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FACULDADES INTEGRADAS BARROS MELO
Curso de Bacharelado em Direito
ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE
O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Olinda
2011
ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE
O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Monografia apresentada às Faculdades
Integradas Barros Melo, como requisito
para a obtenção do título de Bacharel em
Direito.
Orientador: Professor Doutor João Paulo
Allain Teixeira
Olinda
2011
O ADOLESCENTE SUBMETIDO À
MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA
Adilson Alves Ribeiro Duarte
Monografia apresentada para obtenção do título de
bacharelado à banca examinadora no Curso de Direito das
Faculdades Integradas Barros Melo – AESO, como
requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em
direito.
Argüição Pública e aprovação em 27/05/2011
Examinadores:
....................................................................................
Prof. Dr. João Paulo Allain Teixeira
Presidente
....................................................................................
Professor Alexandre Saldanha
1.º Examinador
....................................................................................
Professor Danilo Heber de Oliveira Gomes
2 º Examinador
Olinda
2011
Dedicatória
Dedico este trabalho a Ana Clara de Lima Ribeiro Duarte, minha filha, maior exemplo
de luta e superação por superfície corpórea que convivi e convivo. Meu alento, exemplo e
estímulo.
RESUMO
Nossas crianças e adolescentes vivem e respiram o ar que produzirmos. Esse ar exala a partir
de nossa atitude diante da vida e dos desafios propostos por ela. Não há melhor símbolo de
vida do que o vicejar próprio dos recém introduzidos na mesma. Fazer diferença porque feito
diferente, assumindo-se como padrão comportamental o respeito à dignidade da pessoa
humana, baluarte e sustentáculo dessa condição, é restaurar o valor intrínseco a si mesmo.
Burilar com desvelo o caráter ainda tenro de quem um dia dará o tom da sociedade é pensar
no futuro e honrar o presente. As ideias que os adolescentes fazem de si mesmo, deixam claro
que se auto-estimam, que reconhecem em si sua dignidade. A crescente consciência de
direitos que acompanha a evolução da idade atiça o senso de justiça, que dá o alerta para o
desrespeito e pode desembocar numa reivindicação ou num perigoso acomodar-se e denegrir-
se. Só se pode ser feliz quando se tem sobre si mesmo a exata dimensão de seu valor, nem
além, nem aquém. O jovem tem direitos-deveres, como o de ter limites, autoridade sobre si,
controle e vigilância. Deve ter a consciência de que os cuidados projetados sobre são reflexo
de seu valor, não de seu desvalor. Para isso, esse proteger tem que ser inteligente, como deve
ser próprio do homo sapiens.
ABSTRACT
Our children and teenagers live and breathe the air they produce. This air smells from our
attitude toward life and the challenges posed by it. There is no better symbol than the life of
the newly introduced himself thrive in it. Make a difference because it differently, assuming
default behavior respect for human dignity, bastion and bulwark of the condition, is to restore
the intrinsic value itself. Polish with the character still tender devotion of those who one day
will set the tone of the company is considering the future and honor the present. The ideas that
teens do yourself, make clear that self-esteem, recognizing their dignity itself. The growing
awareness of rights that accompanies the development of age stoke a sense of justice, giving
the warning for disrespect and can end in a dangerous claim or to settle down and denigrate
yourself. One can only be happy when you have about yourself the true extent of their value,
or beyond, or below. The young person has rights and duties, such as having limits, authority
over you, control and surveillance. Must be aware of the care which are projected onto a
reflection of its value, not its worthlessness. Therefore, this protection has to be smart, as
should be characteristic of homo sapiens.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1- Idade Penal na Europa....................................................................................22
TABELA 2 - Distribuição etária dos adolescentes nos processos.......................................25
TABELA 3 - Resultados dos processos....................................... ........................................ 25
TABELA 4 - Tabulação dos resultados da pesquisa............................................................26
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO_____________________________________________________________ 6
2. EDUCAÇÃO NO BRASIL ___________________________________________________ 10
3. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA _________________________________________ 11
3.1. Indicadores Constitucionais de Dignidade _______________________________________ 12
3.2. Indicadores de Dignidade no Estatuto da Criança e do Adolescente ___________________ 13
3.3. A Percepção Natural dos Adolescentes Quanto aos Componentes de sua Dignidade ______ 13
3.4 A Compreensão da Noção de Direito por Parte dos Adolescentes _____________________ 15
4. A TRANSIÇÃO PARA O COMPORTAMENTO INFRACIONAL____________________ 20
5. A IDEIA DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE DO MENOR INFRATOR ________________ 22
5.1. A Responsabilização do Adolescente __________________________________________ 22
6. O DESRESPEITO À DIGNIDADE DO MENOR INFRATOR _______________________ 25
6.1. Tratamento das Informações _________________________________________________ 27
7. CONCLUSÃO ____________________________________________________________ 32
8. BIBLIOGRAFIA __________________________________________________________ 34
9. APÊNDICES ______________________________________________________________ 36
6
1. INTRODUÇÃO
A perspectiva da assunção por parte das crianças e adolescentes de hoje das rédeas da
sociedade num futuro bem próximo, impõe uma reflexão sobre quem são ou serão esses
donos do futuro.
Sendo fundamento constitucionalmente estabelecido da República Federativa do
Brasil, a dignidade da pessoa humana precisa alicerçar e permear a educação e formação
desses que responderão pela Nação, não só no sentido político, mas principalmente nos
sentidos sociais e morais.
A constante evolução tecnológica, os novos modelos educacionais, a permeabilidade
da mídia, as modificações nas relações sociais, os novos arranjos familiares, tudo, contribui
para a construção da visão de mundo do ser humano, o delineamento de seu universo
sociocultural. A necessária correspondência biunívoca do homem como produto do meio e do
meio como produto do homem.
Que apropriações são e serão necessárias por parte de pais, educadores, Estado e seus
agentes e da sociedade em geral para a colheita de bons resultados na messe social que
intentamos todos que fazem a sociedade?
Somos levados a crer que existem fatores determinantes, interagindo implícita ou
explicitamente com a pessoa em formação, que lhe conferem em maior ou menor grau os
elementos caracterizadores de seu posicionamento dentro da sociedade e seus núcleos, macro
ou micronúcleos.
O Estado deve ser o condutor do processo de otimização da educação, impondo-se um
esforço para fazer valer os fundamentos de sua existência, sob pena de se auto-implodir nos
âmbitos civis e morais. Não lhe cabe postergar, esperar tempos melhores ou mais adequados
para avançar além da educação formal. Urge que oportunize eficazmente informações e meios
capazes de promover uma revolução nos parâmetros balizadores da interação e integração dos
indivíduos com a sociedade, e vice-versa.
Isso vai muito além do imediatamente palpável e visível, do concreto, posto que
dignidade é algo abstrato e inerente ao ser humano, sendo até redundante o termo dignidade
da pessoa humana. Tem a ver com formação mais do que com informação. Tem a ver com
construção de caráter mais do que com educação formal. Tem a ver com cotidiano mais do
que com ações e propostas isoladas. Tem a ver com identidade nacional mais do que com
opiniões ou posições individuais.
7
As histórias de vida de adolescentes infratores têm muito costumeiramente um eixo
comum. E esse eixo tem costumeiramente raízes transgeracionais, num círculo vicioso de
repetição potencializada.
A sociedade vive a contradição permanente entre o real e o ideal, nunca fazendo do
ideal o real e cobrando da realidade o idealismo. Os instrumentos normativos foram erigidos
sobre fundamentos de respeito à condição humana, buscando preservar valores elevados de
forma que pudessem refletir o que se faz necessário à preservação da sociedade dentro de uma
razoabilidade de convivência pacífica consigo mesma e com cada indivíduo, como célula.
Porém, o conflito entre o normatizado e o vivenciado é grande, mesmo não se evidenciando
em função da conveniência que a ignorância de sua existência traz. Esse conflito é antigo e
abrangente; foi expresso pelo apóstolo Paulo quando falava da convivência entre a lei e o
cotidiano: Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado,
para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que,
pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno (Carta de Paulo aos Romanos, Cap. 7,
vv 04). A intenção da lei é preservar a sociedade de seus impulsos. A intenção da sociedade é
viver conforme seus impulsos. Impor-se a condição se ser humano dotado de consciência e
dominador de suas próprias vontades é o que pode fazer com que a lei seja naturalmente
aceita em sua essência.
Em que a interpretação do direito sob a perspectiva da dignidade pessoa humana pode
contribuir para a interrupção do ciclo de formação de potenciais objetos de medidas sócio-
educativas?
A construção da identidade de um povo é levada a efeito, como tudo o mais que existe,
pelo somatório de contribuições individuais, que funcionam como células, que juntas formam
o tecido, os órgãos e por fim o organismo. Nesse diapasão, cai bem a máxima de que a família
é a celula mater da sociedade.
Somos fartos em normas de toda ordem, sob o comando da Constituição Federal, que
procuram otimizar as relações entre os semelhantes e proteger o indivíduo enquanto pessoa
humana. Acontece que, a despeito da abundância desses instrumentos normativos, os núcleos
sociais, num crescendo, têm relativizado sua aplicabilidade e o Estado tem olvidado da
necessidade de implementá-los, muito em razão da antipatia que tais instrumentos tem a
capacidade de trazer em si. Assim, terminamos por reféns de nós mesmos.
Enquanto a Constituição diz que o Brasil deve se apoiar, entre outras coisas, sobre o
princípio da dignidade da pessoa humana, tanto o Poder Público quanto os cidadãos toleram e
8
até apreciam o ridículo, o bizarro, o desonesto, o indecente. Quem não lembra dos concursos
televisivos em que pais levavam suas crianças para dançarem “na boquinha da garrafa” sem
qualquer pejo? Ou das aparições líderes de audiência em que características pessoais e
aparências pouco convencionais ou fora do “padrão” eram exploradas? Ao arrepio do disposto
no Código Penal ou no Estatuto da Criança e Adolescente, em qualquer esquina pululam
materiais pornográficos aos borbotões, não sendo diferente em vários lares que dão acesso
livre às crianças e adolescentes. Os casos de pedofilia e o olhar leniente e até conivente de
familiares ante os atentados sofridos por seus filhos, com argumentos do tipo “ele (a) fica
provocando...”, deixam à mostra a ponta do iceberg que a deseducação criou. Quando esses
casos se tornam públicos, é porque já são resultado de uma completa desestrutura moral, que a
sociedade não teve o menor interesse em conter preventivamente.
Em se conseguindo ampliar a discussão e a reflexão sobre o que pode ser uma
educação/formação sobre o lastro da dignidade da pessoa humana, disseminando valores
plasmados na Lei de forma coloquial, fluída, prática, sistemática e oficial, supomos ser
possível a transformação da sociedade no sentido de ser composta por integrantes livres e
libertados, conscientes e responsáveis, a médio e longo prazo.
A interpretação da Lei pelo viés da dignidade da pessoa humana, vinculando a todos,
porque iguais perante a Lei, em como a sua aplicação sob o mesmo prisma, é a contribuição
que o Direito pode dar à sociedade, através de todos os seus operadores (advogados,
promotores, juízes, doutrinadores, etc.).
A abordagem deste tema se apresenta pertinente com uma contemporaneidade perene,
quase atemporal. Em todos os tempos tivemos e teremos jovens em conflito com a Lei ou
seus fundamentos, seja no âmbito penal ou mesmo cível. Tentar estabelecer uma relação entre
a sedimentação de valores promovidos ou acolhidos na sociedade com o impacto dessa
acolhida no comportamento dos jovens é um tema desafiante e necessário, ainda que numa
abordagem acadêmica. Qualquer luz que se lance sobre a necessidade de se pensar infância e
adolescência em sua dimensão de dignidade como pessoa humana, faz da sociedade um ente
mais humano; aponta para um caminho menos tortuoso pelo qual nossas sementes de
esperança devem se guiar. Não mais se pode conceber que o modelo dicotômico
teoria/prática adotado pelo Estado, como expressão do coletivo social, seja de fato eficaz na
construção de homens e mulheres íntegros, probos e com elevados valores morais. Talvez
essa seja a razão para virar notícia o fato de alguém ter agido com honestidade diante da
9
possibilidade de um enriquecimento fácil e sem causa, como a devolução de dinheiro ou bens
que tenha encontrado. Isso é o mínimo que se espera de uma pessoa digna.
Assim sendo, haver adultos que tenham valores inconsistentes e que os projetem sobre
as gerações posteriores, relativizando o conceito de dignidade; haver no seio familiar uma
noção muito pobre, quando há, de dignidade; haver na tutela do Estado sobre menores uma
consistente negativa à dignidade dos mesmos, a despeito dos preceitos normativos que
deveriam comandar o trato entre os agentes do Estado e os tutelados; enfim, haver quem
negue direta ou veladamente a condição de ser humano a uma criança ou adolescente, provoca
a necessidade de se burilar o assunto, a fim de se ter algum elemento com que se possa contra-
argumentar com a sociedade em todas as suas esferas, para daí tirar algo que recaia sobre as
crianças e adolescentes como um manto de respeito.
A produção deste trabalho se deu a partir da pesquisa de bibliografias em torno do
tema e de decisões judiciais, em particular as da 3ª Vara da Infância e Juventude do Recife.
A pesquisa bibliográfica foi focada nos escritos sobre a relação da criança e o
adolescente com o Estado, com a sociedade e com seu meio, sua autopercepção enquanto ser
social e a abordagem multivariada do tema e sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
A pesquisa documental cumpriu etapas previamente estabelecidas e necessárias à
legitimidade da mesma. Nesse sentido, foi feito contato prévio com a 3ª Vara da Infância e
Juventude do Recife, seguido de solicitação formal de acesso aos autos acompanhada de
Termo de Responsabilidade e Confiabilidade, os quais foram submetido à apreciação do
Ministério Público, o qual não se opôs, culminando com a autorização do Juízo e o apoio dos
serventuários da justiça. Após o cumprimento dessas etapas prévias, procuramos focar nossa
pesquisa, subsidiada por formulário próprio, em processos cujos resultados fossem pela
aplicação de medidas socioeducativa de semiliberdade e internação, permitindo-nos apreciar
processos outros que, por suas características, nos fornecessem elementos passíveis de serem
apreciados.
10
2. EDUCAÇÃO NO BRASIL
Pode-se inferir que as propostas educacionais norteadas pela lei 9.394/96, conhecida
como Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), procuram, no oferecimento da educação
formal, dotar o educando de ferramentas para o exercício da cidadania e o para o mundo do
trabalho, como disposto em seu artigo segundo. A menção ao termo “pleno” incurso no
mesmo artigo, no que concerne à finalidade da educação, a ser promovida pela família e pelo
Estado, não parece ter o condão de ir muito além do preparo do cidadão e do trabalhador.
Como instrumento regulamentador (a LDB) da educação no Brasil, vale emprestar-lhe
o significado do termo educação: A educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino
e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais (Art. 1º). A educação é, portanto, um processo formativo, desenvolvido, também, na
vida familiar e na convivência humana. Estes dois âmbitos de formação têm maior capacidade
de influenciar decisivamente a formatação do ser objeto desse processo formativo, com
reflexo direto nos outros aspectos da vida humana.
Em o Estado assumindo pra si a responsabilidade de implantar eficazmente um
modelo educacional de resultados efetivos, adotando medidas transversais em todas as suas
políticas, fazendo perpassar nas mesmas conteúdos preocupados com o reflexo que possam ter
sobre a formação dos brasileiros, transcendendo os objetivos imediatos e procurando alcançar
o ser humano como um todo, de forma a fazer-se respeitar, acima de tudo, a dignidade da
pessoa humana, dístico essencial para o viver pleno, porque responsável, consciente e
consistente, teríamos anunciada uma revolução social de fato.
11
3. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A conceituação de dignidade da pessoa humana adotada neste trabalho poderia advir
da idéia óbvia que vem à tona quando se fala em dignidade: respeitabilidade. E tal
conceituação está entre as dispostas nos dicionários:
dignidade
dig.ni.da.de
sf (lat dignitate) 1 Modo de proceder que infunde respeito. 2 Elevação ou
grandeza moral. 3 Honra. 4 Autoridade, gravidade. 5 Qualidade daquele ou
daquilo que é nobre e grande. 6 Honraria. 7 Título ou cargo de graduação
elevada. 8 Respeitabilidade. 9 Pundonor, seriedade. 10
Nobreza.(http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=
portugues-portugues&palavra=dignidade)
Tais significados da palavra dignidade, contudo, precisam ser direcionados ao ser
humano para ganharem significação jurídica. Assim, contribui com uma concepção mais
apropriada Miguel Reale, quando a apresenta de forma tríplice: individualismo,
transpersonalismo e personalismo.
No individualismo, cada homem, a partir do cuidado com os próprios interesses,
protege e realiza, indiretamente, os interesses coletivos. Por essa linha de raciocínio, o
interesse individual está acima do interesse coletivo, que seria a soma dos interesses
individuais, impondo-se ao Estado limites na intromissão na esfera particular do indivíduo,
devendo a lei ser interpretada de forma que salvaguarde a autonomia deste quando em
conflito com aquele.
O transpersonalismo sustenta justamente o contrário:
é realizando o bem coletivo, o bem do todo, que se salvaguardam os interesses
individuais; inexistindo harmonia espontânea entre o bem do indivíduo e o bem do
todo, devem preponderar, sempre, os valores coletivos. Nega-se, portanto, a pessoa
humana como valor supremo. Enfim, a dignidade da pessoa humana realiza-se no
coletivo.
No personalismo, a intenção é compatibilizar as duas correntes. E essa
compatibilização se daria quando do conflito entre o individual e o coletivo, não tendo,
necessariamente, a predominância de um sobre o outro. A avaliação se daria no momento de
solução do conflito, podendo ser favorável ora ao indivíduo, ora ao coletivo, ou ainda "fruto
de uma ponderação na qual se avaliará o que toca ao indivíduo e o que cabe ao todo".
12
Porém, de acordo com Luiz Legaz y Lacambra em Problemas y Tendencias de la
Filosofia del Derecho Contemporaneo (Madrid, Benzal, 1971), "não há no mundo valor que
supere ao da pessoa humana” (p.20), não podendo a primazia pelo valor coletivo sacrificar ou
ferir o valor da pessoa. A pessoa, então, é um minimum a que não pode ultrapassar o Estado,
instituição, ser ou valor.
Numa alusão a todos os conceitos que abordamos, Alexandre Moraes contribui de
forma aglutinadora:
A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que
se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria
vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,
constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve
assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao
exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária
estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (MORAES, 2005)
Ficamos com essa idéia de pessoa humana como valor absoluto e atrelamos a ela o
conceito de dignidade, que vem do latim dignitas: honra, virtude ou consideração, “razão
porque se entende que dignidade é uma qualidade moral inata e é a base do respeito que lhe
é devido” (www.ambito-juridico.com.br).
Não será objeto deste trabalho a evolução histórico-cultural do conceito de dignidade
da pessoa humana, embora tal evolução possa constituir parcela importante da consolidação
de seu conceito atual, em que pesem as diferentes abordagens por diferentes autores.
3.1 INIDICADORES CONSTITUICIONAIS DE DIGNIDADE
Abordaremos nesse ponto, no intuito de termos um universo representativo do que
compõe a dignidade, o disposto no artigo 227 da Constituição Federal:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.
Assim, consideraremos os indicativos de acesso e usufruto à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, ao respeito, à profissionalização, à cultura, à liberdade e à convivência
familiar, como requisitos básicos de correlação com o princípio de dignidade. Não
13
discutiremos o direito à vida, conquanto um direito óbvio e sobre o qual se baseia o usufruto
dos demais direitos.
3.2 INDICADORES DE DIGNIDADE NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Em sendo uma legislação especial, a lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, delineou com mais precisão
componentes da dignidade, em particular os afetos à pessoa em desenvolvimento,
positivando-os em seu texto.
Assim, prevê expressamente o respeito à sua liberdade, à integridade física, psíquica e
moral,à imagem, à autonomia, à identidade, aos valores, às ideias, às crenças.
Veda a submissão à tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor, conclamando, e mais, responsabilizando toda sociedade pelo cumprimento
dessa vedação.
3.3 A PERCEPÇÃO NATURAL DOS ADOLESCENTES QUANTO AOS
COMPONENTES DE SUA DIGNIDADE
Trataremos aqui da compreensão do adolescente do que integra seu cotidiano, de
como se entende nessa fase da vida, a partir do trabalho de Adelita Campos Araújo -
ADOLESCER SAUDÁVEL NA ÓTICA DOS ADOLESCENTES:
Ao discutirmos o adolescer saudável, destacaram-se, no decorrer das entrevistas,
vários aspectos como fundamentais para vivenciar a adolescência de uma maneira
entendida como saudável, incluindo dimensões físicas, biológicas e psicossociais.
Foram enfatizados, pelas/os adolescentes participantes da pesquisa, hábitos de vida
que, no seu entendimento, são importantes, relacionados à alimentação e hidratação
adequadas, higiene pessoal, sono, moradia, saneamento básico e água, prática de
exercícios físicos, sexualidade e reprodução, auto-imagem, dentre outros.(ARAUJO,
2008)
Nesse trabalho, Araújo dividiu a percepção em três dimensões: a) modos de viver um
adolescer saudável, b) relacionamentos e interações no adolescer saudável e c) da
adolescência para o mundo adulto.
O registro de cada dimensão pelos adolescentes foi assim resumido:
14
a) Na categoria Modos de viver um adolescer saudável,os hábitos de vida reconhecidos
como saudáveis incluem alimentação adequada, higiene, aparência pessoal, repouso
adequado, moradia digna e saneamento básico. Também foi destacado, no que tange aos
recursos de saúde o acesso à rede básica de saúde e à rede hospitalar, esperando-se que os
estabelecimento e os profissionais de saúde estejam devidamente preparados para acolherem e
lidarem com um público de características peculiares, considerando os aspectos sociais,
psicológicos, emocionais, enfim, seu contexto de vida.
b) Na categoria Relacionamentos e Interações no adolescer saudável, destaca-se como
saudável o bom relacionamento interpessoal, tanto com os familiares como com o seu círculo
social mais amplo. Identificaram também os riscos de drogas, álcool, fumo e violência
familiar como potenciais comprometedores de um adolescer saudável.
c) Na categoria Da adolescência para o mundo adulto, foi evidenciada a consciência de que
a adolescência é um período de amadurecimento, tendo como indicativos do saudável a
responsabilidade, a autonomia e o respeito aos limites, a partir da confiança de seus pais e
familiares, que seria um sinal de que o adolescente era visto como transitando para o mundo
adulto. Na mão dessa transição associa-se a relevância de atividades de lazer, festas, músicas,
namoro. Foram pontuadas situações complicadoras, como a separação dos pais que provocava
sofrimento, solidão e mudanças no modo de ser, de comportar-se e de estabelecer relações
com os outros. Nessa categoria também ficou clara a preocupação com a inserção no mercado
de trabalho, numa mescla de reforço da autonomia e reafirmação de sua personalidade,
associado à vontade de contribuir com a família. Indicaram nesse sentido o desejo de estudar
e progredir profissionalmente, condições necessárias à satisfação de suas necessidade e
sonhos. Ter perspectiva significa ser saudável, adolescer saudável.
Essas são as ideias que permeiam a percepção dos adolescentes quando confrontados
com sua interpretação do que deva ser um adolescer saudável. Entendemos aqui que o ser
saudável tem a ver com preservação e promoção de direitos inerentes à pessoa humana, em
tributo à sua dignidade. Quando o adolescente se auto-percebe sujeito do exercício do direito
à saúde, tanto em hábitos individuais, abrangendo aí, necessariamente o direito à alimentação,
quanto na busca de serviços de saúde coletiva; direito à educação, na medida em que
demonstram o desejo de estudar, ou pelo menos a compreensão da importância e necessidade
do estudo, inclusive por questões profissionais, no intuito de poderem adquirir bens, daí já
denotando consciência do direito à profissionalização; direito à cultura e ao lazer, fazendo do
último um exercício do primeiro prazerosamente; à convivência familiar e comunitária,
15
quando pontuam a importância da “confiança por parte de seus pares e familiares”
(ARAUJO, 2008)
3.4 A COMPREENSÃO DA NOÇÃO DE DIREITO POR PARTE DOS
ADOLESCENTES
Da mesma forma que lançamos mão do que o adolescente considera saudável em sua
fase da vida, denotando uma percepção genérica do que consideraria direito seu para uma
existência salutar, achamos por bem buscar uma percepção específica do que os mesmos
creem ser Direito, aproveitando os resultados do trabalho de Larissa Machado de Souza
Barreto (in As idéias das crianças e adolescentes sobre seus direitos: Um estudo evolutivo à
luz da Teoria Piagetiana), inspirado em pesquisa semelhante utilizada por Delval, Del Barrio
e Spinosa. No trabalho de Barreto foram realizadas entrevistas estimuladas com 60
participantes de 8 a 17 anos para os quais foram apresentadas quatro histórias, cada uma
apresentando um problema ou conflito envolvendo um direito (educação, alimentação e
proteção contra maus tratos). Adotaremos a classificação em níveis da noção de direitos
definida pela pesquisadora, sem entrar no mérito da metodologia da pesquisa ou seu
referencial teórico, posto que neste trabalho queremos tão somente nos apropriar do resultado
a título exemplificativo. Na pesquisa, a noção de direito variava conforme a idade do
entrevistado, não sendo significativo o estrato social a que pertencesse. Assim, a pesquisadora
estabeleceu 03 níveis de noção de direitos, que apresentaremos mais adiante.
As histórias apresentadas aos entrevistados foram as seguintes:
1. EDUCAÇÃO:
Havia uma família cujos pais não queriam que seu filho (da mesma idade e
sexo da criança que está sendo interrogada) fosse à escola porque preferiam que ele
ficasse em casa para ajudar nos trabalhos domésticos e porque diziam que aprender
não servia para nada. A criança não podia ir para a escola estudar.
Questões:
• Você acha que está bem os pais fazerem isso?
• Você acredita que exista algum pai que faça isso?
• Você acha que isso pode ser feito?
• O que a criança poderia fazer?
• Poderia falar com alguém?
16
2. ALIMENTAÇÃO:
(História do castigo)
Havia uns pais que eram muito exigentes e bravos com o(a) filho(a), e quando
ele(a) fazia algo que seus pais não gostavam, castigavam-lhe, deixando-o(a) sem
comer. A criança comia tão pouco que já estava muito magra, e inclusive poderia ficar
doente.
Questões:
• Você acha que está certo os pais fazerem isso?
• Você acredita que exista algum pai que faça isso?
• Você acha que isso está certo?
• O pai poderia castigar o(a) filho(a) de outra maneira?
• O que a criança poderia fazer?
• A criança poderia dizer a alguém, conversar com alguém?
(História da pobreza)
Havia uns pais que tinham pouquíssimo dinheiro e que quase não podiam
comprar comida, por isso davam pouca comida aos seus filhos. Os filhos estavam
muito magros e poderiam ficar doentes.
Questões:
• Você acha que as crianças poderiam fazer alguma coisa?
• E os pais?
• Aonde poderiam ir, com quem poderiam falar?
• Alguém poderia ajudá-los?
( Comparar as duas histórias e julgar qual é pior)
3. PROTEÇÃO CONTRA MAUS-TRATOS
Uma menina chamada Fernanda (com a mesma idade da criança que está sendo
interrogada) morava ao lado da casa de uma outra menina chamada Priscila, elas eram
amigas. Todos os dias Fernanda ouvia o pai de Priscila chegar muito zangado, brigar
com ela e bater nela. Priscila ia dormir sempre chorando.
Questões:
17
• O que você acha disso?
• Você acha que está certo o pai fazer isso?
• Você acredita que exista algum pai que faça isso?
• O que a criança poderia fazer?
• Poderia falar com alguém?
• E a Fernanda, poderia ajudá-la como?
4. PERGUNTAS GERAIS:
• Você já ouviu alguém falar em ter direito a alguma coisa?
• O que são direitos das crianças?
• Quais são esses direitos? Tem algum que é mais importante que outro?
• Quais são os mais importantes?
• Depende da idade?
• Os mais velhos têm direitos? Quais?
Em todas as histórias contadas, os sujeitos foram requisitados a dar
respostas que atendessem às seguintes exigências: emitir um juízo de valor em
relação à situação, se o fato narrado lhe parece bom ou mau (interpretação 1); avaliar
o problema em questão quanto à sua possibilidade de realmente ocorrer
(interpretação 2); e propor uma solução para o problema apresentado (soluções).
Embora não se tenha questionado diretamente sobre cada direito específico,
interessava investigar não apenas como os sujeitos concebem cada direito em
particular, mas também qual é a sua compreensão do que é um direito em termos
gerais (BARRETO).
A pesquisadora ressalta que a noção de direito do indivíduo advinha da interpretação
que o mesmo fazia da história e se identificava alguma violação ou problema que exigisse
solução. Em função disso, pôde dar um tratamento qualitativo que norteou a definição dos 03
níveis de entendimento que trouxemos para este trabalho:
O nível I caracteriza-se pela ausência de compreensão da noção de direito. O direito
é assimilado a atividades do cotidiano e a coisas que podem ou devem ser feitas. A
violação de um direito não é percebida; portanto, não é questionável. É clara a
dificuldade dos sujeitos desse nível em aceitar o problema envolvido na história.
Nesse nível, no que concerne ao problema apresentado, a compreensão de que o
personagem da história deve estar sujeito à intervenção de um adulto predomina; ou então a
criança deve dar um jeito de burlar as causas do problema. Esse nível demonstra a
18
ingenuidade do entrevistado no que tange a direitos e consequentemente à dignidade. As
violações de direitos de indivíduos nesse nível de compreensão, dificilmente são percebidas
pelos tais, mas podem, mais adiante, à medida que se construa uma noção de direitos,
identificar os abusos que sofreram e reagir de alguma forma, sem necessariamente fazer uma
conexão de causa e conseqüência.
Já no nível II, a noção de direitos é tida
como uma noção relacional, em que estão em jogo a responsabilidade pessoal e o
respeito por parte do outro. Direito e dever começam a se diferenciar. A violação do
direito começa a ser considerada uma questão ética e não mais submissão acrítica às
imposições dos adultos. O que é marcante, nesse nível, é a introdução de novos
elementos não perceptíveis, diretamente, na interpretação do problema.
Já se percebe dentre as soluções propostas pelos entrevistados a denúncia a instituições
legais, que integra um mix de soluções, demonstrando que já se contextualiza o problema e
que o mesmo pode ser atacado de formas diversas, levando-se em consideração a idade dos
sujeitos na busca das alternativas.
No nível III, já há uma distinção plena entre direitos e deveres, como também
coordenação entre os dois conceitos.
O direito é concebido como uma necessidade humana de validade universal, moral e
regulada, institucionalmente, segundo um princípio de justiça. A violação do direito
não mais se confunde apenas com uma questão ética, mas submete-se à
normatização social e à regulamentação institucional.
Nesse nível, o sujeito não só já vislumbra elementos não evidentes que interferem no
problema, como também evoca nuanças da realidade social que utiliza na contextualização do
problema, fazendo inclusive projeções dos resultados das soluções consideradas para os
mesmos. Dentre as soluções está a denúncia formal.
O trabalho desenvolvido demonstrou uma clara relação entre a idade dos indivíduos e
a forma como lidaram com as situções-problemas.
Geralmente, os mais novos propõem soluções únicas e os mais velhos pensam em
diferentes alternativas. Da mesma maneira, à medida que aumenta a idade, observa-
se uma diminuição das soluções mágicas e imediatas.(...) sendo possível perceber
que, pouco a pouco, os sujeitos vão tomando consciência da existência de certos
mecanismos institucionais que garantem o cumprimento dos direitos. Esses
mecanismos se encontram fora do contexto imediato que rodeia os sujeitos e que
supõem um complexo processo. Nos primeiros níveis de respostas, a ajuda que as
crianças procuram decorre sempre de pessoas individualizadas que têm um gesto
generoso e humanitário. Ao contrário, para os mais velhos, a solução procede de
instituições que são responsáveis pela garantia e cumprimento dos direitos. A noção
19
de Estado também merece ser mencionada. Entre os sujeitos mais velhos, o Estado
tem o dever de satisfazer as necessidades básicas dos indivíduos, uma vez que é
financiado por todos os cidadãos que contribuem para isso. Observa-se, claramente,
que a visão harmônica da sociedade que as crianças mais novas têm, vai sendo,
gradativamente, substituída por uma melhor e mais completa compreensão de todo o
emaranhado de relações que compõem o mundo social.
Podemos, daí, entender que a apropriação de uma noção mais acurada de direitos deve
vir com uma visão mais ampla de mundo, proporcionada pela experimentação de múltiplas
realidades como é de se supor que passem os adolescentes de maior idade, tais como
conexões sociais mais amplas, acesso natural a informações (em filmes, livros, programas de
televisão, etc.) ou quaisquer outros fatores próprios do universo jovem aos quais os mais
novos naturalmente não tem acesso.
A consciência de ser objeto de direitos, positivados ou não, dá ao ser humano alguma
noção de sua condição peculiar de pessoa, portador de algum grau de “dignidade”. Essa auto-
imagem contribui para o sentimento de pertencimento a uma sociedade formada por valores
mais ou menos nivelados, onde desvios são mais notados do que a permanência nos trilhos do
comportamento correto e adequado. Isso contribui para um tipo de controle interno que
desestimula a prática de atos reprováveis pelo grupo social.
A mitigação do cultivo dos valores, sua relativização, enfraquece, também, o que
poderíamos chamar de freios e contrapesos internos, dando margem à licenciosidade que leva
ao cometimento de atos reprováveis. Quando não se vivencia direitos, ou quando os mesmos
permanecem no campo teórico, sendo diluídos num cotidiano que os nega na prática,
flexibilizando-os quando conveniente, negando-se-lhe eficácia, abre-se espaço para um
retorno, uma visita ao estado de natureza hobbesiano.
20
4. A TRANSIÇÃO PARA O COMPORTAMENTO INFRACIONAL
Lélia Machado Dias Chrispim, num excelente trabalho intitulado “MENINOS QUE
MATARAM: PROMOÇÃO DE UMA REINTEGRAÇÃO SOCIAL SAUDÁVEL”, no qual
recolheu a contribuição de vários autores, entre eles Simone Gonçalves de Assis, GJ Ballone,
Adalberto Barreto, Paulo Roberto Cecarelli, Arnaldo Chagas e Michel Foucault, intenciona
montar as peças que possam, encaixando-se, lançar luz sobre o porquê da assunção de um
comportamento hostil ou antissocial por parte do adolescente.
Sustenta em seus argumentos que uma série de fatores contribui para tanto, como na
leitura de Focault que indica que
deve-se analisar no infrator não só as circunstâncias do ato criminal, mas também as
causas de seu crime, procurando-as na história de sua vida sob o ponto de vista da
organização, da posição social e da educação; conhecendo assim as inclinações
perigosas da primeira, as predisposições nocivas da segunda e os maus antecedentes
da terceira.
Daí, analisar as determinantes extra-infrações, de raízes pessoais e sociais, que
influenciem a adoção do comportamento análogo ao criminoso, é o objeto deste capítulo.
Minayo e Souza conferiram aspecto pluridimensional à origem da violência,
identificando três grandes tendências: a biológica, a sociológica e a biopsicossocial. Na
primeira, estão presentes componentes biológicos e psicológicos, próprios da essência
humana, os quais submetem as questões sociais às determinações da natureza humana. Na
tendência sociológica, a violência seria explicada como “fenômeno social provocado por
alguma conturbação da ordem, quer pela opressão pelos mais fortes, pela rebelião dos
oprimidos, pela falência da ordem social, pela omissão do Estado”. Esse seria o terreno
propício para a manifestação da “natureza humana”, fazendo surgir a violência como
consequência da miséria e da desigualdade social. Já a tendência biopsicossocial, seria a
interação do biológico, psicológico e do social
não crendo que a violência resulte apenas dos problemas de natureza econômica e
política; embora entenda que essas questões sejam significativas, não crê também
que o aumento da violência no mundo decorra exclusivamente do aumento dos casos
de sociopatas.
O adolescente agressivo pode ser aquele que em idade pré-escolar tinha os acessos de
agressividade interpretado como travessura de criança ou excesso de energia. Ballone afirma
que essa conduta agressiva tem raízes individuais, familiares e ambientais, não atingindo
todas as pessoas igualmente, nem submetendo todas à mesma situação de risco.
21
Como fatores individuais estão as questões de temperamento, sexo, condição biológica
e cognitiva; como fatores familiares estão o vínculo, o contexto interacional, uma eventual
psicopatologia, e um possível desajuste dos pais e do modelo de educação doméstico, sendo a
família o espaço considerado adequado para a convivência e o desenvolvimento das crianças e
adolescentes, sendo fundamental para sua integridade física, moral e psicológica o vínculo
afetivo que une os seus membros. A imagem da família atuaria como censura, provocando-
lhe vergonha ou desapontamento; no Brasil, um dos fatores desencadeantes da delinqüência
é o fraco controle sobre os jovens, exercido por instituições como a família, igreja e escola
(CECARELLI, 2004).
Os fatores de risco considerados determinantes para o infrator são o “consumo de
drogas, o círculo de amigos, o tipo de lazer violento, baixa auto-estima, falta de
reconhecimento de limites entre certo e errado, fraco vínculo afetivo com a família e com a
escola e sofrer ou ter sofrido violência por parte dos pais”. (ASSIS, 1999).
Por fim, para entender como todos os fatores que influenciam o comportamento
agressivo, como exposto nos parágrafos anteriores, se abatem sobre uma pessoa em condição
existencial peculiar, como é a fase da adolescência, imaginemos a interação desses fatores
com um sujeito que está em transformações psicológicas e físicas, contradições, incoerência e
rebeldia.
o momento em que está presente o espírito de transgressor, o imediatismo, a
independência, a necessidade de carinho, de proteção, de segurança e de limites,
fazendo com que o adolescente seja visto como uma pessoa em condição especial de
desenvolvimento, já que esse período marca o processo de individuação e de
construção da identidade desse jovem-adulto. (CHRISPIM)
22
5. A IDEIA DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE DO MENOR INFRATOR
Há diferentes percepções sobre a punibilidade de menores cometedores de atos
análogos aos crimes capitulados nas legislações penais. Essas diferenças apresentam-se desde
a fixação da faixa etária passível de responsabilização, marco necessário para adequação das
melhores medidas a serem aplicadas, não obstante os diferentes posicionamentos perante a
vida de adolescentes de faixa etária idêntica, até a medida que deva ser tomada na
concretização dessa punição. Há relativo consenso para uma dicotomia entre idade de
responsabilização e maioridade penal. Entre os países europeus (tab. 1), a faixa etária de
responsabilização varia de 07 (Inglaterra e Suíça) a 16 anos (Bélgica, Romênia e Portugal,
esse último coincidindo com a maioridade penal), enquanto a maioridade penal varia de 16
(Portugal) a 25 anos (Suíça). Entendemos que essa dicotomia tende a respeitar o que se
plasma em nosso ordenamento jurídico como “a condição peculiar da criança e do adolescente
como pessoas em desenvolvimento”.
País
Idade da
responsabilidade penal
juvenil
Maioridade da Idade
Penal
(imputabilidade
penal)
Maioridade da Idade
Civil
(Capacidade civil plena)
Alemanha 14 18-21*** 18
Áustria 14 19 19
Bélgica 16 18 18
Bulgária 14 18 18
Dinamarca 15 18-21*** 18
Espanha 12 16* 18
França 13 18 18
Grécia 13 18 18
Holanda 12 18 18
Hungria 14 18 18
Inglaterra 7-15 18 18
Itália 14 18 18
Polônia 13 17 18
Portugal 16 16-21*** 18
Romênia 16 18-21*** 18
Suécia 15 18 18
Suíça 7/15 18-25*** 20
Tabela 1-Idade penal na Europa (Fonte: http://maioridadepenal.vilabol.uol.com.br/textos/outrospa.html
5.1 A RESPONSABILIZAÇÃO DO ADOLESCENTE
A idade em que uma pessoa era passível de responsabilização no Brasil sofreu
modificações ao longo do tempo, provavelmente em decorrência das contribuições que outras
visões além da penal forneceram para o mundo jurídico.
23
No estabelecimento da corte de D. João VI no Brasil em 1808, vigorava por aqui as
Ordenações Filipinas, que considerava penalmente imputável a criança a partir dos 07 anos de
idade, dando-lhe, porém um tratamento diferenciado até os 16, sendo-lhe vedada a aplicação
da pena de morte e sendo-lhe concedida redução de pena. Entre os 17 e 21 anos existia a
figura do jovem-adulto, que podia ser condenado à morte ou ter sua pena diminuída,
conforme as circunstâncias. Ademais, em todo o resto, eram igual e severamente punidos,
tanto criança, quanto adolescentes ou adultos.
Em 1830 foi publicado o primeiro Código Penal do Brasil, nação já independente de
Portugal desde 1822, chamado de Código Criminal do Império, que fixou a imputabilidade
em 14 anos de idade, mas previu uma possibilidade de responsabilização para menores de 14
anos e maiores de 07 anos, quando comprovado que tinham discernimento do ato que
praticaram, sendo então postos em Casas de Correção pelo tempo julgado necessário pelo
juiz, não podendo permanecer em tais Casas os maiores de 17 anos.
Já na vigência da República, antes mesmo da primeira constituição republicana, foi
promulgado o Código Penal dos Estados Unidos do Brazil, prevendo inimputabilidade penal
para os menores de 9 anos e possibilidade de responsabilização para os maiores de 9 anos e
menores de 14 que tiverem obrado com discernimento, os quais deveriam ser recolhidos a
estabelecimento industriais pelo tempo que o Juiz julgasse conveniente, não ultrapassando os
mesmos nesses estabelecimentos a idade de 17 anos. Considerava como atenuante (Art. 42, §
11) a menoridade de 21 anos. Como o Código dava tratamento diferenciado para a tentativa,
rezava que o que agisse como cúmplice num crime consumado teria a cominação penal da
tentativa, e quem agisse como cúmplice na tentativa teria a cominação penal da tentativa
reduzida de um terço. Destinava então para o criminoso entre 14 e 17 anos as penas da
cumplicidade.
Outros decretos se seguiram com pequenos avanços no que concerne ao entendimento
de que as crianças e adolescentes precisavam de tratamento adequado à sua condição peculiar,
ao mesmo tempo em que se buscava proteger a sociedade dos atos delituosos praticados pelos
adolescentes e jovens. Até que em 1927 consolidou-se o Código de Menores, que
contemplava as leis de assistência e proteção aos menores, estabelecendo que o infrator menor
de 18 anos estaria sujeito ao regime do Código, fixando a imputabilidade penal absoluta em
14 anos e determinando regime especial para o tratamento de infratores maiores de 14 e
menores de 18.
Em 1940, o novo Código Penal, no seu Art. 27, fixou a imputabilidade penal aos
dezoito anos de idade, adotando o critério puramente biológico. Os abaixo dessa
24
faixa etária são denominados imaturos, e estão sujeitos apenas à pedagogia corretiva
da legislação especial. Na época, o problema da infração juvenil e dos meninos
abandonados já se mostrava um grande desafio de cunho social; planejava-se um
novo Código de Menores com caráter sociojurídico (CHRISPIM, 2005).
Sob a influência da Declaração dos Direitos da Infância, a Lei 6.607 de 1979
estabelece o novo Código de Menores, justificando a apreensão pelo Estado de menores
infratores ou vítimas da sociedade ou da família, através dos Juizados de Menores. O Código
não delimitava direitos e garantias para essa população, sob o argumento de que o Estado
sempre regularizaria sua situação, com a substituição da família natural pela instituição e da
sua reinserção na sociedade pelo trabalho (RANGEL E CRISTO, 2004).
Em 1988, com promulgação da Constituição Federal, que prima pelos direitos
humanos de todos os cidadãos, ganhou corpo a Doutrina da Proteção Integral, a qual
encontrou no artigo 227 preceitos de indiscutível valor para sua implantação.
Por fim, como consolidação da Doutrina da Proteção Integral, surgiu o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), superpondo o valor educativo da tutela do Estado sobre essa
parcela da população, ante o valor punitivo.
Assim, não se aplica ao adolescente infrator no Brasil o instituto da prisão ou do
encarceramento ou da pena privativa de liberdade, sendo substituídas essa expressões por
expressões mais condizentes com os objetivos da imposição de medidas que, apesar do
mesmo efeito prático, tem o condão de promover uma reeducação, por isso chamadas de
medidas socioeducativas.
Às vezes sob o pretexto de proteger se desprotege. Quando se pugna pela
exigibilidade de um procedimento calcado nas garantias processuais e penais na
busca da fixação da eventual responsabilidade do adolescente, o que se pretende é
vê-lo colocado na sua exata dimensão de sujeito de direitos. Quando se mitiga o
conteúdo aflitivo da sanção socioeducativa está-se ignorando que esta tem uma
carga retributiva, de reprovabilidade de conduta. A medida socioeducativa
adequadamente aplicada será sempre boa, mas somente será sempre boa se o
adolescente se fizer sujeito dela, ou seja, somente será boa se necessária, e somente
será necessária quando cabível, e somente cabível nos limites da legalidade,
observado o princípio da anterioridade penal. Se não há ato infracional, não se pode
cogitar em sanção.(SARAIVA, 2009)
25
6. O DESRESPEITO À DIGNIDADE E O ADOLESCENTE INFRATOR
Este capítulo dedica-se a sopesar as considerações tecidas nos capítulos anteriores com
a realidade encontrada na pesquisa realizada junto à 3ª Vara da Infância e da Juventude do
Recife, que consistiu na análise de 20 processos de adolescentes infratores, com autorização
da Juíza responsável, sendo o Ministério Público favorável, mediante Termo de
Responsabilidade e Confiabilidade.
A idade dos adolescentes oscilou entre 12 e 21 anos, conforme tabela abaixo:
Faixa etária Quantidade Absoluta Quantidade Relativa
12 a 14 03 15%
15 a 17 15 75%
18 a 21 02 10%
Tabela 2 – Distribuição etária dos adolescentes nos processos
Os resultados dos processos foram os apresentados abaixo:
Resultado Quantidade
Absoluta
Quantidade
Relativa
Internação 10 50%
Semiliberdade 04 20%
Liberdade Assistida 01 5%
Arquivamento/remissão/improcedência/extinção 05 25%
Tabela 3 – Resultados dos processos
Procuramos identificar sinais de desrespeito à dignidade dos adolescentes que
permeassem os processos e nesses mesmos processos identificar fatores análogos aos
apresentados pelos autores citados neste trabalho, como de risco para a vida infracional.
A representação de um ou outro fator, ou mesmo a combinação de vários deles, em
cada processo consultado, corroborou para a confirmação do apurado na literatura.
Os dados objetivos foram obtidos dos dados processuais, no que concerne à
qualificação dos adolescentes. As informações de caráter subjetivo foram obtidas nos
relatórios elaborados pelas equipes técnicas da Fundação de Atendimento Socioeducativo
(FUNASE).
A tabulação das informações encontra-se na tabela abaixo:
26
Faixa
Etária
12 a 14 15 a 17 18 a 21
03 15 2
Renda
Familiar
Menor que
1 SM 1 a 2 SM
3 a 4
SM
Bolsa
Família
Boa situação
financeira
Não
identific
ado
03 05 01 02 01 08
Raça
/Cor
Negra /
Parda Branca
Não
identifi
cada
10 03 07
Escolarid
ade
Sem escola
Ensino
Fundament
al 1
Ensino
Funda
mental
2
Ensino
Médio
Incomp
leto
Ensino Médio
Completo
01 04 13 01 01
Uso de
droga
Álcool Maconha Crack Cola Mesclado Cigarro Cocaí
na Outros
04 09 01 01 01 06 02 02
Convivên
cia social
Pai ausente Mãe
ausente
Padras
to
Madras
ta
Ausência de
autoridade /
Controle /
Vigilância
Negligê
ncia do
respons
ável
Pai /
Mãe
no
crime
Convivênci
a com
pessoas
inidôneas
Ma
us
trat
os
Pai/
Mãe
alcoól
icos
13 06 4
04 01 05 03 01 02
Número
de
pessoas
na
família
2 4 5 6 7
Não
Identific
ado
02 02 06 01 03 02
Habitaçã
o extra-
lar
Vivência de
Rua
Vivência em
abrigo
03 03
Atuação
da defesa
Defensoria
Pública
com defesa
praxe
Defensoria
Pública com
defesa
atuante
Defesa
com
advoga
do
03 03 01
Infração Tráfico
Porte ilegal
de arma
Homic
ídio
Tentati
va de
Homicí
dio
Ameaça com
lesão
Injúria /
atos
libidinos
os
Furto Roubo
majorado
Des
aca
to
09 02 02
01 01 02 02 01
Resultad
o do
processo
Internação Semiliberda
de
Remiss
ão
Arquiv
amento
Representação
improcedente
Liberda
de
Assistid
a
Extin
to
10 04 02 01 01 01 01
Agressão
na
apreensã
o
6
Tabela 4 – Tabulação dos resultados da pesquisa
27
6.1 TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES
As informações colhidas nos processos foram qualitativamente avaliadas, sendo
prospectados nelas indicativos de desrespeito à dignidade, na medida em que sua ocorrência
despertava o sentimento de reprovabilidade.
Para esclarecimento do que vem a ser esse sentimento de reprovabilidade, basta
afirmar que reputamos assim tudo aquilo em que, num exercício de empatia, nos parecia
desrespeitoso, desonroso, ilegal ou pejorativo. Tudo o que, em se assumindo pra si a
circunstância, provocava tristeza, repulsa ou lamento.
Podemos extrair dos dados objetivos que o acesso a drogas ditas lícitas (mas no estudo
em tela devendo ser consideradas na maioria dos usos ilícitas, porque usadas por menores)
permeou a realidade da maioria dos adolescentes objetos do estudo. As drogas ilícitas, com
grande predominância da maconha, também se fizeram presentes em grande medida.
A ausência da figura paterna, seja por abandono, morte ou desconhecimento, marcou a
vida de 65 por cento dos adolescentes.
Houve também casos de ausência materna em 30 por cento dos casos e envolvimento
dos pais em crimes em 25 por cento deles.
Dentre os processos em que foi possível a identificação da renda familiar, em número
de 12, a maioria (66 por cento) fica abaixo de 02 salários mínimos, sendo 03 menores que 01
salário mínimo.
A atuação da Defensoria Pública, nos casos em que se pode identificar, equilibrou-se
entre defesas ativas e defesas passivas. As defesas ativas foram aquelas em que a Defensoria
demonstrou empenho em proteger os interesses do representado, ora interpondo recurso, ora
pleiteando direitos. As defesas passivas foram aquelas que atuaram de praxe, com texto
padrão, opinando sempre pela medida socioeducativa imediatamente mais vantajosa do que a
pleiteada pelo Ministério Público.
A partir dos registros dos técnicos da FUNASE, quando do atendimento dos
adolescentes, pudemos vislumbrar histórias permeadas de marcas de indignidade, privações
materiais e emocionais, sendo estas mais determinantes que aquelas no que diz respeito à
situação do menor infrator analisado.
Estes registros, perscrutados nas entrelinhas dos processos, foram registrados por
anotações e transcrições dos relatórios elaborados por psicólogos e assistentes sociais que
atenderam os adolescentes. Não havia um campo apropriado no formulário de pesquisa
previamente preparado que pudesse colher tais informações.
28
A menção aos adolescentes objetos deste estudo será feita pelo número de seu
formulário de pesquisa, considerando a vedação expressa do Estatuto da Criança e do
Adolescente:
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que
digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a
criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação,
parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.
Tomado esse cuidado, podemos trabalhar com as informações colhidas das análises
psicossociais dos adolescentes.
Havia motivações para o cometimento das infrações penais oriundas da necessidade de
se ter dinheiro para adquirir suas próprias coisas, como no caso do Adolescente nº 01, que
queria comprar roupas e por isso roubou um telefone celular e um ipod genérico para vender e
fazer dinheiro. Ou dos Adolescentes n°s 09 e 10, que traficavam drogas que lhes davam um
lucro de R$ 100,00 por dia, ou os de n°s 06 e 07, irmãos, sem qualquer suporte financeiro dos
pais, face ao abandono do genitor, que foi morar em outro lugar, e a prisão da genitora, os
quais tinham o tráfico como fonte de renda.
Para esses mesmos adolescentes, encontramos registro de suas privações: o nº 01 não
convive com o pai, viveu na rua e em abrigos, foi agredido por populares com objeto
contundente quando da apreensão, usuário de drogas desde os 10 anos de idade, sem afeto,
controle, orientação e vigilância da família, antes sendo objeto de negligência da mãe; o nº 09,
apesar de cursar a 5ª série mal lê e escreve, teve um prego quebrado na perna por um policial
em apreensão anterior, com suspeita de estar acometido de tuberculose, “frágil, vulnerável e
de aparência negligenciada”; o nº 10 parou de estudar ainda criança, não sabendo ler nem
escrever, agredido quando da apreensão, com baixa auto-estima e renda familiar inferior a 01
salário mínimo. Os de n°s 06 e 07 viviam sozinhos em casa, tendo a atenção de uma vizinha
que consideravam como tia, pois o pai abandonou o lar e os filhos, indo morar em outro
bairro. A mãe encontrava-se presa num presídio feminino e isso representava para o n° 06
algo bastante incômodo, a ponto de dizer que a mãe tinha abandonado o lar e demonstrar
temor quando se referia ao seu “desaparecimento”; o mesmo não tinha referência positiva e
sofria por ser portador de vitiligo. Seu irmão já deixou transparecer a relação conflituosa com
a mãe, inclusive revelando seu paradeiro e sua condição de alcoólica.
Incursos no ato infracional análogo ao crime de tráfico de entorpecentes, além dos
adolescentes de n°s 06, 07, 09 e 10 já mencionados, encontramos os adolescentes de n°
s 03,
04, 13, 15 e 16, sendo este ato infracional o campeão em número de processos analisados,
29
com uma representação percentual de 45%. Em todos os casos, relatos de desrespeito às suas
dignidades e consequentemente aos seus direitos estão presentes. Dentre os tais, agressão
pelos policias (03 e 15), defesa sem empenho (03), ausência da figura paterna (03, 13, 15 e
16), ausência de vigilância ou limites (03), convivência com pessoas inidôneas (16). O
adolescente de nº 15 mora com uma madrinha desde os 05 anos de idade, uma vez que os pais
não dão qualquer assistência material ou afetiva, tem renda familiar de 03 a 04 salários
mínimos, traficava há apenas 17 dias por influência de amigos, alegando não precisar disso,
pois sempre teve tudo; a representação do mesmo foi julgada improcedente por não conter o
laudo do Instituto de Criminalística quanto ao material apreendido com o mesmo. A
Defensoria atuou nesse caso com bastante empenho.
Os adolescentes de n°s 02, 08 e 14 cometeram os atos infracionais análogos a
homicídio (02 e 08) e tentativa de homicídio, podendo ser identificados como atentatórios à
dignidade dos mesmos a convivência com pessoas inidôneas (02 e 14), a ausência da figura
paterna, por desconhecimento (08) e por se encontrar preso (14).
Dois destaques precisam ser feitos quanto a estes 03 processos:
No caso do adolescente nº 08, o processo foi extinto sem julgamento do mérito porque
o fato ocorreu em outubro de 2006 e só foi encaminhado à 3ª Vara da Infância e da Juventude
em 25 de novembro de 2010. A vítima desse caso também foi um menor e por inércia da
autoridade policial não houve qualquer responsabilização, sendo a afronta à dignidade da
vítima de caráter duplo e transvitalício: teve a maior afronta quando de sua morte e afronta de
caráter permanente na medida em que não teve qualquer consequencia; sua vida não teve
valor suficiente para desencadear a perseguição do aparelho estatal na responsabilização do
autor, de forma que à vítima fosse destinado um mínimum de valor.
No caso do adolescente nº 14, a família foi necessariamente preponderante para o
comportamento agressivo do mesmo. O pai, policial militar, encontrava-se preso por atuar
como “justiceiro”; a mãe narra a história do filho como quem compreende sua atitude,
chegando ao ponto de entrar em acordo com a mãe da vítima (também menor) para que todos
esquecessem o fato, não denunciar o agressor e evitar que os filhos se encontrassem!
A adolescente de nº 05, de 14 anos de idade, foi processada por infração análoga aos
crimes de ameaça e lesão corporal. Numa existência totalmente destituída de dignidade, não
conheceu o pai, teve a mãe assassinada por envolvimento com o tráfico de drogas, passando à
responsabilidade de uma tia, que deteve a guarda da mesma de seus 06 meses de idade até os
08 anos, quando a perdeu por submetê-la a maus tratos. Passou a residir em abrigos desde
30
então. O resultado de seu processo foi a remissão judicial, o que se configura como gesto de
boa vontade para alguém cuja vida já tem contornos de condenação.
Outros casos que queremos destacar neste trabalho são os dos adolescentes n°s 11, 17
e 18.
O de nº 11, com 12 anos de idade, usuário de cola, abordado por policiais numa praça
do centro do Recife, reagiu com impropérios e palavrões, sendo “adequadamente” tratado
com cascudos e murros pelos mesmos, conduzido à delegacia e enquadrado pela infração
análoga ao crime de desacato. É o mais velho de sua mãe, que o concebeu aos 15 anos.
Quando do falecimento do pai, sua mãe, então com 20 anos de idade, tornou-se alcoólica, e
nessa condição perdeu a guarda de outros 03 filhos, de 6, 3 e 1 ano e oito meses, que estão em
abrigo. Nunca freqüentou escola, dormia na rua. Foi beneficiado com a remissão judicial e
com medidas protetivas. No primeiro atendimento psicossocial, apresentou-se sob o efeito da
cola, com higiene corporal comprometida, aspecto desleixado, sorrindo, inquieto, desatento.
No segundo atendimento, apresentou-se em bom estado geral, limpo e bem arrumado. Havia
deixado de usar cola há um mês e come e dorme em casa. Diz que agora que a mãe está sem
beber é mais calma e alegre em casa. Segundo a mãe, a conversa com a Juíza foi
determinante para a transformação de ambos.
O caso da adolescente de nº 17, de apenas 15 anos de idade, carrega em si também
características próprias de afronta à dignidade da mesma. Residente em Campina Grande, na
Paraíba, veio pela segunda vez ao Recife, trazida pela mesma pessoa, um motorista de táxi de
seu estado, para praticar infrações para o mesmo, sob promessa de recompensa. Assim, foi
flagrada em companhia de outro adolescente na saída de um hipermercado com os seguintes
produtos (!): 01 barraca de acampamento, 01 piscina de 541 litros, 01 bote baleia, 01 óculos
de natação, 01 cadeado de chaves, 01 jogo de chaves de 04 peças, 02 baldes de 20 litros, 01
minibola, 01 corrente para bicicleta, 01 estojo cola, 01 bomba de ar mini, 01 colchão
bronzeador, 02 kits cueiro, 02 toalhas, 01 boneca, 01 bola de futebol, 01 telefone de
brinquedo, 01 par de meias, 01 TV LCD de 32”. A instrução do corruptor de menores era que
deveriam colocar no carrinho de compras a TV e escolherem o que quisessem. Ele os
esperaria na saída de emergência do estabelecimento. Flagrados, os adolescentes foram
abandonados à própria sorte, sendo a adolescente de nº 17 submetida à medida socioeducativa
de internação. A Defensoria atuou como de praxe, sem qualquer empenho no caso.
Já o caso do adolescente de nº 18, único em toda pesquisa pertencente à família bem
situada financeiramente, é de infração análoga à injúria, mediante prática de atos libidinosos.
“Vítima” e agressor tinha à época do fato 15 anos, e tudo aconteceu consensualmente. O fato,
31
porém, foi registrado em foto a qual o pai da vítima teve acesso 04 anos depois. A vítima,
deslocando-se de Londres para prestar depoimento, confere pouca importância ao fato e julga
desnecessária a manutenção do processo. O processo é arquivado.
Nesse caso, a vítima passou a residir temporariamente na casa do adolescente de nº 18
por decisão da genitora, que não queria que a mesma entrasse em conflito com o pai. Este
exercia forte vigilância e cobrança sobre a filha, particularmente quanto ao seu
comportamento com rapazes. A desestrutura de seu lar a expôs a desrespeitos reiterados de
sua dignidade. Mesmo com condições materiais suficientes para sustentar a filha, os pais não
detinham condições emocionais ou psicológicas que lhe dessem suporte na educação da
mesma. Em casa de estranhos, a vítima envolveu-se em situação vexatória registrada em foto
e acessada por várias pessoas. Buscando satisfazer seu senso particular de justiça, o pai
resolve motivar um processo em que todas as histórias são rememoradas e outras tantas
reveladas, provocando, em nossa ótica, dano muito maior do que já havia sido submetida sua
filha.
32
7. CONCLUSÃO
A dignidade, termo muito presente em textos normativos, positivada na maioria das
constituições democráticas, encontra por vezes dificuldades em ser conceituada. Ela entra na
compreensão coletiva como um sentimento, uma sensação, muitas vezes aflorada quando de
sua afronta. A reação psicoemocional que causa seu desrespeito é, na maioria das vezes, o
sinal de sua existência.
É algo necessariamente inerente ao ser humano. Ocorre-nos lembrar de um vídeo
veiculado num programa de televisão, no qual um cão da raça miniatura pinscher, pequeno
por natureza, aproxima-se de um cão muitas vezes maior, que está deitado. Quando começa a
cheirá-lo, é repelido com veemência pelo mesmo. Logo em seguida, vira-se e urina no
grandalhão deitado, que não esboça nenhuma reação. O motivo de o vídeo ter sido veiculado é
o significado que tem para o sentimento coletivo a metáfora inclusa no episódio. Para os cães,
tudo que aconteceu foi muito natural e a sensação que o cão maior teve foi uma sensação
puramente física de estar molhado. Não lhe ocorreu que o cão menor tinha sido atrevido, nem
que o havia desrespeitado. Não havia simbolismo naquela atitude. No mundo humano, uma
cena semelhante não causaria apenas o desconforto físico de estar molhado ou repugnância
por se tratar de urina. A atitude do atrevido teria uma dimensão muito maior do que seus
aspectos imediatos. Ferir-se-ia a dignidade do ofendido.
Todos nós somos ou fomos, em alguma medida, desrespeitados em nossa dignidade.
Estabelecemos, em razão de nossas experiências, expectativas ou circunstâncias, uma escala
de tolerância ou intolerância em relação a esses desrespeitos. Isso não nos faz,
necessariamente, melhores ou piores do que qualquer outra pessoa. Temos, no entanto,
estímulos interiores capazes de nos fazer reagir e exigir tratamento consoante nossa
dignidade.
O desafio da sociedade e do Estado é antever dignidade nos seus integrantes. É tutelá-
la previamente, é disseminá-la.
A dignidade dos adolescentes objetos deste estudo teve uma evolução histórica em sua
compreensão, como de resto a de toda humanidade. Isso permitiu evoluções nas letras da Lei
que contribuiu, a seu tempo e contexto social, para atuação da sociedade pela lente do
adolescer.
O sentimento próprio de dignidade é o bem jurídico objeto da tutela do Estado e da
Lei. É direito fundamental e dístico da condição de ser humano. Porém, a letra fria da lei nada
33
pode diante de uma realidade flexibilizadora; diante de uma subvalorização prática do ser
humano.
Conseguimos entrever supressões de condições materiais, familiares, emocionais,
psicológicas, afetivas e da efetiva proteção estatal. Essa ausência de tudo torna o ser humano
menor, desnivelado em relação aos seus pares.
A atitude proativa dos que fazem a sociedade, em particular dos que lidam com a lei,
operadores de direito, policiais, abrigos, locais de internação, equipes socioeducativas,
professores, conselheiros tutelares e os meios de comunicação, pode e deve contribuir na
disseminação de valores para além do campo teórico. O olhar pela lente da dignidade deve
levar o adolescente infrator a crer na sua possibilidade.
Não ousaremos afirmar que a negação de fatores importantes a uma existência digna
foi a motivação para o cometimento de infrações pelos adolescentes. Mas podemos concluir
que foi fator contributivo para tanto. Indo mais além, podemos dizer que é fator determinante
da possibilidade ou não de reassunção da condição de ser humano dotado de instrumentos
capazes de guiar sua conduta e definir suas escolhas, no sentido do socialmente aceitável
porque digno.
34
8. BIBLIOGRAFIA
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ADOLESCENTES. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 08 de
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35
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da pessoa humana. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998. Disponível em:
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SARAIVA, João Batista Costa. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E O ADOLESCENTE
INFRATOR. Disponível em: http://www.mp.rs.gov.br/. Acesso em: 05 de fevereiro de 2011.
36
9. APÊNDICES
Exma. Sra. Juíza da 3ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Recife
ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE, bacharelando de Direito, matriculado nas Faculdades
Integradas Barros Melo da Associação de Ensino Superior de Olinda – AESO -, sob o número de
matrícula 2006201603-2, cursando o 10º período, portador do documento de identidade civil nº
3.308.985 e CPF 462.741.544-34, residente à Rua São Francisco, 110, Peixinhos, Olinda, em razão
da necessidade de pesquisa para elaboração de monografia concernente à criança e ao adolescente,
vem perante V. Exca. solicitar autorização para acesso ao conteúdo de processos tramitantes ou
tramitados nesse Juízo, a fim de coletar informações que subsidiem a elaboração de trabalho
científico, conforme as disposições do Termo de Responsabilidade e Confidencialidade anexo a esta
solicitação.
Nestes Termos,
Pede deferimento.
Recife, 07 de fevereiro de 2011.
____________________________________________________ Adilson Alves Ribeiro Duarte CPF: 462.741.544-24
37
Requerimento de autorização de acesso aos autos
TERMO DE RESPONSABILIDADE E CONFIDENCIALIDADE
ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE, bacharelando de Direito, matriculado nas Faculdades Integradas Barros
Melo da Associação de Ensino Superior de Olinda – AESO -, sob o número de matrícula 2006201603-2, cursando o 10º
período, portador do documento de identidade civil nº 3.308.985 e CPF 462.741.544-34, residente à Rua São Francisco, 110,
Peixinhos, Olinda, em razão da necessidade de pesquisa para elaboração de monografia concernente à criança e ao
adolescente, firma o presente Termo perante a 3ª Vara da Infância e Juventude do Recife, cujo objetivo é garantir a
necessária e adequada proteção às informações confidenciais fornecidas ao mesmo para subsídio de seu trabalho. Desta
forma, o signatário deste documento, compromete-se a, sob as penas da lei:
1. manter sigilo e absoluta confidencialidade relativa às informações que possam revelar, sob qualquer
forma, a identidade dos adolescentes cujos processos possam vir a ser objeto de pesquisa;
2. cuidar para que as informações confidenciais fiquem restritas ao seu próprio conhecimento;
3. utilizar as informações confidenciais a que tiver acesso exclusivamente para os propósitos deste Termo,
ou seja, para elaboração da monografia para conclusão do curso de bacharel em direito;
4. não efetuar, em nenhuma hipótese, qualquer cópia da informação confidencial sem o consentimento
prévio e expresso da parte reveladora.
5. tomar todas as medidas necessárias à proteção da informação confidencial da parte reveladora, bem
como evitar e prevenir a revelação destas informações a terceiros.
6. substituir os nomes dos adolescentes cujos processos sejam objeto de pesquisa, quando da necessidade
de apresentação de caso, por pseudônimos;
7. entregar uma cópia do trabalho à Juíza da 3ª Vara da Infância e Juventude;
As obrigações constantes do presente instrumento não serão aplicadas a nenhuma informação que:
a. seja comprovadamente de domínio público no momento da revelação;
b. não esteja protegida por segredo de justiça ou gravada com a obrigação de confidencialidade imposta
unilateralmente pela Juíza da 3ª Vara da Infância e Juventude
Recife, 07 de fevereiro de 2011.
____________________________________________________ Adilson Alves Ribeiro Duarte CPF: 462.741.544-24
Termo de Responsabilidade e Confidencialidade
38
Formulário de Pesquisa
Nome: Nº
Idade / Data de Nascimento:
Bairro de origem:
Tipo de medida: Local de internação:
Quadro Geral
Sexo
Violência
Classe social
Religião
Hábitos / gostos
Vícios / tipo
Cor
Escolaridade
Profissão
Empregabilidade
Relacionamento (casado/namorado/união estável)
Renda
Escolaridade dos pais
Ocupação dos pais
Criminalidade na família
Reincidência
Associação para a infração (só ou acompanhado)
Bebe
Fuma
Usa drogas
Socioeconômicas e individuais
Educação inferior a primeiro grau
Primeiro grau completo
Segundo grau completo
Terceiro grau completo
Estava trabalhando
Branco
Era casado
Tinha filhos
Dificuldades financeiras
Herança familiar
Pais com menos que o primeiro grau
Pais com primeiro grau
Pais com segundo grau
Pais com terceiro grau
Pais casados
Pais com problemas na justiça
Pai ou mãe presos
Mãe viva
Mãe trabalhando
Pai vivo
Pai trabalhando
Pai ajudou na criação
Apanhou em demasia dos pais
Interação social
Cresceu em boa vizinhança
Morava em boa vizinhança
Amigos trabalhando
Boa relação com os pais
Fatores catalisadores
Acredita na justiça .
Possuía arma de fogo
Cometeu crime com parceiro
Hábitos e gostos
Possuía atividades de lazer
Bebia socialmente
Bebia muito
Fumava
Usava drogas
Religiosidade
Acredita em Deus
Acredita no inferno
Indicadores dignidade / indignidade
Apelido pejorativo
Presença dos pais
Advogado
Roupas / Trajes
Linguagem