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FUNDAMENTOS CONTÁBEIS DA RENTABILIDADE DAS EMPRÊSAS DE ENERGIA ELÉTRICA ViÇOSO SILVA NOVO E HELIO WILSON TAVARES "As atribuições da administração financeira não estão claramente delimitadas na prática, e as att- vuiaee« necessárias ao bom desempenho da função tinanceira são tratadas de maneiras diversas de- pendendo da estrutura organizacional," - ROBERT W. JOHNSON INTRODUÇÃO Produção e Venda de energia elétrica constituem ativida- de econômica cuja promoção depende de concessão outor- gada pelo Estado. A interferência do poder público, entretanto, não se limi- ta ao ato concessivo somente. Amplia-se em atividade fis- calizadora, institucionalizando, também, um disciplina- mento que envolve o próprio regime reditual das iniciati- vas empresariais interessadas na exploração do negócio de energia elétrica. Essa participação direta do estado se efetua em decorrên- cia de condições peculiares do negócio, ou seja, a presta- ção de um serviço de utilidade pública. Assim sendo, o que se verifica, na realidade, é uma conciliação entre as impo- sições do interêsse coletivo e as normas estatais de estí- mulo aos empreendimentos básicos de desenvolvimento econômico como ocorre com a produção de energia elé- trica. A caracterização da aludida convergência de interêsse é a fixação de limite para a remuneração do negócio, em VIÇOSO SILVA Novo e HÉLIO WILSON TAVARES - da CONTAP - Consultoria Técnica de Administração e Planejamento, Rio de Janeiro, GB,

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  • FUNDAMENTOS CONTBEIS DARENTABILIDADE DAS EMPRSAS

    DE ENERGIA ELTRICAViOSO SILVA NOVO EHELIO WILSON TAVARES

    "As atribuies da administrao financeira noesto claramente delimitadas na prtica, e as att-vuiaee necessrias ao bom desempenho da funotinanceira so tratadas de maneiras diversas de-pendendo da estrutura organizacional," - ROBERTW. JOHNSON

    INTRODUO

    Produo e Venda de energia eltrica constituem ativida-de econmica cuja promoo depende de concesso outor-gada pelo Estado.

    A interferncia do poder pblico, entretanto, no se limi-ta ao ato concessivo somente. Amplia-se em atividade fis-calizadora, institucionalizando, tambm, um disciplina-mento que envolve o prprio regime reditual das iniciati-vas empresariais interessadas na explorao do negcio deenergia eltrica.

    Essa participao direta do estado se efetua em decorrn-cia de condies peculiares do negcio, ou seja, a presta-o de um servio de utilidade pblica. Assim sendo, o quese verifica, na realidade, uma conciliao entre as impo-sies do intersse coletivo e as normas estatais de est-mulo aos empreendimentos bsicos de desenvolvimentoeconmico como ocorre com a produo de energia el-trica.

    A caracterizao da aludida convergncia de intersse a fixao de limite para a remunerao do negcio, em

    VIOSO SILVA Novo e HLIO WILSON TAVARES - da CONTAP - ConsultoriaTcnica de Administrao e Planejamento, Rio de Janeiro, GB,

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    funo do Custo do Servio e de valres componentes doInvestimento.

    Limitando a remunerao do Investimento a uma fraodo seu montante, 10% a. a ., no se extinguem as possi-bilidades de xito econmico para o empreendimento,porm surgem implicaes de natureza administrativo-contbil que devem ser tecnicamente solucionadas pelasemprsas que operam neste ramo de atividades.

    Por essa razo, os processos contbeis de registro assumemum carter especializado como instrumento de contrle disposio dos rgos de Administrao, para os quais con-verge todo o complexo de pormenores inerentes econo-mia interna das emprsas de energia eltrica.

    Com o surto da eletrificao no Pas, em plena expanso,assume indiscutvel importncia o problema de formaode equipes de contabilistas aptos a prestarem colaboraoeficiente s emprsas de energia eltrica que esto se cons-tituindo.

    Considerando parte as injunes da especializao, nose pode negar que o elenco de problemas afetos conta-bilidade das emprsas de energia eltrica empolga todocontabilista que tem pendores para a pesquisa.

    A evoluo violenta de nossa estruturao econmica sobo signo de um intenso processo inflacionrio, felizmentej atenuado, refletiu-se profundamente no mbito das em-prsas de energia eltrica, despertando uma srie de pro-blemas desafiadores que pontilham de interrogaes agesto racional dsses grandes acervos de valres compo-nentes de seu Investimento.

    No conjunto dessas indagaes emerge a pesquisa da ren-tabilidade como assunto de intersse imediato para quan-tos colaboram tecnicamente nessas emprsas.

    Para bem compreend-lo imprescindvel obter-se umconjunto de informaes objetivas sbre a estrutura legal,patrimonial e contbil das emprsas de energia eltrica.

  • R.A.E./25 EMPR:/l:SASDE ENERGIA ELJ!:TRICA 81

    ESTRUTURA PATRIMONIAL DAS EMPRSAS DE ENERGIAELTRICA

    Esto na Legislao especfica os fundamentos definido-res da estrutura patrimonial das emprsas de energia el-trica.

    Sete diplomas legais fundamentam essa conceituao in-dispensvel:

    Decreto 24.643 de 10/7/1934 - Cdigo de guas.

    Decreto-Lei 3.128 de 19/3/1941 - dispe sbre otombamento dos bens das emprsas de energia el-trica.

    Decreto 28.545 de 24/8/1950 - institui o Plano deContas.

    Decreto 41.019 de 26/2/1957 - regulamenta osServios de Energia Eltrica.

    Decreto 54.936 a 54.938/64 - alteram dispositivosdos anteriores.

    As noes de investimento e custo do servio so bsicaspara a compreenso do dinamismo da rentabilidade dasemprsas de energia eltrica. Isto , no mbito da econo-mia dessas emprsas aquelas noes admitem um signifi-cado peculiar perfeitamente apreendido na sua traduocontbil.

    Todavia, inicialmente, a recapitulao, em largos traos,das etapas de organizao e expanso das operaes deuma emprsa de energia eltrica, concorre efetivamentepara a melhor fixao dsses conceitos.

    Assim sendo, o recurso eficaz para sse entendimento pro-pedutico a retrospeo das etapas de organizao eexpanso das operaes de uma emprsa de energia el-trica.

    Esse delineamento h de ter incio, evidentemente, nasprovidncias decorrentes das disposies legais de organi-

  • 82 EMPR:G:SAS DE ENERGIA ELll:TRICA R.A.E.;25

    zao jurdica da emprsa e da instalao completa de seuequipamento de produo e suprimento de energia ao mer-cado consumidor onde vai prestar servios.

    Ultrapassada essa fase, assinalada historicamente pela rea-lizao das inverses pecunirias mais relevantes, tm evo-luo normal as operaes de venda da energia produzi-da, cujo sustentculo o Capital de Giro originado naReceita e nos Dbitos de Funcionamento.

    Distinguem-se, portanto, duas etapas bem caractersticas:a emprsa surge, constitui seu Capital e aplica-o macia-mente no instrumental de produo, construindo sua cen-tral eltrica e as linhas de transmisso para distribuir ener-gia, e em seguida faz funcionar sse equipamento suprin-do o mercado consumidor, observando programas de racio-nalizao de custos que lhe proporcione o melhor ndicede rentabilidade.

    A primeira etapa configura bem a constituio de seu in-vestimento que, em ltima anlise, corresponde ao ins-trumental que lhe confere a aptido necessria para pres-tar o servio de que concessionria.

    A atribuio do valor monetrio com que se processam osregistros contbeis dos fatos vinculados composio doInvestimento das emprsas de energia eltrica tem im-portncia fundamental, pois, a partir dsse valor original que se apura o custo histrico do acrvo patrimonial,conforme dispe a Legislao.

    As definies legais so simples e sucintas. O Decreto n.?41.019/57 (Art. 59 - 1.0) define como Investimento:"a importncia efetiva e permanentemente empregada napropriedade do concessionrio em funo de sua in-dstria;" e Custo Histrico: "a importncia real e compro-vadamente gasta pelo concessionrio e registrada na suaContabilidade" - conceitos sses ampliados pelas dispo-sies do Decreto 54.938 de 4/11/1964.

    A identificao dsses valres pecunirios envolvidos nadinmica empresarial que constitui o importante pro-

  • R.A.E.j25 EMPR1l:SAS DE ENERGIA ELTRICA 83

    blerna da apropriao contbil, misso precpua de todocontabilista que atua em emprsa de energia eltrica.

    Tal processo consiste em distinguir bem os dispndios quese incorporam ao investimento, como ampliao do ins-trumental de Produo e aqules que se encerram no exer-ccio operativo, constituindo, em seu conjunto o custo doservio.

    Assim sendo, como o instituto da concesso condiciona aprestao do servio pelo seu custo, a elaborao da tarifafica na mais estreita dependncia do aprimoramento comque se processa a apropriao contbil.

    Justamente na apurao dos valres componentes daTarifa surge o problema da exatido dos conceitos de In-vestimento e Custo do Servio, em virtude da necessidadede lhes serem atribudos montantes precisos.

    Pondo margem requintes tericos, a Legislao elucidao que admite como "custo do servio", no Art. 165 doDecreto 41.019/57:

    "O Custo do Servio compreende:

    a) as despesas de explorao tal como enumeradas naclassificao das contas;

    b) a quota de depreciao;

    c) a quota de amortizao ou reverso;

    d) a remunerao do investimento;

    e) as diferenas referidas no Art. 166 3. e 4. (Di-ferena cambial e diferenas em juros e amortizaoem escala mvel de emprstimos tomados no BNDE).

    De forma anloga, o investimento remunerveI a que serefere o Art. 157 do mesmo Decreto, corresponder a umconjunto de valres obtidos diretamente dos registros con-tbeis, com a composio seguinte:

  • 84 EMPRJl:SAS DE ENERGIA ELTRICA R.A.E.f25

    a) total dos bens do ativo imobilizado que direta ou in-diretamente concorram exclusiva e permanentementepara a produo, transmisso, transformao ou dis-tribuio da energia eltrica;

    b) montante do ativo disponvel a 31 de dezembro, con-siderado o limite correspondente Reserva de Depre-ciao referente ao Exerccio;

    c) capital de movimento definido como a sexta parte daReceita Operativa obtida no exerccio (Faturamentoda Venda de Energia);

    d) valor dos materiais para Operao, existentes no al-moxarifado em 31 de dezembro, nos limites aprova-dos pela Fiscalizao.

    A soma das importncias mencionadas acima deduzida de:

    a) saldo da reserva para depreciao a 31 de dezembro,atendida a quota do exerccio; .

    b) os saldos das contas:

    1) reserva para reverso;

    2) resultado a compensar - deduzidos dos respec-tivos Fundos, computadas as quotas e os depsitos re-ferentes ao exerccio ( 1.0 do Art. 33 e 2. do Art.162 do Dec. 41.019/57).

    ESTRUTURA CONTBIL DAS EMPRSAS DE ENERGIA ELTRICA

    A estrutura contbil das emprsas de energia eltrica temsua mais fiel expresso no Plano de Contas (Decreto n.28.545/50), que o repositrio de onde se insinuamtodos os processos de registro que interessam ao contrledas mutaes patrimoniais.

    O Plano de Contas sistematiza os registros que constituema "memria" da emprsa como ensina NEWTON ToR-NAGHI.

  • R.A.E.j25 EMPR~AS DE ENERGIA EL~TRICA 85

    Por essa razo, h requisitos imprescindveis de cartergeral que no podem ser omitidos em uma adequada es-criturao. indiscutvel que todo sistema de escriturao deve serplanejado de forma que facilite qualquer pesquisa no m-bito das informaes contbeis.

    Em tais condies, deve ser condicionado por atributosque permitam fcil acesso ao investigador, proporcionan-do-lhe ainda o mais amplo processo de comparao dosfatos registrados.Atendidos stes requisitos, ficam as concluses amparadaspor elementos conducentes mais acertada inferncia.

    Servir da melhor forma pesquisa e conseqente infe-rncia o objetivo primacial do planejamento de todo re-gistro contbil.

    Assim sendo, quanto ao intersse da Pesquisa, os proces-sos metodolgicos de escriturao devem oferecer os se-guintes aspectos:

    mnima complexidade de elaborao, ou seja, devemser prticos na sua aplicao;

    flexibilidade, isto , devem oferecer a mesmafacili-dade de obteno s informaes procuradas em qual-quer escala em que se apresentam, desde a mais sim-ples mais complexa.

    Com relao s condies lgicas da Inferncia, os mes-mos processos metodolgicos devem preservar:

    coerncia de princpios, para que correspondam ple-namente s mais rigorosas investigaes;

    uniformidade para que assegure consistncia lgica compreenso dos resultados da investigao.

    o estudo meticuloso do Plano de Contas das emprsas deenergia eltrica demonstra que sua elaborao foi promo-vida objetivando o atendimento de todos sses aspectos,

  • 86 EMPru:BAS DE ENERGIA ELll:TRICAR.A.E.;25

    Plano de Contas (Decreto n.o 28.545/50)

    Visando ao exerccio eficaz de seu poder de tutela e con-trle mediante a ao fiscalizadora, o Estado teria,fatal-mente, que instituir medidas de uniformizao contbilde carter geral. Esta ao normalizadora est expressa noDecreto 28.545/50 que aprovou o Plano de Contas paraas emprsas de energia eltrica.

    Esse diploma legal distingue quatro tipos de emprsas sobo critrio do montante de bens e instalaes empregadosdireta ou indiretamente nos servios eltricos. Assim sen-do, para fins de utilizao do Plano de Contas, devem serclassificadas as ditas emprsas nos quatro tipos seguintes:

    Tipo I - Emprsas com mais de NCr$ 100.000,00de valres investidos;

    Tipo II - Emprsas compreendidas na faixa de NCr$10.000,00 a NCr$ 100.000,00;

    Tipo UI - Idem, entre NCr$ 1.000,00 a NCr$10.000,00;

    Tipo IV - Idem, entre NCr$ 500,00 a NCr$ 1.000,00.

    Essa diversificao, entretanto, estabelecida com o obje-tivo de simplificar a aplicao do Plano. O elenco de con-tas com a respectiva caracterizao funcional precedido

    . de "Instrues Gerais" que orientam o uso dessa classifi-cao legal. imprescindvel a leitura atenta dessas no-es introdutrias, pois realmente facilitam o cumprimen-to das prescries que o Estado estabeleceu no intersseda fiscalizao.A adequabilidade da classificao oficial das contas aosquatro tipos de emprsas referidas no Plano alcanaexpresso objetiva no nmero de contas a serem movi-mentadas em cada caso especfico. Assim, o segu:inte oquadro estatstico obtido no Decreto 28.545/50: '

  • ~.A.E./25 EMPR~SAS DE ENERGIA ELltTlUCA 87QUADRO ESTATSTICO

    Tipo de Emprsa

    Grupo ContbilI !I !Ir IV

    A T I V O (Nmero de contas)

    Imobilizado ...................... 66 65 66 41Disponvel ....................... 7 7 7 6RC"i,zavel ........................ 18 18 9 9Pendente ......................... 19 19 13 13

    P A S S I V O

    Inexigvel ......................... 13 13 10 10Exigvel:

    Curto Prazo ........... 18 18 12 13Longo Prazo ........... 4 4 2 2

    Pendente ......................... 8 8 6 5

    R ES ULT A D O

    Receita ........................... 35 35 35 35Daspesas 10 155 107 85 60Rdito ............................ 11 11 11 11

    Soma .................. 354 306 256 205

    Poder-se-ia pensar, com muito otimismo, que essa escaladecrescente do nmero de contas preconizadas legalmen-te, conforme o montante do Investimento em operao,corresponde a uma efetiva medida do desempenho tcnicointegral dos contadores das concessionrias de servios deenergia eltrica.

    Infelizmente, isso no ocorre, pois a intensidade daspreocupaes de um chefe de contabilidade de emprsade energia eltrica no depende, necessriamente, donmero de contas que integram a escriturao pela qual responsvel.

    Como j foi dito, o problema do Custo da Explora~ edo Custo da Construo de Instalaes, quando fr o caso,so os polos de sua permanente atuao profissional. Istotem uma significao incomensurvelmertte diversa dascondies de fadiga atribuveis coordenao de registros

  • 88 EMPR1!:SAS DE ENERGIA ELTRICA R.A.E./25

    em maior ou menor nmero conforme existam mais oumenos contas em um plano de contas. Um exame atentoda estrutura do plano legal (Dec. 28.545/50) revela anecessidade de estar o contador de emprsa de energia el-trica sempre imbudo de nimo pesquisatrio.

    Tal caracterstica mais uma razo daquelas imposiesde natureza tcnica a que devem corresponder todos ossistemas de escriturao que se proponham servir apu-rao de custos. Estas consideraes conduzem, natural-mente, ao reexame do tradicional regime de desentendi-mento entre Contabilidade e Engenharia nas emprsas deenergia eltrica.

    Dsse entrevro, e na melhor das hipteses, sempre resul-ta a lamentvel lentido da apropriao de custos neces-sria anlise da evoluo econmica e financeira da ex-plorao do negcio empreendida pela emprsa.

    sempre oportuno ressaltar que tal problema deve estarpresente, diuturnamente, nas cogitaes de todos quetenham alguma parcela de responsabilidade na caracteri-zao de registros e informaes de que dependa a fide-dignidade dos custos operativos.

    Contrle dos Bens Patrimoniais - O contrle dos benspatrimoniais tem incio com a efetivao dos registros re-veladores da integrao de seus valres no acrvo globalda emprsa.

    Dada a importncia assumida pelo montante do Investi-mento Remunervel, cuja parcela preponderante corres-ponde justamente queles bens, evidente que no hmuita coerncia em se estabelecer uma hierarquia atribu-da s informaes que esclaream ao Administrador:

    quantos so;

    quanto valem;

    onde se encontram;

  • R.A.E.j25 EMPR~SAS DE ENERGIA ELJl:TRICA 89

    como participam os bens patrimoniais do processo deproduo ou da prestao do servio promovido pelaemprsa.

    Tda informao que atenda a sse intersse indagativo imprescindvel ao cmputo exato da remunerao quea emprsa pode auferir como resultado de suas operaes.

    Como j se afirmou anteriormente essa categoria de val-res tem funo to remarcada na estrutura econmico-fi-nanceira das emprsas de energia eltrica que constituiobjeto de disposies legais especficas estabelecidas peloDecreto n.? 3.128, de 19/3/1941.

    No Plano de Contas (Decreto 28.545/50), entretanto,est prescrita a orientao fundamental pois le o ins-trumento principal a que se recorre para o exerccio da-quele contrle com vistas sbre a pronta apurao de va-lres que interessam aos fins remuneratrios decorrentesdas aplicaes de capital na explorao da energia el-trica.

    Como se v, uma consulta, mesmo perfunctria, queleelenco de contas depara, inicialmente, com a nomenclatu-ra das contas do ativo imobilizado (Grupo 2), cuja mo-vimentao se destina ao registro dsses bens, cujo mon-tante prepondera na determinao do limite de lucro atri-budo prestao do servio de utilidade pblica que concedido s emprsas de energia eltrica.

    A sistematizao criteriosa dsse registro analtico obriga setorizao da atividade de contrle que lhe concerne.

    Assim, pois, em qualquer emprsa onde a administraose empenha racionalmente no exerccio de suas funes, indispensvel a organizao de um servio especializadoque se encarregue dsse aspecto analtico, pormenorizadodo acervo patrimonial que vai muito alm do puro e sim-ples tombamento de bens.

    A sse servio incumbir, evidentemente, manter a Con-tabilidade fidedignamente informada das incorporaes,

  • :90 EMPR&:SAS DE ENERGIA ELll:TRICA R.A.E.j25

    baixas e recolhimento de bens, organizando ainda as ta-belas de Depreciao, de fundamental importncia nascorrees dos valres monetrios daqueles mesmos bens.

    .Contrle Contbil da Receita e Despesa de Explorao -O processo de contabilizao consta de duas fases perfei-tamente distintas: a apropriao, que consiste na seleodas contas adequadas ao registro dos fatos e o contrle,para verificar a exatido do lanamento dos valres mo-netrios.

    Constituindo tcnica especfica, inerente funo con-trle manifestar-se com flexibilidade segundo a escala hie-rrquica com que exercida.

    Com respeito ao contrle contbil da Receita ou da Des-pesa, componentes fundamentais da anlise da rentabili-dade, manifesta-se com freqncia uma reao generali-zada: a presuno de impertinente atividade fiscalizadorapor parte da Contabilidade.

    Engendra-se, a partir dessa 'suposio, uma atitude de re-sistncia ao fluxo de informaes sem o qual ser precria'a atuao da Contabilidade na estrutura administrativana emprsa.

    Tais ocorrncias revelam a complexidade eventual da con-tabilizao de fatos cuja apropriao e contrle requerempesquisa engenhosa e perfeito conhecimento do Plano deContas .

    Receita - No que diz respeito Receita das empr-sas de energia eltrica, no freqente a ocorrncia dessassituaes problemticas. O montante dos valres auferi-dos pela emprsa como remunerao do servio prestado,dispe de um elenco de contas fcilmente identificveisno Plano Oficial (Dec. 28.545/50).

    ,. Despesa - Nos domnios da Despesa encontra-se amaior variedade de problemas de apropriao.A observncia do princpio de otimizao do Custo do.Ser-vio exige que os registros dos gastos da Explorao !~ejam

  • R.A.E.j25 EMPRll:SAS DE ENERGIA ELll:TRICA 91

    suficientemente pormenorizados a fim de que se elabo-rem adequadamente as projees econmico-financeirasinerentes aos programas de expanso e melhoramento dasatividades da emprsa.A determinao das tarifas a decorrncia mais impor-tante dessa programao e sua elaborao bastante com-plexa, dada a multiplicidade de fatres condicionantes queso levados em considerao para cada tipo especial desuprimento de energia eltrica.

    Nos registros contbeis da despesa, principalmente, est oponto de partida para o estudo da composio final dopreo de venda da energia.

    V-se, desta forma, a importncia de uma apropriaoacertada dos custos de Explorao, justamente pela re-percusso que tem no clculo dos ndices analticos darentabilidade.Valres Pendentes - As contas que abrangem valrespendentes traduzem uma situao de transitoriedade e re-fletem, efetivamente, uma contingncia tcnica.

    Como j foi visto, a posio do contabilista de emprsa deenergia eltrica no arbitrria diante dos problemas deapropriao que lhe compete solucionar.

    Muitas vzes, no so somente as condies intrnsecas deprocessamento dos fatos que induzem o contabilista a re-correr a sse expediente tcnico que, em ltima anlise,consiste em se promover uma contabilizao de carterprovisrio.Por mais bem planejado que seja o instrumental de con-tabilidade analtica, representado pelo fluxo de documen-tos sistematizados mediante os quais afluem as informa-es ao contabilista sempre surgem ocasies, e com bas-tante freqncia, em que a contabilizao definitiva exigepesquisa paciente e arguta.Esse aspecto da rotina do contabilista precisa ser bem com-preendido por todos que integram os rgos da Direo

  • 92 EMPMSAS DE ENERGIA EUTRICA R.A.E./25

    de qualquer emprsa. Quanto mais amplamente ocorrasse entendimento, mais fidedigna a traduo contbilda evoluo patrimonial e, conseqentemente, mais exatosos elementos disposio da anlise da rentabilidade.

    APURAO DE RESULTADOS

    Todos os valres componentes dos ndices de rentabilida-de so oriundos do Balano Geral das operaes do Exer-ccio e da respectiva conta de apurao dos Resultados.

    O Decreto 28.545/50 (Plano de Contas) estabeleceuforma-padro para essas peas contbeis. Quanto ao Ba-lano, manteve a disposio instituda pela lei das Socie-dades por Aes que atende ao critrio de liquidez para oAtivo e exigibilidade para o Passivo.

    No que diz respeito apurao de resultados, aqule De-creto prescreveu uma disposio simples para a obtenodos valres lquidos do Exerccio.

    Assim, essa operao se desenvolve em trs etapas, nasquais se procura obter:

    a renda bruta da explorao;

    a renda estranha da explorao;

    a renda lquida da explorao.

    O cmputo dsses valres se processa conforme a descri-o seguinte:

    a) obteno da renda bruta da explorao:

    + Receita da Explorao - Conta 90.00Despesa da Explorao - Conta 90.01

    Dedues Renda Bruta da Explorao:

    Do valor acima deduzem-se:

    Quota de depreciao - Conta 90.11

  • R.A.E./25 EMPR!l:SAS DE ENERGIA ELTRICA 93

    Quota de reverso - Conta 90.12

    Demais valres prescritos no Plano de Contas.

    b) obteno da renda estranha da explorao:

    + receita estranha explorao - Conta- despesa estranha explorao - Conta

    90.2090.21

    c) a renda lquida da explorao corresponde soma dossaldos da renda bruta e da renda estranha explo-rao.

    d) Dedues renda lquida - Conta 90.3

    Deduzem-se do valor acima as diversas quotas paraconstituio das reservas livres e os demais valresque incidem sbre a mesma, conforme determina oPlano de Contas.

    RENTABILIDADE

    A rentabilidade do empreendimento tema de cogitaofatal para todo acionista. Por mais indiferente que seja aosprocessos tcnicos de anlise econmico-financeira, ir-recusvel, entretanto, que todo investidor formula e de-senvolve sua "teoriazinha" sbre rentabilidade a partir dasingela relao rendimento/capital aplicado.

    No que diz respeito explorao da energia eltrica, ins-titucionalizou-se o regime especial de remunerao limi-tada do Investimento conforme o Artigo 161 do Decreto41.019/57, que prescreve: "Ser de 100/0 ao ano a taxade remunerao do investimento a ser computada no cl-culo das tarifas das emprsas que exploram servios deenergia eltrica,"

    Este tem sido o regime observado. Todavia, os pargrafosprimeiro e segundo dsse mesmo artigo prevm alteraesna taxa remuneratria segundo condies que especificam.

    Foge ao escpo destas notas aduzir comentrios sbre oacrto dsse disciplinamento econmico com que se de-

  • 94 EMPru:SAS DE ENERGIA EU:TRICA R.A.E./25

    frontam as iniciativas na produo da energia eltrica noPas.

    o que se tem presente , to-somente, promover um ensaiode esquema analtico que traduza as relaes bsicas doconjunto de valres, mediante os quais se tenha nooobjetiva das condies de rentabilidade das emprsas queatendem demanda de energia eltrica.

    Assim sendo, devem ser considerados, inicialmente, doisparmetros fundamentais, tendo-se presente o delineamen-to jurdico-contbil focalizado nos itens anteriores:

    o custo bsico do Servio prestado que ser simboli-zado por (K), tendo como componentes:

    Despesa da explorao - simbolizada por (D)

    Quotas de depreciao e reverso - (Qd+v)

    Remunerao do investimento - (Ri) nos limitesprescritos pela Legislao.

    a receita da explorao (R) auferida pela venda daenergia.

    Com essas variveis, podemos estabelecer a seguinte rela-o fundamental definidora da situao de equilbrio daemprsa:

    Como se observa, essa relao no exprime, ainda, a limi-tao imposta ao ndice de lucros. Assim sendo, represen-tando por (Id) o valor do Investimento sbre o qual seaplica a taxa de remunerao, estabelece-se a seguinteequao:

    (2)10

  • R.A.E./25 EMPR1l:SASDE ENERGIA ELETRICA 95

    Conjugando as duas relaes:

    R = K + Riiu.x, = I,

    (3)(4)

    Obtm-se um sistema de equaes lineares que exprime oregime ideal das operaes em que a Receita auferida cobreexatamente o montante dos custos da explorao nas con-dies impostas pelo disciplinamento estatal.

    Na generalidade dos casos, entretanto, o que se verifica a situao seguinte:

    onde se faz K,(6)

    K + Ri (5) ou

    Examine-se o que ocorre quando a relao de valres ve-rificados a (5), isto , a Receita menor que o Custo doServio.

    Neste caso, para que as operaes sejam empreendidas aReceita ter de ser suplementada com um conjunto derecursos que se pode representar por (C) a fim de quese restabelea a igualdade com o montante de custos. De-saparecendo a desigualdade a relao tornar-se-:

    R + C = K + Ri (7)

    Este montante (C), no oriundo da Receita Operativa.corresponde a um investimento e, como tal, h de ser re-munerado no Exerccio, da msema forma como ocorre comos demais recursos de Capital. Por sse motivo a equao(4) converter-se- em:

    (8)

    A nova situao de equilbrio ser ento traduzida pelosistema:

    R + c = K + Riio.u, = r, + C

    (9)(10) ou,

  • 96 EMPR~SAS DE ENERGIA EL~RICA R.A.E.f25

    dando nvo aspecto, considerando-se (Ri) e (C) comoincgnitas:

    c - Ri = (K - R) (11)- C + 1O.Ri = Id (12)

    Recorrendo a uma representao mais condensada paravisualizar-se a resoluo dste sistema rudimentar te-remos:

    -1

    C

    Donde:

    -1 C

    10

    9 9

    10

    9 9

    c10 (K - R) + Ia

    (K - R) + 1 R) ou negativa com (K < R).No primeiro caso, o Exerccio encerra-se com prejuzo. Nosegundo, com lucro, porm inferior ao Resultado Lquidofixado legalmente, notando-se que as expresses (15) e(16) passaro a:

    Id - 10 (R - K)C =

    9(17)

  • R.A.E./25 EMPR!l:SASDE ENERGIA EL~TRICA 97

    1ct - (R - K)(18)

    Resta analisar o caso expresso pela relao (6), isto (R > Kt) que se verifica quando as operaes da emprsaalcanaram o melhor resultado possvel com o Custo doServio excedido pela Receita.

    Em tais condies, para que se restabelea o equilbriopreconizado pela legislao h de se fazer:

    R - c = K + Ri (19)

    Estes smbolos exprimem a condio em que, da Receita,deduzir-se- um montante (C) correspondente ao Resul-tado a Compensar em obedincia ao que estabelecem asdisposies do Poder Concedente. sse montante (C) notendo sido um valor investido pela emprsa, ocasiona mo-dificao na relao (4) envolvendo o Investimento re-munervel.

    Desta forma, aquela relao tornar-se-:

    (20)

    obtendo-se fcilmente o sistema:

    (21)(22)

    o qual resolvido nos proporciona as solues,:

    1D (R - K) - 1.1

    ~)(23)

    - (R. - K)l 1

  • 98 EMPR!l:SAS DE ENERGIA EU:TRICA R.A.E';25

    Remunerao do Investimento a mesma, pois com omesmo equipamento a emprsa poder realizar uma Re-ceita maior ou menor que o Custo do Servio.

    A representa-o grfica dessas relaes lineares ilustra,com muita oportunidade, a dependncia entre sses par-metros fundamentais da anlise da rentabilidade das em-prsas de energia eltrica.

    Objetivando essa representao geomtrica observem-se,para simplificar, as relaes (15) e (16).

    Fazendo (R _. K) = L construiremos o sistema:

    -L (25)

    L (26)

    (27)

    11 - 1O.Lc (28)

    ~)

    (29)~)

    A representao grfica exprime bem a rpida variaodecrescente do Resultado a Compensar, quando o mon-tante de lucros crerce.

    9 Idt2 ------- Z =

    1

  • R.A.E./25 EMPRl1:SAS DE ENERGIA ELTRICA

    GRAFICO 1: Relar;cZo Renda Brul.acRernu.neractio do Investimento

    1.00\,

    \,\ ,\

    0.50

    0.10

    ~"~--~--~--~--~---7--~--~---'---'------Z10 13 16 19 22 25 28 31 34 37

    L (l. L_._-~-~-~------ ('W)

    L Iri _. lO. L

    L fJ. L------_._---- (:j I)

    Ri li -- LI,

    A relao: lucro / remunerao do investimento (31) re-trata, fielmente, o nvel reditual conseguido em cada Exer-ccio exprimindo um ndice objetivo do resultado das ope-raes como parte do lucro mximo a ,er obtido na situa-o de equilbrio timo. A sucesso dsses ndices a maissucinta maneira de relatar a histria do xito do empre-endimento.

    Pede-se accrnpanhar a variao de ((2) por meto da va-Id

    riao deL

    isto , da relao: investimento remutie-

    rveljlucro.

  • 100 EMPR1l:SASDE ENERGIA ELltTRICA R.A.E';25

    Com efeito, sabendo-se que:

    o < t2