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O ATEISMO CIENTIFICO MAL FUNDAMENTADO DE RICHARD DAWKINS Pablo Fernando Campos Pimentel 1 RESUMO Análise critico/estrutural e semântica de alguns trechos da obra de Richard Dawkins “Deus, um delírio”, na qual critica a religião e a existência de Deus. Contraponto com à critica feita pelo colega de Oxford a sua obra, por conta de seu fundamentalismo ateísta, o qual propõe que toda ciência deva encaminhar ao ateísmo, tentando provar por conta disso a “não existência” de Deus, por meio da desconstrução de argumentos de filósofos e teólogos da idade média. No entanto, com essa tentativa, o máximo que parece ter feito foi deploravelmente ter lido de forma leviana os argumentos que procura criticar e por vezes até desvia daquilo que pretende criticar, pois hora parece focar na “religião” hora na tentativa de provar a “não existência de Deus”. Palavras-chave: Deus; Richard Dawkins; ateísmo; religião. INTRODUÇÃO Por obra do conhecimento ao qual chegamos obtivemos vários tipos de explicações possíveis, no entanto, cristãos e ateus já se fizeram ao longo de suas vidas duas perguntas, a saber: Como a raça humana passou a existir? E como a raça humana pôde prevalecer sobre a terra? A raça humana existe e impera sobre todas as outras! Que essa é uma verdade incontestável não há equivoco. O erro se dá quando tentamos falaciosa ou audaciosamente determinar por meio de estudos histórico-científicos a gênese humana, a saber, como se deu sua origem no universo e como se propagou a partir de tempos primordes. Faz-se necessário que se explique o que se quer dizer com “estudos histórico-científicos”, a 1 Mestrando em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

o Ateísmo Científico Mal Fundamentado de Richard Dawkins - Trabalho Filosofia Da Religião

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O ATEISMO CIENTIFICO MAL FUNDAMENTADO DE RICHARD DAWKINSPablo Fernando Campos Pimentel[footnoteRef:1] [1: Mestrando em Filosofia pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS).]

RESUMOAnlise critico/estrutural e semntica de alguns trechos da obra de Richard Dawkins Deus, um delrio, na qual critica a religio e a existncia de Deus. Contraponto com critica feita pelo colega de Oxford a sua obra, por conta de seu fundamentalismo atesta, o qual prope que toda cincia deva encaminhar ao atesmo, tentando provar por conta disso a no existncia de Deus, por meio da desconstruo de argumentos de filsofos e telogos da idade mdia. No entanto, com essa tentativa, o mximo que parece ter feito foi deploravelmente ter lido de forma leviana os argumentos que procura criticar e por vezes at desvia daquilo que pretende criticar, pois hora parece focar na religio hora na tentativa de provar a no existncia de Deus.

Palavras-chave: Deus; Richard Dawkins; atesmo; religio.

INTRODUO

Por obra do conhecimento ao qual chegamos obtivemos vrios tipos de explicaes possveis, no entanto, cristos e ateus j se fizeram ao longo de suas vidas duas perguntas, a saber: Como a raa humana passou a existir? E como a raa humana pde prevalecer sobre a terra?A raa humana existe e impera sobre todas as outras! Que essa uma verdade incontestvel no h equivoco. O erro se d quando tentamos falaciosa ou audaciosamente determinar por meio de estudos histrico-cientficos a gnese humana, a saber, como se deu sua origem no universo e como se propagou a partir de tempos primordes. Faz-se necessrio que se explique o que se quer dizer com estudos histrico-cientficos, a saber, a cincia exercida contemporaneamente pressupondo uma gama de informaes de eras longnquas. Aqui cumpre atentar ao fato de que, o ser humano tem um tempo de durao de vida muito nfimo perante as previses que faz no campo da cincia quando, muitas vezes determina os seus milhes de anos para alguns supostos fatos que teriam acontecido no decorrer da histria do planeta terra e suas glaciaes.Uma dessas teses a que a arqueologia e a biologia do para a existncia da vida, ou seja, a de que a espcie humana deve sua existncia e preponderncia sobre a terra devido a um asteroide ou cometa (aqui as opinies ainda so divergentes) que se chocou com a terra, no perodo denominado cretceo-tercirio (KT), extinguindo os dinossauros e outras espcies que predominavam, dando oportunidade para que o ser humano se desenvolvesse e se tornasse o que conhecemos hoje. A outra tese seria a de que Deus, o Arquiteto do universo criou tudo a partir do nada (creatio ex nihil), onde cria os cus e a terra e no sexto dia cria o homem, j como o conhecemos hoje, ou seja, o homo sapiens sapiens. Se quisermos colocar em p de igualdade as duas teses, at poderamos enquadr-las no quesito fantstico, pois pensar o surgimento e o desenvolvimento da espcie humana a partir de um evento que aconteceu h milhes ou bilhes de anos antes de nossa existncia, por ocasio de uma catstrofe estelar que teria dizimado uma espcie e d chance que outra possa surgir e se desenvolver soa to absurdamente implausvel quanto pensar um criador no ponto zero da existncia que decide por sua omnipotncia criar tudo do nada.

1. O MAU ARGUMENTO DE AUTORIDADE DE DAWKINS.

O que foi dito na introduo serve para que se possa ter uma primeira viso sobre o problema que se quer debater no texto. Richard Dawkins[footnoteRef:2], reconhecido bilogo ingls, o qual intitula sua ltima obra de Deus, um delrio, e segundo o Professor Urbano Zilles (2009, p. 186): [2: Nasceu em Nairbi em 1941 e cresceu na Inglaterra. Formou-se pela Universidade de Oxford e deu aulas de zoologia na Universidade da Califrnia em Berkeley. titular da ctedra de Compreenso Pblica da Cincia de Oxford.]

Ele considera a religio o grande obstculo para o desenvolvimento da cincia e o progresso da humanidade. Por isso trabalha com a tese de que todos os cientistas devem ser ateus. Claro, a cincia trabalha sem a hiptese Deus, mas disso no se pode concluir que os cientistas devam ser ateus.

J no inicio de seu escrito fica confuso no fundo qual seria diretamente o seu ataque, se a m influncia da religio para o progresso humano ou a crena na existncia de Deus. Foquemos no segundo aspecto, o da crena em um Deus criador. O primeiro erro cometido por Dawkins ao escrever essa obra a falcia do mau argumento de autoridade, ou seja, o escopo Deus escapa ao que a cincia biolgica pode discorrer. Um argumento de autoridade aquele argumento do tipo a disse que P; Logo P. Exemplo: Galileu disse que a terra era que orbitava em torno do sol; Logo a terra orbita em torno do sol. No caso do mau argumento de autoridade se d quando um especialista de outra rea se prope a fazer afirmaes que extrapolam seu campo de especialidade.A partir disso fica claro o equivoco cometido por Dawkins, alis, muito criticado por colegas de instituio. As nicas reas autorizadas ou no a fazer afirmaes acerca da existncia e natureza de Deus presumidamente seriam a teologia e a filosofia, as quais desde a sua origem investigam a existncia de um Primeiro Princpio mesmo assim a teologia no se considera a cincia de Deus, mas um saber acerca do Divino, pautado nas escrituras. Afinal de contas a teologia trabalha em parte com o fenmeno da f que, de modo algum pressupe prova e em parte com as escrituras, as quais testificam juntamente com a f, Deus. A filosofia, por sua vez, tenta atravs de argumentao lgica e anlise racional, desde, Aristteles passando pela idade mdia, moderna e atualmente a contemporaneidade demonstrar a plausibilidade da crena em um Motor Imvel, ou ento, que Deus aquilo acima do qual nada maior pode ser pensado, ou ainda, como disse Descartes em seu Discurso, ns s podemos dizer o que o perfeito e o infinito, mesmo que sejamos imperfeitos e finitos porque Deus ao colocar a alma no corpo inscreve tais verdades e qualidades pertencentes somente a Ele, em nossa alma.Portanto, como podemos levar a cabo a critica feita por um cientista da rea da biologia a respeito de um tema do qual nada poderia versar, a saber, Deus, o qual nem a teologia trata de forma cientifica, mas sim, atravs da chamada Revelao. Alister McGrath colega de Oxford de Dawkins e sua esposa Joanna McGrath criticam em seu livro O delrio de Dawkins Uma resposta ao fundamentalismo atesta de Richard Dawkins, a argumentao de Dawkins de que a cincia deve levar ao atesmo. De tudo que Dawkins escreveu e criticou em sua obra se far referncia diretamente ao que disse sobre dois autores medievais e seus argumentos, respectivamente Santo Toms de Aquino (1225 1274) e Santo Anselmo de Canturia (1033 1109) e tomar-se- emprestada a critica feita por Alister McGrath e sua esposa a Richard Dawkins.

2. M REFERNCIA A TOMS DE AQUINO E ANSELMO DE CANTURIA

Aqui se chama de m referncia simplesmente pelo fato de que, quando o autor supracitado critica os argumentos de Santo Toms e Anselmo, este o faz de forma equivocada e pessimamente argumentada. Prova disso como leu de forma precria os dois autores, e isto dito de forma muito firme, pois ao se referir a Santo Toms de Aquino, Dawkins diz o seguinte (2007, p. 111):As cinco provas declaradas por Toms de Aquino no sculo XIII no provam nada, e fcil embora eu hesite em diz-lo, dada sua eminncia mostrar como so vazias. As trs primeiras so apenas modos diferentes de dizer a mesma coisa, e podem ser analisadas juntas. Todas envolvem uma regresso infinita a resposta a uma pergunta suscita uma pergunta anterior, e assim ad infinitum.

Pelo menos um erro se pode notar nesse excerto, a saber, o de que em parte alguma da obra de Santo Toms de Aquino se encontra o termo provas da existncia de Deus, o mesmo discorreu sobre vias e no provas. A diferena semntica e conceitual entre via e prova muito grande, ou seja, a palavra via utilizada por Toms de Aquino, tem o sentido muito claro de caminho lgico para se chegar existncia de Deus. Portanto, via e caminho em Toms de Aquino so palavras intercambiveis. Usar a palavra provas demasiado equivocado e at mesmo tendencioso a corroborar teorias pessoais sobre algo do qual Santo Toms no falou.Uma segunda referncia feita de modo inadequado foi a que se dirige ao argumento ontolgico de Anselmo de Canturia, o qual Dawkins na pgina 116 expressa assim possvel conceber, disse Anselmo, um ser sobre o qual nada de melhor possa ser concebido, em primeiro lugar Anselmo nunca disse que Deus um ser do qual nada melhor pode ser concebido, o que foi dito por Anselmo foi que Deus aquilo acima do qual nada maior pode ser pensado. Aqui h claramente outra maneira errnea de entender duas palavras to diferentes uma da outra, a saber, melhor utilizada por Dawkins e maior usada por Anselmo. Novamente preciso ser afirmado que a diferena entre melhor e maior muito grande, para no dizer descarada. Embora em outras partes Dawkins use a palavra maior, acaba no conseguindo sair de sua m interpretao desse pensador medieval. Pois recai sobre a mesma critica que o monge Gaunilo fez a Anselmo na poca, a saber, a de que qualquer coisa que posso conceber no entendimento exista na realidade. Mas a essa critica o prprio Anselmo respondeu j naquele tempo a Gaunilo, quando este sups ento que se ouvisse falar de uma ilha perdida cheia de riquezas inestimveis, mais que qualquer terra habitada pelos homens, nos fosse contado a respeito de tal ilha, mesmo que jamais a vssemos, no poderamos negar sua existncia, pois, ao formarmos o pensamento de tal ilha no pensamento a partir do relato entendemos tudo que nos foi dito, logo teramos de aceita-la como existente na realidade.No entanto, em sua resposta a Gaunilo, Anselmo deixa claro que o nico ser cuja natureza requer necessariamente sua existncia concreta na realidade a partir de sua compreenso no entendimento seria Deus.

CONCLUSO

Como mencionado anteriormente, um colega da Universidade de Oxford de Dawkins, Alister McGrath e sua esposa, professora da Universidade de Londres escreveram um livro como resposta a argumentao leviana, preconceituosa e ignorante da parte de Dawkins a respeito de Deus e a religio.Aquilo que j foi dito acerca da pssima argumentao contra alguns filsofos-telogos da idade mdia como Toms de Aquino e Anselmo corroborado por McGrath, pois, sendo McGrath um ex-ateu e tambm da rea das cincias naturais, no consegue entender o proselitismo atesta de Dawkins, pois muito diferente de suas primeiras obras que se pautavam na demonstrao de fatos, Deus, um delrio para McGrath uma metralhadora desenfreada de ataques sem fundamentao emprica, fundamentao essa to valorizada pelo prprio Dawkins no passado.Conforme McGrath (2007, p. 16):Na verdade, de fato bastante difcil escrever uma resposta a esse livro no por ser bem argumentado ou reunir muitas evidncias esmagadoras em seu favor. O livro em geral pouco mais que um ajuntamento de factides convenientemente exagerados para alcanar o impacto mximo e fragilmente organizados para sugerir que constituem um argumento. Dar rplica a tal seleo apelativa de evidncias seria por demais tedioso, o que apenas levaria a um livro extremamente obtuso, de configurao impertinente e reativa.

Aps expor de forma pouco mais detalhada o juzo de McGrath a respeito do resultado da obra de Dawkins pensa-se vir a ratificar o que fora dito anteriormente sobre a forma irresponsvel com a qual tratou argumentos de pensadores do medievo de forma to superficial e equivocada, em prol da militncia de um atesmo to fundamentalista quanto o cristianismo ao qual se prestou a criticar.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS DAWKINS, Richard. Deus, um delrio. Traduo de Fernanda Ravagnani. 9 reimpresso. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.

MCGRATH, Alister, MCGRATH, Joanna. O delrio de Dawkins Uma resposta ao fundamentalismo atesta de Richard Dawkins. Traduo de Sueli Saraiva. So Paulo: Mundo cristo, 2007.

ZILLES, Urbano. A crtica da religio. Porto Alegre: EST edies, 2009.

Fim da discusso: asteroide extinguiu os dinossauros. Disponvel em: http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/fim-da-discussao-asteroide-extinguiu-os-dinossauros,4a58a38790aea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html acesso em 17 de junho de 2013.Banco de dados referencial e full-text.