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ACADEMIA MILITAR O CAPI sobre uma perspetiva operacional e disciplinar durante a Grande Guerra Autor AspOf Al ART João Pedro Martins Pereira Orientador: Coronel ART Carlos Alberto Borges da Fonseca Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada Lisboa, Julho de 2012

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ACADEMIA MILITAR

O CAPI sobre uma perspetiva operacional e disciplinar durante

a Grande Guerra

Autor

AspOf Al ART João Pedro Martins Pereira

Orientador: Coronel ART Carlos Alberto Borges da Fonseca

Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada

Lisboa, Julho de 2012

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ACADEMIA MILITAR

O CAPI sobre uma perspetiva operacional e disciplinar durante

a Grande Guerra

Autor

AspOf Al ART João Pedro Martins Pereira

Orientador: Coronel ART Carlos Alberto Borges da Fonseca

Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada

Lisboa, Julho de 2012

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Dedicatória

Não podia deixar de dedicar a dissertação aqui apresentada às pessoas que sempre lutaram

para que conseguisse alcançar todos os objetivos a que me propus, os meus pais.

A vós estarei eternamente grato.

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Agradecimentos

A realização deste trabalho é o culminar de cinco intensivos anos de formação na

Academia Militar na qual tudo é alcançado pela constante dedicação e empenho para o

cumprimento das missões que nos são incumbidas.

A contribuição de algumas entidades foi essencial e sem o seu auxílio esta redação

não seria possível.

Ao Arquivo Histórico Militar pela riqueza documental e principal fonte de

conhecimento adquirido e utilizado na construção da dissertação.

Ao Coronel Borges da Fonseca pelo exímio empenho e preocupação durante todas

as fases do trabalho.

Ao Dr. Tavares pelo seu vasto conhecimento e dedicação e que sem os quais todo o

trabalho seria trilhado por um caminho bem mais sinuoso.

Ao Professor Rod Stuart, pela disponibilidade demonstrada a todas as solicitações.

Ao Aspirante Cristóvão Fernandes por toda a lealdade e exemplo.

A todos vós os meus mais profundos agradecimentos.

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iii

Resumo

Com a Grande Guerra, a marcar de forma violenta e radical a abertura do século

XX, houve a necessidade da intervenção da Artilharia Portuguesa com o Corpo de

Artilharia Pesada Independente, através do cumprimento da Convenção Militar para o

emprego de Artilharia Pesada, assinada em Maio de 1917, pelos Ministros da Guerra

Português e Francês.

Com este trabalho pretende-se apurar até que ponto o Corpo Português teve um

papel de relevância no decurso da guerra e se a resposta for afirmativa de que maneira o

desenvolveu.

O percurso do Corpo de Artilharia Pesada Independente foi sinuosamente pautado

em grande parte devido à sua agregação a dois Exércitos distintos, o Francês e o Britânico.

O 1º Grupo do Corpo integrado num contexto operacional, dentro do 4º e 6º Exércitos

Franceses, desenvolveu duas ações de campanha, com um aproveitamento aceitável. Nos

restantes 2 Grupos a travessia por Inglaterra, no destacamento de Horsham, ficou marcada

indelevelmente por motivos disciplinares.

A metodologia empregue na consecução deste trabalho baseou-se na exploração

histórica, com principal apoio em fontes primárias, não olvidando também todas as

publicações existentes nas fontes impressas, englobando a Revista Militar e Revista de

Artilharia.

Em suma, o CAPI apesar de ter cumprido as missões propostas com sucesso, foi

referenciado pelos piores motivos disciplinares originando graves detenções em Tribunal

de Guerra por insubordinação. Para tal foi necessário analisar o trabalho à luz da

operacionalidade e da disciplina para melhor compreensão de todo o percurso realizado

pelo Corpo em questão.

Palavras-chave: Grande Guerra; Convenção Militar; Corpo de Artilharia

Pesada Independente; operacionalidade e disciplina

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Abstract

The World War was a violent conflict that opened the Twentieth Century. Portugal

had the obligation to deliver an Artillery Corps named the Independent Heavy Artillery

Corps to France according to military convention signed in 1917, by the Portuguese and

French Ministers of War.

In this work we intend to investigate how important the Corps was during the

conflict and if it was, how effective it was in carrying out its commitments.

The mission of the Independent Heavy Artillery Corps was very difficult because it

worked for two different armies, the French and English ones. The first Group in an

operational context, inside the 4th

and 6th

Armies developed two different campaigns with

acceptable results. In the two other Groups indiscipline caused considerable trouble in

Horsham, England.

The methodology used to guide this work is based on historic investigation, with

the resource of original documents and other publications on this, including the Military

Magazine and Artillery Magazine.

In conclusion, on the one hand the Independent Heavy Artillery Corps served the

French Army well. On the other hand, it was a Corp that brought considerable trouble to

the British side. So it was necessary to analyze all aspects of this Corp from an operational

and disciplinary point of view.

Keywords: World War, Military Convention, Independent Heavy Artillery

Corps, operational and discipline

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Índice Geral

Dedicatória ............................................................................................................................ i

Agradecimentos ................................................................................................................... ii

Resumo ................................................................................................................................ iii

Abstract ............................................................................................................................... iv

Índice Geral .......................................................................................................................... v

Índice de Figuras ............................................................................................................... vii

Listas de Apêndices e de Anexos ..................................................................................... viii

Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos ......................................................................... ix

Introdução ............................................................................................................................ 1

Enquadramento/contextualização da investigação ............................................................ 1

A situação política Europeia antes da guerra ................................................................. 1

Os motivos impulsionadores do conflito ........................................................................ 2

A participação Portuguesa na Guerra ............................................................................. 2

Importância da investigação e justificação da escolha ...................................................... 3

Definição dos objetivos...................................................................................................... 5

Enunciado da estrutura do trabalho.................................................................................... 5

Capítulo 1 - Estado da Arte ................................................................................................ 7

1.1 Análise literária ....................................................................................................... 7

1.2 Uma passagem pelo CAPI ...................................................................................... 8

Capítulo 2 - A Artilharia Pesada sob via-férrea ............................................................. 20

2.1 A introdução na guerra .......................................................................................... 20

2.2 O material .............................................................................................................. 21

2.3 A preparação, execução e observação do tiro ....................................................... 23

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Capitulo 3 - O CAPI no contexto operacional ................................................................ 25

3.1 O Corpo no 6º Exército Francês ........................................................................... 25

3.1.1 A sua preparação ........................................................................................... 25

3.1.2 A missão ........................................................................................................ 26

3.2 O Corpo no 4º Exército Francês ........................................................................... 28

3.2.1 A missão ........................................................................................................ 28

3.2.2 Os trabalhos na posição 262 .......................................................................... 32

3.2.3 “Em Sommesous” .......................................................................................... 32

3.2.4 Os trabalhos de construção ............................................................................ 33

Capítulo 4 - O CAPI no contexto disciplinar .................................................................. 35

4.1 A indisciplina ........................................................................................................ 35

4.2 Os processos em Tribunal ..................................................................................... 38

4.3 A censura ............................................................................................................... 39

Considerações Finais ......................................................................................................... 41

Referências Bibliográficas ................................................................................................ 45

Anexos ................................................................................................................................. 51

Apêndices ............................................................................................................................ 75

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Índice de Figuras

Figura Nº 1 – Schneider 75mm ………………………………………………………………… 8

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Listas de Anexos e de Apêndices

Anexos

Anexo A - Mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI ................................................ 52

Anexo B - Telegrama de dia 23 de Abril de 1918 ........................................................................... 54

Anexo C - Telegrama de dia 24 de Abril de 1918 ........................................................................... 55

Anexo D - 2º Telegrama de dia 24 de Abril de 1918 ....................................................................... 58

Anexo E - Telegrama de dia 25 de Abril de 1918 ........................................................................... 59

Anexo F - Telegrama de dia 27 de Abril de 1918 ............................................................................ 62

Anexo G - Militares condenados do Destacamento de Horsham ..................................................... 68

Anexo H - Caso de deserção de uma praça oriunda do CAPI, em França ....................................... 69

Anexo I - Militar referenciado por insubordinação ......................................................................... 72

Anexo J - Militar referenciado por infração disciplinar ................................................................... 73

Anexo K - Militar referenciado por deserção .................................................................................. 74

Apêndices

Apêndice A - Cronologia ............................................................................................................... 76

Apêndice B...................................................................................................................................... 78

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Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos

AHM Arquivo Histórico Militar

ALGP Artillerie Lourde Grande Puissance

CALP Corps Artillerie Lourde Portugais CAP

Cap.

Corpo de Artilharia Pesada

Capítulo

CAPI Corpo de Artilharia Pesada Independente

CEME Chefe de Estado-Maior do Exército CEP

cf. Corpo Expedicionário Português

Consultar fonte GQG Grand Quartel Général

1

H Hipótese

Kg Quilogramas

Mm Milímetros

QC Questão Central

QD Questão Derivada

Q.G. Quartel General

RGA Réserve Générale d’Artillerie

RGAL Réserve Générale d’Artillerie Lourde

séc. Século

SMB Sua Majestade Britânica

S.T.

TG

Sem Tempos

Tribunal de Guerra

TSF Transmissões Sem Fios

1 A sigla aponta para o nome em questão, no entanto não foi encontrada qualquer fonte credível.

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Introdução

Enquadramento/contextualização da investigação

A situação política Europeia antes da guerra

Os anos que antecederam a I Guerra Mundial foram caracterizados por uma Europa

dominada por impérios2 e algumas potências como o Reino Unido e a França, na qual a

belle epóque3 estava enraizada no seio da comunidade Europeia. Em 1882 a Alemanha,

através de Bismarck4, estabelece um entendimento político com o Império Austro-Húngaro

e a Itália, originando a tríplice aliança. A situação política germânica sofreu uma

reviravolta com a entrada para o poder de Guilherme II, em 1888, induzindo a Alemanha a

uma atitude expansionista e de hegemonia. O interesse por África agudizou-se o que levou

o império acima citado a criar uma armada, que veio a por em causa a predominância

Britânica, no âmbito náutico. “O feitio pessoal de Guilherme II concorreu muito para

acentuar o carácter agressivo da política alemã” (Santos, 1949, p.21).

À medida que a influência Alemã ia ganhando relevância no teatro Europeu, a

Inglaterra sentia cada vez mais a sua hegemonia posta em causa, originando a subscrição

de um tratado com a França, em 1904, onde 3 anos mais tarde recebeu a Rússia, formando

a tríplice entente. A intenção dos Alemães de não vir a sofrer uma guerra em duas frentes

era cada vez mais remota.

2 Alemão, Otomano (atual Turquia), Austro-Húngaro e Russo.

3 Período vivido na Europa entre guerra Franco-Prussiana, em 1871até ao eclodir da Grande Guerra. Foi uma

época de grandes avanços tecnológicos e o gosto pela cultura fazia-se sentir no seio da classe média alta. O

bem-estar e a estabilidade imperavam na velha Europa (Teixeira, 1990, p.313-314) 4

Chanceler de ferro. Foi o primeiro chanceler do império Alemão e conseguiu unir a Alemanha através de

inúmeras guerras sendo considerado um dos líderes mais carismáticos do século XIX.

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Introdução

2

Os motivos impulsionadores do conflito

Numa Europa dominada por grandes potências, as pequenas5 eram postas de parte

num grande conflito de interesses. O acontecimento que levou à quebra da paz aparente,

instaurada na Europa, ocorreu a 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque

Francisco Fernando6 e da sua mulher, Sofia de Hohenberg, em Sarajevo, sendo o mesmo

preconizado por um jovem bósnio ligado à Mão Negra7, colocando assim termo à vida das

duas personalidades acima referidas.

Este marco levou o império Austro-Húngaro a culpabilizar a Sérvia pelo atentado,

declarando-lhe guerra a 28 de julho, daquele ano. O apoio aos Sérvios surgiu pelos Russos

com a mobilização das suas tropas no dia 30, e consequentemente, se traduziu numa

declaração de guerra dos Alemães à França8 no dia 1 do mês seguinte e colocada no

conflito dois dias depois. Com a mobilização das tropas Alemãs sob território Belga9, com

o objetivo de invadir a França, a Inglaterra declara guerra a Alemanha. Um conflito de

proporções gigantescas10

estava prestes a começar.

A participação Portuguesa na Guerra

“Quando, em Agosto de 1914, estalou a conflagração europeia que pôs frente a

frente os Impérios Centrais – Alemanha e Áustria-Hungria (…), e no campo oposto, a

Rússia, a Inglaterra e a França (…), logo se compreendeu em Portugal que o conflito iria

ter sérias repercussões no País”. (Mascarenhas, 1982, p.309)

Segundo Nuno Severiano Teixeira, existiram três fatores cruciais que contribuíram

para a entrada de Portugal no conflito. Em primeira instância, o crescente interesse colonial

pelos Alemães nas regiões do sul de Angola e no norte de Moçambique e a nossa

participação junto dos aliados garantia a refutação das intenções germânicas enunciadas.

5 Checoslováquia, Polónia, Ucrânia, Roménia, Sérvia, Croácia, entre outros

6 Herdeiro do Império Austro-Húngaro

7 “Pertenciam à organização Jovem Bósnia, ligada à Mão Negra (Crna Ruka), sociedade secreta fundada em

1911 na Sérvia por ex-membros da Narodna Obrana (Defesa do Povo), que lutava pela união dos eslavos do

Sul sob a liderança de Belgrado ” (Martins, 2009, p.19). 8 Aliada Russa

9 País neutro

10 Cerca de 20 milhões de mortos

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Introdução

3

Outro motivo prendia-se com o facto da afirmação Portuguesa no cenário Europeu,

reforçando a aliança com os Ingleses e enfraquecendo a proximidade com os Espanhóis,

que se encontravam neutrais no âmbito bélico, durante este período.

Um terceiro motivo é referente à política interna e sua consequente afirmação, onde

a entrada de Portugal para a região da Flandres não fazia sentido quando o interesse

nacional era em África. A república ainda numa fase embrionária, necessitava de ganhar os

alicerces necessários à construção de uma confiança tanto em âmbitos nacionais como

estrangeiros. Além do mais, existiam fortes confrontos dentro do próprio regime e a única

solução era a intervenção externa e a participação num conflito de grandes proporções, que

levaria à creditação do referido regime.

Importância da investigação e justificação da escolha

Todo o trabalho desenvolvido visa contribuir para a história e cultura militares

através do estudo deste Corpo de Artilharia criado, para a Grande Guerra, de forma

autónoma relativamente à principal força que Portugal mobilizou – o CEP – tendo ambos

os corpos desempenhado ações de caráter distinto. A 1ª Guerra Mundial marcou

vincadamente o início do século XX e a participação Portuguesa no conflito é considerada

e referenciada em inúmeras obras, porém, com este trabalho é pretendido dar ao leitor a

perspetiva do conflito pela visão de um organismo, que dentro dos 4º e 6º Exércitos

Franceses e no aquartelamento de Horsham, em Inglaterra, conduziu ações de campanha

contra os Alemães e recebeu instrução de material de Artilharia, respetivamente. Revela-se

um trabalho de grande importância uma vez que a temática da Artilharia sob via-férrea é

muito pouco abordada, tendo sido o assunto escolhido para apresentação do Trabalho de

Investigação Aplicada decorrente do Tirocínio para Oficial de Artilharia e irá conferir o

grau de mestre em ciências militares, na especialidade de Artilharia.

Metodologia

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Introdução

4

Dentro do tema que se escolheu para desenvolver o trabalho apresentado, tornou-se

necessário construir uma base de apoio que passou essencialmente pela busca sistemática

de informação disponível nas fontes impressas relativas à temática, das quais as mais

objetivas foram as obras do General Ferreira Martins e do Coronel Almeida. Não sendo um

assunto frequentemente abordado, foi motivo de interesse saber de que maneira havia sido

criado o Corpo de Artilharia Pesada Independente e se este conseguiu obter alguma

relevância num conflito com a dimensão da Grande Guerra. A recolha da informação,

componente essencial em trabalhos de investigação, permitiu a expansão do conhecimento

e rejeitar ideias preconcebidas, num tema tão pouco abordado. A questão central e objetivo

deste trabalho levaram a uma ramificação para outras questões derivadas, desencadeando

assim o processo de investigação.

Para a redação da dissertação, aqui apresentada, procurou-se obter a informação,

dentro do possível, das fontes primárias, encontradas na sua totalidade, dentro do AHM, na

1ª divisão, 35ª secção respeitante na sua essência ao CEP. A caixa 1416 revelou-se,

também, fundamental na recolha da informação, posteriormente trabalhada, com vista a

desenvolver a componente disciplinar que o CAPI esteve sujeito. 11

As fontes impressas constituíram, no entanto, um fiel apoio na redação do trabalho

auxiliando a compreensão da informação obtida na fonte, fazendo uso de uma linguagem

arcaica, o que se revelou umas das grandes dificuldades sentidas na consecução deste

trabalho. De maneira a manter fidedigna toda a informação optou-se por fazer

frequentemente o uso de transcrições mantendo sempre todo o conteúdo como este é

apresentado nas suas fontes primárias.

A Revista Militar e a Revista de Artilharia, foram os outros pontos de apoio que

fortaleceram a diversidade e seleção da informação recolhida.

Todo o processo inerente ao trabalho, desde a escolha do tema até ao seu término

está assente nas três grandes etapas da investigação12

, a ruptura, construção e a

verificação13

.

11 “Evidentemente, se o assunto fosse As fontes do pensamento económico de Adam Smith, as fontes

primárias seriam os livros ou os escritos em que o autor se inspirou.” (Eco, 1984, p. 69). 12

(Bourdieu, Chamboredon & Passeron, 1968) 13

O presente trabalho foi apoiado nos “atos epistemológicos” desenvolvidos no estudo efetuado por

Raymond Quivy e Luc Van Campenhoudt, Manual de Investigação em Ciências Sociais

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Introdução

5

Definição dos objetivos

De forma a conseguir fazer-se um correto enquadramento da temática delimitou-se

temporalmente o trabalho para o início do século XX, mais propriamente nos anos que

antecederam imediatamente o conflito até ao fim do mesmo. Embora o CAPI só tenha

entrado para o conflito no ano de 1917, é importante fazer referência à Artilharia Pesada

Francesa e Inglesa antes da incorporação do Corpo.

A escassez de fontes referentes à temática é um facto, logo foram colocadas uma

série de questões às quais se pretendem ver respondidas no final da dissertação.

Este trabalho tem como questão fulcral saber:

QC: Teve o CAPI um papel essencial no desenrolar do conflito?

Da questão supracitada surgem outras questões às quais devemos dar resposta:

QD1: Como e em que moldes foi feita a preparação do CAPI?

QD2: Como foi equipado o CAPI?

QD3: Conseguiu o CAPI cumprir as missões que lhe confiaram, com sucesso?

QD4: Houve a ocorrência de problemas de âmbito disciplinar com o CAPI

durante o seu empenho?

Por forma a tornar coerente e possível o trabalho realizado houve a necessidade de

estabelecer previamente um conjunto de hipóteses, visando atribuir uma resposta a cada

uma das questões enunciadas.

H1: Através de elementos conhecedores do ambiente operacional com material

de Artilharia Pesada.

H2: O CAPI foi equipado com material proveniente do Exército Francês.

H3: Todas as missões foram cumpridas com sucesso.

H4: Houve a ocorrência de problemas disciplinares, mais especificamente em

Inglaterra.

Enunciado da estrutura do trabalho

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Introdução

6

Seguindo as normas para a redação de trabalhos escritos da Academia Militar o

trabalho tem a seguinte estrutura.

O resumo e o abstract compõem o início do trabalho seguido da introdução e seus

respectivos subcapítulos. O estado da arte subdivide-se numa análise literária e de seguida

num subcapítulo que abrange toda a informação recolhida acerca da temática.

Foi dedicado um capítulo relativo à metodologia e procedimentos aparecendo à

posteriori o trabalho de investigação, cuja divisão é:

- A Artilharia Pesada sob via-férrea

- O CAPI no contexto operacional

- O CAPI no contexto disciplinar

Os capítulos acima mencionados foram subdivididos em subcapítulos. No primeiro

abordou-se a introdução na guerra, o material e a preparação, observação e execução do

tiro. No contexto operacional escalpelizou-se o CAPI no 6º Exército Francês abordando a

sua preparação e a respectiva missão, seguidamente enunciadas as suas ações no 4º

Exército Francês tais como a missão, os trabalhos na posição 262, a permanência na região

de Sommesous e os trabalhos na construção e melhoramento das infraestruturas de apoio

às operações militares.

No contexto disciplinar a indisciplina, os processos em tribunal e a censura foram

as matérias objetivadas.

Por último foram tecidas umas considerações finais relativas a todo o trabalho,

onde se incluem propostas para futuras investigações, servindo de base a novos estudos.

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7

Capítulo 1

Estado da Arte

1.1 Análise literária

A temática da Artilharia sob via-férrea e nomeadamente sobre o CAPI carecem de

avultadas informações e relatos, no entanto existem obras nas quais o presente estudo se

apoiou por forma a contribuir para a realização do Estado da Arte. A obra do General

Ferreira Martins, Portugal na Grande Guerra (Vol. II), foi indiscutivelmente a referência

primordial na investigação, caraterizada pelo seu rico detalhe em termos documentais,

onde o seu estudo profundo e abordagem exaustiva se revelaram fundamentais para a

redação da mesma. No entanto, é de salientar o facto de a sua obra atribuir demasiada

ênfase à grandiosidade Portuguesa, caindo assim no exagero.

Outra importante referência foi a obra redigida pelos Coronéis Aniceto Afonso e

Matos Gomes, publicada pelo Diário de Notícias, Portugal – Grande Guerra onde é feita

uma abordagem abrangente de todo o conflito, focando os aspectos essenciais para a sua

compreensão atribuindo, com caráter de predominância, a participação Portuguesa e

incluindo, de uma forma geral, a ação do CAPI.

Como complemento à obra do General Ferreira Martins, é essencial fazer referência

aos textos publicados pelo Coronel Almeida, intitulados de A Artilharia Portuguesa na

Grande Guerra, onde de forma mais detalhada estão as principais ações da Artilharia

Portuguesa, em todo o espetro do conflito. A informação é rica e detalhada contribuindo de

forma incisiva para a compreensão do estudo do Corpo e delineando a sua redação com um

estudo profundamente objectivo passando pelas suas origens até à sua extinção.

Por fim falta fazer referência à informação retirada da Revista de Artilharia, do ano

de 1917, onde no texto A missão do CAPI - Seus trabalhos de Maio a Dezembro de 1917, a

informação tratada foi útil por forma a compreender como o CAPI trabalhou e se

organizou para o conflito que estava prestar a enfrentar. O ponto negativo e que não pode

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Capítulo 1 – Estado da Arte

8

deixar de ser referido é o respetivo entendimento, no qual a linguagem utilizada torna-se

por vezes um obstáculo no trabalhar da informação.

1.2 Uma passagem pelo CAPI

Os Franceses de forma a tentar acompanhar o desenvolvimento Alemão, em termos

de Artilharia Pesada, além de irem buscar o seu material à Artilharia de Costa pediram

auxílio a Portugal por duas vezes (Almeida, 1968, p.221).

Nos estudos de Martins (1938), Almeida (1968) e Afonso e Gomes (2003) o

primeiro pedido surgiu em setembro de 1914 e tinha o intuito de obter a cedência do

material, que equipava as unidades de Artilharia, do campo entrincheirado de Lisboa14

,

Schneider 75mm 15

.

Figura Nº 1 - Schneider 75mm

14 Fortificação construída no final do século XIX, na qual, e conjuntamente com o respectivo contingente

formaram um importante plano de defesa contra possíveis invasões (Santos, 2009) 15

Ver Figura Nº 1 - Schneider 75mm.

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Capítulo 1 – Estado da Arte

9

Ao ser refutado16

a França fez a elaboração de um outro, em setembro de 1916,

pelo Ministro de França em Portugal, o Sr. Daeschner17

, mas desta vez no sentido da

aquisição de militares Portugueses, para poderem guarnecer a sua Artilharia. Esta

solicitação é feita na sequência da visita de uma comitiva Francesa, na data supracitada, ao

campo de Tancos18

, que causou extraordinária impressão ao Governo Francês, podendo ser

revista numa publicação19

efetuada no Le Petit Journal :

“Nous sommes enchantés de ce que nous avons vu, disait un des officiers de cette

mission. Nous sommes d’ávis que le soldat portugais est un des meilleurs d’Europe. Il est

prêt à participer victorieusement aux combats des tranchées. Il est, comme disait de

Général Marbot, un soldat courageux, sobre et loyal. Nous l’admirions dejá comme soldat

d’Afrique. Nous sommes sûrs qu’il sera également à l’hauteur de sa renommée

européene” (Almeida,1968, p.222). Isto veio afirmar o interesse Francês nos soldados de

Portugal, sublinhando a importância da participação dos mesmos no conflito, atribuindo-

lhes elogiosos traços de personalidade, tais como coragem e lealdade.

A 26 de dezembro, e não obtendo a França resposta à diligência, foi redigido um

texto enfatizando a necessidade, com caráter urgente, do contributo Português, estando

implícito o uso dos nossos Artilheiros, para auxílio à criação de um Corpo de Artilharia

Pesada, composto por 20 a 30 Baterias (Almeida, 1968, p.222).

Um estudo de Afonso e Gomes (2003) refere-se que foi prometido, pelo Governo

Português, o contingente necessário ao guarnecimento de 25 Baterias. No entanto, Portugal

exigiu, um comando superior nacional, constituído por um Coronel de Artilharia e

respetivos adjuntos. No dia 17 de maio, do decorrente ano, a prestação deste apoio ficou

vinculada com uma convenção, denominada de “convenção militar para o emprego de

forças Portuguesas de artilharia pesada na linha Francesa de operações em França”20

, com

16 Contudo existe uma opinião divergente, a do comandante do 1º Grupo do CAPI. De acordo com o autor

houve efetivamente empréstimo do nosso material ao Exército Francês. c.f. PT/AHM/1/35/1345/3

Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – Do princípio da Grande Guerra à criação do

C.A.P.I. 17

“Diplomata francês, que representou o seu país em Portugal, tendo feito entrega das credenciais em 28-IV-

1913” (s.a., 1945, 344) 18

Em 09 de Julho de 1886 é criada uma comissão a fim de propor uma área para instalar um campo militar,

vindo a escolha a recair em Tancos, o qual é inaugurado em 14 de Outubro de 1886 com a presença do rei D.

Luís e do Ministro da Guerra Fontes Pereira de Melo (Exercito, 2010) 19

13 de Maio de 1917 20

Consultar Apêndice B – Cronologia

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Capítulo 1 – Estado da Arte

10

a assinatura dos Ministros da Guerra Português e Francês, Norton de Matos21

e Paul

Painlevé22

, respetivamente, de acordo com Martins (1938) e Almeida (1968).

Ficaram estabelecidos os alicerces para a criação do CAPI, sob o comando do

Coronel de Artilharia João Clímaco Pereira Homem Teles (Martins, 1938, p.92). Este

Corpo era composto por 3 Grupos a 3 Baterias e 1 Bateria de depósito. Surgiram então, de

seguida, as nomeações dos oficiais necessários à ocupação dos cargos de comando, dentro

do CAPI. Foram, para tal, convocados 4 Majores, 10 Capitães, 5 subalternos e 10 sargentos

(Almeida, 1968, p.225). Segundo o estudo feito por Martins (1938), dos 4 Majores, 3

foram designados para comandantes dos 3 Grupos e 1 para a função de 2º comandante do

Corpo. Os 10 Capitães foram destinados ao comando de cada uma das Baterias, incluindo a

de depósito, comparecendo apenas à convocação 7 do total. Os restantes 3 encontravam-se

indisponíveis; um pertencia ao estabelecimento fabril de arsenal do Exército, na qualidade

de indispensável, um outro encontrava-se no estrangeiro para a compra de matéria-prima

essencial ao fabrico de cartuchame23

, enquanto o último era um acompanhante da

delegação Portuguesa em Paris (Fernandes, 1917, p.77-78). Os convocados foram enviados

à capital Francesa antes do restante Corpo de maneira a prepararem-se técnica, tática e

moralmente para poderem enquadrar convenientemente o contingente que havia de chegar

(Martins, 1938, p.92).

Com referência a um artigo publicado na Revista de Artilharia, por Fernandes

(1917) os restantes dias do mês de maio de 1917 foram ocupados com a apresentação da

comitiva acima enunciada aos altos comandos, visitas oficiais às autoridades Francesas,

nas quais o Corpo viria a depender, bem como nos preparativos para instalar o contingente

num campo de instrução adequado à missão.

Por decisão do General Comandante da RGAL o CAPI, havia de ficar

provisoriamente nas proximidades de Bailleul-Sur-Thérain24

.(Martins, 1938, p.92-93).

21 Nasceu em Ponte de Lima em 1867 e faleceu em Lisboa em 1955. Enquanto CEME conseguiu que em

poucos meses fosse criado um Corpo de Exército capaz de atuar na guerra. Defendeu sempre os interesses

Portugueses nunca aceitando situações embaraçosas junto do governo de SMB. (Afonso&Gomes,2003,

p.281) 22

Foi um notável matemático e político Francês, nascido a 5 de Dezembro de 1863 em Paris. Ocupou os

cargos de Primeiro-ministro e Ministro da Guerra por duas vezes. Era um militante eterno do partido

republicano socialista. Morreu a 4 de Outubro de 1933 na sua cidade natal (s.a.,1945, p.977) 23

“Provisão de cartuchos para armas de fogo” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.356)

24 Consultar ponto 1, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

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Capítulo 1 – Estado da Arte

11

Refere Almeida (1968), que no dia 1 de junho, iniciou-se o deslocamento de Paris “ficando

os oficiais e sargentos alojados em casa dos habitantes e sendo a sua alimentação em

grupos, nas popotes25

privativas desses grupos” (Martins, 1938, p.93). De forma a

conhecerem o equipamento que iria operar no conflito os oficiais começaram a sua

formação com o estudo do material e respetivo emprego no campo de batalha. “A instrução

do pessoal da missão começou pelo material de 320mm, utilizando 4 peças de um grupo

Francês que ali se encontrava em descanso. Foram constituídas 2 comissões de oficiais

para, a par e passo com a instrução, irem preparando os regulamentos, em Português, de

manobra e tiro, para servirem na instrução das tropas quando chegassem de Portugal”

(Almeida, 1968, p.225-226).

Fernandes (1917) refere ainda que foram disponibilizados para as tropas

Portuguesas os regulamentos das peças, que se encontravam na unidade militar de Bailleul-

Sur-Thérain e também os apontamentos retirados pelo contingente daquela unidade. As

peças estabelecidas à instrução “eram conhecidas pelos nomes de Bourrasque, Tempête,

Simoun e Cyclone” (Martins, 1938, p. 93). No dia 2 de junho sai em ordem de serviço o

horário da instrução (Fernandes, 1917, p.80) começando a dia 5 e tinha como responsáveis,

o Major Benoit e os Tenentes Guillermat e Scala, os três da arma de Artilharia (Almeida,

1968, p.226). Segundo a análise de Fernandes (1917) a instrução para os oficiais era

dividida em teórica e prática enquanto para os sargentos o conteúdo era essencialmente

prático, visando detalhadamente o conhecimento do material e o seu respetivo emprego no

campo de batalha. Foi-lhes ainda ministrado um curso de instruções de transmissões e de

sinalização e sendo o código Morse, o sistema à data utilizado, ensinou-se o respetivo

código e a forma como este era empregue. Iniciou-se com uma técnica recorrendo ao uso

dos braços, mais tarde com bandeiras e por último com heliógrafos26

, conferindo assim, um

elevado grau de proficiência à classe dos sargentos. Também tiveram instrução de panos de

sinais27

.

A partir do momento em que o conhecimento individual estava assimilado passou-

se ao treino coletivo, no qual cada sargento tinha de saber, ao pormenor, o que cada

25 Significado não encontrado; possibilidade: refeitórios

26 “Aparelho muito simples cuja manipulação preparava para a utilização dos grandes projectores que se

servem das baterias no acto da guerra para trocarem os seus sinais com os aviões de regulação” (Fernandes,

1917, p. 84-85) 27

“ (…) Consiste na comunicação da terra para o avião feita por um certo número de indicações de serviço

ou de tiro que resultam da disposição relativa de um, dois ou três panos de identificação (…)”(Fernandes,

1917, p. 85)

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Capítulo 1 – Estado da Arte

12

servente da boca-de-fogo executava. Com a chegada de uma guarnição Francesa28

conseguiu-se treinar, durante várias semanas, as diferentes posições, consolidando a

aprendizagem quando todos os instruendos se encontravam familiarizados com a

“colocação e orientação das regras de pontaria e um perfeito conhecimento de todos os

goniómetros29

, níveis30

, etc., (…), conhecimento dos vários métodos de pontaria (…)”

(Fernandes, 1917, p.86).

Após isto, o Comandante do CAPI deu ênfase à urgência com que Portugal deveria

fazer chegar a França todos os militares necessários ao preenchimento do Corpo,

nomeadamente os militares atribuídos às especialidades e os serventes das bocas-de-fogo.

Estes eram provenientes do 2º Batalhão de Artilharia de Costa e do Grupo de Artilharia de

Guarnição e de maneira a serem enquadrados convenientemente, foi necessário

providenciar os seus alojamentos. Esta ação ocorreu a 27 de agosto, numa visita do

General da RGAL ao campo militar de Bailleul-Sur-Thérain, onde um antigo depósito de

prisioneiros de guerra serviria para albergar os militares que haveriam de chegar (Martins,

1938, p.93-94).

Martins (1938) e Almeida (1968), assinalam, que em inícios de setembro, Portugal

procedeu ao envio de 10 subalternos, onde em primeira instância apresentaram-se 3,

destinados ao reforço do comando dos Grupos. No dia 10, do decorrente mês, chegaram os

restantes 7 oficiais que foram reencaminhados para as Baterias. A instrução destes

militares foi dividida em 3 partes31

, ministrada sob a direção do Capitão adjunto do

comando do Corpo (Fernandes, 1917, p.92).

“ (…), em 5 de Outubro, foi recebido um telegrama de Lisboa informando de que

no dia 10 deveriam embarcar com destino ao CAPI, 40 oficiais, 100 sargentos e 700 cabos

e soldados. Muito pouco depois, um segundo telegrama rectificava o anterior,

comunicando que o número de sargentos era 90 e o das praças 850” (Almeida, 1968,

p.227). O efetivo deu entrada no porto de Brest32

, pelo Pedro Nunes33

. Segundo Martins

28 Com o intuito de “obter os 39 homens de que se compõe a guarnição de uma peça de 320

mm” (Fernandes,

1917, p.86) 29

Equipamento utilizado para o uso em bocas-de-fogo bem como para ações de levantamento topográfico. 30

Os níveis “formam uma linha aberta que permite alinhar rapidamente, embora de modo aproximado, a

luneta com o ponto a visar” (Universidade Minho, 2002) 31

Uma primeira em nomenclatura e serviço da peça de 320mm

. Segunda por aparelhos de pontaria, teoria da

régua de pontaria e serviço de pontarias. Por último o serviço de sinalização e códigos de sinais para o avião

(Fernandes, 1917, p. 92)

32 Cidade localizada no noroeste Francês

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Capítulo 1 – Estado da Arte

13

(1938) foi por comboio que chegaram a Rochy-Condé34

às 3 horas do dia 17 de outubro e

às 4 horas e 30 minutos a Beauvais35

. À chegada verificou-se que o efetivo proveniente de

Portugal era diferente do descrito no telegrama, sendo contabilizados 20 oficiais, 44

sargentos e 714 cabos e soldados. “Em Rochy-Condé desembarcaram 180 homens e os

restantes seguiram para os quartéis de Beauvais” (Martins, 1938, p.95). Estes quartéis eram

conhecidos como o Hospício dos Pobres e Taupin (Martins, 1938, p.95)

A 22 de outubro começaram a ser construídos os novos alojamentos no campo

militar de Bailleul. O trabalho foi levado a cabo por militares Franceses da especialidade

de engenharia, com o auxílio de soldados Portugueses e foram, simultaneamente,

designados para receberem instrução da peça de 190mm 2 Capitães, 2 subalternos e 4

sargentos, sendo o seu término no dia 28 do mesmo mês. Por esta altura é dada também a

entrada dos vagões, para guarnecerem o 1º Grupo Tático (Martins, 1938, p.95-96).

O Corpo ficou dividido em 3 Grupos, compostos por 7 Baterias36

e mais uma de

depósito e um Grupo de Comando e Estado-Maior a 3 Baterias (Martins, 1938, p.96) e

(Almeida, 1968, p.228). Os Grupos que formavam o CAPI eram, individualmente,

constituídos por uma Bateria de 320mm e duas de 240mm ou 190mm, onde as primeiras

eram as designadas peças de grande potência e as últimas por média potência. As peças de

320mm tinham um alcance máximo superior aos 20km, nas outras o mesmo alcance era de

18km e 12km, respetivamente. (Almeida, 1968, p.226-230). “Os deslocamentos eram

rápidos, e as próprias linhas férreas serviam de plataformas de tiro. A dispersão de tiro era

muito pequena, mesmo nos alcances máximos” (Almeida, 1968, p.229).

O CAPI tinha as “condições de poder ser empregue para bater: pontos de apoio

fortemente organizados, localidades e estações de caminhos-de-ferro importantes, nós de

comunicações, pontes e vias de comunicação de reabastecimento, parques, bivaques,

posições de artilharia com fortes abrigos, parques de aviação e instalações de balões

cativos” (Almeida, 1968,p. 230). Como afirma Martins (1938), no seu estudo, tinha como

principal caraterística bater objectivos inalcançáveis por outro tipo de peças.

33 Embarcação que fez jus ao nome do cosmógrafo Pedro Nunes que descobriu que a trajetória mínima

percorrida por um barco entre dois pontos da terra é um arco de circunferência e não uma linha recta. 34

Consultar ponto 9, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI 35

Consultar ponto 2, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI 36

(1ª,2ª,3ª,4ª,7ª,8ª e 9ª)

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Capítulo 1 – Estado da Arte

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Apesar de todos os esforços Portugueses, relativos ao completamento do Corpo,

não foi conseguido o efetivo necessário para preencher organicamente nenhum dos

Grupos. O material necessário à instrução não era em número suficiente, nomeadamente na

palamenta e acessórios, material topográfico, planos diretores, plantas, ramais e material

telefónico. A instrução comum das tropas, começou no dia 10 de novembro, com a peça de

320mm e no dia seguinte o Comandante do Corpo, Homem de Teles e seu adjunto37

,

partiram para Lisboa para serem colocados numa outra unidade militar. Para o efeito foi

nomeado, no dia 29 do mesmo mês, provisoriamente, a Comandante do Corpo, o Major

Xavier Pereira. Este deparou-se com a escassez do efetivo optando preencher o 1º Grupo

com elementos dos outros dois, de forma a entrar no conflito o mais rapidamente possível

(Almeida, 1968, p.232).

Mais tarde, a 15 de janeiro, o comando do CAPI foi transferido para o Tenente-

Coronel Tristão da Câmara Pestana, onde de imediato, vetou a medida que o Major Xavier

Pereira propusera, pois foi informado que estavam prestes a receber mais um contingente

Português, que havia de dar entrada a dia 18, a bordo do vapor francês Rome. Este apoio

deu um forte contributo permitindo completar organicamente os 1º e 2º Grupos e

alcançando assim as condições necessárias para receberem instrução, mais intensivamente,

de forma a poderem ser empregues, num curto espaço de tempo. Através do excelente

desempenho demonstrado pelas tropas Portuguesas, em todas as sessões, o General Maurin

endereçou uma carta, ao Comandante do CAPI, no dia 13 de fevereiro, a felicitar o

contingente, salientando a importância do seu emprego em missões futuras (Martins, 1938,

p.99) e (Almeida, 1968, p.232). “Tais eram as lisonjeiras disposições técnicas e morais que

animavam o corpo Português, quando de súbito, sem a mais ligeira indicação anterior, foi

recebida, no mês de Fevereiro, a notícia de que o CAPI ia ser incorporado no CEP em

reforço da artilharia pesada deste corpo…” (Martins, 1938, p.99).

Ainda segundo o mesmo autor, em finais do ano de 1917, haviam ocorrido

divergências, de âmbito político entre os Governos Português e Britânico, e às quais o

Governo Francês não teve capacidade de oposição, levando à incorporação de parte do

Corpo no CEP. Este facto, não causou um prejuízo para o França, de forma catastrófica,

uma vez o seu Exército tinha organicamente pessoal, de origem americana, para

guarnecimento do material de Artilharia Pesada.

37 Major José Paulo Fernandes Júnior

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Capítulo 1 – Estado da Arte

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A notícia transmitida pelo Ministro da França, Émile Daeschner, em 26 de fevereiro

de 1918, enfatizou a necessidade da incorporação com “vantagem de garantir uma maior

homogeneidade e ao mesmo tempo um reforço apreciável à artilharia do exército Inglês”

(Martins, 1938, p.100). O Coronel38

Tristão da Câmara Pestana mostrou-se relutante em

anuir à ordem e argumentou não haver “um perfeito acordo de vistas entre os desejos do

comando Francês, aliás muito favoráveis à continuação dos Portugueses como

colaboradores, e os do governo Francês, menos conservadores e cordiais (…)” (Martins,

1968, p.100). Segundo Almeida (1968), o pedido foi redigido a 11 de março do decorrente

ano.

No dia 14, chegou um telegrama dizendo que todas as providências haviam sido

tomadas para que o Corpo fosse transferido para o Exército Britânico, no entanto “a

fracção do CAPI, pronta da instrução e completa em material, ia obedecendo às ordens do

comandante da artilharia Francesa a que estava subordinada, entrar em campanha na frente

Francesa” (Martins, 1938, p.100). Assim sendo, no dia 12, a 1ª Bateria do 1º Grupo,

comandada pelo Capitão António Gonçalves Pinto Júnior, marchou para Vailly-Sur-

Aisne39

, às 20 horas e 30 minutos, cumprindo assim a ordem que havia sido dada na

véspera. O objetivo desta missão era destruir algumas Baterias inimigas, registadas por

fotografia aérea, dissimuladas num bosque, a sul de Aizelles. A posição ocupada pelo

CAPI foi a n.º 75640

, dos ramais de Soupir41

(Martins, 1938, p.101) e (Almeida, 1968,

p.235), “coberta, para o norte, pelo planalto do celebérrimo Chemin des Dames, rasgado

nessa altura pela ravina arborizada que conduz à herdade de ´Cour de Soupir´, à entrada da

qual ficam os restos da povoação de Soupir” (Martins, 1938, p.101).

Segundo os autores Martins (1938) e Almeida (1968), a Bateria abriu fogo a uma

distância de 17700 metros, perfazendo um total de 60 tiros atingindo um resultado de tal

forma satisfatório que o observador aéreo Francês conclui a transmissão da observação

com Bravo Portugais42

.

Martins (1938) afirma que as tropas chegaram ao campo militar de Bailleul-Sur-

Thérain na certeza de que a qualquer momento passariam a estar sob o comando Britânico,

38 Entretanto promovido

39 Consultar ponto 3, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

40 Posição não referenciada em qualquer dos mapas em arquivo.

41 Consultar ponto 4, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

42 Termo usado para congratular o desempenho das tropas Portuguesas

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Capítulo 1 – Estado da Arte

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no entanto, os desenvolvimentos da guerra adiavam indeterminadamente esta ordem de

marcha.

A 21 de março foi desencadeada a grande ofensiva Alemã, com vista a romper a

frente Franco-Britânica (Almeida, 1968, p.236), iniciando-se com batalha da Picardia, em

que o General Ludendorff43

tencionava por em prática o seu plano de vitória. “1º- fazer

uma brecha profunda entre os exércitos Francês e Inglês e tomar Amiens; 2º- prosseguir

com ofensivas divergentes e, por um lado, esmagar o exército Inglês impelindo-o sobre o

litoral e, por outro lado, procurar o caminho de Paris pelo Oise, torneando o Exército

Francês” (Martins, 1938, p.102). Face a tais acontecimentos, o CAPI foi colocado de parte

pois era referenciado como “esse pequeno organismo de Artilharia Português” (Martins,

1938, p.102). O Comandante do Corpo levou como ofensa a sua inação e ofereceu os seus

serviços ao Alto Comando Francês, enviando ao General Herr44

, a 26 de março, a seguinte

nota:

“O CALP, sob o meu comando, enquanto não recebe ordens definitivas sobre o seu

ulterior destino, desejando contribuir com o seu modesto esforço para a vitória dos aliados

na grande batalha que actualmente está travada, põe-se incondicionalmente à disposição de

V.Ex.ª, caso V.Ex.ª julgue poder utilizá-lo” (Almeida, 1968, p.236).

Com o avançar da guerra as posições ocupadas, pelo Corpo, em Bailleul-Sur-

Thérain, tornaram-se insustentáveis, obrigando os militares a partirem para o campo de

Mailly45

“levando todo o material que fosse transportável. Efetivamente no dia 29 de

Março partia o corpo para Mailly em três comboios. Entretanto o General Herr tinha

transmitido ao GQG a oferta dos serviços dos portugueses e as suas propostas de emprego

do corpo foram aceites” (Martins, 1938, p. 103). No dia 5 de abril, foi recebida a ordem,

por telegrama, de colocar parte do CAPI à disposição do GQG Francês, onde foi solicitado

o envio de relatórios diários com o emprego das nossas forças, no campo de batalha. Por

decisão do General citado foi estipulado que só o 1º Grupo e o Estado-Maior do Corpo,

acompanhassem o Exército Francês; o restante deveria partir para a respetiva incorporação

no CEP (Martins, 1938, p. 103) e (Almeida, 1968, p.238).

43 Entrou para a Academia de Guerra no ano de 1893 e aos 17 anos de idade já tinha o posto de alferes. Foi o

encarregado de providenciar um plano para a concentração de forças no caso da violação da Bélgica, país

neutral. Participou no ataque a Liége em Agosto de 1914 e foi o líder da grande investida primaveril Alemã

em 1918. (s.a., 1945, 564) 44

Não foi encontrada qualquer referência à personalidade mencionada. 45

Consultar ponto 5, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

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Capítulo 1 – Estado da Arte

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A 6 de abril foi recebida nova ordem, proveniente do Alto Comando Francês, na

qual estipulava que as 2ªs e 3ª

s Baterias do 1º Grupo ficariam sob a alçada do 4º Exército

Francês, sendo “artilhadas com material de 190mm e seriam destinadas a fazer parte do

agrupamento de St. Rémy-sur-Bussy46

, perto de Suippes. Este IV Exército operava na

Champagne, a leste de Reims, e era comandando pelo general Gouraud que nos

Dardanelos perdera o braço direito” (Martins, 1938, p.103-104). À 1ª Bateria como ainda

não havia sido atribuído material, aguardavam por diretrizes em Mailly, segundo o mesmo

autor. Seguindo o estudo de Almeida (1968), o restante contingente partiu, a 9 de abril para

Havre47

, sob o comando do Tenente-Coronel Daniel Rodrigues de Sousa.

O 1º Grupo, exceto a 1ª Bateria, foi empregue a 18 de maio, ocupando os ramais da

ALGP 162 e 16848

e tinham como objetivos a trincheira de comunicação de Altona e os

observatórios da trincheira da herdade de Ripont. Partiram para a posição de tiro no dia 16,

às 19 horas e regressaram a 18, à noite, sendo o tiro efetuado a uma distância de 9800

metros e com observadores no terreno. Ao todo foram gastas 182 munições, 58 disparadas

pela 2ª bateria e 124 disparadas pela 3ª. A 2ª teve um menor consumo de munições devido

à morosidade da observação (Martins, 1938, p.104-105) e (Almeida, 1968, p.238). “As

informações finais dos resultados do tiro diziam que o da 3ª bateria fora magnífico e o da

2ª bom, mas um pouco mais moroso” (Martins, 1938, p.105).

Em 27 de maio a Alemanha começou a avançar sobre as posições da frente,

ocupadas pela Artilharia Francesa, obrigando estes a retirarem o seu equipamento.

Consequentemente, o mesmo se sucedeu com o 1º Grupo do CAPI, onde a 2ª e 3ª Bateria

se reuniram com a 1ª, no campo de Mailly (Martins, 1938, p.105-106) e (Almeida, 1968,

p.240). A retirada veio trazer consequências ao Corpo Português pois “em 11 de Junho, o

grupo é informado que já não fazia parte do agrupamento de St. Remy, ficando à

disposição do GQG e devendo somente receber ordens da 1ª Divisão da RGA”(Martins,

1938, p.106).

Em 25 de junho o comandante do CAPI recebe uma nota da RGA, na qual é

enfatizada a necessidade do 1º Grupo seguir para Havre, com vista a desembarcar em

Inglaterra, juntando-se ao restante Corpo (Almeida, 1968, p.240). Por outro lado, segundo

o estudo de Martins (1938), não foi do interesse do Ministério do Armamento Francês a

46 Consultar ponto 6, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

47 Cidade Francesa localizada a norte do país e com grande proximidade a Inglaterra.

48 Consultar Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

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Capítulo 1 – Estado da Arte

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saída do CAPI e foi proposto ao Grupo o seu emprego em trabalhos para a defesa do

campo entrincheirado de Paris, consistindo na “construção de trincheiras contra

bombardeamentos aéreos, carga e descarga de material e guarda ao depósito de munições e

ramais de tiro” (Almeida, 1968, p.240).

A 20 de setembro o Governo Português anuiu ao acordo, o qual causou a

insatisfação do Comando do Corpo que tentou remediar a situação redigindo àquele as suas

intenções da participação na verdadeira missão, o combate. O Governo não respondeu aos

pedidos mencionados, levando o Comando Francês a colocar o contingente na região de

Saint-Hilaire Le Grand49

, a 8 de outubro, vulgarmente conhecido como o ‘destacamento

dos trabalhadores Portugueses’ onde tinham como ofício a construção de uma nova linha

férrea que ligava Suippes50

a St. Martin L’Heureux51

com a cooperação de civis,

prisioneiros e das tropas especiais Italianas. Este plano foi crucial, uma vez que os

Alemães tinham por hábito destruir o sistema de comunicações quando se retiravam de

determinado local. Por outro lado, foi deveras importante para que a Artilharia Pesada

pudesse fazer tiro, sendo fundamental a reparação das estradas e vias férreas (Martins,

1938, p.108-109).

A 25 de outubro as 1ªs e 2ª

s Baterias juntamente com o Estado-Maior deslocaram-se

para a região de Autry52

enquanto a 3ª Bateria foi destinada para Minancourt53

, fazendo

serviços nos depósitos de munições, carregando e descarregando-as, para a preparação de

uma ofensiva que havia de começar no dia 1 de novembro (Martins, 1938, p.109) e

(Almeida,1968, p.241).

“No dia 6 de Novembro os comunicados anunciavam um movimento de retirada

geral dos Alemães em toda a frente sob a acção dos sucessos obtidos pelas ofensivas

aliadas dos últimos dias” (Martins, 1938, p.109).

Os Alemães começaram a perder a guerra, “sentindo-se exaustos, caminhavam para

a derrota. Efetivamente nunca mais as tropas aliadas deixaram de progredir e as inimigas

de retirar. No dia 11 de Novembro às 11 horas era assinado o armistício e desde então

restabeleceu-se o silêncio da paz em toda a frente da batalha” (Martins, 1938, p.110).

49 Consultar ponto 7, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

50 Consultar ponto 8, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

51 Não foi encontrada a posição da localidade supracitada.

52 Consultar ponto 10, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

53 Consultar Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

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Capítulo 1 – Estado da Arte

19

No dia 10 de novembro, foi dada a ordem para marcharem para Inglaterra,

chegando dia 12 ao Havre, sendo os militares efusivamente saudados pela população

circundante. “ (…) o próprio comboio ia enfeitado com bandeiras Portuguesas e Francesas

e com ramos de folhagem colhidos nas paragens. (…) A notícia do armistício aliviava a

humanidade inteira do maior pesadelo que, desde o início do mundo, sobre ela caíra”

(Martins, 1938, p.110-111).

Almeida (1968) salienta que no dia 15 do mesmo mês, o Grupo desembarcou em

Aire-sur-la Lys54

e em 16 alojou-se em Crecques55

. Entretanto, no dia 30, o General

Comandante do CEP dissolveu o comando do CAPI, ligando apenas o 1º Grupo à 2ª

Divisão do CEP, e passou a denominar-se Grupo de Artilharia Pesada.

Este Grupo teve ainda como missão “o arrasamento de trincheiras e levantamento

de arame farpado numa zona próxima, trabalhos que se prolongaram até Março de 1919”

(Martins, 1938, p.111).

“Foi o único grupo de artilharia pesada que conservou até ao final a sua

organização e a última unidade dessa arma que regressou a Portugal” (Almeida, 1968,

p.243).

54 Consultar ponto 11, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

55 Consultar ponto 12, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

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20

Capítulo 2

A Artilharia Pesada sob via-férrea

2.1 A introdução na guerra

A corrida ao armamento pesado começou desde muito cedo a fazer parte integrante

das prioridades dos países intervenientes na guerra, sendo os Alemães pioneiros na sua

aquisição, exibindo esta capacidade, aquando da invasão a Liége56

, em 1914, com “os

efeitos devastadores de um morteiro austríaco fabricado pela Skoda, de 42cm de calibre,

que se deslocava por via-férrea, e disparava uma granada de 1.130Kg, contendo uma carga

de 120Kg de alto explosivo e tendo um alcance de 7Km ” (Afonso e Gomes, 2003, p.443).

Segundo Afonso e Gomes, e com vista a bater alvos em profundidade, os Alemães

foram buscar as peças de grande calibre às existentes nos seus couraçados e adaptavam-nas

a fim de conseguirem uma maior elevação e consequentemente atingirem maiores

alcances. “(…) Esta técnica teve a sua expressão máxima com o ‘Grande Max’, que era

uma peça naval de 15 polegadas (381mm), modificada para 8,6 polegadas (218mm) e com

um tubo acrescentado, podendo disparar, com uma inclinação superior a 45º, uma granada

de 102Kg, dos quais 73 de alto explosivo, a cerca de 115Km de distância (…)” (Afonso e

Gomes, 2003, p.444).

Para fazer frente à criação Alemã, os Franceses decidiram criar um corpo de

Artilharia Pesada, que marcava o seu deslocamento por via-férrea. O emprego deste tipo de

armamento já havia sido empregue, noutros moldes, anteriormente57

. “Baseava-se nas

peças de grande calibre da artilharia de costa, desviadas das suas fortalezas tornadas inúteis

56 Consultar ponto 15, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

57 “(…) , remonta à guerra civil da América do Norte. Na campanha do Transvaal os ingleses empregaram o

processo” c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão

do C.A.P.I.

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Capítulo 2 – A Artilharia Pesada sob via-férrea

21

pelo desenvolvimento da guerra, mas agora montadas em plataformas de caminho-de-ferro

e destinadas a missões de tiro especiais” (Afonso e Gomes, 2003, p.444).

2.2 O material

O CAPI, subordinado à RGA Francesa, obteve o seu material de uma unidade

francesa, criada para fazer frente à Artilharia Pesada Alemã. Esta unidade era conhecida

como ALVF, e era um organismo de Artilharia Pesada que marcava o seu deslocamento

por via-férrea.

Nos finais de 1915, a ALVF tinha em orgânica material de 190mm, 240mm,

274mm, 305mm, 320mm, 340mm, 370mm e 400mm, encontrando-se ainda em construção

uma peça de 520mm. O material encontrava-se sob um reparo e eram classificadas em 2

grupos:

- Consoante o sítio de onde realizavam o tiro

- Consoante a sua capacidade no tiro horizontal

O primeiro ponto referia-se ao local onde se executava o tiro, diretamente na via-

férrea ou através de uma plataforma solidária com a mesma. A sua capacidade, ou não, de

fazer tiro a 360º era a condição explícita no segundo item58

. Ir-se-á reforçar as peças de

190mm, 240mm e 320mm, pois foram estas que equiparam os militares do CAPI.

Relativamente à peça de 320mm existiam 3 modelos distintos, o 1870-81, 1870-84

e 1870-93 “ diferindo entre si: o primeiro dos dois outros no comprimento da alma59

,

respectivamente de 25 e 30 calibres; e uns dos outros nos sistemas da culatra60

e pequenas

particularidades”61

.

O reparo existente no material não permitia colocar uma elevação superior a 40º e

dada a natureza do mesmo não era exequível efetuar pontarias em direção, a não ser pelos

58 Idem

59 Comprimento do tubo

60 “parte móvel do mecanismo de carregamento das armas de fogo de retrocarga, destinada a introduzir a

munição na câmara, travá-la, obturá-la e a extrair o invólucro após a explosão da carga propulsora” (Costa, J.

A., & Melo, A. S., 1997, p.510) 61

c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I.

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Capítulo 2 – A Artilharia Pesada sob via-férrea

22

ramais de tiro62

, que tinham uma graduação própria e serviam de orientação às bocas-de-

fogo63

. A granada da peça de 320mm pesava cerca de 387Kg e os alcances dependiam dos

modelos já referenciados. No caso do 1870-81 chegavam aos 16200 metros e nos restantes

aos 20600 metros. Durante as missões de tiro as munições, transportadas em vagões64

especiais, ficavam à retaguarda da boca-de-fogo, e quando necessárias eram transportadas

através de uma “comprida calha montada num truck65

e fazendo vai-vem entre o vagão de

munições e o reparo66

-truck”67

.

Cada Bateria de 320mm, tinha dois tipos de trens68

, os de tiro e os de

acantonamento69

. Os primeiros eram compostos pelas “4 peças, 4 transportadoras, 4 ou

mais vagões de munições, 2 vagões de palamenta,1 vagão comando (…) ”70

. Era usual

haver uma locomotiva para cada peça. Os trens de acantonamento tinham “4 trucks de

vigotas71

, 1 vagão secretaria, 1 vagão para oficiais, 1 para sargentos, 5 para cabos e

soldados, 1 vagão-cozinha, 1 vagão de víveres, vagões cisternas e de carvão e 1 ou 2

locomotivas”72

.

“A guarnição de cada peça compunha-se de 1 sargento, 4 cabos, 30 soldados

serventes, 1 telefonista e 3 artífices”73

.

62 “Tinham uma forma circular, o que permitia disparar em qualquer direcção, ou mais frequentemente em

arco de círculo, com os vários ramais, tantos quantos as peças, dispostos de forma a facilitar a regulação do

tiro de todas as peças sem perdas de tempo” (Afonso e Gomes, 2003, p.445)

63 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I. 64

“veículo ferroviário, que pode ser automotora, destinado normalmente a transporte de mercadorias” (Costa,

J. A., & Melo, A. S., 1997, p.1832) 65

“(…); camião, camionete de carga.” (s.a.,1973, p.724) 66

“(…), suporte móvel ou fixo de uma boca-de-fogo ou arma pesada destinada automática, destinado a

oferecer apoio estável ao tiro e a permitir a execução mecânica da pontaria” (Costa, J. A., & Melo, A. S.,

1997, p.1551) 67

c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I. 68

“conjunto de militares e de viaturas que fornecem à unidade a que pertencem apoio de abastecimentos,

evacuação e manutenção” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.1786) 69

“modalidade de estacionamento militar, com utilização de edificações já existentes no local;

aquartelamento” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.28) 70

c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I. 71

“ (…) material de via-férrea para arranjos e adaptações na linha,(…) ” (Afonso e Gomes, 2003, p.445). 72

c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I. 73

Idem

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Capítulo 2 – A Artilharia Pesada sob via-férrea

23

2.3 A preparação, execução e observação do tiro

Para que as bocas-de-fogo conseguissem efetuar tiro com sucesso tinham de realizar

uma série de operações, denominadas de “operações preliminares”, “cálculos preparatórios

dos elementos topográficos e de pontaria” e o “cálculo definitivo dos elementos iniciais do

tiro”74

. O sistema Lambert75

proporcionava a realização das operações preliminares em

simultâneo com a construção dos ramais de tiro. Após isto, eram verificadas e procedia-se

à determinação das coordenadas dos ramais e possíveis pontos de referência, que se

encontrassem nas imediações. A graduação dos ramais de tiro era o último detalhe a ser

tratado76

.

Os cálculos preparatórios dos elementos topográficos e de pontaria eram “feitos a

seguir à designação do objectivo”77

e com a Bateria “em posição”78

.

Tudo isto seguia a seguinte ordem:

- “ Determinar distância entre os centros das plataformas ou ramais e o alvo ou

ponto de regulação; o dos azimutes dessas direcções; o das correcções a introduzir no

alcance (elevação) e direcção para atender à influência do ângulo de sítio79

, da derivação80

,

da paralaxe do ramal, do lote das munições empregue, dos erros dos aparelhos de pontaria

e do regime relativo81

das bocas de fogo e ainda nos tiros a muito grande distância, da

curvatura e da rotação da terrestres”82

. O tiro de Artilharia podia ser executado por “salvas

de bateria”83

ou por “rajadas”84

. Nas salvas cada peça fazia um tiro, começando num dos

74 Idem

75 Sistema usado na altura para se fazer a referenciação de lugares usando um sistema de coordenadas.

76 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I. 77

Idem 78

Idem 79

“Ângulo agudo vertical formado pela linha de sítio com o horizonte da arma. Pode ser positivo ou

negativo” (EME, 2007, pp.7) 80

É o ângulo horizontal medido entre o plano de projeção e o plano vertical que contém a origem e um ponto

qualquer da trajetória” (EME, 2007, pp.8) 81

“Traduz a diferença de velocidades iniciais entre cada boca-de-fogo e outra, previamente selecionada para

padrão (bfD)” (EME, 2007, pp. 8) 82

c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I. 83

Idem 84

Idem

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Capítulo 2 – A Artilharia Pesada sob via-férrea

24

lados e segundo determinado intervalo de tempo. As rajadas consistiam em cada boca-de-

fogo fazer o número de tiros previstos no menor intervalo de tempo possível85

.

Durante o tiro havia dois períodos; o da regulação e o da eficácia. No primeiro

caso, pressupunha um ajustamento do tiro, de modo a levá-lo ao local pretendido86

. Na

eficácia pretendia-se obter os efeitos em determinado objetivo.

A fase da observação do tiro podia ser efetuada por duas vias: terrestre e aérea,

através de forças em observatórios ou em balões/aeroplanos, respetivamente. Todas as

comunicações da Bateria para o escalão superior, equipas de referenciação e balões eram

por via do telefone87

, “… com os aeroplanos, por projectores e quadros de tela (panneaux);

destes com as baterias, por telegrafia88

sem fios ou, excepcionalmente, por despachos

lacrados”89

.

85 Idem

86 Denominado ponto de regulação

87 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I. 88

“sistema electromagnético de transmissão de sinais escritos à distância” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997,

p.1728) 89

c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do

C.A.P.I.

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25

Capitulo 3

O CAPI no contexto operacional

3.1 O Corpo no 6º Exército Francês

3.1.1 A sua preparação

O CAPI encontrava-se em treinos no campo militar de Bailleul-Sur-Thérain,

quando no dia 13 de fevereiro de 1918, o General Maurin fez uma visita e mostrou-se

extremamente agradado com o nível de proficiência demonstrado na instrução pelo Corpo.

Nesta altura, já tinha tomado posse90

o Tenente-Coronel Tristão da Câmara Pestana,

informado de uma possível reorganização do CAPI.

A 1 de março o 1º Grupo, mais especificamente, “a Iª Bataria partiria para afrente a

fim de executar uma sessão de fogo contra o inimigo”91

e passados três dias receberam

material de combate, nomeadamente, capacetes e máscaras para todo o seu pessoal92

. No

dia seguinte, o Comandante do Corpo tentava, por todos os meios, fazer ver ao Ministro da

Guerra a importância que o CAPI tinha dentro da RGA, além da missão a desenvolver com

uma das Baterias93

.

Porém, o comando do Corpo, não tardou a receber a notícia, via telegrama,

proveniente de Lisboa, a informação da sua passagem para Inglaterra, junto do CEP e em

90 15 de Janeiro de 1918 (Martins, 1938, p.99)

91 c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“A ida à frente do Iº

Grupo) 92

Simultaneamente o General Herr toma funções como Inspetor Geral da Artilharia e Comandante da RGA -

Idem 93

Idem

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

26

reforço do CAP. Tomou então a iniciativa de ir ao Quartel-general daquele organismo ver

o que se passava na frente Inglesa. O comandante constatou, com desagrado, que o apoio e

consideração que recebiam dos Franceses era indelevelmente superior ao recebido pelo

CAP. Esta insatisfação tomou tamanhas proporções que julgou inaceitável a situação que o

Comando Português criou ao CAPI, pedindo a destituição do cargo, caso Portugal não

enviasse o efetivo necessário para completar o Corpo94

. A decisão havia sido tomada

através de um consenso Britânico e Francês95

.

A Ordem de Corpo, do dia 11 de março, determinava que a 1ª Bateria96

, partiria de

Bailleul-Sur-Thérain para a região de Vailly, com o seu Estado-Maior, aguardando ordens

do 6º Exército Francês para ocuparem a posição, em dois comboios97

, espaçados 5 horas98

entre si. Durante a tarde, os militares prepararam o trem de acantonamento do Estado-

Maior do Grupo, ao qual se agregavam um vagão para oficiais e um vagão cozinha,

proveniente de uma Bateria de 190mm.

No dia 12, como planeado, o deslocamento do Grupo ocorreu sem qualquer tipo de

percalços, chegando os comboios a Vailly às 16 horas e 30 minutos e 20 horas e 30

minutos, respetivamente. Ocupada a posição foram difundidas ordens, com vista a

desenvolver a segurança e a disciplina no Grupo, assim como, as comunicações deste para

a central da região de Vailly. No entanto, os problemas com esta central impediram o

estabelecimento de comunicações, tornando necessário adotar um plano de contingências,

que passava pela ligação à estação de Nauroy99

.

3.1.2 A missão

94 No entanto a decisão havia sido tomada pelos Altos Comandos Franceses e Britânico - Idem

95 Idem

96 320mm

97 “Cada peça de 32cm com o seu trem de combate formava um combóio. Cada trem de combate era,

geralmente, constituído, além da viatura, peça e do vagão transportador anexo, por um ou mais vagões de

munições, um vagão de vigotas de ferro para assentar na via com o material a complementar para o

assentamento, um vagão de palamenta e acessórios com material diverso para o serviço de limpeza da peça e

reservas, uma locomotiva e o respectivo vagão-cisterna” (Martins, 1938, p.98) 98

O primeiro partia às 8 horas e o segundo às 13 horas c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI

pelo Major Luciano Cordeiro (“A ida à frente do Iº Grupo)) 99

“A mais de 2 km. da garage”, no entanto não foi referenciada em mapa. Idem

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

27

A posição que o Grupo haveria de ocupar para realizar a sessão de tiro seria em

Soupir, na posição 756, e como tal o Comandante da Bateria foi a Missy-Condé, coordenar

ações com o aviador, que havia de observar o tiro100

.

Na manhã de 15, chegaram à região as equipas responsáveis para a montagem das

comunicações da Central e do posto de TSF101

. Durante a tarde, o Comandante do Grupo

tomou conhecimento da missão específica do CAPI. Esta operação consistia na destruição

de Baterias Alemãs, localizadas a Sul de Aizelles102

, a cerca de 18km. A observação seria

efetuada através das vias aérea e terrestre, sendo esta última em 3 observatórios. Foram

disponibilizadas 100103

munições, para a consecução desta missão.

Na análise documental verificou-se a referência apenas ao emprego de uma Bateria

independente e não a um Grupo. Deste modo, o Major Luciano José Cordeiro104

dirigiu-se

ao Comandante do Corpo, pedindo para “ser um mero espectador” de forma a facilitar a

comunicação da Bateria para a Artilharia do Exército. O pedido foi refutado pois, no

entender do Coronel, a Convenção Militar, assinada em 1917, não previa o emprego de

uma Bateria isolada, mas sim de um Grupo105

.

“Convencionou-se então que o Grupo receberia a ordem para marchar para a

posição tres horas antes, pelo menos, da marcada para a abertura do fogo, tempo que o

Comandante do Grupo julgava mínimo indispensavel para a série de operações que a

bataria teria de efectuar: deslocamento para a posição e entrada em bataria,

estabelecimento das linhas interiores e das réguas, cálculo definitivo dos elementos iniciais

do tiro, carregamento, pontaria e assentamento dos reparos sôbre as vigotas”106

.

No dia 16, às 9 horas e 50 minutos, o chefe da missão Francesa107

ordenou ao

Comandante do Grupo a partida imediata para a posição estipulada, não informando no

entanto, a janela de tempo na qual ocorreria o tiro. Nesta sequência, partiram dois

comboios da estação de Vailly; o 1º às 10 horas e 45 minutos e o 2º às 11 horas, ficando a

100 Entretanto já haviam sido disponibilizadas fotografias aéreas da área de objectivos, bem como o ponto de

regulação, pelo Capitão Amat, comandante das baterias onde o material era proveniente - Idem 101

Era montado pela aviação que iria fazer a observação do tiro - Idem 102

Consultar ponto 13, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI 103

O consumo de munições para a missão era restrito - Idem 104

Comandante do 1º Grupo 105

c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“A ida à frente do Iº

Grupo”) 106

Idem 107

Major Chatenet, Idem

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

28

Bateria em posição às 12 horas. Chegados ao local, verificou-se que os fios usados na

montagem das linhas telefónicas estavam defeituosos, sendo necessário remendá-los na

posição. Devido ao atraso do 1º tiro, que saiu às 13 horas e 15 minutos, “ao sinal do

avião”108

resultou no descontentamento do General, Comandante da RGA, com a Bateria,

pelo atraso do plano previsto, ou seja, devia ter começado a fazer fogo às 12 horas e 30

minutos e não 45 minutos depois.109

O Capitão Amat ficou no vagão de comando, juntamente com o Capitão Gonçalves

Pinto, Comandante da 1ª Bateria, despoletando sérias discussões entre ambos sobre a

forma como devia ser feita a execução do tiro. As 5ª, 6ª e 7ªs salvas foram observadas por

via terrestre, uma vez que o avião tinha dado lugar a um outro que o havia de render110

. “O

último tiro, com granada S.T., foi dado ás 19h.15, estando já a cair a noite; o avião retirara-

se ás 18h.40m, expedindo um último despacho: ‘Bravo Portugais’ ”111

. Haviam sido gastas

60 munições e efetuadas 10 salvas.

Após o fim de missão o General Marchal dirigiu umas palavras ao contingente, nas

quais frisava o atraso ao início do tiro, logo ripostada pelo Coronel da Câmara Pestana,

justificando que o atraso em nada se deveu aos Portugueses, mas sim à falta de

comunicação proveniente do Alto Comando Francês. As palavras proferidas pelo General

Duchene112

foram mais apaziguadoras, nas quais “felicitou o Comandante do Corpo pela

bela atitude do pessoal e excelentes resultados do tiro, mostrando desejo de conhecer o

Comandante da Bataria a quem igualmente felicitou”113

.

3.2 O Corpo no 4º Exército Francês

3.2.1 A missão

108 Idem

109 Idem

110 Era um processo moroso

111 c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“A ida à frente do Iº

Grupo) 112

Comandante do 6ºExército, Idem 113

Idem

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

29

A Bateria estacionou no campo militar de Bailleul-Sur-Thérain, a 19 de março de

1918, após ter concluído a missão que lhe havia sido incumbida114

.

No dia 21, emergiu uma grande ofensiva dos Alemães, que tornou perigosa a

posição ocupada pelo Corpo, no campo acima mencionado. De forma a evitar situações

constrangedoras este partiu a 29 para Mailly, distribuído em 3 comboios. Por decisão do

General Herr, então Comandante da RGA e Inspetor-geral da Artilharia, somente o 1º

Grupo se fixaria em França, sob alçada do 4º Exército115

, partindo o restante, para reforço

do CAP, em Inglaterra116

. Igualmente, estabeleceu-se, que as 2ª e 3ª Baterias do 1º Grupo

ficariam equipadas com peças de 190mm (Martins, 1938, p. 104).

A 1ª Bateria, guarnecida com o material de 320mm, e que havia cumprido a missão

transata do CAPI, ficou em Mailly, aguardando receção do material de duas Baterias de

240mm. As 2ª e 3ª ficaram subordinadas ao Major Blot em St. Rémy-Sur-Bussy. O Grupo

apresentava, contudo, inúmeras deficiências em equipamento, “tinha ainda mascaras dum

modêlo já pôsto de parte, por incomodo e pouco eficaz e sómente em fins de maio recebeu

as de novo modêlo; não possuia metralhadoras, que a todas as baterias pesadas eram

distribuidas para defesa contra os aviões inimigos e nunca chegou a tê-las; não possuía

estação receptora de TSF, nem material de ‘camouflage’117

, nem cartuchos para as

espingardas que lhe tinham dado, nem granadas para inutilisação do material, nem material

para consolidação da via dos ramais (…)”118

. Não obstante, foram denotadas outro tipo de

lacunas, onde “(…) não se praticára em exercícios de ‘tiro mudo’119

as diferentes

modalidades da regulação, da taragem das munições, da regimagem das bôcas de fogo; não

se estudara os segredos do mascaramento; (…)”120

.

Por forma a retificar a situação demonstrada, o Comandante do CAPI dirigiu ordens

para que o Grupo se deslocasse para as proximidades de St-Rémy-Sur-Bussy. O

contingente chegou a 13 de abril, com o intuito de colmatar as falhas da instrução e tomar

114 c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”). 115

O Comandante era o General Gouraud. 116

Ver Cap.5 – O CAPI no contexto disciplinar, onde é retratado com mais pormenor todas as acções

desenvolvidas pelo Corpo em Horsham, Inglaterra. 117

Material de camuflagem usado. 118

c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”). 119

Tiro em seco 120

c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”).

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

30

nota das condições do material, operação concluída a 7 de maio. Foi ainda pedido neste

mesmo dia, ao Comandante de Grupo, um ponto da situação, afirmando este as ótimas

condições em que se encontravam as 2ª e 3ª Baterias não dando certezas, porém, das

condições da 1ª, uma vez que esta se encontrava fora do seu alcance, em Mailly. Fazia

parte dos seus intentos reunir todo o Grupo e levá-lo consigo para a frente de batalha121

.

Foi do conhecimento geral a saída do Major Blot, do Comando do Subagrupamento de St.

Rémy, e a tomada de posse do Major Michaud122

.

Às Baterias prontas123

, foi incumbida uma missão, que constava na ocupação das

posições 162124

e 168125

, nas proximidades de Suippes e Laval126

, respetivamente. A

primeira ação destas unidades foi efetivar o reconhecimento do terreno, em 9 e 10 do

mesmo mês. Um dos problemas levantados foi a colocação do Posto de Comando do

Grupo, concluindo-se que a melhor posição seria a 142-bis127

, no entanto, a distância era

tão grande que a única maneira do tiro ser controlado era através de uma Central de

Artilharia128

.

No dia 16 de maio, o Comandante do Grupo foi informado, via telefone, que a

saída para as posições seria feita em 2 trens. O primeiro “formado pelos trens de combate

das duas batarias com locomotivas, outro pelo acantonamento (…)”129

. Partiram, às 19

horas e às 20 horas, respetivamente, estando as bocas-de-fogo em posição às 2 horas de

17130

. Durante o amanhecer “tratou-se de montar as linhas telefónicas do vagon de

comando do Grupo para a Central do campo, (…)”131

.

121 Não se veio a verificar pois o 1º Grupo foi para Sommesous.

122 c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”). 123

2ª e 3ªs Baterias.

124 “ficava a 4km, a nordeste de Suippes e a 7,5 das trincheiras mais avançadas dos alemães; (…)” – c.f.

PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no Exército

Gouraud”). 125

ficava a “cêrca de 2km . a oeste-noroeste de Laval, estava apenas a pouco mais de 6Km. das primeiras

posições inimigas (…) ” - Idem 126

Consultar Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI 127

De forma a conseguir-se chegar o mais rapidamente a cada uma das Baterias. Consultar Anexo B - mapa

da região de intervenção e mobilização do CAPI (2) 128

c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”) 129

Idem 130

No documento consultado faz referência a 18 mas há equivoco 131

c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”)

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

31

Os objetivos, disponibilizados às 2ª e 3ª Baterias, através de fotografia aérea, eram

a trincheira de comunicação de Altona132

e os observatórios de Ripont133

, por esta ordem,

operando cada uma delas com 128 munições134

.

O dia de 17 de maio foi preenchido com ações de contrabateria de ambos os lados,

havendo inclusive registos de granadas a cair em frente da posição 168135

. As Baterias

Portuguesas começaram a sua missão no dia seguinte, pelas 13 e 13 horas e 30 minutos,

pela 3ª e 2ª, respetivamente136

.

“Ás 15 horas 55minutos. a 3ª Bataria cessava fogo, tendo consumido 124 tiros (os

restantes 4 projécteis não foram disparados por se terem recebido a menos 4 cartuchos). Ás

16 h.30m. a 2ª Bataria cessou fogo por ordem do Comandante do Grupo, por ter a

S.R.OT.137

interrompido a observação e declarado que não podia continuar. Tinha

disparado 58 tiros”138

. Logo após o fim da missão deu-se o regresso das Baterias a St.

Rémy, à posição 266139

.

O relatório do tiro140

mostrou grande eficácia da 3ª Bateria, no entanto a 2ª não teve

a mesma sorte, como se pode verificar na transcrição:

“O tiro da 3ª Bataria foi magnífico; á terceira salva, o acôrdo das peças estava

estabelecido e o ponto médio bem colocado, como mostraram as duas salvas de prova. A

velocidade de tiro foi boa: em média, aproximadamente I tiro por minuto e meio,

chegando, nas rajadas de eficácia, a cêrca de 2,5 tiros por minuto. A 2ª bataria foi menos

feliz; teve contra si o descarrilamento da Iª peça logo ao primeiro tiro, os ‘não visto’ dos

pontos de queda da 3ª peça, na primeira e segunda salva, a falha da 4ª peça na quinta salva,

e a morosidade e irregularidade da observação; quando, vencendo todas essas dificuldades,

ia entrar no tiro de eficácia, viu-se forçada a parar. Mas não cometeu êrros e o seu pessoal

132 Distância topográfica à Bateria era de 9818 metros

- Idem

133 Distância topográfica à Bateria era de 9815 metros - Idem

134 Cada vagão de munições levava 64 munições. c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo

Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no Exército Gouraud”) 135

Consultar Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI 136

c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”) 137

Equipas de observação 138

c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”) 139

Consultar Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI 140

‘Rapport de tir’ e as folhas de cálculo das 2 Baterias

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

32

trabalhou com a mesma energia e boa vontade que o da outra, e que, em geral todo o do

Grupo”141

.

3.2.2 Os trabalhos na posição 262

Regressados à posição a 19 de maio, surgiu a 24 uma ordem de marcha, onde

estava implícito o deslocamento das 2ª e 3ª Baterias para a posição 262142

, a fim de

efetuarem trabalhos de acabamento da posição e ao mesmo tempo continuarem a ter

instrução. Para que esta ação decorresse continuamente, estabeleceu-se a libertação, para

os trabalhos de 100 militares por dia, iniciando com um horário laboral das 6 horas às 11

horas da manhã e das 13 horas às 18 horas.

Assim, as Baterias partiram, chegando à posição “depois da meia-noite”143

e a

informação que circulava era que os trabalhos consistiam em reparações férreas,

substituição dos canais e dos ramais de acesso, por um período previsto de 20 dias.

Nos dias seguintes, o alvoroço foi grande na posição, devido à ofensiva Alemã, a

27 de maio, que obrigou à retirada das 2 Baterias para o Campo de Mailly, agregando-se à

1ª (Martins, 1938, p.105 e 106).

3.2.3 “Em Sommesous”

O decorrer da guerra trazia novas perspetivas, impulsionando o Governo Inglês a

pedir o ingresso do 1º Grupo144

para junto do CAP bem como, dos restantes elementos do

Corpo145

. No dia 28 de junho de 1918, foi feita toda a entrega do material das Baterias, por

ordem dos altos comandos militares aliados, que haviam atribuído à ALVF um papel

secundário, levando o CAPI a dissolver-se ou então a reduzir ainda mais o seu contributo

141 c.f. PT/AHM/1ª/35ª/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano Cordeiro (“O Iº Grupo no

Exército Gouraud”) 142

“(…) estava situada aproximadamente a 20 km. para sudeste de Reims, perto do canal do Aisne (…)” -

Idem 143

Idem 144

O que restava do Corpo 145

Análise da Ordem de Corpo n.º 76, de 27 de Junho de 1918.

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

33

no conflito.146

Esta decisão foi, no entanto, constantemente adiada sendo orientado o

Grupo à participação na rotina diária do campo, sem se salientar numa função de grande

relevância. “O Grupo dava então: guardas (…) para o depósito de munições da Escola de

Tiro; (…) polícia aos ramais durante os exercícios que aí se realisavam diariamente;

piquete de incêndio ao Campo e contingentes para a carga e descarga de material de guerra

na estação (…) ”147

. Apesar de todo o impasse da situação, o terreno onde se encontravam

era constantemente bombardeado pela aviação e Artilharia inimigas. Começaram a surgir

novidades quando o encarregado do material148

de guerra das tropas aliadas recebera

ordens para fornecer às Baterias do 1º Grupo material 190mm e 240mm.149

Um objetivo das tropas aliadas, para o mês de setembro, era tomar a linha

Hindenburg. O 1º Exército Americano, coadjuvado por forças Francesas, lançou-se à

conquista de St.Mihiel, em 12 de setembro, ocupando-o em 3 dias, obrigando os Alemães a

recuarem até à linha Michel. Esta ação perspectivou-se fundamental para o ânimo e moral

das tropas Portuguesas, que ao que tudo indicava iriam brevemente contribuir para o

conflito.

3.2.4 Os trabalhos de construção

Todavia, o destino traçado ao Grupo fora outro. Aquando do deslocamento do

Coronel Câmara Pestana a Paris, em 20 de setembro, recebeu informação das intenções de

colocar o CAPI na execução de trabalhos de reconstrução, nomeadamente, de vias férreas e

estradas. A decisão não era, naturalmente, conveniente e do agrado das tropas Portuguesas,

no entanto, a ordem para a sua consecução estava determinada. A 7 de outubro, o Grupo

partiu da estação de Sommesous150

, ficando a 1ª e 2ª Baterias no PC Rose151

e a 3ª no

bosque de La Chapelle152

153

.

146 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia pelo Major Luciano José Cordeiro (“Em Sommesous”)

147 Idem

148 Tenente-Coronel

149 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia pelo Major Luciano José Cordeiro (“Em Sommesous”)

150 Consultar ponto 14, Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

151 2km acima de St.Hilaire.

152 A sul de Aubérive, na margem esquerda do rio Suippe

153 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia pelo Major Luciano José Cordeiro (“Em Sommesous”)

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Capítulo 3 – O CAPI no contexto operacional

34

Durante a restante guerra o grupo procedeu a este tipo de trabalho, um pouco por

toda a região, culminando-o com a sua extinção154

.

154 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia pelo Major Luciano José Cordeiro (“De Suippes a Autry”)

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35

Capítulo 4

O CAPI no contexto disciplinar

4.1 A indisciplina

No dia 9 de abril de 1918, era decretada em Ordem de Serviço a mobilização de

parte do Corpo para a incorporação no CEP, em Havre, sendo constituído pelas 4ª, 5ª, 6ª,

7ª, 8ª e 9ª Baterias e Bateria de Depósito. Todo o Destacamento levava para a viagem o

equipamento individual, designadamente, fardamento e mantas, que haviam sido

distribuídas, e a ração para 5 dias155

.

O contingente partiu no dia 10156

, pelas 23 horas e 45 minutos, sob o comando do

Tenente-Coronel Daniel Rodrigues de Sousa157

, permanecendo em Inglaterra cerca de 8

meses, sendo a sua dissolução efetuada no dia 30 de novembro (Martins, 1938, p.111).

Durante este curto período de tempo verificaram-se graves insubordinações e falta

de disciplina, por parte deste contingente Português, sobretudo no seu início.

O presente estudo foi baseado nos documentos telegrafados dos dias 23158

, 24159

,

25160

e 27161

de abril de 1918, e redigidos pelo Major Casqueiro162

.

No dia 23, deu-se a conhecer ao Chefe de Estado-Maior, pela mesma via, a

insubordinação dos Portugueses, por se recusarem a assistir à instrução do material Inglês

155 c.f. PT/AHM/1/35/1445/1 – CAPI (COMANDO) – Ordens de Serviço – “Ordem de Serviço n.º 95 do dia

9 de Abril de 1918” 156

Segundo o Major Luciano José Cordeiro, a Ordem de Serviço afirmava a saída do Destacamento no dia 9

de Abril de 1918. Após leitura da mesma a constatação é falsa. 157

c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia do CAPI – “A grande ofensiva alemã” 158

Consultar Anexo C – Telegrama de dia 23 de Abril de 1918 159

Consultar Anexos B,C e D – Telegrama de dia 24 de Abril de 1918 e 2º Telegrama de dia 24 de Abril de

1918 160

Consultar Anexo E – Telegrama de dia 25 de Abril de 1918 161

Consultar Anexos F – Telegrama de dia 27 de Abril de 1918 162

Adido militar em Inglaterra. cf. PT/AHM/1/35/1416/7

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Capítulo 4 – O CAPI no contexto disciplinar

36

imposto para a sua formação, no dia transacto163

. O Comandante da Escola da Artilharia164

,

em Horsham, reportou superiormente a situação, impondo, caso a ordem não fosse acatada

pelas praças, proceder-se-ia à separação das Baterias do Destacamento pelos diversos

quartéis em Inglaterra165

. Outra das propostas foi a formação das praças, em parada, e se

prendessem as principais suspeitas até todas as responsabilidades estarem apuradas. No

entanto, a rebelião no seio destas foi tão grande, que se constatou a impossibilidade de

encontrar os verdadeiros responsáveis, ficando decidido que a melhor solução seria fazer

um inquérito aos militares166

. É feita também referência à falta de Oficiais dos quadros no

contingente, uma vez que a maioria eram Oficiais milicianos 167

.

No telegrama de dia 24, é referida a ideia de fazer a incorporação das diferentes

Baterias pelos diversos quartéis Ingleses, sendo esta medida desencorajada pois “pode

trazer graves inconvenientes porque estes elementos de desordem e indisciplina a ninguem

convem”168

.

Para que fosse imposta a disciplina no Destacamento de Artilharia Pesada, foi

proposto pelo Major Casqueiro, a criação de uma força Inglesa, em número adequado, para

impor a boa conduta do Destacamento, só devendo a mesma ser extinta após a prisão de

todos os responsáveis pelo motim que invadia as tropas Portuguesas169

. O caso era tão

crítico, que existe uma alínea no referido telegrama que previa: “a intervir sob a força das

armas a pedido do comando portuguez todas as vezes que este julgue necessaria a sua

intervenção ”170

.

Entretanto, caso a prisão dos supostos responsáveis não fosse resolutiva, no

respeitante às ordens emanadas superiormente, e ainda existissem atitudes de indisciplina,

a separação das forças seria a melhor solução. Assim, divididas, receberiam em cada uma

das suas unidades, todas as instruções de Artilharia, que necessitavam bem como todos os

163 PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de Horsham,

do CAPI – “Telegrama do dia 27 de Abril de 1918” 164

Coronel Child - Idem

165 c.f. PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de

Horsham, do CAPI – “Telegrama do dia 23 de Abril de 1918” 166

Medida ineficaz, uma vez mais. 167

c.f. PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de

Horsham, do CAPI – “Telegrama do dia 23 de Abril de 1918” 168

PT/AHM/1/35/1416/7 – Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de Horsham,

do CAPI – “Telegrama do dia 24 de Abril de 1918” 169

Idem 170

Idem

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Capítulo 4 – O CAPI no contexto disciplinar

37

corretivos de âmbito disciplinar. Estava tudo a ser encarado com tamanha seriedade, por

forma a suprimir este tipo de comportamentos, que se chegou ao ponto de distribuir aos

Oficiais “ (…) revolvers regulamentares com as respectivas cargas para sua propria

segurança e para manutenção da ordem nos casos em que nao seja necessario intervir

forças extranhas ”171

.

A dia 25 mencionou-se o insucesso das medidas inibidoras de indisciplina, no

Destacamento, incluindo ainda a abstinência dos Oficiais para com as praças, de forma a

não levarem mais longe a respetiva insubordinação. A força armada era contudo uma ação

a evitar, pois apesar de toda a insubordinação patente, a prudência seria a melhor solução.

Outra das razões apontadas pela falta de coesão no seio do Destacamento era a presença de

alguns oficiais pois “sou da opiniao que alguns dos que aqui estao, tem de ser mandados

apresentar n’esse Q.G. ”172

.

Neste mesmo dia houve uma formatura geral173

, marcada pela atitude irrefletida do

Tenente-Coronel Rodrigues de Sousa que “ (…) dirigiu-se ao General Robb em portuguez

apresentando-lhe os seus cumprimentos e apontando para as praças disse-lhe que era a

corporação dos maiores cobardes que tinha visto. Em altos brados e n’esta attitude hostil

para com as praças instigou-os a que avancassem para elle se iram capazes agarrando eu

este official e pedindo-lhe para que fosse embora porque a sua excitação dava-me a

perceber que estava fora de si ”174

. O General Robb anunciou, em formatura, que faria uso

à força caso o nível disciplinar no Destacamento não sofresse positivas alterações, atitude

que não era do seu agrado devido à longa aliança que Portugueses e Britânicos

partilhavam175

. O Major Casqueiro foi ter com cada um dos Comandantes de Bateria para

estes indicarem as praças, que segundo o seu comportamento, haviam de abandonar

Horsham. Houve a designação de sargentos para acompanharem os infratores, no processo

de expulsão do Destacamento. O furto marcou, também, indelevelmente a ação Portuguesa

no seio do Corpo verificada numa revista, nesse mesmo dia, onde se encontraram “ (…)

171 Idem

172 c.f. PT/AHM/1/35/1416/7 – Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de

Horsham, do CAPI – “Telegrama do dia 25 de Abril de 1918” 173

Presidida por dois Oficiais Generais (Robb e Chance) e presença do Comandante do Destacamento 174

c.f. PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de

Horsham, do CAPI – “Telegrama do dia 27 de Abril de 1918” 175

O primeiro tratado entre os países citados remonta ao ano de 1373, aquando do auxílio Britânico aos

Portugueses na batalha de Aljubarrota frente aos Espanhóis.

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Capítulo 4 – O CAPI no contexto disciplinar

38

muitas facas de todos os tamanhos, muniçoes de arma de infantaria que as praças tinham

trazido de França, mascaras de gazes, etc. ” 176

.

Foi descrito ainda a intenção superior de não criar o referido Corpo Inglês, mas

antes proceder ao envio de tropas Portuguesas para Inglaterra ou Portugal; intenção

refutada pelo Major Casqueira. Segundo este, caso se enviassem estas forças para França a

ação revelar-se-ia um fracasso, uma vez que o seu nível de indisciplina traria problemas

nas forças que incorporassem. No entanto as opções apresentadas mostravam-se

infrutíferas, pois mesmo que a opção fosse mandar o contingente para Portugal isso seria

um incentivo à insubordinação 177

.

Apesar da gravidade da situação, às 9 horas de dia 26 de abril “estavam as forças

em formatura começando a essa hora a instrucçao de gymnastica sueca178

e as 10 horas a

instrucçao de peças que decorreu sem novidade ”.179

4.2 Os processos em Tribunal

Esta ação impulsionadora de insubordinação no seio militar trouxe consequências

aos indivíduos que nela participaram, uma vez apuradas responsabilidades.

Os militares geradores da revolta, que levou à não participação dos mesmos na

instrução do material Inglês, sofreram as respetivas represálias em TG180

, sendo

contabilizados 52 militares181

envolvidos no ato de insubordinação e todos oriundos da

classe de praças. A participação dos arguidos em TG ficou efetivada no dia 6 de julho de

1918 e as sentenças confirmadas no dia 23, em Ordem de Serviço182

.

176 c.f. PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de

Horsham, do CAPI – “Telegrama do dia 27 de Abril de 1918” 177

c.f. PT/AHM/1/35/1416/7 – Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de

Horsham, do CAPI – “Telegrama do dia 25 de Abril de 1918” 178

Conjunto de movimentos usado nas Forças Armadas que promoviam a boa postura através de exercícios

desenvolvidos para o aumento da flexibilidade, tonificação muscular e redução de dores. 179

c.f. PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento de

Horsham, do CAPI – “Telegrama do dia 27 de Abril de 1918” 180

Consultar Anexo G – Militares condenados do Destacamento de Horsham 181

No registo do TGC aparecem os militares ordenados do n.º 1 ao 53, no entanto existe uma falha na

contagem no n.º 27 para o 29. 182

c.f. PT/AHM/1/35/938 – T.G.C. – Livro m/3

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Capítulo 4 – O CAPI no contexto disciplinar

39

As penas foram desde os 6 anos e um dia de presídio militar com as penas

acessórias de 6 anos e um dia de deportação militar183

aos 8 anos de presídio militar com as

penas acessórias de 8 anos de deportação militar184

. O caso presentemente tratado foi o que

revelou maior gravidade no seio do Corpo, existindo no entanto situações particulares em

que a insubordinação185

, a infração disciplinar186

e a deserção187

também estiveram

presentes.

Em França a disciplina mostrou-se mais acentuada nos militares e os casos

presentes em tribunal foram diminutos188

, dentro dos quais o mais gravoso foi a

deserção189

.

4.3 A censura

Durante o tempo que o CAPI esteve empregue em campanha, os militares tinham

acesso a um serviço de correspondência, que passava obrigatoriamente, pela censura geral

de correspondência190

. Esta teve no seu reportório inúmeros casos de indivíduos que

violaram o Regulamento de Censura191

.

Um caso bastante crítico e digno de exemplo foi o passado no dia 16 de abril de

1918, no qual tinham chegado 334 cartas redigidas pelos militares do CAPI, reveladoras de

insinuações de transgressão dos deveres de sigilo e do respeito militar, de tal forma

gravosas, que a censura viu-se obrigada a confiscar todas a correspondência que ia para

expedição, sendo toda ela era oriunda de praças192

, contendo declarações insultuosas para

183 Aos restantes 51 militares – Idem

184 Aos arguidos José Maria Canário (1º cabo) e João da Cruz Alves (soldado) – c.f. PT/AHM/1/35/1507 –

Livro n.º 14 – Movimento dos processos do Tribunal 185

Consultar Anexo I – “Militar referenciado por insubordinação” 186

Consultar Anexo J – “Militar referenciado por infração disciplinar” 187

Consultar Anexo K – “Militar referenciado por deserção” 188

Uma insubordinação presente em tribunal a 20 de Agosto de 1918 e uma evasão no dia 8 de Julho de 1919

– anexos PT/AHM/1/35/1507 – Livro 14 – Movimento dos processos do tribunal e PT/AHM/1/35/936/7 –

Tribunais de Guerra – Relação das praças presas vindas de França que desembarcaram no dia 8 de Julho de

1919 e se evadiram. 189

Consultar Anexo H – Caso de deserção de uma praça oriunda do CAPI, em França 190

A correspondência que iria para expedição apenas podia ser consumada após ter sido censurada por uma

unidade especial, criada para o efeito. O número de correspondência era tão elevada que não se tornava

possível fazer a análise de todas as cartas logo a correspondência analisada vinha de uma lista proveniente da

comissão de censura (Serrão, 1925, p.15) 191

c.f. PT/AHM/1/35/639 - CAPI (COMANDO) – Serviços: Saúde, Justiça, Participações, Postal e Censura 192

Idem

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Capítulo 4 – O CAPI no contexto disciplinar

40

com a classe de Oficiais “ (…) a quem atribuem a culpa de não regressarem a Portugal por

quererem mais galões e por se acharem ganhando bem, (…), não são cá precisos”193

.

Manuel Veríssimo Nunes chegava mesmo mais longe insinuando que “ (…) qualquer dia

apanho alguns que ficam marcados para toda a vida”194

.

Estas atitudes muitas são muitas vezes atribuídas ao mal estar das tropas durante

ações que delinearam a Grande Guerra, onde o tempo excessivo em campanha e nas

“frentes” de combate afetavam psicologicamente o bem estar. Durante o conflito foram

inúmeros os casos, reportados, de oficiais que vinham a Portugal de descanso e não mais

voltaram, o que encadeou toda uma panóplia de revoltas preconizadas, substancialmente,

pela classe das praças. No entanto, o motivo primordial deste tipo de atitudes irrefletidas

prende-se ao facto das unidades adjacentes procederem à substituição das tropas enquanto

o CAPI, atuando como organismo independente do Exército Português não tinha

rotatividade.

193 Idem

194 Idem

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41

Considerações Finais

Com o deflagrar da Grande Guerra foi necessário, por parte dos países em conflito,

aprontar militares de forma a prestarem o seu contributo. Portugal, como país interveniente

auxiliou o Exército Francês, seguindo a convenção militar de maio de 1917, com militares

de Artilharia, contribuindo com um efetivo constituído a 3 Grupos de Artilharia e uma

Bateria de depósito, surgindo assim o CAPI.

A questão que se colocou e se tornou o objetivo principal deste trabalho, dando

origem a algumas questões derivadas é:

QC: Teve o CAPI um papel essencial no desenrolar do conflito?

QD1:Como e em que moldes foi feita a preparação do CAPI?

QD2:Como foi equipado o CAPI?

QD3:Conseguiu o CAPI cumprir as missões que lhe confiaram, com sucesso?

QD4:Houve a ocorrência de problemas de âmbito disciplinar com o CAPI

durante o seu empenho?

Com vista a fazer frente à superioridade Alemã, os Franceses decidiram criar em

1915 uma unidade de Artilharia Pesada, que tinha em orgânica, peças de Artilharia Pesada

utilizadas pelo CAPI, durante a sua curta existência.

Para dar resposta à primeira questão apoiamo-nos nas ações inerentes à criação e

preparação deste Corpo, além da forma como estes eram inseridos em campanha. O

Governo Português objetivando tirar o máximo aproveitamento do empenhamento do

CAPI, decidiu em primeira instância nomear um grupo de oficiais e sargentos, incumbidos

de receber uma formação, com início a 5 de junho de 1917, para à posteriori conseguirem

enquadrar convenientemente o restante contingente que haveria de chegar. Esta foi

alicerçada numa componente material, nomeadamente na peça de 320mm e o seu respetivo

emprego no ambiente operacional. O local escolhido pelo General, comandante da RGAL,

foi Bailleul-Sur-Thérain, porque além de reunir todas as condições para albergar um

grande número de militares possuia ainda as peças citadas de um Grupo da região. Outra

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Considerações Finais

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questão que necessitava ser rapidamente solucionada era a tradução do Francês dos

manuais da peça, de forma a facilitar o estudo e aprendizagem das praças. A instrução

iniciou-se com a formação de oficiais e sargentos, que incluía todo um conhecimento

pormenorizado do material, formação detalhada no âmbito das transmissões e da

sinalização baseada em código Morse. Após concluída esta componente individual passou-

se à coletiva, onde o princípio estava assente no completo conhecimento das funções de

cada servente, para conseguirem responder às exigências que se iriam fazer sentir em

ambiente hostil. No dia 17 de outubro deu entrada na região de Rochy-Condé e Beauvais

um efetivo composto por 778 militares, aptos a receber a instrução de manuseamento do

material, que ocorreu em 10 de novembro de 1917. Com esta síntese estamos em condições

de assegurar uma resposta à primeira questão e podemos dar como válida a H1195

.

A segunda questão irá ser respondida com base no apoio ao Cap. 2 – A Artilharia

Pesada sob via-férrea.

Todo o equipamento necessário a operabilidade do CAPI foi cedido pelo Exército

Francês com o intuito de os ajudar a marcar a sua posição no conflito.

O material que equipou as Baterias do CAPI foram as peças de 190mm, 240mm e

320mm. As últimas existentes em 3 versões distintas, nos modelos o 1870-81, 1870-84 e

1870-93, sendo a principal diferença entre elas a gama de alcances. É essencial, por forma

a compreender a evolução da Artilharia Pesada ao longo dos tempos, fazer um estudo

comparativo entre o modelo da época e o atual. Ir-se-á tomar como exemplo o obus que

equipa, a Brigada de Intervenção Portuguesa e fazer um juízo de valores em alguns pontos.

O primeiro será o peso da granada, na qual a primeira tinha um peso que rondava os 387kg

e no Obus M114/53 o seu peso é de 43Kg. A peça de 320mm tinha no entanto um alcance

maior já que podia chegar aos 20600m enquanto no modelo de comparação rondava os

14600m. A guarnição para uma peça de 320mm tinha um efetivo de 39 militares, já o Obus

155mm M114/53 usa uma guarnição de 9 mais 1 condutor.

Estamos neste ponto em condições de garantir resposta à QD2 e dar como válida a

H2.

Para respondermos à terceira questão temos de analisar o Cap.3 – O CAPI no

contexto operacional, onde retiramos as bases para a construção das elações apresentadas.

Somente o 1º Grupo do CAPI esteve envolvido em termos operacionais junto dos 4º e 6º

195 Ver Introdução – Subcapítulo Definição dos objetivos

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Considerações Finais

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Exército Francês, uma vez que em Inglaterra os restantes 2 Grupos não executaram ações

de campanha. O período compreendido entre a instrução da equipa inicial de formadores,

que enquadrou todo o contingente do Grupo para a guerra e a sua primeira missão ao

serviço do 6º Exército Francês, inserido na RGA, perdurou 9 meses.

A primeira missão coube à 1ª Bateria do 1º Grupo, no dia 12 de março de 1918 e

visava a destruição de algumas Baterias Alemãs localizadas a 18km de distância, numa

região a sul de Aizelles. A missão apesar de cumprida sofreu um atraso de 45 minutos que

podia ter comprometido a consecução da mesma. Passados 2 meses uma segunda missão,

ao serviço do 4º Exército, foi levada a cabo pelas 2ª e 3ª Baterias, nas quais apenas a 3ª

esteve em condições de assegurar o cumprimento da missão.

Os problemas com que se deparou o Grupo, desde as comunicações, atrasos no tiro,

deficiências em material, equipamento e transmissões às lacunas na instrução, não obstante

o impedimento da execução de ambas as missões, não nos permite validar completamente

a H3. Em síntese podemos concluir que a H3 é parcialmente validada.

A resposta à última questão derivada está inserida no Capítulo 4 – O CAPI no

contexto disciplinar, onde foram analisados todos os registos de indisciplina que ocorreu

neste Corpo, com especial incidência sobre o Destacamento de Horsham, em Inglaterra. Os

membros do Corpo, que se recusaram a assistir à formação com o material Inglês,

encadearam um inúmero conjunto de situações, que levaram à apuração de

responsabilidades e à respetiva punição disciplinar em TG.

A rebelião existente levou o corpo de oficiais à tentativa de procurar soluções para o

problema deparado. A sua resolução assentava em 3 principais ideias. A primeira opção

seria proceder à separação das Baterias pelos diferentes quartéis Ingleses. A segunda seria

a realização de um inquérito aos militares do destacamento, com intenção de encontrar os

responsáveis. Por último, a terceira, tinha como resultado a deportação do Corpo de

Inglaterra. As três hipóteses foram refutadas, salientando a última, que caso avançasse

seria um incentivo à insubordinação. Os militares foram no entanto julgados em TG, no dia

23 de julho de 1918, sendo ao todo contabilizados 52 militares, todos oriundos da classe

das praças. As penas variaram dos 6 anos e 1 dia de prisão militar com uma pena acessória

de 6 anos e 1 dia de deportação militar até aos 8 anos de prisão militar e acessória de 8

anos de deportação militar. Existiram no entanto outras infrações, mais leves, mas que não

podem deixar de ser referidas, como é o caso da insubordinação e a deserção. Em França

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Considerações Finais

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os casos disciplinares foram escassos, havendo apenas um registo de uma situação de

deserção. Em suma e através da análise dos dados supracitados validamos a H4.

As elações retiradas das questões derivadas permite-nos assegurarem as condições

necessárias à resposta da questão central. O objetivo desta dissertação será compreender

até que ponto o CAPI teve um papel importante para o desenrolar do conflito. Fizemos

uma análise global da situação estando em condições de poder concluir, em primeira

instância, a importância do facto de o CAPI ter conseguido cumprir as duas principais

missões que lhe haviam incumbido, mesmo sendo considerados todos os problemas

presentes, desde as comunicações às lacunas na instrução. Apesar da sua curta existência,

cerca de 17 meses, o CAPI não atuou em nenhum cenário digno de seu nome, participando

apenas em conflitos de menor relevo e que pouco contribuíram para o desenrolar das

ações, ditadoras do rumo da Guerra. A disputa entre Governos Britânico e Francês levou

ao desmembramento do Corpo, separando-o por Inglaterra e França. Os militares sentiam

cada vez menos apoios e a indisciplina começou aquando do desembarque em Horsham,

Inglaterra. Assim sendo e fazendo a análise dos factos podemos concluir que o CAPI não

obteve um importante papel para o desenrolar do conflito, sendo um Corpo onde a

insurreição foi ponto assente.

O presente trabalho pautou o seu caminho pela crescente dificuldade na aquisição

da informação, o que devido ao pouco conhecimento existente sobre o assunto foi a

principal limitação encontrada. A informação existente fazia recurso a uma linguagem

arcaica revelando-se muitas vezes de difícil compreensão.

Esta dissertação, apesar de fazer uma abordagem geral sobre o CAPI e principais

ações ao longo da sua existência, não esgotou os motivos de interesse que a existência do

corpo proporciona, pelo contrário, consideramos que o nosso trabalho poderá servir de

catalisador a novas investigações. Um tema que nos surgiu como de maior interesse, mas

que saía fora do âmbito deste trabalho, é a abordagem às origens sociais que estão por

detrás da postura indisciplinada de alguns militares do CAPI.

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PT/AHM/1ª/35ª/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do

Destacamento em Horsham, do CAPI

PT/AHM/1ª/35ª/639 – CAPI (COMANDO) – Ordens de Operações

PT/AHM/1ª/35ª/639 – CAPI (COMANDO) – Organização: Instruções, Relatórios,

Louvores, Comandos, Instruções sobre tiro e indicações sobre o serviço de 1ª linha

PT/AHM/1ª/35ª/639 – CAPI (COMANDO) – Pessoal: Relações, Licenças e Guias de

Marcha

PT/AHM/1ª/35ª/639 – CAPI (COMANDO) – Serviços: Saúde, Justiça, Participações,

Postal e Censura

PT/AHM/1ª/35ª/639 – CAPI (COMANDO) – Registos de Correspondência: Expedida,

Recebida e Confidencial

PT/AHM/1/35/1445/1 – CAPI (COMANDO) – Ordens de Serviço : de Julho a Dezembro

de 1917 e de Janeiro a Maio de 1918

PT/AHM/1ª/35ª/640 – CAPI (Destacamento em Inglaterra, Horsham) – Correspondência

Confidencial

PT/AHM/1ª/35ª/640 – CAPI (Destacamento em Inglaterra, Horsham) – Serviços:

Administrativos, Postal, Censura, Saúde e Justiça

PT/AHM/1ª/35ª/640 – CAPI (Destacamento em Inglaterra, Horsham) –Material:

Fardamento e Livros de Carga (2)

PT/AHM/1/35/938 – T.G.C. – Livro m/3

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Referências Bibliográficas

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PT/AHM/1/35/938 – T.G.C. – Índice do livro dos autos

PT/AHM/1/35/936/4 – Tribunais de Guerra do C.E.P. – Notas de culpa

PT/AHM/1/35/1271/7 – Grande Guerra (1914/18) – C.E.P. – Organização dos Tribunais –

Nomeação de pessoal e seu funcionamento

PT/AHM/1/35/936/7 – 1919-20 – Tribunais de Guerra – Processos: que transitaram,

existentes nos tribunais, de presos evadidos, arquivados no comando do Campo Militar

Ambleteuse, dos réus e suas situações, presos enviados para o forte da Graça

PT/AHM/1/35/1416/12 – 1917-1918 – Tribunal Guerra do C.E.P. – Código de Justiça

Militar (aplicação em França) – Declaração do Tribunal de Guerra do CEP para SAMMER

PT/AHM/1/35/1507 – Índice de autos arquivados do Q.G.C. – Q.G.1 – Q.G.2 – Q.G.B

PT/AHM/1/35/1507 – Livro n.º 10 – Registo de autos e seu andamento

PT/AHM/1/35/1507 – Livro n.º 13 – Entrada dos autos de corpo de delito

PT/AHM/1/35/1507 – Livro n.º 14 – Movimento dos processos do Tribunal

PT/AHM/1/35/1507 – Livro n.º 11 – Registo de informações a que se refere o Artº 206 do

C.P

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EME. (2007). RC 20-110 Tiro de Artilharia de Campanha (Vol. I). Lisboa.

EME. (2007). RC 20-110 Tiro de Artilharia de Campanha (Vol. II). Lisboa.

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Santos, R. M. (2009). O poder instituído e a relação com o Exército entre 1901 e 1914.

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Anexos

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Anexo A - Mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI

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Fonte: PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro

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Anexo B - Telegrama de dia 23 de Abril de 1918

Fonte: PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento em

Horsham, do CAPI

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Anexo C - Telegrama de dia 24 de Abril de 1918

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Fonte: PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento em

Horsham, do CAPI

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Anexo D - 2º Telegrama de dia 24 de Abril de 1918

Fonte: PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento em

Horsham, do CAPI

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Anexo E – Telegrama de dia 25 de Abril de 1918

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Fonte: PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento em

Horsham, do CAPI

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Anexo F – Telegrama de dia 27 de Abril de 1918

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Fonte: PT/AHM/1/35/1416/7 - Processo relativo a uma insubordinação das praças do Destacamento em

Horsham, do CAPI

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Anexo G - Militares condenados do Destacamento de Horsham

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Fonte: PT/AHM/1/35/938 – T.G.C. - Livro m-3

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Anexo H - Caso de deserção de uma praça oriunda do CAPI, em França

Fonte: PT/AHM/1/35/936/7 – 1919-20 – Tribunais de Guerra – Processos: que transitaram, existentes

nos tribunais, de presos evadidos, arquivados no comando do Campo Militar Ambleteuse, dos réus e

suas situações, presos enviados para o forte da Graça

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Anexo I - Militar referenciado por insubordinação

Fonte: PT/AHM/1/35/1507 – Livro n.º 14 – Movimento dos processos do Tribunal

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Anexo J - Militar referenciado por infração disciplinar

Fonte: PT/AHM/1/35/1507 – Livro n.º 14 – Movimento dos processos do Tribunal

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Anexo K - Militar referenciado por deserção

Fonte:PT/AHM/1/35/1507 – Livro n.º 14 – Movimento dos processos do Tribunal

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Apêndices

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Apêndice A - Cronologia

1914

28 de Junho – assassinato do Arquiduque Francisco Fernando da Áustria

1 de Julho – inicio da Grande Guerra

Setembro – pedido do Governo Francês a Portugal para cedência de material de

Artilharia

1916

Setembro – pedido do Governo Francês a Portugal para cedência de militares a

guarnecerem o seu material de Artilharia

1917

17 de Maio – assinatura da Convenção Militar para o emprego das forças

Portuguesas de Artilharia Pesada

1 de Junho – deslocamento dos primeiros Oficiais para o campo militar de Bailleul-

Sur-Thérain

5 de Junho – inicia-se a instrução dos Oficiais Portugueses, responsáveis por

enquadrar o restante contingente

17 de Outubro – chegada do primeiro contingente a Rochy-Condé e o segundo a

Beauvais

10 de Novembro – instrução dos militares da peça de 320mm

11 de Novembro – Coronel Homem de Teles abandona cargo de comandante

ocupando o respetivo a título provisório o Major Xavier Pereira

1918

15 de Janeiro – Tenente-Coronel Câmara Pestana assume as funções de comandante

do Corpo

26 de Fevereiro – comando do Corpo é informado superiormente da passagem do

CAPI para alçada do Exército Britânico em data indefinida

12 de Março – 1ª missão em campanha incumbida à 1ª Bateria do 1º Grupo

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18 de Maio – 2ª missão efetuada pelas 2º e 3º Baterias do 1º Grupo

27 de Maio – Grande ofensiva Alemã

8 de Outubro – 1º Grupo é destacado para os trabalhos de construção

6 de Novembro – anunciada ao Grupo da retirada geral Alemã

11 de Novembro – assinatura do armistício

30 de Novembro – dissolução do CAPI

Elaborado pelo autor

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Apêndice B – Convenção Militar de 17 de Maio de 1917

A Convenção Militar para o emprego das forças de artilharia pesada junto do Exército

Francês, assinada em 17 de Maio de 1917, pelos ministros da guerra, Português e Francês

(Norton de Matos e Paul Painlevé), continha as seguintes disposições:

« Art. 1º - O governo Português fornecerá oficiais, sargentos, cabos, soldados, mecânicos

e artífices que forem necessários para a organização de baterias de artilharia pesada, em

número não inferior a quinze nem superior a trinta; o governo Francês fornecerá todo o

material necessário, inicial e da reserva, com excepção de fardamento, roupa e calçado que

serão fornecidos pelo governo Português.

Art. 2º - As baterias de artilharia Portuguesas serão agrupadas sob o comando de um oficial

Português, Coronel ou Tenente-Coronel de artilharia e constituirão um corpo de artilharia

pesada Português.

As baterias serão reunidas em grupos tácticos de duas, três ou quatro baterias do tipo dos

grupos de artilharia Francesa.

A cada um dos comandantes de grupos Portugueses poderá ser adjunto, como agente de

ligação, um oficial Francês de artilharia de graduação não superior à do dito comandante.

Art. 3º - O corpo de artilharia Português operará na frente ocidental nas posições que forem

determinadas pelo comando Francês. Quando as considerações de ordem táctica o

exigirem, este corpo de artilharia pesada poderá ser fraccionado e os seus diferentes grupos

empregues em sectores de operações diferentes.

Os grupos destacados continuarão a permanecer sob as ordens do Coronel Português em

tudo o que diga respeito à disciplina geral, à administração e à justiça militar.

Art. 4º - Missão Francesa «pequeno Estado-Maior» junto do Coronel.

Art.5º - Todas as despesas feitas pelo Governo Francês com as baterias Portuguesas de

artilharia pesada, tais como rações, forragens e equipamentos serão cobradas ao governo

Português pela forma que mais tarde for acordada pelos dois governos.

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No que diz respeito aos animais, armamento e outro material, somente as despesas iniciais

ficam a cargo do governo Português. As substituições e reparações ficam a cargo do

governo Francês.

Art.6º - Todo o material distribuído às baterias Portuguesas será, dada a sua distribuição,

considerado como propriedade do governo Português.

No fim da guerra, as baterias regressarão a Portugal com todo o seu armamento,

equipamento e todo o outro material que lhes será distribuído.

No que diz especialmente respeito a material de artilharia, a natureza deste material será

objecto, no fim das hostilidades, de um acordo entre o governo Francês e o governo

Português.

Art. 7º - A alimentação assegurada pelo governo Francês sendo o seu custo cobrado do

governo Português nas condições indicadas no art. 5º.

Art. 8º - O governo Francês adianta as importâncias precisas para vencimentos e outras

despesas, as quais serão cobradas do governo Português nas condições do art. 5º.

Art. 9º - O governo Português obriga-se a enviar mensalmente para França as reservas em

homens, uniformes, roupas e calçado que forem necessárias para manter a sua força

primitiva e em perfeito estado, enquanto durar a guerra, as baterias de artilharia pesada; o

governo Francês obriga-se a manter em perfeito estado os animais, armamento e outro

material distribuído às ditas baterias.

Art. 10º - Os doentes e feridos serão tratados nos hospitais e formações sanitárias

Francesas, mas o governo Português fornecerá um médico por cada bateria para auxiliar os

médicos Franceses, além dos médicos do quadro do corpo.

Art. 11º - A administração da justiça é da exclusiva competência dos oficiais Portugueses.

Julgamento nos tribunais do C.E.P. » (Almeida,1968,p:223).