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CIDADES 10 / NOVO JORNAL / NATAL, SÁBADO, 27 DE MARÇO DE 2010 A terceira escola mais an- tiga do Brasil, ainda em funcio- namento, não foge à regra. O Atheneu, localizado no bairro de Petrópolis, tem 175 anos de existência, mas nem sua contri- buição para o estado o livra das profundas deficiências da ges- tão pública na educação. Depois do fim da greve, os estudantes voltaram às aulas, mas o velho problema da falta de professores não abandonou a rotina deles. “Eu tinha três aulas seguidas de história hoje e não teve pro- fessor”, relatou a estudante Aida Regina Gonçalves da Silva de 15 anos. A ausência do docen- te certamente é um problema, mas três aulas seguidas de uma mesma disciplina podem exau- rir tanto o profissional da edu- cação, quanto o estudantes. Alu- nos e até professores acreditam que os 150 minutos de aulas corridos podem ser uma prática antipedagógica. “É muito cansa- tivo, principalmente nas aulas em que os professores escrevem demais no quadro”, disse Aida, expondo também que o recurso mais usado na sala de aula ain- da é o velho quadro negro. O que mais aflige a estudan- te Yashmim Alexandra Pires Martins, do terceiro ano, são as mudanças realizadas pela Edu- cação estadual. Nesse primeiro semestre, ela deverá ter aulas de sete disciplinas. No segundo se- mestre, as outras sete. “Acho que esses módulos vão atrapalhar”, opinou a garota. Para ela, a repe- tição das disciplinas várias vezes por semana é o que mais a dei- xa cansada. Tanto para Yashmin Mar- tins, quanto para Aida da Silva, os laboratórios não estão pre- sentes nas aulas como deve- riam. A concluinte só pisou no laboratório de informática no primeiro ano do ensino médio. Segundo elas, o laboratório é pe- queno e não suporta uma turma inteira, com cerca de 40 alunos. Na sala de vídeo, por exemplo, o que impera é o desconforto das cadeiras. Vale lembrar que dis- ciplinas como química, física e biologia podem tornar-se mais simples com o auxílio de um la- boratório, no qual o estudante pode ver a aplicabilidade de fór- mulas, presenciar processos mi- crobiológicos e químicos. Além de ter que se adap- tar a um novo método de ensi- no, Yashmin Martins tem na sua vida escolar histórias que sim- bolizam a falta de compromis- so dos gestores públicos, vez que não conseguem colocar profes- sores nas salas de aula. “No ano passado [durante o 2ª série do ensino médio], não tive aula de física o ano inteiro”, denunciou. Mesmo assim, ela foi aprovada e neste ano cursa o terceiro ano, só não sabe se vai conseguir passar no vestibular. Para essa situação caótica de falta de professores, Eleika Bezerra lembra uma afir- mação do falecido secretário Ruy Pereira. “Há dois anos o secretá- rio disse que haveria um apagão de professores se não se investis- se no professorado”, ressaltou. O Sindicato dos Trabalhado- res na Educação Pública do Rio Grande do Norte (Sinte/RN) es- tima que metade dos estudan- tes da rede estadual são atin- gidos pela falta de professores, ou seja, cerca de 120 mil alu- nos. Conforme o levantamento do sindicato, as escolas estadu- ais precisam de mais 2.500 pro- fissionais nas salas de aula. De acordo com o coorde- nador de pessoal e recursos hu- manos da SEEC, Pedro Guedes, o déficit existe, mas a secreta- ria vem tomando providências. “A última nomeação do concur- so feito em 2005 foi em 29 de de- zembro de 2009. Nós chama- mos 837 concursados. De 2006 para cá, foram chamados 3.505 professores”, informou. O défi- cit não é um número estático. Enquanto a secretaria chama novos professores para as salas de aula, vários profissionais se aposentam, mudam de empre- go ou de cidade, dentre outras situações. Ainda segundo o responsá- vel pelos recursos humanos da secretaria, a situação no interior do estado é crítica. Em vários municípios, não foram aprova- dos sequer um professor de ma- temática, física e química. A fal- ta de professores para os anos iniciais do ensino fundamental é muito mais grave, pois o con- curso de 2005 não contemplou a contratação para esse tipo de profissional, também chamado de professor polivalente. Segundo Pedro Guedes, para amenizar esse problema a secre- taria vem contratando estagiá- rios e adotando medidas como as horas completares para pro- fessores efetivos. Dessa forma, os docentes que trabalham na CONVIVER COM A ausência de pro- fessores, ventiladores na sala de aula, quadras esportivas, laborató- rios é comum para os estudantes do ensino médio estadual – ape- sar de ser trágico, visto que essas condições podem limitar o futu- ro desses jovens. Além de ter que enfrentar todos esses obstáculos para aprender, este ano todos os alunos também terão que se adap- tar a um experimento da Secreta- ria de Estado da Educação e Cul- tural (Seec): a oferta de disciplinas por semestre. O ensino médio por blocos propõe uma metodologia semes- tral semelhante ao ensino supe- rior. No primeiro semestre do ano, o estudante vai cursar sete disci- plinas. No segundo semestre leti- vo, outras sete. “Querem transfor- mar a escola numa universidade”, criticou o professor de química do Colégio Atheneu, José Medeiros, com 30 anos de profissão. Esse novo método divide a opinião de professores e alunos. Para o professor de história Mar- celo Sales, que dá aulas na Esco- la Estadual Walfredo Gurgel, o processo de ensino-apredizagem ganhou um ritmo mais rápido e mais denso de conteúdo. “Antiga- mente eu tinha duas aulas por se- mana com uma turma, agora nós temos cinco. Assim nós pode- mos dar um ritmo mais acelera- do”, explicou. O fato é que todos reconhecem que não houve uma ampla discus- são sobre o novo método, tam- pouco tempo para planejamen- to por parte das escolas. Segundo a coordenadora geral do Sindica- to dos Trabalhadores em Educa- ção Pública do Rio Grande do Nor- te (Sinte/RN), Fátima Cardoso, a SEEC levou o projeto à mesa para ser debatido com os representan- tes dos profissionais da educação, mas não consultou a base. O sindi- cato vai pedir, portanto, uma “re- discussão” do projeto. “A proposta é boa, mas precisa ser profunda- mente debatida”, acrescentou a lí- der do Sinte/RN. De acordo com o diretor da Escola Estadual Judith Bezerra de Melo, Roberto Oliveira dos San- tos, a notícia da mudança veio como uma bomba, faltando ape- nas dois dias úteis para o início do ano letivo de 2010. “No final de uma reunião dos diretores de escola com a secretaria, eles avi- saram as mudanças. Veio como uma bomba”, declarou. Roberto dos Santos informou também que a secretaria enviou um calendário para o ano letivo sem a mudança da semestralida- de. “Eles prometeram mandar ou- tro calendário depois dessa mu- dança, mas até agora não che- gou”, relatou. O horário das au- las para cada turma estava quase pronto na Escola Judith Bezerra, no bairro de Nazaré, mas teve que ser refeito rapidamente. Com a greve iniciada na primeira sema- na de aulas, as equipes pedagó- gicas das escolas tiveram tempo para refazer a grade de horários. “A greve foi que aliviou uma con- fusão maior”, ressaltou. A reorganização das aulas se tornou mais complicada porque a escola também oferece o ensi- no fundamental. Outro compli- cador foi a quantidade de tur- mas no ensino médio. “Se todas as escolas tivessem um número par de turmas não tinha proble- ma nenhum”, defendeu. Segundo ele, a organização dos professores no horário fica impossível quan- do se têm turmas em números ímpares. No turno da noite, a es- cola tem duas turmas do 1º ano, duas do 2º ano e somente uma do 3º ano, cinco ao todo. Conforme o diretor da Judith Bezerra, a es- cola vai precisar de outro profes- sor de história para dar aula para uma turma apenas no primeiro semestre. MP ATENTO Até mesmo a promotora de Defesa da Educação, Carla Cam- pos Amico, soube das mudanças por meio de diretores das esco- las. “Quando tomei conhecimen- to chamei as coordenadoras da SUEM [Subcoordenadoria de En- sino Médio da Secretaria de Edu- cação] e da Codese [Coordenado- ria de Desenvolvimento Escolar] para esclarecer o projeto”. A pro- motora solicitou também as 60 es- colas que oferecem ensino médio em Natal analisassem novamente como seria a distribuição de carga horária dos profissionais. Até ago- ra a promotoria recebeu os relató- rios de 16 escolas. “Lamentavelmente, a implan- tação foi muito próxima do iní- cio do ano letivo”, comentou. Se- gundo Carla Amico, a promoto- ria vai ficar atenta ao andamento desse novo modelo de ensino mé- dio. “Nós não interferimos na teo- ria do projeto da secretaria, mas é importante que essa opção seja vi- ável para o aluno”, destacou. Para uma das diretoras exe- cutivas da ONG Instituto de De- senvolvimento da Educação (IDE), Eleika Bezerra, a execu- ção do projeto deveria ser cuida- dosamente planejada para que não perca a sua essência. “Teori- camente é uma ideia interessan- te. A pedagogia Freinet já orien- ta que as disciplinas sejam mais concentradas no ensino funda- mental. No Médio isso pode tra- zer um aproveitamento melhor”, analisou. Ela também salientou que as transferências dos alunos de uma escola para outra, duran- te o decorrer do ano, seria um problema, visto que cada institui- ção decide quais disciplinas serão oferecidas para as turmas nos di- ferentes semestres. A reportagem tentou entrar em contato com as responsáveis por gerir o projeto, mas as duas estavam viajando. Mesmo assim tentou contato durante três dias. Segundo a assessoria de comuni- cação da SEEC, o secretário Otávio Tavares não conhecia este assun- to profundamente. A assessori a também não indicou outra pessoa para detalhar o projeto. NOVO ENSINO MÉDIO E / EDUCAÇÃO / SECRETARIA IMPLANTA NOVA METODOLOGIA DE OFERTA DE DISCIPLINA, MAS NÃO RESOLVE PROBLEMA DE FALTA DE PROFESSORES VELHAS DEFICIÊNCIAS MARCELO LIMA DO NOVO JORNAL ELES PROMETERAM MANDAR NOVO CALENDÁRIO APÓS ESSA MUDANÇA, MAS ATÉ AGORA NÃO CHEGOU” Roberto Oliveira Diretor da Escola Judith Bezerra “APAGÃO” DE PROFESSORES DEIXA ALUNOS SEM AULAS CONTINUA NA PÁGINA 11 rede estadual devem ficar mais 10 horas extras para cobrir o desfalque. Contudo, a Procuradoria do Trabalho conseguiu uma limi- nar que proibia a contratação de estagiários. Mesmo com essa decisão judicial favorável a Pro- curadoria, houve um acordo en- tre as partes, no qual o Governo do Estado realizaria um concur- so para professores temporários e também poderia contratar es- tagiários, enquanto os tempo- rários não chegassem à sala de aula. O acordo prevê também que o Estado promova um con- curso para docentes efetivos de todos os níveis de ensino. A sele- ção para professores estagiários começou depois que o ano leti- vo teve início. Déficit de professores atinge colégios como o Atheneu, Petrópolis, que tem tradição e história Na Escola Estadual Judith Bezerra de Melo, em Nazaré, alunos tentam se adaptar as mudanças implementadas pela Secretaria de Educação WALLACE ARAÚJO / NJ WALLACE ARAÚJO / NJ WALLACE ARAÚJO / NJ

NOVO ENSINO MÉDIO E VELHAS DEFICIÊNCIAS

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▶ CIDADES ◀10 / NOVO JORNAL / NATAL, SÁBADO, 27 DE MARÇO DE 2010

A terceira escola mais an-tiga do Brasil, ainda em funcio-namento, não foge à regra. O Atheneu, localizado no bairro de Petrópolis, tem 175 anos de existência, mas nem sua contri-buição para o estado o livra das profundas defi ciências da ges-tão pública na educação. Depois do fi m da greve, os estudantes voltaram às aulas, mas o velho problema da falta de professores não abandonou a rotina deles.

“Eu tinha três aulas seguidas de história hoje e não teve pro-fessor”, relatou a estudante Aida Regina Gonçalves da Silva de 15 anos. A ausência do docen-te certamente é um problema, mas três aulas seguidas de uma mesma disciplina podem exau-rir tanto o profi ssional da edu-cação, quanto o estudantes. Alu-nos e até professores acreditam que os 150 minutos de aulas corridos podem ser uma prática antipedagógica. “É muito cansa-tivo, principalmente nas aulas em que os professores escrevem demais no quadro”, disse Aida, expondo também que o recurso mais usado na sala de aula ain-da é o velho quadro negro.

O que mais afl ige a estudan-te Yashmim Alexandra Pires Martins, do terceiro ano, são as mudanças realizadas pela Edu-cação estadual. Nesse primeiro semestre, ela deverá ter aulas de sete disciplinas. No segundo se-mestre, as outras sete. “Acho que esses módulos vão atrapalhar”, opinou a garota. Para ela, a repe-tição das disciplinas várias vezes

por semana é o que mais a dei-xa cansada.

Tanto para Yashmin Mar-tins, quanto para Aida da Silva, os laboratórios não estão pre-sentes nas aulas como deve-riam. A concluinte só pisou no laboratório de informática no primeiro ano do ensino médio. Segundo elas, o laboratório é pe-queno e não suporta uma turma inteira, com cerca de 40 alunos. Na sala de vídeo, por exemplo, o que impera é o desconforto das cadeiras. Vale lembrar que dis-ciplinas como química, física e biologia podem tornar-se mais simples com o auxílio de um la-boratório, no qual o estudante pode ver a aplicabilidade de fór-mulas, presenciar processos mi-crobiológicos e químicos.

Além de ter que se adap-tar a um novo método de ensi-no, Yashmin Martins tem na sua vida escolar histórias que sim-bolizam a falta de compromis-so dos gestores públicos, vez que não conseguem colocar profes-sores nas salas de aula. “No ano passado [durante o 2ª série do ensino médio], não tive aula de física o ano inteiro”, denunciou. Mesmo assim, ela foi aprovada e neste ano cursa o terceiro ano, só não sabe se vai conseguir passar no vestibular. Para essa situação caótica de falta de professores, Eleika Bezerra lembra uma afi r-mação do falecido secretário Ruy Pereira. “Há dois anos o secretá-rio disse que haveria um apagão de professores se não se investis-se no professorado”, ressaltou.

O Sindicato dos Trabalhado-res na Educação Pública do Rio Grande do Norte (Sinte/RN) es-tima que metade dos estudan-tes da rede estadual são atin-gidos pela falta de professores, ou seja, cerca de 120 mil alu-nos. Conforme o levantamento do sindicato, as escolas estadu-ais precisam de mais 2.500 pro-fi ssionais nas salas de aula.

De acordo com o coorde-nador de pessoal e recursos hu-manos da SEEC, Pedro Guedes, o défi cit existe, mas a secreta-ria vem tomando providências. “A última nomeação do concur-so feito em 2005 foi em 29 de de-zembro de 2009. Nós chama-mos 837 concursados. De 2006 para cá, foram chamados 3.505 professores”, informou. O défi -cit não é um número estático. Enquanto a secretaria chama novos professores para as salas

de aula, vários profi ssionais se aposentam, mudam de empre-go ou de cidade, dentre outras situações.

Ainda segundo o responsá-vel pelos recursos humanos da secretaria, a situação no interior do estado é crítica. Em vários municípios, não foram aprova-dos sequer um professor de ma-temática, física e química. A fal-ta de professores para os anos iniciais do ensino fundamental é muito mais grave, pois o con-curso de 2005 não contemplou a contratação para esse tipo de profi ssional, também chamado de professor polivalente.

Segundo Pedro Guedes, para amenizar esse problema a secre-taria vem contratando estagiá-rios e adotando medidas como as horas completares para pro-fessores efetivos. Dessa forma, os docentes que trabalham na

CONVIVER COM A ausência de pro-fessores, ventiladores na sala de aula, quadras esportivas, laborató-rios é comum para os estudantes do ensino médio estadual – ape-sar de ser trágico, visto que essas condições podem limitar o futu-ro desses jovens. Além de ter que enfrentar todos esses obstáculos para aprender, este ano todos os alunos também terão que se adap-tar a um experimento da Secreta-ria de Estado da Educação e Cul-tural (Seec): a oferta de disciplinas por semestre.

O ensino médio por blocos propõe uma metodologia semes-tral semelhante ao ensino supe-rior. No primeiro semestre do ano, o estudante vai cursar sete disci-plinas. No segundo semestre leti-vo, outras sete. “Querem transfor-mar a escola numa universidade”, criticou o professor de química do Colégio Atheneu, José Medeiros, com 30 anos de profi ssão.

Esse novo método divide a opinião de professores e alunos. Para o professor de história Mar-celo Sales, que dá aulas na Esco-la Estadual Walfredo Gurgel, o processo de ensino-apredizagem ganhou um ritmo mais rápido e mais denso de conteúdo. “Antiga-mente eu tinha duas aulas por se-mana com uma turma, agora nós temos cinco. Assim nós pode-mos dar um ritmo mais acelera-do”, explicou.

O fato é que todos reconhecem que não houve uma ampla discus-são sobre o novo método, tam-pouco tempo para planejamen-to por parte das escolas. Segundo a coordenadora geral do Sindica-

to dos Trabalhadores em Educa-ção Pública do Rio Grande do Nor-te (Sinte/RN), Fátima Cardoso, a SEEC levou o projeto à mesa para ser debatido com os representan-tes dos profi ssionais da educação, mas não consultou a base. O sindi-cato vai pedir, portanto, uma “re-discussão” do projeto. “A proposta é boa, mas precisa ser profunda-mente debatida”, acrescentou a lí-der do Sinte/RN.

De acordo com o diretor da Escola Estadual Judith Bezerra de Melo, Roberto Oliveira dos San-tos, a notícia da mudança veio como uma bomba, faltando ape-nas dois dias úteis para o início do ano letivo de 2010. “No fi nal

de uma reunião dos diretores de escola com a secretaria, eles avi-saram as mudanças. Veio como uma bomba”, declarou.

Roberto dos Santos informou também que a secretaria enviou um calendário para o ano letivo sem a mudança da semestralida-de. “Eles prometeram mandar ou-tro calendário depois dessa mu-dança, mas até agora não che-gou”, relatou. O horário das au-las para cada turma estava quase pronto na Escola Judith Bezerra, no bairro de Nazaré, mas teve que ser refeito rapidamente. Com a greve iniciada na primeira sema-na de aulas, as equipes pedagó-gicas das escolas tiveram tempo

para refazer a grade de horários. “A greve foi que aliviou uma con-fusão maior”, ressaltou.

A reorganização das aulas se tornou mais complicada porque a escola também oferece o ensi-no fundamental. Outro compli-cador foi a quantidade de tur-mas no ensino médio. “Se todas as escolas tivessem um número par de turmas não tinha proble-ma nenhum”, defendeu. Segundo ele, a organização dos professores no horário fi ca impossível quan-do se têm turmas em números ímpares. No turno da noite, a es-cola tem duas turmas do 1º ano, duas do 2º ano e somente uma do 3º ano, cinco ao todo. Conforme

o diretor da Judith Bezerra, a es-cola vai precisar de outro profes-sor de história para dar aula para uma turma apenas no primeiro semestre.

MP ATENTOAté mesmo a promotora de

Defesa da Educação, Carla Cam-pos Amico, soube das mudanças por meio de diretores das esco-las. “Quando tomei conhecimen-to chamei as coordenadoras da SUEM [Subcoordenadoria de En-sino Médio da Secretaria de Edu-cação] e da Codese [Coordenado-ria de Desenvolvimento Escolar] para esclarecer o projeto”. A pro-motora solicitou também as 60 es-

colas que oferecem ensino médio em Natal analisassem novamente como seria a distribuição de carga horária dos profi ssionais. Até ago-ra a promotoria recebeu os relató-rios de 16 escolas.

“Lamentavelmente, a implan-tação foi muito próxima do iní-cio do ano letivo”, comentou. Se-gundo Carla Amico, a promoto-ria vai fi car atenta ao andamento desse novo modelo de ensino mé-dio. “Nós não interferimos na teo-ria do projeto da secretaria, mas é importante que essa opção seja vi-ável para o aluno”, destacou.

Para uma das diretoras exe-cutivas da ONG Instituto de De-senvolvimento da Educação(IDE), Eleika Bezerra, a execu-ção do projeto deveria ser cuida-dosamente planejada para que não perca a sua essência. “Teori-camente é uma ideia interessan-te. A pedagogia Freinet já orien-ta que as disciplinas sejam mais concentradas no ensino funda-mental. No Médio isso pode tra-zer um aproveitamento melhor”, analisou. Ela também salientou que as transferências dos alunos de uma escola para outra, duran-te o decorrer do ano, seria um problema, visto que cada institui-ção decide quais disciplinas serão oferecidas para as turmas nos di-ferentes semestres.

A reportagem tentou entrarem contato com as responsáveispor gerir o projeto, mas as duas estavam viajando. Mesmo assimtentou contato durante três dias. Segundo a assessoria de comuni-cação da SEEC, o secretário OtávioTavares não conhecia este assun-to profundamente. A assessoriatambém não indicou outra pessoapara detalhar o projeto.

NOVO ENSINO MÉDIO E

/ EDUCAÇÃO / SECRETARIA IMPLANTA NOVA METODOLOGIA DE OFERTA DE DISCIPLINA, MAS NÃO RESOLVE PROBLEMA DE FALTA DE PROFESSORES

VELHAS DEFICIÊNCIASMARCELO LIMADO NOVO JORNAL

ELES PROMETERAM

MANDAR NOVO

CALENDÁRIO APÓS

ESSA MUDANÇA,

MAS ATÉ AGORA

NÃO CHEGOU”

Roberto Oliveira Diretor da Escola Judith Bezerra

“APAGÃO” DE PROFESSORES DEIXA ALUNOS SEM AULAS

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rede estadual devem fi car mais10 horas extras para cobrir o desfalque.

Contudo, a Procuradoria do Trabalho conseguiu uma limi-nar que proibia a contrataçãode estagiários. Mesmo com essadecisão judicial favorável a Pro-curadoria, houve um acordo en-tre as partes, no qual o Governo do Estado realizaria um concur-so para professores temporáriose também poderia contratar es-tagiários, enquanto os tempo-rários não chegassem à sala deaula. O acordo prevê tambémque o Estado promova um con-curso para docentes efetivos de todos os níveis de ensino. A sele-ção para professores estagiárioscomeçou depois que o ano leti-vo teve início.

▶ Défi cit de professores atinge colégios como o Atheneu, Petrópolis, que tem tradição e história

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WALLACE ARAÚJO / NJ

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