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1 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUTO EDUCACIONAL ALFA APOSTILA: O AUTISMO E SUAS CARACTERÍSTICAS MINAS GERAIS

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

INSTITUTO EDUCACIONAL ALFA

APOSTILA:

O AUTISMO E SUAS

CARACTERÍSTICAS

MINAS GERAIS

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AUTISMO

CONCEITO

A palavra autismo se origina do grego "auto” que significa "próprio". A criança

autista parece em si mesma, pouco reagindo ou respondendo ao mundo que a rodeia.

O autismo significa que o mundo não faz sentido. O mundo não forma os padrões

necessários de símbolos interligados que torna a vida compreendida para essas

crianças . As experiências sensoriais chegam à sua mente a toda hora como uma

língua estranha que ela nunca ouviu .

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ETIOLOGIA

A etiologia é desconhecida, mas

acredita-se em alteração orgânica metabólica.

INCIDÊNCIA

De 10.000 crianças há de 4 à 5 casos

com menos de 12 ou 15 anos. Com retardo mental severo, a taxa pode subir para 20

casos em 10.000 crianças. E é 4 vezes mais comum em meninos do que em meninas;

porém as meninas são mais seriamente acometidas.

QUADRO CLÍNICO

Definição

O autismo é uma síndrome de etiologia puramente orgânica, para qual existem,

presentemente, três definições que podemos considerar como adequadas:

A da ASA - American Society for Autism ( Associação Americana de Autismo )

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A da Organização Mundial de Saúde, contida na CIS-10 ( 10a . Classificação

Internacional de Doenças ) de 19991;

A do DSM-IV - diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders ( Manual

Diagnóstico e estatístico dos distúrbios Mentais ), da Associação Americana de

Psiquiatria .

A definição da ASA desenvolvida e aprovada em 1997, por uma equipe de

profissionais conhecidos pela comunidade científica mundial, por seus trabalhos,

estudos, pesquisas na área do autismo é resumidamente, a seguinte :

1 - “O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de

maneira grave por toda a vida. Acomete cerca de vinte entre cada dez mil nascidos e é

quatro vezes mais comum entre meninos do que em meninas. Não se conseguiu até

agora provar nenhuma causa psicológica, no meio ambiente destas crianças, que

possa causar a doença”.

Os sintomas, causados por disfunções físicas do cérebro, são verificados pela

anamnese ou presentes no exame ou entrevista com o individuo. Incluem:

1o - Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e

lingüísticas.

2o - Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas são :

visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo.

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3o - Fala ou linguagem ausentes ou atrasados. Certas áreas específicas do

pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de idéias. Uso

de palavras sem associação com o significado.

4o - Relacionamento anormal com os objetos, eventos e pessoas. Respostas

não apropriadas a adultos ou crianças. Uso inadequado de objeto e brinquedos. "

2 - Segundo a CID-10,é

classificado como F84-0, como

"Um transtorno invasivo de

desenvolvimento, definido pela

presença de desenvolvimento

anormal e/ou comprometimento

que se manifesta antes da

idade de 3 anos e pelo tipo

característico de funcionamento anormal em todas as três áreas : de interação social,

comunicação e comportamento restrito e receptivo. O transtorno ocorre três a quatro

vezes mais freqüentemente em garotos do que em meninas. "

3 - O DSM-IV apresenta o seguinte critério de diagnóstico :

A. Se enquadrar em um total de seis (ou mais) dos seguintes itens :

(1) Comprometimento qualitativo em interação social, com pelo menos duas

das seguintes características:

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a) Acentuado comprometimento no uso de múltiplos

comportamentos não verbais que regulam a interação social, tais

como contato olho a olho, expressões faciais, posturas corporais

e gestos;

b) Falha no desenvolvimento de relações interpessoais apropriadas

à idade;

c) Ausência da busca espontânea em compartilhar de

divertimentos, interesses e empreendimentos com outras

pessoas

(2). Comprometimento qualitativo na comunicação, em pelo menos um dos

seguintes itens:

a) Atraso ou ausência total no desenvolvimento da fala (sem a

tentativa de compensá-la por meio de comunicação por gestos

ou mímicas);

b) Acentuado comprometimento na habilidade de iniciar e manter

uma conversação, naqueles que conseguem falar;

c) Linguagem estereotipada, repetitiva ou idiossincrática;

d) Ausência de capacidade, adequada à idade, de realizar jogos de

faz-de-conta ou imitativos.

(3). Padrões de comportamento, interesse ou atividades repetitivas ou

estereotipados, em pelo menos um dos seguintes aspectos :

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a) Preocupação circunscrita a um ou mais padrões de interesse

estereotipados e restritos, anormalmente, tanto em intensidade

quanto no foco;

b) Fixação aparentemente inflexível em rotinas ou rituais não

funcionais;

c) Movimentos repetitivos e estereotipados

d) Preocupação persistente com partes de objetos.

B. Atraso ou funcionamento anormal, antes dos três anos, em pelo menos uma das

seguintes áreas: interação social, linguagem de comunicação social e jogos

simbólicos ou imaginativos.

C. O distúrbio não se enquadra na síndrome de Rett ou no Distúrbio Desintegrativo

da Criança.

O Autismo pode ocorrer isoladamente ou em associação com outros distúrbios

que afetam o funcionamento do cérebro, tais como Síndrome de Down e epilepsia. Os

sintomas mudam e alguns podem até desaparecer com a

idade.

O Q.I de crianças autistas, em aproximadamente

60% dos casos, mostram resultados abaixo dos 50,20%

entre 50 e 70 e apenas 20% tem inteligência maior do

que 70 pontos.

O Portador de Autismo tem uma expectativa de vida

normal.

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Formas mais grave podem apresentar comportamento destrutivo, autoagressão e

comportamento agressivo, que podem ser muito resistentes às mudanças.

O Autismo jamais ocorre por bloqueios ou razões emocionais, como insistiam os

psicanalistas. As causas são múltiplas. Algumas já têm sido relacionadas, como:

fenilcetonúria não tratada, viroses durante a gestação, principalmente durante os três

primeiros meses (inclusive citomegalovirus), toxoplasmose, rubéola, anoxia e

traumatismos no parto, patrimônio genético, etc. Ultimamente, pesquisas mostram

evidências de aparecimento do autismo após aplicações da vacina tríplice.

FISIOTERAPIA

A atuação fisioterápica só é dada as crianças autistas com atraso motor, onde

são trabalhadas todas as fazes motoras até a marcha livre, estimulando as etapas do

desenvolvimento normal, prevenindo deformidades e dando orientação familiar. Caso

contrário existe algumas terapias na qual a criança deve se identificar.

TERAPIAS

MÉTODO DE DOMAN

A forma de trabalhar uma criança pode seguir muitos métodos distintos. O método

adequado depende muito do terapeuta e também das condições e capacitações da

criança.

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Uma observação inicial que pode ser feita é que assim como a flor nasce, o peixe

nada e os pássaros cantam, a criança deve engatinhar andar e falar, nesta seqüência.

São seus impulsos naturais. Quando ela falha no seu desenvolvimento esta também

deve ser a seqüência a ser seguida no seu trabalho terapêutico, segundo apreciação

do Dr. Doman, notável especialista americano, que depois de trabalhar, durante anos,

com crianças deficientes, segundo os métodos então tradicionais, chegou a uma

conclusão absolutamente espantosa: "As crianças que tinham permanecido sem

tratamento estavam incomparavelmente melhores do que as tratadas por nós".

Buscando razões deste fracasso, através da observação, que as mães que não lhe

deram ensejo de imobilizar os filhos pelo tratamento, levaram-nos para casa, puseram-

nos no chão e permitira que eles fizessem o que lhes aprouvesse. Estas crianças, por

instinto, passaram a rastejar, engatinhar, obtendo melhoras consideráveis.

O seu método nasceu daí e visa estimular a evolução natural da criança. Este

método tem muito seguidores no Brasil, prevê um programa de exercícios que chega a

ser extenuante, mas que tem se revelado eficaz.

HOLDING TERAPY

A terapia do abraço vem sendo empregada e defendida com crescente

entusiasmo por um grupo bastante numeroso. A revista Communication da National

Autistic Society de junho de 89 apresentou um artigo de Michele Zappella (Psiquiatra) e

John Richer (Pediatra) que resumimos a seguir.

O holding é uma forma de intervenção intrusiva cujo objetivo é reduzir o

isolamento social, aumentar a comunicabilidade e desenvolver laços de união. O

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holding deve ser sempre parte de um pacote maior de terapias, mas parece ser uma

eficiente terapia para desenvolver as condições da maioria das crianças autistas e de

remover comportamentos indesejáveis. Welch desenvolveu esta forma de terapia como

parte de uma ampla abordagem.

Ainda não está claro como o Holding atua, porque a eficácia depende de quem a

aplica e qual a inter-relação com as demais terapias aplicadas simultaneamente. O fato

é que se obtêm resultados, independente de gravidade do autismo. Vamos dar um

exemplo:

"Uma criança com 1 ano e meio foi diagnosticada como autista e colocado em um

programa de um hospital escola, onde ficava a maior parte do dia com outras crianças

autistas. Depois de dois anos ela se apresentava seriamente retardada e com

comportamento fortemente autístico, com péssimo prognóstico. Foi submetida então a

tratamento envolvendo interações físicas acentuadas, com Michele Zappella. Depois de

6 meses o comportamento social da criança estava dentro da faixa normal da idade.

Este exemplo é uma ilustração e não pode, evidentemente, ser apresentado como

evidência."

Deve ser lembrado. Inicialmente, que existem muitas variações de terapia do

abraço. De um modo geral, porém são elementos comuns:

O adulto mantém a criança abraçada mesmo que ela se oponha e lute

para se livrar, até que ela se acalme e relaxe.

O adulto deve manter o controle da criança

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Uma seção atípica apresenta os seguintes passos:

Inicialmente a criança pode ficar quieta, mas a seguir começa a se

debater. Os pais continuam a abraçá-la.

A criança se debate mais e mais e ocasionalmente começa a gritar. Os

pais mantém o abraço.

Os ciclos de luta, gritos e aquietamentos podem de estender até por mais

de uma hora.

Durante, em especial, as seções iniciais, a criança se enraivece mais, então

soluça, depois relaxa e se amolda ao corpo dos pais. A partir de então a criança se

torna mais comunicativa, aconchegante e aberta.

A insistência em confrontar a criança é uma importante característica do

HOLDING. A intervenção é realizada mantendo a criança em contato estreito, fixando-

lhe o olhar, beijando-a e falando com ela (Alguns usam um fundo musical).

Zappella aplicou a terapia a 50 crianças autistas, com idade de 3 a 15 anos,

envolvendo a família e tendo como base a terapia do abraço. Ela registra que 12% se

normalizaram após dois anos, 18% perderam o comportamento autístico e 44%

apresentaram progressos moderados e 26% não demonstraram resultados. J. Prekop,

na Alemanha reportou resultados similares. Ela também comparou o desenvolvimento

destas crianças com outras que não tinham sido submetidas ao HOLDING, concluindo

que, relativamente, fizeram maior progresso.

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HIPOTERAPIA

Essa atividade ajuda a fornecer balanço e força e requer o uso de suas mãos,

portanto minimiza os movimentos estereotipados das mãos e aumenta o uso das

mesmas.

O autista ganha controle, trazendo confiança e satisfação.

MUSICOTERAPIA

A musicoterapia é um método muito eficaz. A música promove o relacionamento

entre o paciente e o terapeuta, que aproveita, na terapia tudo que possa provocar

algum ruído, som, ou mesmo movimento.

A musicoterapia também utiliza o próprio corpo do paciente. No início, o

terapeuta espera que o autista se expresse de algum modo , um piscar de olhos, um

som, um gesto qualquer. O terapeuta, então, repete o gesto ou emite o mesmo som,

tentando estabelecer uma comunicação com o paciente. Ao mesmo tempo, procura

mostrar ao autista que ele será aceito, não importa a maneira como aja.

Se o autista retribui a mensagem,a primeira comunicação está feita. Ele começa

a se comunicar com os outros. Ele, agora, vê o mundo e o compreende.

Crescimento da independência escolhendo músicas e atividades

Comunicação (atividades musicais através de símbolos).

Desenvolvimento da autoimagem e da autoestima.

Estimulação pelo contato expressivo dos olhos.

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Desenvolvimento da vocalização através da música.

Aumento do uso proposital das mãos enquanto toca os instrumentos

Aumento da socialização através da participação

A musicalidade induz ao relaxamento que facilita na liberdade de movimentos e

expressão.

Nem todo autista tem um atraso motor, mas o que tiver deve-se trabalha esse

atraso ate a marcha livre.

AUTISMO – VISÃO DA PSIQUIATRIA

TRANSTRONOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO

Os transtornos globais do desenvolvimento incluem um grupo de condições nas

quais há atraso ou desvio no desenvolvimento de habilidades sociais, linguagem,

comunicação e repertório comportamental.

Crianças afetadas exibem interesse intenso idiossincrático em uma estreita gama

de atividades, resistem à mudança e não respondem de maneira adequada ao ambiente

social. Esses fatores se manifestam cedo na vida e causam disfunção pertinente.

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TRANSTORNO AUTISTA

O transtorno Autista (historicamente chamado de autismo infantil precoce/ autismo

da infância ou autismo de Kanner) é caracterizado por interação social recíproca anormal,

habilidades de comunicação atrasadas e disfuncionais e um repertório limitado de

atividades e interesses.

PREVALÊNCIA

A taxa é de cinco casos por 10 mil crianças. O inicio do transtorno ocorre antes dos

3 anos de idade, ainda que possa não ser reconhecido até a criança ser muito mais velha.

DISTRIBUIÇÃO POR SEXO

É 4 a 5 vezes mais frequente em meninos do que em meninas. Meninas com

transtorno autista têm maior probabilidade de apresentar um retardo mental grave.

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ETIOLOGIA E PATOGÊNESE

Segundo Kanner poderia ser consequência de mães muito “geladeiras”, porém não

há validade de tal hipótese.

FATORES PSICOSSOCIAIS E FAMILIARES

Essas crianças podem responder com sintomas exacerbados a estressores

psicossociais, incluindo discórdia familiar, nascimento de um novo irmão ou mudança

familiar.

FATORES BIOLÓGICOS

Cerca de 75% das crianças afetadas apresentam um retardo mental. Um terço tem

retardo mental leve a moderado e perto da metade tem retardo mental grave ou profundo

(essas crianças apresentam déficits mais importantes no raciocínio abstrato no

entendimento social e em tarefas verbais do que em tarefas de desempenho).

Podem apresentar também:

Convulsões;

Aumento ventricular;

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Anormalidades eletroencefalográficas.

FATORES GENÉTICOS

Entre 2 e 4% dos irmãos de crianças autistas também tinham transtorno autista,

uma taxa 50 vezes maior do que na população geral.

FATORES IMUNOLÓGICOS

Incompatibilidades imunológicas (anticorpos maternos transferidos ao feto) podem

contribuir para o transtorno autista. Os linfócitos de algumas crianças autistas reagem

com anticorpos maternos, o que levanta a possibilidade de que tecidos neurais

embrionários ou extraembrionários possam ser danificados durante a gestação.

FATORES PERINATAIS

Uma incidência de complicações perinatais mais alta que o esperado parece

ocorrer em bebês mais tarde diagnosticados como autistas. Sangramento materno após o

primeiro trimestre. No período neonatal, estas têm uma alta incidência de síndrome de

sofrimento respiratório e anemia neonatal.

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FATORES NEUROANATÔMICOS

Estudos de RM comparando indivíduos autistas e controles normais demonstraram

que o volume cerebral total era maior entre os primeiros, embora crianças com um retardo

mental grave em geral tenham cabeças menores. O volume pode sugerir: neurogenese

aumentada, morte neuronal diminuída e produção aumentada de tecido cerebral não

neuronal, como células gliais ou vasos sanguíneos. Acredita se que o lobo temporal seja

uma área crítica de anormalidade cerebral no transtorno autista.

FATORES BIOQUÍMICOS

Em algumas crianças autistas, altas concentrações de ácido homovanílico

(principal metabólito da dopamina) no liquido cerebrospinal (LCS) estão associados a

aumento do retraimento e estereotipias.

CARACTERISTICAS FISICAS

Crianças com transtorno autista costumam ser descritas como atraente e a primeira

vista, não apresentam nenhum sinal indicando o problema. Podem apresentar

malformações das orelhas, uma vez que a formação das orelhas se dá quase ao mesmo

tempo em que a formação de porções do cérebro. Também apresentam uma incidência

mais alta de demartoglifia anormal (impressões digitais) do que a população em geral.

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CARACTERISTICAS COMPORTAMENTAIS

Apresentam prejuízos qualitativos na interação social: não

apresentam sinais sutis com os pais e outras pessoas.

Não apresentam contato visual ou o mesmo é muito pobre.

Não reconhecem ou não diferenciam as pessoas mais importantes em

sua vida.

Podem apresentar ansiedade extrema quando ocorre alguma

mudança em sua rotina.

Há um déficit notável no brincar, seu comportamento social pode ser

desajeitado ou inadequado.

Incapazes de interpretar a intenção do outro (não desenvolvem a

empatia).

TRANSTORNOS DA COMUNICAÇÃO E NA LINGUAGEM

Os autistas têm dificuldade marcante em formar frases significativas mesmo

quando dispõem de vocabulários amplos.

COMPORTAMENTOS ESTERIOTIPADO

Em seus primeiros anos de vida não explora o ambiente (ou pouco).

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Os brinquedos são manuseados de formas ritualísticas, com poucos

aspectos simbólicos.

Suas atividades tendem a ser rígidas, repetitivas e monótonas, muitas

com retardo mental grave, exibem anormalidades no movimento.

Costumam ser resistentes a transição e mudança.

SINTOMAS COMPORTAMENTAIS ASSOCIADOS

Hipercinesia é um problema de comportamento comum entre crianças

autistas.

Agressão e acessos de raiva são observados, em geral induzidos por

mudanças e exigências.

Comportamento automutilador (inclui bater a cabeça, morder,

arranhar e puxar o cabelo).

Período de atenção curto.

Baixa capacidade de focalizar-se em uma tarefa.

Insônia.

Enurese.

Problemas de alimentação.

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DOENÇA FISICA ASSOCIADA

Tem uma incidência mais alta do que o esperado de infecções do

trato respiratório superior e de outras infecções menores.

Constipação e aumento do transito intestinal.

Convulsões febris.

FUNCIONAMENTO INTELECTUAL

Capacidades cognitivas ou Visio motoras incomuns ou precoces ocorrem em

algumas crianças autistas. São chamadas de funções fragmentadas ou ilhas de

precocidade.

Memórias de hábitos ou capacidades de cálculos muitas vezes superiores aos seus

pares normais.

Hiperlexia e boa leitura (embora não possam entender o que leem. Memorização e

recitação, bem como capacidades musicais (cantar ou tocar melodias e reconhecer notas

musicais)).

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Os principais diagnósticos diferenciais são esquizofrenia com inicio na infância,

retardo mental com sintomas comportamentais, transtorno misto de linguagem receptivo-

expressiva, surdez congênita ou transtorno auditivo grave, privação psicossocial e psicose

desintegrativa (regressivas).

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RETARDO MENTAL COM SINTOMAS COMPORTAMENTAIS

Crianças com retardo mental tendem a relacionar-se com adultos e outras crianças

de acordo com sua idade mental, usam a linguagem que tem para comunicar se e exibem

um perfil de prejuízos relativamente uniforme, sem funções fragmentadas.

AFASIA ADQUIRIDA COM CONVULSÃO

Afasia adquirida com convulsão é uma condição rara, às vezes difícil de diferenciar

de um transtorno autista e transtorno desintegrativo na infância.

SURDEZ CONGÊNITA OU PREJUIZO AUDITIVO GRAVE

Visto que crianças autistas com frequência são mudas ou apresentam um

desinteresse seletivo na linguagem falada, costumam ser julgada surda.

Os fatores de diferenciação incluem o seguinte: bebês autistas podem balbuciar

com pouca frequência, enquanto bebês surdos têm historia de balbucio relativamente

normal, que vai diminuindo e pode parar entre 6 meses e 1 ano de idade. Crianças surdas

respondem a apenas sons altos, enquanto autistas podem ignorar sons altos ou normais

e responder a sons suaves ou baixos.

As crianças mesmo surdas gostam de se relacionar com seus pais, buscam sua

afeição e gostam de ser seguradas enquanto bebês, diferentemente do autista.

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CURSO E PROGNÓSTICO

O transtorno autista costuma se uma condição para toda a vida com um

prognóstico cauteloso. Crianças autistas com um QI acima de 70 e aquelas que usam

linguagem comunicativa nas idades de 5 a 7 anos tendem a ter melhores prognósticos.

As áreas de sintoma que não parecem melhorar com o tempo foram àquelas

relacionadas a comportamentos ritualísticos e repetitivos.

Em geral, estudos do resultado em adultos indicam que cerca de dois trecos dos

adultos permanecem gravemente incapacitados e vivem em dependência completa ou

semidependência com seus parentes ou em instituições de longo prazo.

O prognóstico melhora quando o ambiente ou lar é sustentador e capaz de

satisfazer as necessidades extensivas dessas crianças. Embora os sintomas diminuam

em muitos casos, automutilação grave ou agressividade e regressão podem desenvolver

em outros.

TRATAMENTO

Os objetivos do tratamento de criança com transtorno autista são aumentar o

comportamento socialmente aceitável e pró-social, diminuir sintomas comportamentais

bizarros e melhorar a comunicação verbal e não verbal.

Além disso, os pais muitas vezes confusos necessitam de apoio e aconselhamento.

No momento intervenções educacionais e comportamentais são mais indicadas.

Treinamento em sala de aula estruturada em combinação com métodos comportamentais

é o mais efetivo para muitas crianças autistas.

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Não há medicamentos específicos para tratar os sintomas centrais do autista,

entretanto, a psicofarmacoterapia é um tratamento adjunto valioso para melhorar

sintomas comportamentais associados.

Foi relatado que ela atenua sintomas como agressividade, acesso de raiva grave,

comportamentos automutiladores, hiperatividade, comportamento obsessivo compulsivo e

esteriotipias. A administração de medicamentos antipsicoticos pode reduzir o

comportamento agressivo e automutilador.

HISTÓRICO DA EXCLUSÃO

Nos anos 60 e 70, a marginalidade era vista como pobreza, uma consequência das

migrações internas que esvaziavam o campo da região nordeste, do norte e “incharam” as

cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Entendia-se na época, que os problemas

urbanos de moradia (favelas), mendicância, delinquência etc., poderiam ter suas raízes

nesses processos migratórios.

Inicia-se aí a exclusão, onde competidores teriam a mesma chance na luta pelo

espaço, sendo que os mais aptos ganhariam melhores posições nesse ambiente

construído e disso resultariam zonas segregadas, onde os mais pobres excluíam-se dos

anéis urbanos e imediatamente passariam para o próximo e gradativamente, os melhores

lugares estariam ocupados pelos “vencedores”.

Nos anos 70, existia o dualismo: atrasado x moderno, não integrado x integrado,

rural x urbanos e os estudiosos passaram a ver as relações econômicas e sociológicas

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inerentes ao capitalismo como constitutivas do sistema produtivo. As populações

marginais aparecem, nesse contexto, como consequência da acumulação capitalista, um

exercício industrial de reserva singular.

Nos anos 80, na chamada “década perdida”, ao contrário dos anos 60 e 70, quando

se chamava a atenção para os favelados e para a migração como figura emblemática dos

excluídos na cidade, pelo aumento da pobreza e da recessão econômica, ao mesmo

tempo em que se vivia a chamada “transição democrática”, chama-se a atenção para a

questão da democracia, da segregação urbana (efeitos perversos da legislação

urbanística), a importância do território para a cidadania, a falência das ditas políticas

sociais, os movimentos sociais, as lutas sociais.

O componente territorial implica não só que seus habitantes devem ter acesso aos

bens e serviços indispensáveis, mas que haja uma adequada gestão deles, assegurando

indispensáveis, mas que haja uma adequada gestão deles, assegurando tais benefícios à

coletividade. Aponta que o terceiro mundo tem “não cidadãos” (contraste entre massa de

pobres e a concentração de riqueza), porque se funda na sociedade do consumo, da

mercantilização e na monetarização. Em lugar do cidadão, surge o consumidor

insatisfeito, em alienação, em cidadania mutilada.

A cidadania é também o direito de permanecer no lugar, no seu território, o direito a

espaço de memória. O capitalismo predatório e as políticas urbanas que privilegiam

interesses privados e o sistema de circulação acabaram por descaracterizar bairros,

expulsar moradores como favelados (remoção por obra publica, reintegração de posse),

encortiçados (despejos, remoção, demolições), moradores de loteamento irregulares, sem

teto, num nomadismo sem direito às raízes.

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Pedro Jacobi desenvolve seus trabalhos sobre a questão dos movimentos sociais

urbanos e as carências de habitação, equipamentos de saúde, escolas, lazer, enfim, dos

serviços urbanos. Assim a exclusão aparece como não acesso aos benefícios da

urbanização.

Nos anos 90 reeditam o conceito de exclusão como não cidadania, principalmente

a ideia de processo abrangente dinâmico e multidimensional.

O rótulo que parece empurrar as pessoas, os pobres, os fracos, para fora da

sociedade, para fora de suas melhores e mais justas corretas relações sociais, privando-

os dos direitos que dão sentido a essas relações. Quando, de fato, esse movimento as

está empurrando para dentro, para condição subalterna de reprodutores mecânicos do

sistema econômico, reprodutores que não reivindicam nem protestam em face das

privações, injustiças e carências.

Neste caso o termo exclusão é concebido como expressão das contradições do

sistema capitalista e não como estado de fatalidade. Através do consumismo dirigido,

gera-se uma sociedade dupla, de duas partes que se excluem reciprocamente, mas

parecidas por conterem as mesmas mercadorias e as mesmas ideias individualistas e

competitivas, só que as oportunidades não são iguais, o valor dos bens é diferente, a

ascensão social é bloqueada. Apesar disso, um bloco de ideias falso, enganador e

mercantilizado acena para o homem “moderno colonizado”, que passa a imitar, mimetizar

os ricos e a pensar que nisso reside à igualdade.

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“É a sociedade da imitação, da reprodutividade e da

vulgarização, no lugar da criação e do sonho”. SAWAIA (2009)

Atribui-se a René Lenoir, em 1974, a concepção da exclusão como um fenômeno

de ordem individual, mas social, cuja origem deveria ser buscada nos princípios mesmos

do funcionamento das sociedades modernas. Dentre suas caudas destacava o rápido e

desordenado processo de urbanização, a inadaptação e uniformização do sistema

escolar, o desenraizamento causado pela mobilidade profissional, as desigualdades de

renda e de acesso aos serviços. Não se trata apenas de um fenômeno marginal, mas de

um processo em curso que atinge cada vez mais todas as camadas sociais.

“E os pobres passam a desconfiar de si próprios, numa

culpabilidade popular: caminhando sobre o chão pavimentado

pelo preconceito dos pobres contra os pobres, as classes

dominantes no Brasil começam a extravasar uma subjetividade

antipública que segrega, elabora pela comunicação imediática

uma ideologiantiestatal, fundada no grande desenvolvimento

capitalista, na desindustrialização, na terceirização superior, da

dilapidação financeira do estado e da imagem de um Estado

devedor”. SAWAIA (2009)

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CONCEITO DE EXCLUSÃO

O tema exclusão está presente na mídia, no discurso político e nos planos e

programas governamentais, a noção de exclusão social tornou-se familiar no cotidiano

das mais diferentes sociedades. Não é apenas um fenômeno que atinge os países

pobres.

A concepção de exclusão continua ainda fluida como categoria analítica, difusa,

apesar dos estudos existentes, e provocadora de intensos debates. Muitas situações são

descritas como exclusão, que representam as mais variadas formas e sentidos advindos

da relação inclusão/ exclusão. Sob esse rótulo estão contidos inúmeros processos e

categorias, uma série de manifestações que aparecem como fraturas e rupturas do

vinculo social (pessoas idosas, deficientes, desadaptados sociais, minorias étnicas ou de

cor, desempregados de longa duração, jovens impossibilitados de aceder ao mercado de

trabalho, etc.). Assim os estudiosos da questão concluem que do ponto de vista

epistemológico, o fenômeno da exclusão é tão vasto que é quase impossível delimitá-lo.

... “Excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos

mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores” SAWAIA

(2009).

A ruptura de carência, de precariedade, pode-se afirmar que toda situação de

pobreza leva a formas de ruptura do vinculo social e representa, na maioria das vezes,

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um acúmulo de déficit e precariedade. A pobreza não significa necessariamente exclusão,

ainda que possa ela conduzir.

A pobreza e a exclusão no Brasil são faces de uma mesma moeda. As altas taxas

de concentração de renda e desigualdade persistentes em nosso país convivem como os

efeitos perversos do fenômeno do desemprego estrutural. Se, de um lado cresce cada

vez mais a distancia entre os excluídos e os incluídos, de outro, essa distancia nunca foi

tão pequena, uma vez que os incluídos estão ameaçados de perder direitos adquiridos.

A consolidação do processo de democratização, em nosso país, terá que passar

necessariamente pela desnaturalização das formas com que são encaradas as práticas

discriminatórias, portanto, geradoras de processo de exclusão.

De acordo com SAWAIA (2009), no livro as Artimanhas da Exclusão, a inclusão é

contraditória, onde a qualidade de conter em si a sua negação e não existir sem ela, isto

é, ser idêntico à inclusão (inserção social perversa). A sociedade exclui para incluir e esta

transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da

inclusão. Todos estamos inseridos de algum modo, nem sempre decente e digno, no

circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande maioria da humanidade

inserida através da insuficiência e das privações, que se desdobram para fora do

econômico. Portanto, em lugar da exclusão, o que se tem é a “dialética exclusão/

inclusão”.

A dialética inclusão/exclusão gesta subjetividade especificas que vão desde o

sentir-se incluído até o sentir-se discriminado ou revoltado. Essas subjetividades não

podem ser explicadas unicamente pela discriminação econômica, elas determinam e são

determinadas por formas diferenciadas de legitimação social e individual, e manifestam-se

no cotidiano como identidade, sociabilidade, afetividade, consciência e inconsciência.

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“Em síntese, a exclusão é processo e multifacetado, uma

configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e

subjetivas. É processo sutil e dialético, pois só existe em relação à

inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um

estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas

relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma

falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba

a ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do

sistema” (SAWAIA, 2009)

SAWAIA (2009) aponta vários estudos acerca da exclusão e todos eles reforçam a

tese de que o excluído não está à margem da sociedade, mas repõe e sustenta a ordem

social, sofrendo muito neste processo de inclusão social, pois a sociedade opera sobre o

homem (social e o psicológico), de forma que o papel de excluído engole o homem.

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INCLUSÃO DA CRIANÇA AUTISTA

Muito se tem falado sobre o processo de inclusão, e quase sempre com a

conotação de que inclusão e integração escolar seriam sinônimas. Na verdade, a

integração insere o sujeito na escola esperando uma adaptação deste ao ambiente

escolar já estruturado, enquanto que a inclusão escolar implica em redimensionamento de

estruturas físicas da escola, de atitudes e percepções dos educadores, adaptações

curriculares, dentre outros. A inclusão num sentido mais amplo significa o direito ao

exercício da cidadania, sendo a inclusão escolar apenas uma pequena parcela do

processo que precisamos percorrer.

Um processo de inclusão escolar consciente e responsável não acontece somente

no âmbito escolar e deve seguir alguns critérios. A família do indivíduo portador de

autismo possui um papel decisivo no sucesso da inclusão. Sabemos que se trata de

famílias que experimentam dores psíquicas em diversas fases da vida, desde o momento

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da notícia da deficiência e durante as fases do desenvolvimento, quando a comparação

com demais crianças é frequente.

O ambiente para o desenvolvimento da criança, tanto "normal" quanto "deficiente",

no que tange à organização de suas atividades de vida diária e ao processo de

estimulação, torna-se fundamental compreender como o ambiente influencia o

desenvolvimento das crianças, principalmente daquelas que apresentam algum tipo de

deficiência. Vygotsky (1994) afirma “que a influência do ambiente sobre o

desenvolvimento infantil, ao lado de outros tipos de influências, também deve ser avaliada

levando em consideração o grau de entendimento, a consciência e o insight do que está

acontecendo no ambiente em questão”.

O microsistema da família não é o único que precisa ser estudado. Há também o

ambiente da escola, que constitui mais um espaço de socialização para a criança com

autismo. Em relação a isso, muito se tem discutido a respeito da inclusão da criança

autista em ambiente coletivo, mostrando a sua importância e necessidade.

É importante ressaltar a

necessidade de mais orientação para as

famílias de crianças autistas, as quais

devem ser mais bem informadas sobre

este tipo transtorno e suas consequências

para o desenvolvimento da criança, bem

como dos recursos necessários para favorecê-lo. Nesse contexto, as políticas públicas

têm um papel muito importante, especialmente para as famílias de baixa renda, uma vez

que o gasto com profissionais e com atendimento especializado torna-se necessário.

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O nascimento de um filho com algum tipo de deficiência ou doença, ou o

aparecimento de alguma condição excepcional, significa uma destruição de todos os

sonhos e expectativas que haviam sido gerados em função dele. Durante a gravidez, e

mesmo antes, os pais sonham com aquele “filho ideal” que será bonito, saudável,

inteligente, forte e superará todos os limites; aquele filho que realizará tudo que eles não

conseguiram alcançar em suas próprias vidas. Além da decepção, o nascimento de um

filho portador de deficiência implica em reajustamento de expectativas, planos para o

futuro e a vivência de situações críticas e sentimentos difíceis de enfrentar.

Passado o período de luto simbólico, a forma como a família se posiciona frente à

deficiência pode ser determinante para o desenvolvimento do filho. Muitos pais, porque

não acreditam que seus filhos possuam potencialidades, deixam de ensinar coisas

elementares para o autocuidado e para o desenvolvimento da independência. Alguns

optam pelo isolamento e outros por infantilizarem seus filhos por toda a vida, esquecendo

que eles não são eternos e que o portador de necessidades especiais deve se tornar o

mais autônomo possível.

Quando se propõe a inclusão de crianças autistas devem-se respeitar as

características de sua natureza, visando à aquisição de comportamentos sociais

aceitáveis, porém, respeitando as necessidades especiais de cada educando, e,

sobretudo, trazendo os pais para um comportamento mais realístico possível, evitando a

fantasia da cura, tão presente em pais de crianças especiais

A escola também pode colaborar dando sugestões aos familiares de como estes

podem agir em casa, de maneira que se tornem coautores do processo de inclusão de

seus filhos. Sendo assim, quando uma criança portadora de autismo é incluída na escola

regular, sua família também o é. Com efeito, é provável que antes da inclusão escolar a

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convivência com os pais de outras crianças, o planejamento de visitas de coleguinhas na

casa da criança e a frequência a festinhas de aniversário dos colegas de sala eram

possibilidades muito distantes para essas famílias. O objetivo da educação especial é o

de reduzir os obstáculos que impedem o indivíduo de desempenhar completas atividades

e participação plena na sociedade.

Promover a inclusão significa, sobretudo, uma mudança de postura e de olhar a

cerca do transtorno. Implica em quebra de paradigmas, em reformulação do nosso

sistema de ensino para a conquista de uma educação de qualidade, na qual, o acesso, o

atendimento adequado e a permanência sejam garantidos a todos os alunos,

independentemente de suas diferenças e necessidades. A concepção da Educação

Especial como serviço segrega e cria dois sistemas separados de educação: o regular e o

especial, eliminando todas as vantagens que a convivência com a diversidade pode nos

oferecer.

É preciso ter claro que para a conquista do processo de inclusão de qualidade,

algumas reformulações no sistema educacional se fazem necessário. Seriam elas:

adaptações curriculares, metodológicas e dos recursos tecnológicos, a racionalização da

terminalidade do ensino para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a

conclusão do Ensino Fundamental, em virtude das necessidades especiais, a

especialização dos professores e a preparação para o trabalho, visando à efetivação da

cidadania do portador de necessidades especiais.

A escola, por sua vez, para promover a inclusão deve eliminar barreiras que vão

além das arquitetônicas, mas principalmente as atitudinais. São necessárias algumas

adaptações de grandes e pequenos portes, tais como a adaptação curricular, a adaptação

do sistema de avaliação da aprendizagem, de materiais e equipamentos, a preparação

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dos recursos humanos e a preparação dos alunos e pais de alunos que receberão o

portador de necessidades especiais. Sem as devidas adaptações, um processo de

inclusão pode ser mais segregador que a exclusão declarada, pois entendemos que a

inclusão não pode se restringir à convivência social, mas deve zelar pela aprendizagem

da criança com necessidades especiais. O atendimento educacional a crianças e jovens

portadoras de autismo tem sido realizado, em nosso país, em escolas especiais ou ainda

em clínicas-escolas, provavelmente porque educar uma criança autista ainda se constitui

em um grande desafio em função das características desta população. Uma desordem

aguda do desenvolvimento requer tratamento especializado para o autista por toda a sua

vida.

É fato que a inclusão deve ser avaliada em seu custo-benefício para o aluno em

questão. Não podemos perder de vista que “a inclusão é um processo permanente e

contínuo, pois a inclusão sempre deve visar a aprendizagem dos alunos com

necessidades especiais e não simplesmente o convívio social, habilidade que a criança

pode adquirir em muitos espaços e não necessariamente na escola.

O desenvolvimento fantástico das novas tecnologias, a maneira de se produzir as

coisas e a maneira de se executar os serviços sofreram uma transformação profunda.

Surge o fenômeno da automação, isto é, as novas tecnologias criam instrumentos que

substituem a mão-de-obra humana. Com isso multidões de pessoas foram dispensadas

de seus empregos, e as novas gerações nem chegam a conseguir um local de trabalho.

As relações centrais que definem nossa sociedade não são mais apenas a dominação e a

exploração, como no modo de produção capitalista, pois são bem menos agora os que

podem ser dominados ou explorados.

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A consequência do capitalismo é a competitividade, a qual exige a exclusão. É o

confronto, o choque entre interesses diferentes ou contrários, que vai fazer com que as

pessoas lutem, trabalhem, se esforcem para conseguir melhorar seu bem-estar, sua

qualidade de vida, sua ascensão. Podemos tomar como exemplo o filme exibido em sala

de aula - “Como as estrelas na terra, toda criança é especial”, onde Ishaan era rotulado

de burro, preguiçoso e desinteressado, pois não conseguia acompanhar as exigências do

pai, que era muito rígido. Ishaan não conseguia acompanhar os demais porque era

disléxico e por isso era excluído pela sociedade e pela própria família. Assim também

acontece com a criança autista.

Mas essa competitividade vai além da disputa de mercado, trata-se de uma

competitividade que se estabelece entre os seres humanos. O ser humano, como ser

isolado e egoísta, tem de competir para sobreviver, de um lado e de outro lado, para

trazer progresso.

“Mas essa competitividade entre os desiguais acaba por excluir os

mais fracos e manter a dominação dos mais fortes” (SAWAIA,

2009).

A educação de uma criança portadora de autismo representa, sem dúvida, um

desafio para todos os profissionais da Educação. A singularidade e a insuficiência de

conhecimento sobre a síndrome nos fazem percorrer caminhos ainda desconhecidos e

incertos sobre a melhor forma de ajudar essas crianças e sobre o que podemos esperar

de nossas intervenções. É necessário ter humildade e cautela diante do tema, pois para

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compreender o autismo, é preciso uma constante aprendizagem, uma contínua revisão

sobre nossas crenças, valores e conhecimento sobre o mundo, e, sobretudo, sobre nós

mesmos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JERUSALINSKY, A. Psicose e autismo na infância: Uma questão de linguagem.

Psicose, 4 (9). Boletim da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, RS, 1993.

KUPFER, M. C. M. Notas sobre o Diagnóstico Diferencial da Psicose e do Autismo

na Infância. Instituto de Psicologia da USP, Psicol. SP, vol.11, n.1, São Paulo, 2000.

Visualizado em 17/10/2010 no Site:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

65642000000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

SAWAIA, B. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da

desigualdade social. Petrópolis, Vozes, 2009.

TAFURI, Maria Izabel. A análise com crianças autistas: uma inovação do método

psicanalítico clássico. 2005. Visualizado em 02/11/2010 no Site:

http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=103