18

Click here to load reader

Nove de janeiro

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 1/18

NOVE DE JANEIRO (1)por Máximo Gorki

...A multidão lembrava a vaga escura dum oceano ue acaba de ser des!ertado !ela !rimeira ra"ada da tem!estade# desli$ava lentamente !ara a %rentee os rostos cin$entos das !essoas assemel&avam'se crista torva e c&eia dees!uma da onda.

Os ol&os bril&avam de e*cita+ão mas as !essoas ol&avam'se como se nãoacreditassem na sua !r,!ria decisão como se a sua !r,!ria atitude os es!antasse.-obre a multidão rodo!iavam as !alavras semel&antes a aves sem !eso e sembril&o. alava'se em vo$ contida com seriedade como se cada um se !rocurasse "usti%icar !erante os outros.

' Viemos !or ue não se !ode aguentar mais...' O !ovo não se me*e sem um motivo %orte...' -er/ !oss0vel ue ele2 não com!reenda3

alava'se sobretudo dele2 garantiam uns aos outros ue ele2 era cordial ebondoso e ue com!reendia tudo. 4as as !alavras ue serviam !ara l&e !intar aimagem eram descoloridas. -entia'se ue &/ muito tem!o talve$ desde sem!renão !ensavam nele2 seriamente não o re!resentavam como um ser vivo real#não sabiam bem uem era e com!reendiam com di%iculdade !ara ue servia e o

ue !odia %a$er. 4as &o"e ele2 era necess/rio todos se a!ressavam acom!reend5'lo e sem o2 con&ecer na realidade com!un&am na sua imagina+ãosem o dese"arem conscientemente algo de colossal. As es!eran+as eram grandes!ara se a!oiarem necessitavam tamb6m de algo incomum.

De ve$ em uando uma vo$ de &omem audaciosa soava na multidão7' 8amaradas9 Não se enganem a si !r,!rios...4as a ilusão era indis!ens/vel e a vo$ isolada era aba%ada !elo tumulto de

gritos assustados e irritados7' :ueremos tudo s claras9' 8ala'te amigo9...' De resto o !o!e (;) <a!one...' Ele 6 ue sabe... A multidão &esitante marul&ava no canal da rua onde se %ragmentava em

gru!os isolados# as vo$es $umbiam discutindo e argumentando a turbaacotovelava'se contra as !aredes dos !r6dios e voltava a invadir o meio da cal+adasombria massa l0 uida onde se sentia o %ermentar con%uso das d=vidas onde se

detectava a e*!ectativa nervosa do ue iluminaria o camin&o ue leva ao ob"ectivo!or meio da %6 no sucesso e ue !or ela %undiria e uniria todos esses %ragmentosnum todo =nico &armonioso e s,lido. >entava'se sem o conseguir dissimular oce!ticismo ue se mani%estava !or uma in uieta+ão con%usa aliada a uma e*tremarece!tividade aos ru0dos. ?restava'se aten+ão com um ouvido circuns!ecto ol&ava'se !ara diante !rocurando obstinadamente alguma coisa. As vo$es dos ueacreditavam na sua %or+a interior e não em outra ual uer %ora deles suscitavam namultidão um receio irritado eram demasiado /s!eras !ara seres seguros dos seusdireitos a medir'se em debate %ranco com a uela %or+a ue ueria ver.

>ransbordando de rua em rua a massa &umana crescia a um ritmovertiginoso e esse aumento e*terior !rovocava !ouco a !ouco a sensa+ão de um

crescimento interior des!ertava a consci5ncia dos direitos do !ovo'escravo emim!lorar autoridade ue !restasse aten+ão ao seu in%ort=nio.

Page 2: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 2/18

' :uer ueiram uer não tamb6m somos &omens...' Ele2 com!reender/. Im!loraremos...' Deve com!reender. Não nos revoltamos...' Al6m disso o !o!e <a!one...' 8amaradas9 A liberdade não se im!lora...' O& meu Deus9' Es!era a0 amigo9' 8alem esse dem,nio9' O !o!e <a!one sabe mel&or o ue se deve %a$er...' :uando a %6 6 necess/ria aos &omens a!arece...@m &omem alto com um sobretudo escuro remendado no ombro com um

!eda+o de tecido ru+o subiu !ara um marco e tirando da cabe+a calva o bon6come+ou a %alar bastante alto num tom solene com uma c&ama nos ol&os e umtremor na vo$. alava dele2 do c$ar.

4as no tom e nas !alavras ue em!regava não se sentia mais do ue umentusiasmo a%ectado não vibrava no discurso a uele sentimento ue !odecomunicando'se aos outros uase !rodu$ir milagres. O &omem tin&a o ar de uemse %or+a !ara des!ertar e c&amar mem,ria uma imagem ue desde &/ muito!erdera a !ersonalidade uma imagem a ue o tem!o a!agara ual uer sombra devida. Ela estivera sem!re longe do &omem mas agora o &omem necessitava dela!retendia colocar nela todas as suas es!eran+as.

E assim !ouco a !ouco reanimavam o morto. A multidão ouvia com aten+ão7a uele &omem re%lectia os seus dese"os e ela sentia'o. Embora a uela %abulosare!resenta+ão da %or+a se não %undisse com nitide$ com a sua2 imagem todossabiam no entanto ue tal %or+a e*istia ue devia e*istir. O orador encarnava'a noser ue todos con&eciam !elas ilustra+ es dos calend/rios ligava'a imagem uecon&eciam atrav6s dos contos e nesses contos a imagem era &umana. As !alavrasdo orador sonoras e com!reens0veis !intavam de maneira clara um ser !oderosoa%/vel e "usto ue !restava uma aten+ão !aternal ao in%ort=nio do !ovo.

A %6 vin&a enganava as !essoas e*citava'as aba%ando o murm=rio surdo dasd=vidas... As !essoas a!ressavam'se a ceder a esse estado de es!0rito dado ue oes!eravam &/ longo tem!o e acumulavam'se numa bola enorme %eita de cor!oscom uma =nica alma e essa densidade a !ro*imidade dos ombros e dos %lancosa ueciam o cora+ão com uma doce certe$a a es!eran+a no sucesso.

' Não temos necessidade de bandeiras vermel&as9 ' gritava o careca. Agitandoo bon6 camin&ava %rente da multidão e o crBnio bril&ante dan+ava diante dosol&os e atra0a a aten+ão.

' Vamos ter com o nosso !ai9' Ele não dei*ar/ ue nos o%endam...' O vermel&o 6 a cor do nosso sangue camaradas9 A vo$ sonora teimava mantin&a'se obstinadamente !or cima da multidão.' A =nica %or+a ue !ode libertar o !ovo 6 a !r,!ria %or+a do !ovo9' Não devem...' :uerem semear a disc,rdia !ati%es9' O !o!e <a!one vai com uma cru$ e a uele vai com uma bandeira9' >ão novo e "/ l&e a!etecia comandar9Os ue se sentiam menos seguros camin&avam no meio da multidão e dali

ouvia'se gritar com uma irrita+ão in uieta7

' 8orram com ele esse da bandeira9

Page 3: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 3/18

-eguiam agora de!ressa sem &esita+ es e a cada !asso a unidade dees!0rito aumentava# a embriague$ da ilusão tomava'se mais intensa. O ele2acabado de criar des!ertava insistentemente nas mem,rias as vel&as sombras dosbons &er,is ecos de &ist,rias ouvidas na in%Bncia e saciando'se com a %or+a vivadesse dese"o de acreditar crescia nas imagina+ es com im!etuosidade.

Algu6m gritou7' Ele2 ama'nos9E evidentemente as !essoas acreditavam na uele amor de um ser ue elas

!r,!rias acabavam de criar.:uando a multidão desembocou na margem do rio e viu diante de si a lin&a

com!rida e uebrada dos soldados ue l&e im!edia a !assagem !ara a !onte nãose dei*ou deter !or esse obst/culo cin$ento e t6nue. As sil&uetas dos soldados uese desen&avam como lin&as %inas no %undo a$ul'claro do largo rio nada tin&am deamea+ador# saltitavam !ara a uecer os !6s gelados gesticulavam em!urravam'se#em %rente do outro lado do rio as !essoas divisavam um edi%0cio escuro# uem oses!erava ali era ele2 o c$ar o dono da uela casa. <rande !oderoso bom ea%/vel não !odia evidentemente ordenar ue a ueles soldados im!edissem o !ovo

ue o amava e dese"ava contar'l&e as suas mis6rias de ir sua !resen+a.No entanto em muitas e*!ress es a!areceu a sombra de uma !er!le*idade e

a ueles ue camin&avam na %rente abrandaram o !asso ligeiramente. @ns ol&aram!ara tr/s outros a%astaram'se e todos se es%or+aram !or demonstrar uns aosoutros ue uanto !resen+a dos soldados eles "/ sabiam a uilo não ossur!reendia. Alguns ol&aram calmamente !ara o an"o de ouro ue bril&ava bem altono c6u !or cima da triste %ortale$a e outros sorriram. @ma vo$ com!adecidacomentou7

' 8oitados dos soldados t5m %rio9...' Devem ter claro9' >5m de estar ali !arados9' O dever deles 6 manter a ordem9' Devagar ra!a$es9 8alma9' Vivam os soldados9 ' gritou algu6m.@m o%icial com um ca!u$ amarelo nos ombros desembain&ou o sabre e

brandindo a lBmina curva de a+o gritou ual uer coisa multidão ue c&egava. Ossoldados mantin&am'se im,veis alin&ados ombro a ombro.

' :ue estão eles ali a %a$er3 ' !erguntou uma mul&er gorda.Ningu6m l&e res!ondeu e de re!ente !areceu a todos ue se tornava di%0cil

camin&ar. O grito do o%icial atingiu toda a gente7

' ?ara tr/s9 Alguns voltaram'se7 seguia'os uma massa com!acta de cor!os na ualdesaguava numa corrente intermin/vel um escuro rio &umano# a multidãoa%astava'se cedendo uela !ressão e vin&a entu!ir a !ra+a diante da !onte. Alguns dos com!onentes destacaram'se e avan+aram ao encontro do o%icialagitando len+os brancos. Ao avan+ar gritavam7

' Vamos ver o nosso soberano...' Vimos em !a$...' Recuem ou mando abrir %ogo9:uando a ordem do o%icial atingiu a multidão esta res!ondeu com um eco de

sur!resa trove"ante c&eio de es!anto. :ue os não dei*ariam c&egar at6 ele2 "/

alguns tin&am garantido mas ue ainda !or cima atirassem sobre o !ovo ue ia at6ele2 !aci%icamente con%iado na %or+a e bondade de ue ele não dei*aria de dar

Page 4: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 4/18

!rovas era algo ue destru0a a integridade da imagem ue tin&am criado. Ele2era uma %or+a maior do ue ual uer outra %osse ual %osse# não receava ningu6mnão tin&a ual uer ra$ão !ara rec&a+ar !onta de baioneta e a tiro o seu !ovo.

@m &omem alto magro ol&os negros num rosto de %ome e*clamousubitamente7

' Abrir %ogo3 Não te atrever/s9Voltou'se !ara a multidão e !rosseguiu com vo$ %orte e c&eia de ,dio7' A%inal sem!re era o ue eu di$ia7 não nos dei*am !assar...' :uem3 Os soldados3' Os soldados não a ueles ue estão ali...8om a mão indicou um s0tio ao longe...' Os ue estão nos !oleiros... Eu bem tin&a ra$ão no ue di$ia.' Ainda não se !ode saber...' :uando souberem o motivo ue nos tra$ dei*ar'nos'ão !assar9...O rumor crescia. Ouviam'se gritos de c,lera e*clama+ es ir,nicas soavam

a ui e al6m. O bom senso c&ocava'se contra a uela barreira absurda e silenciava.Os movimentos tornavam'se mais nervosos e mais desordenados# um %rio agudoso!rava do lado do rio# as !ontas im,veis das baionetas %aiscavam.

-oltando e*clama+ es e obedecendo !ressão ue as em!urrava !ara a%rente as !essoas !rogrediam. As ue tin&am avan+ado com os len+os recuaramobli uamente e desa!areceram na multidão. 4as na %rente &omens mul&eres ecrian+as todos agitavam igualmente len+os brancos.

' Dis!arar !or u53 8om ue %im3 ' e*clamava num tom um !ouco en%/ticoum &omem duma certa idade com a barba grisal&a. ' -e não nos uerem dei*ar !assar !ela !onte !odemos sim!lesmente cortar !or cima do gelo...

Re!entinamente um ru0do seco e desigual !ro!agou'se no ar tremeu e veiobater contra a multidão como de$enas de c&icotadas. As vo$es !areceram ter gelado instantaneamente. E a massa continuava a avan+ar.

' Calas de !,lvora seca9 ' disse uma vo$ incolor ue interrogava mais do uea%irmava.

4as a ui e ali ouviam'se gemidos &avia cor!os ue "a$iam aos !6s damultidão. @ma mul&er soltando gritos de dor cris!ou a mão direita no !eito e com!assos r/!idos avan+ou !ara a %rente a direito contra as baionetas ue aen%rentavam. Outros se !reci!itaram atr/s dela !ara a segurar !ara a ultra!assar.

Ecoou novamente o cre!itar duma salva ainda mais sonora e mais irregular.Os ue estavam "unto de um ta!ume ouviram estremecer as t/buas como setivessem sido mordidas !or dentes raivosos. @ma bala ricoc&eteou ao longo de uma

t/bua arrancando a!aras mi=das ue lan+ou cara das !essoas. Os vultos ca0amaos dois e tr5s dobravam os "oel&os e tombavam segurando o ventre corriam nãose sabia !ara onde corriam man ue"ando raste"avam na neve onde %loriam largasmanc&as de sangue em !ro%usão# alargavam'se %umegavam atra0am o ol&ar... Amultidão re%luiu deteve'se um instante estu!e%acta e de s=bito rebentou o uivoselvagem e dilacerante de centenas de vo$es. -ubiu num =nico "orro e ! s'se avibrar no ar como uma nuvem estran&a de gritos arre!iantes de dor aguda de&orror de !rotesto de !er!le*idade melanc,lica de a!elos de socorro.

De cabe+a bai*a em gru!os redu$idos as !essoas lan+avam'se !ara a %rente!ara retirar os mortos e os %eridos. Estes tamb6m gritavam amea+ando com os!un&os# todos os rostos se tin&am metamor%oseado e em todos os ol&os bril&ava

uma es!6cie de loucura. Não se !rodu$iu o !Bnico esse terror negro colectivo uese a!odera bruscamente das !essoas e varre os cor!os em amontoados como o

Page 5: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 5/18

vento %a$ s %ol&as secas arrastando'as a todas e lan+ando'as !ara longe nacegueira dum turbil&ão endemonin&ado na Bnsia de encontrar onde se esconder.

avia sim &orror ue ueimava como o %erro gelado congelava o cora+ãocom!rimia o cor!o obrigava a ol&ar com ol&os bem abertos o sangue ue a neveabsorvia os rostos as mãos as rou!as ensanguentadas os cad/veresterrivelmente calmos no meio da agita+ão alarmada dos vivos. avia tamb6m umaindigna+ão /s!era um ,dio triste e im!otente muitos ol&os estran&amente im,veissobrol&os carregados e sombrios !un&os cris!ados gestos convulsivos e !alavrascorrosivas. 4as !arecia ue !or cima disso tudo uma %ria estu!e%ac+ão tin&a!enetrado nos cora+ es e matado a alma. Alguns minutos antes minutos in%eli$esa ueles &omens camin&avam !ara um ob"ectivo ue se desen&ava claramente!ara uma imagem de conto %ant/stico ue se erguia ma"estosamente !erante eles

ue eles admiravam amavam e com ue nutriam de es!eran+as a alma. Duasdescargas o sangue os cad/veres os gemidos e todos se viram !erante umv/cuo cin$ento im!otentes com o cora+ão dilacerado.

Revoluteavam sem sair do lugar como ue a!an&ados numa rede de ue senão !odiam libertar# uns sem di$er nada com ar !reocu!ado trans!ortavam os%eridos recol&iam os mortos outros viam o ue eles %a$iam como se estivessem ason&ar atordoados !erdidos numa estran&a a!atia. 4uitos gritavam censuras aossoldados insultos lamentos gesticulavam tiravam o bon6 e saudavam não sesabia uem amea+ando com a sua c,lera terr0vel.

Os soldados mantin&am'se im,veis com as armas a!ontadas !ara o c&ão# osrostos deles mantin&am'se igualmente inertes a !ele tensa nas %aces salientes. Dir'se'ia ue todos tin&am os ol&os brancos e os l/bios gelados.

Algu6m gritou &istericamente no meio da multidão7' Isto 6 um engano9 F um erro amigos9... Julgaram ue 6ramos outros não &/

d=vida9 Vamos l/ 6 !reciso e*!licar...' <a!one 6 um traidor9 ' gritou um "ovem tre!ando a um candeeiro.' Vamos camaradas bem v5em como ele2 vos recebe...' ?arem9 F um erro9 Não !ode ser de outra maneira tentem com!reender9' Dei*em !assar este %erido9Dois o!er/rios e uma mul&er trans!ortavam o &omem alto e magro# estava

coberto de neve e o sangue corria'l&e da manga do sobretudo. O rosto tin&aem!alidecido estava ainda mais magro e os l/bios ue me*iam lentamentemurmuravam7

' Eu bem di$ia7 não uerem dei*ar !assar9... Escondem'no... o ue 6 o !ovo!ara eles3

' Vem a0 a cavalaria9' u"am9 A !arede dos soldados estremeceu e abriu'se como os dois batentes dum

!ortal de madeira !ara dar !assagem aos cavalos ue avan+aram caracoleando erelinc&ando# soou o grito dum o%icial e os sabres %endendo o ar %aiscante !or cimada cabe+a dos cavaleiros bril&aram como %itas de !rata e a!ontaram todos namesma direc+ão. A multidão %icou ali vacilando na sua emo+ão es!erando semacreditar.

O ru0do diminuiu.' 8arregar9 ' ressoou a ordem como um grito %urioso.8omo se se tivesse levantado um turbil&ão e os c&icoteasse em !leno rosto

ou a terra tivesse come+ado a desli$ar'l&es debai*o dos !6s todos se lan+aramnuma corrida em!urrando'se derrubando'se uns aos outros abandonando os

Page 6: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 6/18

%eridos saltando !or cima dos cad/veres. O !esado martelar dos cascos !erseguia'os os soldados uivavam os cavalos galo!avam no meio dos %eridos dos mortosda ueles ue tin&am ca0do os sabres cintilavam e os gritos de !avor e deso%rimento %aiscavam tamb6m7 !odia ouvir'se de ve$ em uando o assobio do a+o eo c&o ue contra os ossos. Os gritos dos ue eram atingidos amalgamavam'se num=nico gemido !rolongado e sonoro7' Ai'i'i9

Os soldados brandiam o sabre e abatiam'no sobre as cabe+as deslocando'se!ara um lado com o 0m!eto da !ancada. No rosto vermel&o não se l&es distinguiamos ol&os. Os cavalos relinc&avam mostrando os dentes em caretas monstruosasabanavam a cabe+a...

O !ovo es!al&ou'se !elas ruas# logo ue o ru0do dos cascos se sumiu aolonge as !essoas sem % lego !araram e ol&aram umas !ara as outras de ol&osesbugal&ados# algumas e*ibiam t0midos sorrisos cul!ados algu6m se ! s a rirgritando7

' 8aramba &/ muito tem!o ue não corria tanto9' ?ode continuar9 ' res!onderam'l&e.4as de re!ente come+aram a c&over de todos os lados gritos de es!anto de

&orror ou de ,dio7' :ue uer isto di$er amigos3' Isto %oi um massacre irmãos ortodo*os9' 4as !or ue3' >emos um bonito governo9' >ratam'nos a %io de es!ada9 Es!e$in&am'nos com os cavalos &a9Na sua !er!le*idade %icavam ali sem saber como agir e comunicando a sua

indigna+ão. Não com!reendiam o ue se devia %a$er ningu6m se ia embora e cadaum deles se encostava ao vi$in&o tentando encontrar uma sa0da ual uer !ara acon%usão em ue mergul&avam os sentimentos ol&avam'se com uma curiosidadeangustiada e no entanto mais admirados do ue aterrori$ados continuavam aes!erar ol&ando sua volta. Estavam todos demasiado abatidos demasiado

uebrados !ela estu!e%ac+ão# esse sentimento ecli!sava todos os outros e manten'do'os num estado de es!0rito anormal im!edia'os de conceber o signi%icado !lenodesses minutos ines!erados e terr0veis na sua inutilidade insensata saturados dosangue dos inocentes.

@ma vo$ "ovem en6rgica a!elou7' E&9 Vamos recol&er os %eridos9Estremeceram e dirigiram'se com ra!ide$ !ara a sa0da da rua ue

desembocava no rio. Ao seu encontro vin&am &omens estro!iados cobertos deneve ensanguentada !enetravam na rua a mancar arrastando'se con%orme!odiam. ?egavam neles am!aravam'nos mandavam !arar os %iacres %a$iam sair os !assageiros e condu$iam'nos a ual uer !arte. >odos tin&am agora umae*!ressão !reocu!ada e mantin&am um sil5ncio !esado. E*aminavam os %eridoscom um ol&ar !ro%undo mediam sem di$er nada com!aravam mergul&ados na!es uisa duma res!osta a dar terr0vel !ergunta ue se levantava con%usa ein%orme sombra negra. Ela tin&a ani uilado a imagem recentemente inventadadesse &er,i desse c$ar %onte de bem e de clem5ncia. oram !ouco numerosos os

ue se resolveram imediatamente a recon&ecer bem alto ue a imagem "/ estavadestru0da. Era di%0cil %a$5'lo !or ue era !rivar'se assim da sua =nica es!eran+a.

O careca do sobretudo remendado !assou# o crBnio ba+o estava agorasal!icado de sangue camin&ava inclinando a cabe+a e o ombro as !ernas

Page 7: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 7/18

dobravam'se'l&e recusando'se a sustent/'lo. Am!arava'o um ra!agão de ombroslargos e de cabelos ondulados sem bon6 e uma mul&er com uma !eli+a rasgadade rosto inerte e estu!idi%icado.

' 8omo 6 !oss0vel isto 4iguel3 ' murmurava o %erido.' Dis!arar sobre o !ovo não 6 !ermitido9... Não !ode ser 4iguel9' 4ais %oi9 ' gritou o ra!a$.' Dis!araram e acutilaram9 ' notou a mul&er acabrun&ada.' Isso signi%ica ue receberam ordem !ara %a$er isso 4iguel...' Não &/ d=vida nen&uma9 ' disse o ra!a$ com vo$ raivosa. ' ?ensava ue iam

discutir consigo3 :ue l&e o%ereciam um co!o3' Es!era a0 4iguel...O %erido !arou encostou'se a uma !arede e ! s'se a gritar7' Ortodo*os9 ?or ue nos massacram3 8om ue direito3 ?or ordem de uem3 As !essoas !assavam "unto dele bai*ando a cabe+a.4ais longe na es uina de um muro algumas de$enas tin&am'se reunido em

torno dum &omem ue com vo$ !reci!itada e ar ue"ante di$ia com uma ansiedadec&eia de ,dio7

' Ontem o <a!one %alou com o ministro. Ele sabia tudo o ue se ia !assar!ortanto ele traiu'nos mandou'nos !ara a morte.

' :ue l&e adiantava isso3' -ei l/9?or toda a !arte os es!0ritos a ueciam cada !essoa via levantar'se diante de

si !erguntas ainda con%usas mas "/ sentia a im!ortBncia delas a sua e*tensão e ae*ig5ncia severa e !remente de l&es dar res!osta. O %ogo da agita+ão consumiara!idamente ual uer %6 num au*0lio e*terior ual uer es!eran+a num miraculosolibertador da mis6ria.

?elo meio da rua camin&ava uma mul&er %orte mal vestida com uma carasim!/tica de mãe e grandes ol&os tristes. 8&orava e sustentando com a mão direitaa es uerda ensanguentada di$ia7

' 8omo !oderei trabal&ar3 8om ue &ei'de sustentar os meus %il&os3 Onde 6ue o !ovo encontrar/ uem o de%enda se o !r,!rio c$ar 6 contra ele3

As suas !erguntas sonoras e claras des!ertaram as !essoas alarmaram'nas abanaram'nas. Vin&am ter com ela acorriam de todos os lados e !aravam!ara a ouvir com uma aten+ão melanc,lica.

' Então não &/ lei ue !rote"a o !ovo3 Alguns sus!iraram outros !rague"aram com vo$ col6rica e contida.De algures c&egou um grito amargo e c&eio de ,dio7

' Eu recebi a"uda9 :uebraram a !erna do meu %il&o9' 4ataram o ?edrin&o9Os gritos eram numerosos %lagelavam os ouvidos e !rovocavam cada ve$

mais am!los ecos vingadores as suas bruscas ressonBncias des!ertavam aanimosidade a consci5ncia de ue era indis!ens/vel de%enderem'se contra osassassinos. Nos rostos sem cor surgiu uma decisão.

' 8amaradas9 Vamos cidade a!esar de tudo... >alve$ se consiga ual uer coisa9 Vamos com todas as !recau+ es.

' Vão'nos massacrar...' Vamos %alar aos soldados. >alve$ eles com!reendam ue não &/ nen&uma lei

ue !ermita massacrar o !ovo.

' >alve$ &a"a uma9 8omo !osso saber3

Page 8: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 8/18

A multidão lentamente mas sem des%alecimento alterava'se trans%igurava'seem !ovo. Os "ovens destacavam'se em !e uenos gru!os ue iam na mesmadirec+ão regressavam ao rio. Os %eridos e os mortos continuavam a ser trans!ortados &avia !or toda a !arte um odor de sangue uente gemidose*clama+ es.

' Ao >iago Gimine a bala a!an&ou'o no meio da testa.' Agrade+am ao nosso bom c$ar9' Não &/ duvida... Recebeu'nos bem.Ressoavam !ragas e maldi+ es. ?or uma =nica da uelas !alavras um uarto

de &ora antes a multidão teria %eito em !eda+os o !ro%anador.@ma ra!ariguin&a corria desam!arada e !erguntava s !essoas7' Não viram a min&a mãe3Ol&avam'na sem di$er nada e dei*avam'na !assar. De!ois ouviu'se a mul&er

da mão %racturada7' A ui9 Estou a ui9 A rua esva$iava'se. Os "ovens !artiam com uma !ressa crescente. Os mais

idosos com e*!ress es tristes dirigiam'se tamb6m !ara ual uer !arte vigiandoos mais novos !elo canto do ol&o. alava'se !ouco... A!enas de ve$ em uandoalgu6m ue não !odia conter a amargura e*clamava com vo$ aba%ada7

' Então agora re!udia'se o !ovo9...' 4alditos assassinos9Hamentavam'se os ue tin&am sido mortos e adivin&ando ue tin&a

igualmente sido morto da uela maneira um !esado !reconceito de escravos!rocuravam não %alar disso não se !ronunciava mais esse nome ue rasgava oouvido a %im de não alarmar mais no cora+ão a triste$a e a c,lera.

E talve$ se calassem tamb6m com medo de criar um novo no lugar do uemorrera.

...Em torno do !al/cio do c$ar mantin&a'se uma cadeia a!ertada e indissol=velde soldados !ardacentos# a cavalaria estava dis!osta sob as "anelas do edi%0cio ena !ra+a os can& es a!ontavam os seus canos curtos com ar de sanguessugas.@m c&eiro de %eno de suor e de e*crementos de cavalo cercava a resid5ncia e otilintar do %erro e das es!oras as ordens ue se gritavam o bu%ar dos animais tudoisso vibrava sob as "anelas cegas do !al/cio.

a$endo %rente aos soldados mil&ares de !essoas desarmadas e c&eias deanimosidade mantin&am'se no %rio glacial e !or cima da multidão subia como se%osse !oeira o va!or acin$entado das res!ira+ es. @ma com!an&ia de soldados

a!oiando um dos %lancos na !arede dum edi%0cio numa es uina da ?ers!ectivaNevs i ( ) e o outro na grade do "ardim barrava o camin&o !ara a !ra+a do !al/cio.4uitos civis com rou!as diversas na maioria o!er/rios muitas mul&eres eadolescentes mantin&am'se ali uase a tocar os soldados.

' Dis!ersem'se sen&ores9 ' di$ia em vo$ bai*a um sargento. Andava ao longoda lin&a se!arando com as mãos soldados e civis es%or+ando'se !or não ver osrostos.

' ?or ue não nos dei*am !assar3 ' !erguntavam'l&e.' ?ara ir onde3' alar com o c$ar.O sargento !arou !or um momento e com uma e*!ressão !r,*ima do

abatimento e*clamou7' 4as se "/ vos disse ue ele não est/ l/9

Page 9: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 9/18

' O c$ar não est/3' Não9 J/ disse ue não est/9 ?or isso o mel&or 6 irem embora9' oi'se embora de ve$3 ' insistiu uma vo$ ir,nica.O sargento !arou novamente e levantou os bra+os7' >en&am cuidado com o ue di$em.E acrescentou noutro tom7' Ele não est/ na cidade.' 4orreu9' Voc5s mataram'no !ati%es9' ?ensavam assassinar o !ovo3' O !ovo não o terão. Ele c&ega !ara tudo...' Voc5s mataram o c$ar... Estão a ouvir3' Recuem sen&ores9 Nada de r6!licas9' :uem 6s tu3 @m soldado9 O ue 6 um soldado34ais longe um vel&in&o com uma barbic&a !ontiaguda %alava aos

soldados c&eio de anima+ão7' Voc5s são &omens n,s tamb6m. Agora voc5s usam o ca!ote mas aman&ã

voltarão a usar o ca%tã. :uererão trabal&o a vontade de comer não %alta. 4as semtrabal&o não &/ comida. Voc5s c&egarão ao mesmo !onto em ue n,s estamosmeus %il&os. E então ser/ !reciso dis!arar contra voc5s3 -er/ !reciso matar'vos!or ue voc5s t5m %ome3

Os soldados tin&am %rio. A!oiavam'se ora num !6 ora noutro batiam com assolas no !avimento es%regavam as orel&as mudavam a es!ingarda de uma mão!ara a outra. Ao ouvirem a uelas %rases sus!iravam erguiam ou bai*avam osol&os davam estalidos com os l/bios gelados assoavam'se. Os rostos viol/ceos de%rio a!resentavam uma e*!ressão uni%orme de desencora"amento embotado# essessoldadin&os de c&umbo !ouco mais altos ue a es!ingarda de baioneta calada ueseguravam nas mãos eram a und6cima com!an&ia do regimento n.K 1LL de ?s ov. Alguns deles %ec&avam um ol&o como ue !ara %a$er !ontaria a!ertavam os dentescom es%or+o decerto irritados contra a uela multidão ue os obrigava a %icar ali agelar. A triste lin&a cin$enta res!irava o cansa+o e o aborrecimento.

Algumas !essoas em!urradas !elos de tr/s c&ocavam de ve$ em uandocontra os soldados.

' 8alma9 ' re!etia a cada im!ulso um &omem bai*in&o de ca!ote cin$entocom vo$ contida. A multidão gritava com um ardor crescente. Os soldados ouviam!iscando os ol&os os rostos torciam'se em caretas indecisas e a!arecia neles algode lament/vel e de t0mido.

' Não me to ues na es!ingarda9 ' disse um deles a um "ovem com bon6 de!ele ue a!ontou um dedo no !eito do soldado di$endo7' Fs um soldado não um carrasco. 8&amaram'te !ara de%ender a R=ssia

contra os seus inimigos mas uerem agora obrigar'te a %u$ilar o !ovo... Est/s a !er 'ceber3 O !ovo 6 ue 6 !recisamente a R=ssia9

' N,s não dis!aramos9 ' res!ondeu o soldado.' Ol&a tua %rente9 F a R=ssia ue est/ a0 o !ovo russo9 Ele uer ver o c$ar... Algu6m o interrom!eu com um grito7' Não não uer9' / algum mal em o !ovo uerer discutir um !ouco os seus !roblemas com o

c$ar3 Di$e l/ anda9

' Não sei9 ' res!ondeu o soldado cus!indo.O soldado do lado acrescentou7

Page 10: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 10/18

' Não !odemos conversar...-oltou um sus!iro acabrun&ado e bai*ou os ol&os. @m outro soldado

!erguntou subitamente com vo$ suave uele ue estava %rente dele7' -omos da mesma terra. Voc5 não 6 de Ria$an3' -ou de ?s ov. ?or u53' ?or ue sim. Eu sou de Ria$an.8om um sorriso aberto sacudiu os ombros num gesto %riorento. As !essoas ondulavam diante do muro cin$ento e liso c&ocavam'se contra ele

como as vagas dum rio contra os roc&edos da margem. Re%lu0am de!ois voltavam.4uitos !rovavelmente não com!reendiam !or ue estavam ali o ue ueriam e o

ue es!eravam. Não se tratava dum %im claramente recon&ecido de determina+ãoresoluta mas era um amargo sentimento de o%ensa e de indigna+ão e em muitosum dese"o de vingan+a. Era o ue os unia a todos os retin&a nas ruas mas nãotin&am ningu6m sobre uem descarregar os sentimentos ningu6m sobre uem sevingar... Os soldados não !rovocavam o ,dio não os irritavam# eram sim!lesmenteest=!idos e in%eli$es transidos de %rio muitos tremiam como varas verdesestremeciam batiam os dentes.

' ?lantados a ui desde as seis da man&ã. :ue calamidade9' Deitas'te e rebentas...' Voc5s !odiam ir embora &a9 N,s voltar0amos !ara a caserna !ara o

uente...' :ue diabo 6 ue vos !reocu!a3 ?or ue es!eram3 ' di$ia o sargento. As !alavras dele o seu rosto s6rio o tom !ausado e seguro arre%eciam. >udo

o ue ele di$ia !arecia ad uirir um sentido es!ecial mais !ro%undo do ue assim!les !alavras.

' Es!erar não serve de nada. -erve s, !ara %a$er so%rer a tro!a !or vossacausa.

' Voc5s vão voltar a dis!arar contra n,s3 ' !erguntou um ra!a$ ue cobria acabe+a com um ca!u$.

A!,s uma !ausa o sargento res!ondeu7' -e nos derem essa ordem teremos de a cum!rir. A uilo !rovocou uma e*!losão de %rases de re!rova+ão de !alavr es de

mote"os.' ?or u5 !or u53 ' indagava mais alto do ue os outros um &omem %orte

ruivo.' Voc5s não obedecem s ordens do comando9 ' e*!licou o sargento co+ando

uma orel&a.

Os soldados ouviam as conversas das !essoas e !iscavam os ol&os decansa+o. @m deles disse vagarosamente7' Cebia agora com vontade uma coisa uente9' >alve$ ueiras o meu sangue9 ' retor uiu algu6m com vo$ c&eia de ,dio e de

re!ulsa.' Não sou nen&um animal %ero$9 ' re!licou o soldado com e*!ressão o%endida

e triste.4uitos ol&ares %i*avam o largo e ac&atado semblante da longa lin&a de

soldados com uma curiosidade %ria e silenciosa com des!re$o e re!ugnBncia. 4asa maioria tentava a uec5'los ao %ogo da sua !r,!ria e*cita+ão tentava libertar nocora+ão deles algo ue a caserna tin&a com!rimido a %undo assim como na cabe+a

entu!ida com o bricabra ue de educa+ão militar. A maior !arte das !essoasdese"ava agir reali$ar de uma maneira ou de outra a uilo ue sentia e !ensava

Page 11: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 11/18

c&ocando'se obstinadamente contra a uelas !edras cin$entas e %rias ue tin&ama!enas um dese"o7 o de se a uecerem.

As %rases soavam cada ve$ mais ardentes e as !alavras mais e*altadas.' -oldados9 ' di$ia um cam!on5s atarracado com uma grande barba e ol&os

a$uis. ' Voc5s são %il&os do !ovo russo. ?useram o !ovo na mis6ria es ueceram'no dei*am'no sem !rotec+ão sem !ão e sem trabal&o. E &o"e o !ovo veio !edir au*0lio ao c$ar e o c$ar ordena ue voc5s dis!arem sobre o !ovo ordena ue omassacrem. J/ dis!araram na !onte da >rindade e mataram !elo menos umacentena de !essoas. -oldados o !ovo são os vossos !ais os vossos irmãos o!ovo não se mete em trabal&os a!enas !or ele mas tamb6m !or voc5s. ? em'voscontra o !ovo obrigam'vos a matar !ais e irmãos. ?ensem um momento9 Nãocom!reendem ue 6 contra voc5s !r,!rios ue dis!aram3

A vo$ a%/vel e calma do vel&o o rosto bom com a sua barba branca toda a%isionomia e as suas !alavras sim!les e "ustas emocionavam visivelmente ossoldados. Cai*avam os ol&os e ouviam'no com aten+ão# um sus!irava abanando acabe+a outros %ran$iam os sobrol&os e ol&avam sua volta um outro advertiu'ocom vo$ aba%ada7

' A%asta'te o o%icial acabar/ !or te ouvir.Este grande aloirado com bigodes !e uenos camin&ava lentamente ao

longo da %ileira e cal+ando a luva na mão direita di$ia entre dentes7' 8irculem9... Vão'se embora9... :ue 6 isso3 Atrevem'se a discutir3 Eu l&es

darei a discussão9>in&a um rosto es!esso rubicundo e ol&os redondos claros mais sem bril&o.

8amin&ava sem !ressa batendo com os !6s no c&ão mas com a sua c&egada otem!o !reci!itou'se como se cada segundo se a!ressasse a desa!arecer comreceio de se encontrar ligado a um ultra"e odioso. Atr/s dele como se accionasseuma r6gua invis0vel ue alin&ava a %ileira da tro!a os soldados encol&iam asbarrigas enc&iam o !eito lan+avam uma ol&adela bi ueira das botas. Algunsa!ontavam com os ol&os o o%icial multidão e %a$iam esgares col6ricos. Este!arou num dos %lancos e comandou7

' -entido9Os soldados moveram'se e inteiri+aram'se.' Ordeno'vos ue dis!erseis9 ' gritou ele desembain&ando o sabre

vagarosamente.Dis!ersar era materialmente im!oss0vel7 a multidão tin&a submerso toda a

!ra+a com a sua massa com!acta e da rua l/ atr/s continuava a desembocar gente.

O o%icial era ol&ado com ,dio ouvia as $ombarias os !alavr es masmantin&a'se %irme im,vel sob a avalanc&e. O ol&ar morto e*aminava a suacom!an&ia as sobrancel&as ruivas mal estremeciam. A multidão come+ou a trove"ar com mais %or+a a uela calma irritava'a visivelmente.

' F este ue uer dar ordens9' 4esmo sem ter ordem est/ !ronto a %a$er sangue9' ?arece um aren ue...' E& !atrão$in&o est/s !ronto !ara o massacre3@ma im!etuosidade !rovocante crescia uma intre!ide$ descuidada os gritos

eram mais altos os im!ro!6rios mais violentos.O sargento ol&ou !ara o o%icial estremeceu %icou !/lido e !or sua ve$

desembain&ou o sabre ra!idamente.

Page 12: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 12/18

-ubitamente soou um to ue sinistro. A multidão ol&ou !ara o clarim7 o soldadoinc&ava as boc&ec&as e arregalava tão curiosamente os ol&os ue todo o rosto!arecia !restes a estalar# o clarim tremia'l&e na mão e o to ue era demasiadolongo. As !essoas aba%aram o grito %an&oso do cobre com um assobio sonoroululando soltando sons esgani+ados maldi+ es censuras gemidos de im!ot5nciagritos de deses!ero e de aud/cia !rovocados !ela sensa+ão de ue era !oss0velmorrer de re!ente e era im!oss0vel esca!ar. Não &avia um s0tio !ara onde %ugir damorte. Alguns vultos atiraram'se ao c&ão outros escondiam o rosto nas mãosen uanto o &omem da barba branca ue abrira o sobretudo no !eito se mantin&a %rente de todos com os ol&os a$uis %i*os nos soldados !ronunciando !alavras uese a%ogavam no caos dos gritos.

Os soldados brandiram as es!ingardas a!ontaram e colocaram'se todos na!osi+ão do ca+ador es!reita com a baioneta dirigida contra a multidão.

Via'se a %ileira de baionetas sus!ensa agitada irregular# umas estavamdemasiado !ara cima as outras inclinavam'se muito !ara o c&ão !oucas eram as

ue e%ectivamente a!ontavam a direito !ara os !eitos e todas !areciam molestremiam e tin&am o ar de se derreter de vergar.

@ma vo$ sonora gritou com uma re!ulsa misturada de &orror7' :ue estão a %a$er assassinos3@m %r6mito violento desigual !ercorreu as baionetas uma ra"ada assustada

!artiu as !essoas oscilaram !ro"ectadas !ara tr/s !elo ru0do !elas balas !elaueda dos mortos e dos %eridos. Alguns sem di$er !alavra lan+aram'se numa

corrida !ara escalar a grade do "ardim. @ma nova ra"ada de!ois outra. @mgarotin&o sur!reendido na grade !or uma bala dobrou'se subitamente e %icousus!enso de cabe+a !ara bai*o. @ma mul&er alta e esbelta com uma cabeleirava!orosa soltou um gemido %r/gil e caiu molemente "unto dele.

' A& malditos9... 4alditos9 ' gritou algu6m.O local tornou'se mais am!lo e mais calmo. As %ilas da retaguarda da multidão

%ugiam !aras as ruas metiam'se nos !/tios recuavam obedecendo a gol!esinvis0veis. Entre ela e os soldados %ormou'se um es!a+o de alguns metros todocoberto de cor!os. @ns levantavam'se e %ugiam a toda a !ressa !ara o lado dosseus outros erguiam'se com !enosos es%or+os dei*ando manc&as de sangue ea%astavam'se titubeantes seguidos !elo rasto sangrento. 4uitos "a$iam im,veisdeitados de barriga e de costas ou de lado mas todos na estran&a tensão do cor!o

ue %oi a!an&ado !ela morte uando !arecia tentar %urtar'se'l&e s garras...Es!al&ava'se no ambiente um odor de sangue. Hembrava o &/lito uente e um

!ouco salgado do mar ao cre!=sculo dum dia t,rrido um c&eiro m,rbido e ine'

briante ue des!ertava uma sede terr0vel de enc&er com ele as narinaslongamente. @m c&eiro ue corrom!e e !erverte a imagina+ão como o sabem oscarniceiros os soldados e outros assassinos !ro%issionais.

A multidão ao recuar soltava as suas maldi+ es voci%erava os gritos de dor %undiam'se num turbil&ão desordenado com os assobios os c&o ues e os lamentos#os soldados mantin&am'se im!erturb/veis tão im,veis como os mortos. >in&am orosto cor de cin$a l/bios cerrados como se tamb6m eles uisessem gritar e asso'biar mas não conseguissem resolver'se a tal e se retivessem. Ol&avam sua %rentecom ol&os escancarados ue "/ não !iscavam. Não se detectava no seu ol&ar nadade &umano !areciam não ver assemel&avam'se a !ontos va$ios e embaciados nasu!er%0cie tensa dos rostos. Recusavam'se a ver talve$ com o secreto receio de

ue a vista do sangue uente ue tin&am %eito derramar l&es desse vontade dere!etir a !roe$a. As es!ingardas tremiam'l&es nas mãos as baionetas ondulavam

Page 13: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 13/18

%urando o ar. 4as esse arre!io dos cor!os não !odia sacudir a im!assibilidadeest=!ida da ueles &omens nos uais se tin&a aba%ado o cora+ão ao tirani$ar avontade e cu"os c6rebros tin&am sido aglutinados numa re!ugnante mentira emdecom!osi+ão. O &omem barbudo de ol&os a$uis levantou'se do c&ão e dirigiu'senovamente a eles a vo$ entrecortada e o cor!o tr6mulo7

' A mim voc5s não me mataram !or ue eu disse'vos a santa verdade... A multidão regressava lenta e sombria !ara recol&er os mortos e os %eridos. Alguns &omens vieram "untar'se a uele ue %alava com os soldados einterrom!endo'o !useram'se tamb6m a gritar a e*ortar a acusar sem rancor como cora+ão taciturno e c&eio de com!ai*ão. Nas vo$es deles ainda sobrevivia a %6ing6nua na vit,ria da !alavra "usta o dese"o de demonstrar a insensate$ a loucurada crueldade de tornar os soldados conscientes da uele erro !enoso#desenvolviam todos os seus es%or+os !ara os levar a com!reender a in%Bmia e o&orror do seu !a!el involunt/rio.

O o%icial tirou o rev,lver do coldre e*aminou'o com aten+ão e encamin&ou'se!ara o gru!o. Os &omens a%astavam'se dele sem !ressa como se %a$ a um !edra

ue rola lentamente !or uma encosta. O barbudo de ol&os a$uis não se me*ia eacol&eu'o com ardentes censuras mostrando num gesto largo todo o sanguederramado7

' 8omo !ensa "usti%icar isto3 Não &/ "usti%ica+ão9O o%icial deteve'se diante dele %ran$iu um sobrol&o com ar !reocu!ado

de!ois alongou o bra+o. Não se ouviu a detona+ão viu'se o %umo cercar a mão doassassino uma ve$ duas ve$es de!ois uma terceira. Ao =ltimo tiro o &omemdobrou as !ernas tombou !ara tr/s e agitando a mão direita caiu. De todos oslados &ouve !essoas ue se lan+aram sobre o assassino7 ele recuou com o sabreao alto e a amea+ar todos com o rev,lver... @m adolescente caiu'l&e aos !6s e ele%urou'l&e o ventre com um gol!e de sabre. Rugia saltava oscilava !ara todos oslados como um cavalo teimoso. Algu6m l&e lan+ou o bon6 cara bombardeavam'no com bolas de neve ensanguentada. O sargento acorreu em seu socorro comalguns soldados de baionetas a!ontadas e os mani%estantes dis!ersaram. Ovencedor acom!an&ou'os com amea+as brandindo o sabre de!ois bai*ousubitamente e en%iou'o uma ve$ mais no cor!o do adolescente ue l&e raste"avaaos !6s !erdendo sangue.

-oou novamente o to ue rou%en&o do clarim e as !essoas evacuaram!reci!itadamente a !ra+a ao ouvi'lo alongar'se no ar em %inas volutas como se!retendesse dar o =ltimo arran"o aos ol&os va$ios dos soldados bravura do o%icial

!onta vermel&a do seu sabre e aos seus bigodes assan&ados.

O vermel&o vivo do sangue irritava o ol&ar e atra0a'o !rovocando o dese"o!erverso e embriagador de ver ainda mais de o ver !or toda a !arte. Os soldadostin&am o ar de estarem na e*!ectativa me*iam o !esco+o e !rocuravam com osol&os ao ue !arecia novos alvos vivos !ara as suas balas.

O o%icial num dos %lancos brandia o sabre e gritava com vo$ sacudida !elac,lera desencadeada.

Em res!osta vieram gritos de v/rias direc+ es7' 8arrasco9' il&o da mãe9Ele ac&ou'se no dever de corrigir o alin&amento dos bigodes. -oou uma nova

ra"ada de!ois outra...

Page 14: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 14/18

As ruas regurgitavam de gente como sacos c&eios de grão. A ui &avia menoso!er/rios os !e uenos comerciantes e em!regados dominavam. J/ alguns delestin&am visto o sangue e os cad/veres outros tin&am sido batidos !ela !olicia. Aang=stia tin&a'os tirado das suas casas encamin&ado !ara a rua e elesdisseminavam o seu alarme e*agerando o as!ecto &orroroso da uele dia. omensmul&eres e adolescentes todos ol&avam em torno com ansiedade e es!eravama!urando o ouvido. Relatavam uns aos outros os massacres lamentavam'se!rague"avam interrogavam os o!er/rios levemente %eridos bai*avam !or ve$es asvo$es uase at6 ao murm=rio !ara comunicarem coisas em segredo. Ningu6m com'!reendia o ue era necess/rio %a$er ningu6m regressava a casa. -entiamadivin&avam ue atr/s da ueles assassinos se escondia algo de im!ortante demais !ro%undo e mais tr/gico !ara eles do ue a uelas centenas de mortos e %eridos

ue não !ertenciam sua classe.4ergul&ados at6 a uele dia numa es!6cie de inconsci5ncia tin&am vivido de

no+ es con%usas amadurecidas sem ue se soubesse uando nem como ares!eito do !oder da lei das autoridades dos seus !r,!rios direitos. O car/cter im!reciso dessas no+ es não os im!edia de rodear os c6rebros de uma redees!essa e com!acta de os cobrir com uma grossa casca escorregadia# tin&am'se&abituado a !ensar ue e*istia na vida uma %or+a ue devia e !odia de%end5'los7 alei. Ad uiriram desse modo a certe$a de se encontrarem em seguran+a ao abrigode !ensamentos im!ortunos. As coisas não corriam mal e embora a vida atacasseessas nevoentas no+ es com de$enas de %issuras c&o ues e arran&adelas ealgumas ve$es reveses s6rios nem !or isso eles dei*avam de estar solidamenteancorados# conservavam a sua morta dignidade e as arran&adelas e %issurascicatri$avam muito de!ressa.

4as &o"e subitamente des!o"ado o c6rebro deles teve um arre!io e o !eito %oidominado !or uma ang=stia glacial. >odo a uele de!,sito %ormado !elo &/bito %oisacudido uebrou e desa!areceu. >odos se sentiam com maior ou menor lucide$triste e terrivelmente isolados sem de%esa !erante uma %or+a c0nica e cruel ue nãorecon&ecia direito ou lei. 4antin&a todas as vidas entre as suas mãos e !odia comuma total inconsci5ncia semear a morte nessa massa !odia ani uilar os vivos sus vontade con%orme o seu a!etite. Ningu6m a !odia reter# recusava'se a %alar %osse a uem %osse. Era toda'!oderosa e mostrava cabalmente a desmesura do seuim!6rio "uncando absurdamente as ruas de cad/veres inundando'as de sangue. Oseu delirante ca!ric&o sanguin/rio era claramente vis0vel. Ins!irava uma ang=stiaunBnime um terror corrosivo ue esva$iava a alma. -acudida insistentemente ara$ão levando'a a criar os !lanos duma nova de%esa do indiv0duo novas

constru+ es !ara a salvaguarda da vida.De cabe+a bai*a balou+ando as mãos ensanguentadas !assava um &omemrobusto atarracado. >in&a a !arte da %rente do sobretudo inundada de sangue.

' Est/ %erido3 ' !erguntou algu6m.' Não9' Então esse sangue3' Não 6 meu9 ' res!ondeu ele sem se deter.Re!entinamente imobili$ou'se ol&ou sua volta e ! s'se a %alar

estran&amente alto7' Não 6 o meu sangue sen&ores... F o sangue dos ue tin&am %6...-em terminar !rosseguiu o seu camin&o bai*ando novamente a cabe+a.

Agitando os seus curtos c&icotes um destacamento de cavalaria irrom!eu nomeio da multidão. As !essoas lan+aram'se !ara todos os lados !ara esca!arem

Page 15: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 15/18

esmagando'se umas s outras escalando os muros. Os soldados estavamembriagados oscilavam nas selas com um sorriso est=!ido e !or ve$es como ue!or engano c&icoteavam cabe+as e ombros. @m &omem ue tin&a sido atingidocaiu mas ! s'se em !6 imediatamente e gritou7

' E& bruto9O soldado tirou ra!idamente a carabina e dis!arou ueima'rou!acontinuando a galo!ar. O &omem tornou a cair e o soldado deu uma gargal&ada.' :ue estão a %a$er3 ' gritava a!avorado um sen&or res!eit/vel bem !osto

voltando !ara todos os lados uma e*!ressão alterada. ' Os sen&ores viram isto39O rumor agitado e trove"ante das vo$es entregues ao tormento do medo

ang=stia do deses!ero es!al&ava'se numa onda cont0nua7 alguma coisa gan&avacor!o e vin&a com lentidão im!erce!t0vel unir um !ensamento mal %ormadoressuscitado de entre os mortos e !ouco &abituado a trabal&ar.

4as &avia ali !essoas da sociedade.' No entanto não es ue+amos ue ele insultou o soldado.' 4as o soldado tin&a'o c&icoteado9' Ele devia ter'se a%astado.No en uadramento dum !ortão duas mul&eres e um estudante ligavam o

bra+o dum o!er/rio atravessado !or uma bala. O &omem torcia a cara ol&ava sua volta %ran$indo a testa e di$ia aos ue o cercavam7

' Não t0n&amos ual uer inten+ão escondida isso s, o !odem di$er os %il&osda mãe e os bu%os. Mamos a descoberto. Os ministros sabiam o ue 0amos %a$er#entreg/mo'l&es c,!ias da nossa !eti+ão. -e não !od0amos ir esses sacanastiveram tem!o de nos avisar# não nos reunimos =ltima &ora... >odos sabiam tantoos ministros como a !ol0cia. -ão uns bandidos...

' 4as a%inal ue iam !edir3 ' uis saber um vel&o de cabelos brancos magrocom um tom s6rio e com!enetrado.

' Mamos !edir ue o c$ar convocasse re!resentantes do !ovo e tratasse comeles os assuntos e não com os %uncion/rios. Esses cr/!ulas t5m sa ueado aR=ssia t5m roubado toda a gente.

' E%ectivamente... era !reciso um controlo9 ' comentou o vel&in&o. A %erida do o!er/rio estava ligada e desceram'l&e com !recau+ão a manga da

camisa.' Obrigado a todos9 Eu bem di$ia aos meus camaradas7 vamos l/ !ara nada9

Não conseguiremos coisa nen&uma... Agora est/ %eita a !rova9En%iou cuidadosamente o bra+o entre os bot es do sobretudo e a%astou'se

sem !ressa.

' Ouviu o modo como eles raciocinam3 Isto meu caro...' -i'im9 mas a!esar de tudo organi$ar uma tal carni%icina...' o"e tocou'l&e a ele aman&ã !ode ser a mim...' -i'im94ais adiante discutia'se acaloradamente7' Ele !odia não saber9' 4as então !ara ue diabo 6 ue ele2 e*iste3Os ue tentavam !or6m ressuscitar o morto "/ eram raros e não atra0am

ningu6m. Himitavam'se a !rovocar a animosidade com as suas tentativas de levar o%antasma a renascer. 8a0am em cima deles como de inimigos e tomados de !Bnicodesa!areciam.

@ma bateria de artil&aria desembocou na rua com!rimindo a multidão. Ossoldados a cavalo ou sentados nos bancos da %rente ol&avam !ensativamente

Page 16: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 16/18

diante de si !or cima das cabe+as# as !essoas esmagavam'se !ara l&es dar !assagem envoltas num sil5ncio taciturno. Os arreios tilintavam as muni+ esressoavam e os can& es sacudiam os re!aros %i*ando atentamente o solo como seo c&eirassem. O comboio tin&a um as!ecto de %uneral.

Ouvia'se algures o cre!itar de uma %u$ilaria. >odos %icaram atentos !arados. Algu6m disse bai*in&o7' Ainda mais9

Re!entinamente um %r6mito de anima+ão correu ao longo da rua.' Onde3 Onde3' Na il&a... A il&a Vassilievs i... (L)' Ouviram3' Não !ode ser verdade.' ?alavra de &onra9 >omaram de assalto o arsenal...' O&9' -erraram os !ostes telegr/%icos e %i$eram uma barricada...' Essa agora9' -ão muitos3' -ão9' A& se ao menos eles !udessem %a$er !agar caro o sangue dos inocentes9' Vamos l/3' Ivan Ivanovitc& vamos l/ &a9' um... 6 ue... voc5s sabem...@m vulto a!areceu !or cima da multidão e um a!elo sonoro soou na

escuridão7' :uem se uer bater !ela liberdade3 ?elo !ovo !elo direito do &omem vida

e ao trabal&o3 Os ue uiserem morrer combatendo !elo %uturo ven&am au*iliar. Alguns dirigiram'se a ele e %ormou'se no meio da rua um n=cleo com!acto de

cor!os# os outros a%astaram'se.' V5em a ue !onto o !ovo est/ e*as!erado3' F absolutamente legal absolutamente9...' F uma !ura loucura... ai de n,s9 As !essoas mergul&avam na sombra da noite regressando cada um a sua

casa e levavam consigo uma ang=stia ainda descon&ecida uma sensa+ãoin uietante de solidão misturadas com a semiconsci5ncia do drama da sua vida!rivada de direitos e des!rovida de signi%icado vida de escravos. E estavamdis!ostos a tirar !artido sem demora de tudo o ue se a!resentasse de o!ortuno ede lucrativo.

O medo instalava'se. A obscuridade tin&a rom!ido o la+o ue unia as !essoasla+o %r/gil do interesse e*terior. E todos a ueles em ue não bril&ava a c&amaa!ressavam'se a regressar ao seu canto ainda mais de!ressa.

J/ estava escuro mas ainda não tin&am acendido as lu$es.' Os drag es9 ' gritou uma vo$ rouca.@m !e ueno destacamento de cavalaria voltou subitamente a es uina da rua

os cavalos &esitaram um instante de!ois lan+aram'se a toda a brida sobre as!essoas. Os soldados soltavam uivos estran&os ue tin&am ressonBncias ue nãoeram &umanas sombrias e cegas a!arentadas incom!reensivelmente com umdeses!ero melanc,lico. Na escuridão &omens e cavalos tornaram'se !e uenos enegros. Os sabres %aiscavam com um bril&o amortecido os gritos eram mais raros e

ouviam'se mel&or os gol!es.' Catam com o ue tiverem mão camaradas9 Ol&o !or ol&o... 8as uem'l&es9

Page 17: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 17/18

' u"am9' >em cuidado cavaleiro9 Não me tomes !or um mu"i ue9 ( )' 8amaradas9 !edrada9 Atirando ao c&ão os !e uenos vultos negros os cavalos saltavam

relinc&avam bu%avam# o a+o tilintava ouvia'se uma vo$ de comando7' ?elotão9@ma corneta lan+ava um a!elo !reci!itado e nervoso. As !essoas corriam

atro!elavam'se ca0am. A rua esva$iava'se e no centro &avia montes escurosen uanto !ara l/ da es uina ressoava o r/!ido e !esado martelar dos cascos.

' Est/ %erido camarada3' Estou convencido de ue me cortaram a orel&a.' Não se !odia %a$er nada9 8om as mãos va$ias...O eco dum novo tiroteio c&egou at6 rua.' A ueles bandidos não se cansam9-il5ncio. ?assos a!ressados. F estran&o ue &a"a tão !ouco ru0do ue nada

se mova nesta rua. De todos os lados sobe um rumor de trovão &=mido como se omar tivesse invadido a cidade.

Ali !erto um gemido aba%ado vibra nas trevas. Algu6m corre e res!iraar ue"ante.

@ma !ergunta angustiosa7' Est/s %erido >iago3' Não te !reocu!es não 6 nada9 ' res!onde uma vo$ rouca.Na es uina !or onde desa!areceram os drag es a!arece novamente uma

multidão ue corre numa vaga es!essa e negra a toda a largura da rua. Algu6m uecamin&a na %rente ue não se distingue no meio da multidão no escuro di$7

' o"e ao derramarem o nosso sangue levaram'nos a um voto7 da ui emdiante devemos ser cidadãos.

Outra vo$ interrom!eu com um solu+o nervoso7' -im mostraram'se bem nossos !ais9 Algu6m !ronunciou num tom de amea+a7' Não es ueceremos este dia.8amin&avam de!ressa em massa com!acta %alavam muitos ao mesmo

tem!o as vo$es mesclavam'se no caos de um rumor l=gubre e sombrio. ?or ve$esalgu6m elevava a vo$ at6 ao grito aba%ando !or um momento todas as outras.

' :uantos teriam matado3' E ual o motivo3' Não não 6 !oss0vel ue este dia ven&a a ser es uecido.

@m !ouco a%astada ressoou uma e*clama+ão rouca uebrada sinistra comouma !ro%ecia7' -im escravos es uecereis9 :ue signi%ica !ara voc5s o sangue dos outros3' 8ala'te >iago9 A escuridão e o sil5ncio aumentaram. As !essoas camin&avam lan+ando

ol&ares !ara o lado da vo$ e resmungavam.Da "anela duma casa sa0a cautelosamente !ara a rua um raio de lu$

amarelado. No clarão ue ela !rovocava "unto de um candeeiro distinguiam'se doisvultos negros. @m sentado no c&ão estava encostado ao !oste o outro inclinado!ara ele !retendia certamente levant/'lo. E uma ve$ mais um deles e*clamou comsurda triste$a7

' Escravos...

Page 18: Nove de janeiro

8/18/2019 Nove de janeiro

http://slidepdf.com/reader/full/nove-de-janeiro 18/18

Notas:1 ' O !o!e <a!one abandonara o sacerd,cio e como agente do governo

organi$ara @ni es O!er/rias2 centro de !rovoca+ão conseguindo gan&ar acon%ian+a dos dois cam!os. ?ersuadiu as suas organi$a+ es a dirigirem'se emcorte"o !ac0%ico ao ?al/cio de Inverno2 !ara entregar ao c$ar uma !eti+ão nodomingo P de Janeiro (;; de Janeiro de!ois ue a @R-- ado!tou o calend/riogregoriano). O governador de 4oscovo tio do c$ar ac&ou ue <a!one ia longedemais. O resto %a$ !arte do conto ue vão ler.

<or i !artici!ou dos acontecimentos dirigiu'se ao <overnador !edindo aretirada das tro!as dado o car/cter !ac0%ico da mani%esta+ão e redigiu a!,s as milmortes da uele dia um mani%esto violento ue o condu$iu !risão.

As conse u5ncias da ac+ão ue o te*to narra %oram enormes !ara a &ist,riada R=ssia e da umanidade. @ma !rimeira revolu+ão %al&ada ensaio geral !ara asegunda ue triun%aria em 1P1Q. O !ovo desce rua em massa e toma consci5nciada sua %or+a# as cru$es e os 0cones não voltarão a a!arecer em mani%esta+ es!o!ulares. O socialismo est/ em marc&a. O conto %oi !ublicado em Cerlim em 1P Qe na R=ssia s, em 1P; .

; ' -acerdote ortodo*o russo. ' 86lebre avenida de -ão ?etersburgo ue retira o seu nome do rio Nieva.

L ' -ão ?etersburgo 6 uma cidade edi%icada sobre v/rias il&as. ' 8am!on5s russo.