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FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA MATER CHRISTI Direito, Administração, Sistemas de Informação e Ciências Contábeis– Portarias MEC 360/445/443/965 CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO LABORATÓRIO DE DIREITO PENAL II PROF.: STELISON FERNADES ALUNA: MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS PEREIRA NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI INTRODUÇÃO O Tribunal do Júri, como instituto jurídico, surgiu no Brasil por meio de um Decreto Imperial em 18 de julho de 1822, atribuindo-lhe o dever de julgar os crimes praticados contra a imprensa. Há época, juízes de fato como eram denominado, era composto de 24 (vinte quatro) juízes. Estes por sua vez, eram homens de bom caráter, inteligentes e principalmente, traziam consigo o sentimento patriota. É notável que desde a vigência do referido decreto, o instituto ora abordado sofreu inúmeras modificações, uma vez que encontrou guarida na Constituição de 1988, que em observância as garantias e direitos fundamentais do indivíduo, estenderam a competência dos jurados para se pronunciarem contra os crimes dolosos contra a vida, tornando soberano o veredicto desse colegiado. Portanto, há que se ressaltar que esse organismo é parte integrante do Poder Judiciário, e na primeira instância, tem a competência para julgar crimes dolosos contra a vida, como já mencionado, outrossim, nos crimes tentados ou

NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

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Page 1: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA MATER CHRISTIDireito, Administração, Sistemas de Informação e Ciências Contábeis– Portarias MEC 360/445/443/965

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITOLABORATÓRIO DE DIREITO PENAL IIPROF.: STELISON FERNADESALUNA: MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS PEREIRA

NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

INTRODUÇÃO

O Tribunal do Júri, como instituto jurídico, surgiu no Brasil por meio de um

Decreto Imperial em 18 de julho de 1822, atribuindo-lhe o dever de julgar os crimes

praticados contra a imprensa. Há época, juízes de fato como eram denominado, era composto

de 24 (vinte quatro) juízes. Estes por sua vez, eram homens de bom caráter, inteligentes e

principalmente, traziam consigo o sentimento patriota. É notável que desde a vigência do

referido decreto, o instituto ora abordado sofreu inúmeras modificações, uma vez que

encontrou guarida na Constituição de 1988, que em observância as garantias e direitos

fundamentais do indivíduo, estenderam a competência dos jurados para se pronunciarem

contra os crimes dolosos contra a vida, tornando soberano o veredicto desse colegiado.

Portanto, há que se ressaltar que esse organismo é parte integrante do Poder

Judiciário, e na primeira instância, tem a competência para julgar crimes dolosos contra a

vida, como já mencionado, outrossim, nos crimes tentados ou consumados, e nos comuns que

lhes forem conexos.

O que se nota é apesar de o núcleo principal do Tribunal do Júri se fincar no

julgamento proferido por um colegiado de cidadãos comuns, este também se reveste de

caráter cultural.

Infere-se que o procedimento do Tribunal do Júri, por ser bifásico, bem como,

em demasia complicado e moroso, gerava na população um sentimento de impunidade, frente

à gravidade dos crimes praticados pelo agente. Esse foi um dos motivos que impulsionou a

reforme do aludido instituto, aprovando a Lei nº 11.689 de 09 de junho de 2008, a qual

passará a detalhar.

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1. PRINCIPIOS NORTEADORES DO TRIBUNAL DO JÚRI

A Constituição Federal de 1988 há muito é considerada uma carta de

princípios, e estes cada vez mais se revestem de força valorativa. Desse modo, aduz Celso

Ribeiro de Bastos:

Os princípios constitucionais são aqueles que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica. Isto só é possível na medida em que estes não objetivam regular, situações específicas, mas sim despejam lançar sua força sobre o mundo jurídico. Alcançam os princípios esta meta à proporção que perdem o seu caráter de precisão de conteúdo, isto é, conforme vão perdendo densidade semântica, eles ascendem a uma posição que lhes permite sobressair, pairando sobre uma área muito mais ampla do que uma norma estabelecedora de preceitos. Portanto, o que o princípio perde em carga normativa ganha como força valorativa a espraiar-se por cima de um sem-número de outras normas (BASTOS, 2002, p. 241).

Manoel Jorge e Silva Neto asseveram que os princípios tornam-se instrumentos

que facilitam a interpretação de uma norma:

Os princípios modelam de modo vigoroso, os diversos setores no ordenamento jurídico, cumprindo, ainda, o papel de inestimável ferramenta posta à disposição do cientista quando da consumação do procedimento interpretativo da norma, porque, sabendo-se ser a Ciência do Direito uma metalinguagem da linguagem-objeto do direito positivo, isto é, a Ciência do Direito, mediante proposições descritivas, desvenda o conteúdo do retrato normativo, teremos os princípios de interpretação despontando como significados pontos de partida para que se encontrem os princípios explícitos ou implícitos remanescentes no sistema (SILVA NETO, 2006, p. 107).

Consoante se extrai do texto constitucional, o Tribunal do Júri tem com

fundamento os seguintes princípios: plenitude de defesa; soberania dos veredictos; sigilo das

votações; por fim, competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida, senão

vejamos in verbis:

Art. 5º, XXXVIII – É reconhecida a instituição do júri, como organização que lhe der a lei, assegurados:a) a plenitude de defesa;b) o sigilo das votações;c) a soberania dos veredictos;d) a competência pra o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

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1.1. PLENITUDE DE DEFESA

Quanto ao primeiro princípio, este se reveste de essencialidade para o acusado,

uma vez que no momento em que está sendo avaliado pelo Conselho de Sentença este deve

ocorrer dentro dos ditames da lei, promovendo oportunidade para que se defenda das

acusações a ele imputadas. Destarte, em sendo observado uma defesa eivada de vícios, esta

deverá ser confrontada de logo, por se verificar afronta ao principio ora discorrido. Portanto,

quando o indivíduo é colocado perante o Tribunal do Júri, é garantido ao inculpado, o direito

de contra-razoar todas as denúncias que lhes estão sendo imputadas. A reforma processual,

com base nesse no principio da plenitude de defesa, validou a mudança do interrogatório do

acusado, que pela Lei nº 11.689/2008, passou a ser ouvido por último, como meio de defesa,

podendo se defender de todas as alegações a ele atribuídas no decorrer da audiência una.

1.2. SOBERANIA DOS VEREDICTOS

O principio da soberania dos veredictos se reveste de uma competência

exclusiva, embora não seja este absoluto, pois existe a possibilidade de que o acusado seja

absolvido sumariamente, ou que haja revisão criminal, ambas no sentido de beneficiar o

acusado. Em análise a este principio, podemos conceituá-lo de um poder conferido a alguém

para absolver ou condenar. Imperiosos destacar que os juízes togados não poderão proferir as

decisões de mérito, pois esta é da competência exclusiva dos jurados. Importa esclarecer que

das deliberações realizadas pelos jurados, só poderão ser apreciadas novamente, em sede de

recurso nos Tribunais, quando os veredictos forem totalmente contrários às provas produzidas

nos autos processo. Frise-se aqui que compete ao Tribunal ad quem apenas apreciar a decisão

para uma possível declaração de nulidade, em sendo encontrado error in procedendo ou n

judicando, porém nunca reformar ou modificar o veredicto do Conselho de Sentença.

Destarte, salvo nos casos de erro no procedimento ou no julgamento, a decisão proferida pelo

veredicto dos jurados, não será passível de modificações

1.3. SIGILO DAS VOTAÇÕES

Com base no principio do sigilo de votação, o que se tenta assegurar é a

imparcialidade dos jurados, oportunizando a cada integrante do Conselho de Sentença, decidir

sem intervenção de terceiros, formulando sua opinião de acordo com o que foi apresentado

Page 4: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

em plenário. Nesse sentido afirma Morais (2006, p. 77) “[...] este preceito constitucional diz

que a liberdade de convicção e opinião dos jurados deverá ser resguardada, devendo a

legislação ordinária prever mecanismos para que não frustre o mandamento constitucional”.

Imperioso de destacar as lucubrações de Júlio Fabrini Mirabete:

A própria natureza do júri impõe proteção aos jurados e tal proteção se materializa por meio do sigilo indispensável em suas votações e pela tranqüilidade do julgador popular, que seria afetada ao proceder a votação sob vistas do público. Aliás, o art. 93, IX, não pode se referir ao julgamento do júri, mesmo porque este, as decisões não podem ser fundamentadas (MIRABETE, 2000, p. 1032).

Hodiernamente, preservando o sigilo das votações não mais é divulgado o

resultado completo da votação, pois quando se atinge o quarto voto, em cada um dos quesitos,

o juiz togado determina que seja encerrada a apuração dos votos, uma vez que já se alcançou

resposta majoritária do Conselho de Sentença, assegurando desse modo uma votação sigilosa.

1.4. COMPETÊNCIA PARA JULGAR OS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA

O artigo 5º inciso XXXVIII, alínea “d” da Carta Magna de 1988, atribui

competência ao Tribunal do Júri para absolver ou condenar o acusado de crimes dolosos

contra a vida. Nesse ponto, ainda existe uma celeuma, onde alguns doutrinadores afirmam que

pessoas comuns não possuem entendimento jurídico para proferir veredictos tão importantes.

De acordo as asseverações de Nucci (2007, p.225), “[…] Competência é a

delimitação da jurisdição, ou seja, o espaço dentro do qual pode determinada autoridade

judiciária aplicar o direito aos litígios que lhe forem apresentados, compondo-os.”

Importa ressaltar que essa competência é mínima, não sendo passível de

substituição por nenhuma lei infraconstitucional, porém, esta competência poderá ser

ampliada através de uma lei ordinária.

2. FASES DO TRIBUNAL DO JÚRI

Preliminarmente, cumpre dizer que o procedimento do Júri, com mencionado

alhures, é bifásico, ou seja, apresenta duas fases distintas, tendo em sua composição um juiz

togado, no caso o presidente, e vinte e cinco jurados, sendo sorteados apenas sete para compor

o Conselho de Sentença.

Na primeira fase, o que anteriormente vigia era a produção de provas, todavia

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pela alteração da aludida lei, nessa etapa se inicia uma espécie de juízo de admissibilidade da

acusação, que começará com o oferecimento da denúncia ou queixa, sendo concluída com a

decisão da pronúncia, compondo dessa forma o sumário da culpa, ou judicium acusationis.

Na segunda etapa, pela nova redação da Lei nº 11.689 de 09 de junho de 2008,

ocorre o julgamento do mérito da ação, que representa o judicium causae ou juízo da causa.

Essa fase tem seu início quando as partes apresentam do rol de testemunhas, e finalmente se

conclui com o julgamento feito pelo Conselho de Sentença.

2.1 PRIMEIRA FASE

Consoante se verifica nos artigos 394 a 405 do Código de Processo Penal

Brasileiro, a primeira fase do segue as regras do que foi estabelecido para o procedimento

ordinário. Frise-se que a audiência será uma, portanto ocorrendo na seqüência a audiência de

instrução, os debates orais e por fim o julgamento. É de bom registrar logo que a primeira

etapa do procedimento do Júri não poderá ser concluída num prazo superior a noventa dias,

conforme dispõe o artigo 412 do CPP.

Destarte, sendo recepcionada a denúncia ou queixa, o magistrado ordenará que

se proceda a citação do acusado, devendo este ofertar reposta escrita no prazo de 10 (dez)

dias. No entanto não sendo esta oferecida, o juiz nomeará um defensor dativo para que se

pronuncie em favor do réu. Logo após será marcada a audiência de instrução, momento em

que serão indagadas as testemunhas de acusação e da defesa, nessa ordem, e posteriormente

será interrogado réu.

Registre-se logo que em sede de alegações finais, pela nova previsão legal,

estas deverão ser produzidas oralmente em audiência. Assim, por ocasião do encerramento da

audiência una, o juiz proferirá a decisão, podendo ainda, por ocasião da prolação se

manifestar a cerca da pronúncia, da impronúncia, da desclassificação ou absolvição sumária

no prazo de até 10 (dez) dias da data de encerramento da audiência.

Importa destacar que na primeira fase do Tribunal do Júri o que se pretende

não é provar a existência de culpabilidade do agente, mas sim a probabilidade de que poderá

ser ele autor do fato delitivo, a veracidade dos fatos serão provadas em Plenário, uma vez que

serão os jurados, que investido de poder, apreciarão todas as provas produzidas, consoante aos

crimes dolosos contra a vida.

Cumpre ressaltar sobre as possibilidades de que se cerca o Juiz na fase

probatória do sumário da culpa, ou seja, face ao encerramento da acusação e instrução

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preliminar, o magistrado poderá prolatar uma das seguintes decisões abaixo elucidadas.

2.1.1 Da Pronúncia

A pronúncia é uma decisão que não adentra ao mérito, por sua vez, põe fim

apenas a uma fase meramente procedimental, portanto não tem capacidade para encerrar um

processo.

O procedimento escalonado do Júri somente segue seu feito se o acusado por

pronunciado, uma vez que somente esta decisão do magistrado é que permite ao acusado ser

julgado pelo tribunal do júri. Ademais nesse momento não há necessidade de que existam

provas plenas de acusação, uma vez que na dúvida, deve o acusado ser submetido ao

julgamento proferido pelo juízo natural. Quanto a esse aspecto, ouve significativa alteração

conforme se depreende do artigo abaixo transcrito, in verbis: “Art. 413 do CPP. – O juiz,

fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencer da materialidade do fato e da

existência de indícios suficientes de autoria ou de participação”.

É de fácil percepção que para que o acusado seja pronunciado pelo magistrado

e conseqüentemente levado ao Tribunal do Júri, é necessário a presença do binômio

autoria/materialidade – materialidade do fato – bem como da presença do elemento subjetivo

do crime, qual seja: indícios suficientes de autoria ou de participação.

Portanto, o juiz observando a existência dos requisitos supra, deverá pronunciar

o acusado, todavia sem emitir qualquer juízo de valor sobre o fato. Nesse sentido destacamos

os ensinamentos de Andrey Borges de Mendonça:

[...] nesse momento procedimental, especialmente pra evitar influências sobre o ânimo dos jurados, a linguagem deve ser comedida, de sorte que o juiz deve se limitar a indicar a prova da materialidade e a existência de indícios suficientes de autoria ou participação. (MENDOÇA, 2008, p. 15).

Há que se destacar ainda que a pronúncia produz quatro efeitos, senão

vejamos: o primeiro, como já mencionado alhures, é que o acusado, sendo pronunciado pelo

juiz, será submetido ao julgamento proferido pelo Conselho de Sentença. O segundo efeito é

que haverá uma delimitação quanto à acusação que será submetida ao julgamento pelo

Tribunal do Júri, fixando, por conseguinte, a classificação do crime. Outro efeito se reporta à

prisão e à liberdade do acusado. Por derradeiro, tem-se com a pronúncia do acusado a

prescrição interrompida.

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Por fim cumpri dizer que, de acordo com as alterações da lei objeto de estudo,

deve ser realizado a intimação pessoal do réu, da decisão da pronúncia, não existindo mais a

antiga distinção se o crime é ou não passível de ser arbitrado fiança. Para o caso de não ser o

acusado encontrado, será intimado por meio de edital, evitando-se desse modo a suspensão do

processo.

2.1.2 Da Impronúncia

O juiz pode também decidir pela impronúncia quando não estiver convencido

da materialidade fática ou da existência de indícios insuficientes de autoria ou da participação,

conforme se depreende da nova redação da Lei nº 11. 689/2008, artigo 414. Neste caso

estamos diante de uma decisão interlocutória, pois se há julgamento do mérito, porém põe

termo a uma fase do procedimento e conseqüentemente encerra-se do processo, uma vez que

não se encontram presentes os pressupostos essenciais à pronúncia do réu.

Prudente esclarecer que a impronúncia não patrocina a absolvição o réu, porém

o que se configura é a ausência do binômio autoria/materialidade. Ademais, resta consolidado

no parágrafo único do artigo supracitado, que a impronúncia não tem força de sentença, capaz

de declarar a inocência do acusado, pois se surgirem novas provas que apontem para a

responsabilidade criminal do réu, poderá ser ofertado nova queixa ou denúncia.

Importa afirmar ainda que se restar configurado que não existiu o fato

imputado ao agente, ou ainda for reconhecida a inexistência de autoria, ou que o fato pelo

qual estava sendo acusado o réu não representa infração penal, não será possível interpor nova

ação penal contra o agente, uma vez que se trata de coisa julgada material, devendo portanto,

ser o acusado absolvido sumariamente.

2.1.3 Absolvição Sumária

Na primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri o juiz pode absolver

sumariamente o réu quando estiverem presentes uma das hipóteses previstas no artigo 415, in

verbis:

Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:I – provada a inexistência do fato;II – provado não ser ele o autor ou participe do fato;III – o fato não constituir infração penal;IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.

Page 8: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

Na realidade temos neste ponto uma verdadeira sentença absolutória, que

apesar de ser uma exceção ao principio da soberania dos veredictos, é plenamente possível

sua aplicação, uma vez que tem o escopo de o acusado seja levado a julgamento dos jurados,

em uma situação que claramente reclama pela aplicação do instituto da absolvição. Desta

forma também é o entendimento de Magalhães Noronha: “A absolvição sumária autorizada

pelo Código é norma tradicional do direito pátrio e inspira-se na razão preponderante de evitar

para o réu inocente as delongas e os notórios inconvenientes do julgamento pelo júri.

(NORONHA, 1997 p. 336)”.

Há que se ressaltar que, sendo absolvido sumariamente o réu e posteriormente

a sentença transitar em julgado, e mesmo que surjam provas novas sobre o fato, inexistentes é

a possibilidade de se argüir novo processo.

2.1.4 Desclassificação

Por derradeiro, temos a desclassificação conforme aduz o artigo 419, consoante

redação da Lei nº 11.689/2008, senão vejamos: “Art. 419 Quando o juiz se convencer, em

discordância da acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1º do art. 74 deste

Código e não for competente para julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja”.

Neste ponto, resta configurado uma decisão interlocutória, onde o magistrado

reconhece de pronto sua incompetência para julga o fato discorrido nos autos, remetendo-os

ao juiz competente.

Cumpre por fim salientar que quando a desclassificação for decisão do próprio

Conselho de Sentença, a Lei nº 11.689/2008, quando houver um único processo, o julgamento

ficará a cargo do Juiz Presidente do Tribunal do Júri, conforme dispõe o artigo 74, § 3º, c/c

artigo 492, § 1º do CPC. Todavia quando se tratar de processos conexos, que não se

qualifiquem como crimes dolosos contra a vida, o julgamento de todos eles, caberão ao juiz

presidente.

Portanto, toda vez que o próprio Tribunal do Júri desclassificar um crime,ou

seja, reconhecendo que o fato imputado ao acusado não corresponde a um crime doloso contra

a vida, a competência para julgar será sempre do Juiz Presidente, no escopo de aproveitar

todos os atos anteriormente realizados.

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2.2 SEGUNDA FASE

Na segunda fase inicia-se a preparação o julgamento em plenário, ou seja, aqui

será desenvolvido o próprio julgamento do tribunal do Júri. Neste aspecto, a lei 11.689/2008

proporcionou diversas modificações no tocante ao libelo crime acusatório quanto a sua

contrariedade, da possibilidade das partes indagarem diretamente as testemunhas e acusado,

também promoveu alterações quanto aos quesitos a serem oferecidos ao Conselho de

Sentença, e finalmente sobre a impossibilidade de recurso de protesto por novo júri.

2.2.1 Intimação das Partes

Restando preclusa a decisão de pronúncia, os autos processuais serão remetidos

ao juiz presidente do Tribunal do Júri. Este por sua vez, procederá à intimação das partes, da

acusação e defesa, para que no prazo de cinco dias, arrolem as testemunhas que irão depor em

plenário, sendo no máximo cinco. Vale ressaltar que também deverão indicar os meios de

provas que ainda serão produzidas, abrindo também oportunidade para que se proceda juntada

de documentos que julgam necessários. Portanto clarividente é a expulsão do libelo

acusatório, que na realidade tinha apenas uma finalidade: arrolar testemunhas.

É notável que o novo sistema processual, conferido pela Lei nº 11.689/08, é

mais célere, uma vez que fora abolido o libelo bem como a contrariedade desse.

Na seqüência, o Juiz Presidente fará o saneamento do processo para verificar

de irregularidades, procedendo às providências cabíveis. Essa diligência é essencial, uma vez

que tem o escopo de impedir a anulação do feito. Em seguida o magistrado redigirá um

sucinto relatório do processo. Consoante afirmativa de Guilherme Nucci (1997, p.175) este

documento representa “apenas um panorama geral do processo, a sem incidência de qualquer

opinião a cerca do mérito da causa ou do conteúdo das provas.

Por fim, em sendo saneado o processo, este será incluído na pauta da reunião

do Tribunal do Júri.

2.2.2 Do Alistamento dos Jurados

Com a redação do artigo 425 do CPP, o legislador adaptou a lista de jurados

em três seguimentos. Nas cidades com mais de 1 milhão de habitantes serão escolhidos de

800 a 1.500 jurados; nas cidades com mais de 100 mil habitantes serão selecionados de 300 a

Page 10: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

700 jurados e nas comarcas menores a seleção será de 80 a 400 jurados.

Para essa escolha o magistrado deverá requisitar informações sobre a sociedade

civil, e pugnando pela ampliação do processo que envolve uma justiça popular democrática,

serão analisadas as indicações feitas por diversos organismos da sociedade em geral. A lista,

conforme imposição do Código vigente deve ser dúplice. A primeira, em caráter provisório,

será publicada no dia 10 de outubro de cada ano, podendo ser alterada de ofício ou através de

requisição de qualquer do povo. A segunda, em caráter definitivo, será publicada no dia 10 de

novembro, sendo neste momento aberto prazo para interposição de recuso, todavia em sentido

estrito.

Em relação aos juízes togados, será válido as regras de impedimento, suspeição

e incompatibilidade com previsão legal nos artigos 112, 252, 253, 254 e 449 do CPP. Ainda

consoante se depreende do artigo 468 do CPP, as partes poderão, imotivadamente ou

peremptoriamente, recusar até três jurados cada uma. Quanto a isso, uma das inovações

trazidas pela Lei ora estudada, foi que em se tratando de dois ou mais réus, apenas um

defensor será incumbido da recusa.

A Lei 11.689/08 também inovou quanto a cisão de julgamento dos réus. Este,

por conseguinte, só ocorrerá quando não for alcançado o quorum mínimo de sete jurados para

compor o Conselho de Sentença.

Ressalte-se ainda que o a função de jurado é revestida de obrigatoriedade,

portanto não pode o escolhido recusar imotivadamente, sob as pena da lei, conforme dispõe os

artigos 436 e 442 do CPP.

Por derradeiro, cumpre dizer que o jurado exerce função de grande

importância, por essa razão é que em sendo escolhido presume-se ser pessoa idônea, com

caráter e reputação ilibada.

2.2.3 Desaforamento

O desaforamento é uma situação excepcional. Corresponde ao ato onde a

competência territorial para o julgamento do Tribunal do Júri é modificada, em decorrência de

um dos quesitos previstos na lei, afastando a acusado de ser julgado perante o júri do local

onde cometeu o delito. Esse ato reclama prévia justificativa, sob pena de nulidade.

Os fatos que podem gerar o desaforamento são: interesse da ordem pública;

dúvida sobre a imparcialidade do júri; segurança pessoal do acusado; excesso de serviço que

acarrete atraso no julgamento do réu por seis meses ou mais, a partir da preclusão da decisão

Page 11: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

de pronúncia.

Uma das inovações do Código de Processo Penal é a possibilidade de

suspensão do julgamento pelo júri, devendo este ato ser determinado motivadamente pelo

Relator do Tribunal.

Por fim cumpre registrar o entendimento do Supremo Tribunal Federal,

Súmula nº 712, que atribui nulidade à decisão que decide pelo desaforamento de processo da

competência do júri sem audiência de defesa.

2.2.4 Julgamento em Plenário

Antes que se inicie os trabalhos da sessão, o magistrado se posicionará acerca

dos casos de isenção e dispensa dos jurados, outrossim quanto aos pedidos de adiamento.

Importa destacar de logo os caso em que ensejaram no adiamento do julgamento, quais sejam:

ausência do Ministério Público, bem como do defensor técnico; quando o réu preso não tiver

sido requisitado.

Para facilitar a compreensão do júri, quanto a aplicação de seus julgamento, o

procedimento do Tribunal do Júri conta coma apresentação dos quesitos, estes devem abarcar

toda matéria alegada pela defesa, em qualquer fase processual, bem como pela acusação, no

limite da pronúncia. A Lei em análise, simplificou a formulação dos quesitos, que

hodiernamente obedecem a seguinte ordem: materialidade do fato; autoria e participação; se o

acusado deve ser absolvido; se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; se

existe circunstâncias ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões

a ela posteriores, admitindo a acusação.

O primeiro trata da materialidade do fato, ou seja, se o fato, dentro do limite a

que está sendo imputado ao acusado, realmente existiu. Nesse sentido o que pretendeu o

legislador foi evitar o desdobramento dos quesitos.

O segundo quesito corresponde a autoria e participação, sendo importante

observar para o modo como o fato foi descrito na peça acusatória e posteriormente

reconhecida na pronúncia.

O terceiro quesito está para a absolvição do acusado. Neste, a Lei inovou

quanto a ao grau de subjetividade e abstração, pois, uma vez que a competência fora

repassada para um corpo de jurados, é previsível que haja a substituição do direito positivado

pelo sentimento de justiça, no qual estão imbuídos todos os que compõem do Conselho de

Sentença.

Page 12: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

O quanto quesito serão feitas indagações acerca da existência de causas que

podem diminuir a pena ou privilegiar o apenado.

O ultimo quesito será com relação as qualificadoras do próprio tipo penal do

qual está sendo imputado ao réu.

Destarte, se a maioria dos jurados responder negativamente um dos dois

primeiros quesitos, ou seja, negando a materialidade do fato, ou quanto a autoria e

participação, encerra-se-á a votação, sendo absolvido o réu. No entanto se a reposta for

positiva quanto a esses quesitos, indaga-se os jurados se eles são favoráveis quanto a

absolvição do réu, e em sendo positiva a resposta, restará encerrada a sessão. Todavia,

ocorrendo o oposto, segue-se indagando os jurados acerca dos demais quesitos.

Imperioso destacamos também quanto a ordem da inquirição. Esta, em

plenário, ocorre de mo diverso no que acontece no procedimento comum. Explico. No novo

procedimento do júri, a inquirição será na seguinte ordem: o juiz presidente, Ministério

Público, o assistente, o querelante e por fim o defensor do acusado. As indagações serão feitas

diretamente às testemunhas, no entanto, quando as estas forem de iniciativa dos jurados, serão

realizadas por meio do juiz presidente.

Entretanto quando se tratar do interrogatório, a ordem será a seguinte: a

iniciativa será do Ministério Público, em seguida do assistente, após querelante e por fim do

defensor, nessa ordem, tendo a prerrogativa de se dirigirem diretamente a o acusado e fazer as

perguntas que julgarem necessárias, não necessitando assim da participação do juiz

presidente.

Importa registrar que não será permitido o uso de algemas durante a realização

do julgamento em plenário, exceto nos casos em que seja imprescindível para garantir a

segurança dos presentes.

Realizada a instrução será, inicia-se os debates orais. Em seguida, o juiz

presidente lerá os quesitos, explicando a finalidade de cada um. Logo após, será lavrado a

sentença, observando o disposto no artigo 492, II, a do CPP.

Por derradeiro cumpre dizer que contra a sentença proferida pelo Tribunal do

Júri, caberá recurso de apelação.

Page 13: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando, podemos observar que as pretensões do legislador são assegurar

celeridade e efetividade aos crimes dolosos contra a vida. Quanto ao primeiro, resta

perfeitamente impregnado na primeira fase do Tribunal do Júri. No entanto, no que tange a

efetividade, vedou o protesto por um novo júri, bem como simplificando a parte dos quesitos,

no sentido de que se evite nulidades, as quais eram tão comuns na sistemática anterior.

Page 14: NOVO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

BASTOS, Celso Ribeiro. A Reforma da Constituição: em defesa da revisão constitucional.

Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 36, nov. 1999. Disponível em: . Acesso em: 21 jun. 2010.

MENDONÇA, Andrey Borges. Nova Reforma do Código de Processo Penal. São Paulo:

Método, 2008.

MIRABETE, Júlio Fabrine. Código de Processo Penal Interpretado. 8. ed. São Paulo: Atlas,

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