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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO EACH/USP ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIA E HUMANIDADES ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA NAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULOAbilio Augusto Martins Orientador: Professor Doutor Gustavo Bambini São Paulo 2012

O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

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Page 1: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

EACH/USP – ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIA E HUMANIDADES

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

“O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA NAS

DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS DO

ESTADO DE SÃO PAULO”

Abilio Augusto Martins

Orientador: Professor Doutor Gustavo Bambini

São Paulo

2012

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

EACH/USP – ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIA E HUMANIDADES

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

“O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA NAS

DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS DO

ESTADO DE SÃO PAULO”

Abilio Augusto Martins

Orientador: Professor Doutor Gustavo Bambini

Monografia de Trabalho de conclusão de Curso

submetido à Banca Examinadora designada como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de

especialista em Gestão de Políticas Públicas.

Banca Examinadora:

____________________

____________________

____________________

São Paulo

2012

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3

À Evelyn, pelo incentivo.

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AGRADECIMENTOS:

Foi com muito orgulho que participei desse Primeiro Curso de Pós-Graduação

promovido pela Escola de Contas Públicas do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

Embora tenha sido uma iniciativa conjunta da referida instituição em parceria com a

Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH/USP, a

instalação e desenvolvimento do Curso representa um marco na história da Corte de Contas

Paulista, pois demonstra a preocupação com a formação e aperfeiçoamento de servidores para

melhor desempenho de suas atribuições constitucionais.

Nesse aspecto, há de ser ressaltada a importância do comprometimento da Direção da

Casa com as finalidades pretendidas, sobretudo em razão do empenho do Conselheiro Fulvio

Julião Biazzi, grande amigo, Presidente responsável pela instalação do Curso em 2010, bem

como dos Conselheiros Cláudio Ferraz de Alvarenga e Renato Martins Costa, Presidentes nos

exercícios de 2011 e 2012, respectivamente, em que se desenvolveram as atividades

acadêmicas.

Muito Obrigado a todos eles pela possibilidade de ora concretizar essa formação,

estendendo meus agradecimentos à Dra. Rosy Maria de Oliveira Leone, amiga e

incentivadora, à Dra. Maria Regina Pasquale e ao Dr. Germano Fraga Lima, que ocuparam a

Chefia do Gabinete Técnico da Presidência – GTP, nos exercícios de 2010, 2011 e 2012, além

da Dra. Silvana de Rose, Coordenadora da Escola de Contas Públicas do Tribunal de Contas

do Estado de São Paulo, gente cuja atuação traduz o verdadeiro espírito de responsabilidade

pública.

Que este singelo Trabalho não venha a comprometer a nobre iniciativa de pessoas tão

especiais.

Page 5: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa tem o objetivo de analisar aspectos relacionados aos

princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa nos processos de competência

do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

A partir do exame de casos concretos, o estudo pretende traçar um panorama atualizado

que permita avaliar como estão sendo atendidos os preceitos constitucionais do devido

processo legal no âmbito da referida Corte, cujos procedimentos se caracterizam por um misto

de contencioso judicial e administrativo.

Justifica a pretensão do estudo a ocorrência de situações em que o Poder Judiciário é

instado a se pronunciar sobre decisões do mencionado órgão, sobretudo no que tange a

verificação dos aspectos inerentes ao devido processo legal e o respeito ao contraditório e a

ampla defesa, sendo de interesse analisar também, a partir de casos concretos, os julgamentos

proferidos nessas ocasiões, os quais referendam ou repudiam aspectos pontuais dos

procedimentos adotados.

De outra parte, também será abordada situação dos particulares que possuem algum

vínculo para com a Administração, eventualmente afetados por decisões do Tribunal de

Contas do Estado de São Paulo, órgão que embora não exerça jurisdição direta sobre estes,

acaba por vezes causando-lhes certo gravame.

Palavras-Chave: Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, devido processo legal,

contraditório e ampla defesa.

Page 6: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

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SUMÁRIO

Introdução: ................................................................................................................... 07

CAPÍTULO I - DEVIDO PROCESSO LEGAL

1 – Princípios do Devido Processo Legal..................................................................... 11

2 – O Contraditório e a ampla Defesa em Âmbito Administrativo.............................. 13

3 – Síntese do Capítulo..................................................................................................15

CAPÍTULO II – A SÚMULA VINCULANTE Nº 03 DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

1 – Aspectos Preliminares.............................................................................................16

2 – Limites de Aplicabilidade da Súmula.....................................................................18

3 – Síntese do Capítulo.................................................................................................21

CAPÍTULO III – O PROCESSO NO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO

PAULO

1 – Considerações Iniciais............................................................................................23

2 – Garantias Processuais dos Interessados..................................................................24

3 – Análise de jurisprudência Selecionada...................................................................30

4 – Efeitos Reflexos da Decisão e a Garantia dos Direitos Processuais dos

Terceiros Interessados................................................................................................. 36

5 – Síntese do Capítulo................................................................................................ 40

CAPÍTULO IV – ANÁLISE JUDICIAL DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS

1 – Análise de Casos Específicos................................................................................ 42

2 – Síntese do Capítulo.................................................................................................45

CONCLUSÕES.......................................................................................................... 46

BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................48

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INTRODUÇÃO:

A competência constitucional do Tribunal de Contas da União, delineada no artigo 71

da Constituição Federal conta com uma série de atribuições no exame de atos de despesa do

poder público, englobando as diversas formas de sua consecução.

As referidas formas condensam as mais variadas atividades da Administração, como a

arregimentação de seu pessoal, aposentadorias e gastos gerais, como despesas de custeio ou

contratos de aquisição de bens, execução de obras ou serviços.

É de se observar que cada espécie de despesa possui atributos específicos que devem ser

levados em conta quando da sua avaliação, a fim de se verificar o atendimento às

determinações legais e aos preceitos de economicidade, razoabilidade, moralidade e

eficiência.

Por força do princípio da simetria constitucional, todos esses aspectos de competência e

critérios de análise se repetem em relação às atribuições do Tribunal de Contas do Estado de

São Paulo, conforme artigo 33 da Constituição Estadual.

Dentro de sua competência os Tribunais de Contas observam as regras gerais do

processo que incluem os preceitos constitucionais do devido processo legal, pautando-se

também por Leis Orgânicas e Regimentos Internos próprios.

Também são observadas as legislações específicas de regência de cada matéria, como

por exemplo, as Leis nº 8.666/93 e nº 10.520/02 no que concerne a licitações e contratos; Lei

nº 4.320/64 e Lei Complementar nº 101/00 no que se refere à contabilidade pública,

orçamento e avaliação de gestão fiscal.

No caso específico do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, a Lei Complementar

Estadual nº 709/93 (Lei Orgânica do TCE-SP) abrange a sistemática infraconstitucional de

análise dos atos de despesa, definindo formas de processo, tramitação, comunicação de atos

processuais, espécies de decisão e tipos de recursos.

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Além do referido Diploma Legal, é aplicado o Regimento Interno da Corte, aprovado

por Resolução Interna, que de um modo geral traça minúcias sobre os procedimentos

definidos na Lei Orgânica.

Os procedimentos formados a partir da atuação dos Tribunais de Contas caracterizam-se

por um misto de processualística administrativa e jurisdicional, de acordo com a matéria que

está sendo examinada.

Tal aspecto é evidenciado nas espécies de decisões emanadas por essas Cortes,

conforme artigo 71 da Constituição Federal, destacando-se para essa análise os incisos I e II

do aludido dispositivo constitucional:

“Artigo 71 – O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido

com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da Republica, mediante

parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu

recebimento;

II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens

e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e

sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Publico federal, e as contas daqueles

que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo

ao erário público”; (grifei)

A forma de atuação descrita no inciso I se caracteriza por uma análise técnica cujas

conclusões são submetidas ao Poder Legislativo, que dentro de suas prerrogativas e,

obedecendo à sistemática apropriada, emite decisão final sobre as contas apresentadas.

Por outro lado, o inciso II traz expressa a previsão de julgamento das contas dos

administradores, conferindo ao órgão fiscalizador o poder de dar a palavra final sobre a

matéria, constituindo decisão de mérito, da qual decorrem inúmeras implicações.

Além dessas duas hipóteses, existem outras espécies de decisões do Tribunal de Contas

que acabam conferindo efeitos dos mais variados, como por exemplo, nas situações onde é

negado o registro de aposentadoria de determinado servidor, ou reduzido o montante dos

proventos com os quais se aposentou.

Nestes casos, o decisório possui um efeito duplo, ao beneficiário que terá sua

aposentadoria caçada ou reduzida, e ao Administrador responsável pelo pagamento do

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benefício, que deverá adotar as medidas administrativas necessárias ao cumprimento do

aresto.

De todo modo, essa matéria será avaliada com mais profundidade quando tratarmos em

tópico específico da Sumula Vinculante nº 3 do Supremo Tribunal Federal, interessando neste

momento apenas registrar consequências da espécie.

Outro exemplo, é a decisão da Corte de Contas em matéria relaciona às contratações do

Poder Publico, sejam precedidas ou não de procedimento licitatório.

O termo empregado neste caso “contratações” abrange a mais variada gama de ajustes

firmados pela Administração, como os contratos de gestão, parceria, convênios e as relações

jurídicas com particulares na contratação de bens e serviços, disciplinadas pela Lei de

Licitações (Lei nº 8.666/93), e outras que lhe são correlatas como o Pregão (Lei nº 10520/02),

Concessão de Serviços Públicos (Lei nº 8987/95), Parcerias Público-Privadas (Lei nº

11079/04), entre outras.

É exatamente essa ultima espécie de ajustes, aqueles firmados com particulares, que nos

interessa sobremaneira no desenvolvimento deste trabalho.

Embora analisem diversos aspectos, como o da legalidade, economicidade e eficiência,

as decisões do Tribunal de Contas nesse assunto acabam por ultrapassar os interesses dos

administradores, pois atingem os particulares que mantém relação jurídica com a

Administração.

À primeira vista, essa ponderação parece causar um hiato em relação às competências

do Tribunal de Contas que, embora não possua jurisdição direta em relação aos particulares,

suas decisões podem causar-lhes certo gravame.

Essas são as situações que pretendemos abordar nesse estudo, tendo como amostra a

atividade desenvolvida pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, com o exame de

situações e regras de processualística que procuram conferir legitimidade aos processos e, em

última análise, as próprias decisões emanadas pelo referido órgão.

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Sem pretender antecipar conclusões, verificaremos que o respeito ao devido processo

legal, cujo conceito engloba os princípios do contraditório e da ampla defesa, pode conferir

legitimidade aos procedimentos e eficácia às decisões do órgão, sobretudo no exame de

questões incidentes perante o Poder Judiciário.

São essas as ponderações necessárias à introdução do trabalho.

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CAPITULO I – DEVIDO PROCESSO LEGAL

1 – Princípio do Devido Processo Legal

O Devido Processo Legal é um princípio inserido na Constituição Federal, estampado

nos direitos fundamentais, a partir das disposições do inciso LIV do artigo 5º que estabelece:

“LIV – Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o

devido processo legal”.

Oriundo da Magna Carta Inglesa, que constituiu uma conquista dos barões feudais

imposta ao Rei João Sem Terra (1215), o princípio do Devido Processo Legal nasceu de

inspiração jusnaturalista, que garantia aos homens livres, que na ocasião eram os barões e

proprietários de terras, a inviolabilidade dos direitos à vida e à liberdade, assegurando

fundamentalmente o direito de propriedade.

Essa origem histórica afirma a imposição dos direitos fundamentais à tirania,

constituindo-se em verdadeira expressão da democracia, ante ao reconhecimento de aspectos

fundamentais da cidadania.

Retomando aspectos da Constituição pátria, aperfeiçoam o aludido princípio as

garantias previstas nos incisos XXXV e LV do referido artigo 5º, que asseguram o pleno

acesso à justiça e o direito ao contraditório e a ampla defesa:

“XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão

ou ameaça de direito”;

(...)

“LV – aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa,

com os meios e recursos a ela inerentes”;

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Explicitando a sistemática constitucional a esse respeito, José Afonso da Silva1 elabora

o seguinte raciocínio, baseado nas lições de Frederico Marques:

“Garante-se o processo e, quando se fala em „processo‟ e não simples

procedimento, alude-se, sem dúvida, a formas instrumentais adequadas, a fim de

que a prestação jurisdicional, quando entregue pelo Estado, dê a cada um o que é

seu, segundo os imperativos da ordem jurídica. E isso envolve a garantia do

contraditório, a plenitude do direito de defesa, a isonomia processual e a

bilateralidade dos atos procedimentais”.

Para a análise que se pretende neste trabalho se faz interessante esgotar os princípios do

contraditório e da ampla defesa, constantes do inciso LV do artigo 5º da Carta Magna, que

aperfeiçoam o princípio do devido processo legal.

Com essa pretensão, é pertinente reproduzir a conceituação sobre esses dois princípios,

empreendida pela atual Ministra do Supremo Tribunal Federal Carmem Lúcia Antunes

Rocha2, que assim discorreu:

Contraditório:

“Do brocardo romano „audiatur et altera pars‟, o contraditório significa que a

relção processual forma-se, legitimamente, com a convocação do acusado ao

processo, a fim de que se estabeleça o elo entre o quanto alegado contra ele e o que

ele venha sobre isso ponderar. Somente na dialética processual é que se afirma o

Direito, de tal modo que uma assertiva e a sua contradita combinam os elementos

donde o julgador extrai, sem vínculo prévio com qualquer das partes, a sua decisão

jurídica.

O contraditório garante não apenas a oitiva das partes, mas que tudo quanto

apresente ele no processo, suas considerações, argumentos, provas sobre a questão

sejam devidamente levadas em conta pelo julgador, de tal modo que a contradita

tenha efetividade e não apenas se cinja à formalidade de sua presença”.

Ampla Defesa:

“O princípio da ampla defesa acopla várias garantias. O interessado tem o direito

de conhecer o quanto se afirma contra os seus interesses e de ser ouvido,

diretamente e/ou com patrocínio profissional sobre as afirmações, de tal maneira

que as suas razões sejam coerentes com o quanto previsto no Direito. Na primeira

parte se tem, então, o direito de ser informado de quanto se passa sobre a sua

situação jurídica, o direito de ser comunicado, eficiente e tempestivamente, sobre

tudo o que concerne à sua condição no Direito. Para que a defesa possa ser

preparada com rigor e eficiência, há de receber o interessado todos os elementos e

dados sobre o quanto se ponha contra ele, pelo que haverá de ser intimado e

notificado de tudo quanto sobre a sua situação seja objeto de qualquer processo.

Assim, não apenas no início, mas no seguimento de todos os atos e fases

1 SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo, 18ª edição: Malheiros, SP, pg.435

2 ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios Constitucionais do Processo Administrativo no Direito Brasileiro.

Revista de Direito Administrativo: Rio de Janeiro, nº 209, jul/set. 1997, pg.207.

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processuais, o interessado deve ser intimado de tudo que concerne a seus interesses

cogitados ou tangenciados no processo Tem o direito de argumentar e arrazoar (ou

contra-arrazoar), oportuna e tempestivamente (a dizer, antes e depois da

apresentação de dados sobre a sua situação jurídica cuidada na espécie), sobre o

quanto contra ele se alega e de ter levado em consideração as suas razões. (...)

Para a comprovação de seus argumentos e razões, tem ele o direito de produzir

provas , na forma juridicamente aceita”.

É de se notar que os conceitos se completam, e asseguram aos interessados o pleno

conhecimento de tudo do que lhe diga respeito no processo, bem como a publicidade de todos

os atos processuais de uma forma geral, garantindo sua oportunidade de manifestação e

recurso.

Em suma, o exercício do contraditório e da ampla defesa é que assegura o

aperfeiçoando o conceito de devido processo legal, nas palavras de Cândido Rangel

Dinamarco3 “informação necessária e reação possível”.

Por todos esses fundamentos é que a observância a esses dois princípios garantem a

legitimidade do processo, seja em esfera judicial ou administrativa.

2 – O Contraditório e a Ampla Defesa em Âmbito Administrativo

Em âmbito Administrativo, os princípios do contraditório e da ampla defesa possuem

plena eficácia no direito brasileiro, não só pela expressão do citado inciso LV do artigo 5º da

Constituição Federal, mas também por interpretações judiciais da questão.

Á título de exemplo pode ser citada a Súmula nº 21 do Supremo Tribunal Federal que

vedou a demissão sumária de servidores em estágio probatório, sem que a Administração lhes

desse pleno conhecimento dos motivos que ensejam sua saída e possibilidade de apresentação

de defesa.

Pois bem, como dissemos, assegura a legitimidade do processo de demissão o pleno

conhecimento pelos interessados dos motivos que ensejam o ato pelo qual são atingidos.

3 DINAMARCO, Cândido Rangel, Fundamentos do Processo Civil Moderno, 2ª Ed., 1987 :Malheiros, SP pg.

93.

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Em termos históricos, embora seja expressa na Constituição vigente a garantia ao

contraditório e ampla defesa em esfera administrativa, conforme inciso LV do artigo 5º, os

textos constitucionais anteriores não eram tão taxativos nesse sentido.

Na Constituição de 1946 a plena defesa era garantida na seguinte conformidade:

“Art.141...

§ 25. É assegurada aos acusados plena defesa, com todos os meios e

recursos essenciais a ela, desde a nota de culpa, que, assinada pela

autoridade competente, (...), será entregue ao preso dentro em vinte e

quatro horas. A instrução criminal será contraditória”.

Já na Carta Magna de 1967, vigorava o seguinte preceito:

“Art.150...

§15. A lei assegurará aos acusados ampla defesa, com os recursos a

ela inerentes (...).

§16. A instrução criminal será contraditória, (...)”.

Com a Emenda ocorrida em 1969, que muito alterou o texto original, o fundamento

passou a integrar o artigo 153, mantendo basicamente a mesma redação:

“Art.153...

§15. A lei assegurará aos acusados ampla defesa, com os recursos a

ela inerentes (...).

§16. A instrução criminal será contraditória, (...)”.

Nessa breve abordagem fica evidente a evolução do texto constitucional que hoje

condensa no inciso LV do artigo 5º a garantia do contraditório em âmbito administrativo.

A esse respeito, leciona a Professora Odete Medauar4:

“Relacionando os inc. LIV e LV, pode-se dizer que segundo especifica, para esfera

administrativa, o devido processo legal, ao impor a realização do processo

administrativo, com as garantias do contraditório e da ampla defesa, nos casos de

controvérsia e ante a existência de acusados. No âmbito administrativo, desse

modo, o devido processo legal não se restringe às situações de possibilidade de

privação de liberdade e de bens. O devido processo legal desdobra-se, sobretudo,

4 MEDAUAR, Odete, Direito Administrativo Moderno, 16ª edição: Revista dos Tribunais, SP. Pg.182.

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15

nas garantias do contraditório e ampla defesa, aplicadas ao processo

administrativo”.

Pois bem, tratando-se de avaliar esses preceitos constitucionais na atuação fiscalizatória

do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, não restam dúvidas de que aos interessados é

assegurada a plena defesa de seus interesses, mesmo porque, como já foi dito, as formalidades

processuais adotadas no referido órgão, caracterizam-se por um misto de contencioso

jurisdicional e administrativo.

3 – Síntese do Capítulo:

Para concretização do princípio do devido processo legal, previsto no inciso LIV do

artigo 5º da Constituição Federal, é essencial a prática do contraditório e da ampla defesa,

estatuídos no inciso LV do mesmo dispositivo constitucional.

Embora textos constitucionais antecedentes não previssem a extensão dos princípios do

contraditório e da ampla defesa à esfera administrativa, a Carta aprovada em 1988 assim

estabeleceu expressamente no inciso LV de seu artigo 5º.

Caracterizando-se por um misto de contencioso administrativo e jurisdicional, os

procedimentos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo devem observar os princípios

do contraditório e da ampla defesa, garantindo a prática do devido processo legal aos

interessados.

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CAPÍTULO II – A SÚMULA VINCULANTE Nº 3 DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

1 – Aspectos Preliminares

A alteração da Constituição Federal de 1988 promovida pela Emenda nº 45/2004

estabeleceu modificações ao artigo 103 da Carta Magna, acrescentando a letra “A” ao

dispositivo, que conta atualmente com a seguinte redação:

“Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,

mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre

matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa

oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à

administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal,

bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas

determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou

entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e

relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou

cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a

ação direta de inconstitucionalidade.

§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou

que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,

julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial

reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da

súmula, conforme o caso”.

Expressamente, com a introdução da chamada Súmula Vinculante, a emenda objetivou

padronizar a aplicação e eficácia de determinadas normas em que haja controvérsia em sua

interpretação entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública, evitando que

se multipliquem processos sobre uma mesma matéria, o que poderia causar insegurança

jurídica. Embora o termo “padronizar” não seja bem empregado neste caso, já que se refere a

decisões que serão observadas em situações concretas que incidem sobre relações jurídicas

entre cidadãos de uma forma geral, na prática a intenção da mudança foi essa, ou seja, atribuir

um mesmo juízo de valor a situações semelhantes, evitando-se com isso o desgaste da atuação

jurisdicional, eventualmente configurada por processos judiciais que às vezes se arrastam por

anos, sem que haja uma decisão definitiva.

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É o caso, por exemplo, de ações envolvendo questões previdenciárias, nas quais o órgão

administrativo responsável pelo setor lança mão de toda sorte de medidas que apenas

protelam o reconhecimento de direitos.

Assim, nessa e outras situações, a aplicação tardia da justiça significa o mesmo que não

se ter justiça, sentimento que reflete como um desprestígio ao Poder Judiciário e sua

atribuição de aplicar a jurisdição, traduzida pela ideia de substituição dos particulares na

solução de conflitos.

Esse reflexo negativo pode ser medido pelo crescimento de iniciativas que evitam a

utilização da justiça como forma de buscar direitos, como é o caso das cortes de juízo arbitral,

em crescente expansão no país.

No tocante a Emenda propriamente dita, ressalte-se que além de consolidar

entendimentos acerca de normas legais entre os órgãos do judiciário, o novo texto também se

destina a suprir controvérsias de interpretação entre o Judiciário e a Administração Pública.

Penso que nesse tópico específico existe um chamamento à responsabilidade social da

jurisdição, endereçado a todos os administradores públicos de uma forma geral, os quais, na

sua atuação, devem observar interpretações consolidadas das normas, evitando ensejar a

proliferação de lides envolvendo questões há tempos ultrapassadas.

Pois bem, dentro desses preceitos é que o Supremo Tribunal Federal passou a editar as

aludidas Súmulas Vinculantes, sendo uma das primeiras a de nº 03, que condensa a seguinte

redação:

“Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se

o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar

anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o

interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de

concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”.

Note-se que o texto é dirigido especificamente para processos de competência do

Tribunal de Contas, assegurando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, como

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forma de garantia do devido processo legal, externado a posição do Supremo Tribunal Federal

em relação aos procedimentos levados a efeito pelas mencionadas Cortes Fiscalizatórias.

Nem poderia ser diferente, tendo em perspectiva o inciso LV do artigo 5º da

Constituição Federal que assegura aos litigantes em processo judicial ou administrativo o

contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

2 – Limites de Aplicabilidade da Súmula:

Conforme explicitado no tópico anterior, o texto aprovado da Súmula Vinculante nº 3

prestigia os preceitos do devido processo legal, nos quais se inserem o contraditório e a ampla

defesa.

Contudo, mesmo antes de sua edição, a redação final do enunciado foi marcada pela

controvérsia, como é possível observar das notas taquigráficas do quanto processado nos auto

nº 327.882/2007, publicada no DJe nº78/2007, 10/08/07 pg, 39/43.

O texto inicialmente proposto também incorporava na parte final da Súmula a exceção

do contraditório e da ampla defesa também para os atos iniciais de admissão de pessoal e não

só para processos de aposentadoria.

Essa propositura não se consolidou, sobretudo em função dos precedentes da Corte

Suprema citados para edição do enunciado, que se referiam a concessões de aposentadoria e

pensão.

Como referência, vale citar os julgados colacionados na ocasião:

- Mandado de Segurança nº 24.268, publicado no Diário da Justiça de

17/09/04;

- Mandado de Segurança nº 24.728, publicado no Diário da Justiça de

09/09/05;

- Mandado de Segurança 24.754, publicado no Diário da Justiça de

18/02/05 e

Page 19: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

19

- Mandado de Segurança nº 24.742, publicado no Diário da Justiça de

11/03/05.

Esse registro sobre a matéria sumulada possui extrema relevância na medida em que

decisões posteriores do Pretório Excelso em relação à aplicabilidade do enunciado aprovado

têm limitado sua utilização em processos que examinam questões surgidas em processos de

aposentadorias e pensões.

Exatamente nesse sentido, permito-me transcrever julgado recente da lavra do Eminente

Ministro Joaquim Barbosa, que espelha com fidelidade a interpretação que o Supremo

Tribunal Federal vem emprestando às questões da espécie:

“RECLAMAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. SÚMULA VINCULANTE Nº 3.

PROCEDIMENTO DE TOMADA DE CONTAS. TRIBUNAL DE CONTAS DA

UNIÃO. INADEQUAÇÃO. AGRAVO DESPROVIDO. O agravante alega ofensa à

Súmula Vinculante nº 3 desta Corte, tendo em vista que no procedimento de tomada

de contas em que foram julgadas irregulares as contas referentes ao período em que

o agravante foi prefeito de Nobres-MT (1997-2000), não foi respeitado o seu direito

à ampla defesa e ao contraditório, por não ter sido intimado para o ato de

julgamento. Sustenta que o contraditório e a ampla defesa devem ser assegurados

em qualquer processo perante o Tribunal de Contas da União. Contudo, a Súmula

Vinculante nº 3 se dirige exclusivamente, às decisões do Tribunal de Contas da

União que anulem ou revoguem atos administrativos que beneficiem algum

interessado. Os precedentes que subsidiaram a elaboração da Súmula Vinculante nº

3 tratam tão-somente de decisões da Corte de Contas que cancelaram

aposentadorias ou pensões. Em nenhum deles há referência a procedimentos de

tomada de contas. O procedimento de tomada de contas se destina à verificação,

pelo Tribunal de Contas, da regularidade da utilização das verbas públicas pelos

responsáveis. Ou seja, este procedimento não envolve a anulação ou revogação de

um ato administrativo que beneficia o administrador público. Inadequação da

hipótese descrita nos autos à Sumula Vinculante nº 3, razão porque incabível a

reclamação. Agravo regimental desprovido”. (grifei)

Agravo Regimental na Reclamação 6.396-DF, Tribunal Pleno, v.u., Ementário

nº 2382-1, j.21/10/2009, Dje nº 213, p.13.11.2009, Relator Ministro Joaquim

Barbosa.

Note-se que o decisório é taxativo em considerar que a Súmula Vinculante nº 3 editada

baseou-se em julgados atinentes a reforma de aposentadoria e pensão, sendo, portanto,

limitada sua aplicação a essa matéria.

Sendo assim, exclui-se do enquadramento do enunciado para tratar questões referentes

ao contraditório e a ampla defesa em processos de tomada de contas, como é o caso do

precedente citado.

Page 20: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

20

Sob outro ponto de vista, a aplicação da aludida Súmula também tem sido mitigada a

questões relacionadas a procedimentos levados a efeito pelo Tribunal de Contas da União.

Embora a simetria constitucional aponte como paradigma as normas de organização do

Tribunal de Contas da União para fins de organização dos Tribunais de Contas nos Estados,

conforme artigo 75 da Constituição Federal, a posição do Supremo Tribunal Federal é no

sentido de que o enunciado tem limitação ao órgão de controle federal, mesmo porque o texto

da Súmula é taxativo nesse aspecto.

Sobre esse assunto vale transcrever julgado recente do Supremo Tribunal Federal:

“AGRAVO REGIMENTAL. RECLAMAÇÃO. SUPRESSÃO PELA FIOCRUZ DE

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE SEM OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO

E DA AMPLA DEFESA. VIOLAÇÃO DA SÚMULA VINCULANTE 3. NÃO

OCORRÊNCIA. APLICABILIDADE DA TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA

DETERMINANTES REJEITADA PELO SUPREMO. AGRAVO DESPROVIDO.

I - Só é possível verificar se houve ou não descumprimento da Súmula Vinculante 3

nos processos em curso no Tribunal de Contas da União, uma vez que o enunciado,

com força vinculante, apenas àquela Corte se dirige.

II – Este Supremo Tribunal, por ocasião do julgamento da Rcl 3.014/SP, Rel. Min.

Ayres Britto, rejeitou a aplicação da chamada „teoria da transcendência dos

motivos determinantes‟.

III – Agravo a que se nega provimento”.

Agravo Regimental na Reclamação 9778 Rio de Janeiro, Tribunal Pleno

26/10/11, v.u. Relator Ministro Ricardo Lewandowski.

Sem embargo desses posicionamentos, parece óbvio que a mais alta Corte de Justiça do

país não está simplesmente dispensando a observância do contraditório e da ampla defesa em

outros procedimentos levados a efeito pelo Tribunal de Contas da União, que não sejam

relacionados à concessão de aposentadoria e pensão.

Como preceitos de validade do devido processo legal, os mencionados princípios devem

ser observados em qualquer procedimento, judicial ou administrativo, incluindo os de

competência dos Tribunais de Contas.

Assim, o juízo que deve ser feito é no sentido de que pela limitação da Súmula

Vinculante nº 3, em razão dos precedentes que embasaram sua edição, está adstrito aos

procedimentos da Corte de Contas federal, em matéria de aposentadoria e pensão, o que não

afasta violação de direitos fundamentais em procedimentos de fiscalização de outras matérias,

de competência de qualquer Tribunal de Contas, Estados, Município ou União.

Page 21: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

21

Não obstante, a outra relevante interpretação que vem sendo feita em relação à extensão

dessa questão em âmbito do Supremo Tribunal Federal.

Consiste no entendimento de que o enunciado quis afirmar que até nos processos de

aposentadoria e pensão examinados pelo Tribunal de Contas da União é assegurada a

observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.

Em outras palavras, os princípios do contraditório e da ampla defesa são obrigatórios

em todos os procedimentos a cargo da Corte de Contas federal, inclusive em relação àqueles

envolvendo análise de atos de aposentadoria e pensão.

3 – Síntese do Capítulo:

A Súmula Vinculante nº 3, foi editada pelo Supremo Tribunal Federal a partir da

competência que lhe foi conferida pela Emenda Constitucional nº 45/2004, que acrescentou

ao texto da Constituição o artigo 103-A.

O enunciado editado assegura o exercício do contraditório e da ampla defesa em

processos de competência do Tribunal de Contas.

Por força dos precedentes que embasaram a edição da referida Súmula, sua

aplicabilidade tem sido reconhecida pela Corte Constitucional apenas em questões verificadas

em processos de aposentadoria e pensão, de competência do Tribunal de Contas da União,

como apontam julgados em relação à matéria.

Em que pese esse entendimento, não há isenção a observância dos preceitos do devido

processo legal, dentre eles o contraditório e a ampla defesa em procedimentos do TCU

relacionados a outras matérias por ele examinadas, ou mesmo por outros Tribunais de Contas

do país (Estados e Municípios), em qualquer matéria.

Também relevante anotar outra forma de interpretação do enunciado, no sentido de que,

na verdade, a Súmula Vinculante nº 03 do Supremo Tribunal condensa a observância dos

Page 22: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

22

princípios do contraditório e da ampla defesa em todos os procedimentos levados a efeito pelo

Tribunal de Contas da União, mesmo aqueles relacionados ao exame de atos de aposentadoria

e pensão.

Page 23: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

23

CAPITULO III - O PROCESSO NO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO

PAULO.

1 – Considerações Iniciais

O artigo 71 da Constituição Federal estabelece que “O controle externo a cargo do

Congresso nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual

compete:”

No mesmo sentido, o artigo 33 da Constituição do Estado de São Paulo disciplina que

“O controle externo, a cargo da Assembléia Legislativa, será exercido com o auxílio do

Tribunal de Contas do Estado, ao qual compete:”

Dentro de suas competências delineadas pela Constituição Estadual, em simetria com a

Constituição Federal, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo desenvolve sua atividade

fiscalizatória de auxílio ao Poder Legislativo pautado na aplicação ostensiva da Constituição,

legislação e princípios gerais de direito.

No exame que realiza nos atos de despesa da Administração Pública, sujeitos à sua

jurisdição, o aludido órgão guarda observância ao arcabouço legal incidente sobre cada

matéria de sua competência.

Nos controles orçamentário, contábil e fiscal, a analise a ser empreendida deve se guiar

pelas normas incidentes ao assunto, como a Lei nº 4.320/64 (Contabilidade Pública) e a Lei

Complementar nº 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal).

Quando do exame de contratações num conceito amplo, devem ser observadas a Lei nº

8.666/93 (Licitações e Contratos), e outras que, de igual forma, disciplinam ajustes levados a

efeito pelo Poder Público, como Lei nº 10520/02 (Pregão), Lei nº 8987/95 (Concessões e

Permissões de Serviço Público) entre outras.

Na hipótese de aplicação de recursos no setor educacional, o critério tem como

parâmetro a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB (Lei nº 9394/96).

Page 24: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

24

Esses são apenas exemplos dos patamares de análise utilizados na fiscalização, os quais

orientam os pressupostos que serão avaliados.

Com base nesses pressupostos de mérito, insertos em cada legislação de regência, o

Tribunal de Contas desenvolve seu trabalho como o de uma auditoria, a qual observa padrões

usuais de análise de despesas e verificação das formalidades do respectivo ato.

Embora sejam interessantes as formalidades e normas internas de auditoria pelas quais é

exercida essa fiscalização, o foco deste nesse trabalho centra-se propriamente na sistemática

processual que é desenvolvida no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, desde a entrada

da matéria submetida ao seu exame até a decisão final sobre ela, passando por todas as fases

do procedimento, inclusive na etapa recursal.

Com efeito, a Lei Orgânica da mencionada Corte, Lei Complementar Estadual nº

709/93, disciplina diversos aspectos de sua atuação e, sem ser redundante, sua organização e

composição, estabelecendo a sistemática de funcionamento, incorporando, inclusive, regras

gerais do processo desenvolvido no órgão.

As referidas normas processuais de caráter geral, previstas na aludida Lei, são de certa

forma esmiuçadas pelo Regimento Interno, aprovado por ato interno da Corte, o qual

consolida todas as formalidades que devem ser observadas na tramitação de cada feito.

Atualmente, a norma regimental em vigor foi aprovada pela Resolução nº 04/2010, de

24/11/2010 (Processo TC-A-20613/026/10).

Essa legislação organizacional e as normas internas referentes ao processo no Tribunal

de Contas do Estado de São Paulo serão examinadas no próximo tópico, no que tange ao

aspecto de interesse deste Trabalho, que é a verificação dos princípios do contraditório e da

ampla defesa em procedimentos daquele órgão.

2 – Garantias Processuais dos Interessados

Por força do disposto no inciso LV do artigo 5º da Constituição Federal, os

procedimentos de verificação de atos de despesas e contas, de uma maneira geral, submetidos

Page 25: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

25

à análise do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo obedecem aos preceitos do devido

processo legal.

Assim, a legislação que organiza a Corte e seu Regimento Interno possuem diversos

dispositivos onde fica caracterizado o respeito aos princípios do contraditório e da ampla

defesa, facultados aos interessados nas fiscalizações realizadas.

Iniciando pelo chamamento das partes ao Processo, o texto da Lei Complementar

Estadual nº 709/93 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) prevê em

seu artigo 90 e seguintes, a seguintes formas de comunicação de atos:

“Artigo 90 - A intimação dos atos e decisões do Tribunal de Contas presume-se

perfeita com a publicação no Diário Oficial, salvo as exceções previstas em lei.

Artigo 91 - A notificação, em processo de tomada de contas, convidando o

responsável, sob as penas da lei, a prestar informações, a exibir documentos novos

ou a defender-se, bem como a intimação de que foi condenado em alcance ou multa

serão feitas:

I pessoalmente;

II com hora certa;

III por via postal ou telegráfica;

IV por edital.

Artigo 92 - A intimação e a notificação pessoal consistirão na entrega de carta ao

responsável, pelo Oficial de Comunicações ou servidor designado, o qual, depois de

declarar do que se trata e de convidar o interessado a lançar, querendo, o seu

ciente na cópia que lhe será exibida, lavrará certidão circunstanciada do ato, com a

indicação do dia, local e hora.

Artigo 93 - Quando, por três vezes, o Oficial de Comunicações houver procurado o

responsável em sua repartição, entidade ou órgão, sem o encontrar, deverá, se

suspeitar que se oculta ou não quer recebê-lo, cientificar outro servidor da mesma

dependência, preferentemente de categoria superior a do responsável, de que, no

dia imediato, em hora que designar, voltará para efetuar a intimação ou

notificação, ficando esse servidor, sob pena de responsabilidade, obrigado a dar

conhecimento do ocorrido ao responsável.

Parágrafo único - Se no dia e hora designados o responsável não estiver presente

ou se recusar a receber o Oficial de Comunicações, a intimação ou notificação

serão tidas por feitas mediante a entrega ao servidor referido neste artigo, ou, se

não for encontrado, a qualquer outro da mesma dependência, da carta de ofício

com a declaração do que se trata e a recomendação expressa de, sob pena de

responsabilidade, entregá-la desde logo e de mão própria ao destinatário, do que

lavrará o Oficial circunstanciada certidão.

Artigo 94 - O responsável, afastado em decorrência de impedimento legal, deixará o

endereço em que poderá ser encontrado, ou indicará procurador bastante no

território do Estado, para o efeito de eventual intimação ou notificação.

Artigo 95 - A intimação e a notificação por via postal ou telegráfica serão feitas por

carta de ofício, contendo a exposição clara do fato e, quando for o caso, a

indicação do prazo em que devem ser obedecidas, expedindo-se a carta como

correspondência expressa, registrada ou telegráfica com recibo de volta, cuja data

será tida como sendo a do ato.

Artigo 96 - Ter-se-á como feita pessoalmente ao responsável a intimação, ou a

notificação:

I quando confirmada por recibo de volta, postal ou telegráfico, assinado pelo

responsável ou pelo servidor habitual ou legalmente encarregado de receber a

Page 26: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

26

correspondência, ou, conforme o caso, por pessoa da família ou por serviçal do

responsável;

II quando, por não querer ou não poder o responsável admitir a presença do Oficial

de Comunicações, lhe for transmitida por intermédio de seu auxiliar imediato, que

tenha por função receber e introduzir interessados.

Artigo 97 - Far-se-á a intimação ou notificação por edital:

I quando o responsável encontrar-se em lugar incerto ou inacessível;

II a juízo do Presidente, do Conselheiro Relator ou Conselheiro Julgador Singular,

quando feita de outra forma e não obedecida, o Tribunal de Contas achar

conveniente insistir no pronunciamento do responsável.

Artigo 98 - Constituem requisitos da intimação, ou da notificação por edital:

I a certidão do Oficial de Comunicações, ou a nota da repartição postal-telegráfica

confirmando que o responsável se acha em lugar incerto ou inacessível;

II conforme o caso, a declaração da repartição, entidade ou órgão, de que o

responsável dela se afastou sem deixar endereço ou procurador bastante no

território do Estado;

III o prazo dentro do qual o responsável deverá atender a determinação, contado da

última publicação;

IV a publicação no Diário Oficial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, por 3 (três)

vezes pelo menos.

Parágrafo único – Transcorrido o prazo do edital, contado da última publicação,

considerar-se-á perfeita a intimação ou notificação.

Artigo 99 - Nas hipóteses de intimação ou notificação por edital, será dada ciência

do fato ao Secretário de Estado, ou dirigente de entidade, ou órgão a que o

responsável estiver subordinado, ou perante ao qual responda.

Artigo 100 – O Tribunal de Contas poderá ordenar, sempre que conveniente, que

outras decisões sejam levadas ao conhecimento dos interessados, mediante

intimação ou notificação na forma deste Capítulo”.

Observa-se que a sistemática prevista nesse Capítulo da Lei contempla duas formas

básicas de comunicação de atos processuais aos interessados. A primeira por meio de

publicação no Diário Oficial e a segunda via notificação pessoal.

As normas nesse sentido são excludentes, ou seja, ressalvados os processos de Tomada

de Contas, cuja intimação deve ser realizada de forma pessoal, nos demais feitos a notificação

é ficta, com publicação na imprensa oficial.

Para compreender as prescrições da norma, interessa nesse aspecto estabelecer a

diferenciação entre essas duas espécies de processo.

Os feitos envolvendo tomada de contas abrangem a análise de demonstrativos daqueles

que têm contas a prestar, gestores a administradores públicos responsáveis pela administração

dos órgãos e unidades de despesa, examinando-se nessa espécie de processo as contas anuais

das administrações municipais e estadual, os relatórios de auditorias do exercício financeiro

de autarquias, fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público e os balanços gerais de

empresas públicas e sociedades de economia mista.

Page 27: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

27

Assim, nessa espécie de análise a notificação deve ser pessoal com a possibilidade de

utilização de todas as formas descritas no artigo 91 e seguintes, como por hora certa, via

postal ou telegráfica ou por edital.

Interessante anotar que algumas dessas formas praticamente repetem a sistemática do

Código de Processo Civil, diferenciando-se, entretanto, em alguns aspectos, como por

exemplo, a possibilidade de intimação do interessado na repartição em que exerce suas

funções, hipótese que no processo comum depende de autorização do juiz.

Prosseguindo na análise, pela excludente mencionada a intimação via publicação Oficial

(artigo 90) é utilizada em processos que não de tomada de contas, delineados especificamente

no artigo 33 da Constituição Estadual, como é o caso de contratos e atos jurídicos análogos,

admissões de pessoal, atos de pensão e aposentadoria, entre outros.

Esse aspecto causa polêmica na medida em que cuida de direitos inerentes à defesa dos

administradores públicos perante a Corte, e por vezes questionam esse aspecto da Lei.

Não obstante, neste momento da análise cabe apenas evidenciar as formas utilizadas

para chamar os interessados a comporem a relação processual, que encontram seu fundamento

de validade o inciso XIII do artigo 2º da mencionada Lei Orgânica do Tribunal de Contas do

Estado de São Paulo:

“Artigo 2º - Ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, nos termos da

Constituição Estadual e na forma estabelecida nesta lei, compete:

(...)

XIII – Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências

necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada a ilegalidade;”

Trata-se de norma de caráter geral, inserta nas competências do órgão, cujo preceito

incorpora o contraditório e a ampla defesa, os quais são evidenciados em cada matéria

específica de análise.

Convém registrar que em sua estrutura interna, cada matéria possui competência

específica de análise e julgamento, ou seja, de acordo com o que está sendo examinado no

Page 28: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

28

feito, as decisões podem ser tomadas singularmente pelo relator do processo, ou em órgão

colegiado, Primeira e Segunda Câmaras de Julgamento e Tribunal Pleno.

Em todos os casos é sempre assegurada a apresentação de defesa sobre impropriedade

detectada na análise de contas e atos de despesa, sendo certo que uma eventual decisão no

sentido da irregularidade da matéria, existe a previsão do interessado dela recorrer,

configurando-se na espécie, o duplo grau de jurisdição inseto nas garantias do devido

processo legal.

As espécies e finalidades de cada recurso estão dispostas no Título III da mencionada

Lei Orgânica (artigos 51 a 71), encontrando-se as seguintes figuras recursais:

Recurso Ordinário (artigo 56), incidente sobre decisões finais do Conselheiro ou

Julgador Singular e das Câmaras, com prazo de interposição de 15 (quinze) dias,

contados da publicação na imprensa oficial;

Pedido de Reconsideração (artigo 58), incidente sobre decisão de competência

originária do Tribunal Pleno, com prazo de interposição de 15 (quinze) dias, contados

da publicação na imprensa oficial;

Agravo (artigo 62), incidente sobre decisão preliminar ou despacho do Presidente ou

relator, com prazo de interposição de 05 (cinco) dias, contados da publicação na

imprensa oficial, ou ciência da parte da decisão ou despacho objeto do recurso;

Embargos de Declaração (artigo 66), incidente sobre julgamentos de competência de

Conselheiro Julgador Singular, da Câmara e do Tribunal Pleno, visa corrigir

obscuridade, dúvida, contradição ou omissão da decisão, com prazo de interposição de

05 (cinco) dias, contados da publicação da decisão na imprensa oficial;

Pedido de Reexame (artigo 70), incidente sobre parecer prévio, emitido sobre as

contas do Governador ou sobre a prestação anual de contas da administração

financeira dos municípios, prazo de interposição de 30 (trinta) dias, contados da

publicação do parecer na imprensa oficial.

A exemplo do que ocorre no processo comum, a processualística do Tribunal de Contas

do Estado de São Paulo contempla espécies de ações autônomas que visam desconstituir a

decisão transitada em julgado.

Page 29: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

29

No caso específico, são as Ações de Revisão e Rescisão de Julgado, previstas no Titulo

IV artigo 72 a 77 da Lei Orgânica.

A primeira hipótese de desconstituição da decisão denominada Revisão ou Pedido de

Revisão pode ser intentado em processos de Tomadas de Contas, e tem como fundamento a

ocorrência dos seguintes defeitos na decisão impugnada:

erro de cálculo nas contas;

omissão ou erro de classificação de qualquer verba;

falsidade de documentos em que se tenha fundado a decisão;

superveniência de documentos novos, com eficácia sobre a prova produzida.

A segunda figura, Rescisão de Julgado, pode ser interposta em face de toda e qualquer

decisão da Corte, ressalvadas aquelas relacionadas à Tomada de Contas, em que cabe o

mencionado Pedido de Revisão, e tem como fundamento a alegação dos seguintes defeitos no

julgado:

tiver sido proferido contra literal disposição de lei;

se houver fundado em falsidade não alegada na época do julgamento;

ocorrer superveniência de documentos novos, com eficácia sobre a prova produzida.

Relevante observar a similaridade das duas figuras como a Ação de Rescisão de Julgado

do Código de Processo Civil, inclusive quanto a alguns fundamentos de sua interposição,

destacando-se como traço distintivo mais acentuado entre o Processo Comum e o Processo na

Corte de Contas o prazo de interposição das referidas ações, contado do transito em julgado

da decisão. Enquanto no CPC o limite é de até 02 (dois) anos (artigo 495), na Lei Orgânica do

TCE esse prazo é de até 05 (cinco) anos.

Em resumo, são essas as regras que asseguram as garantias processuais do contraditório

e da ampla defesa aos interessados nos processos de atuação do Tribunal de Contas do Estado

de São Paulo.

Page 30: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

30

3 – Análise de Jurisprudência Selecionada

Como examinado no tópico anterior a Lei Orgânica do Tribunal de contas do Estado de

São Paulo condensa uma série de regras que asseguram o pleno exercício do contraditório e

da ampla defesa aos interessados nos procedimentos de fiscalização que realiza.

Não obstante a frieza das regras postas se faz necessário examinar como são tratados na

prática esses instrumentos de garantia do devido processo legal.

Para tanto, passaremos a efetuar uma análise circunstanciada de julgados em que foram

abordados questões da espécie, possibilitando que avaliemos o efetivo cumprimento das

normas legais e dos mandamentos constitucionais no que tange as garantias processuais dos

interessados.

E bem assim, a partir de casos selecionados vamos avaliar os aspectos incidentes de

relevância da decisão, começando com o seguinte julgado:

1º Julgado:

TC-002128/026/04 – Tribunal Pleno 05/11/08

Recorrente: João Martini Neto – Ex-Presidente da Câmara Municipal de

Indaiatuba.

Assunto: Contas anuais da Câmara Municipal de Indaiatuba, relativas ao exercício

de 2004.

Responsável: João Martini Neto (Presidente da Câmara à época).

Em Julgamento: Recurso Ordinário interposto contra a decisão da E. Primeira

Câmara, que condenou o responsável ao recolhimento da importância impugnada

com as devidas atualizações. Acórdão publicado no D.O.E. de 25-08-07.

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO. Inobservância aos princípios da ampla defesa

e do contraditório, no tocante à condenação do responsável à devolução das

importâncias relativas aos subsídios que ultrapassaram ao limite constitucional,

resultando em cerceamento de defesa. CONHECIDO E PROVIDO.

Relator: Conselheiro Fulvio Julião FULVIO JULIÃO BIAZZI

Acórdão Publicado DOE. 20.11.08 – PÁG.21

O precedente em questão diz respeito a Recurso Ordinário interposto pelo Ex-Presidente

da Câmara Municipal de Indaiatuba, contra a v. decisão da E. Primeira Câmara do Tribunal de

Contas, que julgou regulares as contas do referido Legislativo, referentes ao exercício de

2004, contudo, condenando o Responsável à devolução das importâncias relativas aos

Page 31: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

31

subsídios pagos aos agentes políticos que ultrapassaram ao limite constitucional e às sessões

extraordinárias impugnadas pela fiscalização com as devidas atualizações e comprovação do

recolhimento no prazo de 30 (trinta) dias.

Em linhas gerais, as razões do recurso sustentam a nulidade da decisão proferida,

atacando também seu mérito, com a finalidade de que sejam considerados regulares os

pagamentos efetivados, tanto a título dos seus subsídios, quanto de indenização aos demais

Vereadores, pela participação em sessões extraordinárias fora do período de recesso

parlamentar.

Na arguição de nulidade suscitada, o recorrente alega que a decisão nesse sentido se

alicerçou em argumento novo, totalmente distinto do que foi consignado pela Fiscalização no

relatório das contas, que apontou afronta aos incisos X e XIII do artigo 37 da Constituição

Federal, enquanto o aresto recorrido adotou como fundamento da condenação a afronta ao

limite da Emenda 25/00.

Em outras palavras o responsável, dirigente de Câmara Municipal, havia sido intimado

do relatório inicial de auditora, que apontava inobservância aos preceitos constitucionais da

remuneração dos agentes políticos, de sua parte como Presidente da Edilidade e dos demais

Vereadores.

Sobre esse tópico específico, o interessado apresentou defesa. Contudo, foi

surpreendido por posterior decisão que o condenava à devolução de valores, cuja

fundamentação utilizada se embasava em dispositivo constitucional que não havia sido

mencionada na instrução inicial da matéria, caracterizando a supressão do seu direito de

defesa, ficando caracterizada essa situação no seguinte trecho do voto condutor da decisão:

“Conforme se verifica do relatório da Auditoria, foi estabelecido um

quadro indicando que o valor anual fixado ao Presidente da Câmara seria de R$

54.000,00, enquanto os pagamentos atingiram R$ 87.860,00; e, aos Vereadores,

fixado em R$ 36.000,00, sendo pago R$ 57.240,00.

Observa-se, desse cálculo, que as críticas do Órgão de Instrução

foram lastreadas no acompanhamento automático que a remuneração dos

Vereadores sofreu em razão da majoração dos subsídios dos Srs. Deputados

Estaduais.

Isso porque, no caso concreto, a alteração dos subsídios por conta

daquele efeito reflexo, antes autorizado pelo ato de fixação (Lei nº 3.899/00) foi de

R$ 4.500,00 para Vereadores e R$ 7.155,00 para o Presidente da Câmara, antes

fixados em R$ 3.000,00 e R$ 4.500,00 respectivamente.

Page 32: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

32

Desse modo, é patente que a censura expressa na instrução foi de

que os pagamentos contrariaram ao inc. XIII, do art. 37, da CF/88, em razão da

vinculação das remunerações; bem como, ao inc. X, também do art. 37, da CF/88,

pela inobservância às datas e índices de concessão da revisão da remuneração dos

servidores.

Assim, desse trabalho da Auditoria, dentro de seus limites, é que o

Recorrente foi notificado para se manifestar (fls. 56).

E, apresentadas as justificativas (fls.71/229), em seguida proferiu-se

o v. Acórdão pela E. Primeira Câmara, baseado no r. Voto condutor (231/236),

onde, especificamente sobre a remuneração dos Agentes Políticos, houve destaque

de “que as importâncias recebidas pelo Presidente da Câmara ultrapassaram o

limite constitucional estabelecido no art. 29, inciso VI, letra “d”(em municípios de

cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsídio máximo dos vereadores

corresponderá a cinqüenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais).

Ou seja, é evidente que, muito embora a condenação no v. Acórdão

possa ter sido branda em relação ao apontado na instrução, o fato é que se baseou

em situação não indicada para que a Origem, ora Recorrente, pudesse ofertar sua

defesa à época.

Sem dúvida, houve surpresa no tocante à fundamentação e à

conclusão lógica estabelecida no V. Acórdão, disso resultando a ofensa ao

contraditório e à ampla defesa”.

O caso relatado neste precedente demonstra a preocupação da Corte em que se esgotem

todas as possibilidades de defesa para então se proferir decisão de mérito sobre a matéria

examinada.

Assim, verificada a violação ao contraditório e a ampla defesa o precedente citado anula

a decisão anterior, como forma de conferir legitimidade ao processo.

2º Julgado:

“TC-039564/026/10 – Tribunal Pleno, 25/11/11.

Relator Conselheiro Edgard Camargo Rodrigues.

Ação de Rescisão de Julgado.

Autor: Fábio Antônio Guimarães – Ex-Prefeito do Município de Cruzeiro.

Assunto: Contratos celebrados entre a Prefeitura Municipal de Cruzeiro e a

Agência Mind Criações Publicitárias & Análises de Mercado S/C Ltda., objetivando

a divulgação de matérias educativas, informativas, de orientação social e de

divulgação de matérias institucionais de interesse da comunidade.

Responsável: Fábio Antônio Guimarães (Prefeito à época).

Em Julgamento: Ação de Rescisão em face da sentença publicada no D.O.E. de 24-

01-06, que julgou irregulares as licitações e os contratos, bem como ilegais os atos

determinativos das respectivas despesas, acionando o disposto no artigo 2º, incisos

XV e XXVII, da Lei Complementar nº 709/93 (TC-001784/007/04 e TC-

001785/007/04).

Advogados: Rafael Turner Guimarães, Magno José de Abreu e outros.

EMENTA: Ação de Rescisão. Omissão do nome do responsável que subscreveu atos

julgados irregulares, em publicação veiculada na imprensa oficial para

justificativas, após sua desvinculação do respectivo Órgão Púbico. Violação dos

princípios do contraditório e da ampla defesa (artigo 5º, inciso LV da Constituição

Federal e artigo 51 da Lei Complementar 709/93) configurada. Inciso I do artigo 76

da citada Lei Orgânica. Conhecimento e procedência da preliminar de nulidade.

Page 33: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

33

Voto Inteiro Teor

RELATÓRIO

Fábio Antonio Guimarães, Ex-Prefeito do Município de Cruzeiro, propõe AÇÃO DE

RESCISÃO de Julgado alicerçada nos incisos I e III do artigo 76 da Lei

Complementar nº 709/93, visando à desconstituição da r. decisão singular,

publicada em 24/01/06, que julgou irregulares os procedimentos e ilegais os atos

determinativos das respectivas despesas realizadas junto à empresa “Agência Mind

Criações Publicitárias e Análise de Mercado Ltda.”, que objetivaram dar

publicidade às matérias institucionais de interesse da comunidade.

Assim se decidiu, em síntese, porque verificadas ausência de prévia pesquisa de

preços e fracionamento de licitação.

O Autor suscita preliminar de cerceamento de defesa por não ter sido notificado no

curso da instrução processual, sob nenhuma forma, para defender-se. No mérito,

sustenta que os novos argumentos e documentos que instruem esta ação comprovam

a regularidade dos mencionados procedimentos adotados pelo executivo municipal

à época em que exerceu o mandato (1997 ao ano 2000) de Prefeito do Município de

Cruzeiro.

Instada, a SDG conhece da ação e, à vista do cerceamento de defesa, entende que a

arguição de nulidade merece ser acolhida, pois “da análise dos autos fácil

constatar que das notificações que antecederam o julgado rescindendo não constou

o nome do peticionário, que exerceu o cargo de Prefeito de Cruzeiro no período de

1997 a 2000, tendo sido o responsável pelas contratações analisadas nos TCs

1784/007/04 e 1785/007/04.”

Propõe, por conseguinte, a anulação da r. decisão objurgada que os citados - e aqui

apensados - processos abriga.

A E. Presidência, acolhendo propostas dos eminentes Conselheiros Robson

Marinho e Renato Martins Costa, promoveu a redistribuição deste processado a

este Relator.

É o relatório.

VOTO

PRELIMINAR

A arguição de violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa (artigo 5º,

inciso LV da Constituição Federal e artigo 51 da Lei Complementar 709/93)

afigura-se procedente.

Com efeito, verifica-se não constar o nome do Autor, Ex-Prefeito do Município de

Cruzeiro, do teor das únicas notificações expedidas antes da data de prolação da r.

decisão combatida; publicadas em 23/02/2005 na imprensa oficial, para

apresentação de justificativas (fls. 54 do TC-1784/007/04 e fls. 62 do TC-

1785/007/04).

A defesa apresentada pela municipalidade naqueles autos, já sob o mandato do

sucessor, não tem o condão de convalidar aqueles atos e, tampouco, de suprir a

ineficácia das assinaturas de prazo em relação à pessoa física responsável pelos

procedimentos então sob análise.

Trata-se de autônomo e inarredável direito de ter ciência e oportunidade de

produzir alegações e oferecer documentos em nome próprio, sobretudo em momento

posterior à sua desvinculação do cargo que ocupava no Órgão jurisdicionado,

como no caso.

Assim, nos termos do inciso I do artigo 76 da citada Lei Orgânica desta Corte, é de

ser acolhida a prejudicial de nulidade, tornando incabível, neste ensejo, o exame do

mérito das outras matérias ventiladas na inicial.

Presentes os demais pressupostos de admissibilidade, voto pelo conhecimento da

Ação de Rescisão e procedência da preliminar de nulidade arguida para,

desconstituindo-se a r. decisão proferida nos processos TC-001.784/007/04 e TC-

001.785/007/04, determinar-se o retorno dos autos ao eminente Relator originário,

para as medidas que Sua Excelência compreender cabíveis”.

Page 34: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

34

Neste precedente foi reconhecida na ação de Rescisão de Julgado arguição preliminar

de nulidade em razão de um defeito na notificação, na qual não constou no nome do

responsável pela celebração do ajuste, no caso, o Ex-Prefeito Municipal.

Embora tenha sido apresentada defesa pelo atual gestor da Prefeitura, esse fato não

suprimiu o direito do interessado em oferecer suas justificativas quanto às ilegalidades que lhe

eram atribuídas na contratação em exame.

Nessa perspectiva, a fim de solver a inobservância dos pressupostos de validade,

decidiu o Egrégio Plenário pela anulação da decisão restabelecendo o devido processo legal.

3º Julgado:

“TC-001204/010/06 - SEGUNDA CÂMARA 25/11/2008

Relator Conselheiro Renato Martins Costa.

Recorrente: Sebastião Biazzo – Prefeito Municipal de Aguaí.

Assunto: Admissão de Pessoal da Prefeitura Municipal de Aguaí, no exercício de

2005.

Responsável: Sebastião Biazzo (Prefeito).

Em Julgamento: Recurso Ordinário interposto contra a sentença publicada no

D.O.E. de 22-09-07, que julgou irregulares as contratações, negando os

conseqüentes registros e aplicou o disposto no artigo 2º, incisos XV e XXVII da Lei

Complementar 709/93.

RELATÓRIO

Em exame o Recurso Ordinário interposto por Sebastião Biazzo, contra sentença

proferida pelo eminente Conselheiro Eduardo Bittencourt Carvalho, publicada no

Diário Oficial do Estado de 22/09/07.

Mencionada decisão negou registro às admissões por tempo determinado, tendo em

vista a ausência de situação de urgência, uma vez que a origem não conseguiu

demonstrar a necessidade temporária de excepcional interesse público, requisito

essencial para convalidar as admissões por tempo certo, conforme dispõe o artigo

37, inciso IX, da Constituição Federal.

Em sua defesa, o recorrente alegou que todos os servidores se submeteram a

processo seletivo, no qual fora respeitado o princípio da isonomia, além das demais

normas pertinentes, inclusive a legislação local existente.

Salientou que iniciou seu mandato no dia 01/01/05 e deparou-se com a ausência de

servidores para a varredura e limpeza de vias públicas, coleta de lixo, operação e

manutenção de máquinas pesadas e reparos de ordem geral, tendo em vista a

extinção dos contratos da chamada “Frente de Trabalho” no dia 31/12/04.

Ressaltou que tais serviços não podem sofrer solução de continuidade, sem que a

saúde e o bem estar da população sejam colocados em risco.

Informou que apresentou projetos de lei à Câmara Municipal prevendo a criação de

empregos temporários correspondentes às inadiáveis necessidades municipais e

determinou a realização de processos seletivos para as contratações temporárias e

posteriores prorrogações.

Argumentou que a sentença ora recorrida deve ser anulada, uma vez que, quando se

deu oportunidade à origem para apresentar suas justificativas, foi cerceado o

direito de ampla defesa, já que os interessados não foram cientificados,

contrariando a Súmula Vinculante nº 03.

Observou que a qualificação da situação fática ensejadora da contratação

temporária é juízo subjetivo e discricionário do Administrador, sendo impossível

Page 35: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

35

qualquer outro sujeito ou órgão titularizado exercer ou suscitar controle de ato

administrativo e colocar-se no lugar do administrador no momento da existência do

problema.

Instadas Assessoria Técnica Chefia e SDG reconhecem como preenchidas as

condições para conhecimento do recurso e no mérito, falaram pelo improvimento.

É o relatório.

VOTO PRELIMINAR

Em preliminar, conheço do Recurso, uma vez que ofertado por parte legítima e

tempestivamente.

VOTO DE MÉRITO

Quanto à nulidade argüida pelo recorrente, entendo-a procedente.

No despacho que fixou prazo para a apresentação de justificativas, diante das

falhas detectadas nas admissões em exame, fls.80 dos autos, não constou o nome

dos admitidos.

No referido ato processual, publicado no DOE de 19/08/06, houve menção somente

à Prefeitura e ao Responsável pelas admissões (Sebastião Biazzo).

Sendo assim, entendo oportuna a aplicação, na espécie, da r. decisão proferida por

esta Segunda Câmara no TC-2211/011/06 que, ao analisar matéria análoga,

decidiu pela nulidade da r. sentença que negou registro à admissão então

apreciada, porquanto nos atos preliminares não houve menção ao nome do

respectivo servidor.

De fato, a negativa de registro da admissão atinge diretamente a situação pessoal

funcional do servidor, razão pela qual seu conhecimento dos atos processados é

imperativo, para que se lhe faculte o direito à ampla defesa.

Diante do exposto, acolho a preliminar argüida, para o fim de ser decretada nula a

r. sentença combatida, retornando os autos ao ilustre relator originário, para a

adoção das providências que por bem entender”.

O terceiro precedente cuida de processo que verifica a legalidade de Admissões de

Pessoal por tempo determinado, efetivadas por Prefeitura, na qual se verificou a notificação

apenas do responsável pelas contratações.

Mesmo incidente sobre a matéria a notificação por via de publicação na imprensa

oficial, no caso específico desse ato de chamamento ao processo, não constou o nome dos

servidores admitidos, o que suprimiu o direito de defesa, levando a Câmara Julgadora

reconhecer a nulidade dos atos processuais.

A decisão em questão também serve para compreensão do tópico seguinte, que trata dos

efeitos reflexos da decisão do Tribunal de Contas e o interesse dos terceiros interessados nos

processos sujeitos à sua jurisdição.

Page 36: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

36

4 – Efeitos Reflexos da Decisão e a Garantia dos Direitos Processuais dos Terceiros

Interessados

Em linhas gerais, as competências do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo

delineadas no artigo 33 da Constituição Estadual em simetria com o artigo 71 da Constituição

Federal asseguram a legitimidade de sua atuação em face dos responsáveis pelo recebimento,

gestão e aplicação dos recursos públicos.

É nesse contexto que o órgão exerce suas prerrogativas examinando os gastos da

Administração jurisdicionada, sob os preceitos de legalidade, impessoalidade, economicidade,

moralidade, publicidade e eficiência, incluindo-se nessa análise os aspectos patrimoniais e de

operacionalidade da máquina pública, como atos de admissão e aposentadoria de seu pessoal.

Embora as decisões da Corte possuam incidência sobre os responsáveis pelos atos de

despesa e gestão, é certo que acabam por refletir no direito de terceiros interessados, que a

rigor não estão subordinados à sua jurisdição.

Refiro-me, de início, às pessoas físicas ou jurídicas contratados pela Administração para

fornecimento de bens ou execução de alguma obra ou serviço, cujo ajuste, precedido ou não

de procedimento licitatório são analisados pelo órgão.

Também inseridos neste contexto o pessoal arregimentado pelo Poder Público, sob os

diversos títulos, como admitidos por concurso, contratados por tempo determinado, entre

outros.

Essas hipóteses relatadas configuram os terceiros interessados em procedimentos de

fiscalização do Tribunal de Contas do Estado, sobretudo em razão de que a decisão pela

irregularidade do ato examinado pode vir a causar-lhes eventual prejuízo, pelos efeitos

decorrentes dessa constatação.

O Professor Jorge Ulisses Jacoby Fernandes5 explica com propriedade essa situação:

5 FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa – Especificidades na

Ação do Controle Externo. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais: Minas Gerais, nº 1/2003,

pg.57.

Page 37: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

37

“No processo civil comum, o terceiro que possua legítimo interesse pode intervir no

processo para resguardar direito próprio ou que, pela lei, esteja legitimado a

defender.

Nos Tribunais de Contas inexiste como regra esse direito porque, também como

regra, terceiros não são diretamente alcançados pela ação dessas Cortes. É sobre

agente público ou particular jungido ao dever de prestar contas – sujeitos da

jurisdição – que o controle externo atua. Pode ocorrer, porém, que, em decorrência

do exame do ato, a ordem expedida, ainda que indiretamente, alcance terceiros.

Aqui, a expressão indiretamente deve ter a conotação de por pessoa interposta. Ao

ordenar, por exemplo, a declaração de nulidade da aposentadoria e a recomposição

do erário, a ordem implicará que o agente público responsável pelo ato, observada

a ampla defesa e o contraditório, promova a anulação e inicie os procedimentos

administrativos ou judiciais para repetição do indébito”.

Possui relevância nesse aspecto a previsão contida nos incisos XV e XXVII do artigo 2º

da Lei Orgânica da Corte que estabelecem:

“Artigo 2º - Ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, nos termos da

Constituição Estadual e na forma estabelecida nesta lei, compete:

(...)

XV – comunicar à Assembleia Legislativa ou à Câmara Municipal competente

qualquer irregularidade verificada nas contas ou gestão pública, enviando-lhe

cópia dos respectivos documentos;

(...)

XXVII – Representar ao Poder competente do Estado ou de Município sobre

irregularidade ou abuso verificado em atividade contábil, financeira, orçamentária,

operacional e patrimonial e nos processos de tomada de contas;”

Com efeito, a ciência da decisão de irregularidade, que é dada ao Poder Legislativo e a

autoridade competente pelo ato rejeitado, acaba por desencadear providências que afetam os

particulares envolvidos na análise empreendida.

No caso dos termos contratuais, o particular contratado, pessoa física ou jurídica, pode

ter seu ajuste suspenso por ato do Legislativo ou mesmo rescindido pela Administração

competente, em face da decisão do Tribunal de Contas.

Vale dizer que, em alguns casos, o fundamento da decisão de irregularidade é tão grave

que não resta outra alternativa à Administração, se não a de cancelar o ajuste firmado.

Page 38: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

38

De igual forma, eventual decisão pela irregularidade de determinado concurso ou outro

ato de contratação expõem aos admitidos a possibilidade de exoneração ou interrupção

sumária de seu contrato de trabalho.

Relevante anotar que, como explicado em tópico antecedente, por tratar-se de matérias

específicas, delineadas no artigo 33 da Constituição Estadual, ou seja, aquelas que não são

englobadas na categoria de Tomadas de Contas, a notificação de atos da Corte se faz perfeita

mediante publicação na imprensa oficial.

Na prática, em que pese essa condição de terceiros interessados, o Tribunal de Contas

do Estado de São Paulo tem admitido a intervenção destes nos referidos processos,

facultando-lhes a produção de provas, apresentação de razões e até mesmo oferecimento de

recursos.

Com o propósito de conferir legitimidade ao processo, o órgão criou uma sistemática

específica, visando diminuir os efeitos da notificação ficta, via Diário Oficial.

É o chamado Termo de Ciência e Notificação, aprovado pelas instruções nº 01/2004,

que impõem aos terceiros interessados o acompanhamento do processo perante a Corte.

Para melhor compreensão da questão, segue o modelo do referido Termo:

INSTRUÇÕES N° 01/2004

(TC-A-13.819/026/03)

Aprovam Emenda Aditiva às Instruções n° 01/2002, que dispõem sobre a

exigência de documentos quando do encaminhamento de Contratos e Atos Jurídicos

análogos, de origem estadual, para instrução e julgamento pelo TRIBUNAL DE

CONTAS DO ESTADO.

O TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, no uso de

suas atribuições, com fundamentos nos incisos XXIII e XXVI, do artigo 2° da Lei

Complementar n° 709, de 14 de janeiro de 1993, combinado com o item 7, do

parágrafo único do artigo 53 do Regimento Interno, na forma prevista na alínea “b”,

inciso IV, do artigo 109 desse Regimento,

RESOLVE editar a presente Emenda Aditiva às Instruções n° 01/2002,

publicada em 20 de dezembro de 2002, na seguinte conformidade:

Artigo 1° - Quando da remessa dos documentos de que tratam os artigos 20,

69, 111, 149, 191, 215, 240, 277 e 314 das Instruções n° 01/2002, publicadas no

Diário Oficial do Estado de 20 de dezembro de 2002, os órgãos ou entidades, de

âmbito estadual, ali mencionados, encaminharão, também, o “Termo de Ciência e de

Page 39: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

39

Notificação”, relativo à tramitação do processo perante o TRIBUNAL DE CONTAS

DO ESTADO, firmado pela Contratante e pela Contratada, conforme modelo Anexo.

Artigo 2º - As presentes Instruções entrarão em vigor na data de sua

publicação, produzindo efeitos a partir de 1º de janeiro de 2005.

São Paulo, 6 de outubro de 2004.

RENATO MARTINS COSTA

Presidente

Modelo Anexo às

INSTRUÇÕES N° 01/2004

TERMO DE CIÊNCIA E DE NOTIFICAÇÃO

ESTADO DE SÃO PAULO

Órgão ou Entidade:

Contrato n°(de origem):

Objeto:

Contratante:

Contratada:

Advogado(s): (*)

Na qualidade de Contratante e Contratado, respectivamente, do Termo acima

identificado, e, cientes do seu encaminhamento ao TRIBUNAL DE CONTAS DO

ESTADO, para fins de instrução e julgamento, damo-nos por CIENTES e

NOTIFICADOS para acompanhar todos os atos da tramitação processual, até

julgamento final e sua publicação e, se for o caso e de nosso interesse, para, nos

prazos e nas formas legais e regimentais, exercer o direito da defesa, interpor recursos

e o mais que couber.

Outrossim, declaramos estar cientes, doravante, de que todos os despachos e

decisões que vierem a ser tomados, relativamente ao aludido processo, serão

publicados no Diário Oficial do Estado, Caderno do Poder Legislativo, parte do

Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, de conformidade com o artigo 90 da Lei

Complementar n° 709, de 14 de janeiro de 1993, iniciando-se, a partir de então, a

contagem dos prazos processuais.

Local e data

__________________________

Contratante

__________________________

Contratada

(*) Facultativo. Indicar quando já constituído.

Embora o modelo transcrito diga respeito a processos de contratação de bens e serviços,

a premissa nele contida também de aplica nos casos de admissão de pessoal e repasse de

recursos públicos aos particulares sob todas as formas, auxílios e/ou subvenções, convênios,

parcerias, contratos de gestão etc.

A sistemática é bem simples, o interessado assina o referido termo por meio do qual

confere a sua ciência de que o ato que gerou seu vínculo para com a Administração, contratual

Page 40: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

40

ou funcional, pode ser analisado em ocasião oportuna pelo Tribunal de Contas do Estado,

cabendo a ele, terceiro, adotar as eventuais providências que entender é se fizerem necessárias

na defesa de seus direitos perante a Corte.

Assim, juntamente com a documentação referente aos mencionados atos, o órgão

público tem a obrigatoriedade de encaminhar o Termo de Ciência e Notificação, devidamente

assinado pelo agente público responsável e o particular interessado.

A referida providência transfere a essas pessoas o ônus de acompanhar o processo de

seu interesse perante o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, sendo que nesses casos a

notificação se faz perfeita com a publicação na imprensa oficial (artigo 90 da Lei Orgânica do

TCESP).

Tal medida busca de conferir legitimidade ao procedimento instaurado na Corte, com

respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa, aspecto que será analisado em

Capítulo próprio, sob o prisma de decisões judiciais que analisam essa questão.

5 – Síntese do Capítulo

No desempenho de sua competência delineada pelo artigo 33 da Constituição Estadual

em simetria com o artigo 71 da Constituição Federal, o Tribunal de Contas do Estado de São

Paulo é organizado por lei própria (Lei Complementar Estadual nº 709/93), que disciplina,

entre outras coisas, a processualística de fiscalização e julgamento dos atos de despesa e

gestão sujeitos à sua jurisdição.

O processo instaurado na referida Corte obedece aos preceitos do devido processo legal,

expressos no contraditório e ampla defesa, facultando aos interessados a apresentação de

razões, recursos incidentes sobre suas decisões e até mesmo ações próprias visando

desconstituir julgado desfavorável.

A observância a esses fundamentos pode ser constatada em algumas decisões

selecionadas, colhidas na jurisprudência do órgão, onde se verifica o prestígio aos

fundamentos constitucionais.

Page 41: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

41

Embora não possua jurisdição sobre os particulares, as decisões do Tribunal de Contas

do Estado de São Paulo acabam por refletir no direito e interesse destes, motivo pelo qual lhes

é facultado o ingresso no processo de análise de despesa.

Contudo, o chamamento inicial desse terceiros se faz através da assinatura de Termo de

Ciência e Notificação, anterior a instauração do feito na Corte, o que causa algumas

discussões sobre a observância das garantias processuais.

É possível colher no Poder Judiciário, no caso específico, o Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo, decisões que prestigiam essa forma de notificação de interessados,

havendo, de outra parte, decisões que reconhecem defeito processual.

Page 42: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

42

CAPITULO IV - ANÁLISE JUDICIAL DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE

CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

1 – Análise de Casos específicos:

No presente Capítulo iremos proceder a uma análise de julgados do Poder Judiciário,

especificamente no caso em questão o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

competente para analisar feitos envolvendo decisões do Tribunal de Contas Estadual.

O exame das decisões do Tribunal de Contas pelo Poder Judiciário expõe característica

peculiar do sistema de controle externo brasileiro frente às garantias constitucionais que

asseguram o acesso à justiça.

Esse aspecto foi bem ressaltado por Lucas Rocha Furtado6, que faz a seguinte

ponderação:

“Uma das fragilidades do sistema de controle brasileiro exercidos pelos Tribunais

de Contas consiste no fato de que as decisões do TCU tem natureza administrativa,

o que importa em reconhecer a possibilidade de controle jurisdicional. Assim, uma

auditoria realizada pelo TCU em que tenha sido constatado superfaturamento em

obra pública, e que, após longo procedimento, que em alguns caso leva anos para

ser concluído, em que se assegurou ampla defesa, contraditório, recorribilidade da

decisão, pode ser simplesmente anulada por meio de decisão judicial”.

Embora mencione decisões do Tribunal de Contas da União, a abordagem serve para

julgados do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, que é nosso objeto de análise,

enfatizando bem o panorama verificado nos processos judiciais envolvendo a matéria.

Em bem assim, a partir de processos específicos, analisaremos a decisão tomada pela

Corte Judiciária e os aspectos levados em conta na ocasião.

1º Precedente:

“Mandado de segurança nº 155.087.0/2-00

Comarca: São Paulo

Impetrante Banco ABN Amro Real S/A

Impetrado: Presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e Outro

6 FURTADO, Lucas Rocha, Curso de Direito Administrativo, 3ª edição: Editora Forum, MG. Pg.916.

Page 43: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

43

Voto nº 17.101

MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO NO TRIBUNAL DE CONTAS.

IRREGULARIDADE DE CONTRATO LICITATÓRIO. DECISÃO PUBLICADA EM

27/10/06. MANDADO DE SEGURANÇA INTERPOSTO QUASE UM ANO

DEPOIS. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO E

DESCONHECIMENTO DO PROCESSO, QUE IMPOSSIBILITOU O EXERCÍCIO

DO DIREITO AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE

COMPROVAÇÃO. ORDEM DENEGADA”.

Órgão Especial do TJESP, 04/02/09 v.u. Relator Desembargador Armando

Toledo.

No caso em tela se discute a validade da notificação inicial levada a efeito pelo

mencionado Termo de Ciência e Notificação, assinado pelo contratado na mesma ocasião da

assinatura do ajuste.

Conforme abordado no Capítulo anterior, pelo referido termo o particular se declara

ciente da remessa do contrato ao exame do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo,

comprometendo-se a acompanhar a tramitação do feito junto àquela Corte.

A decisão examinada entende que o Termo assinado é suficiente para configurar o

exercício do contraditório, sendo de interesse colher o seguinte trecho do voto condutor do

aresto, da lavra do Desembargador Armando Toledo:

“(...) é possível perceber que o impetrante, em 20/09/2005, justamente em razão da

celebração do contrato em questão, ao assinar o “Termo de Ciência e Notificação”

(fls. 413,688) declarou não só estar ciente de que o referido contrato estava sendo

encaminhado ao Tribunal de Contas do Estado, para fins de instrução e julgamento,

em que seriam analisados o certame licitatório e o respectivo ajuste, mas também, e

principalmente, que deveria acompanhar todos os atos de tramitação do processo

por meio de publicação no DOE, caderno do Poder Legislativo, parte do Tribunal

de Contas do Estado de São Paulo.

Em outras palavras, assinando termo específico, estava pessoalmente notificado e

ciente da existência do processo no Tribunal de Contas do Estado, podendo, se

assim quisesse, acompanhar todas as decisões nele proferidas, principalmente em se

tratando de procedimento comum tal verificação de legalidade da contratação, pelo

referido Tribunal, e tendo em vista se tratar de contrato de elevado valor

(R$2.046.000,00), razão pela qual não há que se falar em violação aos princípios

do contraditório e da ampla defesa”.

Assim, sob o ponto de vista desse julgado, houve atendimento ao devido processo legal

pelo Tribunal de Contas, não havendo motivos para reformar a decisão proferida dentro de

sua competência.

Page 44: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

44

2º Precedente:

“Mandado de Segurança nº 171.338.0/6-00

Comarca: São Paulo

Impetrante: TIETEENSE AGÊNCIA DE VIAGENS E TURISMO LTDA.

Impetrado: PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO

PAULO.

Mandado de segurança. Tribunal de Contas do Estado. Decisão proferida no

processo TC nº 000687/009/2006 que julgou irregular a concorrência pública e a

contratação da impetrante pelo Município de Tietê para operar o serviço de

transporte público urbano. Alegação de nulidade da decisão do Tribunal de Contas

pela inobservância do contraditório e ampla defesa, por falta de notificação pessoal

da impetrante para intervir no processo de análise da legalidade e regularidade da

concorrência pelo Tribunal de Contas. Notificação realizada mediante publicação

no Diário Oficial do Estado, que a impetrante se comprometeu, por documento

escrito, a acompanhar, conforme prova documental, Art. 90, da LC Estadual 709,

de 14.01.93. Validade da notificação. Súmula Vinculante nº 3, do STF e art. 5º, inc.

LV da cf. Observância, na hipótese. Segurança denegada”.

Órgão Especial do TJESP, 01/04/09 v.u. Relator Desembargador José Santana.

A situação do processo anterior se repete neste precedente, onde também houve

entendimento no sentido do regular exercício do contraditório e da ampla defesa no processo,

em âmbito do Tribunal de Contas.

Com efeito, a decisão considera que foram atendidos os princípios constitucionais do

inciso LV do artigo 5º da Carta Magna, inclusive sobre o prisma de Súmula Vinculante nº 3

do Supremo Tribunal Federal.

3º Precedente:

“Decisão de 05/03/12

Apelação nº 0131220-84.2008.8.26.0053

Comarca: São Paulo

Apelante: José Jacinto de Oliveira

Apelada: Fazenda do Estado de São Paulo

AÇÃO ANULATÓRIA - Processo de Tomada de Contas de ex-dirigente de empresa

municipal de transporte coletivo – Notificação pessoal inicial que incumbiu o

interessado do acompanhamento de todos os atos posteriores do procedimento

administrativo – Impossibilidade – Inteligência dos artigos 90 e 91 da Lei Orgânica

do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (LC 709/93) – Impossibilidade de

restrição infralegal de direito constitucionalmente assegurado – Apelação provida.

5ª Câmara de Direito Público do TJESP, 05/03/12 v.u. Relator Desembargador

Fermino Magnani Filho”.

Esse julgado remonta os aspectos abordados anteriormente no que tange a notificação

pessoal do responsável em processos de tomada de contas no Tribunal de Contas do Estado de

São Paulo.

Page 45: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

45

Na situação vertente, a notificação inicial foi pessoal, sendo as demais, no curso do

processo, por meio de publicação na imprensa oficial.

O julgado em questão explora as formas de comunicação de atos, matéria avaliada no

Capítulo II deste trabalho, explorando a sistemática dos artigos 90 e 91 da Lei Orgânica do

TCE (Lei Complementar nº 709/93).

Assim, considerou a Corte Judiciária que no procedimento analisado não se respeitou os

princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

2 – Síntese do Capítulo

É possível colher no Poder Judiciário, no caso específico, o Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo, decisões que prestigiam a notificação de interessados por meio do

chamado Termo de Ciência e Notificação, havendo, de outra parte, decisões que reconhecem

defeito processual, sobretudo no que concerne a ausência dos princípios do contraditório e da

ampla defesa no âmbito da referida Corte.

Page 46: O Contraditório e a ampla defesa nas decisões do Tribunal de

46

CONCLUSÕES

É essencial para concretização do princípio do devido processo legal, previsto no inciso

LIV do artigo 5º da Constituição Federal a prática do contraditório e da ampla defesa,

estatuídos no inciso LV do mesmo dispositivo constitucional.

Embora textos constitucionais antecedentes não previssem expressamente a extensão

dos princípios do contraditório e da ampla defesa à esfera administrativa, a Carta promulgada

em 1988 assim estabeleceu expressamente no inciso LV de seu artigo 5º.

Caracterizando-se por um misto de contencioso administrativo e jurisdicional, os

procedimentos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo devem observar os princípios

do contraditório e da ampla defesa, garantindo a prática do devido processo legal aos

interessados.

A Súmula Vinculante nº 3, editada pelo Supremo Tribunal Federal a partir da

competência que lhe foi conferida pela Emenda Constitucional nº 45/2004, que acrescentou

ao texto da Constituição o artigo 103-A.

O enunciado editado assegura o exercício do contraditório e da ampla defesa em

processos de competência do Tribunal de Contas.

Por força dos precedentes que embasaram a edição da referida Súmula, sua

aplicabilidade tem sido reconhecida pela Corte Constitucional apenas em questões verificadas

em processos de aposentadoria e pensão, de competência do Tribunal de Contas da União,

como apontam julgados em relação à matéria.

Em que pese esse entendimento, não há isenção a observância dos preceitos do devido

processo legal, dentre eles o contraditório e a ampla defesa em procedimentos do TCU

relacionados a outras matérias por ele examinadas, ou mesmo por outros Tribunais de Contas

do país (Estados e Municípios), em qualquer matéria.

Também relevante anotar outra forma de interpretação do enunciado, no sentido de que,

na verdade, a Súmula Vinculante nº 03 do Supremo Tribunal condensa a observância dos

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princípios do contraditório e da ampla defesa em todos os procedimentos levados a efeito pelo

Tribunal de Contas da União, mesmo aqueles relacionados ao exame de atos de aposentadoria

e pensão.

No desempenho de sua competência delineada pelo artigo 33 da Constituição Estadual

em simetria com o artigo 71 da Constituição Federal, o Tribunal de Contas do Estado de São

Paulo é organizado por lei própria (Lei Complementar Estadual nº 709/93), que disciplina,

entre outras coisas, a processualística de fiscalização e julgamento dos atos de despesa e

gestão sujeitos à sua jurisdição.

O processo instaurado na referida Corte obedece aos preceitos do devido processo legal,

expressos no contraditório e ampla defesa, facultando aos interessados a apresentação de

razões, recursos incidentes sobre suas decisões e até mesmo ações próprias visando

desconstituir julgado desfavorável.

A observância a esses fundamentos pode ser observada em algumas decisões

selecionadas, colhidas na jurisprudência do órgão, onde se verifica o prestígio aos

fundamentos constitucionais.

Embora não possua jurisdição sobre os particulares, as decisões do Tribunal de Contas

do Estado de São Paulo acabam por refletir no direito destes, motivo pelo qual lhes é

facultado o ingresso no processo de análise de despesa.

Contudo, o chamamento inicial destes, através da assinatura de Termo de Ciência e

Notificação, anterior a instauração do feito, causa algumas discussões sobre a observância das

garantias processuais.

É possível colher no Poder Judiciário, no caso específico, o Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo, decisões que prestigiam essa forma de notificação de interessados,

havendo, de outra parte, decisões que reconhecem defeito processual.

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BIBLIOGRAFIA:

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Malheiros, SP.

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Procedimento do Tribunal de Contas e na Administração Pública, 2ª edição: Ed. Brasília

Jurídica, DF.

- FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa –

Especificidades na Ação do Controle Externo. Revista do Tribunal de Contas do Estado de

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- FURTADO, Lucas Rocha, Curso de Direito Administrativo, 3ª edição: Editora Forum, MG.

- MATEUS, Wilson Roberto, O Devido Processo Legal e o Tribunal de Contas, Monografia

apresentada no curso de pós-graduação de Especialização em Direito Constitucional na

Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC/Campinas, 2002.

- MEDAUAR, Odete, Direito Administrativo Moderno, 16ª edição: Revista dos Tribunais,

SP.

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Direito Brasileiro. Revista de Direito Administrativo: Rio de Janeiro, nº 209, jul/set. 1997,

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- SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo, 18ª edição: Malheiros,

SP.

- Sites pesquisados na Internet:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO: WWW.tj.sp.gov.br

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO: WWW.tce.sp.gov.br

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS: WWW.tce.mg.gov.br