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O caso Barings Bank Nicholas (Nick) Leeson concluiu o período escolar em 1984 e conseguiu um emprego no Banco Coutts; trabalhou em outros bancos até chegar ao Barings Bank, no início da década de 1990. O Barings Bank era uma das mais bem-sucedidas instituições financeiras inglesas e contava com mais de 200 anos de tradição foi fundado em 1763. O Banco contratou o jovem Leeson e o enviou a Singapura, para operar na Bolsa de Valores. Em 1992, Nick assumiu o cargo de operador de mercados futuros na bolsa de valores de Cingapura, a SIMEX (Singapore International Monetary Exchange). O Barings tinha uma cadeira na SIMEX havia algum tempo, porém ela só foi ativada com a chegada de Leeson. A atuação de Leeson na bolsa mais se assemelhou à de um especulador, uma espécie de jogador que bancava seu jogo com as fichas alheias. No filme, baseado em seu livro, seu personagem diz frases como essa: a bolsa de valores é um cassino”. Jovem e ambicioso, Leeson se rende aos riscos. Tudo que queria, como negociador de mercado futuro, era a chance de fazer dinheiro com ações. No início, suas operações especulativas chegaram a gerar ganhos da ordem de £10 milhões, o equivalente a 10% dos ganhos anuais da Barings. Nick recebeu um bônus de £130 mil em seu salário de £50 mil. Em 1994, Nick Leeson, que era visto como o mais promissor operador de operações no mercado futuro (derivativos) da instituição, obteve, pessoalmente, quase 20% dos ganhos do Barings. Isso o tornou muito poderoso no escritório do Barings em Cingapura, sem ter qualquer supervisão no que se refere aos seus limites operacionais. Leeson, acumulava funções na mesa de operações e na retaguarda operacional. Isso permitiu que ele cometesse operações não autorizadas e possibilitou a ocorrência de fraudes no mercado de derivativos da Bolsa de Cingapura. Ele criou a conta 88.888 - um número que simboliza "extrema sorte" na numerologia chinesa. Leeson alegou que a conta foi usada pela primeira vez para esconder um erro cometido por uma de suas funcionárias, chamada Kim: nervosa com a gritaria no balcão de operações, ao invés de comprar, Kim vendeu 20 contratos, causando um prejuízo de £20 mil ao Barings. A partir daí, tornou-se um hábito ocultar os próprios erros de Leeson na conta 88.888, que viria a se tornar famosa. Em outubro de 1994, foi detido por mostrar o traseiro para jovens de Cingapura, ato considerado criminoso naquele país. Seus superiores, em Londres, persuadiram o jornal The International Financing Review a alterar o texto referente ao incidente em sua coluna de fofocas. Enquanto seus dirigentes comemoram os lucros conquistados para o banco pelo rapaz, Nick começa desviar enormes quantias de dinheiro para cobrir as perdas de suas próprias apostas financeiras: é como roubar de Pedro para pagar a Paulo...”

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O caso Barings Bank

Nicholas (Nick) Leeson concluiu o período escolar em 1984 e conseguiu um emprego no Banco Coutts; trabalhou em outros bancos até chegar ao Barings Bank, no início da década de 1990. O Barings Bank era uma das mais bem-sucedidas instituições financeiras inglesas e contava com mais de 200 anos de tradição – foi fundado em 1763. O Banco contratou o jovem Leeson e o enviou a Singapura, para operar na Bolsa de Valores. Em 1992, Nick assumiu o cargo de operador de mercados futuros na bolsa de valores de Cingapura, a SIMEX (Singapore International Monetary Exchange). O Barings tinha uma cadeira na SIMEX havia algum tempo, porém ela só foi ativada com a chegada de Leeson. A atuação de Leeson na bolsa mais se assemelhou à de um especulador, uma espécie de jogador que bancava seu jogo com as fichas alheias. No filme, baseado em seu livro, seu personagem diz frases como essa: “a bolsa de valores é um cassino”. Jovem e ambicioso, Leeson se rende aos riscos. Tudo que queria, como negociador de mercado futuro, era a chance de fazer dinheiro com ações. No início, suas operações especulativas chegaram a gerar ganhos da ordem de £10 milhões, o equivalente a 10% dos ganhos anuais da Barings. Nick recebeu um bônus de £130 mil em seu salário de £50 mil. Em 1994, Nick Leeson, que era visto como o mais promissor operador de operações no mercado futuro (derivativos) da instituição, obteve, pessoalmente, quase 20% dos ganhos do Barings. Isso o tornou muito poderoso no escritório do Barings em Cingapura, sem ter qualquer supervisão no que se refere aos seus limites operacionais. Leeson, acumulava funções na mesa de operações e na retaguarda operacional. Isso permitiu que ele cometesse operações não autorizadas e possibilitou a ocorrência de fraudes no mercado de derivativos da Bolsa de Cingapura.

Ele criou a conta 88.888 - um número que simboliza "extrema sorte" na numerologia chinesa. Leeson alegou que a conta foi usada pela primeira vez para esconder um erro cometido por uma de suas funcionárias, chamada Kim: nervosa com a gritaria no balcão de operações, ao invés de comprar, Kim vendeu 20 contratos, causando um prejuízo de £20 mil ao Barings. A partir daí, tornou-se um hábito ocultar os próprios erros de Leeson na conta 88.888, que viria a se tornar famosa.

Em outubro de 1994, foi detido por mostrar o traseiro para jovens de Cingapura, ato considerado criminoso naquele país. Seus superiores, em Londres, persuadiram o jornal The International Financing Review a alterar o texto referente ao incidente em sua coluna de fofocas. Enquanto seus dirigentes comemoram os lucros conquistados para o banco pelo rapaz, Nick começa desviar enormes quantias de dinheiro para cobrir as perdas de suas próprias apostas financeiras: “é como roubar de Pedro para pagar a Paulo...”

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Nos dois primeiros meses de 1995, Leeson acumulou enormes perdas para o banco. Ainda assim, achou que estava certo e que, quando a situação do mercado se revertesse, o Banco Barings teria margens de lucro estratosféricas. “Já perdi a já ganhei, posso ganhar novamente”. Ele errou. Desesperado, resolveu arriscar tudo numa jogada “definitiva” burlando o sistema para recuperar todo o dinheiro que havia perdido. Em fevereiro de 1995, os auditores externos Coopers & Lybrand requisitaram documentos de Leeson. Ele então falsificou e enviou duas cartas simulando uma operação de balcão (operação fora da bolsa, pactuado entre partes), como tentativa de ocultar as operações não autorizadas. Ironicamente, foi a falsificação dos documentos que provocou sua prisão, pois não haveria pena de prisão apenas pela realização de operações não autorizadas. Assim, Leeson poderia ter quebrado o Barings e escapado da prisão caso não tivesse cometido a falsificação dos documentos. A ganância de Nicholas Leeson e as altas apostas, aliadas à falta de controle operacional viriam a arruinar o Barings Bank. O banco utilizada práticas de gestão informais que se davam na base da confiança. O banco falhou em não implantar meios de monitoração e controle adequados. Os frágeis controles internos do Barings e o conflito de interesses proveniente da política de bonificações aos executivos induziram Leeson a realizar operações não autorizadas durante um largo espaço de tempo. Observaram-se grandes falhas de controle :

o chefe dos operadores de pregão, responsável pela realização das operações, era também o chefe da equipe de retaguarda, responsável pelo registro das operações e pelo seu margeamento, o que revelava ausência de segregação de funções;

as linhas de comando e supervisão da unidade de Cingapura eram nebulosas – uma caixa preta, configurando um desenho organizacional inadequado;

os limites operacionais diários para as operações proprietárias eram desrespeitados, demonstrando a ausência de controle;

as operações com derivativos no mercado de balcão não estavam autorizadas e foram realizadas sem sanção (novamente, ausência de controle);

a auditoria interna era realizada por funcionários sem a capacitação necessária para comprovar a aderência das transações às exigências das normas internas, configurando deficiência de compliance).

No final do ano de 1992, as perdas da conta 88.888 totalizavam £2 milhões, e ao final de 1994 chegaram a £208 milhões. O começo do fim se deu em 16 de janeiro de 1995, quando Leeson executou uma operação apostando que o mercado japonês não mudaria de tendência até o dia seguinte. Mas ele não contava que, no dia seguinte, um terremoto atingia a cidade japonesa de Kobe, jogando abaixo os mercados asiáticos. Ele tentou recuperar suas perdas apostando mais uma vez em uma série de operações de alto risco arriscadas, acreditando em uma rápida recuperação do Nikkei (índice da Bolsa de Valores de Tóquio), o que não aconteceu. A recuperação não veio, e tudo o que Leeson fez foi cavar um buraco ainda mais fundo.

Em 23 de fevereiro de 1995, as perdas provocadas por Leeson chegaram a 600 milhões de libras, excedendo ao capital da empresa na época, no valor de 470 milhões. No dia seguinte ao pagamento das bonificações por desempenho relativas ao ano anterior, Leeson fugiu para a Malásia, seguindo para a Tailândia. Diz, então, seu personagem em fuga, no avião: “Bem feito, quem mandou o Mr. Barings contratar pessoas erradas !”. Acabou sendo preso na Alemanha e extraditado para Cingapura em 2 de março de 1995, enquanto sua esposa Lisa recebeu permissão para voltar a Londres.

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Leeson foi condenado a seis anos e meio de prisão. Depois de ser libertado, em 1999, por bom comportamento e com um câncer no cólon recém-diagnosticado, e ao qual sobreviveu, assumiu o cargo de CEO do time de futebol irlandês Galway United.

Nick Leeson tornou-se um requisitado orador do circuito empresarial de conferências, segundo a revista EXAME (17/10/2011).

As operações fraudulentas em Cingapura resultaram em um prejuízo de 850 milhões de libras do Barings Bank, que declarou insolvência no dia 26 de fevereiro de 1995 e foi comprado pelo banco holandês ING pela simbólica quantia de £1 (uma libra esterlina).

Leeson foi acusado somente pelos crimes de fraude que cometeu no cargo de operador-chefe, pois todas as suas transações eram autorizadas por seus superiores. Inúmeros estudiosos do caso, e até o próprio Leeson, puseram a maior parte da culpa pelo ocorrido no próprio Barings, cuja auditoria havia cometido inúmeras falhas. As próprias autoridades de Cingapura alegaram que os superiores de Leeson deveriam saber da existência da conta 88.888.

Leeson disse que nunca utilizou a especulação em benefício próprio, mas em 1996, o jornal New York Times noticiou investigações que apontaram contas em vários bancos, todas associadas a Leeson, totalizando 35 milhões de dólares.