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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 32 (II série) 25 de Julho de 2007 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA É de Coimbra a Presidente de 400 mil estudantes AGORA REELEITA FÉRIAS PÁG. 19 EM CONÍMBRIGA O DILEMA DE SAMPAIO PÁG. 15 PÁG. 2 Livro revela detalhes da demissão de Santana Ciência e cultura aliam-se à gastronomia REABRIU COM EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ PARA MARCAÇÕES: 969 453 735 Para proporcionar férias à sua equipa, o “Centro” não se publicará durante o mês de Agosto. Retomaremos o convívio com os nossos Leitores no dia 12 de Setembro. Até lá desejamos a todos umas boas férias, com muita saúde e paz. Centenário do nascimento de Miguel Torga DEZENAS DE ACTOS COMEMORATIVOS EM PORTUGAL E NO ESTRANGEIRO PÁG. 2 a 14 A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO Nos dias 27 e 28 de Julho e 1 de Agosto pode apreciar os astros após o jantar em sessões multimédia de astronomia na varanda do Restaurante orientadas por astrónomos No próximo dia 12 de Agosto completam-se cem anos sobre o nascimento de Miguel Torga. Razão pela qual grande parte desta edicção do “Centro” é dedicada ao Poeta

O Centro - n.º 32 - 5.07.2007

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Versão integral da edição n.º 32 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 25.07.2007. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 32 - 5.07.2007

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 32 (II série) 25 de Julho de 2007 ������ 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

É de Coimbraa Presidentede 400 milestudantes

AGORA REELEITA FÉRIAS

PÁG. 19

EM CONÍMBRIGA O DILEMA DE SAMPAIO

PÁG. 15PÁG. 2

Livro reveladetalhesda demissãode Santana

Ciênciae culturaaliam-se àgastronomia

REABRIU COM EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ

PARA MARCAÇÕES: 969 453 735

Para proporcionar fériasà sua equipa, o “Centro”não se publicará duranteo mês de Agosto.Retomaremos o convíviocom os nossos Leitoresno dia 12 de Setembro.Até lá desejamos a todosumas boas férias,com muita saúde e paz.

Centenáriodonascimentode MiguelTorga

DEZENAS DE ACTOS COMEMORATIVOSEM PORTUGAL E NO ESTRANGEIRO

PÁG. 2 a 14

A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SEPARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO

Nos dias 27 e 28 de Julho e 1 de Agosto pode apreciar os astros após o jantarem sessões multimédia de astronomia na varanda do Restaurante

orientadas por astrónomos

No próximo dia 12 de Agosto completam-se cem anos sobre o nascimentode Miguel Torga. Razão pela qual grande parte desta edicção do “Centro”é dedicada ao Poeta

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2 25 DE JULHO DE 2007

No sentido de proporcionar mais al-guns benefícios aos assinantes destejornal, o “Centro” estabeleceu umacordo com a livraria on line“livrosnet.com”.

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Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854

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Impressão: CORAZE - Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

CENTENÁRIO DE TORGA

Jorge [email protected]

Há 100 anos, que se escoam no pró-ximo dia 12 de Agosto, nascia em S.Martinho de Anta – uma pequena aldeiaperdida nas agrestes lonjuras transmon-tanas – um pimpolho que foi registadocomo Adolfo Correia Rocha.

“... Minha Mãe largou à pressa acoanheira, para vir de rastos, já como saco das águas roto e crucificadade dores, parir-me debaixo de telhas.(...) Parece que foi um parto fácil, eque ninguém previu que eu saíssepoeta. Mas saí. E começaram entãoas dificuldades.” (Diário XI).

A primeira prenda deu-lha seu Pai,“um pobre cavador sensível”, quandoo rebento fez a quarta classe com distin-ção. Foi um cavaquinho, que fez rir osolhos e acordou melodias. Mas fugaz,premonitório, viria a deixar-lhe tristesrecordações:

“Tanto dedilhei na zanguizarra,que lhe rebentei as cordas. E, já de-sanimado de arranjar outras, lembrei-me de recorrer ao Xaranda, dono deuma guitarra a valer. Com restos dosbordões que por lá tivesse, poderia

A Liga dos Amigos de Conímbriga(LAC), com a colaboração do Res-taurante do Museu de Conímbriga,está a promover diversas acções noâmbito do programa Ciência Viva.

Assim, nos dias 27 e 28 de Julho e1 de Agosto, haverá sessões de As-tronomia, com observação solar, apartir das 17 horas, no Pátio das La-ranjeiras (à entrada das Ruínas de

A CIÊNCIA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA DE MÃOS DADAS

Descobrir o Universo a partir de ConímbrigaConímbriga), e observação nocturna, apartir das 21,30 horas, na varanda do Res-taurante do Museu. Através dos teles-cópios ali instalados, será possível obser-var a Lua, Vénus, Júpiter e os seus saté-lites, as constelações, em sessões multi-média orientadas por astrónomos.

Os dias 29 e 31 de Julho serão dedi-cados à Biologia e à Geologia das Ter-ras de Sicó. Da parte da manhã e até ao

almoço, ou de tarde e até ao jantar, ha-verá percursos guiados à descoberta daespantosa biodiversidade e dos monu-mentos naturais do maçiço calcário deCondeixa, Sicó e Alvaiázere.

Os participantes nestas acções bene-ficiam de 10 % de desconto nas refei-ções servidas no Restaurante do Museude Conímbriga (que, recorde-se, reabriurecentemente totalmente remodelado,

com ementas únicas que aliam a gas-tronomia romana à das Terras deSicó, num ambiente único).

As inscrições podem ser feitaspara a LAC, através do telefone969 279 074.

Quem pretender apenas reser-var mesa no restaurante, para al-moço ou jantar, deve ligar para o969 453 735.

Miguel Torga – Orfeu incorrigíveleu fazer a minha lira. Mas o homemnão gostava de crianças. E, farto deser importunado, numa hora de impa-ciência tirou-me a viola das mãos eescaqueirou-a contra uma parede”.

Terá sido a primeira das ilusões des-feitas, a estimular vontade de tanger ou-tras liras, de buscar outras terras – quea imaginação ia cavando mais fundo quea enxada...

Então o rapazote saltou o risco dafreguesia e partiu à descoberta. Achouo mar e não resistiu ao desafio da tra-vessia. Andou pelos Brasis a desbra-var ideias e voltou depressa, maturadopor precoces vivências.

Veio para Coimbra e fez-se doutor.Por aqui ficou, curando as maleitas dos

outros, mas sem atinar com mézinha quesarasse as feridas que se lhe abriam naalma.

Desse sofrimento, dessa ansiedade,brotou a poesia – para seu martírio enosso refrigério.

Um rosário de palavras escorreitas,ideias límpidas como a água batida nasfragas graníticas do berço Marão.

Foram dezenas de anos a escrever, adar fé da Vida e do Mundo.

Com um estilo ímpar, original. Per-feito na forma depurada, imburilável;

profundo na substância dos conceitos,geniais.

Sempre com uma indómita frontalida-de e uma corajosa coerência, que só es-cassos eleitos logram manter.

“Consciência da Pátria e da Liberda-de” – eis como, justificadamente, houvequem o classificasse.

Um dos mais destacados vultos das

Letras e da Cultura de Portugal, que fi-gura – por mérito próprio e não por cam-panhas alheias... – entre os escritoresmundiais de maior prestígio (diversasvezes indigitado para o Prémio Nobel, edistinguido com outros prestigiados ga-lardões nacionais e estrangeiros).

Dos mais atentos e sagazes observa-dores desta Humanidade conturbada, dosmais sensíveis e eloquentes arautos des-ta Natureza agredida, Miguel Torga con-quistou, pela sua obra notável, o direito àlibertação da crua lei da morte, que em17 de Janeiro de 1995 o roubou ao con-vívio dos seus familiares e amigos.

Até ao fim manteve uma espantosaclarividência, macerada em sofridas an-gústias. Um discurso comparável a néc-tar de boa cepa, que o correr dos anosnão fenece, antes apura e faz mais capi-toso.

E entre nós permanece, bem vivo eactual, através da sua obra, em prosa eem verso, que continua a deliciar suces-sivas gerações de leitores.

É a essa figura marcante que hoje ren-demos singela homenagem nas páginasdo “Centro”, assim assinalando o cente-nário deste renitente Mestre esgrimistada palavra, Orfeu rebelde, consoladora-mente incorrigível.

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325 DE JULHO DE 2007

O jornal “Centro” tem uma alician-te proposta para si.

De facto, basta subscrever uma as-sinatura anual, por apenas 20 euros,para automaticamente ganhar uma va-liosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expressa-mente concebido para o jornal “Cen-tro”, com o cunho bem característicodeste artista plástico – um dos maisprestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível inter-nacional, estando representado em co-lecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, como seu traço peculiar e a inconfundívelutilização de uma invulgar paleta decores, criou uma obra que alia grandequalidade artística a um profundo sim-bolismo.

De facto, o artista, para representara Região Centro, concebeu uma flor,composta pelos seis distritos que inte-gram esta zona do País: Aveiro, Caste-lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria eViseu.

Cada um destes distritos é represen-tado por um elemento (remetendo pararespectivo património histórico, arqui-tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta formatão original, está a desabrochar, sim-bolizando o crescente desenvolvimen-

to desta Região Centro de Portugal, tãorica de potencialidades, de História, deCultura, de património arquitectónico, dedeslumbrantes paisagens (desde as prai-as magníficas até às serras verdejantes)e, ainda, de gente hospitaleira e traba-lhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE, estamagnífica obra de arte, que está repro-duzida na primeira página, mas que temdimensões bem maiores do que aquelasque ali apresenta (mais exactamente 50cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-

ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que omanterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

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Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, acompanhado do valor de 20 euros(de preferência em cheque passado emnome de AUDIMPRENSA), para a se-guinte morada:

Jornal “Centro”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 156� fax 239 854 154� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desdejá lhe oferecemos, estamos a prepararmuitas outras regalias para os nossosassinantes, pelo que os 20 euros da as-sinatura serão um excelente investi-mento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desenvol-va, dando voz a esta Região.

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CENTENÁRIO DE TORGA

Nestas páginas que preten-dem homenagear Miguel Torga,inserimos depoimentos de ami-gos e de estudiosos da sua obra.

Mas divulgamos também al-gumas das suas belíssimas po-esias e excertos das obras emprosa.

Quanto às fotografias, fomosrecuperá-las aos nossos arqui-vos, tendo identificado algunsdos respectivos autores, cujosnomes aqui registamos: LuísCarregã, Manuel Correia, Pau-lo Novais, Varela Pècurto.

A todos eles a nossa gratidão.Agradecimento também a

quantos abordámos para colabo-rarem nesta edição e que pron-tamente acederam a fazê-lo.

É uma homenagem tão singe-la quanto sentida, pois se trata,para além do mais, de evocarum grande e saudoso Amigo.

GratidãoConfiança

O que é bonito neste mundo, e anima,É ver que na vindimaDe cada sonhoFica a cepa a sonhar outra aventura...E que a doçuraQue se não provaSe tranfiguraNuma doçuraMuito mais puraE muito mais nova...

In “Cântico do Homem”

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4 25 DE JULHO DE 2007CENTENÁRIO DE TORGA

Caros estudantesCaros amigos,

É com muito prazer que estou aquiconvosco, neste Pavilhão de Portugal, aalguns metros do nosso rio Mondego, soba protecção das musas celebradas porCamões na nossa epopeia nacional, osLusíadas.

É um lugar propício a este encontro,não apenas porque foi deste vale lendá-rio que a alma de Portugal lentamentese desprendeu, mas também porque es-tas verdes margens foram testemunhodos amores apaixonados e trágicos doInfante D. Pedro e da jovem espanholaInês de Castro.

O Roteiro Ibérico tinha aqui uma eta-pa obrigatória. Felicito os organizadorespor esta escolha inevitável (não podiamfazer melhor!) e dirijo uma saudaçãoamiga de boas-vindas a todos os partici-pantes, em nome da Universidade deCoimbra e da Casa Museu Miguel Tor-ga, em representação das quais tomo apalavra perante vós. Tomo-a em portu-guês, esperando ser compreendida portodos porque, como sabemos, as nossaslínguas eram quase a mesma há algunsséculos apenas, e é bom que nos lem-bremos do nosso parentesco, da nossa“irmandade” linguística, como vou ago-ra tentar fazê-lo durante breves instan-tes, para evocar a vida e a obra de umescritor tão peninsular quanto MiguelTorga.

TRABALHO DO ESCRITORSEMELHANTEAO DA ARANHA

Apresentar um escritor hoje, no nos-so mundo metamorfoseado pelas novascondições de expressão e de comunica-ção que a electrónica proporciona, tor-nou-se uma coisa estranha, qualquer diamesmo no limite do compreensível. Defacto, um escritor é alguém para quemexprimir-se e comunicar é um desafiopermanente e essencial, exactamente ocontrário da actividade fácil, instantânea,directa que o computador permite. A umnível mais profundo, mais substancial, otrabalho do escritor assemelha-se ao da

Ler Miguel Torga purifica

AFIRMA CRISTINA ROBALO CORDEIRO

Pela sua qualidade e oportunidade, a seguir reproduzimos o texto da autoriade Cristina Robalo Cordeiro, Vice-Reitora da Universidade de Coimbra (decuja Faculdade de Letras é Professora Catedrática) e Presidente da Direcçãoda futura Casa-Museu Miguel Torga, que a Câmara Municipal de Coimbravai inaugurar no próximo dia 12 de Agosto (e que funcionará também comoCentro de Estudos Torguianos).De sublinhar que se não trata de uma dissertação académica, antes de um

texto dirigido a centena e meia de alunos do ensino secundário de Portugal eEspanha, quase todos adolescentes, que há dias estiveram em Coimbra, noPavilhão Centro Portugal, no âmbito de um projecto designado por RotaIbérica (que visa o intercâmbio entre alunos dos cursos secundários dos doispaíses). Segundo a autora referiu ao “Centro”, e atendendo aos destinatários,o texto “é apenas uma apresentação genérica e simples de Miguel Torga”.Os títulos e entretítulos são da responsabilidade da Redacção do “Centro”.

aranha que extrai pacientemente de siprópria a matéria e a forma da sua teia,

comparável ao crescimento lento e difí-cil da planta que se desenvolve em ter-reno áspero e selvagem: o pseudónimo“Torga”, nome de pena escolhido porAdolfo Rocha, quer simbolizar esta per-tença ao reino vegetal, às colinas eleva-das, estéreis e solitárias do nordeste por-tuguês percorridas pelo vento e pelos lo-bos.

Celebramos pois este ano o centési-mo aniversário do nascimento de um es-critor maior da literatura portuguesa doséculo XX, que se orgulha de tantos no-mes universais como os de FernandoPessoa, Sophia de Mello Breyner, JoséSaramago e Lobo Antunes.

Como poderei, em poucos minutos,dar-vos uma ideia suficiente do universo

imaginário e da vida real de alguém cujasilhueta e cujo passo eram reconhecidos,há vinte anos, por todos nós, na cidadede Coimbra?

Pensei recorrer ao power point, mas,vendo bem, parece-me uma técnica de-masiado moderna e pouco de acordo como tema a tratar que tem a ver com a almahumana, com o dinamismo invisível doespírito. E como fixar a alma e o espíritonuma tela branca de projecção?

Também não vou, é claro, fazer a listadas suas obras, nem contar-vos a sualonga vida ano após ano. Encontrareisalguns elementos bibliográficos na folhaque vos foi distribuída e onde reproduzi

também 3 ou 4 fragmentos que vos lereipara ilustrar o meu propósito.

Procederei, de início, de forma umpouco mais abstracta para colocar o pro-blema geral da situação do escritor noséculo XX (ou seja, numa época que jánão é a nossa), mostrando-vos a formacomo Torga o resolveu. Num segundomomento, debruçar-me-ei sobre o modotão singular, tão pessoal, com que Torgase inseriu no Portugal do seu tempo (umPortugal que também já não é bem onosso). Finalmente, dar-vos a ver o quenos seus livros, poemas ou Diário, ultra-passa o tempo e o espaço e vem inscre-ver-se na universalidade dos símbolos edos mitos. É claro que esta pequena via-gem que vamos fazer em conjunto teráa velocidade da luz ou, em todo o caso,do pensamento.

Peço-vos, pois, o favor da vossa maisapaixonada atenção!

A APRENDIZAGEM DE TORGA

Já vai longe a época em que a leiturae a literatura gozavam de um enormeprestígio. Podemos dizer que é entre asduas guerras mundiais, mais precisamen-te nos anos 20 do século XX, que a insti-tuição literária atingiu o seu apogeu depoder sobre os espíritos. É durante estadécada que o jovem Adolfo Rocha – quese tornará Miguel Torga alguns anos de-pois – inicia a sua aprendizagem literáriaao mesmo tempo que realiza os seus es-tudos de medicina na Universidade deCoimbra.

Respirando o mesmo ar físico e cultu-ral de Fernando Pessoa, então empre-gado de escritório em Lisboa, Torga re-leva, ao contrário do poeta dos heteróni-mos, da tradição latina, de poetas comoVirgílio, o que não o faz virar as costas àmodernidade literária, pois que é um dosfundadores do grupo e da revista Pre-sença que, nos anos 30, vai difundir, apartir de Coimbra, a ideia e as formas deuma literatura nova. Mas isto significaque a concepção que Miguel Torga temdo poeta, segundo o modelo de Camões,o situa acima dos outros homens, afas-tando-o deles. E se o poeta já não é en-

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e fortifica a almatão um ser “maldito”, como o fora Bau-delaire em França, a sua vocação per-manece um destino ao qual não podeescapar sem negar a sua própria essên-cia. Aliás, se lermos o seu Diário, vere-mos que Miguel Torga poeta e AdolfoRocha médico viveram um conflito inte-rior da maior intensidade: partilhavam omesmo corpo mas um sempre em revol-ta contra o outro, a vocação lírica emdissonância constante (ou quase) com asua actividade clínica.

Se Torga pôde escrever que “um po-eta não tem biografia”, um médico, aoinvés, tem uma agenda onde não existelugar nem para o sonho nem para a exal-tação.

Não devemos pois ver em Miguel Tor-ga um homem revoltado contra o mun-do, contra a sociedade (como o eram ossurrealistas na época): Torga é antes umrevoltado contra ele próprio, contra o clí-nico sério, pontual, atento ao sofrimentodos seus pacientes que esperam os seuscuidados. Podemos ver, a trezentos me-tros daqui, no Largo da Portagem, umaplaca de mármore indicando o lugar doseu consultório médico. Ainda no seuDiário, compreendereis a contradiçãoque o habitava entre a aspiração à bele-za absoluta e a experiência quotidiana damediocridade humana (a começar pelasua própria, segundo o que nos confes-sa).

LITERATURAFOI PARA TORGAUM REFÚGIO E UM EXÍLIO

A literatura foi assim ao mesmo tem-po um refúgio, longe das decepções edas traições da vida, e um exílio, longeda felicidade das gentes simples. Refú-gio e exílio são, com efeito, as palavrasmais adequadas para caracterizar estadupla existência que tem, como pano defundo, no plano político, o regime autori-tário do Estado Novo de Salazar. E estacircunstância agravante não foi um acon-tecimento passageiro: lembremos queTorga tem 19 anos em 1926 quando ospolíticos impotentes perante a crise dopaís oferecem a Salazar, professor deFinanças na Universidade de Coimbra,o poder. Esta ditadura durará até 1974,ano em que Torga atingirá os seus 70anos de idade: significa isto que Torgaviveu toda a sua vida de criador num paíssubmetido ao arbitrário e às violênciaspoliciais de um totalitarismo particularmas não menos difícil de suportar quan-do se é, como Torga, um eterno insub-

misso.De resto, não é apenas moralmente

que sofre os rigores do regime, mas tam-bém fisicamente, pois que conhece, comomuitos outros “resistentes”, a amargurada prisão.

Refractário à Autoridade, e mais exac-

tamente, como diria Espinosa, às “Auto-ridades teológica e política”, Miguel Tor-ga impõe no entanto a si próprio a maisdura das disciplinas: a que nasce da Leiartística e que exige que se sacrifiquemos prazeres comuns à dor e à alegria in-comparáveis da criação.

ORIGINALIDADE IRREDUTÍVEL

Tem pois da poesia uma visão religio-sa e do poeta uma concepção sacerdo-tal.

Significa isto que permanece fiel aoromantismo que, da obra de Almeida

Garrett à de Antero de Quental, abraçatodo o nosso século XIX. Mas o seu ro-mantismo é o de um homem sem ilusões,ao mesmo tempo movido por um idealsublime e lúcido para se sentir profetados tempos novos.

É sem dúvida esta mistura de fervor e

de incredulidade que confere à vida e àvoz de Miguel Torga uma originalidadeirredutível.

O Prémio Nobel teria podido dar aconhecer, na cena mundial, o interessede uma obra e de uma personalidade tãogenerosas quanto intransigentes: mas acandidatura, por duas vezes sugerida eapoiada por um grupo de corajosos ad-mirados, não podia ser aceite, pois que oComité Sueco não devia dar ao regimede Salazar uma tão bela ocasião de sevalorizar…

Muitos outros prémios recebeu, noentanto, e é por ocasião da entrega de

um deles, nos Açores, que evoca a sualongevidade:

“Uma vida longa dá para tudo. Parase nascer obscuramente em Trás-Os-Montes, mourejar adolescente em Ter-ras de Santa Cruz, percorrer, solitário, naidade adulta, os actuais países lusófonosem luta pela independência, visitar, alan-ceado, na velhice, o que resta do Orien-te português, e receber agora, nestespatrícios e paradisíacos Açores, um pré-mio sob a égide de Camões. Nos inter-valos, ser cidadão a tempo inteiro, comprofissão tributada e deveres cívicos as-sumidos, e poeta rebelde, cioso da sualiberdade de criador, numa época atribu-lada, de guerras, tiranias políticas, cam-pos de concentração, bombas atómicase outros flagelos...” (Diário, 1990)

O ESPAÇO E OS LUGARES

Passo agora ao segundo problema,não já o da época, literária e política, maso do espaço, e, mais concretamente, odos lugares. Conheceis talvez a defini-ção que muitos poetas dão da língua por-tuguesa como verdadeira pátria – Fer-nando Pessoa e Mia Couto. É certo queTorga pertence a este número, embora,antes da língua, existam para ele todasas sensações e as emoções da sua pai-sagem natal: o escritor nasceu numa re-gião sem amenidade, no coração da rudeprovíncia de Trás-os-Montes, não longeda fronteira – e é verdade que o tema docontrabando é recorrente na sua obraContos da Montanha. O país natalmarcou-o pois de forma indelével, levan-do-o a sentir-se sempre como um estran-geiro, um camponês, entre os burguesese sobretudo, os meios snob da capital.

“São Martinho de Anta, 13 de Marçode 1962. Foi desta realidade que parti, eé a esta realidade que regresso sempre,por mais voltas que dê nos caminhos davida.” (Diário)

Tem 12 anos quando o pai o põe lite-ralmente fora de casa para o poupar auma existência tão humilde como a sua.Parte então para o Brasil onde passa umaadolescência a trabalhar numa quinta (acapturar serpentes venenosas para efei-tos farmacêuticos), amealhando dinhei-ro suficiente para regressar a Portugal elançar-se nos difíceis estudos de medici-na. Não é preciso dizer que esta estadiano estado brasileiro de Minas Gerais,

(continua na página seguinte)

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6 25 DE JULHO DE 2007CENTENÁRIO DE TORGA

numa idade tão determinante, não seránunca esquecida, juntando ao seu senti-mento da terra e do lugar, como da línguaportuguesa, uma dimensão ultramarina.

Portugal é, se quisermos, uma estrei-ta margem no flanco ocidental de Espa-nha: bastam algumas semanas para odescobrir em toda a sua extensão e Tor-ga consagrou um dos seus livros à suageografia pitoresca. Mas Portugal é tam-bém uma espécie de projecção atlânticae americana do espírito lusitano encar-nado no seu idioma. É por isso que Tor-ga, muitas vezes considerado um escri-tor “regionalista”, celebrou, melhor do queninguém, o universalismo português.

“Só depois de bem avaliar as suascaracterísticas particulares e de as cal-dear a seguir no grande lume universal,pode um qualquer ser ao mesmo tempocidadão de Trás-Os-Montes e cidadãodo mundo.” (Diário, 1977)

A sua vasta cultura europeia (Torgaleu tudo o que era preciso ler, desde osclássicos… até Sartre) colocava-o emcondições de apreciar o grau de abertu-ra do espírito lusitano e, mais ainda, asua íntima consanguinidade com os ou-tros povos ibéricos. De Espanha comode Portugal, conhecia todos os sabores.

Sabores experimentados no contactocom os elementos, a fauna e a flora, ossolos e as margens dos rios de toda aPenínsula que percorre em todos os sen-tidos, e muitas vezes a pé.

“Sou um português hispânico. Nascinuma aldeia transmontana, mas respirotodo o ar peninsular. Cioso da minha pá-tria cívica, da sua independência, da suaHistória, da sua singularidade cultural,gosto, contudo, de me sentir galego, cas-telhano, andaluz, catalão, asturiano ouvasconço nas horas complementares doinstinto e da mente. E, como à dura con-dição de existir junto a de escrever, mui-to papel tenho lavrado a contar as emo-ções desse convívio físico e espiritual semfronteiras.” (Prólogo à tradução caste-lhana de A Criação do Mundo, 1985)

Mas também aqui a sua experiência édupla: homem sedentário, em muitos as-pectos, fiel à sua casa, ligado à família,aos amigos, é também o homem da par-tida e do desprendimento, semelhante aesse Portugal do século XVI, o dos nos-sos navegadores, ou do século XX, o donossos imigrantes, que deixavam tudopara partir à descoberta do mundo. Etodavia, é a palavra sabores que dá àobra de Torga a sua diversidade sensual:pois que se o homem foi austero, o es-critor soube abrir todo o leque das sen-sações, toda a gama cromática e olfacti-va de que é capaz o seu tão rico vocabu-lário. Devo dizer que a língua de Torga é

uma das mais difíceis, de tal forma o seuléxico é abundante e variado bebendo nodialecto e nas obras literárias que tão bemconhecia. É o sabor da língua portugue-sa que Miguel Torga nos dá a provar emtoda a sua força e finura através de pá-ginas como as dos Bichos onde joga, comvirtuosismo, com todas as potencialida-des, sonoras e rítmicas, do seu verbo.

PSEUDÓNIMO MIGUEL:DE CERVANTES E UNAMUNO

Preciso agora, antes de passar ao meuterceiro e último quadro, de sublinhar oparentesco que Torga sentia com doisimensos escritores espanhóis: Miguel deCervantes e Miguel de Unamuno.

É a eles que pede emprestado o seunome de Miguel, que é, com efeito, uma

homenagem prestada à veia ibérica e aestes dois grandes gigantes fraternais.Esta dupla paternidade faz-nos ter cons-ciência da grandeza da sua ambição lite-rária e humanista: a nobreza e a ternurade Cervantes, o sentido trágico e a clari-vidência histórica de Unamuno encon-tram-se nas páginas do Diário e nasconferências de Miguel Torga, como separa melhor compreender o seu Portu-gal e a sua própria identidade tivesse sidopreciso ir a Espanha.

“Unamuno

D. Miguel...Fazia pombas brancas de papelQue voavam da Ibéria ao fim do mun-

do...Unamuno Terceiro!

(Foi o Cid o primeiro,D. Quixote o segundo).Amante duma outra Dulcineia,Ilusória, também(Pátria, mãe,IdeiaE namorada),Era o seu defensor quando ninguémLhe defendia a honra ameaçada!”

(Poemas Ibéricos)

TORGA E A RELIGIÃO

E assim chego ao termo do meu per-curso. Precisaria de muito mais tempopara mostrar o que, na obra de Torga,para lá do seu aspecto histórico e cultu-ral, o liga à mais sagrada inspiração.

Anticlerical como se podia ser na épocaem que o clero católico era ainda omni-presente, e muitas vezes omnipotente, nasociedade, Miguel Torga é certamenteuma dos mais religiosos dos nossos es-critores modernos.

Sem a influência seminal da Bíblia, osseus escritos não seriam sem dúvida se-não uma evocação nostálgica de umPortugal agrário desaparecido.

A sua obra mais importante, A Cria-ção do Mundo, comunica-nos um sen-timento do sagrado e da unidade originaldo homem com o cosmos que ilumina oque Torga entendia por poesia, palavratão indefinível.

A poesia é religião, na medida em quenos faz reencontrar o laço com a Cria-ção. O Ser revela-se nos seres e a Vidanos vivos. Como qualquer artista verda-

deiro, Torga ensina-nos a olhar e a amaro mundo. Mas estas páginas tão vibran-tes suscitam hoje uma leitura nova que opróprio Torga não podia prever.

Temos que reler hoje os diversos vo-lumes da Criação do Mundo à luz apo-calíptica das informações que nos anun-ciam, com o degelo dos glaciares, a alte-ração da natureza, do ciclo das estações,do desaparecimento de uma parte dafauna e da flora, tudo o que fez, duranteséculos, o canto do poeta.

Miguel Torga, tão hostil ao crescimen-to selvagem das cidades, à extensão dobetão, sempre defendeu os valores daautenticidade e da simplicidade do povo,não por um reflexo de conservação so-cial, mas com uma consciência aguda doslimites do humano.

A questão última que a sua mensa-gem coloca, ou, por outras palavras, oconjunto dos valores que defendeu, nãoé mais do que uma interrogação sobreas nossas razões de viver num ambienteagitado pela industrialização e suas con-sequências desconhecidas. É precisa-mente no momento em que começamosa levar a sério as ameaças que pesamsobre o clima que mais precisamos deuma obra como a de Miguel Torga.

Não que ela nos forneça soluções téc-nicas para “salvar o planeta”, mas por-que purifica e fortifica a nossa alma,como toda a poesia autêntica, preparan-do-nos, pela energia que nos transmite,para mobilizarmos toda a nossa inteligên-cia contra estes males.

LER TORGACONTRA O CINISMO

Longe de nos fazer voltar com me-lancolia para um passado ancestral, Tor-ga quer mergulhar-nos na grande cor-rente das forças “telúricas”: reconciliaro homem com a Terra, é o que faz a po-esia nas suas incantações mágicas.

É também o que pode fazer a ciência,uma ciência inspirada pelos interesseshumanos como a medicina que MiguelTorga praticava quando era apenas Adol-fo Rocha.

Medicina e poesia estão raramenteassociadas. Trata-se hoje, mais do quenunca, de conjugar as suas virtudes.

É por isso que a vida e a obra de Mi-guel Torga devem ser vistas em conjun-to, na sua totalidade.

Fortalecido por uma identidade ibéri-ca, ligado por todas as suas fibras ao solonatal, Miguel Torga pensou que valia apena salvar o homem, metafísica e fisi-camente. E se muitos duvidam do inte-resse desta salvação, é contra o cinismoe todas as formas de niilismo que se er-gue a leitura de Torga como remédiosoberano que, como todos os jovens aquipresentes já perceberam, eu vivamentevos aconselho.

(continuação da página anterior)

Ler Miguel Torga purifica e fortifica a alma

Cristina Robalo Cordeiro

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725 DE JULHO DE 2007 CENTENÁRIO DE TORGA

Torga com Jorge Amado, em Coimbra, num fraterno abraço

Clara Rocha, Mário Soares, Miguel Torga e Andrée Crabbé Rocha

Um brinde com a Mulher, Andrée Rocha, e Almeida Santos

Com o padrte Valentim, seu companheiro de muitos anos

Com Manuel Alegre e João Fernandes

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8 25 DE JULHO DE 2007CENTENÁRIO DE TORGA

Foi aquando do meu regresso a Coim-bra, depois de 4 anos de ausência, que co-nheci pessoalmente Miguel Torga. E nãose passou muito tempo para que, de umconhecimento formal marcado desde logopor forte empatia, se chegasse a uma ami-

zade que se foi cimentando ao longo de 40anos de convívio diário, cumprido quasecomo um ritual, até à sua morte. Das suasvisitas ao meu local de trabalho, fosse parauma simples saudação, fosse para doisdedos de conversa, que não poucas vezesse prolongavam se o assunto o justificava,guardo uma profunda saudade.

Foi até numa dessas nossas conversasque se passou um dos episódios mais curi-osos da nossa convivência.

Calhou às tantas falar-lhe dos “Bichos”e da personagem do “mago”, para o qualtentei dar uma interpretação que ele desdelogo atalhou como disparatada: Tive queouvir!

“Oh João, tu não percebeste foi nadado que escrevi! Se calhar nem sequer lêsos meus livros!!!”

E por aí fora...Garanti-lhe que conhecia praticamente

toda a sua obra e que, no caso dos “Bi-chos”, tinha a tradução castelhana de Ma-ria Josefa Canellada, edição de 1946, com-prada em Mérida por volta de 1952, épocade frequentes escapadelas a Espanha.

Pareceu-me convencido, mas foi-medizendo: “Despe a bata e vem comigo, por-que quero explicar-te isso melhor”.

Evocação de uma (quase) dedicatória

E lá fomos nós, fazendo a paragem, tam-bém habitual, na Coimbra Editora, a cami-nho do consultório.

Logo acomodados, ele no seu lugar detrabalho e eu na cadeira que fazia questãode colocar sempre ao lado da secretária, ejá abria o armário grande atrás de si, sem-

pre atulhado de livros, de onde tirou umexemplar dos “Bichos”, para me ler e ex-plicar as passagens da discórdia.

Por fim, abriu o livro na parte habitual-mente utilizada para as dedicatórias, de-senroscou a tampa da caneta, pausadamen-te, enquanto me dizia:

“João, além de te oferecer o livro, voufazer-te uma coisa que já há muito temponão faço a ninguém…”

É neste preciso momento que soamduas tímidas, mas bem audíveis, pancadasna porta.

Fecha o livro, atarracha, vagarosamen-te, a tampa da caneta, e vai então abrir aporta.

Era uma casal acompanhado de umamocinha dos seus 13 ou 14 anos, acolhidoscom satisfação evidente, e a quem fez umagrande festa. Eram conterrâneos.

Quis logo saber novidades: “Como es-tão, como está este e aquele, como vãoser as colheitas, o vinho vai ser bom?” – epor aí fora.

O Poeta era, como se sabe, profunda-mente ligado às suas raízes, e tinha umenorme carinho pelas pessoas simples, emespecial as que trabalhavam ou de algumaforma estavam ligadas à terra e ao seu * Delegado Regional do INATEL

João Fernandes *

cultivo.Chegou, entretanto, a altura de pergun-

tar o que os trazia a Coimbra.“Senhor Doutor, viemos com a nossa

filha para o consultar”.Foi o momento que aproveitei para me

despedir, deixando, propositadamente, o li-vro com a caneta pousada em cima, nomesmo local em que tinham sido coloca-dos.

Só que, quando estou a abrir a porta,ouço a sua voz algo escandalizada: “OhJoão, então deixas ficar o livro!”

Uns anos passaram e, em 1995, já de-pois da sua morte, é homenageada a suaobra e memória na Escola Secundária deJosé Falcão, com várias actividades cultu-rais, onde se incluiu a exposição do INA-TEL “Coimbra vista por Miguel Torga”.

Foi aí, quando a Senhora Dr.ª Maria da

Conceição Sarmento me apresentava ascolegas e agradecia a colaboração do INA-TEL, que dou conta que está a dizer: “OSr. João Fernandes, além de ter sido umdos amigos chegados do Dr. Torga, tam-bém se pode gabar de ser uma das poucaspessoas que tem um dos seus livros auto-grafados”.

Contei então a história da dedicatória(falhada) pela primeira vez, ficando aindaa saber que o próprio Torga também julga-va ter concretizado.

Decorridos mais uns meses, chegada aépoca natalícia, procura-me a Dr.ª AndréeRocha para me desejar Boas Festas e parame dizer que tinha ficado a saber pela Dr.ªMaria da Conceição Sarmento, tambémgrande amiga da família, a história do au-tógrafo e que, indo eu tantas vezes lá acasa, porque é que nunca tinha tocado noassunto.

Final de história: para me compensarofereceu-me, como prenda de Natal, umexemplar de “Ansiedade”, uma raridadeno mercado. Mas, desta vez sim, fiz ques-tão de o receber com a dedicatória da es-posa do Poeta.

João Fernandes com Miguel Torga na Baixa de Coimbra

João Fernandes em casa de Torga

O raríssimo gesto de autografar os seus livros

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925 DE JULHO DE 2007 CENTENÁRIO DE TORGA

Os ideais de liberdade e justiça pelosquais Torga sempre se bateu, e que trans-pareciam bem das obras que ia editando,eram naturalmente incómodos para a di-tadura salazarista.

Não surpreende, por isso, que Torgafosse vigiado e perseguido pela PIDE (apolícia política do regime) e tivesse mes-mo sido preso, à semelhança de tantosoutros que ousavam discordar e criticar osistema político que oprimiu Portugal du-rante quase meio século.

Daí que seja muito interessante a obraintitulada .”Miguel Torga e a PIDE - A re-pressão e os escritores no Estado Novo”,da autoria do docente Renato Nunes, edita-da pela MinervaCoimbra

O livro refere os quatro processos doescritor na polícia política, datados de entre1939 e 1973 e dos quais um foi processo-crime e os restantes “processos de agrega-ção de informações sobre o Miguel Torgahomem, médico e autor”, explicou RenatoNunes. O autor explica que “o processo-crime data de 1939 e é relativo ao livro ´ OQuarto Dia da Criação do Mundo´, que foiapreendido pela então designada Polícia deVigilância e Defesa do Estado” (mais tardedesignada por por PIDE - Polícia Internaci-onal e de Defesa do Estado, e no tempo deMarcelo Caetano por DGS – DirecçãoGeral de Segurança).

“Miguel Torga recusou sempre enviar osseus livros à censura prévia, pelo que o ro-mance foi apreendido ´a posteriori´, sob aacusação de obscenidade e de ser uma for-ma de propaganda comunista, devido à crí-tica política e social acutilante que contém”,referiu Renato Nunes.A apreensão da obra

Miguel Torga e a PIDE

foi acompanhada pela detenção do seu au-tor, tendo Miguel Torga sido preso pela PSPem Leiria - onde exercia medicina - a 30 deNovembro de 1939, seguindo-se a transfe-rência para o Aljube, em Lisboa, onde ficouencarcerado até 2 de Fevereiro de 1940.

O escritor, que viria a ter outros livrosapreendidos (como, por exemplo, a peça deteatro “Sinfonia” e o oitavo volume do seu“Diário”), foi ainda alvo de três outros pro-cessos: um na subdirectoria do Porto, outrona inspecção de Coimbra e um terceiro nadelegação de Lisboa da polícia política.

A partir de 1939, as violações de corres-pondência tornam-se constantes, como oprovam cópias das missivas que integramos processos, estendendo-se a vigilância àesposa do escritor (a professora universitá-ria Andrée Crabbé Rocha, também ela alvo

de perseguição por parte do regime) e àsamizades que ambos mantêm.

Renato Nunes revela que nos processosconsta igualmente informação sobre o di-nheiro que Torga ganhava no consultório efaziam-se especulações sobre quanto deviater amealhado no banco.

“Isto mostra como o Estado fiscaliza-va os vários aspectos da existência deuma pessoa, numa ânsia de controlar avida e o pensamento dos cidadãos”, su-blinhou o investigador, assinalando que“não eram vigiados apenas os comunis-tas, mas todas as pessoas de pensamentoliberal”.

O RIDÍCULO E TRÁGICO“RELATO DE UMA AUTÓPSIA”

Quando, após o 25 de Abril de 1974, Mi-guel Torga teve acesso a uma ínfima partedos seus processos, ficou surpreendido como que encontrou, escrevendo, a esse propó-sito, uma entrada no seu “Diário”, datadade 18 de Fevereiro de 1975.

Nesse texto, o escritor classifica os do-cumentos coligidos pela polícia política comosendo, simultaneamente, “ridículos” e “trá-gicos” e descreve o arquivo sobre a sua vidacomo “o relato de uma autópsia”.

Miguel Torga escreveu ainda que ver alimais de 40 anos da sua vida devassados ofazia sentir-se “reduzido a um despojo ar-queológico”, recordou Renato Nunes, len-do a passagem do “Diário”.

Renato Nunes, que é colaborador doCentro de Estudos Interdisciplinares do Sé-culo XX da Universidade de Coimbra(CEIS20), em cuja Faculdade de Letras se

licenciou em História em 2003, tem vindo aestudar os processos de outros escritoresna polícia política do Estado Novo e na Co-missãode Censura.

O livro sobre Miguel Torga e a Pide éfruto de três anos de aturada investigação,como revela o autor:

“Só nos processos da polícia políticaconsultei 455 páginas, não contabilizandoa informação repetida, além de ter anali-sado vários relatórios da Direcção-Geralde Censura”.

Segundo Renato Nunes, esta obra foiincentivada pelo historiador Luís Reis Tor-gal, “a alma deste projecto, que ainda temmuito caminho por explorar”

Renato Nunes considera que o factode não ter vivido o período da Ditaduraportuguesa pode ter vantagens para uminvestigador, nomeadamente por “permitiruma observação mais objectiva, já que émais distanciada”. “De qualquer forma,é fundamental embrenharmo-nos arqui-vos, pois eles são a nossa melhor fonte eé neles que o Estado Novo surge semcamuflagem e sem cosmética”, refere,acrescentando que “quem quer realmentefazer História, não se pode deixar ofus-car pela imagem que o regime queria pas-sar de si próprio”.

Luís Reis Torgal (Professor da Facul-dade de Letras de Coimbra e um dos maisreputados investigadores da História Con-temporânea) considera que o livro mos-tra como a ditadura não teve “o carácter`original´ e `benevolente´ que se lhe queratribuir, numa lógica ̀ revisionista´”.

O livro integra a colecção de Históriada editora Minerva- Coimbra.

Nem sempre cuidamos de vincular ànossa terra aqueles que encerram a mais-valia de terem sido pessoas superiores,nomes que temos a obrigação de honrarpara glória deles (e proveito nosso...).

Exemplo: em que praça, viela ou jar-dim está perpetuada a memória de Mi-guel Torga? Tem nome de rua (que ain-da há poucos anos era subúrbio...), tevehonraria há alguns anos, por iniciativaprivada, mas continua sem uma estátuaou um simples busto que ateste a suapassagem por Leiria, onde residiu temposuficiente para que o sintamos um pou-co leiriense, para que o tomemos comoexemplo de um homem que não foi ape-nas médico, também foi Cidadão de mai-úscula; isto é: exerceu cidadania. Escre-vendo. Sendo.

O que tem obstado à sua recordatóriaperpétua? O facto de o terem tomadocomo “um anjo revoltado”? Tal qualifi-cação foi escrita num poema de oito ver-sos, por seu próprio punho, em Leiria, fazhoje precisamente 65 anos:

Torga preso em LeiriaLeiria, 19 de Novembro de 1939EXERCÍCIO ESPIRITUALOuço-os de todo o lado.Eu é que sou assim,Eu é que sou assado,Eu é que sou o anjo revoltado,Eu é que não tenho santidade...Quando, afinal, ninguémPõe nos ombros a capa da humildade,E vem.

Mas a verticalidade da sua coluna (quea tinha bem alta!...) assentava em prin-cípios como este, que haveria de assinar,igualmente em Leiria, quatro dias maistarde: “Uma das poucas virtudes que te-nho é de não gostar de escrever o nomenas paredes e nos livros de honra que hápor este mundo. Parece-me dos maisdébeis processos de eternização e eu souhomem de granito. (...)”.

Estou a reportar-me ao primeiro volu-me do seu numeroso Diário, onde Torgaregistaria, uma semana após, a sua pri-são deste modo:

Cadeia de Leiria, 30 de Novembro de1939

EXORTAÇÃOMeu irmão na distância, homemQue nesta mesma cama hás-de so-

frer:Que nem a terra nem o céu te domem;Nenhuma dor te impeça de viver!

A página seguinte do Diário I já éescrita na cadeia do Aljube, em Lisboa,mas apenas a 6 de Dezembro. E, encar-

cerado pelo menos até 1 de Fevereirode 1940, escreverá ainda cinco poemas(sempre poesia, é curioso, embora nosseus Diários predomine a prosa).

(Texto de José Oliveira, publicadono “Diário de Leiria” a 19 de Novem-bro de 2004, ilustrado com desenhode Luís Fernandes, que assim retra-tou Miguel Torga em Leiria, poucodepois de este ter saído da cadeia).

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10 25 DE JULHO DE 2007CENTENÁRIO DE TORGA

Mais do que uma casa, era um casarão.Esbranquiçado, já faltava pintura. Uma de-mão ao menos para tapar a caliça, o desbo-tado. Algumas madeiras haviam perdido afrescura doutros tempos. E os alumínios jáassomavam. A fealdade viera para ficar.Outros chamariam de pobreza a condizer.Apesar dos proventos do negócio de hos-pedaria que se juntavam às esmolas e doa-ções sabe-se lá de onde. Uma cruz grandi-osa anunciava a virtude. Uma casa de Deus.

Mas agora ali estavam as gaiatas doColégio, as mais espigadas, as casadoiras,que há sempre um príncipe para sonhar.

– Meninas ao salão, meninas ao salão! –Gritou a Directora, entre palmas, carrancu-da.

As vigilantes tinham alertado para a im-portância do momento. O ar não era debeatitude mas a coisa deveria ser séria.Nesse Domingo de Primavera, dia do Se-nhor, também Ele seria certamente gene-roso. Alinhadas, medrosas, expectantes pelotemor do desconhecido suspiravam paraque tudo passasse. Verdade, verdadinha quea curiosidade as fervilhava. E aos 15 anosqualquer outro caminho dali para fora seriabem melhor.

Desta vez a blusa verde de gola redondateria que combinar com a saia escura. Abai-xo dos joelhos que a devassa do olhar po-deria levantar o pecado, pois há sempregente capaz de imaginar desvarios. Meiabranca e sapato preto a brilhar, depois decuspido e lustrado. Cabelo limpo e pentea-do, sem a graça de qualquer gancho ou laço,que este era só para a farda de servir. Emfestarolas, para espaventos de vaidades eobediências. Para agradar a passantes pe-regrinos, esfomeados pelas caminhadas, por-que de alegria não seria sinal o laçarote.

Entrou a mãe, uma mulher lá para asbandas de Lisboa, desempoeirada e peitu-da, de fino buço, com o rapaz quase pelamão. Bem mais velho, pelos trinta, que asmoçoilas assustadiças… Retraído, hesitan-te, mas a tarefa haveria de se cumprir. Senão tinha arte para arranjar mulher no bair-ro, pela malparecença ou tontaria, haveriade ser mesmo ali no orfanato. O corpo sal-tava-lhe pela força das hormonas e há queacautelar o futuro. E se a mãe ordenavaera porque sabia da poda. Uma mulher sem-pre haveria de dar jeito. Na cama e na co-zinha. Com a Graça do Senhor tudo corre-ria bem. Talvez não o chamassem mais deJoão Maluco ou João Drogado. Depois deas medir e varrer com o olhar arriscou. Atre-veu-se. E disse umas palavras baixinho…

Assim tudo se fechou. Mais uma vezalguém comprara a mercadoria, como decostume. E uns pais dormiriam descansa-dos por tal sorte. Umas rosas e uns choco-lates seriam o remédio para desfazer qual-quer frieza inicial, conforme o conselho

Nós BichosUM LIVRO DE AMIGOS DE TORGA

Entre os diversos livros que estão a ser editados para evocar e homenagear Torga conta-se umque tem características originais. Intitula-se “Amigos de Torga - Nós Bichos”, e foi uma iniciativado médico e pintor consagrado José Augusto Coimbra (que utiliza o nome artístico de ZAUG).

A luxuosa obra inclui uma série de contos inéditos da autoria de vários amigos de Torga,convidados por ZAUG, que para cada um dos contos produziu uma pintura alusiva.

Do livro reproduzimos, com a devida vénia, o conto “Madalena”, da autoria de CarlosSaraiva (psiquiatra e Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra).

A escolha deveu-se apenas ao facto de Carlos Saraiva ser, desde há muito, colaborador do“Centro”. Esperamos que este conto estimule para a leitura dos outros que compõem a obra.

Madalenamuito sábio da vigilante ao rapaz.

– Foste escolhida, Madalena! Amanhãcomeças o namoro! – Disse-lhe a secular,numa ordem.

E aí uma força desconhecida projectou amulher de hábito contra a parede. Pela pri-meira vez a raiva soltou-se sem freio. O raioda meia freira sentiu os cabelos arrepanha-dos, as orelhas escarlates de tanto puxar,um dente a soltar-se… Mais uma vez amemória voou pela máquina do tempo. Fo-gachos, arrepios, constrições. Desde os 2anos. Dos cintos de fivelas a bater nas car-nes, do pão bolorento, da aguada de leite,onde a um litro se acrescentavam mais al-guns de água… Das sobras do rancho doshóspedes. Da alvorada às seis da madruga-da, mesmo no pino do Inverno. Da mínguade um qualquer mimo…

Mas desta grave falta de respeito Mada-lena teria que ser castigada. A sentença

deveria ser exemplar também para toda acomunidade do Colégio. Poderia mesmo serpublicitada dentro de muros. Não lá fora,que também ninguém nada revelaria. Nem

padre, nem médico, muito distraídos parabagatelas de educação, destas justiçadasque só enrijeceriam o espírito. Portanto, umasova de cinturão amansaria tal rebeldia deuma catraia que não valia o que comia. Quenem confissão ou comunhão era merecida.E tudo aquilo parecia tanto ou mais estra-nho quanto aquelas boas alminhas só lhe de-sejavam o bem de arranjar um marido quea levasse ao altar ali ao lado na Basílica.Assim diziam. Para isso rezavam por aque-las meninas abandonadas. Pai Nosso, AvéMaria, Salvé Rainha. E tantas, tantas lhederam que quase se finou de dores. Desnu-da no leito, embrulhada em papel pardo dossacos do pão embebidos em vinagre e toa-lhas de turco com água quente, a desgraça-

da da ingrata teria para 15 dias. As marcase os hematomas haveriam de passar com areceita caseira. Conviria que fosse lento de-mais para não se esquecer de quem man-dava. Mas também com a pressa devidaporque o rapaz queria insistir. Mesmo porLisboa, não lhe dava para pensar noutracoisa. Nessa languidez do desejo de a apal-par e entontecer.

– Madalena! Está lá fora o menino João!– Avisou a Directora com ar ameaçador,num dos Domingos seguintes.

Afinal, que conselho ou ordem seria maispreciso? Mas que outro melhor partido po-deria ela conseguir? Mais uns açoites atéque se iluminasse a cabecinha? Sempre eraum homem da cidade que lhe mataria a fomee lhe daria um rancho de filhos. Com umasantinha alumiada, a casa ficaria cheia dealegria. Ou um S. José de azulejos no meiode muitas andorinhas de barro, daquelas dependurar. Talvez até pudesse ter uma gatae um periquito. Um cão dos grandes, quemsabe. Até seria capaz de lhe sussurrar aoouvido o grande segredo que uma mãe sópode dizer a uma filha noiva:

– Nunca te negues, nunca te negues!Mas desta vez a cólera deu-lhe para a

palavra. E Madalena contou que estavaencantada pelo Emanuel, o trolha das obrasdo Colégio, o miúdo por quem ninguém davanada. O desdentado. O rapazola que ia aotelhado sem medo. Que assim desafiava odestino, para espanto dos velhos. O heróique a alvoroçou. O miúdo da gaita-de-bei-ços que também andava a cantarolar peloscantos. Do lápis na orelha. Do cordel gros-so nas calças a fazer de cinto. E sapatilhasrotas. Afinal, aquele que oferecera uma lan-terna para ela ler, às escondidas debaixo dacama, o “Amor de Perdição” quando todasas raparigas já estavam a dormir na cama-rata. O cúmplice dessa subversão de leitu-ra. O desejado, com quem se encontravana mata do caminho para a missa. Mão namão, olhos nos olhos, o coração em rodo-pio.

O coro da Igreja poderia esperar porquea paixão falara mais alto. Num excelso pactode amizade, que durara meses, as colegassupriam a sua voz e deixavam aquelas pou-cas horas para Madalena desfrutar do amor.Sem a traírem, perceberam que também umpouco delas estava lá fora no campo verde.Mas agora, com a meia freira ali especadaà espera de um gesto de consentimento, nãoteve precisão de confessar mais nada quan-do acariciou o seu ventre, em embalo, e sor-riu de alegria, como nunca o fizera. Até aluz da vidraça filtrava outras cores. E tam-bém não disse do momento singular quandociciou ao rapaz, debaixo de uma azinheira,com a alma em festa:

– Estou pura, meu amor!

Carlos Braz Saraiva

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1125 DE JULHO DE 2007 CENTENÁRIO DE TORGA

A mais original forma de homenagearMiguel Torga terá sido, talvez, a produ-ção de centenas de milhar de saquetasde açúcar, distribuídas por muitas cente-nas de locais de todo o País.

Trata-se de uma meritória iniciativados Cafés FEB, de Coimbra, que assimse associaram às comemorações doCentenário do nascimento de MiguelTorga promovidas pela Câmara Munici-pal de Coimbra.

Numa das faces do pacotinho de açú-car está reproduzida uma fotografia do

Poeta à porta da sua residência de Co-imbra (que agora vai tornar-se Casa-Mu-seu e Centro de Estudos Torguianos, cominauguração marcada para a data docentenário, o próximo dia 12 de Agosto).

Por baixo da imagem os anos de nas-cimento e morte de Torga (1907-1995),e uma breve citação da sua obra, maisconcretamente do “Diário XIV”:

“... A ver correr serenas as águas doMondego”.

Deste modo, largas centenas de mi-lhar de pessoas vão tomar contacto com

Torga enquanto saboreiam um café, umchá.

Para alguns será um estímulo para areleitura da obra de Torga.

Para muitos outros, sobretudo os maisjovens, é uma forma de lhes dar a co-nhecer uma das mais destacadas figu-ras das letras portuguesas.

Para todos um método invulgar e docede lembrar o Poeta.

Um exemplo que bem merece ser se-guido por outras empresas, já que osCafés FEB sempre mostraram disponi-

bilidade para promover ou apoiar inicia-tivas de carácter cultural.

Primeiro por Jaime Brás de Carvalhoe depois da morte deste através da acti-vidade relevante da sua sucessora, Ma-ria Luísa Carvalho, que tem desenvolvi-do um trabalho invulgar não só para apu-rar a qualidade dos seus produtos, quedignificam a sua empresa e a cidade deCoimbra, mas também para contemplara vertente cultural, com a realização decolóquios, seminários e outras activida-des culturais voltadas para o público.

UMA ORIGINAL INICIATIVA DA FEB

Divulgação de Torga em centenas de milharde saquetas de açúcar

A raridadedos autógrafos

Tornou-se quase lendária a aversão de Miguel Torga a autografar os seuslivros. Personalidades famosas o tentaram, das mais diversas formas (algu-mas até indo ao consultório médico fingindo-se doentes!...). Mas Miguel Torganão cedia.Sobre as causas desta aversão, muitas histórias se contam.A verdade é que Miguel Torga abria excepções, por motivos que só ele saberia,mas que certamente se deviam a amizade profunda e sincera e a admiraçãopelo destinatário.A prová-lo reproduzimos a dedicatória autografada, na primeira edição do VIIIvolume do Diário, que ofereceu ao jornalista José Castilho (tal como lhe ofere-ceu e autografou, com dedicatórias afectuosas, muitos outros dos seus livros,num testemunho de amizade fraterna e recíproca).

Entre os diversos livros ultimamenteeditados sobre Miguel Torga, merecereferência especial o que se intitula “Mi-guel Torga - O Calvário do Poeta”.

Trata-se de uma belíssima obra, comtexto de Soares Rebelo e fotografias deLuís Carregã (ambos actualmente jorna-listas do Diário As Beiras).

Um livro que desvenda o médico, ohomem, o escritor, o poeta, através decitações da sua própria obra e de ima-gens consentidas da sua intimidade.

No lançamento deste livro, e depoisde referências muito elogiosas aos auto-res, o Vereador da Cultura, Mário Nu-nes, lembrou que as Comemorações dehomenagem a Miguel Torga organizadaspelo Município de Coimbra, iniciaram-seem 17 de Janeiro de 2005 (10.º aniver-

O Calvário do Poetasário da sua morte), e prolongam-se atéDezembro de 2007.

E acrescentou:“Um programa que contempla edição

de livros, catálogos, colóquios, conferên-cias e palestras, debates, o II CongressoInternacional, a par de exposições, tea-tro, música, poesia, concursos literáriosdirigidos aos docentes e alunos (desde oensino básico ao secundário).

Mais, ainda, o projecto “passear na li-teratura”, que integra visitas guiadas,através de um circuito pelos espaços davivência de Torga em Coimbra; um tro-ley que circula na linha em que viajavano percurso de casa para o consultório.

Um monumento na Portagem, junto aoMondego, será inaugurado em 12 deAgosto (data em que se assinala o cen-tenário do nascimento do escritor), e em,que é aberta ao público a sua residência,como Casa-Museu (havendo ainda aedição especial de selo comemorativopelos CTT).

Evoca-se, também, Torga, com ses-sões solenes e manifestações culturais,em parceria com diversas outras entida-des de vários pontos do País e até doestrangeiro”.

Ainda sobre o livro dos dois jornalis-tas, Mário Nunes sublinhou que ele seinsere “no propósito de mostrar a gran-deza, a personalidade, o saber e a uni-versalidade do Homem, do médico, doescritor com realce para a nobreza desingular poeta.

LIVROS NO PROGRAMADAS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO

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12 25 DE JULHO DE 2007CENTENÁRIO DE TORGA

O primeiro-ministro José Sócrates garan-tiu, no final de Junho, o empenho do gover-no na rápida construção do Espaço MiguelTorga, em São Martinho de Anta (Sabro-sa), que servirá de homenagem ao maisconhecido escritor transmontano.

“Ao apoiarmos este projecto estamos aservir o país e a fazer uma das coisas maisbonitas que eu acho que fiz na minha car-reira política”, afirmou o primeiro-ministrono decorrer da apresentação do projectoEspaço Miguel Torga em São Martinho deAnta, a terra natal do escritor.

José Sócrates, então de visita ao distritode Vila Real, associou-se assim às come-morações do centenário de Torga.

O governante salientou a “grande impor-tância pessoal” que este projecto de home-nagem ao escritor transmontano represen-ta para si, já que, segundo afirmou, foi “atra-vés de Torga” que aprendeu a conhecer-sea si próprio e ao país.

“Esta iniciativa vai merecer o apoio dopovo português e vamos fazer tudo o queestiver ao nosso alcance para apoiar a câ-mara de Sabrosa a construir este espaço”,salientou.

AFIRMA JOSÉ SÓCRATES

“Foi através de Torga que aprendia conhecer-me e ao País”

co mil as pessoas que visitam São Martinhode Anta por causa de Torga.

Apesar de viver em Coimbra, Torga visi-tava muitas vezes a sua terra natal - a que,na sua obra “A Criação do Mundo”, quecontém muitas referências autobiográficas,chamava Agarez.

Como reconhecimento da obra forammuitas as homenagens prestadas ao autor.Hoje, a principal rua de São Martinho deAnta tem o nome do escritor, existe um Cír-culo Cultural em sua homenagem na locali-dade e, em breve, abrirá o Espaço Torga.

O Espaço Miguel Torga será construídoem terrenos próximos da casa onde nasceuo escritor, terá um investimento de cerca de1,7 milhões de euros e pretende homenage-ar e divulgar a sua obra.

A filha do poeta, Clara Rocha, tambémse associou ao projecto e disse esperar queeste espaço se transforme num centro decultura que interaja com outros espaços dehomenagem aos escritores Eça de Queiróse Camilo Castelo Branco.

Sócrates anunciou ainda que a estradaque vai ligar São Martinho de Anta à A24,junto a Vila Real, estará em obra em 2008.

Um espaço que, segundo o primeiro-mi-nistro, servirá de “ponto de referência parao Torga universal”.

Para esta que diz ser uma vaidade sua,Sócrates aconselhou o arquitecto SoutoMoura a não ter contenções, para que “o

seu melhor talento possa servir a memóriade um tão grande poeta”.

O chefe de governo referiu ainda que oturismo cultural é uma das “áreas que maisestá a crescer no mundo inteiro”, acrescen-tando que, anualmente, são já cerca de cin-

José Sócrates anunciando o apoio do Governo à criação do Espaço Miguel Torga

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1325 DE JULHO DE 2007 CENTENÁRIO DE TORGA

Celebrações do centenário em Coimbra

Em Coimbra, o centenário do nascimen-to de Miguel Torga tem estado a ser objec-to de um variado programa de comemora-ções, promovidas por diversas entidades.

Para além de um Congresso Internacio-nal, que juntou elevado número de especia-listas, de exposições e edição de livros, aCâmara Municipal tem apoiado outras ini-ciativas e está, ela própria, a programar ac-

tividades com grande significado.De entre estas avulta a inauguração da

Casa-Museu Miguel Torga, instalada nacasa onde o Poeta viveu, e que a autarquiaadquiriu à filha (Clara Rocha, ProfessoraCatedrática da Universidade Nova de Lis-boa) em condições muito especiais, tendoela oferecido ainda ao Município o valiosorecheio da casa.

Cristina Robalo Cordeiro e Mário Nunes, Vereador da Cultura da CâmaraMunicipal, acompanhados por técnicos da autarquia, no início dos trabalhosde adaptação da residência de Miguel Torga a Casa-Museu

A autarquia pretende que ali funcioneum Centro de Estudos Torguianos, estan-do a Presidência da Direcção entregue aCristina Robalo Cordeiro.

Relevo merece ainda a inauguraçã domonumento a Torga, na margem do Mon-

dego, junto ao Largo da Portagem.Trata-se de um projecto da autoria dos

arquitectos Pedro Olaio e José António Ban-deirinha, que venceram, entre vários pro-jectos, o concurso para o efeito aberto pelaCâmara Municipal.

A maqueta do monumento de homenagem a Miguel Torga

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14 25 DE JULHO DE 2007CENTENÁRIO DE TORGA

O grande privilégio do fotógrafoque se desdobra na execução de tra-balhos variados é o de contactar per-sonalidades que se distinguem naqui-lo a que se dedicam de alma e cora-ção ou têm dotes acima do normal.

Como vizinho que era do consultó-rio de Miguel Torga, foram muitos masbreves os nossos encontros no largoou nas imediações da Portagem, prin-cipalmente quando as saídas dos nos-sos locais de trabalho coincidiam.

Ouvi algumas alusões ao seu habi-tual rosto fechado, mas tal semblanteera enganador. Constatei tambémcomo subtilmente se colocava ao ní-vel da conversa do interlocutor.

Tive que fazer fotografias para oInatel, destinadas a uma exposiçãocom textos de Miguel Torga, apresen-tada depois no Edifício Chiado, no Paíse na Europa. Fora deste continenteesteve nos EUA e China.

Tivemos reuniões no seu consultó-rio e na sua residência. Aqui, num dosencontros, enquanto Torga arrumavaos seus “papéis” que transportava de-baixo do braço, demorei-me a olharum quadro onde estava S. Franciscorepartindo a sua capa com um pobre.

Torga, parecendo adivinhar a mi-nha surpresa por ver um santo emcasa de um ateu, disse-me, do localonde se encontrava:

– Você está admirado por ver umsanto em minha casa?

E, à guisa de explicação, acres-centou:

– Comprei-o em Espanha! Deu-meum trabalhão escondê-lo enrolado nacamisa por causa das alfândegas.Pois fique sabendo que está aí por serum santo socialista!

Como a informação não exigia res-posta, nada disse e pouco depois pas-

Varela Pècurto

Bons momentos com Torga

sámos ao trabalho que motivara a reu-nião.

Outro momento, este de ironia eperspicácia, aconteceu no consultório.

No prédio do Montepio, a fachada daPortagem faz esquina com a da Cou-raça. Bem no alto, sempre esteve umafigura de barro que o povo diz ser um

soldado romano.Antes da grande obra feita no re-

ferido prédio, a escultura apresenta-va-se com a cabeça inclinada. Paraevitar algum acidente provocado pelaqueda de parte da escultura, que pa-recia prestes a desprender-se, o ge-rente do Montepio mandou “decapi-tá-la”.

Os homens chamados para este tra-balho, Sapadores, creio, bem tentarammas não conseguiram, porque existiaum ferro no interior, servindo de liga-ção e apoio à figura. Fragmentaramentão a escultura e, de saco às costascom os bocados, regressaram ao solo.

Aflito, o gerente logo me contactoupara saber se eu teria uma fotografiado prédio, onde se visse a estátua,para mandar fazer a réplica desta. Defacto, possuía uma fotografia óptimapara concretizar o projecto.

A escultura foi reposta, ocasião emque pedi ao meu vizinho Torga queme ajudasse na sua identificação cor-recta.

Pelos ornamentos que a figura os-tenta, opinei que devia representarMercúrio, ali colocado como deus pro-tector dos comerciantes da Portagem.

Torga confirmou:– Sim senhor! É Mercúrio, o deus

romano dos comerciantes e tambémdos viajantes. Quanto a ser protectordos comerciantes é matéria para dis-cussão, pela simples razão de que étambém protector dos ladrões...

Fiquei mudo ante esta última ver-são. Também eu era comerciante nes-te largo, embora sempre me tenhaconsiderado industrial.

Porém, relembrando este episódioà distância de alguns anos, agora atéposso concordar que o tal Mercúrio(*) é mesmo protector dos ladrões...

(*) Este filho de Júpiter é identificado com

Hermes na mitologia grega.

De todos os cilícios, um, apenas,Me foi grato sofrer:Cinquenta anos de desassossegoA ver correr,Serenas,As águas do Mondego.

Miguel Torga

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1525 DE JULHO DE 2007 REPORTAGEM

“Confidencial: A década de Sampaioem Belém”, é o título de um livro recen-temente editado, que relata episódios doquotidiano do ex-Presidente da Repúbli-ca, entre os quais diversas revelaçõessobre o polémico processo que levou àexoneração de Santana Lopes do cargode primeiro-ministro. O livro traça tam-bém um retrato de vários outros momen-tos, desconhecidos do público em geral,fazendo uma espécie de radiografia dedez anos de Jorge Sampaio como Chefede Estado, sob o ponto de vista de JoãoGabriel, autor da obra, e que foi asses-sor de Imprensa de Sampaio durante osdez anos da Presidência.

O facto de a obra ter sido redigida sem

autorização do ex-Presidente da Repú-blica, deixa bem claro de que se trata daopinião pessoal do autor.

Na apresentação do livro em Coim-bra estiveram presentes João Gabriel,José Dias (também ele ex-assessor deJorge Sampaio), que apresentou a obrae moderou o debate, e ainda Jaime Can-cela de Abreu, representante da editora.

O tema que mais animou o debateque se seguiu à apresentação da obrafoi a efémera passagem de SantanaLopes pela chefia do Governo. No en-tender de João Gabriel, a atitude deSampaio demonstrou que o Presidenteda República tem um papel muito maisimportante do que a generalidade daspessoas pensa. “Tem muito poder, comose verificou em 2004”.

Durante duas horas, o auditório reple-to da livraria Bertrand no Centro Comer-cial “Dolce Vita” foi palco de um vivodebate, e mostrou João Gabriel divididoentre elogios e críticas a Sampaio, que

REVELA LIVRO DE EX-ASSESSOR DE SAMPAIO

A “novela” da controversa demissãode Santana LopesJoão Vieira classificou como “uma grande perso-

nagem quer como homem, quer comoser humano”.

Para João Gabriel, a escrita do livro

teve o intuito de “provocar a reflexãoe estimular a discussão, mas só se podeestimular a discussão sobre um mo-mento de que ainda nos lembramos”.Assim sendo, o ex-assessor de impren-sa optou por publicar o livro cerca deum ano após o fim da era Sampaio,dando também oportunidade a que ou-tras pessoas possam escrever sobre omesmo período de tempo.

José Dias (que coabitou em Belémcom João Gabriel, também como asses-sor de Jorge Sampaio), considerou que“Confidencial: A década de Sampaio emBelém” é “um livro de estilo de comofazer assessoria de imprensa”, nuncadescurando a ética profissional.

José Dias foi mais longe, explicitandoa importância desta publicação para ocontexto documental de uma década,porque “partilha política sobre questõesque se referem à história recente, parti-cularmente dos dois mandatos de JorgeSampaio na Presidência da República”.

O moderador, que é também Presiden-te do Conselho da Cidade de Coimbra,teve a oportunidade de trabalhar na as-sessoria política de Sampaio nos últimos18 meses de mandato, tendo por ele “umagrande estima”. No seu entender, “umbom assessor deve ter um conhecimen-to aprofundado da pessoa com quem vaitrabalhar”, estando subjacentes os con-ceitos de lealdade e confiança.

Ao longo de 10 anos, João Gabriel foium dos mediadores entre Jorge Sampaioe a Comunicação Social, e na opinião doautor do livro a assessoria “foi semprefacilitadora para os jornalistas, até de-mais em alguns casos”, mas nesses porinstruções do então Presidente.

Recorde-se que, antes de se tornarassessor de imprensa de Sampaio, João

Gabriel era repórter da TSF, cargo quedeixou devido “a uma certa saturação”.Apesar de classificar como bom o jor-nalismo praticado em Portugal, conside-

ra que “existem práticas perigosas, po-pulistas e demagógicas, já que não seconfirmam as fontes”. No seu entender,a lógica economicista domina cada vezmais a classe jornalística, pela pressãoque sobre ela exerce.

Quando se tornou assessor de Sam-

A capa do livroCUIDADOS DOMICILIÁRIOSDE IDOSOS, CONVALESCENTESE DOENTES CRÓNICOS

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João Gabriel, José Dias e Cancela de Abreu na apresentação da obra

paio, o escritor de “Confidencial: Adécada de Sampaio em Belém” sabiaque “estaria a fechar uma porta quenão voltaria a abrir”, ou seja, que nãoiria regressar aos meios de Comuni-cação Social.

No livro, João Gabriel mencionatambém o papel negativo de algumaimprensa sobre a política, já que “mui-tas vezes somos levados a dizer que aclasse é má, mas parte da situaçãotambém se deve à imprensa, fazendocom que alguns cidadãos se afastemda política”.

Outros temas e personalidades da vidacivil foram também abordados, dos quaissobressaíram dois: Marcelo Rebelo deSousa e António Costa. Para João Ga-briel, Marcelo “utiliza leviandade em al-gumas das suas observações”. Por ou-tro lado, considera António Costa como“uma pessoa determinada e que assumea política com gosto”.

O representante da editora, JaimeCancela de Abreu, considerou que esteé um livro de carácter eminentementepolítico, inédito pela forma como entranos bastidores, já que abrange pessoas eepisódios mediáticos.

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16 25 DE JULHO DE 2007SAÚDE

Os produtos alimentares que pro-movem benefícios nutricionais oupara a saúde vão estar sujeitos a re-gras mais rígidas que impõem umarotulagem harmonizada e exigem queestas alegações constem de uma lis-ta comunitária que comprova os seusefeitos.

O Instituto Becel promoveu no iní-cio deste mês um seminário para ex-plicar as implicações das novas regrasde alegações nutricionais e de saúdeda União Europeia, que entraram emvigor a 1 de Julho, reforçando que oobjectivo é assegurar um elevado ní-vel de protecção dos consumidores efornecer as informações necessáriaspara efectuarem as suas escolhas.

Em declarações à Agência Lusa, anutricionista e presidente do InstitutoBecel, Helena Cid, explicou que a par-tir desta data, para fazerem uma ale-gação, as marcas têm de assegurarque os ingredientes activos ou os ali-mentos em que estes se incorporamproduzem um efeito nutricional ou fi-siológico benéfico, para proteger osconsumidores e regular o mercado.

“As menções nutricionais (alto oubaixo teor, rico ou pobre em determi-nada substância) já tinham de estarsustentadas cientificamente, mas pas-sam agora a estar incluídas numa lis-

PRODUTOS ALIMENTARES

Alegados benefícios para a saúdeterão de constar em lista comunitária

ta que define o que é “light”, valor ca-lórico, entre outras.

Existe uma lista que as marcas vãoter de consultar para saber se podemcolocar determinada rotulagem”, es-clareceu a especialista.

O mesmo vai acontecer com as ale-gações relativas à saúde como, porexemplo, a de que o cálcio fortaleceos ossos ou a de que o ómega 3 é be-néfico para o coração.

Alguns destes benefícios já são

aceites pela comunidade científica,mas vão ter estar incluídos numa listapositiva que comprova os seus efei-tos e qual a quantidade que é neces-sário ingerir para os alcançar.

“Se for adicionada determinado in-grediente que não conste nesta lista,os seus alegados benefícios para asaúde vão ter de ser avaliados por umcomité científico. Só depois de apro-vada, será possível incluir esta alega-ção na rotulagem do produto, sendo

então acrescentada à lista”.As alegações só podem ser incluí-

das nos rótulos se focarem a impor-tância de um regime alimentar equili-brado e de um modo de vida saudávele indicarem a quantidade e modo deconsumo necessários para obter o ale-gado efeito benéfico.

A lista única comum, que estabele-ce os perfis nutricionais que os ali-mentos devem respeitar para pode-rem ostentar alegações nutricionais oude saúde, vai estar concluída em 2009,e reúne contributos dos vários esta-dos-membros.

A partir dessa altura, a alegaçãopara a saúde que for aprovada teráde ser idêntica para todos os países epara todos os produtos.

Mas continuam a existir algumasrestrições: As marcas não podem men-cionar, por exemplo, que determina-dos produtos curam, previnem ou tra-tam doenças.

Existem também restrições relativasa benefícios que façam alusão a reco-mendações médicas ou de profissionaisde saúde e de outras associações.

Os alimentos colocados no mercadoou rotulados antes da data de aplicaçãodo regulamento podem ser comerciali-zados até ao fim do prazo de validade,mas nunca após 31 de Julho de 2009.

Os jogos de vídeo voltaram a sertema de debate após a suspensão dadifusão de “Manhunt 2”, que deviater distribuição mundial a 10 de Ju-lho, e os seus efeitos continuam asuscitar preocupações.

“Já há algum tempo que várias pes-soas ligadas à pedopsiquiatria aler-tam para o facto de muitos dessesjogos, ao invés de darem elasticida-de mental a quem os joga, se limita-rem a dinamizar conteúdos violentosa uma velocidade que também por sié agressiva”, alertou a pedopsiquia-tra Ana Vasconcelos.

Ana Vasconcelos reagia, a pedidoda agência Lusa, a uma decisão to-mada, a 27 de Junho passado, pelaAssociação de Médicos Americanos(AMA), que exigiu uma investigaçãomais exaustiva aos efeitos positivos

Jogos de vídeo podem ser prejudiciaisesta falta de compaixão pode depoisreflectir-se na vivência da criançacom os outros”.

Nos Estados Unidos, onde 70 a 90por cento dos jovens são utilizadoresassíduos das consolas, a AMA anun-ciou que pediu a revisão do sistemade qualificação em vigor para os ví-deojogos, que data de 1994, para queos pais saibam a que conteúdos é queos seus filhos vão ser expostos.

Neste aspecto, Ana Vasconcelosconclui que “os pais podem não co-nhecer todas as imagens que os jo-gos contêm, uma vez que não os jo-gam, mas basta-lhes ter um poucode bom senso para concluir que umagrande parte deles não fazem senti-do nenhum e que as crianças nãotêm qualquer vantagem em ser-lhesexpostas”.

ALERTA PEDOPSIQUIATRA

e negativos, a longo prazo, do uso de jo-gos de vídeo.

A AMA, que tem vindo a ocupar-seda temática, vai enviar as suas recomen-dações e os resultados de investigaçõesque elaborou à Associação Americanade Psiquiatria e a outras sociedades mé-dicas, para que estas as tenham em con-ta na próxima revisão do Manual de Di-agnósticos e Estatísticas de DesordensMentais.

Na opinião da pedopsiquiatra portugue-sa, “no geral, esses jogos enriquecem aparte perceptiva mas não a parte simbó-lica individual, ou seja, em nada ajudamas crianças e jovens a reflectir melhor,até porque terem a cabeça cheia de ima-gens inúteis funciona como ruído, cau-sando perturbação e dificultando o pen-samento”.

“E é evidente que estamos perante a

geração do chamado ‘pensamento visu-al’, que é parcialmente responsável peloinsucesso dos miúdos em áreas como amatemática ou a língua portuguesa”, as-sinalou.

De acordo com a pedopsiquiatra, “hácrianças que expelem as suas tensõesemocionais através do corpo e, em de-terminadas situações, ocorrem-lhes fla-shes violentos desses jogos, o que podecausar uma confusão de valores, ba-ralhando o bem e o mal e deixando acriança sem saber como agir adequa-damente perante os outros”.

“Infelizmente, muitos desses jogos fa-zem da mente do utilizador um mero com-putador, sem sentimentos e sem consci-ência moral”, criticou Ana Vasconcelos,exemplificando que “a criança vê rolaruma cabeça e não se interroga sobre oque sente alguém ao ser decapitado e

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1725 DE JULHO DE 2007 SAÚDE

MassanoCardoso

Todos sabemos qual a importânciado nariz. Apesar dos diferentes tama-nhos e formas, que vão desde o narizde papagaio até às ventas achatadas,passando pelo empinado, fino, grosso,torto, ultra longo, bilobado, entre mui-tos outros, constituindo motivos atépara classificações discriminatóriasraciais ou caracterização da persona-lidade, tem como denominador comumimportantes capacidades biossensori-ais, capaz de detectar os mais diver-sos aromas dos quais depende o nossobem estar e saúde.

Afugenta-nos de perigos, faz-nosrecordar o passado, contribui para a se-dução sexual, leva-nos a comprar o quenão queremos, serve para saudar, ador-nar, drogar e até como pára-choquesem muitas portas. Muitos têm o hábitode metê-lo onde não devem, enquantooutros gostam de o utilizar para “chei-rar o traseiro” de alguns. Enfim, umórgão polifacetado na forma e nas fun-ções.

Um bom nariz, dotado de elevadascapacidades olfactivas, pode ser tãoprecioso como a voz de um cantor.Muitos vivem, e bem, à sua custa, ana-lisando e seleccionando as mais diver-sas fragrâncias, ou apreciando as qua-

“Narizes”lidades de vinhos, por exemplo.

O que eu não sabia é que seria pos-sível contratar “farejadores humanos”para detectar poluição. Bom, qualquerum, minimamente dotado de capacida-des olfactivas, é capaz de detectarmaus cheiros. De facto, um nariz “nor-mal” detecta qualquer coisa como qua-tro mil aromas e um superdotado podeir até aos dez mil, muito aquém, feliz-mente, da personagem criada por Pe-ter Suskind.

No caso em apreço, os chineses es-tão a ser treinados para detectar ga-ses poluentes, tentando desta formacombater as emissões das fábricas queestejam a laborar ilegalmente. O nú-mero de empresas poluidoras, a parde muitas outras situações, é inquan-tificável e muito preocupante, naque-le país, provocando graves problemasde saúde.

De acordo com a informação, o tra-balho de treino é muito desagradável.Acredito!

Os peritos que passarem nos testesreceberão um certificado com valida-de para três anos, porque o sentido doolfacto diminui com a idade. E aindadizem que os chineses não se preocu-pam com o controlo de qualidade!

Ora aqui está uma solução óptima,capaz de monitorizar a poluição do ter-

ritório nacional, com resultados on-linede tudo quanto é sítio. Bastaria, paratanto, contratar os tais chineses, ouconverter os milhares que já estão en-tre nós, partindo do princípio que te-nham capacidades especiais para oefeito.

Assim, por exemplo, antes de seremfeitas as descargas ilegais na ribeirados Milagres, o chinesito avisaria as au-toridades de que o seu nariz detectouanomalias na zona, assim as fazendocessar.

Bastaria usar o telemóvel para as au-toridades e dizer:

– Tá lá? É pala avisal que vai ha-vel descalgas na Libeila!

Às vezes também se devem enga-nar. Mas se assim for corrige a infor-mação anterior:

– Tá lá? É pala avisal que houveum engano. Afinal foi o meu vizi-nho... Desculpe, xim?

Mas, pensando melhor, talvez pos-samos utilizar os nacionais. O que nãofalta são pessoas a “farejar a torto e adireito” por tudo quanto é sítio, e, al-guns até têm um sentido de olfacto ver-dadeiramente invejável...

As tatuagens temporárias de cornegra podem originar reacções alér-gicas mais ou menos graves que po-dem obrigar a intervenção médica ur-gente e até hospitalização, segundoum alerta da Autoridade Nacional doMedicamento (INFARMED), citandoa autoridade francesa (AFSSAPS).

Na nota, onde se sublinha que atéao momento ainda não se detectouqualquer caso em Portugal, é explica-do que podem surgir casos de ecze-ma de contacto alguns dias ou sema-nas depois da realização de tatuagenstemporárias.

Esses casos resultam do uso dehena incorporada com uma substân-cia química proibida (parafenilenodi-amina ou PPD), que serve para acen-tuar a cor negra e prolongar o efeito.

A PPD é uma substância autoriza-da na composição de produtos cosmé-

Tatuagens temporárias podem provocargraves problemas de pele

ticos, mas apenas permitida nas tin-tas capilares (até um máximo de seispor cento), sendo também utilizada naindústria têxtil.

Os eczemas de contacto podem sur-gir na zona tatuada, em redor dela oupor todo o corpo.

O INFARMED alerta para o factoda sensibilização induzida pela PPDter um “carácter irreversível” e po-der conduzir a uma “polisensibilização,nomeadamente a borracha, tintas dovestuário e tintas capilares”, pelo quea vida quotidiana e o desempenho deprofissões como a de cabeleireiro po-derão ficar afectados.

A nota refere ainda que todos oscasos de reacções adversas relacio-nadas com a utilização de produtoscosméticos e de higiene corporal de-verão ser comunicados ao INFAR-MED.

ALERTA O INFARMED

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18 25 DE JULHO DE 2007EDUCAÇÃO / ENSINO

João Louceiro *

* Dirigente do SPRC

Quinta-feira participei na vigília quea Frente Comum dos Sindicatos daAdministração Pública promoveufrente à Assembleia da República. Emdestaque estava a proposta de lei so-bre Vínculos, Carreiras e Remunera-ções, discutida no parlamento, preci-samente na quinta-feira. É a bombaatómica para a destruição das rela-ções laborais na administração públi-ca. É o avanço da “flexigurança”, todaela “flexibilidades”, nada dela “segu-rança

Assisti a parte do debate parlamen-tar e da experiência resultou uma es-tupefacção que partilho com o leitor.Afinal discutia-se ali matéria de tre-menda importância. Discutia-se oamanhã de milhares de trabalhadores,de milhares de famílias. Discutia-se adestruição de justas mas difíceis con-quistas que a luta de gerações e ge-rações de trabalhadores trouxe. Dis-cutia-se o fim do que hoje conhece-mos como Administração Pública.

A falta de deputados em algumas

Nem os deputados são todos iguais!

bancadas era flagrante. O que dizerdo número de lugares vagos na ban-cada do PSD? O assunto não foi alitido como relevante, ou não estaria adistraída, pequena mas tumultuosa pla-teia de deputados social-democratasequiparada em número às dos parti-dos “menores”.

Para quem ainda alimente a ilusãode que a reviravolta se concretizarápor magia nas próximas eleições, sen-do que até lá, apenas teríamos de dei-xar passar o tempo, aqui fica outroregisto. Do “ataque” dirigido pelo PSDà proposta do Governo sobressaíramduas preocupações: os queixumes deinjustiçados por não lhes ser reconhe-cido ímpeto reformador nos seus tem-pos de governação e a acusação deque, afinal, aos olhos do PSD, a pro-posta em apreço até podia ir mais lon-ge… A intervenção da deputada foirematada por uma ovação, pindérica,dado o escasso número de colegasdisponíveis para bater palmas.

Da bancada do PS saltou para a tri-

buna destemida deputada que, de in-dicador direito em riste, sentenciouque os que, como nós!, não concor-dam com a proposta do Governo, ver-se-iam inexoravelmente ultrapassadospela História; retesando o indicadoresquerdo, rematou com hossanas àveia reformadora e modernizadora doGoverno do seu partido. Muitos de-putados do PS aplaudiram.

Esforcei-me para, no meio do“bruá” ensurdecedor, ouvir o que ti-nham para dizer um deputado comu-nista e uma deputada do BE. Mas avozearia aumenta sempre que a pala-vra é dos “mais pequenos”. Há porali quem os considere representantesmenores… A sugeri-lo, os esgaresprovocatórios que alguém na linha dafrente da maioria manteve à medidaque o deputado comunista lembravaque o que ali se destruía eram conquis-tas de longos anos, de continuadas lu-tas, de muitos sacrifícios, incluindo ode vidas…

Senti-me incomodado e ofendido!

Em poucos minutos a coisa estava fei-ta. Chegava ao fim a discussão no ple-nário sobre Vínculos, Carreiras e Re-munerações, tão só… uma matériadesta dimensão!

Aqui ainda partilho mais um poucocom os leitores! Durante a discussão,constatei que a sr.ª deputada que en-cabeçou a lista do PS em Coimbra,precisamente a primeira a ser eleitacom os votos dos eleitores do distrito,batia palmas quando falava alguém doseu partido; não batia palmas quandofalavam os outros. Assim, sem falhas!Já agora, ainda se lembram de quemestou a falar? E sabem o que de bomtem feito por nós?

Na verdade, temos de ser muitomais cuidadosos com os deputadosque elegemos. Afinal concedemos-lheuma influência determinante no nos-so bem-estar e na definição do que ofuturo nos reserva. E não me digam,que não vale a pena, que são todosiguais!

O professor universitário Nuno Cra-to defendeu que são necessários maisexames no sistema de ensino portu-guês e que estes devem ser elabora-dos por uma entidade independente enão pelo Ministério da Educação.

“O Ministério da Educação nãosabe fazer exames fiáveis e compa-ráveis de ano para ano”, afirmou NunoCrato, professor de Matemática noISEG (Instituto Superior de Economiae Gestão) e autor do livro “O Eduqu-ês em Discurso Directo”.

Nuno Crato foi o orador convidadode um almoço organizado pelo CDS-PP, na sede do partido, mas fez ques-tão de frisar ser “um independente”.

No entanto, o investigador defen-deu, tal como os democratas-cristãos,a necessidade de mais exames no sis-tema educativo português, propondoque estes sejam elaborados por uma

Especialista defendemais examese elaborados por órgãoindependente

COM CRÍTICAS AO MINISTÉRIODA EDUCAÇÃO

entidade independente, “uma espéciede Banco de Portugal”.

“Não tem sentido nenhum que osalunos cheguem ao 9º ano sem seremsujeitos a qualquer exame”, defendeu.

Para Nuno Crato, a não existênciade mais exames em Portugal deve-sea “uma corrente ideológica” que do-mina parte dos teóricos das ciênciasda educação e o próprio Ministério ea que apelida de ‘eduquês’.

“É uma ilusão completa pensar quese pode avaliar os professores semexames aos alunos”, considerou.

Recentemente, o CDS-PP apresen-tou um projecto de resolução no Par-lamento que propunha a introdução deexames nacionais do 4º e 6º ano, man-tendo as actuais provas no 9º ano, umdiploma que foi chumbado pela maio-ria socialista e pela oposição de es-querda.

DIRECTOR DA ALLIANCE FRANÇAISEDE COIMBRA

Alain Didier partepara o Brasil

O Director da Alliance Française de Coimbra, Alain Didier, acaba de ser transferidopara Fortaleza (Brasil), depois de ter cumprido o tempo máximo permitido peloGoverno francês como Director da Alliance Française de Coimbra e Delegado-Geralda Alliance Française de Portugal.Alain Didier levou a cabo um notável trabalho de dinamização das actividades daAlliance Française, para além de muitas outras acções em prol da divulgação dalíngua e da cultura francesas e de iniciativas culturais diversas.Por tudo isso conquistou o respeito e a amizade de professores, alunos e dosmembros do Comité da Alliance Française, que lhe ofereceram um almoço dedespedida (na imagem alguns dos participantes nessa significativa homenagemrodeiam Alain Didier, ao centro na foto).

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1925 DE JULHO DE 2007 EDUCAÇÃO / ENSINO

Ana Filipa Janine acaba de ser re-eleita Presidente dos “EDS” (Europe-an Democrat Students), uma organi-zação que abrange cerca de 400 milestudantes de dezenas de países eu-ropeus. A eleição decorreu na Mace-dónia, e a jovem conimbricense, quedisputava a liderança com um austrí-

aco, obteve uma vitória muito expres-siva (61,5 % dos votos).

Com 24 anos e natural de Coimbra,onde reside, Ana Filipa Janine concluiua licenciatura na Faculdade de Direi-to da Universidade de Coimbra(FDUC) no passado ano lectivo e nes-te momento está a fazer o Curso deEstágio da Ordem dos Advogados nes-ta cidade.

A posição de grande destaque naEuropa, para a qual acaba de ser ree-leita, surge na sequência de um per-curso invulgar, que começou ainda noensino secundário, e se desdobra pe-las actividades associativa, cultural epolítica.

Assim, no aspecto associativo, pre-sidiu à Associação de Estudantes daEscola Secundária Infanta D. Maria,pertenceu à Comissão de Curso do 2.ºAno Jurídico (FDUC) e ao Núcleo deEstudantes de Direito da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (AAC) e foiCoordenadora da Política EducativaInternacional da AAC.

Em termos culturais (e para alémde outras actividades), foi membro edirigente das “Mondeguinas” (umatuna feminina da UC) e pertenceutambém ao Orfeon Académico deCoimbra.

FULGURANTE ACTIVIDADEPOLÍTICA

Quanto à actividade política, ela co-

REELEITA EM REUNIÃO NA MACEDÓNIA

Jovem conimbricense preside a organizaçãoque representa 400 mil estudantes

meçou também muito cedo, mais con-cretamente em 1999, quando se filiouna JSD de Coimbra (tinha apenas 16anos). No ano seguinte já era Vogalda Comissão Política de Secção (Co-imbra) e Coordenadora concelhia doEnsino Secundário. Em 2001 foi elei-ta Vogal da Comissão Política Distri-

tal de Coimbra e Coordenadora dis-trital do Ensino Secundário. Em 2002ascendia a vogal na Comissão Políti-ca Nacional e em 2005 assumiu o car-go de Directora do Gabinete de Rela-ções Internacionais (para o qual foi

também recentemente reeleita pormais dois anos).

Foi no desempenho destas funçõesque começou a participar em reuni-ões internacionais, rapidamente sedestacando, de tal forma que em 2003,com apenas 20 anos, foi eleita Vice-Presidente dos “Estudantes Democra-

tas Europeus”, cargo para que viria aser reeleita duas vezes.

Desta forma, e pelo mérito que lhereconheceram, chegou, o ano passa-do, ao topo desta importante organi-zação político-estudantil, lugar paraque acaba de ser reeleita pela últimavez (já que os estatutos apenas per-mitem dois mandatos).

Uma escolha muito honrosa (é a pri-meira vez que um português presideaos “EDS”), mas que é também pres-tigiante para a Universidade de Co-imbra, para a cidade e para o próprioPaís, de que Ana Filipa Janine tem sidodinâmica embaixadora.

A nova secretária-geral dos “EDS”é Elisabeth Torkildsen (Noruega), cujacandidatura foi apoiada pela presidentereeleita.

Ana Filipa Janine apoiou igual-mente sete dos 12 candidatos às oitovice-presidências dos EDS, todoseles eleitos.

A nova estrutura directiva dos EDSinclui, como vice-presidentes, repre-sentantes da Macedónia, Itália, Croá-cia, Polónia, Chipre, Alemanha, Gré-cia e Sérvia.

TRABALHO APAIXONANTEMAS MUITO CANSATIVO

Ana Janine reconhece, em decla-rações ao “Centro”, que o seu traba-

lho enquanto líder dos “EDS” é muitocansativo, mas que o desempenha comgrande entusiasmo, tentando concili-ar as responsabilidades e solicitaçõesque o cargo implica, com o Curso deEstágio da Ordem dos Advogados.

A verdade é que, depois de ter es-tado em dezenas de países em re-

Ana Filipa Janine com Bill Clinton e os presidentes de três estruturas juveniseuropeias (democratas, socialistas e liberais), em recente reunião em Yalta(Ucrânia).

presentações internacionais da JSD, ago-ra os compromissos são ainda mais ab-sorventes, obrigando-a a muitas desloca-ções a diversos países da Europa.

Nestas suas andanças, Ana FilipaJanine tem mantido contactos com re-levantes figuras da cena política in-ternacional – como, por exemplo, o ex-Presidente norte-americano Bill Clin-ton, a Chanceler da Alemanha, Ange-la Merkel, ou o Comissário Europeupara a Educação, Cultura e Juventu-de, Jan Figel.

Registe-se que enquanto Presiden-

te dos EDS, Ana Filipa Janine partici-pa nas reuniões bimestrais do PPE(Partido Popular Europeu), que tantose podem realizar em Bruxelas comonoutra capital europeia.

A ORGANIZAÇÃO “EDS”

Criada em 1961, adopta o nome Eu-ropean Democrat Students em 1975.

Tem neste momento 32 paísesmembros efectivos e 2 observadores.

As eleições para a Presidência sãouninominais (eleição individual e nãopor lista).

Como acima referimos, abrangecerca de 400 mil estudantes em todaa Europa.

Os EDS organizam anualmente a“Universidade de Verão” e a “Univer-sidade de Inverno”. Esta última de-correu no passado mês de Fevereiro,na Polónia. A “Universidade de Ve-rão” realizou-se o ano passado emLisboa e a deste ano na Macedónia(onde Ana Filipa Janine foi reeleita).

Durante o ano organiza ainda 2 a 3seminários.

Quem desejar conhecer melhor aactividade dos Estudantes Democra-tas Europeus pode visitar o “site”

http://www.edsnet.org/new

Com a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel

Usando da palavra na reuniãoem que foi reeleita

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20 25 DE JULHO DE 2007ASTROLOGIA

Jorge Côrte Real *

* Jurista

Júpiter

E agora, senhoras e senhores, te-nho o prazer e a honra de vos apre-sentar o maior dos planetas do nossosistema solar. Ele é o que tem maissatélites, o mais benéfico e o mais bemdisposto de todos os conhecidos. Émeu privilégio apresentar-vos o pla-

neta Júpiter.Alegre, optimista, gastador “big

spender” (gastador) e embaixador detodos os outros.

Com esta ou outra apresentação se-melhante, podemos retratar a influên-cia deste astro nas nossas vidas. Elerepresenta o jovem, alto, bem pareci-do, sempre bem disposto, generoso atéao limite, aberto às ideias novas, am-plificando o que recebe de bom e mi-nimizando o que recebe de menosbom.

Na interacção com os outros as-tros, ele é a lente de aumento das po-tencialidades destes, onde toca, au-

menta para o bem e para o exagero.Rege a casa 9 do horóscopo natu-

ral, impulsionando o indivíduo para osestudos superiores, para as longas vi-agens, e rege o signo de Sagitário.

A jovialidade e o optimismo de cadaum de nós são projectados através donosso Júpiter.

Bem aspectado, amplifica as ener-gias envolvidas.

Mal aspectado, amplifica até à dis-

torção as referidas energias.Exemplificando, Júpiter com Sol, a

90º de Neptuno, origina frequentemen-te o indivíduo que exagera no quecome, no que bebe e naquilo que usa.Júpiter com Sol, a 120º de Neptuno,origina o organizador de reuniões queadora dar de comer e de beber aosoutros, poupado mas generoso, quefica feliz com a felicidade dos outros.Curioso é notar que Júpiter conjuntocom Neptuno (no mesmo grau ou amais ou menos 5 graus um do outro)desenvolve tanto a criatividade e aimaginação como as encontradas e re-conhecidas em cineastas como Felliniou Cecil de Mille.

Quando as organizações produtivasou fabris decidirem recrutar o seu pes-soal segundo as regras astrológicas,irão dar muita atenção aos indivíduosregidos por Júpiter, ou seja aos Sagi-tários, porque eles encerram o trígo-no ou triplicidade do fogo. Aires, Leãoe Sagitário correspondem á primeira,quinta e nona casas, respectivamen-te. Integram o denominado trigonocriador. Aires com Marte serão recru-tados para realizar estudos e projec-tos iniciais e subsequentes, ou seja, oimpulso para criar e manter criativa eactual a empresa. Leão regido peloSol para comandar, executar e man-tê-la a laborar sob uma chefia organi-zada. E finalmente Júpiter com Sagi-tário, para controlar a qualidade finaldo produto e/ou promover a comerci-alização dos produtos fabricados, “ma-rketing”.

A alegria e a boa disposição são asexpressões de Júpiter, normalmentevisíveis nos indivíduos com idade com-preendida entre os 21 e os 29 anos deidade.

Júpiter influencia a Banca e os Se-guros, e em conjunto com Mercúrio eVénus as operações da Bolsa de Va-lores. Os astrólogos que se dedicama fazer previsões sobre as tendênciasda Bolsa e das Acções cotadas, sãovulgarmente tão bem sucedidos comoos seus clientes.

O dia de Júpiter é a quinta-feira,Thursday, dia do Deus do Trovão, Jeu-di, dia de Júpiter, Giovedi, Donners-

tag, (Donar, Trovão), Júpiter. E seráeste o dia propenso a reuniões de pla-neamento ou simplesmente de confra-ternização. A cor é o cinzento e ometal o estanho.

Júpiter nos signos:Em Carneiro, teremos o entusias-

ta.Em Touro, o investidor.Em Gémeos, o diplomata.Em Câncer o generoso.Em Leão o politico exuberante.Em Virgem, o zeloso.Em Libra, o elegante refinado.Em Escorpião, o auto-confiante.Em Sagitário, o moderado.Em Capricórnio, o prudente.Em Aquário, o tolerante.Em Peixes, o gentil.Júpiter é considerado muito justa-

mente o grande benéfico, já que o pe-queno é Vénus. Está relacionado comos dinheiros, a justiça e a religião. Ex-pande, amplia e traz boa sorte.

Júpiter influencia também a nossarelação com os animais, sobretudo osdomésticos. Quem possui um Júpiterproeminente na carta natal, atrai e éatraído pelos animais.

Júpiter demora 11,86 anos a com-pletar uma revolução em torno do Sol.E nove horas e cinquenta e quatro mi-nutos a rodar em torno do seu eixo.

Deixo-vos com Júpiter até ao Sa-turno, que será o nosso próximo con-vidado.

E, já agora boas, férias.

Jupiter e Tétis - Jean Auguste Dominique Ingres, 1811Museu Granet (Aix en Provence)

O Planeta Júpiter

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2125 DE JULHO DE 2007 OPINIÃO

Renato Ávila

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

A Festa da Democracia

Um numeroso grupo de trabalhadoresmanifestou-se à porta do Conselho Euro-peu recentemente reunido em Lisboa.

O nosso Primeiro, que presidia à reunião,achou muito natural esta Festa da Demo-cracia. Certamente para a Europa saber queem Portugal a democracia é uma festa.

Tirada de mestre!Na nossa democracia temos, de facto,

festas para todos os gostos: arraiais, arrua-das (a que alguns chamam arruaças), es-pectáculos de palco e de bastidores, circo emuitas artes mais.

O mais importante de todos é, como nãopodia deixar de ser, o das eleições – nosentrementes, nos finalmentes e nos apos-mentes.

O que mais nos fascina nas eleições é ovoto. Aquela caixa mágica que dá vitórias atoda a gente, que enrola de tal maneira ospapelinhos que atravessam a ranhura, osquais tanto podem dar democracia, ditadu-ra, ditadura democrática, e que tanto podemcolocar os figurões nos cornos da lua comonos abismos dos infernos.

De facto, aquele pequenino rectângulode papel abonecado de pitorescas siglas epomposos nomes e protocolado de solenís-simas normas é o elemento crucial e essen-cial da formalização da democracia.

Afiançam-nos, até, que aquela cruzinhaque amadurecida e respeitosamente depo-sitamos num dos quadradinhos é a genuína

e soberana expressão da vontade popularface às propostas apresentadas na campa-nha eleitoral pelas formações concorrentes.

A questão da democracia real vem de-pois, quando os vencedores polvilham osresultados com pozinhos de perlimpimpim,transformando, ainda por artes mágicas, ademocracia real em democracia virtual.

Prevalece um entendimento, quanto a nósnegativo, de que o projecto maioritariamen-te sufragado confere aos seus subscritoreso poder absoluto de dar a volta ao texto efazerem aquilo que lhes dá na real gana, con-siderando fora da jogada todos os outros pro-jectos concorrentes e esvaziadas de qual-quer capacidade de intervenção as forma-ções apresentantes.

Resultado: a democracia transforma-se

numa paradoxal ditadura democrática, já quese considera sancionada pelo voto. Outramagia. Negra.

Tal perspectiva transforma o voto em ele-mento supérfluo, perverso, porventura.

As maiorias absolutas numa democraciarepresentativa, como é a nossa, controlama seu bel prazer o exercício da mais impor-tante das suas funções: a função parlamen-tar. Elegem o Presidente da Assembleia econdicionam decisivamente a feitura e apro-vação das leis e a fiscalização dos actos doGoverno.

Acresce ainda que o exercício do poderpor maiorias absolutas vulgarmente cai natentação de criar mecanismos e estratégiasde oposição e defesa face a órgãos ou ins-tituições vocacionadas para a fiscalização e

controlo da actividade administrativa do exe-cutivo e de condicionamento da comunica-ção e da opinião pública.

A maioria actualmente no poder, ainda ameio do mandato, começa a dar sinais evi-dentes desse tipo de comportamentos.

A nível parlamentar, é paradigmático oque se passou com a interpretação da von-tade dos cidadãos manifestada no referen-do sobre a IVG, cuja lei e sua regulamenta-ção estão longe de contemplar a ecléticaessência da expressão popular; a inviabili-zação da ida ao Parlamento de alguns mi-nistros responsáveis por pastas nas quaisemergem clamorosos casos de abuso depoder por parte das hierarquias.

A nível institucional, uma certa e desca-bida insolência face a algumas apreciaçõese recomendações menos favoráveis do Tri-bunal de Contas e da Provedoria de Justiçae a ausência de senso político nas relaçõescom os Tribunais. Sintomática, ainda, umacerta tentativa de controlo político dos ór-gãos de investigação criminal e das forçasde segurança.

Por outro lado, paira velada ameaça dedomesticação da comunicação social e con-dicionamento da opinião pública, atravésduma famigerada lei cujos contornos já sãomotivo de apreensão.

A democracia poderia muito bem seruma festa. Com tal panorama não será cer-tamente.

E o Senhor Primeiro-Ministro sabe-omuito bem.

A magia negra daquele pequenino rec-tângulo de papel!

Docente universitário com algu-ma experiência na área da comuni-cação para um público alargado foiconvidado a proferir uma palestrapara jovens do ensino básico. Pre-parou PowerPoint a condizer,numa condimentada junção entresugestivos desenhos animados eimagens prenhes de ensinamentos.

Os docentes das três turmas queo vieram ouvir suspiraram de alívio– que apenas lhes incumbia, nessahora, dar uma olhadela a ver se arapaziada aprendia. Um deles, re-parou o conferencista, leu ostensi-vamente uma revista o tempo tododa palestra.

“O nosso Primeiro achou muito natural esta Festa da Democracia”

Desde 1140 que D. Afonso Henriques,tentava conquistar Lisboa aos Mouros,o que só veio a conseguir em 1147, de-pois de um apertado cerco e com a aju-da dos Cruzados vindos de França.

Lisboa era então uma cidade recém-cristã quando, na sua catedral, foi a bap-tizar Fernando Martins de Bulhões, filhode D. Teresa Tavera e de Martinho deBulhões, seu marido.

Fernando Martins de Bulhões nasceuem Lisboa a 15 de Agosto de 1195. Des-de muito novo que demonstrou tendên-cias religiosas, frequentando a Sé de Lis-boa, São Vicente de Fora, rumando de-pois para Coimbra, para o Convento deSanta Cruz e o Convento de Santo An-tão – Ordem de São Francisco de Assis– que mais tarde veio a designar-se Con-vento de Santo António dos Olivais. Em1220, muda o hábito de Santo Agostinhopelo hábito Franciscano, passando a cha-

1895 – 7º Centenáriodo Nascimentode Santo Antóniomar-se António.

Embarcou para África mas, vítima dedoença, teve de regressar. O barco ondevinha foi fortemente atacado por umatempestade levando-o à costa da Sicília.Nesta ilha transalpina teve oportunidadede demonstrar as suas qualidades de ora-

dor, aperfeiçoou os seus estudos e ensi-nou teologia. Percorreu outros países emmissão. São atribuídos inúmeros milagresao Santo português, que veio a faleceraos 36 anos em Pádua, a 13 de Junho de1231.

(continua)

No próximo dia 12 de Agosto os CTT emitem uma série de selos paraassinalar o centenário do nascimento de Miguel Torga.

Nessa data haverá também, à disposição dos coleccionadores, um ca-rimbo de 1º dia.

NO PRÓXIMO DIA 12 DE AGOSTO

Emissão comemorativado centenário de Miguel Torga

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22 25 DE JULHO DE 2007MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Na semana passada voltei a ir ver, “aovivo e a cores”, os Arctic Monkeys. Jáos tinha visto há cerca de um ano e, ali-ás, já vos tinha falado disso neste espa-ço. Apesar de gostar muito mais do ál-bum de estreia desta banda de Sheffield,“Whatever People Say I Am, That´sWhat I’m Not”, do que do novíssimo“Favourite Worst Nightmare”, queria ver,mais uma vez, a banda liderada por AlexTurner. E, de facto, não saí desiludido.Estes quatro rapazes apresentaram-seperante um Coliseu dos Recreios (Lis-boa) a rebentar pelas costuras (nuncatinha visto nada assim) com uma entra-da “a matar”, “A View From The After-noon”, seguida, sem paragens, do primei-ro “single” do novo disco, “Brianstorm”.Adorei a postura da banda, que apesarde pouco faladora, mostrou sempre umaenorme interacção com o público, queera verdadeiramente sub-16, muitos de-les acompanhados pelos pais. Prova dis-so mesmo, foi um urso de peluche quefoi arremessado para cima do palco numadas primeiras músicas.

O som estava fantástico, com uma ba-teria muito “vincada”, mas a minha pre-ferência vai, claramente, para os temas

do disco de estreia, excepção feita a “OldYellow Bricks”, “Brianstorm” e o feno-menal “Leave Before The Lights ComeOn”. Há uma semana que não oiço outracoisa que não seja Arctic Monkeys.

Foi editado a semana passada no Rei-no Unido – por cá ainda não vi à venda– “Fantastic Playroom”, o primeiro lon-ga duração dos londrinos New YoungPony Club, de quem já conhecia os “sin-gles”: “Ice Cream”, “Tight Fight” e, maisrecentemente, “The Bomb”. Um discoonde a banda confirma o seu talento nocruzamento do rock com a electrónica.De destacar o tema de abertura do dis-co, “Get Lucky”.

Volvidos, quase, sete meses de 2007,no que toca a discos, a minha predilec-ção continua a recair em “A WeekendIn The City”, dos Bloc Party, por serdaqueles discos a ouvir de uma ponta àoutra com imenso gosto. Mas há umamão cheia de temas fantásticos, edita-dos este ano, como sejam: “SmokersOutside The Hospital Doors”, dos Edi-tors, “Heinrich Maneuver”, dos Interpol,“It´s Not Over Yet”, dos Klaxons, ou“Pogo”, dos Digitalism.

Termino com os desejos de boas féri-as a todos os os leitores.

PARA SABER MAIS:www.arcticmonkeys.comhttp://www.wearepony.com

Arctic Monkeys “Whatever People SayI Am, That´s What I´m Not” (Domino)Arctic Monkyes “Favourite Worst Night-mare” (Domino)New Young Pony Club “Fantastic Playro-om” (Island)

Arctic Monkeys

A Orquestra Clássica do Centro gra-vou um concerto para a Antena 2, nopassado sábado (dia 21 de Julho), noMosteiro de Celas, em Coimbra.

Tratou-se da interpretação integral dosConcertos para Violoncelo e Orquestrade Carl Philipp Emanuel Bach, tendocomo solista e director o violoncelistaBruno Borralhinho.

Recorde-se que Bruno Borralhinho,violoncelista português, é membro daprestigiada orquestra alemã “DresdnerPhilharmonie”, sob direcção do maestroRaphael Frühbeck de Burgos. Nasceuna Covilhã em 1982 e iniciou os seusestudos musicais aos 12 anos na EscolaProfissional de Artes da Beira Interioronde estudou com o professor Luís SáPessoa durante 5 anos. Estudou entre2000 e 2006 na classe do professor Ma-rkus Nyikos na “Universität der Küns-te”, em Berlim, onde concluiu a Licenci-atura (2004) e a Pós-Graduação/Solista(2006) com a máxima classificação.

Prossegue actualmente a sua forma-ção com o prestigiado violoncelista no-

NO MOSTEIRO DE CELAS (COIMBRA)

Orquestra Clássica do Centro grava para a Antena 2rueguês Truls Mørk. Frequentou tambémcursos de aperfeiçoamento com NataliaGutman, Pieter Wispelwey, Anner Byls-ma, Martin Löhr, Lluis Claret, MárcioCarneiro, Jens-Peter Maintz, MartinOstertag, Jian Wang e Thomas Demen-ga, e foi bolseiro da Fundação CalousteGulbenkian entre 2001 e 2005.

Em 1999 obteve o 1.º Prémio no Con-curso de Instrumentos de Arco JúlioCardona e em 2001 foi primeiro classi-ficado no «Prémio Jovens Músicos» daRádio Difusão Portuguesa. Enquantosolista, apresentou-se acompanhadopela Orquestra Gulbenkian e pela Or-questra Clássica do Centro na interpre-tação de obras de J. Haydn, Tchaiko-vsky e Lalo.

Bruno Borralhinho integrou a GustavMahler Jugendorchester e a JeunessesMusicales World Orchestra, tendo ocu-pado o lugar de 1.º Violoncelo Solistanesta última. Foi ainda membro da Aca-demia da Staatskapelle Berlin entre 2004e 2006, orquestra residente da ÓperaEstadual de Berlim, e estagiário na

Deutsches Symphonie-Orchester Berlinem 2003, orquestras com as quais conti-nua a colaborar regularmente, assimcomo com a Orquestra Sinfónica daRádio de Berlim.

Ao longo destes anos, tocou em al-gumas das mais famosas salas de con-certo por toda a Europa, Estados Uni-dos da América, Canadá e América doSul. Trabalhou igualmente com maes-tros de renome, como Daniel Barenbo-im, Claudio Abbado, Franz Welser-Möst,Kurt Masur, Kent Nagano, YakovKreisberg, Herbert Blomstedt, Christo-ph Eschenbach e Paarvo Järvi, e solis-tas importantes, como Anne-SophieMutter, Martha Argerich, Maxim Ven-gerov, Daniel Müller-Schott, AlbanGerhardt, Pierre-Laurent Aimard, Ro-lando Villazón e Thomas Quasthoff,entre outros.

Dos projectos para 2007 enquantosolista, é importante destacar a interpre-tação integral das Suites de Bach emMaio (“Primavera Musical”, CasteloBranco), a interpretação integral dosConcertos de C.P.E. Bach com a Or-questra Clássica do Centro em Julho (so-lista e direcção) e o Concerto de Schu-mann com a Orquestra do Norte emNovembro.

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2325 DE JULHO DE 2007 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

As férias estão à porta. Em Agosto o país vai a ba-nhos e as leituras são sempre um bom acompanha-mento para o merecido descanso. Por isso mesmo, estasemana as Ideias Digitais são uma compilação dossites referenciados ao longo dos últimos meses. Trata-se de uma lista de links interessantes, que convidam auma visita nestes dias (que se esperam que sejam)quentes.

DeBoleia – um site para encontrar companheirospara partilhar viagens e dividir a gasolina. Por outraspalavras, um papel de parede onde se anotam propos-tas que visam poupar. “Porque a vida está cara”...

endereço: http://www.deboleia.com/

Produções Fictícias – esta produtora é possivel-mente uma das mais conhecidas e reconhecidas do país.Agora tem um espaço nos vídeos do Sapo que mereceuma visita. Porque nas férias nada melhor do que umaboa gargalhada.

endereço: http://pftv.sapo.pt/

Freecycle – mais uma ideia para poupar. Este siteé um sistema de trocas de bens a nível local. O Free-cycle é uma organização sem fins lucrativos que jáchegou a Portugal. No nosso país contam-se cinco gru-pos: Lisboa, Porto, Aveiro, Coimbra e Braga.

endereço: http://www.freecycle.org/

Go Alentejo – esta é uma das regiões de Portugalmais procuradas no Verão. Para quem planeia fériasno Alentejo, este site tem conteúdos muito interessan-tes. Localidades, alojamento, gastronomia e restauran-tes, artesanato, desporto, castelos, natureza, praias,golfe, termalismo e agenda são apenas alguns das te-máticas disponíveis.

endereço: http://www.goalentejo.pt

Associação de Cancro Cutâneo – site indispen-sável para quem gosta de apanhar sol. Aqui é possívelencontrar informação sobre protectores solares, regis-tos de médicos, informações sobre prevenção, diagnós-ticos sobre problemas de pele e conselhos para brinca-deiras de crianças em ambientes seguros e protegidosdo sol.

endereço: http://www.apcc.online.pt/

Festivais de Verão – os festivais são já um ele-mento incontornável nop Verão. Para quem vai habitu-almente ou para quem pretende estrear-se nestas an-danças, esta página é preciosa. Tem informações so-bre datas, preços, acessos, alojamentos, cartazes e ain-da notícias de última hora sobre os eventos.

endereço: http://www.festivaisverao.com/

Alibi Network – precisa de uma boa desculpa?Então este site é para si. Quem precisar de se livrar desituações embaraçosas ou incómodas, encontra nesteserviço alibis para todos os gostos. O valor depende dacomplexidade da mentirinha...

endereço: http://alibinetwork.com/

AEIOU – o AEIOU está diferente. Mudou de“cara” e melhorou os conteúdos. Para acompanhar oSAPO e mostrar que continua um dos melhores (ou omelhor?) portal português. Foi comprado pela Impresae reassumiu o seu papel de líder. Pinto Balsemão tinhaavisado que este era o ano multimédia. Não se enga-nou.

endereço: http://www.aeiou.pt

VirtualTourist – neste espaço há dicas para turis-tas que pretendem viajar pelo mundo inteiro. Três mi-lhões de fotografias, restaurantes, hotéis, coisas parafazer, perigos, transportes, vida nocturna e outros tópi-cos de interesse para quem viaja pelas principais cida-des mundiais. Conteúdos produzidos por utilizadorescomuns que apresentam verdadeiros guias de viagem.Com a vantagem de serem gratuitos.

endereço: http://www.virtualtourist.com/

Netvibes – é o desktop do utilizador da Web 2.0.Este espaço permite que, mediante um registo, o utili-zador possa configurar a página para concentrar con-teúdos numa única página. É uma espécie de homepa-ge inicial, à semelhança de outros serviços como o Pa-geFlakes ou o desktop do Google.

endereço: http://www.netvibes.com/

Geni – O site Geni é uma rede social que permiteaos utilizadores fazerem a sua árvore genealógica.Neste espaço é possível representar graficamente da-dos importantes, como datas de nascimento e/ou óbitode parentes mais antigos. No site é também possívelfazer upload de fotografias para ilustrar os “ramos” daárvore genealógica.

endereço: http://www.geni.com

Do Something – O Do Something é um site quepromove o activismo. Como? Assim: «Encouragesyoung people to create their own vision for makinga difference in their community and provides themwith the resources and support needed».

endereço: http://www.dosomething.org/

Zoho Creator – O Zoho Creator é um site quepermite aos utilizadores criarem as suas próprias apli-cações informáticas, sem terem conhecimento de lin-guagens de programação. Trata-se de uma espécie de“self service” que possibilita aos utilizadores comuns enão especializados gerar aplicações para integração emsuportes multimédia e interactivos.

endereço: http://www.zohocreator.com/

43 Things –- O 43 Things é um sistema construí-do com base no fenómeno do “tagging”, que permiteaos utilizadores criar uma listagem de objectivos e, atra-vés das palavras-chave escolhidas, interligar os utiliza-dores que partilham as mesmas ideias. A pergunta ésimples: “what do you want to do with your life?

endereço: http://www.43things.com/

Couchsurfing – A ideia é simples: viajar e ter aloja-mento gratuito, no sofá dos milhares de membros dosite espalhados pelo mundo. Portugal está representa-do e é um dos dez países com mais utilizadores regista-dos.

endereço: http://www.couchsurfing.com/

Ready to Leave – Pronto para partir? O Ready toLeave ajuda-o a responder a esta perguntar com adisponibilização de várias ferramentas que facilitam avida aos viajantes. O site assume-se como uma espé-cie de kit de viagens e tem também uma vertente co-mercial, com equipamentos e produto para viajantes.

endereço: http://www.readytoleave.com/

How Stuff Works – Como é que as “coisas” funci-onam? Este site explica tudo. Objectos, processos emecanismos das mais diversas áreas são explicadosneste site, até os fenómenos naturais. Por exemplo, noHow Stuff Works podemos ficar a saber como é quefunciona o ar condicionado ou o que provoca um tre-mor de terra.

endereço: http://www.howstuffworks.com/

Library Thing – para quem gosta de ler e, sobretu-do, é organizado este site é imprescindível. O LibraryThing permite catalogar todos os seus livros, encontrarpessoas que têm os mesmos gostos literários, ler críti-cas, descobrir novos escritores, pedir sugestões do queler ou até do que não ler.

endereço: http://www.librarything.com/

Page 24: O Centro - n.º 32 - 5.07.2007

24 25 DE JULHO DE 2007TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

ELEIÇÕES EM LISBOA

As “noites eleitorais” já não têm osabor de antigamente. A velocidade comque tudo se passa retirou a expectativadas primeiras eleições em liberdade que,muitas vezes, obrigavam a longas trans-missões que acabavam já o dia seguinteraiava.

Felizmente que é assim. Devia ser si-nal da tão apregoada maturidade da de-mocracia portuguesa. Só que, e há sem-pre um “mas” incómodo que teima emnão desaparecer, as emissões televisi-vas em noite de eleições transforma-ram-se numa nova forma de luta políti-ca que se joga ali, precisamente, nosécrans da televisão.

Na noite das eleições autárquicas emLisboa, mais uma vez os aparelhos par-tidários geriram com grande cuidado (iaa dizer profissionalismo...) todas as in-tervenções para a televisão. Aliás, as in-tervenções são hoje feitas exclusivamen-

te para a televisão. Não é que seja ideiaacertada, pois o panorama mediático estáem mudança. No entanto, é o que “a casaainda gasta”.

Entre o saber escolher o momentoideal para aparecer, dizendo o quê epara quem, a última noite eleitoral, detão pobre, acabou por permitir que astelevisões entrassem por uma realida-de pouco, ou nunca, revelada. Refiro-me à reportagem da SIC, em directo,no Hotel Altis, onde o Partido Socialis-ta se preparava para festejar a vitóriado seu candidato à presidência da Câ-mara da capital. O repórter vagueavapor ali, naquele preencher o tempo,vulgarmente chamado em gíria por “en-cher chouriços”, quando pergunta auma senhora de que bairro é que elavinha. Perante o espanto do jornalistae de todos os que estivessem mais aten-tos à intervenção, a senhora responde(ingenuamente): venho de Famalicão!E ao lado, outra, também de lá vinha. Elogo a seguir, mais gente que vinha deCabeceiras de Basto. Ora ao que sesaiba, e não obstante o centralismo rei-nante, aquelas simpáticas povoaçõesainda não foram absorvidas para bair-ros ou freguesias de Lisboa. Tratava-se de gente que tinha vindo em excur-são domingueira a Mafra e, já agora,vai de dar um pulinho ao Altis que a

mobilização lisboeta era quase nula e eranecessário enquadramento humano e asinevitáveis bandeirinhas.

Quem já acompanhou estas movimen-tações partidárias sabe que é assim. Foiquase sempre assim. Seja com o PS, como PSD ou até com o PCP. A novidadefoi a televisão ter mostrado (e demons-

trado) em directo como é que as estasmovimentações acontecem. Mesmo as-sim, a “máquina partidária” não funcio-nou em pleno, pois era suposto que nadadisto fosse exposto nesse terrível meioamplificador que é a televisão.

Mas se não funcionou bem para estecaso dos idosos em excursão vindos deFamalicão para vitoriar o novo presiden-te da autarquia lisboeta, já funcionoumuito bem quando fez precipitar para asala de imprensa do Hotel Altis as prin-cipais figuras do partido, no exacto mo-mento em que Helena Roseta, a dissi-dente/independente, discursava, entusi-asmada com os seus resultados. De facto,era necessário diminuir os efeitos da vo-tação inesperada numa independente(ex-PS) a que o partido não dera aten-ção. Muito antes de António Costa falar,já as câmaras se precipitavam sobre ele,que, acompanhado do primeiro-ministro,fazia lentamente o trajecto até à sala.Mais uns “vitória ... vitória”, “PS ... PS”,“Costa ... Costa” e lá ficou a Rosetapendurada algures num outro local da

cidade. Missão cumprida.Por antecipação, já no Telejornal –

RTP 1, de 14 de Maio, a declaração deHelena Roseta acerca da pressa súbitaem convocar eleições, não pôde sertransmitida por “problemas técnicos...”.A concluir, José Rodrigues dos Santosdisse: “Voltaremos à declaração de He-lena Roseta ainda nesta edição do Tele-jornal... ou talvez não”. Aconteceu (mes-mo) no Telejornal.

AINDA O LIVE EARTH

Já aqui me referi à sensaborona trans-missão do evento, da maneira como foifeita pela RTP. Já lamentei as banalida-des dos apresentadores, de uma boa partedos convidados e de como tudo se pas-sou assim numa mistura em “banho-ma-

ria” de paternalismo ambientalista, comtiques de laracha sem graça. Mas nãome insurgi o suficiente com a formacomo foi tratada a música e, acima detudo, os espectadores.

Quem tivesse consultado o site oficial

do Live Earth, teria verificado facilmen-te que a RTP tinha apenas o chamadoworld feed, isto é, um resumo em diferi-do de algumas interpretações. Em dife-rido, sublinho. Não em directo. Esta op-ção da RTP pode ter sido motivada pordiversas razões, inclusive os possíveiscustos de outro tipo de transmissão (in-cluindo directos). Ora a RTP não dissenada e, pelo contrário, fez passar a ideiade que o espectador estava perante di-rectos. Uma mentira, escandalosa, ain-da por cima no serviço público.

Como se percebeu o logro? Por exem-plo, às 3 horas (já na madrugada de se-gunda-feira), Sílvia Alberto anunciavaque, finalmente, íamos ter Madonna...em directo! Ora Madonna tinha come-çado a cantar no estádio de Wembley,em Londres, pouco depois das 10 da noi-te, cinco horas antes do falso “directo”da RTP. Quer isto dizer que à hora emque a RTP ofereceu a actuação, já ascanções de Madonna tinham passado(em directo) no site do Live Earth e emmuitas outras estações de televisão, masestavam também já disponíveis em vári-os blogues de todo o mundo !

A RTP, para além de ter mentido aoespectadores (e o drama é que tambémjá ninguém se revolta com isto...), julgaque está ainda noutro mundo, com umarealidade comunicacional diferente, emque não existe internet, nem satélites.Arrogância? Muito provavelmente. Mas,mais ainda do que noutras circunstânci-as da vida, a arrogância, em meios decomunicação de massas, é quase sem-pre fatal. Humildemente, sugiro à RTPisto mesmo: mais humildade.