O cânon do Antigo Testamento nas Igrejas Orientais

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  • 8/8/2019 O cnon do Antigo Testamento nas Igrejas Orientais

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    O cnon do Antigo Testamento nas Igrejas Orientais

    Fora da Igreja Catlica Romana ningum aceita o cnon do AT estabelecido emTrento no sculo XVI. Os protestantes no aceitam, uma vez que aderem ao mais

    breve cnon hebreu - nico vlido uma vez que as Escrituras foram entregues aeles em primeiro lugar - e os Orientais por seu lado incorporam os "deuteros" mastambm admitem outros livros que a Igreja de Roma nunca aceitou.

    Ora, interessa saber que esta incorporao por parte dos Orientais ocorreutardiamente, contra a tradio estabelecida por Melito de Sardes (sculo II),Orgenes (sculo III), Atansio de Alexandria (sculo IV), o conclio de Laodiceia(sculo IV), Cirilo de Jerusalm (sculo IV), Gregrio de Nazianzo (sculo IV)Anfilquio de Icnio (sculo IV), Epifnio de Salamina (sculo IV-V), etc. Ainda emprincpios do sculo VII, Lencio de Bizncio, que foi julgado como "o maiscompleto telogo do seu tempo" d uma lista detalhada que reconhece somente ocnon hebreu do AT.

    Parece que a confuso se semeou no Conclio chamado Trulano de 692 que, demaneira implcita, sancionou ao mesmo tempo duas listas cannicas diferentesentre si, uma que exclua e outra que inclua os apcrifos. Isto sugere que o cnondo Antigo Testamento no figurava entre as principais preocupaes dos bisposorientais de finais do sculo VII.

    Os escritores orientais posteriores mostram uma inconsistncia parecida, j quequando tm de formular uma lista de livros cannicos uniformemente excluem osapcrifos; mas os utilizam nos seus escritos. Isto demonstra que as citaes nobastam para demonstrar por si mesmas a opinio que sustenta o autor acerca dacanonicidade do livro citado. Disto um bom exemplo Joo de Damasco, o ltimo

    dos Padres gregos (m. cerca de 750), que subscreve o cnon hebreu, embora citeSabedoria (livro que tem por bom e nobre, mas no proftico).

    Fcio, patriarca de Constantinopla, num resumo das leis da Igreja, se refere slistas de livros cannicos dadas pelos "Cnones Apostlicos" e pelos Conclios deCartago e Laodiceia como se fossem as mesmas. O mesmo tipo de confuso seobserva em Zonaras, historiador e telogo bizantino do sculo XII, nos seuscontemporneos Aleixo Aristeno e Teodoro Balsamon, e no sculo seguinte, nopatriarca de Constantinopla, Arsnio.

    Apesar disso, um dos ttulos que se deu Biblia na Igreja grega foi Os SessentaLivros que, segundo antigos manuscritos, se contavam como se segue: Sabedoria,

    Eclesistico, Macabeus, Judite e Tobite ficavam expressamente de fora, comotambm Ester. A lista omitia Apocalipse. A chamada Esticometria de Nicforo (finaisdo sculo IX) menciona todos os apcrifos excepto Baruc como "livros disputados".

    Ainda mais tarde (1333) Nicforo Calisto se baseia em Gregrio de Nazianzo eAnfilquio e d uma lista do cnon hebreu excepto Ester. No menciona comoduvidosos os apcrifos salvo Judite e Tobite.

    O patriarca reformador de Constantinopla, Cirilo Lucar (1572-1638), d na suaConfisso de F uma definio dos livros cannicos, que para o AT correspondemao cnon hebreu. Dos apcrifos diz que "tm esse nome por esta razo, que nopossuem a mesma ratificao do Santssimo Esprito, como a tem os livros que so

    prpria e indisputavelmente cannicos".

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    A mesma posio confirmada por Metrfanes Critopulus, Patriarca de Alexandria(1636-1639), que d uma lista do AT conforme ao cnon hebreu na sua Confissoda Igreja Catlica e Apostlica Oriental. Acrescentou:

    mas os restantes livros que alguns pretendem incluir na Sagrada Escritura, taiscomo Tobite, Judite, a Sabedoria de Salomo, a Sabedoria de Jesus filho de Sir(Eclesistico), Baruc e os livros dos Macabeus, no os consideramos merecedoresde ser descartados, pois muitos preceitos morais, merecedores do maior louvor, secontm neles; mas a Igreja de Cristo nunca os recebeu como cannicos eautnticos, como do testemunho muitos outros, mas especialmente So Gregrioo Telogo, e So Anfilquio, e finalmente So Joo de Damasco. Portanto no nosesforamos em estabelecer doutrinas destes, mas dos trinta e trs livros cannicose autnticos, os quais tambm chamamos inspirados e Sagrada Escritura.

    Confisso... citado por Westcott, The Bible in the Church, 3a Ed, 1870, p. 228-229

    Esta opinio subscrita e citada com aprovao por Plato, bispo da IgrejaOrtodoxa Russa; no catecismo ortodoxo russo se sustenta o cnon hebreu, emborano se descartem os apcrifos para edificao.

    To tardiamente como no sculo XVII snodos orientais reunidos em Jasi (1642) eJerusalm (1672) declararam como "genunas partes da Escritura" 1 Esdras(includo no apndice da Vulgata como 3 Esdras e nunca reconhecido pela IgrejaCatlica), Tobite, Judite, 1, 2 e 3 Macabeus (este ltimo fora do cnon romano),Sabedoria, Jesus ben Sir, Baruc e a carta de Jeremias. Isto ocorreu sobretudo(como Trento contra Lutero) como reaco aos ensinamentos do j referido CiriloLucar. No entanto, um snodo contemporneo de Constantinopla adere posioverdadeiramente tradicional, ao dizer que "aqueles livros que no so includos naenumerao dos Escritores Sagrados, no so rejeitados e tratados como pagos eprofanos; mas descritos como bons e excelentes".

    Por outro lado, Bruce nota que "a maior parte dos eruditos ortodoxos de hoje, noentanto, seguem Atansio e outros ao pr os livros do plus da Septuaginta numnvel de autoridade menor que os escritos protocannicos." (F.F. Bruce, TheCanon of Scripture. Downers Grove: InterVarsity Press, 1988, p. 82).

    Ou seja que, na prtica, os telogos ortodoxos tendem para a posio histrica, daqual Lutero estava mais prximo que os bispos tridentinos.