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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA NATAL / RN MARÇO 2017 O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL DE MANDIOCA NO RIO GRANDE DO NORTE Raquel Silva dos Anjos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

NATAL / RN

MARÇO – 2017

O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL

DE MANDIOCA NO RIO GRANDE DO NORTE

Raquel Silva dos Anjos

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RAQUEL SILVA DOS ANJOS

O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL DE MANDIOCA

NO RIO GRANDE DO NORTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação e Pesquisa em Geografia (PPGe) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como pré-requisito para obtenção do título de

mestre em Geografia.

Linha de Pesquisa: Território, Estado e

Planejamento.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Fransualdo de

Azevedo.

NATAL / RN

MARÇO - 2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e

Artes - CCHLA

Anjos, Raquel Silva dos.

O circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte / Raquel Silva dos Anjos. - 2017.

176 f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de

Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, 2017. Orientador: Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo.

1. Agroindústria - Rio Grande do Norte. 2. Mandioca -

Indústria - Rio Grande do Norte. 3. Território. I. Azevedo,

Francisco Fransualdo de. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 633.493(813.2)

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RAQUEL SILVA DOS ANJOS

O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL DE MANDIOCA

NO RIO GRANDE DO NORTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação e Pesquisa em Geografia (PPGe) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como pré-requisito para obtenção do título de

mestre em Geografia.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo

(Orientador – UFRN)

__________________________________________________

Prof. Dr. Edu Silvestre de Albuquerque

(Membro interno – UFRN)

__________________________________________________

Profª. Drª. Sônia de Souza Mendonça Menezes

(Membro externo – UFS)

NATAL / RN

MARÇO – 2017

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AGRADECIMENTOS

A Deus todo poderoso, por sua infinita bondade e misericórdia; pelo amor, amparo e

força nos momentos difíceis e de desânimo. A Ele sempre toda honra e glória.

Aos meus pais, Francisco dos Anjos e Iranir Tomaz, minha eterna gratidão pelo

incentivo aos estudos desde cedo e esforço contínuo de me proporcionar sempre o melhor,

apesar das dificuldades. À minha irmã Regina, pela cumplicidade e por todas as vezes que me

ajudou, seja com algo relacionado à pesquisa ou em outras situações cotidianas.

Agradecimento especial ao meu namorado Marcondes pela imensa e valiosa ajuda

com a pesquisa de campo. Agradeço igualmente pelo apoio, compreensão, paciência e pelas

palavras de conforto que me encorajaram a prosseguir, quando, por vezes, cheguei a acreditar

que não conseguiria vencer os obstáculos impostos a mim durante o processo de construção

deste trabalho.

Ao meu querido professor Fransualdo Azevedo que, mesmo antes do resultado do

processo seletivo do mestrado, aceitou prontamente meu pedido de orientação, e por esse e

tantos outros motivos, sou bastante grata pela confiança depositada em mim. Pela

contribuição e novo direcionamento dado à pesquisa, estímulo, complacência e oportunidades,

quero externalizar minha satisfação por tê-lo como orientador, a quem tenho grande

admiração e respeito.

Aproveito para agradecer aos demais professores do Programa de Pós-Graduação e

Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pelas contribuições à

pesquisa e por todo conhecimento adquirido tanto nas disciplinas quanto nos colóquios

temáticos. Nesse ínterim, um agradecimento especial aos professores Edu Silvestre e Sedeval

Nardoque (UFMS), por terem aceitado compor a banca do exame de qualificação deste

trabalho, colaborando para o aperfeiçoamento do mesmo a partir dos apontamentos

realizados, sugestões e indicações bibliográficas.

Meus agradecimentos também são direcionados aos professores Nivaldo Hespanhol e

Rosângela Hespanhol pela acolhida e contribuições ao trabalho de dissertação durante a

realização da missão de estudos na UNESP-PP (Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT).

Não poderia deixar de agradecer ainda ao professor Nivaldo Hespanhol por ter aceitado ser o

tutor desta atividade, colocando-se totalmente à disposição para reuniões e para ajudar no que

fosse preciso, e aos colegas que tive a oportunidade de conhecer no Grupo de Estudos

Dinâmica Regional e Agropecuária (GEDRA), pela receptividade, conversas e discussões

empreendidas.

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Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

pela concessão da bolsa de mestrado. Aos colegas da pós-graduação, pelas experiências

vivenciadas no decorrer das disciplinas cursadas, colóquios e curso de iniciação à docência.

Agradeço também ao amigo Edvaldo Lopes pelo apoio inestimável e inteira disponibilidade

em ajudar, inclusive, na pesquisa empírica, e a querida Inés Rosso, pela imensa ajuda na

confecção dos mapas deste trabalho de dissertação.

Direciono meus agradecimentos também a Rafael Pereira, Welton Nascimento e

Leonardo Galindo pelo conhecimento compartilhado bem como pela companhia na “Unidade

Interdisciplinar de Estudos sobre a Habitação e o Espaço Construído”; e ao Assistente em

Administração André Fabrício (PPGe/UFRN), por todo auxílio e disponibilidade em tirar

minhas dúvidas relacionadas ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. Muito

obrigada!

Enfim, agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a

construção deste trabalho, bem como ao conjunto de entrevistados, compreendendo os

produtores de mandioca, proprietários das unidades de processamento e trabalhadores desses

estabelecimentos; e ao gestor do Projeto Mandiocultura Potiguar do SEBRAE-RN, pela total

atenção desde os primeiros contatos e aptidão em colaborar com a pesquisa.

Meus profundos e sinceros agradecimentos!

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RESUMO

No Rio Grande do Norte, o cultivo da mandioca ocorre praticamente em todo o estado,

possuindo importância, inclusive, no âmbito do seu processo de formação territorial. O

beneficiamento da referida raiz nos dias atuais está diretamente associado à intensificação das

relações estabelecidas entre a agricultura e a indústria, embora ainda com pouca

expressividade, considerando as especificidades e a realidade do Rio Grande do Norte. Tais

relações foram permeadas pelo processo de reestruturação produtiva e, diante da atual

conjuntura econômica do Rio Grande do Norte, tendo em vista os rebatimentos dos processos

econômicos no território, pode-se afirmar que ocorreram mudanças, sobretudo de caráter

técnico e organizacional, no setor mandioqueiro do estado, condicionando assim, a

reestruturação do circuito espacial de produção da mandioca. Este processo deu-se de modo

difuso, com permanências e coexistências de práticas e relações sociais de produção; mas

também de redefinição das possibilidades e escalas de usos do território pelo referido circuito

espacial produtivo, a partir do papel que passou a ter a mecanização, sobretudo no que se

refere ao beneficiamento da mandioca. Entende-se que as discussões sobre os circuitos

espaciais de produção são essenciais no entendimento da centralidade da circulação bem

como no encadeamento das diversas etapas produtivas. Nesse sentido, a circulação ganha

destaque, demonstrando o caráter essencial dos fluxos para a realização da produção. Desse

modo, o objetivo deste trabalho consistiu em investigar o circuito espacial e os círculos de

cooperação da produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte, especialmente

no que concernem os processos de produção, processamento, distribuição e consumo de

mandioca e seus derivados. A metodologia adotada para a elaboração deste trabalho pautou-se

na realização de revisão e pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, bem como coleta e

sistematização de dados secundários, através de órgãos como IBGE, SEBRAE-RN e FIERN.

A realização da pesquisa de campo também foi um importante procedimento metodológico,

uma vez que permitiu conhecer, a partir da base empírica, as diferentes realidades vivenciadas

pelos agentes que atuam no circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio

Grande do Norte. As análises empreendidas revelam a ausência e/ou ineficácia de políticas

públicas destinadas à agricultura familiar, especialmente para o universo de produtores

vinculados ao circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca, bem como se observa

fragilidades e limites nas ações que poderiam fomentar o fortalecimento e a própria

dinamização do referido circuito espacial produtivo.

Palavras-chave: Agroindústria de mandioca. Circuito espacial de produção. Território. Rio

Grande do Norte.

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ABSTRACT

In the state of Rio Grande do Norte, cassava cultivation occurs practically throughout the

state, having importance even within the scope of its territorial formation process. The

beneficiation of this root in the present day is directly associated with the intensification of the

relations established between agriculture and industry, although still with little

expressiveness, considering the specificities and the reality of Rio Grande do Norte. These

relations were permeated by the process of productive restructuring and, given the current

economic situation of Rio Grande do Norte, in view of the refutation of the economic

processes in the territory, it can be affirmed that there were changes, mainly of a technical and

organizational nature, in the sector Mandioqueiro of the state, thus conditioning, the

restructuring of the space circuit of cassava production. This process occurred in a diffuse

way, with permanences and coexistence of practices and social relations of production; But

also to redefine the possibilities and scales of land use by the said productive space circuit,

from the role that started to have mechanization, especially with regard to the processing of

cassava. It is understood that the discussions about space production circuits are essential in

understanding the centrality of the circulation as well as in the chain of the various stages of

production. In this sense, circulation gains prominence, demonstrating the essential character

of the flows for the realization of production. Thus, the objective of this work was to

investigate the spatial circuit and the cooperation circles of cassava agroindustrial production

in Rio Grande do Norte, especially regarding the processes of production, processing,

distribution and consumption of manioc and its derivatives. The methodology adopted for the

elaboration of this work was based on the revision and bibliographical research, documentary

research, as well as collection and systematization of secondary data, through organs such as

IBGE, SEBRAE-RN and FIERN. The field research was also an important methodological

procedure, since it allowed to know, from the empirical basis, the different realities

experienced by the agents that act in the spatial circuit of cassava agroindustrial production in

Rio Grande do Norte. The analyzes carried out reveal the absence and / or inefficacy of public

policies aimed at family agriculture, especially for the universe of producers linked to the

space circuit of cassava agroindustrial production, as well as weaknesses and limits in the

actions that could promote the strengthening and dynamics of the said productive space

circuit.

Key words: Agribusiness of cassava. Spatial circuit production. Territory. Rio Grande do

Norte.

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Distribuição das agroindústrias e empregos na produção de farinha no Rio

Grande do Norte (2015) ......................................................................................................

50

Mapa 2: Rio Grande do Norte: evolução da área plantada de mandioca (1990-2015) ......

Mapa 3: Rio Grande do Norte: evolução da área colhida de mandioca (1990-2015) .........

Mapa 4: Rio Grande do Norte: evolução da quantidade de mandioca produzida (1990-

2015) ...................................................................................................................................

Mapa 5: Produção de mandioca no estado do Rio Grande do Norte (2015) ......................

Mapa 6: Municípios de origem e municípios/estados de destino dos derivados (farinha

de mandioca e goma) I ........................................................................................................

Mapa 7: Municípios de origem e municípios/estados de destino dos derivados (farinha

de mandioca e goma) II .......................................................................................................

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Interação da distribuição, troca e consumo com a etapa da produção..................

44

Figura 2: Crescimento da produção mundial das principais culturas alimentares 1980-

2011 (índice 1980 = 100) ....................................................................................................

Figura 3: Depósito de friagem, destinado ao armazenamento da farinha na Agroindústria

dos Anjos.............................................................................................................................

45

49

Figura 4: Comercialização da Goma Sinhá Maria, da indústria Primícias do Brasil, no

hipermercado Bom Preço – Natal/RN ................................................................................

52

Figura 5: Obra “A mandioca”, de Albert Eckhout (1640) ..................................................

64

Figura 6: Mapa das áreas alimentares do Brasil ................................................................. 70

Figura 7: Cultivo de macaxeira e feijão na mesma propriedade em Vera Cruz-RN...........

82

Figura 8: Trabalho realizado sem o uso de equipamentos de segurança e vestimenta

adequada em casa de farinha da Serra de Santana...............................................................

111

Figura 9: Trabalho realizado com vestimenta adequada em agroindústria de farinha e

goma da Serra de Santana....................................................................................................

112

Figura 10: Parte das máquinas que são utilizadas no beneficiamento da mandioca em

uma agroindústria do Agreste Potiguar................................................................................

113

Figura 11: Processo de empacotamento manual de farinha em Tenente Laurentino -

RN........................................................................................................................................

114

Figura 12: Placa de boas-vindas em Brejinho-RN com referência à produção de farinha

de mandioca.........................................................................................................................

Figura 13: Descarte da manipueira diretamente no solo em uma unidade de

processamento de mandioca no município de Tenente Laurentino Cruz-RN.....................

Figura 14: Manipueira armazenada em tanques ou reservatórios de captação (à dir.

agroindústria em Lagoa Nova –RN, à esq. agroindústria em Vera Cruz-RN......................

Figura 15: Fábrica de farinha e goma na Serra de Santana licenciada pelo IDEMA –

RN........................................................................................................................................

Figura 16: Casca de coco para aquecimento de fornos em agroindústria de mandioca do

Agreste Potiguar...................................................................................................................

Figura 17: Casa de farinha comunitária desativada no Sítio Buraco da Lagoa, município

de Lagoa Nova –RN.............................................................................................................

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Figura 18: Empacotadeira industrial em uma unidade de processamento de mandioca......

Figura 19: Péssimas condições de higiene nas unidades tradicionais de beneficiamento

de mandioca ........................................................................................................................

Figura 20: Mulheres realizando a raspagem da mandioca em agroindústria da Região

Agreste.................................................................................................................................

Figura 21: Agroindústria de goma no município de Lagoa Salgada – RN..........................

Figura 22: Unidades da EMPARN no Rio Grande do Norte...............................................

Figura 23: Raspagem manual da mandioca em agroindústria no Agreste Potiguar............

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LISTA DE GRÁFICOS

LISTA DE QUADROS

Gráfico 1: Produção de mandioca em toneladas nos estados nordestinos (2015)...............

81

Gráfico 2: Produção de mandioca no Rio Grande do Norte: quantidade produzida (t).......

Gráfico 3: Destino do resíduo líquido da mandioca (manipueira)......................................

Gráfico 4: Aproveitamento da manipueira nas unidades de processamento de mandioca..

95

122

122

Quadro 1: Objetivos específicos e procedimentos da pesquisa...........................................

Quadro 2: Classificação da mandioca .................................................................................

Quadro 3: Agricultura familiar no Brasil: fases do debate político e intelectual.................

Quadro 4: Linhas de crédito do PRONAF...........................................................................

Quadro 5: Diferenças entre circuito espacial produtivo e cadeia produtiva........................

Quadro 6: Unidades de processamento e beneficiamento de mandioca no Rio Grande do

Norte....................................................................................................................................

31

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais municípios produtores de mandioca no Rio Grande do Norte (2014)

46

Tabela 2: O programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar no Rio Grande

do Norte ..............................................................................................................................

Tabela 3: Produção de mandioca (2015): municípios de procedência da raiz nas

agroindústrias de farinha e outros derivados.......................................................................

90

115

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LISTA DE SIGLAS

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

APL – Arranjo Produtivo Local

ASCOFAM – Associação Mundial de Luta Contra a Fome

BB – Banco do Brasil

BNB – Banco do Nordeste do Brasil

BPF – Boas Práticas de Fabricação

CAIs – Complexos Agroindustriais

CEASA – Central Estadual de Abastecimento

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

EMATER – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte

FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

FIERN – Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte

FINAGRO – Programa de Financiamento para Comercialização, Beneficiamento ou

Industrialização de Produtos de Origem Agropecuária

HCN – Ácido Cianídrico

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente

IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PAS – Programa Alimentos Seguros

PDAN – Programa de desenvolvimento da agroindústria do Nordeste

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

POLONORDESTE – Programa de desenvolvimento de áreas integradas no Nordeste

PROCERA – Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

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PROTERRA – Programa de redistribuição de terras e de estímulo à agroindústria do Norte e

Nordeste

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SUVISA – Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária do Rio Grande do Norte

UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS.....................................................................

19

1.1 OBJETO (PROBLEMA) DA PESQUISA: dimensão teórico-conceitual, empírica e

temporal ...............................................................................................................................

19

1.2 JUSTIFICANDO O TRABALHO: Por que propor uma leitura geográfica sobre o

circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do

Norte?...................................................................................................................................

21

1.3 QUESTÕES CENTRAIS E OBJETIVOS.....................................................................

22

1.4 CONCEITO GEOGRÁFICO CHAVE: território e a noção de território

usado....................................................................................................................................

23

1.5 ENFOQUE TEÓRICO-CHAVE DA PESQUISA: circuito espacial de

produção...............................................................................................................................

24

1.6 AS CATEGORIAS DE ANÁLISE PRIORIZADAS NA INVESTIGAÇÃO...............

25

1.7 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA............................................................................

28

1.8 A ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS: uma construção correlacionada teórico-

empírica na busca pela compreensão da realidade...............................................................

31

2 OS CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS: uma perspectiva geográfica sobre

produção, movimento e uso do território.........................................................................

35

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE CIRCUITO ESPACIAL

PRODUTIVO.......................................................................................................................

2.1.1 A operacionalidade do conceito de circuito espacial produtivo na

Geografia..............................................................................................................................

2.1.2 Produção, distribuição, troca e consumo: compreendendo as etapas dos circuitos

espaciais produtivos.............................................................................................................

2.2 OS CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS E O USO DO TERRITÓRIO.............

2.2.1 Território: uma aproximação teórico-conceitual.........................................................

2.2.2 Abrigo e recurso: perspectivas do uso do território....................................................

2.2.3 Circularidade da produção, uso e organização do território........................................

35

39

42

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3 UMA LEITURA GEOGRÁFICA SOBRE A MANDIOCULTURA: breve

histórico, processos e conteúdos........................................................................................

3.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A CULTURA DA MANDIOCA NO BRASIL...........

3.1.1 A farinha: derivado importante na alimentação brasileira..........................................

3.1.2 Geografia da fome: a experiência de Josué de Castro e o combate à desnutrição

utilizando a farinha...............................................................................................................

3.2 A FORMAÇÃO TERRITORIAL E A PRODUÇÃO DE MANDIOCA NO RIO

GRANDE DO NORTE........................................................................................................

3.2.1 Agricultura familiar e o papel do PRONAF no Rio Grande do Norte........................

3.2.2 Técnicas de cultivo de mandioca e adubação..............................................................

3.2.3 Entraves e perspectivas da produção atual de mandioca no Rio Grande do Norte.....

4 A MANDIOCA NO CONTEXTO DA TECNICIZAÇÃO DO TERRITÓRIO E

DA MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA.....................................

4.1 A AGROINDÚSTRIA DE MANDIOCA NO CENÁRIO ATUAL BRASILEIRO.....

4.2 DAS CASAS ÀS INDÚSTRIAS DE FARINHA: pensando a agroindústria de

mandioca no Rio Grande do Norte.......................................................................................

4.2.1 Programas de financiamento rural e a inserção de instrumentos técnicos nas casas

de farinha..............................................................................................................................

4.2.2 Agroindústria de mandioca e os nexos com a reestruturação produtiva no Rio

Grande do Norte...................................................................................................................

4.2.3 Coexistências e permanências no processo de beneficiamento de mandioca no Rio

Grande do Norte...................................................................................................................

4.2.4 Agroindústria de mandioca e meio ecológico: o caso da manipueira.........................

5 O CIRCUITO ESPACIAL DA AGROINDÚSTRIA DE MANDIOCA NO RIO

GRANDE DO NORTE......................................................................................................

5.1 ALÉM DA CADEIA PRODUTIVA: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA............

5.2 TOPOLOGIA E TIPOLOGIA DAS UNIDADES DE BENEFICIAMENTO DO

CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL DE MANDIOCA NO

RIO GRANDE DO NORTE................................................................................................

61

61

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19

5.3 O TRABALHO NO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO

AGROINDUSTRIAL DE MANDIOCA NO RIO GRANDE DO NORTE: uma análise

no âmbito das unidades de processamento e beneficiamento..............................................

5.3.1 Relações de trabalho...................................................................................................

5.3.2 Origem e qualificação da mão-de-obra.......................................................................

5.4 OS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO DO CIRCUITO ESPACIAL DA

AGROINDÚSTRIA DE MANDIOCA NO RIO GRANDE DO NORTE..........................

5.4.1 As ações de empresas e instituições no setor mandioqueiro.......................................

5.4.2 A atuação do Sebrae-RN no contexto da agroindústria de mandioca.........................

5.4.3 Participação das instituições financeiras de crédito e das instituições de ensino e

pesquisa................................................................................................................................

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................

7 REFERÊNCIAS..............................................................................................................

8 APÊNDICES....................................................................................................................

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1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS

O presente trabalho de dissertação resulta das reflexões realizadas durante a

construção da pesquisa intitulada “O circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca

no Rio Grande do Norte”, o qual foi desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação e

Pesquisa em Geografia (PPGe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob

orientação do Professor Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo.

Nesse sentido, buscou-se apresentar uma leitura e um discurso geográfico a respeito

do tema anteriormente mencionado, tendo como elementos chaves para o desenvolvimento

dessa reflexão o conceito de circuito espacial de produção e o conceito de território, na

perspectiva de território usado, sinônimo de espaço humano, espaço habitado (SANTOS,

2005). Para Milton Santos (2000, p. 104) “o território usado constitui-se como um todo

complexo onde se tece uma trama de relações complementares e conflitantes”, por isso a

relevância dessa noção, “convidando a pensar processualmente as relações estabelecidas entre

o lugar, a formação socioespacial e o mundo” (Ibid., p. 105).

A seguir, serão apresentadas informações essenciais deste trabalho dissertativo,

evidenciando elementos como os objetivos da pesquisa, as questões norteadoras, assim como

os pressupostos teóricos e analíticos por meio dos quais foi analisado o circuito espacial de

produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte.

1.1 OBJETO (PROBLEMA) DA PESQUISA: dimensão teórico-conceitual, empírica e

temporal

A ocupação e constituição do território do Rio Grande do Norte tem sua base no

desenvolvimento de atividades agrícolas, com a utilização de técnicas consideradas

tradicionais. Consorciadas às atividades da cana-de-açúcar, da pecuária e do algodão, a dita

economia de subsistência ou de autoconsumo, também se desenvolvia com uma produção

alimentar, sobretudo de feijão, milho, batata e mandioca. Sobre esta última, é interessante

salientar que o seu cultivo se dá, nos dias atuais, em praticamente todo o território norte-rio-

grandense, sobretudo nos municípios que compõem a Microrregião Agreste Potiguar (IBGE,

2014).

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21

A mandioca1, enquanto cultura destinada à alimentação dos norte-rio-grandenses

manteve sua relevância ao longo do tempo, mesmo com as mudanças que ocorreram nos

hábitos alimentares, principalmente com o advento e consumo significativo dos fast-foods.

Na indústria, a produção de mandioca é destinada para a fabricação de farinha e amido, e

nesse ramo, destaca-se a “produção agroindustrial de mandioca” objeto de estudo da presente

pesquisa, aqui analisado a partir do conceito de circuito espacial produtivo e de círculos de

cooperação, tendo como recorte espacial empírico o estado do Rio Grande do Norte.

A utilização do termo “agroindustrial” justifica-se por se tratar da transformação de

uma matéria-prima, no caso a mandioca, que é proveniente da agricultura. De modo

abrangente, a agroindústria é definida como a unidade produtiva que transforma o produto

agropecuário natural ou manufaturado para utilização intermediária ou final (LAUSCHNER,

1995). O beneficiamento da referida raiz no período atual está diretamente associado à

intensificação das relações estabelecidas entre a agricultura e a indústria, embora ainda com

pouca expressividade, considerando a realidade do Rio Grande do Norte. O processo de

reestruturação produtiva que atingiu determinados segmentos da agricultura, conforme

Hespanhol et.al (2012), também está articulado com essa maior interação com a indústria.

Com o processo de reestruturação produtiva2 e diante da atual conjuntura econômica

do Rio Grande do Norte, tendo em vista os rebatimentos dos processos econômicos no

território, pode-se afirmar que ocorreram mudanças, sobretudo de caráter técnico e

organizacional, no setor mandioqueiro do estado, condicionando assim, a reestruturação do

circuito espacial de produção de mandioca. Tal processo deu-se de modo difuso, com

permanências e coexistências de práticas e relações sociais de produção; mas também de

redefinição das possibilidades e escalas de usos do território pelo referido circuito espacial

produtivo, a partir do papel que passou a ter a mecanização, sobretudo no que se refere ao

beneficiamento da mandioca.

Nesse contexto, é discutida a questão da modernização da atividade mandioqueira.

Salvador (2010) trata da inserção de instrumentos técnicos mecanizados nas casas de farinha

que vem causando transformações no processo de produção desse produto, bem como nas

relações de trabalho. Todavia, afirmar que a referida atividade está se modernizando, não

1 Refere-se à chamada mandioca de mesa: aipim ou macaxeira. As variedades de mandioca são classificadas

como “brava”, com fins industriais, e “mansa”, utilizada para o consumo in natura (CUNHA e FARIAS NETO,

2016).

2 O processo de reestruturação produtiva, que ocorre, sobretudo, a partir dos anos 1980, foi marcado no Rio

Grande do Norte, dentre outros aspectos, “pela falência de determinadas atividades econômicas, redefinição e

reestruturação de outras”, mas, sobretudo, pelo surgimento de atividades até então inexistentes no território

potiguar (AZEVEDO, 2013, p. 114).

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significa defender que a atividade mandioqueira se apresente totalmente diferente do cenário

anterior. Pelo contrário, no momento atual ainda observa-se a permanência de várias

características “tradicionais” como a presença do trabalho familiar no cultivo da mandioca e o

uso de alguns instrumentos manuais, como prensas e peneiras. O que é certo, porém, é que a

atividade vem, desde a década de 1980, passando por mudanças, as quais são comandadas

pela lógica da modernização agrícola, caracterizada pelo avanço do capital na agricultura,

favorecendo a obtenção de maior produtividade e ampliação da lucratividade. (SALVADOR,

2010).

Com base no que foi apresentado, o estudo do circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca no território potiguar, é uma tentativa de construção de uma nova

abordagem que seja capaz de promover avanços não somente na discussão conceitual, mas

também na compreensão das dinâmicas territoriais concernentes ao Rio Grande do Norte no

período técnico-científico-informacional.

1.2 JUSTIFICANDO O TRABALHO: Por que propor uma leitura geográfica sobre o circuito

espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte?

Analisar geograficamente o desenvolvimento da mandiocultura é resgatar, de forma

literal, a gênese do processo de formação territorial de muitas cidades e estados brasileiros,

particularmente no semiárido do Nordeste. Isso implica em buscar entender o Rio Grande do

Norte e o desenvolvimento de atividades econômicas associadas às chamadas “culturas de

autoconsumo” no referido estado, como a própria mandiocultura; e de como a mandioca passa

à condição de mercadoria destinada às casas de farinha, e posteriormente, às indústrias.

Estudar o circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte é

buscar compreender a circularidade da produção, e como se dá o uso e a organização do

território norte-rio-grandense por esse circuito.

Desse modo, a pesquisa justifica-se tendo em vista a pertinência apresentada junto ao

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, com área de concentração “Dinâmica Socioambiental e Reestruturação do

Território”, por constituir-se em um estudo que permite compreender as dinâmicas territoriais

a partir do desenvolvimento do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no

Rio Grande do Norte no período histórico atual. É entendida, assim, a relevância das questões

que envolvem o uso do território potiguar, levando-se em consideração as economias

presentes e que são condicionantes da configuração e/ou reconfiguração produtiva.

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A análise do território fundamentada nos circuitos espaciais de produção e nos círculos

de cooperação é bastante válida e permite, portanto, reconhecer as articulações estabelecidas

entre os agentes e os lugares nos processos de aquisição de matéria-prima, gestão, produção,

distribuição e consumo das mercadorias. (BOMTEMPO e SPOSITO, 2012). Ademais, a

pesquisa viabiliza avanços nas discussões sobre os circuitos espaciais de produção,

contribuindo de maneira significativa para a compreensão do circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca no estado do Rio Grande do Norte, com a construção de novas

análises e novas abordagens a respeito das questões e problemáticas existentes. Por fim,

reforça-se a importância do tema na construção de uma base teórico-metodológica capaz de

subsidiar outras pesquisas e/ou trabalhos que estejam relacionados ao tema ora apresentado.

1.3 QUESTÕES CENTRAIS E OBJETIVOS

Os seguintes questionamentos foram importantes na definição do objeto (problema) de

pesquisa:

Como se dá o uso do território face à configuração do circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte no período histórico atual?

Como as sucessões e coexistências (práticas, relações de trabalho, relações sociais de

produção agroindustrial de mandioca) expressam-se no território potiguar no contexto

do circuito espacial agroindustrial da mandioca?

Qual a importância do crédito e da técnica no contexto da mecanização do processo de

beneficiamento da mandioca no Rio Grande do Norte?

Quais as tipologias e topologias associadas aos processos de circulação,

comercialização e consumo da mandioca no Rio Grande do Norte?

A partir dessas questões, definiu-se como objetivo geral investigar o circuito espacial e

os círculos de cooperação da produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte,

especialmente no que concernem os processos de produção, processamento, distribuição e

consumo de mandioca e seus derivados. Os objetivos específicos são:

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Discutir os aspectos históricos marcantes no processo de produção de mandioca e seus

derivados no Rio Grande do Norte;

Analisar as sucessões e coexistências das práticas e relações sociais de produção no

interior do circuito espacial produtivo da mandioca e de seus derivados no território

potiguar;

Compreender a importância do crédito e das técnicas no atual processo de

mecanização do beneficiamento da mandioca no Rio Grande do Norte, e

Analisar as tipologias e topologias inerentes aos sistemas de circulação,

comercialização e consumo produtivo de mandioca no Rio Grande do Norte.

1.4 CONCEITO GEOGRÁFICO CHAVE: território e a noção de território usado

Na pesquisa, foram adotadas as discussões sobre território na perspectiva do seu uso,

tendo em vista a possibilidade de uma leitura e interpretação dos elementos da realidade com

a qual pretendeu-se trabalhar. Nesse viés, a perspectiva teórica por meio da qual buscou-se

compreender o conceito de território está baseada na ideia de território usado, este último

sendo sinônimo de espaço banal, pois “é o uso do território, e não o território em si mesmo,

que faz dele objeto da análise social” (SANTOS, 2005, p.255). Em sua análise, Milton Santos

ainda acrescenta: “O território são formas, mas o território usado são objetos e ações,

sinônimo de espaço humano, espaço habitado” (Ibid.).

O território é considerado uma dimensão do espaço marcada pela ideia de domínio, de

apropriação (SANTOS, 1996). Essa dimensão liga-se à categoria de poder, que pode ser

exercida tanto pelo Estado e pelas grandes empresas quanto pela sociedade civil. O território

não deve ser entendido apenas como um limite político-administrativo, mas também como um

espaço que é usado pela sociedade, pelo poder público e pelas empresas. Tem, pois,

importância social na dimensão dos povos. Entende-se que “o território é síntese histórica de

investimentos sociais e condição da práxis criadora. Seu uso faz com que ele não seja apenas

condição de ação tática estratégica, mas também uma dimensão da experiência humana”

(SALVADOR, 2010, p.23).

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O território usado inclui a tudo e a todos, permitindo “considerar não apenas as formas

de dominação, mas também as formas de resistência” (CATAIA, 2011, p. 124). Esta

colocação evidencia a abrangência e a complexidade desse conceito, que merece ser analisado

de forma crítica e cuidadosa, para que não se incorra no equívoco de evidenciar no território

somente aquilo que aparentemente é conveniente.

1.5 ENFOQUE TEÓRICO-CHAVE DA PESQUISA: circuito espacial de produção

Na atualidade acredita-se que o estudo de um determinado ramo da economia e/ou a

produção de um produto em específico deve-se realizar através do conceito de circuitos

espaciais de produção, principalmente quando se trata de um trabalho de caráter geográfico,

pois como adverte Santos e Silveira (2008, p.143):

para entender o funcionamento do território é preciso captar o

movimento, daí a proposta da abordagem que leva em conta os

circuitos espaciais da produção. Estes são definidos pela

circulação de bens e produtos, e por isso oferecem uma visão

dinâmica, apontando a maneira como os fluxos perpassam o

território.

Nesse sentido, Castillo e Frederico (2010) compreendem que o conceito de circuito

espacial de produção enfatiza a um só tempo a circulação, os fluxos que permitem a produção

(circuito); o espaço geográfico enquanto instância social que se impõe a tudo e a todos

(espacial); e a atividade produtiva dominante, devendo-se levar em consideração os agentes e,

sobretudo, as firmas (produtivo). Sendo assim, o mais adequado é buscar compreender o

movimento que é próprio do território, este se caracterizando tanto como o resultado do

processo histórico quanto à base material e social das novas ações humanas.

Os circuitos espaciais produtivos são formados por empresas de diversos tamanhos e

que atingem de forma articulada diferentes frações do território. Essa articulação se expressa

pelo movimento de inúmeros fluxos de mercadorias, ideias, ordens, informação, dinheiro,

excedente, enfim, pela circulação (ARROYO, 2008). No que se refere à escala geográfica de

ação dos diferentes circuitos espaciais produtivos, Arroyo (2008, p. 2) afirma

A escala geográfica de ação dos diferentes circuitos constitui

um princípio de organização espacial, criando um tecido cuja

forma, extensão e complexidade estão mudando

permanentemente. Mesmo que as fases ou momentos

produtivos se desenvolvam de forma geograficamente dispersa,

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inclusive para além das fronteiras nacionais, haverá sempre uma

unidade do movimento que permite indicar como cada fração

do território é interdependente das demais. Os circuitos

espaciais de produção são, portanto, úteis para revelar o quanto

o trabalho é comum, solidário e circular.

A análise dos circuitos espaciais de produção deve ser feita, juntamente, com os

círculos de cooperação no espaço (MORAES, 1985). Os círculos de cooperação são

importantes, pois apesar das etapas do processo produtivo estarem cada vez mais dispersas

territorialmente, em decorrência da crescente especialização produtiva dos lugares, há por

outro lado uma crescente expansão das redes de informação (Castillo e Frederico, 2010);

assim sendo, os círculos de cooperação evidenciam que apesar de estarem dispersos, os

espaços produtivos são interdependentes.

Os círculos de cooperação integram diferentes lugares numa mesma circularidade (de

mercadorias, e de capitais), definindo desse modo, hierarquias, especializações e fluxos. Suas

sobreposições delineiam a divisão territorial do trabalho. É no seu interior que se

movimentam os processos de transferência geográfica do valor (MORAES, 1985).

Desse modo, os círculos de cooperação ajudam a pensar e analisar de onde se origina o

capital para a atividade, a mão de obra necessária, o maquinário, o desenvolvimento técnico-

científico por trás da produção e as informações produzidas para gerar a produção, de onde

vem a matéria-prima, e as formas de transportá-la. Os círculos de cooperação podem ser

entendidos como a relação estabelecida entre os lugares e os agentes – que compõem o

circuito espacial de produção – por intermédio dos fluxos de informação (políticas das

empresas, ordens, mensagens e capital).

Portanto, os conceitos de circuito espacial de produção e de círculos de cooperação no

espaço, conseguem apreender de maneira indissociável as particularidades de cada etapa da

produção, captando o objeto da Geografia como uno e total (CASTILLO E FREDERICO,

2010).

1.6 AS CATEGORIAS DE ANÁLISE PRIORIZADAS NA INVESTIGAÇÃO

Definindo-se uma teoria central para o desenvolvimento do trabalho de dissertação, o

estabelecimento de algumas categorias analíticas configurou-se como importante para o

referido processo. Trata-se, portanto, da utilização dos seguintes pares dialéticos: densidade e

rarefação, fixos e fluxos, horizontalidades e verticalidades. A categoria divisão territorial e

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técnica do trabalho também permeiam o trabalho. A seguir, serão apresentadas algumas

considerações sobre essas categorias.

Segundo Santos e Silveira (2001), o território mostra diferenças de densidades quanto

à distribuição espacial das coisas, objetos, homens, dinheiro e também das ações. Nesse

sentido, considerando o território norte-rio-grandense, a partir da produção agroindustrial de

mandioca, infere-se que há diferenciações não somente quanto à presença dos objetos ou

sistemas técnicos, mas também no que se refere à própria produtividade do setor

mandioqueiro. Por isso, a recorrência aos pares densidade e rarefação faz-se importante para

compreender essa realidade.

No que se refere aos fixos e fluxos, entendem-se como fixos, os objetos materiais, isto

é, aquilo que é concreto, material, que sofreu um processo de transformação ou criação

humana e passou a adquirir uma função, um sentido (SANTOS, 2012). Os fixos são hoje cada

vez mais artificiais e mais fixos, fixados ao solo; os fluxos são cada vez mais diversos, mais

amplos, mais numerosos, mais rápidos (SANTOS, 2013). Nesse sentido acrescenta Santos

(2013, p. 155):

Os fixos (casa, porto, armazém, plantação, fábrica) emitem

fluxos ou recebem fluxos que são os movimentos entre os fixos.

As relações sociais comandam os fluxos, que precisam dos

fixos para se realizar. Os fixos são modificados pelos fluxos,

mas os fluxos também se modificam ao encontro dos fixos.

Assim, Santos e Silveira (2001) esclarecem que há territórios que se distinguem de

outros devido às possibilidades postas pela presença de sistemas de engenharia que

possibilitam a fluidez. Essa fluidez se dá por meio da instalação de equipamentos (fixos) que

proporcionam a circulação de homens, de produtos, de mercadorias, de dinheiro, de

informações, etc. Com base nisso, a partir da identificação dos objetos fixos que compõem o

circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca, serão analisados os fluxos que

perpassam o território norte-rio-grandense pelo referido circuito, aglutinando as ações e o

movimento, podendo este possuir conteúdos eminentemente materiais ou não.

As horizontalidades e verticalidades também serão analisadas, em razão do seu

potencial explicativo. Por horizontalidades entende-se o alicerce de todos os cotidianos, isto é,

do cotidiano de todos (indivíduos, coletividades, firmas, instituições). As horizontalidades são

o domínio de um cotidiano territorialmente partilhado, com tendência a criar suas próprias

normas, fundadas na similitude ou na complementaridade das produções e no exercício de

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uma existência solidária (SANTOS, 2012). Nesses subespaços, e graças a essa solidariedade,

consciente ou não, há um aumento da produtividade econômica, mas também da

produtividade política, ambas alimentadas pela informação (SANTOS, 2013).

As verticalidades, por sua vez, agrupam áreas ou pontos a serviço de atores

hegemônicos não raro distantes. São os vetores da integração hierárquica regulada, doravante

necessária em todos os lugares da produção globalizada e controlada a distância (SANTOS,

2013). Ao que José Degrandi (2012) complementa, definindo as verticalidades como

“expressões das forças exógenas”, vetores de racionalidades vindas de fora, de cima e de

longe, que, através das redes técnicas e organizacionais, incidem e/ou se instalam no

território, gerando desagregação, divergência e desordem, mas, também, novas possibilidades

e dinâmicas.

Dessa forma, pretende-se analisar a partir do circuito espacial da produção

agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte, a criação e/ou fortalecimento das

horizontalidades enquanto verdadeiras contiguidades, que se revele no empoderamento e no

engajamento dos agentes subordinados envolvidos na atividade mandioqueira, como os

agricultores familiares ocupados com a produção da mandioca. No que concerne às

verticalidades, estas serão analisadas na perspectiva de como os agentes hegemônicos,

movidos por interesses particulares, participam das etapas do circuito produtivo em estudo,

por meio de ações, informações e ordens seletivamente distribuídas e comandadas

pontualmente no território potiguar.

Por fim, entende-se que no estudo dos circuitos espaciais de produção, as categorias

divisão territorial e técnica do trabalho devem ser consideradas, pois as etapas que

compreendem esses circuitos estão conectadas e criam tais divisões, condicionando a

existência da circularidade da produção. Sobre a divisão territorial do trabalho Arroyo (2012)

afirma que ao mesmo tempo em que ela promove uma dispersão geográfica das atividades

produtivas, favorece as forças da concentração.

No que concerne à divisão técnica do trabalho, é nítida a discrepância existente entre a

ação das empresas que fazem uso de objetos técnicos mais sofisticados e dispõem de capital

intensivo para fins de investimentos na produção e dos agricultores familiares, que em sua

maioria utiliza-se de técnicas rudimentares no desenvolvimento dos processos produtivos. No

circuito espacial produtivo em análise, tais questões podem ser extremamente reveladoras, por

isso, a consideração da divisão territorial e técnica do trabalho.

De forma bem simples, a divisão do trabalho em determinados territórios e a

especialização dos trabalhadores em determinadas atividades têm suas relações aprofundadas

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no período atual. Como tentativa de apreender o movimento desse conjunto de novos eventos,

ou seja, dessa nova situação geográfica3, Santos (1986) e Santos e Silveira (2001) propõem

levar em consideração os circuitos espaciais da produção, e nesse processo, insere-se o

circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte.

1.7 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Para alcançar os objetivos propostos e responder as questões que orientam a pesquisa,

foram adotados, em síntese, os seguintes procedimentos metodológicos: realização de

pesquisa bibliográfica e documental; levantamento e análise de dados secundários; elaboração

de mapas e cartogramas, e a realização de pesquisa de campo, dentro da qual foram feitas

visitas técnicas, registros fotográficos, aplicação de formulários e entrevistas. Tais

procedimentos não foram modificados ao longo do desenvolvimento da pesquisa, assim como

não obedeceram a uma sequência rígida.

Iniciada a pesquisa, um dos primeiros procedimentos executados, foi a realização da

pesquisa bibliográfica, e sobre esta é preciso destacar que, para fins de uma melhor

sistematização das ideias, optou-se por dividir o levantamento bibliográfico em dois blocos de

obras e autores, com os quais procurou-se dialogar e estabelecer as correlações pertinentes

com o objetivo de clarificar a realidade em análise.

Os primeiros autores e obras pesquisados foram aqueles que ao longo de suas

trajetórias acadêmicas tiveram a preocupação e o interesse em estudar o conceito de circuitos

espaciais de produção e círculos de cooperação, dentre os quais destacam-se: Barrios (1978),

Santos (1986/1991), Moraes (1985), Santos e Silveira (2001), Silveira (2010), Castillo

(2007/2010), Arroyo (2008/2010), Frederico (2005), Castillo e Frederico (2010), entre outros.

O segundo grupo é formado por estudiosos que contribuíram nas discussões a respeito

do conceito de território e de seu uso no âmbito da ciência geográfica, a citar: Raffestin

(1993), Gottmann (2012), Santos (2001/2005), Souza (2002), Cataia (2011/2013), etc.

Tal levantamento bibliográfico, que resultou nos blocos de obras e autores

anteriormente apresentados, foi importante na construção e desenvolvimento das ideias

iniciais, bem como na melhor compreensão dos conceitos, a partir das leituras realizadas.

Nesse ínterim, como o trabalho também está voltado para o entendimento da agroindústria de

3 A situação geográfica é “a especificidade do lugar e, metodologicamente, aparece como uma instância de

análise e de síntese. É uma categoria de análise porque permite identificar problemas a pesquisar e, desse modo,

compreender os sistemas técnicos e as ações no lugar. Mas, ela propõe, ao mesmo tempo, uma síntese, pois é um

olhar horizontal de conjunto, um olhar sobre o espaço banal, exigindo, também um olhar vertical, ambos no

processo permanente da história” (SILVEIRA, 1999, p. 27).

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mandioca no Rio Grande do Norte, optou-se por buscar em autores a exemplo de Sorj (2008),

Delgado (2012), Muller (1989), Silva (1996), conhecimentos referentes ao processo de

modernização da agricultura brasileira.

Concomitantemente à realização da pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental

também constitui-se em um importante procedimento, por meio da consulta a documentos

disponíveis em órgãos e/ou instituições públicas e privadas, a citar o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

do Rio Grande do Norte (SEBRAE-RN) e a Federação das Indústrias do Estado do Rio

Grande do Norte (FIERN), entre outros.

O levantamento e análise de dados secundários também constituiu-se um

importante procedimento. Assim, na execução da pesquisa ora proposta, foram utilizados

diversos dados secundários de fontes distintas e oficiais como o IBGE. Após o levantamento,

os dados obtidos foram organizados e analisados.

Por meio deste procedimento, pode-se constatar como se comporta a ocorrência de

determinados fenômenos e ações e, no caso específico desta pesquisa, a análise dos dados

possibilitou, dentre outras coisas, verificar como se deu a dinâmica da produção de mandioca

no estado do Rio Grande do Norte a partir da década de 1990 até os dias atuais. Nesse

processo, obteve-se dados de área plantada em hectares; área colhida, também em hectares; a

quantidade produzida de mandioca em toneladas e valor da produção (total), por exemplo. Foi

a partir deste procedimento que se deu a elaboração de tabelas, quadros e gráficos nos quais

estão contidos os dados sobre a produção de mandioca no estado do Rio Grande do Norte.

Uma vez da posse dos dados e realizadas as devidas análises, procedeu-se a

elaboração de mapas e cartogramas. O procedimento foi capaz de ilustrar a distribuição

espacial da produção de mandioca no estado do Rio Grande do Norte; a localização das

unidades de beneficiamento e processamento de mandioca; dentre outras representações

cartográficas que surgiram com o desenvolvimento investigativo. Tais produtos cartográficos

foram produzidos a partir da utilização do Software ArcGis 9.1.

Na ciência geográfica, o estudo empírico se faz ainda mais pertinente porque permite

observar os objetos geográficos, que correspondem à materialidade da ação humana, bem

como é possível observar os processos que ocorrem no recorte espacial, no caso em tela, o

estado do Rio Grande do Norte. Nesse aspecto, a realização de pesquisa de campo foi de

singular importância para o desenvolvimento desta pesquisa.

Dada à complexidade dos objetivos da pesquisa e a realidade dinâmica na qual está

inserido o seu objeto de estudo, foram adotados os seguintes procedimentos durante as

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atividades de campo: realização de visitas técnicas e registro fotográfico; aplicação de

formulários e a realização de entrevistas.

Por meio da realização das visitas técnicas e registros fotográficos buscou-se observar

o cotidiano, o nível de desenvolvimento e de uso das técnicas nas casas e indústrias de farinha

existentes no Rio Grande do Norte, fazendo o registro fotográfico de cada etapa do

processamento e beneficiamento da mandioca.

Vale ressaltar que as visitas técnicas e posterior aplicação de roteiros de entrevistas

semiestruturados, concentraram-se em municípios que compõem a Microrregião Agreste, bem

como em municípios que fazem parte da Microrregião Serra de Santana, em razão da maior

expressividade tanto em produção de mandioca quanto no número de unidades de

beneficiamento. Ao todo, foram 72 (setenta e dois) agentes sociais entrevistados, sendo assim

distribuídos: 24 (vinte e quatro) produtores de mandioca, 30 (trinta) proprietários de unidades

de beneficiamento (modernas e tradicionais), e 18 (dezoito) trabalhadores desses

estabelecimentos. Nesse ínterim, cabe destacar também a entrevista realizada com o gestor do

Projeto Mandiocultura Potiguar do Sebrae-RN, com a finalidade de melhor compreender o

processo de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte.

Através das entrevistas junto aos produtores de mandioca, proprietários de unidades de

processamento e beneficiamento, e trabalhadores dessas unidades, foram levantadas questões

a respeito das etapas do processo produtivo, sobre as relações e custos da produção, onde é

produzida a mandioca e seus derivados, para onde tais produtos são destinados ou vendidos,

qual o meio utilizado para transportar a raiz ou a farinha, qual a forma de comercialização dos

produtos, dentre outras relações desse circuito espacial de produção agroindustrial de

mandioca no Rio Grande do Norte.

Nas entrevistas realizadas com os produtores e trabalhadores das casas e indústrias de

farinha, foram abordadas ainda questões a respeito dos aspectos socioeconômicos, das

relações de trabalho e da reprodução das relações sociais de produção, sempre no intuito de se

buscar compreender quais os desafios enfrentados por esses sujeitos sociais e quais os

cenários futuros para o circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio

Grande do Norte.

A seguir, tem-se um quadro resumo (quadro 1) com os objetivos específicos da

pesquisa e seus respectivos procedimentos técnicos.

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1.8 A ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS (uma construção teórico-empírica na busca

pela compreensão da realidade)

Estruturalmente, o trabalho que ora se apresenta, organiza-se em quatro capítulos, os

quais versam sobre: o conceito de circuito espacial produtivo e território, evidenciando a

noção de território usado; o cultivo de mandioca no Brasil e no Rio Grande do Norte; a

mandiocultura no contexto da tecnificação do território, a partir da modernização da

agricultura brasileira; o circuito espacial produtivo da agroindústria de mandioca no estado do

QUADRO 1 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Objetivo específico Procedimento(s) técnico(s)

Discutir os aspectos

históricos marcantes no

processo de produção de

mandioca e seus

derivados no Rio Grande

do Norte

- Pesquisa bibliográfica (artigos, dissertações, jornais

eletrônicos, etc.);

- Pesquisa de campo (visita técnica, aplicação de formulários e

realização de entrevistas).

- Mapeamento (elaboração de mapas e cartogramas).

Analisar as sucessões e

coexistências das práticas

e relações sociais de

produção no interior do

circuito espacial

produtivo da mandioca e

de seus derivados no

território potiguar

- Levantamento e análise de dados secundários (produção e

técnica, emprego e renda);

- Pesquisa de campo (visita técnica, registros fotográficos,

realização de entrevistas).

Compreender a

importância do crédito e

das técnicas no atual

processo de mecanização

do beneficiamento da

mandioca no Rio Grande

do Norte

- Pesquisa bibliográfica (artigos, dissertações, etc.);

- Pesquisa documental (Sebrae-RN, FIERN, entre outros);

- Pesquisa de campo (visita técnica, registros fotográficos,

realização de entrevistas).

Analisar as tipologias e

topologias inerentes aos

sistemas de circulação,

comercialização e

consumo produtivo de

mandioca no Rio Grande

do Norte

- Mapeamento (elaboração de mapas e cartogramas que

ilustrem os fixos e fluxos do circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca);

- Pesquisa de campo (realização de entrevistas com produtores

de mandioca e proprietários de unidades de processamento e

beneficiamento).

Fonte: Elaborado pela autora (2015).

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Rio Grande do Norte, e os círculos de cooperação do referido circuito. Na apresentação de

cada capítulo, optou-se por evidenciar obras e trechos de músicas, poemas e cordéis de

artistas brasileiros que remetem à cultura de mandioca bem como ao seu beneficiamento, a

partir de ilustrações que retratam o cotidiano das unidades de processamento, nesse caso, as

casas de farinha.

No primeiro capítulo apresenta-se uma breve introdução ao tema-chave, referencial e

contextualização empírica. Intitulado “Os circuitos espaciais produtivos: uma perspectiva

geográfica sobre produção, movimento e uso do território”, o primeiro capítulo traz a

discussão da relação dos circuitos espaciais produtivos e suas interfaces com os usos do

território, ressaltando a conceituação, as principais etapas que compõem os referidos circuitos,

bem como seu enfoque operacional na Geografia. Em seguida, é realizada uma abordagem

sobre o conceito de território, e as perspectivas do uso deste enquanto abrigo e recurso. Esse

capítulo, portanto, é finalizado com a discussão sobre a circularidade da produção, o uso e a

organização do território, estabelecendo uma relação coerente entre os subcapítulos

correspondentes.

O segundo capítulo, o qual tem como título “Uma leitura geográfica sobre a

mandiocultura: breve histórico, processos e conteúdos” apresenta, primeiramente, a cultura de

mandioca no Brasil, resgatando na história seus principais aspectos, e, nesse ínterim, será

discutida a importância da farinha na alimentação brasileira. Posteriormente, o enfoque é

voltado para o intelectual Josué de Castro e sua importante obra “Geografia da Fome”,

ressaltando o engajamento desse grande autor no combate à desnutrição, sugerindo, inclusive

a utilização da farinha de mandioca para esse fim. Ainda neste capítulo, discute-se a formação

territorial do Rio Grande do Norte e a produção de mandioca no estado. Tomando como base

a agricultura familiar, é enfatizado o papel do Pronaf, bem como seu envolvimento com a

agroindústria. São tratadas ainda nesse segundo capítulo, as tecnologias e técnicas atuais de

cultivo de mandioca e adubação; fechando o referido capítulo com a discussão dos entraves e

perspectivas da produção de mandioca no estado do Rio Grande do Norte.

No terceiro capítulo, cujo título ficou definido como “A mandioca no contexto da

tecnicização do território e da modernização da agricultura brasileira”, se discute a

agroindústria de mandioca no cenário brasileiro e no Rio Grande do Norte, a partir dos

programas de financiamento rural e a inserção de instrumentos técnicos que culminaram na

transformação das casas de farinha tradicionais nas atuais indústrias de farinha. Além disso,

estabelecendo uma relação com o processo de reestruturação produtiva no estado do Rio

Grande do Norte, processo este que desencadeia-se a partir da década de 1980, é tratada a

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agroindústria de mandioca e as coexistências e permanências no beneficiamento da raiz.

Finalizando o capítulo, entendendo a toxicidade da manipueira, líquido proveniente do

processamento da mandioca, são discutidas alternativas de aproveitamento desse resíduo, de

forma que não seja descartado diretamente no meio ecológico. Aqui enfatiza-se como as

agroindústrias de mandioca têm procedido na destinação da manipueira na atualidade.

No quarto capítulo da dissertação, intitulado “O circuito espacial da agroindústria de

mandioca no Rio Grande do Norte”, tem-se uma discussão do movimento e da circularidade

da produção através de uma abordagem propriamente geográfica, e não a partir do conceito de

cadeia produtiva, que tem sua origem no âmbito da administração de empresas. Nesse sentido,

reafirma-se que o presente trabalho é construído a partir da teoria dos circuitos espaciais de

produção, pelo seu potencial explicativo na ciência geográfica.

Ainda no quarto capítulo, tem-se a proposta de uma tipologia e topologia das unidades

de beneficiamento do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio

Grande do Norte. O trabalho, negligenciado na maioria das produções acadêmicas que tratam

dos circuitos espaciais de produção, também compreende um importante elemento de análise

na dissertação. Dessa forma, no cerne dessa discussão, são evidenciadas as relações de

trabalho, a origem e qualificação da mão-de-obra envolvidas no circuito espacial em estudo.

Em seguida, tem-se uma discussão a respeito dos círculos de cooperação do circuito

espacial da agroindústria de mandioca no Rio Grande do Norte, ressaltando as ações por parte

de empresas e instituições no setor mandioqueiro, a exemplo do SEBRAE-RN. O referido

órgão exerce um forte papel principalmente no que se refere à contribuição técnica na

transformação e funcionamento das indústrias de farinha. Finalizando o capítulo, considera-se

que, para um bom entendimento dos círculos de cooperação do circuito espacial da

agroindústria de mandioca no Rio Grande do Norte, fez-se importante também a discussão da

participação das instituições financeiras de crédito e das instituições de ensino e pesquisa.

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Capítulo 1

“Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca,

cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que

esteja acostumado ao viver do homem. E não comem

senão deste inhame, de que aqui há muito [...] E com isto

andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós

tanto, com quanto trigo e legumes comemos. ”

Trecho da carta escrita por Pero Vaz de

Caminha quando do ‘descobrimento’ do

Brasil, o qual mostra a relação dos nativos

com a mandioca, em maio de 1500.

“O mandiocal”, ilustração de Percy Lau. Revista Brasileira de Geografia, abril-junho 1948.

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2 OS CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS: uma perspectiva geográfica sobre

produção, movimento e uso do território

Com o advento do período técnico-científico-informacional, uma nova situação

geográfica foi consolidada. A repartição de objetos e de atividades entre os diversos lugares,

aprofundando a divisão territorial do trabalho e levando, consequentemente, a uma maior

especialização produtiva dos lugares, tornou-se cada vez mais acentuada.

A atual divisão territorial do trabalho instala-se sobre as divisões do trabalho

anteriores, fazendo com que os lugares se tornem condição e condicionante da produção

(SANTOS, 1979). Além disso, tem-se a aceleração dos fluxos mundiais, tanto materiais como

imateriais possibilitando uma maior dissociação geográfica da produção e do consumo, que

no mundo contemporâneo se dá em escala mundial (FREDERICO, 2005).

A compreensão da circularidade da produção, subsidiada na ideia de movimento,

oferece uma visão dinâmica, propriamente geográfica de como os fluxos perpassam o

território. Nesse sentido, neste capítulo, serão direcionados esforços no intuito de se

apresentar uma discussão teórico-conceitual a respeito dos circuitos espaciais produtivos e dos

usos do território, entendendo a relação intrínseca existente entre ambos.

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO

Na Geografia, assim como nas demais disciplinas preocupadas com à temática

espacial, o emprego da noção de circuito espacial de produção é considerado recente.

Somente no final da década de 1970, a partir de uma importante pesquisa teórico-empírica

realizada no Centro de Estudios del Desarrollo (CENDES), situado na Universidade Central

da Venezuela (Caracas), tem-se o reconhecimento na sociedade e sobre o território de

circuitos de acumulação regional.

O intuito da pesquisa, acima mencionada, foi a busca pela construção de um modelo

regional, o qual posteriormente recebeu a denominação de “Morven”; e teve Sonia Barrios

como uma das autoras, pesquisadora nas áreas de estudos do desenvolvimento, planejamento

urbano e regional. O projeto “Morven” constituiu, nesse sentido, um passo relevante no que

diz respeito à produção voltada ao entendimento dos circuitos espaciais de produção.

Tomando como base estudos anteriores, Barrios (1978) propôs em sua análise que

vinte e cinco circuitos fossem considerados, compreendendo as atividades agrícolas,

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extrativas e industriais. Nesse aspecto é interessante evidenciar que um dos circuitos

identificados pela autora, para o caso venezuelano, foi o circuito de tubérculos e raízes.

De acordo com Barrios (1978) os circuitos de produção e acumulação se estruturam a

partir de uma atividade produtiva definida como primária ou inicial e compreendem uma série

de fases ou escalões correspondentes aos distintos processos de transformação pelos quais

passa o produto principal da atividade até chegar ao consumo final. A essa primeira definição

a referida autora acrescenta que, uma atividade pertencerá a um dado circuito quando seu

insumo principal provier da fase anterior do mencionado circuito; caso contrário, considera-se

que a partir desse ponto se desenvolve outro circuito, que deve ser analisado separadamente.

Dessa forma, Sonia Barrios (1979) considera que as práticas econômicas, em cada

conjuntura histórica, compreendem o conjunto de ações sociais que tenham por finalidade a

produção, a distribuição e o consumo de meios materiais (valores de uso - valores de troca).

Sua realização implica a utilização de meios materiais – a tecnologia e os objetos de trabalho

– assim como o estabelecimento de relações entre homens que participam coletivamente de

tais processos.

De acordo com o entendimento de Moraes (1985) Sonia Barrios fornece as bases

teórico-metodológicas em que se inscreve o esforço do “Morven”, entretanto, considera que o

autor Alexandre Rofmann é o responsável por dá operacionalidade ao plano de pesquisa, pela

proposta em estudar os encadeamentos das unidades de produção, distribuição e consumo em

seus imbricamentos espaciais. Por outro lado, Moraes (1985) entende que, apesar das críticas

formuladas por Rofmann à “visão regional”, este acaba por defender a ideia de que a união

dos vários circuitos definiria o “subsistema regional”, contrariando a lógica espacial na qual

está inserida os circuitos produtivos.

Como um dos principais colaboradores no desenvolvimento do conceito de circuito

espacial de produção, Santos (1986) propõe a existência de três circuitos: “circuito por

ramos”, “circuito de firmas” e “circuito espacial ou territorial”. O primeiro refere-se às

relações técnicas e sociais, à localização das atividades e à tipologia dos lugares. O segundo

trata da ação das grandes empresas, suas relações econômicas e círculos de cooperação

estabelecidos em diferentes escalas. Por fim, a noção de circuito espacial sintetiza os

precedentes, indicando ao mesmo tempo o uso do território por ramos produtivos e pelas

firmas. Ele nos oferece, a cada momento, a situação de cada lugar em função da divisão

territorial do trabalho de um país.

Em análise posterior, Santos (1997) afirma que o mundo encontra-se organizado em

subespaços articulados dentro de uma lógica global, dessa forma, já não se pode mais falar de

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“circuitos regionais de produção”. Com a crescente especialização regional, com inúmeros

fluxos de todos os tipos, intensidades e direções, o termo mais adequado e correto reside nos

circuitos espaciais de produção.

Os circuitos espaciais de produção são as diversas etapas pelas quais passaria um

produto, desde o começo do processo de produção da matéria prima, ou da mercadoria,

propriamente dita, até o momento do consumo final, articulando desse modo diversos lugares,

os quais são hoje, ponto de confluência de diversos circuitos produtivos (SANTOS, 1991).

Segundo Moraes (1985), a análise dos circuitos espaciais de produção deve ser feita,

juntamente, com os círculos de cooperação.

Os círculos de cooperação possibilitam que diferentes lugares se articulem numa

mesma circularidade, possibilitando fluxos de mercadorias, capitais e informações. De acordo

com Moraes (1985), é no interior dos círculos de cooperação que se movimentam os

processos de transferência geográfica do valor. A análise dos círculos de cooperação

possibilita compreender de onde se origina o capital para a atividade, a mão de obra

necessária, o maquinário, o desenvolvimento técnico-científico por trás da produção e as

informações produzidas para gerar a produção; de onde vem a matéria-prima, e as formas de

transportá-la. Os círculos de cooperação podem ser entendidos como o conjunto de relações

estabelecidas entre os lugares e os agentes que compõem o circuito espacial de produção,

sendo identificados especialmente por intermédio dos fluxos de informação, que abarcam as

políticas dos Estados, as políticas das empresas, as informações, os capitais e as mercadorias.

Os círculos de cooperação são importantes, pois possibilitam o encadeamento das

etapas dos processos produtivos dispersos territorialmente, dada a crescente especialização

produtiva dos lugares. Tais processos só tornam-se efetivamente possíveis a partir da

expansão das redes técnicas e de informação (CASTILLO e FREDERICO, 2010), assim

sendo, os círculos de cooperação evidenciam que, apesar de estarem dispersos, os espaços

produtivos são articulados e interdependentes.

O circuito espacial inicia-se com a produção propriamente dita (SANTOS, 2012);

posteriormente há a etapa de circulação das mercadorias produzidas e sua distribuição pelos

diversos pontos do mundo, além de analisar a estocagem de parte da produção, evidenciando

também o transporte, a qualidade e quantidade de armazéns, e as vias utilizadas. E, por fim,

há a etapa ligada ao comércio e ao consumo, observando se há um monopólio da atividade, as

formas de pagamento, a taxação de impostos, quem consome, e qual o tipo de consumo:

produtivo ou consumptivo.

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De acordo com Arroyo (2008), a escala geográfica de ação dos distintos agentes que

integram os circuitos constitui um princípio de organização espacial, criando um tecido cuja

forma, extensão e complexidade estão em permanentemente mudança. Mesmo que as fases ou

etapas constitutivas dos processos produtivos se desenvolvam de forma geograficamente

dispersa, inclusive para além das fronteiras nacionais, haverá sempre uma unidade do

movimento que permite indicar como cada fração do território é interdependente das demais,

assim os circuitos espaciais de produção são, portanto, úteis para revelar o quanto o trabalho é

comum, solidário e circular.

O conceito de circuito espacial de produção é, por vezes, confundido com a teoria dos

circuitos da economia urbana, desenvolvida pelo geógrafo Milton Santos na década de 1970, a

qual propõe a existência de dois circuitos, um inferior e outro superior. O enfoque no produto

na análise do circuito espacial de produção é o que vai diferenciá-lo do circuito da economia

urbana, cujo centro de análise volta-se para o agente econômico, independentemente do ramo

(ARROYO, 2008). A autora ainda considera em sua análise que o circuito inferior sempre faz

parte de um circuito espacial de produção, quer por estar interligado pela comercialização

direta, fornecendo ou comprando algum tipo de insumo, quer porque ele mesmo forma um

circuito produtivo completo que afeta a fabricação, a distribuição, a comercialização e o

consumo de bens e serviços.

Acrescenta-se então, dentro dessa perspectiva, que determinada análise geográfica

cujo marco teórico concentra-se nos circuitos espaciais de produção, pode ser realizada

conjuntamente com a teoria dos circuitos da economia urbana, pois conforme Castilllo e

Frederico (2010, p. 463)

Os conceitos de circuito espacial da produção e de circuitos da

economia urbana podem ser trabalhados de maneira

complementar, uma vez que tanto o circuito inferior quanto o

superior fazem parte de circuitos espaciais produtivos de

tamanho e características técnicas e organizacionais distintas.

No presente trabalho, não será feita a análise do circuito espacial de produção

juntamente com os circuitos da economia urbana, mas reforça-se a importância da

compreensão de ambos os conceitos.

Aproximando-se mais com a realidade estudada, o circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte abrange uma complexidade de fatores e

relações, a começar pela própria “matéria-prima” do referido circuito que é a mandioca; na

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maioria das vezes, negligenciada pelas ações do Estado e no contexto da modernização da

agricultura brasileira4. Em segundo lugar, existem os interesses antagônicos que o permeiam,

representados pelos diferentes agentes envolvidos na circularidade da produção. Além disso, o

circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte está

inserido em um processo de transformações técnicas e organizacionais ainda recentes, que

tiveram seu desenvolvimento, sobretudo, a partir da década de 1980, com o advento do

processo de reestruturação territorial e produtiva em curso no estado (AZEVEDO, 2013).

No que se refere à produção de mandioca no estado do Rio Grande do Norte, atenta-se

que a mesma tem passado por algumas oscilações principalmente nos últimos cinco anos (a

partir de 2012), sendo que no ano de 2013, a produção caiu significativamente, atingindo um

total de apenas 80.685 toneladas, em comparação com a produção registrada no ano anterior

de 235.855 toneladas, de acordo com os dados da Produção Agrícola Municipal do

IBGE/2013.

A redução é explicada pela seca que ocorreu em 2013 no estado, afetando a produção

de mandioca – rareando a oferta e elevando o preço da raiz, a matéria-prima – o que

ocasionou o fechamento de algumas indústrias de farinha; em outras, a atividade foi mantida

de forma intermitente, isto é, apenas quando havia abastecimento da matéria-prima. Desse

modo, com a produção de mandioca afetada no ano de 2013, as demais etapas do circuito

espacial em análise também foram atingidas.

Diante disso, acrescenta-se que os circuitos espaciais de produção são essenciais no

entendimento da centralidade da circulação no encadeamento das diversas etapas da

produtivas. E nesse sentido, a circulação ganha destaque, demonstrando o caráter essencial

dos fluxos para a realização da produção. Logo, tais circuitos possuem grande

operacionalidade na ciência geográfica, o que será tratado no subcapítulo a seguir.

2.1.1 A operacionalidade do conceito de circuito espacial produtivo na Geografia

No atual momento histórico em que as esferas da produção e da troca tornam-se

geograficamente mais dispersas, fazendo da circulação uma prioridade e um campo de

atuação estratégica de Estados e empresas, revelam-se a importância e a operacionalidade do

conceito de circuito espacial produtivo na ciência geográfica. Pretende-se aqui demonstrar,

4 Segundo Silva (1982), as políticas de estímulo à modernização não atingiram as pequenas unidades agrícolas,

especialmente as que se dedicam à produção de gêneros alimentícios de primeira necessidade.

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com base em autores estudiosos dos circuitos espaciais de produção, essa funcionalidade, a

partir da apresentação de algumas diretrizes que são essenciais para a análise desses circuitos.

Segundo Antas Júnior (2014), a análise específica de um ramo produtivo gera a

dificuldade inicial de operacionalização das categorias analíticas, bem como a perfeita

adequação entre estas últimas e uma realidade que é ao mesmo tempo histórica e geográfica,

pois se o conceito de circuito espacial produtivo é fundamental por não permitir negligenciar

a configuração espacial nem seu processo de constituição, também é importante em virtude de

sua capacidade explicativa quanto a realidade que se transforma.

Antas Júnior (2014) ainda questiona se o circuito espacial produtivo pode ser tratado

como um dado econômico abstrato e estritamente técnico, independente do componente social

específico que envolve determinada produção ou, se para cada circuito espacial produtivo é

preciso levar em conta a transformação social que ele institui, como um elemento imperativo

da teoria que o sustenta. Desse modo, o autor esclarece e compreende que

Sendo a técnica um componente intrínseco do espaço

geográfico e que define as diferenças essenciais entre os

períodos, parece não haver razões fortes para se negligenciar tal

papel dos circuitos espaciais de produção na dinâmica da

totalidade. Partimos do entendimento de que pesquisador que

adota essa perspectiva metodológica não pode jamais ignorar

este pressuposto, sob o risco de transformar os circuitos

espaciais produtivos e os círculos de cooperação no espaço num

modelo invariável, negando assim toda a filosofia por trás do

método que permitiu chegar à formulação desses conceitos

(ANTAS JÚNIOR, 2014, p.40-41).

Na contemporaneidade, outros autores também têm contribuído em seus trabalhos com

a discussão dos circuitos espaciais de produção, a exemplo de Castillo e Frederico (2010).

Estes compreendem que o aumento das trocas materiais, possibilitado pelo aprofundamento

da divisão territorial do trabalho, é o fato que torna operacional o conceito de circuito espacial

produtivo.

De acordo com Castillo e Frederico (2010), para compreender um circuito espacial de

produção, deve-se identificar a atividade produtiva dominante – de forma a buscar analisar

seus aspectos técnicos e normativos; os agentes envolvidos e seus círculos de cooperação –

detectando os diversos círculos de cooperação que existem num circuito, de forma a

apreender a relação existente entre as empresas, entre as empresas e o poder público,

instituições e associações; a logística - uma vez que através desta se estabelece a conexão das

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etapas da produção, aqui se deve verificar suas redes técnicas – redes com níveis de densidade

técnica cada vez mais seletiva e dispersas, são os nós - e seus equipamentos.

Por fim, deve-se preceder de uma análise sobre o uso e a organização do território,

uma vez que em cada etapa do circuito; a decisão a respeito da localização da atividade

resulta de decisões corporativas sobre os atributos naturais, técnicos e normativos de cada

lugar. Por meio desta análise pode-se perceber a distribuição, a densidade, o nível técnico e o

arranjo dos sistemas de objetos envolvidos na circulação da produção, bem como em todo o

circuito espacial de produção (CASTILLO e FREDERICO, 2010).

Milton Santos (1997) também traz alguns apontamentos para a compreensão dos

circuitos espaciais produtivos. Segundo o autor, na análise deve-se observar itens distintos,

como matéria-prima (local de origem, formas de seu transporte, tipo de veículo transportador

etc.); mão de obra (qualificação, origem, variação das necessidades nos diferentes momentos

da produção etc.); estocagem (quantidade e qualidade dos armazéns, dos silos, proximidade

da indústria, relação entre estocagem e produção); transportes (qualidade, quantidade e

diversidade das vias de transportes, dos meios de transporte); comercialização (existência ou

não de monopólio de compra, formas de pagamento, taxação de impostos etc.); consumo

(quem consome, onde, tipo de consumo, se produtivo ou consumitivo).

A análise dos circuitos espaciais de produção, como evidenciado em momento

anterior, deve ser feita juntamente com os círculos de cooperação. Segundo Toledo (2005), os

círculos de cooperação podem ser compreendidos e analisados a partir do conjunto de

relações estabelecidas entre os lugares e agentes que compõem os circuitos espaciais de

produção, as quais suscitam a presença de fluxos de pessoas, informações, ordens, mercadoria

e capital, estes condicionados por articulações engendradas pelas instituições estatais ou pelas

empresas. Sem a formação desses círculos, as firmas e indústrias não escapariam à

dependência e às oscilações das demandas meramente locais ou regionais (ANTAS JÚNIOR,

2014).

As diretrizes apresentadas embasam os recursos metodológicos que pode ser utilizados

para realização de análises geográficas sobre o desenvolvimento das atividades produtivas no

período histórico atual, possibilitando identificar seus círculos de cooperação, como se

instalam no território, os fluxos por elas gerados, bem como as diferentes etapas que compõe

os circuitos espaciais produtivos de cada ramo ou atividade.

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2.1.2 Produção, distribuição, troca e consumo: compreendendo as etapas dos circuitos

espaciais produtivos

Segundo Moraes (1985), a ideia de circuito de produção remonta às formulações

teóricas de Karl Marx, quando este enfatiza a unidade contraditória entre a produção, a

distribuição, a troca e o consumo. Diante da valiosa contribuição do referido autor no

entendimento dessas etapas, esse subcapítulo é construído principalmente com base na obra

“Grundrisse”(2011).

Ao tratar da relação geral entre as etapas acima mencionadas, Marx em seus

manuscritos econômicos de 1857-1858, considera que na produção, os membros da sociedade

apropriam (elaboram, configuram) os produtos da natureza às necessidades humanas; a

distribuição determina a proporção em que o indivíduo singular participa desses produtos; a

troca o provê dos produtos particulares nos quais deseja converter a cota que lhe coube pela

distribuição; no consumo, finalmente, os produtos devêm objetos de desfrute, da apropriação

individual. Produção, distribuição, troca e consumo constituem um autêntico silogismo; a

produção é a universalidade, a distribuição e a troca, a particularidade, e o consumo, a

singularidade na qual o todo se unifica (MARX, 2011).

A produção, apesar de ser entendida como “ponto de partida”, é também

imediatamente consumo, pois conforme Marx (2011, p. 45), “o indivíduo que desenvolve suas

capacidades ao produzir também as despende, consome-as no ato da produção”. Nessa etapa,

também há o consumo dos meios de produção que são usados e desgastados, e

posteriormente, transformados novamente nos elementos gerais. Por isso, o próprio ato de

produção é, em todos os seus momentos, também um ato de consumo. Surge então a

denominação “consumo produtivo”, isto é, a produção enquanto imediatamente idêntica ao

consumo, e o consumo enquanto imediatamente coincidente com a produção.

Ainda nessa relação produção-consumo, cabe ressaltar que apenas no consumo, o

produto devém efetivamente produto. Para Marx (2011, p. 48)

O consumo só termina o ato da produção na medida em que

realiza o produto como produto, o dissolve, consome a sua

forma de coisa autônoma; na medida em que eleva à destreza,

pela necessidade da repetição, a disposição desenvolvida no

primeiro ato de produção; o consumo, portanto, não é apenas

um ato conclusivo pelo qual o produto devém produto, mas

também o ato mediante o qual o produtor devém produtor.

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É importante que se tenha a compreensão de que o consumo não é o “fim” do

encadeamento produtivo. Pelo contrário, é esta a instância que retroalimenta o circuito

espacial de produção, não se tratando, pois, de um ciclo, mas de um espiral, de um acúmulo.

Dessa forma, o consumo está presente em todas as etapas dos circuitos espaciais de produção.

Na análise do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca é importante,

portanto, considerar que há consumo quando os meios de produção destinados ao processo de

beneficiamento da raiz são utilizados; do mesmo modo que há “consumo” das diversas

infraestruturas que possibilitam os processos de circulação e distribuição como estradas,

condutos, vias e meios de comunicação que são utilizadas para permitir que os produtos

oriundos das agroindústrias de mandioca existentes no Rio Grande do Norte circulem e

cheguem até os consumidores. Numa relação inversa, a troca também pode ser realizada com

fins meramente de consumo.

Milton Santos (2012) adverte que condições similares de distribuição não asseguram,

uma homogeneidade no consumo. Uma vez que este último depende da capacidade efetiva de

aquisição, representada pela disponibilidade financeira (recursos efetivos ou créditos), mas

também pela acessibilidade do bem ou do serviço demandado.

Sobre a distribuição, esta se interpõe entre o produtor e os produtos. Nesse viés, a

articulação da distribuição está totalmente determinada pela articulação da produção. A

própria distribuição é um produto da produção, não só no que concerne ao seu objeto, já que

somente os resultados da produção podem ser distribuídos, mas também no que diz respeito à

forma, pois o modo determinado de participação na produção determina as formas

particulares da distribuição (MARX, 2011).

Na concepção mais artificial, de acordo com Karl Marx (2011), a distribuição aparece

como distribuição dos produtos, mas, antes desse entendimento, a distribuição também é

distribuição dos instrumentos de produção e dos membros da sociedade nos diferentes tipos

de produção, o que constitui uma determinação ulterior da mesma relação.

A etapa da troca também está incluída como momento da produção, só aparecendo

independente e indiferente desta no último estágio, no qual o produto é trocado imediatamente

para o consumo. Porém, não há troca sem divisão do trabalho; a troca privada pressupõe

produção privada; e a intensidade da troca, assim como sua extensão e seu modo, são

determinados pelo desenvolvimento e pela estrutura da produção (MARX, 2011). Desse

modo, a troca aparece em todos os seus momentos ou diretamente contida na produção, ou

determinada por ela (MARX, 2011).

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A partir do que foi exposto, considera-se que as etapas da produção, distribuição, troca

e consumo, constituintes dos circuitos espaciais, não são idênticas, mas são componentes de

uma totalidade, a qual suporta diversidades dentro de uma unidade. A produção, por sua vez,

determina a distribuição e a troca; e está diretamente relacionada com o consumo e vice-versa.

A figura 1 mostra, por meio de um simples esquema, como as etapas da distribuição, troca e

consumo estabelecem relação direta com a produção.

Figura 1 - Interação da distribuição, troca e consumo com a etapa da produção

Nessa perspectiva, na análise dos circuitos espaciais é considerada a espacialidade da

produção-distribuição-troca-consumo como movimento circular constante (MORAES, 1985).

Logo, é preciso reafirmar, que tais etapas embora espacialmente dispersas, não podem ser

compreendidas separadamente. A Geografia assume assim, um papel fundamental enquanto

ciência que inspira movimento e é reveladora desse movimento.

2.2 CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS E O USO DO TERRITÓRIO

Os circuitos espaciais produtivos mantêm relação direta com o território, quando nele

se instalam e dele fazem usos diversos. Quanto ao uso do território, trata-se de uma proposta

totalmente empiricizável (SANTOS e SILVEIRA, 2001), e, nessa seção, a discussão será

voltada para o circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no uso do território,

tendo como recorte espacial o Rio Grande do Norte. Espera-se apresentar um panorama das

etapas do referido circuito, e como este tem intensificado as dinâmicas territoriais no referido

Produção

Distribuição

Troca

Consumo

Fonte: Elaboração da autora

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estado. Antes de entrar na discussão empírica, será apresentada algumas informações sobre a

cultura de mandioca e sua produção a nível mundial e nacional.

Outrora considerada o “alimento dos pobres”, a mandioca emergiu como uma cultura

polivalente no século XXI, quando passa a responder às prioridades dos países em

desenvolvimento, às tendências da economia global e aos desafios da mudança climática

(FAO, 2013). Entre 1980 e 2011, a produção mundial de mandioca mais que duplicou, saindo

de 124 milhões para 252 milhões de toneladas. Somente a produção de milho teve um

crescimento maior, conforme evidenciado na figura 2 a seguir.

Fonte: FAO, 2013.

A melhor gestão da cultura e do solo, e variedades de alto rendimento mais resistente à

seca, pragas e doenças, possibilitaram o crescimento da produção de mandioca. Atualmente, o

continente africano, ocupa lugar de destaque na produção mundial de mandioca. Na África, a

mandioca tornou-se um alimento de segurança nacional, pois alimenta cerca de 60% de sua

população, principalmente os mais carentes. Assim sendo, justifica-se a sua liderança na

produção, cuja participação já ultrapassa 50% do total mundial (FAO, 2013).

O Brasil já foi o maior produtor mundial de mandioca, quando atingiu 30 milhões de

toneladas, no ano de 1970. No território brasileiro, a produção de mandioca havia se

estabilizado em torno de 25 milhões de toneladas, porém na safra de 2012/13 a redução foi

acentuada devido à forte seca nos estados do Nordeste. Em função dessa redução, a produção

Figura 2 – Crescimento da produção mundial das principais culturas alimentares 1980-2011 (índice

1980 = 100)

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brasileira em 2013 alcançou apenas 21 milhões de toneladas, significando a menor produção

dos últimos 10 anos (DERAL, 2015).

Dados da lavoura temporária de mandioca, do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE, ano 2014, revelam que os três estados brasileiros que mais produziram

mandioca foram o Pará, com 4.914.831 toneladas, em seguida, o Paraná, com uma produção

de 3.958.798 toneladas, e a Bahia, com 2.131.473 toneladas. O estado do Rio Grande do

Norte, objeto espacial-empírico de investigação desse trabalho, ocupou o 22º lugar entre os

estados brasileiros, com uma produção de 160.286 toneladas de mandioca no ano de 2014.

A mandioca é uma cultura de muita relevância na formação territorial norte-rio-

grandense, enquanto produção alimentar, juntamente com outras culturas, como feijão e o

milho. Atualmente é cultivada em praticamente todo o estado, sobretudo nos municípios que

compõem a Microrregião Agreste Potiguar. A referida Microrregião responde em mais de

47% da produção estadual de mandioca, segundo IBGE/2014.

Em 2014, a produção de mandioca no estado aumentou satisfatoriamente,

comparando-se ao ano de 20135. Foram quase 80 mil toneladas produzidas a mais em relação

ao ano anterior. A seguir, tem-se uma tabela 1 com os municípios que mais produziram

mandioca no estado do Rio Grande do Norte no ano de 2014.

TABELA 1 - PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORES DE

MANDIOCA NO RIO GRANDE DO NORTE (2014)

Município Produção (t)

1º Januário Cicco (Boa Saúde) 40.600

2º Touros 18.500

3º Pureza 18.000

4º Lagoa d´Anta 7.500

5º Senador Elói de Souza 7.200

5 O ano de 2013 é marcadamente o pior em termos de produção de mandioca no estado desde a década de 1990.

Tal fato é explicado pela seca que ocorreu no referido ano e que afetou bastante a produção de mandioca,

rareando a oferta e elevando o preço da raiz, a matéria-prima. Na ocasião, algumas indústrias de farinha foram

fechadas, outras, mantiveram suas atividades de forma intermitente, isto é, apenas quando aparecia a matéria-

prima.

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6º Tenente Laurentino Cruz 5.400

7º Ceará-Mirim 5.000

8º Passa e Fica 4.800

9º Bom Jesus 4.200

10º Taipu 3.600

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal, 2014.

Como se pode observar na tabela anterior, os dados são bastante reveladores no

contexto geral da discussão empírica do presente trabalho. Desse modo, infere-se que a

representatividade dos municípios de Boa Saúde, Touros e Pureza no que concerne à

produção de mandioca no estado do Rio Grande do Norte, está relacionada possivelmente à

presença de assentamentos rurais de reforma agrária nesses municípios.

O município de Touros, localizado na região do Mato Grande, concentra uma

quantidade significativa de assentamentos, nos quais há o desenvolvimento de algumas

culturas, como a mandioca. Em Pureza, por exemplo, existe a “Associação dos Familiares do

Assentamento Bernardo Marinho”, cuja principal atividade é o cultivo de mandioca. Boa

Saúde, localizado na Região Agreste, também não escapa a essa lógica, uma vez que também

possui assentamentos rurais de reforma agrária; e ano após ano, tem se observado tanto o

aumento da área plantada (ha) quanto da própria produção em toneladas de mandioca no

referido município.

Associado a esse aspecto, há que considerar que a mandioca é fortemente cultivada

nos estabelecimentos rurais em que verifica-se a prática da agricultura familiar, geralmente

em consórcio com outras culturas, como o feijão. O cultivo dá-se em pequenas propriedades,

com área de menos de 10 até 30 hectares.

As condições edafoclimáticas também podem explicar a maior produção nos

municípios mencionados. A mandioca possui uma peculiaridade de adaptação às mais

diversas condições de clima e solo, pelo seu caráter resistente. Segundo o Idema (2008), os

municípios de Boa Saúde, Touros e Pureza possuem temperaturas máximas em torno de 32ºC,

o que torna viável a produção.

Tratando-se do processo de beneficiamento de mandioca no Rio Grande do Norte, a

partir dos anos 1980, passam a ocorrer mudanças que vão interferir diretamente na produção e

nas relações de trabalho. Nesse contexto, é válido destacar a transformação, embora que

gradual, das casas de farinha em indústrias de farinha, estas sendo cada vez mais marcadas

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por instrumentos técnicos movidos à eletricidade, diminuindo a necessidade de mão de obra e

do trabalho braçal.

O modelo de transformação das casas em indústrias de farinha está de acordo com a

portaria número 326 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e consultoria

especializada do Sebrae, Emater e Emparn, somado ao fornecimento de crédito para a

atividade proveniente do Banco do Nordeste e do Banco do Brasil. Salvador (2010)

compreende esse processo de transformação como “modernização da atividade

mandioqueira”6.

A modernização da atividade mandioqueira trouxe mudanças que incrementaram a

produção no plantio da raiz, mas o beneficiamento da mandioca foi o que mais sofreu

interferência no processo. Apesar de ainda conservar principalmente mulheres no tratamento

da matéria-prima, isto é, na raspagem manual da raiz, a produção de farinha é feita de forma

industrial. Nesse viés, destaca-se a agroindústria de Farinha dos Anjos, localizada no distrito

de Cobé, município de Vera Cruz, dentre outras localizadas no Agreste Potiguar. É importante

mencionar que a modernização da referida atividade deu-se de forma seletiva no território

potiguar, e em uma relação de complementaridade entre as técnicas utilizadas.

Na referida agroindústria, que já foi considerada modelo de modernização das casas de

farinha no país, houve a substituição de todos os equipamentos, como por exemplo, os antigos

tanques de madeira utilizados para a lavagem da mandioca que foram trocados por tanques de

fibra de vidro. Outro exemplo, também a partir da fibra de vidro, foi a inserção de um

depósito de friagem (figura 3), onde é colocado o produto antes de seguir para a embalagem,

conferindo assim, mais higiene e boa conservação do produto.

6 Entende-se por atividade mandioqueira o cultivo da mandioca com a transformação dessa em farinha e em

outros derivados (SALVADOR, 2010).

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Sobre as indústrias de farinha, que no presente trabalho optou-se por utilizar a

denominação “agroindústria”, é interessante evidenciar que estas encontram-se concentradas

principalmente nos municípios de Vera Cruz e Brejinho; mas também estão localizadas nos

municípios de Serrinha, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e no município de São Vicente,

de acordo com os dados do Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do

Norte (FIERN), no qual verifica-se um total de 15 (quinze) agroindústrias cadastradas,

responsáveis pela “fabricação de mandioca e derivados” (CNAE 2.0). Vale destacar que, a

grande maioria desses estabelecimentos, encontra-se na zona rural dos municípios

anteriormente mencionados. O mapa 1 a seguir, mostra a distribuição das agroindústrias e o

número de empregos formais gerados no âmago do processo de produção de farinha no estado

do Rio Grande do Norte.

Figura 3 – Depósito de friagem, destinado ao armazenamento da farinha na

Agroindústria dos Anjos

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Mapa 1 - Distribuição das agroindústrias e empregos na produção de farinha no Rio Grande do Norte (2015)

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Conforme os dados do Cadastro Industrial, realizado pela Federação das Indústrias do

Rio Grande do Norte (FIERN), as agroindústrias de farinha situadas no estado empregam um

total de 73 funcionários. A maior parte destes postos de trabalho está no município de Vera

Cruz7, onde se localizam cinco unidades de beneficiamento de mandioca; seguido do

município de Brejinho com quatro unidades cadastradas (FIERN, 2015). Todavia, atenta-se

que, em face de um circuito espacial produtivo em vias de modernização, onde as tradicionais

casas de farinha ainda coexistem, e que não estão consequentemente cadastradas, há o

emprego de mão de obra familiar, assim como a existência de empregos não formalizados,

representando um déficit na estrutura organizacional, na qual boa parte dos sujeitos encontra-

se marginalizada no âmbito deste circuito espacial produtivo, submetidos, às vezes, ao

trabalho precário e de baixo retorno econômico.

Isso não significa, entretanto, que as condições de trabalho nas indústrias de farinha de

mandioca e outros derivados são obrigatoriamente melhores do que nas unidades artesanais. O

mesmo pode aplicar-se à remuneração, considerando que os rendimentos nas unidades de

processamento e beneficiamento de mandioca são essencialmente maiores para os

proprietários, mas não necessariamente para os trabalhadores assalariados, especialmente os

ocupados com o processamento da matéria-prima.

Dos produtos gerados nas agroindústrias do setor mandioqueiro, a maior parte é

destinada para abastecer o próprio estado, mas a produção de farinha também abastece

mercados nos estados de Pernambuco e Ceará. A mandioca de mesa, conhecida no Nordeste

como macaxeira, é comercializada em feiras livres e distribuída em supermercados e

restaurantes, sobretudo na capital do Estado. Os produtos também são vendidos através do

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – Compra Direta, ação do Governo Federal cujo

principal objetivo é o fortalecimento da agricultura familiar.

Um caso bem peculiar de produção agroindustrial por sua expressividade no território

potiguar apoia-se na indústria considerada referência na produção de alimentos derivados da

mandioca, a “Primícias do Brasil”, localizada em Macaíba-RN. A referida indústria atende

7 É interessante ressaltar com base nos dados da FIERN (2015) que, embora Vera Cruz detenha o maior número

de agroindústrias de farinha, não é o município que possui a maior produção atual de mandioca no Rio Grande

do Norte. No ano de 2014, o referido município atingiu uma produção de 1.500 toneladas, de acordo com o

IBGE. Na verdade, esse é um cenário bastante aparente quando se trata do descompasso existente entre a

localização das agroindústrias de mandioca e os principais municípios produtores da raiz no Rio Grande do

Norte. Destaca-se, assim, que a tradição cultural bem como as condições edafoclimáticas e a própria estrutura

fundiária tão marcada por minifúndios, tanto na Região Agreste quanto na Serra de Santana, onde prevalece o

cultivo de alimentos característicos da agricultura familiar, podem ser apontadas como as principais razões para

explicar essa realidade.

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toda a região Nordeste, além do Pará e Brasília; e já teve demandas internacionais, vinda de

alguns países europeus e dos Estados Unidos. Seus produtos, com certificação de qualidade

BPF-PAS8, encontram-se disponíveis nas principais redes e lojas de atacado e varejo em toda

Região Nordeste, a citar: Carrefour, Hiper Bom Preço (figura 4), Maxxi Atacado, Hiper

Queiroz, Supermercado Nordestão, Atacadão, Assaí Atacadista, Rebouças Supermercados,

etc. A produção é automatizada, e a empresa destaca-se por ser a única no Brasil que atesta

produzir goma com água mineral9.

Na análise do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca, deve-se

conjuntamente, atentar-se para o conjunto de fluxos imateriais relacionados que se

consubstanciam nos círculos de cooperação. Nesse sentido, destaca-se o Serviço de Apoio às

Pequenas e Grandes Empresas do Rio Grande do Norte (SEBRAE-RN) como um órgão de

apoio técnico para a própria transformação e funcionamento de muitas indústrias de farinha,

8 BPF: Boas práticas de fabricação.

PAS: Programa Alimentos Seguros. 9 Informações obtidas no endereço eletrônico da indústria “Primícias do Brasil”:

http://www.primiciasdobrasil.com.br/ .

Ressalta-se que, após meses de tentativas de realização de uma visita técnica na unidade, a partir de contatos

com funcionários (intermediação) via telefone e e-mail, não se obteve resposta do gerente administrativo da

empresa, que outrora ficou incumbido de colaborar com a pesquisa, através da concessão de uma entrevista.

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

Figura 4 - Comercialização da Goma Sinhá Maria, da indústria Primícias do Brasil,

no hipermercado Bom Preço – Natal/RN

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inclusive, como fornecedor de licença ambiental, autorizada pelo Instituto de

Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA-RN).

Vale ressaltar que, antes de receberem a licença ambiental, as indústrias de farinha

precisam, primeiramente, de um alvará sanitário, como requisito para poderem ser atestadas

pelo referido órgão. O SEBRAE-RN é responsável também por alguns projetos que objetivam

desenvolver técnicas de manejo sanitário e cultivo da mandioca.

O circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca faz uso do território

potiguar a partir das dinâmicas que dele são provenientes e inerentes. Os círculos de

cooperação são importantes por conectar as etapas que estão espacialmente dispersas,

facilitando o entendimento da circularidade da produção. A seguir, será discutido o conceito

de território e, por conseguinte, a noção de território usado.

2.2.1 Território: uma aproximação teórico-conceitual

O território por muito tempo foi interpretado apenas como uma configuração física

circundada por fronteiras políticas no interior das quais o Estado exerce poder e soberania

(CATAIA, 2013). Todavia, em torno dessa concepção, há uma crítica propriamente

geográfica, que reside na ideia de que o Estado nunca foi, de fato, a única fonte do poder a

usar o território. Nesse viés, Raffestin (1993), questiona a geografia (política) por, durante

anos, ter concebido o Estado como uma instância apartada das contradições sociais.

Tratando sobre a evolução do referido conceito geográfico, Gottmann (2012, p. 523)

entende que

Território é uma porção do espaço geográfico que coincide com

a extensão espacial da jurisdição de um governo. Ele é o

recipiente físico e o suporte do corpo político organizado sob

uma estrutura de governo. Descreve a arena espacial do sistema

político desenvolvido em um Estado nacional ou uma parte

deste que é dotada de certa autonomia. Ele também serve para

descrever as posições no espaço das várias unidades

participantes de qualquer sistema de relações internacionais.

Podemos, portanto, considerar o território como uma conexão

ideal entre espaço e política. Uma vez que a distribuição

territorial das várias formas de poder político se transformou

profundamente ao longo da história, o território também serve

como uma expressão dos relacionamentos entre tempo e

política.

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A concepção de Jean Gottmann (2012) sobre o território parte mais de um

entendimento político-jurisdicional, sem levar em consideração, portanto, sua complexidade.

Outro geógrafo importante que tratou a respeito do conceito de território foi Claude

Raffestin (1993). O autor, primeiramente, faz uma distinção entre espaço e território,

enfatizando que não são termos equivalentes, pois acredita que “o espaço é anterior ao

território, e este se forma a partir do espaço” (Raffestin, 1993).

Para Raffestin (1993), ao se apropriar do espaço, concreta ou abstratamente, o ator

“territorializa” o espaço. Nessa perspectiva, conforme o autor, o território é um espaço onde

se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações

marcadas pelo poder. O espaço é compreendido como a “prisão original”, o território, por sua

vez, é uma espécie de prisão que os homens criaram para si (RAFFESTIN, 1993).

O território é assim, uma produção a partir do espaço que se inscreve em um campo de

poder (RAFFESTIN, 1993). É oportuno ressaltar que a relação entre território e poder, foi

primeiramente pensada pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel, sob a perspectiva do espaço

vital, o qual, segundo Corrêa (2000, p. 18), “expressa as necessidades territoriais de uma

sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total da população e dos

recursos naturais.

De acordo com a perspectiva de Santos (2005a), o território é entendido como um

espaço efetivamente usado pela sociedade e pelas empresas. O território passa, então, de uma

categoria discursivamente exclusiva do Estado, para uma categoria inclusiva (CATAIA,

2013). Com base nisso, Santos e Silveira (2001), entendem o território como a extensão

apropriada e usada. Surge, dessa forma, a noção “território usado”, apontando para a

necessidade de um esforço destinado a analisar sistematicamente a constituição do território.

Na formação social dos Estados Nacionais, o território tem um papel importante,

havendo ainda muito pouca compreensão sobre esta dimensão nova dos seus estudos. É bom

lembrar que “tudo passa, mas os territórios, espaços efetivamente usados, permanecem”

(Souza, 2002, p.1). Nesse sentido, a perspectiva teórica por meio da qual se buscará

compreender o conceito de território nesse trabalho, está baseada na ideia de território usado,

este último sendo sinônimo de espaço banal, pois como bem destaca Santos et.al. (2001, p. 2)

O conceito de território usado conduz à ideia de espaço banal, o

espaço de todos, todo o espaço. Trata-se do espaço de todos os

homens, não importa suas diferenças; o espaço de todas as

instituições, não importa a sua força; o espaço de todas as

empresas, não importa o seu poder. Esse é o espaço de todas as

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dimensões do acontecer, de todas as determinações da

totalidade social.

Em “O retorno do território”, Santos (2005, p.255) afirma que o uso do território

trata-se de uma forma impura, um híbrido, uma noção que, por

isso mesmo, carece de constante revisão histórica. O que ele

tem de permanente é ser nosso quadro de vida. Seu

entendimento é, pois, fundamental para afastar o risco de

alienação, o risco da perda do sentido da existência individual e

coletiva, o risco de renúncia ao futuro.

Para Santos (2005a), o território são formas, mas o território usado são objetos e

ações, sinônimo de espaço humano, espaço habitado. O uso do território pode ser definido

pela implantação de infraestruturas, as quais são denominadas “sistemas de engenharia”, mas

também pelo dinamismo da economia e da sociedade (SANTOS e SILVEIRA, 2001). Nesse

ínterim, cabe entender a técnica enquanto parte constituinte e elemento de transformação do

território (SANTOS, 2008).

A técnica é em Santos (2008) o processo constitutivo do território, técnica e território

vivendo uma relação recíproca de constituição. Não há território desprovido de objetos e

ações técnicas, e não há técnica fora de um território, reforçando o entendimento de Santos

(2008) quanto ao fato da técnica ser em si só uma espécie de meio. Vale ressaltar que o

processo de propagação desigual das técnicas é a um só tempo, causa e consequência, da

implantação seletiva destas sobre o território; o que possibilita a existência de subsistemas

técnicos diferentemente datados em uma mesma fração do território, isto é, elementos

técnicos provenientes de épocas diversas em convivência.

Nessa relação entre técnica e território, Linhares (2006) segue a mesma linha de

pensamento, quando afirma que a realidade espacial também é fortemente condicionada e

definida pela base técnica. O território cada vez mais se configura conforme as engenharias

técnicas que lhe são superpostas. Para outros autores, a técnica é o resultado do

aprimoramento humano, a exemplo de Ortega y Gasset (1963, p. 5), o qual define a técnica

como “[...] a reforma que o homem impõe à natureza em vista da satisfação de suas

necessidades”, sendo um instrumento de interposição das relações existentes entre os sujeitos

e o conjunto dos objetos socialmente construídos.

Há que se atentar também para as várias desigualdades que marcam o território. Dessa

forma, Santos e Silveira (2001) reconhecem os territórios da fluidez e da viscosidade, da

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densidade e da rarefação, da luminosidade e da opacidade, da rapidez e da lentidão, bem

como os territórios que mandam e os que obedecem. Compreende-se que essas atribuições ao

território não são estáticas ou se dão de forma homogênea, pelo contrário, obedecem a uma

perspectiva complexa.

Diante do que foi apresentado, considera-se que, para além do espaço reticular e

racional da ação hegemônica, o território, quando compreendido como território usado,

espaço banal, aparece como recurso analítico pleno de um caráter político e humanista,

porque precisa necessariamente contemplar todos os interesses e todas as razões de ser (e de

existir), de todos os agentes (PEREIRA e KAHIL, 2010). Entretanto, tais agentes fazem o uso

do território de formas distintas, isto é, o território pode constituir-se como um abrigo ou um

recurso. Tais perspectivas do uso do território serão tratadas na próxima seção.

2.2.2 Abrigo e recurso: perspectivas do uso do território

Originalmente, a expressão território como abrigo e como recurso aparece em Jean

Gottmann (1975), sendo reelaborada posteriormente por Milton Santos (2000). Nessa

perspectiva, o geógrafo francês assinala que

por ser tradicionalmente usado tanto como abrigo quanto como

recurso, o território cria um dilema básico para seu povo. Ele

pode tentar desenvolver os recursos como um sistema

autocontido, tendo em mente o uso como abrigo. Pode também

adotar uma atitude completamente diferente e usar o território

para desenvolver os recursos próprios dos lugares, numa grande

rede de relações diversas, com uma mentalidade expansionista

(GOTTMANN, 2012, p. 532).

Em uma concepção mais contemporânea, sobre as perspectivas do uso do território,

Souza (2005, p. 252) complementa

Milton Santos chama a atenção para a necessidade de hoje

refinarmos o conceito de território de modo a distinguir aquele

território de todos, abrigo de todos, daquele de interesse das

empresas. O primeiro ele conceituará como território normado,

e o segundo, como território como recurso, território como

norma ou território das empresas.

Com isso, para os agentes hegemônicos, o território usado é um recurso, garantia da

realização de seus interesses particulares. Desse modo, o rebatimento de suas ações conduz a

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uma constante adaptação de seu uso, com adição de uma materialidade funcional ao exercício

das atividades exógenas ao lugar, aprofundando a divisão social e territorial do trabalho,

mediante a seletividade dos investimentos econômicos que gera um uso corporativo do

território (SANTOS et.al., 2000).

Para Pereira e Kahil (2010), o uso do território como recurso pode ser compreendido,

no mais das vezes, como resultado de projetos particulares, orientados por uma razão que tem

vistas somente para finalidades específicas e previamente (racionalmente) determinadas,

aparecendo assim como um uso indiferente ao meio próximo, alheio ao meio circundante. O

uso do território como recurso atesta, no mais das vezes, o espaço econômico nos termos

propostos por François Perroux (1975) em meados do século XX.

Por outro lado, Santos et.al. (2000) considera, que as situações resultantes

possibilitam, a cada momento, entender que se faz mister considerar o comportamento de

todos os homens, instituições, capitais e firmas. Os distintos agentes não possuem o mesmo

poder de comando levando a uma multiplicidade de ações, fruto do convívio dos atores

hegemônicos com os hegemonizados. Dessa combinação, tem-se o arranjo singular dos

lugares.

Os atores hegemonizados, por sua vez, têm o território como um abrigo, buscando

constantemente se adaptar ao meio geográfico local, ao mesmo tempo que recriam estratégias

que garantam sua sobrevivência nos lugares. É neste jogo dialético que a totalidade é

recuperada (SANTOS et.al, 2000).

Nessa perspectiva, embora tratando diretamente da realidade do Agreste Potiguar,

Salvador (2011) revela que os produtores de mandioca, em sua maioria, vivem em condições

precárias de vida e trabalho. Isso porque os referidos agentes não conseguem cultivar mais

produtos e gêneros alimentícios em suas pequenas propriedades; outros, por sua vez, não

possuem sequer a propriedade e arrendam as terras. Ao arrendar, os agricultores ficam

subordinados aos interesses dos donos das terras, tendo-lhes que entregar, no final do

arrendamento, metade do que produziram. Vale ressaltar que esta é a forma de arrendamento

de terras mais usual no Rio Grande do Norte, mas que existem outros tipos. Os produtores de

mandioca não se encontram subordinados apenas aos interesses dos proprietários de maiores

áreas de terras

Esses agricultores também se encontram submetidos aos

ditames dos compradores de mandioca (intermediários e donos

de casas ou de indústrias de farinha), que exigem que a

mandioca seja cultivada com a utilização de adubos e/ou de

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insumos (venenos, sobretudo) químicos, com alta rentabilidade

e no menor tempo possível. Isso faz com que os produtores

tenham altos gastos com o cultivo dessa planta, já que têm de

lançar mão de quantias consideráveis para a compra desses

adubos e insumos, assim como para pagamento do aluguel de

tratores para efetuarem rapidamente o preparo da terra para o

plantio (SALVADOR, 2011, p. 12-13).

Em outras palavras, Silva (1982, p. 31)

(...) a produção de alimentos fica relegada aos estabelecimentos

que estão naturalmente impossibilitados de assumir um

comportamento empresarial (pequenos proprietários,

arrendatários, parceiros e ocupantes) que basicamente

produzem a sua própria subsistência gerando um pequeno

excedente para o mercado. Essa dispersão da produção em

pequenas unidades cria a necessidade de um grande número de

intermediários, fazendo com que, sobrevindo uma eventual

escassez de gêneros alimentícios, o diferencial de preços se

dilua pelas numerosas escalas existentes entre o pequeno

produtor e o consumidor final.

Observa-se, assim, a perversidade imbricada nessa relação entre os agentes

hegemonizados e os agentes hegemônicos na atividade mandioqueira no Rio Grande do

Norte. O território usado, visto como uma totalidade é, portanto, um campo privilegiado para

análise, na medida em que, de um lado, nos revela a estrutura global da sociedade e, de outro

lado, a própria complexidade do seu uso (SANTOS et.al., 2000). Nessa perspectiva, cabe

avaliar e aprofundar a discussão, de como o território potiguar, no que concerne à produção

agroindustrial de mandioca, tem sido usado enquanto abrigo de todos e enquanto recurso,

pelos agentes hegemônicos.

2.2.3 Circularidade da produção, uso e organização do território

Para o entendimento de um circuito espacial de produção, além da atividade produtiva

dominante, a logística, os agentes envolvidos e seus círculos de cooperação, deve-se analisar

o uso e a organização do território.

Conforme Castillo e Frederico (2010), de maneira geral, o uso e a organização

territorial referem-se à quantidade, à qualidade, à distribuição e ao arranjo espacial dos

sistemas de objetos envolvidos na circularidade da produção, e a maneira como são usados,

possibilitando verificar, a um só tempo, a organização interna dos subespaços, o uso seletivo

dos sistemas técnicos e a forma como são estabelecidas as relações com outros subespaços.

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No atual período, a definição no que concerne à localização das atividades produtivas

dominantes é resultado, sobremaneira, de decisões corporativas sobre os atributos materiais e

normativos dispostos nos lugares; sendo tarefa do pesquisador tentar entender o sentido dessa

localização. Para Santos (1996), a identificação da hierarquia entre os lugares também faz

parte desse procedimento analítico, distinguindo os lugares que produzem massa e abrigam o

comando técnico da produção dos lugares que produzem fluxos e detém o comando político

da produção.

Cada lugar abriga, ao mesmo tempo, diferentes etapas de diversos circuitos

produtivos, permitindo: confrontar a configuração territorial pretérita com os novos arranjos

espaciais produtivos; avaliar o papel das densidades normativas, inclusive as solidariedades

institucionais e as relações de conflito e cooperação entre as diversas escalas do poder

público; e identificar a hierarquia entre os lugares e as diversas temporalidades coexistentes

(CASTILLO e Frederico, 2010).

Portanto, busca-se apreender a constituição do território a partir dos seus usos, do seu

movimento conjunto e de suas partes, reconhecendo as respectivas complementaridades.

Desse modo, é discutida a divisão territorial do trabalho e os círculos de cooperação, o que, ao

mesmo tempo, permite pensar o território como ator e não apenas como um palco, isto é, o

território no seu papel ativo (SANTOS e SILVEIRA, 2001).

No próximo capítulo, de maneira geral, será discutido o trâmite da cultura de

mandioca no país, enfatizando sua importância, principalmente na alimentação.

Posteriormente, a discussão será voltada para a produção de mandioca no território norte-rio-

grandense, enfatizando os entraves e as perspectivas nesse processo.

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Capítulo 2

500 anos de mandioca “mãedioca”

Agora é hora de apresentar pra ‘vosmecês’

Uma velha e grandiosa paisagem

Pioneira na alimentação dos povos indígenas

Personagem muito importante

Na formação da nação pindorama brasileira

Essa paisagem, nasce da manaíba

Portanto, é preciso saber plantar

E zelar

Daí ela prospera, cresce

E a raiz, grande riqueza (...)

Composição: João Bá

Álbum: Pica-Pau Amarelo (2003)

Obra “Descascadores de mandioca”, de Rubens Belém. Técnica: acrílico s/ tela / Dimensão:

89x136cm. 1° lugar no 9° Salão Manaus Marinha, 2008.

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3 UMA LEITURA GEOGRÁFICA SOBRE A MANDIOCULTURA: breve histórico,

processos e conteúdos

A mandioca é considerada a mais brasileira das culturas, por ser originária do Brasil e

cultivada em todo o território nacional (SILVA, 2016). É um produto voltado para atender

necessariamente o mercado interno, constituindo-se um dos alimentos de base para o

abastecimento da população brasileira, seja in natura ou a partir de seus derivados, mas que

também assume significância na alimentação animal e na indústria (alimentícia e química).

Com capacidade de desenvolvimento e produtividade sobre condições edafoclimáticas

nas quais outras espécies sequer sobreviveriam, segundo Silva (2016), a mandioca tem

incorporado em seu cultivo novas técnicas produtivas, embora de modo menos intenso, o que

tem propiciado melhorias no desenvolvimento da cultura de maneira geral.

O fato é que a mandiocultura possui grande relevância, pois faz parte da formação

territorial brasileira como um todo, sustentando-se nos dias atuais, sobretudo, pelas mãos de

pequenos produtores, em face à sua desvalorização e às fragilidades das políticas públicas

voltadas para o fortalecimento da agricultura familiar no Brasil. Nesse aspecto, de forma

abrangente, o segundo capítulo desse trabalho apresenta, inicialmente, um breve histórico da

cultura de mandioca no Brasil e, por conseguinte, trata da formação territorial e da produção

de mandioca no estado do Rio Grande do Norte.

3.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A CULTURA DA MANDIOCA NO BRASIL

Nas palavras do escritor e folclorista Luís da Câmara Cascudo (2004) mesmo fraca,

incompleta, irregular, defeituosa, subalterna, inferior, a mandioca pode ser considerada como

a “Rainha do Brasil”, ostentando uma “coroa irrenunciável”, denotando seu valor e presença

em praticamente todas regiões do país. Desse modo, dada sua relevância na compreensão e no

resgate, de forma literal, das raízes do processo de formação territorial de muitas cidades e

estados brasileiros, é reconhecida a importância de uma abordagem a respeito da

mandiocultura no Brasil.

Nessa perspectiva, sobre a procedência da mandioca o autor Bruno Zétola (2007),

afirma que, ao contrário do inhame, cuja origem é africana, a mandioca tem suas raízes no

Brasil, no sudoeste da bacia amazônica, e foi entre os indígenas da costa leste da América do

Sul que se tornou elemento indispensável e constitutivo da vida social.

Tratando da “Matriz Tupi”, Darcy Ribeiro (1995) afirma que na escala da evolução

cultural, os grupos indígenas davam os primeiros passos da revolução agrícola, superando

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assim a condição paleolítica, tal como ocorrera pela primeira vez, há dez mil anos, com os

povos do velho mundo. É de assinalar que eles o faziam por um caminho próprio, juntamente

com outros povos da floresta tropical que haviam domesticado diversas plantas, retirando-as

da condição selvagem para a de mantimento de seus roçados.

Entre elas, a mandioca, o que constitui uma façanha extraordinária, porque se tratava

de uma planta venenosa a qual eles deviam, não apenas cultivar, mas também tratar

adequadamente para extrair-lhe o ácido cianídrico, tornando-a comestível10. É uma planta

preciosíssima porque não precisa ser colhida e estocada, mantendo-se viva na terra por meses

(RIBEIRO, 1995).

Acrescenta-se a isso que a mandioca foi a principal base alimentar utilizada durante

todo o período de colonização brasileira, uma vez que os portugueses tiveram que se adaptar à

alimentação nativa para garantir a sobrevivência, e por sua vez, o sucesso da empreitada

colonizadora. Segundo Cascudo (2004) o europeu no Brasil ampliava as plantações de

mandioca, classicamente as roças, historicamente as granjearias, comendo, vendendo,

comprando e valorizando, além de exportar a mandioca para as colônias africanas11. A

moenda da mandioca era realizada por meio de casas de farinha, onde engenhocas de ferro

substituíam as madeiras na fabricação do derivado.

Nesse ínterim é oportuno evidenciar que o inhame, alimento de significativa

importância para os lusitanos, era o referencial mais próximo que possuíam os portugueses no

momento em que tentavam descrever a mandioca para seus conterrâneos. Relatando sobre o

“descobrimento” do Brasil, o escrivão-mor Pero Vaz de Caminha que aportou em terras

brasileiras, endereçou uma carta ao então rei de Portugal D. Manuel I, e nela constava a

relação do gentio com a mandioca, a qual foi denominada de inhame, por apresentar

características que se assemelhavam à primeira.

Segundo Amorim (2015) havia um desconhecimento inicial das técnicas e cultivo da

mandioca em forma de lavouras, e os europeus estavam mais adaptados com as práticas da

agricultura de grandes roteamentos, por isso, a técnica de cultivo indígena prevaleceu. Nesse

sentido, Zétola (2007) esclarece que os indígenas derrubavam uma parte da mata nativa,

10 É importante destacar que o uso da mandioca pelos indígenas não se limitava apenas à alimentação, uma vez

que também lhe eram atribuídas propriedades medicinais (SALVADOR, 2010). Além disso, de acordo com

Zétola (2007), a importância da mandioca para os indígenas brasileiros pode ser atestada por meio de lendas

etiológicas, que lhe remontam uma origem sagrada, à maneira do que acontece com outros alimentos basilares

em culturas rurais. 11 Como consequência dessa exportação, países como Nigéria, República Democrática do Congo, Gana e Angola

são atualmente grandes produtores mundiais de mandioca, incorporando-a ao seu processo produtivo e de

alimentação humana e animal (FILGUEIRAS e HOMMA, 2016).

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geralmente por meio de queimadas, e plantava-se a mandioca nas primeiras chuvas. Após

usarem a terra por alguns anos, abandonavam-na para plantar em outra parte.

Sobre a importância da cultura de mandioca no Brasil, os autores Filgueiras e Homma

(2016) acreditam que esta pode ser dimensionada pelo fato de que, em 1824, quando o

Imperador Dom Pedro I outorgou a Primeira Constituição do Brasil, na qual ficou

estabelecido que somente os indivíduos que possuíssem rende renda superior ou igual a 150

alqueires de mandioca, teria efetivo direto ao voto, daí a origem da expressão “Constituição

da Mandioca”. Os deputados e senadores eleitos nesse período deveriam contar, também, com

renda superior ou igual a 500 e 1.000 alqueires de farinha, respectivamente (FILGUEIRAS e

HOMMA, 2016).

Ainda no século XIX, a rudimentar técnica utilizada para o plantio da mandioca era

praticamente a mesma que fora herdada dos povos indígenas, o que só era possível em virtude

da imensidão de terras disponíveis no Brasil. Em 1850, com a publicação da Lei de Terras

o Estado avoca para si a propriedade dos solos devolutos. O

resultado é a transformação da terra, e principalmente da terra

fértil, em mercadoria altamente valorizada. Essa lei deve ser

entendida no âmbito da tentativa de “modernização” do país.

Apontando-se para a abolição da escravidão, essa medida

permitia ao governo conceder terras para imigrantes europeus,

considerados muito mais “morigerados e laboriosos” que os

africanos pelas elites locais (ZÉTOLA, 2007, p. 51).

Mais tarde, como consequência do projeto modernizador no país, houve uma

significativa transformação na estrutura agroalimentar nacional, pois inaugurava uma nova

forma de propriedade (a pequena produção), nova unidade econômica (a família), novo tipo

de relação de produção (o campesinato autônomo e o Estado) e o novo padrão de produção,

por meio de técnicas trazidas pelos imigrantes estrangeiros (ZÉTOLA, 2007).

A cultura que garantiu a sobrevivência de muitos brasileiros e permitiu a expansão e

fundação de São Paulo (relatada em cartas escritas pelo Pe. José de Anchieta), bem como dos

estados da Bahia e Pernambuco e algumas cidades nordestinas (sobretudo litorâneas); chegou

a ser retratada em pintura pelo francês Albert Eckhout (figura 5) quando este fazia parte da

comitiva científica e artística do Conde João Maurício de Nassau que atuou na tentativa de

dominação do nordeste brasileiro no século XVII. De acordo com Amorim (2015), a obra

ilustra a relação entre os europeus e os insumos nativos do Brasil, compreendendo um

importante recurso didático visual.

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O fato é que a mandiocultura ainda possui notável importância no Brasil. Para efeito

de informação, dados mais recentes da Produção Agrícola Municipal do IBGE, ano de 2015,

revelam que o Brasil apresenta uma área plantada de 1.536.161 e correspondente área colhida

de 1.512.660 hectares de mandioca, o que é bastante significativo, embora seja considerada

uma cultura temporária. Embora a cultura de mandioca esteja presente em todo o território

nacional, é importante que se tenha clareza de que não existe homogeneidade em suas práticas

de produção e processamento artesanal ou industrial.

Conforme Filgueiras e Homma (2016) o Brasil, em 2012, era o quarto maior produtor

de mandioca do mundo e, no período de 1990 a 2012, a área plantada no Brasil apresentou

uma redução de 11,03%. Os autores ainda revelam que, entre as regiões brasileiras, o

Nordeste e Norte, no ano de 2013, foram responsáveis por 37,91% e 32,49% da área plantada,

respectivamente, tendo a região Norte elevado a área cultivada nos últimos anos e apresentado

desempenho em toneladas superior à região Nordeste.

O cultivo de mandioca assume papel preponderante na agricultura familiar ao

contribuir para a segurança alimentar das famílias que vivem no meio rural, bem como ao

possibilitar a geração de trabalho e renda por meio da venda dos produtos derivados.

Entretanto, o consumo de mandioca e seus derivados não se faz somente pelas famílias do

meio rural, ele se estende aos lares das famílias urbanas brasileiras (EMBRAPA, 2016),

chegando, inclusive, aos grandes restaurantes e redes de hotéis.

Fonte: AMORIM, 2015.

Figura 5 - Obra “A mandioca”, de Albert Eckhout (1640)

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Tendo em vista esse conjunto de informações, reforça-se que a mandioca constitui um

dos ingredientes essenciais nos hábitos alimentares dos brasileiros de todas as regiões,

principalmente sob a forma de farinha, assumindo em cada uma destas, usos específicos

associados a traços culturais específicos, a exemplo dos churrascos gaúcho, acompanhamento

das caças e pescados no Centro-Oeste e no Amazonas, , assim como nas faixas litorâneas,

especialmente no Nordeste, onde é utilizada no preparo dos pirões (ZÉTOLA, 2007). A

seguir, tem-se o desenvolvimento de uma discussão em torno da farinha de mandioca

enquanto alimento de consolidada importância no regime alimentar brasileiro.

3.1.1 A farinha: derivado importante na alimentação brasileira

Conforme a região do país, a mandioca (manihot esculenta Crantz, sinônimo manihot

utilissima) recebe várias denominações como macaxeira, aipim, macamba, entre outras, sendo

uma espécie de planta da família Euphorbiaceae (euforbiácea), a única, dentre as 98 espécies,

cultivada para fins de alimentação (SEBRAE, 2008).

Para melhor esclarecimento, os autores Cunha e Farias Neto (2016) classificam as

variedades de mandioca em “brava” (que origina a farinha, o tucupi, a goma, etc.) e “mansa”,

macaxeira ou aipim (que é utilizada para consumo in natura). Esta última também recebendo a

denominação de “mandioca de mesa”.

Apresentando pouca diferenciação em relação à classificação anterior, sob o ponto de

vista agronômico, Conceição (1981) afirma que as cultivares em exploração podem ser

agrupadas conforme sua toxidade em: A- Mandioca brava, amarga ou venenosa, de

utilização industrial; B- Mandioca mansa, doce, inócua, de mesa, aipim ou macaxeira, de

uso culinário.

O autor reforça a variação relacionada à nomenclatura regional da mandioca, podendo

uma mesma cultivar ter diferentes nomes e um mesmo nome ser comum a mais de uma

cultivar. Acrescenta ainda que há uma confusão notória reinante quanto aos nomes e

características das mandiocas brasileiras, devida ao regionalismo. Sabe-se, entretanto, que nas

Regiões Norte e Nordeste do Brasil, a raiz é comumente chamada de macaxeira, ao passo que

nas Regiões Sudeste e Sul do país, é conhecida como aipim ou simplesmente mandioca, tanto

para designar a “brava” quanto a “mansa”.

Quanto à classificação correlacionada com as condições edafoclimáticas, ciclo da

planta, tratos culturais, espaçamento, efeito verietal, etc., as subdivisões das mandiocas bravas

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e mansas estão descritas no quadro 2 a seguir, conforme Albuquerque (1969, apud

CONCEIÇÃO, 1981):

QUADRO 2 - CLASSIFICAÇÃO DA MANDIOCA

Segundo a coloração da película suberosa 1. Branca, 2. Cinza, 3. Marrom

Quanto à superfície da película suberosa 1. Lisa, 2. Áspera, 3. Muito áspera

Quanto à coloração do córtex (parte

externa ou camada felógena)

1. Branca, 2. Creme, 3. Arroxeada, 4.

Rósea

Quanto à coloração da polpa 1. Branca, 2. Amarelada, 3. Creme

(intermediária)

Quanto ao teor de água nas raízes 1. Enxutas, 2. Meio enxutas, 3.

Agradas

Quanto ao rendimento no beneficiamento

(farinha, fécula, álcool) 1. Alto, 2. Bom, 3. Médio, 4. Baixo

Quanto à precocidade

1. Precoces (ciclo de 10 a 12 meses), 2.

Semiprecoces (ciclo de 14 a 16 meses),

3. Tardias (ciclo de 18 a 20 meses)

Quanto à produção de ramas e raízes 1. Muito boa, 2. Boa, 3. Regular, 4.

Baixa

Quanto ao esgalhamento (ramificação) 1. Alta (erectas), 2. Baixo (esgalhadas)

Quanto à resistência de pragas e moléstias 1. Muito resistente, 2. Resistente, 3.

Suscetível, 4. Muito suscetível

Quanto à cor da folhagem 1. Verde, 2. Roxa

No que se refere ao cultivo da mandioca, como evidenciado no subcapítulo anterior,

este já era realizado pelos nativos antes mesmo do “descobrimento” do Brasil. Quando os

portugueses aportaram no Brasil e a posse da terra começou a ser realizada, a mandioca

passou a ser reconhecida como o alimento regular, obrigatório, indispensável aos indígenas e

europeus recém-chegados ao Brasil (CASCUDO, 2004). Assim, a mandioca passa a ser

considerada o “pão da terra em sua legitimidade funcional. Saboroso, fácil digestão,

substancial” (CASCUDO, 2004, p. 90).

De acordo com Cascudo (2004), a mandioca constituía-se como um dos ingredientes

essenciais da alimentação indígena, sendo a matéria prima para feitura da farinha e os beijus.

Ainda conforme a compreensão de Cascudo (2004, p. 91) “o primeiro constituía o conduto

essencial e principal, acompanhando todas as coisas comestíveis, da carne à fruta. O segundo,

Fonte: CONCEIÇÃO, 1981.

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era a primeira matalotagem de jornada, de guerra, caça, pesca, permuta, oferenda, aos

amigos”.

A farinha de mandioca, a qual os portugueses chamavam farinha-de-pau, também

servia como importante mantimento para os lusitanos em terras brasileiras. Segundo Cascudo

(2004) não existindo prensas como as atuais, e antes não passando por um ralador eficiente, a

farinha indígena apresentava uma granulometria grossa, diferentemente da massa compacta e

fina de nossos dias. Conforme os estudos de Cascudo (2004) para a produção de farinha, a

mandioca era raspada, sendo utilizado para este fim espinhos de plantas, arcada dentária de

espécies de animais e cascas de ostras. Após esse processo inicial, a pasta da mandioca era

espremida à mão ou no tipiti, sendo este um cesto cilíndrico de palha bastante utilizado para

atender tal função (CASCUDO, 2004). O autor ainda cita um hábito comum registrado pelo

missionário e escritor francês Jean de Léry, em meados do século XVI no Brasil

a técnica de jogar farinha seca à boca sem que nenhum grão se

perdesse: “Os tupinambás, tanto os homens como as mulheres,

acostumados desde a infância a comê-la seca em lugar do pão,

tomam-na com os quatro dedos na vasilha de barro ou em

qualquer outro recipiente e a atiram, mesmo de longe, com tal

destreza na boca que não perdem um só farelo. E se nós

franceses os quiséssemos imitar, não estando como eles

acostumados, sujaríamos todo o rosto, ventas, bochechas e

barbas” - Viagem, 114. O hábito ficou no povo brasileiro,

especialmente o do interior (CASCUDO, 2004, p.99).

“A farinha é, assim, o primeiro conduto alimentar brasileiro pela extensão e

continuidade nacional” (CASCUDO, 2004, p. 96). Sua importância é retratada desde a

literatura às músicas populares brasileiras. Ao longo da história, sempre esteve associada à

escassez, como alimento necessário para dar volume, encher e saciar, principalmente ao se

tratar das camadas menos favorecidas. Por essa razão, o alimento chegou a ser chamado

demagogicamente, segundo Castro (1984) de “pão dos pobres” por um político nordestino.

No nordeste brasileiro, a farinha de mandioca sempre esteve presente nas refeições

diárias, seja na preparação do pirão, sinônimo da própria alimentação brasileira, de acordo

com Cascudo (2004); seja como complemento de outros alimentos, a exemplo do feijão ou

ainda na forma de farofa. Em trecho da obra “Fome: um tema proibido”, de Josué de Castro, o

autor mostra como o derivado, no caso a farofa, servia como importante acompanhamento

(por vezes, o alimento principal) na dieta nordestina. Nas palavras de Castro (2003a, p. 25)

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Nas terras pobres e famintas do nordeste brasileiro, onde nasci,

é hábito servir-se um pedacinho de carne seca com um prato

bem cheio de farofa. O suficiente de carne – quase um nada

para dar gosto e cheiro a toda montanha de farofa feita de

farinha de mandioca, escaldada com sal.

Em algumas áreas do Nordeste, o consumo expressivo da farinha de mandioca chegou

a provocar algumas carências nutricionais, isso decorrendo do fato da farinha de mandioca ser

um alimento bastante inferior não só em teor proteico, mas também vitamínico e mineral,

comparando-se à farinha de trigo, de que é fabricado o “pão dos ricos” (CASTRO, 1984).

As regiões Norte e Nordeste são as maiores consumidoras de farinha de mandioca no

Brasil, respectivamente (ROSA NETO e MARCOLAN, 2010). O consumo passa a adquirir

novas nuances, não apenas como um alimento que garante a sobrevivência, mas também

como um produto capaz de atender às exigências do mercado. Conforme a análise

Nascimento (2016, p. 2008)

produzir farinha deixa de ser apenas o consumo de subsistência

e a manutenção de uma cultura centenária para se transformar

em excelente negócio, principalmente nas regiões Norte e

Nordeste, capaz de atender não apenas às demandas locais do

produto, mas também proporcionar a melhoria da qualidade de

vida das pessoas que se envolvem com a atividade, criar

alternativas de mercado, fortalecer o desenvolvimento

socioeconômico da região e garantir o atendimento às

necessidades atuais e futuras das gerações.

Quanto aos tipos, as farinhas crua e torrada são as mais comuns, mas assumem

características específicas em termos de cor e granulometria nas diferentes regiões do país.

Para além desses tipos de farinha, existe também a farinha d´água que é caracterizada pela

fermentação das raízes antes de processá-las (MENDES et.al, 2009). Os vários tipos de

farinha de mandioca denotam, assim, as perspectivas de comércio, bem como às necessidades

do mercado, não obstante os hábitos alimentares de cada região do país. Quanto à exportação

da farinha de mandioca, cabe destacar que este processo possui forte relação com a população

brasileira que vive em outros países, como Portugal, Estados Unidos, Japão, etc. (BARROS

et.al, 2004).

No entanto, apesar da farinha de mandioca ter adquirido força no que diz respeito à

comercialização, Almeida e Ledo (2004) afirmam que há limitação de ampliação do mercado

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externo, haja vista que, em muitos casos, a farinha produzida em uma região não é bem aceita

em outras, dada às preferências distintas de consumo entre elas.

Muito embora com a existência de alguns entraves que permeiam desde o cultivo da

mandioca até seu processamento e posterior transformação em derivados, como a farinha, é

fato que esta, com base nas palavras de Câmara Cascudo (2004, p. 93) “é a camada primitiva,

o basalto fundamental na alimentação brasileira. Todos os elementos são posteriores,

assentados na imobilidade do uso multicentenário, irredutível, primário, instintivo”. Desse

modo, a farinha de mandioca tem contribuído historicamente para minimização da fome

aguda, sendo utilizada também no combate à subnutrição, o que será evidenciado a seguir.

3.1.2 Geografia da fome: a experiência de Josué de Castro e o combate à desnutrição

utilizando a farinha

Parafraseando Manuel Correia de Andrade (1997), Josué de Castro foi uma figura

marcante de cientista, de professor, de homem público e de parlamentar que teve grande

influência na vida nacional e grande projeção internacional nos anos decorridos entre 1930 e

1974. Além disso, o referido “médico-geógrafo” dedicou o melhor do seu tempo chamando a

atenção para os problemas da fome e da miséria que assolavam o mundo (ANDRADE, 1997).

As pesquisas e estudos a respeito da situação alimentar e da fome no Brasil, foram

determinantes para que Josué de Castro escrevesse o seu principal livro, publicado no ano de

1946: Geografia da Fome. Nessa obra, o autor trata do problema da fome no território

brasileiro, o “tema proibido” tão negligenciado pelos estudiosos. Dessa maneira, pela primeira

vez, foi discutido o quão relevante é a problemática da fome para compreensão do estágio de

subdesenvolvimento de um país.

Utilizando de uma metodologia eminentemente geográfica, Josué de Castro denunciou

a situação de fome em que vivia a maioria da população brasileira, a partir da análise de suas

características físico-naturais e sociais (ANDRADE, 1997). Assim, objetivando individualizar

as características alimentares, e consequentemente, as carências apresentadas pela população,

Josué de Castro propôs a regionalização do Brasil em cinco áreas alimentares: Amazônia,

Nordeste Açucareiro, Sertão Nordestino, Centro-Oeste e Extremo Sul. A figura 6, organizada

pelo próprio Josué de Castro, ilustra com maior ênfase como ficou definida tal divisão, bem

como os principais alimentos encontrados em cada região.

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Como mostra a figura anterior, os principais alimentos básicos presentes nas cinco

regiões compreendem culturas como a do feijão, milho, batata e mandioca. Em relação a esta

última, observa-se que a farinha, principal derivado da mandioca, é predominante tanto na

Região Amazônica quanto na Região do Nordeste Açucareiro. Em ambas regiões, conforme

Castro (1984), se estabeleceu uma cultura primitiva de certos produtos de alimentação, e a

mandioca está inserida nesse aspecto.

Considerando a realidade da Região do Nordeste Açucareiro, o consumo significativo

de farinha de mandioca provocou uma série de carências alimentares decorrentes da falta de

ferro e de sódio, atingindo, sobretudo, as crianças pobres e mal alimentadas que “comiam

terra”, fato apontado como um vício, mas que era, na verdade, uma defesa do organismo

(ANDRADE, 2003). O mesmo conjunto de problemas também era comum na Região do

Sertão Nordestino e ainda mais agravado, em decorrência dos períodos de seca. Para Castro

(2003b, p.130)

Esse quadro tão sombrio da economia do Nordeste

frequentemente passou a impressão de que a região, com sua

conjuntura geoeconômica desfavorável, não podia ser

recuperada. Nada mais falso, mais desprovido de qualquer

fundamento científico do que essa interpretação apressada e

pessimista da economia nordestina.

Fonte: ANDRADE, 1997.

Figura 6 - Mapa das áreas alimentares do Brasil

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Josué de Castro tinha bastante clareza de que a fome e a pobreza no Nordeste não

eram consequências das condições naturais da região como muitos afirmavam e/ou

acreditavam, associando principalmente à seca. O autor compreendia que o período de

colonização, o sistema de monocultura e o predomínio das grandes propriedades rurais nas

mãos de uma minoria, muito explicavam os problemas enfrentados pelos nordestinos, estando

no processo de formação socioespacial do Brasil, a gênese de muitos dos problemas sociais

ainda hoje existentes no país.

Desse modo, diante das dificuldades desencadeadas pela fome na região mencionada,

a ajuda de órgãos técnicos como a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

(Sudene), foi de grande importância na tentativa de mudar a realidade de pobreza tão

marcante na época. Além disso, foi organizado, sob a iniciativa de Josué de Castro, um plano

de combate à fome, por intermédio da Associação Mundial de Luta Contra a Fome

(Ascofam), entidade criada em 1957, pelo “médico-geógrafo” e pelo Abade Pierre, da França.

Concentrando suas ações no Nordeste, a Ascofam distribuiu suas atividades entre os

setores de informação e de execução de projetos capazes de provocar as reações sociais

indispensáveis para a transformação da economia regional (CASTRO, 2003b). A Associação

Mundial de Luta Contra a Fome também

executou estudos e pesquisas sobre a estrutura agrária do

Nordeste e sua repercussão, tendo em vista a situação

econômica e alimentar da região. Ela própria estabeleceu, com

base em seus estudos, um plano econômico de reforma agrária

regional, compreendendo o cálculo dos investimentos

necessários. Organizou diversos seminários sobre os problemas

regionais, entre os quais destaca-se o seminário sobre as

endemias rurais e a subalimentação, realizado em 1958, com a

participação de competentes especialistas (CASTRO, 2003b, p.

131).

Dentre os projetos realizados pela Ascofam, o mais importante consistiu em utilizar o

principal alimento de base no regime regional, que era a farinha de mandioca. Esta, de acordo

com Castro (1984) é muito inferior, tanto em seu teor proteico, como mineral e vitamínico,

quando comparada a outros alimentos, para tanto, buscou-se uma alternativa que melhorasse o

seu valor nutricional. Dessa forma, a partir da adição de proteínas e de sais minerais foi

realizado o enriquecimento artificial da farinha de mandioca, transformando um alimento

exclusivamente à base de hidrocarbonatos e calorias, num produto rico em aminoácidos, sais

minerais e vitaminas (CASTRO, 2003b).

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Para a transformação da farinha de mandioca, de forma econômica e prática, a partir

do seu enriquecimento, foram instaladas três usinas pilotos em pontos diferentes do Nordeste

brasileiro com o intuito de combater as carências alimentares da região. Na cidade de

Surubim-PE, na época considerada um dos maiores núcleos de pelagra endêmica, uma

experiência de apenas um ano com a farinha enriquecida proporcionou um resultado bastante

satisfatório, uma vez que a doença carencial desapareceu-se praticamente da referida cidade.

A experiência inédita em Surubim-PE ocorreu da seguinte forma: no período de

dezembro de 1958 a dezembro de 1959, um quilo da farinha enriquecida era distribuído

semanalmente para cada morador. O médico José Nivaldo Barbosa, da cidade de Surubim-PE,

era o responsável por entregar a farinha em domicílio, elaborando fichários com observações

semanais sobre cada um dos pacientes. O fato teve repercussão mundial, fora divulgado em

revistas de medicina e tornou-se um exemplo pioneiro de uma tendência hoje disseminada

pelo mundo que é o enriquecimento nutricional de alimentos.

Segundo Castro (2003b), a Ascofam tinha interesse em apresentar os resultados da

experiência de Surubim-PE a outras instituições nacionais e internacionais interessadas na

adoção de técnicas de cooperação capazes de promover o desenvolvimento de comunidades

desse gênero. O autor considerava que esse era o principal projeto realizado pela Ascofam no

mundo.

Além do enriquecimento da farinha de mandioca com base na farinha de soja

desengordurada e de uma mistura de sais e vitaminas, a Ascofam estudou a possibilidade de

um processo ainda mais prático e racional com as raízes da planta, que consistia em uma

farinha tirada das próprias folhas da mandioca, que contém em torno de 20% de proteínas e

detém um alto teor de betacaroteno (provitamina A).

É interessante ressaltar que, após o golpe militar de 1964, o processo de

enriquecimento da farinha idealizado por Josué de Castro foi perdendo fôlego, agravando-se

ainda mais com um problema de natureza técnica que consistia na estocagem da farinha, uma

vez que o alimento não suportava longos períodos em armazenamento e, se não fosse

consumido logo, era estragado por gorgulhos, uma espécie de pequenos besouros que atacam

alguns produtos agrícolas. No entanto, acredita-se que tal problema poderia encontrar solução,

caso o desenvolvimento da pesquisa tivesse sido levado adiante.

É inegável que, como fundador da Ascofam e tamanha sensibilidade às causas

humanas, Josué de Castro sempre esteve à frente de projetos cujo objetivo era promover o

desenvolvimento humano, e porque também não dizer socioespacial, das áreas ameaçadas e

assoladas pela fome. O uso da farinha de mandioca para amenizar as carências nutricionais do

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Nordeste, e assim, combater à desnutrição, foi estudado e idealizado por um intelectual e

homem público que vivenciou de fato a realidade de miséria na qual se encontravam muitas

famílias brasileiras.

3.2 A FORMAÇÃO TERRITORIAL E A PRODUÇÃO DE MANDIOCA NO RIO

GRANDE DO NORTE

A ocupação do Rio Grande do Norte tem seu início no final do século XVI, mais

precisamente a partir da instalação do regime de capitanias hereditárias. Quando da divisão

das terras brasileiras pelo então rei de Portugal, D. João III, a capitania do Rio Grande (depois

Rio Grande do Norte), como fora denominada, coube ao historiador João de Barros, alto

funcionário do governo português, e a Aires da Cunha, fidalgo que destacou-se lutando contra

piratas e corsários (TRINDADE, 2010).

Segundo Cascudo (1999), o nome dado à capitania procede da percepção que os

portugueses tiveram do rio Potengi, o principal do estado. A Capitania do Rio Grande era

considerada uma das maiores do Brasil, o que desencadeou uma série de dificuldades

relacionadas à sua colonização. Acrescenta-se a isso que referida capitania praticamente

“vegetava”, pois não passava de 80 (oitenta) o número de homens brancos moradores do Rio

Grande. A presença dos indígenas, muitos deles aliados aos franceses, também foi um fator

que impedia as investidas dos donatários, cujos homens eram rechaçados e, por vezes, mortos.

Por essa razão, a capitania do Rio Grande foi relegada ao abandono, sendo visitada e

explorada pelos franceses, que aqui realizavam um ilegal e lucrativo comércio de pau-brasil

(TRINDADE, 2010).

É importante o entendimento de que, inicialmente, a ocupação do território do Rio

Grande do Norte

estava associada às atividades mercantis, limitando-se a uma

ocupação apenas pontual, principalmente na área litorânea,

caracterizada pela presença de pequenos núcleos populacionais

em torno das feitorias que, na realidade, tinham por objetivo

principal a defesa e proteção, não do território, mas das

atividades que aí se desenvolviam. Dessa forma, esse primeiro

momento da ocupação do território não pode ser entendido

como um povoamento propriamente dito, dado o fato de que o

caráter exploratório da ação dos portugueses e dos franceses

ficou claramente evidenciado (GOMES, 1998, p. 23-24).

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Conforme Salvador (2010), apesar dessa fase inicial ser considerada como ancoradora

dos primórdios da formação territorial norte-rio-grandense, esta encontra-se fortemente

atrelada ao desenvolvimento de atividades econômicas que tiveram bastante significância

durante todo o processo. Nesse sentido, a cana-de-açúcar, considerada o “ponto de partida”; a

pecuária como “elemento de expansão”, e o algodão como um “produto de redefinição”

(GOMES, 1998), são as atividades mais emblemáticas na constituição do território potiguar.

Sendo assim, a ocupação e construção do território do Rio Grande do Norte tem sua

base no desenvolvimento de atividades agrícolas - não se tratando de ciclos fechados e

estagnados - com a utilização de técnicas consideradas tradicionais. Tal processo é parte do

projeto de expansão capitalista que ocorreu no estado desde os primórdios de sua formação

(GOMES, 1998).

No Rio Grande do Norte, a atividade da cana-de-açúcar teve sua expansão por volta do

século XIX, quando a empresa açucareira brasileira estava em franca decadência, em virtude

da queda do preço do açúcar no mercado internacional. A modernização do setor açucareiro

foi implementada com atraso pelos produtores norte-rio-grandenses, o que ocasionou uma

queda acentuada na produção de açúcar no estado. Além de caro (pelos altos custos), o açúcar

produzido aqui era de qualidade inferior (SANTOS, 2005b). Sendo assim,

somente no final da década de 1920 e início da década de 1930

foram instaladas as primeiras usinas de açúcar no Rio Grande

do Norte, quase todas nos vales úmidos do litoral oriental do

estado. Apesar disso, não houve uma recuperação significativa

da atividade açucareira do estado. Até a década de 1980 a

produtividade era muito baixa (TRINDADE, 2010, p. 266).

Enquanto “ponto de partida”, a atividade açucareira foi relevante no sentido de que

também permitiu o surgimento de centros urbanos na área litorânea do estado do Rio Grande

do Norte, a exemplo de Arês, Ceará-Mirim, São José de Mipibú e Vila Flor. Mas a pouca

produtividade e a posterior descoberta do açúcar antilhano, provocou uma retração no

desenvolvimento da indústria açucareira norte-rio-grandense, o que propiciou a consolidação

de outas atividades, como a pecuária.

A pecuária, retrata assim o processo de expansão territorial do Rio Grande do Norte,

agora com vistas a ocupação do interior. De acordo com Gomes (1998) até o final do século

XIX a pecuária era a atividade mais importante do agreste e do sertão. O resultado de toda

essa dinamicidade se expressava espacialmente na ampliação do território, com o surgimento

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de várias cidades associadas diretamente à pecuária, como Currais Novos, Pau dos Ferros, e

Caicó, que são, na atualidade, importantes centros urbanos do interior norte-rio-grandense.

A pecuária, no primeiro momento, subsidiava a atividade canavieira e, no segundo

momento, constituiu a própria atividade de acumulação de capital. Todavia, quando a

pecuária entra em crise, o processo de industrialização desponta em meio a um novo cenário

econômico mundial, e o Rio Grande do Norte, inserido nesse contexto, acompanha as

mudanças que vão culminar no desenvolvimento da economia algodoeira, associada ao

surgimento da indústria têxtil.

No entendimento de Gomes (1998), é a partir da expansão da cultura do algodão que o

processo de construção do território do Rio Grande do Norte passou por um momento de

redefinição. O desenvolvimento dessa cultura vai acontecer a partir da segunda metade do

século XVIII, devido à forte procura do mercado inglês pelo produto, com a finalidade de

abastecer sua indústria têxtil. Nessa perspectiva, a economia algodoeira é a primeira do estado

do Rio Grande do Norte voltada para atender o mercado externo12.

É interessante evidenciar que, várias cidades do Rio Grande do Norte se

desenvolveram devido ao crescimento da referida atividade, como por exemplo, Assú, Caicó,

Macaíba, Mossoró, etc. Além disso, a dinâmica da atividade impulsionou a instalação de

unidades industriais. Conforme Santos (2005b), em 1942, o RN tinha 168 estabelecimentos

industriais de algodão, sendo que 157 realizavam o beneficiamento e, apenas, 7 se destinavam

à fabricação de óleos vegetais. Na safra de 1959/60, existiam 39 usinas; na de 1963/64, 42

usinas; e na de 1969/70, 25 usinas.

Em meados do final do século XIX, a produção de algodão começa a entrar em fase de

decadência no estado. As secas, que sempre afetavam à cultura; fatores de ordem econômica,

ditados de fora do país; a incapacidade produtiva que se detinha ao uso de técnicas de

produção arcaicas; bem como o surgimento da praga do bicudo13 (um tipo de besouro que traz

danos à cultura do algodão), resultando em uma verdadeira extinção do produto nas áreas

tradicionais, ficando a sua produção restrita às áreas onde se desenvolvia a agricultura irrigada

(GOMES, 1998), foram fatores que muito contribuíram com a crise da atividade algodoeira

no Rio Grande do Norte.

12 A exportação de algodão do Rio Grande do Norte era bastante significativa, em virtude da excelência do

algodão mocó, considerados um dos melhores do mundo (TRINDADE, 2010). 13 Ainda conforme Gomes (1998) a praga do bicudo faz parte dos falsos discursos que são utilizados para

mascarar as realidades verdadeiras, pois a crise do algodão coincide, exatamente, com o surgimento da indústria

têxtil sintética dos países capitalistas.

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Entende-se que, apesar da cana-de-açúcar, da pecuária e do algodão terem sido

decisivos no processo de formação territorial do Rio Grande do Norte, outras atividades foram

surgindo, como a mineração, a produção salineira e, posteriormente, o turismo, a produção de

petróleo e de frutas tropicais, comércio e serviços, criando novas territorialidades e

consolidando a construção do território norte-rio-grandense (AZEVEDO, 2013).

Nesse aspecto deve-se ressaltar que, consorciadas às atividades anteriormente

mencionadas, a economia de subsistência (autoconsumo) também se desenvolvia com uma

produção voltada para as culturas alimentares, sobretudo feijão, milho, batata e mandioca. Em

especial, a produção de mandioca foi importante para aqueles que viviam tanto em áreas

sertanejas quanto em áreas serranas do Rio Grande do Norte, e mais precisamente, para o

Agreste Potiguar em geral, pois conforme Salvador (2010), a cultura de mandioca criou as

bases para o processo de formação territorial dessa região.

Historicamente, a mesorregião Agreste Potiguar apresenta-se como a principal

produtora de mandioca no estado, seguido das mesorregiões Leste, Central e Oeste Potiguar.

Considerando a evolução da área plantada (mapa 2) e da área colhida de mandioca (mapa 3),

entre os anos de 1990 e 2015, observa-se que quase não há diferença entre elas em termos de

cultivo de mandioca no Rio Grande do Norte.

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No entanto, ao analisar os dois comportamentos relativos à produção de mandioca no

estado do Rio Grande do Norte (área plantada e área colhida), fica claro que houve redução da

produção no Oeste Potiguar, principalmente na área relativa ao Alto Oeste. Em contrapartida,

pode-se considerar que a produção foi mantida na Região Central, especificamente, na Serra

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de Santana; assim como nas regiões Agreste e Leste Potiguar, embora com diminuição tanto

da área plantada quanto da área colhida, principalmente no ano de 2015. Com relação à

quantidade de mandioca produzida em toneladas, entre os anos de 1990 e 2015, esta sofreu

diminuição em praticamente todo o estado, como representado a seguir (mapa 4).

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Com o intuito de compreender não apenas a produção, mas também os desafios que

vem sendo enfrentados pelos produtores de mandioca no Rio Grande do Norte, e

considerando ainda, que estes também são agentes do circuito de produção agroindustrial em

análise, foram realizadas entrevistas com tais produtores. A seguir, serão discutidos os

resultados da pesquisa que ocorreu em municípios do Agreste Potiguar e da Serra de Santana.

No primeiro momento, quando questionados sobre sua situação na terra, 90% dos

produtores respondeu que possuíam pequenas propriedades, com áreas de menos de 10he e

até 15he, onde plantavam a mandioca. Os agricultores que não possuem terras plantam

mandioca por meio do arrendamento. Segundo os entrevistados, o cultivo da mandioca tem

uma duração média de oito meses, podendo chegar até dois anos, e a melhor época para

plantio da raiz vai do final do mês de dezembro até o início do mês de julho, correspondente

ao “período de inverno” na agricultura. A mão de obra que prevalece é a familiar, com

algumas contratações temporárias principalmente na época do “arranque” da mandioca, por

constituir um trabalho bastante laborioso.

De modo geral, os produtores de mandioca afirmaram que, no período regular de

chuvas, podia-se produzir até 12 toneladas de mandioca por hectare, todavia, em razão do

período de estiagem prolongado no Rio Grande do Norte, essa quantidade diminuiu para 8

toneladas de mandioca por hectare. É válido frisar que, atualmente, o estado do Rio Grande

do Norte possui uma das menores médias de produção de mandioca em todo o Nordeste,

correspondente a 11 toneladas por hectares. O gráfico 1 a seguir, reforça a afirmação anterior,

mostrando que no ano de 2015, a produção de mandioca em toneladas no Rio Grande do

Norte só não foi inferior ao estado da Paraíba. Os estados da Bahia e do Maranhão destacam-

se como os principais produtores de mandioca na Região Nordeste.

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Em relação aos tipos de raízes cultivadas pelos produtores, foram citadas as mandiocas

“cariri” que, segundo eles, oferecem bons rendimentos na fabricação de farinha, e a espécie

“bujoninha”, como é conhecida no Agreste Potiguar. A “mandioca mansa” também é

cultivada, preferencialmente, a “macaxeira pernambucana”, como foi citada pelos produtores.

Destaca-se ainda, que, dos produtores entrevistados, 87% asseveraram que, além da

mandioca (ou macaxeira) também produzem outras culturas na mesma área de cultivo, como

feijão e milho. Nessa situação, Costa e Lamoso (2013) explicam que os agricultores têm

fugido da especialização que o capitalismo tenta impor aos espaços com a monocultura

agrícola à Agricultura Familiar, para que não fiquem reféns das oscilações do mercado e

também possam evitar situações adversas, entre elas, as condições climáticas. No momento da

pesquisa, tal prática, pode ser constatada na propriedade de um agricultor familiar do

município de Vera Cruz-RN, com a produção de macaxeira e feijão, sendo este último,

irrigado (figura 7).

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

Gráfico 1 - Produção de mandioca em toneladas nos estados

nordestinos brasileiros (2015)

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal, 2015.

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal, 2014.

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Quando questionados sobre o destino da mandioca produzida, a maioria respondeu

(83% dos entrevistados) que é vendida para as unidades de beneficiamento, ressaltando

também, que parte da raiz tem sido utilizada para alimentação dos rebanhos bovinos, em

função da seca que tem se perpetuado no estado. Tratando-se da macaxeira, esta tem sido

destinada para ser vendida em feiras livres, e alguns produtores também têm abastecido

mercados e alguns restaurantes, sobretudo, em Natal-RN.

Quanto à utilização de insumos agrícolas, verificou-se que os principais utilizados para

o cultivo da mandioca são os adubos orgânicos e químicos, além do calcário (adubo

corretivo). Nesse aspecto, a pesquisa revelou um dado bastante interessante: os produtores de

mandioca dos municípios de Lagoa Nova-RN e Tenente Laurentino Cruz-RN garantiram que

não utilizam nenhum tipo de adubo para o cultivo da mandioca; simplesmente deixam a terra

em repouso após a colheita, chegando a ficar até dois anos sem plantar a raiz; diferentemente

dos produtores da Região Agreste Potiguar que foram bastante enfáticos ao afirmar que sem

adição de adubo, não é possível cultivar a mandioca e obter bons rendimentos na produção.

Dos produtores entrevistados, todos realizavam o plantio de mandioca de forma manual.

A título de informação, dados do Sistema de Análise das Informações de Comércio

Exterior – AliceWeb2 (2016), relacionados à importação de “Máquinas para colheita de raízes

ou tubérculos” (código 84335300), mostram que no período de 2014 a 2016, o estado do Rio

Grande do Norte importou um total de 41 máquinas agrícolas.

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

Figura 7 - Cultivo de macaxeira e feijão na mesma propriedade em Vera Cruz-RN

Macaxeira

Feijão

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No que se refere à definição do preço da mandioca, este, segundo os produtores está

relacionado “a oferta e a procura”, até porque não existe nenhuma forma de garantia de preço

mínimo pelo quilo da raiz. Sendo assim, a oscilação de preço por quilo da mandioca tem

acontecido de forma frequente no mercado, o que tem prejudicado os produtores, tornando-os

reféns da instabilidade dos preços e, muitas vezes, sem condições de cobrir os custos relativos

à produção. Quando a procura por mandioca parte de pessoas de outros estados, o preço tende

a oscilar positivamente para o produtor.

De modo geral, a principal dificuldade apontada pelos produtores de mandioca foi a

estiagem ocorrida nos últimos cinco anos, pois muitos perderam grande parte de sua

produção; e a situação tem se agravado ano após ano, como relatado pelos entrevistados. Em

função disso, os produtores mostraram-se preocupados quanto aos futuros cultivos de

mandioca, uma vez que não dispõem de uma quantidade suficiente de manivas para realizar o

plantio na área em que outrora produziam, no “período regular de chuvas”.

Em alguns municípios da Região Agreste, onde existe a possibilidade de um cultivo

irrigado, os produtores têm optado pelo plantio de outras culturas, como o feijão, a batata

doce, e até mesmo, a macaxeira (mandioca mansa), por assegurar a esses produtores uma

melhor fonte de renda, devido aos ciclos menores de produção. Outra dificuldade apontada

pelos produtores relaciona-se à falta de interesse do governo para com a cultura de mandioca

no estado, diante da necessidade de uma maior assistência técnica. A pesquisa empírica

revelou que, dentre os entrevistados, não há aquisição de mandioca por nenhum mercado

institucional, a exemplo do PAA e do PNAE.

3.2.1 Agricultura familiar e o papel do PRONAF no Rio Grande do Norte

Traduzida do modelo norte-americano, a expressão agricultura familiar popularizou-se

em meados da década de 1990, contrapondo-se à adoção do termo agronegócio utilizado para

designar o setor patronal rural altamente tecnificado. O uso dessa expressão visava,

principalmente, romper com algumas noções como a “pequena produção”, “produção de

subsistência” ou mesmo com o entendimento de “produção camponesa”, especialmente

porque essas carregavam um sentido de “ineficiência”, baixa produtividade (“pequeno

produtor”) e não-inserção no mercado, isto é, com produção destinada apenas para o

autoconsumo (SAUER, 2008).

Segundo Sérgio Sauer (2008), o processo de consolidação da noção de “agricultura

familiar” passou a fazer parte do movimento sindical, assim como dos espaços

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governamentais e acadêmicos, a partir de pesquisas realizadas por equipes da Organização das

Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e do Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (PNUD), em convênio com o então Ministério da Agricultura, do

Abastecimento e da Reforma Agrária, e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA), que iniciou com avaliações e indicadores socioeconômicos de

assentamentos de reforma agrária, posteriormente ampliada para outros segmentos da

agricultura familiar.

Tratando-se do debate atual sobre a agricultura familiar no Brasil, os autores

Schneider e Cassol (2013), discutem o conjunto de transformações sociais, econômicas e

políticas, que vão criar espaço e condições favoráveis à emergência, legitimação e

consolidação da agricultura familiar brasileira. Dessa forma, com base nos referidos autores, o

quadro 3 a seguir, mostra as três fases concernentes ao debate político e intelectual sobre a

agricultura familiar no Brasil.

QUADRO 3 - AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL: FASES DO DEBATE POLÍTICO E

INTELECTUAL

Primeira fase

Refere-se ao (re)descobrimento da agricultura

familiar e pode ser cronologicamente

circunscrita ao período 1990 até 1995. Este

período é marcado pela afirmação política e

acadêmica da categoria agricultura familiar, que

encontrou espaço para sua afirmação tanto no

âmbito do movimento social e sindical quanto

na academia.

Segunda fase

Inicia-se em 1996, com a criação do PRONAF, e

estende-se até 2006, tendo como marco a

institucionalização da agricultura familiar

através da Lei 11.326 (24 de julho de 2006).

Neste interstício, a agricultura familiar

consolida-se no campo político institucional

tornando-se a categoria social que atrai a maior

parte dos programas e políticas de

desenvolvimento rural.

Terceira fase

Compreende o momento atual. Inicia-se com a

divulgação do Caderno Especial do Censo

Agropecuário de 2006 com os dados sobre a

agricultura familiar, que ocorreu em 30 de

setembro de 2009. A partir da publicação dos

dados do Censo Agropecuário estabeleceu-se

um verdadeiro debate sobre o lugar e o papel da

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agricultura familiar no desenvolvimento rural do

Brasil.

Fonte: Adaptado de Schneider e Cassol (2013).

Entretanto, do ponto de vista teórico, conforme Wanderley (2003), existe uma certa

dificuldade em atribuir um valor conceitual à categoria agricultura familiar que se difundiu no

Brasil, sobretudo a partir da implantação do Pronaf. Tal fato se explica em virtude das várias

posições relacionadas ao conceito, uma vez que

para uns, o conceito agricultura familiar se confunde com a

definição operacional adotada pelo Pronaf que propõe uma

tipologia de beneficiários em função de sua capacidade de

atendimento. Para outros, agricultura familiar corresponde a

uma certa camada de agricultores, capazes de se adaptar às

modernas exigências do mercado em oposição aos demais

“pequenos produtores” incapazes de assimilar tais

modificações. São os chamados agricultores “consolidados” ou

os que têm condições, em curto prazo, de se consolidar. Supõe-

se que as políticas públicas devem construir as bases para a

formação desse segmento. Tal posição é defendida com uma

maior elaboração teórica. A ideia central é a de que o agricultor

familiar é um ator social da agricultura moderna e, de uma certa

forma, ele resulta da própria atuação do Estado.

(WANDERLEY, 2003, p.43-44).

Para o governo, a agricultura familiar é uma forma de produção na qual se associam

fatores essenciais como gestão e trabalho (AZEVEDO; PÊSSOA, 2011). Em relação aos

agricultores familiares, concorda-se com o pensamento de Silva (2014), quando este os

considera como sujeitos sociais que, de maneira geral, são detentores ou ocupantes de

pequenas porções de terra, nas quais se realiza predominantemente a diversificação da

produção animal e vegetal, sobretudo de produtos voltados para atender as demandas de

abastecimento dos mercados locais e regionais.

Comumente estes agricultores possuem baixo nível de integração com a indústria, seja

ela de bens de produção (consumo produtivo) ou processamento dos produtos. Outra

característica marcante deste grupo social é o acesso irregular e, em muitos casos, inexistentes

às políticas de financiamento, à assistência técnica, à pesquisa agropecuária. Vale destacar

também que os agricultores familiares desempenham papel importante visto que são

responsáveis por quase toda a produção de alimentos e pessoal ocupado no campo, embora o

acesso aos recursos e insumos produtivos não seja efetivado de forma plena (SILVA, 2014).

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87

Dessa maneira, com vistas a gerar renda aos agricultores familiares e assentados a

partir do financiamento de projetos individuais ou coletivos, foi criado na década de 1990 o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)14. De acordo com

Azevedo e Pêssoa (2011) o programa é uma evidência do reconhecimento deste segmento por

parte do setor público, o que resultou em um novo direcionamento dos investimentos estatais,

uma vez que o Estado passou a contemplá-lo em suas linhas de atuação.

Desde sua criação, o PRONAF passou por vários ajustes e adaptações, com o intuito

de atender seus objetivos e adequar-se à complexa realidade social agrária do Brasil

(AZEVEDO; PÊSSOA, 2011). A mais expressiva mudança foi em 1999, correspondendo à

estratificação em grupos de agricultores familiares, segmentados conforme o nível da renda

bruta familiar anual. Além dessa mudança, houve ainda a criação de linhas específicas para

públicos diferenciados.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) possui

as seguintes linhas de crédito15: Pronaf Custeio, Pronaf Mais Alimentos – Investimento,

Pronaf Agroindústria, Pronaf Agroecologia, Pronaf Eco, Pronaf Floresta, Pronaf Semiárido,

Pronaf Mulher, Pronaf Jovem, Pronaf Custeio e Comercialização de Agroindústrias

Familiares, Pronaf Cota-Parte, Microcrédito Rural. O quadro 4 mostra algumas das

características e finalidades de cada linha de crédito anteriormente citada.

14 É interessante mencionar que antes da criação do PRONAF, foi instituído em 1994, mais precisamente depois

da Jornada de Luta (atual Grito da Terra, liderada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

- CONTAG), o PROVAPE (Programa de Valorização da Pequena Produção), considerado o “embrião” do atual

programa voltado à agricultura familiar. A partir do PRONAF e mesmo na interface com este, outros programas

e políticas para a agricultura familiar foram sendo criados ou redesenhados, como por exemplo o Programa de

Aquisição de Alimentos (PAA), criado em 2004 para responder aos problemas de comercialização e acesso aos

mercados da agricultura familiar, e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que já existia mas

que foi reorganizado de tal forma que o fornecimento da produção passou a ter condições especiais, como a

obrigação dos municípios que precisam comprar no mínimo 30% de produtos para alimentação escolar dos

agricultores familiares (SCHNEIDER; CASSOL, 2013). 15 Disponíveis em http://www.mda.gov.br/sitemda/secretaria/saf-creditorural/linhas-de-cr%C3%A9dito

Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2016.

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88

QUADRO 4 - LINHAS DE CRÉDITO DO PRONAF

Pronaf Custeio

Destina-se ao financiamento das atividades agropecuárias e de beneficiamento

ou industrialização e comercialização de produção própria ou de terceiros

enquadrados no Pronaf.

Pronaf Mais

Alimentos -

Investimento

Destinado ao financiamento da implantação, ampliação ou modernização da

infraestrutura de produção e serviços, agropecuários ou não agropecuários, no

estabelecimento rural ou em áreas comunitárias rurais próximas.

Pronaf

Agroindústria

Linha para o financiamento de investimentos, inclusive em infraestrutura, que

visam o beneficiamento, o processamento e a comercialização da produção

agropecuária e não agropecuária, de produtos florestais e do extrativismo, ou

de produtos artesanais e a exploração de turismo rural.

Pronaf

Agroecologia

Linha para o financiamento de investimentos dos sistemas de produção

agroecológicos ou orgânicos, incluindo-se os custos relativos à implantação e

manutenção do empreendimento.

Pronaf Eco

Linha para o financiamento de investimentos em técnicas que minimizam o

impacto da atividade rural ao meio ambiente, bem como permitam ao

agricultor melhor convívio com o bioma em que sua propriedade está inserida.

Pronaf Floresta

Financiamento de investimentos em projetos para sistemas agroflorestais;

exploração extrativista ecologicamente sustentável, plano de manejo florestal,

recomposição e manutenção de áreas de preservação permanente e reserva

legal e recuperação de áreas degradadas.

Pronaf

Semiárido

Linha para o financiamento de investimentos em projetos de convivência com

o semiárido, focados na sustentabilidade dos agroecossistemas, priorizando

infraestrutura hídrica e implantação, ampliação, recuperação ou modernização

das demais infraestruturas, inclusive aquelas relacionadas com projetos de

produção e serviços agropecuários e não agropecuários, de acordo com a

realidade das famílias agricultoras da Região Semiárida.

Pronaf Mulher

Linha para o financiamento de investimentos de propostas de crédito da mulher

agricultora.

Pronaf Jovem

Financiamento de investimentos de propostas de crédito de jovens agricultores

e agricultoras.

Pronaf Custeio e

Comercialização

de Agroindústrias

Familiares

Destinada aos agricultores e suas cooperativas ou associações para que

financiem as necessidades de custeio do beneficiamento e industrialização da

produção própria e/ou de terceiros.

Pronaf Cota-

Parte

Financiamento de investimentos para a integralização de cotas-partes dos

agricultores familiares filiados a cooperativas de produção ou para aplicação

em capital de giro, custeio ou investimento.

Microcrédito

Destinado aos agricultores de mais baixa renda, permite o financiamento das

atividades agropecuárias e não agropecuárias, podendo os créditos cobrirem

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Rural

qualquer demanda que possa gerar renda para a família atendida. Créditos para

agricultores familiares enquadrados no Grupo B e agricultoras integrantes das

unidades familiares de produção enquadradas nos Grupos A ou A/C.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2016.

Segundo Azevedo e Pêssoa (2011), o PRONAF incluiu agricultores familiares nas

condições de posseiros, arrendatários, parceiros, assentados, concessionários de terras

públicas, meeiros e proprietários de terra que utilizam principalmente mão de obra no

processo produtivo, podendo dispor ainda de até dois empregados permanentes. Em sua

estrutura operacional, os agricultores são inseridos nos seguintes grupos e modalidades:

Grupo A, Grupo B, Grupo C, Grupo A/C, Grupo D, Grupo E.

Sinteticamente, o Grupo A possui como principal público alvo os agricultores

familiares assentados, com mão de obra exclusivamente familiar e renda mínima não

delimitada; o Grupo B envolve agricultores com mão de obra também familiar, cuja renda

bruta não ultrapassa R$ 2 mil, excluindo-se os recursos da previdência social e os benefícios

sociais; o Grupo C abrange agricultores com predominância do trabalho familiar, mas com

possibilidade de contratação de mão de obra extrafamiliar (AZEVEDO; PÊSSOA, 2011).

O Grupo A/C engloba agricultores familiares egressos do PROCERA16 e até mesmo

agricultores do PRONAF Grupo A, com percentual de renda mínima não determinado para

esse grupo; o Grupo D compreende os agricultores familiares que eventualmente utilizam

mão de obra temporária extrafamiliar ou no máximo dois empregados permanentes, cuja

renda bruta varia entre R$ 14 e 40 mil, excetuando-se os benefícios sociais e da previdência;

por último, o Grupo E envolve os agricultores familiares com renda bruta anual que varia

entre R$ 40 mil e 60 mil, excluindo-se os possíveis benefícios. Os agricultores desse grupo

possuem o maior nível de capitalização e de melhores condições socioeconômicas em relação

aos agricultores dos demais grupos (Ibid.).

No que se refere ao crédito - PRONAF, este é operacionalizado pelos agentes

financeiros que compõem o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e são agrupados em

básicos (Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia) e vinculados (BNDES,

Bancoob, Bansicredi e associados à Febraban). As contratações do crédito – PRONAF

apresentaram crescimento ao longo dos anos, tanto no que concerne à ampliação de

municípios brasileiros atendidos em cada ano agrícola, quanto ao montante para o

financiamento disponibilizado aos agricultores (MDA, 2016).

16 Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária.

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90

Tratando-se do Rio Grande do Norte, a agricultura familiar é mais latente do que o

agronegócio, ainda que este último tenha maior capacidade de geração de divisas. Segundo o

Censo Agropecuário de 2006, o mais recente feito no país, o Rio Grande do Norte possui mais

de 71 mil estabelecimentos da agricultura familiar, o que corresponde a 86% dos

estabelecimentos agropecuários do estado (MDA, 2012).

A agricultura familiar é marcada pela heterogeneidade de formas organizativas no Rio

Grande do Norte. Os assentamentos de reforma agrária são marcados pela pouca assistência

técnica, terras pouco produtivas e dificuldades para acessar os principais insumos. No referido

estado, existem assentamentos desenvolvidos e inseridos no mercado, a exemplo do Maísa, o

segundo maior projeto da reforma agrária no Rio Grande do Norte e que se destaca na

produção de melão amarelo para exportação e de acerola para polpa de fruta. Ainda é possível

encontrar assentamentos que buscam inserção por meio da produção de orgânicos como o

Bom Sucesso, em Pedra Grande-RN, e o Canto da Ilha de Cima, localizado em São Miguel do

Gostoso-RN. Esses produzem rúcula, alface, couve, coentro, cebolinha, hortelã, tomate-

cereja, mamão, banana, entre outros produtos (AMARAL et.al, 2016).

Nessa discussão, há que se considerar também as dificuldades enfrentadas pelos

agricultores familiares do Rio Grande do Norte. Fatores como índice pluviométrico baixo,

contribuindo para o quadro de seca que afetou vários municípios norte-rio-grandenses

(associando-se à predominância do clima árido e semiárido), solos nem sempre férteis para o

cultivo, produção familiar restrita em pequenos lotes de terra, o que não assegura a

viabilidade comercial; envolvimento ainda tímido dos agricultores familiares com as

melhorias em tecnologia e práticas agrícolas, entre outros, aparecem, muitas vezes, como

entraves ao desenvolvimento da atividade no estado. Contudo, mesmo diante desses impasses,

sob a lógica da produção de alimentos17 e renda, a agricultura familiar assume importância

considerável para os que dependem de sua prática.

No que diz respeito à inserção do Rio Grande do Norte no PRONAF regionalmente e

nacionalmente, Silva (2014) ressalta que o estado não se configura como um dos grandes

captadores de recursos, ainda que se tenha notado uma participação cada vez maior, e

seguindo uma tendência regional. É indiscutível, porém, que o PRONAF desempenha um

importante papel no estado, e a recorrência ao crédito proveniente do referido programa é

significativa, considerando-se o número de contratos de investimentos desde a década de

17 É válido mencionar a relação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) com a agricultura

familiar do Rio Grande do Norte, a partir da aquisição de alimentos provenientes desse segmento para as escolas

do estado.

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1990. A tabela 2 abaixo, mostra a quantidade desses contratos bem como os valores

correspondentes a cada safra, com destaque para as Safra 2005/2006 (maior número de

contratações) e Safra 2012/2013 (maior montante em recursos destinados à agricultura

familiar do Rio Grande do Norte).

Tabela 2 - O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar no Rio Grande

do Norte

Safra Quantidade de Contratos Valor em R$

1999/2000 17.106 16.047.326

2000/2001 15.740 24.547.988

2001/2002 16.853 19.245.353

2002/2003 26.616 25.935.585

2003/2004 67.253 72.745.664

2004/2005 99.029 94.699.534

2005/2006 143.644 159.023.976

2006/2007 119.143 121.986.391

2007/2008 72.425 93.222.154

2008/2009 42.598 66.178.393

2009/2010 43.275 73.903.175

2010/2011 40.113 76.125.766

2011/2012 41.688 100.196.869

2012/2013 69.155 205.071.882

2013/2014 52.426 190.324.220

2014/2015 50.179 192.405.443

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2015.

Outro fator que merece atenção quando se trata do crédito oriundo do PRONAF é a

constituição de cooperativas ao longo da história da agricultura familiar do Rio Grande do

Norte, com base na economia solidária. Sobre essa discussão, Amaral et. al. (2016) enfatizam

que através do acesso ao mercado, maior poder de barganha, acesso as linhas de crédito

específicas e do senso coletivo para o enfrentamento dos desafios, o cooperativismo

apresenta-se como protagonista nas experiências exitosas da agricultura familiar no estado. Os

autores destacam ainda a atuação da Cooperativa Central da Agricultura Familiar do Rio

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Grande do Norte, cujo principal produto é a amêndoa de castanha de caju, vendida no

mercado nacional e internacional, assim como a Cooperativa Potiguar de Apicultura e

Desenvolvimento Rural Sustentável, responsável pelo fortalecimento da apicultura na

agricultura familiar estadual.

No âmbito da agricultura familiar norte-rio-grandense, é pertinente destacar que a

produção de mandioca também se insere no custeio agrícola do PRONAF (modalidade

lavouras). A título de informação, dados do Anuário Estatístico do Crédito Rural (2012), mais

recente, revelam que o financiamento do PRONAF para a cultura de mandioca no Rio Grande

do Norte atingiu um total de R$ 406.542,79, com um número de 68 contratos efetivados.

Algumas tecnologias e/ou técnicas18 de cultivo de mandioca e adubação visam o

aumento da produtividade e melhoria da qualidade no âmbito da agricultura familiar. Com

base nessa afirmação, o próximo subcapítulo irá tratar de tais questões, focalizando também o

cultivo de mandioca no Rio Grande do Norte.

3.2.2 Técnicas de cultivo de mandioca e adubação

A planta da mandioca é considerada rústica e com capacidade de adaptação às mais

diversas condições de clima e solos. É cultivada em regiões de clima tropical e subtropical,

com precipitação pluviométrica variável de 600 mm a 1.200 mm de chuvas bem distribuídas e

temperatura média de aproximadamente 25 °C. Temperaturas inferiores a 15 °C prejudicam o

desenvolvimento vegetativo da planta. Pode ser cultivada em altitudes que variam de próximo

ao nível do mar até mil metros. Os solos mais recomendados são os profundos com textura

média de boa drenagem (SILVA, 2016).

Conforme Salvador (2010), quando se trata do ciclo de cultivo de mandioca, este é

variável, pois em locais com temperaturas mais elevadas, ele vai de oito a doze meses; já em

locais com temperaturas mais frias e secas, pode chegar até 24 meses. O autor ainda

acrescenta que a utilização de adubos e/ou fertilizantes também é determinante tanto para a

variação do ciclo de cultivo quanto para o preço que está sendo pago pela mandioca aos

produtores. Assim, o cultivo de mandioca é de longo ciclo, sendo colhida em oito meses (no

18 Locatel e Azevedo (2011, p. 15) entendem que se faz necessária uma diferenciação entre técnica e tecnologia.

Para os autores, “[...] a técnica é o procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm como objetivo obter

um determinado resultado, que pode ser no campo da ciência, da tecnologia, das artes, da política, etc. A

tecnologia, por sua vez, pode ser compreendida como a “aplicação dos conhecimentos científicos à produção em

geral ou para se obter um resultado prático”. (Ibid).

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93

mínimo), podendo chegar a dois anos, dependendo das técnicas utilizadas pelos produtores,

dos preços atribuídos à raiz e das condições edafoclimáticas.

De modo geral, o plantio de mandioca é feito a partir de pedaços de caule de plantas

adultas (sadias), conhecidos como manivas, que são colocadas em sulcos ou covas. Mas,

primeiramente, é preciso preparar a área onde serão dispostas as manivas. O preparo consiste

basicamente em sua limpeza e, nesse ínterim, a terra é arada ou cortada, para descompactar o

solo e facilitar o desenvolvimento das raízes. Com as condições favoráveis, o plantio e a

adubação são iniciados, realizando-se o tratamento da área sempre que preciso, para posterior

colheita da mandioca.

Tal processo de plantio da mandioca pode ser feito de forma manual, com tração

animal ou mecanicamente. Quando realizado manualmente, o cultivo de mandioca demanda

significativa mão de obra, podendo ser familiar ou a partir da contratação de trabalhadores,

pagos geralmente por diárias de serviço.

No que se refere ao plantio mecanizado de mandioca, este tem sido cada vez mais

realizado, embora no Rio Grande do Norte ainda prevaleça a forma manual, conforme

constatado na pesquisa empírica. Segundo Cravo e Souza (2016), diversos produtores vêm

acompanhando a evolução dessa tecnologia, considerando suas vantagens e benefícios,

destacando-se: a) rapidez no plantio e economia de tempo; b) redução dos custos; c)

uniformidade e qualidade do plantio; d) aumento de produtividade e competitividade; e)

uniformidade na distribuição das estacas e na dosagem de fertilizantes. Para os autores, a

mandioca continuará sendo plantada manualmente, especialmente por agricultores familiares,

mas se o objetivo é plantar em larga escala, para fins industriais, não há como dispensar o uso

de máquinas apropriadas, tanto para o plantio como para a colheita, desenhadas com

dimensões adequadas para o tamanho do empreendimento.

Atualmente, com uma maior preocupação em torno das questões ambientais e visando

uma “produção rural sustentável”, algumas técnicas e/ou tecnologias de cultivo de mandioca

têm sido estudadas e propostas para mitigar possíveis problemas ao meio ambiente. As

técnicas “Roça Sem Fogo” e “Trio da Produtividade da Mandioca” constituem dois exemplos

dessas inovações.

Como o próprio nome sugere, a “Roça Sem Fogo” está relacionada à prática de

preparo de área para o plantio de mandioca sem o uso do fogo. Além de eliminar a técnica

tradicional coivara, prejudicial ao solo e ainda utilizada por alguns produtores, os autores

Modesto Júnior e Alves (2016) afirmam que, juntamente com a redução das queimadas, o

principal benefício da “Roça Sem Fogo” é a redução da emissão de gases de efeito estufa.

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Associada à “Roça Sem Fogo”, a técnica “Trio da Produtividade”19 está relacionada ao

plantio e manejo da mandioca. Considerada uma alternativa para o sistema de produção de

mandioca para agricultura familiar, a referida técnica, consiste em três componentes que mais

impactam na produtividade da mandioca, a citar: seleção e corte reto de manivas-sementes;

plantio no espaçamento de 1m x 1m, e controle de plantas daninhas durante os 150 (cento e

cinquenta) dias após o plantio da mandioca, por ser o período crítico da cultura, que é a época

de formação das raízes (MODESTO JÚNIOR; ALVES, 2016).

Outro importante aspecto está relacionado às técnicas de adubação empregadas no

cultivo da mandioca, estas nem sempre vistas como necessárias, uma vez que a raiz consegue

se adaptar à elevada acidez do solo e às baixas condições de fertilidade. Na Região Nordeste

do Brasil, por exemplo, é comum o cultivo de mandioca com uso mínimo de insumos e, em

alguns casos, não existe nenhuma utilização.

Entretanto, de acordo com Cravo et.al (2016) o cultivo contínuo de mandioca na

mesma área, sem reposição dos nutrientes exportados, pode provocar o esgotamento das

reservas nutricionais dos solos, levando-os à completa degradação. Nesse aspecto, com o

objetivo de manter o solo em condições de fertilidade adequada, a utilização de adubos

orgânicos (compostos orgânicos, estercos, restos de culturas, etc.), adubos minerais

(fosfatados, nitrogenados, potássicos), a técnica da calagem20 (aplicação de calcário) faz-se

importante para o cultivo de mandioca.

No Rio Grande do Norte, o cultivo de mandioca ainda é bastante convencional, no

entanto, a mandiocultura tem experimentado, ainda que forma tímida, novas técnicas de

plantio, como, por exemplo a “Técnica de Multiplicação Rápida de Mudas”, correspondente a

um projeto desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) em

parceria com outros órgãos ligados à agricultura familiar, na tentativa de facilitar o cultivo de

mandioca em meio ao período de seca que tem afetado as lavouras nos últimos cinco anos. O

grande benefício da “Técnica de Multiplicação Rápida de Mudas” é a quantidade de material

de plantio produzido que chega a ser até 16 (dezesseis) vezes maior comparando-se à técnica

convencional de plantio de mandioca.

19 É importante considerar que ambas as técnicas (Roça Sem Fogo e Trio Da Produtividade) foram

desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental, logo, a utilização destas ainda é muito restrita aos produtores

de mandioca da Região Norte. O objetivo é apresentar o desenvolvimento de novas técnicas e/ou tecnologias

voltadas ao cultivo de mandioca. 20 Para o cultivo da mandioca, tem sido recomendada a aplicação de calcário em doses moderadas visando,

principalmente, o suprimento de cálcio e magnésio, que são o terceiro e o quinto nutrientes mais absorvidos pela

cultura (MIRANDA et. al., 2005).

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95

O sistema de rotação de solo é uma das técnicas mais utilizadas pelos produtores de

mandioca no Rio Grande do Norte, onde, a cada cinco anos, as áreas de plantação de

mandioca dão lugar ao pasto para o gado. Associado a isso, o preparo da terra, com corte

realizado com três meses de antecedência e limpas a cada trinta dias, têm favorecido um

melhor cultivo da mandioca.

Quando se trata do cultivo da “mandioca mansa” (macaxeira), seu desenvolvimento

tem sido fortemente possibilitado no estado do Rio Grande do Norte pelo sistema de irrigação

adotado por alguns produtores. Na Microrregião Agreste, o cultivo irrigado de macaxeira é

bastante recorrente, devido à maior capacidade hídrica nos lençóis freáticos, propiciando

assim, o aumento da produção e do rendimento médio desse tipo de mandioca em relação à

mandioca voltada para fins industriais. O próximo subcapítulo irá seguir a discussão

envolvendo a mandiocultura no Rio Grande do Norte, ressaltando alguns dos entraves e

perspectivas da atual produção de mandioca no estado.

3.2.3 Entraves e perspectivas da produção atual de mandioca no Rio Grande do Norte

Como anteriormente evidenciado, no estado do Rio Grande a mandiocultura não se

restringe mais apenas ao autoconsumo, assumindo também importância no que se refere ao

abastecimento das unidades de beneficiamento de mandioca e na geração de renda no âmbito

da agricultura familiar. Todavia, em 2013, a atividade registrou seus piores índices em termos

de área plantada e colhida (ha), assim como em quantidade produzida (toneladas), em virtude

da estiagem prolongada que se acentuou no referido ano, levando o governo a decretar

situação de emergência em 150 municípios do estado. O gráfico 2 mostra o comportamento da

produção de mandioca no Rio Grande do Norte a partir dos anos 1990 (em intervalos de cinco

anos) até 2013, ano em que houve redução expressiva da quantidade produzida.

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96

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal, 2015.

Diante desse quadro, os pequenos produtores foram os mais prejudicados, uma vez

que tiveram sua produção comprometida. Estes dependem e reconhecem a importância das

chuvas na produção de mandioca, já que não podem arcar com as despesas de um cultivo

irrigado. Entende-se, dessa forma, que a utilização de técnicas e/ou tecnologias são

importantes nesses casos, a exemplo da própria irrigação, mas o emprego destas está

condicionado ao poder aquisitivo do produtor e, na maioria das vezes, falta assistência técnica

pública.

Além dos problemas relacionados à seca, outros entraves à produção de mandioca no

estado do Rio Grande do Norte podem ser considerados, como: limitações no financiamento

da cultura (oportunidade e valores financiados); variação constante no preço do produto e

instabilidade no mercado; baixo retorno econômico para alguns produtores, o que não

estimula os investimentos em tecnologia nas áreas rurais; dificuldades com a produção de

mandioca, que é bastante trabalhosa e de ciclo longo, etc.

Em 2014, a produção de mandioca no Rio Grande do Norte apresentou um

considerável aumento ao atingir uma quantidade produzida de 160.286 toneladas, dando

sinais de recuperação e trazendo novas possibilidades aos produtores. Entretanto, com a

estiagem prolongada no estado, essa quantidade de mandioca é reduzida em 10% no ano de

2015 (produção de 146.091 toneladas), de acordo com os dados do IBGE referentes à

Produção Agrícola Municipal (2015).

352.904

496.184

366.332

696.985

341.552

80.685

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

1990 1995 2000 2005 2010 2013

GRÁFICO 2 - PRODUÇÃO DE MANDIOCA NO RIO GRANDE DO

NORTE: quantidade produzida (t)

Quantidade produzida (t)

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97

Ainda sob a análise da produção de mandioca no ano de 2015, verifica-se que o

Agreste e o Leste Potiguar ainda concentram a maior produtividade da raiz em toneladas,

acompanhada da Mesorregião Central Potiguar, com maior quantidade produzida na área que

compreende a Serra de Santana. Em relação ao Oeste Potiguar, a quantidade produzida em

toneladas de mandioca é bem menos expressiva, como evidenciado no mapa 5.

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De modo geral, a quantidade de mandioca produzida em toneladas atualmente é

bastante inferior no contexto produtivo do Rio Grande do Norte, que já ocupou as primeiras

posições entre os maiores produtores da Região Nordeste. As perspectivas de que esse quadro

melhore apoiam-se no possível aumento das precipitações no estado, bem como nas suas

potencialidades à produção de mandioca, que deveriam ser aprimoradas a partir de ações mais

incisivas por parte do governo do Rio Grande do Norte. Somado a isso, a recuperação da

produtividade em algumas áreas do estado, associada ao desenvolvimento da mandiocultura

em assentamentos rurais, democratizando o uso da terra, pode ser entendida como um aspecto

positivo e indutor à produção de mandioca.

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Capítulo 3

“A mandioca é uma raiz

E possui sais minerais

Cálcio, ferro e vitaminas

E outros nutrientes tais

É rica em proteínas

E é gostosa demais

Possui uma casca fina

Porém é branca a parte interna

A mandioca é secular

Mas atual e moderna

É riqueza brasileira

Alimenta nação inteira

É nossa parceira eterna (...)”

Trecho do Cordel “Manihot – Casa

de Mani”, de autoria de Carlos

Silva. Setembro de 2011.

Obra “Casa de Farinha”, de Antônio Andrade. Dimensão: 120x90. Coleção de Milton de Zé da

Laje, Fátima-BA.

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4 A MANDIOCA NO CONTEXTO DA TECNIFICAÇÃO DO TERRITÓRIO E DA

MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA

A modernização da agricultura ocorrida em vários países derivou do movimento

expansionista caracterizado pelo expressivo crescimento econômico e pelo grande avanço

tecnológico. Foi sob este modelo econômico que a União Europeia, os Estados Unidos e

muitos outros países, inclusive subdesenvolvidos, promoveram alterações na sua base técnica

de produção e ampliaram a oferta de alimentos e matérias-primas. No Brasil, o referido

processo deu-se de forma bastante rápida, especialmente nas regiões sul e sudeste, onde as

alterações na base técnica e econômica da agropecuária se deram de maneira bastante

pronunciada a partir dos anos 1960 (HESPANHOL, 2008).

Segundo Locatel (2012, p. 1),

a partir da década de 1960, o aumento da densidade técnica do

território, através da execução do projeto “modernizador” para a

agricultura só foi viabilizado porque havia uma série de

elementos incorporados ao território na fase anterior, tais como

as políticas setoriais que favoreceram segmentos agrícolas,

possibilitando assim maior acumulação de capitais; um mercado

de máquinas com grande demanda; mudanças nas práticas

agronômicas e incorporação de componentes do pacote

tecnológico da “Revolução Verde”, até então importados.

Além disso, o aumento da demanda de produtos agrícolas no mercado externo e de

matérias-primas no mercado interno, com a “substituição de importações”; e uma

reestruturação política e econômica a partir do pós-guerra, consolidada com o golpe militar e

o estabelecimento do governo ditatorial no Brasil, também foram significativos no processo

de tecnificação do território. “Essa conjuntura estava em consonância com o cenário

internacional de mudanças nas relações entre países e capitais, que implicaram na

reestruturação da divisão internacional do trabalho e na configuração interna do país”

(LOCATEL, 2012, p. 1).

Nesse contexto, é importante reforçar que, mesmo com o aumento da densidade

técnica verificada no território nacional, o processo ainda é bastante desigual e tem ocorrido

sob forte intervenção estatal, por meio de políticas públicas específicas. No geral, a

modernização da agricultura não assume uma característica homogênea no país, contribuindo,

assim, para o acirramento das diferenciações espaciais, apresentando ainda, caráter seletivo

com relação à categoria de produtores/segmentos sociais beneficiados, de maneira mais

intensa e direta (ELIAS, 2006).

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Do mesmo modo, não atinge todas as culturas agrícolas, pois de acordo com Andrade

(1979), o processo de modernização da agricultura consolida o privilégio que é dado, desde o

período colonial, aos produtos destinados ao mercado externo21, relegando à condição de

arcaicos e tradicionais os produtos essenciais à alimentação da sociedade nacional, como a

mandioca. Com uma produção voltada para atender basicamente o mercado interno, a

mandioca não é valorizada no contexto da modernização da agricultura e, por essa razão, seu

envolvimento com a agroindústria ainda é considerada incipiente.

O que não se deve desconsiderar é que a maior interação da cultura de mandioca com

a indústria tem permitido o desenvolvimento de técnicas produtivas, bem como a adoção cada

vez mais significativa de insumos e a utilização de novas tecnologias voltadas ao

beneficiamento, embora que de maneira gradual e discrepante no território brasileiro.

4.1 A AGROINDÚSTRIA DE MANDIOCA NO CENÁRIO ATUAL BRASILEIRO

Antes de adentrar diretamente na discussão a respeito da agroindústria de mandioca, é

preciso entender as bases em que se deu o desenvolvimento do setor agroindustrial no Brasil e

sua vinculação ao processo de modernização da agricultura22, cujas transformações foram

desencadeadas principalmente no período compreendido entre as décadas de 1960 e 1980.

Nesse contexto, até a década de 1960, predominava no Brasil o “complexo rural”, que

constitui o “período técnico da produção agropecuária brasileira”, conforme Locatel (2012). O

complexo rural caracterizava-se por apresentar “uma dinâmica muito simples na qual a

atividade agrícola, ou o setor rural, mantinha poucas ou quase nenhuma relação com as

atividades externas às fazendas, a não ser com o mercado externo para um único produto, de

modo geral, em todo o circuito produtivo com valor comercial, como o caso da lavoura

cafeeira desde o século XIX” (FAJARDO, 2008, p. 33).

Com a crise do complexo rural e a mudança dos determinantes da dinâmica da

agricultura, foi iniciado, ainda em 1960, o processo de “industrialização da agricultura”.

Nesse viés, Silva (1996) enfatiza que o novo centro dinâmico da economia – a indústria e a

21 De acordo com Salvador (2010), apesar da modernização da agricultura privilegiar os produtos destinados à

exportação, isso não significa que esse processo caracterize apenas tais produtos, de modo que também pode

expressar-se em outras lavouras, que não interessam veementemente aos agentes hegemônicos do atual sistema,

como a mandioca, porém com intensidade diferenciada. 22 Segundo Muller (1989) a modernização, nesse contexto, trata-se do processo geral de mudança

tecnoeconômica e social das atividades agrárias e dos atores sociais engajados. Não só passa a predominar a

racionalidade empresarial, mas igualmente, os padrões de consumo e as aspirações de vida urbana. Este processo

mostra-se claro quando há a concomitância da industrialização da agricultura e de sua agroindustrialização.

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vida urbana – impõe suas demandas ao setor rural e passa a condicionar suas transformações,

que vão culminar nos anos de 1970 na constituição dos complexos agroindustriais (CAIs).

Ainda com base no referido autor, é importante assinalar que no processo de

desarticulação do complexo rural e constituição do CAIs

a agricultura perde a sua regulação geral que era dada pelo

mercado externo/mercado interno. E isso impõe uma

participação cada vez maior do Estado no sentido de formular

políticas específicas para cada complexo agroindustrial, com

um duplo objetivo. Primeiro de restabelecer uma regulação

geral, na medida em que o Estado passa a definir os principais

parâmetros para a rentabilidade dos capitais empregados nesses

distintos ramos. Segundo, como árbitro das contradições que se

internalizam nesses novos complexos, como por exemplo a

fixação de preços e margens dos produtos intermediários, a

fiscalização da competição oligopólica, estabelecimento de

cotas - especialmente no caso das exportações - etc. (SILVA,

1996, p. 6).

Sendo assim, a formação do complexo agroindustrial (CAI), que de certa maneira é

determinante e determinada pelo processo de tecnificação da agricultura, passa a provocar

transformações regionais e setoriais, que não são homogêneas no território brasileiro, mas

impõem de forma geral uma nova dinâmica aos circuitos de produção agrícola,

principalmente na forma de organizar, produzir e comercializar. Além do mais, com a nova

dinâmica ditada pelo CAI, correspondente ao atual período técnico-científico-informacional,

verifica-se a incorporação dos novos insumos e tecnologias mais avançadas, com uma grande

inversão de capital na agropecuária (LOCATEL, 2012).

Tratando-se da interação entre a agricultura e a indústria, para Muller (1989, p. 61-62)

o CAI é uma unidade de análise na qual a agricultura se vincula

com a indústria de dupla maneira: com a indústria de máquinas

e insumos que tem na agricultura seu mercado e com a indústria

processadora/beneficiadora de matérias-primas agrícolas. A

primeira pode ser designada de indústria para a agricultura, e a

segunda de agroindústria. Na medida em que há uma forte

interdependência entre agricultura e a indústria para agricultura,

verifica-se um processo de industrialização da agricultura; e na

medida em que há uma forte interdependência entre agricultura

e a indústria beneficiadora e processadora, verifica-se um

processo de agroindustrialização. Chama-se de modernização

(tecnoeconômica) agrária a interação entre industrialização do

campo e agroindustrialização.

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A finalidade dessa discussão inicial é mostrar que, embora a agroindústria de

mandioca no Brasil não tenha alcançado a magnitude de um “complexo agroindustrial”, ela

está inserida na lógica desse processo. A transformação das unidades de beneficiamento de

mandioca (representadas, sobretudo, pelas “casas de farinha”), em indústrias ou agroindústrias

está associada à ampliação do mercado de mandioca no Brasil, principalmente quando se trata

do amido. Nesse sentido, conforme Santos e Santos (2013, p. 2)

Essa tendência de crescimento do mercado da mandioca no

Brasil, decorrente do processo de industrialização, demonstra

sua entrada no agronegócio, capitalizando um produto que foi

durante séculos, produzido, comercializado e consumido pela

população considerada marginalizada no país, para colocá-lo

nas prateleiras dos supermercados como derivados

industrializados. As transformações da mandiocultura no Brasil,

sua rentabilidade para a indústria e a comercialização dos

produtos derivados estão ganhando destaque no país, em função

do número de órgãos públicos e entidades privadas que estão se

dedicando ao seu melhoramento genético, com objetivos

comerciais, buscando maior valor nutricional e maior

concentração de amido, criando novas variedades mais

competitivas e atraentes para o mercado, através da agregação

de valor ao produto.

No entanto, existem discrepâncias relacionadas à topologia e ao financiamento rural

quando se trata das agroindústrias de mandioca no Brasil. Isso porque as Regiões Sul e

Sudeste23 concentram as maiores e mais modernas indústrias de fécula e farinha do país, em

detrimento das Regiões Norte e Nordeste, cujas indústrias de farinha e outros derivados da

mandioca são, geralmente, de pequeno porte e de origem familiar, com poucos instrumentos

técnicos e predominando ainda a utilização de mão de obra familiar no processo produtivo.

Pensando a realidade da Região Nordeste, especificamente, concorda-se com os

autores Santos et.al (2009) quando estes compreendem que as pequenas agroindústrias de

mandioca garantem emprego e renda para produtores, familiares e demais agentes envolvidos,

movimentando a economia das localidades onde estão inseridas. Para os autores, ao gerar

renda, a referida agroindústria propicia a permanência dos indivíduos em sua terra natal,

impedindo, assim, que algumas pessoas se desloquem de sua região a fim de buscar melhores

oportunidades de vida, que acabam muitas vezes em trabalhos alternativos ou subempregos.

23 A região Sudeste destaca-se também como a principal em termos de pesquisa no que se refere à mandioca.

Ademais, possui a maior produtividade agrícola e o principal polo de comercialização, localizado no estado de

São Paulo (DERAL, 2015).

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No que se refere ao financiamento rural, o Pronaf-Agroindústria tem desempenhado

um papel importante no repasse de créditos voltados ao custeio de infraestrutura para o

beneficiamento, processamento e a comercialização da produção agropecuária e não

agropecuária (MDA, 2016). Todavia, historicamente, a maior parte do financiamento do

Pronaf-Agroindústria tem sido dirigida para os estados do Sul/Sudeste do Brasil (ALVES,

2014), fato que pode explicar a predominância das tradicionais casas de farinha em relação às

unidades industriais de beneficiamento de mandioca nos estados nordestinos como um todo24.

Com base na explicação de Alves (2014, p. 3),

quando se comparam os dados de aplicação global do Programa

com os do BNB, percebe-se que há uma distribuição espacial

desigual dos recursos, com prejuízo para o Nordeste. Na

verdade, os valores emprestados via BNB praticamente

inexistem, pois representam em torno de 0,31% das aplicações

globais. O número de agroindústrias financiadas pelo BNB no

Pronaf-Agroindústria equivale a 2,4% do total do país. Além

disso, o número de famílias com acesso aos recursos não

ultrapassa os 0,3% do total beneficiado em todo o Brasil.

Por parte do BNB, principal responsável pelas contratações no Nordeste, as metas

anuais têm sido modestas para aplicação do Pronaf-Agroindústria (ALVES, 2014). É

importante considerar também que muitos dos proprietários das agroindústrias familiares de

mandioca no Nordeste optam por não recorrer à referida linha de crédito alegando o conjunto

de burocracias envolvidas ou simplesmente pelo receio em adquirir dívidas.

Como maneira de justificar as desigualdades espaciais concernentes à distribuição dos

recursos oriundos do Pronaf-Agroindústria, autores como Schneider, Mattei e Cazella (2004

apud ALVES, 2014) apontam que além do peso econômico e às pressões políticas que as

agroindústrias sulistas exercem sobre os órgãos responsáveis pela alocação dos recursos, os

agricultores familiares da Região Sul são mais organizados e estão acostumados a incorporar

o crédito rural na pauta de suas reivindicações.

Segundo Wesz Júnior (2012), outro argumento que tem sido frequentemente utilizado

tanto pelos gestores envolvidos no desenvolvimento do referido programa, como por alguns

estudos acadêmicos para explicar essa configuração no tocante à distribuição dos recursos,

infere que a concentração do apoio do Pronaf-Agroindústria no Sul do país justifica-se pela

24 Além da concentração dos recursos do Pronaf no Centro-Sul, é importante considerar a maior capitalização e

maiores iniciativas dos próprios produtores da região em questão, na busca incessante em adotar métodos mais

tecnificados nas suas lavouras de mandioca.

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tradição dos agricultores em agroindústria familiar, fruto da influência recebida da

colonização europeia, diferentemente das Regiões Norte e Nordeste, em que a base do

problema estaria no perfil das populações, sem vocação para o trabalho agroindustrial em

função da influência da origem e da cultura.

É uma ideia totalmente equivocada e, nesse aspecto, concorda-se com Alves (2014),

quando a autora defende que tal justificativa além de conter uma dose de preconceito, não

corresponde à realidade, uma vez que não é por inexistência de agroindústrias familiares que

o programa em questão deixa de atender essas regiões.

Desse modo, a agroindústria de mandioca no Brasil faz parte das recentes

transformações relativas à modernização da agricultura. Se por um lado, sob a lógica seletiva

capitalista, tem revelado suas contradições no território brasileiro, por outro, faz-se importante

diante dos processos industriais que procuram agregar valor no beneficiamento da mandioca,

utilizando-a como matéria-prima em diferentes áreas, sendo um vetor de articulação entre a

agricultura e a indústria (SANTOS et.al, 2009).

4.2 DAS CASAS ÀS INDÚSTRIAS DE FARINHA: pensando a agroindústria de mandioca

no Rio Grande do Norte

A produção de derivados de mandioca, como a farinha e a goma, não faz parte apenas

da cultura norte-rio-grandense, mas também da “consolidação de muitas comunidades rurais

que nasceram e se desenvolveram sob influência das casas de farinha, promovendo sua

própria história na persistente luta pela qualidade de vida de sua gente” (SEBRAE, 2006, p.

19).

Nesse contexto, de acordo com Cascudo (2004), agosto era o mês das farinhadas ou

da desmancha no Agreste Potiguar. Estas, eram marcadas por relações culturais, decorrentes

de tradições históricas herdadas de povos indígenas, sendo realizadas nas casas de farinha. No

Rio Grande do Norte, as casas de farinha eram o local onde as famílias se reuniam não

somente para a produção de derivados da mandioca, mas também para a realização de

festividades, ou utilizando-se da expressão de Nogueira e Waldeck (2006), ao tratar da cultura

mandioqueira no Brasil, as casas de farinha constituíam espaços de expressão da vida coletiva

no território norte-rio-grandense.

É importante considerar nessa discussão, que a transformação da mandioca em farinha

não era realizada apenas nas casas de farinha, uma vez que algumas famílias realizavam todo

o processo em suas residências. Nesse aspecto, a massa produzida era utilizada para fazer

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beijus, bolos, e a farinha geralmente era armazenada, como forma de garantir o consumo

familiar.

Até a década de 1980, os instrumentos técnicos presentes nas casas de farinha eram

movidos à força humana e as relações que marcavam o processo de produção de farinha e

outros derivados, segundo Salvador (2010) “eram calcadas na amizade, no compadrio, na

ajuda mútua entre os familiares”. Sobre os instrumentos técnicos, o autor acrescenta

Inicialmente o rodete (usado para ralar a mandioca), a prensa

(usada para retirar a manipueira) e a peneira (usada para

enfarinhar a massa) eram instrumentos feitos de madeira;

posteriormente, passaram a ser confeccionados com materiais

mais resistentes, como o ferro. O forno era a braço, ou seja,

construído com tijolo e cimento, aquecido com lenha, sendo a

farinha mexida por um homem (o forneiro) por meio de um

pedaço de madeira chamado de rodo (SALVADOR, 2010, p.

69).

Essa realidade começa a mudar a partir dos programas de financiamento rural que

foram elaborados com o intuito de atender, sobretudo, a Região Nordeste. No Rio Grande do

Norte, programas como o PROTERRA e o POLONORDESTE, além de impactar a

agricultura do estado, foram importantes no que diz respeito à admissão de instrumentos

técnicos movidos à eletricidade nas casas de farinha, a partir de recursos oriundos de tais

programas, o que será tratado na próxima seção do presente trabalho. Associado a isso, o

processo de reestruração produtiva no Rio Grande do Norte, em curso desde a década de

1980, também trouxe mudanças, especialmente no que se refere ao beneficiamento da

mandioca, a partir do papel que passou a ter a mecanização.

Assim, a passagem do modelo das unidades artesanais às agroindústrias de mandioca

atuais, encontra-se alicerçada a esse conjunto de acontecimentos, que não deixam de estar

relacionados à modernização da agricultura e à tecnificação do território. Atualmente, o

modelo de transformação das casas de farinha em indústrias de farinha e outros derivados da

mandioca no Rio Grande do Norte está de acordo com a portaria número 326 da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e consultoria especializada com órgãos como

Sebrae, além do fornecimento de crédito para a atividade proveniente do Banco do Nordeste e

do Banco do Brasil.

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4.2.1 Programas de financiamento rural e a inserção de instrumentos técnicos nas casas de

farinha

Segundo Romão et.al (1987 apud SALVADOR, 2010), com a crise da cotonicultura

no território potiguar e com a política nacional de industrialização, já se observava na segunda

metade da década de 1970, um movimento em direção à modernização da agricultura no Rio

Grande do Norte, posto em evidência com base na política estatal de transformação e de

integração da agricultura tradicional ao mercado. Com o intuito de efetivar a referida política,

foram formulados e executados programas de financiamento rural, objetivando à inserção de

novas tecnologias nas atividades da agricultura.

Ainda conforme o referido autor, os seguintes programas impactaram diretamente na

agricultura potiguar: Programa de redistribuição de terras e de estímulo à agroindústria do

Norte e Nordeste (PROTERRA); Programa de desenvolvimento de áreas integradas no

Nordeste (POLONORDESTE); Projeto Sertanejo, e o Programa de desenvolvimento da

agroindústria do Nordeste (PDAN). A seguir, tem-se uma breve explanação a respeito de cada

um deles.

O Programa de redistribuição de terras e de estímulo à agroindústria do Norte e

Nordeste (PROTERRA), criado pelo Decreto-Lei nº 1.179, de 6 de julho de 1971,

tinha como objetivo promover o mais fácil acesso do homem à terra, criar melhores

condições de emprego de mão de obra e fomentar a agroindústria nas regiões

compreendidas nas áreas de atuação da SUDAM e da SUDENE;

O Programa de desenvolvimento de áreas integradas no Nordeste

(POLONORDESTE), criado por meio do Decreto-Lei nº 74.794, de 30 de outubro de

1974, com a finalidade de promover o desenvolvimento e a modernização das

atividades agropecuárias de áreas prioritárias do Nordeste, com o sentido de polos

agrícolas e agropecuários;

O Projeto Sertanejo foi criado através do Decreto-Lei de nº 78.229 de 23 de agosto de

1976, com a finalidade de fortalecer a economia das unidades de produção

agropecuária, sobretudo pequenas e médias, do semiárido nordestino, tornando-as

mais resistentes aos efeitos das secas. Nas palavras de Sorj (2008) o projeto se

orientaria no sentido de apoiar aqueles setores na região semiárida que mais sofreriam

os efeitos das secas: os pequenos proprietários, os parceiros e arrendatários e os

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trabalhadores sem terras. Além do Rio Grande do Norte, o Projeto Sertanejo tinha

prioridade de atuação os estados do Piauí, Ceará, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia e

Pernambuco (COLOMBO, 2012);

O Programa de desenvolvimento da agroindústria do Nordeste (PDAN) foi iniciado

em 1974 e conduzido pela SUDENE e Banco do Nordeste do Brasil, na linha de apoio

à iniciativa privada. O referido programa previa a instalação de projetos privados

agroindustriais na Região Nordeste (COLOMBO, 2012).

Segundo Salvador (2010), através dos recursos disponibilizados nesses programas,

passaram a ser inseridos nas casas de farinha, a partir da década de 1980, instrumentos

técnicos movidos a eletricidade, como fornos e rodetes. No Rio Grande do Norte, a Região

Agreste25 se sobressai em relação às demais no contexto dessas mudanças, entendidas pelo

autor como “modernização da atividade mandioqueira”. O fato é que a introdução de

instrumentos técnicos mecanizados nas casas de farinha trouxeram transformações não apenas

no processamento da matéria-prima, mas também nas relações de trabalho presentes no setor

mandioqueiro do estado do Rio Grande do Norte.

4.2.2 Agroindústria de mandioca e os nexos com a reestruturação produtiva no Rio Grande do

Norte

Conforme visto em momento anterior, o processo de reestruturação produtiva no Rio

Grande do Norte iniciado nos anos 1980 provocou a falência de determinadas atividades

produtivas, assim como o surgimento, redefinição e dinamização de outras, com a emergência

de novas materialidades, novas formas, novos objetos e novos conteúdos técnicos, políticos e

sociais no território (AZEVEDO, 2013).

No que se refere ao espaço rural potiguar, “a reestruturação produtiva é marcada, nas

últimas décadas, por processos globais de acumulação, além da perda da capacidade de

decisão local e do aumento das assimetrias territoriais, com o aumento da densidade técnica

em alguns pontos do território” (LOCATEL e LIMA, 2016, p. 33).

Nesse contexto, o

movimento dos capitais internacionais, ao promover mudanças

na divisão internacional do trabalho – ao mesmo tempo

25 Na Região Agreste, houve ainda a “interferência de interesses de agentes externos no território local,

provenientes de Pernambuco, no desencadear inicial da modernização em questão” (SALVADOR, 2010, p. 104).

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resultante da globalização e condicionante desse processo –

implica em mudanças em outras escalas da divisão territorial do

trabalho, havendo repercussões no âmbito nacional, regional e

local, repercutindo, assim, na configuração e reconfiguração do

território (LOCATEL; LIMA, 2016, p. 34).

Considerando o processo de reestruturação produtiva, observa-se um conjunto de

novas lavouras com elevado valor comercial inseridas na agricultura potiguar, “como

desdobramento do processo de modernização da base técnica e da reestruturação produtiva do

capital, com ênfase no setor agrícola, bem como lavouras tradicionalmente cultivadas no

estado também passaram por contínuas modernizações” (LOCATEL; LIMA, 2016, p. 48).

Nesse sentido cabe ressaltar que as modernizações sucessivas não atingiram somente a

produção de commodities agrícolas produzidas no estado, estas incidiram também sobre as

lavouras alimentícias, as quais paulatinamente incorporaram novas técnicas produtivas, ainda

que de forma menos intensa (LOCATEL; LIMA, 2016).

A mandioca é um exemplo dessas lavouras alimentícias, cuja produção atual passa a

ser realizada com o uso de máquinas e de adubos químicos. Em relação à atividade

mandioqueira no Rio Grande do Norte, reforça-se mais uma vez, o processo de modificação

de suas bases técnicas com o intuito de aumentar a produtividade.

Desse modo, a reestruturação produtiva é marcada pela coexistência de novas e velhas

formas de produzir, assim como por redefinições no uso dos objetos geográficos e, por

conseguinte, do território (AZEVEDO, 2013). No âmago desse processo, em muitos casos os

objetos técnicos mantêm as suas “formas conservadas, mas passam a adquirir novas

funcionalidades, estas mais condizentes com as atuais formas de produção e distribuição das

mercadorias” (AZEVEDO, 2013, p.115). Reforça-se que tal processo no âmbito do Rio

Grande não provocou o desparecimento das casas de farinha, pelo contrário, elas passaram a

coexistir com as “unidades mais modernas”, que atualmente configuram-se como

agroindústrias de mandioca.

4.2.3 Coexistências e permanências no processo de beneficiamento de mandioca no Rio

Grande do Norte

No Rio Grande do Norte, a constante e crescente preocupação com a elevação dos

padrões de qualidades vigentes no processamento de mandioca coexiste com as tradicionais

casas de farinha de processamento artesanal (LOCATEL; LIMA, 2016). Dessa maneira, com

a finalidade de entender essas relações no âmbito do circuito espacial de produção

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agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte, utilizou-se como procedimento

metodológico a realização de entrevistas direcionadas aos proprietários de unidades de

processamento e beneficiamento de mandioca. Embora este trabalho esteja direcionado ao

entendimento da produção agroindustrial de mandioca, logo, para as indústrias de farinha, a

análise empreendida não poderia negligenciar as casas de farinha, considerando a importância

histórica e a resistência destas no Rio Grande do Norte.

Conforme se verificou na pesquisa de campo, as unidades de processamento e

beneficiamento de mandioca são de origem familiar, mesmo as de maiores portes, a exemplo

de uma indústria de fabricação de goma, no município de Lagoa Salgada-RN, sendo que 80%

delas estão situadas na zona rural. O período de funcionamento (em atividade) dessas

unidades vai de 2 a 46 seis anos, sendo que muitas passaram por reformas em suas

infraestruturas nos anos de 2008, 2012, 2014 ou foram registradas nesse período.

O número de trabalhadores nessas unidades de beneficiamento de mandioca vai de 6 a

36 pessoas, sendo que muitos ainda são remunerados por produção (sobretudo as raspadeiras

de mandioca), outros, por diárias (prenseiros) ou “acordos” com os proprietários, conforme o

trabalho desempenhado nas unidades. Na ocasião, verificou-se que poucos trabalham com

carteira assinada, representando apenas 21% do universo de entrevistados. Quando

questionados se existia algum processo para a seleção de trabalhadores em suas unidades de

processamento, a maioria dos proprietários respondeu que não, pois muitos “eram conhecidos,

moradores da região ou da própria família”, ou ainda, “aprendia com os demais que já

trabalhavam”; apenas 15% dos entrevistados afirmaram que antes de admitir os trabalhadores

realizavam um período de experiência que poderia durar de 14 a 45 dias.

No que se refere à capacitação, os proprietários afirmaram que os trabalhadores de

suas unidades já realizaram cursos de boas práticas, higiene e manejo de alimentos, além de

cursos voltados para a utilização de equipamentos, geralmente oferecidos pelo SEBRAE-RN.

Todavia, 47% dos entrevistados responderam que não foi realizado nenhum tipo de curso de

capacitação com os trabalhadores. Nesse viés, observou-se que a inexistência de capacitação

dos trabalhadores é marcante no âmbito das tradicionais casas de farinha, tanto da

Microrregião Agreste Potiguar quanto da Microrregião da Serra de Santana, do mesmo modo

em que essas unidades, não levam em consideração as leis trabalhistas, o uso vestimentas

apropriadas26 (figura 8) ou de equipamentos de proteção individual – EPIs. A fiscalização por

26 Conforme a legislação específica, todo o pessoal deverá trajar uniforme, touca para prender o cabelo, luvas,

botas de borracha branca, máscara para nariz e boca, entre outros, mantendo a máxima higiene pessoal possível

(NASCIMENTO, 2016).

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112

parte do Ministério do Trabalho nessas unidades é inexistente ou mínima, ocorrendo somente

duas vezes ao ano, segundo um proprietário de uma casa de farinha do município de Lagoa

Nova-RN.

Os proprietários das agroindústrias, porém, alegaram que os representantes dos

Ministério do Trabalho visitam suas unidades em um período de seis em seis meses. Nessas

unidades, observou-se que os trabalhadores, além de terem realizado cursos de capacitação,

utilizavam vestimentas adequadas (figura 9), apesar de que alguns proprietários informaram

que ainda existem resistências ao uso de alguns elementos da vestimenta, como luvas, assim

como na utilização de protetores auriculares. Nessa relação entende-se que os hábitos e

tradições culturais relacionados à produção de derivados da mandioca contribuem bastante no

fortalecimento destas resistências.

Em relação às condições de higiene, tanto pessoal quanto à limpeza das máquinas e do

espaço físico, verificou-se que estas são visivelmente melhores nas agroindústrias do que nas

casas de farinha, até porque nessas últimas, as etapas do beneficiamento da mandioca estão

concentradas, praticamente, em uma única área de produção. Vale ressaltar que a

insalubridade nas unidades tradicionais de beneficiamento de mandioca não pode ser

totalmente encarada como sinônimo de negligência de seus proprietários, considerando que a

Figura 8 - Trabalho realizado sem o uso de equipamentos de segurança e vestimenta

adequada em casa de farinha da Serra de Santana

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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maioria não dispõe de capital para ampliar seus estabelecimentos e, assim, adequar-se às

normas higiênico-sanitárias.

Questionou-se também aos proprietários se, nos últimos anos, as unidades de produção

haviam passado por transformações referentes ao processo de beneficiamento de mandioca, a

passo que a maioria respondeu que sim, e que tais mudanças vieram principalmente com a

reforma e melhorias na infraestrutura da unidade a partir da consultoria realizada com o

SEBRAE-RN. Sendo assim, todas as etapas da produção de farinha e goma passaram a ser

feitas de forma mecanizada e, em grande parte das unidades todos os equipamentos foram

substituídos e novos foram adquiridos, apesar de que, a raspagem manual de mandioca foi

verificada mesmo em unidades consideradas como de padrão industrial, o que pode ser

encarado como um “elemento de permanência e coexistência” no tocante ao beneficiamento

de mandioca e a manutenção de algumas relações de trabalho. Todavia, é importante

considerar que a padronização dos estabelecimentos também tem provocado o endividamento

de alguns proprietários que aderem aos “projetos modernizantes” do SEBRAE, pois, de modo

geral, o referido órgão não fomenta a cooperação, a solidariedade e a economia solidária, mas

a competitividade via empreendedorismo.

Figura 9 - Trabalho realizado com vestimenta adequada em agroindústria de farinha e goma

da Serra de Santana

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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A transformação da mandioca em farinha consiste nas seguintes etapas: primeiro a

mandioca é descascada, depois lavada, processada, prensada, triturada, peneirada e, em

seguida, vai ao forno (ficando em torno de 1h, 1h20min.). Posteriormente, já em forma de

farinha, ela é classificada e depois embalada. Na figura 10, estão dispostas algumas máquinas

e/ou equipamentos utilizados no processo de fabricação de farinha em uma agroindústria do

Agreste Potiguar.

Nas unidades tracionais, por sua vez, além da raspagem da mandioca, outras etapas da

produção de farinha ainda são realizadas de forma manual, como a lavagem das raízes

descascadas (quando é feita); o peneiramento da massa; a tiragem da goma e o

empacotamento da farinha. No circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca

também pode-se observar o desenvolvimento e uso de tecnologias sociais, uma vez que

alguns proprietários têm criado instrumentos artesanais, com o objetivo de auxiliar no

processo de empacotamento manual, como pode ser verificado no município de Tenente

Figura 10 - Parte das máquinas que são utilizadas no beneficiamento da mandioca em uma

agroindústria do Agreste Potiguar

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Laurentino Cruz-RN, a partir da utilização de um tambor de plástico (cortado) e um cone

(figura 11). O processo funciona da seguinte forma27: a) a farinha produzida é despejada no

tambor, que encontra-se fixado a um cone; b) exercendo a função de funil, o cone tem em sua

extremidade uma espécie de “separador” de madeira, que serve para dosar a quantidade de

farinha a ser colocada na embalagem de 1kg; c) feito isso, o produto é levado a seladora

manual, finalizando o procedimento.

Os proprietários das unidades de processamento e beneficiamento de mandioca

também foram questionados no que diz respeito à realização de consultoria especializada com

algum órgão, como o SEBRAE-RN. Dos entrevistados, 42% responderam que sim,

principalmente no momento de transformação da estrutura de suas unidades; na capacitação

de seus funcionários e no licenciamento ambiental (subsidiado). A proprietária de uma

unidade industrial localizada no Agreste Potiguar chegou a se referir ao SEBRAE-RN como o

“pai das casas de farinha”. Em contrapartida, outro entrevistado de uma unidade industrial de

produção de farinha e goma situada na Serra de Santana respondeu que não realizou nenhuma

consultoria com o referido órgão, uma vez que este “exige muito, e deixa muito a desejar”.

27 O empacotamento manual estava sendo realizado em uma antiga residência do proprietário, logo, fora das

dependências da casa de farinha.

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

Figura 11 - Processo de empacotamento manual de farinha em Tenente Laurentino-RN

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Em relação ao fornecimento de crédito para a atividade mandioqueira, apenas 26% dos

proprietários obtiveram recursos oriundos do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste, a

partir de empréstimos e das linhas de crédito do Pronaf (Agroindústria e Mais Alimentos).

Um proprietário afirmou ter realizado empréstimo através Banco do Nordeste somente para a

compra de um caminhão. Os demais entrevistados afirmaram que utilizam recursos próprios,

alegando, inclusive, as dificuldades burocráticas de acesso ao crédito por meio das

instituições financeiras citadas. No que concerne ao recebimento de apoio do poder público

para o fortalecimento das casas e indústrias de farinha e outros derivados, a resposta foi quase

que unânime: não houve ajuda de nenhuma forma, seja do poder público estadual e muito

menos do poder público municipal, evidenciando assim, a pouca importância que é dada pela

administração pública à atividade mandioqueira no estado.

Quando questionados sobre a procedência da mandioca que é beneficiada nas

unidades, os proprietários28 citaram os municípios de Boa Saúde, Bodó, Brejinho, Ielmo

Marinho, Lagoa D’Anta, Lagoa de Pedras, Lagoa Nova, Lagoa Salgada, Macaíba

(assentamento no distrito de Riacho do Sangue), Montanhas, Monte Alegre, Nova Cruz, Passa

e Fica, São José de Mipibú, Serrinha, Sítio Novo, Tenente Laurentino Cruz, Vera Cruz.

Destaca-se, nessa relação, que alguns dos municípios mencionados estão entre os maiores

produtores de mandioca no estado do Rio Grande do Norte, cujos dados referentes à área

plantada (he), área colhida (he) e quantidade produzida (t) encontram-se dispostos na tabela 3

a seguir.

28 Muitos dos proprietários entrevistados também cultivam a mandioca. No município de Lagoa Nova-RN, por

exemplo, nos fundos de uma agroindústria visitada, havia uma plantação de mandioca cuja área tinha 8 (oito)

hectares.

TABELA 3 - PRODUÇÃO DE MANDIOCA (2015): MUNICÍPIOS DE PROCEDÊNCIA

DA RAIZ PROCESSADA NAS AGROINDÚSTRIAS DE FARINHA E OUTROS

DERIVADOS

MUNICÍPIO

ÁREA

PLANTADA

(he)

ÁREA COLHIDA

(he)

QUANTIDADE

PRODUZIDA (t)

Boa Saúde 1.300 1.300 18.200

Bodó 800 800 6.800

Brejinho 100 100 1.000

Ielmo Marinho 50 50 600

Lagoa D’Anta 1.000 1.000 15.000

Lagoa de Pedras 20 20 200

Lagoa Nova 200 200 400

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Vale ressaltar, que a produção de mandioca no estado diminuiu consideravelmente nos

últimos cinco anos, em razão do período prolongado de estiagem. De modo geral, os

proprietários das unidades de processamento de mandioca têm enfrentado dificuldades por

conta da escassez da matéria-prima. Em 2013, considerado um dos anos mais críticos da seca

(quando a mandioca chegou a custar R$ 1,10 kg), por exemplo, alguns proprietários chegaram

a comprar mandioca de outros estados para abastecer suas unidades, como Pará, Alagoas, São

Paulo e Paraná. Nesse período, para muitos proprietários de unidades de beneficiamento,

comprar mandioca de outro estado era mais vantajoso porque o preço era menor, mesmo com

o aumento dos custos no transporte (logística).

Atualmente, o valor pago pela mandioca está em torno de 0,50 a 0,70 centavos o kg,

logo, em toneladas, a mandioca pode ser adquirida pelo proprietário no valor de até R$ 700

reais. No decorrer do ano de 2016, os preços oscilaram bastante, chegando a R$ 0,80 kg. Essa

variação de preço está relacionada às condições climáticas (“inverno e seca”), e, por

conseguinte, à qualidade da raiz. Quando no período de plantio, correspondente ao “inverno”,

o preço da raiz tende a diminuir. Para a fabricação de farinha e derivados, os proprietários das

unidades de beneficiamento afirmaram que são exigentes quanto à qualidade da raiz, com o

intuito de obter melhores rendimentos na produção.

Dentre os produtos que as unidades de beneficiamento fabricam, o principal é a

farinha, sobretudo no Agreste Potiguar. A produção de farinha em Brejinho-RN, por exemplo,

é conhecida em todo o estado do Rio Grande do Norte, por sua tradição e qualidade, denotada,

inclusive, na placa de boas-vindas do referido município, como mostra a figura 12.

Lagoa Salgada 100 100 1.500

Macaíba 500 500 5.500

Montanhas 20 15 150

Monte Alegre 50 50 500

Nova Cruz 80 80 850

Passa e Fica 800 800 6.400

São José de Mipibú 50 50 750

Serrinha 40 40 600

Sítio Novo 1 1 8

Tenente Laurentino Cruz 600 450 1.350

Vera Cruz 100 100 1.100

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal, 2015.

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Em algumas unidades, além da farinha tradicional branca, também é produzida a

farinha amarela. Na pesquisa de campo realizada na Serra de Santana, verificou-se que a

goma é o principal produto voltado para a comercialização, contrapondo-se à realidade do

Agreste Potiguar. A “farinha fraca” produzida naquela Região, possui tal denominação

justamente pela retirada do amido, o que segundo o proprietário de uma unidade de

processamento, “não agrada ao paladar de todos”. Ainda em relação a goma de mandioca, esta

pode ser encontrada na forma “peneirada” ou embalada à vácuo, principalmente nas

agroindústrias de mandioca. Infere-se, assim, que as unidades beneficiadoras de mandioca no

Rio Grande do Norte têm na fabricação de farinha e goma, seus principais derivados, com

maior expressividade do primeiro.

Os preços dos derivados também variam conforme a região do estado. Nas unidades

de beneficiamento visitadas nos municípios do Agreste Potiguar, a exemplo de Brejinho,

Serrinha, Monte Alegre, Vera Cruz, entre outros, a farinha é vendida no valor de R$ 3,00 a R$

3,50 (kg), chegando a 4,00 reais o preço de revenda; e a saca de farinha (50 kg) é vendida no

valor de R$ 120,00 podendo chegar a R$ 200,00 reais. A goma, por sua vez, é comercializada

no valor de R$ 2,80 a R$ 3,00 (kg), com exceção da produzida pela fábrica de goma no

município de Lagoa Salgada-RN, cujo valor é R$ 4,00 reais. Já nas unidades de

beneficiamento da Serra de Santana, percebeu-se que o quilo da farinha é vendido por preços

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

Figura 12 - Placa de boas-vindas em Brejinho-RN com referência à produção de farinha de

mandioca

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bem inferiores, chegando a R$ 1,45 o quilo, como foi constatado em uma casa de farinha no

município de Lagoa Nova-RN, o que para um proprietário de uma unidade industrial do

mesmo município, é uma “concorrência desleal” tanto com seu estabelecimento “legalizado”

quanto com o seu produto, “fabricado em boas condições de higiene”, e que é vendido a R$

3,00 reais (kg). A goma é o principal derivado da mandioca produzido na região, sendo

comercializada no valor de R$ 2,50 a R$ 3,50 (kg), superior ao preço do quilo de farinha.

Nessa relação, ressalta-se que, de modo geral, o Estado brasileiro não possui uma

política de controle dos preços de produtos da atividade mandioqueira, deixando-os ao livre

comando do mercado. Associado a isso, Michels, Carvalho e Mendonça (2004 apud

SALVADOR, 2010), explicitam que os preços correntes pago quilo da mandioca e de seus

derivados são definidos pelas indústrias feculeiras, localizadas na região concentrada,

particularmente no Paraná e São Paulo que, as quais possuem elevada influencia e capacidade

de comando sobre a atividade mandioqueira em escala nacional.

De acordo com os dados obtidos na pesquisa, em média o custo da produção de uma

saca de farinha (50kg) varia de R$ 130 a 140 reais nos municípios da Região Agreste. Na

Serra de Santana, o custo é menor, em média R$ 100,00 por saca da farinha. No momento da

pesquisa, percebeu-se que muitos proprietários das unidades de beneficiamento sentiram

dificuldade em responder à pergunta, pois geralmente não fazem o cálculo do custo de

produção e muitos não possuem um sistema informatizado (com planilhas de custos) que os

auxilie nesse sentido. No que se refere à quantidade produzida em derivados anualmente, esta

varia de 2.000 a 7.200 toneladas por ano (em média), segundo os entrevistados.

Os proprietários das casas e agroindústrias de farinha foram ainda questionados sobre

as principais dificuldades por eles enfrentadas para manter suas unidades em funcionamento,

ao passo que as principais respostas obtidas foram: escassez de matéria-prima (mandioca),

devido à redução da produção no estado; A baixa qualidade da matéria-prima em

determinados períodos do ano, comprometendo o rendimento da produção; falta de mão-de-

obra; falta de recursos financeiros (capital de giro) para investir nas casas de farinha e

melhoramento de suas estruturas; desvalorização da atividade por parte do poder público;

escassez de água; manutenção da produção e do rendimento, e a concorrência com as casas de

farinha “clandestinas” (não cadastradas).

Diante do que foi exposto, infere-se que o processo de beneficiamento de mandioca

unidades de beneficiamento artesanal e, principalmente, nas indústrias de farinha do Rio

Grande do Norte tem sido marcado consideravelmente pela mecanização, seguindo a lógica

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capitalista de intensificação da produtividade e da exploração do trabalho, mas também pelas

permanências e coexistências de práticas de produção relativas à atividade mandioqueira.

4.2.4 Agroindústria de mandioca e meio ecológico: o caso da manipueira

A manipueira é o líquido proveniente da prensagem da massa da mandioca, extraído

na fabricação de farinha. Possui grande toxicidade, em razão da quantidade de ácido

cianídrico (HCN) em sua composição, encontrado em todas as partes da planta, sendo mesmo

uma característica comum ao gênero Manihot, da família das Euforbiáceas (CONCEIÇÃO,

1981)29. Logo, não deve ser descartado diretamente no meio ecológico, pois provoca a

contaminação do solo e das águas.

Todavia, ao mesmo tempo que a manipueira é um potente agente poluidor, dezenas de

vezes superior ao esgoto doméstico, é preciso destacar que outros usos são possíveis a partir

de seu descarte, seja para seja para fazer tijolos, na alimentação animal, controle de pragas e

doenças de plantas, assim como o seu uso para produção de biogás, dentre várias outras

utilidades (SANTOS, 2009). Além desses aproveitamentos, a manipueira também pode ser

utilizada na produção de sabão e na produção de vinagre para uso doméstico e comercial.

No Rio Grande do Norte, o descarte inadequado da manipueira ainda é bastante

recorrente (figura 13), principalmente nas unidades tradicionais de processamento de

mandioca (casas de farinha), o que é preocupante, pois de acordo com Santos (2009, p. 12) tal

“prática restringe fisicamente os locais de produção pela formação de enormes volumes deste

líquido, provocando condições de insalubridade na população e afetando à saúde e a

economia desta atividade”.

29 Conceição (1981) considera que a toxidade da planta não decorra unicamente da presença de HCN ou ácido

prússico, parecendo a alguns que outros princípios tóxicos contribuam em escala menor.

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Em outras unidades de processamento de mandioca, porém, os proprietários têm

procurado atender às normas de controle ambiental, armazenando a manipueira em tanques ou

reservatórios de captação do líquido (figura 14), para o processo de decantação, o que é o

mais recomendável nos dias atuais. Geralmente, são agroindústrias de mandioca que possuem

licenciamento ambiental pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do

Rio Grande do Norte (IDEMA-RN), obtido junto ao SEBRAE-RN (unidades credenciadas ao

órgão) ou por iniciativa e recursos próprios dos interessados, neste caso, os proprietários das

agroindústrias.

Figura 13 - Descarte da manipueira diretamente no solo em uma unidade de processamento

de mandioca no município de Tenente Laurentino Cruz-RN

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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No momento da pesquisa de campo, os proprietários das unidades de processamento e

beneficiamento de mandioca foram questionados quanto ao destino do resíduo líquido da

mandioca, e se existia algum tratamento e/ou controle do descarte da manipueira ou mesmo

aproveitamento desta. Do universo de entrevistados, a maioria respondeu que a manipueira

era simplesmente armazenada em tanques (gráfico 3) e que não realizava nenhum tipo de

tratamento, mas que utilizavam a manipueira, sobretudo, para a alimentação bovina (gráfico

4). É interessante ressaltar que, nesse contexto, uma fábrica de goma localizada no município

de Lagoa Salgada-RN tem utilizado a manipueira para a produção de biogás, como uma

alternativa de geração de energia elétrica.

Figura 14: Manipueira armazenada em tanques ou reservatórios de captação (à dir.

agroindústria em Lagoa Nova-RN, à esq. agroindústria em Vera Cruz-RN)

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Os proprietários das unidades de processamento e beneficiamento de mandioca

também foram questionados quanto ao licenciamento ambiental. Nesse aspecto, destaca-se

que as unidades licenciadas eram facilmente identificadas em razão da publicação da licença

ambiental em placa do órgão responsável, no caso, o IDEMA-RN, fixada na parte externa do

estabelecimento, tal como registrado na figura 15. Entretanto, pode-se constatar que a grande

maioria das referidas unidades não possuem licença ambiental e, em outras, os proprietários

afirmaram que já tinham recorrido aos órgãos responsáveis, e que o processo estava “em

trâmite”.

11%

58%

5%

26%

Gráfico 4 - Aproveitamento da manipueira nas unidades de

processamento de mandioca

Ração animal (gado) / fertilizante orgânico Ração animal (gado)

Produção de biogás Não aproveita

69%

26%

5%

Gráfico 3 - Destino do resíduo líquido da mandioca (manipueira)

Armazenada em tanques Descartada no solo Armazenada em poços

Fonte: Dados obtidos na pesquisa de campo (2016). Elaborado por

Raquel Silva dos Anjos.

Fonte: Dados obtidos na pesquisa de campo (2016). Elaborado

por Raquel Silva dos Anjos

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Percebe-se, assim, que as preocupações em torno das questões ambientais têm

aumentado, e no âmbito da atividade mandioqueira a busca por alternativas que minimizem os

danos ao meio ambiente, tem sido posta em prática, como por exemplo, a utilização de lenhas

de cajueiro (material extraído das podas) e algaroba, ambas permitidas para o aquecimento

dos fornos das unidades de beneficiamento de mandioca.

Outro exemplo que merece ser destacado é a substituição da lenha por cascas de coco

(seco) para aquecer os fornos. Esse procedimento alternativo pode ser presenciado em

pesquisa de campo, mais precisamente em uma agroindústria de mandioca localizada no

Agreste Potiguar, como mostrado na figura 16.

Figura 15 - Fábrica de farinha e goma na Serra de Santana licenciada pelo IDEMA-RN

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Além de diminuir o uso da lenha na atividade mandioqueira e, consequentemente, o

desmatamento, a casca do coco é facilmente encontrada na região e sua utilização é

economicamente viável, o que permite que essa alternativa seja levada adiante e adotada por

outras unidades de beneficiamento de mandioca.

No capítulo a seguir, o enfoque é voltado para o circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte, no qual são evidenciadas as principais

etapas produtivas desse circuito, bem como os principais agentes que formam seus círculos de

cooperação no espaço.

Figura 16 - Casca de coco para aquecimento de fornos em agroindústria de mandioca do

Agreste Potiguar

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Capítulo 4

Farinha

A farinha é feita de uma planta da família das euforbiáceas, euforbiáceas

De nome Manihot Utilíssima, que um tio meu apelidou de macaxeira

E foi aí que todo mundo achou melhor!

A farinha tá no sangue do nordestino

Eu já sei desde menino o que ela pode dar

E tem da grossa, tem da fina

Se não tem da quebradinha

Vou na vizinha pegar (...)

Composição: Djavan

Álbum: Milagreiro (2001)

Obra “Raspando mandioca, pra fazer farinha”, de Gildásio Jardim (2015). Tela: Pintura em

tecido estampado.

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5 O CIRCUITO ESPACIAL DA AGROINDÚSTRIA DE MANDIOCA NO RIO

GRANDE DO NORTE

Uma característica do período atual é a necessidade de criar condições para a maior

circulação de pessoas, produtos, mercadorias, dinheiro, informação e ordens (SILVEIRA,

2010). Nesse sentido, a análise dos circuitos espaciais de produção, definidos pela circulação

de bens e produtos, torna-se fundamental no entendimento da interdependência dos espaços

produtivos e dos fluxos que permitem a produção.

Logo, assim, os circuitos espaciais de produção não se caracterizam somente pela

dispersão e distanciamento geográfico das distintas etapas da produção, mas também por uma

multiplicidade de relações, as quais se engendram a partir da atuação de múltiplos agentes

(CASTILLO; FREDERICO, 2010). Tratando-se mais especificamente do circuito espacial de

produção agroindustrial de mandioca no estado do Rio Grande do Norte, os produtores de

mandioca, os atravessadores, as unidades de processamento (consubstanciadas na figura dos

proprietários), o mercado assim como os consumidores, foram identificados como os

principais agentes envolvidos no referido circuito espacial produtivo.

No Rio Grande do Norte, a mandioca é cultivada, sobretudo, por pequenos produtores

que estão inseridos no âmbito da agricultura familiar. Atualmente, muitos têm enfrentado

problemas na produção devido à irregularidade das precipitações no estado, associada à falta

de recursos que os impedem de arcar com a adoção de sistemas de irrigação, o que seria o

ideal para manter a produtividade de suas lavouras. Além disso, esses produtores têm que

lidar com a instabilidade dos preços da mandioca e com a dificuldade de colocar o produto

para comercialização, o que geralmente é feito pelos atravessadores ou “corretores” como são

popularmente conhecidos.

Sendo assim, entre a aquisição da matéria-prima e o início do seu processamento, a

partir do qual são originados os derivados da mandioca, verifica-se a presença incisiva dos

atravessadores. Para Salvador (2010), estes agentes sempre conseguem os melhores

rendimentos na atividade mandioqueira, uma vez que compram a mandioca e seus derivados

dos produtores a preços baixos, vendendo, posteriormente, esses produtos por preços que lhes

proporcionam boa rentabilidade.

Nas unidades tradicionais e industriais de processamento e beneficiamento, ocorre a

produção dos derivados da mandioca, principalmente a farinha e a goma. Nessa relação, vale

destacar que muitas casas de farinha comunitárias também importantes na fabricação de

derivados, encontram-se, atualmente, deterioradas ou desativadas no estado, devido a fatores

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128

como matéria-prima insuficiente, fragilidade organizacional dos agricultores e negligência

dos poderes públicos estaduais e municipais para com o funcionamento dessas unidades, a

exemplo de uma casa de farinha comunitária no município de Lagoa Nova-RN. (figura 17).

Gerados os subprodutos da mandioca, os proprietários das unidades de beneficiamento

ou funcionários realizam o transporte da mercadoria em caminhões e/ou caminhonetes.

Embora em menores casos, a atuação dos atravessadores também acontece junto às unidades

de processamento, principalmente quando se trata do transporte e comercialização dos

produtos das casas de farinha, cujos proprietários não dispõem de veículos próprios.

Com base nos dados da pesquisa empírica, os derivados da mandioca são destinados

ou vendidos sobretudo na Região Metropolitana de Natal, assim como nos municípios de

Caicó e Currais Novos e nos estados do Ceará, Paraíba e Pernambuco, com a criação de

vários fluxos no território norte-rio-grandense, como evidenciado no mapa 6. Em seguida, a

representação do mapa 7 evidencia, de forma mais clara, os municípios de origem e os

municípios/estados de destino da produção de derivados da mandioca no Rio Grande do

Norte.

Figura 17 – Casa de farinha comunitária desativada no Sítio Buraco da Lagoa,

município de Lagoa Nova-RN

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Algumas unidades industriais de beneficiamento de mandioca mantêm parcerias com

restaurantes e redes de supermercados, como Boa Esperança, Rede Mais, Nordestão,

Rebouças, Queiroz; além de grupos atacadistas como o Assaí. Dessas unidades, pode-se citar

as agroindústrias Farinha dos Anjos, Farinha São Pedro e Goma de Mandioca Prata Fina. A

relação das agroindústrias de mandioca com esses estabelecimentos comerciais dá-se da

seguinte forma: a venda dos derivados para os supermercados ou atacados é realizada com

desconto financeiro (na nota fiscal), cuja porcentagem é embutida no produto, ou seja, o

derivado que é vendido a R$ 3,00 reais, por exemplo, é revendido nas gôndolas dos

supermercados a R$ 3,70. O Centro de Distribuição do Sam’s Club e a CEASA-RN, também

são abastecidos com farinha e goma provenientes de agroindústrias do Agreste Potiguar. Em

relação aos restaurantes, destacam-se os seguintes: Bar e Restaurante do Bidoca, Churrascaria

do Arnaldo, Farol Bar e Restaurante, Restaurante Farofa D’água, Tábua de Carne, Mangai e

Nau Frutos do Mar, todos configurando-se como importantes estabelecimentos de

gastronomia em Natal-RN. Para os proprietários das unidades agroindustriais de

processamento de mandioca a venda de derivados para esses estabelecimentos é positiva, pois

além do retorno econômico, é uma forma de inserir seus produtos, e até mesmo divulgá-los,

em estabelecimentos que, na sua maioria, estão concentrados no bairro de Ponta Negra, “onde

a plenitude da atividade turística acontece, pois ocupa um espaço privilegiado, na

conformação da cidade do lazer e do turismo” (FURTADO, 2007, p. 51).

As feiras livres e os pequenos supermercados (mercadinhos - destinados a suprir

menores demandas), também constituem locais de comercialização da farinha e da goma,

principalmente dos derivados provenientes das unidades tradicionais de beneficiamento de

mandioca. Aliás, não há a inserção dos produtos dessas unidades em redes de supermercados,

sendo comercializados, sobretudo, nas feiras livres.

Os proprietários das unidades de processamento e beneficiamento de mandioca

também têm destinado a produção de goma para algumas tapiocarias em Natal-RN,

considerando que a tapioca tem sido bastante consumida nos dias atuais, fazendo parte,

inclusive, do cardápio do setor de alimentos e bebidas vinculado ao turismo30. Nesse sentido,

30 Além do turismo, é válido mencionar também a inserção da tapioca no cardápio, sobretudo dos jovens, a partir

das mudanças nos padrões alimentares relacionados à estética na alimentação contemporânea, como discute

Barbosa (2016). Para a autora, no contexto atual, deve-se analisar a relação da alimentação com a ética e a

estética. Nessa perspectiva, destaca-se o consumo expressivo da tapioca, considerada um alimento saudável, com

fins de manutenção da “boa forma”, assim como a comercialização das “tapiocas coloridas”, como a tapioca

pink, hidratada com o sumo da beterraba, como aborda Guilherme e Portilho (2016, p. 16), uma vez que “[...]

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infere-se que a atividade turística também tem sido importante para o fortalecimento do

circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte, sendo

reconhecida também pelos proprietários das unidades de beneficiamento, cuja demanda por

goma tem aumentado.

Na análise do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande

do Norte, reconhece-se a existência de circuitos complementares, sobretudo de insumos

agrícolas, ainda na primeira etapa produtiva do referido circuito; e de máquinas e

equipamentos, importantes no processo de beneficiamento de mandioca. Dessa maneira,

entende-se que os circuitos complementares são ramos específicos de produtos ou atividades

que se estabelecem para atender as demandas dos circuitos espaciais produtivos, contribuindo

assim, para o funcionamento destes. Sobre o setor de insumos, de forma sintética, este é parte

do conjunto de atividades à montante do cultivo da mandioca e, nesse caso, destaca-se a

utilização de adubos orgânicos e químicos na produção da raiz em algumas áreas de plantio

no estado, principalmente na Região Agreste, conforme discutido em momento anterior.

A utilização de adubos de natureza corretiva, como o calcário, também é bastante

recorrente no cultivo de mandioca no estado, assim como o uso de defensivos agrícolas, a

exemplo dos herbicidas, quando do aparecimento de ervas daninhas na mandiocultura. A

mandioca é uma planta que apresenta boa resistência a vários herbicidas, quando aplicados

antes de sua brotação e nas doses recomendadas (EMBRAPA, 2016). Em relação aos circuitos

complementares de máquinas e equipamentos, estes correspondem a todo aparato técnico

presentes nas unidades de processamento de mandioca, a exemplo dos lavadores, trituradores,

prensas hidráulicas, empacotadeiras industriais (figura 18), entre outros.

agrega novas características estéticas, principalmente, no que tange a cor, visto que ela é rosa, e sensoriais, já que

sua textura é crocante, distinta da tapioca chamada de tradicional, que é úmida”.

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No tocante à procedência do conjunto de máquinas e equipamentos presentes nas

agroindústrias de mandioca, a pesquisa empírica revelou que estes são originários do Sul e

Sudeste do Brasil (Minas Gerais, São Paulo, Paraná), como também do estado de Pernambuco

e Ceará. Entre as empresas citadas pelos proprietários destacam-se a Indústria de Máquinas

Agrícolas Novo Horizonte Ltda, localizada em Limeira-SP, e a Midiam Ltda, situada no

município de Pombos-PE. Nas casas de farinha, por sua vez, as máquinas e equipamentos

antigos, alguns ainda manuais, dividem o mesmo espaço físico com maquinários adquiridos

com histórico de uso, comprados de outras unidades do estado (situadas nos municípios de

São José de Mipibú, Monte Alegre, Touros, Bodó, Tenente Laurentino, Lagoa Nova, etc.) e

que atualmente encontram-se fechadas.

A presença de circuitos complementares, revelam assim, o quão são complexas as

relações que permeiam o circuito de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do

Norte. A próxima seção reforça a importância do conceito de circuito espacial produtivo no

âmbito da ciência geográfica, diferenciando-o da ideia de cadeia produtiva.

Figura 18 – Empacotadeira industrial em uma unidade de processamento de

mandioca

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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5.1 ALÉM DA CADEIA PRODUTIVA: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA

O emprego do termo “cadeia produtiva” tem sido bastante recorrente em trabalhos

acadêmicos que tratam do processo produtivo de determinada mercadoria. Entretanto, na

Geografia, o conceito de “circuito espacial de produção”, apesar de recente, surge com grande

potencial explicativo para o entendimento da organização, da regulação e do uso dos

territórios. Dessa maneira, pensando em uma abordagem propriamente geográfica, buscou-se

na análise de Castillo e Frederico (2010), a distinção entre circuito espacial produtivo e cadeia

produtiva, a qual será abordada a seguir.

Para Castillo e Frederico (2010), a formulação de teorias em cada disciplina científica

pressupõe um sistema interno, particular e articulado de conceitos, suficientemente abertos

para dialogar e se relacionar com as teorias provenientes de outros campos de conhecimento.

Com base nessa assertiva, os autores consideram que os conceitos de cadeia produtiva e de

circuito espacial produtivo “pertencem a corpos teóricos e respondem a objetivos distintos,

mas compartilham vários pressupostos e alguns procedimentos analíticos, tornando oportuno

o estabelecimento de suas diferenças” (CASTILLO e FREDERICO, 2010, p.466).

O uso do termo “cadeia produtiva” passa a ser mais difundido na década de 1970, com

a emergência do novo paradigma produtivo e do ideário da competitividade. Na

Administração e na Economia, assim como na Engenharia de Produção, a utilização da ideia

de cadeia produtiva baseia-se nas teorias de estudiosos da logística e da economia corporativa.

Desde então, várias formulações conceituais foram elaboradas, em torno das quais pode-se

definir cadeia produtiva como “um conjunto de elementos (“empresas ou “sistemas”) que

interagem em um processo produtivo para oferta de produtos ou serviços ao mercado

consumidor” (SILVA, 2005, p. 1).

Em outras palavras, o conceito de cadeia produtiva vincula-se a uma crescente

demanda por organizações das atividades empresariais, frente ao atual paradigma produtivo

com o objetivo de elevar a competitividade de produtos e serviços, através da reestruturação

de processos produtivos e da racionalização dos fluxos. Envolve a integração funcional entre

diversas empresas ou setores de produção, armazenamento, distribuição e comercialização,

serviços de apoio e estrutura normativa regulatória (CASTILLO; FREDERICO, 2010).

Remetendo-se ao conceito de circuito espacial produtivo, várias são as semelhanças

com o conceito de cadeia produtiva, pois

em ambas as abordagens, trata-se de apreender a unidade das

diversas etapas do processo produtivo (produção propriamente

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dita, distribuição, troca e consumo), acompanhando todas as

etapas de transformação e agregação de valor pelas quais passa

um produto, da produção ou extração da matéria-prima até o

consumo final, bem como os diversos serviços associados à

distribuição, armazenamento, comercialização, crédito, pesquisa

e desenvolvimento etc. O reconhecimento da importância da

informação e de suas tecnologias como elementos de unificação

entre as diversas produtivas e a constatação da especialização

produtiva ou do aprofundamento da divisão do trabalho, além

de outros pressupostos característicos do atual período

histórico, são compartilhados por um e por outro. (CASTILLO;

FREDERICO, 2010, p. 467).

Entretanto, como citado anteriormente, os objetivos e o sistema de conceitos a que

cada uma dessas noções pertence são distintos. Desse modo, partindo da proposição de

diferenciação entre circuito espacial produtivo e cadeia produtiva, elaborada pelos autores

Ricardo Castillo e Samuel Frederico (2010), o quadro 5 a seguir traz um resumo explicitando

as distintas possibilidades analíticas de cada conceito.

Reafirma-se, assim, que a utilização do conceito de circuito espacial produtivo é o

mais apropriado na Geografia, por compreender o uso do território através da dinâmica dos

fluxos, acentuada no atual período histórico. O conceito de cadeia produtiva além de restritivo

à ação das empresas, responde a objetivos que não condizem a uma abordagem geográfica.

Nesse aspecto, segundo Dantas (2016), o que autoriza e dá fundamento para falar em circuito

QUADRO 5 - DIFERENÇAS ENTRE CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO E CADEIA

PRODUTIVA

Circuito espacial produtivo

Cadeia produtiva

O foco da abordagem proposta pelo

circuito espacial produtivo é o espaço

geográfico;

Objetivo: implicações socioespaciais da

adaptação de lugares, regiões e territórios

aos ditames da competitividade, bem

como o papel ativo do espaço geográfico

na lógica da localização das atividades

econômicas, na atividade produtiva e na

dinâmica dos fluxos.

Na abordagem da cadeia produtiva,

considera-se o espaço e a região como

parte do “ambiente externo”, como um

fator que pode afetar, positiva ou

negativamente, o processo produtivo;

Objetivo: identificação dos “gargalos”

que dificultem a plena integração

funcional e prejudiquem a

competitividade final dos produtos.

Fonte: Adaptado de Castillo e Frederico (2010).

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espacial na Geografia é a mobilidade, que tem na circulação e na comunicação as suas duas

faces indissociáveis, permitindo analisar os fluxos materiais e imateriais de qualquer ordem.

5.2 TIPOLOGIA E TOPOLOGIA DAS UNIDADES DE BENEFICIAMENTO DO

CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL DE MANDIOCA NO RIO

GRANDE DO NORTE

O circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte

envolve um conjunto de complexidades que estão fortemente marcadas pelas coexistências de

novas e velhas formas de práticas e relações produtivas. Dessa maneira, reconhecendo as

contrariedades existentes na atividade mandioqueira, tem-se a proposta de uma tipologia

(quadro 6), ainda que simplificada, voltada às unidades de beneficiamento de mandioca no

referido estado. A topologia também é evidenciada, como forma de entender a distribuição

espacial dessas unidades no território.

QUADRO 6 - UNIDADES DE PROCESSAMENTO E BENEFICIAMENTO DE MANDIOCA

NO RIO GRANDE DO NORTE

TIPOLOGIA TOPOLOGIA CARACTERÍSTICAS

Unidades modernas:

Agroindústrias ou indústrias de farinha

e outros derivados da mandioca

(Código CNAE 10635).

Agreste, Leste e

Central Potiguar: Vera

Cruz, Brejinho, Lagoa

Salgada, São José de

Mipibú, Macaíba, Lagoa

Nova.

A transformação da

mandioca é realizada,

sobretudo, por meio de

máquinas movidas à

eletricidade e operadas por

alguns homens. O

ensacamento dos derivados,

nesses estabelecimentos, é

feito com o uso de máquinas

embaladoras.

Nesses estabelecimentos

existe a preocupação com a

higiene pessoal e local e com

a qualidade dos produtos,

conforme os padrões

estabelecidos pelo mercado.

Os instrumentos técnicos são,

geralmente, limpos após o

dia de trabalho, assim como

todo o espaço físico.

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Unidades tradicionais:

Casas de farinha e outros derivados da

mandioca (Código CNAE 10635).

Agreste, Leste, Central

e Oeste Potiguar: Boa

Saúde, Serrinha, Vera

Cruz, Monte Alegre,

Lagoa Salgada, Lagoa

D’Anta, Touros,

Tenente Laurentino,

Lagoa Nova, Martins,

Portalegre, etc.

O processo de fabricação de

farinha e/ou goma, quanto às

técnicas utilizadas, pode ser

classificado como híbrido,

isto é, esses estabelecimentos

são marcados por

instrumentos técnicos

movidos à eletricidade e por

instrumentos movidos à força

humana;

Quanto à organização do

processo de produção, as

unidades tradicionais

funcionam sem grandes

preocupações com higiene e

com a segurança do ambiente

de trabalho (ver figura 19).

Fonte: CNAE 2.0; Dados pesquisa (2016); Adaptado de Salvador (2010). Elaboração: Raquel Silva dos

Anjos.

Figura 19 – Péssimas condições de higiene nas unidades tradicionais de beneficiamento de

mandioca.

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Com base nas informações acima descritas, concorda-se com Salvador (2010) quando

o autor afirma que as particularidades existentes entre as indústrias e casas de farinha

terminam na questão das técnicas utilizadas e da organização do funcionamento dos

estabelecimentos. Ao se levar em consideração outros fatores, como os derivados produzidos

(farinha, goma de mandioca), infere-se que ambas as unidades também são marcadas, em

certa medida, por aspectos em comum. No que concerne à topologia, a presença de unidades

de beneficiamento de mandioca estende-se a todo o Rio Grande do Norte, mas é preciso

reconhecer que as agroindústrias ou indústrias de farinha apresentam uma maior densidade no

Leste e, principalmente, no Agreste Potiguar. Na Região Oeste do estado, as poucas casas de

farinha que ainda resistem ao tempo e as inovações técnicas, são mantidas por famílias cuja

principal atividade é a produção para o consumo de subsistência ou autoconsumo.

5.3 O TRABALHO NO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL DE

MANDIOCA NO RIO GRANDE DO NORTE: uma análise no âmbito das unidades de

processamento e beneficiamento

Para Karl Marx (1983, p.149), "(...) o trabalho revela o modo como o homem lida com

a natureza, o processo de produção pelo qual ele sustenta a sua vida e, assim, põe a nu o modo

de formação de suas relações sociais e das ideias que fluem destas". No entendimento do

autor, o trabalho é o cerne das atividades, relações e processos que denotam as especificidades

das interações entre os homens. Nesse sentido, “é a categoria que funda o desenvolvimento

do mundo dos homens como uma esfera distinta da natureza; não é apenas a relação dos

homens entre si no contexto da reprodução social; o seu desenvolvimento exige o

desenvolvimento concomitante das relações sociais” (SEMPREBOM; ALVES;

ESPERIDIÃO, 2010, p. 02).

Sob o enfoque geográfico, o trabalho é compreendido como “expressão de uma

relação metabólica entre o ser social e a natureza” (THOMAZ JÚNIOR, 2002, p.4). Para o

autor, a dimensão da regulação sociedade-espaço, nas suas diferentes manifestações

(assalariado, autônomo, informal, domiciliar, terceirizado, etc.), também permite o

entendimento da expressão geográfica do trabalho, implicando na discussão das localizações,

que, não se limitam ao imediato, ao visível (THOMAZ JÚNIOR, 2002).

Com base nessa concepção, e considerando que a categoria trabalho tem sido

negligenciada na maioria das produções acadêmicas que tratam dos circuitos espaciais

produtivos, a presente dissertação é construída valendo-se do entendimento de que o trabalho

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consiste em um importante elemento de análise. Dessa forma, no cerne dessa discussão, são

evidenciadas as relações de trabalho, a origem e qualificação da mão-de-obra envolvidas no

circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte, mais

precisamente, no âmbito das unidades de beneficiamento e processamento de mandioca31.

5.3.1 Relações de trabalho

De modo geral, nas unidades de beneficiamento de mandioca as relações de trabalho

estão pautadas no controle do desperdício de tempo e no aumento da produtividade,

principalmente a partir da inserção de novos instrumentos técnicos nesses estabelecimentos.

Nesse processo, Costa e Lamoso (2013) entendem que por trás da otimização da produção,

está a despersonalização do trabalho, uma vez que o trabalho deixa de ser pautado no ritmo da

natureza para ser pautado no ritmo de processos eminentemente mecânicos e previsíveis.

A pesquisa empírica realizada revelou que o tempo de trabalho (em anos) das pessoas

entrevistadas nas unidades de beneficiamento de mandioca varia de três a dez anos, algumas

ainda com quinze anos de trabalho, exercendo funções como raspagem da mandioca

(sobretudo realizada por mulheres, figura 20), prenseiro e peneirador, forneiros, tiradores de

goma (nas unidades em que o produto é voltado à comercialização, juntamente com a

farinha), embaladores, ajudantes gerais (responsáveis por carregar e descarregar a matéria-

prima e os derivados dos caminhões ou caminhonetes, como também por juntar as cascas da

mandioca, etc.).

31 Foram realizadas entrevistas com os trabalhadores das unidades de beneficiamento de mandioca.

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Nesse conjunto de funções vale ressaltar que, como o processo de beneficiamento é

mecanizado nas agroindústrias de mandioca (com a exceção da raspagem da mandioca, que é

predominantemente manual), os trabalhadores são responsáveis por realizar a supervisão e o

funcionamento de algumas máquinas ou equipamentos (prensa hidráulica, peneira elétrica

fornos elétricos, máquinas empacotadeiras etc.), diferente dos trabalhadores das unidades

tradicionais, em que boa parte das etapas do processamento de mandioca ainda prevalece

sendo realizadas de modo manual.

Esses trabalhadores geralmente desenvolvem suas atividades laborais em quatro dias

na semana (terça a sexta), isso porque a segunda-feira é o dia reservado pelos proprietários

das unidades de processamento para a compra da mandioca. Outros trabalham de segunda a

sexta, como no caso de uma agroindústria no município de Brejinho-RN, cujo proprietário

adquire a matéria-prima aos sábados. Nessa relação, destaca-se que alguns estabelecimentos

funcionam de segunda a sábado (meio dia), a exemplo de uma agroindústria de goma em

Lagoa Salgada-RN (figura 21).

Figura 20 – Mulheres realizando a raspagem da mandioca em agroindústria da Região

Agreste

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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Em relação às jornadas de trabalho, verificou-se que, em algumas agroindústrias, os

trabalhadores têm desempenhado suas funções em oito horas diárias, conforme a legislação

trabalhista prescreve. Acredita-se que a maior fiscalização por parte do Ministério do

Trabalho tem feito esses estabelecimentos se adequarem aos poucos e, assim, atender as leis.

Quando o trabalho excede as oito horas, os trabalhadores recebem também por hora extra. Em

contrapartida, nas casas de farinha e mesmo em algumas unidades industriais, os

trabalhadores estão submetidos a cumprir intensas jornadas de dez a doze horas de trabalho

diárias (das 6h às 16/18h). Nesse contexto, é importante evidenciar que devido à escassez de

matéria-prima em algumas unidades de processamento, estas não tem funcionado diariamente,

ou então reduzido o período de suas atividades na semana.

No geral, a remuneração destes trabalhadores dá-se por produção, logo muitos

recebem menos de um salário por mês. Quando por produtividade, o pagamento pode ser feito

por diárias ou semanalmente, de acordo com a função realizada e condições dos proprietários

das unidades de beneficiamento. No caso das raspadeiras de mandioca, algo chamou atenção:

na Região Agreste do estado, estas têm recebido o valor de R$ 1,00 a 1,20 por caixa de

mandioca descascada, ao passo que na Serra de Santana o valor pago por caixa vai de R$ 1,50

a 1,60. Em toneladas, esses valores correspondem a R$ 40,00 reais e R$ 64,00 reais,

respectivamente, a depender do esforço desempenhado por essas trabalhadoras. Os poucos

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

Figura 21 – Agroindústria de goma no município de Lagoa Salgada-RN

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que trabalham com carteira assinada recebem um salário mínimo mensal, cujo valor pode ser

acrescido a partir da realização de horas extras de trabalho. Diante desses valores irrisórios,

esses trabalhadores foram questionados se possuíam outra fonte de renda, e a maioria

respondeu que recebe “benefícios do governo”, sendo mais citado o Programa Bolsa Família,

apesar de que alguns revelaram que tiveram o benefício cortado, passando a depender da

ajuda de familiares. Outra fonte de renda partia do trabalho realizado nos roçados pelos

cônjuges das raspadeiras de mandioca, ou ainda pelo recebimento de aposentadorias,

considerando os que moravam com os pais.

Esses trabalhadores foram questionados também sobre as condições de trabalho nas

unidades de beneficiamento. Nesse sentido, entre as opções dadas (ver apêndice C), a maioria

definiu como “condições razoáveis” de trabalho, afirmando que “apesar do cansaço, o

trabalho compensava e garantia alguma renda”, outros ressaltando que “ajudava no sustento

da família”, e que “trabalho hoje em dia não é fácil”, etc. Apesar do tom de conformidade nas

respostas, para muitas famílias que vivem principalmente nas áreas rurais e com pouco grau

de instrução, é um trabalho, sobretudo, digno.

5.3.2 Origem e qualificação da mão de obra

A pesquisa empírica revelou que os trabalhadores das unidades de beneficiamento de

mandioca são moradores dos municípios onde os referidos estabelecimentos estão situados.

Quando questionados como surgiu a oportunidade de trabalho, os entrevistados responderam,

em sua maioria, que “eram da família”, “conheciam os donos há anos” ou “estavam

acostumados com o trabalho”, visto que alguns citaram, inclusive, que desde mais novos

acompanhavam as mães no trabalho realizado nas casas de farinha.

A idade dos trabalhadores entrevistados varia de 27 a 51 anos. Mas, na ocasião,

também foi presenciado o trabalho infantil, principalmente em uma casa de farinha no

município de Lagoa Nova-RN, com crianças que aparentavam ter menos de 12 anos de idade,

as quais, com bastante agilidade, realizavam a raspagem da mandioca. Essas crianças

geralmente têm ajudado suas mães no referido processo, como forma de elevar a produção e

consequentemente, obter uma melhor renda.

Quanto à escolaridade, os trabalhadores entrevistados possuem até o ensino médio

completo, e devido à rotina de trabalho intensa, raramente conseguem realizar atividades de

lazer ou até mesmo voltar a estudar. Outros citaram que nunca frequentaram a escola, e alguns

responderam que possuíam “pouco estudo”. Os trabalhadores foram questionados também

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quanto à participação em algum curso de capacitação e/ou treinamento voltado ao

processamento e beneficiamento de mandioca, sendo que dos entrevistados, 77%

responderam que sim, relacionados à higiene pessoal e manejo de alimentos, fato que pode ser

comprovado nas agroindústrias de mandioca, nas quais foi possível encontrar trabalhadores

uniformizados e utilizando touca no cabelo, assim como luvas, botas, etc.

5.4 OS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO DO CIRCUITO ESPACIAL DA

AGROINDÚSTRIA DE MANDIOCA NO RIO GRANDE DO NORTE

Considerando que a localização das diversas etapas constitutivas do processo

produtivo pode dar-se de forma geograficamente dissociada, mas articuladas por fluxos

diversos, “as necessidades de complementação entre os lugares aumentam, gerando circuitos

produtivos e fluxos cuja natureza, direção, intensidade e força variam segundo os produtos, as

formas produtivas, a organização espacial preexistente e os impulsos políticos” (SANTOS,

1994, p. 128). Tais circuitos e círculos de cooperação, juntos, buscam dar conta das relações

entre mobilidade geográfica, configuração territorial e condições históricas do capitalismo

atual (FREDERICO; CASTILLO, 2004).

Sobre os círculos de cooperação no espaço, como visto anteriormente, estes tratam da

comunicação consubstanciada na transferência de capitais, ordens e informação (fluxos

imateriais), garantindo os níveis de organização necessários para articular lugares e agentes

dispersos geograficamente, isto é, unificando, através de comandos centralizados, as diversas

etapas, espacialmente segmentadas da produção (TOLEDO; CASTILLO, 2008).

No que se refere especificamente ao circuito espacial de produção agroindustrial de

mandioca no Rio Grande do Norte, verifica-se a presença de alguns agentes constitutivos dos

círculos de cooperação no espaço, dos quais destacam-se: a Companhia Nacional de

Abastecimento (CONAB); os institutos de pesquisa e assistência técnica, a exemplo da

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e Empresa de Pesquisa

Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN); o Instituto de Assistência Técnica e

Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER-RN); órgãos de inspeção sanitária, como

a Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária do Rio Grande do Norte (SUVISA), e o Serviço

Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE).

As próximas seções tratam mais diretamente das ações de empresas e instituições no

setor mandioqueiro, configurando-se como o conjunto de fluxos imateriais importantes no

entendimento do circuito espacial produtivo em análise.

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5.4.1 As ações de empresas e instituições no setor mandioqueiro

Conforme explicitado anteriormente, a atuação de empresas e instituições tanto em

nível nacional quanto em nível estadual, caracterizam-se como importante base institucional

no desenvolvimento da atividade mandioqueira do Rio Grande do Norte e, por conseguinte,

do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca.

A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), por exemplo, realiza estudos e

estatísticas dos preços, assim como levantamentos de custos de produção da agropecuária, e

nesse aspecto, está incluída a mandiocultura. É uma empresa pública, vinculada ao Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), criada por decreto presidencial e

autorizada pela Lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990, tendo iniciado suas atividades em 1991.

No Rio Grande do Norte, a referida empresa conta com uma Superintendência Regional, a

qual tem executado o levantamento de dados conjunturais sobre a safra de mandioca no

estado.

Apesar de não possuir unidade no Rio Grande do Norte, a Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), através da Embrapa Mandioca e Fruticultura, localizada

no município de Cruz das Almas-BA, tem realizado importantes pesquisas com a mandioca,

condizentes aos processos e serviços para a cultura, estatísticas nacionais e internacionais de

produção e de mercado, manivas (mudas) e cultivares32 de mandioca. Desse modo, algumas

parcerias foram desencadeadas, a citar o trabalho realizado pelo SEBRAE-RN juntamente

com a EMBRAPA, referente ao desenvolvimento de pesquisas relacionadas à análise de

variedades de raízes de mandioca no Rio Grande do Norte.

Nessa relação, destaca-se também o papel da Empresa de Pesquisa Agropecuária do

Rio Grande do Norte (EMPARN), cujas ações têm se disseminado em praticamente todo o

estado, a partir de suas unidades ou estações experimentais, como mostra a figura 22. No que

se refere à mandiocultura, as estações “Felipe Camarão”, situada no município de São

Gonçalo do Amarante, e “Jiqui”, em Parnamirim, destacam-se por realizar a avaliação de

cultivares de mandioca, a partir de análises bromatológicas. Além disso, em parceria com

outras instituições, a EMPARN desenvolve trabalhos relacionados ao emprego de novas

tecnologias direcionadas ao cultivo de mandioca no Rio Grande do Norte.

32 Segundo a Lei de Proteção de Cultivares, Lei n.° 9.456/1997, cultivares são espécies de plantas que foram

melhoradas devido à alteração ou introdução, pelo homem, de uma característica que antes não possuíam. Elas se

distinguem das outras variedades da mesma espécie de planta por sua homogeneidade, estabilidade e novidade.

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Com ações semelhantes, o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio

Grande do Norte (EMATER-RN) tem promovido cursos e oficinas sobre a cultura de

mandioca no Rio Grande do Norte, e prestado assessoria aos agricultores do estado.

Entretanto, de acordo com os produtores de mandioca entrevistados, em geral, estes não estão

satisfeitos com a atuação do referido instituto, em razão da irregularidade e ineficiência nos

serviços prestados.

Atuando também como um agente dos círculos de cooperação, tem-se a

Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária do Rio Grande do Norte (SUVISA), responsável

pelo monitoramento da qualidade sanitária dos derivados de mandioca produzidos e

comercializados no Rio Grande do Norte, bem como pelo fornecimento de licença sanitária,

válida pelo prazo de 1 (um) ano, às unidades de beneficiamento. Tal procedimento geralmente

antecede a licença ambiental, cuja autorização é incumbência do IDEMA-RN.

Enquanto órgão de apoio técnico na transformação e funcionamento das unidades de

processamento de mandioca no Rio Grande do Norte, o SEBRAE-RN constitui um dos

principais agentes dos círculos de cooperação do circuito espacial de produção agroindustrial

de mandioca no Rio Grande do Norte, o que será evidenciado a seguir.

Figura 22 – Unidades da EMPARN no Rio Grande do Norte

Fonte: EMPARN (2016).

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5.4.2 A atuação do Sebrae-RN no contexto da agroindústria de mandioca

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte

(SEBRAE-RN) tem desempenhado um papel significativo no contexto da modernização das

casas de farinha. Assim, com o intuito de melhor compreender a agroindústria de mandioca

no Rio Grande do Norte, sua dinâmica, bem como as bases que ancoraram a produção

industrial atual, foi realizada uma entrevista com o Sr. Fernando José Medeiros de Melo33,

analista técnico e gestor do Projeto Mandiocultura Potiguar.

Segundo o entrevistado, a transição do modelo artesanal ao padrão industrial das

unidades de beneficiamento de mandioca no Rio Grande do Norte teve início através da

implantação do “APL da Mandioca” no município de Vera Cruz que esteve em

funcionamento durante quatro anos (2006-2009), o qual abrangeu vinte e duas unidades de

processamento, sendo que, desse total, foram obtidos resultados apenas em oito. Nesse

contexto, o trabalho desenvolvido de maior destaque compreendia a “modernização das casas

de farinha”.

Dessa maneira, visando a qualidade da produção e dos serviços, surgiu a ideia de

desenvolver um trabalho nas unidades tradicionais de processamento de mandioca que

atendesse a uma legislação. Entretanto, não existe uma portaria ou lei específica para as casas

de farinha, então, tomando como base o trabalho do SEBRAE-RN anteriormente realizado

com as panificadoras (que apresentavam problemas semelhantes às casas de farinha

relacionados à produção, processo, higiene e instalações), utilizou-se a portaria 326 da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que trata do processamento de

alimentos, envolvendo layout de máquinas, separação de setores, pé-direito34, forro,

iluminação, etc.

Assim, foi montada uma planta baixa de uma indústria de farinha, e posteriormente

apresentada à Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária do Rio Grande do Norte - SUVISA.

Dentro dos pré-requisitos analisados pelo órgão, na pessoa do engenheiro responsável pela

instalação de projetos, o modelo foi aprovado, mas com orientações para a realização de

algumas mudanças na planta, as quais foram atendidas pelo SEBRAE-RN e resultou na

33 Fernando José M. de Melo exerce o cargo de analista técnico no SEBRAE-RN desde o ano de 1994. O

referido analista possui graduação em Administração e curso técnico em Agropecuária. 34 Diz respeito à altura entre o piso e o forro de um compartimento ou pavimento.

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transformação de uma casa de farinha no Rio Grande do Norte, a Farinha dos Anjos,

localizada em Cobé, distrito do município de Vera Cruz.

A primeira mudança realizada foi a separação da “área suja” (raspagem) da “área de

processo” (lavagem da raiz, trituração, torragem da massa, classificação da farinha,

embalagem e expedição, que consiste no armazenamento), uma vez que nas unidades

tradicionais não existe tal divisão. Segundo o analista técnico, a Farinha dos Anjos serviu

como “espelho” para que outros proprietários de casas de farinha mostrassem interesse em

modernizar suas unidades. É preciso ressaltar que todo esse processo ocorreu no âmbito do

“APL da Mandioca” que, como anteriormente citado, teve duração de quatro anos.

Com o término das atividades do APL da Mandioca em Vera Cruz, e valendo-se do

êxito obtido na Farinha dos Anjos, seguiu-se, no ano de 2010, o desenvolvimento de um

projeto de maior abrangência, o Projeto Mandiocultura Potiguar, em continuidade ao trabalho

de modernização das casas de farinha, compreendendo a reforma e adequação técnica destas,

e inovando com o trabalho voltado também para a capacitação e gestão empresarial. O

referido projeto estendeu-se a todo Rio Grande do Norte, com área de atuação em municípios

do Leste e Agreste Potiguar, e na Microrregião da Serra de Santana35.

O Projeto Mandiocultura Potiguar teve como foco inicial a importância da higiene na

produção de farinha e a segurança alimentar. No que se refere à higiene pessoal, os

trabalhadores daquelas unidades de processamento passaram a usar vestimentas apropriadas,

além da utilização toucas, luvas, botas, etc., pois segundo o analista do SEBRAE-RN, “vez ou

outra era encontrado algo indesejável na farinha”, então a medida serviu para evitar situação

como essa. Em relação à higiene do processo, a medida que passou a ser adotada foi a limpeza

diária das máquinas e equipamentos, considerando que os resíduos deixados além de agregar

bactérias, poderiam adulterar o produto.

Desde a implantação do “APL da Mandioca”, a separação das etapas do processo de

produção já havia sido posta em prática. Com o Projeto da Mandiocultura Potiguar, essa

mudança foi mais incisiva nas unidades de beneficiamento de mandioca. Em meio a essas

35 O analista técnico Fernando José explicou que não ocorreram ações por parte do Projeto Mandiocultura

Potiguar no oeste do estado em virtude da produção de mandioca nessa região ser bastante tímida, logo, sem

condições de fornecer matéria-prima para as indústrias. A farinha produzida nas pequenas unidades tradicionais

é totalmente voltada para o autoconsumo e não para fins de comercialização. Assim, o trabalho desenvolvido

pelo SEBRAE-RN na Região Oeste ateve-se à gestão da produção no campo (custo de produção, melhorias de

produtividade por área plantada, etc.), além do associativismo, visando o fortalecimento da produção de

derivados nas casas de farinha existentes. Entretanto, a prática do associativismo não pode ser realizada, uma vez

que os proprietários se mostraram bastante resistentes e não aderiram a essa forma de trabalho.

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transformações, em algumas agroindústrias, por exemplo, a raspagem manual da mandioca

deixou de ser realizada no “chão”, para ser feita em compartimentos individuais (figura 23).

Nesse contexto de mudanças, é válido ressaltar que, no primeiro momento, os

proprietários das casas de farinha se mostraram receosos e resistentes à transformação de suas

unidades de beneficiamento, o que demandou do SEBRAE-RN o trabalho de elaborar e

apresentar todo o projeto arquitetônico de modernização das unidades. Com a adesão dos

proprietários, as unidades então começaram a ser reformadas.

Diante da maior inserção de máquinas e equipamentos movidos à eletricidade, houve a

necessidade de diminuição de mão de obra dentro da unidade de beneficiamento. O analista

técnico do SEBRAE-RN destacou que antes nas etapas de torragem, prensagem, classificação,

entre outras, trabalhavam de seis a oito pessoas em algumas casas de farinha, tendo esse

número diminuído para três pessoas. O beneficiamento mecanizado propiciou um maior

aumento da produção, otimizando e agilizando o processo. Todavia, há que considerar o lado

perverso desse conjunto de mudanças, uma vez que os trabalhadores foram excluídos do

processo, sendo substituídos assim, pelas máquinas.

Nesse âmbito, o SEBRAE-RN também realizou o trabalho de avaliação da produção

nas agroindústrias de mandioca, a partir da medição da capacidade produtiva dos

Figura 23 – Raspagem manual da mandioca em agroindústria no Agreste Potiguar

Fonte: Raquel Silva dos Anjos, 2016.

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equipamentos existentes, cujos resultados foram discutidos em relatório e posteriormente

apresentados aos proprietários das unidades de beneficiamento. Desse modo, a partir da

avaliação do referido órgão, os proprietários puderam aumentar a produção em suas

indústrias, uma vez que, se antes trabalhavam com 10 toneladas de raiz/dia, essa quantidade

poderia ser ampliada em até 15 toneladas de raiz/dia.

A assessoria no processo de gestão financeira e administrativa também foi trabalhada

pelo SEBRAE-RN nas unidades de beneficiamento. Atualmente, as agroindústrias possuem

escritório, sistema informatizado, emitem nota fiscal eletrônica; além de almoxarifado e

refeitório. Antes, a entrada de matéria-prima, o custo da produção, etc., eram todos anotados

manualmente (controle diário), o que não era um procedimento eficiente. A Farinha dos

Anjos, a Farinha São Pedro e a Farinha Quentinha, todas situadas na Região Agreste, são três

exemplos de unidades de beneficiamento de mandioca no Rio Grande do Norte que

experimentaram essas mudanças.

Entretanto, para alguns proprietários, era praticamente inviável a realização de

reformas em suas unidades de beneficiamento, devido ao alto custo gerado. Então, a solução

encontrada foi o financiamento via Banco do Nordeste e Banco do Brasil, através da linha de

crédito Pronaf - Mais Alimentos. De acordo com o analista do SEBRAE-RN, três unidades,

que já possuíam máquinas e outros equipamentos, foram financiadas com o valor em torno de

R$ 105 mil reais destinados à estrutura e instalação, no ano de 2010.

A partir de 2015, o SEBRAE-RN começa a desenvolver ações voltadas ao

licenciamento ambiental, em razão dos problemas ocasionados pelo descarte do resíduo

líquido (manipueira) da mandioca diretamente no solo, principalmente pelas unidades

tradicionais de beneficiamento. Em um caso extremo, a promotoria pública chegou a entrar

em ação com recursos contra uma unidade situada em Tenente Laurentino-RN, denunciada

por danificar o lençol freático, em razão da quantidade de manipueira descartada durante

muito tempo no solo; e como se tratava de um estabelecimento localizado na região

semiárida, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do

Norte (IDEMA-RN) também foi acionado.

Nesse contexto, a ideia da construção de reservatórios de captação de manipueira

(tanques) nas unidades de beneficiamento de mandioca já fazia parte da planta baixa

desenvolvida pelo SEBRAE-RN. A licença ambiental é autorizada pelo IDEMA-RN e, nesse

processo, as unidades de beneficiamento de mandioca credenciadas ao SEBRAE-RN,

conseguem subsídio de 50% do valor a ser pago pelo licenciamento.

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Em termos de Nordeste, o Rio Grande do Norte é pioneiro em fornecer licenciamento

ambiental voltado às unidades de processamento de mandioca. Segundo o analista, o

SEBRAE-RN deu entrada no projeto de licenciamento ambiental de trinta unidades de

beneficiamento de mandioca, sendo que desse total, três unidades obtiveram e estão

funcionando atualmente com a licença provisória (Farinha dos Anjos e Farinha Cobé, ambas

na zona rural de Vera Cruz, e a Farinha do Babá, localizada na zona rural de São José de

Mipibú), com duração de dois anos. Nesse interstício, os estabelecimentos devem se adequar

ao conjunto de exigências estabelecidas pela legislação vigente, para que, posteriormente,

consigam a licença ambiental definitiva36.

O SEBRAE-RN também fornece informações aos proprietários das agroindústrias de

farinha relacionadas à situação do mercado de mandioca no Brasil. Desse modo, em parceria

com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) que desenvolve o trabalho de

divulgação dos preços da mandioca e de seus derivados em nível nacional, realizado a cada

dois meses, o SEBRAE-RN detendo tais informações, repassa a “tomada de preços” às

unidades de beneficiamento. Além disso, dependendo da demanda que chega ao SEBRAE-

RN advinda dos proprietários das unidades de beneficiamento, seja nas áreas de inovação e

tecnologia, embalagem e criação de marketing, gestão ou informação nutricional, o referido

órgão pode disponibilizar profissionais de empresas credenciadas que atendam a tais

propósitos.

Além do trabalho de inovação tecnológica, gestão, capacitação, segurança alimentar

voltado às unidades de beneficiamento de mandioca, o SEBRAE-RN também atua com vistas

ao mercado, principalmente no que se refere à divulgação e inserção dos produtos nos

estabelecimentos comerciais. Sendo assim, a “Rede Nacional Comércio Brasil”, enquanto

produto do sistema SEBRAE criado no ano de 2005, busca, por meio da aproximação

comercial entre micro e pequenas empresas e novos canais de comercialização, “facilitar o

acesso, o relacionamento sustentável e o desenvolvimento das empresas atendidas”

(SEBRAE, 2016). Desse modo, os “agentes de mercado”, consultores do SEBRAE, são

responsáveis por apresentarem e oferecerem os produtos derivados da mandioca aos

supermercados, fazendo a ligação produtor-comprador. A negociação final dos preços é feita

através do empresário com o gerente de compras do estabelecimento comercial.

36 Nos três casos, o lavador de fumaça ainda não havia sido implantado, por isso, as unidades estavam

funcionando com a licença provisória. Mesmo com a licença definitiva, a cada dois anos, o IDEMA-RN realiza o

trabalho de inspeção nas unidades de processamento de mandioca.

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Com o intuito de promover cursos de capacitação voltados aos produtores de

mandioca, apresentando as melhores espécies a serem utilizadas na mandiocultura, com fins

de garantir maior produtividade, o SEBRAE-RN desenvolveu uma pesquisa de avaliação de

variedades de raiz junto à EMBRAPA. Ao todo, foram avaliadas duzentas espécies de

mandioca existentes no estado, fazendo a distinção entre “indústria” e “mesa”, e trazidas mais

vinte variedades da Bahia37, consideradas de “boa produtividade”, para que fossem analisadas

também. Destas, somente uma conseguiu adaptar-se às condições de cultivo no Rio Grande do

Norte, a qual compreendia uma espécie de mesa.

Atualmente, o Rio Grande do Norte é referência no Nordeste em unidades de

beneficiamento de mandioca, cuja tecnologia de produção é superior a Bahia, por exemplo. A

passagem da produção artesanal para a produção industrial foi concretizada com algumas

adaptações, considerando que o descascamento da mandioca ainda é expressivamente

realizado de forma manual, e o investimento para uma máquina que atenda essa finalidade

gira em torno de R$ 600,00 mil reais, fugindo da realidade das unidades de beneficiamento de

mandioca do Rio Grande do Norte.

De acordo com o entrevistado, trata-se de uma realidade preocupante, pois se o

Nordeste não tecnificar totalmente a produção, no âmbito das unidades de beneficiamento de

mandioca, vai continuar atrás do Sul e Sudeste do país. O estado do Paraná, por exemplo,

além de fornecer farinha e outros derivados aos grandes centros como Minas Gerais, São

Paulo e Rio de Janeiro, está encaminhando tais produtos, inclusive, para as empacotadeiras do

Nordeste. No ano de 2013, enquanto a saca de farinha de 50kg produzida no Rio Grande do

Norte estava custando de R$ 280,00 a 400,00 reais, a farinha do Paraná chegou ao estado no

valor de R$ 130,00 reais, no qual fatores como tecnologia empregada no plantio e cultivo da

mandioca, bem como na fabricação de derivados, explicam a alta produtividade associada aos

menores custos de produção.

Além disso, entende-se que a atuação do SEBRAE-RN não é de todo modo positiva,

como fora apresentada pelo analista técnico entrevistado. Isso porque o referido órgão está

ancorado na lógica de competitividade das empresas, aumento e otimização da produção, o

que tem gerado problemas, sobretudo, relacionados ao endividamento dos proprietários, seja

com a realização de empréstimos, aquisição de maquinários, etc., bem como o desemprego de

muitos trabalhadores, que passaram a ter suas antigas funções desempenhadas por máquinas

e/ou instrumentos movidos à eletricidade.

37 É interessante evidenciar que o estado da Bahia conta com o centro de pesquisas da EMBRAPA (Mandioca e

Fruticultura) localizado no município de Cruz das Almas.

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5.4.3 Participação das instituições de ensino e pesquisa e das instituições financeiras de

crédito

Os círculos de cooperação do circuito espacial de produção agroindustrial de

mandioca também são formados pelas instituições de ensino e pesquisa, como o Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), a Universidade

Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e a própria Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN). Atenta-se, dessa forma, para o desenvolvimento técnico-científico que se

consolida a partir da realização de pesquisas e estudos no âmbito das referidas instituições que

tratam, por exemplo, da sustentabilidade de agroecossistemas de mandioca (Silva; Cândido,

2014); do uso da água residuária da mandioca como fertilizante orgânico (Bezerra, 2014),

assim como a avaliação dos riscos causados por excesso de exposição à manipueira (Oliveira

et.al, 2013), entre outros. Entende-se que o fluxo de informações produzidas é importante

enquanto círculos de cooperação do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca

no Rio Grande do Norte.

Outra importante instituição, não de ensino e pesquisa, mas financeira que compõe os

círculos de cooperação no espaço é o Banco do Brasil S/A que, por intermédio do Instituto de

Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER-RN), é o

responsável pelo financiamento de projetos de custeio relacionados ao setor mandioqueiro,

através das linhas de crédito do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Dispondo de uma variedade de linhas de crédito, o Banco do Nordeste do Brasil S/A

revela-se também como um importante agente dos círculos de cooperação do circuito de

produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte. O segmento agroindustrial do

BNB conta com programas de financiamento específicos, dos quais pode-se citar o Programa

de Apoio ao Desenvolvimento da Agroindústria do Nordeste (FNE AGRIN), o Programa de

Financiamento para Comercialização, Beneficiamento ou Industrialização de Produtos de

Origem Agropecuária (FINAGRO), e o Programa de Financiamento às Microempresas e

Empresas de Pequeno Porte e ao Empreendedor Individual (FNE-MPE).

O Nordeste Territorial, enquanto estratégia de desenvolvimento regional do Banco do

Nordeste, também contribui para operacionalização do conjunto de linhas de crédito

existentes. Consiste no conjunto de ações articuladas que combinam crédito, capacitação,

assistência técnica, inovação tecnológica e políticas públicas das diferentes esferas

governamentais promovidas pelo BNB. Em 2011, foram contempladas cerca de 3 mil famílias

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por ações do Nordeste Territorial no Rio Grande do Norte, sendo destinado, em linhas de

crédito, um valor de R$ 5 milhões para o plantio de mandioca, beneficiamento, modernização

das casas de farinha e comercialização dos produtos, conforme revelou o agente do

desenvolvimento do Banco do Nordeste Osmar Amorim, quando da realização da reunião do

Fórum da Mandiocultura do Rio Grande do Norte38.

As reflexões anteriormente tecidas apontam a importância dos círculos de cooperação

do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte, os quais

a partir da atuação de empresas e diferentes instituições, estabelecem vários fluxos de

informações, mercadorias e capitais, e possibilitam, assim, a conexão das etapas produtivas do

referido circuito espacial produtivo.

38 O Fórum de Mandiocultura é coordenado pelo Banco do Nordeste, com o apoio de vários parceiros, entre eles

a EMATER, EMPARN, EMBRAPA, SEBRAE e CONAB (ARAÚJO; ARRUDA JÚNIOR, 2013).

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6 Considerações Finais

Diante do que foi apresentado, depreende-se que o circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca tem se reestruturado no espaço geográfico potiguar, imbricando

um processo amplo de reestruturação produtiva e reestruturação do território, contribuindo,

assim, de forma significativa nas dinâmicas territoriais do estado do Rio Grande do Norte,

embora envolva um conjunto de relações e particularidades presentes em todas as etapas da

produção.

Isso se explica especialmente porque, embora possua uma importância significativa na

formação territorial do Brasil e do Rio Grande do Norte, sobretudo enquanto economia de

subsistência ou de autoconsumo, a mandiocultura não se constituiu numa atividade tão

valorizada no contexto da modernização agrícola, em comparação com outras como a

sojicultora, a fruticultura irrigada e a produção de grãos em geral, por exemplo. Tampouco é

interessante para a agroindústria de grande porte, até porque o mercado capitalista de larga

escala ainda não a considera uma cultura promissora na geração de lucros, especialmente

porque é trabalhosa, em suas diferentes etapas de produção, beneficiamento e distribuição, do

mesmo modo que ainda não dispõe de consumo também em larga escala.

A produção in natura ou de derivados, como a farinha e a goma que serve de matéria-

prima para fazer tapioca e outras iguarias, é destinada para atender principalmente o mercado

interno, e quando a atenção é voltada para a realidade do Rio Grande do Norte, o cenário

torna-se bem mais estreito, em virtude do recente processo de transformação das tradicionais

casas de farinha em agroindústrias, onde é realizado o beneficiamento da mandioca. Além

disso, a farinha e a goma que é fabricada nas unidades tradicionais de beneficiamento de

mandioca têm sua comercialização restrita ao mercado local, especialmente em mercadinhos e

feiras livres, uma vez que não conseguem inserir-se nas esferas do consumo monopolizadas

pelas grandes redes de supermercados, por exemplo, salvaguardando algumas exceções.

No caso da goma que se constitui como um subproduto da mandioca que serve à

culinária regional como matéria-prima para a geração da iguaria conhecida como tapioca,

observa-se a forte relação desta com o consumo verificado no cotidiano da população local e

regional, mas também no contexto da atividade turística, pois em geral a tapioca faz parte do

cardápio do setor de alimentos e bebidas vinculado ao turismo, portanto, faz parte do menu de

alimentos da maioria dos hotéis, restaurantes e lanchonetes do estado e da região Nordeste.

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Em segundo lugar, considerando a importância da produção agroindustrial de

mandioca no território potiguar, reconhece-se que há diferenciações não somente em relação à

presença da técnica e/ou de objetos técnicos, mas também no que se refere à própria

produtividade do setor mandioqueiro. Nesse aspecto, embora haja uma quantidade

significativa de casas de farinha na Serra de Santana, e algumas em funcionamento no oeste

do estado, o Agreste Potiguar concentra as unidades de processamento de mandioca mais

modernas do Rio Grande do Norte.

Reforça-se, ainda, que o uso da técnica impõe alguns limites, considerando que nas

unidades de processamento industrial de mandioca o emprego de sistemas técnicos que

garantem a eficiência do processo produtivo é visivelmente maior, favorecendo a produção

em escala, e consequentemente, a maximização do lucro, pautada no emprego cada vez menor

de mão de obra. Em contrapartida, nas unidades de processamento artesanal, além do

emprego recorrente de mão de obra familiar, a utilização de técnicas rudimentares é bastante

presente face à presença pontual de técnicas modernas de produção e processamento; o tempo

demandado para a realização da produção é maior, assim como os custos gerados, o que torna

a produção dispendiosa para os proprietários desses estabelecimentos.

No que se refere aos pequenos produtores de mandioca no estado do Rio Grande do

Norte, a maioria não tem conseguido obter financiamentos, seja em razão de endividamentos

oriundos de empréstimos anteriores, ou por falta de informação sobre linhas de créditos

específicas para este segmento, ou por temer a burocracia do sistema financeiro atual. Além

disso, a assistência técnica e apoio público direcionado à produção de mandioca no estado são

incipientes e ineficientes. Ademais, se reconhece que as técnicas e/ou tecnologias empregadas

no campo estão condicionadas ao poder aquisitivo do agricultor e às disponibilidades de

assistência técnica pública ou de assistência privada onerosa no ambiente de produção. Essa

situação é reveladora do processo desigual de modernização da agricultura brasileira, uma vez

que parcela expressiva dos recursos advindos das políticas de financiamento e voltados ao

custeio das atividades agropecuárias é acessada por produtores mais capitalizados.

Vale ressaltar ainda, que os efeitos climáticos, calcados na escassez de chuvas no

estado do Rio Grande do Norte e as instabilidades nos preços da mandioca no mercado trazem

transtornos e instabilidades à produção desta raiz, pois não há nenhum instrumento ou

mecanismo que assegure os preços e favoreça maiores avanços nesse circuito produtivo.

Em relação aos círculos de cooperação, essenciais na análise da circularidade da

produção, entende-se que o Serviço de Apoio às Pequenas e Grandes Empresas do Rio

Grande do Norte (SEBRAE-RN) é o principal órgão responsável por prestar assistência

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técnica para o funcionamento de muitas agroindústrias de farinha, sobretudo de caráter

familiar, desempenhando assim, um papel relevante nesse sentido.

As instituições financeiras de crédito, representadas, sobretudo, pelo Banco do

Nordeste do Brasil e Banco do Brasil também constituem importantes agentes dos círculos de

cooperação do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca, embora a pesquisa

tenha revelado a pouca aderência dos proprietários das unidades de processamento de

mandioca à realização de empréstimos ou participação nas linhas de crédito do Pronaf. Os

gastos para a reforma dos estabelecimentos, bem como para a aquisição de novos maquinários

foram realizados mormente com recursos próprios.

Ademais, atenta-se para a ausência e/ou ineficácia de políticas públicas destinadas à

agricultura familiar, especialmente para o universo de produtores vinculados a este circuito de

produção, bem como se observa um contexto de fragilidades e limites nas ações que poderiam

fomentar o fortalecimento e a própria dinamização do circuito espacial de produção

agroindustrial de mandioca no Rio Grande do Norte. Em geral, o Estado brasileiro tem

negligenciado ações no contexto desse circuito produtivo, sendo muitas vezes omisso quando

se trata da cultura de mandioca e do seu beneficiamento e comercialização, corroborando com

o cenário de fragilidades e desigualdades neste circuito produtivo, a exemplo do que se

observa nas relações que envolvem o processo agroindustrial do produto.

Entende-se que as reflexões tecidas em torno da temática deste trabalho, não encerram

as possibilidades de pesquisa e tampouco interpretam e desvendam todas as dinâmicas

provenientes do circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no estado do Rio

Grande do Norte, abrindo espaços de reflexão para aqueles que tenham interesse em

aprofundar as discussões em torno da circularidade da produção e da cultura de mandioca em

suas distintas nuances, de forma que problematize e instigue os poderes públicos e o Estado a

serem mais atuantes e eficazes em suas ações para com o setor.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Geografia

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia

Título do trabalho: “O circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do

Norte”

Discente de mestrado: Raquel Silva dos Anjos

Professor orientador: Fransualdo Azevedo

Entrevista direcionada aos proprietários de unidades de processamento e beneficiamento de

mandioca

Nome fantasia:

Nome do entrevistado / razão social:

Município:

Endereço:

Casa de farinha

Agroindústria de farinha

Outro

Em atividade desde:

Origem familiar:

Sim

Não

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Número total de empregados:

Remuneração:

Cursos de capacitação?

Existe algum processo para seleção de trabalhadores nessa unidade de beneficiamento? Se sim, como

é definido?

A unidade de beneficiamento de mandioca leva em consideração as leis trabalhistas e o uso de

equipamentos de segurança? Se sim, como?

Há fiscalização por parte do Ministério do Trabalho?

A unidade de produção passou por transformações nos últimos anos no que se refere ao processo de

beneficiamento de mandioca? Se sim, como se deram tais transformações? Se não, por quê?

Qual a procedência do conjunto de máquinas e equipamentos presentes na unidade de beneficiamento

de mandioca?

Foi realizada consultoria especializada com algum órgão, como o Sebrae-RN? Se sim, qual?

Houve fornecimento de crédito para a atividade? Se sim, como e qual linha de crédito?

Houve algum tipo de apoio do poder público para fortalecimento da unidade? Se sim, qual e como?

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Qual a procedência da mandioca que é beneficiada na unidade? Se a mandioca vem de outro

município ou até mesmo de outro estado, há variação no preço?

Qual o valor pago pela mandioca?

Há variação no preço da matéria-prima no decorrer do ano?

Há algum controle ou exigência de qualidade da raiz? Se sim, qual e como?

Quais são os produtos que a unidade fabrica, além da farinha de mandioca?

Qual o custo da produção em média?

Qual a quantidade produzida em derivados anualmente?

Para onde os produtos são destinados ou vendidos?

A unidade de beneficiamento de mandioca mantém parceria com alguma rede de supermercados,

restaurantes ou até mesmo hotéis? Se sim, como são definidos os custos?

A atividade turística teve relevância para o fortalecimento da “cadeia produtiva” considerando que a

tapioca faz parte do cardápio do setor de alimentos e bebidas vinculado ao turismo?

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Qual o meio utilizado para transportar os produtos? Os veículos são próprios?

Há presença de atravessadores?

Qual a forma de comercialização dos produtos?

Como é definido o preço dos derivados da unidade?

A unidade de beneficiamento possui parceria com alguma rede de supermercado?

Para onde é destinado o resíduo da mandioca na unidade? Existe algum tratamento ou controle do

descarte?

A unidade possui licença ambiental?

Quais são as principais dificuldades enfrentadas para manter a unidade em funcionamento?

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APÊNDICE B

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Geografia

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia

Título do trabalho: “O circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do

Norte”

Discente de mestrado: Raquel Silva dos Anjos

Professor orientador: Fransualdo Azevedo

Entrevista direcionada aos produtores de mandioca

Nome:

Município:

Endereço:

É proprietário ou possui outra situação na terra? Se sim, qual?

Qual o tamanho da propriedade (he) onde é cultivada a mandioca?

Qual a quantidade de mandioca produzida (he) em média?

Qual a quantidade colhida de mandioca por hectare em sua propriedade?

Qual(is) o(s) tipo(s) de mandioca cultivada(s) em sua propriedade?

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O cultivo da mandioca dura quanto tempo e qual o período mais propício?

Utiliza algum insumo agrícola ou máquina(s) no cultivo da mandioca?

Qual o destino da mandioca produzida? (município, estado / unidades de beneficiamento, feiras,

supermercados etc., estes últimos, mais específicos da macaxeira)

Qual e como é definido o preço da mandioca?

Há variação no preço de venda da mandioca no decorrer do ano?

Se a mandioca é vendida em outro município ou até mesmo em outro estado, há variação no preço?

Recebeu algum tipo de assistência técnica voltada à produção ou apoio do poder público? Se sim,

como?

Quais as principais dificuldades enfrentadas no cultivo da mandioca?

Produz outra cultura além da mandioca na mesma propriedade? Se sim, qual(is)?

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APÊNDICE C

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Geografia

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia

Título do trabalho: “O circuito espacial de produção agroindustrial de mandioca no Rio Grande do

Norte”

Discente de mestrado: Raquel Silva dos Anjos

Professor orientador: Fransualdo Azevedo

Entrevista direcionada aos trabalhadores das unidades de processamento e beneficiamento de

mandioca

Nome:

Idade:

Escolaridade / Formação:

Município:

Endereço:

Casa de farinha

Agroindústria de farinha

Outro

Trabalhando na unidade desde:

Como surgiu a oportunidade de trabalho nesta unidade de beneficiamento de mandioca?

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Qual a sua função na unidade de processamento e beneficiamento de mandioca?

Quantos dias da semana trabalha e quantas horas por dia?

Como você considera as condições de trabalho na unidade de beneficiamento?

Boas

Razoáveis

Ruins

*Se respondeu “boas condições de trabalho”, por quê?

Utiliza algum equipamento de proteção ou vestimenta diferenciada para exercer seu trabalho na

unidade de beneficiamento?

Sua remuneração é por produtividade ou recebe salário fixo? Possui vínculo empregatício?

Possui outra fonte de renda?

Participou de algum curso de capacitação ou algum treinamento voltado ao processamento e

beneficiamento de mandioca?

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APÊNDICE D

Farinha e Goma: produtos derivados das unidades de beneficiamento de mandioca no Rio

Grande do Norte.

Registro: Raquel Silva dos Anjos (2016).

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APÊNDICE E

Veículos utilizados no transporte dos derivados da mandioca para os estabelecimentos

comerciais.

Registro: Raquel Silva dos Anjos (2016).