24
Novembro 2010 Ano III - n o 04

Novembro 2010 Ano III - no 04 · pensar de verdade em como é esse continente além da jabulani. Nas poucas vezes em que isso foi tratado . na imprensa, pensava-se na África como

  • Upload
    vutram

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Novembro 2010 Ano III - no 04

Foco |Novembro 2010|2

Que

m s

omos

Alunos Jornalistas: Anna Beatriz Anselmi SivieroBeatriz Sabetta de OliveiraBianca Spina PapaleoCaio Piza Pedroso NogueiraCaio Tabarin StancatiCatarina Pallesi Menck de VasconcelosEduardo Shogo Mazoni SasakiÉlena Giannasi MazzeoFelipe Morelli GuazzelliGabriel Frati RodriguesGabriel Mensitieri SacardoGuilherme Barreira MarcondesIsabella BedinJacqueline Meei Jy ChenJoana Rocha da Silveira Barreto de AguiarJoão Gabriel Bentivoglio MagnerJulia Salgado FelixLucas Naime LorenzettiPedro de Alcantara Graça

Presidente do Colégio Dante Alighieri: Dr. José de Oliveira Messina

Diretor Geral Pedagógico: Prof. Lauro Spaggiari Jornalista responsável: Marcella Chartier – MTb: 50.858

Professoras Responsáveis: Renata Guimarães PastoreValdenice Minatel Melo de CerqueiraVerônica Martins Cannatá

capa:African Roots - ftw.design.comhttp://bit.ly/bKEi8A

Tiragem: 1.000 exemplares

Acesse nossos blogs:http://dante.foco.blogdante.com.br/

http://dante.catraca.blogdante.com.br/

Envie suas críticas e sugestões para o e-mail:[email protected]

Uma realização dos Departamentos de Tecnologia Educacional e Marketing do

do Colégio Dante Alighieri.

Colégio Dante AlighieriAlameda Jaú, 1061 - CEP 01420-001 - SP

Tel.: (11) 3179-4400 - Fax: (11) 3289-9365www.colegiodante.com.br

E-mail: [email protected]

Cartas

“Com os nossos agradecimentos pela dedicação com que vem desenvolvendo os estudos e a prática no campo do Jor-nalismo, emprestando-lhes uma orienta-ção científica e humana. Os Conselhei-ros, ao acompanhar o trabalho que vem desenvolvendo as colegas Valdenice, Re-nata, Verônica e Marcella, que já alcan-ça a Web TV Dante, demonstraram ad-miração pelo pioneirismo das iniciativas, apoiando-as ‘in totum’ ”.Parabéns!

José de oliveira Messina | Presidente

“...Iniciativas como esta, levando os jo-vens a entrar em contato com novas tecnologias, informação, cultura e responsabilidade social é que fazem do Colégio Dante Alighieri um referencial em educação no Brasil e no mundo.Parabéns e nosso apoio à oficina Dante em Foco!”

elaine Fairbanks | Mãe de aluno

“Muito bem. Há algum tempo estou acompanhando o blog de vocês. Boa sacada. Estou ansiosa para ver os novos passeios pela av. Paulista.”

Helena nunes | internauta

“Faço parte do conselho do dante. que-ro dar os parabéns pela apresentação na reunião dos sócios e pelas entrevistas. Parabéns!

Francisco Parente Jr. | Conselheiro

Imag

em: h

ttp:

//ww

w.s

tock

vaul

t.ne

t/ph

oto/

9924

9/af

rica

n-tr

ibal

-pat

tern

@DanteEmFoco Dante em Foco

|Novembro 2010|Foco 3

Sumário

4 | Editorial

5 | Perfil Mia Couto

6 | Adolescente africano Separados pelo oceano, unidos pela adolescência

10 | Capa Mãe de santo, azeite de dendê e samba

15 | Música Vozes da África

18 | Por quê? Curiosidades sobre a África

20 | Falaram de nós! Focados na mídia

20 | Making of Focados

3

Foco |Novembro 2010|4

Depois de praticamente um ano sem uma nova edição da Revista Foco, estamos de volta! A oficina de produção de conteúdo Dante em Foco, responsável por esta revista, agora é 2.0: engloba também a TV Dante, o blog e a atualiza-ção de nossos perfis nas redes sociais (Facebook e Twitter). Com um novo layout, mais seções e gente nova na equipe, a Revista Foco volta com este especial África.

Por que África? Não, não é apenas por cau-sa da Copa do Mundo. Afinal, a Copa do Mundo foi na África do Sul e não no Continente Africano. Na época da Copa, todos falavam de África, sem pensar de verdade em como é esse continente além da jabulani.

Nas poucas vezes em que isso foi tratado na imprensa, pensava-se na África como um só país. Um país que não tem nada além de miséria, fome, violência, guerras, memórias ruins e lágri-mas. Mas a África é um continente e não um país. Um continente com mais de 50 países, todos mui-to diferentes entre si, e que abriga um mosaico incrivelmente rico de culturas. A África também não é sinônimo de miséria, pobreza ou tristeza, mas pode, sim, ser associada com alegria, dan-ças, belas culturas.

Não podemos cair no grande perigo da única história, aquela história que nos é contada, muitas vezes, que tem como base apenas uma visão ocidentalizada da África. Temos sempre que procurar conhecer outras versões e não podem-os nunca julgar sem conhecer. Agradecemos ao professor Jackson de Farias, do Departamento de História, por ter nos ajudado a enxergar além.

Esperamos que gostem do resultado!

Por Bianca Papaleo e Lucas Lorenzetti

Editorial

Foco |Novembro 2010|4

|Novembro 2010|Foco 55

Por Joana Aguiar

Perf

il

António Emílio Leite Couto, ou apenas Mia Couto, nasceu na cidade de Beira, em Moçambique. É, de seu país, o autor mais traduzido do mundo e esteve, nesse ano, na Bienal do Livro em São Paulo, junto com outros au-tores africanos. Apresentamos, aqui, uma lista do que você precisa saber

sobre esse renomado autor:

Fez parte da Frelimo (Frente da Liberta-ção de Moçambique), e lutou contra Por-tugal pela independência do país

Foi um dos compositores do hino nacio-nal de Moçambique

É o primeiro autor africano a vencer o prêmio de literatura: União Latina das Li-teraturas Românticas

Mia Couto inventa palavras. Quando per-guntado sobre quando e por que come-çou a fazer isso, ele respondeu: “(...)o português de Moçambique, sendo o mesmo do de Portugal, não fala àquela cultura. Senti desde sempre a neces-sidade de desarranjar aquela norma gra-matical, para deixar passar aquilo que era a luz de Moçambique, uma cultura de raiz africana”

É contra a nova reforma ortográfica, que ainda não foi instalada em Moçambique, pois acredita que todas as implicações econômicas que isso requer serviriam para coisas muito mais importantes, como a ampliação do conhecimento

Mia Couto

É um grande fã de poesia, prosa e músi-ca brasileira. Admira Chico Buarque, Caetano Veloso, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Guimarães Rosa

Ele mesmo se denominou “Mia”, por ter um grande apreço por gatos

Mesmo sendo africano, tem uma cadeira como sócio correspondente na Aca-demia Brasileira de Letras

Mia acredita que as crianças atualmente estão deixando de ler não apenas livros, mas a vida. “Estão perdendo a disponibi-lidade de estarem abertos aos demais, de estarem atentos às vozes, saberem escutar”, diz. “Uma coisa que aprendo na África é esta habilidade de se contar histórias e fazer com que o livro seja uma maneira de estimular, que os meninos não sejam só consumidores de histórias, mas também produtores. Quem não sabe contar uma história é pobre de al-guma maneira”

http:

//bi

t.ly/

bXU

TL5

Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do

seu próprio sangue.Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.

Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.

Como o sangue: sem voz nem nascente

|Novembro 2010|Foco 5

Foco |Novembro 2010|6

Por Bianca Papaleo | Colaboração: Pedro Graça

Nós, adolescentes, temos nossas diferenças e semehanças. Provavel-mente imaginaríamos que adolescentes africanos têm ainda mais

diferenças em relação a nós, por estarem em outro continente. Pois bem, não têm.

Entrevistamos via dois adolescentes: Chedly Belkadhi, de 17 anos, da Tunísia, e Waseemah Khan, de 18 anos, da África do Sul. Eles nos mostraram um pouquinho de suas vidas, de seus hábitos, e

nos fizeram perceber que, apesar de vivermos separados pelo Oceano Atlântico, temos muito em comum.

Foco: Você faz alguma atividade extracurricular?Chedly: Ah, eu pratico tênis. E comecei a fazer academia esse verão.

Foco: Oi, tudo bem, Chedly?Chedly: Aham, tá tudo bem. E aí? Foco: Tudo ótimo. Vamos fazer uma entrevista com você, tudo bem? Chedly: Sem problemas.

Foco |Novembro 2010|6

Tun

ísia, B

rys

a s

ch

oo

l1

Ado

lesc

ente

Afr

ican

o

chedly Belkadhi,

|Novembro 2010|Foco |Novembro 2010|Foco

Foco: E como é, mais ou menos, sua semana?Chedly: Estudar toma a maior parte do meu tempo. Estudo 8 horas por dia! E uma boa parte do meu tempo livre eu uso para estudo extra e pra fazer lição e trabalhos de escola. É difícil achar tempo para relaxar e me divertir um pouco! Foco: Mas quando você tem um tempinho livre, o que você faz para se divertir?Chedly: Eu gosto de praticar esportes. O pessoal aqui da Tunísia joga bastante futebol. E eu também gosto muito de ler e ouvir música.

Foco: Ah, legal. E o que você gosta de ler?Chedly: Agora eu estou lendo um livro do Paulo Coelho... 11 minutos! E eu gosto de ler de tudo, menos histórias românticas... Me deixam ente-diado.

Foco: E o que você gosta de ouvir?Chedly: Eu ouço de tudo, gosto de variar. Mas na maior parte do tempo eu ouço Pop, Rock e um pouco de jazz. Além disso, eu tento passar bas-tante tempo com meus amigos, e, recentemente, com a minha namo-rada. :P

Foco: Você namora? Que legal! Conte um pouco sobre ela. Como vocês se conheceram?Chedly: Nós nos conhecemos em uma festa, temos amigos em comum. Foco: Vocês fazem o que juntos? Chedly: Nós saímos, comemos fora, nos encontramos em algum lugar, ou apenas damos uma caminhada por aí. A gente também conversa mui-to... Sobre tudo. Nós gostamos de compartilhar.

Foco: O que vocês geralmente comem?Chedly: Eu costumo comer em casa. Às vezes eu saio com meus amigos pra comer pizza ou sanduíches.

Foco: E em casa, o que você come? Chedly: Em casa costumamos comer coisas bem nutritivas!

Foco: Por exemplo, arroz, carne, grãos, milho, porco...?Chedly: Sim para quase tudo, mas não para porco! É proibido pela nossa religião. E aqui na Tunísia, a gente não come milho frequentemente, só às vezes, grelhado. Mas como eu amo, minha mãe me faz salada com milho algumas vezes.

7

Foco |Novembro 2010|8

Foco: E você sabe cozinhar? Chedly: Bem, apenas coisas simples. Sabe, omelete, panquecas, macarrão...

Foco: E você já visitou algum lugar fora da Tunísia?Chedly: Não, nunca saí da Tunísia. Eu ia fazer intercâmbio para os Estados Uni-dos, mas não fiz porque minha mãe ficou apreensiva. Ela não gostou muito da ideia do filhinho mais novo dela longe por um ano.

Foco: É... mães! O que você conhece sobre o Brasil?Chedly: Ah, sei algumas coisas. A gente estudou o Brasil em Geografia ano pas-sado. E eu sou um grande fã da seleção brasileira de futebol, principalmente do Pelé. Li a biografia dele e pesquisei um pouco, então aprendi várias coisas. Espero ter a oportunidade de conhecer o Brasil um dia, realmente me interessa! Eu quero conhecer a cultura, as paisagens.

Foco: Vale a pena, sim, conhecer aqui! Quais são seus gostos? Em música, roupas... no geral.Chedly: Eu gosto de experimentar tudo, variar estilos, crescer como pessoa. Eu sou um menino aberto. Eu gosto de conhecer pessoas, descobrir quem elas realmente são.

Waseemah khan,

Foco: Olá, tudo bem, Waseema?Waseema: Sim, e aí?

Foco: Tudo bem. Podemos fazer uma entrevista com você?Waseema: Claro.

Foco: Onde você estuda tem muitas “panelinhas”, grupinhos divididos por estereótipos?Waseema: Eu não diria grupinhos ou estereotipar pessoas... Mas tem muita fofoca. E no campus da minha faculdade tem mais de cinquenta mil pessoas, então tem muitas culturas diferentes.

Foco: E no seu tempo livre, o que você faz para se divertir com os seus ami-gos?Waseema: Na maioria das vezes vamos ao shopping, ou assistir a algum filme. E de vez em quando vamos a alguma balada.

Foco: Quais são seus gostos? Em música, roupas...Waseema: Eu amo usar jeans. E sapatos de salto alto são meus melhores ami-gos. E música... eu gosto de R&B e House Music. Eu geralmente ouço muito Ne-Yo e DJ Tiesto durante a semana.

Foco |Novembro 2010|8

Áfr

ica d

o s

ul,

du

rBa

n u

niv

ersi

Ty o

f Te

ch

no

log

y

2

|Novembro 2010|Foco

Foco: Você gosta de ler? O quê?Waseema: Eu leio muito! Meu livro favorito é Cidade do Sol, do Khaled Hosseini. Ah, e os livros da J.K. Rowling.

Foco: E qual seu prato favorito?Waseema: Lasanha!

Foco: E você sabe cozinhar?Waseema: Sei... Mas eu prefiro sair e comer comida italiana, como macarrão. A cultura sulafricana tem muitas coisas diferentes a oferecer. Nosso modo de viver é bem simples e a gente faz o melhor possível para comer bem, se vestir bem e etc...

Foco: O que você acha do Brasil?Waseema: Eu estava realmente torcendo para o Bra-sil ganhar a Copa do Mundo, mas infelizmente isso não aconteceu ):

Foco: E você já visitou algum lugar fora da África do Sul?Waseema: Infelizmente, não. Por causa de pro-blemas financeiros e também porque estudar me mantém ocupada na maior parte do tempo. Sabe, meu objetivo de vida é viajar o mundo inteiro, co-nhecer pessoas novas... E também ajudar pessoas ao redor do globo. Quem sabe um dia esse sonho não vire realidade!

Perguntamos ao Chedly e à Waseema: qual o seu top five musical? Veja as

respostas deles – e a minha – e repare como até nisso

somos parecidos:

Chedly

Pain (Three Days Grace)You Rock My World (Michael Jackson)Gangsta’s Paradise (Coolio)My Immortal (Evanescence)Overcome (Within Temptation)

Bianca Thanks for the Memories (Fall Out Boy)Breathe no More (Evanescence)Never Too Late (Three Days Grace)Receiving End of It All (Streetlight Manifesto)Ohio Is For Lovers (Hawthorne Heights)

Waseema Bottoms Up (Trey Songz)Your Love (Nicki Minaj)Riding Solo (Jason Derulo)Fancy Footwork (Chromeo)Deuces (hris Brown)

|Novembro 2010|Foco 9

a tecnologia a serviço da comunicação

FOTO

: AU

DIO

VISU

AL

TOP FIVE

Foco |Novembro 2010|10

Mães de Santo, azeite de dendê

e sambaMesmo tendo sido acorrentados à escravidão, os negros africanos conseguiram fortalecer e expandir sua cultura, tornando-a parte essen-

cial das raízes brasileiras

Por Lucas Lorenzetti

Bettina Orrico É consultora gastronômica da revista Cláudia, da editora Abril, desde 1967 e especialis-ta em gastronomia brasileira.

foto

: Nat

ália

Gar

cia

Foco - Quais são os principais pratos africanos que chegaram ao Brasil?Bettina - Os pratos mais conhecidos são o caruru, o vatapá, o efó e o arroz de hauça. Eles eram comidas oferecidas aos santos e foram se modificando conforme começaram a ser feitos por aqui. Mas a culinária africana é muito maior do que a que está presente no Brasil.

Foco |Novembro 2010|

Gastronomia

Foco |Novembro 2010|10

|Novembro 2010|Foco 11

Reginaldo PrandiÉ professor do programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP e pesquisador das re-ligiões afro-brasileiras.

foto

: arq

uivo

pes

soal

Foco - Quais as principais religiões africanas que vieram para o Brasil?Reginaldo - Foram várias etnias, mas as principais foram a iorubá, que trouxe o can-domblé na Bahia, xangô em Pernambuco, nagôs na Bahia e em Pernambuco, Tambor de Minas no Maranhão, o Candomblé geges, também na Bahia, a bantos, que trouxe os Candomblés bantos. Uma outra religião que foi muito importante foi a Batuque no Rio Grande do Sul, que provavelmente surgiu de escravos que já estavam aqui.

Foco - Alguma delas ficou sem nenhuma modificação?Reginaldo - Não. Houve na história dois movimentos importantes: um que fez com que os negros negassem sua religião e virassem católicos e, mais tarde, o de africanização, com a liberdade religiosa, que tinha como objetivo fazer com que a população brasileira começasse a seguir as religiões africanas.

Foco - O que a nossa gastronomia tinha em comum com a africana?Bettina - Os africanos, quando chegaram no Brasil, ficaram surpresos com a quantidade de dendê presente no Nordeste, era um ingrediente muito usado na sua culinária. Tam-bém a pimenta malagueta - a do golfo da malagueta, não a que nós brasileiros adotamos como pimenta malagueta (por ser muito parecida, inclusive) – e a mandioca.

Foco - Qual foi a região do Brasil que mais influência teve da gastronomia africana?Bettina - A Bahia, por causa do dendê e da maior concentração de escravos negros.

Foco - Algum prato africano não sofreu modificações?Bettina - Todos sofreram modificações porque não houve ninguém que escrevesse a receita original. Numa mesma receita africana realizada pelo Brasil tem-se uma grande variedade de ingredientes.

|Novembro 2010|Foco

Religião

11

Foco |Novembro 2010|12

Houve também, no final do séc. XIX, a chegada do Kardecismo ao Brasil, que teve no Rio de Janeiro vários seguidores negros (migrantes do Nordeste) que acabaram sendo expul-sos da religião pela diferença de ideais. Esses negros expulsos formaram o Candomblé. E esses migrantes do nordeste, além do Candomblé, criaram também o samba e a escola de samba.

Foco - As religiões africanas que vieram para o Brasil acabaram incorporando, como símbolos religiosos, os santos católicos. Como ocorreu essa troca?Reginaldo - O catolicismo era a religião oficial, tanto é que cuidava da vida civil, por isso era proibido qualquer outro culto como as religiões negras. Então, para disfarçarem o ritual para seus deuses, eles puseram no lugar dos deuses negros os santos católicos.

Foco - Qual das religiões com origens africanas tem mais praticantes hoje?Reginaldo - A umbanda, mas mesmo que se juntem todas as religiões negras, elas ex-pressam pequena parte de seguidores no Brasil.

Foco - No candomblé e na umbanda, existem os termos “trabalho de direita” e “trabalho de esquerda”, que dizem que polarizam o bem e o mal. Explique o que é cada um, por favor?Reginaldo - Isso de “bem” lutar contra o “mal” é uma teoria ocidental judaica cristã, porque segundo as religiões africanas, deve existir um equilíbrio entre o “bem” e o “mal”. Eles fazem rituais, portanto, para os dois - um dia para o bem, outro para o mal, justa-mente para ter esse equilíbrio. O trabalho de direita seria o “bem” e o de esquerda, o “mal”.

Foco - A umbanda nasceu da mistura do candomblé com o espiritismo. Existe alguma outra religião que nasceu aqui, a partir de alguma vinda da África?Reginaldo - O Catimbó, que une o candomblé com a religião indígena. Sofreu muito preconceito, sendo ligado a coisas do mal.

Edson Martins Junior Professor de Sociologia do Co-légio Dante Alighieri.

foto

: arq

uivo

pes

soal

Foco |Novembro 2010|

Sociedade

Foco |Novembro 2010|12

|Novembro 2010|Foco 13

Foco - A sociedade brasileira foi influenciada pelas culturas portuguesa e afri-cana, entre outras. Gostaria que o senhor quantificasse essas duas influências: podemos dizer que temos mais características africanas em nossa sociedade? Edson - Na verdade, não temos como avaliar estas influências de forma absoluta. O primeiro motivo é o fato de tanto a identidade portuguesa (um país) como a africana (um continente) ser de enorme diversidade. O segundo motivo é o fato de, ao chegarem ao Brasil, estes povos terem entrado em profunda relação com o meio em que vivem, muito diferente do que encontravam anteriormente, e se misturado. Na verdade, o que temos, é uma resultante destas culturas variadas.

Foco - Ainda existe algo hoje remanescente dos hábitos africanos de 1550? Edson - Acredito que não. Mesmo porque a África de hoje não é mais a África de mais de 4 séculos atrás. Mesmo as tradições ditas africanas são na verdade produzidas no Brasil, como por exemplo, a tradição religiosa umbandista.

Foco - Por que a região Nordeste é a que possui mais elementos sociais da cultura africana?Edson - A força da atividade açucareira em Pernambuco tem muita relação com isso, bem como o fato de Salvador ter sido nossa capital. No entanto, há muita presença negra em todo o território nacional. O que ocorre no sul e sudeste, por exemplo, é uma carga maior de restrições sociais a estes grupos, o que faz com que tenham menor visibilidade.

Foco - Até que ponto nossa herança social africana aproxima a forma como nos relacionamos com a política aqui no Brasil da forma com que eles o fazem no continente africano? Edson - O modelo político africano é muito diversificado. Um ponto em comum pode ser considerado o fato de, nos dois continentes, termos exemplos de mi-norias brancas dominando maiorias negras e mestiças. Porém, se quisermos ir mais a fundo, podemos fazer uma relação com a tradição matriarcal africana. Muitos povos africanos tinham o comando político nas mãos de mulheres. Quan-do vemos que o cenário eleitoral brasileiro coloca 2 mulheres (sendo uma delas negra) entre as 3 principais intenções de voto nas próximas eleições e somando algo em torno de 2/3 do eleitorado, podemos até arriscar algum retorno ao po-der político das mulheres, uma ancestral tradição africana.

Foco - Por que os países africanos colonizados por Portugal tiveram um de-senvolvimento econômico inferior ao do Brasil, que foi colonizado pela mesma metrópole?Edson - A extensão territorial é um forte motivo para isso, ainda mais quando consideramos o litoral com mais de 8 mil quilômetros, perfeito para as atividades de exportação. Riquezas naturais em volume gigantesco também colaboraram com isso.

|Novembro 2010|Foco 13

Foco |Novembro 2010|14

Foco - Quando os africanos chegaram ao Brasil, como eles se comunicavam com os na-tivos e com os portugueses?Margarida - Não temos registros escritos sobre as línguas que serviam para a comu-nicação entre os portugueses e os africanos, mas os dados sobre o tráfico permitem-nos levantar hipóteses consistentes. Primeiramente, deve-se lembrar que os escravos eram originários de duas áreas linguísticas: a área oeste-africana, caracterizada por um número maior de línguas, muito diversas tipologicamente, e a área banta, limitada aos atuais países: Angola, República Democrática do Congo, Angola e posteriormente, Moçambique. Muitas vezes eram necessários meses para completar a carga de um navio de tráfico. Esse fato criou condições para que falantes de línguas diversas adotassem uma língua africana como meio de comunicação, como, por exemplo, o quimbundo – língua falada em Luanda, no caso dos escravos vindos de Angola. Por outro lado, muitos africanos já falavam português, visto que os portugueses já tinham estado na região do Congo e Angola antes de se dirigirem ao Brasil. A comunicação entre senhores e escravos deveria ser feita em português e esta era a língua que todos os africanos necessitavam aprender. Apesar de tudo, temos documentos que comprovam terem sido faladas lín-guas africanas no nosso país.

Foco - Sobrou alguma palavra trazida pelos africanos no Brasil atual?Margarida - Temos muitos termos de origem africana no português brasileiro, como caçula, moleque, caçamba, marimbondo, corcunda, xingar, cochilar, carimbo, quitanda, quitute, tanga, entre outros.

Foco - O que essas palavras significavam originalmente?Margarida - Muitas dessas palavras tinham um sentido próximo do que têm hoje, como carimbo, que significava em quimbundo ‘marca’, ‘selo’ e que hoje se refere tanto à marca quanto ao instrumento para marcar. Outras, no entanto, tiveram sua acepção alterada. Por exemplo: caçamba, que significava, no século XIX, segundo os dicionários brasileiros da época, ‘balde preso em uma corda’, passou a significar ‘depósito de lixo’ e ‘carroceria de caminhão’; moleque, que significava ‘escravo jovem’ em quimbundo, passou a signifi-car ‘menino’, ‘garoto travesso’.

Margarida Petter É professora do Departamento de Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e coordena-dora do Grupo de Estudos de Línguas Africanas da mesma universidade.

foto

: arq

uivo

pes

soal

Foco |Novembro 2010|

Língua

Foco |Novembro 2010|14

|Novembro 2010|Foco 15

http:

//bi

t.ly/

aJjJ9

xVozes da África

Apesar de a maior parte das notícias vindas do continente africano serem tristes, o continente tem muito mais a

oferecer, como você verá na vida e na música de quatro artistas de diferentes países

Por Beatriz Sabetta e Joana Aguiar

Alguma vez você já pensou em ouvir Lucky Dube, Alpha Blondy, Brenda Fassie ou Youssou N’ Dour?

Eles são cantores africanos muito famosos, que têm recorde de vendas de discos na África do Sul, além de discos de platina. Podem não ser conhecidos aqui, no Brasil, ou nos Estados Unidos, mas, isso obviamente não tira o talento deles. Alguns artistas, como Lucky Dube e Brenda Fassie, que serão citados posteriormente, já faleceram, mas suas músicas são lembradas, cantadas por muitos fãs e até regravadas por ou-tros cantores até hoje.

Os outros dois cantores desta matéria – Youssou N’Dour e Alpha Blondy – são cantores ainda ativos, e pouco conhecidos por adolescentes brasileiros. Por quê? Por que a maioria dos adolescentes não se interessa por músicas que não venham dos Estados Unidos, Inglaterra, etc...? As diferenças entre a música desses quatro cantores e alguns músicos americanos é extremamente sutil, às vezes quase inexistente. Então, por que nos restringimos tanto às músicas cantadas em inglês, por exemplo, de países de primeiro mundo? Bem, se for por falta de divulgação, informação, ou ainda inte-resse, vamos ver se ao final da matéria sua opinião continua a mesma!

Lucky Dube nasceu em Ermelo, na África do Sul. Seu talento começou a aparecer quando, aos nove anos de idade, foi escolhido como assistente da biblio-teca de sua escola. A fascinação pela história de seu país e do resto do mundo o fizeram entrar para o mundo da Literatura. Lucky se relacionou com a filosofia Rastafári por meio de uma enciclopédia. Quando conheceu o reggae, percebeu que ele se relacionava muito com o Rastafarianismo.

Ele se apaixonou de tal forma pelo reggae, que, aos 11 anos, começou a trabalhar para comprar os CD’s de Peter Tosh, um dos únicos álbuns do ritmo na África do Sul na época. Seu tio, Richard Siluma, logo percebeu que Lucky Dube tinha talento e começou a investir no me-nino.

Já em 1979, Lucky direcionou sua carreira para o mbaganga, um estilo de música africana, e gravou

|Novembro 2010|Foco 15

Mús

ica http://bit.ly/cA7erm

LuckyDube

Foco |Novembro 2010|16

um CD em a parceria com os membros do “Future Slaves”, Thutukani Cele e Chris Dlamini. Durante três anos ele gravou um álbum solo denominado “Lengane Ngeyetha” que trouxe seu primeiro single e grande sucesso. Depois deu continuidade aos seus álbuns, que também fizeram muito sucesso.

Lucky Dube já lançou 22 álbuns em três línguas: inglês, Zulu e Afrikaans. Vários desses álbuns foram recordes de vendas em todo o mundo.

Suas músicas têm uma batida muito gostosa de ouvir. Um exemplo é “Ding - Ding”, que se parece bastante com o reggae brasileiro.

Infelizmente, em 2007, Lucky Dube foi assassinado quando estava saindo da casa de um parente após deixar seus filhos.

http:

//bi

t.ly/

c2Gw

b2

Brenda Fassie tem músicas bem diferentes das de Lucky Dube. Começando pelo estilo, Brenda canta pop, e Lucky reggae.

Ela nasceu em Langa, na Cidade do Cabo, na África do Sul, em no-vembro de 1964. Começou sua car-reira muito nova, com quatro anos

de idade, e, inspirada pela mãe pianista, criou um grupo de canto chamado Tiny Tots. Aos 14 anos, Brenda, inspirada pelos seus sonhos, arriscou mudar-se para Joanesburgo em busca de fama e fortuna.

Em Joanesburgo, Brenda visitava comunidades pobres frequentemente e, em suas músicas, ela falava sobre a vida nas cidades. Muito conhecida por seus hits “Weekend Special” e “Too Late for Mama”, Brenda Fassie foi chama pela revista Time de “a Madonna dos municípios”.

Durante a época da apartheid, ela foi considerada uma voz para os negros sul-africanos. Também foi chamada de “Rainha do pop Africano”.

Brenda já lançou aproximadamente 15 álbuns e quase to-dos se tornaram discos de platina na África do Sul.

Brenda Fassie faleceu em 2004. Ela estava internada em um hospital devido a um ataque de asma muito forte. Depois de uma semana, teve uma parada cardíaca e não resistiu.

Alpha Blondy é um cantor de reggae, nascido na Costa do Marfim e muito popular na África ocidental. Muitas de suas músicas apresentam letras que expressam duras atitudes contra alguns governos africanos. Suas letras são, em maioria, em inglês

O u ça :

Ding - Ding Big Boys Don’t Cry

Crazy World

O u ça :

Weekend Special Too Late for Mama

Qula

|Novembro 2010|Foco 17

http:

//bi

t.ly/

c2Gw

b2

http:

//bi

t.ly/

cd9l

XX

O u ça :

Rendez-Vous I Love Paris

O u ça :

Jealous GuyShakin’ The Tree

e francês.A batida de reggae é bem de-

lineada em suas músicas mas as letras lembram o estilo pop ameri-cano. Aquelas que não estão ex-pressando visão contrária ao go-verno (como Apartheid is Nazism – O apartheid é nazismo), falam de amor.

Alpha Blondy tem dezenove CD’s profissionais, sendo que o primeiro saiu em 1982 e o último em 2007. Foi tam-bém lançado, em 2009, um DVD ao vivo de um dos seus shows na turnê Peace. Ele tocou em São Paulo, no Expres-so Brasil, dia 17/09/10.

Youssou N’Dour com músicas no geral de estilo pop, que se assemelha com músi-cas americanas, algumas batidas de reggae e a presença marcante de vozes de um coral em um de seus álbuns, é compositor, intér-prete e músico senegalês. Graças a essa variedade de elementos, suas músicas adquirem um som

diferente de muitas coisas que são ouvidas atualmente. Esse artista consegue juntar bem as três características e manter a música em um nível alto de qualidade. Suas letras são em maioria na língua inglesa, e pedem uma mudança na sociedade atual. Ele que compôs o hino para as fases finais da Copa do Mundo de 1998 (“La Cour Des Grands” – A corte dos grandes).

Youssou, em 1985, organizou um concerto pela libertação de Nelson Mandela, além de ser embaixador das Nações Unidas e da UNICEF, mostrando-se preocupado com questões mundiais.

No CD “The Guide” (com participação de Neneh Cherry, uma cantora sueca) – Youssou canta somente as partes em africano e francês, e Neneh as partes em inglês.

“Instant Karma: The Amnesty International Campaign to Save Darfur “ é um CD apenas de covers de John Lennon, com objetivo de levar paz a Darfur, um país no oeste do Sudão onde, desde 2003, ocorre uma guerra.

AlphaBlondy

Foco |Novembro 2010|18

Por quê...

Por Catarina Pallesi Menck de Vasconcelos

Curiosidades sobre a ÁfriCa

A população da África é negra graças à Seleção Natural das espécies

(estudo de Darwin). C

omo o excesso de luz é

prejudicial ao homem e a

África é um continente muito ilu

minado pelo Sol, os únicos se

res humanos

que prosperaram foram aqueles que possuíam a pele mais e

scura.

...a maior parte da população afric

ana é negra?

Foco |Novembro 2010|Foco |Novembro 2010|18

|Novembro 2010|Foco 19

Diamantes são minerais raros, que se formam sob condições e-levadíssimas de pressão e temperatura, em grandes profundidades, já no manto. O que os torna especialmente escassos na crosta terrestre é que são muito incomuns os eventos geológicos capazes de trazer os diamantes para a superfície, erupções vulcânicas muito rápidas e violentas. O caso da África do Sul e de outros países Centro-Africanos (como Botswana, Congo, Namíbia, entre outros) é que lá se encontra a maior parte dos diamantes de excelente qualidade. Outro fator que contribui para deixar a África do Sul numa posição de destaque é que suas jazidas foram descobertas há relati-vamente pouco tempo.

A população pobre não está concentrada apenas no Chifre da África, mas no Centro-Sul também. Os motivos de eles serem pobres variam mui-to. Entre eles estão os conflitos étnicos e religiosos e, na Somália (Chifre da África), por exemplo, a pobreza se dá pelo fato de a colonização ter sido tumultuada. No caso específico da Somália, a colonização começou com os italianos mas, após a guerra, a colônia africana foi entregue à Inglaterra.

Os escravos trabalhadores no Brasil na época colonial vieram da África graças à expansão marítima. O primeiro contato dos portugueses com a es-cravidão aconteceu quando Portugal foi procurar outro caminho para as Ín-dias, terra das especiarias, e encontrou a África no meio do caminho. Nesse continente, os portugueses encontraram tribos africanas que escravizavam outras tribos. Visto isso, os portugueses perceberam que, se patrocinassem guerras entre as tribos, além de conseguir colônias, conseguiriam o que se tornou sua maior fonte de riqueza na época colonial: o tráfico negreiro.

...os diamantes da África do Sul são tão raros?

...a população pobre está concentrada no Chifre da África?

...os escravos que trabalharam no Brasil no período colonial vieram da África e não da Ásia?

19

Foco |Novembro 2010|20

Foco |Novembro 2010|20

Estudantes de São Paulo e Embu fazem projeto con-

junto de educomunicação por meio das redes sociais

Inovação: Relacionamento e

conhecimento

Reportagem da TV Gazeta exibida em 14 de junho

de 2010, também sobre o Flashmob dos focados,

realizado em junho.

O Portal R7 mencionou Flashmob dos focados,

realizado em junho.

http://bit.ly/cJjElr

http://bit.ly/tjwCd

http://bit.ly/cJjElr

http://bit.ly/9KvtBJ

Falaram de nós!

Foco |Novembro 2010|

|Novembro 2010|Foco 21

|Novembro 2010|Foco 21

|Novembro 2010|Foco 21

Foco |Novembro 2010|22

Foco |Novembro 2010|22

|Novembro 2010|Foco 23

|Novembro 2010|Foco 23

|Novembro 2010|Foco 24