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O aluno da EJA é caracterizado como oriundo das classes menos favorecidas da sociedade e que por motivos diversos, não concluiu seus estudos na escola regular. Não podemos deixar de ressaltar, no âmbito desta caracterização, que na grande maioria dos casos, a passagem do jovem e/ou adulto pela escola regular constituiu-se um processo sem êxito e que culminou na exclusão do mesmo do sistema regular de ensino. Pela vontade pessoal ou pela necessidade de se adequar às exigências do mercado de trabalho, o aluno acaba retornando à escola com o objetivo de obter qualificação ou aprender o que antes não lhe foi possível pela escola regular (BRASIL, 2008). A Educação de Jovens e Adultos funciona atualmente em escolas públicas e particulares em várias cidades do Brasil, por meio dos supletivos. Além deste, foram criados outros programas voltados para a EJA como, por exemplo, o PROJOVEM URBANO foco deste projeto de pesquisa. Sendo assim, este estudo busca analisar os processos de ensino aprendizagem, no âmbito inclusivo destes sujeitos, principalmente no que se refere ao conteúdo integrado e interdisciplinar aplicado pelos professores. No que diz respeito à problemática levantada, o que aqui se pretende é expor os processos de ensino de aulas diferenciadas, por meio da utilização de recursos didáticos interativos que superem nossas expectativas e que possam promover uma real inclusão dos jovens “projovianos” em situação de vulnerabilidade social O referido estudo de natureza qualitativa teve como base a técnica de observação direta, participante, tendo sido observadas 15 aulas em duas turmas diferentes (Alfa e Gama), nas disciplinas de Ciências Humanas e Língua Portuguesa. Os registros elaborados possibilitaram verificar, na prática, os atos produzidos em sala de aula. Desta forma, foi estabelecida, nas palavras de Carvalho (2008), uma ligação entre o “mundo empírico” e o “mundo teórico”. Nestes termos, a observação constitui a técnica mais importante da pesquisa levada a cabo. O referido estudo foi realizado em uma escola da rede municipal de ensino da Serra onde o Projovem Urbano foi implementado.Durante esse processo, muitas foram as observações realizadas em torno da temática que possibilitaram reflexões importantes ao que se refere aos processos de ensino-aprendizagem. A turma nomeada pelo projeto como “Alfa” tem uma característica própria por possuir 14 alunos, a grande maioria do sexo feminino e terem uma faixa de idade de 18 a 25 anos de idade. A clientela é constituída por moradores da região, mas a maioria reside em bairros vizinhos. A maior parte dos alunos estão desempregados e/ou ainda dependem do auxilio dos pais. As professoras ao adentrarem na respectiva turma têm que agir de forma mais ríspida e controladora, já que os alunos aparentam dificuldades de concentração e disciplina. Para VASCONCELLOS, (1994) o professor tem que em alguns momentos, adquirir uma postura ativa, a fim de facilitar a relação ensino-aprendizagem em sala de aula. Ao observar a aula de Língua Portuguesa, nota-se que a professora trabalha diariamente com leitura e interpretação de textos, utilizando como parte integrante de sua metodologia o dicionário e o livro didático. Os textos são conciliados e integrados com a realidade da turma e para despertar o interesse dos alunos, uma vez que são bastante questionadores e críticos quanto aos textos trabalhados, a professora necessita utilizar de sua autoridade para se impor perante a indisciplina da turma. Durante as aulas de Ciências Humanas, percebeu-se uma maior afinidade e interesse por parte dos alunos que respondem às atividades de forma agradável. A professora exerceu em várias aulas a prática de trabalhos coletivos, nos quais era perceptível a inclusão de temas geradores (FREIRE, 1987) para que se realizassem debates construtivos. Contudo, os processos de ensino aprendizagem desenvolvidos na turma alfa se tornam eficientes apesar da pouca disponibilidade de tempo. A turma “Alfa” aparenta se envolver e aprovar as metodologias e didáticas aplicadas pelos professores, o que assim, facilita o trabalho de mediação da aprendizagem. A turma “Gama”, pode ser definida como uma sala bem diferenciada da “Alfa”, pois atende12 alunos de 25 a 30 anos, a maioria composta por homens onde praticamente todos são empregados informais e que dependem de tal emprego para sustentar a família. A sala de aula tem um perfil tranqüilo e de extremo interesse no aprendizado. Os alunos estão nos mais variados níveis de aprendizagem, alguns lêem bem, outros escrevem corretamente, porém todos tem algum nível de dificuldade. Muitos alunos abandonaram a escola ainda criança por vários motivos, o que hoje reflete em tais resultados. As aulas de Língua Portuguesa, são as que eles mais se dedicam, justamente para suprir essa necessidade de uma alfabetização perdida. A professora, assim como na turma “Alfa” desenvolve muitos textos para leitura e interpretação de textos, porém em particular com essa turma é visível que os conteúdos percorrem de forma mais lenta. As aulas de Ciências Humanas também percorrem mais lentamente, a professora utiliza de estratégias diferenciadas da turma “Alfa” como vídeos, músicas e o intenso diálogo para que ela alcance seus objetivos. Em alguns momentos da aula, ela conversa sobre diversos problemas da vida familiar quanto do profissional, também ouve comentários da vivência cotidiana de cada um e ainda discute sobre temas sobre política, economia, saúde e desemprego. Também os aconselha a procurar tratamento médico e a buscar os seus direitos de cidadãos. Segundo FONTANEZI (et al, 2008), um educador que reflete sobre os problemas que ocorrem em sua sala de aula é um educador que busca o desenvolvimento dos alunos, assim, torna-se viável sempre refletir sobre o comportamento de seus estudantes e suas dificuldades, bem como, suas próprias dificuldades e causas das mesmas. Portanto, o professor reflexivo tende a ser diferente, porque não é um professor rotineiro, busca novidades, pesquisa, estuda, e com isso, melhora sua prática de ensino. Trabalhar com jovens e adultos requer uma formação docente que vai além dos conteúdos. Requer sensibilidade. Sensibilidade para gerir situações que demandam uma constante vigilância da parte do professor. O professor deve entender que somente o fato daquele aluno voltar a estudar, demandou um grande esforço, decorrente da auto-estima seriamente abalada pelo fato de ter perdido alguns anos de sua vida sem estudar. As características que fazem um bom professor de EJA não são diferentes das esperadas de um professor do nível regular. O grande diferencial é que os jovens e adultos já carregam uma história e um conhecimento que não pode e não deve ser negligenciado pelo professor (GODOY, 2006). Assim, a prática pedagógica desenvolvida no Projovem Urbano ao invés de privilegiar a transmissão de conteúdos, incentiva o espírito crítico, o questionamento, a tolerância, às diferenças e o encontro a uma multiplicidade de pontos de vistas. Além disso, favorece as potencialidades, a autonomia e a criatividade dos educandos. Neste sentido, o trabalho cooperativo e por projetos surgem como possíveis práticas alternativas e promotoras da qualidade do processo ensino- aprendizagem. Agradeço primeiramente ao meu marido que me apoiou e amparou em todos os momentos necessário durante o decorrer desse projeto, a minha família que acreditou que eu conseguiria concluí-lo, a orientadora desse projeto que se fez presente diante as dificuldades e foi acima de tudo uma grande amiga e a todos que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento deste artigo. BRASIL. Manual do educador: orientações gerais. Brasília: Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Projovem Urbano, 2008. CARVALHO, Marline Conceição Vieira de. As práticas pedagógicas na sala de aula e a qualidade do processo ensino aprendizagem: Escola Secundária de Achada Grande. Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. Setembro, 2008. FONTANEZI, R. M. M; KUBATA, L; FRÓES, R. C. A postura do professor em sala de aula: atitudes que promovem bons comportamentos e alto rendimento educacional, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 46ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. GODOY, M. T; SALLOUM, P.; MORALES, A. G. M. Estratégias Metodológicas utilizadas na Educação de Jovens e Adultos. VASCONCELLOS, C. dos S. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad, 1994. . OS PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DESENVOLVIDOS NO PROJETO DE INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS E ADULTOS – PROJOVEM URBANO [1] Bióloga, FAESA, Vitória-ES. E-mail: [email protected] [2] Pedagoga, Mestre, UFES, Vitória - ES. E-mail: [email protected]

O aluno da EJA é caracterizado como oriundo das classes menos favorecidas da sociedade e que por motivos diversos, não concluiu seus estudos na escola

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Page 1: O aluno da EJA é caracterizado como oriundo das classes menos favorecidas da sociedade e que por motivos diversos, não concluiu seus estudos na escola

O aluno da EJA é caracterizado como oriundo das classes menos favorecidas da sociedade e que por motivos diversos, não concluiu seus estudos na escola regular. Não podemos deixar de ressaltar, no âmbito desta caracterização, que na grande maioria dos casos, a passagem do jovem e/ou adulto pela escola regular constituiu-se um processo sem êxito e que culminou na exclusão do mesmo do sistema regular de ensino. Pela vontade pessoal ou pela necessidade de se adequar às exigências do mercado de trabalho, o aluno acaba retornando à escola com o objetivo de obter qualificação ou aprender o que antes não lhe foi possível pela escola regular (BRASIL, 2008).

A Educação de Jovens e Adultos funciona atualmente em escolas públicas e particulares em várias cidades do Brasil, por meio dos supletivos. Além deste, foram criados outros programas voltados para a EJA como, por exemplo, o PROJOVEM URBANO foco deste projeto de pesquisa.

Sendo assim, este estudo busca analisar os processos de ensino aprendizagem, no âmbito inclusivo destes sujeitos, principalmente no que se refere ao conteúdo integrado e interdisciplinar aplicado pelos professores. No que diz respeito à problemática levantada, o que aqui se pretende é expor os processos de ensino de aulas diferenciadas, por meio da utilização de recursos didáticos interativos que superem nossas expectativas e que possam promover uma real inclusão dos jovens “projovianos” em situação de vulnerabilidade social

O referido estudo de natureza qualitativa teve como base a técnica de observação direta, participante, tendo sido observadas 15 aulas em duas turmas diferentes (Alfa e Gama), nas disciplinas de Ciências Humanas e Língua Portuguesa. Os registros elaborados possibilitaram verificar, na prática, os atos produzidos em sala de aula. Desta forma, foi estabelecida, nas palavras de Carvalho (2008), uma ligação entre o “mundo empírico” e o “mundo teórico”. Nestes termos, a observação constitui a técnica mais importante da pesquisa levada a cabo.

O referido estudo foi realizado em uma escola da rede municipal de ensino da Serra onde o Projovem Urbano foi implementado.Durante esse processo, muitas foram as observações realizadas em torno da temática que possibilitaram reflexões importantes ao que se refere aos processos de ensino-aprendizagem.

A turma nomeada pelo projeto como “Alfa” tem uma característica própria por possuir 14 alunos, a grande maioria do sexo feminino e terem uma faixa de idade de 18 a 25 anos de idade. A clientela é constituída por moradores da região, mas a maioria reside em bairros vizinhos. A maior parte dos alunos estão desempregados e/ou ainda dependem do auxilio dos pais.

As professoras ao adentrarem na respectiva turma têm que agir de forma mais ríspida e controladora, já que os alunos aparentam dificuldades de concentração e disciplina. Para VASCONCELLOS, (1994) o professor tem que em alguns momentos, adquirir uma postura ativa, a fim de facilitar a relação ensino-aprendizagem em sala de aula.

Ao observar a aula de Língua Portuguesa, nota-se que a professora trabalha diariamente com leitura e interpretação de textos, utilizando como parte integrante de sua metodologia o dicionário e o livro didático. Os textos são conciliados e integrados com a realidade da turma e para despertar o interesse dos alunos, uma vez que são bastante questionadores e críticos quanto aos textos trabalhados, a professora necessita utilizar de sua autoridade para se impor perante a indisciplina da turma.

Durante as aulas de Ciências Humanas, percebeu-se uma maior afinidade e interesse por parte dos alunos que respondem às atividades de forma agradável. A professora exerceu em várias aulas a prática de trabalhos coletivos, nos quais era perceptível a inclusão de temas geradores (FREIRE, 1987) para que se realizassem debates construtivos.

Contudo, os processos de ensino aprendizagem desenvolvidos na turma alfa se tornam eficientes apesar da pouca disponibilidade de tempo. A turma “Alfa” aparenta se envolver e aprovar as metodologias e didáticas aplicadas pelos professores, o que assim, facilita o trabalho de mediação da aprendizagem.

A turma “Gama”, pode ser definida como uma sala bem diferenciada da “Alfa”, pois atende12 alunos de 25 a 30 anos, a maioria composta por homens onde praticamente todos são empregados informais e que dependem de tal emprego para sustentar a família. A sala de aula tem um perfil tranqüilo e de extremo interesse no aprendizado.Os alunos estão nos mais variados níveis de aprendizagem, alguns lêem bem, outros escrevem corretamente, porém todos tem algum nível de dificuldade. Muitos alunos abandonaram a escola ainda criança por vários motivos, o que hoje reflete em tais resultados.

As aulas de Língua Portuguesa, são as que eles mais se dedicam, justamente para suprir essa necessidade de uma alfabetização perdida. A professora, assim como na turma “Alfa” desenvolve muitos textos para leitura e interpretação de textos, porém em particular com essa turma é visível que os conteúdos percorrem de forma mais lenta.

As aulas de Ciências Humanas também percorrem mais lentamente, a professora utiliza de estratégias diferenciadas da turma “Alfa” como vídeos, músicas e o intenso diálogo para que ela alcance seus objetivos. Em alguns momentos da aula, ela conversa sobre diversos problemas da vida familiar quanto do profissional, também ouve comentários da vivência cotidiana de cada um e ainda discute sobre temas sobre política, economia, saúde e desemprego. Também os aconselha a procurar tratamento médico e a buscar os seus direitos de cidadãos.

Segundo FONTANEZI (et al, 2008), um educador que reflete sobre os problemas que ocorrem em sua sala de aula é um educador que busca o desenvolvimento dos alunos, assim, torna-se viável sempre refletir sobre o comportamento de seus estudantes e suas dificuldades, bem como, suas próprias dificuldades e causas das mesmas. Portanto, o professor reflexivo tende a ser diferente, porque não é um professor rotineiro, busca novidades, pesquisa, estuda, e com isso, melhora sua prática de ensino.

Trabalhar com jovens e adultos requer uma formação docente que vai além dos conteúdos. Requer sensibilidade. Sensibilidade para gerir situações que demandam uma constante vigilância da parte do professor. O professor deve entender que somente o fato daquele aluno voltar a estudar, demandou um grande esforço, decorrente da auto-estima seriamente abalada pelo fato de ter perdido alguns anos de sua vida sem estudar. As características que fazem um bom professor de EJA não são diferentes das esperadas de um professor do nível regular. O grande diferencial é que os jovens e adultos já carregam uma história e um conhecimento que não pode e não deve ser negligenciado pelo professor (GODOY, 2006).

Assim, a prática pedagógica desenvolvida no Projovem Urbano ao invés de privilegiar a transmissão de conteúdos, incentiva o espírito crítico, o questionamento, a tolerância, às diferenças e o encontro a uma multiplicidade de pontos de vistas. Além disso, favorece as potencialidades, a autonomia e a criatividade dos educandos. Neste sentido, o trabalho cooperativo e por projetos surgem como possíveis práticas alternativas e promotoras da qualidade do processo ensino-aprendizagem.

Agradeço primeiramente ao meu marido que me apoiou e amparou em todos os momentos necessário durante o decorrer desse projeto, a minha família que acreditou que eu conseguiria concluí-lo, a orientadora desse projeto que se fez presente diante as dificuldades e foi acima de tudo uma grande amiga e a todos que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento deste artigo.

BRASIL. Manual do educador: orientações gerais. Brasília: Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Projovem Urbano, 2008.  CARVALHO, Marline Conceição Vieira de. As práticas pedagógicas na sala de aula e a qualidade do processo ensino aprendizagem: Escola Secundária de Achada Grande. Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. Setembro, 2008.

FONTANEZI, R. M. M; KUBATA, L; FRÓES, R. C. A postura do professor em sala de aula: atitudes que promovem bons comportamentos e alto rendimento educacional, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 46ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

GODOY, M. T; SALLOUM, P.; MORALES, A. G. M. Estratégias Metodológicas utilizadas na Educação de Jovens e Adultos.

VASCONCELLOS, C. dos S. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad, 1994.

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OS PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DESENVOLVIDOS NO PROJETO DE INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS E ADULTOS – PROJOVEM URBANO

[1] Bióloga, FAESA, Vitória-ES. E-mail: [email protected][2] Pedagoga, Mestre, UFES, Vitória - ES. E-mail: [email protected]