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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO O COURO NO BRASIL Monografia elaborada por Claudilena Murro da Conceição em cumprimento das normas de pós-graduação “Lato Sensu” em Finanças e Gestão corporativa. Rio de Janeiro , Dezembro de 2001.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO

O COURO

NO BRASIL

Monografia elaborada por Claudilena Murro da Conceição em cumprimento das

normas de pós-graduação “Lato Sensu” em Finanças e Gestão corporativa.

Rio de Janeiro , Dezembro de 2001.

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“A Economia é a ciência que examina a parte da atividade

individual e social essencialmente consagrada a atingir e

utilizar as condições materiais do bem estar.”

Älfred Marshal

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Agradecimentos

Agradeço a Deus por mais uma oportunidade

de estar aprimorando os meus conhecimentos e

agradeço a todos que de forma direta ou indireta

contribuiu por mais essa vitória.

Claudilena Murro da Conceição

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................6

1.O PAPEL DA AGROPECUÁRIA NA PRODUÇÃO DO COURO......................9

1.1 NOÇÕES GERAIS............................................................................................10

1.2 HISTÓRICO DA PECUÁRIA NO BRASIL....................................................10

1.3 A PECUÁRIA NAS REGIÕES BRASILEIRAS..............................................10

1.4 DANIFICAÇÕES NO COURO........................................................................12

1.5 RAZÕES PARA MANTER A MELHOR QUALIDADE................................14

1.6 INCENTIVOS FISCAIS À AGROPECUÁRIA...............................................14

2. ABORDAGEM INICIAL SOBRE O COURO...................................................17

2.1.NOÇÕES GERAIS............................................................................................17

2.2.PROCESSO DE PRODUÇÃO..........................................................................19

2.3.VANTAGENS E TECNOLOGIA NA PRODUÇÃO DO COURO.................20

3. AINDÚSTRIA DE CALÇADOS NO SETOR COUREIRO..............................23

3.1. NOÇÕES GERAIS...........................................................................................23

3.2.COMPORTAMENTO DO SETOR COUREIRO-CALÇADISTA NA

ECONOMIA BRASILEIRA NOS ÚLTIMOS ANOS...........................................25

3.3. EFEITOS DE COMPETITIVIDADE MUNDIAL...........................................26

3.4.DEFICIÊNCIAS DA CADEIA COUREIRO-CALÇADISTA NACIONAL....27

3.5.INFLUÊNCIAS DA POLÍTICA ECONÔMICA EXTERNA NO MERCOSUL

NO MERCADO COUREIRO-CALÇADISTA DO BRASIL..................................29

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3.5.1. ATUAÇÃ0 DO MERCOSUL NO MERCADO COUREIRO-CALÇADISTA

DO BRASIL............................................................................................................29

3.5.2. POSIÇÃO DO BRASIL EM MEIO AS TURBULÊNCIAS ECONÔMICAS

DO MERCADO......................................................................................................30

CONCLUSÃO.........................................................................................................32

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INTRODUÇÃO

Atualmente, no que se refere à política econômica, muito se tem dito e visto. O

desemprego é preocupação geral, a miséria é latente em toda a sociedade mundial, por essa

razão, ao mesmo tempo em que se sonha com o futuro e se espera muito dele, há também o

desejo de que esse futuro demore a chegar face a expectativa de que seja pior do que o

presente, trazendo consigo a concretização dos temores atuais.

O Brasil é um país territorialmente extenso, conseqüentemente, privilegiado por

possuir em toda sua extensão variados tipos de clima, fauna e flora, que resultam em

verdadeira riqueza natural.Possuidor de uma cultura diversa em todo seu território é, ainda,

o Brasil um país pobre em termos de tecnologia e educação de seu povo, fato que dificulta

o aproveitamento de suas riquezas naturais.

O gado, objeto principal deste trabalho, será realmente lucrativo, quando tudo nele

for aproveitado e não apenas parte dele.Para que isso aconteça é necessário que haja uma

“cumplicidade” ou parceria solidária entre todos os que, de alguma forma, lidam com o

gado, ou dele tirando lucro, visto em que o custo-sustento seja menor do que o resultado

obtido.

Enquanto o interesse pelo citado animal, for de cunho pessoal e não expansivo,

muito dele será jogado fora. A utilização individual impede que outros possam aproveitar

os seus benefícios de diferentes formas. O Brasil não será um país rico em produtos

naturais, se não der utilização social e industrial aos mesmos, ocasionando assim,

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disperdício não só do resultado produtivo como também do que é mais valioso, a boa

vontade e a criatividade do seu povo.

O estímulo à pecuária é pequeno por parte dos donos de curtumes e industriais do

setor no que tange à área agropecuarista, porém é grande a exigência por qualidade do

produto e preço competitivo.

É possível uma interação entre agropecuarista e, donos de curtume e industriais de

calçados, tal interação resultará em produção de melhor qualidade e menores custos do

couro, o que ocasionará em mais empregos, maior exportação e menor importação do

produto.

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Capítulo I

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Capítulo I

1.O PAPEL DA AGROPECUÁRIA NA PRODUÇÃO DO COURO

1.1 NOÇÕES GERAIS

Não se pode exigir uma boa qualidade do couro nacional e responsabilizar somente

os curtumes pela falta de total qualidade nas peças de couro, quando por muitas vezes antes

do abate do animal, o couro já está danificado.

O valor econômico da pele do animal só existe a partir do frigorífico (ou

abatedouro) e, na maioria das vezes, não há estímulo para que os pecuaristas despendam

esforços na procura da qualidade, tendo em vista que os frigoríficos pagam ao produtor o

preço da carcaça bovina, e o couro, considerado subproduto, não lhes garante nenhuma

remuneração adicional.

O couro pesa entre 7 e 7,5%do peso do animal vivo e, independentemente de suas

condições , tem o valor comercial estimado em 10% do animal no abate e 25% do animal

em pé.

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1.2 HISTÓRICO DA PECUÁRIA NO BRASIL

Iniciada na mesma época da colonização do país, a pecuária começou com a

importação de animais de raças taurinos da península Ibérica, cujo objetivo principal era a

produção de couro, carne de charque e serviços de tração.

Somente com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento da Pecuária

(CONDEP), na década de 60, e programas que estimularam o setor, através de

financiamento na área rural a juros subsidiados, a pecuária começou a dar sinal de

mudanças, aumentando a produtividade da terra e do capital, principalmente nas regiões

Centro-Oeste e Norte.

Na década de 1970, na utilização da Brachiaria decumbens nos cerrados da região

Centro-Oeste, além dos programas de incentivo, como o Pólo-centro e o CONDEPE,

estimularam a ocupação rápida dos cerrados, com pastagens cultivadas. A partir de

geografia econômica do país, particularmente nos sistemas produção de carne bovina da

região Centro-Oeste, onde tornou possível, na maioria das fazendas, as fases de produção:

cria, recria e engorda. Com isso, reduziram-se os deslocamentos do gado, novos e

modernos matadouros – frigoríficos foram implantados nos estados de Mato Grosso do Sul,

Mato Grosso e Goiás e a pecuária de corte passou a receber um tratamento mais

tecnológico e mais empresarial.

1.3 - A PECUÁRIA NAS REGIÒES BRASILEIRAS

A região do Nordeste foi pioneira na criação de bovino no país. Apresenta áreas de

alta e baixa densidade, como a Zona da Mata e o sertão, respectivamente.Nova forrageraise

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tecnologias iniciaram o avanço da pecuária nas áreas do agreste e sertão, valorizando a terra

e melhorando os plantéis, tanto visando o leite como a carne. No entanto, adversidades

climáticas são fantasmas que, de forma cíclica, desorganizam temporariamente o processo

evolutivo da pecuária regional.

No Sudeste, o Norte de Minas Gerais, apresenta tendência de substituição de

pastagens por lavouras como soja, cana de açúcar e laranja. Nesta região, portanto, a

pecuária sofre um processo de conversão do seu rebanho em direção à finalidade leite.

O Sul do Brasil se apresenta como a mais tradicional região fornecedora de carne bovina

para os mercados nacional e internacional, detém um rebanho predominantemente europeu

que, a partir de 1970, vem apresentando modestas taxas de crescimento anual, notadamente

o Rio Grande do Sul.

No Norte do Brasil, a região foi beneficiada na década de 1970 graças aos

programas de desenvolvimento regional, que acabaram impulsionando a pecuária bovina,

principalmente no que diz respeito às pastagens cultivadas de colonião e branquiária nas

áreas de latossolo com vegetação predominante de floresta equatorial. Áreas de mata e de

cerrados nos Estados do Pará, Rondônia e Acre, sofreram derrubadas. Um levantamento

realizado na região mostrou que o rebanho apresentou, no período de 1975-1980, a maior

taxa geométrica de crescimento anual (13,4%) sendo a média brasileira de 1,98%. A

abertura da rodovia Transamazônica, os incentivos fiscais e a seca no semi-árido brasileiro

iniciada em 1979, seriam as principais explicações para tão elevada taxa de crescimento

nesta região.

Na região Centro-Oeste do Brasil, a pecuária é de característica expansionista (Mato

Grosso, Mato Grosso do Sul e Norte de Goiás) e conversionista de carne para leite (Sul de

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Goiás), constitui-se na região de maior dinamismo no que diz respeito ao rebanho bovino

no Brasil.

1.4 - DANIFICAÇÕES NO COURO

O Brasil pouco lucra com o couro bovino e não consegue competir com o mercado

externo, porque não produz material de boa qualidade.

Estima-se que a produção anual brasileira alcance 21 milhões de unidades, e ainda

tem que importar 80% de suas necessidades. Cerca de 70% deste couro apresenta algum

tipo de defeito.

Comparativamente aos E.U.A. , o Brasil deixa de ganhar anualmente algo em torno

de U$ 505,02 milhões na produção de couro.

O problema começa no campo, com as ectoparazitoses (bicheiras,

berne,carrapato,moscas-dos-chifres,etc), representando cerca de 40% das perdas em relação

ao total dos defeitos das peles nacionais; identificação do rebanho com marcações a fogo

dos mais variados tamanhos e em regiões nobres como o cupim , paleta, quarto, anca, etc,

que podem até facilitar a lida com o animal, mas danificam a pele, representam 10% dos

defeitos; cercas de arames farpados 5%; outras causas como incisões ocorridas no

transporte, além de furos devido a esfolas incorretas, até a má conservação da pele após o

abate, que correspondem a mais de 5% dos defeitos.

O Decreto-lei (nº 4.854 de 12/10/1942 e o nº 4.714 de 29/06/65) disciplinam o

tamanho (11 cm de diâmetro) e a região corpórea (articulações, perna/coxa, perna/paleta,

cara) do animal onde as marcas ou símbolos são permitidos.

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Talvez por desconhecimento da lei, ou por não auferirem lucro com o couro, é que

os proprietários, conduzem aleatoriamente seus trabalhos de manejo, contribuindo assim ,

para a desqualificação do couro e sua desvalorização.

No processo da abate dos animais ocorrem outros problemas que influenciam na

qualidade da pele, tais como: Esfola deficiente (cortes de faca, manchas de sangue e urina),

representam 20% dos estragos; salga deficiente (manchas de sal) concorrendo com 10%;

transporte ( longo percurso em caminhões inadequados com parafusos e outras ferramentas

pontiagudas ), má conservação (ataque bacteriano, manchas de ácido graxo, putrefação)e

outras causas correspondem a 10% dos defeitos.

Na produção brasileira, 15% do couro são de primeira, 40% são de segunda, 30% são

de terceira e 15 % são refugos.

No Mato Grosso do Sul, estado detentor do maior rebanho bovino de corte brasileiro,

o couro de primeira categoria não ultrapassa os 10%.

A mosca-do-chifre além de danificar a pele do animal causa outros problemas na

saúde do animal. Pequenas infestações, de até 350 moscas por animal, chegam a roubar

20% do peso de um boi, e infestações maiores podem causar perdas de até 45% do ganho

de peso, o que representa uma redução de 10 a 22 quilos do peso que cada animal deveria

ganhar durante um ano.

A mosca permanece dia e noite sugando o sangue de seus hospedeiros e pode dar

até 40 picadas por dia no animal infestado. Mas não é a perda de sangue o principal dano

causado aos rebanhos, e sim a inquietação e o cansaço sofrido pelo boi ao tentar se livrar da

dolorida picada. Essa fadiga debilita o rebanho e o deixa sujeito a outras doenças e a outros

parasitas.

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Pode-se deduzir então, que o melhor cuidado com o rebanho não apenas resultará em

uma pele de melhor qualidade, como também, em um rebanho sadio proporcionando

maiores lucros.

1.5 - RAZÕES PARA MANTER A MELHOR QUALIDADE

As peças são classificadas de acordo com os seus defeitos e os prejuízos são

evidenciados.

É evidente que para melhorar a qualidade do couro produzido no Brasil, há

necessidade do engajamento de todo o sistema produtivo num trabalho de conscientização.

O criador deve adotar tecnologia e treinar seus funcionários na melhor forma de manejar os

animais.

O cuidado no transporte dos animais deve ser redobrado, evitando-se acidentes no

percurso. Na esfola e no armazenamento, as tarefas devem ser realizadas corretamente

evitando-se perdas, os insumos químicos devem ser utilizados corretamente.

1.6 - INCENTIVOS FISCAIS À AGROPECUÁRIA

Como estímulo à atividade agro-pastoril( agropecuária, nesse caso) a legislação

prevê incentivos tanto àqueles que exploram essa atividade, como também àqueles que

fabricam produtos destinados à utilização nessa atividade, bem como à comercialização

desses produtos.

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Os incentivos são concedidos de forma direta e indireta, visando beneficiar a

atividade rural em todo seu ciclo de produção, e são previstos nas áreas do Imposto de

Renda, Imposto sobre Produtos Industrializados, e outros.

Conclui-se então que, na agropecuária, o setor em geral é beneficiado pelo governo.

Portanto, a menor produção de couro se deve aos criadores, que não vêem tanta vantagem

financeira na criação do gado com melhor qualidade do couro e não do governo com

relação a incentivos fiscais.

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Capítulo II

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CAPÍTULO II

2. ABORDAGEM INICIAL SOBRE O COURO

2.1 NOÇÕES GERAIS

O couro possui seu lugar seu lugar de destaque no meio da sociedade, desde o início

da formação da mesma. “E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto ela era

mãe de todos os seres viventes.E fez o Senhor Deus à Adão e a sua mulher túnicas de peles

e os vestiu.” ( Gênesis 3:20-21- Bíblia Sagrada). Desde então, o couro alcançou um espaço

que se expandiu na medida de novas necessidades de sobrevivência, conforto e estilo da

sociedade.

O couro bovino especificamente é muito utilizado em fabricação de móveis,

indústrias de calçados e têxteis, sendo considerado um material resistente de boa qualidade

e que se adapta a estilos diferentes de acordo com o gosto de cada pessoa.

Economicamente, a maior produção de couro significa um aumento na geração de

emprego na agropecuária, o que é de grande importância na questão regional, levando-se

em conta que a maior quantidade de emprego nas áreas rurais resultará no menor

deslocamento de trabalhadores rurais para os grandes centros urbanos .

A formação de novos curtumes, a redução na importação do produto e a maior

quantidade exportada do mesmo são aspectos positivos decorrentes da maior produção do

couro, e que geram também uma maior quantidade de emprego não só nos centros rurais

como também nas grandes cidades .

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É preciso destacar que, nos últimos anos, os curtumes aumentaram em 30% suas

exportações, contribuindo para o superávit comercial do setor agrícola.

O Brasil, que detém cerca de 35% do rebanho mundial, produziu 28 milhões de peles em

1996 e remeteu 44% da produção para fora, sendo 54% do total exportado destinado para

países europeus.

O couro oferece um numero cada vez maior de subprodutos explorados pelos

curtumes, que não poupam avanços técnicos para maximizar o aproveitamento do gado.

Alguns lugares como um distrito de Belo Horizonte , chamado de Dores do Campos

tem como fonte econômica a fabricação de artesanatos de selaria e arreiamentos. A

exemplo deste município outros lugares do país tem no couro sua fonte de sobrevivência.

No Nordeste, toda uma complexa cultura regional, formou-se em torno dele e gera

artesanato mundialmente conhecido. No Centro-Oeste, a situação é semelhante. Na

verdade, a pecuária acarreta presença permanente e grande influência em todas as partes do

Brasil a que chegou.

Com relação aos planos político-econômico ocorridos no Brasil nos últimos anos ,

podemos observar o crescimento da produção de couro, tendo como curioso o ano de 1986,

quando a quantidade importada superou a quantidade exportada. Nesse período, o país

estava saindo do III Plano Nacional de Desenvolvimento e implantava o Plano cruzado,

com a famosa explosão de consumo que levou à falência do Plano. Em 1994, houve um

crescimento significativo de aproximadamente 40% nas exportações e de quase 80% nas

importações do couro no Brasil. Esses dados se devem ao fato de o país estar implantando

na época um plano de emergência, criando a URV que, ao ser transformado no padrão

monetário denominado Real (R$) valorizou a moeda nacional em relação ao dólar.

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2.2 - PROCESSO DE PRODUÇÃO

O couro após ser retirado do animal ( no caso o boi ) através da esfola, passa por uma

série de processos para se adquirir subprodutos do material.

A pele bovina compõe-se de três camadas ; a flor, de onde são eliminados os pelos e

que constitui a parte nobre do couro; a vaqueta, utilizada em artigos finos como forrações,

bolsas, casacos; e a raspa que é um colágeno- tecido altamente protéico, com cerca de 86%

de proteínas - que segura os músculos e a gordura do gado.

A pele passa pela descarnadeira – que libera material para produção de sebo,

destinado à indústria de higiene e limpeza – após, passa pelo primeiro de uma série de

fulões- imensos tambores de madeira deitados que giram automaticamente . Nessa etapa, a

pele sofre a calagem, para perder os pêlos e inchar, facilitando a sua divisão horizontal. As

peles ficam 24 horas nos fulões de calagem e 18 horas nos fulões de curtimento a cromo,

de onde saem com um tom azulado ( nesse estado, a pele é chamada de wet-blue )

permanecendo úmida a pele, ela pode ser estocada e cormecializada estando imune ás

bactérias. O couro wet-blue representa 65% das exportações brasileiras.

O wet-blue é o beneficiamento primário do couro. Para se transformar em material

semi-acabado, a pele passa por novas baterias de curtimento com o objetivo de refinar a

espessura e homogeneizar a textura. Para transforma-lo em um produto acabado, segue para

a estamparia e o tingimento de onde sai maleável e sedoso como um fino tecido.

A raspa é separada da pele numa máquina chamada divisória, que fatia o couro em

três camadas horizontais. Depois de processada e lavada, a raspa será dividida novamente

em tiras, com elas é que são modelados brinquedos caninos , hambúrgueres, sapatos e

pães. Para ficarem enrijecidos, são submetidos a um processo de secagem.

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A raspa é cada vez mais utilizada na formulação de inúmeros produtos como:

gelatinas, cervejas, iogurtes, balas, cosméticos etc..

A salga deficiente ( manchas de sal ) no preparo da pele tem representado 10 % dos

problemas na qualidade do couro.

A utilização correta de insumos químicos, aliada ao uso de máquinas modernas, são

requisitos básicos para obtenção de couros de melhor qualidade.

2.3 - VANTAGENS DA TECNOLOGIA NA PRODUÇÃO DO COURO

Os curtumes procuram explorar cada vez mais o couro com o objetivo de alcançar o

maior número de subprodutos adquiridos através da pele. A intenção é de não perder nada

do material .Porém em tempos onde a competitividade, a saturação do mercado e o tempo

são inimigos latentes, é necessário, além da matéria prima ( o couro ), a mão-de-obra e a

criatividade , a implantação de uma tecnologia capaz de reduzir custos e tempo,

objetivando alcançar a qualidade total do material produzido.

No Brasil, 60% das esfolas são feitas manualmente com facas simples, classificadas

como deficientes e representando 20% dos estragos na pele. Com o auxílio do rolete, uma

máquina que “despe” totalmente o animal, separando o couro do corpo, o processo é

concluído em minutos, eliminando estragos na pele causadas por manchas de sangue e

urina.

A descarnadeira automática , que libera material para produção de sebo, destinado à

indústria de higiene e limpeza, substituiu os descarnadores manuais de pele.

Os fulões, imensos tambores de madeira deitados que giram automaticamente e são

utilizados para curtimento e calagem da pele, substituíram os curtumes à roda-d’água.

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O aumento na exportação do couro é real, mas para que continue a crescer e se

torne um produto de “alavancagem” (é claro que o couro jamais será o produto de maior

importância econômica do país, mas pode influenciar muito na abertura de novos empregos

e estímulo à agropecuária) econômica para o país, são de grande importância os aspectos

qualitativos e quantitativos do produto, que serão alcançados via uma tecnologia que

proporcione os resultados esperados.

A Itália, com um rebanho de 4 milhões de cabeças, lidera a fabricação mundial de

artigos de couro.Isso se deve ao fato de possuir técnica e mão-de-obra especializada.

Inventaram inclusive, uma máquina que faz “funilaria” em peças perfuradas por bernes, não

perdendo dessa forma a pele, e , por outro lado podem adquirir couros mais baratos , ou

seja , couros considerados de segunda mão, e transformá-los em material mais caro.

A tecnologia, processo mais visado pela humanidade para maximizar lucros e

minimizar esforços, não poderia deixar de estar presente na indústria coureira, que procura

e deve andar no mesmo ritmo de todos os outros produtos.

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Capítulo III

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CAPÍTULO III

3. A INDÚSTRIA DE CALÇADOS NO SETOR COUREIRO

3.1 - NOÇÕES GERAIS

A indústria coureiro-calçadista brasileira vive uma trajetória crescente, tanto no que

diz respeito ao consumo interno quanto ás exportações de seus produtos.

Apesar do crescimento das importações, a balança comercial do produto é positiva e

o saldo apresenta tendência levemente crescente. A balança comercial do segmento de

couro também é positiva, sendo o volume das exportações bem superiores ao de

importações.

No Brasil, os estados do Rio grande do Sul e São Paulo destacam-se como pólos de

produção, principalmente para exportação. Outros estados se destacam na produção para

consumo interno, como o Rio de Janeiro , Minas Gerais e Paraíba, porém o Ceará e a

Bahia são estados que tem-se destacado por estarem incorporando várias empresas ou filiais

de fábrica na maioria gaúchas.

Tal destaque se deve ao fato de a mão-de-obra ser muito barata e de governo do

estado oferecer incentivos fiscais favorecendo aos industriais. As exportações têm crescido

elevadamente nos últimos anos nesses estados.

A chegada da indústria calçadista foi o acontecimento de maior relevância registrado

nos últimos anos na economia baiana. Sufocados pela concorrência do calçado estrangeiro,

sobretudo o asiático, um bom número de empresas passou a olhar a Bahia como uma

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alternativa para baixar seus custos, via barateamento da mão-de-obra e generosos

benefícios fiscais.

Os incentivos para atrair a indústria calçadista incluem terrenos e preços simbólicos ,

toda a infra-estrutura necessária ao empreendimento e crédito presumido de até 90% do

Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) nas vendas internas até o ano de 2012, e

um programa de financiamento nas vendas externas, entre outros benefícios.

As exportações de calçados brasileiros tem como maior comprador os Estados

Unidos, que são responsáveis por 29% das importações mundiais de calçados e absorvem

cerca de 70% das exportações brasileiras. Num mercado onde a competição é constante e

tremenda , a dependência de praticamente um único comprador é perigosa , até mesmo

porque as vendas são efetuadas de acordo com a necessidade do cliente, não existindo um

compromisso sujeito a sanções , caso o comprador deseje comprar com um novo

fornecedor.

Em 1993, ocorreu o clímax das exportações de calçados brasileiros, desde que o país

entrou no mercado internacional em 1969, chegando a US$ 1,85 bilhão as exportações e

chegando a 97% das exportações de calçados brasileiros. Esse acontecimento pode ser

explicado pela grande competitividade de calçados femininos de couro baixo/médio custo;

a China teve problemas de prazo de entrega e qualidade ; e o consumo de calçados cresceu

nos Estados Unidos em período em período de recessão parecendo ter comportamento de

bens inferiores.

Com a valorização do Real em relação ao dólar, em 1994, houve uma queda nas

exportações do produto, mantendo-se decrescente em 1995, período em que ocorreu a

maior crise do setor, fechando cerca de 6.000 vagas na atividade calçadista. Empresas

fecharam ou reduziram seu quadro de funcionários. Em 1996 graças ao esforço

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desenvolvido pelas empresas que melhoraram a qualidade do produto houve uma

reconquista do mercado crescimento nas exportações.

3.2-COMPORTAMENTO DO SETOR COUREIRO-CALÇADISTA NA

ECONOMIA DO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS.

A indústria brasileira de caçados é composta por aproximadamente 4 mil empresas,

empregando diretamente 300 mil pessoas e indiretamente, mais 1 milhão. Sua capacidade

produtiva é estimada em cerca de 600 milhões pares calçado/ano, sendo 70% desses

destinados ao mercado interno e 30% à exportação.

Com a valorização do real em 1994 , muitas fábricas fecharam e outras mudaram

para estados que oferecem incentivos fiscais ás empresas e onde a mão-de-obra seja mais

barata , como é o Ceará que tem atraído muitas indústrias de calçados. Diferentemente dos

estados que têm recebido empresas, os que as têm perdido sentem com o fechamento das

mesmas, como por exemplo a cidade de Franca ( SP ), onde a crise afetou também a

administração pública . Como a economia de Franca é baseada na indústria do calçado , o

fechamento das fábricas provocou queda na arrecadação , que afeta diretamente o

recebimento no repasse do ICMS pelo Estado.

O fechamento das fábricas de calçados resulta no aumento do desemprego da classe

baixa/média, que na maioria são operários que trabalham na linha de produção , onde não

há a necessidade de especialização ou alto grau de instrução e o valor dos salários é baixo.

Lugares como a cidade de Franca, que possui a economia toda voltada para a

industrialização de calçados, sofrem muito com o fechamento das fábricas e de 9.573

vagas, crescimento o índice de pobreza no local.

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3.3 - EFEITOS DA COMPETITIVIDADE MUNDIAL

Em 1969, quando o Brasil entrou no mercado internacional, o preço médio do calçado

exportado se situava em torno de US$2. Em 1996, estava na faixa de US$ 11. Em todos os

setores, a competitividade é o maior fantasma dos produtores, ainda mais se tratando do

mercado internacional, onde fatores como salários, insumos e espaço geográfico atuam

diretamente no preço do produto final.

A China é o maior concorrente do Brasil na área de calçados, fato que se deve

principalmente ao custo da mão-de-obra que está em torno de US$ 0,50- custo/trabalhador

por hora- fator que atinge diretamente no preço do produto. Os Estados Unidos , maior

comprador de calçados brasileiros, importaram 700 milhões de pares de sapatos da China

em 1995, o que corresponde a 59% do mercado americano de calçados.

Enquanto o valor do calçado brasileiro está entre US$ 10 e US$ 12, o produto

chinês está na faixa de US$ 4 e US$ 5 o par.

Além da China, outros países como Itália, Espanha e Portugal estão abrindo novas

fábricas no Leste Europeu, onde a mão-de-obra é mais barata, além de estar terceirizando

para fabricantes asiáticos a manufatura do couro costurado, o chamado cabedal, que cobre o

pé.

As empresas brasileira do setor calçadista são muito heterogêneas segundo o

estágio tecnológico.São reduzidos os investimentos em tecnologia e em canais de

comercialização .Não basta ter um preço competitivo, a qualidade é de fundamental

importância; o velho ditado que diz “o barato sai caro” é atualmente muito utilizado pelos

consumidores que, ao comprar determinada mercadoria, quer utilizar os “três B: bom ,

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bonito e barato”, bom preço sem qualidade não basta. Para reconquistar o mercado

internacional após a crise de 1995, os industriais se conscientizaram de que era necessário

melhorar a qualidade do produto e funcionou.

É fundamental, portanto, que as empresas brasileiras invistam em tecnologia e na

diferenciação do produto para não perderem o espaço já conquistado, já que na atual

política monetária do país é impossível reduzir o valor da mão-de-obra.

3.4 – DEFICIÊNCIAS DA CADEIA COUREIRO-CALÇADISTA NACIONAL

Apesar de o Brasil estar se destacando no mercado internacional de couro e

calçados, muitos itens devem ser revistos para o melhor desenvolvimento dos segmentos

em questão.

A indústria de couro vem esbarrando na burocracia das autoridades brasileira e

comércio exterior. A alíquota do IPI para o couro é zero, entraves fiscais do setor, como o

crédito relativo ao PIS – CONFINS, encargos sociais elevados, e a excessiva

regulamentação tem prejudicado o comércio do mercado interno com o externo, não só no

setor coureiro como no calçadista.

Industriais do setor afirmam que , o Brasil é o terceiro maior produtor de calçados,

quinto ,maior consumidor e sétimo maior exportador mundial, o país tem uma capacidade

instalada que permitiria produzir pelo menos 30% mais do que é produzido hoje sem

investimentos significativos, só agregando mão-de-obra, bastaria que os entraves às

exportações fossem eliminados, e as vendas de calçados no exterior poderiam dobrar em

dois anos.

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Outro problema grave é com relação à existência de canais próprios de

comercialização e os reduzidos investimentos em tecnologia e desenvolvimento do produto.

Os fabricantes nacionais investem pouco na imagem e qualidade do produto, não adotando

marcas próprias no exterior. Há cerca de cinco anos , um grupo de 12 fabricantes de sapatos

brasileiro, que juntos produzem mais de 30% dos sapatos brasileiros, tem realizado um dos

maiores esforços de promoção internacional de toda história de 30 anos de exportação do

setor. A estratégia do grupo é participar do maior número possível de feiras no exterior com

stands ostentando a bandeira “Shoes from Brazil” e abrir cada vez mais o mercado para

sapatos brasileiros. Hoje 83% das exportações seguem para EUA, Argentina e Inglaterra.

Ainda é incipiente no país a integração frigoríficos/curtumes, a qual poderia gerar

ganhos de eficiência consideráveis, e ainda o maior aproveitamento de subprodutos do

processo produtivo. Com o declínio do grau de informalidade dos frigoríficos – a partir da

redução da carga tributária - , as perspectivas são favoráveis ao incremento das parcerias do

setor, contudo, outras distorções fiscais, entre as quais a não compensação de créditos

interestaduais de ICMS, estão dificultando maiores movimentos de integração.Esse fator,

em especial, vem reduzido os sonhos de competitividade nas exportações, além de afetar

negativamente o capital de giro das empresas, podendo levar ao aumento das importações

tanto de insumos químicos como de couros acabados.

Há necessidade de modernização e aparelhamento adequado dos curtumes para a

produção de couros acabados com qualidade suficiente para competir no mercado

internacional, eliminando a perda da ordem de 35% verificada atualmente.

Há um baixo grau de modernização da indústria de bens de capital voltada para o

setor, no que se refere á incorporação de tecnologias, principalmente quanto aos

componentes microeletrônicos.

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3.5 – INFLUÊNCIAS DA POLÍTICA ECONÔMICA EXTERNA NO MERCADO

COUREIRO-CALÇADISTA DO BRASIL.

3.5.1 – ATUAÇÃO DO MERCOSUL NO MERCADO COUREIRO-CALÇADISTA DO

BRASIL

A liberdade comercial proporcionou uma grande entrada de produtos no Brasil.

Através do regime draw-back – importação subsidiada de matéria-prima e exportação de

produto acabado - , o Brasil trouxe couro argentino semi-acabado ajudando a regular a

disponibilidade p[ara o mercado. As importações brasileiras de calçados cresceram 718%

entre 1990 e 1996. Em função do aumento das importações brasileiras do Mercosul houve

um declínio na participação dos países asiáticos no total das importações nacionais de

calçados.

A preocupação dos industriais do Mercosul em relação aos países asiáticos era

grande. Os fabricantes de calçados do Mercosul propuseram a implementação a partir de

janeiro de 1999, de um regulamento comum de medidas de salva guarda para tentar

estancar a invasão de produtos provenientes dos países do Sudeste asiático.

Tal solicitação foi feita de comum acordo entre as câmaras representativas do

setor dos quatro países, que se reuniram em junho de 1988 em Buenos Aires, apresentadas

ao subgrupo de trabalho número 7, dedicado aos assuntos industriais do Mercosul.

As exportações brasileiras de calçados para o Mercosul cresceram entre 1991 e

1996 de US$ 15,8 milhões, ao passo que as importações aumentaram de US$ 2,7 milhões

para US$ 50,9 milhões no mesmo período.

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A Argentina encontra-se no quarto ano de recessão, suas contas públicas

registram déficits crescentes. Na busca de uma moeda forte, a Argentina acabou contraindo

uma crise bancária, congelamento de depósitos e aprofundamento da recessão. A crise na

Argentina não atingiu os fabricantes brasileiros , ao contrário dos fabricantes argentinos

que pediram suspensão das compras de calçados brasileiros por estarem com preços muito

baixos, e afirmaram que essa negociação estaria levando ao fechamento das fábricas de

calçados argentinos.

Todos esses problemas ocorridos na Argentina tem conduzido ao esfriamento das

intenções de negociação do Mercosul por parte da Argentina , não por parte do Brasil , que

se sente atraído também pela Alça.

3.5.2 – POSIÇÃO DO BRASIL EM MEIO AS TURBULÊNCIAS ECONÔMICAS DO

MUNDO.

O ano de 2001 foi uma caixinha de surpresa na vida econômica de todo o mundo,

inclusive do Brasil. Tudo começou com uma crise energética nacional, que trouxe

preocupação e insatisfação por parte de consumidores e principalmente industriais que

acreditavam ter de reduzir a mão-de-obra empregada e automaticamente a produção e as

vendas. Em seguida a crise Argentina a alta do dólar e o atentado ao Word Trade Center,

abalaram a economia de muitos países , inclusive do inabalável EUA, e a expectativa era de

que o Brasil não conseguisse suportar.

Apesar de toda crise o Brasil se manteve de pé, até um determinado momento

ele estava sendo considerado “igual” a Argentina em termos econômicos, porém após o

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segundo semestre do ano pode-se verificar as diferenças econômicas entre os dois países, a

desvalorização do Real torna mais competitiva as exportações .

Agricultores, pecuaristas e industriais do setor foram capazes de driblar o cenário

francamente desfavorável da conjuntura internacional, uma das razões para essa façanha foi

a capacidade de resposta rápida dos produtores brasileiros para ocupar vazios no mercado

externo depois do pânico que se espalhou pela Europa e outras partes do mundo em

decorrência do ressurgimento do mal da vaca louca e de casos da febre aftosa, o mesmo não

aconteceu com a Argentina.

Industriais brasileiros se sentem confiantes nas exportações apesar de toda

turbulência no mercado internacional e estão se empenhando no objetivo de ampliar o

mercado, não se baseando tanto na Argentina que atualmente é um dos maiores

consumidores de calçados brasileiros juntamente com os EUA e a Inglaterra.

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CONCLUSÃO

Após todo o desenvolvimento deste trabalho e de acordo com as informações nele

contidas sobre os passos do processo de fabricação do couro desde a pecuária, onde todo

processo se inicia, percebeu-se a importância do couro não só no Brasil, mas em todos os

países onde a pecuária possui seu espaço.

Foram destacados de forma resumida, porém o ,ais completo possível, todos os

passos da indústria de couro no Brasil nos últimos anos, suas exportações, importações,

evolução da tecnologia das máquinas e notado o crescimento gradativo desta indústria.

A importância que a indústria da pecuária passou a ter na economia brasileira, sem

dúvida é significativa para o processo da riqueza nacional. A indústria de calçados, que

utiliza boa parte das peças de couro produzidas para a fabricação de calçados, foi essencial

para aa conclusão deste trabalho. Através dela foi possível notar com maior clareza quanto

o país tem perdido no que se relaciona com o mercado de tais produtos que se utiliza a

qualidade que melhor permita, o resultado que seria conveniente na sua melhor elaboração.

O custo desse produto, deste modo, se torna alto em relação aos demais países concorrentes

que fazem parte do mesmo nicho.

Em se tratando de competitividade, o Brasil possui vantagens com relação a seus

concorrentes. O rebanho brasileiro é o maior do mundo, com 169 milhões de cabeças; a

capacidade instalada de frigoríficos e curtumes é expressiva com , respectivamente, 750

indústria frigoríficas e 600 curtidoras. Outros aspectos favoráveis e fundamentais para

qualquer país que produza couro ou possua indústria de calçados são a questão da mão-de-

obra e novos pólos calçadista em formação. Em relação ao Brasil estes aspectos são

verdadeiramente significativos porque o Brasil possui estas vantagens.

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A preocupação com o couro não se dá, no Brasil, apenas por causa das

indústrias e calçados, mas principalmente porque todas as regiões do território brasileiro

lidam com a pecuária, sendo em algumas delas uma grande fonte de renda da população.

Após ter-se verificado todas as razões concretas sobre a importância do couro na

economia brasileira, concluímos então que, com um aumento na produção de couro de

melhor qualidade e com melhor remuneração em todos os segmentos da cadeia produtiva,

sem duvida, ter-se-á menor evasão de divisas, melhor desempenho do setor produtivo, o

que torna possível melhor ganho tanto para o produtor como para os trabalhadores, o

mesmo acontece com empresários e o governo.

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