16
Escola de Cancro aposta na formação para combater a doença Especialistas dos Palops, reuni- dos em Luanda, trocam infor- mações e experiências em ini- ciativa que pretende criar novos formadores para actuarem jun- to das populações e quadros médicos. O evento, realizado no Instituto Angolano do Controlo do Cancro, foi organizado no âmbito da Aortic (sigla inglesa para Organização Africana de Investigação e Formação de Cancro). O seu próximo con- gresso já está agendado para a cidade de Praia, em Cabo Verde, em 2018. |Pag.10 Sociedade Angolana de Pediatria adopta metodologia de excelência A Sociedade Angolana de Pe- diatria (SAP) optou por uma no- va fórmula na organização das suas jornadas: foi ao terreno, ao encontro dos profissionais liga- dos à saúde infantil, nos pró- prios hospitais municipais, para tentar identificar as causas na origem da situação crítica vivida no início do ano de 2016, com a taxa de mortalidade infantil a aumentar significativamente em muito pouco tempo. Em seguida, levou as informa- ções recolhidas e discutiu-as nas jornadas “para buscarmos soluções, caso, num período próximo, venhamos a enfrentar situações similares” , conforme relatou em entrevista ao JS o presidente da SAP, o pediatra Francisco Domingos. |Pag.12 e 13 O Caminho do Bem European Society for Quality Research Lausanne EUROPE BUSINESS ASSEMBLY OXFORD jornal Ano 7 - Nº 78 Janeiro 2017 Mensal Gratuito Director Editorial: Rui Moreira de Sá MINISTÉRIO DA SAÚDE GOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA aude a saúde nas suas mãos A N G O L A da Luandenses satisfeitos com a feira Natal com Saúde A feira Natal com Saúde decorreu na Praça da Família (1º de Maio), sob o lema “A boa saúde é o melhor presente que pode receber neste natal”. Teve como objectivo a sensibilização e prevenção das enfermidades resultantes de acidentes rodo- viários e de abusos típicos da quadra festiva. Os cidadãos entrevistados consideraram “uma excelente iniciativa”. |Pag.16 A doença oncológica pode ter cura! Dia Mundial da Luta Contra o Cancro Em todo o mundo, milhões de pessoas vivem, actualmente, com o diagnóstico de cancro. A doença con- tabiliza mundialmente mais mortes que o VIH/SIDA, a tuberculose e a malária juntos. No entanto, a in- vestigação constante faculta aos especialistas um conhecimento cada vez maior sobre as suas causas e a forma como se desenvolve e cresce, ao mesmo tempo que se descobrem novas formas de o prevenir, detectar e tratar. Em Angola, “temos bons especialistas, mas falta informação”, de acordo com o presi- dente do IACC, o médico Fernando Miguel. |Pags.3 a 10

O Caminho do Bem - Jornal da Saude · diatria (SAP) optou por uma no - va fórmula na organização das suas jornadas: foi ao terreno, ao encontro dos profissionais liga - dos à

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Escola de Cancro apostana formaçãopara combatera doençaEspecialistas dos Palops, reuni-dos em Luanda, trocam infor-mações e experiências em ini-ciativa que pretende criar novosformadores para actuarem jun-to das populações e quadrosmédicos. O evento, realizado noInstituto Angolano do Controlodo Cancro, foi organizado noâmbito da Aortic (sigla inglesapara Organização Africana deInvestigação e Formação deCancro). O seu próximo con-gresso já está agendado para acidade de Praia, em Cabo Verde,em 2018. |Pag.10

Sociedade Angolana dePediatriaadopta metodologiade excelênciaA Sociedade Angolana de Pe-diatria (SAP) optou por uma no-va fórmula na organização dassuas jornadas: foi ao terreno, aoencontro dos profissionais liga-dos à saúde infantil, nos pró-prios hospitais municipais, paratentar identificar as causas naorigem da situação crítica vividano início do ano de 2016, com ataxa de mortalidade infantil aaumentar significativamenteem muito pouco tempo.Em seguida, levou as informa-ções recolhidas e discutiu-asnas jornadas “para buscarmossoluções, caso, num períodopróximo, venhamos a enfrentarsituações similares”, conformerelatou em entrevista ao JS opresidente da SAP, o pediatraFrancisco Domingos. |Pag.12 e 13

O Caminho do BemEuropean Society for

Quality ResearchLausanne

EUROPE BUSINESS ASSEMBLY

OXFORD

jornalAno 7 - Nº 78Janeiro2017Mensal Gratuito Director Editorial: Rui Moreira de Sá

MINISTÉRIO DA SAÚDEGOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA aude

a saúde nas suas mãosA N G O L A

da

Luandenses satisfeitos com a feira Natal com SaúdeA feira Natal com Saúde decorreu na Praça da Família (1º de Maio), sob o lema “A boa saúde é o melhor presente que podereceber neste natal”. Teve como objectivo a sensibilização e prevenção das enfermidades resultantes de acidentes rodo-viários e de abusos típicos da quadra festiva. Os cidadãos entrevistados consideraram “uma excelente iniciativa”. |Pag.16

A doença oncológicapode ter cura!

Dia Mundial da Luta Contra o Cancro

Em todo o mundo, milhões de pessoas vivem, actualmente, com o diagnóstico de cancro. A doença con-tabiliza mundialmente mais mortes que o VIH/SIDA, a tuberculose e a malária juntos. No entanto, a in-vestigação constante faculta aos especialistas um conhecimento cada vez maior sobre as suas causas ea forma como se desenvolve e cresce, ao mesmo tempo que se descobrem novas formas de o prevenir,detectar e tratar. Em Angola, “temos bons especialistas, mas falta informação”, de acordo com o presi-dente do IACC, o médico Fernando Miguel. |Pags.3 a 10

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2  OPINIãO Janeiro 2017 JSA

Conselho editorial: Prof. Dr. MiguelBettencourt Mateus (coordenador),Dra. Adelaide Carvalho, Prof. Dra.Arlete Borges, Dr. Carlos (Kaka) Al-berto, Enf. Lic. Conceição Martins,Dra. Filomena Wilson, Dra. HelgaFreitas, Dra. Isabel Massocolo, Dra.Isilda Neves, Dr. Joaquim Van-Dú-nem, Dra. Joseth de Sousa, Prof. Dr.Josinando Teófilo, Prof. Dra. MariaManuela de Jesus Mendes, Dr. Mi-guel Gaspar, Dr. Paulo Campos.Director Editorial: Rui Moreira de Sá

[email protected]; Redacção: Susana Gonçalves (edi-ção); Cláudia Pinto; Francisco Cos-me dos Santos.Correspondentesprovinciais: Elsa Inakulo (Huambo);Diniz Simão (Cuanza Norte); Casi-miro José (Cuanza Sul); Victor Ma-yala (Zaire)

MARKETING

E PUBLICIDADE: Maria LuísaTel.: + 244 928 013 347 E-mail:[email protected]

Fotografia: Jorge Vieira. Editor: Marketing For You, Lda - RuaDr. Alves da Cunha, nº 3, 1º andar- Ingombota, Luanda, Angola,Tel.: +(244) 935 432 415 / 914780 462, [email protected].

Conservatória Registo Comercial deLuanda nº 872-10/100505, NIF 5417089028, Registo no Mi-nistério da Comunicação Social nº 141/A/2011, Folha nº 143.

Delegação em Portugal:Beloura Office Park, Edif.4 - 1.2 -2710-693 Sintra - Portugal,Tel.: + (351) 219 247 670 Fax: + (351) 219 247 679

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Tiragem: 20 000 exemplares. Audiência estimada:80 mil leitores.

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www.jornaldasaude.org

Recentemente, o director da Junta Nacional de Saúde, AugustoGonçalves Lourenço, revelou que, entre 2012 e 2016, foram eva-cuados para a África do Sul e Portugal um total de 1.283 doentes.Entre 1999 e 2012, o seu custo ascendeu a cerca de 500 mil dólarespor mês. Em 13 anos (1999-2012) as evacuações para o exteriorcustaram ao erário público um total de 12,9 mil milhões (biliões)de kwanzas. Estas despesas cobrem a assistência médica e medica-mentosa e o bilhete de passagem.Os dados mais recentes, relativos a 2015 e 2016, apontam, entre-tanto, para um decréscimo no número de doentes evacuados, gra-ças a um programa do Ministério da Saúde que visa a reversão daactual situação das juntas de saúde: passou de 255 doentes evacua-dos, em 2012, para 165, em 2016. Na conferência de imprensa promovida há dias pelo GRECIMA, oministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, reconheceu que o país nãotem capacidade para resolver todo o tipo de casos de saúde no nos-so país e que, nos casos em que o doente pode encontrar o trata-mento e melhoria no exterior, o Governo tem subvencionado aevacuação principalmente para Portugal e África do Sul.Contudo, é provável que muitos dos casos nem precisassem de eva-

cuação para o exterior. Há especialidades em que se avançou bas-tante em Angola. É, por exemplo, o caso da cardiologia em que, nohospital Josina Machel, se realizam cirurgias valvular (mitral, aórtica,mitro-aórtica e tricúspide), cardiopatia congénita de comunicaçãointeratrial (CIA) e de comunicação interventricular (CIV), tetralogiade Fallot, coarctação da aorta, cirurgia coronária e da aorta (aneu-risma da aorta), entre outras, utilizando técnicas cirúrgicas muitoavançadas, conforme o Jornal da Saúde testemunhou em reporta-gens realizadas nesta unidade de saúde.Com a sua visão humanista, o ministro da Saúde, Luís Gomes Sam-bo, admitiu, na referida conferência de imprensa, que o estado dedoença “não é só a doença em si, é todo o sentimento, a paixão so-bre o doente, sentimentos de desespero que também têm de serponderados muitas vezes nas decisões tomadas pelos familiares pa-ra evacuarem os seus doentes e o Estado tem o dever de apoiartanto quanto possível.” E deixou a promessa de que estão a ser criadas as condições parao surgimento no país de mais especialidades médicas para reduzirem 50 por cento o número de doentes evacuados para o exterior. Boas notícias!

Evacuação de doentes para o exterior

Rui MoReiRa de SáDirector [email protected]

O Jornal da Saúde chega gratuitamente às suas mãos graças ao apoio das seguintes em-

presas e entidades socialmente responsáveis que contribuem para o bem-estardos angolanos e o desenvolvimento sustentável

do país.

QUADRO DE HONRAEmpresas Socialmente

Responsáveis

n Irá decorrer, entre os dias 20 e 25 de Feve-reiro, no Centro de Formação de SaúdeMultiperfil, o curso de “Acidentes de Traba-lho e Doenças Profissionais”. Numa alturaem que a segurança no trabalho, a saúde eo bem estar dos trabalhadores assumemuma importância cada vez mais relevante,esta formação é especialmente destinadaa todos os profissionais relacionados coma temática, quer sejam médicos, juristas,gestores de empresas, de RH, de empresasseguradoras e gestores de sinistros, enge-nheiros e técnicos de segurança e de siste-mas de gestão de riscos, enfermeiros e es-tudantes, mas o curso está disponível paratodos os outros interessados.Com uma carga horária de 44 horas, o

curso será ministrado entre as 8h e às 16h.Composto por dez módulos, esta formaçãoabordará temas que vão dos riscos profis-sionais à sua prevenção e controlo, passan-do pela caracterização dos acidentes e

diagnóstico das doenças relacionados como trabalho, o seguros de acidentes de traba-lho e doenças profissionais, bem como a le-gislação que regula estas matérias. O curso,que será ministrado pelo médico do traba-lho Rui Capo, incluirá uma consulta de Me-dicina do Tráfego, que consiste na avalia-ção de aptidão para condução de cada for-mando e respectivo atestado. Com estaconsulta, destaca Rui Capo, pretende-sechamar a atenção dos participantes para aimportância dos exames médicos para ava-liação da aptidão para condução, “já quemuitos dos acidentes de trabalho regista-dos são, precisamente, acidentes de trânsi-to e são cada vez mais frequentes as situa-ções em que as seguradoras se recusam, ebem, a pagar indemnizações porque con-seguem provar que os condutores envolvi-dos nos acidentes não estavam aptos paraconduzir”, sendo este um motivo válido pa-ra descaracterizar o acidente, sem direito a

indemnizações.Este curso apresenta outra inovação que

tem como objectivo alertar os trabalhado-res e entidades empregadoras para a im-portância do seguro de acidentes de traba-lho e doenças profissionais, proporcionan-do aos formandos a possibilidade, casoassim queiram, de subscrever um seguroque será válido apenas durante a semanade formação.No fim do curso e após avaliação final, os

formandos terão um certificado de partici-pação (mínimo de 75% de frequência).

Para mais informações, poderá enviar ume-mail para os seguintes endereços: [email protected]@multiperfil.co.ao

Poderá ainda telefonar para os números:928120644925075016.

Curso multidisciplinar de acidentes de trabalho e doenças profissionais

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3ONCOLOgIAJaneiro 2017 JSA 

4 de Fevereiro - Dia Mundial da Luta Contra o Cancro

A doença oncológica pode ter cura!

nDe acordo com a Organi-zação Mundial de Saúde(OMS), o cancro é uma dasprincipais causas de morteno mundo, vitimando cercade oito milhões de pessoasanualmente. O cancro con-tabiliza mundialmente maismortes que o VIH/SIDA, atuberculose e a malária jun-tos. Se, em 2008, mais de55% das mortes por cancroocorreram em regiões me-nos desenvolvidas, estima-se que, em 2030, de 60 a 70%dos 21,4 milhões de novoscasos de cancro ocorrerãonos países em desenvolvi-mento.O aumento da longevida-

de da população é a princi-pal razão das estimativasque apontam para um enor-me aumento dos númerosde cancro, uma vez que aidade é um dos principaisfactores de risco. A verdade éque a incidência do cancroestá a aumentar e daqui al-gumas décadas metade dapopulação terá tido cancro.No entanto, a medicina temvindo a tornar-se cada vezmais eficaz no tratamento

das formas precoces de can-cro e, actualmente, só umquarto dos doentes morrevitimado pela doença. Odiagnóstico precoce aliado atratamentos cada vez maiscapazes permite maiores ta-xas de cura ao mesmo tem-po que proporciona um au-mento da qualidade de vidanecessária para convivercom a doença.

Células fora de controloO cancro não é uma únicadoença, mas sim inúmerasdoenças que ocorrem quan-do, durante o seu processode regeneração, algumas cé-lulas que sofreram muta-ções no ADN começam a di-vidir-se descontroladamen-te, adquirindo a capacidadede invadirem outros tecidose de não morrerem quandodevem. Estas células doen-tes, além de não morrerem,continuam a formar-sequando o corpo já não preci-sa delas, acumulando-se emmassas sem qualquer fun-ção. Estas massas, ou tumo-res, podem ser benignas enão representar risco para o

organismo, ou malignas, re-cebendo então o nome decancro. Há, no entanto, can-cros que não formam tumo-res, nomeadamente os can-cros do sangue (hematológi-cos), em que as célulasdoentes circulam pelo orga-nismo.É precisamente através

dos sistemas circulatório elinfático, que todas as célu-las de cancro têm a possibi-lidade de se deslocarem peloorganismo, dando origem ametástases que espalham adoença por novos orgãos,invadindo-os e tornando ocombate à doença aindamais difícil.De uma forma geral, o or-

ganismo humano lida deforma muito eficaz com ascélulas que possuem errosgenéticos, reparando-as oueliminando-as. No entanto,ao longo dos anos, essa ca-pacidade diminui, daí que ocancro surja mais frequente-mente em idades avança-das. Grande parte dos cancros

têm origem em células epi-teliais (da pele e do revesti-

mento do tubo digestivo oudos aparelhos respiratório egenito-urinário) e recebema designação de carcinomas. Existem também os can-

cros das células do sangue,ou hematológicos (leuce-mias, linfomas ou mielo-mas), na sua grande maioriacom origem nos glóbulosbrancos e que são tratadospor hematologistas; os sar-comas, que atingem os teci-

dos de suporte como o osso,a cartilagem, a gordura, osmúsculo, os vasos ou outrostecidos conjuntivos; os me-lanomas que se desenvol-vem nos melanócitos, célu-las da pele; ou os tumores dosistema nervoso central, docérebro e espinal medula,como é o caso por exemplodos glioblastomas.Não sendo uma doença

contagiosa, pode, em algunscasos, desenvolver-se a par-tir de infecções provocadaspor certos vírus ou bactérias.

Factores de riscoEmbora não seja fácil deter-minar porque é que um de-terminado tipo de cancro sedesenvolve, existem factoresde risco que aumentam aprobabilidade de uma pes-soa vir a desenvolver a doen-ça, nomeadamente:— o envelhecimento;— a genética;— o consumo de tabaco e deálcool;— a exposição à luz solar;— a radiação ionizante ou adeterminados químicos eoutras substâncias;

— o contágio por alguns ví-rus e bactérias (os vírus dopapiloma humano e da he-patite B, por exemplo);— tratamentos com deter-minadas hormonas;— uma dieta pobre;— falta de actividade físicaou excesso de peso.Se não podemos actuar

sobre alguns destes factoresde risco, como é o caso dagenética, outros podem, edevem, ser evitados.

A importância da prevençãoDe acordo com a OMS, cercade 40% de todos os cancrospodem ser prevenidos e ou-tros podem ser detectadosnuma fase precoce do seudesenvolvimento, tratados ecurados. Os rastreios, exa-mes para despiste do cancroou de alguma condição quepossa levar à doença empessoas que não têm sinto-mas, podem ajudar os médi-cos a encontrarem e trata-rem, precocemente, algunstipos de tumores. São cadavez mais frequentes as ma-mografias e os testes Papani-

SuSana GonçalvES

Em todo o mundo, milhões

de pessoas vivem, actual-

mente, com o diagnóstico

de cancro. A investigação

constante faculta aos espe-

cialistas um conhecimento

cada vez maior sobre as suas

causas e a forma como se

desenvolve e cresce, ao mes-

mo tempo que se desco-

brem novas formas de o pre-

venir, detectar e tratar.

o aumento da longevidade da população é a principal razão das estimativas que apontam para um enorme aumento dos números de cancro, uma vez que a idade é um dos principais factores de risco.

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4  ONCOLOgIA Janeiro 2017 JSA

colau para a detecção decancros da mama e do colodo útero, o toque rectal paraidentificação do risco decancro da próstata e examesque permitem detectar can-cros cólon e recto. A estesexames “de rotina” juntam-se outros a que os especialis-tas recorrem quando um pa-ciente apresenta factores derisco que podem indicaruma maior probabilidade devir a sofrer de determinadocancro. Sinais de alertaOs sintomas que o cancropode provocar no organis-mo são muito diferentes. As-sim, é importante estarmosatentos a sinais que devemser levados muito a sério eser alvo de consulta médicapara serem devidamenteanalisados. São eles, princi-palmente:— O aparecimento de umespessamento, massa ounódulo na mama, ou emqualquer outra parte do cor-po;— o aparecimento de um si-nal novo, ou alteração numsinal já existente;— a não cicatrização deuma ferida; — a rouquidão ou tosse quenão desaparece;— alterações relevantes narotina intestinal ou da bexi-ga;— desconforto depois de co-mer;— dificuldade em engolir;— ganho ou perda de peso,sem motivo aparente;— sangramento ou qual-quer secreção anormal;— sensação de fraqueza ouextremo cansaço.Na maior parte das vezes,

os sintomas não estão rela-cionados com qualquercancro. No entanto, só o mé-dico poderá confirmar a ori-gem desses sintomas peloque qualquer pessoa que osapresente, bem como quais-quer outras alterações desaúde relevantes, deve pro-curar ajuda clínica rapida-mente. Geralmente, na suafase inicial o cancro não cau-sa dor, não devendo o pa-ciente esperar para consul-tar o médico.

Meios de diagnósticoCaso exista um sintoma es-pecífico, ou o resultado dealgum exame de rastreio su-gira a existência de um tu-mor, é preciso verificar se omesmo é devido a um can-cro ou a qualquer outro mo-tivo. O médico irá fazer algu-mas perguntas relacionadas

com a história clínica e fami-liar, bem como pedir umexame físico, e exames com-plementares de diagnóstico,como testes laboratoriais(análises clínicas), procedi-mentos de imagiologia (ra-diografias, tomografias com-putorizadas - tac, ecografiasou ressonâncias magnéticas,entre outros), biópsias (exa-mes feitos por patologistas auma amostra de tecido), e oestadiamento do cancro(análise da sua extensão eevolução através do tama-nho do tumor, na sua disse-minação para os gânglioslinfáticos e na sua metastiza-ção para outras zonas docorpo).

Planos de tratamentoO diagnóstico de cancroprovoca um imenso choqueno paciente mas é funda-mental que este conversecom o seu médico, ou médi-cos, já que o cancro pode sertratado por diferentes espe-cialistas, para saber qual otratamento a iniciar o maisrapidamente possível. Sem-pre que os procedimentossugeridos lhe apresentemdúvidas, o paciente pode, edeve, procurar a opinião deum segundo especialista. Éimportante que, durante afase de estabelecimento dotratamento, os médicostransmitam ao paciente in-formações como os resulta-

dos realisticamente previsí-veis e o tipo de efeitos secun-dários que podem ocorrer eque formas existem para oscontrolar e minimizar. Dependendo do estádio

da doença é estabelecidoum plano de tratamentosque tem em consideração aidade do doente e o seu esta-do geral de saúde, plano esseque poderá sofrer alteraçõesao longo do tempo. Se o ob-

jectivo principal do trata-mento é curar a pessoa docancro, existem casos, emque a finalidade passa porcontrolar a doença ou redu-zir os sintomas, durante omaior período de tempopossível. A maioria dos planos de

tratamento inclui cirurgia,radioterapia ou quimiotera-pia, mas em alguns casos re-corre-se à terapêutica hor-monal ou biológica. Adicio-nalmente, pode ainda serusado o transplante de célu-las estaminais (indiferencia-das), para que o doente pos-sa receber doses mais eleva-das de quimioterapia ouradioterapia.O tratamentos podem ac-

tuar numa área específica(terapêutica local), ou emtodo o corpo (terapêuticasistémica), e alguns tipos decancro respondem melhor aum só tipo de tratamento,enquanto outros respon-dem melhor a uma associa-ção de medicamentos oumodalidades de tratamento.Paralelamente ao trata-

mento para curar cancro,podem ser prescritos e ad-ministrados fármacos paracontrolar a dor e outros sin-tomas da doença, bem co-mo os efeitos secundáriosdos próprios tratamentos.Em caso de doença pro-

longada, incurável e pro-gressiva, e para prevenir o

sofrimento e proporcionar amaior qualidade de vidapossível, a estes doentes esuas famílias, são utilizadosos chamados cuidados pa-liativos.

Tratamentos disponíveisActualmente, são muitas asarmas de que a medicinadispõe para combater o can-cro e, todos os dias, surgemnovas esperanças na lutacontra a doença. Conheçaalguns dos tratamentos àdisposição dos especialistaspara tratar os doentes onco-lógicos.

CirurgiaAtravés deste procedimento,o cirurgião remove o tumore as suas margens. Pode ain-da remover tecido circun-dante, para prevenir que otumor volte a crescer, e al-guns gânglios linfáticos loca-lizados na região do tumor.

RadioterapiaActua através de raios de ele-vada energia que podem seradministrados de várias for-mas, para matar as célulascancerígenas. Os seus efei-tos secundários dependemmuito da dose e do tipo deradiação, e podem variarconforme a parte do corpo aser tratada.

QuimioterapiaConsiste na utilização de fár-

macos (em associação ouisolados), para matar as célu-las cancerígenas. Esses medi-camentos, que também afec-tam as células saudáveis, po-dem ser administrados deforma oral ou através de in-jecção intravenosa e consti-tuem uma terapêutica sisté-mica, já que os medicamen-tos circulam por todo oorganismo. Aplicados atravésde ciclos de tratamento, ge-ralmente em regime de am-bulatório, provocam efeitossecundários que dependemdos fármacos e das doses uti-lizadas.

Terapêutica hormonalImpede que as células cance-rígenas acedam às hormonasproduzidas naturalmentepelo organismo e das quaisnecessitam para se desenvol-verem. É utilizada nos casosem que testes laboratoriaisdemonstram que o cancrotem receptores hormonais.Essa recepção de hormonaspode ser evitada com recursoa medicamentos que blo-queiam a sua produção natu-ral ou através da remoção doórgão que as produz.Tal co-mo a quimioterapia, a tera-pêutica hormonal tambémpode afectar as células de to-do o organismo, pois tem ac-tividade sistémica, e os seusefeitos secundários depen-dem do tipo de tratamento.

ImunoterapiaA também chamada tera-pêutica biológica, utiliza aprópria capacidade do orga-nismo para combater o can-cro, estimulando o sistemaimunitário. Administradapor via endovenosa, geral-mente em regime de ambu-latório, actua de forma sisté-mica e tem efeitos secundá-rios raramente graves.

Transplante de células estaminaisO transplante de células per-cursoras das células do san-gue permite que o doente re-ceba elevadas doses de qui-mioterapia, radiação ouambas. Uma vez que estestratamentos destroem as cé-lulas normais do sangue,através deste transplante odoente recebe células per-cursoras das células do san-gue saudáveis que vão ate-nuar os danos. Os efeitos se-cundários do transplante decélulas estaminais inclueminfecções e a perda de sanguee, no caso de pessoas que re-cebam estas células de dado-res, poderá haver rejeição.

o cancro não é uma única doença, mas sim inúmeras doenças que ocorrem quando, durante o seu processo de regeneração, algumas células que sofreram mutaçõesno adN começam a dividir-se escontroladamente, adquirindo a capacidade de invadirem outros tecidos e de não morrerem quando devem.

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6 onCologIA Janeiro 2017 JSA

Em 2016, e de acordo com números provisó-

rios apurados pelo Instituto Angolano de Con-

trolo do Câncer (IACC), os cancros da mama e

do cólo do útero continuam a dominar a lista

dos novos casos diagnosticados em Angola.

Dos 1128 novos casos registados até No-

vembro,234 são de cancro da mamae

219 são de cancro do cólo do útero. Se-

guem-se, na lista dos novos casos de cancro re-

gistados, o cancro da próstata (68), o sar-

coma de Kaposi (41), o cancro do cólon e

recto e o cancro do fígado (38 casos ca-

da), o cancro da pele não melanoma

(35), o cancro dos tecidos moles e con-

juntivos (32), o cancro do estômago (29),

e o cancro do olho e anexos (27).

Relativamente à distribuição dos novos casos

de cancro registados por faixas etárias, segun-

do os dados já apurados pelo IACC é na faixa

etária dos 45 aos 49 anos a mais afectada, com

132 casos. Na faixa dos 50 aos 54 anos regista-

ram-se 124 casos; na dos 55 aos 59 anos, 120

casos; na dos 60 aos 64 anos, 110 casos; e na

dos 40 aos 44 anos, 109 casos. Entre as crianças

dos zero aos quatro anos foram registados 48

novos casos de cancro. As faixas etárias em que

a doença é menos prevalente são as dos 10 aos

14 anos e dos 15 aos 19 anos.

Também no que diz respeito aos casos de mor-

talidade contabilizados pelo IACC até ao pas-

sado mês de Novembro, ao longo de 2016

também os cancros da mama e do cólo do úte-

ro foram os que mais vítimas fizeram, com 71 e

61 casos, respectivamente. Na lista dos tipos de

cancros mais mortíferos, encontram-se ainda

os cancros dos fígado e vias biliares intra-hepá-

ticas (28 casos), os linfomas não-Hodgkin(15),

o sarcoma de Kaposi (14), o cancro da próstata

e as leucemias (12 casos, cada), o cancro de

brônquios e pulmões (11) e o cancro do estô-

mago (10).

Embora estes números se refiram apenas aos

casos registados no IACC e possam não repre-

sentar a realidade da doença no País, a predo-

minância dos cancros da mama e cólo do útero

pode ser resultado das campanhas de sensibili-

zação realizadas junto da população, que leva a

que, sobretudo as mulheres, estejam mais aten-

tas aos sintomas e procurem ajuda mais fre-

quentemente, permitindo o diagnóstico da

doença. Assim, estes resultados podem ser in-

dicadores de que a sensibilização da população

para a importância da prevenção e da detecção

precoce do cancro deve prosseguir e ser alar-

gada a cancros com outras localizações que

também são frequentes no País.

Os númerosem Angola

Fernando Miguel, director do Instituto Angolano de Controlo do Câncer (IACC)

“Em Angola há uma enorme faltade informação relativamente à gravidade do cancro”

nO especialista afirma queexistem em Angola médicosoncologistas de grande quali-dade e que há recursos hu-manos e tecnológicos quepermitem combater a doen-ça. Porém, afirma que às difi-culdades naturais que se co-locam à medicina num Paísem crise financeira, junta-seum “inimigo” mais difícil decombater: a falta de informa-ção relativa à ao cancro.Reconhecendo que a si-

tuação actual do País com-promete a actividade idealdos clínicos dedicados à lutacontra o cancro, FernandoMiguel afirma que “não se po-de dizer que é a mesma coisaum médico trabalhar em An-gola ou trabalhar em França.Temos de trabalhar de acordocom o meio em que estamosinseridos. Temos várias limi-tações que nos são impostaspela própria situação do localem que nos encontramos”, eexemplifica: “Angola não pro-duz praticamente nada. Senem comida conseguimosproduzir, muito menos pro-duziremos meios de diagnós-tico ou tratamento. Estou a re-ferir-me a agentes reactivos,meios terapêuticos, medica-mentos… Como a compradestes produtos depende dasdivisas, obviamente que tudoisto pode faltar”. No entanto, e apesar des-

tas dificuldades o director doIACC não hesita em afirmarque “temos recursos huma-nos e temos recursos tecnoló-gicos. Temos especialistasque não devem nada a outrosque se encontram pelo mun-do fora”.Se, em Luanda, os doentes

com cancro podem encon-trar tratamento e apoio noCentro Nacional de Oncolo-gia, nas províncias não exis-

tem unidades de saúde espe-cificamente dedicadas a estaspatologias, mas FernandoMiguel explica como funcio-na uma rede de profissionaisque permite chegar a ummaior número de pacientes:“Temos um sistema que con-siste na existência de “ante-nas” em todas províncias,embora umas trabalhemcom maior intensidade queoutras. Essas “antenas” ser-vem para captar e depois dre-nar, para aqui, os casos decancro que vão aparecendo”.Essas “antenas”, tão impor-tantes na luta contra a doen-ça, são os médicos que estãomais próximos das popula-ções. “A doença oncológica éuma doença transversal. Al-gumas especialidades médi-cas estão associadas a deter-minadas características.

A oncologia é transversalPor exemplo, a pediatria estárelacionada com a idade e élimitada às crianças. Tam-bém há especialidades rela-cionadas com órgãos. Mas aoncologia é transversal. Podeestar pele e ser detectada pelodermatologista ou estar noosso e ser detectada pelo or-topedista. São esses especia-listas que vão detectar os ca-sos e encaminhá-los paranós. Isto também representauma facilidade: se a doençasurge na pele, caso exista umdermatologista por perto amesma pode ser detectadamais rapidamente. Esse mé-dico faz uma primeira abor-dagem e depois começamosa trabalhar em colaboração”.A imensa variedade de for-

mas que a doença oncológicaadquire não permite falar

num tratamento comum,mas sim adaptado a cada ca-so. “Quando falamos dedoença oncológica falamosde mais de duzentas patolo-gias. Hoje em dia, diz-se quea doença oncológica não édoença, mas sim a forma co-mo essa doença se manifesta.Cada uma das formas dadoença tem cuidados especí-ficos. Depende se está na ma-ma, no pulmão…”.

Desconhecimento da gravidadeNegando a hipótese de existir,em Angola, discriminaçãoem relação ao doente oncoló-gico, o especialista confessaque uma das maiores dificul-dades com que os médicos seconfrontam é, antes, umaenorme falta de informaçãorelativamente à gravidade dapatologia por parte dos pró-prios pacientes. “O que nós,médicos, notamos é que di-zermos a um paciente que es-tá com cancro é quase a mes-ma coisa que lhe dizer que es-tá com paludismo. Ou seja,ele sabe que em qualqueruma destas situações estádoente, mas não distingue agravidade de uma das situa-ções”, revela o clínico, para ex-plicar que esta falta de conhe-cimento é um dos principaisobstáculos ao tratamento:“Quem tem cancro, tem a vi-da em risco e os cuidados têmde ser contínuos. Isso requera tomada de consciênciaquer do próprio doente, querda sua família”, de forma a te-rapia não seja abandonada ameio, comprometendo a suaeficácia.Defendendo que a pre-

venção “é o caminho ideal”, e

questionado sobre de queforma devemos actuar paraevitar estas patologias, Fer-nando Miguel defende que“todos nós nascemos saudá-veis e quando estamos a falarde prevenção, estamos a falarde muitos determinantes desaúde que não têm nada a vercom hospitais ou com inves-tigação médica. Estamos a fa-lar da informação que rece-bemos para saber viver deforma mais saudável. Muitaspessoas não têm informaçãosuficiente sobre o que devemcomer e beber, como se de-vem comportar. Conhecem-se quatro factores importan-tes que podem levar ao surgi-mento das doenças crónicasnão transmissíveis, como écaso do cancro, concreta-mente, a inactividade física, oconsumo de tabaco, o consu-mo de álcool e por último, porincrível que pareça, os errosdietéticos. Comemos o quenão devemos e não come-mos o que devemos. Se estesquatro factores fossem con-trolados haveria muito me-nos casos de cancro”. Assim, oespecialista alerta: “Se puder-mos evitar estes quatro facto-res, estamos a fazer uma dife-rença enorme pela nossasaúde. Além do cancro pode-remos evitar as doenças car-diovasculares, a diabetes e asdoenças respiratórias, entreoutras.”

IniciativasQuestionado sobre as inicia-tivas que o Instituto prevê rea-lizar para assinalar o DiaMundial da Luta Contra oCancro, o director do IACC re-fere que o mesmo é “uma ins-tituição pública que dependedos poucos recursos que o Es-tado coloca à nossa disposi-ção” e que “numa situação decrise como a que vivemos, es-tamos preparados apenas pa-ra dar suporte técnico, no-meadamente para enviar osnossos profissionais à rádioou à televisão para assim aler-tarmos a consciência das pes-soas. É nesse sentido que ire-mos focar a forma como assi-nalaremos a passagem destadata”, divulga.

Nas vésperas do Dia Mun-

dial de Luta Contra o Can-

cro, que se assinala a 4 de Fe-

vereiro, o Jornal da Saúde foi

conversar com Fernando

Miguel, director do Instituto

Angolano de Controlo do

Câncer (IACC), para conhe-

cer a realidade que envolve

a doença oncológica no País.

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A Universidade de Coimbra, em Portugal,

anunciou recentemente que um primeiro en-

saio clínico que testou a chamada terapia fo-

todinâmica em seres humanos revelou re-

sultados positivos no tratamento do can-

cro da cabeça e pescoço. Num dos

casos tratados, foi revelado, o tumor

desapareceu completamente.

Uma equipa de investigação daquela

Universidade desenvolveu a molé-

cula redaporfina, um fotossensitiza-

dor que destrói um tumor quan-

do, através da terapia fotodinâmi-

ca, é iluminado por uma

determinada cor. Apontando essa

luz para o tumor, é possível matar

as células cancerosas e apenas es-

sas, sem ter efeitos no resto do

corpo. Ao longo de dois anos, fo-

ram tratados catorze pacientes

com cancros espinocelulares de ca-

beça e pescoço avançado. O resulta-

do mais notável foi o de um paciente, já

em cuidados paliativos, cujo o tumor

desapareceu completamente.

A empresa portuguesa Luzitin, que detém

os direitos de exploração da molécula reda-

porfina, espera que o tratamento esteja dispo-

nível no mercado até 2022.

Terapia fotodinâmica

8 oncologiA Janeiro 2017 JSA

SuSana GonçalveS

Por todo o mundo

multiplicam-se os

estudos e investiga-

ções em busca de

novas armas para o

combate ao cancro

nas suas mais diver-

sas formas. Da des-

coberta de novos

métodos de pre-

venção da doença à

de novos meios de

diagnóstico passan-

do, claro, por novos

fármacos e formas

de tratamento ino-

vadoras, especialis-

tas das mais variadas

áreas não baixam os

braços e vão atingin-

do os seus objecti-

vos. Graças aos es-

forços de todos, o

cancro é, cada vez

mais, uma doença

que pode ser evita-

da e curada.

A Comissão Europeia autorizou a comercialização de Pembrolizumab, um

fármaco de imuno-oncologia, para o tratamento do cancro do pulmão de

células não-pequenas (CPCNP), o tipo mais comum de cancro de pulmão.

“O cancro do pulmão representa a principal causa de morte por cancro

em todo o mundo, e este marco destaca a importância da inovação e o

compromisso com o desenvolvimento de novos tratamentos que possam

ter um impacto positivo para os doentes que vivem com esta doença” afir-

mou Stefania Vallone, presidente da associação Lung Cancer Europe.

O inovador Pembrolizumab faz parte de um grupo de novos medicamen-

tos contra o cancro que utilizam o sistema imunitário do próprio doente

para combater as células tumorais. Estas terapêuticas imuno-oncológicas

têm-se afirmado nos últimos anos como uma das principais fontes de es-

perança para o tratamento do cancro na medicina moderna.

A taxa de sobrevivência relativa a cinco anos para doentes que sofrem de

cancro do pulmão avançado metastático (Estádio IV), estima-se ser de 2%

e o Pembrolizumab demonstrou aumentar a sobrevivência global dos

doentes de forma significativa quando comparado com o tratamento pa-

drão com quimioterapia.

Descobertas quesão esperança naluta contra o cancro

Imuno-oncologia contra o cancro do pulmão

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9Janeiro 2017 JSA

Há muito que o excesso de peso e a obesidade são considerados

factores de risco para o desenvolvimento de cancro, mas uma in-

vestigação recente vem revelar que estão ligados a mais tipos do

que se pensava.

Uma investigação levada a cabo por especialistas do departamen-

to responsável pelo programa de prevenção da Agência Interna-

cional de Pesquisa sobre Cancro (IARC), da Organização Mundial

da Saúde (OMS), fez uma nova avaliação e concluiu que o excesso

de peso está ligado a oito tipos de cancro. O resumo com as prin-

cipais conclusões do trabalho foi publicado no New England Jour-

nal of Medicine.

A pesquisa avaliou mais de mil estudos sobre a ligação entre a

gordura corporal e o cancro e descobriu “evidências suficientes”

de que as pessoas magras têm menos risco de cancro de estôma-

go, fígado, vesícula biliar, pâncreas, ovários, tiróide, meningioma

(cérebro) e mieloma (sangue). Os 21 especialistas internacionais

reunidos pelo IARC confirmaram que um nível de gordura cor-

poral dentro dos níveis recomendados reduz o risco de cancro

de cólon e reto, esófago, rim, mama em mulheres após a meno-

pausa, endométrio e útero.

Béatrice Lauby-Secretan, autora principal do artigo do New En-

gland Journal of Medicine, esta “avaliação abrangente reforça os

benefícios de manter um peso saudável para reduzir o risco de di-

ferentes tipos de cancro”.

OMS confirmapeso comofactor de risco

Uma equipa de investigadores, liderada por Robert Bristow,

da Universidade de Ontário, no Canadá, identificou muta-

ções genéticas que podem determinar o grau de agressivi-

dade e a capacidade de propagação do cancro da próstata,

divulgou um artigo publicado na revista Nature Communi-

cations.

A investigação revelou diferenças nos perfis de mutação en-

tre o cancro da próstata localizado de risco intermédio e o

cancro da próstata avançado e metastático. A deteção des-

tes marcadores poderá levar à descoberta de subtipos de

cancro, o que será útil para desenvolver tratamentos espe-

cíficos para cada caso.

Segundo os investigadores, “estas diferenças podem pro-

porcionar a base para selecionar a linha apropriada de trata-

mento em diferentes casos”. No entanto, revelam a necessi-

dade de outros estudos para a validação desta descoberta.

Entretanto, uma outra investigação, também dirigida por

Robert Bristow, estudou os factores determinantes da

agressividade num tipo de cancro da próstata, definido por

mutações do gene BRCA2, que costuma estar ligado ao

cancro da mama. O estudo do genoma dos tumores de 14

doentes com cancro da próstata BRCA2 mutante, desco-

briu alterações num dos genes que, em estudos anteriores,

foi associado a metástases.

Identificadosmarcadores relativos ao cancro da próstata

Um estudo do Instituto britânico Wellcome Trust Sanger e do La-

boratório Nacional de Los Alamos, nos Estados Unidos, recente-

mente publicado na revista Science, identifica vários mecanismos

através dos quais o tabaco danifica o ADN. Fumar um maço de ci-

garros por dia provoca, em média, 150 mutações por ano nas célu-

las pulmonares, segundo este estudo, que analisou e comparou vá-

rios tumores e que mediu com precisão, pela primeira vez, os efei-

tos genéticos do fumo, não só nos pulmões, mas também noutros

órgãos que não lhe estão directamente expostos. Já se sabia que o

tabagismo contribui para, pelo menos, 17 tipos de cancro, e o novo

estudo ajuda a explicar como é que o cigarro provoca esses tumo-

res.

“Descobrimos que as pessoas que fumam um maço de tabaco por

dia têm, em média, 150 mutações genéticas adicionais por ano nos

pulmões, o que explica que os fumadores tenham um risco acresci-

do de desenvolver cancro do pulmão”, afirma Ludmil Alexandrov,

do Laboratório Nacional de Los Alamos. Nesta primeira análise ex-

tensiva de DNA cancerígeno ligado ao tabagismo, os investigadores

analisaram cerca de cinco mil tumores, comparando cancros de fu-

madores com cancros semelhantes de pessoas que nunca fumaram

e encontraram características moleculares específicas no ADN dos

pulmões dos fumadores e determinaram o número nos diferentes

tumores.

O estudo revela, pelo menos, cinco processos distintos através dos

quais o ADN é danificado pelo hábito de fumar, sendo que o mais

comum, uma aceleração do pêndulo celular que provoca a mutação

prematura das células, é encontrado na maior parte dos cancros.

Tabaco danifica o código genético das células

Uma pesquisa realizada em colaboração entre a

organização britânica Pesquisa Mundial de Can-

cro e o Instituto de Pesquisa de Barcelona, des-

cobriu uma proteína específica, a CD36, que está

presente em todas as células cancerígenas me-

tastáticas de pacientes com diferentes tipos de

tumores, incluindo tumores orais, cancro de pe-

le, do ovário, bexiga, pulmão e mama.

O estudo, publicado na revista Nature, encon-

trou a proteína nas membranas das células tu-

morais e descobriu que ela é responsável

por absorver ácidos gordos.

Para confirmar a sua importância

na disseminação do cancro, a

pesquisa “infectou” com

CD36 células canceríge-

nas não metastáticas,

que em situação nor-

mal não espalha-

riam a doença. As

células “conta-

minadas” pela

proteína transformaram-se em células metastáti-

cas.

Num estudo com ratinhos com cancro humano,

os pesquisadores conseguiram impedir comple-

tamente a metástase do cancro ao bloquear a

CD36. “A CD36 pode ajudar a criar um trata-

mento que impeça o cancro de se espalhar. Des-

cobertas destas não acontecem todos os dias”,

afirmou o professor Salvador Aznar Benitah, que

participou na investigação. Mesmo em animais

que já tinham metástases, os anticorpos bloquea-

dores de CD36 levaram à remoção completa de

metástase em 20% dos ratos. Nos 80% restantes,

foi registada uma dramática redução de 90% das

metástases. Tudo sem efeitos secundários graves.

Os pesquisadores revelaram ainda que, nos ani-

mais a quem foi disponibilizada uma dieta rica em

gorduras as metástases aumentaram em 50% e

foram mais frequentes. Desta forma, alertaram

para o perigo da ingestão de gorduras em exces-

so que tem consequências no organismo e facili-

ta a dispersão do cancro pelo corpo.

Descoberta proteína que“dispersa” cancro no corpo

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nO anfiteatro do Instituto An-golano do Controlo do Can-cro (IACC) recebeu, nos dias23 e 24 de Janeiro, o primeirocurso da Escola de Cancro or-ganizada no âmbito da Aortic(sigla inglesa para Organiza-ção Africana de Investigação eFormação de Cancro). A Aor-tic, recorde-se, conta com umgrupo de especialistas que sededicam ao estudo e acom-panhamento das temáticasrelacionadas com a oncologianos Palop e que reúne de doisem dois anos, tendo já realiza-do congressos em Luanda(2014), em Maputo, Moçam-bique (2016), e com o próxi-mo encontro já agendado pa-ra a Cidade de Praia, em CaboVerde, em 2018.No seu encontro de Mapu-

to, em 2016, os especialistasda Palop-Aortic decidiramcriar uma Escola de Oncolo-gia dos Palop, contando como apoio de delegações nacio-nais que funcionam nos cen-tros de oncologia de cada umdos países envolvidos. Em An-gola, essa delegação é respon-sabilidade do IACC e cumprea sua missão em termos regu-lamentares. O corpo docenteengloba, no caso de Angola,além de todos os oncologistasdo IACC, os oncologistas dasclínicas Sagrada Esperança eGirassol, bem como médicose outros especialistas dasáreas de oncologia de diver-sos hospitais do País. “O objectivo principal des-

ta escola é ‘formar formado-res’, que irão trabalhar juntodas populações, nos aspectosda atenção primária, bem co-mo junto dos quadros doshospitais”, revela Lúcio LaraSantos, cirurgião oncológicoe investigador e um dos espe-cialistas que está na origem dacriação desta Escola.A iniciativa, revela, conta

com vários apoios externos deinstituições internacionais,como, por exemplo, a Funda-

ção Calouste Gulbenkian e osInstitutos Portugueses de On-cologia (IOPs), o Instituto Na-cional do Cancro e o Hospitalde Câncer de Barretos, ambosdo Brasil, o centro de trata-mento MD Anderson, da Uni-versidade do Texas, nos Esta-dos Unidos da América, uni-versidades e sociedadescientíficas internacionais,bem como da indústria far-macêutica.

Programa de trabalhosEste primeiro curso ministra-do na Escola, em Luanda, foidividido em duas áreas distin-tas da oncologia. No primeirodia do curso, foram aborda-dos temas relacionados comos cancros da cabeça e pesco-ço. A plateia, composta porprofissionais relacionadoscom o tratamento do cancro,ouviu os palestrantes falaremsobre temas como a doençaem Angola, a consulta multi-disciplinar de oncologia, a im-portância do diagnóstico pre-coce das patologias, o papelda cirurgia e da radioterapiaou a abordagem diagnósti-co/terapêutica do cancro dacabeça e pescoço, entre ou-tros. Além da presença de pa-lestrantes nacionais, neste diaparticiparam ainda alguns es-pecialistas internacionais co-mo foi o caso dos médicos doGrupo de Estudos do Cancroda Cabeça e Pescoço de Por-tugal, nomeadamente a suapresidente, Ana Castro, e o seuvice-presidente, Guy Vieira.Já no segundo e último dia,

os cancros do cólon e rectalestiveram em destaque, comos especialistas convidados a

falarem sobre o diagnóstico evários tratamentos disponí-veis, aspectos de anatomiapatológica e biomarcadores,para referir apenas alguns dostemas focados. Este dia de pa-lestras contou com a presençade especialistas do Grupo deInvestigação do Cancro Di-gestivo de Portugal.Para já, este primeiro curso

foi destinado a médicos locaismas, segundo revelou LúcioLara Santos, que também émembro da direcção do Gru-po de Investigação do CancroDigestivo de Portugal, “dentrode dois meses haverá um cur-so maior, em Moçambique,em que estarão presentes vá-rios elementos de várias na-cionalidades”.Os formadores serão, so-

bretudo, médicos nacionaismas cada Escola contará ain-da com a colaboração de es-pecialistas das sociedadescientíficas que são experts daárea. “Na formação que reali-zaremos em Moçambiqueirão estar presentes especia-listas do MD Anderson e doHospital de Barretos, que têmgrande experiência”, divulgaLara Santos.

Iniciativa importanteVisivelmente satisfeito com arealização deste curso noIACC, o seu director, Fernan-do Miguel, destacou a impor-tância da realização desta pri-meira formação no Instituto eexplicou o valor que atribui aeste tipo de iniciativas. “Achoque são especialmente im-portantes numa altura emque se afirma que a não actua-lização dos médicos ou do

pessoal de saúde contribuicomo um factor para o prog-nóstico dos doentes”, afirma,confessando que, na sua opi-nião “o facto de estarmos a ac-tualizar os nossos conheci-mentos com colegas que vie-ram de outras regiões doMundo tem o valor de ouro”.Guy Vieira, do Grupo de

Estudos do Cancro da Cabeçae Pescoço de Portugal, desta-cou a importância do facto docurso ser ministrado no localonde vivem os formandos,pois, defende, “se os profissio-nais fizerem formação numcentro especializado, maisevoluído do que aquilo queconhecem na sua realidade,todo o treino que façam nãotem nada a ver com essa reali-dade. E isto não acontece sóem Angola, acontece, porexemplo, quando médicosportugueses vão aos EstadosUnidos da América. É, assim,muito mais importante levara cabo este tipo de iniciativasno local, como as realidades,problemas e dificuldades pró-prias e tentar arranjar solu-ções. Também não interessaestar apenas a ‘debitar’ infor-mação que, muitas vezes, atéestá disponível na Internet,sem a explicar. Dentro das di-

ficuldades que existem em ca-da local, temos de procurarsoluções para as contornar”. Eesclarece que conhece bemas dificuldades que os profis-sionais de países africanos en-frentam, pois conhece a reali-dade no seu próprio país.“Sou moçambicano e o inícioda minha formação foi feitoem Moçambique e só depoisfui para Coimbra”, conta.Este especialista em radio-

terapia já participou noutrasiniciativas do género e garanteque o retorno dos formandosé sempre muito positivo.“Com o Dr. Lúcio Lara Santosjá fizemos iniciativas deste gé-nero em Cabo Verde e Mo-çambique e estamos a prepa-rar-nos para ir à Guiné Bissau.A qualidade é sempre muitoboa. Não é preciso ir buscarpessoas fora para nos ensina-rem aquilo que sabemos fazermas precisamos de quem nosensine coisas novas. Claroque as armas com que esta-mos habituados a trabalharsão diferentes e talvez nesseaspecto exista uma luta desi-gual entre formadores e for-mandos”, reconhece.“Com alguma ajuda, algu-

ma orientação e, principal-mente, muita cooperação eorganização entre todos osPalops, podemos dar um saltoqualitativo e melhorar bas-tante a situação”, defende GuyVieira.

Formar é ganharNa condição de formanda, amédica patologista Vitória,considera estas formaçõesmuito importantes pois, afir-ma, “aprende-se sempre

qualquer coisa nova. Vamostomando mais conhecimentopara tentar criar mais progra-mas, mais eficazes. No casodos patologistas, nós não so-mos muitos mas trabalhamosde forma muito individual.Este tipo de iniciativas é im-portante para tentarmos tra-balhar mais em grupo”, defen-de, utilizando os exemplosusados pelos palestrantes quedefendem o acompanha-mento multidisciplinar dodoente oncológico. “Há ne-cessidade de trabalharmos to-dos em conjunto para fazer-mos um bom diagnóstico eum bom tratamento”, afirma.Embora note uma melhoriasubstancial no que diz respei-to ao tratamento dos doentescom cancro, a patologista afir-ma, no entanto, que “ainda hámuito a fazer no que diz res-peito ao apoio ao paciente.Noto que são muitas as difi-culdades que enfrentam,além da própria doença. Àsvezes pedem-lhes para fazermais exames complementa-res de diagnóstico que elesnão sabem onde fazer, andan-do, literalmente, perdidos emLuanda. Isto para não falar,claro, das dificuldades finan-ceiras. São motivos como es-tes que, muitas vezes, levamos doentes a abandonar o tra-tamento”, lamenta.“Em tempo de crise, e não

só, formar é ganhar e este é olema dos criadores da Escolade Cancro dos Palop”, assegu-ra Lúcio Lara Santos para jus-tificar a aposta na divulgaçãode conhecimento e troca deexperiências. O especialistarevelou ainda que, paralela-mente a esta iniciativa, serãoassinados vários acordos decooperação e formação entreo IACC e instituições estran-geiras, como é o caso dos doisgrupos de investigação portu-gueses representados nesteprimeiro curso.Apesar da oncologia, nos

Palop, ainda estar numa fasemenos desenvolvida, LúcioLara Santos assegura que jávai apresentando resultados edados em todas as áreas. En-tre as iniciativas levadas a ca-bo pela Palop-Aortic conta-seainda a distribuição de apoiotecnológico aos países queainda enfrentam dificuldadesa esse nível. “Estamos a mon-tar laboratórios simples, quenão implicam tecnologiamuito sofisticada e com umautilização relativamente sim-ples, mas que têm os mesmosresultados que se obtêm emlaboratórios da Europa”, divul-ga com satisfação.

“Em tempo de crise, e não só, formar é ganhar e este é o lema dos criadores da Escola de Cancro dos Palop”Lúcio Lara Santos

Angola recebe o 1º curso de formação da Palop-Aortic

Escola de Cancro aposta na formação para combater a doençaSuSana GonçalveS

Especialistas dos Palops tro-

cam informações em expe-

riências numa iniciativa que

pretende criar novos forma-

dores para actuarem junto

das populações e quadros

médicos.

10 oncologiA Janeiro 2017 JSA

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nCriada em 2007, a Socie-dade Angolana de Pediatria(SAP) congrega profissio-nais de saúde ligados ao tra-tamento da criança e doadolescente de forma a ga-rantir a melhoria dos cuida-dos prestados a esta popula-ção. Assumindo como mis-são zelar pela saúde decrianças e jovens nos seusaspectos físico, mental e so-cial, e pela apreciação justado trabalho pediátrico nocampo social, laboral, aca-démico e de investigação, aSociedade propõem-se ain-da assessorar os organismosoficiais e privados em tudo oque se refere ao bem estar fí-sico, psíquico e social dacriança. Fomentar o desen-volvimento da pediatria nosseus aspectos assistenciais(preventivos, curativos e dereabilitação), através de reu-niões, cursos, simpósios, se-minários, conferências, pu-blicações e concursos a ní-vel nacional que estimulemo intercâmbio na investiga-ção científica e na docência,é outra das funções da SAP e

foi precisamente na sequên-cia das últimas jornadas or-ganizadas pela instituiçãoque o Jornal da Saúde con-versou com o seu presiden-te, o pediatra Francisco Do-mingos, para saber comocorreram estes encontrosentre profissionais, numaentrevista em que se traçouum breve resumo da situa-ção da saúde infantil noPaís.Revelando que a SAP tem

vindo a agregar vários profis-sionais interessados na saú-de da criança e do adoles-cente e que não se limita ajuntar apenas pediatras emtorno destas questões, Fran-cisco Domingos explica que“em sociedades mais desen-volvidas, este tipo de organi-zações conta apenas compediatras, o que faz todo osentido. No entanto, numasociedade como a nossa, emque temos outros profissio-nais de saúde que não sãopediatras mas que cuidamda criança, preferimos alar-gar a composição da institui-ção a estes profissionais”.

Reconhecendo que o nú-mero de pediatras existen-tes no País é francamenteinsuficiente, defende queessa insuficiência não podeser um obstáculo ao melhortratamento possível dascrianças angolanas. “Nocontexto actual, no âmbitodas nossas jornadas tenta-mos potencializar outrosprofissionais de saúde paraatenderem crianças. Temosde formar e educar essesprofissionais de forma ausarem protocolos de aten-dimento e outros mecanis-mo adequados ao trata-mento desta população. Se-ria uma miragem dizermosque daqui a uns anos vamoster pediatras que cheguempara responder às necessi-dades do País. Assim, temosde formar os médicos de clí-nica geral e capacitá-los pa-ra este tipo de pacientes. Háregiões em que nem sequersão médicos quem atendeas crianças, são enfermei-ros, que também têm de sercapacitados para estas si-tuações. É isso que devemos

fazer agora”, sugere o presi-dente da SAP.

Período crítico fornece ensinamentosCom o objectivo de analisara saúde infantil e os desafiosque coloca, a SAP tem orga-nizado as suas Jornadas dePediatria, que contam jácom sete edições, realizadasem Luanda mas tambémnas províncias de Benguela,Huíla e Malange. Este ano, aSAP, optou por organizarumas Jornadas de Reflexãopara analisar a questão damortalidade pediátrica noprimeiro semestre de 2016.“Foi realmente um períodomuito crítico, com um gran-de afluxo de crianças às ur-gências e um elevado núme-ro de óbitos, sobretudo nacapital. Assim, preferimosfazer uma análise ao nível daprovíncia de Luanda”, expli-ca o pediatra. “Realizámosestas jornadas levando aapresentação do tema aoshospitais municipais. Dirigi-mo-nos a vários hospitaispara analisarmos a situação

ali vivida. Não nos deslocá-mos até junto dos profissio-nais apenas com a intençãode passarmos informaçãomas também com o intuitode recolher a informaçãoque nos poderiam facultar.Através destes encontros fo-ram identificados proble-mas que ocorreram naqueleperíodo, os locais onde fale-ceram mais crianças, as con-dições de trabalho nessasunidades e questões ao níveldas repartições e direcçõesmunicipais”, revela Francis-co Domingos, que afirmaque esta experiência serviu,“acima de tudo, de base detrabalho para buscarmos so-luções, caso, num períodopróximo, venhamos a en-frentar situações similares”. A fórmula adoptada para

a realização destas jornadas,com a SAP a dirigir-se aoshospitais municipais parafalar com vários tipos deprofissionais de saúde, tam-bém parece ter sido bem su-cedida. “Os profissionaiscom quem contactámos re-velaram um índice de satis-

fação muito grande com estainiciativa e uma vontade defazerem muito mais. As nos-sas jornadas costumavamser mais fechadas mas, comesta experiência, abrimo-lasa outros profissionais. Prin-cipalmente, fomos ao seuencontro. É mais fácil atingirobjectivos desta forma, dis-cutindo no ambiente ondetrabalham e enfrentam osseus problemas”, garante,afirmando que esta foi “umatroca de impressões muitofrutífera”. Para já, a SAP ainda está a

analisar os dados recolhidosnos encontros. “Estamos acompilar toda a informaçãoque recolhemos e ainda nãoé oportuno avançar comquaisquer dados. Os que re-colhemos, terão de ser tra-balhados e encaminhadospara as devidas instituições”,esclarece o pediatra paraquem a falta de estudos so-bre os quais possam traba-lhar é precisamente uma dasdificuldades dos profissio-nais. “Temos de ter númerose temos de analisá-los. No

Sociedade Angolana de pediatria organiza Jornadas de reflexão

“Preservando a saúde de uma criança preserva-se o futuro da Nação”Quem o afirma é Francisco

Domingos, presidente da

instituição que revela que,

este ano, a SAP optou por

uma nova fórmula na orga-

nização das suas jornadas e

foi ao encontro dos profis-

sionais ligados à saúde infan-

til para tentar identificar as

causas na origem da situa-

ção crítica vivida no início do

ano, com a taxa de mortali-

dade infantil a aumentar sig-

nificativamente em muito

pouco tempo, de forma a

tentar encontrar possíveis

soluções, caso uma crise se-

melhante venha a ocorrer

no futuro.

12 pediAtriA Janeiro 2017 JSA

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13JSA Janeiro 2017

Hospital Pediátrico DavidBernardino, que também éum ‘hospital-escola’, esta-mos a incentivar os internosde pediatria e os estudantesde pré-graduação a fazereme apresentarem trabalhoscientíficos que sirvam de ba-se de trabalho para melho-rar as condições de saúdedas nossas crianças, paracorrigir erros e alterar atitu-des”, revela.Paralelamente à realiza-

ção de encontros entre pro-fissionais, Francisco Domin-gos destaca ainda das activi-dades da Sociedade, otrabalho de vários núcleosque trabalham de formabastante autónoma e têmestado “a funcionar muitobem”, no âmbito da forma-ção de profissionais e não só.“Falo do núcleo de aleita-mento materno, constituídopor quatro profissionais desaúde que se esforçam pordivulgar os benefícios destetipo de aleitamento, visitan-do, não só hospitais e cen-tros de saúde, mas tambémempresas, por exemplo, pa-ra dar formação e transmitira importância deste aleita-mento. Falo também do nú-cleo da nutrição, que actuasobre o problema da ali-mentação. Num país comum número muito grandede crianças mal nutridas eeste núcleo potencializa aformação dos profissionaisde saúde para a educaçãodas mães e para atenderemaos quadros de má nutrição.Temos ainda o núcleo dasurgências, que trata da abor-dagem das situações de ur-gência e que tentámos tam-bém potencializar no qua-dro das últimas jornadas.Este núcleo actua ao nível daimplantação de protocolosque sejam uniformes, paraque os profissionais possamfalar a mesma linguagem,ainda que em hospitais oucentros de saúde diferentes.É importante que todosabordem as patologias damesma forma. Finalmente,temos ainda de falar do nú-cleo da Comissão de Imuni-zação, que tem participado,por exemplo, no apoio à in-trodução de novas vacinasno programa de vacinação”,esclarece o presidente daSAP.

Melhorias consideráveisao nível da saúdeApesar da situação compli-cada vivida no primeiro se-mestre deste ano, o presi-dente da SAP concorda que

se pode dizer que tem havi-do melhorias “considerá-veis” no âmbito da saúde in-fantil em Angola, “emboranão tenhamos atingido osobjectivos de desenvolvi-mento do milénio propostospelas Nações Unidas relati-vamente à área da saúde. Fi-cámos muito aquém disso.Para chegarmos a esses ob-jectivos teria de haver um es-forço titânico, quase sobre-humano”, confessa. Apesar de reconhecer es-

sas melhorias, o pediatra sa-lienta que são precisos esfor-ços relativos a alguns pontosfundamentais que irão alte-rar a situação da saúde in-fantil. O saneamento domeio é um desses pontos.“Antes de mais, temos de vi-ver num meio que seja afávele que tenha as condiçõesmínimas de habitabilidade,com água potável, drena-gem de esgotos, escoamentode lixo, etc.” Outro dos pon-tos básicos para a melhoriadas condições de saúde dascrianças angolanas passapela alimentação, que deveser melhorada, não apenasem termos quantitativosmas, sobretudo, qualitativos.“Muitas vezes, a alimenta-ção mais correcta não tem aver com o poder financeiromas com facto de não se ad-ministrar à criança a dietamais adequada ao seu de-senvolvimento. Como se sa-be, os primeiros anos de vidasão fundamentais para ocrescimento, a nível físico eintelectual. E isto é muitoimportante quando falamosde crianças, já que estamos afalar de quem vai dirigir onosso País no futuro”, defen-de o especialista. Finalmen-te, mas não menos impor-tante, “temos de falar daquestão da vacinação, im-portantíssima porque exis-tem doenças preveníveisque fazem muitas vítimasem Angola e tem havidouma baixa na cobertura va-cinal”, lamenta o pediatraque aproveita para revelarque “a introdução das vaci-nas anti-pneumocócica eanti-hemófilos no programade vacinação aconteceu gra-ças às estatísticas do Hospi-tal Pediátrico que demons-traram que, com a introdu-ção dessas vacinas, houveuma descida no número deinternamentos, por exem-plo, por meningites. Passá-mos de 800/900 interna-mentos por ano, para cercade 150/200. Mas temos decontinuar com coberturas

boas de vacinação paramanter estes níveis de inter-namento”.

Patologias prevalecentesQuestionado sobre que tipode doenças mais atingem ascrianças angolanas, Fran-cisco Domingos revela queas mesmas são transversaise afectam quer as criançasque vivem nas grandes cida-des, quer as que vivem nasprovíncias. “Poderão haveralterações de uma regiãopara outra, devido às condi-ções climatéricas, por exem-plo, ou aos hábitos culturais,e nas províncias fronteiriçaspoderão existir algumasdoenças transfronteiriças.Mas, no geral, as três princi-pais patologias são a malá-ria, as doenças respiratóriase as doenças diarreicas agu-das. Depois, surgem as pa-tologias ligadas a outrasdoenças infecciosas e as pa-tologias do recém-nascido,muito importantes porqueas nossas condições deacompanhamento pré-na-tal, parto e neonatal, aindanão são as melhores”. O pre-sidente da SAP revela que,em Angola, além das doen-ças infecciosas começamagora a surgir as “doençasemergentes, as doenças en-dócrinas, metabólicas e ge-néticas”. Além das patologias que

ameaçam a saúde dos maisnovos, há ainda espaço parafalar da sinistralidade. “Em-bora o Hospital Pediátriconão seja um hospital voca-cionado para a traumatolo-gia, temos recebido criançasde outros hospitais que nãotêm condições para os aten-der, sobretudo ao nível doscuidados intensivos”, escla-rece o médico, acrescentan-do uma listagem dos princi-pais acidentes registados:“Ingestão acidental de moe-das e de outros corpos estra-nhos, e ingestão acidentalde petróleo. Neste caso, te-mos de educar a populaçãopara a não indução do vó-mito. O petróleo é muito vo-látil e deve seguir o cursonormal através dos intesti-nos e sair pelas fezes. Se in-duzirmos o vómito ele re-gressa às vias orais e, como évolátil, vai para os pulmões,o que causa grandes com-plicações. Esta é uma atitu-de profundamente erradada população que temos detentar alterar”, alerta. “De-pois, temos ainda as quedas,os acidentes e as queimadu-ras”, conclui.

Na opinião do especialista a alteração de comportamentos pode levar auma redução das estatísticas relacionadas com a mortalidade infantil emAngola e passa, basicamente, por dois factores: diminuir drasticamente onível de analfabetismo e educar a população. “Aqui, não são os hospitaisque podem intervir”, refere. “Não é uma questão financeira. É uma ques-tão de base, de educação para a saúde. A população tem de ter um nívelde educação elevado para perceber melhoraquilo que tentamos comunicar. No entanto,enquanto a população não tem esse nível deeducação, temos de tentar comunicar baixan-do ao seu nível, falando a sua língua, entenden-do os seus problemas culturais. Não podemosdeixar de comunicar. Há meios e países, mes-mo em África, que tiveram a experiência deconseguir resolver estes problemas, mesmoem comunidades longínquas”, garante Francis-co Domingos. A comunicação não é, porém, a única dificulda-de dos pediatras. “Não queremos ser o últimoelo da cadeia, porque a saúde depende de vá-rios determinantes. As pessoas têm uma noçãode saúde ligada à instituição hospitalar. Mas nóspretendemos que a saúde dependa de váriosfactores. Pretendemos que gestores e deciso-res, a nível nacional, percebam que é necessáriomudar esses factores para que nós, profissio-nais de saúde, também possamos funcionarbem. Como já disse, para um crescimento edesenvolvimento saudáveis, uma criança ne-cessita de uma alimentação equilibrada, de va-cinação e de educação. Educação da criança edos próprios pais. Com estes factores determi-nantes resolvidos, os pediatras terão a vidamais facilitada”, defende o especialista que ad-voga ainda “a potenciação dos meios, equacio-nando os mais simples e operacionais. Numaépoca como a que atravessamos, não pode-mos exigir meios mais complexos. A partir dosmeios mais simples de detemos, temos de ten-tar resolver os problemas das nossas crianças”. A SAP não baixa os braços e, apesar de todas as dificuldades continua aapostar na interacção entre todos os protagonistas da luta pela defesa dasaúde dos mais pequenos. Ainda a trabalhar sobre os resultados das últi-mas jornadas, a Sociedade reuniu já em Janeiro para estabelecer as próxi-mas etapas da sua acção. Desta reunião, saíram os planos para a realiza-ção de novas jornadas, previsivelmente na segunda quinzena de Junho eque têm como lema preliminar “As Doenças Preveníveis por Vacinação”.Determinado a prosseguir a luta por mais e melhores condições de vidae saúde para os mais novos, Francisco Domingos deixa um recado aosadultos: “Que tenhamos todos a noção de que só preservando a saúdede uma criança se preserva o futuro desta Nação”.

Alteração de comportamentosé fundamental

“A alteração decomportamentospode levar a umaredução dasestatísticasrelacionadas coma mortalidadeinfantil emAngola e passa,basicamente, pordois factores:diminuirdrasticamente onível deanalfabetismo eeducar apopulação. Aqui,não são oshospitais quepodem intervir.Não é umaquestãofinanceira. É umaquestão de base,de educação paraa saúde”

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nAs maternidades da provín-cia e cidade de Luanda rece-beram, em Dezembro último,da representante da PSI emAngola, Anya Fedorova, umconjunto de meios técnicos elogísticos de apoio às interven-ções de saúde materna, desig-nadamente cinco mil disposi-tivos intrauterinos (DIU) e res-pectivos kits de inserção, 25mil comprimidos misoprostole 55 kits de AMEU (expiraçãomanual endo-uterino) para otratamento das hemorragiasno 1º mês da gravidez, no qua-dro da cooperação entre o Mi-nistério da Saúde e a organiza-ção não governamental Servi-ço Internacional para aPopulação (PSI), no âmbito daimplementação do Projectode Saúde da Mulher (PSM).

No acto, a Directora Nacio-nal de Saúde Pública em exer-cício, Henda Vasconcelos, re-feriu que estes produtos sãoessenciais, porque vão acudirou atenuar a carência destesmedicamentos e equipamen-tos ao nível da assistência ma-terna, principalmente na pro-víncia de Luanda, na primeirafase do projecto PSM.“No âmbito do projecto de

saúde da mulher estão a ser re-forçadas as acções de advoca-cia e promoção do planea-mento familiar e da contra-cepção, com particularincidência nos métodos anti-concepcionais modernos delonga duração (DIU e implan-tes), melhoria da capacitaçãoe formação dos técnicos pres-tadores dos serviços de pla-neamento familiar e no ma-nuseamento correcto dos cui-

dados de complicações pós-aborto (CCPA), aumentandoassim a melhoria de qualida-de da assistência, quer da ad-ministração de métodos con-traceptivos, como clínica dasgestantes com complicaçõesde hemorragias durante o 1ºtrimestre de gestação” acres-centou.

Acções de formação cresceram em 2016Anya Fedorova referiu que2016 foi um ano marcado pormuitas acções de formação,nomeadamente cinco treina-mentos, três formações de for-madores no sector público eduas dirigidas aos prestadoresde cuidados de saúde no sec-tor privado. De acordo com a represen-

tante da PSI, a primeira forma-ção consistiu no refrescamen-

to de formadores nacionaisem planeamento familiar(PF), com ênfase em contra-ceptivos de longa duração, no-meadamente DIU e implan-tes, que resultou na capacita-ção com sucesso de 11técnicas formadoras sobre PF.A segunda incidiu na forma-ção de formadores em éticamédica e cuidados de compli-cação das hemorragias no 1ºtrimestre da gravidez (pós-aborto) com misoprotol, aqual contou com 16 partici-pantes. A última formação foisobre os cuidados de compli-cações das hemorragias du-

rante o 1º trimestre da gravidez(pós-aborto) com AMEU, on-de participaram 21 técnicos. APSI efectuou ainda duas ac-ções de formação para o sec-tor privado, nas mesmas mo-dalidades, que contaram com17 participantes de sete clíni-cas privadas, dos quais 15 ob-tiveram aproveitamento posi-tivo. Finalmente, informou que

durante as acções de forma-ções cujas aulas teóricas, de-correu na maternidade Lucré-cia Paím e na Escola Nacionalde Saúde Pública, tendo as au-las práticas (estágios) decorri-

do nas maternidades LucréciaPaim, Augusto Ngangula,Hospital Geral, Cajueiros, eKilamba Kiaxi, onde a um to-tal de 104 mulheres foram-lhes aplicadas o DIU e 207optaram por usar o implante.Realizaram-se 256 tratamen-tos de hemorragias durante o1º trimestre da gravidez (cui-dados de complicações pós-aborto).

PSI em AngolaA PSI está em Angola desde oano 2000, iniciando os seustrabalhos na prevenção doVIH/Sida e alargando maistarde o seu eixo de interven-ção na malária e nas doençasdiarreicas, respectivamenteem 2004 e 2008. Desde 2010que está a implementar pro-jectos na área planeamentofamiliar Em coordenação com o

Ministério da Saúde de Ango-la (MINSA) através da Direc-ção Nacional de Saúde públi-ca (DNSP) e do INLS/SIDA, aONG PSI actua na área dapromoção de saúde e na im-plementação de programasde comunicação para a mu-dança de comportamento.

14 SAÚDE DA MULHER Janeiro 2017 JSA

Francisco cosme dos santos

Maternidades

de Luanda recebem

meios técnicos da PSI

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A escovagem dos dentes

Escolher uma escova de dentesNo mercado encontramosuma grande variedade deescovas dentárias: manuaise eléctricas. A escolha deuma escova dentária é ummomento de grande incer-teza para muitos utentes. Al-

guns aspectos devem ser le-vados em conta: a escovadeve ser adaptada à boca doutente. Ser de fácil utiliza-ção. A dureza dos pelos deveser média ou suave. Estes as-pectos simples podem serdecisivos numa maior oumenor eficácia da escova-gem. Por exemplo, se tiver-mos em conta a posição dagengiva, o estado dessa mes-ma gengiva, a escova deveadaptar-se aquela anatomiapor forma a evitar causar da-no ou aumentar o dano jáexistente.

Método de escovagemSe a escolha da escova en-cerra variáveis decisivas pa-ra uma eficaz escovagem, ométodo de escovagem esco-lhido também pode ser de-cisivo. Vários métodos usa-dos ao longo dos anos têm ti-do resultados longe dospretendidos com agrava-mento da situação oral. Ométodo de escovagem maislargamente difundido é ochamado método Bass ousulcular. Este método procu-ra remover o biofilme/placabacteriana dos dentes e dosulco gengival prevenindoassim tanto as cáries comoos problemas associados àgengiva. Sendo um métodosimples deverá, contudo, serdiscutido com profissionaishabilitados pois poderá ha-ver contraindicações para asua utilização tendo em con-ta a saúde oral do utente eoutros métodos serem maisrecomendados.

Quando escovarUma vez escolhida a escova,e o método de escovagem,surge a questão de quandofazer a escovagem dos den-tes. Também aqui a discus-são é muita e a especificida-de do indivíduo vai ditar assuas necessidades. Umaquestão deve ser levada emconta: mais vale uma esco-vagem bem feita do que vá-rias incompletas. Ir dormircom a boca limpa deve seruma prática habitual.

Evitar escovas de pelosduros, escovagem vigorosase sem método e procurar teruma rotina diária de escova-gem são alguns cuidadosque poderão ajudar na pre-venção e promoção da saú-de oral.Tendo em conta as especifi-cidades de cada pessoa, o es-tado de saúde oral quer da

gengiva quer dos dentes, asvárias questões que encerraescovagem dos dentes e aimportância da remoção debiofilme/ placa bacteriana,recorrer a profissionais habi-

litados, higienistas orais /médicos dentistas que, apósobservação, melhor pode-rão dar indicações para umamaior eficácia é um passoimportante.

15SAÚDE ORALJSA Janeiro 2017

Celso serra

Higienista oral

[email protected]

A necessidade da escova-

gem diária dos dentes está

largamente difundida, quer

como uma prática associa-

da à higiene geral, quer co-

mo método de prevenção

das doenças orais. Tendo em

conta as causas das doenças

orais que mais se registam, a

eliminação do biofilme/pla-

ca bacteriana das superfícies

dentárias é um imperativo

que tem sido objecto de es-

tudo de reportados investi-

gadores, ao longo dos tem-

pos. Stillman, Charter, Fo-

nes, Bass, entre outros, são

nomes associados a muitos

dos vários métodos de esco-

vagem dos dentes. Com o

que fazer, como fazer, quan-

do fazer, o que evitar fazer,

são questões abordadas fre-

quentemente. Procurar dar

resposta a essas questões é

o objectivo da investigação

que se vai fazendo.

“Ir dormir com a boca limpa deve ser uma prática habitual”

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16 EVENTOS Janeiro 2017 JSA

Luandenses satisfeitos com a feira Natal com Saúde

nO evento garantiu aindaassistência médica e medi-camentosa aos habitantesde Luanda e de outras pro-víncias que se fizeram pre-sentes em massa no local,para fazerem consultas depediatria, obstetrícia, pla-neamento familiar, estoma-tologia, nutrição, cardiolo-gia, bem como rastreios damalária, VIH/Sida, diabetese hipertensão arterial.

Realizou-se ainda a vaci-nação de mulheres em ida-de fértil e crianças. Os visi-tantes puderam tambémapreciar uma exposição dedestroços resultantes de aci-dentes rodoviários e domés-ticos. O exercício físico nãofoi esquecido. E as acções desensibilização e prevençãodas doenças transmissíveispor vectores também não.

´Para o vice-governadorde Luanda para os serviçoscomunitários, Rui da Silva,que presidiu ao acto de

inauguração, “ter saúde é omelhor presente que se po-de receber no Natal e foicom este propósito que o go-verno provincial promoveua feira, com o objectivo deconsciencializar os muníci-pes de Luanda quanto aoscuidados de saúde que de-vem ter durante o ano e, em

particular, durante a quadrafestiva”.

Rui da Silva apelou à po-pulação para adoptar umcomportamento cívico res-ponsável, começando pelorespeito das orientações dasautoridades policiais e dasaúde, como forma de pre-venção de acidentes rodo-viários, decorrentes da deso-bediência das regras detrânsito e ingestão de bebi-das alcoólicas, ao que acres-ce os acidentes domésticosdevido ao incorrecto manu-seio de utensílios como ve-las, geradores e possíveis in-gestões de alimentos nãosaldáveis.

Consumo exagerado deálcool, agressões e excessode velocidade

De acordo com a directo-ra provincial de saúde deLuanda, Rosa Bessa, na qua-dra festiva de 2015, o gover-no da província de Luandaregistou cerca de 21.346ocorrências em medicina,3.330 das quais foram porconsumo exagerado de ál-cool, agressões e excesso develocidade. Assinalaram-seainda 600 queimaduras –um aumento de 10 por cen-to em relação ao ano ante-rior – o que exigiu um traba-lho excepcional ao “hospitaldos Queimados”.

Rosa Bessa alertou osdoentes hipertensivos e dia-béticos para não pararem defazer a medicação durante afase da quadra festiva e evi-tarem os excessos na ali-mentação para não aumen-tarem as complicações.

Resultadosdos rastreios:

15% dos visitantes

tinham diabetes…

e não sabiam

O director clínico do

Hospital Geral de Luan-

da, Carlos Manuel, refe-

riu que na medição da

tensão arterial e da glice-

mia (açúcar no sangue),

dos 45 pacientes obser-

vados, três foram diag-

nosticados com hiper-

tensão leve moderada, e

sete com diabetes, que

desconheciam. Tiveram

encaminhamento ime-

diato para os serviços de

diabetologia.

Francisco cosme dos santos

a feira natal com saúde de-correu na Praça da Família(1º de Maio), nos dias 20 e 21de dezembro de 2016, sob olema “a boa saúde é o me-lhor presente que pode re-ceber neste natal”. teve co-mo objectivo a sensibiliza-ção e prevenção dasenfermidades resultantes deacidentes rodoviários e deabusos típicos da quadra fes-tiva.

Júlio Mariaantónio“Afeira Natal comSaúde foi impor-tantíssima por-que mostrou arealidade das ocor-rências de acidentesnas estradas. E ainda porque beneficiámosde cuidados de saúde – sem estar em gran-des filas, como nos hospitais –, tais como amedição da tensão arterial, da glicemia, aadministração das vacinas de tétano, hepa-tite B, entre outras. Felizmente, não mediagnosticaram nenhuma doença. Paraconservar a minha saúde faço consultas derotina. Daqui para frente procurarei teruma relação de maior proximidade com osmédicos para me cuidar melhor. Contudo,o atendimento nos centros de saúde e noshospitais ainda não é o desejável, emboraobserve muito trabalho desenvolvido peloexecutivo para a melhoria do sector dasaúde, com vista a responder à grande de-manda de pacientes”.

SebaStião neto“A feira foium evento demuita importân-cia porque per-mitiu auxiliar to-dos os munícipesde Luanda que têmencontrado muitas dificulda-des nos hospitais para serem atendidos nasconsultas. Para conservar a minha saúdeterei que prestar mais atenção aos conse-lhos, cumprindo cada vez mais todas as re-comendações que recebo dos médicosque tenho consultado. Estava um poucopreocupado, mas afinal estou bem, não medetectaram nenhuma doença. Passarei a fa-zer mais consultas de rotina, de forma adiagnosticar as doenças precocemente.Considero que o atendimento nos centrosde saúde e nos hospitais tende a melhorar,mas ainda observo uma fraca qualidade naassistência e humanização dos serviços. Asáreas da saúde que gostaria que mudassemseria principalmente a pediátrica porque ascrianças são as que mais adoecem com fa-cilidade devido à fraca informação e à debi-lidade das acções de promoção da saúdematerno-infantil. Também seria bom quefeiras do género fossem constantes em to-dos os municípios de Luanda e em diversosmomentos durante o ano”.

ivone Prudênciaantónio“Afeira foi umgrande eventoporque contri-buiu significativa-

mente para a saúde de todos os muníci-pes de Luanda que não conseguem deslo-car-se a um hospital para serem assisti-dos.Para conservar a minha saúde tenho feitoconsultas regulares para me manter a pare passo com o meu estado de saúde e po-der me prevenir de várias doenças comoa malária, febre tifóide e outras. Não mediagnosticaram nenhuma doença. Graçasao Senhor, gozo de boa saúde. Daqui pa-ra frente passarei a me precaver mais,medindo com frequência a minha tensãoarterial, como rotina, e farei um acompa-nhamento rigoroso da minha saúde. Actualmente, o atendimento nos centrosmédicos e nos hospitais não tem sido dosmelhores, devido às enchentes. Julgo queestas decorrem do facto de inúmeros in-divíduos deslocarem-se das províncias àcidade capital para serem assistidos. Souda opinião que as unidades de saúde de-vem melhorar muito na área do atendi-mento, porque é a vertente que as popu-lações mais reclamam. Gostaria que a feira fosse duas vezes pormês”.

etelvina caSiMiro donaSciMento“A feira foi de ex-trema importân-cia. É louvável estagrande iniciativa dogoverno da provínciade Luanda ao brindar os luandenses comum evento que contribuiu bastante para asaúde dos cidadãos durante a quadra fes-tiva.Para conservar a minha saúde e prevenir-me tenho feito sempre as consultas comantecedência para não ser surpreendida.Antes do médico me observar, tinha umpouco de receio, mas depois da consultasoube que não tenho nenhuma doença, oque poderia ser um grande problema paraa minha vida cheia de responsabilidades.Ultimamente o atendimento nos centrosde saúde e hospitais está a melhorar por-que anteriormente as populações faziammuitas reclamações e agora estão a serbem assistidas. Um dos grandes exemplosé o Hospital do Prenda. Gostaria que os hospitais mudassem aforma como os técnicos e os médicosatendem os pacientes que procuram e ne-cessitam de cuidados de saúde para cura-rem várias enfermidades. Acho que deviahaver mais atenção e humanismo”.

O directOr clínicO dOHGl, carlOs Manuel, re-comendou que para prevenira diabetes não se deve consu-mir sal e gorduras em exces-so, não se deve fumar, mode-rar o consumo de álcool e as-sociar na rotina diária a práti-ca regular de exercício físico

FALA

POVO