o Agravo de Instrumento e o Acessos à Justiça

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Agente Semântico de Extração Informacional no Contexto de Big Data

Citation preview

  • FUNDAO DE ENSINO EURPIDES SOARES DA ROCHA CENTRO UNIVERSITRIO EURPIDES DE MARLIA - UNIVEM

    MESTRADO EM DIREITO

    LVARO TELLES JNIOR

    O AGRAVO DE INSTRUMENTO E O ACESSO JUSTIA

    MARLIA 2012

  • LVARO TELLES JNIOR

    O AGRAVO DE INSTRUMENTO E O ACESSO JUSTIA

    Dissertao apresentada ao Programa de Mestrado em Direito do Centro Universitrio Eurpides de Marlia - UNIVEM, mantido pela Fundao de Ensino Eurpides Soares da Rocha, para obteno do Ttulo de Mestre em Direito (rea de Concentrao: Teoria Geral do Direito e do Estado). Linha de Pesquisa: Construo do saber jurdico.

    Orientador: Prof. Dr. LUS HENRIQUE BARBANTE FRANZ

    MARLIA 2012

  • TELLES JNIOR, lvaro O agravo de instrumento e o acesso justia / lvaro Telles Jnior;

    orientador: Prof. Dr. Lus Henrique Barbante Franz. Marlia, SP: [s.n.], 2012. 120f. Dissertao (Mestrado em Direito) Curso de Mestrado em Direito,

    Fundao de Ensino Eurpides Soares da Rocha, mantenedora do Centro Universitrio Eurpides de Marlia UNIVEM, Marlia, 2012.

    1. Agravo de instrumento. 2. Acesso justia. CDD: 341.4658

  • LVARO TELLES JNIOR

    O AGRAVO DE INSTRUMENTO E O ACESSO JUSTIA

    Banca Examinadora da Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Direito do UNIVEM/F.E.E.S.R., para obteno do Ttulo de Mestre em Direito. Resultado: ________ ORIENTADOR: _____________________________________ Prof.Dr. Lus Henrique Barbante Franz 1 EXAMINADOR: ___________________________________

    2 EXAMINADOR: ___________________________________

    Marlia, ______ de ___________________ de 2012.

  • Este trabalho est dedicado aos colegas de curso e colegas de profisso que exercem o rduo labor da advocacia.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiro a Deus

    por ter me dado fora, vida e sade

    para concluir este curso de Mestrado em Direito.

    minha esposa e meu filho

    pela pacincia e compreenso que tiveram durante o curso.

    Ao meu orientador prof. Dr. Lus Henrique Barbante Franz,

    pela orientao e auxlio na realizao deste trabalho e tambm pelas aulas ministradas

    durante o curso as quais foram de grande proveito para meu crescimento profissional.

    Agradeo a esta Instituio

    pela oportunidade de emprego e

    por fazer parte do seu quadro de funcionrios.

    Agradeo ao prof. Luiz Vieira Carlos (in memorian)

    pelo grande incentivo no s para realizar este curso,

    mas tambm na vida profissional e acadmica.

  • TELLES JNIOR, lvaro. O agravo de instrumento e o acesso justia. 2012. 120f. Dissertao (Mestrado em Direito) Centro Universitrio Eurpides de Marlia, Fundao de Ensino Eurpides Soares da Rocha, Marlia, 2012.

    RESUMO

    Desde que o homem passou a viver em sociedade, surgiu a figura do Estado, ente dotado de poder que tem por finalidade reger a vida de seus administrados para que esta convivncia possa ser a mais harmnica possvel. Em sua gnese, o poder estatal era concentrado no soberano que exercia esse poder de forma livre sem ter que prestar contas aos cidados, pois, neste momento histrico, acreditava-se que o governante equiparava-se a uma divindade. Avanando mais no tempo, surge o Estado moderno com sua caracterstica de poder divido em trs partes, sendo o executivo o legislativo e o judicirio. A partir deste momento histrico, a parte que pretender buscar a realizao de seu direito, que antes fora violado por outrem, deve socorrer-se no judicirio por meio do processo, que passando a ser entendido como um instrumento da jurisdio, posto que exerce a funo primordial de entregar a tutela jurisdicional. Contudo, a tutela estatal deve ser prestada da forma mais justa possvel, a fim de que o Estado venha a cumprir com o princpio constitucional do acesso justia, e efetivamente produza a pacificao social. Para tanto, estabeleceu-se o processo, revestido de princpios e regras, como meio adequado, para que o jurisdicionado possa socorrer-se do Poder Estatal buscando a soluo para a demanda. Dentro do direito processual, encontra-se o sistema recursal, importante instituto de acesso justia, pois viabiliza ao jurisdicionado a reforma de decises erroneamente proferidas. O recurso de agravo de instrumento parte integrante do instituto dos recursos, importante ferramenta para combater decises interlocutrias equivocadamente proferidas e que podem causar danos graves e de difcil reparao parte, e que afrontam o acesso justia. Por isso, verifica-se a importncia deste meio de impugnao, pois, diante de decises que urgentemente devem ser reformadas, o agravo de instrumento pode ser interposto diretamente no tribunal, onde a parte pode, ainda, fazer uso dos seus efeitos antecipativos ou suspensivos e, por conta disso, imediatamente e ainda que provisoriamente, o jurisdicionado possa obter a deciso que lhe havia sido negada ou ainda suspend-la. Alm disso, muitas decises interlocutrias proferidas de forma equivocada podem influir direta ou indiretamente na sentena, o que vem a prejudicar o resultado final do processo. Assim, verifica-se que o agravo de instrumento se torna importante ferramenta para que a tutela jurisdicional a ser entregue seja a mais justa possvel

    Palavras chave: Agravo de Instrumento. Acesso Justia.

  • TELLES JNIOR, lvaro. O agravo de instrumento e o acesso justia. 2012. 120f. Dissertao de Mestrado (Mestrado em Direito) Centro Universitrio Eurpides de Marlia, Fundao de Ensino Eurpides Soares da Rocha, Marlia, 2012.

    ABSTRACT

    Since man began to live in society emerged the figure of the state, being endowed with power that is intended to govern the lives of his administration that this coexistence may be the most harmonious possible. In its genesis state power was concentrated in the sovereign exercised this power freely without having to be accountable to citizens, because at this historical moment it was believed that the president equated to a deity. Moving forward in time comes the modern state with its characteristic power divided into three parts and the executive the legislature and the judiciary. From this historical moment the party intending to seek fulfillment of their right was violated before by others, must resort to the judiciary that through the process, which started to be understood as an instrument of the jurisdiction has the primary function of delivering judicial protection. However, the state protection must be provided as fairly as possible so that the state will comply with the constitutional principle of access to justice and effectively produce the social peace. To this end, we established the process, coated with principles and rules, as an appropriate means for the jurisdicionado can avail itself of the State Power seeking the solution to the demand. Within the procedural law we find the appellate system, a major institute of access to justice because they enable the jurisdicionado reform decisions wrongly made. The appeal of interlocutory appeal is an integral part of Resources Institute, an important tool to combat wrongly issued and interlocutory decisions that may cause severe and difficult to repair the part and that violate the access to justice. So we checked the importance of this mode of appeal, therefore, faced with decisions that must be urgently reformed the interlocutory appeal may be brought directly to court where the party may also exercise its preemptive effects, or suspension, and because of this delay and even provisionally jurisdicionado can get the decision he had been denied or suspend it. In addition, many interlocutory decisions made in error may influence directly or indirectly in the sentence that comes to prejudice the final outcome of the process. Thus we find that the interlocutory appeal becomes an important tool for the judicial review to be delivered will be as fair as possible

    Keywords: Interlocutory . Access to justice.

  • SUMRIO

    INTRODUO........................................................................................................................10

    CAPTULO 1 A TUTELA JURISDICIONAL.....................................................................14 1.1 Finalidade e mbito de Aplicao .....................................................................................14 1.1.1 Fase Sincretista ................................................................................................................16 1.1.2 Fase Autonomista ............................................................................................................17 1.1.3 Fase Instrumentalista .......................................................................................................18 1.2 Escopos da Jurisdio.........................................................................................................19 1.2.1 Escopo Poltico................................................................................................................20 1.2.2 Escopo Jurdico ...............................................................................................................21 1.2.3 Escopo Social ..................................................................................................................22 1.3 Princpios Informativos e Fundamentais do Processo........................................................26 1.3.1 Princpios Informativos ...................................................................................................27 1.3.1.1 Princpio Lgico ...........................................................................................................27 1.3.1.2 Princpio Econmico ....................................................................................................27 1.3.1.3 Princpio Poltico ..........................................................................................................28 1.3.1.4 Princpio Jurdico..........................................................................................................29 1.3.1.5 O Princpio Instrumental ..............................................................................................30 1.3.2 Princpios Fundamentais do Processo .............................................................................31 1.4 Direito Constitucional Processual ......................................................................................32 1.4.1 O Acesso Justia ...........................................................................................................35 1.4.1.2 O Acesso Justia no Plano Recursal ..........................................................................39

    CAPTULO 2 - TEORIA GERAL DOS RECURSOS ............................................................42 2.1 Conceito de Recurso...........................................................................................................42 2.2 Pronunciamentos Judiciais Passveis de Recurso...............................................................44 2.2.1 Da Sentena .....................................................................................................................45 2.2.2 Da Deciso Interlocutria................................................................................................48 2.2.2.1 Histrico .......................................................................................................................48 2.2.2.2 Da Deciso Interlocutria no Direito Estrangeiro ........................................................49 2.2.2.3 A Deciso Interlocutria no Sistema Processual Brasileiro .........................................50 2.2.2.3.1 Da Questo Incidente ................................................................................................52 2.2.3 Dos Despachos ................................................................................................................53 2.4 Classificao dos Recursos.................................................................................................55 2.4.1 Dos Recursos Ordinrios e Extraordinrios ....................................................................55 2.4.2 Recursos de Fundamentao Livre e Fundamentao Vinculada ...................................56 2.4.2.1 Classificao do Agravo de Instrumento......................................................................57 2.5 Fundamento dos Recursos ..................................................................................................57 2.6 Princpios Recursais ...........................................................................................................61 2.6.1 O Duplo Grau de Jurisdio ............................................................................................61 2.6.2 Irrecorribilidade em Separado das Interlocutrias...........................................................65 2.6.3 A Fungibilidade Recursal Frente ao Agravo de Instrumento ..........................................66 2.6.4 A Unirrecorribilidade Recursal frente ao Agravo de Instrumento ..................................68

    CAPTULO 3 DO AGRAVO DE INSTRUMENTO FRENTE O ACESSO JUSTIA ..71 3.1 Histrico sobre o Recurso de Agravo de Instrumento no Processo Civil ..........................71

  • 3.1.1 O Agravo de Instrumento no Direito Portugus..............................................................72 3.1.2 O Agravo de Instrumento no Direito Processual Brasileiro ............................................76 3.1.3 O Agravo no Cdigo de Processo Civil de 1939.............................................................77 3.1.4 O Agravo de Instrumento no Cdigo de 1973.................................................................78 3.2 As Alteraes no Agravo de Instrumento Introduzidas pela Lei 9.139/95 ........................80 3.3 As Alteraes no Agravo de Instrumento Introduzidas pelas Leis 10.352/01 e 11.187/05 e a Opo de Escolha entre os Agravos de Instrumento ou Retido.............................................82 3.3.1 O Agravo Retido como Regra .........................................................................................85 3.4 Demais Decises Recorrveis por meio do Agravo de Instrumento...................................87 3.5 O Agravo de Instrumento e os Poderes do Relator ............................................................89 3.5.1 Converso do Agravo de Instrumento em Retido e Recorribilidade da Deciso ............90 3.5.2 Do Efeito Antecipativo do Agravo de Instrumento.........................................................92 3.5.3 Do Efeito Suspensivo do Agravo de Instrumento ...........................................................94 3.6 O Agravo de Instrumento no Juizado Especial Cvel.........................................................97 3.7 O Agravo de Instrumento no Processo do Trabalho...........................................................99 3.8 O Agravo de Instrumento Contra Deciso Proferida em Audincia de Instruo e Julgamento..............................................................................................................................101 3.9 O Agravo de Instrumento no Projeto do Novo Cdigo de Processo Civil .......................105

    CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................110

    REFERNCIAS .....................................................................................................................114

  • 10

    INTRODUO

    Para que a convivncia social seja pacfica, o Estado assumiu a posio de manter a

    ordem por meio de um conjunto de regras e princpios, com a finalidade de reger a vida de

    seus administrados para que esta convivncia possa ser a mais harmnica possvel e o

    objetivo da paz social seja atingido.

    Em sua gnese, o poder estatal de julgar, administrar e legislar era concentrado em

    um nico ente, um soberano, que o exercia de forma livre sem ter que prestar contas aos

    cidados, pois, neste momento histrico, acreditava-se que o governante equiparava-se a uma

    divindade.

    Avanando mais no tempo, surge o Estado moderno e com ele a necessidade de

    cindir a atividade estatal, delegando a outros rgos os poderes antes reunidos em um nico

    administrador, surgindo, assim, a tripartio dos poderes em executivo, legislativo e

    judicirio, independentes, guardada entre si certa harmonia.

    Desde ento, ao judicirio foi entregue a funo primordial de solucionar os conflitos

    gerados no meio da sociedade, restando proibida a autotutela. Assim, o Estado assumiu o

    compromisso de resolver as lides que surgem na sociedade e estabeleceu regras para que o

    jurisdicionado possa levar sua pretenso at o judicirio, e este possa prestar a tutela

    jurisdicional.

    Este conjunto de regras foi materializado com o intuito de disciplinar a maneira de

    solicitar a tutela jurisdicional ao Estado, e em matria civil, atualmente tem o Cdigo de

    Processo Civil de 1973, introduzido em nosso ordenamento jurdico, por meio da Lei

    5.869/73.

    Assim, o cidado que pretender buscar a realizao de seu direito, que antes fora

    violado por outrem, no pode agir com as prprias mos. Deve socorrer-se da tutela

    jurisdicional, que quem pode em carter substitutivo entregar a prestao pretendida,

    contudo, observadas as regras processuais.

    No entanto, como exposto acima, h um meio adequado para que o jurisdicionado

    possa socorrer-se do Poder Estatal, que ir dizer a quem cabe o direito que at ento se alega

    violado. Este meio o processo que est disposio da parte e, como norma de ordem

    pblica, deve ser observado na empreitada judicial, a fim de que se obtenha a soluo mais

    justa possvel para a lide.

  • 11

    E o processo, como instrumento da jurisdio, colocado disposio das partes

    para que, utilizando de todas as ferramentas nele contidas, possam fazer gerar decises mais

    justas, mesmo porque o acesso justia se trata de direito fundamental, conforme, o artigo 5,

    inciso XXXV da Constituio Federal, que menciona que a lei no excluir da apreciao do

    Poder Judicirio leso ou ameaa a direito.

    Veja-se que a partir do texto constitucional que o jurisdicionado obteve a chancela

    de que o Judicirio est aberto as suas pretenses, sendo que o termo acesso justia reflete a

    real possibilidade da pessoa se socorrer do poder do Estado, para fins de que seja prestada a

    tutela jurisdicional e resolva determinada demanda.

    Apesar disso, alm de o Estado disponibilizar aos cidados meios de chegar s portas

    do judicirio, tem que dar liberdade a ele de participar efetivamente do processo, podendo

    influir na deciso a ser proferida. E, por conta disso, o Processo Civil nos ltimos anos vem

    passando por significativas alteraes para tornar-se um instrumento eficaz na entrega da

    tutela jurisdicional.

    No entanto, o que pretende indicar, que o cidado, apesar de hoje ter acesso ao

    Poder Judicirio, muitas vezes depara-se com decises que, por serem proferidas

    erroneamente, devem ser reapreciadas por outro rgo na inteno de reform-las, para se

    obter um resultado mais justo para a lide.

    Desse modo, importante que esteja disposio das partes um meio capaz de levar

    ao conhecimento de um rgo superior determinada deciso, que se no for imediatamente

    reformada, poder gerar um resultado injusto, o que de certa forma deixar em segundo plano

    o princpio do acesso justia.

    Da a existncia do sistema recursal disponvel aos litigantes, para que possam

    conduzir seu inconformismo at o tribunal e levar a efeito reapreciao da matria discutida

    na finalidade de que, ao ser revista pelo rgo recorrente, eventualmente ocorra a reforma da

    deciso proferida em primeiro grau de jurisdio.

    Contudo, na finalidade de delimitar o tema, no presente trabalho procurou-se estudar

    no sistema recursal o agravo de instrumento e como este recurso pode promover o acesso

    justia, pois, devido s reformas introduzidas na sua disciplina, tornou-se um meio eficaz para

    reforma das decises interlocutrias quando erroneamente proferidas.

    Assim, no primeiro captulo desenvolver-se- um estudo sobre a tutela jurisdicional,

    identificando as etapas pelas quais o processo veio se desenvolvendo, sendo as fases

    sincretista, autonomista e instrumentalista, considerando que mediante a estes estudos que

    hoje o processo deixou de ser considerado como um fim em si mesmo.

  • 12

    Ainda, no primeiro captulo, sero estudados os escopos do processo, isto , os

    objetivos pelos quais o processo como instrumento da jurisdio se prope a atingir, sendo

    eles o escopo poltico, jurdico e social, demonstrando que a entrega da tutela jurisdicional de

    forma justa gera outros importantes resultados na sociedade.

    Como o processo um instrumento para que a tutela jurisdicional seja prestada da

    forma mais justa possvel, no pode deixar de estar amparado por princpios, cujo estudo,

    ainda que de forma sucinta, torna-se importante, pois, funcionam como alicerce para a criao

    e interpretao das regras processuais, sendo os princpios informativos e fundamentais do

    processo.

    Por fim, relacionado tutela jurisdicional, ser realizada uma abordagem sobre o

    direito constitucional processual, onde se localiza o princpio constitucional do acesso

    justia, indicando sua importante influncia para o direito processual civil e, especificamente,

    para o sistema recursal.

    No segundo captulo, ser estudado um pouco da teoria geral dos recursos, a fim de

    indicar quais os pronunciamentos judiciais so recorrveis, e estabelecer a importncia dos

    recursos para combater decises que por serem injustas podem afetar a prestao jurisdicional

    de forma justa, indicando, ainda, a importncia do agravo de instrumento neste ambiente

    recursal, alm dos princpios recursais relacionados a este recurso.

    No terceiro captulo, far-se- uma abordagem especfica acerca do recurso de agravo

    de instrumento, desde sua origem e evoluo histrica, indicando as fases pelas quais passou e

    as modificaes que foram introduzidas em sua disciplina, bem como este meio de

    impugnao, que nos ltimos anos, vem ganhando espao dentro do sistema recursal,

    tornando-se importante meio de se promover o acesso justia.

    Destarte, aliado proposta de estudo, sero abordadas, com base no acesso justia,

    as modificaes introduzidas pelas Leis 9.139/95, 10.352/01 e 11.187/05, procurando

    demonstrar quais alteraes foram introduzidas na disciplina do recurso de agravo de

    instrumento por meio destas leis, e como hoje este meio de impugnao tornou-se importante

    para que a tutela jurisdicional seja entregue da forma mais justa possvel.

    Outrossim, no terceiro captulo, ser abordado como o agravo de instrumento

    disciplinado em leis como a do Juizado Especial Cvel, Lei 9.099/95, que em tese no admite

    recurso contra decises interlocutrias, bem como estudar a posio deste recurso na justia

    especializada, que a justia do trabalho, que vigora de forma contundente o princpio da

    irrecorribilidade das interlocutrias.

  • 13

    Como no poderia deixar de estudar, ainda no terceiro captulo, abordar-se-, mesmo

    que de forma breve e com foco no acesso justia, como o agravo de instrumento est sendo

    estruturado no projeto do Novo Cdigo de Processo Civil, indicando se o legislador pretende

    alterar ou no sua disciplina no mbito do sistema recursal.

  • 14

    CAPTULO 1 A TUTELA JURISDICIONAL

    1.1 Finalidade e mbito de Aplicao

    O convvio em sociedade necessita de normas que regulamentem as relaes entre as

    pessoas, a fim de alcanar um ambiente favorvel ao bom desenvolvimento humano, e desta

    forma, torna-se imprescindvel a existncia de um conjunto de regras disciplinadoras do

    comportamento social.

    Essas regras podem ser identificadas como normas jurdicas, cuja finalidade

    proporcionar harmonia nas relaes sociais, indicando aos jurisdicionados, que seus

    comportamentos devem estar pautados nos ditames por elas estabelecidos.

    Conforme as palavras de Mattos (2009, p.62):

    Desde os primrdios, as organizaes humanas tiveram como caracterstica comum, independente de cultura, a existncia de regras sociais de convivncia. No demais lembrar, porm, que a institucionalizao do exerccio do poder, necessria para uma maior organizao das sociedades, deu origem ao Estado, que tambm passou a exercer o controle das normas sociais e do rgo estatal sobre os indivduos, destes entre si e sobre o primeiro, isto , o prprio Estado. Do mesmo modo que o Estado, o direito processual e a jurisdio surgem em resposta necessidade de se definirem formas de resoluo dos conflitos e que seriam as autoridades responsveis para oferecer solues aos conflitos apresentados.

    Contudo, no basta um corpo normativo regulador das condutas humanas, pois de

    nada adiantaria a existncia destas normas sem que houvesse um rgo dotado de poder, cuja

    finalidade impor ao jurisdicionado a vontade expressa no comando legal nos casos em que

    se verifique determinado conflito.

    O Estado, ento, avocou para si a funo de solucionar os conflitos surgidos na

    sociedade, caso ocorra o desrespeito ordem jurdica estabelecida, instituindo-se, pois, um

    rgo, dotado de Poder, no qual o jurisdicionado possa socorrer-se ao ver seu direito violado,

    sendo que em palavras precisas, Silva (2008, p.04) aduz que:

    Estando, pois o sujeito diante de uma situao onde seu direito est sendo ameaado ou foi violado (conflito e interesses pretenso e resistncia) e no sendo possvel a soluo do conflito atravs da autocomposio ou da arbitragem no resta alternativa seno buscar a proteo de seu direito junto ao Poder Judicirio, que tem a funo precpua de exercer a jurisdio, que se realiza por meio de um processo judicial.

  • 15

    Diante do exposto, o jurisdicionado, ao pretender buscar a realizao de seu direito

    que fora violado por outrem, no poder agir com as prprias mos, dever socorrer-se da

    tutela estatal para solucionar os conflitos.

    Assim, encontra-se o Judicirio, ente imparcial, cuja finalidade entregar a tutela

    jurisdicional, com o objetivo de restabelecer a harmonia e a paz na sociedade. Para Franz

    (2011, p. 28), a tutela jurisdicional uma espcie do gnero tutela jurdica, isto, , consiste

    no instrumento de concretizao do direito material. o resultado efetivo da atividade

    jurisdicional e, por esta razo, chamada de tutela em sentido amplo.

    No entanto, para que possa perseguir seu direito, o jurisdicionado deve utilizar-se de

    um meio adequado, constitudo de regras, para que o Estado venha intervir como substituto e

    dizer a quem cabe o direito que, at ento, se alega violado, entregando assim a tutela

    pretendida.

    Ademais, ocorre que o Estado institui um mtodo lgico de composio dos conflitos

    sem, contudo, impedir que as partes efetivamente participem da relao processual

    estabelecida. Este mtodo o processo que est disposio da parte e, como norma de

    ordem pblica, deve ser observado na empreitada judicial, pois o meio pelo qual ser

    prestada a tutela jurisdicional.

    Para Cintra, Grinover e Dinamarco (2000, p. 24):

    Pelo que j ficou dito, compreende-se que o Estado moderno exerce o seu poder para a soluo de conflitos interindividuais. O poder estatal, hoje, abrange a capacidade de dirimir os conflitos que envolvem as pessoas (inclusive o prprio Estado) decidindo sobre as pretenses apresentadas e impondo as decises. No estudo da jurisdio, ser explicado que esta uma das expresses do poder estatal, caracterizando-se este como a capacidade, que o Estado tem, de decidir imperativamente e impor decises. O que distingue a jurisdio das demais funes do Estado (legislao, administrao) precisamente, em primeiro plano, a finalidade pacificadora com que o Estado a exerce.

    No entanto, em razo da atividade jurisdicional incumbir exclusivamente ao Estado,

    cuja finalidade primordial a entrega da tutela jurisdicional para a pacificao social, no h

    como ela ser prestada de forma efetiva sem que o processo esteja munido de meios eficazes

    destinados a servir o jurisdicionado, para que este tenha acesso ordem jurdica justa.

    Assim, para que o Estado possa atingir seu objetivo, que a entrega da tutela

    jurisdicional de forma efetiva, o processo no pode ser visto como um fim em si mesmo, mas,

    deve ser considerado como um instrumento da jurisdio que propicia ao jurisdicionado o

    acesso justia.

  • 16

    Todavia, para que o processo atingisse este ponto de evoluo, no sentido de ser

    reconhecido como um instrumento da atividade jurisdicional, passou por trs fases que so

    assim indicadas: fase sincretista, fase autonomista e fase instrumentalista, as quais sero

    discorridas nos nveis subseqentes.

    1.1.1 Fase Sincretista

    A fase sincretista ficou assim conhecida por se entender que a ao correspondia ao

    direito subjetivo que fora lesado. Os civilistas, como eram chamados os que defendiam esta

    idia, acreditavam que a ao seria um direito subjetivo da parte, tratando o processo como

    mero conjunto de formalidades.

    Segundo Dinamarco (2009, p.18),

    Tinha-se at ento a remansosa tranqilidade de uma viso plana do ordenamento jurdico, onde a ao era definida como o direito subjetivo lesado (ou: o resultado da leso ao direito subjetivo), a jurisdio como sistema de tutela aos direitos, o processo como mera sucesso de atos (procedimento); incluam a ao no sistema de exerccio dos direitos (jus quod sibi debeatur, judicio persequendi) e o processo era tido como conjunto de formas para esse exerccio, sob a conduo pouco participativa do juiz. Era o campo mais aberto, como se sabe, prevalncia do princpio dispositivo e ao da plena disponibilidade das situaes jurdico-processuais que so diretos descendentes jurdicos do liberalismo poltico ento vigorante.

    Como observado, os defensores desta teoria confundiam o direito material com o

    direito processual, posicionando-os em um mesmo plano, relegando assim s partes dispor

    acerca da relao processual.

    O Estado raramente se fazia presente na relao processual, no sentido de preocupar-

    se com um resultado justo, sendo que caberia aos litigantes utilizarem de suas prprias

    condies para provar a violao ao direito substancial, sucumbindo sempre a parte munida

    de parcas condies econmicas por ser desprovida de meios de provar suas alegaes, no

    entanto, devido a esta distncia do Estado nas relaes processuais, a teoria sincretista foi

    levada ao enfraquecimento e, por sua vez, deu incio a fase autonomista do processo.

  • 17

    1.1.2 Fase Autonomista

    A tese sincretista, segundo a qual o direito processual agregava-se ao direito

    substancial, no prosperou no momento em que surgiu no sculo XIX a proposta de

    autonomia da relao jurdica processual, pois para a teoria autonomista, a relao processual

    se distingue da relao de direito material - o que faz do processo uma cincia autnoma com

    objeto e mtodos prprios.

    Portanto, o direito processual desvincula-se do direito material e ganha contornos

    especficos, passando a ser estudado como uma ferramenta, a qual as partes se valem para

    buscar no Poder Judicirio a soluo para o direito material, objeto do litgio. Assim, ao

    contrrio do pensamento sincretista, a fase autonomista vem provocar uma inovao no

    campo processual.

    Conforme as palavras de Dinamarco (2009 p. 19),

    A primeira dessas repercusses foi a tomada de conscincia para a autonomia da relao jurdica processual, que se distingue da de direito substancial pelos seus sujeitos, seus pressupostos, seu objeto. Com a descoberta da autonomia da ao e do processo, institutos que tradicionalmente ocupavam com exclusividade a primeira linha das investigaes dos processualistas pde ser proposta desde logo a renovao dos estudos de direito processual, surgindo ele como cincia em si mesma, dotada de objeto prprio e ento esboada a definio de seu prprio mtodo.

    Com a evoluo do pensamento trazido pela fase autonomista e traando a linha que

    veio separar ento a relao de direito material com a relao de direito processual, o Estado

    juiz passa a influir e a participar efetivamente do processo, e a idia de que cabe somente aos

    jurisdicionados que esto litigando a responsabilidade pelo resultado do processo, j no

    parece ser a correta orientao.

    Apesar das partes estarem envolvidas em uma disputa acerca de quem pertence o

    direito, cabe ao Estado a garantia de que o resultado da demanda seja o mais justo possvel,

    pois, com regras e princpios prprios, o processo tende a se desenvolver com o fim de se

    obter um resultado que venha trazer a pacificao social.

    Assim, a ao passa a ser entendida como instituto de direito processual, cujo

    destinatrio o juiz com objeto prprio, que a prestao da tutela jurisdicional, sendo que

    neste momento fica estabelecida a autonomia da relao processual, bem como o carter

    abstrato do direito de ao.

  • 18

    Estabelecidas as caractersticas da relao processual como distinta da relao de

    direito material, a partir de ento se estuda qual a real funo do processo, isto , o processo

    como meio de se buscar uma resposta estatal j no pode ser visto como um fim em si

    mesmo, mas, como ferramenta da jurisdio colocada disposio das partes para soluo do

    conflito.

    A partir de ento, surge a fase do instrumentalismo, ou seja, o processo, apesar de ser

    autnomo, deve apresentar resultados satisfatrios para que a tutela jurisdicional a ser

    prestada seja a mais justa possvel.

    1.1.3 Fase Instrumentalista

    Delimitado que a relao de direito processual diferencia-se da relao de direito

    material, o estudo do direito processual voltado a precisar qual a sua real finalidade devido

    nova ordem estabelecida por meio do estado Social, no qual o Estado passa a interferir nas

    relaes sociais, indicando que no se pode ter um processo apegado s tcnicas exageradas.

    A partir de ento, o processo, passando a ser entendido como ramo autnomo, deve

    ser visto no como um fim em si mesmo, mas como instrumento da jurisdio dotado de

    meios eficazes voltados a cumprirem o que ficou estabelecido na norma de direito substancial,

    buscando a pacificao social.

    De acordo com Bedaque (2009, p.13):

    Ora, se assim , as normas devem ser atuadas corretamente. Essa a finalidade bsica da jurisdio, como funo estatal. A est a instrumentalidade que se pretende existente. Quanto mais o provimento jurisdicional se aproximar da vontade do direito substancial, mais perto se estar da verdadeira paz social. Nessa medida, no se pode aceitar que o juiz, por respeito a dogmas superados, aplique normas de direito substancial a fatos no suficientemente demonstrados.

    Logo, o processo analisado como instrumento deve ser utilizado para fins de se

    buscar o resultado almejado pela parte que se dirige ao Estado em busca de uma soluo, e

    este resultado deve corresponder o mais prximo da pretenso quando no ao prprio pedido

    deduzido perante o Estado juiz.

    Dessa forma, o processo tende cada vez mais ser estudado como instrumento eficaz

    da jurisdio no apegado exacerbadas tcnicas, antes sim, fundado no propsito de fazer

    cumprir a norma de direito substancial.

    Para Dinamarco (2009, p.22):

  • 19

    Com tudo isso, chegou o terceiro momento metodolgico do direito processual, caracterizado pela conscincia da instrumentalidade como importantssimo plo de irradiao de idias e coordenador dos diversos institutos, princpios e solues. O processualista sensvel aos grandes problemas jurdicos sociais e polticos do seu tempo e interessado em obter solues adequadas sabe que agora os conceitos inerentes sua cincia j chegaram a nveis mais que satisfatrios e no se justifica mais a clssica postura metafsica consistente nas investigaes conceituais destitudas de endereamento teleolgico.

    Assim, o direito processual, hodiernamente, diante de uma posio instrumentalista,

    busca conceber um processo com meios adequados para a efetividade da tutela jurisdicional, e

    nesta perspectiva, encontram-se os recursos como ferramentas eficazes, a fim de um processo

    com resultado mais justo possvel, pois diante de um equivocado pronunciamento judicial, o

    jurisdicionado pode buscar seu reexame.

    No mais, devido a esta viso instrumentalista em cumprimento aos princpios que

    informam o processo e, principalmente, ao princpio constitucional do acesso justia, o

    agravo de instrumento sofreu significativas alteraes pelo legislador, o que acabou nutrindo

    este recurso de efetividade, uma vez que o recurso adequado para combater as decises

    interlocutrias nos casos em que so proferidas por erro do juiz, tal como sero conferidas no

    decorrer do trabalho.

    Contudo, antes de analisar os princpios informativos do processo e do acesso

    justia, ser feita uma abordagem sobre os escopos do processo, considerando-os importantes,

    uma vez que a tutela jurisdicional, ao aplicar os preceitos da norma jurdica por meio do

    processo, alcana outros objetivos, isto , os escopos da jurisdio, os quais sero analisados

    nos tpicos seguintes.

    1.2 Escopos da Jurisdio

    Dentro da viso instrumentalista do processo, a Jurisdio deve contar com meios

    eficazes, a fim de prestar a tutela jurisdicional com seu maior objetivo, que a pacificao

    social. Alis, no se poderia conceber a atividade jurisdicional sem o correspondente

    resultado, que vem a ser a imposio ao jurisdicionado para cumprir a regra estabelecida no

    ordenamento.

    Dessa maneira, verifica-se que o processo deve alcanar seus objetivos ou, seus

    propsitos, sendo estes caracterizados como os escopos da jurisdio, pois, no h como

  • 20

    negar que o processo o meio utilizado pelo Estado para a entrega da tutela jurisdicional,

    fazendo valer a norma jurdica antes violada.

    Em suma, fazer com que a norma seja efetivamente observada e, alm de tudo,

    obedecida pelas partes do processo, vem a ser o escopo deste instrumento, sendo que dentro

    desta atuao estatal, outros importantes objetivos so alcanados pela atividade processual,

    os quais, ainda que de forma sucinta, convm trabalhar.

    1.2.1 Escopo Poltico

    O processo como instrumento da jurisdio para a entrega da tutela jurisdicional,

    alm de desempenhar seu papel de pacificao social, implementa outra importantssima

    funo no meio social que fazer com que o ordenamento jurdico se sobreponha aos

    conflitos, mantendo assim, o Poder estatal irradiando fora para impor aos jurisdicionados a

    obrigao no cumprimento das regras jurdicas e, desta forma, estabilizar as relaes sociais

    para conceber segurana sociedade.

    Essa caracterstica de manter a estabilidade social, impondo o Estado seu Poder, vem

    ao escopo poltico da jurisdio, significando, ento, que o Estado, enquanto detentor do

    poder de dizer o direito, deve impor suas decises, para que sejam efetivamente cumpridas

    pelos jurisdicionados.

    Dinamarco (2009, p. 200) expe que:

    Decidindo e impondo decises (no necessariamente em sede jurisdicional), o Estado afirma o seu prprio poder e a autoridade de que instrumentalmente investidos os seus agentes, na busca de fins predeterminados. Alm de decidir, ele impe imperativamente o que decidiu e a imunizao das decises, no sentido de que, soberanamente, no admite revises do decidido. Havendo decidido, produz efeitos imediatos sobre a situao das pessoas e em certa medida espera que cada um paute seu comportamento segundo os ditames da deciso imperativa.

    Outrossim, no que diz respeito ao escopo poltico, verifica-se outro aspecto,

    idealizado, que a manuteno das liberdades dos indivduos, para que estes no sofram

    qualquer restrio ou imposio indevida por parte do Estado e, por conseqncia, possa

    atuar, a fim de influenciar a atividade estatal.

    Isto porque no desenvolvimento do processo, as partes podem influenciar na deciso

    judicial a ser proferida, revelando o aspecto democrtico, no qual se reveste o processo por

    meio do escopo poltico.

  • 21

    Verifica-se, pois, que por meio do escopo poltico o indivduo veio a conquistar a

    liberdade de participao na tomada de decises a serem proferidas pelo Estado, enquanto

    detentor do poder de dizer o direito ao caso concreto levado a sua apreciao.

    Isto significa, inclusive, que alm de estar assegurado s partes que nenhuma leso

    ou ameaa a direito deixar de ser apreciada pelo Poder Judicirio, a de que as partes tm

    garantido o direito de influenciar na deciso Judicial.

    1.2.2 Escopo Jurdico

    O direito, enquanto conjunto de regras que rege a vida em sociedade, deve ser

    observado e obedecido pelos jurisdicionados, com o propsito de estabilizar o convvio social,

    assim, faz-se necessrio um ordenamento jurdico capaz de impor as normas de

    comportamento.

    Para Bobbio (1993, p. 23-24),

    A nossa vida se desenvolve em um conjunto de normas. Acreditamos ser livres, mas na realidade, estamos envoltos em uma rede muito espessa de regras de conduta que, desde o nascimento at a morte, dirigem nesta ou naquela direo nossas aes. [...] E por isso, um dos primeiros resultados do estudo do direito de nos tornar conscientes da importncia do normativo na nossa existncia individual e social.

    Entretanto, certo que a complexidade das relaes sociais acaba gerando conflitos

    que, por sua vez, devem ser levados a apreciao do Poder Judicirio, tendo em vista ser o

    detentor da legitimidade de dizer e aplicar o direito ao caso concreto, e possa assim faz-lo, a

    fim de que o status quo ante seja recuperado e a paz social possa pairar sobre as partes que

    outrora conflitavam.

    Assim, verifica-se que o Estado, com o fito de impor aos jurisdicionados a regra de

    conduta otimizando sua observncia, o faz mediante o processo, a fim de restabelecer a paz

    social, ou seja, o processo o vetor, o instrumento utilizado pela jurisdio para dizer o

    direito e entregar de forma efetiva a tutela jurisdicional.

    Desse modo, observa-se que no curso normal da vida, o correto seria que o indivduo

    observasse a regra de conduta e a ela declinasse obedincia, no entanto, por deixar de dar

    observncia norma, o Estado, ao ser provocado, deve agir e o faz por meio do processo.

  • 22

    Portanto, o que caracteriza o escopo jurdico da jurisdio fazer com que por meio

    do processo se d efetividade norma de direito substancial, fazendo com que ela atinja seu

    objetivo, qual seja, o de fazer com que o indivduo se submeta ao mandamento normativo.

    Dinamarco (2009, p.246), com propriedade, estabelece que:

    Excluda a integrao do sistema processual no lavor de criao das situaes jurdicas de direito material e tendo-se por demonstrado a tese dualista do ordenamento jurdico, chega-se com naturalidade ao reconhecimento de que o escopo jurdico da jurisdio no a composio das lides, ou seja, o estabelecimento da regra que disciplina e d soluo a cada uma delas em concreto; a regra do caso concreto j existia antes, perfeita e acabada, interessando agora dar-lhe efetividade, ou seja, promover a sua atuao. O escopo de atuao da vontade da lei to intimamente ligado tese dualista, que por expressivos defensores desta frmula assim construda tem sido apontada tambm como uma das caractersticas fundamentais da prpria jurisdio.

    Verifica-se, pois, que as regras de conduta erigidas pelo Estado para conduzir os

    indivduos enquanto participantes de uma sociedade, quando no observadas, fazem com que

    a atividade estatal por meio do processo conceba efetividade s regras, impondo ao cidado

    seu cumprimento na busca da pacificao social, caracterizando, assim, o escopo jurdico da

    jurisdio, isto , dar efetividade s normas que j eram prescritas, mas no foram obedecidas

    pelos jurisdicionados.

    1.2.3 Escopo Social

    Conforme disposto acima, o Estado, no exerccio do poder que lhe compete, busca

    incessantemente manter a vida em sociedade mais pacfica possvel, para tanto, estabelece

    regras que devem respeitadas pelos indivduos, a fim de alcanar o bem comum.

    Bedaque (2009, p.31) dispe que:

    Por outro lado, no se pode esquecer que, na medida em que o Estado-legislador estabelece regras de conduta, sua observncia essencial paz e a convivncia social. Ao manter a integridade do ordenamento jurdico, finalidade imediata de sua atuao, a jurisdio estar, indiretamente, proporcionando esse resultado. Em outras palavras: o objetivo do Estado o bem comum. Para alcan-lo ele desenvolve vrias atividades, todas voltadas para esse fim. Cada uma delas tem, todavia, um objetivo mais prximo. Com a atividade jurisdicional, o Estado busca, imediatamente, manter a ordem jurdica intacta.

  • 23

    A paz social, ento, acaba sendo um dos escopos, objetivos a serem alcanados pela

    atividade jurisdicional, contudo, nem sempre os indivduos se comportam conforme o

    mandamento legal, considerando os diferentes interesses acerca do bem da vida sobre o qual

    surge a controvrsia.

    Desse modo, verificado no meio social a infringncia a determinada regra de

    conduta, e por assim dizer, observado que os jurisdicionados no tiveram um comportamento

    conforme o estabelecido na regra, o Estado, como detentor do poder, provocado para que

    por meio do processo preste a tutela jurisdicional e elimine o conflito.

    No obstante, embora o Estado mantenha o monoplio no que diz respeito

    resoluo da lide, no se pode conceber a eliminao de conflitos de interesses como sendo o

    nico objetivo da atividade jurisdicional, posto que o Estado ao entregar a tutela, aplicando a

    norma ao caso concreto, deve gerar um ambiente no qual a parte que figurou no processo

    possa aceit-la e conformar-se, caso a respectiva deciso fora contrria ao interesse que

    buscava.

    Importante ressaltar que para tanto, necessrio que as partes integrantes da relao

    jurdica processual possam ter a oportunidade de efetivamente participarem do processo

    utilizando todos os meios colocados disposio para que a atividade jurisdicional profira a

    deciso mais justa possvel.

    E, ao se falar em oportunidade de utilizar todos os meios, podem-se incluir os meios

    de impugnao das decises judiciais, que so os recursos, pois, a conformidade com a

    deciso judicial s ocorrer caso possam ser exauridas todas as possibilidades de julgamento

    acerca da questo levada em juzo.

    Para Dinamarco (2009, p.190),

    O que importa, afinal, tornar inevitveis e provveis decepes em decepes difusas: apesar de descontentes as partes aceitam a deciso. Elas sabem que, exauridos os escales de julgamento, esperana alguma de soluo melhor seria humanamente realizvel; alm disso, ainda que inconscientemente, sabem tambm que necessitam da proteo do Estado e no convm tranqilidade de ningum a destruio dos mecanismos estatais de proteo mediante a sistemtica desobedincia.

    Assim, verifica-se que o jurisdicionado, obtendo a deciso proferida pelo Estado,

    acaba se curvando diante dela, mas somente aps ter exaurido todos os meios e recursos

    colocados a sua disposio para ter a certeza de que aquela deciso realmente foi a que

    refletiu a justa composio da lide.

  • 24

    No h como deixar de considerar ento, a existncia de um sentimento de

    insatisfao inerente ao ser humano e que s se busca elimin-lo por meio de uma deciso

    que, embora no seja a que se esperava, ao menos contribua para que o indivduo se conforme

    com a deciso estatal.

    Bedaque (2010, p. 34-35) faz referncia acerca do resultado que o processo deve

    propiciar s partes, pois, segundo ele,

    [...] nosso ideal tornar possvel, pelo processo, a obteno de resultado idntico, formal e substancialmente, quele resultante da atuao espontnea das regras substanciais. Para solucionar as controvrsias decorrentes da no-observncia das normas de direito material, desenvolveu-se um mtodo de trabalho, segundo tcnicas que a experincia revelou adequadas. Esse mecanismo dirigido por um agente estatal o juiz investido do poder de impor coercitivamente a observncia daquelas normas no cumpridas espontaneamente. Dele tambm participam, em absoluta igualdade de condies, os integrantes da relao substancial litigiosa e cuja esfera jurdica ser atingida pela soluo apresentada pelo julgador. So as partes. Procura-se assegurar o desenvolvimento ordenado desse instrumento de que se vale a jurisdio para exercer sua atividade e cumprir seu dever, dotando-o de meios aptos defesa dos interesses das partes, s quais deve ser assegurada a possibilidade de participar e de influir no resultado. Confere-se ao juiz o poder de conduzir os trabalhos, segundo regras previamente estabelecidas. A esse fenmeno denomina-se `processo jurisdicional, instrumento concebido pelo Estado, que dele se vale para, juntamente com as partes, obter o resultado prtico desejado pelo legislador material.

    Outro ponto importante que surge na medida em que o Estado exerce a atividade

    jurisdicional e que est ligado ao escopo social da jurisdio, diz respeito conscientizao

    gerada no meio social de que os indivduos devem cumprir seus direitos e obrigaes, a fim

    de manter a harmonia no convvio social.

    Logo, nos casos em que a atividade jurisdicional vem impor ao indivduo o

    cumprimento de determinada regra que por ele no foi observada, demonstra sociedade que

    est zelando pelos direitos e, dessa forma, demonstra que o cidado deve confiar no Poder

    Judicirio e consequentemente nas suas decises.

    Este vem a ser o critrio de educao intrnseco ao escopo social da atividade

    jurisdicional, ou seja, passar ao jurisdicionado a confiana necessria, para que nos casos em

    que seu direito for violado, possa socorrer-se da jurisdio, certo de que lhe ser ofertada a

    soluo mais justa possvel.

    Nesse sentido, Dinamarco (2009, p. 191-192) diz que:

  • 25

    Outra misso que o exerccio continuado e eficiente da jurisdio deve levar o Estado a cumprir perante a sociedade a de conscientizar os membros desta para direito e obrigaes. Na medida em que a populao confie em seu Poder Judicirio, cada um dos seus membros tende a ser sempre mais zeloso dos prprios direitos e se sente mais responsvel pela observncia dos alheios. Em uma sociedade assim mais educada e confiante, ao cnico `v buscar seus direitos que entre ns o devedor inadimplente e mal-intencionado lana sobre o seu credor, corresponde o ameaador I sue you, com que o titular de direito dissuade o obrigado quanto a possveis resistncias injustas.

    Ao Poder Judicirio cabe, ento, o papel de estabelecer um liame de confiana para

    com o indivduo, isto porque, numa sociedade onde permeia o sentimento de impunidade,

    cria-se no jurisdicionado um sentimento de que de nada adiantar levar a causa a ser apreciada

    pelo Judicirio.

    Tal obstculo s superado nos casos em que o Estado, alm de facilitar o acesso ao

    Judicirio, permite que o cidado possa efetivamente participar do processo, atuando de forma

    a utilizar todos os meios e ferramentas processuais para influenciar a deciso a ser proferida,

    para que a tutela jurisdicional a ser entregue, venha a ser a mais justa possvel.

    Em suma, verifica-se que um dos objetivos do escopo social, segundo Dinamarco,

    a educao atravs do adequado exerccio da jurisdio, muito embora o objetivo principal

    do processo seja a pacificao social.

    Alm desta caracterstica que se faz presente no exerccio da jurisdio, qual seja, a

    educao por meio do exerccio da atividade jurisdicional, outro objetivo verificado no

    ambiente do escopo social a ser alcanado com o processo a eliminao do exagerado

    formalismo que pode influenciar na atividade jurisdicional a ponto de impedir que no atinja

    sua finalidade de entregar de forma justa a tutela jurisdicional.

    Isso porque, o processo como instrumento deve ser utilizado para que a atividade

    jurisdicional possa se desenvolver de forma a resolver a lide em tempo razovel e com justia,

    no entanto, as garantias que contornam o processo devem ser observadas para que no se

    verifique abusos e o processo possa alcanar seu escopo social.

    Bedaque (2009, p. 25) explica que:

    Prope-se ampliar essa viso dos bices processuais, para incluir a questo da tcnica processual, cuja complexidade, incorreta compreenso e m aplicao tm contribudo decisivamente para o insucesso do instrumento. Por isso, a maior colaborao do processualista para eliminar ou pelo menos abrandar o problema buscar formulas destinadas a simplificar o processo, eliminando os bices que a tcnica possa apresentar ao normal desenvolvimento da relao processual.

  • 26

    Deve, todavia, faz-lo com extremo cuidado, para no comprometer alguns valores essenciais segurana proporcionada pelo processo. A forma na medida certa fator de garantia. A ausncia dela enseja abusos, normalmente por parte dos mais fortes. O formalismo exagerado, todavia, sinnimo de burocracia, escudo utilizado pelos covardes e preguiosos para esconder-se.

    Por outro lado, se o excesso de formalismo torna-se, sem dvida, obstculo ao bom

    desenvolvimento do processo, contudo, como bem colocado por este processualista, no se

    pode deixar de observar as regras e princpios processuais que iro garantir um resultado mais

    justo demanda, fazendo com que o processo saia do plano do direito e passe ao plano da

    sociedade (DINAMARCO, 2009).

    Desta forma, em virtude do processo ser um instrumento da jurisdio para a

    pacificao social e justa, ele alcana sua finalidade nos casos em que as partes possam ter

    uma participao efetiva, oportunizando a elas atuar de forma a influenciar a atividade

    jurisdicional.

    Finalizando este tpico, conclui-se que os recursos so importantes instrumentos que

    corroboram para que os escopos possam ser atingidos, e dentre os quais est o agravo de

    instrumento, uma vez que diante de uma deciso interlocutria erroneamente proferida, na

    qual se verifique urgncia, o jurisdicionado pautado pelo escopo poltico busca sua reforma

    influenciando na deciso por meio deste recurso.

    O escopo jurdico tambm alcanado mediante o agravo de instrumento, uma vez

    que caso se verifique uma deciso interlocutria que vai de encontro ao que est estabelecido

    na norma jurdica, o jurisdicionado pode reform-la por meio deste recurso, fazendo

    prevalecer o mandamento normativo.

    Por fim, verificou-se que o escopo social tambm atingido, pois, o jurisdicionado

    poder conformar-se com a deciso interlocutria nos casos em que lhe foi dada a

    oportunidade de recorrer ao tribunal, tendo em vista estar disponvel um adequado meio de

    impugnao.

    1.3 Princpios Informativos e Fundamentais do Processo

    O direito processual, conforme debatido acima, assume postura autnoma frente ao

    direito material, servindo como instrumento da jurisdio para alcanar seu maior objetivo,

    qual seja, a pacificao social e, como cincia autnoma, no poderia deixar de estar

    amparado por princpios que so de suma importncia e que servem de diretriz para melhoria

  • 27

    da atividade processual ou para a elaborao e interpretao das regras processuais, sendo eles

    denominados de princpios informativos e fundamentais do processo.

    1.3.1 Princpios Informativos

    1.3.1.1 Princpio Lgico

    O processo constitui-se de um conjunto de atos coordenados, de forma a estabelecer

    um caminho a ser seguido pelas partes, a fim de que o Estado juiz venha a proferir uma

    deciso que estabelea a quem cabe o bem da vida em disputa, sendo que estes atos devem

    estar relacionados entre si, para que no ocorra qualquer forma de tumulto processual e

    prejudicial ao bom desenvolvimento da atividade jurisdicional.

    Assim, o princpio lgico estabelece coerncia no andamento do processo,

    determinando quais atos devem preceder ou suceder os outros. Nos dizeres de Portanova

    (1999, p. 21), o princpio lgico preocupa-se mais com uma adequada liturgia do processo.

    Em verdade, uma preocupao metodolgica, portando interessa forma de dirigir a

    investigao da verdade no processo.

    1.3.1.2 Princpio Econmico

    O processo, para atingir sua finalidade de pacificar com justia, deve servir ao

    jurisdicionado, a fim de que seja empreendido o mnimo de sacrifcio no que diz respeito ao

    tempo e dinheiro, buscando, por sua vez, o mximo de efetividade. Nery Jnior (1990, p.

    120), sobre o princpio econmico informa que se deve obter o mximo do processo com o

    mnimo dispndio de tempo e atividade, observadas, sempre, as garantias da partes e as regras

    procedimentais e legais que regem o processo civil.

    A atividade jurisdicional desenvolvida por meio do processo, por ser a forma pela

    qual o Estado poder restabelecer a paz social, deve, respeitando o direito das partes de obter

    uma soluo justa para o caso em concreto, implementar mecanismos pelos quais a soluo da

    causa no leve tanto tempo, pois poderia gerar s partes um sentimento de ineficcia da tutela

    jurisdicional, como exemplo, o artigo 273 do Cdigo de Processo Civil, que trata sobre o

    instituto da Antecipao de Tutela, que para Portanova (1999, p.29),

  • 28

    As alteraes do Cdigo de Processo Civil no fim de 1994 buscaram dar mais economia ao processo. De tantas mudanas, cabe ressaltar a nova redao do art. 273 do CPC. Agora, juiz pode, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequvoca, se convena da verossimilhana da alegao e preencha os demais requisitos alinhados em seus incisos e pargrafos. O dispositivo deve ser elogiado, tanto pelo fato de ligar o princpio da economia com a instrumentalidade do processo, como pelo fato de prever formulaes econmicas de forma geral e no em leis especialssimas e direcionadas a determinados interesses especficos

    Observa-se, ento, que por meio do princpio econmico o processo deve atingir seu

    objetivo de pacificar com justia, em um tempo razovel, a fim de que o jurisdicionado ao

    buscar a tutela jurisdicional possa obt-la em momento oportuno, no prejudicando o bem da

    vida perseguido no decorrer do processo.

    1.3.1.3 Princpio Poltico

    O que o jurisdicionado espera do Poder judicirio so que as decises proferidas

    durante o processo e, ao final, a sentena, sejam decises mais justas possveis. Para tanto, o

    processo cinge-se de um contedo poltico pautado numa espcie de democracia processual,

    que significa dar oportunidade ao cidado de participar do processo, buscando proteger seus

    direitos e garantias.

    O princpio poltico traz a idia de participao livre no processo. Com isso, no se

    pode negar, tambm, que esteja intimamente ligado ao princpio do livre acesso ao Judicirio,

    uma vez que por entre o princpio poltico, o cidado passou a ter uma posio participativa

    junto ao Poder judicirio, o que demonstra que este princpio, como j descrito acima, traz em

    si o esprito da democracia.

    Portanova (1999, p. 31), com grande propriedade, diz que:

    Em suma, a abertura que o processo d para que o cidado tenha meios processuais de atuar no centro do decisrio do Estado, pondo em questo e vendo discutida e decidida sua pretenso. Com efeito, em contraponto ao Estado centralizador das concepes individualistas, vive-se o enfoque de uma democracia participativa.

    O que se quer na verdade, impedir que o excesso de formalismo prejudique o

    desenvolvimento da atividade jurisdicional, criando, assim, um obstculo primordial

    finalidade de pacificar com justia.

  • 29

    1.3.1.4 Princpio Jurdico

    Como princpio jurdico, entende-se a possibilidade das partes serem tratadas no

    processo em situao de igualdade, sendo que esta igualdade no significa uma mera

    igualdade formal estabelecida na lei, mas o que se deve pr em prtica no processo civil a

    busca da igualdade substancial.

    Para Cintra, Grinover e Dinamarco (2000, p. 54),

    A aparente quebra do princpio da isonomia, dentro e fora do processo, obedece exatamente ao princpio da igualdade real e proporcional, que impe tratamento desigual aos desiguais, justamente para que, supridas as diferenas, se atinja a igualdade substancial

    No processo civil, especificamente, tem-se que o princpio da isonomia deve ser

    observado, a fim de que a tutela jurisdicional a ser entregue por meio de uma deciso seja a

    mais justa possvel, e isto s poder ser alcanado no tratamento igualitrio das partes

    litigantes, onde ambas possam participar efetivamente com liberdade para influenciar a

    deciso a ser proferida incidentalmente ou, no final, por meio da sentena judicial.

    Nesse sentido, Portanova (1999, p.41):

    Havendo desigualdade material e concreta entre as partes em litgio e o desconhecimento que um deles (ou seu advogado) pode ter de seus direitos, ser necessrio promover a igualizao. S assim se garante, nos exatos termos constitucionais, a perfeita integrao do princpio do contraditrio, do direito de ao e de ampla defesa

    Anselmo e Siqueira (2010, p. 84), ao mencionarem o princpio da isonomia, fazem as

    seguintes consideraes:

    A isonomia deve ser observada desde a edio da lei, em detrimento de apenas nivelar os cidados no momento posterior, diante da norma posta. dizer, esse preceito magno voltado tanto para o aplicador da lei como para o prprio legislador. Entretando, preciso atingir maior preciso nessa anlise, pois a igualdade no absoluta, j que as pessoas no so todas absolutamente iguais entre si. aqui que se fala em igualdade formal (perante a lei) e igualdade material (no plano ftico, de forma efetiva)

    Dessa forma, o processo como instrumento da jurisdio para a soluo dos conflitos

    sociais deve estabelecer a igualdade entre as partes, mas como j delineado acima, no se

  • 30

    deve buscar a igualdade formal, mas a igualdade material, isto , aquela que colocar as partes

    no mesmo patamar de tratamento, perante o Poder Judicirio.

    1.3.1.5 O Princpio Instrumental

    Como j oportunamente discutido acima, o processo, atualmente, tende a propiciar s

    partes um resultado mais justo da atividade jurisdicional, uma vez que busca atingir seus

    escopos jurdicos, polticos e sociais; e a viso, na qual o processo procurava atender a

    interesses individuais, no h mais como permanecer - caso em que passa a ser um

    instrumento da jurisdio, a fim de que se viabilize a pacificao social.

    Na viso de Portanova (1999, p. 51):

    Enfim, atravs do princpio informativo da instrumentalidade, o processo civil brasileiro assume definitivamente sua face publicstica, que o aproxima mais do sistema processual anglo saxo do que de suas fontes europias. No Brasil, temos instrumental constitucional suficiente para abrir as portas do processo para proteger o cidado das omisses e aes ilegtimas dos maus governantes. Podemos fazer afirmar-se o Estado juiz em sua independncia, fazendo do juiz um agente interessado na plena, breve e efetiva soluo do litgio.

    Dessa maneira, a instrumentalidade do processo, como princpio a ser observado,

    caminho para o acesso justia, tendo em vista que o processo passa a desenvolver-se com

    uma viso no mais individualista, mas uma viso social, procurando, respeitadas todas as

    garantias constitucionais do contraditrio e ampla defesa, obter sempre o resultado mais justo

    possvel.

    Concluindo, em razo destes princpios estarem classificados como informativos do

    processo, eles, por sua vez, relacionam-se com o recurso de agravo de instrumento, pois, o

    Cdigo de Processo Civil, ao disciplinar este recurso indicando as hipteses em que ele pode

    ser interposto, bem como a forma de sua interposio, sofre influncia do princpio lgico.

    Verifica-se a influncia do princpio econmico nos casos do efeito antecipativo e suspensivo

    que, como ser visto adiante, dizem respeito ao recurso de agravo de instrumento.

    Em virtude de o jurisdicionado, por meio do recurso de agravo de instrumento, poder

    atuar influenciando na deciso interlocutria proferida por erro, faz surgir o princpio poltico.

    Por sua vez, verifica-se a influncia do princpio jurdico, quando diante de uma deciso

    interlocutria que venha a prejudicar a posio de uma das partes, esta pode se socorrer do

    agravo de instrumento para devolver o equilbrio processual.

  • 31

    E, por fim, em razo de o princpio instrumental informar que o processo deve

    proporcionar ao jurisdicionado um resultado mais justo possvel, ocorrendo uma deciso

    interlocutria que proferida por erro e que possa prejudicar o bom resultado da demanda, o

    agravo de instrumento aparece como adequado meio de impugnao, a fim de promover a

    reforma e, assim, proporcionar um resultado justo ao processo.

    1.3.2 Princpios Fundamentais do Processo

    Tratou-se acima dos princpios informativos, indicando sua importncia para o

    desenvolvimento do processo, o seu reconhecimento, atualmente, como uma cincia

    autnoma e compreendido como um instrumento do Estado para a entrega da tutela

    jurisdicional. Assim, os princpios informativos funcionam como normas, que ao serem

    aplicadas, podem resultar em melhorias na atividade processual (CINTRA; GRINOVER e

    DINAMARCO, 2000).

    Por sua vez, os princpios fundamentais apresentam-se como institutos que devem

    ser observados nos sistemas processuais, e, como no poderia ser diferente, tambm

    influenciam o processo civil brasileiro, porm, no s o processo, como tambm, auxiliam no

    momento de se realizar uma interpretao das regras, alm de servirem como orientao

    atividade legislativa, dentre os quais possvel citar os princpios do dispositivo, da demanda,

    da oralidade, da imediatidade, da identidade fsica do juiz, da concentrao, do livre

    convencimento e do contraditrio (SILVA, 2002).

    No que diz respeito ao sistema recursal encontram-se os princpios fundamentais dos

    recursos cveis, sendo o princpio do duplo grau de jurisdio, da taxatividade, da

    singularidade, da fungibilidade, da dialeticidade, da voluntariedade, da irrecorribilidade das

    interlocutrias, da complementaridade, da proibio da reformatio in pejus e da consumao

    (NERY JNIOR, 1990).

    Discorrendo acerca dos princpios fundamentais do processo, Cintra, Grinover e

    Dinamarco (2000, p. 50) fazem as seguintes consideraes:

    Considerando os escopos sociais e polticos do processo e do direito em geral, alm do seu compromisso com a moral e a tica, atribui-se extraordinria relevncia a certos princpios que no se prendem tcnica ou dogmtica jurdicas - trazendo em si serissimas conotaes ticas, sociais e polticas, valendo como algo externo ao sistema processual e servindo-lhe de sustentculo legitimador.

  • 32

    Para Silva (2002, p. 46),

    A doutrina processual costuma indicar princpios formadores do direito processual que, com maior ou menor intensidade, ocorrem em todos os sistemas legislativos e servem para auxiliar na classificao e avaliao de cada um deles, indicando-nos os respectivos pressupostos doutrinrios em que eles se aliceram e suas tendncias mais marcantes.

    Traando um paralelo entre os princpios informativos e os princpios fundamentais

    do processo, Nery Junior (1990, p. 120-121) faz as seguintes consideraes:

    Os informativos so considerados quase que como axiomas, pois prescindem de maiores indagaes e no necessitam ser demonstrados. No se baseiam em outros critrios que no os estritamente tcnicos e lgicos, no possuindo praticamente nenhum contedo ideolgico. J os princpios fundamentais so aqueles sobre os quais o sistema jurdico pode fazer opo, considerando aspectos polticos e ideolgicos. Por essa razo, admitem que em contrrio se oponham outros, de contedo diverso, dependendo do alvedrio do sistema que os est adotando.

    Contudo, apesar da notria importncia que estes princpios exercem no processo,

    no a inteno discorrer acerca de todos eles, mas, daqueles que servem como alicerce para

    o sistema recursal, relacionando-os com o recurso de agravo de instrumento, onde sero

    estudados no segundo captulo deste trabalho, no mbito da teoria geral dos recursos.

    Assim, de todo o exposto acima, conclu-se que o processo como instrumento da

    jurisdio, envolto aos princpios, serve para que a tutela jurisdicional a ser entregue seja a

    mais justa possvel, onde os recursos, entre eles o agravo de instrumento, surgem como

    importante ferramenta dentro da atividade processual, a fim de que o acesso justia seja

    viabilizado nas decises proferidas.

    1.4 Direito Constitucional Processual

    O processo o instrumento pelo qual o Estado se utiliza, como detentor do poder,

    para resolver os conflitos de interesses surgidos no meio social e restabelecer a ordem, em

    razo da inobservncia do ordenamento jurdico pelos indivduos e, como instrumento da

    jurisdio, deve estar cercado de meios eficazes para a obteno de um resultado justo.

    Por sua vez, o direito processual est vinculado diretamente ao direito constitucional,

    tendo em vista as normas constitucionais que influenciam este ramo do direito. Da falar em

  • 33

    direito constitucional processual, que segundo os precisos comentrios de Nery Jnior (2010

    p. 40),

    [...] j foram feitas observaes agudas sobre o tema da subordinao do direito processual civil Constituio, provocadas pela aproximao do processo civil com o processo penal e pelo crescente autoritarismo empreendido pelo poder pblico no mundo inteiro, principalmente na primeira metade do sculo XX, ao querer impor solues administrativas ditatoriais por meio do processo civil. A essa onda de autoritarismo houve reao natural da doutrina, que no chegou, contudo, a representar um marco definitivo no predomnio da tese da vinculao do direito processual Constituio. Por isso que era muito comum, pelo menos at h bem pouco tempo, interpretar-se e aplicar-se determinado ramo do direito tendo-se em conta apenas a lei ordinria principal que o regulamentava. Assim o civilista via no Cdigo Civil a nica norma que deveria ser consultada na soluo de problemas naquela rea, o mesmo ocorrendo com o processualista (civil, penal e trabalhista), com o penalista com o comercialista.

    Outrossim, o referido autor faz as seguintes consideraes acerca desta relao do

    direito processual com o direito constitucional:

    Naturalmente, o direito processual se compe de um sistema uniforme, que lhe d homogeneidade, de sorte a facilitar sua compreenso e aplicao para a soluo das ameaas e leses a direito. Mesmo que se reconhea essa unidade processual, comum dizer-se didaticamente que existe um direito constitucional processual, para significar o conjunto das normas de direito processual que se encontra na Constituio Federal, ao lado de um direito processual constitucional, que seria a reunio dos princpios para o fim de regular a denominada jurisdio constitucional. No se trata, portanto, de ramos novos do direito processual. Exemplos de normas de direito constitucional processual podemos encontrar na CF art. 5. XXXV. 8 III etc. De outra parte, so institutos de direito processual constitucional o mandado de segurana, o habeas data, a ao direta de inconstitucionalidade etc. (NERY JUNIOR, 2010, p. 41)

    Verifica-se, ento, que as normas e princpios constitucionais, hoje, devem

    necessariamente ser observados, pois, sua eficcia abrange todos os ramos do direito, no

    sendo diferente com o direito processual, que tambm sofre influncia destes preceitos.

    Segundo Franz (2011, p. 372),

    a funo jurisdicional no pode estar afeta a preceitos de ordem privada (circunscrita apenas ao autor, juiz e ru), mas, sim, em relao ao direito pblico, tendo suas linhas fundamentais delineadas no direito constitucional, pois, determina a estrutura dos rgos jurisdicionais, garantindo a

  • 34

    distribuio da justia, bem como do direito objetivo, ao estabelecer alguns princpios processuais

    Contudo, o jurisdicionado, como parte da relao jurdica processual, deve

    efetivamente participar do processo para que a tutela jurisdicional a ser entregue possa ser a

    mais justa possvel, uma vez que, como delineado acima, a finalidade principal do Estado a

    pacificao social.

    Dessa forma, o processo, atendendo o princpio poltico estudado no tpico anterior,

    deve favorecer uma efetiva participao da parte (autor ou ru), a fim de influenciar a deciso

    judicial a ser tomada, tanto definitivamente como durante o curso do processo em primeira

    instncia.

    No que diz respeito aos recursos, encontra-se suporte no texto constitucional, onde

    no artigo 5, inciso LV da Constituio Federal, depara-se com o preceito de que aos

    litigantes, em processo judicial e administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o

    contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes

    Para tanto, atualmente, o direito processual passou a ser estudado sob uma

    perspectiva constitucional, visto que a Constituio que fornece os princpios pelos quais o

    processo deve submeter-se, conforme o ensinamento de Didier (2008, p.27):

    Vive-se atualmente, uma fase de renovao do estudo do Direito Constitucional. H diversas manifestaes disso: a) parte-se da premissa de que a Constituio tem fora normativa e, por conseqncia, tambm tm fora normativa os princpios e os enunciados relacionados aos direitos fundamentais; b) pela expanso da jurisdio constitucional (controle de constitucionalidade difuso e concentrado como o caso do Brasil); c) desenvolvimento de uma nova hermenutica constitucional (com a valorizao dos princpios e o desenvolvimento dos princpios da proporcionalidade e razoabilidade). A essa fase deu-se o nome de Neoconstitucionalismo ou ps-positivismo.

    Partindo desta viso denominada de Neoconstitucionalismo, o processo passa a

    sofrer forte influncia dos princpios constitucionais, entre eles, o princpio do acesso

    justia. Nesse sentido, Didier (2008, p. 27) afirma que,

    [...] o estudo do Direito Processual sofreu a influncia desta renovao do pensamento jurdico. O processo volta a ser estudado a partir de uma perspectiva constitucional (o que no novidade), mas agora seguindo esse novo repertrio, que exige dos sujeitos processuais uma preparao tcnica que lhes permita operar com clusulas gerais, princpio da proporcionalidade, controle difuso de constitucionalidade de uma lei etc. J se fala neste contexto, de um Neoprocessualismo: o estudo e aplicao do

  • 35

    Direito Processual de acordo com essa nova proposta do pensamento jurdico. J h significativa bibliografia nacional sobre o tema.

    Dentro desta viso constitucional do processo, verifica-se o princpio do acesso

    justia, descrito no artigo 5, inciso XXXV, da Constituio Federal, que impe ao Estado o

    dever de entregar a tutela jurisdicional de forma plena, no s nos processos que tramitam em

    primeiro grau, mas tambm no mbito recursal.

    1.4.1 O Acesso Justia

    Importante salientar que o acesso justia est positivado no texto constitucional,

    pois, o artigo 5, inciso XXXV, da Constituio Federal, estabelece que a lei no excluir da

    apreciao do Poder judicirio leso ou ameaa a direito e, assim, temos a garantia ao cidado

    de invocar a prestao da tutela jurisdicional, bem como a ordem jurdica efetiva e justa.

    Brando e Martins (2006 p. 09) apud Mattos (2009, p.69) destacam que:

    O princpio constitucional do acesso justia est positivado na ordem constitucional brasileira em alguns dispositivos constitucionais e infraconstitucionais. O mais importante deles est previsto no artigo 5, XXXV, da Constituio da Repblica, que estabelece: a lei no excluir da apreciao do poder Judicirio leso o ameaa a direito. Embora aparea aqui somente parcela do acesso justia, por se tratar de disposio que aparentemente cuida do acesso ao Poder Judicirio, no se pode descurar que este compe parte significativa daquela.

    Em suma, verifica-se que o princpio do acesso justia no significa apenas acesso

    ao Poder Judicirio, mas, direito do jurisdicionado em participar do processo, a fim de que lhe

    sejam assegurados todos os direitos e garantias processuais para que a tutela jurisdicional

    venha a ser a mais justa possvel.

    O processo, por sua vez, ao ganhar o atributo de instrumentalidade no sentido de

    oferecer a tutela jurisdicional efetiva, tempestiva e justa por meio de um processo dotado de

    mecanismos eficazes, acaba cumprindo com sua finalidade de pacificao social.

    Cianci (2009, p. 03) diz que:

    O processo, na sua moderna verso instrumental, deve, portanto, caminhar ao lado dos direitos substantivos consagrados, armados a favor das diversas categorias, servindo-se de tcnicas adequadas e condizentes com a prestao da tutela jurisdicional, resultando da que a relativizao do acesso justia

  • 36

    torna ao mesmo tempo o princpio absoluto, na conta de que sua otimizao proporciona a verdadeira justia a que todos tm direito.

    Cappelleti e Garth (1988, p.08) estabelecem o que significa o efetivo acesso justia,

    conforme verifica-se nos seguintes termos:

    A expresso acesso justia reconhecidamente de difcil definio, mas serve para determinar duas finalidades bsicas do sistema jurdico o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litgios sob os auspcios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessvel a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos.

    Observa-se, ento, que o termo acesso justia reflete a real possibilidade da pessoa

    socorrer-se do poder do Estado para a resoluo de determinada demanda, porm, como visto

    acima, no basta que haja facilidade de se propor uma ao, tal como a criao da assistncia

    judiciria gratuita ou o implemento das defensorias pblicas.

    Alm de o Estado disponibilizar aos cidados meios de chegar s portas do judicirio

    e dar liberdade a ele de participar efetivamente do processo podendo influir na deciso a ser

    proferida, necessria a efetiva participao das partes no processo, viabilizando ao juiz o

    conhecimento de todos os argumentos por elas trazidos.

    Cintra, Grinover e Dinamarco (2000, p.33) lecionam que:

    Seja nos casos de controle jurisdicional indispensvel, seja quando simplesmente uma pretenso deixou de ser satisfeita por quem podia satisfaz-la, a pretenso trazida pela parte ao processo clama por uma soluo que faa justia a ambos os participantes do conflito e do processo. Por isso que se diz que o processo deve ser manipulado de modo a propiciar s partes o acesso justia, o qual se resolve, na expresso muito feliz da doutrina brasileira recente, em acesso ordem jurdica justa. Acesso justia no se identifica, pois, com a mera admisso ao processo ou possibilidade de ingresso em juzo. Como se ver no texto para que haja o efetivo acesso justia indispensvel que o maior nmero possvel de pessoas seja admitido a demandar e a defender-se adequadamente (inclusive em processo criminal), sendo tambm condenveis as restries quanto a determinadas causas (pequeno valor, interesses difusos); mas para a integralidade do acesso justia, preciso isso e muito mais.

    O acesso justia, ento, ultrapassa o mero entendimento, qual seja, a possibilidade

    do indivduo levar sua pretenso ao judicirio para que este rgo, dotado de Poder,

    estabelea a quem cabe o bem da vida em disputa, pois, para que este princpio seja cumprido,

  • 37

    a tutela jurisdicional a ser entregue deve estar precedida de um processo onde as partes

    puderam utilizar de meios eficazes para a obteno de um resultado justo.

    Em razo de sua importncia, o tema ganhou evidncia na Conveno Americana

    sobre Direitos Humanos Pacto de So Jos da Costa Rica que ao tratar das garantias

    judiciais para se implementar um processo justo, estabeleceu, em seu artigo 8, o seguinte:

    1. Toda pessoa tem direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razovel, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apurao de qualquer acusao penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos e obrigaes de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer natureza. 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocncia enquanto no se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, s seguintes garantias mnimas: a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou intrprete, se no compreender ou no falar o idioma do juzo ou tribunal; b) comunicao prvia e pormenorizada ao acusado da acusao formulada; c) concesso ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparao de sua defesa; d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livre e em particular, com seu defensor; e) direito irrenuncivel de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou no, segundo a legislao interna, se o acusado no se defender ele prprio ou no nomear defensor dentro do prazo estabelecido em lei; f) direito de a defesa inquirir as testemunhas presentes no tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lanar luz sobre o fato; g) direito de no ser obrigado a depor contra si mesmo, nem a declarar-se culpado; h) direito de recorrer da sentena para o juiz ou tribunal superior. 3) A confisso do acusado somente vlida se feita sem coao de nenhuma natureza. 4) O acusado absolvido por sentena passada em julgado no poder ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos. 5) O processo penal deve ser pblico, salvo no que for necessrio para preservar os interesses da justia.

    Observa-se, ento, que todas estas garantias judiciais firmadas na respectiva

    conveno estabelecem que a tutela jurisdicional a ser desenvolvida por meio do processo

    deve ser prestada para obter justia nas decises a serem proferidas, com o objetivo de se

    cumprir com o postulado do acesso justia.

  • 38

    No mesmo sentido, a Declarao Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela

    Assemblia Geral das Naes Unidas, em 1948, menciona, em seu artigo 10, a garantia de

    tratamento igualitrio perante o Poder Judicirio, seno veja-se:

    Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a que sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigaes ou das razes de qualquer acusao em matria penal que contra ela seja deduzida.

    Apesar de ambos os estatutos tratarem preponderantemente de matria ligada ao

    processo penal, essas garantias judiciais certamente acabam abrangendo tambm o processo

    civil, tendo em vista a riqueza de princpios que servem no somente ao processo penal, mas

    tambm, ao processo civil.

    Por sua vez, a Constituio Federal de 1988, como j aludido, estabelece o princpio

    do acesso justia como ligado ao direito fundamental do jurisdicionado em obter uma

    deciso judicial que seja a mais justa possvel e em tempo razovel.

    Esta vem sendo a incessante batalha que se verifica quando do desenvolvimento da

    atividade jurisdicional, qual seja, aliar a prestao jurisdicional no sentido de se obter uma

    deciso justa, respeitando, portanto, todos os princpios norteadores do processo, num tempo

    razovel, de modo a no despertar nas partes o descrdito pelo Poder judicirio.

    Um dos fatores que vem de encontro prejudicando a durao razovel do processo

    a morosidade que, de certa forma, um fator complicador para as partes litigantes em

    processo judicial, pois, vem influenciar na tempestividade, que um dos fundamentos para se

    viabilizar o acesso justia.

    Batista (2010, p. 65) menciona que:

    A morosidade processual brasileira oportunamente, diante daqueles que no obtm uma prestao jurisdicional clere, um problema que os afeta, culminado em niilismo. So os cidados e as partes as que j protocolizaram pedido que conhecem as vrias leses que no so apenas materiais; portanto, refletem subjetiva e objetivamente na sociedade. Essas leses so to profundas que, ao receberem a prestao jurisdicional pleiteada, o direito reconhecido ou pedido deixa de ter relevncia para as partes. Isso acontece muito na realidade prtica processual, com mais nfase na cvel. esse o paradigma que cerca os que no conseguem acessar a justia.

    Este um ponto muito delicado e se for no trabalhado de forma a eliminar os

    entraves processuais que levam o processo a caminhar de forma lenta, pode gerar no

  • 39

    jurisdicionado o descrdito da tutela jurisdicional, mitigando o acesso justia. Contudo, de

    nada adianta ter celeridade no andamento do processo e correr o risco de obter uma deciso

    injusta, gerando efeitos danosos na sociedade e que levar depreciao do judicirio.

    No entanto, verifica-se que no momento em que o processo passou a ser tratado

    como um instrumento da jurisdio, foram criados, pelo legislador, meios adequados para que

    a tutela jurisdicional seja prestada da forma mais justa possvel, inclusive na fase recursal,

    atendendo o princpio do acesso justia.

    1.4.1.2 O Acesso Justia no Plano Recursal

    Como o processo o meio pelo qual a tutela jurisdicional entregue, torna-se um

    ambiente em que as partes trazem suas alegaes, a fim de que sejam analisadas e, ao final,

    seja decidido a quem cabe o bem da vida. Todavia, at chegar a uma deciso final acerca do

    litgio, o processo atravessa todo um curso onde o juiz acaba proferindo decises que podem

    causar prejuzo s partes.

    Dessa forma, importante a existncia de um sistema recursal, conforme preceito do

    artigo 5, inciso LV, da Constituio Federal, para que o acesso justia seja realizado, uma

    vez que diante de uma deciso injusta, a parte, valendo-se do recurso apropriado, busca no

    tribunal respectivo reforma da deciso, pois segundo Nery Junior (1990, p. 39) existe uma

    correlao entre pronunciamento judicial e recurso de modo que a cada ato judicial

    corresponde um determinado recurso.

    Neste sentido Franz (2011, p.30) faz as seguintes consideraes:

    Com o transcorrer da relao processual, o juiz pratica uma srie de pronunciamentos at que a tutela jurisdicional seja entregue definitivamente. Porm, todo o pronunciamento com contedo decisrio suficiente para causar prejuzo em regra - , deve possuir um recurso correspondente (princpio da correspondncia).

    Em razo disso, verifica-se que o processo, atualmente, vem sendo remodelado, com

    o fito de ser um instrumento da jurisdio hbil a produzir decises justas, mas no somente

    as decises finais, mas tambm as decises interlocutrias,