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O RISCO DE DANOS AUDITIVOS INDUZIDO PELO RUÍDO AMBIENTAL, SUBSTÂNCIAS OTOTÓXICAS E O NEXO CAUSAL*
REGAZZI, Rogério Dias 1; SERVILIERI, Kerly Maire 2; SARTORELLI, Elza Maria 3; LIMA, Leonardo
Bernardes 4 ; FREITAS, Everton Quintino 5 ; BASTOS, Diogo, M. Kenupp5; REGO, Ricardo Dias5
1 Ms. em Metrologia e Qualidade Industrial, Eng. Mecânico e de Segurança do Trabalho,Gavea Sensors, PUC - Rio de Janeiro.
2 Farmacêutica, Docente do Curso de Farmácia Centro Universitário São Camilo, São Paulo.3 Fonoaudióloga da Clínica Escola de Fonoaudiologia do Centro Universitário São Camilo.
4 Aluno do 5º. Semestre do curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo.5Técnico da 3R Brasil Tecnologia Ambiental, Rio de Janeiro.
* Pesquisa apresentada no IV Metrosul.
Resumo: A deficiência auditiva pode ser conseqüência de exposições a ruídos e/ou agentes ototóxicos.
O objetivo do trabalho é abordar os métodos, as normas e legislações pertinentes ao ruído ocupacional,
além das diferenças históricas entre os limites de tolerância (LT). Discute-se a relação entre a Perda
Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional (PAIRO) e o nexo causal com a legislação trabalhista da
época. São apresentados os resultados obtidos da exposição em nível de pressão sonora (NPS) elevados
durante as atividades laborais. Utilizou-se como exemplo três trabalhos: medição da exposição a NPS
em danceterias, em consultório odontológico e toque da campainha de um aparelho celular em diferentes
posições. Neste trabalho foi relacionada uma possível perda auditiva devido ao aumento da
susceptibilidade ao ruído de indivíduos expostos a substâncias ototóxicas; encontradas em poluentes e
medicamentos.
Palavras chave: Perda Auditiva, Ruído Ambiental, Nexo Causal, Substâncias Ototóxicas.
1. INTRODUÇÃO
O ruído elevado é a principal causa de problemas auditivos em adultos. Afeta o bem estar físico e
mental. Diariamente as pessoas são expostas aos NPS em seus ambientes de trabalho e lazer sem ter o
conhecimento dos danos e das leis que regem o assunto. O objetivo do trabalho é abordar os métodos, as
normas e legislações pertinentes ao ruído ambiental, além das diferenças históricas entre os limites de
tolerância e do nexo causal da perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional somada a exposição a
NPS elevado durante as atividades de lazer, entre outras.
São apresentados três exemplos curiosos de exposição aos NPS elevados: a exposição em
danceterias, ruído em consultório odontológico e o toque da campainha de um aparelho celular a
diferentes distâncias e na altura da orelha, utilizou-se a técnica de medição com cabeça artificial.
Os limites de tolerância utilizados na comparação com os resultados de medição foram os
estabelecidos na época de acordo com a legislação vigente. Considerou-se na análise o contato com
substâncias ototóxicas como o tolueno e o benzeno mencionados na ACGIH (American Conference of
Governamental Industrial Hygiene); norma Americana utilizada como referência no Brasil quando não
contemplados os limites de tolerância ou recomendações.
A NHO-01, por exemplo, faz parte da Série de Normas de Higiene Ocupacional (NHO’s)
elaborada por técnicos da Coordenação de Higiene do Trabalho da FUNDACENTRO, por meio do
Projeto Difusão de Informações em Higiene do Trabalho, 1997/1998. Os procedimentos de medição
empregados procuraram seguir tal norma. Os critérios aplicados foram os da NR15 anexo 1 (para ruído
contínuo ou intermitente) e 2 (para ruído de impacto) (conforme ref. a NHT 06, 07 e 09, substituída pela
NHO-01; norma da FUNDACENTRO - braço técnico do Ministério do Trabalho).
Concluí-se o trabalho relacionando as perdas auditivas induzidas pelo ruído e o nexo causal com
a atividade laboral, chamando a atenção para as diferenças entre as legislações trabalhistas e
previdenciárias, além de outros fatores externos apresentados neste trabalho.
2. BREVE REVISÃO LITERÁRIA
2.1 Ruído Ocupacional e Danos Auditivos
O ruído ocupacional é um agente nocivo observado nos ambientes de trabalho, merece uma
consideração especial, tanto pela legislação previdenciária, como pelos profissionais que executam
alguma atividade de saúde e segurança no trabalho. A presença do agente nocivo ruído ocupacional pode
proporcionar aos indivíduos expostos benefícios em termos de aposentadoria precoce, dita “especial”
(Art. 171 da Instrução Normativa 99 - 5/12/2003)
Um dos danos auditivos é a perda auditiva induzida por ruído, também conhecida como "Perda
Auditiva por Exposição a Ruído no Trabalho", "Perda Auditiva Ocupacional", "Surdez Profissional",
"Disacusia Ocupacional". A Perda Auditiva Induzida por Ruído Ocupacional constitui-se em doença
profissional de grande prevalência, tendo se difundido a numerosos ramos de atividades (PORTARIA
DO INSS, 1997).
A PAIRO, tem caráter neurossensorial e permanente. O acometimento da audição é insidioso e
leva em geral vários anos, a depender da susceptibilidade individual. Outra característica importante é
que a PAIRO é em geral bilateral atingindo inicialmente as freqüências agudas (4000 ou 6000 Hz). O
ruído também pode ser considerado um fator de estresse biológico, podendo vir a afetar todo o sistema
fisiológico. O efeito neurotóxico do ruído pode ser intensificado quando o trabalhador está exposto
concomitantemente a agentes químicos tais como: solventes e fármacos ototóxicos. Ele atua da mesma
forma que outros fatores de estresse fazendo com que o organismo responda de uma forma que pode ser
prejudicial em longo prazo. Nas últimas décadas, uma série de estudos tem investigado os possíveis
efeitos do ruído ocupacional para a saúde humana. O efeito mais estudado é a hipoacusia, porém tem
crescido o número de trabalhos científicos focalizando a possível relação entre o ruído ocupacional e a
hipertensão arterial. O ruído é considerado o principal responsável pela perda auditiva no meio ambiente
de trabalho e também vem sendo acusado de ser um fator de risco para doenças do sistema
cardiovascular (hipertensão arterial e doença isquêmica do coração), endócrino, metabólico,
gastroduodenal e neurológico. O ruído é considerado um dos problemas mais freqüentes e um dos mais
difíceis de se eliminar no meio ambiente laboral. O ruído ambiental tem sido relacionado a numerosos
efeitos prejudiciais à qualidade da vida humana. Pode considerá-lo como o agente nocivo com maior
prevalência no meio laboral, sendo peculiar no ramo industrial (SOUZA et al, 2001).
SISNANDO, 2002, confirma que a PAIRO é uma perda auditiva neurossensorial bilateral
irreversível que advém do acúmulo de exposições a ruídos contínuos ou intermitentes que são repetidos
constantemente, por um período de muitos anos e, em sua maioria, depende da susceptibilidade
individual, características físicas do ruído e do tempo de exposição do indivíduo.
Em estudo realizado por TAIRA e FERRAZ, 1997, em ambiente odontológico encontrou
indivíduos que apresentam como sintomatologia, efeitos auditivos (zumbido, plenitude auricular, otalgia,
coceira e pressão na orelha) e efeitos extras auditivos (irritação, cefaléia, alteração do sono, problemas
circulatórios, falta de atenção e interferência na comunicação), que podem ser sinais indicativos da perda
auditiva induzida por ruído resistentes, avaliaram o grau de conscientização do cirurgião odontólogo
em relação a PAIRO.
2.2 Medicamentos Ototóxicos
Os efeitos ototóxicos provocados por medicamentos envolvem lesões progressivas e destruição
das células sensoriais da cóclea e órgão vestibular da orelha, alterando duas funções importantes do
organismo: a audição e o equilíbrio (PAGE et al, 2000).
Os antibióticos aminoglicosídeos são os mais estudados, sua ação é diretamente nos receptores
polifosfoinositídeos, localizados na membrana das células ciliadas do órgão de Corti, da mácula sacular
e utricular e das cristas do sistema vestibular. Estes receptores são lipídeos componentes da membrana
celular que formam complexos com os aminoglicosídeos produzindo modificações na permeabilidade da
membrana, podendo causar a falência celular, causando o aparecimento rápido ou insidioso de perda
auditiva (SURDO, 2004; SCHACHT, et al 1977). A ototoxicidade pode surgir durante o uso de
medicamentos ou após meses da interrupção do mesmo, podendo progredir para um grau mais severo,
ou após esta interrupção recuperar os limiares normais, processo reversível. Ao ocorrer lesão coclear,
destruição das células ciliadas do órgão de Corti, a perda auditiva é irreversível (OLIVEIRA,
SCHUKNECHT, 1990).
É importante conhecer os diferentes tipos de fármacos que podem provocar ototoxicidade, para
medidas preventivas. O aparecimento da perda auditiva mediante medicamentos ototóxicos pode ser
rápido ou insidioso, podendo ocorrer durante a exposição ou meses depois do uso do medicamento ter
sido interrompido. A perda pode ser precedida ou acompanhada por um tinitus agudo. Se o sistema
vestibular for danificado, o paciente pode apresentar tontura e ataxia. O grau inicial da perda pode ser
instável. O quadro clínico é de uma labirintopatia periférica e o paciente pode apresentar sinais e
sintomas relacionados com lesão coclear, como hipoacusia, zumbidos de alta freqüência e plenitude
auditiva ou relacionados com a função vestibular, especialmente vertigens, desequilíbrios, nistagmo
(movimentos oculares anormais), e manifestações neurovegetativas. A alteração auditiva, bem como a
disfunção vestibular, pode ser unilateral ou bilateral (Oliveira, 1990).
Diferentes grupos de medicamentos podem provocar ototoxicidade. Dentre estes os antibióticos
aminoglicosídeos: estreptomicina, diidroestreptomicina, neomicina, canamicina A e B, paramomicina,
aminosidina, gentamicina, amicacina, tobramicina, e netilmicina. Outros antibióticos citados como
ototóxicos são: a eritromicina, com efeitos reversíveis; o cloranfenicol, principalmente por ação tópica; a
ampicilina; a minocilina, derivados da tetraciclina com ação vestibulotóxica; a cefalosporina, a
viomicina; a capreomicina, com maior toxicidade vestibular; a polimixina B e E. Existem alguns grupos
de drogas ototóxicas que não são antibióticos. São estes: a) Diuréticos, como o ácido etacrínico, a
furosemida, a bumetanida, a piretamida e a indapamida; b) Antiinflamatórios, como ácido acetil
salicílico, quinino; c) Antineoplásicos, como a cisplatina, a mostarda nitrogenada e a vincristina
(JOHNSON, 1992; BUSZMAN, WRZESNIOK, 2003; SURDO, 2004).
As alterações cocleares subclínicas causadas pela exposição a substâncias ototóxicas, como
alguns diuréticos, salicilatos, antibióticos aminoglicosídeos, podem ser diagnosticadas precocemente,
ainda em fase reversível, através dos registros das emissões otoacústicas (GARRUBA et al., 1990).
3. RESPALDO LEGAL DO AGENTE ETIOLÓGICO
3.1 Ruído Ocupacional
As alterações com relação às exigências jurídicas e técnicas, principalmente a respeito das
avaliações do ruído ocupacional, vem sofrendo mudanças constantes nos últimos anos no Brasil.
Novas Leis, instruções normativas e ordens de serviços referentes ao assunto vêm aproximando
os dois Ministérios que regulamentam a matéria: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Ministério
da Previdência e Assistência Social (MPAS-INSS).
As Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho - NR, relativas à segurança e medicina
do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos
da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que
possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Lei 6.514 regulamentada
pela portaria 3.214).
A Previdência Social é responsabilidade do MPAS. É o seguro social para a pessoa que contribui,
tendo como objetivo: reconhecer e conceder direitos aos seus segurados. A renda transferida pela
Previdência Social é utilizada para substituir a renda do trabalhador contribuinte, quando ele perde a
capacidade de trabalho, seja pela doença, invalidez, idade avançada, morte e desemprego involuntário,
ou mesmo a maternidade e a reclusão.
De acordo com o Art. 202, inciso II da Constituição Federal de 1988 o benefício por tempo de
serviço em atividade especial deveria ser concedido ao trabalhador que “exercia” atividade perigosa,
penosa ou insalubre. A partir de março de 1995, através da Lei 9.032 que modificou o Art. 57 da Lei
8.213/91, foi instituído um novo conceito para aposentadoria especial corrigindo algumas interpretações
inadequadas do texto constitucional. O enquadramento como atividade especial, a partir 1995, passou a
reger apenas as atividades ou operações que expõem os colaboradores a agentes insalubres, aumentando
a presença da fiscalização nas empresas para comprovação dos fatos e dados fornecidos ao INSS.
As atividades ou operações insalubres passaram a ser definida de acordo com os LT ou a
presença no ambiente de trabalho de determinados agentes físicos, químicos ou biológicos. Portanto,
para se concluir que determinada atividade é insalubre ou não, deve-se em primeiro momento
estabelecer o que está se querendo atender: aos requisitos do MTE ou ao do MPAS, pois o que é
insalubre para o MTE não é, necessariamente, considerado insalubre para o MPAS e, vice-versa.
O INSS através do MPAS, com relação ao agente ruído, alterou nos dez últimos anos três vezes
os limites considerados insalubres para a jornada diária de trabalho: de 80 dB(A) até 1997, passando
para 90 dB(A) e, atualmente, baixou para 85 dB(A), através da Instrução Normativa 99 do INSS de
início de 2004.
A partir de 1999 do Decreto 3.048/99, o INSS além de arrecadar ao SAT (Seguro de Acidente de
Trabalho) a alíquota de 1%, 2% a 3% de acordo com o grau de risco da empresa, passou a arrecadar
através do documento chamado GFIP, a alíquota aplicada entre 6%, 9% e 12%, tendo como base de
cálculo o salário dos empregados expostos a agentes insalubres.
A partir destas últimas modificações o agente ruído passou a ser o foco de atenção do INSS,
ressaltando-se os procedimentos e os parâmetros que devem ser empregados nas medições, indicando a
metodologia necessária à análise da exposição do trabalhador e as medidas de controle empregadas.
3.1.1 Limite de Tolerância do Ruído Ocupacional
Os equipamentos de medição atuais determinam automaticamente a tabela da dose medida e
projetada.
Tabela 1. NR15 anexo 1.
NPS em dB(A) Tempo Diário
Permitido
Dose %
85 8 horas 100
90 4 horas 100
95 2 horas 100
100 1 hora 100
... ... 100
Entende-se que o LT depende das informações de parâmetros das normas configuradas no
equipamento de medição. A cada acréscimo de 5 dB no NPS o tempo deve cair pela metade para que o
limite não seja superado, para que a dose não ultrapasse os 100% permitido diariamente. Deve-se
entender também que o equipamento despreza os valores abaixo de 80 dB(A); contabilizando os tempos.
Equações do NPS médio ponderado:
Tq dt
Potp
TqTWA
0
2log20
))((1log2log (1)
80)(%)6,9log(609,16
T
DoseTWA(2)
Deve-se salientar que as equações apresentadas seguem os critérios estabelecidos na NR15.
Embora, seja de conhecimento que os critérios que definem os LT para ruído contínuo ou intermitente
da NHO-01 da FUNDACENTRO estão baseados em conceitos e parâmetros técnico-científicos
modernos, seguindo tendências internacionais atuais, critério legal. Desta forma, os resultados obtidos e
sua interpretação quando da aplicação desta Norma podem diferir daqueles obtidos na caracterização da
insalubridade pela aplicação do disposto na NR15, anexo 1, da Portaria 3214 de 1978.
No anexo 2 da NR15 é fornecido os limites para níveis impulsivos, 120 dBC e 130 dBC quando
usada detecção rápida e 130 dBC e 140 dBC para circuitos impulsivos. Na NHO-01 da
FUNDACENTRO os limites para ruído de impacto são em função do número de ocorrência diário do
pico de ruído em dB(lin).
3.2 Poluentes Ototóxicos
Alguns solventes orgânicos têm mostrado afetar o sistema auditivo, entre eles: Benzeno,
Tolueno, Xileno, Tricloroetileno, Dissulfeto de Carbono e Estireno. Estudos sugerem que a exposição a
estes solventes tem efeito ototóxico, e também afetam o Sistema Nervoso Central. A exposição diária
aos agentes físicos e químicos no ambiente de trabalho tornam-se riscos à saúde e comprometem o bem-
estar dos indivíduos expostos (BASELT e CRAVEY, 1990; JOHNSON, 1992).
Os LT aos agentes químicos insalubres são encontrados na NR15 anexo 11 que relaciona agente
químico cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e inspeção no local de trabalho. O
anexo 13 da mesma norma, apresenta a relação das atividades e operações envolvendo agentes químicos
considerados insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho, sem a necessidade de
um LT. Não há menção as substâncias ototóxicas que estão presentes nas tabelas dessas normas.
O efeito combinado de dois agentes insalubres como químico e físico não são relacionados nas
NR(s) do MTE. Apenas na ACGIH, menciona o agente físico ruído, ao Benzeno e ao Tolueno como
agentes ototóxicos.
3.2.1 Limite de Tolerância dos Poluentes Ototóxicos
Os LT abaixo relacionados são válidos para absorção pela via respiratória em até 48 h/semana:
Tabela 2. NR15 anexo 11.
AGENTES
QUÍMICOS
ppm Mg/m³
Dissulfeto de
Carbono
16 47
Estireno 78 328
Tolueno 78 290
Tricloroetileno 78 420
Xileno 78 340
ppm – partes de vapor ou gás por milhão de partes de ar.
mg/m³ - miligramas por metro cúbico de ar
4. MEDIÇÃO DE RUÍDO EM DANCETERIAS
Estes ambientes são procurados por pessoas para diversão e alívio das tensões do dia a dia. Para a
análise dos resultados, considerou-se a norma do Ministério do Trabalho NR15 anexo 1 e 2 e os
procedimentos de medição da FUNDACENTRO NHO-01; conforme item 3 deste documento. Foram
realizadas projeções das doses de exposição em funcionários. Os procedimentos e resultados
encontrados são apresentados a seguir.
4.1. Procedimentos da Avaliação em Danceterias
Inicialmente, procurou-se avaliar o nível de ruído a que um freqüentador habitual de danceterias
é submetido. Os casos foram estudados, em danceterias do Rio de Janeiro, na qual um funcionário de
cada danceteria portava um dosímetro. Analisaram-se separadamente os NPS das pistas de dança e áreas
adjacentes (bar, circulação, banheiro, etc) e a dose de ruído, segundo parâmetros da Norma (item 3),
recebida pelos funcionários.
A ocorrência de níveis de ruído extremamente elevados gerou uma preocupação, com a qualidade
auditiva dos funcionários destes estabelecimentos.
4.2. Premissas da Avaliação do Ruído em Danceterias
Considerou-se em média o tempo de permanência do cliente no interior das danceterias de 4h e
dos funcionários 6h. As projeções das doses foram realizadas utilizando-se o programa Gerente SST
nestes períodos.
As medições foram realizadas em três danceterias situadas no Município do Rio de Janeiro. A
descrição como pode ser vista a seguir é sucinta devido ao sigilo:
Danceteria “A” situada no Centro da Cidade e muito freqüentada por pessoas mais velhas.
Danceteria “B” situada na Barra da Tijuca e muito freqüentada por jovens.
Danceteria “C” situada também na Barra da Tijuca, freqüentada por pessoas de todas as idades.
4.3. Resultados das Medições de Ruído nas Danceterias
Danceteria “A”: alternância entre música ao vivo e discoteca:
– dois ambientes sem separação;
– medidor preso no garçom;
- período de medição de 3 horas (21:00 às 24:00).
Danceteria “B”: som apenas de discoteca:
– três ambientes sem separação;
– medidor preso no garçom;
– período de medição de 3 horas (01:00 às 04:00).
Danceteria “C”: música ao vivo e discoteca em ambientes separados:
– vários ambientes com separações;
– medidor preso no garçom;
– período de medição de 4 horas (23:00 às 03:00).
Tabela 3. Resultados Encontrados nas Danceterias.
Danceteria “A” Danceteria “B” Danceteria “C”
Música ao
vivo
108,2dB(A) - 95,0dB(A)
Discoteca 101,0dB(A) 104,5dB(A) 98,5dB(A)
Áreas
adjacentes
95,0dB(A) 91,0dB(A) 84,0dB(A)
Na danceteria “A”, o tempo de exposição máximo admissível diariamente para o NPS de
103,2dB(A) é de 39 minutos e na danceteria “B”, é de 60 minutos. Ao considerar que o tempo de
permanência de clientes no local varia de 180 minutos (3 horas) a 240 minutos (4 horas) admite-se que
poderá haver um forte comprometimento a saúde auditiva dos indivíduos que freqüentam estes locais
uma vez por semana.
Os funcionários destas danceterias podem adquirir um problema de saúde auditiva ainda mais
sério, devido a maior permanência no ambiente. As medições na danceteria “C” considerada a de melhor
condicionamento acústico, dentre as três estudadas, atinge-se um NPS para a jornada de trabalho de 95,9
dB(A), que corresponde a uma exposição máxima de 104 minutos/dia. Sendo o tempo de exposição
diário estimado dos garçons de 360 minutos (item 4.2), chega-se a uma dose de 340%. Em apenas dois
dias o garçom fica exposto a 680% de dose, isto é, mais que os 500% (5x100%) permitidos na semana.
5. AVALIAÇÃO DO RUÍDO EM CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO
Uma questão curiosa que sempre pairou sobre as pessoas é o “barulho do motorzinho do
dentista” e por conseqüência a exposição do dentista a NPS elevados que possam prejudicar a saúde.
Desse assunto também surge à preocupação com a voz. Na maioria dos consultórios o dentista
constantemente conversa com o paciente distraindo-o ao máximo para realizar seu trabalho. Quanto
maior o ruído de fundo do ambiente mais o profissional tem que elevar a voz para ser entendido.
No caso analisado na sala de cirurgia há seis cadeiras de dentista posicionadas no ambiente sem
barreira física.
5.1. Procedimento da Avaliação do Ruído em Consultório Odontológico
As medições de ruído ocorreram em consultório odontológico onde são realizados cursos de pós-
graduação em tratamento de canal para dentistas. Foi escolhido um dentista que acabara de receber um
paciente para tratamento de canal. Posicionou-se o audio-dosímetro 706 da Larson Davis na cintura do
cirurgião-dentista e o microfone na altura da gola a cerca de 15 cm da orelha direita.
Também foi utilizado um analisador de freqüência modelo 2800 da Larson Davis para o
mapeamento das principais fontes existentes no consultório.
5.2. Resultado das Medições de ruído no Consultório Odontológico
Com o auxilio de um audio-dosímetro obteve-se o histórico do NPS em intervalos de cinco
segundos durante uma hora e oito minutos de medição o que permitiu uma análise confiável dos ruídos
envolvidos com a atividade. Verificou-se em algumas operações com a ferramenta de alta rotação um
NPS superior a 94,9 dBA, embora o nível equivalente contínuo (Leq) durante todo o tempo de medição
tenha ficado em 76,0 dB(A). Na sala também são realizadas outras atividades.
Com o auxílio de um analisador de freqüência de ruído rastrearam-se as diferentes fontes
envolvidas no histórico de medição:
Tabela 4. Mapeamento das Fontes do Consultório.
Fonte de Ruído Atividade NPS
Alta Rotação Mínima Tratamento de Canal 74,0 dB(A)
Alta Rotação Média Tratamento de Canal 86,1 dB(A)
Alta Rotação Máxima Tratamento de Canal 94,9 dB(A)
Bomba a Vácuo (1m) ------------ 75,4 dB(A)
Sugador Dentista Tratamento de Canal 82,0 dB(A)
Trabalho Manual com Bomba
Operando
Tratamento de Canal 68,0 dB(A)
Trabalho Manual com a Bomba
Inoperante
Tratamento de Canal 63,5 dB(A)
Bomba a Vácuo Operando a 2m ------------ 71,3 dB(A)
Comparando os resultados encontrados com os limites das normas podemos constatar que
embora os NPS em certas operações sejam muito elevados, em média, a atividade realizada neste local
apresenta valores abaixo de 80,0 dBA.
Pode-se concluir que a atividade analisada não é considerada insalubre, pois não atinge o limite
de ação estabelecido na NR9.
Por outro lado, o valor do Leq de 76,0 dB(A) ultrapassou os 65,0 dB(A), recomendado para
conforto acústico em ambiente de trabalho segundo a NR17 (Ergonomia). Tal ruído causa um
desconforto e conseqüentemente um estresse no profissional. O nível de inteligibilidade desses
ambientes também devem ser avaliados para minimizar problemas com a voz. Normalmente é utilizado
o índice NIC – Nível de Interferência na Comunicação ou o Speech Interference Level – SIL.
6. AVALIAÇÃO DO RUÍDO DO APARELHO CELULAR
Outra questão peculiar que paira é o ruído emitido pelo aparelho celular quanto ao toque da
campainha, uma vez que este aparelho tornou-se peça necessária à rotina de alguns trabalhadores, os
executivos, por exemplo. Há casos de pessoas que alegam terem ficado surdas com o toque do aparelho
celular quando o mesmo estava próximo a orelha.
Deve-se avaliar a susceptibilidade individual sem abandonar os critérios e limites apresentados
pelas Normas, obtendo o respaldo necessário ao relacionar a atividade ou operação executada. Desta
forma pode ser estabelecido o nexo causal. A verificação do histórico de saúde do indivíduo através dos
exames audiométricos de referência e seqüenciais descritos na NR7 também muito importante nesses
casos.
6.1. Avaliação do Ruído do Toque do Aparelho Celular
Posicionou-se um aparelho celular específico com o volume no máximo em várias distâncias
simulando a localização.
As medições foram realizadas com um audio-dosímetro e uma cabeça artificial da Neumann
devidamente verificada e corrigida para medições na altura do ombro (critério das normas).
Avaliou-se o NPS emitido pelo celular quando encostado na orelha com um toque específico.
Posições do Aparelho Celular na Cabeça Artificial
Fig 1. Posição correta encostado. Fig 2. Alto-falante de chamada encostado.
6.2. Níveis Globais com Analisador de Freqüência
o Toque Badinerie Alto-Falante a 1,5 cm: NPS/LEQ = 103,5 dB(A); Lmax = 105,2 dB(A);
IMPULSE: 109,2 dB(A).
o Toque Badinerie Alto-Falante a 4,5 cm: NPS/LEQ = 92,8 dB(A); Lmax = 94,4 dB(A);
IMPULSE: 99,1 dB(A).
o Toque Badinerie Alto-Falante a 15 cm: NPS/LEQ = 80,7 dB(A); Lmax = 84,3 dB(A); IMPULSE:
91,5dB(A)
o Toque Badinerie Alto-Falante a 35 cm: NPS/LEQ = 68,3 dB(A); Lmax = 68,9 dB(A); IMPULSE:
72,9dB(A)
6.3. Medições com Dosímetro e Cabeça Artificial:
São apresentados a seguir na detecção “slow” na escala “A” o NPS médio e máximo (Lmax) obtido
durante as medições:
o Posição correta encostado (fig.1): NPS/LEQ = 94,7 dB(A); Lmax = 97,6 dB(A)
o Alto-falante de chamada encostado (fig.2): NPS/ LEQ = 109,9 dB(A); Lmax = 113,5 dB(A)
Comparando os resultados de medição com os LT das normas apresentados no item 3 pode-se
considerar que os NPS emitidos pelo aparelho celular avaliado estão abaixo dos considerados
prejudiciais ou de risco iminente devido ao tempo de exposição. A probabilidade de ocorrência de algum
dano na audição nas condições avaliadas pode ser considerada pequena para a maioria dos indivíduos
saudáveis.
Os valores apresentados foram os mais altos encontrados nas posições do celular em relação ao
microfone de campo livre do analisador e do microfone de pressão da cabeça artificial acoplada ao
dosímetro.
7. CONCLUSÕES
Não foi intenção do legislador perpetuar o pagamento do adicional de insalubridade ou o
benefício da aposentadoria especial. Se este fosse o caso, estaria incentivando o descaso e
desestimulando a adoção de medidas preventivas. Os casos apresentados neste trabalho permitem uma
reflexão sobre os LT empregados e a responsabilidade do empregador no que diz respeito aos danos
auditivos.
Os resultados obtidos nas danceterias podem ser considerados alarmantes, visto que envolve
risco de danos à saúde considerando os passivos trabalhistas, isto é, os pesados ônus devido a aplicação
de multas pelo legislador além das ações trabalhistas e indenizatórias.
Com relação ao consultório odontológico, embora não tenha atingido os NPS considerados
prejudiciais, os valores encontrados incomodam devido a presença de altas freqüências sonoras, os quais
ultrapassaram os limites de conforto acústico.
Nas avaliações realizadas com aparelho celular verificou-se a presença de NPS elevados embora
as operações simuladas são pouco habituais aos usuários e de difícil ocorrência.
Deve-se salientar que os LT devem ser interpretados como NPS ao qual uma população pode
estar exposta num determinado tempo para que ao longo da vida, não resulte efeito adverso na sua
habilidade de ouvir e entender uma conversa normal. Portanto, deve-se entendê-lo como referência para
avaliação e não interpretá-lo como um limiar que separa o ruído perigoso do aceitável.
Com relação às substâncias ototóxicas, estas podem promover destruição das células ciliadas do
órgão de Corti causando perda auditiva. Associando a este fato, há a fadiga causada pelo ruído elevado
que pode aumentar estes efeitos. O sinergismo destes fatores pode aumentar a sensibilidade das células
ciliadas ao ruído. Estudos biomoleculares sugerem que além dos mecanismos físicos e químicos, sejam
considerados os efeitos apoptóticos destas células nas investigações de ototoxicidade.
AGRADECIMENTOS
A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro aos Técnicos da 3R Brasil - Tecnologia Ambiental, ao Inmetro e a Thais C. Morata.([email protected]) NIOSH - The National Institute for Occupational Safety and Health.
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