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FACULDADES INTEGRADAS BARROS MELO Curso de Bacharelado em Direito ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Olinda 2011

O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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Page 1: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

FACULDADES INTEGRADAS BARROS MELO

Curso de Bacharelado em Direito

ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE

O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O

PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Olinda

2011

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ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE

O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O

PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Monografia apresentada às Faculdades

Integradas Barros Melo, como requisito

para a obtenção do título de Bacharel em

Direito.

Orientador: Professor Doutor João Paulo

Allain Teixeira

Olinda

2011

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O ADOLESCENTE SUBMETIDO À

MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O

PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA

Adilson Alves Ribeiro Duarte

Monografia apresentada para obtenção do título de

bacharelado à banca examinadora no Curso de Direito das

Faculdades Integradas Barros Melo – AESO, como

requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em

direito.

Argüição Pública e aprovação em 27/05/2011

Examinadores:

....................................................................................

Prof. Dr. João Paulo Allain Teixeira

Presidente

....................................................................................

Professor Alexandre Saldanha

1.º Examinador

....................................................................................

Professor Danilo Heber de Oliveira Gomes

2 º Examinador

Olinda

2011

Page 4: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Dedicatória

Dedico este trabalho a Ana Clara de Lima Ribeiro Duarte, minha filha, maior exemplo

de luta e superação por superfície corpórea que convivi e convivo. Meu alento, exemplo e

estímulo.

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RESUMO

Nossas crianças e adolescentes vivem e respiram o ar que produzirmos. Esse ar exala a partir

de nossa atitude diante da vida e dos desafios propostos por ela. Não há melhor símbolo de

vida do que o vicejar próprio dos recém introduzidos na mesma. Fazer diferença porque feito

diferente, assumindo-se como padrão comportamental o respeito à dignidade da pessoa

humana, baluarte e sustentáculo dessa condição, é restaurar o valor intrínseco a si mesmo.

Burilar com desvelo o caráter ainda tenro de quem um dia dará o tom da sociedade é pensar

no futuro e honrar o presente. As ideias que os adolescentes fazem de si mesmo, deixam claro

que se auto-estimam, que reconhecem em si sua dignidade. A crescente consciência de

direitos que acompanha a evolução da idade atiça o senso de justiça, que dá o alerta para o

desrespeito e pode desembocar numa reivindicação ou num perigoso acomodar-se e denegrir-

se. Só se pode ser feliz quando se tem sobre si mesmo a exata dimensão de seu valor, nem

além, nem aquém. O jovem tem direitos-deveres, como o de ter limites, autoridade sobre si,

controle e vigilância. Deve ter a consciência de que os cuidados projetados sobre são reflexo

de seu valor, não de seu desvalor. Para isso, esse proteger tem que ser inteligente, como deve

ser próprio do homo sapiens.

Page 6: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

ABSTRACT

Our children and teenagers live and breathe the air they produce. This air smells from our

attitude toward life and the challenges posed by it. There is no better symbol than the life of

the newly introduced himself thrive in it. Make a difference because it differently, assuming

default behavior respect for human dignity, bastion and bulwark of the condition, is to restore

the intrinsic value itself. Polish with the character still tender devotion of those who one day

will set the tone of the company is considering the future and honor the present. The ideas that

teens do yourself, make clear that self-esteem, recognizing their dignity itself. The growing

awareness of rights that accompanies the development of age stoke a sense of justice, giving

the warning for disrespect and can end in a dangerous claim or to settle down and denigrate

yourself. One can only be happy when you have about yourself the true extent of their value,

or beyond, or below. The young person has rights and duties, such as having limits, authority

over you, control and surveillance. Must be aware of the care which are projected onto a

reflection of its value, not its worthlessness. Therefore, this protection has to be smart, as

should be characteristic of homo sapiens.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1- Idade Penal na Europa....................................................................................22

TABELA 2 - Distribuição etária dos adolescentes nos processos.......................................25

TABELA 3 - Resultados dos processos....................................... ........................................ 25

TABELA 4 - Tabulação dos resultados da pesquisa............................................................26

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO_____________________________________________________________ 6

2. EDUCAÇÃO NO BRASIL ___________________________________________________ 10

3. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA _________________________________________ 11

3.1. Indicadores Constitucionais de Dignidade _______________________________________ 12

3.2. Indicadores de Dignidade no Estatuto da Criança e do Adolescente ___________________ 13

3.3. A Percepção Natural dos Adolescentes Quanto aos Componentes de sua Dignidade ______ 13

3.4 A Compreensão da Noção de Direito por Parte dos Adolescentes _____________________ 15

4. A TRANSIÇÃO PARA O COMPORTAMENTO INFRACIONAL____________________ 20

5. A IDEIA DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE DO MENOR INFRATOR ________________ 22

5.1. A Responsabilização do Adolescente __________________________________________ 22

6. O DESRESPEITO À DIGNIDADE DO MENOR INFRATOR _______________________ 25

6.1. Tratamento das Informações _________________________________________________ 27

7. CONCLUSÃO ____________________________________________________________ 32

8. BIBLIOGRAFIA __________________________________________________________ 34

9. APÊNDICES ______________________________________________________________ 36

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1. INTRODUÇÃO

A perspectiva da assunção por parte das crianças e adolescentes de hoje das rédeas da

sociedade num futuro bem próximo, impõe uma reflexão sobre quem são ou serão esses

donos do futuro.

Sendo fundamento constitucionalmente estabelecido da República Federativa do

Brasil, a dignidade da pessoa humana precisa alicerçar e permear a educação e formação

desses que responderão pela Nação, não só no sentido político, mas principalmente nos

sentidos sociais e morais.

A constante evolução tecnológica, os novos modelos educacionais, a permeabilidade

da mídia, as modificações nas relações sociais, os novos arranjos familiares, tudo, contribui

para a construção da visão de mundo do ser humano, o delineamento de seu universo

sociocultural. A necessária correspondência biunívoca do homem como produto do meio e do

meio como produto do homem.

Que apropriações são e serão necessárias por parte de pais, educadores, Estado e seus

agentes e da sociedade em geral para a colheita de bons resultados na messe social que

intentamos todos que fazem a sociedade?

Somos levados a crer que existem fatores determinantes, interagindo implícita ou

explicitamente com a pessoa em formação, que lhe conferem em maior ou menor grau os

elementos caracterizadores de seu posicionamento dentro da sociedade e seus núcleos, macro

ou micronúcleos.

O Estado deve ser o condutor do processo de otimização da educação, impondo-se um

esforço para fazer valer os fundamentos de sua existência, sob pena de se auto-implodir nos

âmbitos civis e morais. Não lhe cabe postergar, esperar tempos melhores ou mais adequados

para avançar além da educação formal. Urge que oportunize eficazmente informações e meios

capazes de promover uma revolução nos parâmetros balizadores da interação e integração dos

indivíduos com a sociedade, e vice-versa.

Isso vai muito além do imediatamente palpável e visível, do concreto, posto que

dignidade é algo abstrato e inerente ao ser humano, sendo até redundante o termo dignidade

da pessoa humana. Tem a ver com formação mais do que com informação. Tem a ver com

construção de caráter mais do que com educação formal. Tem a ver com cotidiano mais do

que com ações e propostas isoladas. Tem a ver com identidade nacional mais do que com

opiniões ou posições individuais.

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As histórias de vida de adolescentes infratores têm muito costumeiramente um eixo

comum. E esse eixo tem costumeiramente raízes transgeracionais, num círculo vicioso de

repetição potencializada.

A sociedade vive a contradição permanente entre o real e o ideal, nunca fazendo do

ideal o real e cobrando da realidade o idealismo. Os instrumentos normativos foram erigidos

sobre fundamentos de respeito à condição humana, buscando preservar valores elevados de

forma que pudessem refletir o que se faz necessário à preservação da sociedade dentro de uma

razoabilidade de convivência pacífica consigo mesma e com cada indivíduo, como célula.

Porém, o conflito entre o normatizado e o vivenciado é grande, mesmo não se evidenciando

em função da conveniência que a ignorância de sua existência traz. Esse conflito é antigo e

abrangente; foi expresso pelo apóstolo Paulo quando falava da convivência entre a lei e o

cotidiano: Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado,

para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que,

pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno (Carta de Paulo aos Romanos, Cap. 7,

vv 04). A intenção da lei é preservar a sociedade de seus impulsos. A intenção da sociedade é

viver conforme seus impulsos. Impor-se a condição se ser humano dotado de consciência e

dominador de suas próprias vontades é o que pode fazer com que a lei seja naturalmente

aceita em sua essência.

Em que a interpretação do direito sob a perspectiva da dignidade pessoa humana pode

contribuir para a interrupção do ciclo de formação de potenciais objetos de medidas sócio-

educativas?

A construção da identidade de um povo é levada a efeito, como tudo o mais que existe,

pelo somatório de contribuições individuais, que funcionam como células, que juntas formam

o tecido, os órgãos e por fim o organismo. Nesse diapasão, cai bem a máxima de que a família

é a celula mater da sociedade.

Somos fartos em normas de toda ordem, sob o comando da Constituição Federal, que

procuram otimizar as relações entre os semelhantes e proteger o indivíduo enquanto pessoa

humana. Acontece que, a despeito da abundância desses instrumentos normativos, os núcleos

sociais, num crescendo, têm relativizado sua aplicabilidade e o Estado tem olvidado da

necessidade de implementá-los, muito em razão da antipatia que tais instrumentos tem a

capacidade de trazer em si. Assim, terminamos por reféns de nós mesmos.

Enquanto a Constituição diz que o Brasil deve se apoiar, entre outras coisas, sobre o

princípio da dignidade da pessoa humana, tanto o Poder Público quanto os cidadãos toleram e

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até apreciam o ridículo, o bizarro, o desonesto, o indecente. Quem não lembra dos concursos

televisivos em que pais levavam suas crianças para dançarem “na boquinha da garrafa” sem

qualquer pejo? Ou das aparições líderes de audiência em que características pessoais e

aparências pouco convencionais ou fora do “padrão” eram exploradas? Ao arrepio do disposto

no Código Penal ou no Estatuto da Criança e Adolescente, em qualquer esquina pululam

materiais pornográficos aos borbotões, não sendo diferente em vários lares que dão acesso

livre às crianças e adolescentes. Os casos de pedofilia e o olhar leniente e até conivente de

familiares ante os atentados sofridos por seus filhos, com argumentos do tipo “ele (a) fica

provocando...”, deixam à mostra a ponta do iceberg que a deseducação criou. Quando esses

casos se tornam públicos, é porque já são resultado de uma completa desestrutura moral, que a

sociedade não teve o menor interesse em conter preventivamente.

Em se conseguindo ampliar a discussão e a reflexão sobre o que pode ser uma

educação/formação sobre o lastro da dignidade da pessoa humana, disseminando valores

plasmados na Lei de forma coloquial, fluída, prática, sistemática e oficial, supomos ser

possível a transformação da sociedade no sentido de ser composta por integrantes livres e

libertados, conscientes e responsáveis, a médio e longo prazo.

A interpretação da Lei pelo viés da dignidade da pessoa humana, vinculando a todos,

porque iguais perante a Lei, em como a sua aplicação sob o mesmo prisma, é a contribuição

que o Direito pode dar à sociedade, através de todos os seus operadores (advogados,

promotores, juízes, doutrinadores, etc.).

A abordagem deste tema se apresenta pertinente com uma contemporaneidade perene,

quase atemporal. Em todos os tempos tivemos e teremos jovens em conflito com a Lei ou

seus fundamentos, seja no âmbito penal ou mesmo cível. Tentar estabelecer uma relação entre

a sedimentação de valores promovidos ou acolhidos na sociedade com o impacto dessa

acolhida no comportamento dos jovens é um tema desafiante e necessário, ainda que numa

abordagem acadêmica. Qualquer luz que se lance sobre a necessidade de se pensar infância e

adolescência em sua dimensão de dignidade como pessoa humana, faz da sociedade um ente

mais humano; aponta para um caminho menos tortuoso pelo qual nossas sementes de

esperança devem se guiar. Não mais se pode conceber que o modelo dicotômico

teoria/prática adotado pelo Estado, como expressão do coletivo social, seja de fato eficaz na

construção de homens e mulheres íntegros, probos e com elevados valores morais. Talvez

essa seja a razão para virar notícia o fato de alguém ter agido com honestidade diante da

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possibilidade de um enriquecimento fácil e sem causa, como a devolução de dinheiro ou bens

que tenha encontrado. Isso é o mínimo que se espera de uma pessoa digna.

Assim sendo, haver adultos que tenham valores inconsistentes e que os projetem sobre

as gerações posteriores, relativizando o conceito de dignidade; haver no seio familiar uma

noção muito pobre, quando há, de dignidade; haver na tutela do Estado sobre menores uma

consistente negativa à dignidade dos mesmos, a despeito dos preceitos normativos que

deveriam comandar o trato entre os agentes do Estado e os tutelados; enfim, haver quem

negue direta ou veladamente a condição de ser humano a uma criança ou adolescente, provoca

a necessidade de se burilar o assunto, a fim de se ter algum elemento com que se possa contra-

argumentar com a sociedade em todas as suas esferas, para daí tirar algo que recaia sobre as

crianças e adolescentes como um manto de respeito.

A produção deste trabalho se deu a partir da pesquisa de bibliografias em torno do

tema e de decisões judiciais, em particular as da 3ª Vara da Infância e Juventude do Recife.

A pesquisa bibliográfica foi focada nos escritos sobre a relação da criança e o

adolescente com o Estado, com a sociedade e com seu meio, sua autopercepção enquanto ser

social e a abordagem multivariada do tema e sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.

A pesquisa documental cumpriu etapas previamente estabelecidas e necessárias à

legitimidade da mesma. Nesse sentido, foi feito contato prévio com a 3ª Vara da Infância e

Juventude do Recife, seguido de solicitação formal de acesso aos autos acompanhada de

Termo de Responsabilidade e Confiabilidade, os quais foram submetido à apreciação do

Ministério Público, o qual não se opôs, culminando com a autorização do Juízo e o apoio dos

serventuários da justiça. Após o cumprimento dessas etapas prévias, procuramos focar nossa

pesquisa, subsidiada por formulário próprio, em processos cujos resultados fossem pela

aplicação de medidas socioeducativa de semiliberdade e internação, permitindo-nos apreciar

processos outros que, por suas características, nos fornecessem elementos passíveis de serem

apreciados.

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2. EDUCAÇÃO NO BRASIL

Pode-se inferir que as propostas educacionais norteadas pela lei 9.394/96, conhecida

como Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), procuram, no oferecimento da educação

formal, dotar o educando de ferramentas para o exercício da cidadania e o para o mundo do

trabalho, como disposto em seu artigo segundo. A menção ao termo “pleno” incurso no

mesmo artigo, no que concerne à finalidade da educação, a ser promovida pela família e pelo

Estado, não parece ter o condão de ir muito além do preparo do cidadão e do trabalhador.

Como instrumento regulamentador (a LDB) da educação no Brasil, vale emprestar-lhe

o significado do termo educação: A educação abrange os processos formativos que se

desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino

e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações

culturais (Art. 1º). A educação é, portanto, um processo formativo, desenvolvido, também, na

vida familiar e na convivência humana. Estes dois âmbitos de formação têm maior capacidade

de influenciar decisivamente a formatação do ser objeto desse processo formativo, com

reflexo direto nos outros aspectos da vida humana.

Em o Estado assumindo pra si a responsabilidade de implantar eficazmente um

modelo educacional de resultados efetivos, adotando medidas transversais em todas as suas

políticas, fazendo perpassar nas mesmas conteúdos preocupados com o reflexo que possam ter

sobre a formação dos brasileiros, transcendendo os objetivos imediatos e procurando alcançar

o ser humano como um todo, de forma a fazer-se respeitar, acima de tudo, a dignidade da

pessoa humana, dístico essencial para o viver pleno, porque responsável, consciente e

consistente, teríamos anunciada uma revolução social de fato.

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3. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A conceituação de dignidade da pessoa humana adotada neste trabalho poderia advir

da idéia óbvia que vem à tona quando se fala em dignidade: respeitabilidade. E tal

conceituação está entre as dispostas nos dicionários:

dignidade

dig.ni.da.de

sf (lat dignitate) 1 Modo de proceder que infunde respeito. 2 Elevação ou

grandeza moral. 3 Honra. 4 Autoridade, gravidade. 5 Qualidade daquele ou

daquilo que é nobre e grande. 6 Honraria. 7 Título ou cargo de graduação

elevada. 8 Respeitabilidade. 9 Pundonor, seriedade. 10

Nobreza.(http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=

portugues-portugues&palavra=dignidade)

Tais significados da palavra dignidade, contudo, precisam ser direcionados ao ser

humano para ganharem significação jurídica. Assim, contribui com uma concepção mais

apropriada Miguel Reale, quando a apresenta de forma tríplice: individualismo,

transpersonalismo e personalismo.

No individualismo, cada homem, a partir do cuidado com os próprios interesses,

protege e realiza, indiretamente, os interesses coletivos. Por essa linha de raciocínio, o

interesse individual está acima do interesse coletivo, que seria a soma dos interesses

individuais, impondo-se ao Estado limites na intromissão na esfera particular do indivíduo,

devendo a lei ser interpretada de forma que salvaguarde a autonomia deste quando em

conflito com aquele.

O transpersonalismo sustenta justamente o contrário:

é realizando o bem coletivo, o bem do todo, que se salvaguardam os interesses

individuais; inexistindo harmonia espontânea entre o bem do indivíduo e o bem do

todo, devem preponderar, sempre, os valores coletivos. Nega-se, portanto, a pessoa

humana como valor supremo. Enfim, a dignidade da pessoa humana realiza-se no

coletivo.

No personalismo, a intenção é compatibilizar as duas correntes. E essa

compatibilização se daria quando do conflito entre o individual e o coletivo, não tendo,

necessariamente, a predominância de um sobre o outro. A avaliação se daria no momento de

solução do conflito, podendo ser favorável ora ao indivíduo, ora ao coletivo, ou ainda "fruto

de uma ponderação na qual se avaliará o que toca ao indivíduo e o que cabe ao todo".

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Porém, de acordo com Luiz Legaz y Lacambra em Problemas y Tendencias de la

Filosofia del Derecho Contemporaneo (Madrid, Benzal, 1971), "não há no mundo valor que

supere ao da pessoa humana” (p.20), não podendo a primazia pelo valor coletivo sacrificar ou

ferir o valor da pessoa. A pessoa, então, é um minimum a que não pode ultrapassar o Estado,

instituição, ser ou valor.

Numa alusão a todos os conceitos que abordamos, Alexandre Moraes contribui de

forma aglutinadora:

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que

se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria

vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,

constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve

assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao

exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária

estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (MORAES, 2005)

Ficamos com essa idéia de pessoa humana como valor absoluto e atrelamos a ela o

conceito de dignidade, que vem do latim dignitas: honra, virtude ou consideração, “razão

porque se entende que dignidade é uma qualidade moral inata e é a base do respeito que lhe

é devido” (www.ambito-juridico.com.br).

Não será objeto deste trabalho a evolução histórico-cultural do conceito de dignidade

da pessoa humana, embora tal evolução possa constituir parcela importante da consolidação

de seu conceito atual, em que pesem as diferentes abordagens por diferentes autores.

3.1 INIDICADORES CONSTITUICIONAIS DE DIGNIDADE

Abordaremos nesse ponto, no intuito de termos um universo representativo do que

compõe a dignidade, o disposto no artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a

salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade

e opressão.

Assim, consideraremos os indicativos de acesso e usufruto à saúde, à alimentação, à

educação, ao lazer, ao respeito, à profissionalização, à cultura, à liberdade e à convivência

familiar, como requisitos básicos de correlação com o princípio de dignidade. Não

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discutiremos o direito à vida, conquanto um direito óbvio e sobre o qual se baseia o usufruto

dos demais direitos.

3.2 INDICADORES DE DIGNIDADE NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE

Em sendo uma legislação especial, a lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe

sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, delineou com mais precisão

componentes da dignidade, em particular os afetos à pessoa em desenvolvimento,

positivando-os em seu texto.

Assim, prevê expressamente o respeito à sua liberdade, à integridade física, psíquica e

moral,à imagem, à autonomia, à identidade, aos valores, às ideias, às crenças.

Veda a submissão à tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou

constrangedor, conclamando, e mais, responsabilizando toda sociedade pelo cumprimento

dessa vedação.

3.3 A PERCEPÇÃO NATURAL DOS ADOLESCENTES QUANTO AOS

COMPONENTES DE SUA DIGNIDADE

Trataremos aqui da compreensão do adolescente do que integra seu cotidiano, de

como se entende nessa fase da vida, a partir do trabalho de Adelita Campos Araújo -

ADOLESCER SAUDÁVEL NA ÓTICA DOS ADOLESCENTES:

Ao discutirmos o adolescer saudável, destacaram-se, no decorrer das entrevistas,

vários aspectos como fundamentais para vivenciar a adolescência de uma maneira

entendida como saudável, incluindo dimensões físicas, biológicas e psicossociais.

Foram enfatizados, pelas/os adolescentes participantes da pesquisa, hábitos de vida

que, no seu entendimento, são importantes, relacionados à alimentação e hidratação

adequadas, higiene pessoal, sono, moradia, saneamento básico e água, prática de

exercícios físicos, sexualidade e reprodução, auto-imagem, dentre outros.(ARAUJO,

2008)

Nesse trabalho, Araújo dividiu a percepção em três dimensões: a) modos de viver um

adolescer saudável, b) relacionamentos e interações no adolescer saudável e c) da

adolescência para o mundo adulto.

O registro de cada dimensão pelos adolescentes foi assim resumido:

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a) Na categoria Modos de viver um adolescer saudável,os hábitos de vida reconhecidos

como saudáveis incluem alimentação adequada, higiene, aparência pessoal, repouso

adequado, moradia digna e saneamento básico. Também foi destacado, no que tange aos

recursos de saúde o acesso à rede básica de saúde e à rede hospitalar, esperando-se que os

estabelecimento e os profissionais de saúde estejam devidamente preparados para acolherem e

lidarem com um público de características peculiares, considerando os aspectos sociais,

psicológicos, emocionais, enfim, seu contexto de vida.

b) Na categoria Relacionamentos e Interações no adolescer saudável, destaca-se como

saudável o bom relacionamento interpessoal, tanto com os familiares como com o seu círculo

social mais amplo. Identificaram também os riscos de drogas, álcool, fumo e violência

familiar como potenciais comprometedores de um adolescer saudável.

c) Na categoria Da adolescência para o mundo adulto, foi evidenciada a consciência de que

a adolescência é um período de amadurecimento, tendo como indicativos do saudável a

responsabilidade, a autonomia e o respeito aos limites, a partir da confiança de seus pais e

familiares, que seria um sinal de que o adolescente era visto como transitando para o mundo

adulto. Na mão dessa transição associa-se a relevância de atividades de lazer, festas, músicas,

namoro. Foram pontuadas situações complicadoras, como a separação dos pais que provocava

sofrimento, solidão e mudanças no modo de ser, de comportar-se e de estabelecer relações

com os outros. Nessa categoria também ficou clara a preocupação com a inserção no mercado

de trabalho, numa mescla de reforço da autonomia e reafirmação de sua personalidade,

associado à vontade de contribuir com a família. Indicaram nesse sentido o desejo de estudar

e progredir profissionalmente, condições necessárias à satisfação de suas necessidade e

sonhos. Ter perspectiva significa ser saudável, adolescer saudável.

Essas são as ideias que permeiam a percepção dos adolescentes quando confrontados

com sua interpretação do que deva ser um adolescer saudável. Entendemos aqui que o ser

saudável tem a ver com preservação e promoção de direitos inerentes à pessoa humana, em

tributo à sua dignidade. Quando o adolescente se auto-percebe sujeito do exercício do direito

à saúde, tanto em hábitos individuais, abrangendo aí, necessariamente o direito à alimentação,

quanto na busca de serviços de saúde coletiva; direito à educação, na medida em que

demonstram o desejo de estudar, ou pelo menos a compreensão da importância e necessidade

do estudo, inclusive por questões profissionais, no intuito de poderem adquirir bens, daí já

denotando consciência do direito à profissionalização; direito à cultura e ao lazer, fazendo do

último um exercício do primeiro prazerosamente; à convivência familiar e comunitária,

Page 18: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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quando pontuam a importância da “confiança por parte de seus pares e familiares”

(ARAUJO, 2008)

3.4 A COMPREENSÃO DA NOÇÃO DE DIREITO POR PARTE DOS

ADOLESCENTES

Da mesma forma que lançamos mão do que o adolescente considera saudável em sua

fase da vida, denotando uma percepção genérica do que consideraria direito seu para uma

existência salutar, achamos por bem buscar uma percepção específica do que os mesmos

creem ser Direito, aproveitando os resultados do trabalho de Larissa Machado de Souza

Barreto (in As idéias das crianças e adolescentes sobre seus direitos: Um estudo evolutivo à

luz da Teoria Piagetiana), inspirado em pesquisa semelhante utilizada por Delval, Del Barrio

e Spinosa. No trabalho de Barreto foram realizadas entrevistas estimuladas com 60

participantes de 8 a 17 anos para os quais foram apresentadas quatro histórias, cada uma

apresentando um problema ou conflito envolvendo um direito (educação, alimentação e

proteção contra maus tratos). Adotaremos a classificação em níveis da noção de direitos

definida pela pesquisadora, sem entrar no mérito da metodologia da pesquisa ou seu

referencial teórico, posto que neste trabalho queremos tão somente nos apropriar do resultado

a título exemplificativo. Na pesquisa, a noção de direito variava conforme a idade do

entrevistado, não sendo significativo o estrato social a que pertencesse. Assim, a pesquisadora

estabeleceu 03 níveis de noção de direitos, que apresentaremos mais adiante.

As histórias apresentadas aos entrevistados foram as seguintes:

1. EDUCAÇÃO:

Havia uma família cujos pais não queriam que seu filho (da mesma idade e

sexo da criança que está sendo interrogada) fosse à escola porque preferiam que ele

ficasse em casa para ajudar nos trabalhos domésticos e porque diziam que aprender

não servia para nada. A criança não podia ir para a escola estudar.

Questões:

• Você acha que está bem os pais fazerem isso?

• Você acredita que exista algum pai que faça isso?

• Você acha que isso pode ser feito?

• O que a criança poderia fazer?

• Poderia falar com alguém?

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2. ALIMENTAÇÃO:

(História do castigo)

Havia uns pais que eram muito exigentes e bravos com o(a) filho(a), e quando

ele(a) fazia algo que seus pais não gostavam, castigavam-lhe, deixando-o(a) sem

comer. A criança comia tão pouco que já estava muito magra, e inclusive poderia ficar

doente.

Questões:

• Você acha que está certo os pais fazerem isso?

• Você acredita que exista algum pai que faça isso?

• Você acha que isso está certo?

• O pai poderia castigar o(a) filho(a) de outra maneira?

• O que a criança poderia fazer?

• A criança poderia dizer a alguém, conversar com alguém?

(História da pobreza)

Havia uns pais que tinham pouquíssimo dinheiro e que quase não podiam

comprar comida, por isso davam pouca comida aos seus filhos. Os filhos estavam

muito magros e poderiam ficar doentes.

Questões:

• Você acha que as crianças poderiam fazer alguma coisa?

• E os pais?

• Aonde poderiam ir, com quem poderiam falar?

• Alguém poderia ajudá-los?

( Comparar as duas histórias e julgar qual é pior)

3. PROTEÇÃO CONTRA MAUS-TRATOS

Uma menina chamada Fernanda (com a mesma idade da criança que está sendo

interrogada) morava ao lado da casa de uma outra menina chamada Priscila, elas eram

amigas. Todos os dias Fernanda ouvia o pai de Priscila chegar muito zangado, brigar

com ela e bater nela. Priscila ia dormir sempre chorando.

Questões:

Page 20: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

17

• O que você acha disso?

• Você acha que está certo o pai fazer isso?

• Você acredita que exista algum pai que faça isso?

• O que a criança poderia fazer?

• Poderia falar com alguém?

• E a Fernanda, poderia ajudá-la como?

4. PERGUNTAS GERAIS:

• Você já ouviu alguém falar em ter direito a alguma coisa?

• O que são direitos das crianças?

• Quais são esses direitos? Tem algum que é mais importante que outro?

• Quais são os mais importantes?

• Depende da idade?

• Os mais velhos têm direitos? Quais?

Em todas as histórias contadas, os sujeitos foram requisitados a dar

respostas que atendessem às seguintes exigências: emitir um juízo de valor em

relação à situação, se o fato narrado lhe parece bom ou mau (interpretação 1); avaliar

o problema em questão quanto à sua possibilidade de realmente ocorrer

(interpretação 2); e propor uma solução para o problema apresentado (soluções).

Embora não se tenha questionado diretamente sobre cada direito específico,

interessava investigar não apenas como os sujeitos concebem cada direito em

particular, mas também qual é a sua compreensão do que é um direito em termos

gerais (BARRETO).

A pesquisadora ressalta que a noção de direito do indivíduo advinha da interpretação

que o mesmo fazia da história e se identificava alguma violação ou problema que exigisse

solução. Em função disso, pôde dar um tratamento qualitativo que norteou a definição dos 03

níveis de entendimento que trouxemos para este trabalho:

O nível I caracteriza-se pela ausência de compreensão da noção de direito. O direito

é assimilado a atividades do cotidiano e a coisas que podem ou devem ser feitas. A

violação de um direito não é percebida; portanto, não é questionável. É clara a

dificuldade dos sujeitos desse nível em aceitar o problema envolvido na história.

Nesse nível, no que concerne ao problema apresentado, a compreensão de que o

personagem da história deve estar sujeito à intervenção de um adulto predomina; ou então a

criança deve dar um jeito de burlar as causas do problema. Esse nível demonstra a

Page 21: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

18

ingenuidade do entrevistado no que tange a direitos e consequentemente à dignidade. As

violações de direitos de indivíduos nesse nível de compreensão, dificilmente são percebidas

pelos tais, mas podem, mais adiante, à medida que se construa uma noção de direitos,

identificar os abusos que sofreram e reagir de alguma forma, sem necessariamente fazer uma

conexão de causa e conseqüência.

Já no nível II, a noção de direitos é tida

como uma noção relacional, em que estão em jogo a responsabilidade pessoal e o

respeito por parte do outro. Direito e dever começam a se diferenciar. A violação do

direito começa a ser considerada uma questão ética e não mais submissão acrítica às

imposições dos adultos. O que é marcante, nesse nível, é a introdução de novos

elementos não perceptíveis, diretamente, na interpretação do problema.

Já se percebe dentre as soluções propostas pelos entrevistados a denúncia a instituições

legais, que integra um mix de soluções, demonstrando que já se contextualiza o problema e

que o mesmo pode ser atacado de formas diversas, levando-se em consideração a idade dos

sujeitos na busca das alternativas.

No nível III, já há uma distinção plena entre direitos e deveres, como também

coordenação entre os dois conceitos.

O direito é concebido como uma necessidade humana de validade universal, moral e

regulada, institucionalmente, segundo um princípio de justiça. A violação do direito

não mais se confunde apenas com uma questão ética, mas submete-se à

normatização social e à regulamentação institucional.

Nesse nível, o sujeito não só já vislumbra elementos não evidentes que interferem no

problema, como também evoca nuanças da realidade social que utiliza na contextualização do

problema, fazendo inclusive projeções dos resultados das soluções consideradas para os

mesmos. Dentre as soluções está a denúncia formal.

O trabalho desenvolvido demonstrou uma clara relação entre a idade dos indivíduos e

a forma como lidaram com as situções-problemas.

Geralmente, os mais novos propõem soluções únicas e os mais velhos pensam em

diferentes alternativas. Da mesma maneira, à medida que aumenta a idade, observa-

se uma diminuição das soluções mágicas e imediatas.(...) sendo possível perceber

que, pouco a pouco, os sujeitos vão tomando consciência da existência de certos

mecanismos institucionais que garantem o cumprimento dos direitos. Esses

mecanismos se encontram fora do contexto imediato que rodeia os sujeitos e que

supõem um complexo processo. Nos primeiros níveis de respostas, a ajuda que as

crianças procuram decorre sempre de pessoas individualizadas que têm um gesto

generoso e humanitário. Ao contrário, para os mais velhos, a solução procede de

instituições que são responsáveis pela garantia e cumprimento dos direitos. A noção

Page 22: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

19

de Estado também merece ser mencionada. Entre os sujeitos mais velhos, o Estado

tem o dever de satisfazer as necessidades básicas dos indivíduos, uma vez que é

financiado por todos os cidadãos que contribuem para isso. Observa-se, claramente,

que a visão harmônica da sociedade que as crianças mais novas têm, vai sendo,

gradativamente, substituída por uma melhor e mais completa compreensão de todo o

emaranhado de relações que compõem o mundo social.

Podemos, daí, entender que a apropriação de uma noção mais acurada de direitos deve

vir com uma visão mais ampla de mundo, proporcionada pela experimentação de múltiplas

realidades como é de se supor que passem os adolescentes de maior idade, tais como

conexões sociais mais amplas, acesso natural a informações (em filmes, livros, programas de

televisão, etc.) ou quaisquer outros fatores próprios do universo jovem aos quais os mais

novos naturalmente não tem acesso.

A consciência de ser objeto de direitos, positivados ou não, dá ao ser humano alguma

noção de sua condição peculiar de pessoa, portador de algum grau de “dignidade”. Essa auto-

imagem contribui para o sentimento de pertencimento a uma sociedade formada por valores

mais ou menos nivelados, onde desvios são mais notados do que a permanência nos trilhos do

comportamento correto e adequado. Isso contribui para um tipo de controle interno que

desestimula a prática de atos reprováveis pelo grupo social.

A mitigação do cultivo dos valores, sua relativização, enfraquece, também, o que

poderíamos chamar de freios e contrapesos internos, dando margem à licenciosidade que leva

ao cometimento de atos reprováveis. Quando não se vivencia direitos, ou quando os mesmos

permanecem no campo teórico, sendo diluídos num cotidiano que os nega na prática,

flexibilizando-os quando conveniente, negando-se-lhe eficácia, abre-se espaço para um

retorno, uma visita ao estado de natureza hobbesiano.

Page 23: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

20

4. A TRANSIÇÃO PARA O COMPORTAMENTO INFRACIONAL

Lélia Machado Dias Chrispim, num excelente trabalho intitulado “MENINOS QUE

MATARAM: PROMOÇÃO DE UMA REINTEGRAÇÃO SOCIAL SAUDÁVEL”, no qual

recolheu a contribuição de vários autores, entre eles Simone Gonçalves de Assis, GJ Ballone,

Adalberto Barreto, Paulo Roberto Cecarelli, Arnaldo Chagas e Michel Foucault, intenciona

montar as peças que possam, encaixando-se, lançar luz sobre o porquê da assunção de um

comportamento hostil ou antissocial por parte do adolescente.

Sustenta em seus argumentos que uma série de fatores contribui para tanto, como na

leitura de Focault que indica que

deve-se analisar no infrator não só as circunstâncias do ato criminal, mas também as

causas de seu crime, procurando-as na história de sua vida sob o ponto de vista da

organização, da posição social e da educação; conhecendo assim as inclinações

perigosas da primeira, as predisposições nocivas da segunda e os maus antecedentes

da terceira.

Daí, analisar as determinantes extra-infrações, de raízes pessoais e sociais, que

influenciem a adoção do comportamento análogo ao criminoso, é o objeto deste capítulo.

Minayo e Souza conferiram aspecto pluridimensional à origem da violência,

identificando três grandes tendências: a biológica, a sociológica e a biopsicossocial. Na

primeira, estão presentes componentes biológicos e psicológicos, próprios da essência

humana, os quais submetem as questões sociais às determinações da natureza humana. Na

tendência sociológica, a violência seria explicada como “fenômeno social provocado por

alguma conturbação da ordem, quer pela opressão pelos mais fortes, pela rebelião dos

oprimidos, pela falência da ordem social, pela omissão do Estado”. Esse seria o terreno

propício para a manifestação da “natureza humana”, fazendo surgir a violência como

consequência da miséria e da desigualdade social. Já a tendência biopsicossocial, seria a

interação do biológico, psicológico e do social

não crendo que a violência resulte apenas dos problemas de natureza econômica e

política; embora entenda que essas questões sejam significativas, não crê também

que o aumento da violência no mundo decorra exclusivamente do aumento dos casos

de sociopatas.

O adolescente agressivo pode ser aquele que em idade pré-escolar tinha os acessos de

agressividade interpretado como travessura de criança ou excesso de energia. Ballone afirma

que essa conduta agressiva tem raízes individuais, familiares e ambientais, não atingindo

todas as pessoas igualmente, nem submetendo todas à mesma situação de risco.

Page 24: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

21

Como fatores individuais estão as questões de temperamento, sexo, condição biológica

e cognitiva; como fatores familiares estão o vínculo, o contexto interacional, uma eventual

psicopatologia, e um possível desajuste dos pais e do modelo de educação doméstico, sendo a

família o espaço considerado adequado para a convivência e o desenvolvimento das crianças e

adolescentes, sendo fundamental para sua integridade física, moral e psicológica o vínculo

afetivo que une os seus membros. A imagem da família atuaria como censura, provocando-

lhe vergonha ou desapontamento; no Brasil, um dos fatores desencadeantes da delinqüência

é o fraco controle sobre os jovens, exercido por instituições como a família, igreja e escola

(CECARELLI, 2004).

Os fatores de risco considerados determinantes para o infrator são o “consumo de

drogas, o círculo de amigos, o tipo de lazer violento, baixa auto-estima, falta de

reconhecimento de limites entre certo e errado, fraco vínculo afetivo com a família e com a

escola e sofrer ou ter sofrido violência por parte dos pais”. (ASSIS, 1999).

Por fim, para entender como todos os fatores que influenciam o comportamento

agressivo, como exposto nos parágrafos anteriores, se abatem sobre uma pessoa em condição

existencial peculiar, como é a fase da adolescência, imaginemos a interação desses fatores

com um sujeito que está em transformações psicológicas e físicas, contradições, incoerência e

rebeldia.

o momento em que está presente o espírito de transgressor, o imediatismo, a

independência, a necessidade de carinho, de proteção, de segurança e de limites,

fazendo com que o adolescente seja visto como uma pessoa em condição especial de

desenvolvimento, já que esse período marca o processo de individuação e de

construção da identidade desse jovem-adulto. (CHRISPIM)

Page 25: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

22

5. A IDEIA DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE DO MENOR INFRATOR

Há diferentes percepções sobre a punibilidade de menores cometedores de atos

análogos aos crimes capitulados nas legislações penais. Essas diferenças apresentam-se desde

a fixação da faixa etária passível de responsabilização, marco necessário para adequação das

melhores medidas a serem aplicadas, não obstante os diferentes posicionamentos perante a

vida de adolescentes de faixa etária idêntica, até a medida que deva ser tomada na

concretização dessa punição. Há relativo consenso para uma dicotomia entre idade de

responsabilização e maioridade penal. Entre os países europeus (tab. 1), a faixa etária de

responsabilização varia de 07 (Inglaterra e Suíça) a 16 anos (Bélgica, Romênia e Portugal,

esse último coincidindo com a maioridade penal), enquanto a maioridade penal varia de 16

(Portugal) a 25 anos (Suíça). Entendemos que essa dicotomia tende a respeitar o que se

plasma em nosso ordenamento jurídico como “a condição peculiar da criança e do adolescente

como pessoas em desenvolvimento”.

País

Idade da

responsabilidade penal

juvenil

Maioridade da Idade

Penal

(imputabilidade

penal)

Maioridade da Idade

Civil

(Capacidade civil plena)

Alemanha 14 18-21*** 18

Áustria 14 19 19

Bélgica 16 18 18

Bulgária 14 18 18

Dinamarca 15 18-21*** 18

Espanha 12 16* 18

França 13 18 18

Grécia 13 18 18

Holanda 12 18 18

Hungria 14 18 18

Inglaterra 7-15 18 18

Itália 14 18 18

Polônia 13 17 18

Portugal 16 16-21*** 18

Romênia 16 18-21*** 18

Suécia 15 18 18

Suíça 7/15 18-25*** 20

Tabela 1-Idade penal na Europa (Fonte: http://maioridadepenal.vilabol.uol.com.br/textos/outrospa.html

5.1 A RESPONSABILIZAÇÃO DO ADOLESCENTE

A idade em que uma pessoa era passível de responsabilização no Brasil sofreu

modificações ao longo do tempo, provavelmente em decorrência das contribuições que outras

visões além da penal forneceram para o mundo jurídico.

Page 26: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

23

No estabelecimento da corte de D. João VI no Brasil em 1808, vigorava por aqui as

Ordenações Filipinas, que considerava penalmente imputável a criança a partir dos 07 anos de

idade, dando-lhe, porém um tratamento diferenciado até os 16, sendo-lhe vedada a aplicação

da pena de morte e sendo-lhe concedida redução de pena. Entre os 17 e 21 anos existia a

figura do jovem-adulto, que podia ser condenado à morte ou ter sua pena diminuída,

conforme as circunstâncias. Ademais, em todo o resto, eram igual e severamente punidos,

tanto criança, quanto adolescentes ou adultos.

Em 1830 foi publicado o primeiro Código Penal do Brasil, nação já independente de

Portugal desde 1822, chamado de Código Criminal do Império, que fixou a imputabilidade

em 14 anos de idade, mas previu uma possibilidade de responsabilização para menores de 14

anos e maiores de 07 anos, quando comprovado que tinham discernimento do ato que

praticaram, sendo então postos em Casas de Correção pelo tempo julgado necessário pelo

juiz, não podendo permanecer em tais Casas os maiores de 17 anos.

Já na vigência da República, antes mesmo da primeira constituição republicana, foi

promulgado o Código Penal dos Estados Unidos do Brazil, prevendo inimputabilidade penal

para os menores de 9 anos e possibilidade de responsabilização para os maiores de 9 anos e

menores de 14 que tiverem obrado com discernimento, os quais deveriam ser recolhidos a

estabelecimento industriais pelo tempo que o Juiz julgasse conveniente, não ultrapassando os

mesmos nesses estabelecimentos a idade de 17 anos. Considerava como atenuante (Art. 42, §

11) a menoridade de 21 anos. Como o Código dava tratamento diferenciado para a tentativa,

rezava que o que agisse como cúmplice num crime consumado teria a cominação penal da

tentativa, e quem agisse como cúmplice na tentativa teria a cominação penal da tentativa

reduzida de um terço. Destinava então para o criminoso entre 14 e 17 anos as penas da

cumplicidade.

Outros decretos se seguiram com pequenos avanços no que concerne ao entendimento

de que as crianças e adolescentes precisavam de tratamento adequado à sua condição peculiar,

ao mesmo tempo em que se buscava proteger a sociedade dos atos delituosos praticados pelos

adolescentes e jovens. Até que em 1927 consolidou-se o Código de Menores, que

contemplava as leis de assistência e proteção aos menores, estabelecendo que o infrator menor

de 18 anos estaria sujeito ao regime do Código, fixando a imputabilidade penal absoluta em

14 anos e determinando regime especial para o tratamento de infratores maiores de 14 e

menores de 18.

Em 1940, o novo Código Penal, no seu Art. 27, fixou a imputabilidade penal aos

dezoito anos de idade, adotando o critério puramente biológico. Os abaixo dessa

Page 27: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

24

faixa etária são denominados imaturos, e estão sujeitos apenas à pedagogia corretiva

da legislação especial. Na época, o problema da infração juvenil e dos meninos

abandonados já se mostrava um grande desafio de cunho social; planejava-se um

novo Código de Menores com caráter sociojurídico (CHRISPIM, 2005).

Sob a influência da Declaração dos Direitos da Infância, a Lei 6.607 de 1979

estabelece o novo Código de Menores, justificando a apreensão pelo Estado de menores

infratores ou vítimas da sociedade ou da família, através dos Juizados de Menores. O Código

não delimitava direitos e garantias para essa população, sob o argumento de que o Estado

sempre regularizaria sua situação, com a substituição da família natural pela instituição e da

sua reinserção na sociedade pelo trabalho (RANGEL E CRISTO, 2004).

Em 1988, com promulgação da Constituição Federal, que prima pelos direitos

humanos de todos os cidadãos, ganhou corpo a Doutrina da Proteção Integral, a qual

encontrou no artigo 227 preceitos de indiscutível valor para sua implantação.

Por fim, como consolidação da Doutrina da Proteção Integral, surgiu o Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), superpondo o valor educativo da tutela do Estado sobre essa

parcela da população, ante o valor punitivo.

Assim, não se aplica ao adolescente infrator no Brasil o instituto da prisão ou do

encarceramento ou da pena privativa de liberdade, sendo substituídas essa expressões por

expressões mais condizentes com os objetivos da imposição de medidas que, apesar do

mesmo efeito prático, tem o condão de promover uma reeducação, por isso chamadas de

medidas socioeducativas.

Às vezes sob o pretexto de proteger se desprotege. Quando se pugna pela

exigibilidade de um procedimento calcado nas garantias processuais e penais na

busca da fixação da eventual responsabilidade do adolescente, o que se pretende é

vê-lo colocado na sua exata dimensão de sujeito de direitos. Quando se mitiga o

conteúdo aflitivo da sanção socioeducativa está-se ignorando que esta tem uma

carga retributiva, de reprovabilidade de conduta. A medida socioeducativa

adequadamente aplicada será sempre boa, mas somente será sempre boa se o

adolescente se fizer sujeito dela, ou seja, somente será boa se necessária, e somente

será necessária quando cabível, e somente cabível nos limites da legalidade,

observado o princípio da anterioridade penal. Se não há ato infracional, não se pode

cogitar em sanção.(SARAIVA, 2009)

Page 28: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

25

6. O DESRESPEITO À DIGNIDADE E O ADOLESCENTE INFRATOR

Este capítulo dedica-se a sopesar as considerações tecidas nos capítulos anteriores com

a realidade encontrada na pesquisa realizada junto à 3ª Vara da Infância e da Juventude do

Recife, que consistiu na análise de 20 processos de adolescentes infratores, com autorização

da Juíza responsável, sendo o Ministério Público favorável, mediante Termo de

Responsabilidade e Confiabilidade.

A idade dos adolescentes oscilou entre 12 e 21 anos, conforme tabela abaixo:

Faixa etária Quantidade Absoluta Quantidade Relativa

12 a 14 03 15%

15 a 17 15 75%

18 a 21 02 10%

Tabela 2 – Distribuição etária dos adolescentes nos processos

Os resultados dos processos foram os apresentados abaixo:

Resultado Quantidade

Absoluta

Quantidade

Relativa

Internação 10 50%

Semiliberdade 04 20%

Liberdade Assistida 01 5%

Arquivamento/remissão/improcedência/extinção 05 25%

Tabela 3 – Resultados dos processos

Procuramos identificar sinais de desrespeito à dignidade dos adolescentes que

permeassem os processos e nesses mesmos processos identificar fatores análogos aos

apresentados pelos autores citados neste trabalho, como de risco para a vida infracional.

A representação de um ou outro fator, ou mesmo a combinação de vários deles, em

cada processo consultado, corroborou para a confirmação do apurado na literatura.

Os dados objetivos foram obtidos dos dados processuais, no que concerne à

qualificação dos adolescentes. As informações de caráter subjetivo foram obtidas nos

relatórios elaborados pelas equipes técnicas da Fundação de Atendimento Socioeducativo

(FUNASE).

A tabulação das informações encontra-se na tabela abaixo:

Page 29: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

26

Faixa

Etária

12 a 14 15 a 17 18 a 21

03 15 2

Renda

Familiar

Menor que

1 SM 1 a 2 SM

3 a 4

SM

Bolsa

Família

Boa situação

financeira

Não

identific

ado

03 05 01 02 01 08

Raça

/Cor

Negra /

Parda Branca

Não

identifi

cada

10 03 07

Escolarid

ade

Sem escola

Ensino

Fundament

al 1

Ensino

Funda

mental

2

Ensino

Médio

Incomp

leto

Ensino Médio

Completo

01 04 13 01 01

Uso de

droga

Álcool Maconha Crack Cola Mesclado Cigarro Cocaí

na Outros

04 09 01 01 01 06 02 02

Convivên

cia social

Pai ausente Mãe

ausente

Padras

to

Madras

ta

Ausência de

autoridade /

Controle /

Vigilância

Negligê

ncia do

respons

ável

Pai /

Mãe

no

crime

Convivênci

a com

pessoas

inidôneas

Ma

us

trat

os

Pai/

Mãe

alcoól

icos

13 06 4

04 01 05 03 01 02

Número

de

pessoas

na

família

2 4 5 6 7

Não

Identific

ado

02 02 06 01 03 02

Habitaçã

o extra-

lar

Vivência de

Rua

Vivência em

abrigo

03 03

Atuação

da defesa

Defensoria

Pública

com defesa

praxe

Defensoria

Pública com

defesa

atuante

Defesa

com

advoga

do

03 03 01

Infração Tráfico

Porte ilegal

de arma

Homic

ídio

Tentati

va de

Homicí

dio

Ameaça com

lesão

Injúria /

atos

libidinos

os

Furto Roubo

majorado

Des

aca

to

09 02 02

01 01 02 02 01

Resultad

o do

processo

Internação Semiliberda

de

Remiss

ão

Arquiv

amento

Representação

improcedente

Liberda

de

Assistid

a

Extin

to

10 04 02 01 01 01 01

Agressão

na

apreensã

o

6

Tabela 4 – Tabulação dos resultados da pesquisa

Page 30: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

27

6.1 TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES

As informações colhidas nos processos foram qualitativamente avaliadas, sendo

prospectados nelas indicativos de desrespeito à dignidade, na medida em que sua ocorrência

despertava o sentimento de reprovabilidade.

Para esclarecimento do que vem a ser esse sentimento de reprovabilidade, basta

afirmar que reputamos assim tudo aquilo em que, num exercício de empatia, nos parecia

desrespeitoso, desonroso, ilegal ou pejorativo. Tudo o que, em se assumindo pra si a

circunstância, provocava tristeza, repulsa ou lamento.

Podemos extrair dos dados objetivos que o acesso a drogas ditas lícitas (mas no estudo

em tela devendo ser consideradas na maioria dos usos ilícitas, porque usadas por menores)

permeou a realidade da maioria dos adolescentes objetos do estudo. As drogas ilícitas, com

grande predominância da maconha, também se fizeram presentes em grande medida.

A ausência da figura paterna, seja por abandono, morte ou desconhecimento, marcou a

vida de 65 por cento dos adolescentes.

Houve também casos de ausência materna em 30 por cento dos casos e envolvimento

dos pais em crimes em 25 por cento deles.

Dentre os processos em que foi possível a identificação da renda familiar, em número

de 12, a maioria (66 por cento) fica abaixo de 02 salários mínimos, sendo 03 menores que 01

salário mínimo.

A atuação da Defensoria Pública, nos casos em que se pode identificar, equilibrou-se

entre defesas ativas e defesas passivas. As defesas ativas foram aquelas em que a Defensoria

demonstrou empenho em proteger os interesses do representado, ora interpondo recurso, ora

pleiteando direitos. As defesas passivas foram aquelas que atuaram de praxe, com texto

padrão, opinando sempre pela medida socioeducativa imediatamente mais vantajosa do que a

pleiteada pelo Ministério Público.

A partir dos registros dos técnicos da FUNASE, quando do atendimento dos

adolescentes, pudemos vislumbrar histórias permeadas de marcas de indignidade, privações

materiais e emocionais, sendo estas mais determinantes que aquelas no que diz respeito à

situação do menor infrator analisado.

Estes registros, perscrutados nas entrelinhas dos processos, foram registrados por

anotações e transcrições dos relatórios elaborados por psicólogos e assistentes sociais que

atenderam os adolescentes. Não havia um campo apropriado no formulário de pesquisa

previamente preparado que pudesse colher tais informações.

Page 31: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

28

A menção aos adolescentes objetos deste estudo será feita pelo número de seu

formulário de pesquisa, considerando a vedação expressa do Estatuto da Criança e do

Adolescente:

Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que

digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.

Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a

criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação,

parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.

Tomado esse cuidado, podemos trabalhar com as informações colhidas das análises

psicossociais dos adolescentes.

Havia motivações para o cometimento das infrações penais oriundas da necessidade de

se ter dinheiro para adquirir suas próprias coisas, como no caso do Adolescente nº 01, que

queria comprar roupas e por isso roubou um telefone celular e um ipod genérico para vender e

fazer dinheiro. Ou dos Adolescentes n°s 09 e 10, que traficavam drogas que lhes davam um

lucro de R$ 100,00 por dia, ou os de n°s 06 e 07, irmãos, sem qualquer suporte financeiro dos

pais, face ao abandono do genitor, que foi morar em outro lugar, e a prisão da genitora, os

quais tinham o tráfico como fonte de renda.

Para esses mesmos adolescentes, encontramos registro de suas privações: o nº 01 não

convive com o pai, viveu na rua e em abrigos, foi agredido por populares com objeto

contundente quando da apreensão, usuário de drogas desde os 10 anos de idade, sem afeto,

controle, orientação e vigilância da família, antes sendo objeto de negligência da mãe; o nº 09,

apesar de cursar a 5ª série mal lê e escreve, teve um prego quebrado na perna por um policial

em apreensão anterior, com suspeita de estar acometido de tuberculose, “frágil, vulnerável e

de aparência negligenciada”; o nº 10 parou de estudar ainda criança, não sabendo ler nem

escrever, agredido quando da apreensão, com baixa auto-estima e renda familiar inferior a 01

salário mínimo. Os de n°s 06 e 07 viviam sozinhos em casa, tendo a atenção de uma vizinha

que consideravam como tia, pois o pai abandonou o lar e os filhos, indo morar em outro

bairro. A mãe encontrava-se presa num presídio feminino e isso representava para o n° 06

algo bastante incômodo, a ponto de dizer que a mãe tinha abandonado o lar e demonstrar

temor quando se referia ao seu “desaparecimento”; o mesmo não tinha referência positiva e

sofria por ser portador de vitiligo. Seu irmão já deixou transparecer a relação conflituosa com

a mãe, inclusive revelando seu paradeiro e sua condição de alcoólica.

Incursos no ato infracional análogo ao crime de tráfico de entorpecentes, além dos

adolescentes de n°s 06, 07, 09 e 10 já mencionados, encontramos os adolescentes de n°

s 03,

04, 13, 15 e 16, sendo este ato infracional o campeão em número de processos analisados,

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com uma representação percentual de 45%. Em todos os casos, relatos de desrespeito às suas

dignidades e consequentemente aos seus direitos estão presentes. Dentre os tais, agressão

pelos policias (03 e 15), defesa sem empenho (03), ausência da figura paterna (03, 13, 15 e

16), ausência de vigilância ou limites (03), convivência com pessoas inidôneas (16). O

adolescente de nº 15 mora com uma madrinha desde os 05 anos de idade, uma vez que os pais

não dão qualquer assistência material ou afetiva, tem renda familiar de 03 a 04 salários

mínimos, traficava há apenas 17 dias por influência de amigos, alegando não precisar disso,

pois sempre teve tudo; a representação do mesmo foi julgada improcedente por não conter o

laudo do Instituto de Criminalística quanto ao material apreendido com o mesmo. A

Defensoria atuou nesse caso com bastante empenho.

Os adolescentes de n°s 02, 08 e 14 cometeram os atos infracionais análogos a

homicídio (02 e 08) e tentativa de homicídio, podendo ser identificados como atentatórios à

dignidade dos mesmos a convivência com pessoas inidôneas (02 e 14), a ausência da figura

paterna, por desconhecimento (08) e por se encontrar preso (14).

Dois destaques precisam ser feitos quanto a estes 03 processos:

No caso do adolescente nº 08, o processo foi extinto sem julgamento do mérito porque

o fato ocorreu em outubro de 2006 e só foi encaminhado à 3ª Vara da Infância e da Juventude

em 25 de novembro de 2010. A vítima desse caso também foi um menor e por inércia da

autoridade policial não houve qualquer responsabilização, sendo a afronta à dignidade da

vítima de caráter duplo e transvitalício: teve a maior afronta quando de sua morte e afronta de

caráter permanente na medida em que não teve qualquer consequencia; sua vida não teve

valor suficiente para desencadear a perseguição do aparelho estatal na responsabilização do

autor, de forma que à vítima fosse destinado um mínimum de valor.

No caso do adolescente nº 14, a família foi necessariamente preponderante para o

comportamento agressivo do mesmo. O pai, policial militar, encontrava-se preso por atuar

como “justiceiro”; a mãe narra a história do filho como quem compreende sua atitude,

chegando ao ponto de entrar em acordo com a mãe da vítima (também menor) para que todos

esquecessem o fato, não denunciar o agressor e evitar que os filhos se encontrassem!

A adolescente de nº 05, de 14 anos de idade, foi processada por infração análoga aos

crimes de ameaça e lesão corporal. Numa existência totalmente destituída de dignidade, não

conheceu o pai, teve a mãe assassinada por envolvimento com o tráfico de drogas, passando à

responsabilidade de uma tia, que deteve a guarda da mesma de seus 06 meses de idade até os

08 anos, quando a perdeu por submetê-la a maus tratos. Passou a residir em abrigos desde

Page 33: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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então. O resultado de seu processo foi a remissão judicial, o que se configura como gesto de

boa vontade para alguém cuja vida já tem contornos de condenação.

Outros casos que queremos destacar neste trabalho são os dos adolescentes n°s 11, 17

e 18.

O de nº 11, com 12 anos de idade, usuário de cola, abordado por policiais numa praça

do centro do Recife, reagiu com impropérios e palavrões, sendo “adequadamente” tratado

com cascudos e murros pelos mesmos, conduzido à delegacia e enquadrado pela infração

análoga ao crime de desacato. É o mais velho de sua mãe, que o concebeu aos 15 anos.

Quando do falecimento do pai, sua mãe, então com 20 anos de idade, tornou-se alcoólica, e

nessa condição perdeu a guarda de outros 03 filhos, de 6, 3 e 1 ano e oito meses, que estão em

abrigo. Nunca freqüentou escola, dormia na rua. Foi beneficiado com a remissão judicial e

com medidas protetivas. No primeiro atendimento psicossocial, apresentou-se sob o efeito da

cola, com higiene corporal comprometida, aspecto desleixado, sorrindo, inquieto, desatento.

No segundo atendimento, apresentou-se em bom estado geral, limpo e bem arrumado. Havia

deixado de usar cola há um mês e come e dorme em casa. Diz que agora que a mãe está sem

beber é mais calma e alegre em casa. Segundo a mãe, a conversa com a Juíza foi

determinante para a transformação de ambos.

O caso da adolescente de nº 17, de apenas 15 anos de idade, carrega em si também

características próprias de afronta à dignidade da mesma. Residente em Campina Grande, na

Paraíba, veio pela segunda vez ao Recife, trazida pela mesma pessoa, um motorista de táxi de

seu estado, para praticar infrações para o mesmo, sob promessa de recompensa. Assim, foi

flagrada em companhia de outro adolescente na saída de um hipermercado com os seguintes

produtos (!): 01 barraca de acampamento, 01 piscina de 541 litros, 01 bote baleia, 01 óculos

de natação, 01 cadeado de chaves, 01 jogo de chaves de 04 peças, 02 baldes de 20 litros, 01

minibola, 01 corrente para bicicleta, 01 estojo cola, 01 bomba de ar mini, 01 colchão

bronzeador, 02 kits cueiro, 02 toalhas, 01 boneca, 01 bola de futebol, 01 telefone de

brinquedo, 01 par de meias, 01 TV LCD de 32”. A instrução do corruptor de menores era que

deveriam colocar no carrinho de compras a TV e escolherem o que quisessem. Ele os

esperaria na saída de emergência do estabelecimento. Flagrados, os adolescentes foram

abandonados à própria sorte, sendo a adolescente de nº 17 submetida à medida socioeducativa

de internação. A Defensoria atuou como de praxe, sem qualquer empenho no caso.

Já o caso do adolescente de nº 18, único em toda pesquisa pertencente à família bem

situada financeiramente, é de infração análoga à injúria, mediante prática de atos libidinosos.

“Vítima” e agressor tinha à época do fato 15 anos, e tudo aconteceu consensualmente. O fato,

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31

porém, foi registrado em foto a qual o pai da vítima teve acesso 04 anos depois. A vítima,

deslocando-se de Londres para prestar depoimento, confere pouca importância ao fato e julga

desnecessária a manutenção do processo. O processo é arquivado.

Nesse caso, a vítima passou a residir temporariamente na casa do adolescente de nº 18

por decisão da genitora, que não queria que a mesma entrasse em conflito com o pai. Este

exercia forte vigilância e cobrança sobre a filha, particularmente quanto ao seu

comportamento com rapazes. A desestrutura de seu lar a expôs a desrespeitos reiterados de

sua dignidade. Mesmo com condições materiais suficientes para sustentar a filha, os pais não

detinham condições emocionais ou psicológicas que lhe dessem suporte na educação da

mesma. Em casa de estranhos, a vítima envolveu-se em situação vexatória registrada em foto

e acessada por várias pessoas. Buscando satisfazer seu senso particular de justiça, o pai

resolve motivar um processo em que todas as histórias são rememoradas e outras tantas

reveladas, provocando, em nossa ótica, dano muito maior do que já havia sido submetida sua

filha.

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32

7. CONCLUSÃO

A dignidade, termo muito presente em textos normativos, positivada na maioria das

constituições democráticas, encontra por vezes dificuldades em ser conceituada. Ela entra na

compreensão coletiva como um sentimento, uma sensação, muitas vezes aflorada quando de

sua afronta. A reação psicoemocional que causa seu desrespeito é, na maioria das vezes, o

sinal de sua existência.

É algo necessariamente inerente ao ser humano. Ocorre-nos lembrar de um vídeo

veiculado num programa de televisão, no qual um cão da raça miniatura pinscher, pequeno

por natureza, aproxima-se de um cão muitas vezes maior, que está deitado. Quando começa a

cheirá-lo, é repelido com veemência pelo mesmo. Logo em seguida, vira-se e urina no

grandalhão deitado, que não esboça nenhuma reação. O motivo de o vídeo ter sido veiculado é

o significado que tem para o sentimento coletivo a metáfora inclusa no episódio. Para os cães,

tudo que aconteceu foi muito natural e a sensação que o cão maior teve foi uma sensação

puramente física de estar molhado. Não lhe ocorreu que o cão menor tinha sido atrevido, nem

que o havia desrespeitado. Não havia simbolismo naquela atitude. No mundo humano, uma

cena semelhante não causaria apenas o desconforto físico de estar molhado ou repugnância

por se tratar de urina. A atitude do atrevido teria uma dimensão muito maior do que seus

aspectos imediatos. Ferir-se-ia a dignidade do ofendido.

Todos nós somos ou fomos, em alguma medida, desrespeitados em nossa dignidade.

Estabelecemos, em razão de nossas experiências, expectativas ou circunstâncias, uma escala

de tolerância ou intolerância em relação a esses desrespeitos. Isso não nos faz,

necessariamente, melhores ou piores do que qualquer outra pessoa. Temos, no entanto,

estímulos interiores capazes de nos fazer reagir e exigir tratamento consoante nossa

dignidade.

O desafio da sociedade e do Estado é antever dignidade nos seus integrantes. É tutelá-

la previamente, é disseminá-la.

A dignidade dos adolescentes objetos deste estudo teve uma evolução histórica em sua

compreensão, como de resto a de toda humanidade. Isso permitiu evoluções nas letras da Lei

que contribuiu, a seu tempo e contexto social, para atuação da sociedade pela lente do

adolescer.

O sentimento próprio de dignidade é o bem jurídico objeto da tutela do Estado e da

Lei. É direito fundamental e dístico da condição de ser humano. Porém, a letra fria da lei nada

Page 36: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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pode diante de uma realidade flexibilizadora; diante de uma subvalorização prática do ser

humano.

Conseguimos entrever supressões de condições materiais, familiares, emocionais,

psicológicas, afetivas e da efetiva proteção estatal. Essa ausência de tudo torna o ser humano

menor, desnivelado em relação aos seus pares.

A atitude proativa dos que fazem a sociedade, em particular dos que lidam com a lei,

operadores de direito, policiais, abrigos, locais de internação, equipes socioeducativas,

professores, conselheiros tutelares e os meios de comunicação, pode e deve contribuir na

disseminação de valores para além do campo teórico. O olhar pela lente da dignidade deve

levar o adolescente infrator a crer na sua possibilidade.

Não ousaremos afirmar que a negação de fatores importantes a uma existência digna

foi a motivação para o cometimento de infrações pelos adolescentes. Mas podemos concluir

que foi fator contributivo para tanto. Indo mais além, podemos dizer que é fator determinante

da possibilidade ou não de reassunção da condição de ser humano dotado de instrumentos

capazes de guiar sua conduta e definir suas escolhas, no sentido do socialmente aceitável

porque digno.

Page 37: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

34

8. BIBLIOGRAFIA

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Reale, Miguel. Apud: SANTOS, Fernando Ferreira dos. Princípio constitucional da dignidade

da pessoa humana. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998. Disponível em:

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SANTOS, Fernando Ferreira dos. Princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998. Disponível em:

<http://jus.uol.com.br/revista/texto/160>. Acesso em: 12 de fevereiro de 2011.

SARAIVA, João Batista Costa. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E O ADOLESCENTE

INFRATOR. Disponível em: http://www.mp.rs.gov.br/. Acesso em: 05 de fevereiro de 2011.

Page 39: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

36

9. APÊNDICES

Exma. Sra. Juíza da 3ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Recife

ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE, bacharelando de Direito, matriculado nas Faculdades

Integradas Barros Melo da Associação de Ensino Superior de Olinda – AESO -, sob o número de

matrícula 2006201603-2, cursando o 10º período, portador do documento de identidade civil nº

3.308.985 e CPF 462.741.544-34, residente à Rua São Francisco, 110, Peixinhos, Olinda, em razão

da necessidade de pesquisa para elaboração de monografia concernente à criança e ao adolescente,

vem perante V. Exca. solicitar autorização para acesso ao conteúdo de processos tramitantes ou

tramitados nesse Juízo, a fim de coletar informações que subsidiem a elaboração de trabalho

científico, conforme as disposições do Termo de Responsabilidade e Confidencialidade anexo a esta

solicitação.

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Recife, 07 de fevereiro de 2011.

____________________________________________________ Adilson Alves Ribeiro Duarte CPF: 462.741.544-24

Page 40: O ADOLESCENTE SUBMETIDO À MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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Requerimento de autorização de acesso aos autos

TERMO DE RESPONSABILIDADE E CONFIDENCIALIDADE

ADILSON ALVES RIBEIRO DUARTE, bacharelando de Direito, matriculado nas Faculdades Integradas Barros

Melo da Associação de Ensino Superior de Olinda – AESO -, sob o número de matrícula 2006201603-2, cursando o 10º

período, portador do documento de identidade civil nº 3.308.985 e CPF 462.741.544-34, residente à Rua São Francisco, 110,

Peixinhos, Olinda, em razão da necessidade de pesquisa para elaboração de monografia concernente à criança e ao

adolescente, firma o presente Termo perante a 3ª Vara da Infância e Juventude do Recife, cujo objetivo é garantir a

necessária e adequada proteção às informações confidenciais fornecidas ao mesmo para subsídio de seu trabalho. Desta

forma, o signatário deste documento, compromete-se a, sob as penas da lei:

1. manter sigilo e absoluta confidencialidade relativa às informações que possam revelar, sob qualquer

forma, a identidade dos adolescentes cujos processos possam vir a ser objeto de pesquisa;

2. cuidar para que as informações confidenciais fiquem restritas ao seu próprio conhecimento;

3. utilizar as informações confidenciais a que tiver acesso exclusivamente para os propósitos deste Termo,

ou seja, para elaboração da monografia para conclusão do curso de bacharel em direito;

4. não efetuar, em nenhuma hipótese, qualquer cópia da informação confidencial sem o consentimento

prévio e expresso da parte reveladora.

5. tomar todas as medidas necessárias à proteção da informação confidencial da parte reveladora, bem

como evitar e prevenir a revelação destas informações a terceiros.

6. substituir os nomes dos adolescentes cujos processos sejam objeto de pesquisa, quando da necessidade

de apresentação de caso, por pseudônimos;

7. entregar uma cópia do trabalho à Juíza da 3ª Vara da Infância e Juventude;

As obrigações constantes do presente instrumento não serão aplicadas a nenhuma informação que:

a. seja comprovadamente de domínio público no momento da revelação;

b. não esteja protegida por segredo de justiça ou gravada com a obrigação de confidencialidade imposta

unilateralmente pela Juíza da 3ª Vara da Infância e Juventude

Recife, 07 de fevereiro de 2011.

____________________________________________________ Adilson Alves Ribeiro Duarte CPF: 462.741.544-24

Termo de Responsabilidade e Confidencialidade

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38

Formulário de Pesquisa

Nome: Nº

Idade / Data de Nascimento:

Bairro de origem:

Tipo de medida: Local de internação:

Quadro Geral

Sexo

Violência

Classe social

Religião

Hábitos / gostos

Vícios / tipo

Cor

Escolaridade

Profissão

Empregabilidade

Relacionamento (casado/namorado/união estável)

Renda

Escolaridade dos pais

Ocupação dos pais

Criminalidade na família

Reincidência

Associação para a infração (só ou acompanhado)

Bebe

Fuma

Usa drogas

Socioeconômicas e individuais

Educação inferior a primeiro grau

Primeiro grau completo

Segundo grau completo

Terceiro grau completo

Estava trabalhando

Branco

Era casado

Tinha filhos

Dificuldades financeiras

Herança familiar

Pais com menos que o primeiro grau

Pais com primeiro grau

Pais com segundo grau

Pais com terceiro grau

Pais casados

Pais com problemas na justiça

Pai ou mãe presos

Mãe viva

Mãe trabalhando

Pai vivo

Pai trabalhando

Pai ajudou na criação

Apanhou em demasia dos pais

Interação social

Cresceu em boa vizinhança

Morava em boa vizinhança

Amigos trabalhando

Boa relação com os pais

Fatores catalisadores

Acredita na justiça .

Possuía arma de fogo

Cometeu crime com parceiro

Hábitos e gostos

Possuía atividades de lazer

Bebia socialmente

Bebia muito

Fumava

Usava drogas

Religiosidade

Acredita em Deus

Acredita no inferno

Indicadores dignidade / indignidade

Apelido pejorativo

Presença dos pais

Advogado

Roupas / Trajes

Linguagem