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A COMUNIDADE PERCURSO Autoria de Ana Rita Felizardo Francisco

O Caderno da Comunidade / Percurso / Ana Francisco

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Um projecto em torno do conceito de migração.

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A COMUNIDADE

PERCURSO

Autoria de Ana Rita Felizardo Francisco

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A COMUNIDADE

PERCURSO

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A COMUNIDADE

PERCURSO

Toda a informação acerca deste projecto pode ser vista através da plataforma: http://percursomdcnm.wordpress.com

EPÍLOGO

UM PROJECTO EM TORNO DO CONCEITO DE MIGRAÇÃO

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ÍNDICE

1. INTODUÇÃO

2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

2.1. Conceito de Comunidade

2.2. Conceito de Parasita e Hospedeiro

2.3. As Andorinhas-das-Chaminés

2.4. A Migração e os Seus Enigmas

2.5. A Migração - As Andorinhas-das-Chaminés

2.6. Padrões de Comportamento das Andorinhas-das-Chaminés

2.7. A Parábola

3. DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE DE CHAGADA

3.1. Recolha de Dados - O Questionário

3.2. Recolha de Dados - As Respostas

3.3. A Criação do Mapa Base - com os Países Intervenientes

3.4. As Experiências Iniciais - Mapeamento de Informação

4. A COMUNIDADE DE CHEGADA (DIGITAL)

4.1. A Plataforma de Visualização dos Alunos

4.2.AsInfografias(acontarHistórias)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6. REFERÊNCIAS

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RESUMO

O presente documento descreve o trabalho académico desenvolvido no segundo semestre do primeiro ano do Mestrado de Design de Comunicação e Novos Media da Universidade de Lisboa, que surgiu no âmbito da cadeira de Projecto II e Laboratório dos Novos Media II, como forma de reflectir acerca das dimensões naturais do design de comunicação e a sua relação com os media.

De forma breve, pode-se afirmar que o projecto teve início com a definição uma comunidade de partida – uma comunidade biológica (as andorinhas-das-chaminés), que serviu de base para criar uma parábola/uma analogia que teve reflexo na comunidade de chegada – a comunidade digital (caracterizada pelos alunos que passaram pelo Mestrado de Design de Comunicação e Novos Media).

Ao longo deste projecto existiram conceitos que não poderam de modo algum serem perdidos de vista, como a reflecção acerca da noção de parasita e de hospedeiro, as relações de interdependência, de partilha, de interacção e de mutualismo.

Como forma de construir a comunidade de chegada foi necessário recolher dados e angariar informação em quantidade e qualidade sobre todos os seus aspectos. Com isto, tornou-se imprescindível aplicar os princípios biológicos e de métodos generativos na criação da comunidade digital.

Palavras-Chave: Comunidade; Migração; Percursos; Fluxos e Padrões de Comportamento.

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1. INTRODUÇÃO

Este projecto tem como ponto de partida o estudo acerca da comunidade das Andorinhas-das--chaminés. O interesse destas aves regesse particularmente pelo facto de serem andorinhas migratórias – que realizam um determinado percurso de migração em busca de necessidades essenciais para a sua própria sobrevivência e reprodução da espécie como a alimentação e a estadia em locais quentes.

Ao perceber todos os motivos pela qual estas andorinhas migram, surgiu a possibilidade de rela-cionar alguns aspectos da sua migração com aquela que existe relativamente aos percursos acadé-micos e profissionais dos alunos inscritos no Mestrado de Design de Comunicação e Novos Media, nos últimos anos. Interessou, portanto, analisar os alunos que finalizaram o mestrado e migraram para outros locais, os que não se adaptaram a este habitat e por isso desistiram ou interromperam e também aqueles que frequentam actualmente o mestrado.

Neste sentido, tornou-se imprescindível elaborar um questionário como forma de angariar informa-ção acerca dos percursos e actividades académicas e profissionais realizadas pelos alunos ao longo dos anos, sempre com o propósito de analisar esses mesmos dados e retirar conclusões que expli-quem quais são os padrões de comportamento e os fluxos derivados desses percursos migratórios.

A fase final deste projecto caracteriza-se pela apresentação das conclusões extraídas dos ques-tionários, sendo que, a sua materialização tecnológica resultou no design de uma plataforma de visualização de informação e em infografias que contam histórias. A plataforma tem como principal objectivo mapear os percursos e fluxos (passados, presentes e futuros) dos alunos, através de mapas, gráficos e textos, que se completam mutuamente. Esta estratégia tem a fina-lidade de mostrar os resultados desta investigação de uma forma extremamente clara e con-ceder a possibilidade dos “utilizadores” interpretarem os percursos à sua maneira e retirarem as suas próprias conclusões. Por outro lado, as infografias que contam histórias representam um complemento à plataforma de visualização de dados na medida em que, contam histórias resultantes das minhas conclusões e da forma como interpretei os dados, conferindo destaque a determinadas respostas presentes nos inquéritos.

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

2.1. CONCEITO DE COMUNIDADE

Perante a visão da ecologia, comunidade (biocenose) consiste na totalidade dos organismos vivos que fazem parte do mesmo ecossistema e interagem entre si. As comunidades possuem estrutura trófica, fluxo de energia, diversidade de espécies, processos de sucessão, etc.

Tendo em conta a perspectiva sociológica, uma comunidade é um conjuntos de pessoas que se organizam sob o mesmo conjunto de normas, geralmente vivem no mesmo local, tendo o mes-mo governo ou compartilham do mesmo legado cultural e histórico. Por exemplo, as pessoas que vivem no mesmo bairro podem formar uma comunidade. Segundo Fichter (1967) “comunidade é um grupo territorial de indivíduos com relações recíprocas, que servem de meios comuns para lograr fins comuns.”

O conceito de comunidade virtual também é importante, pois consiste numa comunidade que es-tabelece relações num espaço virtual através de meios de comunicação à distância. Caracteriza-se pela aglutinação de um grupo de indivíduos com interesses em comum que trocam experiências e informações no ambiente virtual.

2.2. CONCEITO DE PARASITA E HOSPEDEIRO

O parasita é um organismo que necessita de hospedeiros para sobreviver. Por sua vez, um hos-pedeiro é um organismo que abriga outro no seu interior ou sobre si - seja este um parasita, um comensal ou um mutualista. Todas as doenças consideradas infecciosas tanto em animais como em plantas são causadas por parasitas.

Portanto, o parasita afecta o hospedeiro mas o seu efeito pode não afectar as funções vitais do hospedeiro, e por outro lado, o parasita ao invadir o hospedeiro pode vir a morrer - como aconte-ce quando os piolhos (parasitas) invadem a cabeça de um ser humano (hospedeiro).

Contudo, o facto de alguns parasitas morrerem não significa a extinção da espécie, porque os parasitas reproduzem-se e os seus descendentes podem infestar facilmente outros hospedeiros.

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2.3. AS ANDORINHAS-DAS-CHAMINÉS

Classificação

Reino: AnimaliaFilo: ChordataClasse: AvesOrdem: PasseriformesFamília: HirundinidaeGénero: HirundoEspécie: H. rustica

A espécie

(Hirundo rustica) são aves migratórias pequenas, que pertencem à família das andorinhas (Hi-rundinidae). É a espécie de andorinha mais amplamente distribuída no mundo.

Características e Identificação

Possui uma cauda profundamente bifurcada, com longas penas caudais (com um comprimento de 2-7cm). A sua cauda tem uma fila de pintas brancas ao longo do bordo exterior da sua parte superior. Possui olhos pretos e um bico preto, pequeno e fino.

A fêmea é semelhante ao macho mas as guias caudais são mais curtas e, para além disso, o tom azul não é tão brilhante e o tom da barriga é mais pálido. As andorinhas juvenis têm as penas mais acas-tanhadas e pálidas, não possuindo guias caudais tão longas como as das adultas. Este género de ave têm entre 17 a 19 cm de comprimento, 32 a 34,5 cm de envergadura e pesam entre 16 a 22g. Portan-to, a Andorinha-das-Chaminés possui um corpo esbelto e asas compridas. Tem um voo leve e hábil, com rápidas mudanças de direcção, seguindo os movimentos dos insectos que persegue.

Distribuição e Abundância

Ocorre como nidificante em grande parte da Europa, Ásia, Norte de África e América do Norte. Cerca de 15% da área de distribuição mundial está situada na Europa. Embora algumas populações europeias sejam insuficientemente conhecidas, uma estimativa feita nos anos 90 aponta para a existência de 13.000.000 a 33.000.000 casais na Europa, sendo principalmente a Rússia, a Alemanha, a Polónia e a Bulgária, mas também o Reino Unido, Espanha, Portugal, Itália, República Checa,

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Croácia, Ucrânia e Bielorússia, os países com maior importância para esta espécie.

Em Portugal, cuja população foi estimada em 1.000.000 casais, ocorre como nidificante em todo o território continental, sendo aciden-tal na Madeira e nos Açores. Esta espécie é caracterizada na sua grande maioria por aves migradora, mas existem também algumas que são sedentárias, estando presentes em Portugal durante todo o ano.

Na Europa, a grande maioria das populações de Andorinha-das-chaminés apresentou um declínio entre os anos 70 e 90, nomeadamente na Escandinávia, Noroeste e Centro da Europa, países do Báltico, Roménia, Ucrânia, Espanha, Itália e Croácia. Em Portugal as populações apresentam estabilidade e a espécie goza do estatuto de não ameaçada.

Alimentação

A Andorinha-das-Chaminés alimenta-se quase exclusivamente de insectos voadores, na sua maioria dípteros, que persegue e captura de forma hábil e eficaz durante o voo. É igualmen-te durante o voo que esta espécie bebe água.

Este género de andorinha captura também insectos não voadores - embora muito rara-mente - sobretudo em épocas do ano em que estes existem em grande abundância. Nas áreas de nidificação podem comer maioritariamente moscas e afídios e, nos locais onde invernam comem essencialmente insectos da ordem dos Hymenoptera e também formigas voadoras.

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

Habitat

Os habitats de alimentação preferidos são as pastagens, prados e zonas húmidas, onde abundam insectos essenciais à sobrevivência destas aves. O local de construção dos ninhos (nidificação) trata-se de uma espécie que e, na sua maioria, dependente da presença de construções humanas. A existência de uma área que constitua uma fonte de lama é imprescindível para a construção dos ninhos.

Na ausência de locais adequados para descansar durante a noite, pode por vezes usar cabos sus-pensos como pouso nocturno (o que as torna mais susceptíveis a ataques de predadores).

Nidificação e Reprodução

Nidifica em zonas continentais com clima boreal, temperado e mediterrânico. Os machos regres-sam à área geográfica de reprodução antes das fêmeas e escolhem o local para o ninho – que é anunciado às fêmeas através do seu canto e de um voo circular.

De um modo geral, e ao contrário de algumas outras espécies de andorinhas, a Andorinha-das--chaminés nidifica solitariamente, podendo, em determinadas ocasiões, ser colonial. Neste último caso as colónias tendem a ser de reduzidas dimensões (menos de 5 casais).

A construção do ninho é feita pelo macho e pela fêmea (sendo mais frequente por ela). Estes são em forma de taça e são feitos principalmente em construções humanas, usando lama colada com saliva e formado com palha, ervas, penas, algas, ou outros materiais macios. A época de postura tem início normalmente em Abril, sendo mais precoce no Sul da Europa e no Norte de África, e engloba geralmente duas posturas com 4 a 5 ovos.

A incubação prolonga-se por 11 a 19 dias e os juvenis atingem a idade de emancipação cerca de 20 dias depois de nascerem. Tanto o macho com a fêmea defendem o ninho, sendo que ele é mais agressivo e territorial. O mesmo ninho é utilizado várias vezes, sendo reparado todos os anos e pode chegar a sobreviver entre 10 a 15 anos.

Migração

Sendo um símbolo primaveril, à semelhança do que acontece com outras andorinhas, as Andori-nhas-das-chaminés reúnem-se em grandes bandos, em fios eléctricos, preparando-se para a migra-ção outonal rumo ao sul. Estas aves tendem a regressar ao mesmo local para invernar todos os anos.

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Na altura da migração, ocupam o seu dia todo a caçar insectos para construir uma reserva de grande gordura para a viagem. Na véspera, concentram-se todas em dormitórios comunais em canaviais, partindo discretamente antes do sol nascer. Durante a viagem, também se con-seguem alimentar, pois voam a baixa altitude.

As migrações não estão livres de perigo, uma vez que, quando as temperaturas são excepcio-nalmente baixas, as andorinhas necessitam de se refugiar no interior das casas em busca de calor.

Factores de Ameaça

Alterações nas práticas agrícolas, que levaram à intensificação da agricultura e à consequente perda do habitat, estão certamente na base do registado declínio populacional desta espécie. A drenagem de áreas húmidas e o uso de her-bicidas e pesticidas resultam na diminuição da disponibilidade de alimento e de áreas propí-cias à alimentação.

As andorinhas são ainda extremamente sus-ceptíveis às alterações do clima. O mau tempo é responsável por uma redução no número de insectos, afectando o sucesso reprodutor e aumenta a taxa de mortalidade destas aves particularmente durante a migração. A maioria destas andorinhas sobrevive menos de 4 anos.

Predadores

As andorinhas-das-chaminés não têm muitos pre-dadores, mas algumas são caçadas por morcegos e por aves de rapina como: gaviões, falcões e corujas.

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Nos locais onde inverna, a concentração das andorinhas em dormitórios comunais pretende ser uma protecção contra os predadores. Na altura da nidificação, as andorinhas mobilizam-se num grupo contra predadores (como arganazes, gatos, furões ou aves de rapina) que se aproximem demasiado dos seus ninhos. Para tal, voam frequentemente muito próximo à ameaça.

Na América do Norte é habitual que as andorinhas-das-chaminés criem relações de mutualismo com as águias-pesqueiras, construindo os seus ninhos debaixo do ninho destas águias, ficando protegidas de outras aves de rapina. São as andorinhas que alertam as águias-pesqueiras para a presença dos predadores através de vocalizações de alarme.

Parasita

As andorinhas-das-chaminés, bem como outros pássaros, exibem frequentemente buracos nas suas penas das asas e na sua cauda. Estes buracos são causados ou por piolhos aviários da família Menoponidae (como o Machaerilaemus Malleus e o Myrsidea Rustica) ou por espécies do género Brueelia. Existem também outras espécies de piolhos que usam esta andorinha como hospedeiro, como a Brueelia Domestica e o Philopterus Microsomaticus.

Curiosidades

De um modo geral, o sucesso reprodutor dos machos depende significativamente do comprimen-to das penas da cauda: os machos com penas mais compridas atraem mais facilmente as fêmeas e têm maior sucesso reprodutor que os machos com penas mais curtas.

Locais Favoráveis de Observação

Em Portugal, esta é uma espécie que não oferece dificuldades no que respeita à sua observação, uma vez que ocorre em praticamente todo o país, sendo bastante comum principalmente nos meses de reprodução. Nos meses de Inverno, nomeadamente em Dezembro e Janeiro, o número destas aves em Portugal é muito reduzido, pois estas invernaram para outro país. Contudo, algu-mas aves desta espécie são sedentários, podendo ser observadas na época de inverno no Sul do país e junto a zonas húmidas.

A ligação das Andorinhas-das-chaminés com a cultura

A andorinha-das-chaminés é uma das primeiras aves migratórias a regressar à área de nidificação, sendo esta espécie vista como um sinal do início da primavera. A origem do provérbio “Uma

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andorinha não faz a primavera” significa justamente que é necessário ver mais do que uma andorinha para ser evidente que chegou a primavera. As andorinhas são conhecidas por fazer longas viagens e regressar às mesmas zonas todos os anos, sendo para os marinheiros um símbolo de regresso seguro.

Antigamente, existiam superstições no que diz respeito aos ninhos destas andorinhas, pois acredi-tava-se que se se danificasse o seu ninho, as vacas podiam vir a produzir leite com sangue, ou não chegar a produzir nenhum, e acreditava-se ainda que as galinhas podiam deixar de por ovos.

Na Galiza é popular a lenda que indica que uma andorinha-das-chaminés aliviou o sofrimento de Jesus durante o Calvário, ao arrancar alguns dos espinhos da sua coroa. Já na Estónia existe a crença segundo a qual quem matar uma destas andorinhas poderá ficar cego. Acredita-se ainda que qualquer ameaça ao ambiente e meio natural circundante das andorinhas pode fazer com que estas desapareçam.

2.4. A MIGRAÇÃO E OS SEUS ENIGMAS

A migração é talvez o aspecto mais importante da biologia das aves, nele convergindo todos os problemas do grupo. Este importante fenómeno é, com efeito, condiciona- do, mais ou menos directamente, por todas as actividades da ave, desde o voo, às necessidades alimentares, reprodu-toras, instinto complexo orientador da migração, etc.

A migração é não só o capítulo mais apaixonante dos estudos ornitológicos, como aquele que mais tem desafiado o esforço interpretativo. A razão desta dificuldade reside, talvez, no facto dos factores migratórios serem da essência do comporta- mento inato, de tão difícil análise como tudo o que se refere aos mecanismos nervosos complexos que residem ao comportamento destes animais nas suas relações com os factores e recursos do ambiente.

As aves são animais duma grande mobilidade foi esta circunstância que permitiu a sua extraor-dinária exuberância como grupo animal, com uma magnifica adaptabilidade ao ambiente e uma elevada capacidade em escaparem aos efeitos hostis ou deprimentes do meio. A função do voo permite-lhes, com efeito, percorrer longas distâncias, procurando em regiões mais favoráveis alimento mais abundante ou melhores condições de segurança. Outro factor de êxito é a possibili-dade de poderem suportar fortes variações de temperatura e outros factores do meio.

De uma maneira geral as espécies das regiões frias ou temperadas abandonam estas regiões ao aproximar-se o inverno e migram em grandes bandos para o sul, donde regressam alguns meses

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mais tarde, na primavera, aos locais primitivos donde partiram. É a este fenómeno periódico que se chama migração e as espécies onde ele se verifica chamam-se migrantes ou migradoras. É sig-nificativo o facto das aves das regiões quentes ou tropicais não serem periodicamente migradoras. Seria, todavia, erro pensar que as espécies não-migradoras não executam deslocamentos mais ou menos extensos, e até às vezes com certa periodicidade. Até mesmo nas regiões quentes são raras as espécies verdadeiramente sedentárias. A grande maioria executa individualmente, por casais ou em bandos, largas digressões em relação muitas delas com a mudança das estações e com a variabilidade dos factores climáticos. Andam por diversas regiões, acabando por se fixarem onde encontram suficientes recursos alimentares e uma certa segurança.

Classificação das aves quanto às suas tendências migratórias

1. Aves não-migratórias ou sedentárias: são as que constantemente residem e se multiplicam numa dada região. Têm sido porém observados deslocamentos em espécies consideradas tipica-mente como sedentárias.

2. Aves errantes ou migratórias parciais: são as que executam viagens de traçado irregular, de fra-ca amplitude. Só param onde encontram condições ambientais favoráveis em alimento e seguran-ça. A maioria destas espécies habita as regiões quentes inter-tropicais. Há espécies que parecem efectuar estes movimentos com certa periodicidade e regularidade na escolha do local. Algumas deslocam-se mais para sul ao aproximar do inverno e voltam em seguida ao local de partida. O fenómeno está em relação com a alteração das espécies da seca e das chuvas.

3. Migrantes típicos – são as espécies que efectuam longas viagens periódicas, na maioria inter-continentais. São quase todas das regiões temperadas ou frias. Na primavera ou verão nidificam numa região, e vão passar o inverno noutra região, a sul.

A migração tem um significado biológico extremamente importante. O fenómeno migratório está intimamente relacionado com a necessidade da ave ter continuamente à sua disposição alimento abundante, de forma a satisfazer as suas prementes exigências energéticas que são, como sabemos, enormes. Ao retirarem-se portanto de regiões tornadas inóspitas pelo mau clima e pela diminui-ção drástica dos recursos alimentares, as aves vão procurar em regiões de clima mais clemente o alimento abundante de que necessitam.

No regresso aos locais de reprodução encontram um renascer de condições favoráveis em factores climáticos e nutritivos que vão tornar possível de novo a criação de filhos. É indispensável nesta época encontrar alimento para jovens adultos. É portanto na primavera e no verão, com a eclosão

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do mundo imenso dos insectos e outros invertebrados, e com a nova exuberância do mundo vegetal, que as aves encontram com que satisfazer largamente as suas necessidades, que são particularmen-te grandes na fase de reprodução. As aves procuram, por conseguinte, com a migração, melhores climas e novos e abundantes alimentos com que asseguram uma intensa e inigualável vitalidade or-gânica. Esta variação de dietas tão diversas no espaço dum ano é mais uma prova da extraordinária adaptabilidade destes animais às condições do ambiente. A migração permite, com efeito, que uma espécie disfrute no espaço dum ano de duas regiões favoráveis em clima e alimento.

Outra vantagem da migração é aliviar a densidade populacional nas regiões temperadas e tro-picais, excesso que se tornaria particularmente prejudicial durante a época de reprodução. De modo que, ao partirem as espécies migrantes para o norte, deixam as outras que ficam, em me-lhores condições. Ao voltarem de novo na prima- vera, a Portugal, por exemplo, encontram com o renascer dos recursos naturais, uma menor competição na procura do alimento, favorecida ainda pelo facto doutras espécies que passaram aqui o inverno terem partido, por sua vez, para o Norte da Europa para nidificarem. Assim, uma mesma região serve, durante o espaço dum ano, para diferentes espécies, que se substituem periodicamente umas às outras.

A migração também está intimamente ligada à reprodução. Com efeito, ao chegarem na prima-vera a uma determinada região, os migrantes encontram um vasto espaço pouco denso em aves, onde cada casal pode delimitar o seu território, no qual cria os filhos e donde tira o alimento necessário. Até as espécies sedentárias procuram muitas vezes, por pequenos deslocamentos, uma melhoria de condições. Mas não se sabe ao certo a razão pela qual certas espécies não migram para regiões mais hospitaleiras e ficam todo o ano no mesmo local.

Averiguou-se que não é o abaixamento de temperatura no inverno que prejudica as aves, mas sim a diminuição de alimento devido ao desaparecimento dos insectos e ao obstáculo criado pela neve e pelo gelo que impede a procura das sementes e outros alimentos enterrados ou submersos. Mas talvez seja simplicista demais a conclusão de que a migração tem um significado apenas de manter uma constante e abundante alimentação, com a qual o homeotermo tem de garantir a sua elevada temperatura interna, condição aliás essencial para garantir a grande vitalidade e o com-plicado psiquismo destes animais.

Em geral, as aves migratórias típicas reúnem-se em grandes bandos antes de iniciarem as suas longas viagens. Umas espécies escolhem para viajar a luz do dia, outras voam de noite. A velocidade do voo é muito variável, oscilando em geral entre os 50 e os 90 quilómetros à hora. A altura de voo também é variável. Em todo o caso torna-se impossível a grandes alturas (6 metros e mais) por causa da diminui-ção de pressão atmosférica e das temperaturas excessivamente baixas (- 20o a – 50o C).

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

Causas das Migrações

Já Aristóteles, na antiga Grécia, se preocupava com o fenómeno migratório, observando as deslo-cações das rolas, pelicanos, cegonhas, andorinhas, etc. Acreditava que o desaparecimento das aves era devido ao facto delas ficarem num estado de torpor, escondidas em buracos das árvores, nas ca- vernas, ou enterradas no lodo dos pântanos e pauis. Estas ideias persistiram até uma época recente, durando portanto mais de dois mil anos. A teoria mais fantástica foi porém proposta em 1703, segundo a qual as aves migradoras voam para a Lua, onde passam o inverno! Nos nossos dias correm ainda numerosas crendices sobre as aves e as suas migrações.

Numerosas questões se apresentam ao espírito quando se considera o problema da migração das aves. Como é possível que as aves migrantes alcancem os seus quartéis de inverno situadas a distâncias de milhares de quilómetros? Como conseguem elas orientar-se nessas longas viagens? Como é que os jovens sem o auxílio dos pais (por estes partirem primeiro para o sul) são capazes não só de fazer tais viagens como de alcançar as mesmas regiões? Como se explica que eles reco-nheçam as mesmas rotas seguidas pelos antepassados?

O fenómeno migratório é uma manifestação do comportamento inato inscrito no património hereditário de cada espécie migrante. Existem duas teorias que tentam explicar a origem deste comportamento, ligando-o com os fenómenos das glaciações que, como sabe, começaram a per-turbar fortemente o equilíbrio das faunas e das floras no fim do terciário (plioceno) e durante o quartenário. As invasões dos gelos que cobriam a maior parte da Europa, da Ásia e da América do Norte, seguidos de regressões periódicas com o aparecimento de clima quentes ou secos, transfor-mam profundamente a fauna e a flora.

Com novos factores climáticos apareceram novas e prementes exigências adaptativas, donde resultou a formação e a expansão de novas espécies e a extinção de numerosas preexistentes. As aves foram bastante atingidas por estes fenómenos e as migrações são encaradas em função do aparecimento dos vários períodos glaciares. Não parece haver dúvida de que a origem do fenóme-no deve remontar a esses tempos distantes. As duas teorias mais geralmente aceites são:

1. A Teoria glaciária, que admite que as aves que povoam o hemisfério norte, por causa da invasão dos gelos, teriam sido forçadas a migrar para o sul, onde se teriam concentrado. Com a regressão dos gelos as mesmas espécies teriam voltado à pátria original a cada primavera para nidificar, voltando outra vez no inverno para o sul. Hoje nota-se o facto de antes da primavera as aves mi-gradoras serem dominadas por uma espécie de efervescência, por um forte impulso de natureza interna que as impele a voar para o norte e às vezes tão prematuramente que morrem em grande

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número, apanhadas pelas últimas invernias. Sendo evidentemente vantajosas, estas tendências instintivas à migração teriam sido preservadas pelo mecanismo complexo da selecção natural depois de terminarem as glaciações e quando se estabeleceram as condições actuais. Que as rotas seguidas pelos migrantes fazem parte dos movimentos intrínsecos do animal, parece prová-lo o facto delas não serem os melhores caminhos que poderiam ser percorridos. Onde, por exemplo, os migrantes atravessam penosamente um mar ou uma cordilheira poderiam mais comodamente e com maior segurança chegar ao mesmo fim contornando simplesmente esses obstáculos.

2. A outra teoria admite pelo contrário que a primitiva massa populacional das aves se concen-trava nas regiões tropicais (Índia, África, América do Sul). Devida a uma excessiva densidade de povoamento, com a consequente míngua de alimento, assim como pela existência de numerosos factores de destruição de ninhos e ovos (acção de depredadores, etc.), as aves teriam, após a defi-nitiva regressão dos gelos, migrado a cada primavera para os verões quentes do norte. Aqui, livres da rigorosa competição da pátria original, a abundância de sementes e de insectos garantir-lhes-ia a nutrição necessária e as condições favoráveis à nidificação e alimentação dos jovens. À aproxi-mação do inverno voltariam para o sul, ao local da partida. Estes deslocamentos, vantajosas para a espécie, ter-se-iam complicado para as formas actuais das migrações. A selecção natural teria, como no caso anterior, preservado os indivíduos que possuíssem maior mobilidade geográfico.

No fundo, estas duas hipóteses não são antagonistas senão na aparência. Com efeito, tanto faz para a compreensão das origens do fenómeno migratório que a pátria original das aves tenha sido o hemisfério norte como, pelo contrário, as regiões tropicais. É possível até que as aves tivessem uma larga distribuição mundial e nesse caso as duas hipóteses fundem-se numa única. Nos dois casos os factores importantes parecem ter sido as perturbações climáticas e a invasão dos gelos com as respectivas fases de regressão.E o aspecto fundamental em ambas as hipóteses talvez seja este: as aves empurradas para o sul por causa da progressão dos gelos começaram, devido talvez a uma densidade excessiva em número de espécies, a deslocar-se para o norte à medida que se dava a regressão da cobertura gelada, mas voltando periodicamente ao sul, ao chegar o inverno.

Factores Internos do Impulso Migrador

Observou-se que a necessidade fisiológica e psíquica (instintiva) da migração nasce todos os anos muito antes das condições ambientais (climáticas, alimentares, etc.) se apresentarem desfavorá-veis. Existem portanto factores internos responsáveis pelo impulso migrador que, se estão emharmonia com o ciclo climático, nem por isso deixam de estar na base do fenómeno migratório, tanto no que se refere à sua origem como às condições a que actualmente obedece o processo.

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Trabalhos histológicos e experimentais vieram demonstrar que as glândulas sexuais das espé-cies migradoras se hipertrofiam antes da partida para o norte. Este aumento de actividade das gónadas antes do voo migrador faz pensar numa acção das hormonas sexuais (precedida talvez duma acção estimulante da hipófise), as quais, actuando sobre os centros nervosos, provo-cariam um estado de elevada tensão interna, “efervescência” que se traduziria finalmente no impulso migrador para o norte.

Rowan, em experiências hoje clássicas, submeteu aves de Novembro a Janeiro à acção de luz artificial gradualmente intensa (sem em- prego de ultra-violetas) e tanto quanto possível próxima das consições de luminosidade da primavera. Observou que as glândulas sexuais atingiam o de-senvolvimento característico do período primaveril e que diminuindo a iluminação estes órgãos voltavam ao aspecto típico do inverno.

Destes trabalhos nasceu a teoria do fotoperiodismo que, com o apoio ainda de outros dados que não podemos aqui desenvolver, admite que, havendo com a chegada da primavera um aumen-to diário de horas de Sol, as aves teriam de cada vez, mais longo tempo de actividade, e que este acréscimo de funcionamento muscular determinaria a hipertrofia das gonadas. Tem-se aumenta-do contra a generalização desta teoria dizendo que as nossas aves migradoras estivais, que passam o inverno nos trópicos, encontram ali diferenças imperceptíveis no comprimento dos dias quan-do se aproxima o verão e que nem por isso deixam de voar de novo irresistivelmente para o norte. É possível, porém, que as diferenças de luminosidade nas nossas latitudes sejam suficientes para manter a periodicidade do fenómeno. Mas fortes dúvidas subsistem ainda nestes problemas.

Foram ainda postos em relevo outros factores internos. Assim, certos autores defendem a exis-tência dum “sentido de direcção” durante o voo migrador que, todavia, em nossa opinião, nada esclarece sobre a causalidade do fenómeno. É exactamente este “sentido de orientação” que seria necessário analisar e explicar. Futuras observações e experiências poderão, no entanto, revelara base anatómica e neurofisiológica deste suposto sentido.

A memória desempenha, também sem dúvida, um papel importante no voo migrador, pois a ave fixa e reconhece os acidentes geográficos que em cada ano lhe servem de marcas orientadoras. Esta faculdade, porém, por prodigiosa que seja, não explica numerosos outros factos, como por exemplo o de aves propositadamente desviadas da sua rota migratória a reencontrarem, mes-mo quando transportadas (em avião, por exemplo) para longas distâncias, a muitas centenas de quilómetros do local de captura, e para áreas muito afastadas da zona de distribuição normal das espécies em questão. Também a memória não explica como é que os jovens seguem as mesmas rotas dos pais sem serem acompanhados por estes e sem possuírem, portanto, qualquer

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qualquer experiência ou aprendizagem do caminho a percorrer. Observou-se que muitas das aves libertadas nas experiências se espalham para longe e exploram os grandes espaços até encontra-rem as características geográficas e climáticas que lhe são familiares, ou a orientação em relação ao curso do Sol que é característica da espécie, ou em relação aos ventos predominantes ou a desloca- mentos típicos de massas de ar, etc.

É mais legítimo e prudente admitir, ainda que provisoriamente, uma acção dos factores ecoló-gicos e do relevo geográfico, assim como de certos fenómenos meteorológicos, aos quais as aves reagem, do que postular falaciosamente a existência dum “órgão de sentido migratório”.

A migração ainda é um profundo enigma em muitos dos seus aspectos fundamentais. Ao lado da migração típica existe toda uma série de deslocamentos maiores ou menores e irregulares, o que parece indicar que o fenómeno migratório se estabeleceu nas espécies migrantes por meio duma série de “tentativas”, de estados intermediários, que numas espécies se fixaram como tais (imper-feitos e irregulares), noutras evoluíram para uma maior eficiência e complexidade.

Esta mobilidade inicial, esta capacidade de efectuar deslocamentos, foi provavelmente um factor de sobrevivência de essencial importância, dadas as prementes necessidades destes animais em procurar incessante- mente alimento e locais propícios à nidificação. Foi por assim dizer a base donde emergiram os comportamentos migratórios mais complicados. Não sendo de duvidar que há vantagem na migração, a existência duma maior ou menor mobilidade (tornada facílima pela existência de asas) em volta do local de habitat, teria dado lugar a uma acção da selecção natural, que nos períodos de grande perturbação climática e nutritiva na época das glaciações devia ter sido particularmente intensa e rápida.

O estabelecimento do instinto migrador, que está na base dessa mobilidade original, teria sido assim um fenómeno gradual, rápido todavia nos períodos de crise geológica e climática com drásticas flutuações na quantidade e qualidade do alimento. Estabeleceu-se numas espécies, nou-tras não, havendo todas as transições entre as espécies sedentárias e as espécies com migrações complexas. Há até exemplos que indicam que a migração nem é muitas vezes em carácter especí-fico, porque há população (subespécies) duma mesma espécie que são sedentárias enquanto que outras são migradoras. Muito significativos também, para o nosso ponto de vista, são os casos em que na mesma população duma espécie há indivíduos que ficam sedentários durante o inverno enquanto que outros partem para o sul.

Também se observou a existência de um escalonamento na passagem das aves na direcção do sul, o que parece depender, em parte, do ponto do norte em que nidificam. De modo que há espécies

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do norte da Europa que vêm passar o inverno entre nós, enquanto que outras vão para o norte de África, para as regiões centro-africanas, ou para o extremo sul deste continente, como acontece com as espécies que nidificam em Portugal. Estes factos mostram que a amplitude da migração foi desigual para as várias espécies, sendo a causalidade do fenómeno bastante complexa de analisar. Um escalonamento da mesma ordem parece existir também nas populações duma mesma espé-cie, as quais não têm todas os mesmos locais de paragem e de reprodução. A espécie fragmenta-se portanto em grupos ou populações, cujos indivíduos têm afinidades próprias no que diz respeito à escolha dos locais em que estabelecem os quartéis de inverno ou às regiões de nidificação.

É de sublinhar que o enigma acerca do carácter inato do comportamento migra- dor, não é maior nem menor do que mui- tos outros fenómenos ligados ao complexo comportamento instintivo destes animais. Já foi feita referência ao aspecto estereotipado ou configuracional das respostas instintivas e ao papel fundamental que certos componentes do mundo externo desempenham na sua execução Não pertencerá o voo migrador ao tipo dos mecanismos estereotipados, libertados sob a influência, por exemplo, de certas formas de relevo geográfico (cordilheiras, rios, mares, etc.), ou de determinados aspectos de flora, variações climáticas, etc.? Esta hipótese é válida, e a verdade é que cada espécie se comporta como se tivesse um tipo de respostas que lhe é próprio em face do ambiente, de tal maneira que não há pratica- mente duas espécies que possam confun-dir- se neste aspecto do comportamento.

A evolução das rotas de migração deve ser encarada à luz das modificações geológicas e climá-ticas a que o comportamento instintivo teve talvez de ajustar-se harmonicamente por meio de respostas adaptativas adequadas.

Há indicações sobre a existência de rotas de origem recente, de que se conseguiu em parte acom-panhar a evolução. É este, sem dúvida, um assunto importante porque coloca o Homem perante o problema da influência que a Civilização exerce sobre a existência e a distribuição das faunas. Neste caso particular, essa influência deve traduz- ir-se talvez por perturbações das rotas migrató-rias existentes, pondo possivelmente em perigo a existência de certas espécies.

2.5. A MIGRAÇÃO - ANDORINHAS-DAS-CHAMINÉS

A migração das aves é uma deslocação intencional e periódica entre os locais de nidificação e os locais de invernada – onde o clima seja mais favorável e com alimento suficiente. Uma das mais fantásticas e impressionantes capacidades das aves é o facto de todos os anos viajarem milhares de quilómetros em busca de um clima mais agradável e de alimentos em abundância.

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Distribuição Geográfica

A andorinha-das-chaminés é a espécie de andorinhas mais amplamente distribuída no mundo, po-dendo ser encontrada na Europa, na África, na Ásia, na América do Sul e na América do Norte. Esta é a única espécie do gênero Hirundo cuja área de distribuição geográfica inclui as Américas.

A Descoberta da Migração

O fenómeno da migração das aves permaneceu desconhecido por muito tempo, e pelo menos desde Aristóteles (350 a.C.) que os cientistas acreditaram que andorinhas-das-chaminés passavam o inverno debaixo de água ou enterradas na lama, provavelmente devido ao facto destas se jun-tarem em dormitórios comunais nos canaviais na véspera da migração e partirem discretamente antes do nascer-do-sol.

Na década de 1780, no seu livro “Histoire naturelle des oiseaux”, o naturalista francês Georges de Buffon foi um dos primeiros a questionar essas teorias e a sugerir que as andorinhas-das-chami-nés passavam o inverno em regiões mais quentes, com abundância de insetos.

A migração desta espécie entre o norte da Europa e o sul da África foi comprovada em 23 de dezembro de 1912, quando uma ave que havia sido anilhada por James Masefield (irmão do poeta John Masefield) num ninho em Staffordshire, Reino Unido, foi encontrada na província de Kwa-Zulu- Natal, África do Sul.

Motivos pela qual as Andorinhas Migram

A maioria das aves migra em busca de alimento. No inverno existem muito menos insectos nas zonas de residência das andorinhas (seja Europa, Ásia, América do Norte), mas existem em abundância em outras zonas do globo (como África, América do Sul), onde o clima é mais quente e amistoso.

As aves não vivem todo o ano neste clima mais quente precisamente porque no norte (na sua região natal) o verão é suave e os dias são mais compridos – condições estas que favorecem a cria-ção dos filhos. No sul (onde invernam) seria bastante mais complicado viver e reproduzirem-se visto que o clima é bastante quente e existem mais predadores.

Portanto, a migração é algo essencial para esta espécie, uma vez que torna mais fácil a sobrevivên-cia destas aves, mesmo que algumas morram durante a viagem.

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

A Preparação para a Migração

Para conseguirem sobreviver à migração, as aves devem ter gordura no corpo e penas novas – fase esta que consiste numa transformação completa das andorinhas, sendo posterior a época de re-produção e antecedente à migração. A gordura acumula-se em todo o corpo da ave, sendo usada durante a viagem como energia armazenada enquanto o alimento apropriado está em falta. As penas das aves também mudam nesta altura, pois as penas velhas destruídas durante os voos do verão caem, sendo substituídas por penas completamente novas.

A Altura de Migrar

As aves partem dos seus locais de reprodução quando aparecem os primeiros sinais do Inverno – os dias começam a ficar mais pequenos e as temperaturas descem. Para as aves poderem voar o tempo tem de estar estável e suave. Para além disso o nível hormonal do corpo das aves muda ao longo de um ciclo anual, sendo esta uma das razões para que as aves iniciem a muda das penas, contribuindo também para a ansiedade que antecede a viagem para sul.

Como Decorre a Migração

No dia que antecede a viagem, dedicam-se inteiramente a caçar para constituir uma reserva de gordura para a viagem. As andorinhas-das-chaminés migram em grupos grandes e reúnem-se na véspera da migração em dormitórios comunais em cana- viais ou em áreas de cultivo intensivo.

As aves partem no início da manhã, espaçadas entre si, mas todas indo na mesma direcção, com voos até aos 20 metros de altura. Esta espécie voa durante o dia e a baixa altitude, o que lhes per-mite alimentar-se durante a viagem. Normalmente costuma baixar o voo ao passar pelos rios para beber água, especialmente nas horas mais quentes do dia. À noite, concentram-se em grandes bandos em juncais de zonas húmidas - que são locais de paragem tradicionais. As andorinhas--das- chaminés podem voar até 320km diários.

As migrações não são livres de perigo; em 1974, centenas de milhares de andorinhas ficaram retidas na Europa devido à ocorrência de temperaturas excecionalmente baixas, tendo procurado refúgio no interior das casas em busca de calor. As aves tendem a regressar ao mesmo local para invernar todos os anos, e concentram-se em dormitórios comunais em canaviais.

Um carnavial é um habitat natural encontrado em zonas inundáveis, depressões inundadas ou estuários. Estas áreas estão localizadas à beira de lagos, lagoas, brejos e remansos do rio onde

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vegetação seca ciclicamente e é transformada em palha. Canaviais artificiais são usados como mé-todo de despoluição de águas cinzentas. Estes dormitórios comunais podem ser muito grandes, havendo registo de um na Nigéria com cerca de 1,5 milhões de aves. Pensa-se que este comporta-mento visa ser uma proteção contra os predadores, e que a chegada das aves a estes dormitórios comunais é sincronizada para confundir predadores como a Ógea-africana (Falco culverii).

Os Movimentos de Migração

As aves europeias e do Noroeste Asiático são maioritariamente migradoras de longa distância, invernando em África, a sul do equador, mas também no Ocidente. O seu movimento de mi-gração de muitas destas aves inclui a passagem pelo deserto Saara e pelo Médio Oriente.

Rotas de Migração na Europa e na América

Na Europa, a andorinha-das-chaminés é uma ave migratória que se movimenta numa frente larga, o que significa que as rotas de migração das aves que nidificam na Europa não afunilam nas zonas de traves- sia mais curta do mar (como os estreitos de Gibraltar e do Bósforo) mas cruzam todo o Mediterrâneo e o Saara.

Na América, esta espécie afunila as suas rotas de migração pela América Central numa frente estreita, pelo que durante a época de migração é muito abundante nas terras baixas de ambas as costas.

Descrição da Migração das Andorinhas-das-Chaminés na Europa

As andorinhas-das-chaminés que são naturais da Europa iniciam a migração no Ou- tono (entre meados de Setembro e inícios de Outubro). Viajam em direcção a África para passar o inverno, demorando cerca de 6 semana até chegar ao destino.

É certo que as andorinhas de distintas partes da Europa voam para diferentes destinos. As que partem de Portugal normalmente seguem pelo Sul de Portugal, em direcção a Marrocos, depois atravessam o deserto Saara, a floresta tropical do Congo, chegando à Nimbía – na Áfica do Sul.

Esta espécie regressa à Europa na Primavera (por volta de Abril) para fazer o ninho, reprodu-zir e criar os filhos. A viagem demora cerca de 4 semanas, voando cerca de 10 000km a partir da zona de invernada – o Sul de África. A maioria das andorinha-das-chaminés começa a reprodução no início de Maio.

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

2.6. PADRÕES DE COMPORTAMENTO DAS ANDORINHAS-DAS-CHAMINÉS

Reprodução

As posturas têm início em Abril e as ando- ri-nhas permanecem na zona de reprodução até meados de Setembro. As andorinhas nidificam solitariamente, ou seja, em casal, sendo rara nidificarem de forma colonial.

As andorinhas têm 2 posturas por ano, com 4 a 5 ovos. A incubação prolonga-se por 11 a 19 dias e os juvenis atingem a idade de emancipa-ção cerca de 20 dias depois de nascerem.

O clima na zona de reprodução é temperado e mediterrâneo. Nestes locais, as andorinhas comem moscas e afídios.

Viagem para a Zona de Invernagem

A viagem inicia-se entre o fim de Setembro e iní-cio de Novembro, e demora cerca de 6 semanas.

Os dias antes de partirem são passados a caçar insectos para construir uma reserva de gordura no corpo.

As andorinhas passam a noite da véspera todas juntas em dormitórios comunais, para partirem todas juntas ao amanhecer.

Voam até 320km por dia, a uma altura máxima de 20 metros. Durante a viagem passam por zo-nas continentais e oceânicas, voando baixo ao longo do dia para poder caçar insectos e beber água em pleno voo. À noite concentram-se em grandes bandos em juncais de zonas húmidas.

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

Invernagem

Tem início no fim de Novembro e prolonga-se até Fevereiro.

À noite juntam-se em dormitórios comunais, sendo esta uma forma de se protege- rem con-tra eventuais predadores.

Na zona de invernagem alimentam-se de insec-tos da ordem dos hymenoptera e também de formigas voadoras.

Viagem para a Zona de Reprodução

A viagem inicia-se entre o fim de Setembro e iní-cio de Novembro, e demora cerca de 6 semanas.

Os dias antes de partirem são passados a caçar insectos para construir uma reserva de gordura no corpo.

As andorinhas passam a noite da véspera todas juntas em dormitórios comunais, para partirem todas juntas ao amanhecer.

Voam até 320km por dia, a uma altura máxima de 20 metros. Durante a viagem passam por zonas continentais e oceânicas, voando baixo ao longo do dia para poder caçar insectos e beber água em pleno voo. À noite concentram-se em grandes bandos em juncais de zonas húmidas.

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

A Evolução do Ano e o Processo de Migração das Andorinhas

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

Distribuição Geográfica das Andorinhas-das-Chaminés pelo Mundo

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

Percurso de Migração das Andorinhas-das-Chaminés Residentes em Portugal

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

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Percurso de Migração das Andorinhas-das-Chaminés Residentes em Portugal

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

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2.7. A PARÁBOLA

“A migração é talvez o aspecto mais importante da biologia das aves, nele convergindo todos os problemas do grupo. Este importante fenómeno é, com efeito, condicionado, mais ou menos directamente, por todas as actividades da ave, desde o voo, às necessidades alimentares, reprodu-toras, instinto complexo orientador da migração, etc.” (Sacarrão, 1958, p.109) Tendo como ponto de partida o estudo acerca da Comunidade das Andorinhas-das-chaminés e atendendo a todos os motivos pela qual esta espécie migra, surgiu a possibilidade de relacionar alguns aspectos da migração desta comunidade com os percursos académicos e profissionais dos alunos que passaram pelo Mestrado de Design de Comunicação e Novos Media. Desta forma, consideram-se os alunos que finalizaram o mestrado e migraram para outros locais, os que não se adaptaram a este habitat e por isso desistiram ou interromperam e também aqueles que frequen-tam actualmente o mestrado.

A investigação intensiva acerca da migração das andorinhas levantou questões importantes como: Quais os motivos que levam as andorinhas a migrar? O que acontece quando migram? Quais as rotas que percorrem? São sempre as mesmas rotas? Quais os riscos que correm?, etc.

Do mesmo modo, com a investigação direcionada para os alunos do Mestrado de DCNM, co-locam-se questões prévias à qual se pretendeu encontrar respostas. São perguntas direccionadas para percursos passados, comportamentos presentes e motivações futuras:

(Passado) Quem teve um percurso académico linear até ao mestrado? Quem teve experiências profissionais ao longo do seu percurso académico? Quem fez Erasmus? Quem esteve sempre na sua área de residência? O que andam a fazer os alunos que já não frequentam o mestrado? Quais os motivos que levaram alguns alunos a desistir ou interromper o mestrado?, etc.

(Presente) Quem está a estudar? Quem está a trabalhar numa empresa? Quem está a trabalhar como freelancer? Quem está a estagiar? Quem não está a trabalhar na área do design? Quem se encontra a ter experiências profissionais e a estudar ao mesmo tempo? Quem está a tirar um novo curso? Por onde andam os alunos? Estão satisfeitos com a vida que levam?, etc.

(Futuro) Quem quer ficar na cidade onde se encontra actualmente? Quem pretende imigrar? Quais as suas razões? Que motivações têm? Quais as previsões de tempo?, etc.

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2. COMUNIDADE DE PARTIDA (BIOLÓGICA)

Deste modo, torna-se evidente que é de extrema importância recolher todas estas informações possíveis, analisá-las atentamente e compará-las para poder extrair fluxos, percursos e padrões de comportamento, de forma a entender em ambas as comunidades questões centrais como: O que propicia a migração? O que condiciona a migração? Quais os seus factores positivos e negativos?

Não há dúvida de que todo este projecto se foca no conceito de migração e, deste modo, a comu-nidade biológica torna-se um excelente modelo de análise e comparação com a comunidade de chegada, principalmente quando concluímos que nenhum comportamento e nenhuma atitude são tomados em vão, existe sempre um motivo, uma razão muito forte que os impulsiona e, por-tanto, o que resta mesmo, é compreender quais são essas razões, esses padrões.

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3. DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE DE CHEGADA

3.1. RECOLHA DE DADOS - O QUESTIONÁRIO

A fase de recolha de dados foi imprescindível para o desenvolvimento deste projecto, sendo que optei com eleger o questionário como modo de operar, contendo este todas as perguntas que me permitiram extrair o maior número de conclusões acerca de percursos académicos e profissionais representativos do passado, presente e futuro dos alunos.

Questionáro - versão original:https://docs.google.com/forms/d/1tt-dfuOSaqaqKEzpZsMzq4CPsCHHZjZcHQnNxzxIUqU/viewform

Questionário - versão em inglês:https://docs.google.com/forms/d/1imTfoIQFMMMx6qpwed4ZinTx3bnMc5TYcQ9z68i_zYY/viewform

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3.2. RECOLHA DE DADOS - AS RESPOSTAS

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3.3. A CRIAÇÃO DO MAPA BASE - COM OS PAÍSES INTERVENIENTES

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3.4. AS EXPERIÊNCIAS INICIAIS - MAPEAMENTO DE INFORMAÇÃO

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4. A COMUNIDADE DE CHEGADA (DIGITAL)

4.1. A PLATAFORMA DE VISUALIZAÇÃO DOS ALUNOS

O design de uma plataforma online de visualização dos percursos académicos e profissionais dos alunos, é um dos pontos mais importantes deste projecto. A ideia de criar esta plataforma deveu-se não apenas ao facto desta ser uma excelente ferramenta tecnológica de apresentação da comunidade de chegada, mas em parte, também pelo meu desejo de retribuir o “favor” que os meus colegas mestrandos conceberam quando responderam ao questionário que lhes enviei. Portanto, o meu método de lhes agradecer consistiu em oferecer a possibilidade de verem os seus percursos e, mais importante que isso, os dos seus colegas, tendo acesso livre ao desenvol-vimento de todo o trabalho.

Assim sendo, a plataforma teve como ponto de partida as tabelas de dados repletas de texto difícil de interpretar e associar (as respostas dos alunos), que posteriormente transformei em algo de fácil leitura e análise. A meu ver, não poderia existir outra forma mais simples e eficaz de visualizar os percursos dos alunos: com o menu, os mapas, os gráficos, e as legendas tudo se torna muito mais fácil para o “utilizador”.

Portanto, esta estratégia no âmbito da visualização de informação e mapeamento de dados é bastante convincente, pois quando os dados são exaustivos há a necessidade da informação ser apresentada de forma dinâmica e extremamente clara, concedendo ainda a possibilidade do “uti-lizador” interpretar os percursos à sua maneira e retirar as suas próprias conclusões.

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4.2. AS INFOGRAFIAS (A CONTAR HISTÓRIAS)

O termo “infografia” surge da junção da palavra “informação” com a palavra “gráfico”, e portan-to, resulta em gráficos com informações. São bastante utilizadas em revistas através da junção de textos com ilustrações explicativas para o leitor entender o conteúdo. Este género de gráfi-cos são, desta forma, utilizados quando a informação necessita de ser explicada de forma mais dinâmica, facilitando assim a compreensão do leitor.

É importante ter em atenção que as infografias não são meras ilustrações. Para que uma ilus-tração se considere infografia tem necessariamente de explicar algo ou de contar uma história. As infografias são usualmente utilizadas quando a informação que se pretende transmitir é demasiado complexa e necessita de ser explicada de forma rápida, clara e sintetizada (como em gráficos ou mapas). Para além disto, as infografias não podem deixar de ter um sentido artístico e uma clara comunicação com o público.

Assim sendo, as infografias que criei têm como objectivo contar histórias acerca dos per-cursos, fluxos e comportamentos dos estudantes do Mestrado de Design de Comunicação e Novos Media, sendo um óptimo método para explicar os dados retirados dos inquéritos à qual os alunos responderam.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Julgo que este projecto começou bem, principalmente a partir do momento em que decidi qual seria a comunidade biológica, pois comecei logo a trabalhar e a recolher o máximo de dados possível.

A fase da parábola foi de certo modo mais complicada, mas acabou igualmente por correr bem. Apesar de não ter chegado logo à associação das andorinhas com os estudantes, a ideia acabou por surgir atempadamente e consegui recolher bastante informação teórica sobre a questão da migração das aves, tendo desde logo em vista e pensando em paralelo acerca das questões que pretendia apresentar aos alunos sobre os movimentos migratórios.

No que diz respeito à fase de elaboração dos questionários, pode-se dizer que esta se tornou um pouco complicada, pois no início calculei que não necessitaria de realizar muitas perguntas e de facto gostava que o inquérito ficasse curto, pois julgava que, dessa forma iria obter mais respos-tas. Contudo, acabei por me aperceber que seria realmente importante elaborar mais perguntas para conseguir extrair o máximo de dados possível.

A análise e extração dos resultados foi uma etapa de certo modo complicada, principalmente quando comecei a realizar as primeiras experiências e os primeiros protótipos. Era demasiada informação, eu não queria deixar nenhuma de parte, e foi nesse momento que me apercebi que é bastante complicado mostrar de uma forma clara e eficaz toda a informação que importa retirar dos questionários, mas sim, pensando bem, esse é justamente o propósito e o desafio quando se trata de realizar um projecto de visualização de dados. Contudo, admito que inicialmente estava a ser uma tarefa complicada, é preciso saber muito, ter muito acompanhamento, são necessárias muitas e boas referências para conseguir ter uma visão geral daquilo que se pode realizar, é igualmente essencial dedicar muito tempo a toda a análise, desenvolvimento e conclusões de um projecto desta envergadoria. Para além disso, os dados angariados através dos inquéritos não foram nem em quantidade nem em qualidade extrema, pois houve poucas respostas (apenas 29) e a maioria das pessoas não facilitou a minha tarefa, uma vez que, os alunos não respondiam a to-das as minhas questões, alguns eram incoerentes nas respostas que davam e portanto, o raciocínio ficava muitas vezes incompleto, tornando-se bastante complicado para mim na hora de analisar os dados e delinear percursos com datas e locais correctos. Contudo, não tenho a menor dúvida de que as conclusões que retirei e o projecto que desenvolvi com base nas respostas que obtive têm bastante qualidade.

Assim sendo, considero que fiz um bom trabalho com o design da plataforma de visualização de percursos e fluxos dos alunos, pois apesar de não ser uma plataforma “real”, mas sim uma pro-totipagem, é operacional e consegue-se ter uma perfeita percepção de como tudo funciona. Deste modo, sinto-me totalmente satisfeita pois considero que consegui realizar o meu papel de designer

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

ao transformar uma complexidade de dados numa plataforma de fácil leitura, que transmite de forma clara e eficaz o que é pretendido. Julgo que a parte da programação do site deve ser realiza-da por uma pessoa da área da informática (e numa fase posterior), pois nesta fase e com o tempo que tive, preferi realizar um bom design do site e resolver todas as questões essênciais como: o ruído, a complexidade, o aproveitamento do espaço no ecrã, entre outras.

Relativamente às infografias que contam histórias, estou satisfeita com o resultado final. Esta fase não iniciou propriamente bem pois tinha a “teimosia” realizar animações em Affter Effects, como forma de mostrar os caminhos percorridos e os fluxos de pessoas durante a evolução dos anos. Este era, de facto, o meu objectivo inicial por considerar que seria uma represen-tação mais interessante daquilo que me prontifiquei desde logo a abordar. Contudo, acabei por abandonar esta ideia pois apercebi-me de duas coisa importantes: primeiro, realizar uma animação é um trabalho bastante exigente e complexo que antes de se tornar interactivo tem de ser estático e tem efectivamente de estar bastante bem resolvido; em segundo lugar e reflectindo melhor acerca do meu trabalho, as infografias em movimento acabam por não acrescentar práticamente nada a este projecto, portanto, e mais uma vez, é preferível criar uma infografia simples mas que esteja bem resolvida, do que uma animação que não resulta ou que não está bem pensada.

Em suma, considero que este projecto teve um bom percurso, a analogia entre a comunidade biológica (as andorinhas) e a comunidade digital (os estudantes do Mestrado de Design de Comunicação e Novos Media) foi bastante bem desenvolvida, principalmente porque o con-ceito de migração esteve sempre presente ao longo do projecto. Para além disso, não posso deixar de afirmar a minha satisfação no que diz respeito ao resultado final - a plataforma de visualização dos percursos e fluxos dos alunos e as infografias a contar histórias - que acabou por estar bastante próximo daquilo que idealizei e daquilo que me prontifiquei a desenvolver logo que consolidei as minhas ideias.

Sem mais a acrescentar, apenas evidenciar uma nota conclusiva de que, este projecto desen-volvido no âmbito da cadeira de Projecto II e Laboratório dos Novos Media II cumpriu o seu objectivo, desde o estudo da comunidade biológica, a criação de uma parábola, a elaboração do brienfing, o planeamento da timeline, a recolha de dados através dos questionários, a análise das respostas e todas as experiências tecnológicas que resultaram na comunidade digital, foram eta-pas de um projecto onde a investigação e as experiências sempre foram componentes indispen-sáveis resultando num trabalho bastante sólido e coerente, tal como foi proposto desde o início pelas unidades curriculares.

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6. REFERÊNCIAS

Sacarrão, F. (1956) O Mundo das Aves. Lisboa: Colecção Natureza.

Rufino, R. (1989) Atlas das Aves que nidifi- cam em Portugal Continental.

Catry, P. Costa, H. Elias, G. Matias, R. Aves de Portugal, Assírio & Alvim.

Grupo Editorial Oceano. História Natural. Resomina Editores.

Gill, Frank; Wright, Minturn. Birds of the World: Recommended English Names (em inglês). Princeton: Princeton, 2006.

Snow, David; Perrins, Christopher M (ed.). The Birds of the Western Palearctic concise edi- tion. Boston: Oxford University Press, 1998.

Wernham, Chris et al (ed.). The Migration Atlas: Movements of the Birds of Britain and Ireland. Londres: T & AD Poyser, 2002.

Enciclopédia do Conhecimento – Ciência e Tecnologia – os Animais. Resonmia Editores.Burton, Robert. Bird behaviour. Lon- dres: Granada, 1985.

Darwin, Charles. A Origem das Espécies, no meio da seleção natural ou a luta pela existência na natureza, 1 vol., tradução do doutor Mesquita Paul.

http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambi- ente/Fauna-e-Flora/content/A-Conservacao- das-Aves/section/2?bl=1&viewall=true#Go_2

http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambi- ente/Fichas-de-Especies/content/Ficha-da- Andorin-ha-das-chamines?bl=1

http://www.avesdeportugal.info/hirrus.html

http://www.dicionariodesimbolos.com.br/ andorinha/

http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menui d=2&cid=9529&bl=1&viewall=true

http://www.maisnatureza.com/animais/ aves/andorinha-das-chamines/

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6. REFERÊNCIAS

http://tfmlearning.fly.faa.gov/NY_Airspace/NY_Airspace_Pkg/NY_Airspace.swf

http://archivojae.edaddeplata.org/jae_app/jaeMain.html

http://migrationsmap.net/#/DEU/arrivals

http://www.dgquarterly.com/infographics/page/3

http://www.metacriacoes.com/en/2011/06/infografias-visualizacao-de-data-ilustracao-tecnica/

http://www.stefanelli.eng.br/webpage/p_mape_a.html

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Faculdade de Belas Artes da Universidade de LisboaMestrado de Design de Comunicação e Novos Media

ProjectoIIeLaboratóriodosNovosMediaII