52

Novembro 2006

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Notícias do interior do estado do Rio de Janeiro, Cabo Frio, Búzios

Citation preview

Page 1: Novembro 2006
Page 2: Novembro 2006

Igreja de Sant’AnaArmação dos Búzios/RJFoto de Walmor Freitas

Page 3: Novembro 2006

P R A Z E R E M I N F O R M A R

A S S I N E

[email protected]

Page 4: Novembro 2006

4 CIDADE, Novembro de 2006

Política

Alair Corrêa o Senhor dos votos -

Deputado eleito diz que José Bonifácio morreupoliticamente e que é impossível urbanizar umacidade sem causar traumas

Geral

Aldeenses continuam sem ônibus - Faltade documentação das empresas concorrentesadia licitação pela terceira vez

Prefeito de Arraial escapa da cassação -

Liminar adia, mais uma vez, votação na Câmaracontra Melman

10 Perguntas

Carlos Sepúlveda diretor da FERLAGOS -responde

Macaé

No limite do amor e da insanidade - Oromance entre um diretor de teatro e umapaciente psiquiátrica lembra a trágica história deMotta Coqueiro, o último condenado à morte noBrasil, enforcado em Macaé

São Pedro da Aldeia

O conto da Escola de Maricultura

Inbox

De quem é o Plano Diretor?

Meio Ambiente

Ibama tem novo diretor

Funcionários presos na Operação Euterpe, emCabo Frio, são colocados em liberdade

Especial

Há vida no campo

Cultura

O teatro vive

Novembro, 2006Número 7

www.revistacidade.com.brTemporada de Luxo

Chegada de transatlânticos antecipao verão na Região dos Lagos

C A P A

26

Documento

30Lentes que guardam

a história

“Poucas cidades do Brasil têmuma história de cem anos contadaem imagens. Cabo Frio tem”,afirma Warley Sobroza

Arqueologia15Queda de braço

Iphan denunciadestruição de mais umsítio arqueológico

Armação dos Búzios

Marcelo

Lartigue editor

Cabo Frio

Idosos

ameaçados de

despejo - Crise financeiraameaça o único asilo paraidosos de Cabo Frio

34

36

Economia

O Sal da terra

24

10

12

13

18

17

21

Capa: Navios em Búzios /Foto de Sérgio Quissak

42

46

32

39

Page 5: Novembro 2006

5CIDADE, Novembro de 2006

“O que falta é

divulgar o Brasil

no exterior”

Asc

om/R

uris

rio

ENTR

EVISTA

S é r g i o R i c a r d o d e A l m e i d a

s prefeituras das cidades turísti-cas que trabalham em parceriasão as que têm obtido melhor

resultado na busca de atrair a aten-ção do turista, lembra o secretário deTurismo do estado do Rio de Janeiro,Sérgio Ricardo de Almeida, paraquem o Nordeste é o melhor exem-plo de que cidades de uma mesma re-gião podem se unir na busca de umobjetivo em comum, por mais que talproposta fira uma ou outra vaidade ouatropele partidos.

Almeida explica que Costa do Sol,agora título oficial adotado pela se-cretaria para a Região dos Lagos, temmais relação com a luz solar constan-te da região, enquanto o nome antigolembra lagos nas montanhas e frio.

O Brasil não é um dos destinospreferidos dos turistas do mundo, con-corda, ainda que esta realidade tenhase modificado nos últimos anos. So-mente há pouco os governos desco-briram o enorme potencial do país parao turismo internacional. A chegada denavios, porém – com turistas brasilei-ros ou estrangeiros –, esbarra aindana precariedade dos portos nacionais:nem mesmo o do Rio de Janeiro estádevidamente aparelhado para recebermilhares e milhares de pessoas e ci-dades como Cabo Frio, Búzios, An-gra dos Reis e Paraty têm dificuldade

para ancorar transatlânticos de gran-de calado, afirma o secretário na en-trevista.

O turismo, no entanto, empregacerca de 300.000 pessoas no estadoe tal fato, segundo o secretário, é a

demonstração de que é necessárioresolver de uma vez os problemas quese arrastam há décadas. A pouca di-vulgação do Brasil no exterior, porexemplo, é um desses problemas an-tigos e que permanecem sem solução.

A

Page 6: Novembro 2006

6 CIDADE, Novembro de 2006

Qual a verba destinada ao investimento no

turismo da Região dos Lagos?

A secretaria de Turismo não destinaverbas para investimentos em municípios.A ação do Estado se concentra basicamen-te na melhoria da infra-estrutura – estra-das, abastecimento de água, saneamento,parcerias em projetos institucionais relacio-nados com a promoção, divulgação e mar-keting, bem como em eventos e feiras. In-centiva investidores da iniciativa priva-da interessados em se estabelecer numaregião, articulando-se com as partes e for-necendo as condições de infra-estrutura.Fornece banco de dados e articula-se even-tualmente com as partes e as agências fi-nanciadoras. Poderia citar vários exemplos,mas destaco o grupo Four Points, que inau-gurou em Macaé sua primeira unidade nointerior fluminense.

Há alguns anos falava-se em mudar o nome de

Região dos Lagos para Costa do Sol. Agora

esta discussão está retornando. De que forma

essa mudança poderia influenciar o turismo?

Costa do Sol é o nome aprovado pelosintegrantes do Fórum de secretários e diri-gentes municipais de Turismo, na reformada nomenclatura turística regional, decor-rente da orientação do Plano Diretor deTurismo do Estado do Rio de Janeiro. Al-gumas cidades, de acordo com o critérioda afinidade e contigüidade, mudaram deregião. Quanto à nova nomenclatura, comoé o caso da região da Costa do Sol, emboracontrariando a tradição, a escolha seguiuo critério da lógica, porquanto toda essaparte do território fluminense é intensamen-te banhada de sol quase o ano inteiro, daímerecer o nome de Costa do Sol. EnquantoRegião dos Lagos, embora consagrada pelatradição, sugeria mais a idéia de áreaslacunares, como acontece no Chile, o opos-to, portanto, do que ocorre no litoral flu-minense.

O Canal Macaé-Campos foi aberto na época

do Império, sendo o terceiro maior do mundo

feito pelo homem – superado apenas pelos

canais de Suez e o Midi – e, assim como o

Canal do Midi, na França, tem imenso

potencial para exploração turística. No

entanto, o Estado ainda não se ligou neste

potencial, mesmo sabendo que o referido

canal corta o Parque Nacional da Restinga de

Jurubatiba e as centenárias fazendas de

Quissamã. Existe algum projeto para

incentivar o turismo naquela região?

O canal em si não representa um atrati-vo suficiente para atrair turistas. Terá queagregar valores. Primeiramente, o ideal éque o canal, devidamente dragado e fran-camente navegável, readquirisse sua fun-ção histórica de via comercial. As fazendashistóricas que ainda restam na região, des-de que em condições de receber e hospe-dar visitantes, é outro desses valores. Omanejo do Parque de Jurubatiba, com es-trutura básica para atender à visitação, se-ria outro. Finalmente, é fundamental quehaja no circuito uma infra-estrutura ade-quada, de meios de transporte (inclusivepelo canal) e hospedagem, alimentação elazer. Na parte que compete ao Estado, te-mos feito algumas intervenções, seja naárea de divulgação e promoção, organizan-do fam-tours de jornalistas, agentes de via-gens, seminários dirigidos ao desenvolvi-mento do setor, além de gestões junto aogoverno federal (o Parque Nacional daRestinga de Jurubatiba é da jurisdição fe-deral), confeccionando folhetaria e traba-

Asc

om/R

uris

rioEntre as cidades do estado do Rio de Janeiro,

há alguma que se destaca como modelo na

área turística? Qual o motivo?

Não destacaria apenas uma, especifi-camente. A maioria das cidades turísticasdo Estado desenvolveu nos últimos anosuma série de programas, aprimorando seusquadros, organizando-se com estruturas,incentivando a promoção, além de investirno marketing e participar de feiras, tantono país, como no exterior, muitas vezes emparceria com a TurisRio e a Embratur, ou-tras vezes, individualmente. Tudo isso trazresultados.

No caso das cidades da Região dos Lagos, o

senhor acredita que deve existir um trabalho

turístico individual? Ou para que as cidades se

desenvolvam, turisticamente falando, é

necessário um trabalho em conjunto?

O trabalho desenvolvido em parcerias,unindo as cidades de uma mesma região,com vocação idêntica ou complementar, éo que mais tem dado resultado. Veja o casodo Nordeste, cujos destinos turísticos com-parecem nas feiras e nas promoções inva-riavelmente juntos. Refiro-me à CTI-NE, aComissão de Turismo Integrado-Nordes-te. A região, com sua diversificação cultu-ral e belezas naturais logo se transformounuma atração. Existem vôos diretos da Eu-ropa para várias capitais nordestinas. Isto,no entanto, não dispensa um trabalho in-dividual, complementar, dirigido a nichosespecíficos. A Região dos Lagos, ou Costado Sol, com tantas cidades ricas de atra-ções turísticas, e com uma interessante di-versidade cultural, se enquadra perfeita-mente neste perfil. Uma promoção uni-ficada, envolvendo as mais representati-vas, só poderá trazer benefícios para o tu-rismo da região.

O que devem fazer os governos municipais

para que a região se desenvolva

turisticamente? Quais os primeiros passos?

Os governos municipais, de modo ge-ral, especialmente os de vocação turística,estão suficientemente habilitados a desen-volver o turismo que mais lhes convêm. Osprimeiros passos eles já deram. Prepararamseus quadros, participaram e ainda partici-pam de seminários, conheceram técnicasde gestão turística e empresarial, criandoestruturas mais modernas e dinâmicas, paraterem condição de extrair do turismo o me-lhor que ele pode proporcionar, como ati-vidade auto-sustentável, capaz de impul-sionar o desenvolvimento, gerando rendae emprego.

ENTR

EVISTA

S é r g i o R i c a r d o d e A l m e i d a

Enquanto Região dos Lagos,embora consagrada pelatradição, sugeria mais a idéiade áreas lacunares, comoacontece no Chile, o oposto,portanto, do que ocorre nolitoral fluminense.

Page 7: Novembro 2006

7CIDADE, Novembro de 2006

lhando com multimídia. Na verdade, trata-se de um projeto tão grandioso que reque-reria uma ampla parceria entre os três ní-veis de governo, a iniciativa privada, osórgãos ambientais, e recursos pesados deagências internacionais.

Existe um Plano Diretor de Turismo para a

região compreendida entre Macaé e Campos

dos Goitacazes?

Há um Plano Diretor de Turismo do es-tado do Rio de Janeiro, que como o nomesugere cobre todo o Estado. Naturalmen-te, ele abrange, dentro de uma visão macro,o potencial, as carências e os recursos des-sa região. Cabe aos municípios a elabora-ção de planos municipais de turismo. O quea Secretaria pode fazer é, com sua expe-riência, orientar, ajudar em sua elaboração,fornecendo equipes e suporte técnico.

O que falta para que os poderes estadual e

municipal de Macaé tenham um

relacionamento mais saudável e produtivo?

Não me consta que isto ocorra. O en-tendimento e o relacionamento com os mu-nicípios têm sido invariavelmente em altonível e, portanto, saudável e produtivo.Não poderia ser diferente com Macaé.

Por que o Brasil, com sua beleza natural,

ocupa um dos últimos lugares no ranking

mundial entre os países que recebem

turistas? O Brasil recebe menos turistas que a

Romênia, onde a única atração é o Castelo do

Conde Drácula.

Há uma série de fatores que explicamessa posição que, pelo imenso potencial ea diversidade cultural do país, poderia sermelhor. Primeiramente, só agora o Brasilcomeça a fazer mais promoção no exterior,assim mesmo, num grau ainda modesto, emcomparação com outros países. A divulga-ção do país no exterior sempre foi muitoprecária. Apesar de ter um potencialinigualável, até recentemente o Brasil pou-co valor dava ao turismo. Depois, há umaspecto que pesa muito na hora da deci-são de um turista: a distância. Atualmente,revela um estudo da Organização Mundialde Turismo – OMT, as pessoas preferemviagens cujo tempo de duração seja emmédia de cinco horas. Viagens mais lon-gas, por cansativas e desconfortáveis, sãodesprezadas. A cidade brasileira mais visi-tada por turistas estrangeiros, o Rio de Ja-neiro, dista de dez a quatorze horas dosgrandes centros emissores europeus, emais de nove horas dos EUA. Não é o mo-tivo decisivo, mas explica, em boa parte, o

problema. Esta é uma das razões, por exem-plo, que o maior contingente de turistasque visitam o Brasil é de nossos vizinhosargentinos. O Nordeste, também, por estarmais perto da Europa – de cinco a seis ho-ras de viagem – tem recebido grandeafluência de turistas europeus nos últimosanos. Com as linhas diretas para os EUA,via Cidade do Panamá, Manaus tambémcomeça a se beneficiar desse processo. Aênfase exagerada que a mídia emprega nadivulgação dos aspectos negativos dopaís, especialmente a violência, com amplarepercussão internacional, também contri-bui, e muito, para uma sensação exacerba-da de insegurança nos turistas, desestimu-lando sua vinda ao país.

Qual o fator que mais impede a vinda de um maior

número de turistas estrangeiros para o Brasil?

A pequena divulgação do turismo noexterior, no meu entender, é o fator que maispesa para essa performance irrisória. Quan-to à Romênia, citada há pouco, a maioriados países europeus – que reúne a maiorcombinação de atrativos turísticos e acer-vo histórico-artístico-arquitetônico domundo – tem acesso fácil e rápido por ro-dovia a todos eles. As distâncias são mui-to curtas. A Suíça, por exemplo, que é me-nor que muitos estados brasileiros, tem emseu eixo longitudinal Norte-Sul uma dis-tância de 400 km, aproximadamente. Ou seja,a distância que separa as duas maiores ci-dades brasileiras – Rio e São Paulo.

Asc

om/R

uris

rio

A divulgação do país no exterior sempre foi muito precária.Apesar de ter um potencial inigualável, até recentemente o Brasilpouco valor dava ao turismo“

Page 8: Novembro 2006

8 CIDADE, Novembro de 2006

No mundo inteiro, o turismo é sinônimo

lucrativo de investimento gerador de

empregos e conseqüentemente maior

gerador de renda. E isso não acontece aqui.

Por quê?

A colocação não corresponde à reali-dade. O turismo no Brasil, apesar de todosos problemas estruturais, que só agoracomeçam a ser destrinchados, é responsá-vel por 5,4% do PIB Nacional – no Estadodo Rio de Janeiro, comparece com quase4%. Até 2008, somente a hotelaria de-verá gerar mais de 15 mil empregos emtodo o Brasil, com a construção ou con-clusão de 132 novos estabelecimentos,segundo dados da ABIH. O turismohoje tem um peso apreciável em nossapauta de exportação. O turismo ocupahoje a sétima posição em relação à ge-ração de divisas no Brasil, com U$ 2,8bi entre janeiro e agosto deste ano. Ataxa de crescimento do turismo no Bra-sil nos próximos anos está estimada em10 a 15% ao ano, fenômeno que em li-nhas gerais se repete no Rio de Janei-ro, com vários municípios atingindo ní-vel internacional, como Paraty, Angrados Reis (Ilha Grande) e Búzios. O tu-rismo emprega em todo o Estado cercade 300 mil pessoas.

A Ilha de Aruba, no Caribe com apenas 32

quilômetros aproximadamente de extensão

gasta milhões de dólares para mostrar ao

mundo as suas belezas naturais. Ela recebe

anualmente milhares de brasileiros, dando ao

Brasil a medalha de bronze, perdendo para o

México e Estados Unidos. Que fator leva a

esse sucesso que a gente não consegue

copiar?

Cada país tem seus atrativos específi-cos. Da mesma forma que nos exemploscitados, o Brasil é rico de atrações turísti-cas e tem uma diversidade cultural imensa.

Não se trata de copiar. Seria mais apropria-do falar em melhorar o marketing. E inves-tir, investir.

A quantidade de navios turísticos que deve

chegar à região nos próximos meses é grande,

trazendo milhares de estrangeiros. De que

forma a secretaria apóia os municípios

durante a temporada de verão? As cidades da

Região dos Lagos têm estrutura para receber

tanta gente?

ano a temporada será recorde, com oitotransatlânticos e uma movimentação demais de 230 mil passageiros – nossa estru-tura portuária para receber navios de turis-mo ainda é muito precária. Alguns portosnão têm capacidade para ancorar transa-tlânticos de grande calado. É um setor querequer altos investimentos, e depende ba-sicamente da ação federal, sob cuja jurisdi-ção está o sistema portuário no país. Tantoo Rio de Janeiro como as cidades da Costa

do Sol – ou Região dos Lagos – aindacarecem de uma estrutura adequadapara receber bem esses turistas.

Existe algum levantamento da secretaria

sobre a quantidade de turistas

(brasileiros e estrangeiros) que passa

pela Região dos Lagos? O que representa

esse movimento turístico para o estado,

em termos financeiros?

Não existe um levantamento espe-cífico para a região, mas existem da-dos animadores. Segundo levantamen-to do Ministério do Turismo, Búziosfoi a nona cidade brasileira que maisrecebeu turistas estrangeiros em 2005,com 5,4% do total. Isso significa quesomente em uma das cidades da re-gião chegaram cerca de 280 mil estran-geiros (o Brasil recebeu 5,3 milhões deestrangeiros ano passado). E segun-

do dados mais recentes do Ministério doTurismo, o gasto per capita do turista es-trangeiro saltou de US$ 341 em 2000 paraUS$ 721 em 2005, com a expectativa de queesse valor ultrapasse os US$ 1 mil no pró-ximo ano. Por aí se pode ter uma idéia domovimento financeiro resultante do turis-mo no estado.

Perguntas por: Cristiane Zotich/Tati

Bueno/Martinho Santafé e Marco Antônio

de Carvalho

ENTR

EVISTA

S é r g i o R i c a r d o d e A l m e i d a

O Estado apóia principalmente com se-gurança, reforçando o esquema nas áreasdo desembarque e movimentação dos tu-ristas. A Secretaria de Turismo também co-ordena o Grupo de Apoio e Fomento aoTurismo Marítimo e Náutico, articulando-se com os órgãos das demais esferas –administração do porto, armadores, agen-tes marítimos, autoridades aduaneiras epoliciais – para garantir um receptivo semtranstornos para os turistas. Apesar docrescimento dos cruzeiros marítimos – este

O turismo ocupa hoje a

sétima posição em relação à

geração de divisas no Brasil,

com U$ 2,8 bi entre janeiro e

agosto deste ano.

Page 9: Novembro 2006

9CIDADE, Novembro de 2006

Page 10: Novembro 2006

1 0 CIDADE, Novembro de 2006

Quem é Alair Corrêa?

Um sonhador de sonhos realizáveis. Umobstinado idealizador de projetos destina-dos ao coletivo. Um homem sem medo, ca-paz de enfrentar os que se opuserem aosseus ideais, mas corajoso, se for precisorecuar quando sua idéia não for a mais sen-sata. Filho de estivadores, advogado, des-portista, conhecido como o homem que mu-dou uma cidade.

É possível separar o homem do político Alair?

Certamente o político seria diferente seestivesse dissociado do homem, pois o seusucesso foi baseado nas possíveis qualida-des do homem: humildade, coragem e cará-ter. Desta forma não seria possível separá-los. O homem Alair precisa do seu lado polí-tico para pôr em prática seus ideais.

Quando é que Alair Corrêa chuta o pau da

barraca?

Chuto o pau da barraca quando sou per-seguido. Quando tentam atrapalhar meusprojetos. Quando sou injustiçado. Quandovejo o maltrato aos humildes. Quando difi-cultam a luta dos excluídos da sociedade e,principalmente, quando sou traído.

De que forma o senhor entrou para a política?

Entrei na política pelas mãos do meupai, Manoel Corrêa, e de um amigo. Em1970, disputei a eleição para vereador efiz campanha de porta em porta, e tinhacomo principal mensagem que vereadornão recebesse salário. Eu queria traba-lhar pela população, e acabei vencendoa eleição, colocando para vereador 25%dos votos que o prefeito Timinho teve

naquela eleição. Como político, defendoa fidelidade partidária.

O que mais mudou na política local durante

todos esses anos em que o senhor atuou?

As mudanças da política local foramsempre originadas pela política nacional.Quanto às lideranças na cidade, a maioriafoi perdendo a razão para continuar rece-bendo votos da população. Ivo parou; oTiminho, pela idade, também parou, e ago-ra o Zé Bonifácio agonizou nos últimosanos, morrendo, também, no último dia 1º

ALAIR CORRÊA

Deputado eleito diz que José Bonifácio morreupoliticamente e que é impossível urbanizaruma cidade sem causar traumas

Niete Martinez

P o l í t i c a

o Senhor dos votos

om mais de 80 mil votos, o ex-prefeito de Cabo Frio, Alair

Francisco Corrêa, foi eleito, pela segunda vez, deputado

estadual na eleição de 1º de outubro. Ao todo, ele foi três

vezes prefeito de Cabo Frio, duas vezes vereador, e agora volta à

Assembléia Legislativa com a promessa de cumprir os quatro anos

de mandato. Empresário dinâmico, atua na criação de avestruzes e

dirige uma rede de comunicações, com uma emissora de TV a cabo

em Cabo Frio (Lagos TV) e um jornal bi-semanal (Lagos Jornal).

“Sonhador de sonhos realizáveis”, ele revela, nesta entrevista, que o

homem e o político Alair andam sempre juntos, e defende suas

idéias e projetos.

C

Page 11: Novembro 2006

1 1CIDADE, Novembro de 2006

de outubro, com a medíocre votação de seismil votos. Acabou politicamente.

O senhor é conhecido como um homem

festeiro, e sempre levou este lado também

para a política. Acha que as festas são mesmo

indispensáveis para uma cidade?

Você tem dúvida disto? Sou festeiro,sim, e não me arrependo das festas que fiz.Tenho muito orgulho do slogan “A cidademais alegre e limpa do Brasil”. E pretendo,se um dia voltar à prefeitura da cidade, do-brar os investimentos na alegria. Aliás, es-

tou sendo copiado por todos os governan-tes. Rio, São Paulo e a maioria das cidadesfluminenses.

Muita gente diz que o dinheiro gasto com

essas festas poderia ser aplicado em

benefícios para Cabo Frio, como construção

de escolas, por exemplo, ao invés de alugar

casas...

Essa é uma pergunta com a cara dosmeus adversários. Sendo assim, a consi-dero capciosa. No entanto, como democra-ta, devo responder a qualquer indagação,ainda que discorde do estilo do entrevis-tador. Fazer escolas em prédios alugadosfoi uma forma de colocar, imediatamente,mais de dez mil crianças que encontrei foradas escolas. Jamais fiz um show que preju-dicasse a educação. Essas escolas impro-visadas iam sendo substituídas pelos pré-dios que foram construídos, e não forampoucos, e ainda reformei todas as outrasconstruídas por outros prefeitos. Além dasquase vinte escolas que construí, valorizeio profissional do Ensino Médio, que meajudou a diminuir, drasticamente, arepetência e evasão escolar. Os shows fo-ram realizados com a dotação própria, ja-mais usei verba da educação para fazer umafesta.

É visível a mudança que aconteceu em Cabo

Frio nos últimos anos, durante o seu governo.

Muitas dessas obras geraram uma certa

polêmica, como a construção da Praça das

Águas, por exemplo. Há quem afirme, até

hoje, que foi um desperdício dos royalties.

Que tipo de benefício esta obra trouxe pra

Cabo Frio?

Desperdício de royalties, aquela obra?Qual é o cabo-friense sensato que ficoucontra a retirada daquelas seis casas horrí-veis na beira do nosso principal cartãopostal? Qual a pessoa que lembra daquelafavela com barraquinhas, bares, feira deartesanato montada ali, de qualquer jeito, eque foi contra esses investimentos? A Pra-ça das Águas hoje é o local mais visitadode Cabo Frio, superando outros lugares emnúmero de fotografias tiradas pelos turis-tas. Gastamos com desapropriação das seiscasas aproximadamente R$ 1 milhão, e maisR$ 1,5 milhão na construção da Praça. Obenefício foi a retirada daquelas constru-ções e o surgimento de uma linda praça.

Também por causa de muitas dessas obras, o

senhor responde a vários processos no

Ministério Público. Em que pé estão estas

ações?

Ninguém restaura uma cidade sem cau-

sar algum trauma. Essa cidade é quase todapreservada historicamente. Cada lugar quevocê mexe é como metesse a mão num ves-peiro. É aquela coisa: ou deixa como está olocal, invadido, sujo e não mordem suamão, ou você acaba com a bagunça, cons-truindo coisas novas e bonitas, e sai ma-chucado. Foi o que aconteceu no Cantodo Forte. O local é tombado. Estava tododestruído com a ruína do Tamoyo e setetraileres que, de tão velhos, nem rodas ti-nham mais. Um verdadeiro banheiro públi-co. Era mais um vespeiro no meu caminho.O Iphan (Instituto do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional) não tomava conta, nãolimpava e não cuidava. Era sexo à luz dodia, brigas, invasão e outros problemas.Uma grande baderna. Resolvi meter a mãono vespeiro e fui totalmente mordido, e com110 mil picadas. Fui sentenciado a pagarmulta de 110 mil reais. Essa foi uma delas,mas tenho muitas outras que, se Deus qui-ser, vou resolver.

Como o senhor define Cabo Frio: uma cidade

de turismo ou de veraneio?

Antes do meu governo Cabo Frio erauma cidade de veraneio. Mas com o traba-lho que desenvolvemos, tornando-a lim-pa, colocando mais água, melhor forneci-mento de energia elétrica, respeito, acessomelhor e terminal de transatlânticos, entra-mos no hall das cidades turísticas. Já te-mos movimento o ano inteiro, e não só nosferiados. Mas ainda precisamos, para aconsolidação, de um hotel cinco estrelas.

O senhor já foi deputado. Cumpriu dois anos e

deixou a Alerj para se candidatar à prefeitura

de Cabo Frio. Agora novamente eleito

deputado, vai cumprir os quatro anos, ou em

2008 poderemos ter seu nome lançado,

novamente, à prefeitura?

Meu desejo é cumprir os quatro anosde mandato. No entanto a política é muitodinâmica. Vou lutar para ficar fora da futuraeleição. Estou apoiando a reeleição do pre-feito.

Vou lutar para ficar forada futura eleição

Mar

coni

Cas

tro

ALAIR CORRÊA

“”

Page 12: Novembro 2006

1 2 CIDADE, Novembro de 2006

inda não foi desta vez que os mora-dores de São Pedro da Aldeia conse-guiram resolver o problema da falta

de transporte público na cidade. Desde ju-lho do ano passado, quando a Auto Via-ção São Pedro retirou todas as linhas domunicípio, os moradores passaram a utili-zar as kombis como transporte alternativo.

Em agosto deste ano, após dois diasde paralisação, a prefeitura cassou a auto-rização dos veículos, que passaram a atuarcomo transporte pirata. Neste meio tempo,três licitações para escolher a nova empre-sa de ônibus da cidade foram adiadas: aprimeira, em abril deste ano, por falta deempresas interessadas. A segunda, em ju-nho, devido a uma liminar da Justiça por

Mais uma vez foi adiada a inauguração da duplicação da RJ-140 (CaboFrio-São Pedro da Aldeia). No início do projeto a previsão era que a obrafosse entregue em setembro. Depois a governadora anunciou a inauguraçãopara outubro, novembro, e agora técnicos do DER falam em entregar o proje-to concluído apenas em dezembro.

Somente as pontes sobre os canais do Itajuru, em São Pedro da Aldeia, ede Palmer, em Cabo Frio, segundo Rosinha, serão entregues ainda este mês,provavelmente na segunda quinzena, embora os trabalhos também estejamatrasados, segundo os próprios operários. Através da assessoria de comuni-cação, a governadora afirmou que 80% das obras já foram executadas.

A ponte sobre o canal de Palmer terá 62 metros de extensão e 25 metros delargura e a do canal do Itajuru (antiga Ponte do Ambrósio) terá 350 metros eo alargamento do local do canal onde ela cruza, na extensão de 300 metros, oque irá oxigenar a Lagoa de Araruama.

conta de uma ação do Setransol, sindicatoque representa as empresas de transportena região; e a terceira, em outubro, por fal-ta de documentação das empresas interes-sadas em concorrer.

A última licitação estava marcada paraa manhã do dia 19 de outubro, na sede daprefeitura de São Pedro da Aldeia. Mas foirevogada por decisão da Comissão Espe-cial de Licitação, devido à falta de docu-mentos das empresas licitantes, exigidosno edital da concorrência pública.

Segundo informações do secretário deTransportes de São Pedro da Aldeia, Ma-nuel Soares, quatro empresas mostraram-se interessadas em explorar o serviço pú-blico (o nome das empresas não foi revela-do). Duas foram impedidas de participar do

processo de licitação por terem chegadocom atraso. Na abertura dos envelopes dedocumentação das empresas participantes,a comissão de licitação verificou a ausên-cia de documentos que comprovariam acapacidade jurídica das empresas, confor-me exigência do edital de licitação.

Nova concorrência no final de

novembro

O procurador da prefeitura e membroda comissão, Olavo Pereira Pinheiro, infor-mou que a prefeitura é obrigada a ter todosos conhecimentos necessários das ativi-dades exercidas pela empresa licitante, queconsta no Contrato Social e nas suas alte-rações:

- Por isso tivemos que revogar esta lici-tação, republicar o edital no Diário Oficialdo Estado e em jornais de grande circula-ção, e marcar nova concorrência pública,na qual as empresas desse primeiro pro-cesso poderão participar, além de novasinteressadas – disse, lembrando que a novalicitação deve acontecer no final de novem-bro ou início de dezembro.

A nova empresa de ônibus de São Pedroda Aldeia vai operar seis linhas com 22ônibus e o contrato para a exploração doserviço será pelo prazo de dez anos, sendoos seis primeiros meses de experiência.Após a escolha da empresa vencedora daconcorrência pública, em aproximadamen-te um mês essa nova empresa estará ope-rando em todo o município.

Inauguração da RJ-140 fica para dezembro

Ponte sobre o canal

do Itajuru

Marconi Castro

Mar

coni

C

astr

o

G e r a l

Aldeenses

continuam

sem ônibus

Falta de documentaçãodas empresas concorrentesadia licitação pelaterceira vez

Cristiane Zotich

Governadora afirma que as pontes serãoentregues este mês

MANUEL RODRIGUES SOARES

Secretário de Transportes de São Pedro

A

Page 13: Novembro 2006

1 3CIDADE, Novembro de 2006

Os astros estão conspirando afavor do prefeito de Arraial do Cabo,Henrique Melman. Acusado de so-negar impostos da mansão ondemora, na Praia do Pontal, o prefeitose livrou da cassação pela segundavez em três meses. A primeira ses-são, que aconteceria em agosto, foiadiada por conta de uma liminar combase em ação impetrada na Justiçapelo advogado do prefeito, SérgioLuiz da Silva Santos. O mesmo ad-vogado impediu, na manhã do últi-mo dia 19 de outubro, a outra ses-são da Câmara que votaria a cassa-ção. Quando a nova liminar chegouà Câmara, os vereadores da Comis-são Processante liam o processocontra o prefeito para, em seguida,votar o parecer que poderia resultarna cassação de Henrique Melman.

De acordo com Silva Santos, “amedida foi concedida porque adesembargadora entendeu que o di-reito do prefeito foi atropelado”:

- Melman não teve tempo de re-correr da decisão da Justiça, que li-berou a votação, porque a sessãode julgamento foi marcada logo apósa sentença proferida pelo juiz AndréLuiz Nicolliti.

Presidente da Câmara, o verea-dor Almir Teixeira não ficou surpre-so com a nova liminar:

- Desde o início o prefeito vemtentando descaracterizar a Comis-são Processante. Mas em nenhummomento eles julgam o mérito daquestão, que não é apenas a sone-gação de impostos na mansão doprefeito. A ação é bem mais abran-gente. Ela envolve 89 lotes do pre-feito e seus sócios, que foram frau-dados pela prefeitura conforme mos-tram documentos anexos ao proces-so. Assim que a Justiça der novoparecer sobre a ação, voltaremos aoplenário para realizar a sessão de vo-tação da cassação.

Prefeito de Arraial

escapa da cassação

Liminar adia, mais umavez, votação na Câmaracontra Melman

Da redação

Page 14: Novembro 2006

1 4 CIDADE, Novembro de 2006

Cartas para o Editor

Praia das Palmeiras, 22 - Palmeiras

Cabo Frio/RJ - Cep: 28.912-015

E-mail:[email protected]

C a r t a s

Publicação MensalPapi Press Projetos Especiais LtdaCNPJ: 03.568.617/0001-04

Redação e AdministraçãoPraia das Palmeiras, nº 22Palmeiras – Cabo Frio – RJCEP: 28.912-015email:[email protected]

Diretora ResponsávelNiete [email protected]

Editor de JornalismoMarco Antônio de [email protected]

ReportagensCristiane ZotichOctavio PerellóTati BuenoRenato SilveiraSimone MendonçaMartinho Santafé

FotografiasMarconi CastroPapipress

ColunistasMarco Antônio de CarvalhoSimone MendonçaOctávio Perelló

Produção GráficaAlexandre da [email protected]

Armação dos BúziosÂngela BarrozoTels.: (22) 2620-8960 / [email protected]

Contato Comercial Cabo FrioOdival MangueiraTel: (22) 8814-8227

ImpressãoEdiouro Gráfica e Editora S.A

Tiragem5.000 exemplares

DistribuiçãoSaquarema, Araruama, Iguaba Grande,São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Ar-raial do Cabo, Búzios, Rio das Ostras,Casimiro de Abreu, Macaé, Rio de Ja-neiro e Brasília.

Os artigos assinados são deresponsabilidade de seus autores.

www.revistacidade.com.brNovembro, 2006

MORO EM BÚZIOS HÁ 15 ANOS, NA VILACaranga, que durante a campanha do pre-feito atual foi motivo de muitas promessase atenção. Mas, de tudo que foi prometido,até agora não foi feito nada. Menos uma coi-sa: a entrada do bairro foi simplesmente fe-chada pela Via “Azul”, dificultando a entra-da e saída.Outra coisa que não entendi foi a colocaçãode asfalto criando numa pista de alta veloci-dade e com um traçado completamente ma-luco, onde já estão acontecendo batidas e comtoda a certeza haverá acidentes graves no ve-rão, com o volume de carros e os turistas.Agradeço se publicarem a minha carta e des-culpe se não sei me expressar direito.Antônio Carlos Porto (Armação dos Búzios/RJ)

HOJE, QUANDO RETORNEI A MINHAcasa, li desde o “número zero”, até a últi-ma edição. É realmente de muito boa qua-lidade geral (Reportagens, Diagramação,Fotos, Conteúdo isento, etc.).Estou morando em São Paulo desde 2004,e há seis anos tenho uma empresa de ser-viços especializados em tecnologiacorporativa (www.solaris-it.com.br), douconsultoria para governo, bancos, segu-radoras, grandes varejistas e hospitais, eeventualmente escrevo e publico materi-ais sobre assuntos do mundo de TI paraalgumas comunidades web.Achei que talvez pudesse utilizar a pe-netração da Revista Cidade para conse-guir este insumo importantíssimo para adecisão do tipo de negócio por montar.Preciso realizar uma pesquisa com o pú-blico alvo da “Cidade”, e assim definirmelhor no que investir. Quero descobriro que falta de serviço para leitores daCidade, e o que posso oferecer.Gart Capote (Diretor de Tecnologia / EAISolutions Manager - São Paulo/SP)

O 1° ROCK COMUNITÁRIO DE CABOFrio foi um sucesso! Inicialmente pelas ban-das que tocaram, e pelo público, que com-pareceu em massa, dando um show de di-versão sem violência e contribuindo paracomunidades carentes da região. Foram ar-recadadas, aproximadamente, 20 toneladasde alimentos não perecíveis, que era o in-gresso cobrado. É o rock contra a fome!A produção do evento também está de pa-rabéns. Espero que esse tenha sido apenaso primeiro de muitos eventos desse estilo, eque a força do Rock mantenha-se semprepresente em nossa região.Ramon Revelles (baixista do “IMMORTALSIN” - Cabo Frio/RJ)

Sugiro um estudo jornalísticoabrangente para pesquisar o quanto o“progresso-de-concreto”, cultuado naRegião dos Lagos por seus velhosgovernantes populistas, não tem em nadacontribuído para a justiça social na Região.A miséria expande seus guetos, a violênciaé assustadora, a péssima qualidade daeducação pode ser facilmente auferidanum bate-papo com formandos, a atençãobásica em saúde é trocada por outra deefeito “cenográfico”, como inauguraçõesde ambulâncias. A riqueza artificial dopetróleo trafega aquém do poder aquisiti-vo dos pobres, criando uma falsa visãoexterna de prosperidade, o que atrai maisimigrantes, que agregam maismiserabilidade a nossas periferias, queincham os já decadentes serviços... Aliás,foi tudo isso o que disse Carlos HeitorCony em sua obra comentada em vossoúltimo número.Alessandri Adriano (Armação dos Búzios)

Page 15: Novembro 2006

1 5CIDADE, Novembro de 2006

demolição do esqueleto do antigoHotel Palace, pela prefeitura, teriadestruído, segundo o Iphan (Institu-

to do Patrimônio Histórico Nacional), maisuma área de sambaqui, desta vez no princi-pal cartão postal da cidade. Segundo ar-queólogos do Museu Nacional do Rio deJaneiro, a destruição aconteceu quando ostratores da prefeitura demoliam o muro doantigo prédio, e arrastaram, com os destro-ços, parte do sambaqui localizado no Mor-ro do Índio.

O secretário de Obras de Cabo Frio,

Carlos Sant’Anna informou que a obra nolocal chegou a ser paralisada a pedido doIphan. Ele negou, no entanto, que a prefei-tura tenha destruído qualquer área desambaqui na Praia do Forte. “Sabíamos daexistência de um sambaqui naquela área,mas não no local do Palace. Se havia algumsambaqui ali, já foi destruído há muito tem-po, com a construção do Hotel”. Sobre aderrubada do muro, que teria causado adestruição, Sant’Anna diz que “o local emquestão não é um sambaqui. É uma áreaadjacente a um sambaqui. Os secretáriosJuarez Lopes (Meio Ambiente) e RosaneVargas (Planejamento) estiveram no localcom técnicos do Iphan e providenciaram o

isolamento da área com cercas de eucaliptoe arame, para evitar o trânsito de pessoas ea utilização do local como estacionamen-to”, afirma o secretário.

Iphan diz que houve invasão na

área do sambaqui

Chefe do Iphan em Cabo Frio, ManuelVieira rebateu as declarações de CarlosSant’Anna, e afirmou que houve invasãona área do sambaqui com a demolição domuro do antigo Palace Hotel. “O secretárionão tem nenhuma competência para dizerse ali é ou não uma área de sambaqui. Quemtem que fazer isso somos nós. E ali é umaárea de sambaqui, que foi destruída com

A r q u e o l o g i a

Cristiane Zotich

Fotos de Marconi Castro

Queda de braço

A

Iphan denunciadestruição de maisum sítio arqueológico

Page 16: Novembro 2006

1 6 CIDADE, Novembro de 2006

o trabalho de demolição do muro do antigoPalace”.

Vieira informou ainda que o Iphan che-gou a embargar a demolição do muro e to-dos os trabalhos realizados pela prefeiturano local. “Mas levaram de cinco a seis diaspara cumprir a determinação, e tivemos quechamar a Polícia Federal”.

Ele negou que o assunto esteja resol-vido, como disse o secretário de Obras.“Não tem nada resolvido. E se eles volta-rem a trabalhar no local terão sérios pro-blemas com a Polícia Federal, até porqueexistem várias irregularidades ali. Primeirodemoliram o muro de uma propriedade par-ticular. Depois escavaram um sítio arqueo-lógico; arrancaram parte do Morro do Ín-dio e do sítio; aterraram o terreno sem au-torização do Iphan e estão transformandoo local num aterro sanitário, porque o ma-terial do escombro do prédio está sendoutilizado para aterrar o local”.

“A única coisa certa que fizeram atéagora foi colocar a cerca para proteger aárea”, afirma Vieira. “Agora estamos espe-rando que nos apresentem um projeto doque pretendem fazer ali, porque a prefeitu-ra de Cabo Frio sai fazendo as coisas dequalquer jeito, sem projeto, sem nada”.

A r q u e o l o g i a

Peças descobertas estão

sob análise

Na visita que fizeram ao loteamento, nomês de setembro, arqueólogos do MuseuNacional do Rio de Janeiro descobrirammais de 50 objetos líticos (em pedra), amaioria em feixes de diabásio (rocha de tex-tura entre granítica e traquítica e que é otipo de transição entre as duas) entre ou-tras peças.

Esses objetos foram encontrados numaárea impactada pela construção do Lo-teamento Novo Portinho. Agora essas pe-ças estão passando por análise laboratorial,para que o material, em seguida, passe poruma triagem e seja limpo. “É com esta aná-lise que descobriremos as característicasdos ocupantes daquele local”, informou aarqueóloga Márcia Barbosa.

Márcia lamenta a destruição de mais umsítio arqueológico em Cabo Frio. “A inicia-tiva privada só avança sobre áreas arque-ológicas porque a prefeitura autoriza. Foicomo aconteceu no Novo Portinho, e ago-ra na Praia do Forte. Mesmo tendo um es-critório técnico do Iphan na cidade, comarquitetos, a prefeitura não pediu nenhumtipo de estudo antes de iniciar a demoli-ção. Assim também aconteceu no lo-

teamento Palmer, onde (na Rua ManoelVitorino e no meio da salina) existiam doissambaquis. Até esqueletos e já encontreipor ali. Mas quando passei de carro no lo-cal pela última vez, tive a certeza de quetudo foi destruído – comentou a arqueólo-ga, que iniciou novo estudo em Cabo Frio,desta vez no bairro Peró, onde será cons-truído o Club Méd. “Ali temos registros deseis sambaquis, e faremos este estudo paraque a obra não destrua a área”.

Arqueóloga

Márcia Barbosa

Muro que separavaMorro dos Índios foiderrubado

Page 17: Novembro 2006

1 7CIDADE, Novembro de 2006

10 P e r g u n t a s

Tati Bueno

1 7CIDADE, Novembro de 2006

Cada vez mais, os que não gostam de

política são governados pelos que

gostam, por isso não quero me omitir

CARLOS SEPÚLVEDA

Diretor da FERLAGOS

Carlos Sepúlveda

“”

1 - Como você veio parar em Cabo Frio?

A minha afinidade com Cabo Frio co-meçou em 1969, ano em que vim passar ocarnaval aqui, e imediatamente, percebique, de algum modo, meu destino estarialigado a esta cidade. Voltei em 1978, com-prei uma casinha no Recanto das Dunas,e fiz desta casa minha biblioteca e umcentro cultural, aberto à comunidade lo-cal. E, finalmente, no ano 2000, passei amorar aqui. E não me passa pela cabeçater de me mudar para outro local ou vol-tar para o Rio de Janeiro.

2 - E como se envolveu com a educação da

cidade?

Em 1997 me aposentei da UFRJ e, em1999, deixei a Chefia de Gabinete da Bi-blioteca Nacional. Paralelamente a essasfunções, dava aulas na Veiga de Almeida,universidade em que me graduei em Le-tras. Fui nomeado titular de Literatura naUVA e convidado a abrir e coordenar oscursos de história, pedagogia e letras,aqui, em Cabo Frio. Em 2003, me desli-guei e aceitei o convite para dirigir aFERLAGOS.

3 - Por que aconteceu esse desligamento?

Acontece que as universidades, commais de vinte mil alunos, não estão mui-to preocupadas com competências pes-soais. São instituições anônimas, impes-soais, que visam, basicamente, ao lucro.Para estas corporações, o milagre român-tico e a doçura de educar não fazem par-te de seus cuidados.

4 - É diferente na FERLAGOS?

A FERLAGOS é uma grande família,por isso tem qualidades e defeitos ine-rentes a toda grande família. As decisõesdependem muito dos laços afetivos e istoàs vezes atrapalha, mas também nos traza felicidade de estarmos juntos. Quandoo ex-presidente Paulo Brunner me convi-dou para assumir a direção acadêmica,eu pedi um tempo. E uma noite, sem que

ninguém soubesse, resolvi caminhar peloscorredores da faculdade. Vi quatro ou cin-co alunos dividindo uma Coca-Cola famíliae alguns sanduíches. Era o jantar deles, eaí senti que tinha alguma coisa a ver com aeducação desse povo de Cabo Frio.

5 - E o tal sonho esquisito, que você conta

sempre?

Eu não sou muito dado a essas coisasde religião e de espíritos, mas ainda estavainseguro na véspera do dia em que ia dar aresposta para o Paulo. Aí, na noite anterior,sonhei com um senhor, já idoso, que meacenava, sugerindo que entrasse numa salade aula. O velho intelectual que, no sonho,me acenava, sem que nunca o tivesse vis-to, e nem sequer conversado, era simples-mente o querido professor Renato Azeve-do, ex-diretor da FERLAGOS.

6 - Por que se sentiu inseguro em assumir a

FERLAGOS?

Eu era coordenador, professor da Veigade Almeida, e tinha sido sondado a dirigir aUniversidade em Cabo Frio por conta deum convênio entre as duas instituições. Detodo modo, eu era um interventor, alguémque vinha para fechar a FERLAGOS parafacilitar a vida da UVA. Era assim que pen-savam. Então, no dia 3 de julho de 2003,assumi o modesto gabinete da direção, efui recebido com muito carinho por todocorpo docente e fomos trabalhando, compaciência, com senso de humor, com tole-rância e aos poucos, mostrando que erapossível fazer da FERLAGOS a beleza queela é hoje.

7 - Muita gente foi contrária à sua posse?

Acontece que as pessoas são diferen-tes, cada uma tem seu tempo. Alguns meaceitaram em dez minutos, outras levarammeses. Mas isto é natural.

8 - Você é hoje um dos mais importantes

formadores de opinião da cidade.

Não faço mais do que expressar algunspontos de vista que ganham repercussãopor causa de amigos que me convidamsempre para seus programas.

9 - Você e o deputado Alair Corrêa

escreveram um livro...

Apenas botei em letra de fôrma o queo deputado diz, pensa e escreve. AchoAlair um dos mais competentes políticoscom quem tive a oportunidade de con-versar e admiro sua coragem pessoal, suaintuição, seu tino administrativo e, prin-cipalmente, uma coisa muito importanteem pessoas que exercem liderança: elenão manda recado, diz o que pensa, namaior franqueza.

10 - Sabe-se que o senhor é leitor (e

amantíssimo) de Machado de Assis. De que

forma conviver com a irônica visão

machadiana, a luta pela educação e a

convivência política numa cidade do

interior?

Machado lê as contradições, as ambi-guidades, os vazios. Que culpa ele temse a realidade é irônica? Quanto à Edu-cação, creio que é a saída para nossosimpasses, sobretudo existenciais. Quan-do somos educados pelos valores literá-rios, por exemplo, vivemos melhor conos-co. Somos mais amigos de nós mesmos,porque os autores que lemos ficam den-tro de nós, para sempre. No que diz res-peito às questões políticas, devo con-fessar que não sou dos mais apaixona-dos por elas. O mundo político tem seempobrecido e vulgarizado. Porém, cadavez mais, os que não gostam de políticasão governados pelos que gostam, porisso não quero me omitir. faço políticacomo todo cidadão que se supõe escla-recido. É da política que sairão as solu-ções para nossos problemas.

Mar

coni

Cas

tro

Page 18: Novembro 2006

1 8 CIDADE, Novembro de 2006

M a c a é

diretor teatral Danilo Porto tem umsonho: levar ao palco a tragédia deManoel da Motta Coqueiro. Quando

se vê impedido de encenar sua peça, Danilosofre uma crise nervosa e é resgatado pela

No limite do amor

e da insanidade

O romance entre um diretor de teatro e umapaciente psiquiátrica lembra a trágica históriade Motta Coqueiro, o último condenado àmorte no Brasil, enforcado em Macaé

Martinho Santafé

doutora Márcia, uma amiga que dirige umaclínica psiquiátrica. Márcia ajuda Danilo aentender seus traumas e desejos, e a des-cobrir porque contar a história de MottaCoqueiro é tão importante para ele. Inter-

nado na clínica, Danilo conhece uma mu-lher que julga ser acompanhante de um pa-ciente psiquiátrico. Linda, inteligente e cul-ta, Aline inspira Danilo a se reerguer.

Danilo, então, é convidado por Már-cia a coordenar uma oficina de teatro compacientes da clínica. Na primeira aula, asurpresa: Aline não freqüentava a clíni-ca para acompanhar uma pessoa - elaprópria é paciente psiquiátrica. Anima-do com os resultados obtidos na ofici-na, Danilo sugere a Márcia montar suapeça sobre Motta Coqueiro com os pa-cientes. O próprio Danilo interpretará Co-queiro, enquanto Aline será sua esposa,Úrsula das Virgens.

A partir do momento em que os inter-nos, sob a influência de Aline, interrom-pem seus medicamentos, Danilo é coagidoa atuar como seu personagem, sendo con-duzido pelos eventos que antecederam aprisão e o julgamento de Motta Coqueiro.Arrastado por um turbilhão de aconteci-mentos, Danilo tem apenas uma perguntaem mente: até onde os outros atores deseu drama são capazes de distinguir reali-dade de fantasia? Porque se os pacientespsiquiátricos não recuperarem a razão atempo, o destino de Danilo Porto tambémserá morrer enforcado.

Uma quase obsessão

Com esta resumida sinopse do filme“A Justiça dos Homens”, o produtor Ju-lio Uchôa, da Ananã Produções, come-çou a concretizar um desejo quase ob-sessivo de levar às telas a tragédia deMotta Coqueiro, o fazendeiro que, antesde ser injustamente enforcado em Ma-caé, rogou uma praga contra a cidade,praga esta que durou 120 anos, encer-rando seu ciclo com a descoberta do pe-tróleo na Bacia de Campos. E para con-tar essa história, Uchôa teve o apoio dapresidente da Fundação Macaé de Cul-tura, Ivana Mussi, do roteirista SylvioGonçalves e da diretora Cris D´Amato.

Agora, concluídas as filmagens, o pro-dutor pode respirar fundo e abrir um largosorriso, pois a criança nasceu e passa bem.“Quis falar da pena de morte de uma ma-neira mais leve, abrir o espírito do filme -pois a praga já havia passado -, e registraro que havia de belo na história, que foi ofim da pena de morte no Brasil”, explica.

Uchôa abdicou de fazer um filme histó-rico, optando pelo ficcional baseado emfatos verídicos, apostando assim na me-

Div

ulga

ção

O

JULIO UCHÔA

Produtor do filme

DU MOSCÓVIS

Ator principal

Page 19: Novembro 2006

1 9CIDADE, Novembro de 2006

lhor identificação com o público do séculoXXI. “Havia a loucura de Úrsula das Vir-gens (a verdadeira mandante dos assassi-natos de oito colonos em uma das fazen-das de Motta Coqueiro) e um grande planode amor. A Úrsula jamais imaginou que omarido fosse condenado, não fosse a ‘lou-cura’ que é a Justiça. Queremos que o filmeseja agradável e que desperte a curiosida-de das pessoas diante de um fato tãomarcante na história do País”, diz.

Paixão por Macaé

A paixão de Julio Uchôa por Macaé vemdesde o primeiro evento realizado por suaprodutora, em 1991, que foi o memorávelespetáculo de Alceu Valença no meio daLagoa de Imboassica, no projeto “S.O.SRegião dos Lagos”. Ele confessa que essapaixão ajudou muito, além da pesquisa his-tórica baseada no livro “A Fera deMacabu”, do jornalista macaense CarlosMacchi. Foram oito roteiros até que o pro-dutor exclamasse: “Vamos nessa !”.

O outro lado da força veio através daFundação Macaé de Cultura. “ Se não hou-vesse a coluna vertebral da Fundação, tal-vez a história tivesse sido outra. A Funda-ção manteve a chama acesa até que, já como patrocínio da Telemar (R$ 450 mil) e daEletrobrás (cerca de R$ 420 mil), me sentimais à vontade para vir a Macaé pedir pa-trocínio”.

Meados do século XIX:o norte da província do Riode Janeiro se esmera em criaruma atmosfera digna da Cor-te para receber o imperadorPedro II. Quando o impera-dor visita a região, em 1847, ofazendeiro Manoel da MottaCoqueiro e sua mulher Úrsuladas Virgens Cabral são con-vidados para as cerimôniasem sua homenagem e o co-nhecem.

Cinco anos depois um cri-me brutal abala Macabu e re-volta as cidades vizinhas.Uma família de oito colonosé assassinada em uma dascinco propriedades de Co-

queiro e Úrsula das Virgens.Todos os indícios apontam parao fazendeiro; as autoridadespoliciais locais, seus adversá-rios políticos, imediatamente oacusam do crime.

A imprensa acompanha asinvestigações com estardalha-ço e empresta a Coqueiro umapelido incriminador – é a “Ferade Macabu”. A principal teste-munha contra o fazendeiro é aescrava Balbina, a líder espiri-tual dos escravos na senzala daFazenda Bananal, sob cujocatre foram encontradas as rou-pas ensangüentadas dos mor-tos. Em vez de acusada, Balbinaé promovida a principal teste-

A tragédia de Motta Coqueiro

Div

ulga

ção Na segunda semana de janeiro, Uchôa

sentou-se diante do prefeito Riverton Mus-si para explicar o projeto. “Ele me escutouquase uma hora e disse que havia entendi-do, topando apoiar o projeto e remetê-lopara a Câmara de Vereadores, já que haviao carimbo da Agência Nacional de Cinema(Ancine). Riverton entendeu que “A Justi-ça dos Homens” é uma forma de se resga-tar a história de Macaé, coroando esse gran-de projeto que é a indústria cultural nomunicípio”.

Para o produtor de “A Justiça dos Ho-mens”, Macaé agora pode fazer um filmeporque tem uma forte base cultural e provamaior disto é o envolvimento da FundaçãoMacaé de Cultura no projeto. “Em 2001 oJulio veio me procurar e hoje estamos ven-do o projeto transformar-se em realidade”,exulta Ivana Mussi, garantindo total en-volvimento do órgão que preside. “Esta-mos disponibilizando funcionários, o Tea-tro Municipal e as locações”. A hospeda-gem para toda a equipe foi conseguida, atra-vés de gestões da Fundação, no FourPoints by Sheraton durante a primeira se-mana de filmagens na região.

Ivana também aprova a sinopse: “É umahistória que está sendo transformada deuma forma mais leve, mais lúdica, embora ofato em si tenha redundado em tragédia.Acredito que o povo macaense vá gostarmuito”.

munha de acusação, a despei-to de a lei proibir que escravosdeponham contra seu senhor.

Vítima de uma conspiraçãoarmada por seus adversários,Coqueiro é julgado duas vezesde forma parcial e condenado àmorte. Logo a condenação é ra-tificada pelos tribunais superi-ores, e D. Pedro II nega-lhe agraça imperial. Pela primeira vezno Brasil um homem rico e comdestacada posição social vaisubir à forca.

No dia 6 de março de 1855Coqueiro é enforcado em Ma-caé. Na véspera do enforcamen-to recebe em sua cela um pa-dre, a quem confessa sua ino-

cência e revela o nome doverdadeiro mandante do cri-me de Macabu, que ele co-nhecia, mas prometera nun-ca revelar de público.

No patíbulo, Coqueirojura inocência e roga umamaldição sobre a cidade queo enforcava: viveria cem anosde atraso. A maldição se cum-prirá com rigorosa preci-são.

Pouco tempo depois doenforcamento descobre-seque o fazendeiro tinha sidovítima de um terrível erro ju-diciário. Abalado, o impera-dor Pedro II, decide extinguira pena de morte.

Vanessa Gerbelli

interpreta Ùrsula

das Virgens

Du Moscóvis vive

Motta Coqueiro

Page 20: Novembro 2006

2 0 CIDADE, Novembro de 2006

Marco Antonio de Carvalho

T r i v i a l V a r i a d o

Que fique claro: quem me trouxe a Cabo Frio foi Tatí Bueno.As reclamações devem ser dirigidas a ela. Foi também Tati quemme levou ao Mini-Mercado Portinho, um dos locais mais simpáti-cos onde estive nos últimos tempos, desde o desaparecimentodo Antonio’s e do Florentino, no Leblon, ou do bar do Barra Grill,na Barra da Tijuca. Exagero, você dirá, mas somente neste TrivialVariado posso ser exagerado. E rimar minha pobre prosa.

No bar e mercado Portinho me senti em casa: reúnem-se alijornalistas, publicitários, advogados, médicos, empresários,pescadores, barraqueiros, peixeiros, colecionadores dediscos (apenas em vinil, por favor), todos mais oumenos frustrados. Ali logo se sabe que o jornalis-ta fez medicina, o advogado quer escrever, oempresário não suporta mais falar com geren-tes de bancos, o barraqueiro pretende apren-der inglês e ser guia turístico. E todos queri-am ser músicos.

Fala-se de tudo, conversas entrecorta-das que não chegam a conclusão alguma,o que é saudável. E, quando a noite é cla-ra, surge um violão, uma gaita, um pandei-ro, e alguém canta Beatles, Led Zeppelin,Pink Floyd. E Genesis, Yes e Jethro Tull (masisso eu não vi). Há quem peça Bee Gees, eessa é uma boa hora para ir ao banheiro.

Não sei se Cabo Frio tem um bar (e mercearia:ali é possível encontrar de suaves biscoitos a im-prescindíveis pilhas ou até a Revista Cidade) como oPortinho, e duvido. O vento constante, o silêncio da la-goa, o vôo das gaivotas, a passagem dos barcos de pesca, aponte iluminada à distância – tudo ali é um cenário cinematográ-fico, e de filme francês. Ainda que alguns críticos afirmem queaquele é um Cemitério de Elefantes, e que Mauro e Angélica reú-nem no Portinho a clientela mais experiente (em litros) da cidade.Cemitério, não sei; mas temos algo de elefantes: a memória.

Cena de filme francês foi a do carroceiro que, sobre a carroça,puxou o freio do seu cavalo, na saída do areial que chamam deNovo Portinho, para que este cronista passasse, a pé. Duvidomuito que os futuros moradores do condomínio tivessem um gestoeducado desses. Pena que não pude anotar a placa da carroça.Que o bom carroceiro me desculpe.

Estou em busca da Pasárgada de Manuel Bandeira? Sim. Que-ro viver em cidade do interior, longe de barulho e engarrafamen-tos (morei em São Paulo e Rio durante três décadas), de horáriose dos pequenos assassinatos diários. Não sei se Cabo Frio éPasárgada, e talvez não seja: fica próxima demais do Rio de Janei-ro. E, ao contrário de Bandeira, não sou amigo do rei, e já ouvidizer que a cidade tem dono.

E o que mais me assusta, na cidade, não é o dono. É exatamen-te aquele ser que Cabo Frio precisa para sobreviver: o turista.Tais seres, vindos de todas as partes do país, aportam à cidade ea transformam em um caótico parque de diversões: os carros pas-sam com o som ensurdecedor, surgem festas que duram até oamanhecer e ruas e praias tornam-se um lixo. É inacreditável comoas pessoas saem de casa nas metrópoles para repetir exatamenteo mesmo comportamento aqui, em férias.

Não sou turista, muito menos estrangeiro (nas ruasde Cabo Frio certos ambulantes e bêbados se

dirigem a mim com um bobo e simpático Hi!).Sou Flamengo de Joel, Moacir, Henrique,

Dida e Babá.

Não sei se alguma cidade brasilei-ra se propôs a educar os turistas e ébem possível que não. Mas antesque a temporada de caça ao turistaseja iniciada, seria um excelente ges-to dos interessados – prefeitura, co-merciantes, associação de hotéis –criar uma campanha local que edu-que o turista. Um turista que fazquestão de ver telenovela em restau-

rante e ouvir pagode em quiosque,de frente para a lagoa, encobrindo o

som do vento, das águas e das aves.

Mas, pergunto eu a mim mesmo, comopedir educação aos turistas, se os quiosques

instalados na areia em frente à lagoa não têm se-quer banheiro? Ora, a natureza dotou os homens de uma

solução, ainda que pouco higiênica; mas como devem agir asmulheres, que não podem entrar na lagoa e despejar a cerveja(bebe-se quase exclusivamente cerveja nos quiosques)? Comoficam o meio ambiente, a saúde pública, a higiene – sem falar daeducação? E como pedir profissionalismo se uma pousada deCabo Frio não cumpre o que promete, nega o pão a um pobreperegrino que havia pago a diária, não devolve o dinheiro e seesconde sob um arvoredo?

Na rodoviária, uma coxinha na lanchonete Plataforma custadois reais. Na Renato’s Lanches (este sim, deve ser americano), avinte passos de distância, é cinquenta centavos mais barata. Pre-fira a coxinha do Renato.

Já escrevi demais. Vou caminhar até o Portinho e conversarcom o Roberto Liberal sobre histórias da boêmia carioca dos anos50 e 60. Falaremos sobre o sol de Ibiza. Além do mais, soube queDenis voltou para o Rio. Bom para Denis, ótimo para o Portinho.

Como disse, reclamações com Tatí Bueno.

Page 21: Novembro 2006

2 1CIDADE, Novembro de 2006

S ã o P e d r o d a A l d e i a

ista por muitos como a redenção parao repovoamento da Lagoa de Ara-ruama, a idéia surgida em 1999, atra-

vés da bióloga Margarida Sampaio, esbar-rou em problemas como contingencia-mento de verbas e se transformou apenasem uma pequena Escola de Criação de Ca-marão, com orçamento muito menor (R$ 120mil).

Segundo Margarida, o projeto inicial-mente seria executado em Arraial do Cabo,através da Ong Instituto de Maricultura –IMAR - mas em 2001, com o aceno da pre-feitura de São Pedro da Aldeia, mudou-sede mala e cuia para aquela cidade e insta-lou-se na salina desativada da família Ya-magata, com promessa de verbas do Ban-

co Interamericano de Desenvolvimento –BID -, e contrapartida do Ministério daEducação, ainda no governo do ex-presi-dente Fernando Henrique Cardoso, atra-vés do Programa de Escolas Profissiona-lizantes – PROEP.

– A vitória de Lula, em 2002, mudoutudo e o projeto ficou retido no Ministério– lamentou ela.

De acordo com a bióloga, a alegaçãodo MEC é que um grande contingencia-mento de verbas havia sido executado peloMinistério da Fazenda, interrompendo di-versos projetos em andamento.

- Além disso, o PROEP passou por umagrande triagem, e cerca de 120 projetos, amaioria de São Paulo, foram interrompidos.O nosso ainda se encontra no MEC aguar-dando liberação, diz a bióloga.

Cansada de esperar pela burocracia do

Ministério, Margarida iniciou as buscaspor novos parceiros, e encontrou na inter-net o projeto Bolsa de Valores Social, umprograma lançado pela BOVESPA para le-vantar fundos para projetos educacionaisde ONGs brasileiras. O programa aproximaessas mesmas organizações dos investi-dores sociais dispostos a doar fundos aosprojetos desenvolvidos por estas institui-ções, visando promover melhorias na pers-pectiva social de crianças, adolescentes ejovens adultos.

As doações na Bolsa de Valores Socialsão coordenadas pela BOVESPA, que pro-move desde a escolha das ONGs listadasaté a implementação de cada um dos proje-tos. No caso da Escola de Engorda de Ca-marão em São Pedro da Aldeia, o valor or-çado foi de R$ 124 mil, sendo R$ 94 mil naprimeira fase e R$ 30 mil na segunda.

Renato Silveira / Fotos Marconi Castro

O conto da

ESCOLA DE MARICULTURA

Era uma vez um projeto orçado em R$ 3 milhões e meio de reais para a construção de umaEscola Técnica de Maricultura em São Pedro da Aldeia, que tinha como objetivo capacitaros pescadores e seus filhos em criações de peixes, camarões e outros em fazendas marinhasna Lagoa de Araruama.

V

Page 22: Novembro 2006

2 2 CIDADE, Novembro de 2006

Por enquanto, a Escola de Engorda deCamarão trabalha como criadouro deartêmias (larvas de crustáceos), e contacom salas de aula ainda não totalmenteequipadas (depende da segunda parte daverba para que isso aconteça).

– A Bolsa de Valores Social funcionaatravés de investimentos. Os empresáriosolham os projetos e escolhem qual irão fi-nanciar, com posterior abatimento no Im-posto de Renda. Estamos tentando buscarparcerias com os empresários locais, econseguimos alguma ajuda, como a doa-ção de telhas por parte de uma loja de ma-terial de construção. A prefeitura de SãoPedro da Aldeia também tem sido parceira,através da secretaria de Agricultura e MeioAmbiente – disse ela.

Segundo o secretário de Agricultura eMeio Ambiente de São Pedro da Aldeia,Aluysio Martins, o apoio fornecido pelaprefeitura é apenas logístico, visto que nãohá nenhum convênio entre o IMAR e omunicípio.

Assim, reafirma Margarida, “nossa mai-or luta é pelo retorno do projeto original.Seja qual for o resultado da eleição presi-dencial, estaremos lá brigando pela voltado nosso macro-projeto da Escola de Mari-cultura, porque ela representa um ganhonão só para São Pedro da Aldeia, mas paratoda Região dos Lagos”.

O governo federal anunciou a inclusão de CaboFrio como um dos pólos de desenvolvimento deMaricultura no estado. Segundo o biólogo e en-genheiro de pesca, Félix Valentim, diretor de pes-ca da secretaria de Meio Ambiente de Cabo Frio, acidade foi um dos cinco municípios do estado in-cluído no programa por ter um projeto consisten-te para a instalação de uma fazenda marinha.

Existe uma Associação de Maricultura da Praiado Peró, onde oito famílias de pescadores nativos trabalham e vivem da pesca. Napraia do Peró também é possível avistar as poitas amarelas que demarcam o espaçodestinado ao cultivo de mexilhões.

-Esse programa do governo federal vem atestar todo apoio que a prefeitura vemdando à pesca artesanal no município. Estamos no caminho certo”, afirma Valentim,que participou do IV Seminário Estadual de Maricultura realizado em Angra dos Reis.

O Plano de Desenvolvimento consiste em um estudo sócio, técnico e econômi-co de escala local para o planejamento e identificação de áreas propícias para odesenvolvimento da maricultura. O litoral brasileiro foi dividido em regiões de ca-deias produtivas. No momento, o plano está sendo elaborado em 34 municípios emseis estados. No Rio de Janeiro foram consideradas prioritárias as cidades de CaboFrio, Paraty, Angra dos Reis, Mangaratiba, Niterói e Arraial do Cabo.

Cabo Frio e o programa de Maricultura do governo federal

Atividade na praia do Peró

S ã o P e d r o d a A l d e i a

BIÓLOGA MARGARIDA SAMPAIO

Presidente da ONG IMAR

Nossa maior luta é peloretorno do projeto original“

Cidadania e Vida

DAVID DUTRA

é especialista em clínica médica

e terapia intensiva

Hoje escutamos falar muito em ano-rexia. Mas o que é anorexia e como elapode ser detectada? É isso que vamosexplicar, de forma resumida, nessa edi-ção.

A anorexia nervosa é uma distorçãoda maneira de como a pessoa avalia aforma, o peso e o tamanho do própriocorpo. Para perder peso, submete-se alongos períodos de jejum. Ela pode co-meçar também a fazer o uso de inibidoresde apetite, laxantes e diuréticos.

Esse distúrbio alimentar acomete, prin-cipalmente, as mulheres. Mas, nos últi-mos tempos, os casos da doença vêmaumentando entre jovens do sexo mas-culino. Assim como nas meninas, o pa-drão de magreza imposto pela culturaatual é o principal fator que leva os ga-rotos a comer menos e a passar muitotempo na academia. Nos homens, aanorexia pode causar diminuição do de-sejo sexual.

A prevalência da anorexia nervosa éde 1% na população em geral, com 90%dos casos verificados em mulheres.

Depressão, síndrome do pânico ecomportamentos obsessivo-compulsi-vos também podem ser sinais da doen-ça que pode, inclusive, levar à morte.Atualmente, estão sendo detectadosmuitos casos em adolescentes. Por isso,a família deve estar atenta e, ao menorsinal de anorexia, deve procurar a ajudade especialistas.

O que é anorexia?

* Visite nosso site e deixe suacrítica ou sugestão para esta coluna:

www.daviddutra.com

Page 23: Novembro 2006

2 3CIDADE, Novembro de 2006

Page 24: Novembro 2006

2 4 CIDADE, Novembro de 2006

cone da paisagem da Região dos Lagos, as salinas come-çam mais um período de safra. Até fevereiro do próximo ano,cerca de 85 mil toneladas de sal devem ser produzidas, se-

gundo a Associação Fluminense de Salineiros (Aflusal). Aexpectativa, apesar de muito aquém do potencial regional –200 mil toneladas – pode ser considerada otimista diante darealidade que se apresentou nos últimos anos.

Em 2004, a produção foi de 80 mil toneladas, metade do quese esperava para aquela safra. Confirmando a derrocada, noano seguinte os números foram ainda mais desanimadores,com uma produção inferior a 45 mil toneladas. “Praticamentenão houve sal nos últimos cinco anos”, diz o presidente doSindicato das Empresas Extratoras de Sal, HumbertoQuintanilha.

O alto índice pluviométrico é apontado como um dos cau-sadores dessa queda na produção. Segundo o presidente daAflusal, Júlio Cabral, desde o ano de 2000 tem chovido muitodurante os meses de agosto a fevereiro, atingindo a produção,porém a natureza está longe se ser o único empecilho para osetor. O crescimento demográfico do litoral fluminense, queencareceu as terras e encheu de esgoto a Lagoa de Araruama,também são fatores contrários. Além deles, a queda na cota-ção do sal. “Teve época em que pagávamos R$ 25 para produ-zir e cobrávamos R$ 15 para vender a tonelada do produto. Ouseja, era inviável”, explica Cabral, acrescentando que atual-mente a cotação está em R$ 70/tonelada.

Salineiro também quer tratamento diferenciado

Ainda segundo Cabral, outro fator que reflete no declínioda atividade na região é que muitos filhos dos salineiros tradi-cionais não dão continuidade ao negócio da família, optandopor outras profissões. Das 115 empresas salineiras que já exis-tiram na região, apenas 35 ainda estão ativas. Das seis moa-gens, só duas operam atualmente e, dos nove mil postos detrabalho que a atividade já chegou a gerar, hoje há apenas3.500.

As empresas remanescentes têm, ainda, outros desafiospelo caminho. Entre eles a falta de incentivo dos governos. “Osetor pesqueiro, por exemplo, tem acesso ao auxílio-diesel, umprograma do Ministério da Agricultura e Pesca, que subsidia ocombustível para as embarcações. Além disso, os pescadorestêm direito a indenizações nos períodos de defeso de algumasespécies. Para a agricultura, há incentivos como linhas de cré-

Simone Mendonça

O Sal

da terra

E c o n o m i a

Í

Page 25: Novembro 2006

2 5CIDADE, Novembro de 2006

Arq

uivo

Até chegar ao sal grosso, existem quatro etapas. Na primeira,a água salgada fica em um reservatório grande, de onde é bombe-ada pelos moinhos para os decantadores, onde enfrenta a primei-ra fase de evaporação, para sair do grau de salinidade 5 para ograu 15. Depois, é desviada para tanques menos fundos, chama-dos evaporadores. Quando a água atinge os graus 17 a 19 desalinidade, surge o primeiro subproduto, o sulfato de cálcio, queé vendido à indústria de cimento, transformando-se em gesso. Aágua restante vai para os cristalizadores, tanques retangulares erasos. A partir do grau 28, não há mais precipitação de sal, mas demagnésio e bromo, ambos nocivos à produção.

JÚLIO CABRAL

Presidente da Aflusal

DA ÁGUA AO SAL

dito específicas. Mas nós, os salineiros, que também vivemosde safra, não temos tratamento diferenciado”, diz o salineiroLuiz Henrique Pereira, há vinte anos no setor.

Mas uma conquista o setor tem para comemorar. Em janei-ro deste ano, o governo do Estado aprovou a redução doICMS pago pelas empresas salineiras, de 12% para 2%. Entre-tanto, a luta durou cinco anos. E a dos outros incentivos estáapenas começando.

Revitalização frustrada

A decadência da atividade salineira foi tema de um estudodo Sebrae/RJ, realizado em 2000, que serviu de base para pro-grama de revitalização da atividade. As ações, porém, foramparalisadas em 2004. Segundo Júlio Cabral, o programa che-gou a surtir efeito em 2001 e 2002, com a revitalização de algu-mas salinas. Porém, foi interrompido diante das safras fracasdos anos seguintes. A partir daquele momento, as salinas queestavam ativas continuaram operando, mas nenhuma outra foirecuperada desde então.

Os salineiros costumam brincar dizendo que nos últimoscem anos o único avanço no setor se deu no material dasrodas dos carrinhos de mão que levam o sal grosso para osarmazéns. Antes, eram de madeira; agora, são de borracha.

Brincadeiras à parte, é uma verdade que não há nenhumsinal de modernidade e avanço tecnológico em todo o proces-so de produção do sal que, até hoje, é absolutamente artesanal,como era no século XIX.

Segundo o presidente da Associação Fluminense deSalineiros, Júlio Cabral, o tipo de salinas da região exige muitamão-de-obra. Para mecanizar o processo, seria necessário mo-dificar os tabuleiros cristalizadores e também os passeios dassalinas, pois eles não estão prontos para suportar a locomo-ção de máquinas. Além disso, o fundo da salina é sensível aqualquer tipo de máquina e equipamento.

Novos rumos

Se há algum traço de modernidade no setor, este não se dáexatamente na produção de sal, mas nas atividades alternati-vas à extração do produto, que as salineiras fluminenses estão

Teve época em quepagávamos R$ 25 paraproduzir e cobrávamosR$ 15 para vender atonelada do produto. Ouseja, era inviável

Mar

coni

Cas

tro

encontrando para explorar as instalações nos meses deentressafra. Uma delas é a criação e comercialização de artêmia,um pequeno crustáceo que se reproduz em águas de altasalinidade, que é usado na alimentação de camarões de cati-veiro. Mas a atividade ainda é incipiente na região. “O salineirosó sabe fazer sal. No caso da artêmia, é aplicada uma tecnologiadiferente. Ainda temos que procurar pessoas capacitadas parafazer isso”, alerta Júlio Cabral.

Outra atividade que poderá ser agregada à produção desal é a geração de energia eólica. A Salina Pereira Bastos, depropriedade de Cabral, formalizou um contrato com o grupofrancês Siff para estudar a viabilidade de implantação de umparque eólico, em uma área de 750 hectares da Pereira Bastos,em Arraial do Cabo. As torres de medição constataram que onegócio é viável, mas nada foi concretizado. “Esbarramos emproblemas burocráticos, mas já sabemos que o parque é viá-vel”, afirma.

Mar

coni

Cas

tro

Page 26: Novembro 2006

2 6 CIDADE, Novembro de 2006

TEMPORADA DE LU

stá oficialmente aberta a temporada deturismo na Região. E a antecipaçãoacontece por conta da chegada dos

navios, que começaram a aportar em outu-bro, em Búzios e, em Cabo Frio, a partir de7 de novembro, num roteiro que prevê visi-tas até o mês de abril de 2007. A estimativa

é que a temporada movimente algo em tor-no de 27 milhões de dólares em comprasno comércio e restaurantes com um totalde aproximadamente 400 mil turistas, em 131escalas.

Segundo o secretário de Turismo, Gus-tavo Beranger, há em Cabo Frio uma “mu-dança na maneira de fazer turismo”, inicia-da no ano passado, com a I Festa Portu-guesa, projeto-âncora de um programa que

pretende chamar a atenção do turista paraa cidade durante grande parte do ano. Comisso, afirma, “criamos uma nova tempora-da, aberta em setembro com o Festival deDança e a Festa Nordestina, que se esten-derá até abril com uma série de outras ativi-dades”.

Inaugurado em 2004, o Terminal Maríti-mo da cidade, localizado no final da aveni-da Assunção, ainda enfrenta alguns pro-

Chegada de transatlânticos antecipa o verão na Região dos Lagos

Cristiane Zotich

E

Page 27: Novembro 2006

2 7CIDADE, Novembro de 2006

C a p a

LUXO

Sérg

io Q

uiss

ak

blemas, sendo o principal deles a distânciada Praia do Forte, onde os barcos anco-ram. Dali os passageiros são transporta-dos até o Terminal, numa operação que exi-ge segurança e atenção, especialmente nocaso da chegada de milhares de turistas aomesmo tempo.

Presidente da Associação de Hotéis deCabo Frio, Rosângela Maria Unsonst, acre-dita que a cidade está preparada para rece-

ber o turista, brasileiro ou não. Embora osturistas dos transatlânticos não ocupem oshotéis, já que dormem nos navios, “temosque estar prepararados, porque muitos,quando visitam a cidade pela primeira vez,voltam depois, mesmo na baixa estação”.Com isso, “deixamos de ser uma cidade deveraneio e passamos a ser cidade de turis-mo”.

Deficiências

Adelício José dos Santos, presidenteda Associação Comercial de Cabo Frio,concorda que os avanços aconteceram,“mas ainda temos muito que melhorar” narecepção aos milhares de turistas. “Estamosnum processo preparatório. Vamos nosaperfeiçoando no dia-a-dia”. Apesar dasportas estarem abertas, Santos lembra quea maior deficiência está no atendimento aopúblico, principalmente o internacional.

“O que temos a oferecer é muito bom”,acredita. “O problema está no atendimen-to. Não temos nenhum preparo para rece-ber, por exemplo, o turista estrangeiro. Sãopoucos os comerciantes, restaurantes ehoteleiros que estão se preparando. A pre-feitura precisa capacitar seus funcionáriose o comerciante também. Temos que inves-tir em cursos de idiomas, porque apenasmeia-dúzia fala inglês ou espanhol”.

Para Rosângela Unsonst, a maior defi-ciência está na oferta de passeios turísti-cos, tipo citytour. A oferta é pouca e cara,as empresas cobram 50 reais por pessoa, etrabalham apenas com o mínimo de trêspessoas. “Quem vem passear sozinho nacidade não tem a opção da citytour”.

Gustavo Beranger, secretário de Turis-mo, ataca outro ponto: a rede hoteleira que,segundo ele, precisa aumentar a capacida-de. “Os bons hotéis da cidade têm poucosquartos”, lembra. “Cabo Frio possui 6,5 milleitos, e nenhum hotel 5 estrelas, até por-que não comporta. Mas temos bons hotéisem São Pedro da Aldeia, por exemplo. Enossa idéia é criar um elo com a cidade paraque ela também sirva de leito para os turis-tas de Cabo Frio.”

Outros caminhos para a região

Não são apenas os turistas de transatlân-ticos que movimentarão a economia de CaboFrio nesta temporada. Os turistas que che-garão por via aérea ou terrestre também en-contrarão facilidades no acesso à Região dosLagos, graças a investimentos que o gover-no do Estado vem fazendo na região.

A verba de R$ 1.526.672, por exemplo,que daria o pontapé inicial na expansão daLinha 3 do metrô, no Rio de Janeiro, ligan-do a Praça 15 a São Gonçalo, foi deslocadapara outro projeto. O contemplado foi oAeroporto Internacional de Cabo Frio, queconcluirá a segunda etapa das obras deampliação, tornando-se o maior do interiorfluminense. Até o fim do ano, o terminalestará capacitado para ser incluído nas ro-tas internacionais.

No acesso por terra o turista encontra-rá, a partir desta temporada, estradas maisadequadas ao grande tráfego de veículos,evitando congestionamentos e acidentes.A Via Lagos (RJ-124), por exemplo, tem pas-sado por constantes obras para melhoriada malha viária. Como conseqüência, o pre-ço alto do pedágio, que varia de R$ 7,50(tarifa passeio carros pequenos sem rebo-que) a R$ 37,60 (tarifa comercial caminhãocom reboque 5 eixos duplo) de segunda asexta, e de R$ 11,50 a R$ 57,40 nos finais desemana e feriados nacionais.

A RJ-140 também dará mais confortoao visitante. Em fase de duplicação, a ro-dovia, segundo o governo do Estado eDER, deve ser entregue até o início de no-vembro. O projeto prevê duplicação de umtrecho de 14,5 quilômetros das RJ-106 e RJ-140, com a construção da nova ponte naPonta do Ambrósio e a nova ponte sobre oCanal Palmer..

s

GUSTAVO BERANGER

Secretário de Turismo de Cabo Frio

Mudança na maneira defazer turismo“

”M

arco

ni C

astr

o

Page 28: Novembro 2006

2 8 CIDADE, Novembro de 2006

O início: “Foi no estaleiro Verolme quetomei conhecimento que iriam mexer na le-gislação brasileira de cabotagem. Era umalegislação cruel, a cabotagem era uma ati-vidade exclusiva do Lloyd Brasileiro e,como toda empresa estatal, o Lloyd entrounum buraco. Com uma emenda, a cabota-gem foi liberada. Com isso, viabilizou o cru-zeiro”.

Ontem e hoje: “No Brasil só existia ocruzeiro de longo curso, o navio saía daEuropa, ia a Recife, Rio, Buenos Aires, e iaembora. Em 1995 saiu a alteração, e a pri-meira temporada foi 1996-97, com 8.000 pas-sageiros em oito escalas. Agora será a dé-cima primeira temporada. Serão 130 esca-las.”

Gastos dos turistas: “Os passageirosdesciam, mas não tínhamos nenhuma or-ganização para a recepção. O viajante gas-ta na medida em que você oferece servi-ços. Com o tempo, cada turista chegou agastar 110 dólares, depois deu uma trava-da. A informalidade cresceu muito, e ba-gunçou. Em 2001, os navios disseram: “Osturistas estão gastando muito dinheiro emterra, vamos diminuir as paradas e aumen-tar o tempo de navegação.” Mas eles fa-zem isso no mundo inteiro. Diminuem o tem-po dos turistas em terra para que não acon-teça a transferência de renda.”

O sonho de navegar: “Organizar umcruzeiro é uma loucura, é um hotel flutuan-te, as pessoas embarcam no navio reali-zando um sonho, mas não sabem da lo-gística necessária para que o cruzeiro acon-teça. Não se fala nada em navio com me-nos de doze meses, a indústria dos cruzei-ros vive assim o ano todo. O pessoal debordo trabalha muito, é uma vida muitodificil, às vezes você conhece o mundo in-teiro, mas é preciso trabalhar doze, quatorzehoras por dia. Cada navio emprega no

minimo trinta nacionalidades, quem é dostaff tem uma chance cultural incrível, masninguém suporta ficar embarcado muitotempo”.

La nave va: “Quando os primeiros na-vios chegaram a Cabo Frio, em 2004, a po-pulação foi para a orla ver. Foi como nofilme de Fellini, só que em Cabo Frio muitagente foi até o navio a nado, tivemos quemandar barcos para salvar pessoas queestavam se afogando”.

O Brasil na rota do turismo marítimo:“Os transatlânticos começaram a procuraro Brasil, há um período de ociosidade mui-to grande durante o inverno europeu eamericano. O Brasil tem uma costa de 8.000quilômetros, 270 dias de sol, não tem fura-cão. A dificuldade é que os portos brasilei-ros são dimensionados para carga, mas oturismo marítimo começou por Búzios. Asprimeiras escalas foram aqui, em 1996-97.Eram navios menores, de 600 passageiros,e isso foi crescendo e aumentando o tama-nho dos navios, esse ano vem navio de3000 passageiros”.

Poluição ambiental: “Turbinas: navionão causa impacto nenhum, se causasse omundo inteiro teria proibido. O pescadordaqui, que não pesca mais, quer arranjarum jeito de tirar proveito do navio. Começaa falar bobagem, diz que o navio atrapalhaa pesca de rede, mas a pesca de rede é proi-bida aqui. O navio fundeia em pontos de-terminados pela Marinha, não é o capitãoque escolhe onde ancorar. Como em todonegócio, porém, existem os doidos: temum navio que chega, passa na casa doLulu, no Iate Clube, foi a Ipanema, fezuma confusão danada. Foi multado pelaMarinha. A maioria chega de forma dis-ciplinada, param aqui, ficam quietinhos,levantam âncora e ninguém vai emboracantando pneu”.

Turbulência causada pelas hélices: “Aturbulência que os transatlânticos causam,chegando ou saindo, é de baixa densida-de, mais que ninguém eles têm preocupa-ção com o meio ambiente, seria um tiro nopé poluir o mar. O lixo dos navios é proces-sado internamente, compactado e descar-regado no homeport (Santos ou Rio de Ja-neiro). Os ambientalistas dizem que não,

C a p a

“Navio não vai embora cantando pneu”

Tudo começou em Búzios. Os cruzeiros são uma realidade recente entre nós, especialmen-te a partir da luta do carioca Carlos Eduardo Bueno Netto, Cadu, diretor da Porto Veleiro epresidente da Associação Brasileira de Terminais de Cruzeiros Marítimos (Brasil Cruise).Aqui, o empresário comenta algumas críticas de ambientalistas e responde a váriasdúvidas sobre o turismo marítimo. E afirma: Búzios é o maior porto turístico do Brasil e,hoje, depende inteiramente da chegada dos milhares de turistas. E insiste: o que há é muitadesinformação sobre os transatlânticos.

Pier do Porto Veleiro em Búzios

Terminal de desembarque

em Cabo Frio

Page 29: Novembro 2006

2 9CIDADE, Novembro de 2006

mas se houvesse o nível de impacto queeles afirmam, Portofino, Ibiza, a Grécia re-ceberia tais navios? O que acontece noBrasil em relação ao cruzeiro é que tudo éproibido e nada é permitido. O negócio énovo, as regras estão se construindo e al-gumas delas são absurdas, tanto que algu-mas companhias desistiram de operaraqui”.

outro trabalha na boutique, poucos são ma-rinheiros. Essa legislação maluca foi alte-rada, mas ainda há o que mudar. É o naviode longo curso que mais deixa recursos nopaís, em dólar. Mas, se ficar muito difícil, obarco vira a proa e vai embora. E não vol-ta.”

Transatlântico não tem lastro: “O las-tro de água é outra bobagem, quem temlastro é navio de carga, que não pode na-vegar vazio: se chegar a um porto e nãotiver carga, ele bota água. O navio de cru-zeiro é diferente, cala pouco e não tem águade lastro porque não trabalha com peso.Dizem ainda que os transatlânticos trazemincrustados organismos de outros siste-mas oceânicos – mas as baleias também ofazem. Navios fundeiam a seis metros e emBúzios a profundidade é de quinze, vintemetros. O que há é muita desinformação.”

Desinformação e medo: “A desinforma-ção gera o medo do desconhecido. O pri-meiro navio que iria entrar em Búzios, oprefeito eleito não autorizou, o secretáriode turismo também não, tive que acordarum juiz às três da manhã, e pedi uma liminar.Felizmente não tive que usá-la, às seis damanhã o prefeito concordou em deixar en-trar o navio, a primeira escala em Búzios,em 1996. A cidade reagiu contra o navio,diziam: ‘Vai botar cocô de turista aqui”, ima-ginavam que um transatlântico é um barcode pesca, que não tem banheiro. Hoje, aocontrário, se os navios pararem de vir aBúzios a cidade fale, são 250.000 pessoaspor ano, vinte e sete milhões de dólares deconsumo”.

O cais no centro de Búzios: “Faço aobra do cais do centro porque quero aqui-lo funcionando, serão 100 navios aqui naPorto Veleiro, 30 no cais da prefeitura. Aprefeitura perdeu cliente, e em todos oslugares do mundo a operação é privada,governo não é para receber turistas, maspara criar estrutura. Enquanto isso, a cida-de não oferece cursos em área nenhumado turismo”.

Brasil e o turismo marítimo mundial:“95% dos turistas que chegam a Búziosnos navios são brasileiros, que gastam 100dólares diários. O mercado é de 17 milhõesde passageiros, e o maior crescimento domundo foi o do Brasil: 30%. Mas há muitoa crescer: o Brasil representa apenas cercade 1,5% de todo o movimento mundial”.

Exemplo de regra absurda: “Queriamque a tripulação tivesse 30% de brasilei-ros, mas o navio não gera emprego a bor-do, é na cidade, com a transferência de ren-da. Outra exigência era que os tripulantestivessem um determinado visto que teriamque conseguir no país de origem, e todosdeviam ter carteira de marinheiro. Mas numtransatlântico um é professor de ginástica,

Pap

ipre

ss

CADU BUENO

Presidente da Brasil Cruise

O que acontece noBrasil em relação ao cruzeiroé que tudo é proibido e nadaé permitido.

Pap

ipre

ss

Papipress

Page 30: Novembro 2006

3 0 CIDADE, Novembro de 2006

história de Cabo Frio, contada atra-vés de imagens. Esse foi o legadodeixado por Wolney Teixeira de Sou-

za que, durante cinqüenta anos, fotogra-fou a cidade sob os mais diversos ângulose contextos, registrando as principais trans-formações ocorridas no século passado.

A natureza do lugar, o cotidiano de seushabitantes, os eventos familiares e políticos,tudo isso não passou sem o testemunho desuas lentes. “Os principais acontecimentose gerações inteiras passaram pela objetivadele”, conta seu filho, o também fotógrafoWarley Sobroza, que hoje dirige o acervo,com mais de dez mil registros entre nega-

LENTES QUE

GUARDAM A HISTÓRIA

tivos, chapas de vidro e fotos em papel.Apesar da beleza e da importância do

acervo, pouco se conhece dele. Algumasfotos decoram paredes de hotéis, pousa-das, restaurantes e edifícios públicos, comoa Câmara de Vereadores e a Prefeitura dacidade. Mas é um número irrelevante dian-te da grandeza do material. “Cabo Frio co-nhece apenas cerca de sessenta fotogra-fias”, afirma Sobroza.

Acervo também tem Malta

Na verdade, mais do que as cinco dé-cadas de trabalho de Wolney Teixeira, acoleção traduz um século de história, pois

reúne também o material produzido pelo paidele, Zinho Pereira, e por Augusto Malta,que visitou Cabo Frio no início do séculoXX. “Meu pai era um visionário; sabia queaquelas fotos seriam importantes para com-por a história”, diz Warley. “Do meu avô,não há mais originais. Ele foi fotógrafonuma época heróica, em que não havia re-cursos para arquivar os originais”.

Designado pelo prefeito Pereira Passoscomo fotógrafo oficial do município do Riode Janeiro, o fotógrafo Augusto Malta es-teve em Cabo Frio em 1915, com a missãode registrar as festividades do tricentenárioda cidade. “Meu pai reproduziu parte des-se trabalho”, conta Warley que, em 1979,foi ao Museu da Imagem e do Som (MIS),no Rio de Janeiro, à procura das demaisfotos da visita de Malta. “Ele tinha se apo-sentado em 1930 e já estava quase tudoperdido. Do que encontrei no Museu, fo-tografei umas 40 obras, que hoje fazem par-te do acervo”.

O legado

Também fotógrafo, Warley passou vintee um anos em São Paulo, e retornou a CaboFrio para assumir os compromissos do pai,quando este ficou doente. Depois de suamorte, o filho começou a organizar o acer-vo e durante muito tempo reforçou o orça-mento da família vendendo reproduçõesdas fotos.

Apesar da procura ainda ser grande,comercializar tais fotos tornou-se imprati-cável: a retirada de mercado do papel e dofilme para fotos em preto e branco e o alto

“Poucas cidades do Brasil têm uma história decem anos contada em imagens. Cabo Frio tem”.A afirmação é de Warley Sobroza, filho dofotógrafo Wolney Teixeira de Souza, que deixouum acervo com mais de dez mil fotografias.

Simone Mendonça / Fotos Marconi Castro

A

D o c u m e n t o

Page 31: Novembro 2006

3 1CIDADE, Novembro de 2006

Nasceu em São Pedro da Aldeia, em1912 e morreu aos 71 anos. O pai, AntônioMota de Souza, mais conhecido comoZinho Pereira, trabalhava como fotógrafona pequena São Pedro. Em 1922, Zinhodecidiu se mudar com toda família paraCabo Frio, tornando-se o primeiro fo-tógrafo da cidade. Ali, registrou casa-mentos, batizados e eventos políticos, nosprimeiros quinze anos do século.

Zinho Pereira fotografou também paraa revista “Raio de Luz”, que publicava osacontecimentos sociais da cidade e foi eleo fotógrafo contratado para acompanhara construção da primeira ponte sobre oCanal do Itajuru. Desse trabalho só resta-ram duas fotos.

Gerações inteiras passarampela objetiva do meu pai

WARLEY SOBROZA

Wolney Teixeira de Souza

(Warley Sobroza)

custo da digitalização das obras são doisdos motivos. “Grande parte do material éde negativos enormes, com chapas de vi-dro, cujo tamanho não se adapta aosscanners, o que depende de uma estruturaespecífica para esse tipo de tratamento”.

Dos dez mil negativos, três mil são fun-damentais para a história local, na visão deWarley. Eles ilustram o cotidiano da cidade,os movimentos, as festas, a vida política. Masdependeria de um grande trabalho de identi-ficação. O arquivo está organizado em cai-xas, e as fotos separadas por assuntos, en-tre os quais o Clube Tamoios e os eventosacontecidos ali; a Álcalis; os espetáculosrealizados na cidade; os festivais de cinema

e teatro; os movimentos políticos; a visitade Juscelino Kubitscheck; a Câmara de Ve-readores; as obras de saneamento, temasque retratam a vida cabo-friense.

Hoje com 68 anos, Warley não tem fi-lhos e se preocupa com o destino dessepatrimônio. “O acervo só vai sair das mãosda família se for para o poder municipal. Éum material que só interessa a Cabo Frio,pois foi para isso que o meu pai trabalhou,para a história da cidade”.

O secretário de Cultura da cidade, Mil-ton Alencar Júnior, concorda que esse pa-trimônio tem que pertencer à municipa-lidade. “Para isso, a prefeitura está lutan-do por uma estrutura que possa garantir apreservação e a conservação técnica des-te importante acervo cultural”, informa osecretário. Essa estrutura, segundo ele, es-tá dentro do projeto da nova biblioteca mu-nicipal, que abrigará um setor de iconografiae, em especial, uma área para o acervoWolney Teixeira.

Do acervo,Cabo Frioconhece

apenas umassessenta

fotos.

“”

Page 32: Novembro 2006

3 2 CIDADE, Novembro de 2006

pode ser, “usamos o mapa turístico quese compra em banca de jornal”. 2) Asempresas concessionárias de prestaçãode serviços públicos (água, energia e te-lefonia) dispõem de informações, inclu-sive mapas, que, no entanto, não são re-passadas para as prefeituras. Como semesses dados é muito difícil elaborar umPlano Diretor, o documento que se cha-ma de plano pode vir a ser do tipo queDelfim Neto chamou de “coisa para otárioler”. De qualquer forma, melhor com eledo que sem ele. Muita coisa poderá sertrabalhada nos próximos dez anos.

Há uma propriedade inerente a todosos seres vivos, a capacidade de se orga-nizar. Coelhos, abelhas e andorinhas seorganizam quando se associam a um ter-ritório. Infelizmente o poder público, su-postamente também organizado, por ve-zes se dedica à tarefa de anarquizar o queresulta quando se trata de seres huma-nos. Leia-se, no caso, a prefeitura comsua secretaria de planejamento. A boanotícia em Cabo Frio, verificaram os alu-nos de Planejamento Urbano do cursode Gestão Imobiliária da UniversidadeVeiga de Almeida, é que na margem direi-ta do Canal Itajuru a cidade se organizaespontaneamente como qualquer teoriaprevê. Tudo bonitinho e dentro dos con-formes configurando a tal “ordem nocaos”. Idem em Rio das Ostras, Arraialdo Cabo e São Pedro da Aldeia. Essascidades agradecerão se de seus planosnão resultar coisa como em uma cirurgiaplástica onde, retiradas as ataduras, vê-se uma orelha implantada na testa.

Na Constituição de 1988, artigo 29 lê-se, “O Município reger-se-á por lei orgâ-nica,..., aprovada por dois terços dosmembros da Câmara Municipal,...”. No182, “A política de desenvolvimento, exe-cutada pelo Poder Executivo municipal,conforme diretrizes gerais fixadas emlei,...”. Qual lei? A lei orgânica, claro. Noprimeiro parágrafo, “O Plano Diretor, apro-vado pela Câmara Municipal...”.

Quem disse ao prefeito de Cabo Frio,por exemplo, que lhe cabia providenciarum Plano Diretor? A iniciativa deveria tersido do presidente da Câmara. Tivessefeito o que não fez a Câmara Municipalteria acompanhado o preparo do planodesde seu início. Como o prefeito só feza entrega do documento no dia 27 desetembro, a Câmara teve apenas 14 diaspara aprovar um plano cuja responsabi-lidade é exclusivamente dela. E agora?Agora nada.

As audiências públicas foram opor-tunidades para qualquer pessoa se ma-nifestar, mas há um detalhe: tudo o quefoi incluído no plano na fase de preparopode ser excluído na fase de aprovaçãopela Câmara Municipal. O povo partici-pou e fez propostas que podem ser alte-radas ou retiradas, e por ele mesmo, jáque a Câmara o representa. Coisaestranhíssima, mas comum. É conseqü-ência da exacerbação do papel do PoderExecutivo, afogando o Poder Legislativo.O poder emana do povo, mas quem oexerce é o “polvo”.

No frigir dos ovos a situação é a se-guinte. 1) Numa prefeitura da Região ge-ralmente não se encontra um mapa domunicípio. Quando se o pede a resposta

De quem

é o Plano

Diretor?

I N B O X

Ernesto Lindgren é professor

O Diário Oficial da União(DOU) publicou no dia 10 de ou-tubro a resolução nº 377 doConama - Conselho Nacional doMeio Ambiente, que simplificao processo de licenciamento am-biental para a construção de es-tações de tratamento de esgotode pequeno e médio porte. An-tes existiam três tipos de licen-ça: a prévia, que era utilizadapara avaliar o local onde seriafeita a estação; a de instalação,que permitia o início das obras;e a de operação, que autorizavao funcionamento da estação deesgoto. Com a nova resolução,os três documentos foram reu-nidos na LIO - Licença Ambien-tal Única de Instalação e Opera-ção, que autoriza de uma só veza implantação e a operação doempreendimento.

Esgoto com menos

burocracia

Mapa de diagnóstico

Page 33: Novembro 2006

3 3CIDADE, Novembro de 2006

O jornalista e escritor RalphBravo agora é também umhomem dos palcos. Adotan-do o nome artístico de FafáGonçalves, ele está em car-taz em “Rahula”, do diretorRoger Bonini. Até o final doano, a peça estará em palcosdas regiões dos Lagos, Ser-rana e Norte do Estado.

Desenhos de rostos famosos, em grafite, são algumas das obras doestudante Júlio César Silveira, de 20 anos. Aluno da Escola EstadualMiguel Couto, em Cabo Frio, o jovem teve seu talento descobertopor professores e coordenadores de ensino da cidade, que incenti-vam seu trabalho artístico.

Simone MendonçaG e n t e

O comerciante Sebasti-ão Cardoso faz suces-so com o cardápionada light que serve noseu bar, na Estrada doRetiro, em São Pedroda Aldeia. Entre asdelícias que ele preparaestão Carne SecaAcebolada, Carré eFeijoada. No Bar doTião, as mesas sãodisputadas por clientesde todas as partes daRegião dos Lagos.“Aqui tem sempremovimento e eu nuncafiz propaganda. Osfregueses que espa-lham que a comida éboa”, diz.

Cumprimentos ao Chef

Descoberta

Nos palcos

Há três anos dirigindo o Salinas Grill, Mauricio Marcondes (e amulher, Sueli) faz de tudo, da escolha do alface à compra das facaspara a cozinha. Atendendo a 300 pessoas diariamente, ele só temeter que abandonar seu lado introspectivo.

Poderosa personagem buziana, discreta, charmosa, inteligente,

presença constante nos mais badalados eventos da cidade.

Mulher carismática e de uma beleza ímpar. Mais cara de

Búzios, impossível.

Point

gastronômico

Renata Deschamps

Page 34: Novembro 2006

Crise financeiraameaça o únicoasilo para idosos deCabo Frio

Tati Bueno

Fotos Marconi Castro

ma grave crise financeira ameaça co-locar na rua os dezessete idosos doLar da Cidinha, único asilo de Cabo

Frio e que sobrevive com verba da prefei-tura (através da secretaria de Promoção So-cial) e doações administradas pela Paró-quia de Nossa Senhora da Assunção. Comgasto anual de R$ 240 mil, o Lar assinouconvênio com a prefeitura de R$ 180 mil/ano (R$ 60 mil a menos do que valor gas-to), sendo os restantes R$ 15 mil, doados acada mês.

Administrador do asilo, Ronaldo deOliveira lembra que o convênio foi entre-gue à prefeitura em dezembro do ano pas-sado, “mas devido à burocracia, a assina-tura só aconteceu em maio deste ano, e aliberação da primeira parcela foi realizadaem julho, no valor de R$ 40 mil”.

A prefeitura só voltou a depositar emsetembro (mais R$ 20 mil) e outubro (R$ 38mil pagos em duas parcelas). De janeiro amaio a instituição pegou empréstimos naIgreja para pagar os funcionários. “Quan-do recebemos a primeira parcela, em julho,quitamos parte da dívida com a paróquia, efizemos o mesmo com os dois meses seguin-tes”, diz Oliveira. Ainda assim a dívida con-tinua grande (já chegou a mais de R$ 100mil), porque os valores repassados pelaprefeitura continuam em atraso. Até o finalde outubro a dívida da prefeitura de CaboFrio com o Lar da Cidinha era de R$ 37 mil.

É com este dinheiro que o asilo pagaseus funcionários. São vinte e duas pes-soas especializadas no atendimento ao ido-so (médico, enfermeira chefe, nutricionista,fisioterapeuta, assistente social, técnicasde enfermagem, auxiliares de enfermagem,cozinheiras, motorista e auxiliares de admi-nistração), profissionais que ficam à dis-posição do asilo durante 24 horas.

Idosos ameaçados

de despejo

C a b o F r i o

U

Page 35: Novembro 2006

Infelizmente, há sempre uma desculpapara o atraso da verba. Mas este dinheironão sai dos cofre da prefeitura. “É uma ver-ba doada pelo Governo Federal. A secreta-ria de Promoção Social apenas nos repas-sa este dinheiro, que não pode, de maneiraalguma, ser desviado para outros fins, dizOliveira.

Prefeitura: está “tudo bem”

Sueli Mendes, secretária de PromoçãoSocial, não foi localizada. Numa das tenta-tivas através do celular dela, uma funcio-nária da secretaria, identificada apenascomo Silvana, atendeu a ligação informan-do que a secretária não se encontrava. Se-gundo ela, “está tudo bem com o Lar daCidinha: o processo está em andamento, ea verba está sendo liberada aos poucos.Existe um trâmite a ser seguido. Não existeproblema algum com o Lar da Cidinha”.

Um projeto de amor

O Lar da Cidinha foi fundado em 1995pela Paróquia de Nossa Senhora da As-sunção. A casa, de propriedade da famíliaGallo, foi doada à igreja para ser uma cre-che, mas teve outra utilização.”Era desejoda mãe de Carlos Gallo, Dona Cidinha,transformar a casa em creche. Como a pre-feitura já tem a creche Casa de Maria, deci-dimos abrir este asilo, e demos a ele o nomede Lar da Cidinha, que funciona como umafilial da Mitra Arquidiocesana de Niterói”.

A todos os internos o Lar da Cidinha

oferece cinco refeições, atendimento de hi-giene e limpeza, jogos de salão, pequenostrabalhos manuais, acompanhamento 24horas por dia das necessidades dos aco-lhidos e busca intercalar a atividade roti-neira com atividades de lazer, sociais e reli-giosas que visam o bem-estar do abrigado,sempre com orientação médica. São dezes-sete os idosos acolhidos no asilo e apenascinco não têm para onde ir, e são os únicosque devem continuar aqui nos próximosmeses, porque se a coisa continuar comoestá, vamos fechar as portas”, diz Oliveira.

RONALDO DE OLIVEIRA

Administrador do asilo

LAR DA CIDINHA

Dívidas de mais de R$ 100 mil

A pior desculpa foi que odinheiro estava atrasado porquea prefeitura teve que remanejarverbas para outros fins

3 5CIDADE, Novembro de 2006

Page 36: Novembro 2006

3 6 CIDADE, Novembro de 2006

ascido em Buenos Aires, torcedor doBoca Juniors, o fotógrafo MarceloLartigue chegou ao Rio de Janeiro

no final dos anos 70, com o intuito de en-trevistar um Garrincha decadente, alcoóla-tra, triste. Lartigue foi algumas vezes até acasa de Mané, em Bangu, onde descobriuque os vários troféus do ponta-direita ti-nham somente a parte inferior: o restantetinha sido vendido para pagar contas – emgeral, no boteco.

A Argentina ainda tinha dinheiro eLartigue era um repórter fotográfico abo-nado. Assim, pôde levar Garrincha a SãoPaulo, de trem, para ver Elza Soares no pal-co. Fez dezenas de fotos do ex-jogador, mas,infelizmente, Ruy Castro somente conhe-ceu tais fotos depois que Estrela Solitária,a biografia do ponta-direita botafoguensee da Seleção Brasileira, estava pronto.

O interesse pela fotografia é de sem-pre, “mas sou meio palhaço”, confessa.“Faço muita foto falsa, sem filme na máqui-na. Gosto mais da ação, de preparar a foto-grafia, do que da própria foto”. Gosta tan-to que fez fotos de casamento sem filme,apenas para ver as pessoas se preparandopara o clique.

Em Havana, numa visita comandada por Anthony Garotinho, o falante fotógrafo argentino e buziano Marcelo Lartigue conseguiu

o quase impossível: uma foto ao lado do líder Fidel Castro, os dois únicos barbudos num encontro de políticos do interior

fluminense com o cubano. Isso depois de algum entrevero com os seguranças, que não concordavam com a presença de uma

máquina fotográfica nas proximidades. Lartigue reclamou tanto, e com o próprio Fidel, que o ditador teve que explicar:

“Pegaram sua máquina porque usted, com essa barba, parece um terrorista”. Se Havana conheceu Lartigue há pouco, Búzios

está acostumada com a presença irreverente do editor do Perú Molhado, mais antigo jornal da cidade, e não seria inesperado

saber que o argentino está para se tornar comendador.

De frente para o mar, no belo e histórico restaurante Cigalon, na rua das Pedras, Marcelo Lartigue lembrou algumas passagens

da sua vida brasileira, enquanto finalizava a montagem de Babel Oculta, o filme que acaba de realizar e que tem estréia

marcada para o Festival de Cinema de Búzios, em novembro. Nele, reúne entrevistas curtas com representantes das 56

nacionalidades que convivem na cidade que, um dia, Brigitte Bardot apresentou ao mundo. E que Lartigue adotou, para a

graça e desespero de amigos e adversários.

Marcelo Lartigue

editor

Hoje o que mais gosta é de fazer mon-tagem: Armando Ehrenfreund, secretário deTurismo de Búzios, foi a Moscou e trouxeuma foto. Lartigue, no computador, fez comque Wladimir Putin, líder russo, recebesseo brasileiro no aeroporto. “As pessoas acre-ditam piamente. Faço de conta que enviocorrespondentes à Europa e ao Oriente,monto as fotos e as pessoas perguntamcomo é que consigo pagar essas viagens”.

Seduzido por um general

Certa vez, no dia dos Pais, em agostode 1979, uma criança perguntou ao generale presidente Figueiredo o que ele faria setivesse que educar um filho ganhando sa-lário mínimo. O último general do ciclo mili-tar respondeu à maneira Figueiredo: “Da-ria um tiro na cabeça, meu filho”. Lartigue– que não tinha decidido onde viver – as-

Marco Antonio de Carvalho

Fotos Filmers 9900

A r m a ç ã o d o s B ú z i o s

“Os governos caem, e o Perú continua de pé”

Marcelo usando o carro da

redação do Perú.

N

Page 37: Novembro 2006

3 7CIDADE, Novembro de 2006

As pessoas passam e mecontam coisas. A notíciavem ao jornal, o jornal nãocorre atrás da notícia

Page 38: Novembro 2006

3 8 CIDADE, Novembro de 2006

sistiu à fala presidencial pela televisão edecidiu: “Vou morar aqui mesmo!”

Logo depois um suicida subiu ao topode um edifício, no centro do Rio, e durantehoras ameaçou se jogar. As horas passa-ram e nada do homem se atirar – o que fezcom que a patuléia, lá embaixo, exigisse osuicídio: “Se joga logo, porra!”, “Covar-de!”, “Preciso trabalhar, suicida filho daputa!” Quando, por fim, o homem foi retira-do pelos bombeiros, a polícia teve que in-tervir, evitando que a multidão o linchasse.E o fotógrafo argentino teve a confirmaçãode que o Brasil seria seu novo lar.

“Não ligo muito para futebol”, confes-sa. Somente em jogos de Copa do Mundo,quando faz questão de dizer que, apesarde viver aqui há mais de trinta anos, torcecontra o Brasil. Fora do futebol, é um fran-co-atirador, zombeteiro e anti-nacionalista:quando da “palhaçada” da guerra dasMalvinas, em 1982, Lartigue foi visto doan-do sangue para os soldados ingleses. Re-cusou-se a ser enganado pelo governomilitar comandado por Galtieri. Hoje, qua-se não volta ao país natal: “Por mais boni-to que seja, tem muito argentino”.

Lartigue viaja muito e esteve váriasvezes em Nápoles, única cidade que o le-vou a pensar em abandonar o Brasil: lá aconfusão é ainda maior. Era o tempo dadupla Maradona-Careca no Nápoli e ele seapresentava com um “soy argentino” e erarecebido com uma saudação que abria to-das as portas: “Maradona!” Não se davapor contente e acrescentava: “E vivo noBrasil” e ouvia os gritos: “Careca!” Masgosta demais do Brasil, é casado com umaacreana, tem uma filha de dez anos, Eva,que nasceu em Búzios. “Tem gente queacha que é por causa de Eva Perón. Não: épor causa de Eva Monteiro de Carvalho”.

Irreverência

O Perú Molhado, jornal que Lartiguecomanda há vinte e cinco anos – hoje sozi-nho, depois de mais uma década em con-junto com Aníbal Fernando – nasceu deuma aposta com o artista plástico campistae cosmopolita Ivald Granato, que afirmounuma mesa de bar que o argentino não con-seguiria lançar um jornal em Búzios emcurtíssimo espaço de tempo. Lartigue acei-tou o repto e, em três dias, o jornal foi paraas ruas – onde permanece.

E como sobreviveu todo esse tempo,sendo um jornal tão desrespeitoso? Antesde tudo, com o apoio dos mecenas (quenem por isso estão livres de uma ou outra

zombaria nas páginas do jor-nal que patrocinam), sejameles empresários ou políti-cos. “O Perú sai quandopode”, lembra Lartigue.

“Fico sentado aqui, emfrente ao Cigalon”, explicaseu método de trabalho. “Aspessoas passam e me con-tam coisas. A notícia vem aojornal, o jornal não correatrás da notícia”. A redaçãoé hoje (literalmente: amanhãpode ser diferente) formadapor Sandro Peixoto, ex-co-veiro, agora repórter. Môni-ca Casarin abandonou o bar-co há pouco porque o jornalnão pagou durante sete me-ses. Mas ainda é simpática à causa.

Marcelo Lartigue, ao contrário dos jor-nais que se pretendem imparciais e sérios,deixa claro que é “um mercenário: se pagarum espaço no jornal, pode falar o que qui-ser. Somos éticos, mas nossa ética dura umasemana. O Perú Molhado é um jornal demoral variável”. Essa, afirma, é a “cara deBúzios. Quero que a irreverência volte. Acidade está muito careta, muito religiosa.Por isso faço essas barbaridades”.

Nem todos gostam, claro, do desres-peito que o jornal dedica a todos e a tu-do: “Já sofri ataques violentos”, lembraLartigue, “quebraram meu nariz, apanhei,fui processado. Agora coloco o Sandrona frente, qualquer ataque vai pegá-loprimeiro, eu digo que a culpa é dele”. Talreação se deve, em parte, “ao costumedas prefeituras de inventar jornalistas ejornais, o que gera uma péssima quali-dade de jornalismo: eles se tornam fun-cionários públicos”. Lartigue não pode-ria ser um funcionário desses: fuma cha-ruto e faz questão de fazer humor comseu Perú. Há vinte e cinco anos.

Barbudos famosos: Fidel é o da esquerda

A r m a ç ã o d o s B ú z i o s

Somos éticos, mas nossa

ética dura uma semana. O

Perú Molhado é um jornal

de moral variável

Page 39: Novembro 2006

3 9CIDADE, Novembro de 2006

ra uma vez um homem forte e po-deroso, dono de um grande palá-cio, cercado de terras férteis, belas

e verdejantes. Apesar de todo esse es-plendor, era um homem carrancudo e mal-humorado, que jamais sorria e pareciadesconfiar de todos. E proibia qualquertipo de festa em seus domínios.

Seus filhos e escravos, no entanto,pressionaram e insistiram de tal forma epor tanto tempo – algumas vezes sendoexpulsos, presos e mesmo mortos – que,enfim, com um gesto de desdém, o gran-de homem aceitou que as festas fossemmais uma vez realizadas em seu reino.

Mas não se deu por vencido: com oapoio de ajudantes e capatazes, o ho-mem baixou um decreto que devia sercumprido por todos: a partir daquelemomento as festas voltariam a ser reali-zadas – mas todos, absolutamente todosos habitantes daquele reino estavam obri-gados a participar dos bailes. Inclusiveaqueles que não sabiam dançar.

Fixou o dia certo e único para a festae avisou que ninguém podia se recusar aparticipar. E anunciou, através dos arau-tos, que as festas eram livres – mas queo ausente teria que se explicar diante dostribunais; ameaçou com multas que elepróprio iria determinar e disse que umaexplicação não aceita poderia levar esteausente à prisão. Feito isso, o grande ho-mem sorriu e voltou a adormecer esplen-didamente.

Esta alegoria poderia retratar a situa-ção política brasileira, se por bênção dasmusas eu fosse Esopo, La Fontaine ouAndersen. Infelizmente, não é o caso, oque me leva a retomar à questão: acaba-mos de sair das eleições 2006 e, segundoa constituição, partidos políticos e ór-gãos de comunicação, estas foram elei-ções livres e nelas o cidadão exerceu oque chamam de direito ao voto.

É uma falácia: o voto no Brasil jamaisfoi um direito: é uma obrigação. Por maisque o Estado insista em afirmar que aseleições são livres, a verdade é que, his-toricamente, o voto foi proibido duranteboa parte da centenária república brasi-leira. Ou, como ocorre agora, é obrigató-rio. Livre, jamais.

Ora, para os partidos brasileiros sãotrês os motivos básicos para a manuten-ção do voto obrigatório: este seria um“mal necessário” e, para se adotar o voto

Marco Antonio de CarvalhoO P I N I Ã O

O VOTO OBRIGATÓRIO É UMA OFENSA AO CIDADÃO

livre, dizem eles, deve-se descobrir qualo percentual de eleitores que o desejam– um argumento que pode levar um ana-lista apressado a concluir que a liberda-de e a cidadania são questões de estatís-tica. Segundo: os partidos parecem crerque o voto é uma panacéia universal eque, a partir do momento que todo brasi-leiro votar, o país caminhará por si só emdireção ao seu esplendoroso futuro. E,terceiro: os políticos afirmam temer que,com o voto livre, os excluídos – milhõesde miseráveis, analfabetos, desnutridos,desinformados e desempregados, quesomam cerca de 50% da população bra-sileira – seriam definitivamente esqueci-dos pelo Estado.

Este último argumento (o mais utili-zado pelos que se recusam a pensar) de-nuncia exatamente o que quero provar: opaternalismo, o coitadinhismo que as eli-tes brasileiras (a dita esquerda, inclusi-ve) gostam tanto de adotar em relação àpopulação, a retórica caritativa – “é pre-ciso cuidar do povo, dar a mão, ensinar ocaminho” –, como se o país fosse habi-tado apenas por órfãos, frágeis, assus-tados e inconscientes.

O fato é que o debate sobre o votolivre não interessa às elites políticas bra-sileiras (que perderiam um pouco do es-paço onde exercem seu paternalismo);não interessa às elites intelectuais (to-das atreladas a esse ou àquele partido);e não interessa aos meios de comunica-ção (ligados a grupos políticos e ao pen-samento paternalista).

Mas se, no fim, com a adoção indis-pensável do voto livre no Brasil, menosda metade dos eleitores se interessarempelo exercício de votar (como ocorre hádécadas e décadas nos Estados Unidose na Europa), tal fato será a confirmaçãodo óbvio: são os candidatos que devemse modificar, melhorar seu discurso e atra-ir o eleitor. Porque somente o voto livree consciente pode refletir o que quer umasociedade em termos (e apenas aí) elei-torais. O voto obrigatório só interessaaos partidos e aos candidatos. O votolivre é vital para a conquista definitiva ea solidificação da democracia no Brasil.

Marco Antônio de Carvalho

é escritor e jornalista

E

Dois meses após a Operação Eu-terpe ter sido deflagrada, o Ibama CaboFrio ganha nova diretoria. Interinamen-te no cargo desde que o então cheferegional Alípio Villanova do Nascimen-to foi afastado e preso acusado deenvolvimento na venda de licençasambientais, Cristina Kelly Albuquerquedeixa o cargo no início deste mês, sen-do transferida para um escritório da re-gião do Centro Norte Fluminense. Nolugar dela assume, como chefe do es-critório regional, em Cabo Frio, LísiaVanacôr Barroso, até então funcioná-ria da Superintendência do órgão, noRio de Janeiro.

Com relação às investigações daOperação, a Polícia Federal ainda man-tém sigilo. Mas, segundo a assessoriado Ibama, no Rio, Alípio e Alexandrede Albuquerque Braile (analista am-biental em Cabo Frio) já foram soltos,mas continuam impedidos, pela Justi-ça, de entrar no prédio do órgão.

Alípio e Alexandre foram presos nofinal do mês de agosto, junto com ou-tras 33 pessoas em todo o Estado, to-das acusadas de corrupção na libera-ção de licenças ambientais em CaboFrio e cidades da Região dos Lagos,além de Angra dos Reis e outros muni-cípios do Estado.

As últimas prisões aconteceram nodia 30 de agosto. As investigações cor-rem em segredo, mas policiais federaisacreditam que através do depoimentodos acusados novas prisões possamacontecer em todo o Estado, desta vezenvolvendo empresários da constru-ção civil na cidade e outros cantos doRio de Janeiro. Também poderá ser de-cretada a demolição de obras e condo-mínios já existentes, cujas licençasambientais sejam, comprovadamente,fraudadas.

MEIO AMBIENTE

Ibama tem

novo diretor

Funcionários presos naOperação Euterpe, emCabo Frio, são colocadosem liberdade

Page 40: Novembro 2006

4 0 CIDADE, Novembro de 2006

Page 41: Novembro 2006

4 1CIDADE, Novembro de 2006

Page 42: Novembro 2006

4 2 CIDADE, Novembro de 2006

E s p e c i a l

PAULO HENRIQUE DOS SANTOS

Trabalhador rural ainda

empregado

om uma Zona Rural que ocupa mais de 20% do território,podendo ser considerada a maior em extensão de toda aRegião dos Lagos, São Pedro da Aldeia já pôde se orgu-

lhar de ser um município produtor com alguma importância.Mas esse tempo ficou para trás, junto com o fim do ciclo dalaranja, encerrado após a ocorrência de uma praga, em 1994,que exterminou toda a plantação e deixou os moradores à mín-gua, dando início a uma debandada que pode ser sentida nosnúmeros do esvaziamento demográfico da região.

Segundo dados do IBGE, na década de 70, havia (emnúmeros redondos) cerca de 14 mil habitantes na Zona Ruralaldeense. Em 1980, esse número aumentou para 18 mil. Nosanos 90 não houve crescimento e agora a população voltaaos mesmos 14 mil dos anos 70. Mas, como vive essa gentehoje?

De acordo com a Secretaria de Agricultura aldeense, a pe-cuária passou a ser a maior fonte de renda do campo, seguidada plantação de aipim e mandioca, um pouco de milho, bananae eucalipto, esse plantado em apenas uma fazenda à beira daRodovia Amaral Peixoto, no bairro São Mateus.

Segundo o secretário Aluysio Martins, a prefeitura apóiaos produtores da Zona Rural como pode, através da distri-buição de sementes, dentro do programa PRONAF, em par-ceria com o Sebrae, e com poucas máquinas.

- Nos desdobramos para atender o homem do campo,mas estamos sempre enfrentando problemas como quebrade máquinas, burocracia e outros - explicou o secretário.

Junto com o esvaziamento, registrou-se também um ou-tro fenômeno: a expansão imobiliária com o loteamento, paraconstrução de casas, das antigas propriedades, o que podeser observado na Rua do Fogo e adjacências, que pouco ounada tem hoje que lembre uma Zona Rural.

Tentando evitar o agravamento do problema, o Plano Di-retor do município limitou em 20 mil m2 a área dos lotes,impedindo assim a proliferação de loteamentos.

- Aquela região estava à beira da favelização, e o PlanoDiretor, através da criação da Zona de Uso Agropecuário,veio para frear isso. Agora, o terreno só pode ser vendido emlotes inteiros de 20 mil m2, que não podem ser divididos.

HÁ VIDA

NO CAMPORenato Silveira

Fotos Marconi Castro

C

RONALDO ALVES

“Hoje a gente sobrevive”

LUIZ SOARES

“Tenho que me virar”

Page 43: Novembro 2006

4 3CIDADE, Novembro de 2006

Pequenos produtores ainda sobrevivem

O fim do ciclo da laranja marcou definitivamente a vidados moradores da Zona Rural aldeense. Plantada pelos por-tugueses, que eram os proprietários da maior parte das ter-ras locais, a laranja, pela sua abundância e venda fácil foi,durante décadas, a mola propulsora daquela economia. De-pois disso, só pasto, gado, e agricultura de subsistência.

Morador no bairro da Cruz, Luís Soares planta aipim ecria galinha e porco no pequeno quintal de sua propriedade,mas apenas para sobrevivência, nada vendendo daquilo queproduz. Sua renda vem mesmo é do trabalho na cidade, nasecretaria de Saúde.

- É como eu tenho de me virar. Não tenho uma proprieda-de grande a ponto de plantar para vender, nem estruturapara isso. O que garante minha vida mesmo é o emprego queme paga um salário fixo na cidade - lamenta.

O proprietário da “birosca” localizada na área central dobairro, Ronaldo Alves, atesta a decadência econômica da-quela região. Comerciante há mais de 20 anos, conta que aprosperidade do local era baseada muitas vezes em trabalhoescravo, e que os agricultores muitas vezes eram obrigadosa gastar tudo que ganhavam nas chamadas ‘vendinhas”,que tinham como donos, obviamente, os patrões.

- Isto aconteceu na época da laranja, mas depois queveio a praga, eles mandaram o pessoal embora e passaram acriar gado, que precisa de muito menos empregados. Hoje, agente sobrevive aqui no comércio, só que boa parte foi em-bora, porque não tinha mais trabalho.

José Galdino, também morador do bairro da Cruz, plantafeijão, milho e amendoim para seu patrão que vive no Rio deJaneiro. Quase toda a produção é levada para a cidade, e opouco que sobra, distribui para os amigos.

- A gente planta aqui, mas não tem muito lucro não, nemapoio da prefeitura. Trabalhamos para sobreviver.

Duas Vendas

Em Três Vendas, bairro batizado com esse nome devi-do ao número de estabelecimentos comerciais existentesno local, a crise já provocou o fechamento de uma delas,na década de 90, restando agora apenas duas. Paulo Hen-rique dos Santos sobrevive com um salário de R$ 500para tomar conta da propriedade do português AbílioRibeiro, hoje administrada por seu filho David. As resi-dências dos trabalhadores construídas no auge do cicloda laranja, foram abandonadas e hoje são ocupadas “defavor” pelos resistentes.

- Vivemos aqui sem apoio de governo nem de ninguém. Aminha mãe mora em uma dessas casas, que já estão muito ve-lhas, sempre precisando de reforma. Na propriedade, plantamosaipim e criamos gado de leite e corte, vendidos nos supermerca-dos - disse ele.

Como em São Pedro da Aldeia não há mais linhas munici-pais de ônibus regulares, a população da Zona Rural selocomove através das poucas kombis que fazem o chamado“transporte complementar”, ou nas também escassas linhasintermunicipais, ou ainda, de carona.

JOSÉ GALDINO

“ A gente planta aqui mas

não tem muito lucro”

Região tem muitas áreas

de pastagem

Page 44: Novembro 2006

4 4 CIDADE, Novembro de 2006

Diz uma expressão popular que “San-to de casa não faz milagre”. Ledo enga-no. Santo de casa faz, sim, milagres. E agrande verdade é que os milagres foramfeitos na frente de nosso nariz, em plenaFesta Portuguesa de Cabo Frio. Agora omilagre esperado não veio. A tal bandaque teria tocado com o mestre Tim Maia,está muito longe de lembrar os embalosdo velho e bom Tim. Outra decepção foicom os músicos que tocam com o Jô Soa-res. Francamente. Aliás, classifico comodesrespeitosa a apresentação do sexteto,do qual, só apareceram cinco. Como to-cam mal. E o que é pior. Não foi um show,mas uma porção de músicas com arran-jos feitos na hora. Lamentável. Pelo me-nos ficou provado que a banda do Jôdeve continuar mesmo é tocando a me-tade das músicas.

Agora, o milagre que ninguém queraceitar. Ou pelo menos que todos sabiame insistem em não ver. Como tocam osmúsicos cabo-frienses. Tocam tanto quegente como o baixista João Uchoa, o ba-terista André Amom e outros músicosviajaram por diversos países da Europamostrando o que sabem fazer; tocar bem.O show com a cantora Assumpção Beran-ger foi impecável. A cantora mostrou ver-satilidade, afinação e presença de palco.Tudo o que precisa um bom artista. Abanda Nomenow a gente conhece de lon-ga data. É musica e instinto puro. ViníciusSanta Rosa dispensa comentários. E ogrupo Bossa na Rua? Coisa muita fina.Rodrigo Sax no comando e tudo aconte-ce dentro do ensaiado. E assim foi a Fes-ta Portuguesa. Um mar de boas apresen-tações musicais. E o show Alceu e eu?Com o incrível e multifacetado Fred tam-bém acompanhado por competente ban-da? Todos os momentos em que os mú-sicos locais participaram foi verdadeira-mente um show para provar que santode casa faz milagre, sim. Sabe o que fal-ta? Incentivo local. A começar pelo res-peito de quem contrata, que trata os mú-sicos de fora de forma diferente. A can-tora Joana, por exemplo, passou o som enão deixou mais nenhum artista localpassar o som. Resultado: os músicos daterra ficaram prejudicados e ninguém feznada.

Por outro lado, os músicos locais es-tavam satisfeitos pela oportunidade queo prefeito Marquinho Mendes criou paraque todos se apresentassem. É a gera-ção de trabalho e renda. Bem, a rendanão foi lá essas coisas. Isso também pre-cisa ser revisto. Todos os músicos recla-mam que a prefeitura sempre joga parabaixo os valores dos cachês. Por queisso? Nossos músicos são tão bons queacompanham e gravam com a maioria dosartistas brasileiros que os contratam pelaqualidade e profissionalismo. Uma pro-va foi o show de Sandro Guimarães como bluesman Cláudio Zoli. Aliás, Sandrotambém toca muito na Europa e por láninguém joga para baixo na hora de pa-gar.

No 1º Festival Humanitário de Rocknão foi diferente. As bandas locais, comoa Stratus, formada por músicos de SãoPedro da Aldeia, teveram performance im-pecável, unindo atitude e som de primeira.

Então é isso. Nossa gente bronzeadamostrou seu valor no palco e provou quena hora da apresentação o que importa éo respeito com o público. Por isso queessa rapaziada ensaia muito. O balé deMárcia Sampaio já colocou a cidade deCabo Frio na rota dos grandes espetácu-los da dança no país. Enfim, talentos te-mos muitos, só precisam ser reconheci-dos e valorizados. O resto eles sabemfazer e muito bem. Por favor, deixem ossantos de casa trabalhar.

Política num momento único

Inevitável. É preciso falar de política.Passadas as eleições estamos de volta àpolítica doméstica. Que cresceu muito. Épreciso abrir os olhos para ver o momen-to político de nossa região. Pela primeiravez na história, teremos uma força políti-ca em todas as esferas do poder. Senãovejamos: a Costa do Sol tem a força dopresidente Lula, um senador, um gover-nador, um deputado federal, dois depu-tados estaduais; e em Búzios, São Pedroda Aldeia e Cabo Frio, os prefeitos têm amaioria nas Câmaras. Temos aeroportointernacional, um porto e os dois melho-res destinos turísticos do estado e dopaís. É preciso refletir. Se a região não seorganizar agora, será quando?

A r t i g o

Walmor Freitas

Santo de casa faz milagre,

sim senhor!

Expirou o prazo dado pela prefei-tura de Búzios à Coopergeribá Búzios(cooperativa de transporte alternativo)para troca dos veículos que fazem aslinhas Tucuns - João Fernandes e JoséGonçalves - João Fernandes. A partirde agora, fica proibida a circulação detowners, que deverão ser substituídaspor kombis. O número de carros tam-bém vai diminuir e passar dos atuais150 para apenas 50 veículos. As no-vas normas pretendem regularizar a ati-vidade que é praticada sem nenhumaforma de fiscalização ou ordenamento.

Motoristas que ficaram de fora da lista

pedem o apoio dos vereadores

Cerca de noventa motoristas, quenão foram incluídos na lista dos 50 ti-tulares, pediram o apoio da CasaLegislativa para reverter a situação.

- Não concordamos com os critéri-os de escolha do grupo de 50 titulares.Queremos ter o direito de participardesta escolha. A escolha não foi clara,foi feita às escondidas e privilegiougente que está há pouco tempo traba-lhando na linha. Queremos justiça –afirma João Batista, motorista conhe-cido como Gaúcho.

Os motoristas não querem parar detrabalhar nas linhas da Coopergeribáe pedem para continuar com astowners pelo menos até o final do ve-rão, quando, alegam, estarão mais ca-pitalizados para assumir a compra daskombis.

Towners fora das ruas

em Búzios

Page 45: Novembro 2006

4 5CIDADE, Novembro de 2006

Escolhida este ano entre os doze melhorestextos do Concurso Nacional deDramaturgia da Funarte, Magia das Águas,de José Facury, acaba de ser lançada emlivro pela Vertente Cultural, com prefáciodo crítico de teatro infantil do Jornal doBrasil, Carlos Augusto Nazareth, numa re-alização do Centro de Pesquisa e Estudodo Teatro Infantil – CEPETIN. Comenfoque na ecologia, a peça narra a traje-tória de dois pescadores tragados pelo marrevolto que ao chegarem ao fundo do marencontram Netuno irritado com as suces-sivas ações humanas causadoras de po-luição. Frente à ira de Netuno, que ameaçainvadir tudo numa manifestação de des-controle ambiental, os pescadores travamdelicada negociação em que intermedeiamem nome da classe, na qual a consciênciados pescadores na lida com a natureza irádeterminar sua defesa. A peça estréia emCabo Frio no dia 8 deste mês, em versãopara a rua, no Largo de São Benedito, naPassagem, e no domingo, dia 12, terá suaencenação no palco do Teatro Municipal.

Um ano após trazer Meu Querido Canibalàs mesas literárias da Festa Portuguesa, emCabo Frio, o romancista Antônio Torres re-torna com o seu recém-lançado Pelo Fundoda Agulha (Record, 2006, 224 páginas), títu-lo com o qual encerra trilogia iniciada há exa-tos trinta anos com Essa Terra, seguido deO Cachorro e o Lobo. No novo romance,Totonhim – personagem que marcou no anode 1976 o modelo do brasileiro derrotado,marcado pelo flagelo do êxodo nordestino –, retorna como um homem urbano, envoltoem desespero e perplexidade. Escrito em tomreflexivo, o romance é um convite ao leitorpara que acompanhe algumas horas da viagem interior do personagem, comdesdobramentos de memória a partir das lembranças que vê passar no buracoda agulha em que sua mãe costura quando do seu retorno à cidade natal. Comexperiência acumulada em trinta anos de palestras e oficinas literárias mundoafora, o escritor fez uma das mais carismáticas participações nos debates literá-rios de Cabo Frio, obtendo resposta imediata do público.

A jornalista Tati Bueno, que passou comocolaboradora pelas redações do Jornal doBrasil, O Globo e foi correspondente darevista O Cruzeiro na Europa e nos EUAlançou Momentos Meus – Quase Poesia(PMCF/Secretaria de Cultura, 2006, 100 pá-ginas). Com prefácio de Marina Massari ecomposição gráfica da Quatrem1, o livro éuma compilação de pequenos textos pu-blicados em colunas que a jornalista assi-nou na imprensa regional, uma espécie deprosa poética que a autora confessa exer-cer por força da reflexão. A autora revelaque já está preparando o lançamento doseu próximo livro, em que relatará as via-gens que fez há anos pela Europa, em com-panhia da família, e que tiveram a duraçãode 50 mil dólares.

Pelo fundo da agulha

L i v r o sOctávio Perelló

Quase poesia

Magia das Águas

Page 46: Novembro 2006

4 6 CIDADE, Novembro de 2006

trajetória do teatro em Cabo Frio émarcada por fervor amador, hiatosdesanimadores, árdua profissiona-

lização e vários sucessos. Sua memória re-monta às iniciativas pioneiras dos irmãosNico Félix e Deodoro Azevedo, Cacilda San-ta Rosa, Zezé Barbosa e Antônio de Gastão,na primeira metade do século passado.

Soma-se a estas as experiências do Tea-tro Amador de Cabo Frio (TAC), nos anos1960, e dos grupos Creche na Coxia e Sor-riso Feliz, a partir do final da década de1970. E também os grupos que se formaramdeste ambiente, como a Companhia de Pes-quisa Teatral, Grupo Teatral Andança, Ba-nana da Terra, Companhia Falcatrua Tea-tral, Companhia Teatral Curare, entre tan-tos outros.

Contrariando as dificuldades, tal efer-

vescência injetou voz ao meio: “Fazemosteatro!” Ou, como quer um dos desdobra-mentos, nos dias atuais, desse ambienteartístico, o movimento Tribal: “Fazemoscultura!”

Clamor leva à construção do

Teatro Municipal

O clamor fez com que um teatro fosseerguido num governo e concluído e inau-gurado no seguinte. Raro exemplo de de-manda que não sucumbiu à mudança depolíticas, o Teatro Municipal de Cabo Friocompletará dez anos em agosto de 2007.Ocasião significativa para a demarcação decenários e indagações objetivas.

A instituição tem sido cumpridora desua função primordial de fomento às artescênicas? Promove mudança de mentalida-de, habituando o empresariado a associarseu nome à produção de espetáculos de

O TEATRO VIVE

A

C u l t u r a

Octavio Perelló / Fotos de Marconi Castro

Teatro Municipal

de Cabo Frio

Page 47: Novembro 2006

4 7CIDADE, Novembro de 2006

grupos locais? Requer finalizações de en-genharia e de ocupação de seu espaço?Tem contribuído para a formação de públi-co? Atende os anseios da classe artística?

Guilherme Guaral, ator, professor e atu-al diretor do Teatro, garante que as portasestão abertas. Concorda que o desafio dese estabelecer uma grade de programaçãoé seminal e aponta a equação para se atin-gir o objetivo: 70% de produção local e 30%para oxigenar com o intercâmbio de espe-táculos. Para valorizar os talentos locais,anuncia que o Teatro promoverá o PrêmioCidade de Cabo Frio, homenageando novegrupos da cidade que se apresentaram du-rante o ano de 2006. Vê com otimismo avalorização do espaço, apostando que osdesafios sejam vencidos com a formaçãode público e parcerias que viabilizem o tra-balho dos profissionais envolvidos.

Tablado fértil em terra de

encantos praianos

Autor, ator, diretor e professor de tea-tro José Facury, ex-diretor do Teatro Muni-cipal de Cabo Frio, não fica circunscritoaos acertos e erros das políticas culturais,e festeja o vigor que sobrevive nos fazedo-res de arte. O lastro de décadas de atuaçãopelo país afora e a vivência de quase trintaanos na região o credenciam a afiançar queCabo Frio é a cidade do estado com maiorprodução teatral depois da capital, concei-to obtido junto à Federação de Teatro doEstado do Rio de Janeiro e aos festivais,fruto da apresentação de um amplo painelde linguagem, com grande produção deteatro infantil – apontado como o melhorde todo o interior do país –, e adulto, sejacom atores ou bonecos em cena.

As sucessivas produções e premiaçõesestaduais e nacionais exaltam o vigor. Syl-vana Lima este ano obteve com A Flor docerrado, o segundo lugar do Festival Na-cional de Teatro. A magia das águas, deFacury, foi eleita entre os doze melhorestextos no mesmo concurso. Minha favelaquerida, de Clarêncio Rodrigues, um ex-poente do teatro de bonecos, entre outrasfaçanhas cumpriu bem sucedida tempora-da de cinco meses em São Paulo.

Page 48: Novembro 2006

4 8 CIDADE, Novembro de 2006

Toyota chega a Cabo Frio

A partir de outubro a Regiãodos Lagos passou a ter aprimeira revenda especializadaem automóveis Toyota. A VipMotors chega a Cabo Frio,trazendo a experiência deRivaldo Alves da Costa, nosetor há 22 anos, que investiunuma estrutura sofisticada emoderna para a loja e confiano potencial da região.“Escolhemos o nome VipMotors porque tem tudo a vercom Cabo Frio e com a marcaToyota”, afirma Costa, paraquem “o mercado está emexpansão e existe uma boademanda para carros novos”.A loja venderá todos osmodelos da Toyota, mas nãodeve comercializar apenascarros da marca japonesa.

Atendimento às Empresas

A secretaria de Fazenda daprefeitura de Cabo Frioinaugurou a Divisão deAtendimento às Empresas, nabusca de um trabalho que sejamais de conscientização doque de fiscalização. Segundoo secretário de Fazenda,Clésio Guimarães, a Divisãosubstituirá o antigo setor defiscalização da secretaria edará um atendimentodirecionado a contadores e aempresários.“A nossa média mensal dereceita de ISS é de R$ 400 mile devemos chegar ao final doano arrecadando R$ 7milhões”, espera Guimarães.A partir de janeiro de 2007 asecretaria de Fazendadisponibilizará serviços deinformação ao contribuintepela Internet e implantará osistema de emissão de notafiscal eletrônica de ISS paraos contribuintes quedesejarem fazer esta opção depagamento.

Câmara de Arraial do Cabo

vota às claras

O vereador David Dutrapropôs em projeto que asvotações da Casa Legislativade Arraial do Cabo fossemnominais e abertas e o projetofoi aprovado porunanimidade, há pouco.Segundo o vereador, a novalei vai aperfeiçoar o trabalhodo legislativo da cidade, pois,para ele, não é possível falarde ética sob o manto doanonimato. Esse projeto vaiproporcionar ao cidadão“melhor acompanhamento econhecimento do trabalho dorepresentante que ele elegeu”,acredita Dutra.

APA do Pau Brasil é

parcialmente destruída

O que era para ser uma datafestiva, em homenagem àpadroeira do Brasil (NossaSenhora da Aparecida),terminou em destruição, emCabo Frio. Uma áreaaproximada de 10 lotes daÁrea de Proteção Ambiental(APA) do Pau Brasil, no Peró,foi totalmente devastada noúltimo dia 12 de Outubro. Adenúncia foi feita porambientalistas, queinformaram sobre a derrubadade várias áreas e toda avegetação nativa, típica derestinga, na Avenida dosPescadores.Segundo Luiz Firmino,secretário do ConsórcioIntermunicipal Lago São João(CILSJ), e membro doConselho Gestor da APA, os“vândalos” teriam feito umacordo junto aos terrenosvizinhos para que fosseateado fogo na vegetaçãopara construção decondomínios. Ele explicouainda que o corte devegetação na APA “só podeser feito com licençaambiental da Feema e comautorização da Prefeitura”.- Mas as licenças jamaisautorizam a supressão de100% da vegetação. Por issonão existem dúvidas de que aação dos proprietários doslotes foi ilegal.O problema já foi levado àreunião do Conselho Gestorda APA, que investigará,ainda, a ação de devastadoresna estrada que liga a Avenidados Pescadores à Praia dasConchas, também no Peró, emCabo Frio.

Problemas na Eleição

Um dos maiores empresáriosda Região dos Lagos, FuadDiuana Zacharias não teráboas recordações da eleiçãode 1º de outubro. Pego emflagrante pelo juiz eleitoralAndré Luiz Nicolitti, Fuad foilevado ao Fórum de CaboFrio, e em seguida à 126ª DP(Cabo Frio), onde permaneceudetido por quatro dias,acusado de crime eleitoral.Fuad teria sido vítima dedenúncia anônima, sendoflagrado pelo juiz em frente auma escola no bairro daPrainha, em Arraial do Cabo,onde estaria distribuindocestas básicas e dinheiro emtroca de votos paracandidatos ligados ao PMDB.Segundo seus advogados, aprisão foi ilegal pois nãohouve flagrante, uma vez queo empresário estava distantedo carro onde o delitoacontecia.

Hotéis da Região não estão

prontos para receber

pessoas com deficiência

física

A estação mais quente do anoestá chegando e a RegiãoCosta do Sol (Região dosLagos) é o roteiro perfeitopara quase todos. Quase,porque segundo pesquisa daComissão de Turismo daAssembléia Legislativa dos110 hotéis e pousadasentrevistados, apenas 28quartos estão completamenteadaptados para receberpessoas portadoras dedeficiência. Segundo a lei nº4326 aprovada em 2004, todosos hotéis ou pousadas devemter pelo menos um quartoacessível aos cadeirantes.A pesquisa, realizada nas trêscidades que mais recebemturistas na Região, Cabo Frio,

R e s u m o

Búzios e Rio das Ostras,mostrou um quadrodesanimador: Em Cabo Frioapenas dois hotéis têmadaptações adequadas aosportadores. Em Búzios foidetectado o maior número dehotéis e com quartos prontospara receber os portadores dedeficiência. Nos 57 hotéis epousadas consultados,existem 24 vagas prontas paraestes turistas. Já entre os 15hotéis e pousadas de Rio dasOstras, há apenas doisquartos prontos.

Page 49: Novembro 2006

4 9CIDADE, Novembro de 2006

Page 50: Novembro 2006

aleriaG

Mila

“Lavadeira”

Escultura em

terracota

Page 51: Novembro 2006
Page 52: Novembro 2006

5 2 CIDADE, Novembro de 2006