9
É trabalho pioneiro. Prestação de serviços com tradição de confiabilidade. Construtivo, procura colaborar com as Bancas Examinadoras em sua tarefa de não cometer injustiças. Didático, mais do que um simples gabarito, auxilia o estudante no processo de apren- dizagem, graças a seu formato: reprodução de cada questão, seguida da resolução elaborada pelos professores do Anglo. No final, um comentário sobre as disciplinas. A Universidade Estadual Paulista — Unesp — tem unidades instaladas em várias re- giões do Estado de São Paulo, realizando exames, no mês de julho, exclusivamente para os cursos das seguintes cidades: Assis, Bauru, Botucatu, Dracena, Ilha Solteira, Itapeva, Jaboticabal, Ourinhos, Registro, Rosana, Sorocaba e Tupã. Seu vestibular é feito pela Fundação Vunesp, em uma única fase. São 3 provas (cada uma valendo 100 pontos), cada uma com até 4 horas de duração, em dias consecutivos, assim constituídas: 1º dia: Prova de Conhecimentos Gerais (peso 1), comum para todas as áreas, com 84 testes de múltipla escolha divididos igualmente entre Matemática, Física, Quí- mica, Biologia, Geografia, História e Língua Estrangeira (Inglês ou Francês, conforme opção). 2º dia: Prova de Conhecimentos Específicos (peso 2), com 25 questões discursivas. As disciplinas que compõem essa prova variam conforme a área pela qual o candida- to optou: Área de Ciências Biológicas — Biologia (10 questões), Química (6 questões), Física (5 questões) e Matemática (4 questões). Área de Ciências Exatas — Matemática (10 questões), Física (9 questões) e Química (6 questões). Área de Humanidades — História (10 questões), Geografia (9 questões) e Língua Portuguesa (6 questões). 3º dia: Prova de Língua Portuguesa (peso 2), comum para todas as áreas, constando de 10 questões discursivas e uma redação dissertativa. Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação Artística, Arquitetura, e Educação Física, há prova de Habilidade Específica, cujo peso varia conforme a opção. Para cada prova é atribuída nota que varia de 0 a 100 pontos. A nota final é a média ponderada das provas. Observação: A Unesp utiliza a nota dos testes do ENEM, aplicando-a segundo esta fórmula: , em que CG é a nota da prova de Conhecimentos Gerais e E é a nota do ENEM. O resultado só será levado em conta se favorecer o candidato. 4 CG 1E 5 × + o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESP

o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

É trabalho pioneiro.Prestação de serviços com tradição de confiabilidade.Construtivo, procura colaborar com as Bancas Examinadoras em sua tarefa de nãocometer injustiças.Didático, mais do que um simples gabarito, auxilia o estudante no processo de apren-dizagem, graças a seu formato: reprodução de cada questão, seguida da resoluçãoelaborada pelos professores do Anglo.No final, um comentário sobre as disciplinas.

A Universidade Estadual Paulista — Unesp — tem unidades instaladas em várias re-giões do Estado de São Paulo, realizando exames, no mês de julho, exclusivamentepara os cursos das seguintes cidades: Assis, Bauru, Botucatu, Dracena, Ilha Solteira,Itapeva, Jaboticabal, Ourinhos, Registro, Rosana, Sorocaba e Tupã.Seu vestibular é feito pela Fundação Vunesp, em uma única fase.São 3 provas (cada uma valendo 100 pontos), cada uma com até 4 horas de duração,em dias consecutivos, assim constituídas:

1º dia: Prova de Conhecimentos Gerais (peso 1), comum para todas as áreas, com84 testes de múltipla escolha divididos igualmente entre Matemática, Física, Quí-mica, Biologia, Geografia, História e Língua Estrangeira (Inglês ou Francês, conformeopção).

2º dia: Prova de Conhecimentos Específicos (peso 2), com 25 questões discursivas.As disciplinas que compõem essa prova variam conforme a área pela qual o candida-to optou:

Área de Ciências Biológicas — Biologia (10 questões), Química (6 questões), Física(5 questões) e Matemática (4 questões).

Área de Ciências Exatas — Matemática (10 questões), Física (9 questões) e Química(6 questões).

Área de Humanidades — História (10 questões), Geografia (9 questões) e LínguaPortuguesa (6 questões).

3º dia: Prova de Língua Portuguesa (peso 2), comum para todas as áreas, constandode 10 questões discursivas e uma redação dissertativa.

Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação Artística, Arquitetura, e EducaçãoFísica, há prova de Habilidade Específica, cujo peso varia conforme a opção.Para cada prova é atribuída nota que varia de 0 a 100 pontos.A nota final é a média ponderada das provas.

Observação: A Unesp utiliza a nota dos testes do ENEM, aplicando-a segundo esta fórmula:

, em que CG é a nota da prova de Conhecimentos Gerais e E é a nota do

ENEM. O resultado só será levado em conta se favorecer o candidato.

4 CG 1E5

× +

oanglo

resolve

a prova deLíngua

Portuguesada UNESP

Page 2: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

82VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

LÍNGUA PORTUGUESAINSTRUÇÃO: Leia o texto seguinte e responda as questões de números 01 a 03.

E existe um povo que a bandeira emprestaP’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...E deixa-a transformar-se nessa festaEm manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! meu Deus! Mas que bandeira é esta.Que impudente na gávea tripudia?!...Silêncio!... Musa! Chora, chora tantoQue o pavilhão se lave no seu pranto...

Auriverde pendão de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balança,Estandarte que a luz do sol encerra,E as promessas divinas da esperança...Tu, que da liberdade após a guerra,Foste hasteado dos heróis na lança,Antes te houvessem roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!Extingue nesta hora o brigue imundoO trilho que Colombo abriu na vaga,Como um íris no pélago profundo!...... Mas é infâmia demais... Da etérea plagaLevantai-vos, heróis do Novo Mundo...Andrada! Arranca este pendão dos ares!Colombo! Fecha a porta de teus mares!

(Castro Alves, Navio negreiro.)

Nessas três estrofes que encerram o poema de Castro Alves, o poeta (enunciador do texto) mantém um tom de indignaçãodiante do que vê, qual seja, a cena de negros sendo transportados desumanamente em um navio para serem vendidos comoescravos. Com base nisso, responda:

a) Na 1ª estrofe, quais são as duas palavras por meio das quais o enunciador caracteriza a cena que vê?b) Ainda na 1ª estrofe, por que o enunciador refere-se à bandeira? Por que motivo caracteriza-a como manto impuro de ba-

cante fria, no 4º verso dessa mesma estrofe?

Resolução:a) As palavras usadas pelo poeta são “infâmia” (desonra, vergonha) e “cobardia” (grafia alternativa de covardia) (ambas

no verso 2). Com elas, ele promove um rebaixamento moral da situação referida no poema, o tráfico negreiro.

b) A bandeira é referida como forma de reconhecimento da nação de origem da embarcação que serve de cenário ao poe-ma. O título (“O navio negreiro”) já evidencia este cenário, que também aparece indicado metonimicamente no sextoverso da mesma estrofe: “gávea” (mastro).A caracterização da bandeira como “manto impuro de bacante fria” é explicada pela posição em que se coloca o enu-nciador, que condena o tráfico negreiro. Utilizada de forma execrável, a bandeira acabaria manchada (“manto impu-ro”), moralmente rebaixada (“bacante”: mulher dissoluta, luxuriosa, depravada), tornada símbolo da insensibilidade(“fria”). Assim, a bandeira aparece como símbolo pátrio desonrado, não por natureza, mas pelo uso que é feito dela.

Na 2ª estrofe, o enunciador do texto identifica o povo a quem pertence a bandeira que está hasteada na gávea (mastro real)do navio. Tomando por base essa 2ª estrofe:

a) Identifique dois sinônimos empregados pelo enunciador em substituição ao vocábulo “bandeira”.Identifique ainda um terceiro termo, em sentido metafórico, empregado para designar e qualificar a mesma bandeira.

b) Que figura de linguagem é utilizada pelo poeta no 2º verso dessa estrofe? Em que consiste essa figura?

▼▼ Questão 1

▼▼ Questão 2

Page 3: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

Resolução:

a) “Pendão” e “estandarte” são os dois sinônimos empregados pelo enunciador para substituir o vocábulo “bandeira”. Me-taforicamente, o termo empregado para designar e qualificar bandeira é “mortalha”.

b) Ao dizer que a brisa “beija” a bandeira, o poeta faz uso da prosopopéia ou personificação, figura de linguagem queconsiste em atribuir a seres inanimados ações, atitudes e sentimentos humanos.

Na última estrofe do poema, o sujeito enunciador condena o brigue (antigo navio a velas) que transporta os negros escravosem direção ao Brasil. Para tanto, faz referência a fatos históricos. Partindo dessa idéia, responda:

a) Qual é a relação, segundo o poeta, entre o navio negreiro e as naus de Colombo?

b) Quem o poeta invoca para agir diante do que vê? O que pede para fazerem?

Resolução:

a) Segundo o poema, as naus de Colombo abriram um “trilho” (caminho) na “vaga” (onda do mar), que funcionou como“íris” (arco-íris, isto é, luz, claridade) no “pélago” (abismo oceânico). Segundo a sugestão dessas expressões, a chegadados europeus à América trouxe ao continente contribuições fundamentais para seu desenvolvimento: progresso e civili-zação. O navio negreiro (= o brigue imundo) “extingue” esse caminho (= “o trilho que Colombo abriu na vaga”) exata-mente por representar termos opostos às contribuições trazidas por essa abertura, ou seja, o atraso (pela adoção de umprocedimento não mais utilizado por nenhuma nação do mundo) e a barbárie (pela selvageria inerente ao tráfico).

b) Nos dois últimos versos do poema, o poeta convoca aqueles que denominara de “heróis do Novo Mundo”: Andrada e Co-lombo.Andrada (José Bonifácio de Andrada e Silva), político de grande influência sobre D. Pedro I e um dos responsáveis pelalibertação do Brasil do domínio português em 1822, é associado à liberdade, opondo-se, por isso, ao atraso da escravi-dão. Ao pedir a ele que arranque o “pendão” (bandeira) dos ares, conclama a classe política brasileira não apenas a reti-rar o Brasil do mapa do tráfico, mas também a colaborar na abolição da escravidão.Colombo (Cristóvão Colombo) foi o descobridor da América, em 1492. Com esse feito, abriu caminho para a colonizaçãodo continente. Por isso, é tomado como dono do mar (“teus mares”). O poeta pede a ele que exerça seu poder e impeçaa passagem de navios negreiros. Com isto, pede a colaboração da Europa para eliminar o tráfico negreiro condenado.

INSTRUÇÃO: Leia o texto seguinte e responda as questões de números 04 a 06.

— Mulato!Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com

ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; a conversa cortada no momento em que Raimundo se apro-ximava; as reticências dos que lhe falavam sobre os seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, dis-cutiam questões de raça e de sangue; a razão pela qual D. Amância lhe oferecera um espelho e lhe dissera: “Ora mire-se!”a razão pela qual diante dele chamavam de meninos os moleques da rua. Aquela simples palavra dava-lhe tudo o que eleaté aí desejara e negava-lhe tudo ao mesmo tempo, aquela palavra maldita dissolvia as suas dúvidas, justificava o seu pas-sado; mas retirava-lhe a esperança de ser feliz, arrancava-lhe a pátria e a futura família; aquela palavra dizia--lhe brutal-mente: “Aqui, desgraçado, nesta miserável terra em que nasceste, só poderás amar uma negra da tua laia! Tua mãe, lembra--te bem, foi escrava! E tu também o foste!”

— Mas, replicava-lhe uma voz interior, que ele mal ouvia na tempestade do seu desespero; a natureza não criou cati-vos! Tu não tens a menor culpa do que fizeram os outros, e no entanto és castigado e amaldiçoado pelos irmãos daquelesjustamente que inventaram a escravidão no Brasil!

E na brancura daquele caráter imaculado brotou, esfervilhando logo, uma ninhada de vermes destruidores, onde vi-nham o ódio, a vingança, a vergonha, o ressentimento, a inveja, a tristeza e a maldade. E no círculo do seu nojo, implacá-vel e extenso, entrava o seu país, e quem este primeiro povoou, e quem então e agora o governava, e seu pai, que o fizera nas-cer escravo, e sua mãe que colaborara nesse crime. “Pois então de nada lhe valia ter sido bem educado e instruído; de na-da lhe valia ser bom e honesto?... Pois naquela odiosa província, seus conterrâneos veriam nele, eternamente, uma cria-tu-ra desprezível, a quem repelem todos do seu seio?...” E vinham-lhe então, nítidas à luz crua do seu desalento, as mais ras-teiras perversidades do Maranhão; as conversas de porta de botica, as pequeninas intrigas que lhe chegavam aos ouvidospor intermédio de entes ociosos e abjetos, a que ele nunca olhara senão com desprezo. E toda essa miséria, toda essa imundí-cia, que até então se lhe revelava aos bocadinhos, fazia agora uma grande nuvem negra no seu espírito, porque, gota a gota,a tempestade se formara. E, no meio desse vendaval, um desejo crescia, um único, o desejo de ser amado, de formar umafamília, um abrigo legítimo, onde ele se escondesse para sempre de todos os homens.

(Aluísio Azevedo, O mulato.)

83VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

▼▼ Questão 3

Page 4: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

O trecho do romance de Aluísio Azevedo revela a surpresa e a revolta de Raimundo ao saber que é filho de uma escrava,quando pede explicações de seu tio, Manuel Pedro da Silva, a respeito do motivo pelo qual lhe havia sido recusado o pedi-do de casamento com Ana Rosa, filha de Manuel.

a) Qual é a palavra empregada por Manuel para caracterizar Raimundo e que lhe causa tamanho estupor? O que ela signi-fica?

b) Por que a personagem Raimundo diz, no 2º parágrafo, que, a partir do momento em que sabe a verdade, entende a atitu-de das famílias de origem portuguesa com quem se relacionou ao chegar à cidade de São Luís?

Resolução:a) A palavra empregada por Manuel para caracterizar Raimundo é “mulato”. Em sentido estrito, o termo designa o mes-

tiço de negro e branco. No contexto do romance, o significado cultural do vocábulo tem conotação fortemente depreciati-va. A miscigenação era considerada pelo pensamento dominante europeu uma forma de degeneração racial e, portan-to, um estigma social para quem fosse miscigenado.

b) Raimundo até então não compreendia por que as famílias de origem portuguesa, com quem se relacionava, o tratavamcom evasivas, com frieza e até com desprezo. Ao se saber mulato, entende o porquê dessa atitude mesquinha: Raimundoera vítima do preconceito racial.

Logo após a morte de seu irmão, pai de Raimundo, Manuel Pedro enviou o então menino para Portugal para que fosse cria-do lá. Raimundo formou-se em direito na universidade de Coimbra, sendo considerado excelente aluno.a) Que passagem do texto mostra que o preconceito racial era superior ao reconhecimento de sua formação e caráter?b) Diante da situação aflitiva em que se encontrava, ao entender que era alvo de preconceito e que seu futuro seria a infeli-

cidade, que sentimento passa a se apoderar de Raimundo?

Resolução:a) A passagem do texto em que o preconceito racial se revela superior ao reconhecimento da formação e do caráter de Rai-

mundo é: “Pois então de nada lhe valia ter sido bem educado e instruído; de nada lhe valia ser bom e honesto?... Poisnaquela odiosa província, seus conterrâneos veriam nele, eternamente, uma criatura desprezível, a quem repelem to-dos do seu seio?...”.

b) Ao entender que era alvo de preconceito e que, portanto, seu futuro seria inevitavelmente de infelicidades, Raimundopassa a sentir um misto de “ódio, vingança, vergonha, ressentimento, inveja, tristeza e maldade” contra todos aquelesque representam a intolerância insensata do preconceito, mais especificamente as elites brancas brasileiras de origemportuguesa, e também contra os pais, responsáveis por sua mestiçagem e, conseqüentemente, por sua desgraça social.

Considere os recursos de linguagem utilizados no trecho do romance de Aluísio de Azevedo e responda:a) O narrador do texto reproduz a voz de quem? Que tipo de discurso é comum nesse contexto narrativo? Cite um exemplo

desse tipo de discurso, retirando-o do texto.b) Contrariamente à condenação do racismo expressa no texto, é possível afirmar que, no último parágrafo, ao caracteri-

zar a personagem Raimundo, o narrador acaba reforçando a positividade do branco e a negatividade do negro? Mostreisso por meio de trechos retirados do próprio texto.

Resolução:a) A voz que predomina no texto é a da personagem Raimundo, cujo fluxo de consciência é reproduzido por meio da simu-

lação de um monólogo interior. Essa sondagem da psicologia da personagem dá-se por meio do discurso indireto li-vre, dispositivo técnico mais apropriado para a reconstrução da interioridade de personagens voltadas para a auto--análise. Nesses casos, o narrador usa as próprias palavras para comunicar o conteúdo psicológico da personagem, talcomo se observa, por exemplo, na seguinte passagem do texto: “Pois então de nada lhe valia ter sido bem educado e ins-truído; de nada lhe valia ser bom e honesto?... Pois naquela odiosa província, seus conterrâneos veriam nele, eterna-mente, uma criatura desprezível, a quem repelem todos do seu seio?”.

b) Há marcas formais na pergunta que induzem a uma resposta afirmativa, talvez pela adoção, no texto, de certos símbo-los arraigados na língua portuguesa, sem dúvida uma língua criada por brancos. Segundo essa perspectiva, o narradorafirmaria a “positividade do branco e a negatividade do negro” por adotar símbolos da cultura branca, tal como se obser-va em “a brancura daquele caráter imaculado” e em “fazia uma nuvem negra no seu espírito”. O sistema de signos dalíngua associou, antes mesmo da escravidão negra, o branco a valor positivo; e o negro a valor negativo. Todavia, é possí-vel afirmar que o uso desses símbolos não basta para esvaziar a denúncia contra os valores do escravismo enquantomodo de produção econômica, tão bem formulada pelo conjunto ficcional do texto. Como se sabe, Aluísio Azevedo, autorde O Mulato, foi processado e quase preso por causa de seu romance. Esse fato evidencia a força histórica de sua contes-tação não do homem branco, mas do homem branco escravista.

84VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

▼▼ Questão 5

▼▼ Questão 4

▼▼ Questão 6

Page 5: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

INSTRUÇÃO: Leia o texto seguinte e responda as questões de números 07 e 08.

(...) logo de início uma discriminação se impõe: entre a influência pura do negro (que nos é quase impossível isolar)e a do negro na condição de escravo. “Em primeiro lugar o mau elemento da população não foi a raça negra, mas essa raçareduzida ao cativeiro”, escreveu Joaquim Nabuco em 1881. Admiráveis palavras para terem sido escritas na mesma épocaem que Oliveira Martins sentenciava em páginas gravíssimas: “Há decerto, e abundam os documentos que nos mostram nonegro um tipo antropologicamente inferior, não raro próximo do antropóide, e bem pouco digno do nome de homem.”

Sempre que consideramos a influência do negro sobre a vida do brasileiro, é a ação do escravo, e não a do negro porsi, que apreciamos. Ruediger Bilden pretende explicar pela influência da escravidão todos os traços de formação econô-micae social do Brasil. Ao lado da monocultura, foi a força que mais afetou a nossa plástica social. Parece às vezes influên-ciade raça o que é influência pura e simples do escravo: do sistema social da escravidão. Da capacidade imensa desse sis-temapara rebaixar moralmente senhores e escravos. O negro nos aparece no Brasil, através de toda nossa vida colonial e da nos-sa primeira fase da vida independente, deformado pela escravidão. Pela escravidão e pela monocultura de que foi o instru-mento, o ponto de apoio firme, ao contrário do índio, sempre movediço.

Goldenweiser salienta quanto é absurdo julgar-se o negro, sua capacidade de trabalho e sua inteligência, através doesforço por ele desenvolvido nas plantações da América sob o regime da escravidão. O negro deve ser julgado pela ativida-de industrial por ele desenvolvida no ambiente de sua própria cultura, com interesse e entusiasmo pelo trabalho.

Do mesmo modo, parece-nos absurdo julgar a moral do negro no Brasil pela sua influência deletéria como escravo.Foi o erro grave que cometeu Nina Rodrigues ao estudar a influência do africano no Brasil: o de não ter reconhecido no ne-gro a condição absorvente de escravo. “Abstraindo pois”, escreve ele às primeiras páginas de seu trabalho sobre a raça ne-gra na América Portuguesa, “da condição de escravos em que os negros foram introduzidos no Brasil e apreciando as suasqualidades de colonos como faríamos com os que de qualquer outra procedência, etc.” Mas isto é impossível. Impossível aseparação do negro, introduzido no Brasil, de sua condição de escravo.

(Gilberto Freire, Casa-grande & senzala.)

O livro de Gilberto Freire, do qual foi extraído o trecho acima, publicado inicialmente em 1933, interpreta o passado colo-nial brasileiro para discutir a identidade de nossa sociedade. Com base na leitura desse trecho, responda:

a) No 1º parágrafo, qual é a diferença apontada pelo autor entre o pensamento de Joaquim Nabuco e o de Oliveira Mar-tins, por meio das duas frases citadas de cada um deles?

b) Segundo Freire, de que ponto de vista sempre se considera a influência do negro sobre a vida do brasileiro?

Resolução:a) A propósito da questão do negro no Brasil, Gilberto Freire contrapõe a visão de Joaquim Nabuco à de Oliveira Martins.

Para o primeiro, “o mau elemento da população não foi a raça negra, mas essa raça reduzida ao cativeiro”; o segundoafirma que “o negro [é] um tipo antropologicamente inferior, não raro próximo do antropóide, e bem pouco digno do no-me de homem”. Em outros termos, para Joaquim Nabuco a condição racial do negro não é, por si, responsável por ele-mentos nocivos da população brasileira; Oliveira Martins, por sua vez, assume o discurso que considerava o negro comoracialmente inferior.

b) Influenciado por um ex-professor, o antropólogo Franz Boas, Gilberto Freire estabelece uma clara distinção entre raçae cultura no estudo do negro no Brasil, afirmando que é na perspectiva da cultura, e não do critério racial, que se deveavaliar a “influência do negro sobre a vida do brasileiro”. Nesse caso, é como escravo e não como negro que a ação desseelemento deve ser apreciada.

Observe ainda o texto de Gilberto Freire para fazer o que é solicitado.

a) Explique a afirmação do autor de que o negro foi “deformado” pela escravidão e pela monocultura de que foi o instru-mento, quando se pretende abordar a formação econômica e social do Brasil.

b) Identifique no último parágrafo um pronome que é utilizado por Freire para retomar uma referência feita a Nina Ro-drigues.

Resolução:a) No estudo da formação econômica e social do Brasil, é impossível, segundo Gilberto Freire, deixar de considerar o papel

da monocultura açucareira — que foi a base sobre a qual o país se constituiu — e da escravidão, entendida como instru-mento da monocultura. Assim sendo, não se pode avaliar a ação do negro no Brasil na integridade de sua própria cultu-ra. Violentamente arrancado de seu ambiente (África), foi submetido no Brasil à condição degradada de escravo. Daí aafirmação de Gilberto Freire, que considera o negro “deformado” pela escravidão e pela monocultura por força “da ca-pacidade imensa desse sistema para rebaixar moralmente senhores e escravos.”

b) Na segunda linha do último parágrafo, após os dois pontos, temos o pronome demonstrativo “o”, com valor de aquele.Com esse pronome, o autor retoma esta referência: “o erro grave que cometeu Nina Rodrigues”.

85VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

▼▼ Questão 8

▼▼ Questão 7

Page 6: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

INSTRUÇÃO: Leia o texto seguinte e responda as questões de números 09 e 10.

A boca era de Sérgio Dezenove, também conhecido como Grande, bandido famoso em todo o Rio de Janeiro pela suapericulosidade e coragem, pelo seu prazer em matar policiais. Grande também fora morador da extinta favela Macedo So-brinho, mas não foi morar em Cidade de Deus, porque achava que ali seria muito fácil a polícia o encontrar. Gostava demorro, de onde se pode observar tudo de sua culminância. Havia se escondido em quase todo o Rio de Janeiro, dos morrosda Zona Sul até a Zona Norte, mas a polícia já o encontrara em todos eles. Por esse motivo, chegara ao morro do Juramento,no subúrbio da Leopoldina, dando tiro em tudo quanto era bandido, derrubando barraco aos pontapés, gritando que quemmandava ali agora era o Grande: o Grande que tomou a maioria das bocas-de-fumo dos morros da Zona Sul; o Grande dequase dois metros de altura, com disposição para encarar cinco ou seis homens na mão de uma só vez; o Grande que tinhauma metralhadora conseguida na marra de um fuzileiro naval em serviço na praça Mauá; o Grande que teve sangue-friopara cortar o seu próprio dedo mindinho e colocá-lo num cordão; o Grande que matava policiais por achar a raça a maisfilha da puta de todas as raças, essa raça que serve aos brancos, essa raça de pobre que defende os direitos dos ricos. Tinhaprazer em matar branco, porque o branco tinha roubado seus antepassados da África para trabalhar de graça, o brancocriou a favela e botou o negro para habitá-la, o branco criou a polícia para bater, prender e matar o negro. Tudo, tudo queera bom era dos brancos. O presidente da República era branco, o médico era branco, os patrões eram brancos, o-vovô-viu-a-uva do livro de leitura da escola era branco, os ricos eram brancos, as bonecas eram brancas e a porra desses crioulosque viravam polícia ou que iam para o Exército tinha mais era que morrer igual a todos os brancos do mundo.

(Paulo Lins, Cidade de Deus.)

A partir da temática abordada pelo texto, responda:

a) Qual é o problema social central dos morros cariocas, retratado pelo texto de Paulo Lins?b) Por que a personagem Grande nutre ódio pelos policiais e pelos brancos?

Resolução:

a) Neste seu romance de estréia, Paulo Lins faz um painel da situação de violência generalizada e de domínio do tráficode drogas que atormenta os morros cariocas. O problema central aí retratado é a violência crua (“... bandido famoso...pelo seu prazer de matar policiais.”), motivada pelo grande fosso social entre os que detêm privilégios de toda sorte (no-tadamente os brancos) e os desassistidos (os negros).

b) A personagem Grande nutre ódio pelos policiais por considerá-los traidores da gente de sua própria condição, que secolocam a serviço dos opressores: “uma raça que serve aos brancos”, “raça de pobres que defende os direitos dos ricos”.O ódio pelos brancos, além dos aspectos históricos ligados à escravidão, com todas as suas conseqüências, se deve ao fa-to de todas as coisas boas e relevantes na atual sociedade constituírem monopólio deles, defendido por todos os meiosde controle e de dominação.

Com relação a questões de linguagem presentes no texto de Paulo Lins, responda:

a) Como deve ser entendida a palavra boca na frase que inicia o trecho do romance de Paulo Lins reproduzido: A boca erade Sérgio Dezenove …?

b) Seria correto afirmar que o enunciador do texto vale-se, na maioria das vezes, da reprodução da modalidade oral dalíngua para construir seu discurso? Justifique sua resposta por meio de exemplos retirados do texto.

Resolução:

a) Na linguagem dos malandros e drogados, “boca” é o local onde esses marginais se escondem e se reúnem, nos morroscariocas. Serve também como ponto de venda e distribuição de drogas, armas e outros produtos ilegais. Na frase inicialdo texto, prevalece este segundo sentido.

b) De fato, o enunciador do texto comunica-se predominantemente num registro de linguagem oral, o que se manifestapelo uso freqüente de expressões de baixo calão, de termos de gíria, de estruturas sintáticas repetitivas e de palavrastípicas de uma conversa entre interlocutores, um diante do outro:

• “dando tiro em tudo quanto era bandido”,

• “quem mandava ali agora era o Grande”,

• “disposição para encarar cinco ou seis homens na mão de uma só vez”,

• “tinha uma metralhadora conseguida na marra de um fuzileiro naval”,

• “o Grande que matava policiais por achar a raça a mais filha da puta de todas as raças”,

• “a porra desses crioulos que viravam polícia ou que iam para o Exército”.

86VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

▼▼ Questão 9

▼▼ Questão 10

Page 7: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

REDAÇÃOINSTRUÇÃO: Leia os textos a seguir:

O sistema de cotas para negros não é uma panacéia, mas um remédio amargo, necessário em fases de transição. Aopinião é do secretário de Combate à Discriminação Racial do PT, Martvs (pronuncia-se Martius) Chagas. De acordo comChagas a visão “monocromática” que se costuma ter no Brasil impede de reconhecer que a pobreza, aqui, coincide com acor da pele negra, e portanto, as iniciativas governamentais devem ter um caráter racial. Formado em Ciências Sociais pelaUniversidade Federal de Juiz de Fora, Chagas, de 35 anos, é cotado para ocupar o cargo de secretário nacional de Promoçãoda Igualdade Racial, cuja criação foi anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira. Em entrevis-ta ao “Estado”, ele diz que as cotas não serão a única medida nessa área, e que a promoção dos negros envolverá todos osórgãos do governo.

Estado — O sistema de cotas para negros seria uma solução de curto a médio prazo?Chagas — Exatamente. Não é uma panacéia que solucionará os graves e agudos problemas enfrentados historica-

mente pelos negros no Brasil. Mas servirá de denúncia e de aporte a outras medidas na área governamental, que envolverãotodos os órgãos e dirão respeito a 46% da população deste país. Ao contrário do que muitos dizem, não se trata de reservade mercado. Trata-se de atender a uma grande parcela da população brasileira, não a um nicho de privilegiados.

Estado — O Brasil tem muitos brancos pobres, que também estudam em escolas públicas e enfrentam os mesmos pro-blemas que os negros pobres. Como o sr. acha que eles reagirão?

Chagas — As estatísticas não confirmam a sua afirmação.Segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Censo de 2000, do total de pobres, 64% são

negros.Da população indigente, 69% são negros. Não há tantos brancos pobres assim. É lógico que, num país totalmente de-

sigual como este, tem que ser levado em consideração que qualquer ação governamental voltada para os pobres terá cor eraça.

(O Estado de S.Paulo, 16.02.2003.)

*

(...) O argumento mais conhecido para a criação de cotas é que os escravos foram libertados sem nenhuma indeniza-ção, e lançados numa situação de miséria e discriminação que até hoje afeta seus descendentes. O diagnóstico é certo, masa genética mostra que boa parte dos afetados por essas gerações de miséria são pessoas hoje vistas como “brancos”.

Pode-se dizer que as cotas não devem compensar pelo passado, mas garantir oportunidades num presente em que acor da pele faz diferença na hora de entrar na fila e procurar emprego. Nesse caso, é preciso definir a partir de que tonali-dade alguém se torna negro. A resposta será uma em Salvador e outra no interior do Rio Grande do Sul. Pior, não hácritério para desempate. “Raça”, em seres humanos, não é conceito científico — como chegou a sugerir o então candidato apresidente Lula, num debate na TV Globo no ano passado —, mas mera interpretação cultural.

(Época, 17.02.2003.)

*

O primeiro dia de inscrição do vestibular da Universidade de Brasília (UnB) deu uma amostra do quanto o sistemade cotas ainda provoca polêmica entre os candidatos — sejam eles beneficiados ou não. A universidade, que pela primeiravez reservou 20% das vagas para negros, criou uma regra para evitar abusos. Ao fazer inscrição, candidatos que optam pelogrupo das cotas têm de tirar uma fotografia, que será avaliada por uma comissão.

“Existem 200 tipos de negros. Se eu não for aprovado, recorro à Justiça”, afirmou o estudante Ricardo Zanchet, de 18anos, que pela terceira vez concorre a uma vaga para o curso de Química. O rapaz reconhece que seus traços nem de longelembram os da raça negra. “Não importa.” Como forma de protesto contra o sistema de cotas, Zanchet pensou em ir com orosto pintado de preto. “Mas pensei bem e percebi que teria minha inscrição indeferida. Não quis perder a chance.”

Viviane Ramos de Souza, de 17 anos, que é negra, contou ter pensado duas vezes antes de concorrer ao vestibular pelosistema. Candidata ao curso de Jornalismo, a estudante disse temer sobretudo a discriminação dos colegas, no caso de seraprovada no vestibular. “Errei ao preencher a inscrição e resolvi arriscar:” Para ela, o sistema de cotas é em parte injusto,porque impede que candidatos mais bem preparados sejam aprovados.

Não é o que pensa Anderson Rosa Nascimento, de 20 anos. Ele está convicto de que tal sistema poderá reparar in-justiças históricas e ampliar a participação de negros no mercado de trabalho. Principalmente em profissões em áreas va-lorizadas, como Medicina e Direito. “Precisamos aumentar essa participação, para ter mais influência nas decisões doPaís.” A estudante Edimarcia Ramos Araújo também não tem dúvidas de que as cotas são um instrumento para repararinjustiças.

(O Estado de S.Paulo, 13.04.2004.)

87VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

Page 8: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Com base na leitura dos textos apresentados e de outras que já tenha feito sobre o assunto, escreva um texto disserta-tivo que deverá ter o seguinte título:

O SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS.

Sua redação deverá ser redigida em prosa e obedecer aos padrões da norma culta do português do Brasil.

ANÁLISE DA PROPOSTA

A UNESP mantém-se fiel ao modelo adotado nos exames dos últimos anos: o candidato deve dissertar sobre umaquestão polêmica, relacionada à conjuntura nacional, explicitada numa frase-síntese – “o sistema de cotas para negros nasuniversidades brasileiras”. Desta feita, a frase deveria ser utilizada, também, como título da redação. Para motivar e en-riquecer a reflexão, a Banca convida o candidato a ler atentamente três fragmentos de textos jornalísticos sobre a questãoem debate, além de recorrer ao seu repertório pessoal de leituras e de experiências.

Todos sabem que a adoção do sistema de cotas por algumas universidades públicas brasileiras tem suscitado deba-tes acalorados. Entre os defensores dessa medida, os argumentos mais comuns são:

• As cotas são uma justa reparação, considerando-se o histórico de discriminação que atingiu e ainda atinge os ne-gros. Relegados por séculos à condição de escravos, posteriormente libertados sem qualquer indenização, os negros, hoje46% da população, ainda compõem a maior parte da população pobre (64%) e mais de dois terços dos indigentes (69%), se-gundo dados apresentados pelo primeiro texto da coletânea. Freqüentam menos anos de escola, recebem salários inferi-ores aos dos brancos no exercício das mesmas funções e estão mais sujeitos ao desemprego. Por fim, o percentual de alunosnegros nas universidades públicas é muito baixo e desproporcional ao contingente de negros na população brasileira.

• Incentivar por meio das cotas o ingresso de negros nas universidades, além de reparar as injustiças do passado,deve possibilitar a ascensão de mais negros aos cargos de destaque na sociedade, aumentando seu poder de influência nosdestinos do país.

• As cotas serviriam ainda para que o acesso à universidade gratuita fosse facilitado aos estudantes das escolas pú-blicas, sabidamente menos preparados do que os oriundos das escolas de elite. Isso colaboraria para corrigir uma distor-ção: as famílias de mais alta renda, em que os negros são exceção, podem custear os estudos básicos de seus filhos, que,depois, usufruem da gratuidade do ensino universitário público, enquanto os filhos dos mais pobres, entre os quais os ne-gros são maioria, precisam cursar universidades privadas, dividindo-se entre o trabalho e os estudos. A adoção da políti-ca de cotas, então, seria uma forma de minimizar diferenças nas condições de competitividade que resultam das deficiên-cias da escola pública, e não da capacidade do candidato.

Entre os opositores da medida, os argumentos mais freqüentes são:

• Cotas ferem o princípio constitucional da igualdade de direitos, já que podem bloquear o acesso de candidatos maiscapacitados que aqueles favorecidos pelas cotas. O mérito dos candidatos, hoje critério exclusivo para a admissão nas uni-versidades públicas, seria suplantado pela identidade racial.

• Não há critério rigoroso que permita a identificação inequívoca dos beneficiários das cotas. A ciência não admiteo conceito de raça. Tampouco é possível estabelecer, num país tão miscigenado, um conjunto de traços típicos da negritudeque pudessem ser verificados em uma fotografia, por exemplo. A interpretação do que seria negro variaria de acordo coma região do país e, talvez, de indivíduo para indivíduo. O único critério universalmente aceito para definir a cor da pele, aautodeclaração, tal como vem sendo empregada pelo IBGE nos censos populacionais, estaria sujeito a todo tipo de manipu-lação, favorecendo candidatos inescrupulosos, que poderiam declarar-se negros apenas para facilitar sua aprovação.

• Estabelecer um benefício para um grupo social pode acentuar as tensões sociais, despertando a ira de grupos nãobeneficiados. Os estudantes universitários negros talvez tivessem sua capacidade questionada pelos colegas brancos, mes-mo que seu ingresso não se tenha dado em decorrência de cotas. Nesse sentido, ao beneficiar um grupo em detrimento deoutros, as cotas seriam uma demonstração de racismo às avessas, favorecendo a discriminação.

• O sistema de cotas permitiria que alunos menos preparados ingressassem nas universidades públicas, o que pode-ria comprometer o padrão de qualidade do ensino. Além disso, os cotistas não teriam condições de acompanhar o rendi-mento dos outros estudantes, concentrando as reprovações e aumentando a evasão.

Tomando por base essas idéias, o candidato deveria examinar a questão e posicionar-se, expondo de forma clara osargumentos que considerasse mais pertinentes.

88VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

Page 9: o anglo resolve a prova de Língua Portuguesa da UNESPangloresolve.cursoanglo.com.br/inc/Download.asp?NomeArq=unesp_jul... · Para os cursos de Artes Plásticas, Música, Educação

89VUNESP/julho 2004 ANGLO VESTIBULARES

COMENTÁRIO

Trata-se, basicamente, de uma prova de Entendimento de Texto, em que se diluem os limites entre literatura e teo-ria da linguagem. Fundada em excelente repertório textual (Romantismo, Naturalismo, Modernismo e prosa contemporâ-nea), a prova apresenta notável unidade conceitual, pois persegue o tema do negro em diferentes períodos da cultura bra-sileira. Apesar da diretriz acentuadamente sociológica, a Banca soube abordar questões de técnica discursiva. É de lamen-tar, apenas, uma certa imperícia na formulação das questões, nem sempre apresentadas com a clareza e a precisão desejá-veis.