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1 O Comportamento Socioambiental Empresarial no APL de Confecções do Agreste Pernambucano: Análise Comparada entre a Rota do Mar, a Lavanderia Mamute e a Kikorum Jeans Wear. Autoria: Claudinete de Fátima Silva Oliveira Santos, Carla Regina Pasa Gómez Resumo As demandas, expectativas e pressões dos atores sociais, por um desenvolvimento local mais sustentável e sustentado, fazem com que empresas que atuem em Arranjos Produtivos Locais (APLs) adotem um comportamento mais social e ambientalmente responsável com maior transparência em sua gestão. Para isso, as empresas convergem os conceitos oriundos do desenvolvimento sustentável para a Responsabilidade Socioambiental Empresarial (RSAE) e avalia suas práticas por meio de instrumentos de gestão, baseados em indicadores socioambientais. O objetivo desse trabalho é analisar o comportamento socioambiental das empresas Rota do Mar, Lavanderia Mamute e Kikorum Jeans Wear, conforme o modelo de Santos (2009). Para tanto, o referencial teórico faz uma discussão sobre a Responsabilidade e o Comportamento Socioambiental Empresarial (CSAE), além de apresentar o modelo de Santos (2009) voltado ao Comportamento Socioambiental Empresarial na dinâmica produtiva e inovativa de Arranjos Produtivos Locais. Esse estudo de múltiplos casos tem abordagem qualitativa de caráter exploratório e descritivo, e foram realizadas três entrevistas semi- estruturadas, com aplicação de questionário com perguntas fechadas, levantamento bibliográfico e documental, e observação direta não-participante. Fez-se breve caracterização das empresas pesquisadas e a análise das categorias, a seguir, teve por base as respostas dos questionários e os conteúdos das entrevistas: Valores, Transparência e Governança Territorial; Público Interno; Meio Ambiente; Fornecedores; Clientes e Consumidores; Comunidade; e Governo e Sociedade. Os resultados encontrados na maioria das empresas estudadas foram: preocupação com o cumprimento da legislação vigente, disseminação incipiente dos valores organizacionais para stakeholders externos, gestão participativa dos funcionários, boas relações com sindicatos e associações de classe, soluções corretivas de “fim-de-tubo” para impactos sociais e ambientais em suas atividades, práticas de mercado e relações contratuais com fornecedores, políticas de comunicação voltadas para os resultados financeiros, ações sociais direcionadas a filantropia nas comunidades do entorno, e participação incipiente das empresas com relação à cidadania e vida política local. Dessa forma, a Kikorum Jeans Wear apresenta Comportamento Socioambiental Reativo para os temas socioambientais analisados, e a Rota do Mar e a Lavanderia Mamute demonstram Comportamento Socioambiental Defensivo. Conclui-se, que o Comportamento Socioambiental do Grupo Pesquisado é Reativo, demonstrando desequilíbrio entre as dimensões da RSAE devido à ênfase da atuação empresarial estar nos temas: Valores, Transparência e Governança Territorial, e Público Interno.

O Comportamento Socioambiental Empresarial no APL de ... · Social Empresarial (CSE) seja articulado sobre: uma definição básica de RSE ou da sua natureza, seus temas e variáveis

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O Comportamento Socioambiental Empresarial no APL de Confecções do Agreste Pernambucano: Análise Comparada entre a Rota do Mar, a Lavanderia Mamute e a

Kikorum Jeans Wear.

Autoria: Claudinete de Fátima Silva Oliveira Santos, Carla Regina Pasa Gómez

Resumo As demandas, expectativas e pressões dos atores sociais, por um desenvolvimento local mais sustentável e sustentado, fazem com que empresas que atuem em Arranjos Produtivos Locais (APLs) adotem um comportamento mais social e ambientalmente responsável com maior transparência em sua gestão. Para isso, as empresas convergem os conceitos oriundos do desenvolvimento sustentável para a Responsabilidade Socioambiental Empresarial (RSAE) e avalia suas práticas por meio de instrumentos de gestão, baseados em indicadores socioambientais. O objetivo desse trabalho é analisar o comportamento socioambiental das empresas Rota do Mar, Lavanderia Mamute e Kikorum Jeans Wear, conforme o modelo de Santos (2009). Para tanto, o referencial teórico faz uma discussão sobre a Responsabilidade e o Comportamento Socioambiental Empresarial (CSAE), além de apresentar o modelo de Santos (2009) voltado ao Comportamento Socioambiental Empresarial na dinâmica produtiva e inovativa de Arranjos Produtivos Locais. Esse estudo de múltiplos casos tem abordagem qualitativa de caráter exploratório e descritivo, e foram realizadas três entrevistas semi-estruturadas, com aplicação de questionário com perguntas fechadas, levantamento bibliográfico e documental, e observação direta não-participante. Fez-se breve caracterização das empresas pesquisadas e a análise das categorias, a seguir, teve por base as respostas dos questionários e os conteúdos das entrevistas: Valores, Transparência e Governança Territorial; Público Interno; Meio Ambiente; Fornecedores; Clientes e Consumidores; Comunidade; e Governo e Sociedade. Os resultados encontrados na maioria das empresas estudadas foram: preocupação com o cumprimento da legislação vigente, disseminação incipiente dos valores organizacionais para stakeholders externos, gestão participativa dos funcionários, boas relações com sindicatos e associações de classe, soluções corretivas de “fim-de-tubo” para impactos sociais e ambientais em suas atividades, práticas de mercado e relações contratuais com fornecedores, políticas de comunicação voltadas para os resultados financeiros, ações sociais direcionadas a filantropia nas comunidades do entorno, e participação incipiente das empresas com relação à cidadania e vida política local. Dessa forma, a Kikorum Jeans Wear apresenta Comportamento Socioambiental Reativo para os temas socioambientais analisados, e a Rota do Mar e a Lavanderia Mamute demonstram Comportamento Socioambiental Defensivo. Conclui-se, que o Comportamento Socioambiental do Grupo Pesquisado é Reativo, demonstrando desequilíbrio entre as dimensões da RSAE devido à ênfase da atuação empresarial estar nos temas: Valores, Transparência e Governança Territorial, e Público Interno.

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1. Introdução

As demandas socioeconômicas, políticas e ambientais dos atores sociais, interessados por um desenvolvimento mais sustentável e sustentado nas localidades e pelas atividades empresariais, fazem com que as empresas sejam pressionadas a um comportamento mais responsável diante de políticas públicas de regulação, e da exigência de novos mercados exigentes e do comportamento do consumidor.

Isso posto, as empresas lotadas em Arranjos Produtivos Locais percebendo sua importância nos processos sociais tendem a buscar um comportamento mais responsável se utilizando da Responsabilidade Socioambiental Empresarial como estratégia organizacional voltada ao desenvolvimento local.

APLs são uma concentração de empresas que interagem em um mesmo setor ou cadeia produtiva, num determinado espaço geográfico, buscando um ambiente favorável à inovação e à geração de externalidades positivas de âmbito produtivo-tecnológico e competitivo, em conjunto com outros atores institucionais de coordenação e suporte (MYTELKA e FARINELLI, 2000).

Dentre as estratégias brasileiras de desenvolvimento, o APL de Confecções do Agreste Pernambucano é considerado o segundo maior polo de confecções do país, contando com 12 mil estabelecimentos e 90 mil empregos diretos (MDIC, 2008). Este APL é responsável por 15% da produção de peças consumidas no país e pelo consumo de 270 mil toneladas de tecido por ano, gerando um faturamento de 2,8 bilhões por ano ou 10% do Produto Interno Bruto de Pernambuco em 2008 (ITEP, 2008).

Dentre as empresas pertencentes ao APL de Confecções do Agreste, destaca-se a atuação da Rota do Mar, da Lavanderia Mamute e da Kikorum Jeans Wear. A Rota do Mar atua no comércio de confecções no segmento sport wear, a Lavanderia Mamute no beneficiamento de tecidos, em especial o jeans, e a Kikorum Jeans Wear que beneficia tecidos, fabrica artigos em confecção e comercializa seus produtos e de terceiros.

O comportamento dessas empresas reflete, conforme a orientação de Nascimento et al. (2008), a gestão socioambiental praticada ao longo de seus processos e atividades empresariais, e de suas relações com seus atores sociais, denominados de stakeholders. Seu comportamento pode ser avaliado através do instrumento de gestão baseado em indicadores socioambientais para empresas atuantes em APLs proposto por Santos (2009).

Dessa forma, o objetivo desse estudo é analisar o comportamento socioambiental das empresas Rota do Mar, Lavanderia Mamute e Kikorum Jeans Wear, conforme o modelo de Santos (2009). Para tanto, o referencial teórico aborda a Responsabilidade e o Comportamento Socioambiental Empresarial, e o modelo de Santos (2009) voltado ao CSAE em Arranjos Produtivos Locais.

2. Referencial Teórico

2.1 Responsabilidade Socioambiental Empresarial

No debate acerca da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) não se tem consenso de requisitos necessários e suficientes para que a organização seja considerada socialmente responsável. Uma das definições mais utilizadas é a do Instituto Ethos (2009, n.p.) que afirma ser a RSE

A forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

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Devido às necessidades teóricas atuais e aos debates acadêmicos, como o proposto por Lemos et al. (2005) sobre a percepção dos consumidores sobre a Responsabilidade Socioambiental Empresarial, e à indissociabilidade das dimensões social e ambiental de acordo com Foladori (2005) e Canepa (2007), faz-se necessária a ampliação do termo Responsabilidade Social Empresarial para Responsabilidade Socioambiental Empresarial1, conforme a orientação de Nascimento et al. (2008). Nascimento et al. (2008) definem a RSAE como o conjunto de ações socioambientais desenvolvidas por uma determinada empresa, visando identificar e minimizar os possíveis impactos negativos resultantes dessas ações, bem como, desenvolver outras que favoreçam os negócios e a construção de uma imagem institucional positiva. Essa concepção interliga os aspectos e impactos econômicos, sociais e ambientais das suas atividades organizacionais, relacionando-os ao Desenvolvimento Local Sustentável (DLS). O esforço empresarial em APLs voltado à convergência da RSAE com o DLS torna possível a formação do conceito de empresa sustentável de Marrewijk (2003), que consiste na incorporação dos conceitos do Desenvolvimento Local Sustentável em seus objetivos, políticas e práticas, utilizando suas responsabilidades social, ambiental e econômica. Segundo Barbieri e Cajazeira (2009), essas responsabilidades se equivalem às dimensões da sustentabilidade, que foram incorporadas paulatinamente a sua gestão. A partir disso, compreende-se que a RSAE não se limita a ações filantrópicas praticadas pela empresa, vai além, desenvolve estratégias socioambientais que alinham esses aspectos beneficiando seus públicos interno e externo. Para tanto, precisa ter um padrão ético e de transparência organizacional com sua cadeia de relações, formada por seus membros e suas inter-relações, a partir de valores e identidades compartilhados, rumo à sustentabilidade a partir de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento da sociedade e do meio ambiente (NASCIMENTO et al., 2008).

2.2 Comportamento Socioambiental Empresarial O interesse pelo comportamento das empresas frente às questões sociais e ambientais vem aumentado nos últimos anos no Brasil e no mundo. Foi a partir dos anos de 1970 que os estudos do tema avaliação de desempenho social se intensificaram e um de seus expoentes foi Carroll (1979). Em seu modelo tridimensional da RSE, ele propõe que o Comportamento Social Empresarial (CSE) seja articulado sobre: uma definição básica de RSE ou da sua natureza, seus temas e variáveis relacionados às questões sociais, e a responsividade social (WOOD, 1991; PASA, 2004). Isso posto, faz-se necessário o estudo de variáveis como: a) a correspondência do interesse social corporativo e das necessidades da área social a ser ajudada; b) a gravidade dessas necessidades sociais; o interesse dos altos executivos; c) a percepção da ação social nas relações públicas; e d) a pressão governamental. Dessa forma, o CSE é um continuum da responsividade social que ocorre por meio de mecanismos, procedimentos e padrões comportamentais. E a forma que a empresa irá utilizá-los a dotará de uma maior ou menor capacidade de resposta às pressões sociais (CARROLL, 1979, 1991; WOOD, 1991). Wood (1991) analisou em seu framework a performance social empresarial sob três níveis: institucional, organizacional e individual. O primeiro nível adota o princípio da legitimidade institucional no qual o negócio é uma instituição social, devendo usar o seu poder de forma responsável; o nível organizacional tem por base o princípio da externalidade no qual as empresas são responsáveis pelos problemas diretos e indiretos que provocam, minimizando seus impactos negativos. E finalmente, o nível individual apóia-se na discricionariedade gerencial em que a moral dos gestores influencia em suas decisões relacionadas ações sociais.

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Swanson (1995) propôs uma reorientação do modelo de Wood (1991) em seus níveis de análise, descartando a possibilidade de que o comportamento social está sob princípios hierárquicos e sugere o seu alinhamento por meio de princípios interativos, processos e resultados. Tal reorientação é voltada a institucionalização do bem-estar social através de macroprincípios organizacionais, balizados pelo uso do poder executivo legítimo ou não, levando em consideração a cultura corporativa com seus processos normativos, políticas organizacionais e programas sociais, assim como, os impactos sociais oriundos das atividades e ações organizacionais. Whetten et al. (2002, p.374) definiu o Comportamento Social Empresarial como:

O comportamento em relação às questões sociais (pode ser usado em referência a respostas, conseqüências e impactos de respostas, ou a todo o conjunto de entradas, processos e saídas resultantes em impactos sociais do comportamento corporativo); uma avaliação pelos stakeholders do grau de aceitabilidade das respostas sociais de uma companhia.

Uma vez que a empresa tenha práticas de RSAE, o seu comportamento não se restringe tão somente a busca pela sustentabilidade social em suas atividades e processos organizacionais. Por isso, faz-se necessária a ampliação da definição de CSE, proposta por Whetten et al. (2002), para que também contemple a dimensão ambiental, já que essas dimensões são indissociáveis. Dessa forma, entende-se que o Comportamento Socioambiental Empresarial (CSAE) está voltado à análise do comportamento corporativo numa avaliação social e ambientalmente responsável do negócio através de suas políticas, programas e resultados socioambientais. Os programas sociais baseados em uma gestão socialmente responsável necessitam de instrumentos de gestão que ajudem na operacionalização das demandas dos stakeholders empresariais e tornem suas práticas mais regulares e homogêneas. Os instrumentos de gestão podem ser aplicados na organização como um todo ou em suas partes, podendo ser direcionados na efetivação: a) das avaliações de impactos econômicos, sociais e ambientais; b) dos códigos de ética; c) das auditorias internas; d) dos métodos de verificação e medição de não-conformidades; e e) da criação de indicadores de padrão de relatórios sobre CSAE (BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009). Como exemplo de instrumento de gestão voltado a indicadores de CSAE, tem-se a ferramenta de avaliação proposta por Santos (2009) para análise do CSAE em Arranjos Produtivos Locais (CSAE-APLs), a seguir.

2.2.1 Comportamento Socioambiental Empresarial em Arranjos Produtivos Locais

O modelo de CSAE para a dinâmica produtiva e inovativa de APLs proposto por Santos (2009) mostra às empresas e aos seus stakeholders, a partir dos níveis de comportamento socioambiental os pontos que precisam ser melhorados no atendimento das demandas sociais. Seus sete temas, subtemas e indicadores de profundidade são apresentados na tabela 01.

O primeiro tema “Valores, Transparência e Governança Territorial” contempla os seguintes aspectos nos seus indicadores: mensuração dos valores norteadores de ações empresariais; seu enraizamento na cultura organizacional e sua disseminação no APL; percepção da estrutura de governança do APL; impactos socioambientais sobre os distintos grupos sociais; relações de concorrência interna e externa ao APL; elaboração de relatórios sobre aspectos sociais, ambientais e econômicos de atividades produtivas empresariais (SANTOS, 2009). O segundo tema “Público Interno” trata de: envolvimento dos empregados na gestão empresarial e sua participação em sindicatos e associações de classe; relacionamento da empresa com seus representantes; compromisso com o combate ao trabalho infantil, ao

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trabalho forçado (escravo); valorização da diversidade humana e cultural; políticas de remuneração, benefícios e carreira; cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho; e compromisso com o desenvolvimento e a empregabilidade (SANTOS, 2009).

Valores, Transparência e Governança Territorial Público interno Auto-regulação da conduta • Compromissos Éticos; • Enraizamento na Cultura Organizacional; • Governança Organizacional; Relações transparentes com a sociedade • Diálogo e Engajamento dos Stakeholders; • Relações de Concorrência Interna no APL; • Relações de Concorrência Externa ao APL; • Balanço Social;

Fornecedores Seleção, Avaliação e Parceria com Fornecedores • Critérios de Seleção e Avaliação dos Fornecedores; • Trabalho Infantil na Cadeia Produtiva; • Trabalho Forçado (escravo) na Cadeia Produtiva; • Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores;

Diálogo e Participação • Gestão Participativa nas Empresas do APL; • Relações com Sindicatos e Associações de Classe; Respeito ao Indivíduo • Compromisso com o Futuro das Crianças; • Valorização da Diversidade; Trabalho Decente nas Empresas do APL • Política de Remuneração, Benefícios e Carreira; • Cuidados com Saúde, Segurança e Condições de Trabalho; • Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade;

Clientes e Consumidores Comunidade

Dimensão Social do Consumo • Políticas de Comunicação Comercial; • Políticas de Comunicação na Construção de Relações entre Atores; • Gerenciamento de Danos Potenciais dos Produtos e Serviços e de Excelência no Atendimento;

Relações com a Comunidade Local • Gerenciamento do Impacto Empresarial na Comunidade; • Relações com Organizações Locais; Ação Social • Financiamento da Ação Social; • Envolvimento com a Ação Social;

Meio Ambiente Governo e Sociedade

Responsabilidade com as Gerações Futuras • Compromisso com a Melhoria da Qualidade Ambiental; • Educação e Conscientização Ambiental; Gerenciamento do Impacto Ambiental • Gerenciamento dos Impactos sobre o Meio Ambiente e do Ciclo de Vida de Produtos e Serviços; • Minimização de Entradas e Saídas de Materiais;

Transparência Política • Contribuições para Campanhas Políticas; • Práticas Anticorrupção e Antipropina; Liderança Social • Liderança e Influência Social; • Interações Sociais entre Atores; • Participação em Projetos Sociais Governamentais; • Apoio à Consolidação do Conceito e das Práticas de Responsabilidade Social.

Tabela 01: Indicadores do Comportamento Socioambiental Empresarial para APLs. Fonte: SANTOS (2009, p.11).

O tema “Meio Ambiente” avalia em seu conjunto de indicadores questões relacionadas: ao compromisso com a melhoria da qualidade ambiental direcionada aos impactos resultantes das atividades produtivas empresariais; à educação e à conscientização ambiental da população e do cultivo de valores socioambientais na empresa; e ao gerenciamento do impacto ambiental por meio da otimização dos processos, produtos e negócios empresariais em APLs a partir da prevenção e redução de danos ambientais (SANTOS, 2009). Segundo Santos (2009) o quarto tema “Fornecedores” preocupa-se com: a regulação das políticas de seleção e avaliação de fornecedores; as relações entre empresa e a cadeia produtiva de APLs; o combate ao trabalho infantil e forçado (escravo) nessa cadeia; e com o desenvolvimento de fornecedores e parceiros de igual ou menor porte. Por se fundamentar na dimensão social do consumo, o quinto tema “Clientes e Consumidores” está direcionado: à política de comunicação comercial e de construção das relações entre stakeholders; ao gerenciamento de danos potenciais de produtos e serviços; e à excelência no atendimento.

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O sexto tema “Comunidade” versa sobre: o gerenciamento do impacto da empresa e suas relações com a comunidade e com organizações locais; e a estrutura organizacional, investimentos e mobilização dos recursos humanos da empresa, envolvidos com trabalho voluntário em ação social (SANTOS, 2009). O último tema “Governo e Sociedade” procura interpretar o comportamento da empresa em APLs quanto: à sua participação e financiamento de partidos e campanhas políticas no seu território; às práticas no seu relacionamento com autoridades e agentes do poder público; ao exercício da cidadania empresarial por meio de parcerias, associações e fóruns de cooperação em APLs; ao seu entendimento sobre as interações sociais entre atores locais; à sua participação em projetos sociais governamentais; e ao seu apoio à consolidação das práticas de RSE (SANTOS, 2009).

O modelo de Santos (2009) possui uma ferramenta gráfica de avaliação, ilustrada na figura 01, que tem por base quatro perfis de comportamento socioambiental, inscritos numa régua de intervalos. O perfil Reativo ou Básico, com intervalo na régua de 0-2,5 e cor de esfera amarelo-claro, representa o nível comportamental da empresa atuante no APL ainda reativo às exigências legais e pressão das suas partes interessadas. O perfil Defensivo ou Intermediário, com intervalo entre 2,5-5,0 na cor amarelo-escuro, classifica a postura empresarial como defensiva, todavia começa a caminhar para mudanças e avanços nas suas práticas socioambientais.

O Estratégico ou Avançado (intervalo 5,0-7,5 na cor ouro), a empresa busca ir além da conformidade legal, preparando-se para novas pressões dos interessados, entendendo como estratégias a RSAE e o Desenvolvimento Local Sustentável. O Proativo, com intervalo 7,5-10 e esfera laranja, a empresa congrega as características dos outros três níveis, na busca pela excelência de suas práticas, a partir do engajamento dos stakeholders e de sua influência em políticas públicas (SANTOS, 2009).

Figura 01: Matriz de Níveis de CSAE-APLs.

Fonte: SANTOS (2009, p.12).

O framework de Santos (2009) possui 300 pontos em cada tema socioambiental, equivalentes a nota média 10, distribuídos entre seu conjunto de indicadores. Se o tema Meio Ambiente possui quatro indicadores, então cada indicador vale 75 pontos, que serão proporcionais aos quatro estágios de pergunta: o Estágio de Pergunta 1 vale 18,75 pontos, o Estágio 2 vale 37,50, o Estágio 3 vale 56,25 pontos, e o Estágio 4 vale 75 pontos. O somatório dos pontos de cada estágio no conjunto de indicadores de um tema forma sua nota média. Caso o Meio Ambiente tenha 191,10 pontos, então por regra de três sua nota média é 6,37, estando o mesmo no nível Estratégico ou Avançado. Os resultados dos temas

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são inscritos na régua de notas através da representação gráfica de uma estrela sobre o heptágono, conforme a figura 01 (SANTOS, 2009). O maior número de posicionamentos temáticos dentro da mesma esfera representará o perfil do CSAE-APLs, e em caso de empate, a posição do tema Valores, Transparência e Governança Territorial define o comportamento. Essa avaliação pode ser aplicada em uma única empresa ou num grupo de empresas atuantes em APLs. Ainda, permite o acompanhamento sistemático da evolução do comportamento organizacional, auxiliando no seu planejamento socioambiental, pois fornece parâmetros que podem ser estudados comparativamente em períodos determinados (SANTOS, 2009).

3. Procedimentos Metodológicos Por se preocupar com a compreensão do Comportamento Socioambiental das empresas Rota do Mar, Lavanderia Mamute e Kikorum Jeans Wear, esse estudo de múltiplos casos qualitativo possui tipologia de investigação exploratória e descritiva na identificação das características relacionadas à RSAE, e pesquisa bibliográfica, documental e de campo (MERRIAM, 1998; LIMA, 2004; YIN, 2005).

Os instrumentos para coleta de dados usados foram: levantamento bibliográfico e documental, aplicação de questionário com perguntas fechadas, entrevista semi-estruturada e a observação direta não-participante (PATTON, 2002; OLIVEIRA, 2005; YIN, 2005). O questionário teve como categorias de análise: Valores, Transparência e Governança Territorial; Público Interno; Meio Ambiente; Fornecedores; Clientes e Consumidores; Comunidade; e Governo e Sociedade.

A seleção dessas categorias baseou-se nos sete temas socioambientais do modelo de Santos (2009), discutido no referencial teórico desse trabalho. Essas categorias de análise serviram para o roteiro semi-estruturado das entrevistas, realizadas nas cidades de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, com os gestores das três empresas e para garantir a confidencialidade dos entrevistados,usou-se três pseudônimos “Gestor RM”, “Gestor LM” e “Gestor KJW” durante a análise dos dados. A análise dos dados foi realizada pelo cruzamento dos achados: no levantamento bibliográfico e documental (inclusive material iconográfico) (GODOY, 1995), nas respostas do questionário, no conteúdo transcrito das entrevistas (BARDIN, 1979) e nos registros das observações. A seguir, serão apresentados os principais achados da pesquisa por meio das categorias selecionadas.

4. Análise de Resultados Para uma melhor compreensão da análise comparativa, a tabela 02 traz um resumo das características gerais das empresas pesquisadas.

Rota do Mar Lavanderia Mamute Kikorum Jeans Wear

Município Santa Cruz do Capibaribe Toritama Caruaru

Fundação 1996 1989 1986

Ramo de Atividade Indústria e Comércio Beneficiamento Beneficiamento,

Indústria e Comércio Porte Pequena Empresa Pequena Empresa Pequena Empresa

Empregados 258 93 90 Produção Mensal * 120.000 peças 14.000 peças

Faturamento em 2008 (reais) * < 1.200.000,00 < 1.200.000,00 * Os dados não foram divulgados pela empresa.

Tabela 02: Características Gerais das Empresas Pesquisadas. Fonte: A autora.

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4.1 Valores, Transparência e Governança Territorial Mesmo as empresas estando conscientes da importância do diálogo e engajamento com os stakeholders, apenas a Rota do Mar demonstrou uma preocupação com a regulação de sua conduta nas relações com seus stakeholders, afirmando que seus valores organizacionais empresariais estão documentados, divulgados e incorporados às atitudes e aos comportamentos dos indivíduos, estando explicitados em áreas comuns da empresa e em seu manual de conduta interno.

Essa preocupação em divulgar os valores organizacionais para os stakeholders foi apresentada de maneira informal pela Lavanderia Mamute, sendo transmitidos aos empregados internamente. Já na Kikorum Jeans foi evidenciada a ausência dessa divulgação. Apesar de não terem sido divulgados a pesquisa, a Lavanderia Mamute e a Rota do Mar afirmaram elaborar com regularidade definida relatório com seus impactos sociais e ambientais. As empresas pesquisadas regem suas relações trabalhistas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com destaque para a atuação da Lavanderia Mamute que mobilizou com outros atores a formação da convenção trabalhista para as lavanderias locais, conforme o depoimento do Gestor LM:

Nós tínhamos aqui apenas a [convenção trabalhista das empresas] de confecção e nos regíamos por ela. Isso foi uma luta da associação [ACIT2] junto com o sindicato [SINDVEST-PE] e disso tivemos uma parceria boa. [...] E através dessa relação construímos nossa convenção [convenção trabalhista das lavanderias] [...] e na convenção, colocamos algumas garantias a mais no que se refere a horas adicionais, a transporte, a alimentação, a cuidados em relação à saúde do trabalhador, a folgas para cuidados de pessoas idosas ou de crianças. [...] Algumas garantias a mais que a CLT.

Quanto a política comercial interna e externa ao APL de Confecções do Agreste, as empresas afirmaram seguir práticas de preço e concorrência comuns ao mercado, preocupando-se tão somente com o cumprimento da legislação vigente. Dessa forma, a Rota do Mar e a Lavanderia Mamute obtiveram nessa categoria as médias respectivas no somatório de suas respostas ao questionário 3,57 e 2,86, estando ambos no nível defensivo no modelo de Santos (2009), e a Kikorum Jeans, obtive a média 2,50 correspondendo ao nível reativo.

4.2 Público Interno

As empresas pesquisadas afirmam disponibilizar informações internas e treinamento aos empregados. Percebeu-se que a Rota do Mar e a Lavanderia Mamute possuem uma gestão mais participativa através das críticas e sugestões de seus funcionários.

Para isso, a Rota do Mar utiliza como um dos seus meios de comunicação o seu Jornal Informativo, inclusive para valorizar os funcionários que passaram no vestibular, e a Lavanderia Mamute está desenvolvendo o seu projeto de jornal interno a partir do recrutamento de estagiários de centros universitários localizados em cidades como Caruaru. A Kikorum Jeans preocupa-se busca eventuais participações dos funcionários por meio de sugestões, quando o “[...] negócio está meio ruim [...]” como depõe o Gestor KJW. Quanto a ação de sindicatos e associações de classe nas empresas, a Kikorum Jeans procura não exercer pressão sobre os empregados que estejam envolvidos em atividades sindicais ou associativistas. Já a Rota do Mar e a Lavanderia Mamute permitem a atuação dessas instituições no local de trabalho, fornecem informações sobre suas condições, e se reúnem periodicamente para ouvir suas sugestões e negociar reivindicações. As empresas ratificam seu compromisso com o desenvolvimento profissional de seus empregados, mantendo atividades sistemáticas de capacitação e aperfeiçoamento contínuo de todos, considerando a aplicabilidade funcional. A Rota do Mar e a Lavanderia Mamute

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promovem ajuda de custo para cursos de graduação para os funcionários, como reforçam os Gestores RM e LM:

Nós já tivemos uma escolinha aqui que alfabetizou vários colaboradores [...] Inclusive não tem nenhum analfabeto aqui na empresa [...] Na faculdade tem algumas pessoas com ajuda de 100%, e na maioria é de 20% a ajuda de custo que a empresa dá. E fora cursos, treinamento [...] Esse valor que eu citei aí é em faculdade (GESTOR RM).

[...] Todo funcionário nosso que pretende fazer graduação, recebe uma bolsa da empresa de 50%. Hoje temos três funcionários nossos recebendo bolsa. Aqueles que já graduaram ou querem fazer ou pós-graduação, a gente também entra com a metade. Aqueles que se formam em contabilidade, e já tivemos três casos aqui, querendo fazer exame da ordem do CIQ [Controle Interno de Qualidade], também custeamos a metade. [...] Em alfabetização, o nosso trabalho é mais esporádico, porque a gente tem dificuldades em encontrar parceiros pra fazer essa alfabetização. Já encontramos por duas vezes, nas duas vezes também alfabetizamos pessoas da nossa empresa (GESTOR LM).

As três empresas buscam cumprir rigorosamente as obrigações legais, com planos e metas para o alcance de padrões de excelência em saúde, segurança e condições de trabalho. Nesse sentido, a Lavanderia Mamute é a única que afirmou usar norma específica em parte de seu processo produtivo, como a NR 13 direcionada à gestão de caldeiras e vasos de pressão, e evidenciou o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), ilustrado na figura 02. Quanto a isso, a Rota do Mar informou ter uma Comissão Interna de prevenção de Acidentes que cuida do uso de EPIs em seus processos produtivos.

Figura 02: Uso de Equipamentos de Proteção Individual na Lavanderia Mamute.

Fonte: http://www.youtube.com/watch_popup?v=-GDX5NSnuaA.

Mesmo não tendo políticas formais, as empresas declararam ser contra comportamentos discriminatórios no seu ambiente interno e respeitam a legislação vigente que proíbe o trabalho infantil para menores de 16 anos e o trabalho forçado (escravo). Dessa forma, o comportamento em relação ao público interno da Rota do Mar e da Lavanderia Mamute apresentam-se defensivos com médias do somatório de respostas do questionário aplicado 5,00 e 4,64, respectivamente. A Kikorum Jeans Wear apresentou diante de suas respostas o comportamento reativo nessa categoria com média 2,50.

4.3 Meio Ambiente A Rota do Mar e a Lavanderia Mamute afirmam cumprir rigorosamente com a legislação ambiental brasileira, desenvolvendo programas internos de melhoramento ambiental. Para isso conscientização e desenvolvem ações de educação ambiental como treinamento de empregados. Foi inquirido ao Gestor KJW se a empresa realiza algum tipo de ação voltada ao meio ambiente e sua resposta foi categórica: “Não! Ação nenhuma! A gente faz de acordo com o que exigem da gente [...] Por exemplo, o CPRH exige o tratamento de resíduos e efluentes, daí a gente pega e faz”.

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Os Gestores LM e KJW afirmam produzir estudos sobre seus impactos ambientais, segundo a exigência da legislação com foco em ações preventivas nos processos que oferecem dano potencial à saúde e risco à segurança dos trabalhadores. A Rota do Mar e a Kikorum Jeans fazem a minimização de suas entradas e saídas no processo produtivo através da redução do consumo de energia, água, produtos químicos tóxicos e matérias-primas, sem alterar contudo o seu atual padrão tecnológico, implantando processos adequados à destinação de resíduos. Para isso, a Rota do Mar utiliza coleta seletiva e a Kikorum Jeans possui projeto de sua implantação nas novas instalações fabris no Distrito Industrial de Caruaru. A Lavanderia Mamute possui um sistema de reciclagem de efluentes que visa a reutilização de 50% da água em seus processos produtivos. Além disso, o Gestor LM mencionou na entrevista o uso de energias renováveis, como o aquecimento solar, e a substituição da lenha, considerada o combustível das lavanderias, por outro tipo de combustível, e para sua viabilização, acredita-se na possibilidade de utilização de crédito de carbono. Assim, a Lavanderia Mamute apresenta um comportamento defensivo quanto a categoria meio ambiente com somatório de respostas compondo a média 3,75, e a Rota do Mar e a Kikorum Jeans possuem comportamento reativo nessa categoria de análise, ambas com média igual a 1,88.

4.4 Fornecedores As empresas pesquisadas selecionam fornecedores e parceiros com base em fatores tradicionais e de mercado, como qualidade, preço e prazo. Suas negociações possuem transparência e estabelecem relações contratuais com base em critérios comerciais. Foi perguntado ao Gestor RM se na seleção de fornecedores os critérios de RSAE são levados em consideração. E sua resposta foi:

[...] Como nós temos fornecedores de todo o Brasil, fica difícil a gente ter esse controle, mas quando vai ser feito o contrato, sempre é citado esses itens [responsabilidade social e ambiental], mas o controle mesmo, a gente não tem porque é difícil [...]

No entanto, a Lavanderia Mamute afirma contribuir com a melhoria gerencial dos fornecedores, mantendo com eles relações comerciais duradouras e utiliza critérios de negociação que considerem seu crescimento futuro, assim como a melhoria ambiental em seus processos produtivos. Isso é visto no depoimento do seu Gestor:

[...] Nos últimos anos eu tenho tido uma posição mais proativa com os fornecedores. Eu tenho bons fornecedores com parcerias assim, duradouras. Tem fornecedores que estão há mais de oito anos comigo. Eu não gosto muito de “pular” de fornecedores. [...] Isso cria o vínculo. E eu consegui isso como? [...] Eu cheguei para os fornecedores e disse: “Olha, nós estamos com um trabalho de melhoria e otimização de nossa política ambiental. Eu quero que você me sugira, procure se tem com o seu fabricante, produtos que sejam menos agressivos ao meio ambiente”. [...] E nós conseguimos, assim, resultados muito bons. Inclusive até resultados financeiros, que é uma coisa interessante. [...] Nós conseguimos substituir produtos que são extremamente nocivos ao meio ambiente por produtos similares, com efeitos similares, que não são tão agressivos, alguns deles são até biodegradáveis e os preços, se não ficaram iguais, alguns ficaram até mais barato.

Na Lavanderia Mamute os fornecedores são chamados a participarem de forma filantrópica e esporádica em ações sociais promovidas a partir de contribuições financeiras, como o auxílio a entidades religiosas participantes da comunidade do entorno. De certa forma, o entrevistado entende que isso serve também como uma forma de avaliação dos fornecedores, de como se portam em relação ao social.

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Ainda, as empresas trazem a preocupação com o combate ao trabalho infantil e forçado (escravo) na cadeia produtiva do APL de Confecções do Agreste, estimulando aos fornecedores ao cumprimento da legislação vigente. Assim, a Rota do Mar e a Kikorum Jeans apresentaram um comportamento junto aos seus fornecedores reativo, com médias respectivas 2,50 e 1,25. A Lavanderia Mamute com média 3,13 tem um comportamento defensivo frente aos fornecedores.

4.5 Clientes e Consumidores A política de comunicação comercial da Rota do Mar e da Kikorum Jeans segue rigorosamente a legislação de defesa do consumidor, focalizando suas estratégias de comunicação nos objetivos relacionados ao volume de vendas e aos resultados financeiros. A Lavanderia Mamute vai além, afirma ter consciência de seu papel na formação de valores, de padrões de consumo e de comportamento da sociedade, com procedimentos específicos que contribuam para o desenvolvimento sustentável. Apenas a Rota do Mar realiza pesquisa de satisfação dos clientes como mencionado no depoimento do Gestor RM:

[...] do mesmo jeito que a gente faz pesquisa de clima aqui com os colaboradores, tem nas lojas, de satisfação, de sugestão. E também, ela é recolhida pelo supervisor, analisada [...] o diretor vê todas. E, às vezes, acontece até de fazer alguma mudança devido a alguma solicitação [...]

As empresas não possuem Serviço de Atendimento ao Cliente ou Ouvidoria Permanente, constando em seus materiais promocionais (catálogos, panfletos) informações como o telefone empresarial para contato. Ainda, não há comunicação de quaisquer projetos sociais em seu material promocional ou em seu website, a Rota do Mar possui um selo que divulga a questão da RSE e do seu site, como ilustrado na figura 03.

Figura 03 Selos de Responsabilidade Social da Rota do Mar.

Fonte: Dados de pesquisa.

Dessa forma, o comportamento da Lavanderia Mamute é defensivo para o tema clientes e consumidores, com média 3,33, e o da Rota do Mar e da Kikorum Jeans é reativo, com médias respectivas, 2,50 e 1,67.

4.6 Comunidade A Rota do Mar e a Lavanderia Mamute procuram tomar medidas corretivas em resposta as reclamações da comunidade. As relações dessas empresas com organizações locais estão ligadas as suas ações sociais e na parceria com outros atores como informa o Gestor RM:

Foi implantado um projeto de corte e costura na creche Casa da Criança. Tem um local lá que guarda toda a matéria-prima, inclusive máquinas [...] para as mães das crianças da creche terem a oportunidade de saber costurar, de aprender [...] E outras também da sociedade [comunidade local] [...] E tem uma célula de núcleo digital, nessa mesma creche onde a população pode aprender [...] Que inclusive nós estamos com o projeto da biblioteca com o SESI [Serviço Social da Indústria]. Ele vai montar a biblioteca e nós vamos escolher o local aonde vai [...] Toda a população de Santa Cruz [do Capibaribe], vai poder ter acesso a internet, a livros, a várias atividades [...] A Rota do Mar cedeu o terreno e o SESI vai fazer a construção da

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biblioteca. E vai ter de ter uma pessoa sempre lá organizando que também vai ser da empresa [...]

O comportamento da Rota do Mar quanto à comunidade é defensivo com média 5,00, e o comportamento nessa categoria da Lavanderia Mamute e da Kikorum Jeans é reativo com médias respectivas, 2,50 e 0,63.

4.7 Governo e Sociedade Com relação as suas contribuições a campanhas políticas, a Lavanderia Mamute quando contribui para campanhas político-partidárias faz dentro da legislação estabelecida, procurando evitar situações de favorecimento a agentes do poder público. Isso procura ser feito também com relação às práticas Anticorrupção e Antipropina, mas não tem procedimentos formais nem divulgados de controle e punição. A Kikorum Jeans afirma não tratar desse assunto em sua política empresarial. Foi inquirido ao Gestor LM se a empresa incentiva o exercício da cidadania dos empregados, a partir de discussões sobre partidos e candidatos ao poder local, o que foi respondido afirmativamente. Ainda, questionou-se sobre a participação dos empregados e da própria empresa na gestão participativa nos conselhos municipais, fiscalização e orçamento participativo. E o mesmo respondeu que:

[...] Eu não só incentivo, como participo [...] Eu participo dos conselhos de pais, da criança e do adolescente. [...] E pra incentivar a política é que em todo pleito, a gente costuma trazer os candidatos para apresentarem as suas propostas. Inclusive, eu até anteriormente faço uma previa e instigo os funcionários: “Olha, você não está precisando de melhor atendimento na saúde, aproveite [...] É o momento! [...] Você não está com problema na questão de transporte? Essa é a hora!” [...] E eles tem feito isso [...]

Foi questionado aos entrevistados o que seria a RSE, se estratégia de gestão, se filantropia, marketing, o mesmo responderam:

[...] Bom, Responsabilidade Social pra mim é onde você tem que ter um projeto onde você faça e acompanhe. [...] Eu já não concordo muito com essa parte de filantropia, que na verdade a Rota do Mar faz muito. A questão da Responsabilidade Social que a gente mais acompanha é o que a gente falou pra você da creche, mas filantropia a gente tem muita. Mas pra mim a responsabilidade social é aquilo que você vai, faz todo mês [...] Acompanha, vê os resultados, tem um retorno. A sociedade ta realmente interagindo com um objetivo (GESTOR RM).

[...] Eu acho que é um pouquinho da cada item desse que você falou [estratégia de gestão, filantropia, marketing social] [...] Tanto é filantropia, porque está fazendo, ajudando a um [...] É um marketing também que você tem dentro da empresa [...] É um pouco de cada um, desses item que você falou (GESTOR KJW).

[...] Eu sei que é um pouco de cada coisa. Eu penso assim [...] Porque quando você começa a ter ação social e fazer essas ações, não vai deixar de ter algumas pessoas que vão dizer: “Não, estão fazendo isso só por marketing!” [...] Não deixa de ser marketing, sabe?! Mas eu acho que não haveria nenhum problema em ser marketing por isso. Não deixa de ser filantropia, não deixa de ser também um desencargo de consciência, não deixa de ser também um desejo de fazer [...] (GESTOR LM).

E o Gestor LM levanta uma questão dual da RSE: [...] Então, eu acho que é necessário ajudar as pessoas. É importante que as empresas ajudem [...] É uma coisa que eu aprendi, e eu levo isso sempre [...] A empresa precisa ser uma coisa lucrativa para que possa ter as responsabilidades sociais, fiscais ambientais e etc. [...] A empresa que dá prejuízo, é um desastre para a sociedade, em todos os sentidos [...] Então, isso [refere-se à busca exacerbada pelo lucro] a princípio vai de encontro ao que a gente aprende na faculdade, mas infelizmente é isso. É o capital mesmo, é o lucro mesmo que move a humanidade. [...] Agora, depois

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de certo tempo, e também com a nossa consciência, com os nossos conceitos religiosos, a gente começa a ter necessidade de ter interferência nas famílias dos nossos funcionários, fica preocupado como é a moradia, como é o lar, como é o relacionamento. Então eu acho que isso é importante [...]

Para contribuir com a consolidação dos conceitos e práticas de RSE, a Lavanderia Mamute participa de eventos e atividades esporádicas e financia projetos que apoiem o seu desenvolvimento. Como a compra de lanches para todos os empregados na campanha Mc Dia Feliz da rede de fastfood Mcdonalds na unidade de Caruaru, campeã em vendas na ocasião da campanha em Pernambuco, e a conscientização dos empregados quanto à importância do Hospital do Câncer Infantil do Agreste e da participação de todos em suas campanhas. A Rota do Mar se ausentou de quaisquer respostas nessa categoria na aplicação do questionário, não atingindo nenhum resultado no tema Governo e Sociedade, ficando sem média, portanto, não apresentando comportamento socioambiental nesse tema. O Gestor RM esclareceu que a empresa não faz quaisquer incentivos aos funcionários nesse tema e à divulgação de suas opiniões políticas internamente. Finalmente, o comportamento da Lavanderia Mamute nessa categoria é defensivo, com média 3,75, e da Kikorum Jeans é reativo, com média 1,25.

4.8 Comportamento Socioambiental Empresarial Uma vez que o tema Governo e Sociedade não foi tratado pela Rota do Mar, ficando nulo na análise dos resultados da pesquisa, ocorreu um empate entre níveis comportamentais, no qual três temas foram reativos (Meio Ambiente, Fornecedores, e Clientes e Consumidores) e os outros três, defensivos (Valores, Transparência e Governança Territorial, Público Interno e Comunidade), conforme a tabela 03. Conforme a ferramenta de análise proposta nesse trabalho, o tema que serve como critério de desempate é o Valores, Transparência e Governança Territorial. Assim, o Comportamento Socioambiental da Rota do Mar apresentou-se Defensivo em sua atuação no APL de Confecções do Agreste Pernambucano.

Rota do Mar Lavanderia Mamute

Kikorum Jeans Wear

CSAE-APL DEFENSIVO DEFENSIVO REATIVO Valores, Transparência e Governança Territorial

Defensivo 3,57

Defensivo 2,86

Reativo 2,50

Público Interno Defensivo 5,00

Defensivo 4,64

Reativo 2,50

Meio Ambiente Reativo 1,88

Defensivo 3,75

Reativo 1,88

Fornecedores Reativo 2,50

Defensivo 3,13

Reativo 1,25

Clientes e Consumidores Reativo 2,50

Defensivo 3,33

Reativo 1,67

Comunidade Defensivo 5,00

Reativo 2,50

Reativo 0,63

Governo e Sociedade Reativo -

Defensivo 3,75

Reativo 1,25

Tabela 03: Análise dos Comportamentos Socioambientais Empresariais. Fonte: A autora.

Embora a empresa apresente comportamentos reativos em três temas, dois deles, Fornecedores e Clientes e Consumidores, estão no limiar entre os níveis reativo e defensivo, apontando uma possível mudança de conceitos e práticas adotados nesses temas. É perceptível a preocupação empresarial com o Público Interno e com a Comunidade Local, que também

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estão no limiar entre os níveis defensivo e estratégico. Em contrapartida, as informações obtidas não revelam grande preocupação da empresa com temas como o Meio Ambiente e o Governo e Sociedade. A partir das sete categorias de análise, a Lavanderia Mamute mostra um Comportamento Socioambiental Defensivo frente ao APL de Confecções do Agreste Pernambucano. O comportamento defensivo empresarial nos temas analisados foi predominante, no entanto apenas na categoria Comunidade este comportamento apresentou-se de forma reativa. Observou-se a tendência de possível mudança do nível reativo para o defensivo, uma vez que a média empresarial 2,5 está no limiar desses dois níveis e pelo entendimento do entrevistado, de que poderia ser feito um trabalho mais eficaz voltado à comunidade do entorno. O tema Público Interno na empresa caminha para a direção estratégica. Os demais temas estão em processo de consolidação de seus níveis comportamentais. As informações obtidas revelam certo nivelamento da Lavanderia Mamute em relação aos seus temas socioambientais e sua atual preocupação está com os temas Público Interno, Meio Ambiente e Governo e Sociedade. O Comportamento Socioambiental da Kikorum Jeans em sua atuação no APL de Confecções do Agreste é Reativo em todas as categorias analisadas nesse trabalho. Os temas Valores, Transparência e Governança Territorial e Público Interno são os que estão melhor posicionados, pois estão no limiar entre os níveis reativo e defensivo. Não obstante, o tema Comunidade é o que a empresa demonstra menos preocupação socioambiental, uma vez que possui média 0,63.

5. Considerações Finais

A partir da análise das sete categorias, o grupo de empresas pesquisado apresenta um Comportamento Socioambiental Reativo frente a sua atuação no APL de Confecções do Agreste Pernambucano, como ilustrado na figura 04.

Figura 04: CSAE do Grupo de Empresas Pesquisado.

Fonte: Baseado em SANTOS (2009).

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O grupo pesquisado apresentou a predominância do comportamento reativo nos temas socioambientais: Meio Ambiente, Fornecedores, Clientes, Comunidade, e Governo e Sociedade. Merece destaque o comportamento defensivo do grupo em relação aos temas Valores, Transparência e Governança Territorial, e Público Interno.

Observou-se que a Lavanderia Mamute demonstrou certo nivelamento ou equilíbrio diante da maioria dos temas socioambientais da Lavanderia Mamute, mostrando mesmo que indiretamente a integração ou alinhamento das práticas de Responsabilidade Socioambiental Empresarial e de suas atividades e estratégias do negócio, num esforço empresarial de convergência entre suas práticas de RSAE e os conceitos de Desenvolvimento Sustentável, para o alcance da sustentabilidade organizacional conforme Marrewijk (2003) e Barbieri e Cajazeira (2009). A Rota do Mar demonstrou que os temas socioambientais ainda estão sendo desenvolvidos e que os considerados defensivos estão mais alinhados as necessidades dos seus stakeholders público interno e comunidade, já que a maioria dos seus funcionários pertencem a comunidade do seu entorno e indiretamente são atingidos por suas ações socioambientais. Por fim, a Kikorum Jeans Wear não traz a variável socioambiental alinhada com seus produtos, processos e negócio, entendo de forma incipiente sua importância na gestão, preocupando-se apenas com o cumprimento da legislação vigente. Esse trabalho teve como objetivo analisar o comportamento socioambiental das empresas Rota do Mar, Lavanderia Mamute e Kikorum Jeans Wear, conforme o modelo de Santos (2009), usando pesquisa bibliográfica e documental, aplicação de questionário com perguntas fechadas, entrevistas semi-estruturadas e observação direta. Sua limitação se deu pelo custo de deslocamento do pesquisador e pelo tempo de permanência nas cidades onde foram realizadas a pesquisa. Sugere-se como pesquisas futuras a continuação do estudo da Responsabilidade Socioambiental em outras empresas lotadas no APL de Confecções do Agreste Pernambucano.

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Notas

1 Respeitando os entendimentos dos autores referenciados nesse trabalho, e entendendo a indissociabilidade das dimensões social e ambiental, optou-se por assumir o termo Responsabilidade Socioambiental Empresarial, sendo este para efeito dessa pesquisa uma ampliação da Responsabilidade Social Empresarial. 2 Associação de Comerciantes Industriais de Toritama/PE.