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Emiliano Cunha Fernando Biffignandi Tauana Jeffman O Conhecimento Comum: introdução à sociologia compreensiva Michel Maffesoli

O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

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Emiliano Cunha

Fernando Biffignandi

Tauana Jeffman

O Conhecimento Comum:introdução à sociologia compreensiva

Michel Maffesoli

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Michel Maffesoli

É sociólogo, professor na Sorbonne – Paris V

e diretor do Centro de Estudos do Atual e do Cotidiano (CEAQ).

Para Silva (apud MAFFESOLI, 2010), Maffesoli é “o mais importante e original

teórico da pós-modernidade no mundo. O conhecimento comum é certamente o

seu melhor livro”.

Durand (2010, p. 57) argumenta que a "sociologia passará a ser a 'figurativa'

(Tacussel), fundamentando-se num 'conhecimento comum' (Maffesoli) onde

sujeito e objeto formam um só no ato de conhecer e no qual o estatuto simbólico

da imagem constituiu paradigma".

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O Fascínio positivista

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Crítica ao positivismo sociológico (Durkheim, Marx, Comte,

Freud) - “[...] tudo é submetido à razão.”

Argumentos reducionistas. “[...] a força dos conceitos supera a

contradição.” A lógica do “dever-ser” que caracteriza a atitude

conceitual.

“[...] a importância da contradição para a sociologia”.

O Fascínio positivista

O Positivismo em seu ambiente:

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“[...] o processo de redução é sempre utilitarista.” “[...] É

efetivamente mais fácil servir-se de um pensamento assentado

num só valor do que um outro que jogue com múltiplos

matizes...”.

Funcionalismo monovalente X Pluralidade funcional (“...uma

pluralidade que encontra seu sentido e seu fim em si mesma,

que não se projeta em hipóteses porvires promissores, na

realização de utópicas sociedades perfeitas ou outros paraísos,

profanos ou religiosos.”)

O Fascínio positivista

Elogio ao pluralismo:

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Equilíbrio conflitual/Descontinuidades

sociais/Heterogeneidade/Alteridade. “[...] as relações e os papéis

sociais […] só adquirem sentido pelas relações que entre si

estabelecem.”

James Hillman: a dicotomia que, progressivamente, se

estabeleceu entre a linguagem científica e o próprio objeto de

sua descrição. “[...] é importante que a sociologia saiba dar conta

do atual e do acontecimento; e saiba também mostrar como os

gestos, a deambulação, o fato culinário, a errância sexual e a

paixão amorosa, a indumentária, a cosmética etc. constituem

seu campo específico.”

O Fascínio positivista

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Sociologia qualitativa deve preservar a singularidade dos

atos e das situações. “[...] é urgente que o discurso sobre o social

saiba escutar, com atenção redobrada, o discurso do

social, ainda que este possa vir a chocar, por sua incoerência[...]”

O Fascínio positivista

O instante obscuro:

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A obsessão pelo rigor, a paranóia, o vazio do pensamento.

Adorno: “todo pensamento, que não se venha a tornar um

pensamento vão, traz a marca de uma impossibilidade de vir a

legitimar-se completamente.”

Sociologia compreensiva - “Transcendência imanente”, que

brota do próprio corpo social. “[...] não possuímos a verdade,

mas estamos por dentro de uma certa verdade.”

O Fascínio positivista

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A experiência do relativismo

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“[...] o imperialismo da teoria tropeça diante da incoerência ou,

pelo menos, do aspecto acidentado da experiência social.”

“[...] o que realmente importa não é a elaboração de uma

verdade acachapante – mas a articulação de verdades locais (em

todos os sentidos do termo), permitindo que nos situemos no

presente.”

“As histórias humanas nos mostram à saciedade que não

chegamos nunca a unificar, a uniformizar, a reduzir a diferença.”

PLURIALIDADE (das razões). “[...] compreender nossas

sociedades pela via de uma multiplicidade de razões.”

A experiência do relativismo

A pluralidade das razões:

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Termo de Nicolau de Cusa. Defesa do aspecto

popular, diferenciado, plural, das representações religiosas.

“[...] O Universal é contradito pela existência de uma

multiplicidade de singularidades[...]”.

“[...] O sociólogo, que negligencie o jogo da diferença e da

alteridade operantes na existência, será talvez diretamente na

prática da gestão social – mas perderá, por isto, toda capacidade

de compreender a organização complexa das pessoas e das

coisas.”

A experiência do relativismo

A “douta ignorância” :

Page 12: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Ser/estar-junto-com X Deveria ser;

Espírito da douta ignorância: traduz o espírito do politeísmo que

se recusa a tudo determinar com rigidez na efervescência da vida

social -, espírito do trágico que não se arroga o direito de reduzir

as aporias estruturais do dado mundano.

A experiência do relativismo

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A função ideológica

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• Socialidade.

• A ideologia como conservatório do querer-viver social.

“[...] É curioso notar que, querendo ater-se apenas ao

desenvolvimento econômico, a sociologia, em seus componentes

marxistas ou funcionalistas, minimizou ou memso esvaziou a

ordem das representações.”

A função ideológica

O mundo representado:

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A função social da ideologia. “[...] Para a sociologia, a

ideologia serve para indicar que uma compreensão social deve

utilizar simultaneamente todas as abordagens possíveis [...]”

“Sociologia-camaleão”;

O fôlego social varia de acordo com as ambiências de uma

época.

A função ideológica

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“[...] a ação humana, enquanto viver e enquanto fazer, acha-se

embasada em histórias, em discursos que sempre (se) antecipam

à justificação científica.”. Pulsão/paixão.

As representações como responsáveis pela estruturação do

desenvolvimento coletivo e individual. “[...] o conjunto das

representações e suas combinações constituem motores sociais

por excelência.”

A função ideológica

Ideologia e socialidade:

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Cenestesia social faz com que os conjuntos sociais perdurem.

“[...] a ideologia participa do ato fundador de uma sociedade e

logo segue sua marcha – mas é a vida, em seu desenvolvimento,

que sempre toma e mantém a dianteira.”

“[...] só há inteligência em conexão com seu emprego em âmbito

coletivo.”

A função ideológica

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Caminhando para um “formismo” sociológico

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O termo formalismo é mal interpretado ao sugerir

ambigüidade como designação de atitude abstrata. O autor

propõe o uso de “formismo”;

Reflexão nietzscheana: a profundidade costuma ocultar-se

na superfície das coisas e das pessoas: “ É a forma que permite

que haja o ser em vez de nada. Sem dúvida, é o fenômeno um

limite – mas é um limite que condiciona a existência” ( p. 108);

Caminhando para um “formismo” sociológico

A preeminência do todo:

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A consistência individual é produto de conjunto, e não o

contrário: “É a forma do todo que determina a das partes”

(DURKEIN, p. 112);

A tradição cultural é formada pelas implicações estéticas,éticas, econômicas, políticas e gnoseológicas = pedra de toqueda superação humana;

“Intelectualidade orgânica” (p. 113). “A atitude “formista”respeita a existência, das representações populares e dasminúsculas criações que pontuam a vida de todos os dias,incorporando-se assim ao discurso polifônico que, a seu própriorespeito, uma sociedade produz”;

Caminhando para um “formismo” sociológico

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A invariância “formista” é obtida por meio damultiplicidade das modulações;

O arquétipo e estereótipo participam da mesma dinâmica.(Gilbert Durand);

O formalismo conceitual da sentido a tudo o que observa eo “formismo” delineia as grandes configurações que englobam,sem reduzir seus valores plurais e as vezes antagônicos da vidacorrente;

Caminhando para um “formismo” sociológico

A invariância “formista”:

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A ciência, elimina e amputa o que julga não essencial, o“formismo”, propõe uma cientificidade generosa, que podeintegrar à pesquisa parâmetros tradicionalmente posto de lado;

Enquanto o conceito possui função de exclusão, a formaagrega;

O “formismo” reconduz o eterno problema do Universal edo Particular. Toda “ideologia” de uma dada época deve fazerencarar esse problema; e, no que nos diz respeito, a sociologianão poderia fazer disto uma abstração (p.121);

O “formismo” é, antes de qualquer coisa, um pensamentode globalidade;

Caminhando para um “formismo” sociológico

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A acentuação da “forma” = politeísmo dos valores;

Privilegia o movimento de cada elemento levando em contaa multiplicidade de seus aspectos;

“ Formismo” visa a investigação do objeto social;

O procedimento transcendental é a condição depossibilidade de todo conhecimento real;

O societal permite compreender e dar destaque às menoressituações da vida cotidiana: o trágico, a teatralização, o ritual e oimaginário configuram categorias societais;

Caminhando para um “formismo” sociológico

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A sociologia como fenomenologia = noção de “imaginar”, (H. Corbin &e G. Durand), deverá ser observada no atual e nocotidiano, no vínculo existente entre o inteligível e o sensível.

É sempre bom lembrar as banalidades fundamentaiscomo esta: a vida começa pela limitação, sendo determinada[...]; do mesmo modo, a existência social somente o é quandose mostra como tal, quando toma forma. O theatrum mundinão é um termo inútil, pois sua expressão é multiforme [...]; éjustamente isto que legitima nossa reflexão sociológica sobre o“formismo” ( p.127);

A necessidade de um princípio de conhecimento que nãosomente respeite, senão também revele o mistério das coisas”.(Edgar Morin);

Caminhando para um “formismo” sociológico

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A experiência = empatia, onde o paradigma pode sercompreendido como uma modulação da “forma”;

“Esse vaivém constante da experiência ao paradigma, ou daempatia ao formismo, é testemunho da existência de umaorganização – prefiro dizer uma organicidade das coisas e daspessoas, da natureza e da cultura”(p. 128);

O testemunho da existência de uma organização =politeísmo= a organicidade (das coisas, pessoas, natureza ecultura) conduz ao pluralismo societal;

A compreensão do enraizamento e a eficácia de tal

politeísmo na vida de todos os dias, resistindo ao totalitarismo

das concepções normativas do mundo.

Caminhando para um “formismo” sociológico

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O procedimento analógico

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Proposições compreensivas:

Valorização das representações ( ou ideologia) mostrandoo “formismo” da vida social posto de lado: “à analogia, àmetáfora, ou à correspondência. [...] a poesia, a ficção ou amística” (p.130);

A integração desses procedimentos = habilidades e oaspecto polissêmico do vivido social;

As pesquisas reforçam a necessidade de buscar um modode contato analítico (com fenômenos) que semconstrangimento ou redução, escape a divagação absoluta;

A valibilidade universal é uma interferência, sempre falsa,de si (próprio) em relação ao outro”( O. Spengler );

O procedimento analógico

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“Mais do que querer promulgar ao todo custo, leis, explicarfinalidades ou elucidar “porquês” é necessário descrever osfenômenos presentes na existência cotidiana, como condiçõespossíveis de poliformismo” (p.131);

“O meio de conhecer as formas mortas é a lei matemática.O meio de compreender as formas vivas é a analogia” (p.132);

Dinâmica cognitiva (aceita pela ciência “dura” emcontraposição ao positivismo) = a fragilidade, o erro e a verdadelocal;

“A sociedade não pode oportunizar uma únicadeterminação ; “talvez, o verdadeiro espírito científico venha aser aquele “que dá ensejo à refutação” (Edgar Morin);

O procedimento analógico

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“ É propriamente “científico” elaborar hipóteses, linhas deinvestigação, propor comparações partindo da polifonia societal,esboçar um mapa das analogias que justamente permita acompreensão dos fenômenos sociais”(p.133);

Estrutura Oximônica = o “contraditorial” em cada ação social;

“Na estruturação de sociedades, o unanimismo,preconizado, imposto ou desejado, costuma fracassar – e, nessecaso, o realismo político consiste em saber reconhecer eadministrar o conflito” (p. 134);

Deve-se aceitar a existência do antagonismo e compreenderseu funcionamento: “o pensamento analógico desfaz o infinitopara não ter de agir” (E.Bloch);

O procedimento analógico

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Analogia = compreensão do presente;

“Semelhante a uma tela de fundo, ela dá relevo àquilo quede outra forma passaria despercebido ou seria diminuído, ao serdeclarado insignificante” (p. 137);

Apreciar o real em função das obras do irreal: “ éreconfortante ouvir um físico, especializado em filosofia dasciências, reconhecer que “é necessário um mundo onírico paradescobrirmos as características do mundo real”. (p.138)

Impossível compreender um conjunto social unicamentepor sua positividade: apreender a dinâmica do acontecimentoouvindo o “discurso aí do lado”, o qual, sem duvida, ecoadiscurso mais distante;

O procedimento analógico

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Ressonância:

A importância da analogia para a compreensão da “socialidade”;

O pensamento analógico impõe-se de uma maneira “perversa”, fazendo com que a matriz a algo, se apresente como novo = Pseudomorfose: “somente julgamos os seres por analogia em relação a nos mesmos”(p.142);

O pensamento analógico da maior destaque àquilo queconstitui a essência da trama social ( p. 146);

O procedimento analógico

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Colagem e aglutinação:

Analogia = método comparativo que serve como ligaçãoentre múltiplas facetas de uma representação global;

“O vínculo analógico faculta uma leitura transversal, quenos faz compreender nosso tempo com a ajuda de fatos e gestosdas sociedades passadas” (p. 149);

A estreita conexão existente entre a natureza e cultura,onde o “trajeto antropológico” conduz do “vital” ao cultural (G.Durand);

O “trajeto antropológico” compõe e integra a “harmoniaconflitual”;

O procedimento analógico

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“G. Durand, ao tratar desse assunto, refere-se a uma“estrutura gliscromorfa” [...] que poderia opor-se à separaçãoesquizofrênica – forma paroxística e patológica do mecanismode individualização e de apreensão – um corolário da idéia denatureza como objeto a ser explorado. É essaviscosidade, inerente à “cola do mundo”, que nos remete àanalogia”(p. 152);

Ao permitir uma atitude compreensiva, a analogia abrecaminho à integração de reflexão intelectual à organicidadesocietal: polifonia da vida social.

“A metáfora e analogia, ao se enraizarem no substratomitológico, chamam à atenção para a grande quantidade dehistórias que estruturam toda socialidade.

O procedimento analógico

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A “correspondência” física e social

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A apropriação específica da existência que merece atenção:a pesquisa compreensiva recoloca em seu devido lugar eintuição; a comparação; leva em conta toda a dimensão sensívelda existência social; reinveste, enfim, a carga mítica que move asocialidade de base;

Fenômenos moventes que integram cada indivíduo a umaglobalidade cósmica ou “ecológica”;

Valores de “progressismo” e de “individualismo” =mecanismo de correspondência e a solidariedade;

A socialidade de base se assenta em espaço partilhado;

O equilíbrio societal = o espaço e o tempo, a natureza e ahistória (p.160);

A “correspondência” física e social

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A “correspondência” evidencia o entrecruzamento dosafetos e das ações, que constitui o essencial destas atitudesminúsculas encontradas na própria base da vida de todos osdias. Embora haja a possibilidade de o espaço constituir-se emcampo fechado do jogo de forças econômicas e / ou políticas, a“correspondência” traduz-se na criação de investimentosmenores, que formarão um circuito dos mais expressivos (p.161);

As sociedades por sua diversidade se encontram e seseparam sem que uma grande lógica dirija esta sua dança;

A “correspondência” simbólica permite acomplementaridade e ao pluralismo serem meios eficazes deaproximação coletiva de determinado espaço (p. 164);

A “correspondência” física e social

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“Ao recusar os esquemas “psicologistas” e economicistas,que são causas e efeitos do individualismo – a correspondênciacentra todo o seu esforço de compreensão na globalidade emmovimentos, o “equilíbrio-móvel” de J. Piaget (p.165);

Novos / antigos valores ambientalistas em três dimensõesestruturantes de todas as sociedades: a relação à alteridadenatural, a relação à alteridade social e o conhecimento que delasse pode ter;

A simbiose presente na correspondência natural e socialque, sem que seja possível determinar prioridades, funda opróprio fato de “ser/estar com”(p.168);

A “correspondência” física e social

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“Os observadores judiciosos, seja qual for a função quedesempenhem (sociólogos, jornalistas, viajantes), são capazesde registrar a perduração dos mecanismos de identificaçõesmísticas a tal objeto ou qual elementos do bestiário. E essaidentificação, bem além daquilo sobre o que incide, nos remeteà comunidade que ela funda e/ou consolida” (p. 170);

Reconhecer e executar combinações é aceitar apreponderância da idéia de interdependência, de conexão, logo,de unicidade a qual, à diferença da Unidade redutora, funcionana base da pluralidade dos elementos que reagem entre si (p.170);

A correspondência = conjunto da dinâmica social = “caldode cultura”;

A “correspondência” física e social

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“O sistemismo é um modo aceitável de o sociólogo abordar

de frente a solidariedade orgânica – a qual não se assenta na

separação, na discriminação ou na função mecânica, mas

integra de maneira diferencial aportes de todos os elementos do

mundo físico e social numa interação ou numa correspondência

infinita (p.171);

Socialidade = aceitação e resolução dos

problemas, individuais ou sociais, “(domesticar a

natureza, asseptizar a existência, restringir a alteridade)

aceitando estes mesmos problemas como destino” ( p.171).

A “correspondência” física e social

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A vida sempre recomeçada

Page 41: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Visão cíclica das coisas:

Esta perspectiva cíclica constitui-se como o elo entre dois

conjuntos, o “conjunto que tem a ver com a correspondência,

como o meio circundante, com a natureza, o local” e o conjunto

de “múltiplos elementos da vida cotidiana, do hedonismo, do

ceticismo”, sendo que tal visão, resumidamente, “promove a

valorização do vivido” (MAFFESOLI, 2010, p. 176).

A vida sempre recomeçada

Page 42: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

E este ciclo, através de sua repetição, mostra-nos uma

característica do homem em sociedade: de retornar a si

mesmo. Maffesoli (2010, p. 178) chama-nos a atenção de que,

nesta repetição da vida cotidiana, seja por coisas ou

expressões ínfimas, por menores que sejam, “somente o

presente, sempre e repetidamente semelhante a si mesmo,

merece atenção”.

A vida sempre recomeçada

Page 43: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Maffesoli (2010, p. 179-180) salienta que este saber “do povo”, é

regido mais pela emoção do que pela razão.

O atual papel do político (cada vez mais apela para a emoção,

do que para a razão, para a convicção);

É preciso “exibir um espetáculo que saiba atingir mais aos

sentimentos do que ao espírito”, o que consistiria assim, no

“espetáculo político”, tal qual a massa os vê (MAFFESOLI, 2010,

p. 180).

A vida sempre recomeçada

Page 44: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

O povo sabe que as coisas não tendem a mudar, que

“nada há de novo sob o Sol”, e que “os Príncipes podem mudar

[...], mas suas ações continuam sendo abstratas e, mesmo

quando pretendem falar ou agir em nome dos menos

favorecidos, eles o fazem sempre para pedir submissão ou

conformidade às normas vigentes” (MAFFESOLI, 2010, p. 181).

A vida sempre recomeçada

Page 45: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Maffesoli (2010, p. 183) nota que para compreendermos

nosso presente, é preciso praticarmos a “einsteinização”, que

nada mais é do que uma metáfora elaborada por Proust para

explicar-nos que compreendemos o presente comparando-o

com “grandes momentos do passado

Mas para isso, segundo o autor, é necessário ser um

pesquisador de botequim, um pesquisador do povo, no meio

do povo, através do que podemos caracterizar como o “método

lógico-experimental” proposto por Pareto .

A vida sempre recomeçada

Page 46: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Somos uma sociedade que não possui um discurso linear,

somos controversos, cheios de mistério, e sendo assim, o papel

da sociologia não é ditar regras e afirmar parâmetros de como

a sociedade “deve ser”, mas sim, deve extrair consequências

“das críticas do positivismo, reconhecendo a importância

da ideologia, tomando conhecimento da eficácia da forma,

da analogia, da metáfora, e observando o retorno de uma

visão cíclica”, sendo que através desta perspectiva, é que

“poderemos compreender a existência em seu aspecto plural”

(MAFFESOLI, 2010, p. 186).

A vida sempre recomeçada

Page 47: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Em suma, não devemos decretar, mas sim, compreender

este aspecto vagabundo do cotidiano, dedicando atenção aos

“elementos que não se sintetizam e nos remetem a uma

descrição contraditorial”, de acordo com Maffesoli (2010, p. 188).

O autor propõe a noção de “estilo do cotidiano”

(MAFFESOLI, 2010, p. 190), este estilo vagabundo, sem

pretensões de racionalidade, mas sendo, através de sua

maleabilidade, “pau pra toda obra”.

A vida sempre recomeçada

Page 48: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Epistemologia do cotidiano

Page 49: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Maquiavel separava os diálogos/pensamentos ditos

oficiais, que circulavam nos palácios, dos diálogos/pensamentos

que emanavam das praças públicas (MAFFESOLI, 2010, p. 196).

Atualmente percebemos, como ressalta o referido autor,

que nossos grandes conflitos não se referem às ideologias, ou

aos pensamentos dos palácios, mas sim, ao problemas da vida

cotidiana, aos pensamentos das praças públicas.

Epistemologia do cotidiano

Page 50: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

É vivendo, é experimentando que adquirimos um

conhecimento cada vez mais valorizado.

Maffesoli (2010, p. 216) cita então o teórico Gilbert

Durand, onde este afirma que “caminhamos para uma

‘comunicação experimentada’”. Vivemos, aprendemos e nos

conhecemos através da experiência, pois como nota Maffesoli

(2010, p. 216) “o corpo individual e/ou coletivo faz a experiência

do mundo, faz experiências com o mundo”.

Epistemologia do cotidiano

Page 51: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Nas palavras de Maffesoli (2010, p. 205, grifo do autor), “a

existência cotidiana é fragmentada, polissêmica, feita de

sombras e luz ou, numa só palavra, o que é cada vez mais

admitido, obra de um homem, ao mesmo tempo sapiens e

demens”.

O autor cita uma expressão de K. Mannheim, onde este

afirma “que o pensamento ‘não se acha limitado aos livros, mas

tira a sua significação principal das experiências da vida

cotidiana’” (MANNHEIM apud MAFFESOLI, 2010, p. 214).

Epistemologia do cotidiano

Page 52: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Maffesoli (2010, p. 235-236) cita Durkheim ao explanar

sobre os conceitos de “patrimônio coletivo” e “alma coletiva”,

informando que a partir de tais conceitos, estabeleceu a noção

de “socialidade”.

Durkheim (apud MAFFESOLI, 2010, p. 235) afirma que “a

unidade da pessoa é ... constituída por partes, que ela é ...

suscetível de divisão e de decomposição”, o que Maffesoli (2010,

p. 235) concede como o “pluralismo”.

Epistemologia do cotidiano

Page 53: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Saber social e saber sociológico

Page 54: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Maffesoli (2010, p. 241) afirma que a antropologia tem

dado atenção à relação entre o “pensamento selvagem” e a

“cultura de empresa”. Estas duas “perspectivas do pensamento”

compõem o “conhecimento comum”, que é preciso ser

compreendido de maneira reflexiva, através de sua “socialidade

de base”.

O saber social e o saber sociológico

Page 55: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Em uma dura crítica aos “intelectuais de salão”, Maffesoli

(2010, p. 244) cita o teórico Hengel (apud MAFFESOLI, 2010, p.

244), onde este afirma “o povo ignora o que quer e só o Príncipe

sabe”.

Maffesoli (2010, p. 244) argumenta que os novos príncipes

da atualidade, são estes tais intelectuais, que se consideram

“portadores do universal e fundadores da responsabilidade

coletiva”. Estes estariam prontos para o “espetáculo da mídia”,

com suas teorias que defendem certas morais, e com sua postura

de “responder por” alguém ou alguns.

O saber social e o saber sociológico

Page 56: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Maffesoli (2010, p. 246) não titubeia ao afirmar que tal

concepção racionalista, poda, corta, esteriliza o conhecimento

comum, sendo que, para ele, não se pode resumir, reduzir ou

conduzir a “socioalidade a esta ou àquela determinação”, pois

vivemos um momento dos mais interessantes, em que a notável

expansão do vivido convida a um conhecimento plural; e em que a

análise disjuntiva, as técnicas de segmentação e o apriorismo

conceitual devem ceder lugar a uma fenomenologia complexa, que

saiba integrar a participação, a descrição, as histórias de vida e as

diversas manifestações dos imaginários coletivos

(MAFFESOLI, 2010, p. 246, grifo nosso).

O saber social e o saber sociológico

Page 57: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

Maffesoli (2010, p. 256) fala-nos do “senso

(comum)nologia”, que está ligado ao vitalismo.

Isto é, essa noção de conhecimento da massa, do popular,

possui vitalidade, é algo dinâmico, vivo, construído e

compreendido em um eterno vai-e-vem, valorizando-se o “aqui e

agora”, ou seja, o “presenteísmo, cuja riqueza ainda não

exploramos integralmente”, sendo que, na concepção de

Maffesoli (2010, p. 259-260) “o que constitui cultura é a opinião,

‘o pensamento das ruas e das praças’, que são ingredientes

essenciais do cimento emocional da socialidade”.

O saber social e o saber sociológico

Page 58: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

“Somente a posteriore elabora-se, então, o conhecimento

erudito”. O que leva-nos a compreender nas palavras do autor

que:

“a complexidade cotidiana, a ‘cultura primeira’, merece uma

atenção específica – e a isto propus que se

denominasse conhecimento comum” (MAFFESOLI, 2010, p. 260,

grifo do autor).

O saber social e o saber sociológico

Page 59: O conhecimento comum, de Michel Maffesoli

OBRIGADO!