciência cognitiva
que, para Assmann (2000), apenas possuem terminologias diferentes sobre o mesmo
paradigma, quais sejam;
A teoria dos sistemas autopoiéticos dos neurocientistas Maturana e Varela; a
sinergética do físico de Stuttgart, Herman Haken; a teoria das estruturas
dissipativas e da termodinâmica não-linear do físico-químico de Bruxelas, Ilya
Prigogine; a teoria dos hiperciclos autocatalíticos do matemático franco-norte-
americano René Thom, entre outros. (ASSMANN, 2000, p. 57)
Portanto, a educação começa a tomar rumos um pouco distantes de tempos atrás
quando os principais recursos disponíveis para o ensino eram apenas o quadro negro e a
cartilha, embora permaneçam a disciplina e o controle.
Essas mudanças tornam-se necessárias também na formação de professores cujo
resultado corresponda aos reclames da sociedade emergente.
35
5. Contexto histórico da informática educacional no Brasil
Nessa unidade estaremos discutindo sobre a inserção da informática na sociedade e na
educação no Brasil.
Para quem pensa que a informática foi introduzida na escola no século XXI como algo
muito recente, engana-se, pois as primeiras iniciativas aconteceram no final da década de 60 e
início dos anos 70. Foi nessa época que se estabeleceram as políticas públicas relacionadas à
informatização da sociedade, para garantir, ao mesmo tempo, a segurança e o desenvolvimento da
nação através da almejada autonomia tecnológica.
O governo federal criou diversos órgãos específicos com a finalidade de promover o
desenvolvimento e a transição tecnológica em âmbito nacional. É importante salientar a plena
vigência do regime de ditadura militar nesse período e o controle desse trabalho vinculado ao
Conselho de Segurança Nacional.
Para o governo militar era consenso de que a educação constituía-se no melhor
meio para encaminhar o processo de informatização, segundo consta nos dados do Projeto
EDUCOM (ANDRADE; LIMA, 1993), documento elaborado com o objetivo de ser um
referencial histórico dos diferentes fatos que marcaram a inserção do computador na
educação.
Coube ao Ministério da Educação a tarefa de criar mecanismos e instrumentos, através de
estudos e implementação de projetos que permitissem investigações na área educacional.
Os primeiros trabalhos aconteceram na Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Universidade Estadual de Campinas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade
Federal de Minas Gerais e Universidade Federal de Pernambuco.
Constituiu-se um marco, para esse processo, a vinda de Seymour Papert em 1975 à
UNICAMP (MORAES, 1993).
Papert, foi professor de matemática e colaborador de Piaget em Genebra, desenvolveu a
linguagem LOGO, que, a princípio, não foi elaborada para utilização em ambiente educacional,
mas serviu como ponto inicial para as discussões sobre a informática na educação.
Papert veio, nessa ocasião ao Brasil, apresentando o software LOGO como um recurso
facilitador da aprendizagem. Até então, a informática era coisa de 1º para 1º mundo. As escolas
brasileiras desconheciam essa tecnologia que, a princípio, ficou reservada à pesquisa nas
Universidades.
36
Nesse período, os professores universitários envolvidos no processo, iniciaram pesquisas
de mestrado e doutorado no país e no exterior, especialmente na UNICAMP, enquanto outras
experiências surgiam na Universidade do Rio Grande do Sul, com crianças da escola pública.
Na década de 80, foi instituído o Núcleo de Informática Aplicada à Educação -
NIED/UNICAMP com o apoio do MEC, que atualmente desenvolve pesquisas sobre as várias
versões da linguagem LOGO, e o Laboratório de Estudos Cognitivos – LEC, na Universidade do
Rio Grande do Sul que realiza estudos em cibernética e robótica aplicadas a educação.
Nesse mesmo período, ocorreu o I Seminário Nacional de Informática na Educação
realizado na Universidade de Brasília e contou com especialistas nacionais e
internacionais. Surgiu aí a idéia da implantação de projetos pilotos nas Universidades que,
posteriormente, serviriam de subsídio para uma futura política nacional de Informatização
da Educação.
A partir de então, foi divulgado o documento Subsídios para implantação do Programa de
Informática na Educação, que tinha como princípio viabilizar um sistema de ensino realmente
adequado às necessidades e às realidades regionais com flexibilidade suficiente para o atendimento
às situações específicas e o aumento da efetividade no processo ensino-aprendizagem.
Em 1984, foram firmados os primeiros convênios para implantação dos centros-piloto.
Entretanto, em março de 1985, com o término do governo militar e mudanças nas orientações
políticas, o governo deixou de cumprir parte de suas obrigações financeiras e o processo
estacionou. (MORAES, 1997)
Inicia-se uma nova fase no ano seguinte com a criação do Comitê de Assessoramento de
Informática na Educação, apresentando vários projetos e se propondo, sobretudo, à convergência
de esforços para buscar uma autonomia tecnológica no país e a capacitação nacional para que a
sociedade brasileira pudesse assumir o comando do processo de informatização da escola pública
brasileira.
Em função de o país não dispor de conhecimento técnico-científico suficiente nessa
área, o MEC promoveu as primeiras capacitações de profissionais no âmbito universitário.
Com isso foi desenvolvido o Projeto FORMAR, na UNICAMP, em convênio com os
demais centros piloto do EDUCOM. Os professores do curso tinham objetivos claros e
definidos de implementar um Centro de Informática Educativa – CIED com apoio
financeiro do MEC.
O FORMAR teve como objetivo principal o desenvolvimento de cursos de
especialização na área de informática na educação. O primeiro curso foi
37
realizado na UNICAMP, durante os meses de junho a agosto de 1987 e
ministrado por pesquisadores, principalmente, dos projetos EDUCOM. Este
curso ficou conhecido como FORMAR I. No início de 1989 foi realizado o
segundo curso. A estrutura dos cursos é muito semelhante, apesar de os objetivos
específicos serem um tanto diferentes. (VALENTE, 1993, p. 136)
O resultado do investimento foi a implantação de 17 CIEDs em diferentes estados da
federação nos anos de 1988 e 1989. Tais Centros tinham por objetivo atender a professores e
alunos do 1º e 2
º graus (atual ensino básico), bem como aos professores da educação especial e à
comunidade em geral, tornando-se responsáveis pela preparação de uma significativa parcela da
sociedade brasileira.
A iniciativa de formar professores foi ambiciosa, pois as escolas, nessa época, não
possuíam computadores para uso pedagógico, apenas algumas universidades os tinham.
A partir disso foi instituído, em 1989, o Programa Nacional de Informática na Educação –
PRONINFE, que passou por um período de aprovação, reestruturação e integração de metas e
objetivos até a criação de uma rubrica específica, no orçamento da União, o que aconteceu em 1992
na qual ficaram estabelecidas as metas para o desenvolvimento de ações de informática educativa.
Dentro dessa dimensão maior em que estava imersa a Política de Informática
Educativa, foi desenvolvido, também em 1991, o Plano de Ação Integrada
(1991-1993), que redimensionou e aprofundou algumas ações estatais de forma a
garantir a continuidade do processo de informatização do ensino. (OLVEIRA,
1999, p. 49-50)
Em abril de 1997, o MEC lançou o Programa Nacional de Informática na Educação –
PROINFO, o qual de certa forma veio substituir o PRONINFE, agora com o objetivo de
possibilitar o acesso ao computador em muitas escolas brasileiras. Por meio desse programa, o
MEC pretendia adquirir, em convênio com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a
compra de 100 mil computadores distribuídos em várias escolas da rede pública nos estados
brasileiros: desses, apenas 30 mil foram para 2.500 escolas, ficando a deriva os outros 70 mil.
Esse Programa, em vigor até o momento, é responsável também pela formação docente e
vem realizando cursos de especialização e capacitação, formando novos multiplicadores para
atuarem nos Núcleos de Informática Educativa - NTE implantados em 27 Estados e Distrito
Federal.
Segundo Cláudio Francisco de Souza Sales, ex-Diretor do Departamento de Informática na
Educação do PROINFO, mencionou na época que, “a prioridade é o treinamento dos professores.
Nesse ponto, superamos nossas metas. Foram instalados 233 Núcleos de Tecnologia Educacional
38
(NTE) em todo o país, onde foram capacitados 1.419 multiplicadores e treinados 20.557
professores.” (FALZETTA, 2000, p. 44)
Porém, esse trabalho vem sendo realizado lentamente, se levarmos em consideração a
aprendizagem que os próprios alunos desenvolvem fora da escola, principalmente nos maiores
centros do país.
No Brasil, houve, durante todo esse percurso (de 1970 a 1997), a tentativa de se evitar os
modelos estrangeiros, devido ao movimento paralelo existente nos países desenvolvidos.
A realização foi bastante significativa uma vez que procurou, a partir da realidade
brasileira, favorecer o surgimento de novas pesquisas, estudos e investimentos, embora esses
últimos representassem gastos consideráveis em relação às reais necessidades das escolas públicas.
Esse processo de informatização do ensino vem suscitando questionamentos de
toda ordem, seja técnica, seja pedagógica, considerando isso muito positivo no sentido de
provocar novas discussões e se elaborarem novas propostas que melhor atendessem à
política educacional vigente.
5.1.A formação dos professores para uso da informática na escola
De acordo com estudos de Valente (1999), com a introdução dos computadores nas
escolas, a formação dos professores tornou-se fundamental no processo, uma vez que
passou a exigir uma nova postura do docente no cotidiano escolar, tendo como finalidade
“auxiliá-lo a desenvolver conhecimento sobre o próprio conteúdo e sobre como o
computador pode ser integrado no desenvolvimento deste conteúdo,” (VALENTE, 1999, p.
18) ou seja, vai além do simples domínio do computador.
A necessidade de formar professores surgiu desde o princípio do projeto
EDUCOM, sendo que, inicialmente, foram realizados cursos nos Centros de Pesquisa nas
Universidades e, posteriormente, nos Centros de Informática Educativa (CIEDs) nos
Estados. Por fim, têm-se realizado cursos nas escolas onde atuam os professores com
atividades presenciais e via telemática, mas que são insuficientes, pois os professores, em
sua grande maioria, não dispoem de tempo para esse tipo de formação.
Entendemos que cada época foi marcada por um modelo de formação, devido às
“condições econômicas, infra-estrutura, tipo de demanda e disponibilidade de tempo dos
formadores e de informação”(VALENTE, 1999, p. 131). Esses dados podem interferir no
39
fazer pedagógico que envolve a tentativa de transmissão do conhecimento em alguns
momentos e, em outros, a construção do conhecimento.
A formação que enfatiza a transmissão de informação geralmente acontece em
cursos distantes da realidade escolar, seguindo padrões tradicionais que dificultam a
operacionalização das idéias propostas.
Realizar cursos de formação na escola possui algumas limitações, sendo a principal
delas a obrigatoriedade do formador estar disponível para atender os professores em grande
parte do tempo. A alternativa, para isso, poderia ser através da educação a distância.
5.2.A formação nos Centros de Pesquisa
Valente (1999) denomina de abordagem mentorial a formação realizada nos
Centros de pesquisa situados na UFPE, UFMG, UFRJ, UNICAMP e UFRGS, durante a
vigência do Projeto EDUCOM.
Nesse período não havia pesquisadores formados para a utilização de informática
na área de educação, por isso eram realizados estudos de auto-formação baseados em
experiências compartilhadas com o aprendiz. Foi a partir dessa formação que se deu início
aos cursos de capacitação.
A fase da abordagem mentorial foi necessária ao encaminhamento dos CIEDs e no
processo de organização dos Núcleos de Informática Educativa - NTE, em que o professor
com mais experiência disseminava o conhecimento, utilizando o computador e
desenvolvendo leituras e discussões de textos.
Os objetivos dessa fase, nas diferentes instituições, segundo Valente (1999, p. 43),
foram os seguintes:
> realizar pesquisas e atividades de formação sobre o ensino de informática no
ensino médio, informática para deficientes auditivos e pré-escolares;
> produzir programas educativos e acompanhar a implantação da informática na
escola pública;
> desenvolver software interativo; usar a metodologia LOGO;
> desenvolver sistema de auto-avaliação e iniciar cursos de especialização em
informática na educação.
40
Essa abordagem, apesar de gerar confiança, atingiu um número reduzido de
professores, pois a maioria dos docentes ainda não tinham acesso ao computador em suas
escolas de origem.
5.3 A formação de professores para os CIEDs, CIETs e CIEs
Foram realizados na UNICAMP, conforme Valente (1999) relata, os cursos Formar
I e Formar II, com a finalidade de atingir um número maior de profissionais para atuarem
na área da informática na educação nos CIEDs (Centros de Informática em Educação
situado nas Universidades), CIETs (Centros de Informática das Escolas Técnicas Federais)
e CIEs (Centros de Informática na Educação direcionado para a educação básica).
Era interesse do MEC que esses estudos não ficassem restritos aos Centros de
Pesquisa nas universidades, mas fossem expandidos para as escolas de modo geral.
Tanto o Formar I quanto o Formar II foram organizados em nível de especialização
em duas turmas com 50 alunos cada uma. Havia participantes de todas as regiões do país.
Embora restrito a 100 professores, a pretensão dos cursos era disseminar as
informações, sendo aqueles considerados multiplicadores em suas instituições de origem.
Houve dificuldades a serem superadas, bem como avanços em todos os sentidos,
desde o primeiro contato com o computador, o deslocamento dos professores para a cidade
de Campinas e ao desafio de introduzir novas práticas em sala de aula.
A formação realizada levantou aspectos de suma importância, havendo
a necessidade de reformular e repensar uma nova abordagem que superasse as limitações
da prática, uma vez que as escolas ainda não dispunham de computadores.
Atualmente isso já é uma realidade, pois algumas das escolas públicas no país
possuem um número razoável de computadores e de professores mais bem preparados para
as aulas. Conta-se, para isso, com cursos de extensão e especialização ofertados pelas
Universidades e de cursos a distância.
Abaixo você pode visualizar a cronologia do processo de inserção da informática na
educação.
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1970- 80 Políticas de informatização da sociedade
Década de
1980
Instituido o núcleo de Informática na Educação –
NIED/UNICAMP e Laboratório de Estudos cognitivos-
LEC/ UFGRS
I Seminário Nacional de Informática na Educação
1984 Implantação dos Centros Piloto
1986 Criação do Comitê de Assessoramento de Informática na
Educação
1987 – 88 Implantação dos CIEDs
1989 Programa Nacional de Informática na Educação –
PRONINFE
1991 Plano da Ação Integrado
1997 -
atualidade
Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO
2005 UAB – Educação a Distância
5.4. A formação de professores na atualidade
Em vista dos avanços alcançados nos estudos da informática na educação
desenvolvidos pelos Centros do Projeto EDUCOM, hoje as várias abordagens se
distribuem entre a formação técnica, a formação baseada no construcionismo e uma
formação pautada em um novo paradigma na educação.
É importante destacar que o processo de aprendizagem assume caráter essencial na
dinâmica dessas mudanças que caracterizam a informática na escola.
Atualmente um dos aspectos mais discutidos em nível nacional e internacional na educação
se refere à formação de professores. As mudanças sócio-econômicas e políticas vem provocando
modificações nas concepções teórico-metodológicas do processo educativo as quais o professor
necessita acompanhar.
Porém, vemos em sua formação certa fragilidade no sentido de atualizar conhecimentos,
metodologias e propostas que estejam adequadas às necessidades da comunidade escolar e à
estrutura e organização da escola, especialmente quando se trata de utilizar os recursos
tecnológicos.
42
Para entendermos melhor como ocorre o processo de formação de professores, podemos
verificar, inicialmente, o que vem a ser o conceito de formação, formação inicial, formação
continuada e sua relação com o processo educativo.
A formação pode ser entendida de diversas formas. De acordo com o dicionário do Aurélio,
a formação significa:
1. Ato, efeito ou modo de formar. 2. Constituição, caráter. 3. Maneira porque se constitui
uma mentalidade, um caráter, ou um conhecimento profissional. Embora esteja a par dos novos
métodos adotados, custa-lhe muito ir contra a sua formação historicista. (BUARQUE DE
HOLANDA, 2004, p. 923 );
Para alguns autores da área educacional, a formação “...é geralmente associada a alguma
actividade, sempre que se trata de formação para algo” (HONORÉ, 1980).
Assim, a formação como função social pode ser a transmissão de saberes, de saber-fazer ou
do saber-ser que se exerce em benefício do sistema socioeconómico, ou da cultura dominante. A
formação pode também ser entendida como um processo de desenvolvimento e de estruturação da
pessoa que se realiza com o duplo efeito de uma maturação interna e de possibilidades de
aprendizagem, de experiências do sujeito. Por último, é possível falar-se da formação como
instituição, quando nos referimos à estrutura organizacional que planifica e desenvolve as
actividades de formação. "A formação pode adoptar (sic) diferentes aspectos conforme se considera
o ponto de vista do objecto (sic) ( a formação que se oferece, organiza, exteriormente ao sujeito),
ou o do sujeito ( a formação que se activa (sic) como iniciativa pessoal)." (FERRY, 1991 p. 19)
“...um processo de desenvolvimento individual destinado a adquirir ou aperfeiçoar
capacidades" (FERRY,1983, p.36 ap. PERRENOUD, 1992, p. 22)
Para Rodríguez Diéguez, (1980, p.22-38) a formação de professores nada mais é do que “o
ensino profissionalizante para o ensino. Desse modo, não representa senão outra dimensão do
ensino como actividade (sic) intencional, que se desenvolve para contribuir para a
profissionalização dos sujeitos encarregados de educar as novas gerações.”
Medina e Domínguez, (1989, p.87 apud PERRENOUD, 1992, p.23). que dizem o seguinte:
consideramos a formação de professores como a preparação e emancipação
profissional do docente para realizar crítica, reflexiva e eficazmente um estilo de
ensino que promova uma aprendizagem significativa nos alunos e consiga um
pensamento-ação inovador, trabalhando em equipa (sic) com os colegas para
desenvolver um projecto (sic) educativo comum.
Após citarem e analisarem vários autores e suas concepções, os autores do referido livro,
no começo desse capítulo, explicitam o conceito deles a respeito da formação de professores:
43
A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de
propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didáctica e da Organização
Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou
em exercício – se implicam individualmente ou em equipa, em experiências de
aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos,
competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no
desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objectivo de
melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem. (MEDINA;
DOMINGUES, 1998, p. 26)
Essa concepção, apesar de ser aceita e exercida por muitos, se apresenta contrária à
realidade e às necessidades atuais. É uma forma mecânica de pensar a formação, pois não leva em
conta a reflexão, a análise da prática em sala de aula e fora dela. Não se busca compreender o
ensino, aproximar-se dele, pesquisá-lo, para então propor soluções para as mudanças tão
necessárias. É preciso conscientizar os professores que têm como alicerce a formação baseada
apenas na profissionalização, que essa prática não resistirá por muito tempo, e logo eles estarão
fora do campo educativo.
Essa idéia nos faz pensar na formação continuada, que é essencial para a qualidade do
ensino e da educação, além de contribuir para o aperfeiçoamento profissional e pessoal.
A formação continuada dos profissionais da educação básica tem acontecido especialmente
por meio da Educação a Distância após ter sido instituído o Sistema UAB – Universidade Aberta
do Brasil em 2005, pelo Ministério da Educação.
Com a finalidade de proporcionar a formação em exercício aos professores da educação
básica, a UAB vem se destacando como modalidade de educação a distância oferecendo cursos de
graduação e pós-graduação àqueles que não têm a oportunidade de freqüentar o ensino regular. A
Educação a Distância – EaD, apesar das divergências existentes na forma de implantação e de seu
funcionamento, ainda precisa conviver com a desconfiança da sociedade em relação a qualidade do
ensino que oferece.
Sabemos que a EaD não é tão recente, mas se alastrou muito rapidamente nos últimos anos
devido a adoção dos recursos tecnológicos para otimizar o processo educativo nessa modalidade.
O sistema UAB adota o moodle como ambiente virtual para as aulas online, além da
produção de material didático elaborado pelo professor, vídeos, web conferências e e-books.
O moodle é o ambiente que iremos utilizar para desenvolver nossas aulas como já vimos na
unidade 2 desse texto um pouco sobre seu funcionamento e algumas de suas ferramentas.
44
6. Informática Educativa
Na sequencia de nossas discussões sobre as novas tecnologias aplicadas a educação,
vamos abordar de forma bem sucinta o que vem a ser software educacional e software
livre. Será breve, pois nossa intenção se direciona a prática, ou melhor, objetivamos
realizar atividades utilizando esses recursos diretamente no computador.
Porém, é importante abordar alguns elementos mais significativos antes de escolher
e trabalhar com um software em sala de aula como, por exemplo, quais as características
de um software educacional, que tipos de softwares existem, quais suas finalidades e, a
partir de quais concepções foram criados.
Como posso saber que software é mais adequado para minha classe? Qual o nível
de aprendizagem que essa classe está e de que forma o software pode vir a reforçar seus
conhecimentos?
Essas questões nos levam a reconhecer a importância da escolha de um recurso
como esse partindo de um pressuposto que revele um conceito diferenciado dos demais
programas existentes. Ou seja, que, num primeiro momento, ao se buscar um software
educacional, seja identificado o seu uso pedagógico e os resultados que podem trazer para
a aprendizagem.
6.1. Software educacional
Entende-se por software educacional o programa de computador desenvolvido para
atender a objetivos educacionais pré estabelecidos e, no qual a qualidade técnica se
subordina as considerações de ordem pedagógica que orientam o seu desenvolvimento.
(VALENTE, 1993).
Esse tipo de software possui duas características que estão estritamente
relacionadas aos objetivos estabelecidos pelo professor. A primeira delas se refere ao
45
processo de formação em que o aluno realiza suas atividades, incentivado pela visão
construtiva presente no software. O software é concebido por uma equipe que valoriza a
autonomia do aluno proporcionando a ele maior liberdade, criatividade e ampliação do
conteúdo estudado. Por outro lado exige maior conhecimento técnico e tempo de dedicação
para conhecer o seu funcionamento.
São exemplos de software de formação a linguagem LOGO – que é um software
livre, Micromundos é um software semelhante ao LOGO, porém licenciado e os softwares
abertos como editores de texto, de apresentação, de dados e outros semelhantes.
A segunda característica se refere a um software que se concentra mais no processo
de informação, ou seja, o aluno reconhece o conteúdo já trabalhado pelo professor, e
realiza atividades instrucionais. Exige do aluno mais agilidade, motivação e concentração,
porém repete muitos recursos, é fechado e limita a liberdade do aluno em realizar as
tarefas. São exemplos desse tipo de software a enciclopédia e os dicionários.
Os softwares podem ser classificados como tutoriais, exercício e prática, jogos
educativos, simulação e tutelado. Cada um deles tem um papel diferenciado em relação aos
objetivos e a avaliação que são definidos pelo professor.
Segundo Oliveira (2001), são três as concepções que norteiam a construção de um
software educacional as quais, grosso modo, apresentamos aqui:
1. concepção empirista relacionada ao comportamento e condicionamento humanos e, no
qual, as atividades são organizadas de modo a favorecer o estímulo-resposta;
2. concepção racionalista em que estabelece um padrão de comportamento e, é resultante
de estruturas orgânicas inatas;
3. concepção interacionista na qual o conhecimento é formado pelas trocas que o sujeito
realiza com o meio.
6.2. Software livre ou gratuito
Atualmente estamos conhecendo a cada dia um software novo seja ele educacional
ou não e, o interessante é que se trata de software gratuito ou software livre. Esse tipo de
software não necessita de licença para ser instalado no computador basta você solicitar o
download para que instale automaticamente. Temos que mencionar que isso não é regra
46
geral existem alguns softwares que exigem outros programas para que ele seja instalado e
funcione normalmente.
Salientamos que o importante é saber por que irá utilizar esse recurso e definir
claramente, os objetivos visando a aprendizagem de seus alunos.
Destacamos aqui o cmaptools, que é um software destinado à construção de mapas
conceituais. É um software livre e serve para você desenvolver a elaboração de conceitos
sobre determinados conteúdos com alunos de qualquer série.
O cmaptools foi criado nos Estados Unidos, em Ithaca, por Joseh Novak que
pretendia descobrir se a criança tinha limitações no desenvolvimento cerebral para a
compreensão de conceitos abstratos, e se eles somente deveriam ser ensinados a crianças
de 11 anos ou mais, e, ainda queria investigar se, com um ensino apropriado dos conceitos
básicos de ciências às crianças de 6 a 8 anos de idade, elas poderiam desenvolver uma
compreensão capaz de influenciá-las na aprendizagem de anos posteriores e verificar se o
resultado de um estudo longitudinal daria sustentação às idéias fundamentais da teoria da
assimilação de Ausubel sobre o desenvolvimento cognitivo. (NOVAK; CAÑAS, 2008)
Abaixo você vê a interface do Cmaptools para construção de mapas.
Fonte: IHMC – Institute for Human and Machine Cognition.
47
Essa proposta em utilizar mapas conceituais veio a ser pensada pelo fato de que
muitas pessoas adultas não têm claro certos conceitos básicos, seja de conteúdos já
estudados na escola, seja de fatos que acontecem diariamente em suas vidas. A dificuldade
de compreender e elaborar os conceitos estão presentes em qualquer idade.
Para construir um mapa o indivíduo precisa organizar um conceito seguido por
uma proposição. “Conceitos e proposições são os blocos de construção de conhecimento
em qualquer domínio.“ (NOVAK; CAÑAS, 2008)
Os mapas podem ser simples e estruturados. É constituído por uma sistematização
de processos, ou seja, parte de conceitos mais abrangentes para conceitos menos
inclusivos. Na organização das informações, sistematiza o que se já se conhece e ajuda a
entender o que não se conhece. Possui conceitos ordenados que formam as proposições,
seguem uma hierarquia e são conectados por arcos.
O exemplo abaixo apresenta a construção de um mapa simples desenvolvido a
partir do conhecimento instalado sobre o tema: a terra. Nele podemos identificar o grau de
compreensão do conceito
Mapa construído para exposição em sala de aula na disciplina de Novas Tecnologias Aplicadas a Educação.
48
Do mesmo tema foi construído um mapa estruturado após se buscar os novos
conhecimentos por meio de outros recursos.
Mapa construído para exposição em sala de aula na disciplina de Novas Tecnologias Aplicadas a Educação.
Verificamos que tanto um quanto outro mapa representa os conceitos apreendidos
sobre o tema podendo ser ampliado cada vez que se estiver pré-disposto a buscar novos
conhecimentos.
A utilização do cmaptools é aberta a qualquer série, pois as crianças como estão em
fase de aprendizagem constante, isto é, salvo os casos especiais, apresentam condições
muito favoráveis para participar do processo de construção de um mapa que exige dela
certo grau de compreensão na elaboração um conceito.
Por isso esse software foi pensado a partir da teoria da aprendizagem significativa
desenvolvida por David Ausubel.
Ausubel (1982), compreende o desenvolvimento de novos significados como uma
construção sobre conceitos e proposições anteriores relevantes, assim como compreende a
estrutura cognitiva como uma organização hierárquica, com conceitos mais específicos e
menos inclusivos partindo dos conceitos mais gerais e, ainda enfatiza que, quando a
aprendizagem significativa ocorre, as ligações entre os conceitos se tornam mais precisas e
melhor integradas com outros conceitos e proposições.
49
A Teoria de Ausubel prioriza a Aprendizagem Cognitiva, que é a integração do
conteúdo aprendido numa edificação mental ordenada, a Estrutura Cognitiva.
Essa Estrutura Cognitiva representa todo um conteúdo informacional
armazenado por um indivíduo, organizado de certa forma em qualquer
modalidade do conhecimento. O conteúdo previamente detido pelo indivíduo
representa um forte influenciador do processo de aprendizagem. Novos dados
serão assimilados e armazenados na razão direta da qualidade da Estrutura
Cognitiva prévia do aprendiz. Esse conhecimento anterior resultará num "ponto
de ancoragem" onde as novas informações irão encontrar um modo de se integrar
àquilo que o indivíduo já conhece. Essa experiência cognitiva, porém, não se
influencia apenas unilateralmente. Apesar da estrutura prévia orientar o modo de
assimilação de novos dados, estes também influenciam o conteúdo atributivo do
conhecimento já armazenado, resultando numa interação evolutiva entre "novos"
e "velhos" dados. Esse processo de associação de informações interrelacionadas
denomina-se Aprendizagem Significativa. (VALÉRIO, 1999, p.01)
Para que ocorra essa aprendizagem o aluno deverá dispor, em sua estrutura
cognitiva, de conhecimentos prévios para dar a eles novos significados, mas ao mesmo
tempo, deve estar pré-disposto a dar significados a esses novos conhecimentos. Caso
contrário a aprendizagem não será significativa.
50
7. Redes Sociais
As redes sociais, considerando sua existência a partir da necessidade dos seres
humanos desenvolverem a comunicação, são estabelecidas desde as organizações sociais mais
remotas com o intuito de aproximação conforme zona de interesse de determinado grupo.
Conforme Rangel (2007) em sua perspectiva sistêmica, as redes se originam de interações entre
seus membros,
Estas interações se caracterizam, além dos vínculos, da comunicação e das
relações, pela organização ao redor do fazer, de estruturar o tempo e o modo
como este se utiliza. Assim, as relações sociais permitem dar sentido às vidas das
pessoas que nelas participam, favorecendo a construção de suas identidades,
propiciando a sensação de que estão ali para alguém, que tem os recursos
necessários para dar conta de diversas tarefas e dar suporte social. Desta forma,
promovem o sentido a suas ações e práticas de cuidado social e autocuidado.
(RANGEL, 2007, 27)
Na contemporaneidade, com o advento das tecnologias da informação e da
comunicação, o espaço mais favorável para democratização dessas redes é o
disponibilizado pela rede mundial de computadores, na internet. Criam-se lá comunidades
virtuais com os mais diversificados fins discutindo publicamente determinados temas
durante determinados espaços de tempo e com empenho de determinada quantia de
sentimentos (RECUERO, 2005).
Para entendermos essa dinâmica no ciberespaço, o presente capítulo discutirá
os seguintes aspectos:
c. A estrutura das redes sociais: a internet e seus recursos de interatividade
d. A cultura própria da internet e seus impactos
e. Caracterização de rede social e especificação dos elementos da
comunidade virtual
f. As possibilidades pedagógicas nesse contexto.
51
O objetivo maior é desencadear reflexões sobre a crescente incorporação das
redes sociais na organização, disseminação e incorporação da cultura na atualidade e
perceber, nesse contexto, os encaminhamentos pedagógicos necessários para tornar nossos
educandos receptores menos alienados e mais propensos a produzir comunicação de
qualidade nesses espaços.
7.1. Conhecendo a organização da Web
A internet pode, brevemente, ser conceituada como um conjunto de redes de
computadores interligados por serviços que permitem compartilhamento de dados e
informações. Originalmente, foi desenvolvida com fins militares durante a Guerra Fria
como recurso de comunicação entre as bases militares americanas. Depois desse período, o
projeto foi encaminhado para pesquisas em universidades do país.
Surgem, a partir de pesquisas em centros acadêmicos, possibilidades de
utilização mais dinâmicas desse recurso. A WWW – World Wid Web (rede de alcance
mundial), um sistema interligado de documentos em hipermídia, é o exemplo mais
contundente de desenvolvimento de sistemas para plataformas da internet. A Web tornou-
se muito popular devido à praticidade que imprime à operacionalização da internet, tanto
que, muitas vezes, é tida como sinônimo dela.
Para entender um pouco mais sobre o desenvolvimento de softwares para a internet
vale a pena assistir ao filme “Os piratas do Vale do Silício” (Pirates of Silicon Valley) de 1999 que
conta a história da Microsoft e da Apple. É um longa metragem de 95 minutos feito para televisão,
com direção de Martyn Burke e roteiro de Paul Freiberger e Michael Swaine. Assista ao trailler e
saiba mais em http://alt.tnt.tv/movies/tntoriginals/pirates/frame_index.htm.
7.1.1 Modelo Web 1.0
O primeiro modelo disponibilizado para internet comercial foi a Web 1.0.
Quanto às suas particularidades pode-se destacar: páginas menos dinâmicas com conteúdos
estáticos; utilização de conjuntos de quadros e tabelas para alinhamento das informações
da página; impossibilidade de interação com os conteúdos, por exemplo, de um formulário
online que precisava ser encaminhado via e-mail para ser respondido.
52
A Web 1.0 destacou-se, principalmente, pela grande quantidade de informações
que disponibilizava. Embora já houvesse hiperlinks, a possibilidade de alterar conteúdos
era inexistente e os aplicativos fechados. Definir esse tipo de sistema fica mais fácil
quando comparado às evoluções trazidas pelo sistema Web 2.0 que vai garantir mais
potencial de interatividade e dinamicidade à publicação de conteúdos.
Observe, abaixo, um exemplo de constituição de desenho da Web 1.0
Figura X – Exemplo de site com design web 1.0
Fonte: http://marshallbrain.com/
Percebe-se, nesse desenho as características descritas acima de disposição dos
conteúdos em quadros estáticos sem, inclusive, a inserção de Gifs. Há presença de
hiperlinks que favorecem apenas o deslocamento de páginas para leitura com uma estrutura
linear de disposição dos conteúdos e sem permissão de comunicação direta. Essa
organização, embora, ainda utilizada por alguns designers, não é uma opção de interação,
acontece por meio, apenas, da transmissão linear de informações ao leitor.
7.1.2. Modelo Web 2.0
Surge, com o desenvolvimento e aprimoramento da primeira versão, a segunda
geração da Web, caracterizada por um maior dinamismo gráfico e com uma tendência à
troca de informações e produções individuais e coletivas.
53
O modelo Web 2.0, conforme O’Reilly (apud BAMBILLA, 2011, p.15)
[...] é a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das
regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais
importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se
tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a
inteligência coletiva.
Esse sistema, com fonte aberta, permite maior presença dos internautas na
produção de conteúdo transformando as relações de comunicação midiáticas que antes só
aconteciam em grande escala pelos veículos tradicionais (emissoras de televisão e rádio).
Conforme Carvalho (apud BAMBILLA, 2011, p.101)
Com as possibilidades trazidas ou reforçadas pela Web 2.0, o público tornou‐ se
fonte de informação, muitas vezes noticiando antes dos veículos de referência.
Basta um aparelho móvel conectado para que sejam publicados relatos por meio
de vídeo, texto e fotos, direto do local dos acontecimentos. Diante desse
contexto, a resposta mais comum das organizações jornalísticas tem sido a
adoção de estratégias de abertura na produção dos conteúdos e de inclusão do
público em suas coberturas noticiosas.
Nesse sistema, as relações de comércio também são modificadas, permitindo
abertura de mercado e mobilização de estratégias por meio do e-commerce. Os softwares,
por exemplo, funcionam agora pela internet e são comercializados por inúmeras empresas
que produzem aplicativos específicos para diferentes plataformas de recepção
(computadores, tablets, celulares).
As redes sociais, nesse sistema, espalham e popularizam seus conceitos de
comunicação. São exemplos a organização de Wikis para produção conjunta de conteúdos
como o Wikipedia e sites de compartilhamento: o Flickr, o You Tube, dentre outros.
54
Figura X – Exemplo de site com design web 2.0
Fonte: http://www.youtube.com/
O Youtube é um website que apresenta os elementos 2.0, tais quais:
convergência da mídia impressa com a audiovisual; hiperlinks dinâmicos que permitem
interação no que se refere, por exemplo, a criação de listas de reprodução e discussão;
possibilidade de fazer uploads de materiais de autoria.
7.1.3 Rumo à Web 3.0
É fato que o desenvolvimento tecnológico é iminente e que, com o aprofundamento de
pesquisas, haverá também modificações nas formas de comunicação online. Observe abaixo a linha
do tempo da tecnologia para comunicação na Web:
Modelo Recursos
Internet clássica File systems; File servers; database; groupwere; e-
mail.
Web 1.0 Websites; keyword search; diretório de portais.
Web 2.0 Weblogs; wikis; lighteight collaboration; social
networking; social media sharing; mashups; semantic
search; widgets.
55
Web 3.0 Semantic database; distributed search; intelligent
personal agents.
Embora ainda existam discussões quanto aos conceitos inerentes a cada fase de
desenvolvimento, o modelo acima procura mapear as principais características dos
softwares de comunicação virtual existentes, conforme classificação possível. Na tabela
acima observamos que as linguagens estabelecidas por meio do desenvolvimento de
sistemas permitem maior grau de interatividade e aumentam o potencial de colaboração
dos ambientes disponibilizados na internet. O Second Life é um bom exemplo desse
desenvolvimento, esse ambiente virtual elaborado com tecnologia tridimensional simula
experiências cotidianas em jogos, disponibiliza rede de comércio e rede social para
diversos fins (para conhecer acesse http://secondlife.com/?lang=pt-BR e descubra as
possibilidades).
A crítica maior centra-se na qualidade dos conteúdos veiculados, assim como
no forte apelo mercadológico disseminado nas páginas da Web. Cabe, nesse contexto,
educação para essa nova mídia no sentido de promoção em espaços escolarizados de
reflexão crítica sobre a cultura que é semeada nesses espaços virtuais. Discutiremos a
respeito no próximo tópico.
7.2. A cultura da internet
A organização da comunicação humana por meio do desenvolvimento tecnológico
pode ser reconhecida pelas formas mais rudimentares de organização, por exemplo, quando se faz
uso da oralidade e quando sua disseminação é aprimorada por meio da escrita. Na
contemporaneidade a informática é a tecnologia mais avançada na organização e socialização da
comunicação. Conforme Carvalho (2011, p.15)
A informática, por sua vez, provoca novas alterações no pensamento e na
memória humana, incorporando e transformando as outras duas tecnologias (oral
e escrita). A informática proporcionou a interconexão mundial dos computadores
e de suas memórias criando um novo espaço de comunicação.
56
Esse espaço virtual de comunicação vem sendo denominado de ciberespaço1 e sendo
objeto de estudos de inúmeros pesquisadores, dentre os quais Pierre Lévy, Manuel Castells e Neil
Postman (CARVALHO, 2011). Esses autores discutem a organização cultural advinda da internet
que pode ser sistematizada da seguinte forma:
Autor Conceito
Lévy O universal sem totalidade
Modificações nas relações a partir da elaboração de sistemas
Sistemas ecológicos com nichos de comunicação
Castells Cultura Tecnomeritocrática
Cultura Hacker
Comunidades Virtuais
Cultura Empresarial
Postman Uso de ferramentas
Tecnocracia
Tecnopólio
Conforme Lévy (1999, p.120) “em vez de construir com base na identidade do
sentido, o novo universo se realiza por imersão. [...] Uma nova ecologia das mídias vai se
organizando ao redor das bordas do ciberespaço”. Esse fator de diversidade semântica impede uma
iniciativa de totalização das informações que se dispõe conforme as possibilidades pelos sistemas
do arcabouço da técnica como o movimento social da cibercultura2, destinando-lhe, assim, o
caráter de democracia: “uma outra forma de instaurar a presença virtual da humanidade em si
1 “A palavra ciberespaço foi inventada em 1984 por William Gibson em seu romance de ficção científica
Neuromante. No livro, esse termo designa o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha
entre as multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural (...) eu defino o
ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das
memórias desses computadores” (LÉVY, 1999, p.85).
2 Conceito que corresponde a organização da cultura no ciberespaço.
57
mesma (o universal) que não seja por meio da identidade do sentido (a totalidade”) (LÉVY, 1999,
121).
Castells (apud CARVALHO, 2011) ao discutir os aspectos culturais da nova
organização comunicativa sinaliza para a emergência de culturas específicas desse contexto,
pontuando a seguinte constatação:
[...] a cultura tecnomeritocrática especifica-se como uma cultura hacker ao
incorporar normas e costumes a redes de cooperação voltadas para projetos
tecnológicos. A cultura comunitária virtual acrescenta uma dimensão social ao
compartilhamento tecnológico, fazendo da Internet um meio de interação social
seletiva e de integração simbólica. A cultura empresarial trabalha, ao lado da
cultura hacker e da cultura comunitária, para difundir práticas da Internet em
todos os domínios da sociedade como meio de ganhar dinheiro. Sem a cultura
tecnomeritocrática, os hackers não passariam de uma comunidade contracultural
específica de geeks e nerds. Sem a cultura hacker, as redes comunitárias na
Internet não se distinguiriam de muitas outras comunidades alternativas. Assim
como, sem a cultura hacker e os valores comunitários, a cultura empresarial não
se pode caracterizar específica à Internet (CASTELLS, apud CARVALHO,
2011, p.19)
Ou seja, os diferentes grupos que organizam a rede imprimem nela suas características
de modo a favorecer o movimento de suas ideias e valores. Ao mesmo tempo em que se
interrelacionam mantém relações de interdependência e possuem condições de resistência. Pois,
submetidos às condições de organização do capital imprimem às mensagens aspectos
mercadológicos como condição, muitas vezes, de manter seus espaços (observa-se nesse contexto
as iniciativas, muitas vezes, invasivas da publicidade nos mais variados espaços de comunicação da
Web, inclusive em blogs mais críticos).
Nesse contexto de favorecimento de culturas por meio das habilidades de organizar a
comunicação, percebemos a relação do homem com a técnica ao longo do tempo discutida por
Postman: 1. Uso de ferramentas em que a tecnologia não se faz de forma nociva, apenas como
aparto sem promover impactos sociais maiores; 2. Tecnocracia observada no movimento moderno
que incentivou a criatividade e inventividade em que conhecimento é tido como poder e o consumo
é incentivado como forma de autonomia; 3. Tecnopólio que integra a cultura da tecnocracia de
forma totalitária, rendendo a cultura à tecnologia principalmente partindo do controle da
informação e superespecialização.
Lévy, sobre a iminente saga e consequente crítica unilateral ao tecnopólio
fundamentada na perspectiva da substituição, menciona que “uma crítica mal fundamentada e
58
frequentemente abusiva da técnica inibe o envolvimento de cidadãos, criadores, podres públicos e
empreendedores em procedimentos favoráveis ao progresso humano” (LÉVY, 1999, p.211). Pois, é
improvável pensar que o virtual substituirá o real e os necessários contatos físicos na sociedade.
Reforça-se a partir dessas análise a necessidade de os espaços de escolarização
voltarem seus olhares para a educação no contexto virtual, uma vez que em maior ou menos
medida todos estão expostos à cultura organizada no ciberespaço (mesmo que esse impacto remeta
à condição de exclusão digital). Nesse sentido, o trabalho pedagógico a partir da rede social é um
esforço que vale a pena ser inserido na estrutura curricular das instituições de ensino.
7.3.Rede social e comunidade virtual de aprendizagem
Conforme as análises orientadas anteriormente sobre a constituição da Web, consegue-
se vislumbrá-la como espaço constituído por ligações entre sistemas interconectados de forma
multidirecional que possibilitam dinamização das relações de comunicação por meio do advento de
sistemas técnicos. Para Lévy (1999) a existência mesma da www já caracteriza uma rede social que
se faz cibercultura quando em suas páginas misturam-se três elementos principais: interconexão;
criação de comunidades virtuais e inteligência coletiva.
Quanto maior for a proximidade das intencionalidades que se busca em um espaço
coletivo de produção de informação e conhecimento, mais próximo esse espaço se torna de uma
comunidade virtual. Conforme Carvalho (2011, p.88), é difícil chegar a conclusão de que um
website é realmente uma comunidade de aprendizagem, para a autora um caminho seria “observar
se as interações revelam reciprocidade permanente, compromisso implícito, iniciativa,
informalidade, colaboração entre os participantes e intervenção pontual do educando”.
Nesse sentido, para além dos espaços de interação com redes sociais de
entretenimento, relacionamento e contatos profissionais (networking) há possibilidade de se
desenvolver ambientes em que a preocupação central é a aprendizagem a partir de enfoques
globalizadores e colaborativos. Podemos citar como exemplos os espaços que possuem objetivos
educacionais explícitos a partir de um planejamento intencional em que um ou mais educadores
participem de forma efetiva. Esses espaços podem estar presentes mesmo em redes de
relacionamento como o Orkut com a criação de listas de discussões mediadas por docentes. Os
blogs criados para por professores desde que não se configurem apenas como repositórios de
instrução programada e propiciem discussão e construção coletiva também são exemplos, pois,
conforme Carvalho (2011, p. 44) “a aprendizagem pressupõe a elaboração de conhecimento por
parte do sujeito, um nível acima da simples troca de informações, do compartilhamento entre os
integrantes”.
59
Portanto, uma rede ou comunidade virtual de aprendizagem se delineia pela
intencionalidade educativa que possui. Nesse contexto, é imprescindível a figura de um mediador
com mais experiência para orientar e estimular a pesquisa e participação de todos.
7.4.Possibilidades pedagógicas na rede
Considerando a organização das formas de comunicação na
contemporaneidade e, que, grande parte dos alunos em processo de escolarização possui
acesso a tecnologias digitais ou sofrerá, de alguma forma, impacto delas, é importante
pensar em estratégias para trabalhar nesse contexto. Conforme dados publicados pela Folha
Online (2008) “ o brasileiro fica, em média, cinco horas por mês em sites relacionados a
comunidades. (...) A empresa inclui na categoria "comunidades" as páginas de redes Orkut
e MySpace, blogs, microblogs, bate-papos, fóruns, grupos de discussão, mundos virtuais e
outros sites semelhantes que reúnem grupos de interesse e de relacionamento”.
Um projeto educativo para esse contexto não deve se eximir de possibilitar aos
educandos conhecimento e análise dos processos comunicativos que se fazem nas redes
sociais de forma geral. Essa seria a dimensão de educação para a mídia desse processo,
conforme Ruaro (2007, p. 51)
Educar para a mídia estende a abrangência do uso das TICs como recurso
didático para demonstração e/ou ilustração de conteúdos. Na verdade este
conceito implica em preparar o receptor para leitura crítica tanto da
intencionalidade do meio que se escolheu como da informação que se veiculou.
Educação para a mídia sugere que o tratamento das informações aconteça de
forma detalhada, planejada, dirigida de modo a facilitar a transposição do
elementar, transformando informação em conhecimento.
Assim, a mediação intencional do professor na leitura e produção de
comunicação ultrapassa a instrumentalização e domínio da técnica para potencializar
situações concretas e menos lineares de participação nas redes, o que implica acionar a
inteligência coletiva como forma de movimento social (LÉVY, 1999).
7.4.1 Explorando as redes de relacionamento
Nos últimos anos percebe-se um grande movimento de adesão à redes de
relacionamento em ambientes virtuais. Conforme
60
Essas redes podem tanto ser exploradas na educação presencial como na EaD
como complementação das ações do ambiente virtual de aprendizagem e para estreitar os
vínculos pessoais geradores da confiança necessária para produção coletiva, pois, a
distância física, característica da EaD, pode comprometer esse processo.
Rede social Possibilidades
Twitter http://twitter.com/
7. Atividades síncronas são mais produtivas
8. Exercitar a capacidade de síntese na produção de
textos (140 caracteres)
9. Escrita colaborativa a partir dos microtextos
10. Utilizá-lo como quadro de avisos
11. Seguir e analisar conteúdos relevantes
12. Incentivar a pesquisa e análise comparativa de
fontes jornalísticas
Orkut www.orkut.com
13. Organização de comunidades que incentivem
discussões sobre temáticas pertinentes
14. Avaliação da postura inovadora dos alunos a partir
dos tópicos sugeridos assim como da produção de
conceitos (portfólio digital)
15. Organização de pesquisas por meio de enquetes
Youtube www.youtube.com.br
1. Pesquisas e análise de conteúdos
2. Produção e socialização de vídeos e objetos de
aprendizagem
3. Criação de lista de reprodução e proposição de
discussões
4. Busca e produção de tutoriais
7.4.2 Repositórios de objetos de aprendizagem e simuladores
Existem muitos portais que oferecem objetos de aprendizagem para utilização
em sala de aula ou como complementação de atividades online. Esses portais podem ser
chamados de repositórios virtuais e se mantém a partir da coautoria na produção de
recursos de aprendizagem e da discussão sobre as propostas de ensino sugeridas a partir de
sua utilização.
Conheça alguns exemplos:
61
Repositório Identificação
Rived
http://rived.mec.gov.br/
Rede virtual internacional de educação,
vinculado ao Ministério da Educação, é um
portal com atividades direcionadas aos
diferentes níveis de educação nas diferentes
áreas do conhecimento. Há simuladores de
aprendizagem que possibilitam aos alunos
interagirem com a produção do
conhecimento, por exemplo, no laboratório
virtual de química.
Dia a dia Educação
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/
Portal da rede de ensino pública básica do
Estado do Paraná. Traz interfaces específicas
para alunos, educadores, gestão escolar e
comunidade. No material destinado aos
professores destacam-se os OACs e Folhas
(objetos de aprendizagem produzidos
colaborativamente entre os profissionais da
rede).
Portal do professor
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/
Destinado a professores de todos os níveis de
ensino, disponibiliza conteúdos educacionais,
sugestões de aulas, cursos e materiais
pedagógicos.
SciELO
http://www.scielo.org/
Uma forma de sistematização de várias
bibliotecas online. Permite buscas a um banco
de dados informacional interligado a revistas,
portais e periódicos de divulgação científica.
Figura X – Exemplo de objetos de aprendizagem e simuladores no Rived
62
Fonte: http://rived.mec.gov.br/site_objeto_lis.php
Observe que a interface do Rived, embora suas características de
navegabilidade sejam comprometidas pela lentidão com que as páginas são carregadas,
estimula a cooperação e discussão das propostas para utilização do objeto.
7.4.3. Utilizando Blogs
Os Blogs são páginas da Web que permitem edição rápida por meio de inserção
de novos artigos ou posts. O conceito se assemelha à de um diário em que são anotadas
considerações sobre temas importantes, com a possibilidade de inserção de hiperlinks,
vídeos e imagens.
Uma das vantagens é que esse recurso é de fácil operacionalização e não possui
custos de hospedagem (como no caso dos sites). Para construir o seu você pode se
cadastrar em sites como: http://www.blig.ig.com.br, http://blog.terra.com.br,
http://www.blogando.net, http://www.myblog.com.br, dentre outros. Existem tutoriais
63
disponíveis em sites como o Youtube que ensinam detalhadamente o processo de
construção desses espaços. Experimente, também, visitar o site
http://www.criarumblog.com/, que dá dicas interessantes sobre esse processo operacional.
Figura X – Exemplo de objetos de aprendizagem e simuladores no Rived
Fonte: http://netescrita.blogspot.com/
O mais importante ao se trabalhar com essa ferramenta é organizar os
conteúdos e situações de aprendizagem que tenham relevância concreta para os alunos.
Dessa forma, integra-se o interesse e predisposição deles para navegar com a
intencionalidade pedagógica que pode atingir também a comunidade escolar convidando-a
para participar colaborativamente das situações didáticas propostas.
8.5.1. Bibliotecas virtuais
As bibliotecas virtuais são espaços em que é possível acessar o conteúdo
científico pela internet. O conceito é o mesmo utilizado para os espaços tradicionais
porém, com material digitalizado.
São alguns exemplos:
www.dominiopublico.gov.br
www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/
64
www.unicamp.br/nipe/litera.htm
http://www.direitoshumanos.usp.br/
http://www.bn.br/portal/
www.bibliojuridica.org/
Seguindo esse mesmo conceito, já é possível visitar virtualmente alguns
acervos culturais de museus. Confira, dentre outros, esses endereços:
www.eravirtual.org/
www.museudantu.org.br/
www.memoriadapropaganda.org.br/
Existem muitas possibilidades de explorar pedagogicamente o espaço virtual,
entretanto, essas ações precisam ser planejadas de modo que os objetivos educacionais
propostos sejam atingidos por meio de mediação intencional do processo de ensino e
aprendizagem. Pois, a tecnologia só será positiva quando acompanhada da superação de
modelos pedagógicos conservadores, conforme Moran (2010, s/p),
Nós esperamos que a tecnologia — teoricamente mais participativa, por permitir
a interação — faça as mudanças acontecerem automaticamente. Esse é um
equívoco: ela pode ser apenas a extensão de um modelo tradicional. A tecnologia
sozinha não garante a comunicação de duas vias, a participação real. O
importante é mudar o modelo de educação porque aí, sim, as tecnologias podem
servir-nos como apoio para um maior intercâmbio, trocas pessoais, em situações
presenciais ou virtuais. Para mim, a tecnologia é um grande apoio de um projeto
pedagógico que foca a aprendizagem ligada à vida.
Ou seja, um modelo pedagógico de utilização das tecnologias digitais está associado,
também, à percepção de que toda educação precisa ser contextualizada e significativa para além da
instrumentalização atingindo o desenvolvimento humano em suas dimensões ética, técnica e
política.
65
8. Educação a distância
A educação a distância é definida, principalmente, pela característica da não
presencialidade, ou seja, da distância física entre professores e alunos que participam da oferta de
ensino. Conforme Moran (2011, s/p.)
É ensino/aprendizagem onde professores e alunos não estão normalmente juntos,
fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias,
principalmente as telemáticas, como a Internet. Mas também podem ser
utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e
tecnologias semelhantes.
Essa modalidade, reconhecida oficialmente em 1996 pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, apresenta-se como possibilidade de democratização do processo educacional a
todos, principalmente à população que não teria acesso facilitado a espaços presenciais de
escolarização formal. No sentido de aprofundar conhecimentos sobre essa modalidade, o presente
capítulo tem como objetivos:
66
• apresentar a modalidade contextualizando seu histórico e indicando a legislação
que apóia sua oferta;
• definir suas principais características enfatizando o papel do planejamento
consciente dos cursos;
• discutir as principais políticas públicas para essa área, assim como analisar as
práticas atuais que direcionam sua oferta.
8.1.Educação a distância: introdução
Todas as formas de educação se fazem a partir da disseminação de informações e de
cultura por meio de algum suporte da linguagem. Convencionalmente, na maior parte das vezes,
essa transmissão acontece em ambientes presenciais em que existe a possibilidade de discussão e
reorganização das informações de forma síncrona e imediata. Entretanto, sempre se utilizou das
possibilidades remotas de transmissão, dadas estas, principalmente pela tradição escrita e, no
decorrer da história pela utilização de recursos mais modernos que possibilitam a convergência de
mídias.
No que se refere a práticas formais de educação, observa-se que as primeiras formas
de educação a distância surgem no Brasil a partir da radiodifusão; em 1923 a Fundação da Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro, com Roquete Pinto, já veiculavam em sua programação conteúdos
educacionais. Em 1939 o Instituto Rádio Monitor e em 1941 o Instituto Universal Brasileiro
iniciam experiências relacionadas à expansão da educação por meio da oferta de cursos com
material impresso encaminhado via correio. Entre as décadas de 1960 e 1970 foram instaladas oitos
emissoras de televisão educativas no país e criada a Fundação Padre Anchieta com intuito de
promover veiculação de educação e cultura por meio das emissoras de rádio e televisão.
Não obstante todos os empreendimentos de educação a distância por meio do rádio e
do ensino por correspondência, a educação a distância é regulamentada na organização da educação
formal somente a partir da Lei 9394/96, que delibera em seu artigo 80 que “o Poder Público
incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os
níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. Essa legislação possibilitou aos
sistemas de ensino disponibilizar ações para ampliação da educação presencial a partir da oferta de
cursos nos diversos níveis de ensino com a finalidade de complementação de estudos,
profissionalização, formação inicial e continuada.
67
Os principais documentos que amparam a oferta da EaD são:
Documento/natureza Disposições
Decreto nº 5.622
19/12/2005
Regulamenta o que está disposto no artigo 80 da Lei 9.394/96
Decreto nº 5.773
09/05/2006
Orienta a organização e oferta de cursos superiores de
graduação e sequenciais
Decreto nº 6.303
12/12/2007
Altera os decretos anteriores (5.622/2005 e 5.773/2006)
reorganizando normas para organização e oferta de cursos a
distância
Portaria nº 1
10/01/2007
Dispõe no artigo 7º sobre a avaliação nos cursos de
graduação a distância
Portaria nº 40
13/12/2007
Dispõe sobre normas específicas de credenciamento,
autorização e funcionamento dos cursos para EaD
Institucionaliza o e-mec
Portaria nº 10
02/06/2009
Fixa critérios para dispensa de avaliação in loco de curso com
conceito igual ou superior a 4
Referenciais de qualidade
para cursos a distância
MEC/SEED 2003
Documento que estabelece diretrizes de qualidade para
operacionalização de educação a distância
Referenciais de qualidade
para educação superior a
distância
MEC/SEED 2007
Diretrizes para cursos superiores na modalidade a distância
O artigo 1º do Decreto 5.622 de 2005, caracteriza a EaD como “modalidade
educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem
ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos”. Estão implícitos
nesse artigo algumas das principais características desse processo: flexibilização de tempo e espaço
pedagógico; didática específica; utilização de tecnologias de informação e comunicação. Na
sequência, serão discutidos fatores relevantes de cada um desses aspectos.
8.2. Flexibilização de tempo e espaço pedagógico
Essa modalidade educacional permite que alunos adaptem o tempo escolar conforme
suas possibilidades, entretanto, essa característica não implica em redução da carga horária
destinada aos estudos. O que determina essa vantagem é o fator de que não há necessidade de o
aluno estar fisicamente presente no espaço da sala de aula presencial e que poderá desenvolver as
leituras e atividades propostas em seu ambiente de trabalho ou mesmo em casa.
68
Conforme os referenciais de qualidade para EaD,
Quando se fala em flexibilidade da educação a distância, não se quer dizer
eliminar objetivos, conteúdos, experimentações, avaliações. Flexibilidade em
educação a distância diz respeito ao ritmo e condições do aluno para aprender
tudo o que se vai exigir dele por ter completado aquele curso, disciplina ou nível
de ensino. (BRASIL, 2003, p.3)
Nesse sentido, tanto as instituições devem se adaptar para favorecer organização
didático-pedagógica compatível com os objetivos de ensino como educandos precisam desenvolver
atitude de autonomia, disciplina e organização para responder às exigências dadas em cada um dos
cursos ofertados. Assim, responsabilidade na oferta dos cursos e a autonomia dos alunos são
elementos estratégicos para o sucesso de atividades a distância.
A responsabilidade na oferta dos cursos é constituída a partir da concepção que a
instituição elabora para essa modalidade de educação e passa por elementos como o cuidado na
elaboração do currículo e culmina na elaboração do material didático. Esse processo exige um
redimensionamento na forma de se pensar a educação e superação de práticas conservadoras em
que o processo de ensino ocorre de forma linear impossibilitando, quase sempre, a construção
coletiva de conceitos.
O aluno, em contrapartida, precisa assumir uma postura de pesquisador e colaborador
no processo de busca do conhecimento. Responsabilidade, disciplina e compromisso são elementos
imprescindíveis no perfil do aluno a distância; menciona-se que esse aluno tem o compromisso de
manter interação com:
• a interface do curso: conhecer o ambiente virtual e suas possibilidades de estudo
inclui conhecimentos básicos de informática e interesse em aprender com todos os
recursos que são ofertados;
• os conteúdos: é imprescindível acessar, ler e estudar os conteúdos disponibilizados
no curso. Para tanto, pesquisar os temas sugeridos em bibliotecas, sites e repositórios
é importante;
• os colegas, tutores e professores: a comunicação com os colegas de curso e com os
professores do ambiente de estudo é essencial para aprofundar conhecimentos por
meio de discussões e trocas de experiência.
Estudar por meio de recursos de aprendizagem a distância não é um exercício menos
árduo do que nos espaços presenciais, exige rigorosidade metodológica por parte da equipe
executora, assim como dos sujeitos que aprendem.
69
Enfim, o referencial maior é garantir qualidade de educação em contextos não
presenciais sem prejuízo da aprendizagem e sem banalização do processo de superação do senso
comum por meio do acesso, discussão, interpretação e internalização do conhecimento científico.
Portanto, flexibilização não equivale a redução do tempo investido aos estudos nem, tão pouco,
minimização do grau de complexidade e densidade do currículo formal.
8.3. Didática para EaD
O processo de organização dos cursos a distância, para garantir qualidade e
participação adequada dos alunos, necessita de um processo didático diferenciado daquele utilizado
no contexto presencial. Pois, a oralidade e o contato direto entre os sujeitos aprendentes é bastante
reduzido, ele é mediatizado: as tecnologias da informação e comunicação passam a subsidiar a
comunicação entre alunos e professores.
O planejamento didático, nesse espaço, precisa considerar esse contexto de distância
física e prever os possíveis ruídos de comunicação para elaboração de estratégias eficazes de
ensino. Entender quem são os alunos, quais suas características educacionais, assim como suas
limitações e possibilidades evita um processo de formação massificada. Essa condição só é
possível, entretanto, quando existe uma articulação expressiva entre a equipe multidisciplinar
envolvida na produção do curso.
A equipe multidisciplinar é composta por profissionais especialistas na oferta de
cursos a distância com preparo pedagógico necessário aos enfrentamentos dos desafios impostos
pela modalidade. Dentre esses profissionais podemos destacar dois níveis: técnico e pedagógico.
No nível técnico pode-se destacar a participação de especialistas em designer gráfico, web
designer, e demais tecnologias da informação e comunicação que comporão a estrutura operacional
dos cursos. No âmbito pedagógico, encontram-se os profissionais com formação didático-
pedagógica: os professores. Conforme Belloni (1999) cabe a esses professores uma série de papéis
que se organizam conforme o contexto de execução das propostas pedagógicas:
• professor formador: acompanha a disciplina em oferta na perspectiva de
desenvolvimento pedagógico;
• conceptor e realizador de cursos e materiais: organiza os projetos de oferta;
• professor pesquisador: atualiza a disciplina a ser ofertada na dimensão técnica;
• professor tutor: trabalha na mediação direta entre aluno/professor
formador/conteúdo/avaliação;
70
• tecnólogo educacional: responsável pela integração entre equipe pedagógica e
técnica;
• professor recurso: oferece apoio técnico e pedagógico;
• monitor: tutor de apoio nos polos presenciais.
Essa mediação pedagógica do professor que tem por objetivo desencadear movimento
de interação do aluno com a interface, o conteúdo e colegas, torna-se fundamento-chave das ações
de ensino e aprendizagem. Cabe a eles desenvolver estratégias metodológicas que incentivem e
permitam aos alunos explorar o potencial de interatividade dos canais comunicacionais que se
dispõem aproximando os conteúdos à linguagem usual desses canais explorando suas
possibilidades e prevendo limitações.
Assim, o domínio operacional do canal de comunicação; a gestão necessária do tempo
e da disposição dos conteúdos; a elaboração consistente de material didático e a orientação
acadêmica visando dinamização da interação coletiva são os desafios postos. Conforme Almeida
(2011, p.2)
[...] ensinar é organizar situações de aprendizagem, planejar e propor atividades,
identificar as representações do pensamento do aluno, atuar como mediador e
orientador, fornecer informações relevantes, incentivar a busca de distintas
fontes de informações, realizar experimentações, provocar a reflexão sobre
processos e produtos, favorecer a formalização de conceitos, propiciar a
interaprendizagem e a aprendizagem significativa do aluno.
A didática, nesse contexto, é o elemento que orienta a opção metodológica e é
sustentada pela opção por uma abordagem pedagógica específica que, na modalidade a distância,
precisa ser pensada num contexto de estímulo à aprendizagem colaborativa e comunicação efetiva
visto às características, dentre as quais se destaca: inclusão e democratização do conhecimento;
novas formas de construção do conhecimento amparadas no princípio de proatividade do sujeito;
novas formas de interatividade (tecnologias de comunicação); flexibilização de formatos de oferta
de cursos; reutilização de conteúdos; valorização do autodidatismo e da velocidade do aprendizado;
valorização do trabalho em equipe, negociação, capacidade de síntese, criatividade.
A organização didática implica em planejamento de cursos a partir da elaboração de
um projeto pedagógico sólido com definição consciente e intencional do referencial
epistemológico, conceitual e pedagógico. A partir da delimitação do marco teórico do projeto
pedagógico de um curso é que se pode organizar operacionalmente uma proposta coerente com os
objetivos educacionais previstos. A metodologia é reflexo da opção teórica e precisa se apresentar
de forma em consonância com ela.
8.4. Tecnologia de informação e comunicação
71
Conforme Belloni (1999) todas as iniciativas de EaD precisam se compor a partir de
elementos tecnológicos, para então, propagarem conhecimento, nesse sentido, é necessário
conhecer o potencial pedagógico das mídias escolhidas a fim de garantir comunicação eficiente e
resultados de qualidade. O objetivo ao trabalhar com as tecnologias, conforme a autora, seria
“potencializar ao máximo as virtudes comunicacionais do meio técnico escolhido no sentido de
compor um documento auto-suficiente, que possibilite ao estudante realizar sua aprendizagem de
modo autônomo e independente”(BELLONI, 1999, p.64), ou seja, é uma das responsabilidades do
professor organizar sua prática a partir das limitações encontradas em cada um dos suportes
tecnológicos ofertados considerando sempre o elemento de não presencialidade.
As principais mídias utilizadas são: material impresso; vídeo e televisão; rádio; CD-
ROM e ambientes virtuais. Faz-se interessante mencionar que o suporte principal para essa
modalidade é, ainda, o material impresso, conforme a edição de 2008 do ABRAEAD (anuário
brasileiro estatístico de educação aberta e a distância) 84,7% das escolas utiliza mídia impressa;
61,2% utilizam e-learning e 42,9% utilizam o CD-ROM.
O material impresso, além de ser mais familiar tanto a professores como a alunos,
traz a vantagem de maior portabilidade e acesso e, muitas vezes, é complemento aos outros tipos de
mídia. A produção desse material precisa respeitar princípios do dialogismo; atingir os objetivos
previstos para o curso; prever o nível cognitivo da demanda educacional; ter qualidade pedagógica
e gráfica. O aluno deve encontrar em seu material impresso apoio para entender os conteúdos
programáticos, assim como se beneficiar de indicações de pesquisa para aprofundar o
conhecimento. Outro aspecto que precisa ser considerado é a qualidade e a possibilidade de acesso
à internet que nem sempre são presentes em todas as comunidades devido ao fato do alto preço
atribuído a esses serviços em nosso país.
O rádio e a televisão também são mídias importantes nessa modalidade, uma vez que
permitem disseminação de áudio e vídeos com o conteúdo apresentado a partir de maior dinamismo
que a mídia impressa. Esse recurso é bastante utilizado em programas com encontros presenciais
semanais em que os tutoriais são apresentados e discutidos pelo grupo de alunos. Devido à
facilidade de edição de vídeos e post cads os recursos também estão sendo inseridos nas
plataformas digitais favorecendo o contato do aluno com a diversificação do material.
No que se refere ao diálogo entre professores e alunos, a teleconferência é um dos
recursos que se manteve durante bastante tempo como fundamental para essa interação, uma vez
que conectados ou por linhas telefônicas ou por cabos via satélite há transmissão integrando
imagens ao áudio e sincronia aos encontros. Esse recurso, entretanto, devido ao seu alto custo vem
sendo substituído pelas webconferências que utilizam programas de internet para o mesmo fim de
72
comunicação síncrona entre professores e alunos que podem estar reunidos nos pólos de educação
ou em computadores individuais.
Atualmente, verifica-se grande expansão na utilização da rede mundial de
computadores como principal suporte para as iniciativas de EaD. A internet oferece maior
potencial de comunicação e democratização da informação devido à dinâmica de suas interfaces e
gratuidade de acesso a muitos bancos de pesquisa e disseminação de produção científica. De forma
geral, curso organizado em plataformas online tem custos mais baixos e podem atingir uma parcela
maior de educandos.
Com relação às mídias, pode-se agrupar as práticas de EaD em cinco grandes esferas
de distribuição de materiais e conteúdos: impressa; áudio; vídeo; informática e multimídia
interativa. É a partir da evolução das mídias que se destacam os modelos para essa modalidade,
conforme classificação utilizada por Taylor (2001), existem cinco gerações com características
organizadas a partir das possibilidades de cada tecnologia:
Geração Modelo Mídias Características
1ª Correspondência Impressa Cursos baseados na
instrução apostilada
enviada pelo correio
2ª Multimídia Impressa; fitas de áudio e
vídeo
Material impresso com
apoio de aulas gravadas e
socializadas
3ª Teleaprendizagem Teleconferência;
videoconferência;
transmissão de televisão
Inserção do elemento de
interação sincrônica entre
aluno e professor –
sistema bidirecional
(ênfase na telefonia)
4ª Aprendizagem
flexível
Multimídia interativa;
comunicação mediada por
computador; internet
Sistema e-learning que
possibilita a integração e
dinamização dos sistemas
anteriores
73
5º Aprendizagem
flexível inteligente
Multimídia interativa
online; comunicação
mediada por computador
com sistemas de respostas
automáticas; acesso via
internet a recursos da web
Sistema potencializado
por suportes móveis de
acesso à internet assim
como à evolução de outras
tecnologias
Essa classificação foi organizada a partir de análises das teorias de Taylor (2001).
Alguns autores, entretanto, já discutem a emergência de uma sexta geração de educação a distância
em que a tecnologia digital portátil (os tablets – dispositivos de comunicação com softwares
específicos que possuem acesso a internet – junto a celulares de tecnologia 3G são os suportes) se
faz a base midiática e em que a comunicação se faz mais dinâmica por meio de um sistema
dinâmico de troca de mensagens e grupos de discussão interconectados. Observa-se que quanto
maior o desenvolvimento tecnológico dos canais de comunicação maior o potencial interativo e a
possibilidade de execução de modelos menos lineares e mais colaborativos de ensino.
É importante, nesse contexto, destacar a diferença entre interatividade e interação:
• Interatividade: refere-se ao potencial que os meios de comunicação
oferecem e, por si só, não garante a interação.
• Interação: participação efetiva do sujeito no processo de comunicação.
No Brasil, dentre os inúmeros programas que podem ser caracterizados como
exemplos da evolução das gerações de educação a distância, pode-se mencionar:
• 1ª geração
1904: Cursos anunciados em jornais do Rio de Janeiro subsidiados por instituições
americanas de ensino.
1939: Instituto Universal Brasileiro
• 2ª geração
1922: Rádio Sociedade do Rio de Janeiro de Roquete Pinto
1960: Movimento de educação de base (MEB – programa de alfabetização
vinculado a Igreja Católica)
1960: Projeto Minerva do governo militar
• 3ª geração
1978: Telecurso 2º Grau e Supletivo do 1º Grau (MEC e Fundação Roberto
Marinho)
• 4ª geração
74
1995: Laboratório de Ensino a Distância da universidade Federal de Santa Catarina
– UFSC.
• 5ª geração
1997: Software Aula Net da PUCRJ
2000: Universidade Eletrônica do Paraná
Assim a presença da tecnologia é importante para efetivação de práticas de educação e
comunicação na modalidade a distância, entretanto, mais importante que a presença da tecnologia é
o processo de planejamento e mediação do conhecimento em que compromisso didático e ético são
categorias centrais.
8.5. Modelos teóricos na educação a distância
Os modelos pedagógicos para educação a distância, assim como nos contextos
presenciais, é organizada a partir da opção por concepções epistemológicas específicas em torno de
abordagens pedagógicas consonantes com os objetivos educacionais que se quer ofertar. Como
mencionado anteriormente, essas opções devem estar sinalizadas nos projetos pedagógicos dos
cursos e se formalizam, geralmente, em uma arquitetura pedagógica com os seguintes elementos: 1.
Aspectos organizacionais para o suporte pedagógico de comunicação (análise referencial dos
objetivos do curso frente á demanda de formação); 2. Estrutura: conteúdos e recursos didáticos
(inclui logística para distribuição) ; 3.Interatividade: aspectos metodológicos combinados à
estratégias didáticas para interação do aluno com o conhecimento. Esses elementos, combinados
com o canal de veiculação dos cursos permite à luz das teorias disponibilizadas, vislumbrar a
organização da EaD na atualidade frente à operacionalização de estratégias técnicas e táticas de
implementação e operacionalização dos cursos.
No que se refere às teorias propostas para fundamentar as práticas nessa modalidade,
podemos considerar as contribuições de pelo menos sete grandes autores, Otto Peters, Michael
Moore, Borje Holmberg, Demond Keegan, D.R. Garrison, John Verduin e Thomas Clark.
Otto Peters organizou a Teoria da Industrialização em que compara a educação a
distância com o processo industrial estabelecendo características para aproximar educação ao
modelo de divisão do trabalho, produção em massa e mecanização, por exemplo. Para esse autor a
EaD ao se adaptar ao processo da fábrica possibilita progresso. Nessa perspectiva, a ação
pedagógica ocorre a partir da abordagem tecnicista provocando muito mais uma ação de adaptação
ao mercado de trabalho por meio de atividades instrucionistas do que um movimento crítico de
construção de conhecimentos. Muitos cursos ofertados no Brasil optam por essa estrutura desde a
concepção da arquitetura pedagógica até as formas avaliativas.
75
Para Michael Moore, pesquisador responsável pela Teoria da Distância
Transacional e Autonomia do Aprendiz, pensa que a organização dos cursos a distância precisa
considerar as necessidades do aluno ao qual é transferida autonomia para construir a aprendizagem
com interação, sempre que necessário, do professor, pois, quanto maior a distância física entre os
sujeitos do processo, maior deve ser o esforço de estimular o diálogo. A estrutura do curso, assim
como o potencial de interatividade das tecnologias utilizadas, ganha relevante importância para o
sucesso da comunicação do aluno com o professor e com o conhecimento. É uma proposta cuja
abordagem pedagógica acontece na perspectiva estruturalista, centrada no aluno.
A Teoria da Conversação Didática Guiada de Borje Holmberg foi fortemente
influenciada por alguns aspectos de Moore, principalmente, no que se refere à autonomia do
aprendiz e na ênfase aos cuidados com a comunicação distante entre alunos e professores. O
diferencial acontece quando Holmberg, influenciado pela abordagem pedagógica humanista, sugere
que a promoção da aprendizagem deve ser estimulada por meio de métodos pessoais e
convencionais contando com a conversação didática guiada para a interpersonalização do ensino a
distância. Essa característica incentiva a produção de materiais didáticos diversificados para um
mesmo conteúdo a fim de atender ao ritmo e características diferentes de cada aluno; o processo de
aprendizagem é salientado.
Demond Keegan, ao apresentar a Teoria da Reintegração dos Atos de Ensino e
Aprendizagem, apoiado na abordagem pedagógica tradicional, defende a reorganização dos
espaços presenciais nos cursos a distância. Conforme o autor, a comunicação oral precisa ser
fortalecida recriando artificialmente a intersubjetividade da relação professor/aluno nos espaços
não presenciais, favorecendo uma planificação das relações interpessoais e separando o ato do
ensino do ato da aprendizagem, sendo o ensino foco central. Dessa forma, os materiais com o
conteúdo científico ganham relevância e centralidade a fim de fortalecer a qualidade da educação.
Outra teoria presente, é a Teoria da Comunicação e Controle do Aprendiz,
elaborada por D.R. Garrison. Aqui os conceitos principais evidenciam a facilitação da transação
educativa por meio do controle necessário à autoaprendizagem, nos modelos da educação de
adultos - esse controle substitui o conceito de autonomia descrito nas teorias anteriores. A
comunicação bidirecional e interativa é elemento fundamental para proporcionar diálogo e debate
entre aluno e docente, destinando muito às tecnologias disponíveis o sucesso do processo.
Verdium e Clark, na Teoria da Tridimensionalidade, conseguem organizar uma
proposta que se organiza a partir da reorganização dos aspectos das teorias apresentadas
anteriormente: ampliação dos conceitos de diálogo, estrutura e autonomia de Moore e Garrison +
inserção e aprimoramento dos elementos da comunicação bidirecional e separação aluno/professor
de Keegan. Dessa forma, apresenta-se três dimensões para organização de um modelo de ensino a
76
distância eficaz: 1. Diálogo e suporte: a organização de estruturas que permitam e motivem o
diálogo; 2. Estrutura e especialização: quanto mais bem estruturados e especializados os conteúdos
e sua disposição maior a qualidade do processo; 3. Competência e autonomia ou autodireção:
referente a aspectos proativos do aluno que precisam ser estimulados e que tem relação com a
estrutura dos conteúdos no curso.
Todos os modelos partem da lógica de organização em que a separação física entre
professores e alunos é um fator de distinção dessa modalidade implicando na reestruturação da
organização educacional a partir de planejamento intencional a partir do objetivo que se tem para
os cursos de formação que passam a acontecer em espaços coletivos em que a comunicação
mediatizada é muito importante para garantir diálogo. O sucesso da educação a distância, conforme
essas teorias de acordo com o que se mencionou no início, é atribuído basicamente a três fatores:
suporte, estrutura e autonomia. Esses modelos, entretanto, ainda estão muito atrelados a abordagens
pedagógicas bastante conservadoras, conforme Torres (2004), a excessiva preocupação com a
condução dos alunos a fim de atingirem os objetivos finais acarreta em aproximação dos modelos
de EaD apoiados em metodologias comportamentalistas e tecnicistas, para a autora muitas vezes
“as estratégias educacionais estão centradas na tecnologia educacional para transmissão e recepção
de informações” (TORRES, 2004, p.101).
8.5.1. Tendência para modelos presenciais e a distância
Moran (2011b, s/p) menciona que, inevitavelmente, os modelos educacionais
presenciais ou a distância para os próximos anos serão organizados em dois blocos: “Modelo 1: A
multiplicação do ensino centrado no professor, na transmissão da informação, de conteúdo e na
avaliação de conteúdos aprendidos e Modelo 2: O foco na aprendizagem, no aluno e na
colaboração”.
O primeiro modelo prevê organização de aulas com transmissão em tempo real
simultaneamente para vários locais a partir da combinação de tele-aulas em espaços presenciais e
em plataformas de aprendizagem online ou por meio da TV digital. Os professores que gravam
essas aulas serão apoiados nos pólos/campi por professores assistentes locais, as atividades
subsequentes incluem leituras, pesquisas e atividades de avaliação. O privilégio está na ênfase ao
conteúdo, compreensão e avaliação. Esse modelo remete, novamente, ao cenário instrucionista e
combina traços da teorias de Keegan e Garrison.
O segundo modelo, com foco na aprendizagem, aluno e colaboração, aproxima-se de
características teóricas de Holmberg e Moore. Conforme Moran (2011b, s/p) haverá, nos cursos
77
centrados nesse modelo maior possibilidade de pesquisas individuais e em grupo a partir da
interdisciplinaridade em momentos presenciais e virtuais: “as aulas presenciais servirão para
planejar as etapas da pesquisa. Depois acontece a pesquisa através do acompanhamento virtual e,
ao final, os alunos voltam ao presencial para avaliação e para organizar novas propostas de temas
de pesquisa e assim sucessivamente”.
A possibilidade de tornar menos lineares e mais progressistas as abordagens para EaD
está, conforme alguns autores, na transposição de práticas conservadoras e na opção pela
cooperação e colaboração como aportes que beneficiam a proposição de sistemas mais complexos
de ensino e aprendizagem significativos.
As organizações cooperativas e colaborativas de aprendizagem, nesse contexto,
permitiriam maior grau de diálogo e discussão na prática de ensino e de aprendizagem tornando
esse processo mais democrático, acessível e produtivo. Conforme Torres (2004, p.65) os dois
conceitos, cooperação e colaboração, “derivam de dois postulados principais: de um lado, da
rejeição do autoritarismo, à condução pedagógica com motivação hierárquica, unilateral. De outro,
trata-se de concretizar uma socialização não só pela aprendizagem, mas principalmente na
aprendizagem”. Assim, tais postulados permitiriam uma comunicação contínua, participativa em
que tanto alunos como professores organizam novas oportunidades de aprofundamento teórico por
meio de ações de coautoria e dinamização do conhecimento sem prejuízos ao desenvolvimento
científico na formação.
Essa prática implicaria na oferta de sistemas mais comprometidos com questões éticas
e estéticas de formação do que no princípio de atendimento a demandas industriais de formação
que, geralmente, ocorrem na massificação dos conteúdos e reprodução em escala comercial de
cursos a distância. Essa condição, é importante ressaltar, é um fator que traz prejuízos, também, nas
ofertas presenciais.
Ressalta-se que, conforme os referenciais de qualidade para EaD a distância
(BRASIL, 2007), o modelo pedagógico pode ser definido pela instituição conforme suas demandas
desde que caracterizado no projeto pedagógico.
Assim como na educação presencial, a organização da EaD requer compromisso no
planejamento, clareza e coerência quanto às opções pedagógicas que serão norteadoras para oferta
coerente dos cursos. As opções teóricas implicam, diretamente, no tipo de educação que se oferece
e determinam as diretrizes metodológicas ofertadas. Nesse texto apresentamos as principais teorias
para essa modalidade e enfatizamos a possibilidade de se superar modelos conservadores e
unilaterais de educação por meio de abordagens comprometidas com práticas democráticas de
ensinar e aprender.
78
8.6. Políticas para educação a distância no Brasil
Efetivamente, no Brasil, a discussão sobre políticas públicas nessa modalidade
educacional começa a se consolidar a partir de 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. O caráter de constituição de ações, nessa modalidade, partiu da necessidade de formação
continuada de professores para a educação básica, em 1999 o Ministério da Educação cria a SEED
- Secretaria de Educação a Distância para organização e implementação de cursos de treinamento e
capacitação docente.
Outros programas como o ProInfo e a TV Escola, também voltados à formação
docente, são propostos nessa modalidade, conforme Almeida (2011, p.5)
[...] os programas ProInfo e TVEscola, ambos da Secretaria de Educação a
Distância do MEC, aproximam-se e realizam projetos que integram diferentes
tecnologias na formação de educadores, na prática pedagógica e na gestão
escolar, apontando uma tendência promissora de convergência entre as mídias,
que deverá influir fortemente na disseminação da EaD nos próximos anos.
Nesse contexto de democratização da educação formal por iniciativas de formação a
distância, destaca-se a UAB – Universidade Aberta do Brasil que prevê a extensão de oferta da
educação superior no país criada em 2005. Conforme o portal http://uab.capes.gov.br essa
instituição, regulamentada pelo Decreto 5.800 de 08 de junho de 2006, pode ser definida como
“um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos de nível
superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação
universitária, por meio do uso da metodologia da educação a distância. O público
em geral é atendido, mas os professores que atuam na educação básica têm
prioridade de formação, seguidos dos dirigentes, gestores e trabalhadores em
educação básica dos estados, municípios e do Distrito Federal.”
(http://uab.capes.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&i
d=6&Itemid=18)
O modelo seguido pela UAB assemelha-se ao das universidades unimodais européias
e prevê em parceria de investimentos entre Estados, Municípios e União, viabilizar: expansão de
oferta da educação superior; financiamento para formação de recursos humanos para EaD superior;
avaliação do ensino superior a distância no país a partir de referenciais estabelecidos pelo
Ministério da Educação; pesquisa e investigação dessa modalidade.
Outra diretriz emergente é situada pela Portaria 2253/2001 do Ministério da Educação,
esse documento regulariza a oferta de até 20% de carga horária a distância nos cursos de graduação
presenciais. Essa condição exige reorganização das matrizes e oportuniza a flexibilização curricular
na oferta presencial.
79
As iniciativas dessa área são apoiadas por políticas educacionais do Banco Mundial
para países em desenvolvimento e, algumas vezes, são passíveis de críticas principalmente em
relação à intencionalidade das propostas de escolarização como elemento de fortalecimento do
capital no sentido de formação de mão-de-obra especializada, caracterizando um modelo
compensatório de educação.
8.7. Principais desafios
Quando discutimos políticas para educação em um país como o nosso, em que
inúmeros problemas se fazem presentes, dentre os quais desigualdade social, econômica e cultural,
emergem várias questões para reflexão: quais ações são emergenciais? Que educação se faz
necessária e significativa para promoção de formação humana, técnica e política? Como superar
limitações estruturais e financeiras na oferta educacional (incluindo-se formação de professores;
material didático de qualidade; infraestrutura)?
Os desafios, certamente, não se limitam à consolidação de práticas de educação a
distância, mas, essa modalidade precisa de maior cuidado devido à sua especificidade e função
social de democratização do acesso garantindo qualidade.
Devido ao fator de que a modalidade, muitas vezes, é instituída como compensação e
devido à equívocos conceituais, ela se faz à margem da regularidade e com grande preconceito
social. Embora políticas instituídas para avaliação e acompanhamento da qualidade, conforme
Moran (2011), o sucesso dessa modalidade ainda é fator de risco influenciado, também, pela
legitimidade e seriedade da oferta:
Algumas organizações e cursos oferecerão tecnologias avançadas dentro de uma
visão conservadora (só visando o lucro, multiplicando o número de alunos com
poucos professores). Outras oferecerão cursos de qualidade, integrando
tecnologias e propostas pedagógicas inovadoras, com foco na aprendizagem e
com um mix de uso de tecnologias: ora com momentos presenciais; ora de ensino
on-line (pessoas conectadas ao mesmo tempo, em lugares diferentes); adaptação
ao ritmo pessoal; interação grupal; diferentes formas de avaliação, que poderá
também ser mais personalizada e a partir de níveis diferenciados de visão
pedagógica. (MORAN, 2011, s/p)
Nesse sentido, há premência em estabelecer uma metodologia de qualidade que rompa
com intenções estritamente comerciais e quantitativas possibilitando real inclusão em propostas
que promovam democratização do acesso com qualidade à formação. Estão postos os limites
culturais e socais quando a banalização dos modelos ofertados é legitimado por alunos e equipes
80
descompromissadas com a qualidade. A superação dos estigmas e preconceitos acontece na medida
em que se imprime consciência, seriedade e responsabilidade a todo e qualquer processo
educacional.
81
9. Considerações finais
As novas tecnologias na atualidade têm um papel importante na e para a sociedade.
Sua influência é tanta que interfere nas inúmeras decisões tomadas todos os dias, seja no
âmbito individual, seja no âmbito social, político ou econômico.
Na escola, a relação com as novas tecnologias exige certo domínio de
procedimentos, habilidades específicas e instrumentais para que se possam produzir novos
conhecimentos e aplicar soluções voltadas às necessidades reais dos alunos e da sociedade.
Porém, não podemos simplificar estas questões a transmissão de idéias e
conhecimento, mas articular o compromisso com a formação humana, a construção e
produção cultural.
Pressupõe domínio da técnica com cultura científica e discernimento político,
que resultem num ser gestionário, numa nova capacidade de intervenção nas
atuais formas organizatórias do trabalho humano. Trata-se da elevação da
técnica-trabalho à técnica-ciência e do desenvolvimento da capacidade de
organização e construção. Este discernimento refere-se ao desenvolvimento da
consciência, conhecimento do mundo pelo homem e dele mesmo no mundo.
(MACHADO, 2003, p. 186)
Dessa forma, as mudanças no papel do professor precisam ocorrer no conjunto das
ações articuladas entre o indivíduo e o seu meio. Compreendendo-o em seus inúmeros
fatores, além do professor e do aluno, como o currículo, o sistema de ensino, o papel da
comunidade, levando em consideração aspectos de ordem técnica e o impacto que isso
causa no indivíduo, na sociedade e no meio ambiente.
A disciplina de Novas Tecnologias Aplicadas a Educação, no curso de Pedagogia,
propõe um trabalho de formação de professores nessa perspectiva, mesmo sabendo da
limitação de sua carga horária e as dificuldades técnicas existentes nos laboratórios de
informática da instituição, pois as escolas públicas das redes estaduais e municipais do
Município já contam com uma demanda significativa no ensino básico, utilizando os
recursos tecnológicos em suas atividades escolares.
82
10.Referências bibliográficas
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